CARTOGRAFANDO PERCEPÇÕES: O USO DE MAPAS...
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CARTOGRAFANDO PERCEPÇÕES: O USO DE
MAPAS MENTAIS COMO FERRAMENTA PARA O
ESTUDO DOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS DO
MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ*
Gabriel Duarte Correa**
Resumo
A crise ambiental vigente a partir de meados do século XX pressiona as escolas e os
educadores a inserirem no processo de ensino-aprendizagem metodologias que consigam
discutir as problemáticas ambientais e sociais do espaço vivido pelos discentes, a fim de
buscar alternativas de mudança na relação homem/natureza. Uma destas metodologias são os
mapas mentais que podem ser usados como forma de entender a percepção ambiental dos
estudantes sobre o seu espaço e, a partir disso, desenvolver estratégias de educação ambiental.
Assim, o presente trabalho se desenvolverá através de levantamentos bibliográficos e oficinas
de mapas mentais com alunos do Ensino Fundamental II do Colégio Santos Dumont em
Campos dos Goytacazes/RJ. Os mapas mentais auxiliarão os discentes a se conscientizarem
da historicidade e atual uso do seu espaço vivido visando a promover a sensibilização da
comunidade escolar. Com a atividade, procura-se que os alunos possam estabelecer relações
entre a organização espacial, evidenciando os principais problemas ambientais encontrados na
cidade, propondo possíveis soluções para o uso sustentável da mesma.
Palavras-chave: Percepção. Mapas Mentais. Crise Ambiental.
* Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação lato sensu em Educação
Ambiental, cursada no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense, campus Campos Centro,
nos anos de 2016/2017, desenvolvido sob a orientação da Profạ Msa Sabrina Mendonça Ferreira.
** Licenciado em Geografia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, campus
Campos Centro. Professor da rede privada de ensino do município de Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail:
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CARTOGRAPHING PERCEPTIONS: THE USE OF
MENTAL MAPS AS A TOOL FOR THE STUDY OF
THE SOCIO-ENVIRONMENTAL PROBLEMS OF THE
MUNICIPALITY OF CAMPOS DOS GOYTACAZES /
RJ
Abstract
The environmental crisis in force since the middle of the twentieth century has put pressure on
schools and educators to include in the teaching-learning process methodologies that can
discuss the environmental and social problems of space experienced by students in order to
seek alternatives for change in the relation between man and /nature. One of these
methodologies is the mental maps that can be used as a way to understand the environmental
perception of the students about their space and, from this, to develop environmental
education strategies. Thus, the present work will be developed through bibliographical
surveys and mental maps workshops with students of Elementary School II of Santos Dumont
College in Campos dos Goytacazes / RJ. Mind maps will help students become aware of the
historicity and current use of their lived space in order to promote awareness in the school
community. With the activity, the students are able to establish relationships between the
spatial organization, showing the main environmental problems found in the city, proposing
possible solutions for the sustainable use of the same.
.
Key words: Perception. Mental maps. Environmental Crisis.
1 INTRODUÇÃO
Vivencia-se na atualidade um momento de crise ambiental gerada, sobretudo, pelo
avanço das indústrias, pelo aumento da produção e pelo crescimento desordenado das cidades.
No escopo deste crescimento compulsório das cidades e da urbanização no Brasil atrelado às
consequências promovidas pela sociedade na natureza, Vilaça (2008) especifica o processo de
urbanização da cidade de Campos dos Goytacazes – RJ, que teve como consequências
grandes alterações ambientais, como por exemplo, a dissecação de corpos hídricos.
De acordo com Almeida (2009), a urbanização de Campos dos Goytacazes/RJ vem
acontecendo progressivamente a partir do século XIX. Mudanças no espaço foram
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promovidas para atender a classe açucareira dominante até então e, posteriormente, o Plano
Urbanístico de Saturnino de Brito, tornou-se o principal projeto de intervenção pública
visando à organização e a transformação do espaço urbano campista. Este modelo evolutivo
desenfreado, característico das cidades latino-americanas, ocasionou o surgimento de
problemas socioambientais, que ficam evidenciados tanto pelas condições gerais e de
localização das moradias, como também pela distribuição desigual de infraestrutura urbana e
das amenidades ambientais.
Concomitantemente, Lopes e Pontuscka (2009) salientam que a escola necessita
inserir metodologias alternativas que promovam a evolução do pensamento crítico do
estudante, a partir do estudo do meio, ou seja, do espaço vivido pelos discentes. A partir desta
concepção, acredita-se que ao estudar problemas contidos em uma determinada realidade, o
processo de ensino-aprendizagem torna-se mais significativo, contribuindo para o
desenvolvimento crítico e investigativo dos atores sociais daquele espaço.
Seguindo esta ideia, Girardi (2011) pontua a importância dos desenhos e mapas
produzidos pelos alunos para a compreensão da percepção ambiental a fim de desenvolver
projetos de educação ambiental. Nesta perspectiva, encaixam-se os mapas mentais, tema de
pesquisa do geógrafo humanista Yi-Fu Tuan (1983), do psicólogo Jean Piaget (2007) e do
filósofo Merleau-Ponty (1999), dentre outros. Oliveira (2006) conceitua mapas mentais como
representações do vivido, representações trocadas ao longo da história humana com os lugares
experimentados.
Considerando as questões expostas acima, como os mapas mentais podem auxiliar na
discussão ambiental? Este trabalho pretende aproveitar a vivência do aluno, discutindo os
problemas ambientais vigentes na contemporaneidade para a reflexão do uso consciente de
um espaço urbano mais justo no âmbito social e ambiental. Buscam-se como objetivos,
discutir a importância da educação ambiental no século XXI e, principalmente, nas escolas;
discorrer sobre o uso de mapas mentais como instrumento de percepção socioambiental do
espaço vivido do aluno e debater através de oficinas pedagógicas de mapas mentais a
percepção ambiental que os estudantes possuem do espaço urbano campista.
Tendo como norteadora a corrente da Geografia Humanista e Fenomenológica, aliada
aos conceitos ambientais, a utilização das oficinas pedagógicas de mapas mentais com alunos
do Ensino Fundamental 2 do Colégio Santos Dumont, localizado na área central de Campos
dos Goytacazes/RJ, este trabalho procura identificar e compreender a percepção ambiental
dos discentes, em busca da construção de um pensamento ambiental crítico.
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2 O DEBATE AMBIENTAL CONTEMPORÂNEO
O desenvolvimento técnico e científico da sociedade tornou a relação homem –
natureza cada vez mais desproporcional. À medida que as forças produtivas vão sendo
evoluídas, o aumento populacional e a crescente urbanização concentram-se, pressionando os
recursos naturais existentes, principalmente a partir do século XVIII.
Para Santos (1996), a sociedade evoluiu de um meio natural para um meio técnico-
científico informacional (MTCI). O primeiro, segundo o autor, é marcado pela relação
“harmoniosa” da sociedade com a natureza. No meio natural, as técnicas de produção
utilizadas permitiam a recuperação dos ambientes naturais, sem haver prejuízo. Quando se
deu o surgimento das indústrias, no século XVIII, conjugado com o nascimento do modo
capitalista de produção, a razão (representada pelo desenvolvimento científico) passa a
dominar as relações sociais, ocasionando uma mudança tecnológica e de produção. Essa
mudança produtiva acabou distanciando o homem do meio ambiente. Porto Gonçalves (2006)
complementa que neste momento a ciência passa a justificar o funcionamento e a
compreensão das coisas, autorizando a exploração dos indivíduos sociais e dos recursos
naturais. Desta forma, segundo o autor, o lucro passa a mediar as relações dos homens e
mulheres e deles com a natureza.
O desenvolvimento tecnológico e dos meios de comunicação tem como consequência
o discurso da aproximação e/ou anulação de fronteiras dos países com o objetivo de
aumentarem a lucratividade. Santos (1996) argumenta que este processo, conhecido como
Globalização, passa a homogeneizar a cultura, organizar o espaço geográfico mundial em
redes, extinguir as particularidades dos lugares e explorar os recursos naturais através da
expansão de empresas multinacionais. O referido autor acredita que este meio técnico
científico-informacional de exploração dos espaços, intensificou e consolidou uma crise
ambiental.
Corroborando com as ideias de Santos (1996), Guimarães (2004) destaca que esta
crise ambiental tem um caráter complexo, multidimensional, e suas consequências afetam
todos os aspectos da vida humana. O autor acredita que os problemas ambientais são
acompanhados por crises paradigmáticas intelectuais, morais e espirituais. À medida que o
sistema capitalista se hegemoniza e, quando o método científico torna-se o justificador para a
exploração da natureza, há a promoção de desigualdades socioespaciais juntamente com a
ideologia do consumo, crescimento econômico ilimitado e acelerado processo de urbanização.
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Guimarães (2004) relata que há uma corrente de pensamento que acredita na
necessidade de reforma do modelo atual de desenvolvimento, de modo que as novas
tecnologias ecologicamente formuladas possam mudar valores contidos na sociedade.
Entretanto, segundo o autor, uma segunda corrente de pensamento defende que para que os
problemas ambientais sejam resolvidos, é necessário se desvencilhar do capitalismo, já que o
mesmo seria o fator motivador dos entraves ambientais.
De acordo com Porto-Gonçalves (2006), passamos por diversos momentos da
chamada Globalização, sendo o atual, marcado pelo aparente paradoxo de valorização do
meio ambiente na agenda política e nos meios de comunicação e, ao mesmo tempo, assistimos
a um processo de devastação dos ambientes naturais nunca antes registrados na história.
Diante disso, segundo esse autor, surgem pensamentos alternativos forjados pelos
movimentos sociais com diversos nomes (sócio-ambientalismo, ecologismo dos pobres,
justiça ambiental, etc.) que são pontos de partida para um paradigma emergente.
Diferentemente de um ambientalismo de matriz eurocêntrica que se desenvolveu
com base no mito moderno da natureza intocada, na feliz caracterização crítica de A.
C. Diegues (2004), há esse outro ambientalismo que emana do pensamento
subalterno e que parte da criatividade cultural e da produtividade biológica primária
em busca de uma racionalidade ambiental. São pensamentos e ações com, e não
contra, a natureza/meio ambiente, que retira sua força do conhecimento do lugar
(pensamento local), e de sua relação com o meio ambiente, mas sem pretensão de
universalização/generalização. (DIAS; BATTESTIN, 2011; p. 04)
Esse pensamento expõe um desafio para os educadores e às nossas sociedades,
enfatiza Porto- Gonçalves (2006). Assim como o desenvolvimento se expandiu em nome de
superar o subdesenvolvimento, vemos o mesmo no campo ambiental, onde o
desenvolvimento é recuperado enquanto eco-desenvolvimento ou desenvolvimento
sustentável. É urgente o estabelecimento de uma racionalidade ambiental, por meio de uma
política da diferença na igualdade e de uma política de igualdade na diferença.
Além disso, alguns autores defendem a ideia de que o atual momento é marcado por
uma “sociedade de risco”. Ou seja, os indivíduos sociais não são ameaçados por riscos
inerentes a fenômenos naturais, mas sim por problemas produzidos por essa própria
sociedade. O crescimento das cidades sem um planejamento prévio é um dos problemas e
riscos socioambientais enfrentados na contemporaneidade e necessita ser discutido. A atual
crise possui origens históricas, e é na historicidade que ela pode ser desconstruída.
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2.1 O processo de urbanização e o debate ambiental
O debate ambiental traz consigo a temática do processo de crescimento das cidades e
da urbanização, já que, a partir do século XVIII, com a eminente industrialização e o
nascimento do sistema capitalista, as cidades passam a ser um importante centro para o
desenvolvimento das forças produtivas gerando, portanto, um aumento em seu número de
habitantes e uma modificação em seus espaços.
De maneira geral, Santos (1996) e Lefebvre (2006) diferenciam cidade e urbanização,
enfatizando que esta se define como sendo as próprias relações sociais que se materializam no
espaço urbano e aquela, é a forma, a materialização de determinadas relações sociais. A
cidade, segundo esses autores, é o espaço físico, material e a urbanização se refere ao
aumento da população neste espaço, atrelado às relações contidas nele.
Ribeiro (1992) pontua que a partir da 2ª Guerra Mundial, as cidades brasileiras tiveram
um acelerado crescimento urbano, ocasionando graves problemas ambientais. O autor destaca
São Paulo e Rio de Janeiro como sendo duas das principais cidades a sofrerem com estresses
ambientais como enchentes, desmoronamentos de encostas, doenças respiratórias e/ou
provocadas por más condições da água. Concomitantemente aos problemas ambientais,
segundo o autor, o crescimento compulsório das cidades passou a agravar os problemas
sociais como a segregação socioespacial, o aumento da desigualdade de terras e renda, e a
falta de eficiência de uma política habitacional.
Sem dúvida, o modelo centro-periferia de crescimento urbano transformou de forma
profunda os ambientes naturais (rios, lagoas, os córregos etc.), ignorando suas
importâncias como integrantes da paisagem urbana. As práticas urbanizadoras mais
recentes, na maioria das vezes, desprezaram os ambientes naturais, aqueles mesmos
que foram determinantes para a localização original das cidades. (SOUZA; 2009; p.
122)
Neste contexto, Vilaça (2008) evidencia o processo de urbanização do município de
Campos dos Goytacazes/RJ. A autora enfatiza que mudanças no espaço campista a partir de
1930, como aterros de lagoas e desvios de cursos d’ água, foram realizadas com o objetivo de
crescimento da cidade e expansão da indústria canavieira. Dentro deste processo Vilaça
(2008) enfatiza que sobraram apenas 22 lagoas em Campos. Souza (2009) complementa
Vilaça (2008), ao dizer que as cidades de porte médio, como Campos dos Goytacazes,
passaram a sofrer com problemas socioambientais que, antes estavam restritos às metrópoles.
A pressão sobre os recursos hídricos, a impermeabilização do solo, a verticalização excessiva,
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o descarte de lixo, o trânsito e as diferenciações no espaço são exemplos de problemas
socioambientais observados no município campista. Além disso, a cidade apresenta o
problema das ocupações irregulares, que ocasionam graves consequências para a sociedade
como um todo. Filho (2006) apresenta o problema das moradias irregulares em cidades
médias como Campos dos Goytacazes:
A pressão por moradia gera implicações para o meio ambiente na medida em que as
favelas e as ocupações irregulares se espalham pela malha urbana. Utilizam-se de
áreas que apresentam condições desfavoráveis a estes assentamentos, por serem de
topografia desfavorável, ou inadequadas por exercerem funções relevantes para o
ambiente como áreas verdes, de proteção de mananciais, de mangues e de uso
publico, entre outras. (SABBAG FILHO, 2006, p.22).
A urbanização de Campos dos Goytacazes acompanhou o processo de desmonte e
poluição dos ambientes naturais. A origem do adensamento urbano na cidade deve-se
principalmente ao Rio Paraíba do Sul que hoje, segundo Souza (2009), apresenta-se
degradado e esquecido dentro da paisagem urbanística, provando mais uma vez que, o que se
percebe nas áreas urbanas é um descaso em relação aos recursos naturais, ignorando-os como
recursos estratégicos em vista de seu potencial econômico e promotor de melhoria de vida.
Com isso, essas questões socioambientais tornam urgente uma discussão crítica e de
caráter transdisciplinar pela escola, tendo como objetivo a conscientização a mudança dos
hábitos sociais. Entende-se que o ser humano necessita retomar a ideia do conceito de
natureza, se inserindo na mesma para que, a partir daí consiga desenvolver métodos
urbanísticos mais adequados e conciliatórios entre o crescimento das cidades e a qualidade
ambiental.
3 A ESCOLA E O ESTUDO DO MEIO
Vivemos em uma sociedade que a cada dia torna-se mais acelerada. Com o processo
de modernização vivido a partir do século XX o ritmo de trabalho e das situações vivenciadas
na esfera individual tornou-se ainda mais frenético. Ribeiro (1992) argumenta que a
industrialização e a urbanização, o rápido crescimento populacional, a multiplicação de novas
tecnologias e meios de transporte, a explosão de uma cultura voltada para o consumo de
massa e para a cultura audiovisual, a saturação do capitalismo avançado e outros movimentos
vivenciados na sociedade moderna acabaram estabelecendo uma nova forma de relação entre
os indivíduos e o mundo que os cerca.
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A escola é o espaço do entrelaçar cultural e de relações, ou seja, onde há convergência
de todas essas culturas e de diferentes realidades que se manifestam. Com isso, a inserção de
metodologias alternativas que promovam a evolução do pensamento crítico do estudante,
além da contribuição também para o professor e sua formação prática, constitui-se em um
desafio no campo do ensino. Assim sendo, o estudo do meio pode servir de ferramenta
enriquecedora nestes casos e também no sentido de ser uma possibilidade de integração de
saberes.
Segundo Lopes e Pontuscka (2009) o estudo do meio pode ser compreendido como
um método de ensino interdisciplinar que visa proporcionar para alunos e professores contato
direto com uma determinada realidade, um meio qualquer, rural ou urbano, que se decida
estudar. Esta atividade pedagógica se concretiza pela imersão orientada na complexidade de
um determinado espaço geográfico, do estabelecimento de um diálogo inteligente com o
mundo, com o intuito de verificar e de produzir novos conhecimentos.
A partir desta concepção, acredita-se que o estudo do meio pode tornar mais
significativo o processo de ensino-aprendizagem, bem como contribuir com o
desenvolvimento crítico e investigativo em relação ao ambiente em que vivem seus atores,
trazendo consigo inquietação para fatos novos em espaços já naturalizados. Isso lança a
possibilidade de produção de novos conhecimentos e elaboração contínua do currículo
escolar.
Fazendo uso de concepções freireanas, o trabalho de Correa (2016) aponta a
importância da discussão com os alunos na razão de ser dos saberes em relação com o ensino
dos conteúdos. Há que se aproveitar a realidade concreta de alunos que vivem em áreas
periféricas e descuidadas da cidade para que haja uma discussão sobre, por exemplo, a
poluição dos riachos e dos córregos daquela cidade, focando até mesmo em um projeto
escolar interdisciplinar.
Fato é que tal método de ensino é desafiador, tendo em vista que esta prática tem sua
expressão de forma plena em uma escola onde se busca uma teoria curricular menos
homogeneizadora e onde se cria a possibilidade de inserir os interesses de vivencia dos atores
sociais.
Visto isso, trabalhar a Educação Ambiental a partir do espaço vivido e da percepção
ambiental do educando, ajuda o indivíduo a compreender e propor soluções para os problemas
naturais daquele lugar. Para entender o espaço, Lefebvre (2006) o define de maneira tripartite:
o espaço material, a representação do espaço e o espaço de representação. O primeiro é o da
experiência, da percepção e aberto ao toque físico. Já o segundo traz consigo a ideia de um
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espaço concebido e representado. O autor define o último conceito como sendo o espaço
vivido, das emoções e significados, passível de representações.
Tendo como base o espaço vivido e percebido, a educação ambiental na escola,
necessita se ancorar na realidade discente. Medeiros, Mendonça e Oliveira (2011) apontam
que a partir da Rio-92, a educação ambiental centrou-se no pensamento crítico e inovador em
qualquer tempo ou lugar, promovendo a transformação e a construção da sociedade. Desta
forma, acreditando que a escola é um espaço emancipatório e de construção do conhecimento,
o Ministério da Educação ao elaborar os Parâmetros Curriculares Nacionais em 1998, institui
o Meio Ambiente como tema transversal do currículo básico do Ensino Fundamental. Em
abril de 1999, segundo os autores citados acima, com a lei n° 9795/99, a educação ambiental é
oficializada como área essencial e permanente em todo o processo educacional, sendo
mantido o seu caráter interdisciplinar.
Uma educação ambiental crítica e voltada para a cidadania, como argumenta Jacobi
(2005), busca a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença por meio de formas
democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas.
Entende-se que a educação para a cidadania trata não só da capacidade do indivíduo
de exercer os seus direitos nas escolhas e nas decisões políticas, como ainda de
assegurar a sua total dignidade nas estruturas sociais. Desse modo, o exercício da
cidadania implica autonomia e liberdade responsável, participação na esfera política
democrática e na vida social. Os cidadãos desenvolvem ações de integração social,
conservação do ambiente, justiça social, solidariedade, segurança e tolerância, as
quais constituem preocupações da sociedade atual. Pretende-se, assim, sensibilizar
alunos e professores para uma participação mais consciente no contexto da
sociedade, questionando comportamentos, atitudes e valores, além de propor novas
práticas. (JACOBI, 2005, p. 243)
Nesse sentido, as proposições de Jacobi (2005) apontam que a escola deve trabalhar
com a educação ambiental embasada na criticidade, criatividade e sintonizada com a
proposição de respostas para o futuro, analisando as relações entre os processos naturais e
sociais em uma perspectiva global, entretanto, respeitando as diversidades socioculturais e
locacionais. O principal objetivo é elucidar a mudança de novos comportamentos e atitudes,
estimulando novos valores individuais e coletivos.
Os educadores devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações
que recebem, e, dentre elas, as ambientais, para poder transmitir e decodificar para
os alunos a expressão dos significados em torno do meio ambiente e da ecologia nas
suas múltiplas determinações e intersecções. A ênfase deve ser a capacitação para
perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação
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local/global, buscando marcar a necessidade de enfrentar a lógica da exclusão e das
desigualdades. . (JACOBI, 2005, p. 247)
Correa (2016) vai ao encontro de Jacobi (2005) complementando que, é necessário
que a escola trabalhe com metodologias que analisem os problemas socioambientais do
espaço vivido pelo aluno. O autor defende que é de suma importância que o professor
transforme o saber universitário em saber escolar, reconstruindo-o e reorganizando-o,
aproximando este da realidade do aluno. A transposição didática auxilia no impedimento da
fragmentação do olhar escolar. Através dela o aluno aprende conteúdos e consegue
estabelecer conexões com a realidade.
Portanto, a utilização de maquetes, jogos, fotografias, trabalhos de campo, mapas
mentais e outros recursos metodológicos, podem servir como instrumentos importantes de
trabalho para a educação ambiental crítica. Essas metodologias podem ser relacionadas a
partir do espaço vivenciado pelo estudante, fazendo com que este compreenda o seu lugar e,
tornando-o agente transformador de determinada realidade.
3.1 Os mapas mentais na representação do lugar
Os mapas mentais são conceituados por Nogueira (2009) como sendo imagens
espaciais que as pessoas possuem de lugares conhecidos, direta ou indiretamente. Correa
(2016, apud. OLIVEIRA et. al. 2006) vai ao encontro de Nogueira (2009), complementando
que os mapas mentais são imagens traçadas, representadas e repletas de traços sócio culturais.
No mapa mental o lugar é percebido e apresentado como ele é, perpassando simples arranjos
de mapas cartográficos e englobando várias representações que auxiliam na compreensão e
interpretação daquela realidade.
Conforme Oliveira (2006, apud TUAN et. al. 1975), os mapas mentais carregam as
seguintes funcionalidades: preparam para a comunicação efetiva sobre as
informações espaciais, tornam possível ensaiar um comportamento espacial na
mente, auxiliam na memorização e localização de determinados locais, permitem a
retratação de “mundos imaginários” não acessíveis às pessoas e auxiliam na
discussão ambiental. Ao cumprir estas funções, os mapas mentais auxiliam no
processo de estruturação e armazenamento de conhecimentos. (CORREA, 2016, p.
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Ao falarmos de mapas mentais na avaliação da percepção ambiental do aluno, busca-
se articular o conhecimento científico dando um objetivo de recurso didático, atrelado ás
diferentes formas de linguagem. O mapa mental torna-se importante para construir um
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processo de ensino-aprendizagem capaz de juntar os conhecimentos do espaço de vivência
com os saberes sistematizados. Jacobi (2005) relata que trabalhar a percepção ambiental com
os mapas mentais, traz a possibilidade dos estudantes obterem um olhar crítico e construtivo,
fazendo parte daquele lugar, e não meramente um observador.
Para Medeiros et. al. (2011), cada cidade, bairro, vila e comunidade possuem os seus
próprios estilos e identidades. Essa diferença, segundo a autora, advém das características
ambientais, sociais, culturais e locacionais, fazendo com que os indivíduos possuam imagens
diferentes uns dos outros. A formação mental de cada um deve-se às relações do meio onde
estão inseridas, relações consigo mesmo e sua capacidade de abstração do mundo real aquilo
que é visível a si mesmo.
Considerando essa abordagem, Correa (2016) mostra a importância da utilização de
mapas mentais para a compreensão e estudos socioambientais do lugar vivenciado pelos
indivíduos. O autor argumenta que o mapa mental, traz consigo a percepção ambiental que o
estudante possui do seu espaço vivido, podendo propor soluções para os problemas
levantados. Mas, o que é lugar?
O geógrafo Marcelo Lopes de Souza (2013) afirma que a palavra lugar comporta
conceitos como uma localidade qualquer, uma área e/ou espaços indeterminados. Analisando
essa palavra dentro da Geografia, encontramos o lugar como sendo um de seus principais
conceitos basilares que, ao longo da história do pensamento geográfico sofreu transformações
em sua definição.
Na Geografia Clássica, onde Friedrich Ratzel e Vidal de La Blache aparecem como
os principais autores, Holzer (1999) argumenta que o lugar era utilizado como o
conceito fundamental da Geografia, devido à importância que a ciência dava no
início do século XX ao estudo e à confecção de mapas. Apenas a partir da década de
1970, Ferreira (2000) complementa que o conceito de lugar passa por
transformações resultantes da Geografia Humanista que associará o referido
conceito à base filosófica da fenomenologia e do existencialismo. (CORREA, 2016,
p. 39).
Predominante a partir dos anos de 1970, a corrente da Geografia Humanista
transformou profundamente a definição do conceito de lugar. Os geógrafos humanistas
acreditavam na análise perceptiva e histórico-cultural de um determinado espaço para poder
analisa-lo. Ou seja, a partir das relações socais e experiências desenvolvidas dentro daquele
espaço.
Esta corrente de pensamento se apoderou do método de pesquisa da fenomenologia da
percepção que, segundo o filósofo Maurice Merleau-Ponty (1999), procurava resgatar a
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experiência tal e qual do mundo, ou seja, a experiência vivida pelos indivíduos em um dado
espaço. Experiência essa que é definida por Tuan (1983) como sendo as diferentes maneiras
que o indivíduo constrói a realidade. A consciência é interferida pela intencionalidade,
resultante de vivências do sujeito.
Reforçando este argumento afirma que o sentido da fenomenologia está em nós
mesmos, no mundo vivido e na relação espaço-tempo. Ao trabalhar estas categorias
Merleau-Ponty sustenta a crítica a forma de produção de conhecimento científico na
modernidade centrado no objetivismo e facilita a construção de novos olhares no
seio do pensamento geográfico. (PEREIRA; CORREIA; OLIVEIRA, 2010, p. 174)
Apropriando-se da fenomenologia da percepção, Souza (2013) define o lugar como
sendo um espaço vivido e percebido, carregados de significados dos quais se extraem as
imagens que os sujeitos possuem deste lugar. Neste, não é a dimensão de poder a mais
evidente, mas sim a dimensão cultural-simbólica que permite a construção das imagens e do
sentido dos lugares. O autor complementa que considera o lugar como uma entidade uníssona,
repleta de significados e experiências, o centro do qual atribuímos algum tipo de valor.
Como vimos um ambiente que desperta lembranças a partir de experiências
vivenciadas, podem levar a uma melhor compreensão dos problemas socioambientais
contidos naquele lugar. A favelização, o trânsito, a poluição dos recursos hídricos, a
degradação do solo, dentre outros, podem ser tratados a partir da análise local e das relações
sociais que se desenvolvem naquele lugar.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Geografia relatam que os espaços
se tornam lugar à medida que o homem os organiza economicamente e socialmente,
produzindo e modificando este espaço através do trabalho. Os esforços sobre uma dada área
criam laços afetivos e de identidade, tornando o sujeito produtor deste lugar construído social
e culturalmente.
Filho e Oliveira (2013) argumentam que os mapas mentais são ferramentas
importantes para que o lugar seja entendido ambiental, social e culturalmente. A figura 1
mostra um exemplo de mapa mental construído por alunos do 6° ano do Ensino Fundamental
da cidade de Itaara/RS. Esta se localiza na porção central do estado do Rio Grande do Sul, e
possui em seu território extensas áreas verdes, fazendo com que alunos e moradores tenham
um maior contato com a natureza. Os autores citados anteriormente tiveram como principal
objetivo avaliar a percepção ambiental que os estudantes possuíam do seu espaço vivido e, a
partir daí, elaborar estratégias de Educação Ambiental.
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Figura 1: mapas mentais construídos por alunos do 6° ano da cidade de Itaara/RS
Fonte: FILHO; OLIVEIRA, 2013, p. 06.
Na Figura 1, os autores destacam a organização das casas, e a modelagem das ruas, em
função da organização espacial de Itaara diversificada, pois existentes condomínios
residenciais, onde as ruas se organizam em quadras, próximas aos lagos, e lugares em que as
ruas fazem um contorno por regiões mais íngremes. Além disso, os estudantes representaram
as diferenças de arborização em áreas destinadas para a construção de condomínios e as áreas
periféricas. Nestas, a quantidade de áreas verdes se apresentavam inferior do que naquelas.
Dessa forma, temos nos mapas mentais uma ferramenta pedagógica importante para a
análise da percepção ambiental que o discente possui de seu espaço de vivência. Essa análise
perceptiva pode servir como base para uma discussão ambiental sobre a formação histórica e
urbana daquele lugar, a degradação dos recursos naturais e a elaboração de projetos de
Educação Ambiental. A partir desta ferramenta, o estudante assimila conteúdos curriculares e
valores atitudinais sustentáveis, capazes de fazê-lo refletir sobre a realidade na qual está
inserida, transformando sua prática e seu olhar ambiental.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Freire (1996) alerta-nos para uma prática educativo-crítica que valorize as habilidades
que cada indivíduo traz do seu cotidiano, tornando o ato de ensinar um campo aberto de
possibilidades para a produção e/ou construção do conhecimento. O trabalho realizado
através de oficinas pedagógicas pode proporcionar essa práxis construtivista crítica.
A experiência vivenciada nas oficinas com crianças e adolescentes está marcada por
um movimento dialético e tem como base o pensamento de Paulo Freire no que se
refere ao uso da dialética/ dialogicidade na relação educador e educando. Sendo as
oficinas um espaço de interação e troca de saberes, esta ocorre através de dinâmicas,
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atividades coletivas e individuais que proporciona ao educando expor seus
conhecimentos sobre a temática em questão e assimilar novos conhecimentos
acrescidos pelos educadores. (FIGUEIRÊDO; SILVA; NASCIMENTO; SOUZA,
2006, p. 03)
As oficinas pedagógicas deste trabalho foram realizadas no Colégio Santos Dumont,
localizado na Rua Saldanha Marinho, n° 190, Centro – Campos dos Goytacazes/RJ e possuem
o objetivo de inteirar os conhecimentos escolares com a percepção ambiental que o estudante
possui do seu espaço vivido. Alicerçados na visão da existência de problemas socioambientais
atuantes no espaço de vivência do aluno, é necessário que este consiga detectar e se
conscientizar de tais problemas a fim de que possa intervir em seu lugar.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico (2016) da referida instituição de ensino,
o Colégio Santos Dumont busca romper com os processos conteudistas da educação escolar,
otimizando a prática de avaliação do desempenho educacional do estudante e da própria
instituição, e desenvolvendo um modelo de colégio que priorize a formação humana,
espiritual e cultural do educando. Sendo assim, o Projeto Político Pedagógico do Colégio
Santos Dumont, traz como ênfase a adoção da Metodologia da Escola da Ponte a partir do ano
de 2015. A instituição organiza o colégio em três níveis de aprendizagem: Iniciação (referente
à Educação Infantil e Ensino Fundamental 1), Consolidação (referente ao Ensino
Fundamental 2) e Aprofundamento (referente ao Ensino Médio).
Dessa forma, visando desenvolver a introdução de uma educação ambiental crítica na
escola, este trabalho adotou o método da fenomenologia da percepção para a análise de
problemas ambientais e sociais contidos no município de Campos dos Goytacazes/RJ. Foram
realizadas duas oficinas pedagógicas de construção de mapas mentais com alunos da
Consolidação (Ensino Fundamental 2) com idade encontra-se entre 10 e 14 anos.
A tabela 1 mostra as datas de realização das oficinas e seus referidos temas:
Tabela 1: Cronograma das oficinas
DATA TEMAS DAS OFICINAS HORÁRIO
18/07/2017 Detectando problemas sociais e
ambientais
14h10 às 15h10
19/07/2017 Como deveria ser? 14h10 às 15h10
A oficina pedagógica do dia 18/07/2017, teve como tema “Detectando problemas
sociais e ambientais” e dividiu-se em três momentos: o primeiro momento consistiu numa
15
explicação e exposição do autor da pesquisa, sobre os principais problemas socioambientais
vivenciados na atualidade no município de Campos dos Goytacazes/RJ. Essa abordagem se
deu por meio de imagens por meio das quais os alunos discutiram e expuseram outros
problemas que conseguem perceber no espaço campista.
A partir deste momento, a oficina passou para a segunda parte: esta consistiu na
elaboração de mapas mentais a partir de problemas socioambientais que são percebidos pelos
alunos no município de Campos dos Goytacazes/RJ. Neste momento, os estudantes tiveram
total liberdade para a elaboração da sua carta mental, tendo como ponto de partida a sua
percepção sobre o seu espaço vivido. O terceiro momento baseou-se na discussão e na
exposição daquilo que foi representado nos mapas mentais.
A figura 2 mostra dois mapas mentais produzidos durante a primeira oficina. Nestes
mapas, os alunos representaram dois problemas socioambientais que, segundo eles, geram
graves consequências para a sociedade campista. O aluno “A” destacou a urbanização
crescente e desordenada do município de Campos dos Goytacazes/RJ, o que ocasionou uma
diminuição das áreas verdes e aumento da temperatura média da cidade, fenômeno conhecido
como ilhas de calor. Indo ao encontro do estudante “A”, o aluno “B” morador do Parque
Guarus, representou o problema da impermeabilização dos solos. Este, consequentemente, faz
com que, em momentos de chuva intensa, ocorram as inundações de alguns pontos da cidade.
Figura 2: representação do aumento da temperatura média e as inundações presentes em Campos dos
Goytacazes
Fonte: Arquivo pessoal
O dia 19/07/2017 foi marcado pela oficina “Como deveria ser?”. Os alunos
participantes desta oficina necessariamente tiveram como requisito mínimo ter participado da
oficina anterior. A oficina do dia 19 de julho aconteceu em dois momentos distintos. Em um
primeiro momento, foram entregues aos estudantes os mapas mentais que foram elaborados
no dia anterior sobre os problemas socioambientais detectados por eles no município de
A B
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Campos dos Goytacazes. Por conseguinte, os alunos elaboraram um novo mapa mental
daquele mesmo espaço, entretanto, dando uma solução àquele problema socioambiental
evidenciado no mapa mental anterior. A fase final da oficina “Como deveria ser?”, consistiu
na discussão de cada mapa mental elaborado pelos alunos. Os discentes expuseram o
problema detectado e a solução que deram para o mesmo.
A figura 3, mostra dois mapas mentais produzidos durante essa segunda oficina. O
aluno “C”, enfatiza em sua representação que para ajudar na resolução da poluição do Canal
Campos-Macaé, é necessário uma revitalização do local, tendo como base a despoluição das
águas do local, a conscientização da importância do canal e a criação de praças de lazer com
uma vasta arborização ao seu redor. Dando destaque à poluição dos recursos hídricos, o aluno
“D” representa como forma de resolver este problema, projetos que visem à preservação de
lagoas e rios do município.
Figura 3: Preservação dos recursos hídricos no município de Campos dos Goytacazes
Fonte: Arquivo pessoal
O mapa da figura 4 é a representação da solução do problema do educando “B”. Neste,
o aluno mostra que as inundações serão atenuadas a medida que o poder público construir
mais bueiros que auxiliam a escoar a água. Além disso, o discente destaca que é necessária
uma maior arborização na cidade de Campos dos Goytacazes/RJ, pois ela auxilia na
contenção das águas dos rios e lagoas, possibilitando também uma diminuição na temperatura
média da cidade.
C D
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Figura 4: mapa mental produzido pelo aluno “B” sobre a arborização da cidade
Fonte: Arquivo pessoal
Assim como dito por Brandão (2005) verificamos que de fato os mapas mentais são
ferramentas importantes para verificar a percepção ambiental do individuo em relação ao
lugar onde vivem, auxiliando na tomada de consciência de que fazem parte de um ambiente
em transformação, e que partir de um certo momento, compreende-se que transformamos as
coisas e os cenários do meio ambiente para adaptá-lo a nós. Fizemos isto com as tecnologias
mais rudimentares que se possa imaginar, durante muitos milhares de anos. Seguimos fazendo
a mesma coisa, milênios mais tarde, com tecnologias de transformação da natureza cujo poder
agora nos espanta e assusta.
O conhecimento que o educando trás consigo precisa ser aproveitado na sala de aula,
possibilitando a integração e a aproximação da escola com o cotidiano dos estudantes, como
Freire (1996) nos alerta. A experiência com as oficinas pedagógicas de mapas mentais, fez
com que os educandos pontuassem problemas socioambientais percebidos na paisagem
campista. A questão da poluição das águas oceânicas, a segregação socioespacial geradora de
moradias irregulares no município e uma maior preocupação no descarte de lixo, foram outros
problemas atentados pelos discentes durante o processo de elaboração dos mapas mentais.
Com o referente projeto pode-se respeitar a curiosidade, a inquietude, a linguagem de cada
aluno, sem menosprezar suas experiências cotidianas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, caracterizamos o momento atual como um embate crítico entre as forças
produtivas e os recursos naturais. Esse embate, fruto do desenvolvimento tecnológico e do
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padrão de consumo da sociedade contemporânea, leva-nos a conviver com uma das maiores
crises ambientais da história recente. Cidades são modificadas, espaços são eliminados, a
sociedade causa e é atingida pelo estresse ambiental.
Um dos espaços de debates da crise ambiental é a escola, principalmente através de
uma educação ambiental crítica que valorize e insira o estudante em seu espaço de vivência.
Neste sentido que a percepção ambiental compreendida através dos mapas mentais, destaca -
se por contribuir para a sensibilização dos alunos e, portanto, criar um ambiente de dialética,
onde opiniões divergentes são capazes de produzir soluções por sujeitos dialógicos que
aprendem e crescem na diferença.
Pôde-se perceber que os alunos possuem uma percepção relevante sobre o lugar onde
vivem. Assim, todos os mapas mentais apresentados formam uma análise a respeito de um
lugar visto através dos olhares dos próprios moradores e da sua vivência. Os mapas mentais
apontam um caminho para diversas interpretações, proporcionando uma observação sensível
do lugar impregnado de elementos subjetivos. Estas interpretações e observações, se levadas
em consideração nos planejamentos urbanos, serão de grande valia para a implantação de
diversas ações que valorizem o lado humano da vida nas cidades.
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