CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E...
-
Upload
vuongthuan -
Category
Documents
-
view
214 -
download
0
Transcript of CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E...
CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MARINA MARIA BARCELOS JOÃO
ANTEPROJETO DE CENTRO DE CONVIVÊNCIA PARA
TRATAMENTO E REINTEGRAÇÃO COM ENFOQUE EM
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS
Campos dos Goytacazes/RJ
2018
MARINA MARIA BARCELOS JOÃO
ANTEPROJETO DE CENTRO DE CONVIVÊNCIA PARA
TRATAMENTO E REINTEGRAÇÃO COM ENFOQUE EM
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS
Monografia apresentada ao Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
Campus Campos – Centro como requisito parcial
para a conclusão do Curso Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profª Ana Paula Pereira de Campos
Lettieri
Campos dos Goytacazes/RJ
2018
AGRADECIMENTOS
Queria iniciar esse trabalho agradecendo, não para simplesmente haver um
agradecimento. Queria agradecer, porque sou extremamente grata. Estou alcançando algo que
duvidei. Muitas vezes.
Primeiramente e, acima de tudo, sou grata a Deus. Agradeço a Ele os desafios que
enfrentei e jamais esperaria enfrentar. Desafios que me fizeram o que sou hoje, uma pessoa
melhor. Desafios que vão muito além dos trabalhos, projetos e provas. Concluo a faculdade me
sentindo muito mais forte. Meu propósito de terminar uma graduação e meu amor pelo curso
sempre se mantiveram com uma firmeza e com um foco que nem eu achei que tinha. Acima de
qualquer coisa.
Também sou grata à minha família. A meus pais, Marcos Felício e Denisy, sou grata
por não terem me deixado fraquejar. Grata pela minha educação, por me ensinarem o valor do
esforço, de um trabalho bem feito e, ao mesmo tempo, por serem as pessoas que me dão colo
quando necessário. A meu irmão João Marcos, o grande amor da minha vida, eu agradeço por
ser meu maior exemplo de força, humildade e amor. Sem vocês não teria nenhuma graça estar
aqui agora. Essa vitória é também do meu avô, Denilton, que deixou de herança para mim muito
do meu jeito de ser, que foi o que traçou o meu caminho nesses cinco anos. Ansiedade,
preocupação, perfeccionismo e um coração enorme. Tem sido mais fácil com ele por perto
100% do tempo.
Agradeço também à minha orientadora que sempre se fez presente, sabendo a dose exata
de quando precisava cobrar e de quando precisava acalmar. Obrigada, Ana Paula, por ter
aceitado esse desafio comigo com o mesmo amor e brilho nos olhos que eu iniciei e mantive
durante todo esse trabalho. Esses itens foram essenciais para que o projeto saísse.
Por fim, agradeço aos meus amigos, que sabem tudo sobre mim. Sempre me escutaram,
ajudaram, procuraram entender a rotina dos trabalhos e projetos e, acima de tudo, aconselharam
e me mantiveram no caminho que me levou onde estou agora. Sem vocês me acalmando e me
lembrando de quem sou e do que sou capaz, nada disso seria possível.
Estou muito feliz. Espero orgulhar vocês muito mais daqui pra frente. É só o começo.
Com amor,
Marina Maria.
RESUMO
Os avanços na área da saúde mental no Brasil vêm ocorrendo desde os anos 1970 e, acerca
dessa temática, algumas medidas são tomadas até os dias atuais para promover meios que
possibilitem que as pessoas que possuam algum tipo de transtorno mental se sintam acolhidas.
O objetivo geral proposto nesse trabalho é o de criar um Centro de Convivência para tratamento
e Reintegração com enfoque em Transtornos Mentais Comuns. Esse tipo de Centro que é
previsto em portaria, mas não existe na cidade de Campos dos Goytacazes, será um
equipamento coletivo e terá suas portas abertas também para a parcela da população que não
possui nenhum tipo de transtorno, funcionando como uma espécie de “casa aberta” que atende
a todos os públicos e a todas as faixas etárias. Para que o trabalho fosse bem embasado, foram
realizadas pesquisas bibliográficas, pesquisas de legislação, estudos de caso e entrevistas não
estruturadas. O trabalho, que também foi baseado na psicologia ambiental, vem como
inspiração e incentivo, para que haja mais projetos e pesquisas neste ramo.
Palavras-chave: Centro de Convivência. Centro de Tratamento. Anteprojeto Arquitetônico. Saúde
Mental. Psicologia Ambiental.
ABSTRACT
Advances in the area of mental health in Brazil have been occurring since the 1970s and, about
that, some attitudes are implemented until the present day to promote ways that enable people
with some type of mental disorder to feel welcomed. The general objective proposed in this
work is to create a Coexistence Center for treatment and reintegration with a focus on Common
Mental Disorders. This type of Center, which is provided by ordinance, but doesn’t exist in the
city of Campos dos Goytacazes, will also have its doors open for the part of the population that
doesn’t have any type of disorder, working like a kind of "open house" that suports all audiences
and all age groups. In order to have a well supported work, bibliographical research, legislation
research, case studies and unstructured interviews were carried out. The work, which was also
based on environmental psychology, comes as inspiration and encouragement, so that there are
more projects and research in this area.
Keywords: Center of Coexistence. Treatment Center. Architectural Project. Mental health.
Environmental Psychology.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Fachada do CAPS III. ........................................................................................... 35
FIGURA 2: Produtos no Brechó. ............................................................................................. 36
FIGURA 3: Produtos no Brechó. ............................................................................................. 36
FIGURA 4: Vaso sanitário. ...................................................................................................... 37
FIGURA 5: Pé-direito alto do banheiro. .................................................................................. 38
FIGURA 6: Banheiro para usuários que estão nos leitos. ........................................................ 38
FIGURA 7: Sala de atendimento com armários em tons fechados. ......................................... 39
FIGURA 8: Teto escuro e iluminação ruim de uma das salas de atendimento. ....................... 39
FIGURA 9: Armário da sala de atendimento utilizada como depósito. ................................... 39
FIGURA 10: Dormitório com colchonete. ............................................................................... 40
FIGURA 11: Leitos mal distribuídos. ...................................................................................... 40
FIGURA 12: Sala administrativa. ............................................................................................ 41
FIGURA 13: Cozinha e refeitório para funcionários. .............................................................. 41
FIGURA 14: Assistidos aguardando atendimento. .................................................................. 41
FIGURA 15: Jardim sem uso definido. .................................................................................... 42
FIGURA 16: Área externa de circulação sem uso definido. .................................................... 42
FIGURA 17: Fachada do CAPSi. ............................................................................................. 43
FIGURA 18: Brinquedo feito com materiais recicláveis. ........................................................ 44
FIGURA 19: Produtos da oficina de escrita poética. ............................................................... 44
FIGURA 20: Salão Externo. ..................................................................................................... 45
FIGURA 21: Grafitti presente nos muros. ............................................................................... 45
FIGURA 22: Objetos coloridos. ............................................................................................... 46
FIGURA 23: Parede escura com revestimento de tijolinhos. ................................................... 46
FIGURA 24: Cozinha. .............................................................................................................. 47
FIGURA 25: Depósito. ............................................................................................................. 47
FIGURA 26: Banheiro. ............................................................................................................ 48
FIGURA 27: Banheiro. ............................................................................................................ 48
FIGURA 28: Consultório. ........................................................................................................ 48
FIGURA 29: Residência RCH. ................................................................................................ 50
FIGURA 30: Tons neutros na residência. ................................................................................ 51
FIGURA 31: Villa Ipanema. .................................................................................................... 53
6
FIGURA 32: Villa Ipanema rodeada por vegetação. ............................................................... 53
FIGURA 33: Pátio central da Garden Room House. ............................................................... 54
FIGURA 34: Portas abertas sem atrapalhar a passagem dos corredores. ................................. 55
FIGURA 35: Tapis Rouge. ....................................................................................................... 56
FIGURA 36: Muros Grafitados. ............................................................................................... 57
FIGURA 37: Campos dos Goytacazes em destaque no mapa do Brasil. ................................ 59
FIGURA 38: Terreno escolhido em área selecionada do mapa de Campos dos Goytacazes. . 59
FIGURA 39: Terreno Escolhido. ............................................................................................. 60
FIGURA 40: Parte da ZR4 que mostra o terreno selecionado e o ECS 1. ............................... 60
FIGURA 41: Rua Antônio Manoel. ......................................................................................... 61
FIGURA 42: Rua José Idelfonso E. Campos. .......................................................................... 61
FIGURA 43: Estudos de Ventilação e Insolação. .................................................................... 62
FIGURA 44: Terreno plano. ..................................................................................................... 63
FIGURA 45: Árvores na fachada do terreno em frente ao asilo. ............................................. 63
FIGURA 46: Mapa de Usos. .................................................................................................... 64
FIGURA 47: Mapa de Pontos Principais. ................................................................................ 64
FIGURA 48: Organização Religiosa em frente ao terreno....................................................... 65
FIGURA 49: Serviço de limpeza e portaria próximo ao terreno. ............................................. 65
FIGURA 50: Residências térreas próximas ao terreno. ........................................................... 65
FIGURA 51: Pequeno comércio próximo ao terreno. .............................................................. 66
FIGURA 52: Elementos naturais desejados no projeto. ........................................................... 67
FIGURA 53: Setorização. ........................................................................................................ 71
FIGURA 54: Fluxograma e acessos. ........................................................................................ 73
FIGURA 55: Implantação. ....................................................................................................... 74
FIGURA 56: Bloco A destacado na implantação. .................................................................... 75
FIGURA 57: Jardins internos no bloco A. ............................................................................... 76
FIGURA 58: Mesas e banco na Sala de Artes.......................................................................... 77
FIGURA 59: Espaço com tapete para criação e exposição. ..................................................... 77
FIGURA 60: Mesas redondas para criação e interação. ........................................................... 77
FIGURA 61: Biblioteca. ........................................................................................................... 78
FIGURA 62: Área de leitura e armazenamento de livros. ....................................................... 79
FIGURA 63: Recepção. ............................................................................................................ 79
FIGURA 64: Bloco B destacado na implantação. .................................................................... 80
FIGURA 65: Layout do consultório do psicólogo permite variados atendimentos. ................ 80
7
FIGURA 66: Layout do consultório do psicólogo. .................................................................. 81
FIGURA 67: Bloco C destacado na implantação. .................................................................... 81
FIGURA 68: Quadra Poliesportiva. ......................................................................................... 82
FIGURA 69: Academia ao ar livre. .......................................................................................... 83
FIGURA 70: Parquinho. ........................................................................................................... 84
FIGURA 71: Horta. .................................................................................................................. 85
FIGURA 72: Estufa. ................................................................................................................. 85
FIGURA 73: Arquitetura e vegetação em harmonia. ............................................................... 86
FIGURA 74: Fachada do bloco A com uso de madeira e no formato "linha quebrada". ......... 87
FIGURA 75: Movimento na fachada do bloco B. .................................................................... 88
FIGURA 76: Amplos vãos em uma das fachadas. ................................................................... 88
FIGURA 77: Vazados na cobertura. ........................................................................................ 89
FIGURA 78: Pergolado que liga bloco A ao bloco C. ............................................................. 89
FIGURA 79: Mini arquibancada. ............................................................................................. 90
FIGURA 80: Mobiliário criado para espaço de estar próximo ao refeitório. ........................... 91
FIGURA 81: Mobiliário ao longo dos caminhos internos. ...................................................... 91
LISTA DE SIGLAS
CAPS Centro de Atenção Psicossocial
ECS 1 Eixo de Comércio e Serviços 1
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
MLA Movimento da Luta Antimanicomial
MTSM Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental
PMCG Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes
PMRJ Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro
RAP Rede de Atenção Psicossocial
RPB Reforma Psiquiátrica Brasileira
SUS Sistema Único de Saúde
TMC Transtornos Mentais Comuns
ZR4 Zona Residencial 4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1 HISTÓRICO E AVANÇOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA ........... 17
1.1 Panorama geral ................................................................................................................. 17
1.2 Cenário de Campos dos Goytacazes ............................................................................... 22
2 A IMPORTÂNCIA DE ESPAÇOS DESTINADOS A TERAPIAS ................................ 25
2.1 Arteterapia ........................................................................................................................ 25
2.2 Musicoterapia ................................................................................................................... 26
2.3 Atividades físicas .............................................................................................................. 27
2.4 Terapia com plantas ......................................................................................................... 28
2.5 Terapia em grupo ............................................................................................................. 29
3 PSICOLOGIA AMBIENTAL ............................................................................................ 31
4 ESTUDOS DE CASO .......................................................................................................... 35
4.1 CAPS III – Romeu Casarsa ............................................................................................. 35
4.2 CAPSi – Dr. João Castelo Branco ................................................................................... 43
5 REFERENCIAIS DE PROJETO ...................................................................................... 50
5.1 Referencial Plástico .......................................................................................................... 50
5.1.1 Residência RCH .............................................................................................................. 50
5.2 Referencial Funcional ...................................................................................................... 52
5.2.1 Villa Ipanema .................................................................................................................. 52
5.3 Referencial Tecnológico ................................................................................................... 54
5.3.1 Garden Room House ....................................................................................................... 54
5.4 Referencial Tipológico ...................................................................................................... 55
5.4.1 Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti ........................................ 55
6 SITUAÇÃO DE PROJETO ................................................................................................ 58
6.1 Terreno .............................................................................................................................. 58
10
6.1.1 Localização ...................................................................................................................... 58
6.1.2 Legislação ........................................................................................................................ 60
6.1.3 Acessos ao terreno ........................................................................................................... 61
6.1.4 Insolação, ventilação e ruídos .......................................................................................... 62
6.1.5 Aspectos físicos ............................................................................................................... 62
6.1.6 Entorno ............................................................................................................................ 63
7 O ANTEPROJETO ARQUITETÔNICO ......................................................................... 67
7.1 Conceito e partido ............................................................................................................. 67
7.2 Funcionamento ................................................................................................................. 68
7.3 Programa de necessidades e pré-dimensionamento ...................................................... 70
7.4 Setorização ........................................................................................................................ 71
7.5 Fluxograma e acessos aos blocos ..................................................................................... 72
7.6 Implantação ....................................................................................................................... 74
7.7 Memorial justificativo ...................................................................................................... 75
7.7.1 Bloco A ............................................................................................................................ 75
7.7.2 Bloco B ............................................................................................................................ 79
7.7.3 Bloco C ............................................................................................................................ 81
7.7.4 Guaritas ............................................................................................................................ 82
7.7.5 Quadra poliesportiva........................................................................................................ 82
7.7.6 Academia ......................................................................................................................... 83
7.7.7 Parquinho ......................................................................................................................... 84
7.7.8 Horta ................................................................................................................................ 84
7.7.9 Estufa ............................................................................................................................... 85
7.7.10 Estacionamento .............................................................................................................. 86
7.7.11 Volumetria ..................................................................................................................... 86
7.7.12 Áreas de convívio e mobiliários .................................................................................... 90
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 92
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 94
APÊNDICES ........................................................................................................................... 98
APÊNDICE A: Poema dos Desejos aplicado no CAPSIII e no CAPSi......................... 99
11
APÊNDICE B: Planta Baixa do Bloco A. ...................................................................... 109
APÊNDICE C: Planta Baixa do Bloco B. ...................................................................... 112
APÊNDICE D: Planta Baixa do Bloco C. ..................................................................... 114
INTRODUÇÃO
A assistência às pessoas que possuem saúde mental debilitada no Brasil, nos anos 1970,
era majoritariamente asilo-manicomial e, nessa década, ocorreu o aumento do número de
internações psiquiátricas no país. Era uma época chamada de “indústria da loucura” na ditadura
militar, em que eram construídos manicômios cada vez maiores e mais lucrativos (PITTA,
2011).
O objetivo desses manicômios, que funcionavam como instituições asilares, era confinar
todas as pessoas que possuíam sofrimentos mentais, pois acreditava-se que eles eram
improdutivos, incapazes para o trabalho e, devido à impossibilidade do tratamento domiciliar,
fazia-se necessário proteger a sociedade da desordem que poderiam causar (FOUCAULT, 1985
apud BERTOLETTI, 2011; OLIVEIRA e FORTUNATO, 2003).
Ao mesmo tempo, os militantes da Reforma Psiquiátrica Brasileira, insatisfeitos com a
situação vigente, criaram os primeiros movimentos sociais relacionados ao assunto. Nos anos
1980, o Movimento pela Reforma Psiquiátrica Brasileira começou a ganhar mais força e
experiência, e nos anos 1990 aconteceu a solidificação desse grupo com as demais
movimentações sociais já existentes (PITTA, 2011).
A exclusão de quem sofre de problemas relacionados à saúde mental continua até os
dias atuais, apesar das evoluções na área. Ainda hoje, alguns tratamentos envolvem, além da
medida, a rotulação dos pacientes, dos transtornos, o tratamento feito através de medicamentos
e a internação em instituições psiquiátricas, o que causa um grande distanciamento entre quem
possui a saúde mental debilitada e sua vida em sociedade. O paciente ora era considerado
incapaz de defesa, ora era considerado apto para violência, sendo julgado entre esses dois
extremos e, com isso, foi constatada a necessidade de mantê-los isolados para o benefício deles
próprios e do restante da sociedade. Esse pensamento ultrapassado ainda é observado
atualmente (MACIEL et al., 2008).
Em meio à situação vigente na época, surge a linha antimanicomial, atrelada a um
movimento mais sólido e visando garantir os direitos humanos aos pacientes. Sobre essa linha
Correia declara que
Dentre os diversos movimentos sociais existentes no Brasil, o Movimento
Nacional da Luta Antimanicomial tem se configurado como um forte ator
social na luta pela garantia e defesa dos direitos humanos no Brasil, mais
especificamente, dos direitos das pessoas com transtornos mentais. Este
13
Movimento tem congregado trabalhadores da saúde, profissionais das áreas
de ciências humanas e sociais, familiares e usuários dos serviços de saúde
mental. Assim, são profissionais das diversas áreas envolvidas no trabalho
cotidiano dos hospitais psiquiátricos: a Psicologia, a Psiquiatria, a
Enfermagem, a Saúde Pública e o Serviço Social. Ademais, profissionais das
Ciências Sociais e do Direito também passaram a integrar a luta por um país
sem manicômios. Embora tenha como lema o fim dos manicômios, esse
movimento social apresenta uma questão que se configura relevante para a
atuação nesta esfera: a discussão acerca dos direitos humanos. Além de atuar
para a implementação de uma Reforma Psiquiátrica no Brasil, os integrantes
de tal movimento passam a discuti-la como uma forma de garantir os direitos
humanos das pessoas com transtornos mentais (CORREIA, 2006, p. 83).
Nesse cenário, fica evidente a necessidade do respaldo na Portaria nº 3.088, de 23 de
dezembro de 2011, que “Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento
ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas,
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)” para embasar a criação do Centro de Convivência
proposto nesse trabalho.
O Artigo 1º dessa Portaria institui a criação da Rede de Atenção Psicossocial (RAP) e
demonstra a finalidade dela como sendo “a criação, ampliação e articulação de pontos de
atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS)”. A RAP oferece atenção aos assistidos que necessitam de cuidados e a suas famílias,
ampliando, desta forma, os serviços do SUS.
O Centro de Convivência é um dos elementos que compõem a RAP, conforme relatado
pelo Artigo 5º da mesma Portaria. Segundo o item III do Artigo 6º da Portaria, “Centro de
Convivência: é unidade pública, articulada às Redes de Atenção à Saúde, em especial à Rede
de Atenção Psicossocial, em que são oferecidos à população em geral espaços de sociabilidade,
produção e intervenção na cultura e na cidade”. Esses Centros ficam instituídos como locais
importantes para uma nova etapa do tratamento das pessoas com transtornos mentais.
A leitura desses Artigos reitera a necessidade da criação um Centro de Convivência na
cidade de Campos dos Goytacazes-RJ, e o Centro projetado nesse trabalho tem o objetivo de
proporcionar, além da convivência, o tratamento adequado para as pessoas com transtornos
mentais e sua reintegração ao restante da sociedade.
O enfoque será dado aos pacientes que apresentam transtornos mentais comuns (TMC),
isto é, “pessoas que sofrem mentalmente e apresentam sintomas somáticos como irritação,
cansaço, esquecimento, redução da capacidade de concentração, ansiedade e depressão”
(LUCCHESE et al., 2014, p. 201). Segundo os mesmos autores, dentre os transtornos mentais,
14
os TMC são os que mais prevalecem na população mundial, oscilando de 28,7% a 50% no
Brasil, e “as projeções mundiais para 2030 são no sentido de incluírem estas perturbações entres
as mais incapacitantes do ser humano” (2014, p. 201).
Eles “constituem sintomatologias depressivas e ansiosas que podem inclusive ter
manifestações somáticas, sendo questão de saúde pública. A incidência dos TMC, como o
transtorno depressivo, está aumentando, e possuem alta prevalência na população geral”
(RODRIGUES-NETTO et al., 2008, p. 234).
Levando em consideração a relevância desses transtornos, o aumento da incidência
deles ao longo dos anos e a tendência do ser humano de menosprezá-los, destaca-se a
importância do anteprojeto proposto nesse trabalho, não apenas como um local onde serão
realizados tratamentos e reintegrações, mas também como um centro informativo que poderá
trazer à tona questões esquecidas sobre esses transtornos invisíveis.
Nesse trabalho são utilizados os termos “assistidos”, “usuários” e “pacientes” para
designar as pessoas que possuem algum tipo de sofrimento mental, evitando assim
nomenclaturas como “doentes” e “loucos” que são consideradas inadequadas.
Como objetivo geral, a proposta foi desenvolver e apresentar o anteprojeto de
arquitetura de um Centro de Convivência para tratamento e reintegração de pessoas com
transtornos mentais comuns, que possua espaços como consultórios de psicólogos e psiquiatras,
além de ambientes com potencial para proporcionar atividades atrativas que auxiliem no
tratamento dessas pessoas no município de Campos dos Goytacazes.
Já os objetivos específicos incluíram observar, perceber e buscar soluções para
problemas atuais que perduram em unidades arquitetônicas já existentes de cunho semelhante
ao que foi projetado. Além disso, visou-se criar espaços capazes de tornar possíveis a reunião
e a reintegração das pessoas em tratamento com seus círculos de convívio e novos grupos
sociais, incluindo também pessoas que não possuem nenhum tipo de transtorno mental comum.
Por fim, pretendeu-se oferecer um tratamento diferenciado para os pacientes que sofrem de
transtornos mentais e, na maioria das vezes, têm que lidar com a realidade dura dos manicômios.
Em se tratando do panorama atual de Campos dos Goytacazes, a cidade apresenta dois
hospitais psiquiátricos que provavelmente serão fechados em breve, para o fortalecimento das
Redes de Atenção Psicossocial.
Existem também quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são unidades
públicas especializadas em saúde mental e possuem o objetivo de tratar e reinserir socialmente
as pessoas que apresentam transtornos mentais (PMCG, 2010).
15
O anteprojeto proposto nesse trabalho virá como uma possibilidade de um Centro de
Convivência mais amplo, abrangente e diversificado que os CAPS já existentes, já que eles
priorizam o tratamento de transtornos graves e persistentes. Dessa forma, quando o usuário
apresentar as melhorias esperadas e alcançar a autonomia almejada no CAPS, ele poderá ser
encaminhado para o Centro de Convivência.
O enfoque será o projeto de espaços que possam proporcionar a convivência social e
atividades que conquistem a participação da maior parte da população possível, utilizando a
socialização e a reintegração como um meio de tratamento dos transtornos mentais comuns,
diminuindo a necessidade de haver leitos e medicação para essas pessoas.
Em resumo, a proposta desse anteprojeto é de centros de referência com apoio de
psiquiatras e psicólogos para tratamento de transtornos mentais comuns, além de atividades
envolvendo artes, atividades físicas e contato com plantas, as quais são, comprovadamente,
positivas para o tratamento desses transtornos.
Para compreender o tema da pesquisa mais a fundo e descobrir as reais necessidades e
desejos tanto das pessoas que sofrem de transtornos psicológicos quanto de suas famílias, foram
realizadas, primeiramente, pesquisas bibliográficas e entrevistas não estruturadas com
psicólogos, psiquiatras, pacientes com transtornos mentais em tratamento ou não e seus círculos
sociais mais próximos.
Com o objetivo de identificar problemas e buscar suas soluções, foram feitos estudos de
caso em duas das unidades dos CAPS de Campos dos Goytacazes, uma voltada para o público
adulto e outra voltada para o infanto-juvenil.
A fim de embasar as soluções de projeto, buscou-se referenciais de outros Centros no
Brasil que tenham sido projetados de forma a criarem ambientes capazes de gerar atividades de
integração das pessoas que possuem transtornos mentais com a população como um todo.
O trabalho se divide em seis capítulos teóricos, sendo eles fundamentais para a
compreensão do tema abordado e sua aplicação no anteprojeto proposto. O primeiro capítulo
trata do histórico e dos avanços da Reforma Psiquiátrica Brasileira, além de mostrar o cenário
atual da cidade de Campos dos Goytacazes, o segundo aborda as diferentes terapias a serem
desenvolvidas no projeto e a importância delas. O terceiro capítulo apresenta a psicologia
ambiental, relacionando o ser humano ao ambiente em que ele vive, sendo complementado pelo
quarto capítulo, que mostra a realidade atual em dois dos CAPS de Campos dos Goytacazes
através de um estudo de caso. O quinto capítulo apresenta os referenciais de projeto mais
importantes que foram utilizados na concepção do projeto, sendo divididos em plástico,
funcional, tecnológico e tipológico. Por fim, o sexto capítulo trata da situação de projeto, cuja
16
continuação é o sétimo capítulo, que mostra o anteprojeto como resultado das pesquisas e
estudos feitos nos capítulos prévios.
Os capítulos desenvolvidos ao longo desse trabalho foram reflexo de toda metodologia
utilizada para compreensão do tema e são de extrema relevância para a explicação do conteúdo
teórico estudado e para a explicitação das decisões de projeto tomadas e suas justificativas.
1 HISTÓRICO E AVANÇOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
Nesse capítulo será apresentado um histórico que abrange os progressos que ocorreram
na área do tratamento de transtornos psiquiátricos no Brasil e também será mostrada a situação
atual desse tratamento na cidade de Campos dos Goytacazes.
1.1 Panorama geral
A Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) foi um movimento que trouxe à tona uma luta
por direitos iguais nunca antes vista no país e evoluiu muito de seu início nos anos 1970 até os
dias atuais. A partir dessa época os esforços para inclusão das pessoas com transtornos mentais
na sociedade vêm amadurecendo e, por isso, é importante traçar um histórico sobre esse tema
(PITTA, 2011).
Até os anos 1980, o Brasil possuía um plano de fundo aterrorizante em se tratando de
assistência psiquiátrica e psicológica. Na década de 1970, era da “indústria da loucura”, o
número de internações era enorme, e os recursos públicos colocavam de pé cada vez mais
manicômios. No país havia cerca 500 hospitais, entre públicos e privados, e cerca de 80 mil
leitos, e essa era a prioridade quando se referia ao dinheiro público destinado à saúde mental
(CALICCHIO, 2007; PITTA, 2011).
Sobre esse assunto, Calicchio enfatiza que
Nessa época, mais de 95% do dinheiro público destinado à assistência
psiquiátrica era consumido no pagamento de leitos em hospitais e clínicas
privadas conveniadas do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social (Inamps), sendo o Estado o principal responsável por um
processo conhecido como a “indústria da loucura” (CALICCHIO, 2007, p.
14).
Assim, observa-se que o Estado não tinha uma estrutura própria para o tratamento desses
pacientes. Posteriormente, ainda segundo Calicchio (2007), houve uma mudança de contexto
nos fins dos anos de 1970, quando a situação do tratamento psiquiátrico no país se tornou difícil
de tolerar. Era uma realidade que incomodava os próprios agentes da saúde mental, que
passaram a fazer denúncias para a sociedade e a criticar o modo desumano com que o tratamento
estava sendo praticado. A insatisfação dos trabalhadores por serem intitulados de “carcereiros
18
da loucura” era tão grande, que eles organizaram no Rio de Janeiro o movimento que deu início
a Reforma Psiquiátrica no Brasil, o Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM).
Nos anos 1980, o MSTM passou a se autodenominar Movimento da Luta
Antimanicomial (MLA), cujo slogan era “Por uma Sociedade sem Manicômios”, com uma
reformulação que passou a incluir assistidos e familiares, tornando-se um movimento mais
sólido e trazendo mais avanços. A vontade da sociedade explicitada nessa frase demonstra que
era indispensável a participação da população em movimentos, discussões e questões
relacionadas aos transtornos mentais e à psiquiatria. De lá para cá, esse grupo tem aderido uma
grande quantidade de pessoas, principalmente os pacientes e familiares (CALICCHIO, 2007;
PITTA, 2011).
Conforme relatado por Pitta (2011), ocorreu, em 1987, a I Conferência Nacional de
Saúde Mental, que foi realizada no estado do Rio de Janeiro e não foi organizada pela sociedade
civil. Mas houve uma reviravolta, e esse grupo da sociedade assumiu o controle dessa
Conferência, que aconteceu em forma de assembleia em volta de uma mesa diretora escolhida
pela população e foi um marco, sendo o primeiro movimento de definição da saúde mental do
país feito de forma democrática.
Segundo a mesma autora, como reflexo dos movimentos bem-sucedidos que vinham
ocorrendo, surgiram os Ambulatórios de Saúde Mental. Eles eram os antigos ambulatórios que
foram transformados em centros comunitários de saúde que possuíam programas de
intensidades diferentes. Esses locais foram os princípios do que seriam os primeiros Centros de
Atenção Psicossocial.
O primeiro CAPS surgiu em 1987, já deixando nítida a proposta de não enclausurar o
paciente e sim deixá-lo livre nessa espécie de clínica ampliada. Esses Centros se baseariam em
um tripé: a psicanálise, o uso racional dos psicofármacos1, e a inclusão social. Eles se tornaram
locais que são referência institucional de tratamento permanente e construíram um novo modo
de cuidar “sobretudo de pessoas psicóticas, mas também de não psicóticas, das suas famílias,
de suas moradias, de suas artes, do seu trabalho, da sua renda... no território” (PITTA, 2011, p.
4585).
1 São definidos como aqueles que afetam o humor e o comportamento. A classificação de Tyrer de 1982, baseada
nas sugestões da OMS de 1967, considera três grandes classes: os ansiolíticos ou hipnóticos, os neurolépticos ou
antipsicóticos e os antidepressivos.
19
No fim dos anos 1980, especificamente em 1989, um importante projeto de lei foi
apresentado, o nº 3.657/89. Era um projeto de lei simples que continha três artigos, conforme a
autora explica:
[...] o primeiro impedia a construção ou a contratação de novos hospitais
psiquiátricos pelo poder público; o segundo previa o direcionamento dos
recursos públicos para a criação de “recursos não-manicomiais de
atendimento”; e o terceiro obrigava a comunicação das internações
compulsórias à autoridade judiciária (PITTA, 2011 p. 4585).
Pitta também aponta que esse projeto de lei, conhecido como Lei da Reforma
Psiquiátrica, foi aprovado e homologado somente em 2001. Ele causou impactos positivos em
todo território nacional, quando começaram a surgir debates a respeito do tema e serem criados
movimentos sociais com objetivo de alterar leis estaduais e municipais que não se enquadravam
mais na nova realidade.
Constata-se, então, que os anos 1980 foram importantes para os movimentos sociais
envolvendo a luta contra a internação manicomial no território nacional. Já os anos 1990 foram
um marco, pois solidificaram ainda mais a união entre esses movimentos que vinham ocorrendo
até então. A RPB evoluiu bastante em termos de política pública, pois foi nessa década que
começaram a mudar os modelos vigentes de tratamento psiquiátrico e psicológico. A nova
forma de se tratar as pessoas se baseou nos seguintes dispositivos: CAPS, leitos psiquiátricos
em hospitais gerais, distribuição de medicamentos, centros de convivência e cultura, programas
de moradia assistida e trabalho e geração de renda (CALICCHIO, 2007; PITTA, 2011).
Em 1992 aconteceu a II Conferência Nacional de Saúde Mental, que foi realizada em
Brasília e teve suma importância, pois contou com a grandiosa participação de diversos
segmentos sociais envolvidos. Devido à importância da II Conferência, seu relatório final
passou a servir de diretriz oficial para orientar a reestruturação da atenção em saúde mental no
Brasil (PITTA, 2011).
Os anos 2000 foram os que mais ocorreram avanços no tema. Para começar, em 2001
foi aprovada a Lei Federal 10.216/2001, e dela, Pitta destaca alguns pontos:
[...] fica prescrita a elaboração de “política específica de alta planejada e
reabilitação psicossocial assistida” para o paciente “há longo tempo
institucionalizado” e para as situações de “grave dependência institucional”.
Menciona os chamados “serviços residenciais terapêuticos” e todos os
dispositivos assistenciais para cuidar em liberdade. A lei foi o ponto
culminante de um processo de normatização da assistência que vinha sendo
20
implementada com o desenho da Reforma através das portarias ministeriais e
da indução financeira para tal fim. A substituição progressiva dos manicômios e a implementação da rede de atenção psicossocial que o tornará prescindível,
está descrita na lei. De modo não linear e simétrico, e com muitas resistências,
essa rede vem sendo construída no território nacional (PITTA, 2011, p.
4587).
Baseada na nova lei e ainda em 2001, foi realizada a III Conferência Nacional de Saúde
Mental, em Brasília, com grande participação popular e democrática. Todos os setores
envolvidos participaram de forma ativa, ratificando e criticando elementos da lei (PITTA,
2011).
Em resumo, a Reforma Psiquiátrica trouxe inúmeros benefícios por tentar dar uma
situação não asilo-confinante para pessoas/assistidos/pacientes que estariam destinados às
situações ociosas das ruas e dos manicômios, passando por situações de morte social e
violência. Ela não se trata somente da “desospitalização” e criação de um modelo de tratamento
coletivo, mas também da desinstitucionalização, que é um processo que critica a fundo a
instituição psiquiátrica e identifica o histórico negativo que circunda os transtornos mentais e
suas práticas de tratamento. A reforma busca mudar essa visão que está impregnada, ao buscar
dar qualidade de vida às pessoas que apresentam qualquer tipo de sofrimento mental
(CALICCHIO, 2007; PITTA, 2011).
Dentre os benefícios trazidos com a Reforma Psiquiátrica Brasileira, existem alguns
serviços que surgiram após a reforma que trouxeram resultados positivos e dentre eles pode-se
destacar os CAPS, os serviços residenciais terapêuticos e outros serviços ambulatoriais de
referência. Quanto aos serviços adicionados à parte de saúde, pode-se enfatizar a renda, o
trabalho protegido e o lazer assistido (PITTA, 2011).
A mesma autora relata que, apesar de várias vitórias alcançadas com a Reforma
Psiquiátrica Brasileira, incluindo o fechamento de diversos manicômios e a facilitação do
alcance aos serviços comunitários de cuidado mental, nos dias atuais alguns pontos da reforma
são questionados, dentre eles, o fato da maioria dos serviços ambulatoriais e comunitários para
cuidado dos pacientes não serem noturnos.
Ainda segundo a autora, há também indagações em torno da Reforma Psiquiátrica, entre
as quais, o porquê de ainda não ter sido alcançado um consenso maior de atitudes a serem
tomadas, já que a grande maioria dos assistidos e trabalhadores da saúde condena os
manicômios. Todos desaprovam o tratamento desumano do paciente e a exclusão dos
transtornos mentais e do uso excessivo de drogas, apesar de alguns ainda agirem,
inconscientemente, de forma a boicotar o movimento.
21
Essas indagações se acentuam principalmente quando se constata que desde 1920,
figuras importantíssimas deram passos primordiais no que viria a ser a Reforma Psiquiátrica
Brasileira. Apesar de haver quem pensasse em uma forma alternativa do tratamento do paciente
com transtornos mentais desde a primeira metade do século XX, pode-se observar que toda a
luta e todo o progresso pode ser considerado, em termos, um processo recente.
Por isso, vale comentar um pouco sobre as contribuições dos pensamentos de três ícones
da Reforma Psiquiátrica Brasileira: Osório César, Nise Silveira e Arthur Bispo do Rosário.
Osório Cesar, que era psiquiatra e crítico da arte, em 1920 tentou implementar a arte
como tratamento de pessoas com transtornos psiquiátricos ou psicológicos pela primeira vez
(CALICCHIO, 2007). Ele desenvolveu uma maneira de analisar e interpretar as obras de arte
produzidas pelos assistidos dos hospitais psiquiátricos. Sua produção pioneira envolvendo
psicologia da arte se manifestou em um dos primeiros artigos sobre esse tema no Brasil
(ANDRIOLO, 2003).
Para Cesar, “arte é compensação, realização na fantasia daquilo que o real negou”
(ANDRIOLO, 2003, p. 78). Ele destaca que nas obras de arte, ficam explícitas imagens do
subconsciente do artista. Assim, levando em consideração os trabalhos artísticos como
atividades primordiais na vida dos pacientes, César ressalta que a arte é
[...] uma necessidade indispensável à sua vida de enclausurado. Talvez seja
esse o motivo para que as suas ideias alucinatórias, de grandeza etc., venham
a se objetivar demoradamente no mundo da realidade material. E dessa forma
nós observamos um fato singular. Os doentes que se entregam a essas
cogitações ficam calmos, trabalham com prazer, estilizam as suas
manifestações de arte com inteira satisfação de ânimo. Dir-se-ia que os seus
pensamentos se perdem num enorme mundo de belezas (CÉSAR, 1929, p.35
apud ANDRIOLO, 2003, p.77).
Observa-se que, apesar de o quadro psiquiátrico no Brasil ter estado deplorável na
década de 1970 e anteriormente, desde 1920 vem se pensando em mudar esse fato.
Já em 1940, Nise Silveira, que também era psiquiatra, foi quem tentou implantar essa
forma de tratamento e cuidado. Ela conseguiu inserir esse método no Centro Psiquiátrico Pedro
II, no Rio de Janeiro. Para Nise, usar a arte no tratamento dos pacientes era muito mais que uma
terapia, era também uma forma de avaliação pessoal de cada indivíduo, um jeito peculiar de
penetrar o íntimo de cada paciente (CALICCHIO, 2007).
22
Ainda de acordo com a mesma autora, a experiência de Nise deu certo, pois chamou a
atenção de diversos setores sociais, dentre eles, os meios intelectuais e artísticos da época, que
ficaram maravilhados com a beleza e com o significado das obras de arte.
Outra vivência que ficou marcada positivamente, segundo a autora, foi a de Arthur
Bispo do Rosário que, durante seu período de reclusão em uma colônia, desenvolveu obras de
arte de grande reconhecimento no Brasil e no exterior.
Osório, Nise e Bispo do Rosário são símbolos da Reforma Psiquiátrica Brasileira, pois
da maneira correta demonstraram como a arte pode ser inserida no contexto da saúde mental,
como forma de análise, expressão, libertação, socialização e valorização (CALICCHIO, 2007).
A autora destaca que, devido ao legado deixado por esses três ícones, a arte como forma
de terapia tem sido um dos novos rumos tomados pelo Movimento da Luta Antimanicomial e
depois foi introduzida também como uma das diretrizes da Reforma Psiquiátrica.
Apesar dos enormes questionamentos acerca do porquê de atitudes maiores não terem
sido tomadas, e dos desafios existentes, dentre eles o passado, a história e o preconceito que
juntos rondam os transtornos mentais, pode-se constatar que o progresso da Reforma
Psiquiátrica tem obtido sucesso. É um caminho recente que está sendo seguido e está inacabado,
pois dia após dia vem se fortalecendo e se difundindo.
1.2 Cenário de Campos dos Goytacazes
O cenário atual da cidade de Campos dos Goytacazes possui um hospital psiquiátrico, o
Hospital Abrigo João Viana. Devido aos investimentos feitos no setor psicossocial e à
ampliação da rede de saúde mental, a procura por leitos nos hospitais tem diminuído.
Até outubro de 2017 a cidade possuía dois hospitais psiquiátricos, mas, após 75 anos de
funcionamento, o Hospital Psiquiátrico Henrique Roxo teve suas portas fechadas. Isso ocorreu
com base na Lei da Reforma Psiquiátrica e também devido a dificuldades financeiras
(RIBEIRO, 2017).
Segundo o Ministério da Saúde (2016), no período entre os anos de “2002 e 2015, houve
redução de 51,3% no número de leitos em hospitais psiquiátricos, caindo de 51.393 para
25.009” no Brasil. Já em Campos dos Goytacazes, a diminuição pode ser observada nos dados
obtidos pela Folha 1 (2017), que mostra que no mês de março de 2017 houve 45 internações, e
em julho do mesmo ano, somente quatro. Esse avanço caminha para o fechamento dos hospitais
psiquiátricos e para o fortalecimento das Redes de Atenção Psicossocial.
23
Atualmente existem, em Campos dos Goytacazes, quatro unidades públicas
especializadas em saúde mental com o propósito de tratar e reinserir socialmente as pessoas
com transtornos mentais, que são os CAPS (Prefeitura de Campos dos Goytacazes, 2010).
Segundo o Portal Saúde (2014), os CAPS se diferenciam quanto ao público que atendem
e ao horário de funcionamento. O tipo de Centro de cada município também é definido a partir
de sua quantidade de habitantes. Os CAPS I e II atendem a todas as faixas etárias que possuem
“prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e
persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras
situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida”.
A diferença entre eles é que o CAPS I é indicado para munícipios que possuem
população acima de quinze mil habitantes, e o CAPS II, indicado para os que apresentam
população acima de setenta mil habitantes (Portal Saúde, 2014).
Já o CAPS III, conforme apresentado pelo mesmo Portal, apresenta um diferencial, pois
ele possibilita a existência de
[...] serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas,
incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e
acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS AD.
Indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de cento
e cinquenta mil habitantes (PORTAL SAÚDE, 2014, s.p.).
Existem ainda, Centros de Atenção Psicossocial voltados exclusivamente para o público
infanto-juvenil e para o público cujo sofrimento psíquico é proveniente de álcool e drogas. A
Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro reitera que
Os centros oferecem um atendimento interdisciplinar, composto por uma
equipe multiprofissional que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos,
psiquiatras, entre outros especialistas. O serviço é diferenciado para o público
infanto-juvenil, até os 17 anos de idade, através do CAPSi, e para pessoas em
uso prejudicial de álcool e outras drogas pelo CAPSad, (PMRJ, 2017, s.p.).
Em Campos dos Goytacazes, essas unidades se dividem em quatro edificações: o CAPSi
(Dr. João Castelo Branco), o CAPS II (Dr. João Batista Araújo), o CAPS III (Romeu Casarsa)
e o CAPS AD (Ari Viana) (PMCG, 2010).
Três deles funcionam de segunda a sexta de 8h a 17h, o outro possui quatro leitos e
funciona 24h por dia durante toda a semana. Nesses Centros são realizadas tarefas como
24
oficinas terapêuticas, de beleza, artesanato, atividades de lazer e esporte, aulas de música para
os assistidos (PMRJ, 2017; PMCG, 2010).
Ao longo do trabalho serão apresentados os resultados dos estudos de caso e das
entrevistas realizadas no CAPSIII e no CAPSi. O Centro de Convivência viria como um
complemento à função dos CAPS, ao mesmo tempo que traria para a cidade o enfoque em
Transtornos Mentais Comuns.
2 A IMPORTÂNCIA DE ESPAÇOS DESTINADOS A TERAPIAS
Nesse capítulo serão apresentadas as atividades que serão realizadas no Centro de
Convivência, assim como seus benefícios para os usuários em tratamento.
2.1 Arteterapia
Dentro da Reforma Psiquiátrica existe uma prática denominada Reabilitação
Psicossocial que é destinada a pessoas que apresentam transtornos mentais e tem o objetivo de
garantir mais autonomia, habilidade e poder contratual dos pacientes. Dessa forma, existe a
arteterapia - inclusa na Reabilitação Psicossocial - que se insere como trabalho sem
remuneração nas oficinas terapêuticas que objetivam ampliar a individualidade e a criatividade
das pessoas com sofrimento mental, evitando, desta forma, atividades monótonas e repetitivas.
(VALLADARES, 2004).
A arteterapia é “um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do
conhecimento, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o homem
em sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação”
(COQUEIRO; VIEIRA; FREITAS, 2010, p. 860). Atividades artísticas comprovadamente vêm
trazendo inúmeras melhoras no tratamento dos assistidos que, longe de manicômios e locais
enclausurados, podem se sentir livres novamente para viver em sociedade e interagir com os
outros.
Philippini relata, dentre as formas de conceituar a arteterapia, que
Uma delas é considerá-la como um processo terapêutico decorrente da
utilização de modalidades expressivas diversas, que servem a materialização
de símbolos. Estas criações simbólicas expressam e representam níveis
profundos e inconscientes da psique, configurando um documentário que
permite o confronto, no nível da consciência, destas informações, propiciando
“insights” e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica. Uma
outra forma de dizer, poderá ser simplesmente terapia através da Arte
(PHILIPPINI, 1998, p. 1).
Essa arte não é a que normalmente se vê, pois não há preocupação com estética e com
técnicas, já que o importante é o processo expressivo e criativo do indivíduo. Assim, destaca-
se a relevância da presença de um espaço destinado à arteterapia no Centro de Convivência, já
26
que é uma modalidade prevista na Reforma Psiquiátrica (PHILIPPINI, 1998). Compreende-se
que esse ambiente deverá ser confortável o suficiente para que as pessoas se sintam à vontade
para liberarem a imaginação e produzirem materiais expressivos.
Segundo Coqueiro, Vieira e Freitas,
Observa-se que a arteterapia tem possibilitado aos usuários a vivência de suas
dificuldades, conflitos, medos e angústias de um modo menos sofrido.
Configura-se como um eficaz meio para canalizar, de maneira positiva, as
variáveis do adoecimento mental em si, assim como os conflitos pessoais e
com familiares. Nota-se que há uma minimização dos fatores negativos de
ordem afetiva e emocional que naturalmente surgem com a doença, tais como:
angústia, estresse, medo, agressividade, isolamento social, apatia, entre outros
(COQUEIRO, VIEIRA e FREITAS, 2010, p. 862).
Portanto é notório que projetos que envolvam arte conjuntamente com o tratamento
psiquiátrico e psicológico, além de seu cunho terapêutico, têm a função de interação social e
melhor participação dos assistidos no meio público e no cultural. Como já apontado
anteriormente, a Reforma Psiquiátrica ratifica a eficácia da arteterapia para o tratamento do
sofrimento emocional.
No projeto do Centro de Convivência há uma ampla sala de artes, muros destinados ao
grafitti e bibliotecas que também poderão inspirar a produção de artes literárias.
2.2 Musicoterapia
Envolvendo arte e emoção, a música pode possibilitar inúmeros benefícios ao ser
humano. Segundo Almeida e Silva, a musicoterapia pode ser definida como
[...] uma forma alternativa de assistência ao paciente com sofrimento mental
por possibilitar melhoria na qualidade de vida, mostrando a esses indivíduos
que seu tratamento pode ir muito além do uso frequente de medicação. Por
meio deste estudo observou-se a importância que a música tem no tratamento
do indivíduo com transtornos mentais (ALMEIDA e SILVA, 2013, p. 19).
Observa-se que existem muitas formas alternativas de combater e aliviar o sofrimento
mental, graças a elementos que fornecem aos indivíduos a capacidade de serem independentes
e autônomos, sem se sentirem presos a medicamentos, leitos de internação e instituições
fechadas. A música é um artifício presente no cotidiano das pessoas e talvez elas nem imaginem
seu efeito positivo comprovado na vida dos indivíduos.
27
Como terapia, a música vem sendo utilizada desde 1859 e, posteriormente, foi uma
alternativa para auxiliar o tratamento dos soldados feridos na Primeira e Segunda Guerras
Mundiais (ALMEIDA e SILVA, 2013).
Segundo as mesmas autoras,
A utilização da música traz muitos benefícios aos pacientes, visto que envolve
reações sensoriais, hormonais, fisiomotoras e psicológicas, não havendo
fragmentação entre os seus efeitos. A relação enfermeiro paciente também é
melhorada, já que a música facilita a comunicação por criar maiores vínculos
com o paciente, proporcionando a ele um cuidado humanizado (ALMEIDA e
SILVA, 2013, p. 15).
Constata-se que a música auxilia a relação interpessoal, trazendo benefícios
inimagináveis para pessoas que costumam se isolar, viver solitárias e sentir que não pertencem
a lugar nenhum. Os indivíduos relacionam-se melhor quando existe um cenário musical
envolvido.
No ser humano, a música produz impactos diretos em suas células e órgãos e indiretos
em suas emoções e processos corporais. Sendo assim, ela atinge o interior do organismo
humano que passa a relaxar mais e ter maior percepção dos outros e de si mesmo (ALMEIDA
e SILVA, 2013).
Levando em conta os inúmeros benefícios que a música pode trazer a qualquer ser
humano, foi projetada uma sala destinada à sua prática no anteprojeto proposto, além de áreas
livres que podem ser utilizadas para o mesmo fim.
2.3 Atividades físicas
Segundo Godoy (2002), exercícios físicos começaram a surgir em atividades intrínsecas
ao ser humano e em suas rotinas, como caminhadas e atividades do trabalho que exigiam
esforço. Com a chegada da vida moderna, o homem passou a ficar cada vez mais sedentário e
com hábitos ruins de alimentação, devido à falta de tempo e à constante carga de estresse
envolvendo suas inúmeras atividades.
Muitos estudos vêm sendo feitos relacionando a prática de exercícios físicos a
problemas emocionais. De acordo com o mesmo autor, a atividade física pode ser uma boa
forma para liberar as tensões acumuladas pelo estilo de vida contemporâneo. O sedentarismo é
um fator de relevância para o aparecimento de sintomas de transtornos como ansiedade e
28
depressão. Em contrapartida, a prática do exercício físico é, comprovadamente, interligada à
sensação de bem-estar do ser humano, à melhoria da autoestima, do autoconceito e da imagem
corporal.
Desta forma, enfatiza-se a extrema relevância da manutenção do corpo em movimento
para o tratamento da mente e, por isso, há no anteprojeto proposto nesse trabalho áreas como a
quadra e a academia que são destinadas às mais diversas práticas de esportes e exercícios físicos
que atendam a todas as faixas etárias, favorecendo a relação interpessoal dos indivíduos em
sociedade.
2.4 Terapia com plantas
Assim como o contato entre as pessoas, a vida das plantas também é benéfica para a
existência humana. Segundo Azevedo (2002), é comprovado que existe uma melhoria no bem-
estar das pessoas que participam de atividades que envolvem o cuidado com as plantas. Existe
uma teoria em que o jardim possui um aspecto simbólico que representa o ciclo de todos os
seres vivos, pois ele nasce da terra, símbolo da figura materna, remetendo ao renascimento.
A mesma autora relata que
O cultivo é uma atividade que pode estar associada ao processo de linguagem
"não racional" e "não verbal", permitindo a elaboração de uma imagem
correspondente ao jardim. Esse processo favorece a externalização dos
conteúdos subjetivos, que se tornam eventualmente difíceis de serem
desvelados pelas palavras. A atividade, portanto, pode oferecer aos pacientes
com dificuldade de relação uma oportunidade de saída de seu isolamento
interno por meio da interação com o outro e pela elaboração do canteiro de
plantas. O trato do paciente com canteiro pode estar articulado a seu
autocuidado, que pode se estender para o espaço institucional e ao corpo de
funcionários, visto que estes também cuidam dos próprios pacientes
(AZEVEDO, 2002, p. 125).
Estando em contato com as plantas, o paciente passa a se familiarizar com outros tipos
de vida, a se cuidar, a se sentir útil e, ao mesmo tempo, a colocar para fora sentimentos que não
fazem bem. Atividades que fazem com que as pessoas com sofrimento mental tirem o foco do
seu interior e passem a prestar mais atenção ao mundo e seus pequenos detalhes são sempre
benéficas. Azevedo ainda constata que
29
Quando um sujeito está passando por uma experiência de sofrimento psíquico,
sua subjetividade encontra-se confusa, especialmente na dimensão em que se
encontram os afetos. Tal mal-estar tem como consequência uma percepção
alterada da realidade. Dependendo do grau de confusão subjetiva, poderá
haver uma desvinculação entre ele e seu meio, acarretando então uma ruptura
dos laços socioafetivos que o sujeito possuía. Para que haja uma
reaproximação dele com sua realidade, os procedimentos terapêuticos devem
ser os mais adequados possíveis, bem como associados dentro de um espaço
acolhedor, ou seja, um lugar ajardinado (AZEVEDO, 2002, p. 125).
No Centro de Convivência projetado, existe muita vegetação e amplos espaços verdes
internos e externos, com o objetivo de contribuir não somente para a terapia com plantas, mas
também para ampliar a sensação de liberdade e o contato com o meio ambiente, que só trazem
benefícios. Além disso, há no projeto uma horta e uma estufa que estarão sob os cuidados dos
usuários, gerando uma benéfica relação de troca.
2.5 Terapia em grupo
A terapia em grupo é positiva para uma pessoa que esteja com algum transtorno mental
comum, pois, através do contato com outros problemas e situações, o usuário em questão
percebe que não está sozinho e passa a compartilhar experiências de forma mais aberta.
No grupo, o usuário deve se sentir livre para falar sobre qualquer assunto que o
incomoda, mesmo sendo fora do tema proposto. Esse tipo de terapia proporciona abertura às
pessoas para que elas se expressem de forma tranquila, sem serem censuradas (BECHELLI e
SANTOS, 2005).
No início, pode haver timidez, mas, segundo os mesmos autores,
Assim que o grupo amadurece, os participantes tornam-se mais envolvidos e
comprometidos entre si, compartilham ideias, trocam suas experiências e
oferecem espontaneamente apoio, esclarecimentos e interpretações uns aos
outros. Os assuntos do grupo são tratados de forma confidencial e, à medida
que os participantes desenvolvem respeito e confiança mútua, começam a
assumir riscos nos temas examinados e na interação estabelecida
(BECHELLI e SANTOS, 2005, p. 119).
Além da liberdade da fala, o assistido precisa se sentir igual ao próximo para que possa
falar de seus sentimentos, levando sempre em conta que as experiências que os outros passaram
também são valiosas para seu crescimento pessoal. Ele precisa confiar no outro e em si mesmo
para que esse processo ocorra de forma natural (BECHELLI e SANTOS, 2005).
30
A observação comportamental deve ser realizada por cada pessoa, no sentido de
observar e perceber que as reações a situações parecidas variam de usuário para usuário. A
respeito disso, os mesmos autores reiteram que
No grupo, comparações sociais constituem uma das formas para a obtenção
de benefício pessoal. O paciente, ao fazer sua autoavaliação, tem oportunidade
de observar seu comportamento, opiniões, sentimentos, estado emocional e
seus problemas em relação aos demais, podendo rever sua identidade. Pode
notar que as situações que o deixam irritado, irado ou aborrecido, não
provocam a mesma reação em outros participantes; sentimentos que jamais
ousou expressar são prontamente manifestados pelo colega de grupo; a ideia
que fazia de si próprio e do mundo não é necessariamente como o outro
pondera; sentimentos e experiências que considerava peculiar a sua pessoa são
comuns em relação aos demais (BECHELLI e SANTOS, 2005, p. 121).
A terapia em grupo quando estimula o contato das pessoas com as diferenças e estimula
o autoconhecimento e o conhecimento do outro, também pode colaborar com a autoaceitação e
com a aceitação do próximo, possibilitando uma boa base de convivência entre os pacientes,
como os autores ressaltam:
Comparar-se com os demais pode gerar maior conhecimento e compreensão
de seus próprios sentimentos, aumento da aceitação de sua própria pessoa,
bem como o estabelecimento de uma nova visão acerca dos demais, de si
próprio e do seu mundo. No decorrer desse processo há a possibilidade de
reajustar seus conceitos e se libertar do modo distorcido de se relacionar com
as pessoas, reduzindo, consequentemente, eventual isolamento social
(BECHELLI e SANTOS, 2005, p. 121).
Desta forma, conclui-se que a terapia grupal é tão necessária quanto a terapia individual
e igualmente benéfica às pessoas que possuem transtornos mentais, sendo um recurso
importante para o Centro de Convivência que estimula o contato e a integração entre seres
humanos.
Assim, diante das vantagens geradas pelas terapias expostas nesse capítulo, fica
demonstrada a necessidade de relacionar a arquitetura com a psicologia, para que seja alcançada
eficiência em espaços destinados à arte, à musica, à prática de atividades físicas, ao cultivo de
plantas e às terapias em grupo.
3 PSICOLOGIA AMBIENTAL
A psicologia ambiental é uma área que não está totalmente consolidada, mas é bastante
importante para estudos de diversas disciplinas. Ela pode ser conceituada de forma geral como
o "estudo das transações entre indivíduos e seus ambientes físicos" (GIFFORD, 1987, p. 2 apud
ELALI, 2002, p. 65). Dessa forma, a psicologia ambiental se mostra como uma disciplina que
relaciona o ser humano com o ambiente em que vive.
Considerando que o homem passa a maior parte do tempo em ambientes construídos e
não em áreas ao ar livre, verifica-se que há uma responsabilidade maior envolvendo os
projetistas. Muitas vezes isso não é levado em conta, e os espaços planejados ignoram o
principal: o indivíduo (ELALI, 2002).
Segundo Sommer (2002), geralmente hospitais psiquiátricos possuem sempre o mesmo
padrão de layout. As cadeiras são dispostas ao longo das paredes, os corredores são compridos
e sem atrativos, aprisionando os pacientes, as cores utilizadas são institucionais e nada
cativantes, e a iluminação varia muito de um ambiente para o outro, trazendo sensações
negativas. Todos esses aspectos prejudicam a socialização das pessoas, sendo que, muitas delas,
já possuem tendência de se isolarem.
Comprovadamente, estudos mostram que a disposição das cadeiras em ambientes
psiquiátricos impossibilita a socialização entre as pessoas, principalmente as de mais idade. Os
hospitais normalmente são grandes e isolados, o que já causa um certo receio de habitar aqueles
locais (SOMMER, 2002). Dessa forma, fica nítida a necessidade de um projeto mais livre, mais
aberto, com layout pensado na socialização, na reintegração, no tratamento das pessoas que
sofrem de problemas emocionais e precisam de apoio.
Maciel (2002, p. 131) relata que existe uma pesquisa que lida “com a filosofia e a poética
do espaço arquitetônico por meio do estudo do corpo e da casa na instituição psiquiátrica”. Esse
estudo procura estabelecer relações entre o comportamento do homem em manicômios e
também o retorno do paciente para a sociedade, consequência de sua saída dos ambientes
manicomiais. Os locais onde os assistidos estão sendo realocados também não são ideais, não
funcionam como deveriam, não apresentam de forma plena os métodos alternativos de cuidado
dos assistidos.
Por mais que, nos dias atuais, muitos pacientes estejam em locais melhores que os
manicômios, eles ainda não se sentem em casa como deveriam. Essa noção de corpo e casa é
bastante pessoal e, conforme relato de Maciel,
32
[...] a questão do corpo está relacionada à casa, uma vez que esta é almejada
como espaço pessoal de acolhimento do corpo e o corpo se torna o espaço
pessoal mais próximo, mais íntimo. A partir dessa perspectiva, é possível
investigar o entrecruzamento das noções de espaço pessoal e espaço poético.
O espaço pessoal diz respeito a um invólucro em torno de cada pessoa e a
personalização de um espaço científico – uma enfermaria, o pátio do hospital
–, bem como a localização de objetos no corpo, desde aqueles que são
pendurados no pescoço ou na cintura até personalização de objetos de sucata,
que podem agregar significados extremamente relevantes e serem vistos não
como parte de um comportamento patológico, mas como índices de uma
poética do espaço, uma nova ordem que é dada pelo paciente ao ambiente que
utiliza e que funcionam não mais como espaços de percepção, mas como
espaços de imaginação (MACIEL, 2002, p. 131,132).
Entende-se que, assim como a casa precisa ser o melhor abrigo possível para o corpo
humano, o corpo humano deve ser visto como lar, pois é o mais próximo de casa que as pessoas
têm. Tudo que está ao redor dos indivíduos em seus espaços pessoais tem que ser bem cuidado
sempre, para que as experiências sensoriais sejam positivas.
Segundo Maciel (2002, p. 131), o que as pessoas entendem por casa não cabe em
nenhum estereótipo, mas se encaixa na intimidade protegida, que é o que o ser humano almeja
para si. A Reforma Psiquiátrica tem como um de seus objetivos garantir isso, preparando a
sociedade e os locais para abrigarem de forma correta as pessoas que possuem transtornos
mentais.
Conforme a mesma autora relata (2002, p. 133), nos hospitais psiquiátricos predomina
a “arquitetura da normalidade, aquela que teme a loucura, o diferente. A proposta da reforma
psiquiátrica é justamente respeitar esse diferente, construir uma arquitetura em função dessa
diferença, sem deixar de lado os aspectos da ciência do espaço”.
A iluminação de um ambiente é um fator de impacto no bem-estar das pessoas presentes
no local. De acordo com Fonseca, Porto e Clarke:
A iluminação de um ambiente é capaz de alterar o estado de ânimo daqueles
que por ele transitam ou ocupam e pode vir a influenciar a cognição e o
comportamento destes. Trata-se de uma prática da competência do arquiteto,
que deve levar em consideração efeitos sobre a percepção do indivíduo e seus
desdobramentos (FONSECA, PORTO e CLARKE, 2002, p. 183).
Os arquitetos e projetistas devem sempre se preocupar com a questão da luz, pois
iluminação não é algo supérfluo a ser decidido por último no projeto, mas algo que faz toda a
diferença e pode tornar impossíveis de serem frequentados lugares que tinham grande potencial
de funcionarem bem.
33
Há estudos e pesquisas realizadas pela Medicina e pela Psicologia que podem
comprovar o fato de que a luz e a escuridão afetam as sensações pessoais, e os arquitetos devem
se basear nelas (FONSECA; PORTO; CLARKE, 2002). Ainda segundo os mesmos autores,
A luz tem um Impacto psicológico e fisiológico significativo no homem.
Quando a luz passa pelos olhos, os impulsos são propagados não apenas às
várias áreas visuais, mas também às áreas do cérebro relativos às emoções e à
regulação hormonal (FONSECA, PORTO e CLARKE, 2002, p. 183).
Esse trecho mostra a complexidade da luz no organismo humano, comprovando que não
é algo que se restringe ao olhar, mas também tem impactos no resto do corpo.
De acordo com os mesmos autores, existe uma sincronia denominada ritmo circadiano
que é uma espécie de relógio que relaciona nosso organismo ao nascer e ao pôr do sol. Esse
ritmo influencia a taxa de vários hormônios do sangue dos seres humanos. A melatonina,
“principal hormônio responsável pelo ciclo do dia e da noite, possui uma posição importante
na mediação dos efeitos da luz no olho, e a velocidade da síntese de melatonina é controlada
pela iluminação ambiental” (FONSECA; PORTO; CLARKE, 2002, p. 184). Uma das funções
da melatonina é regular as secreções de hormônios ligados ao estado de ânimo dos indivíduos.
Assim, pode-se fazer uma ligação entre o ritmo circadiano, ou seja, nascer do sol e pôr
do sol, com as sensações provocadas no organismo humano, relacionando-as aos hormônios
que existem no corpo.
A forma como as pessoas se sentem tem relação com a maneira como elas se
comportam, com a forma com que reagem, com sua criatividade e agressividade (FONSECA;
PORTO; CLARKE, 2002). Por isso, é notória a necessidade de haver cuidado e atenção nos
estudos da iluminação nos locais projetados, pois ela influencia o organismo humano de
diferentes formas positivas e negativas conforme foi constatado anteriormente. Sobre a
influência da luz nas reações humanas, os mesmos autores dizem ser
[...] comprovado que as pessoas, a princípio, tendem a ter reações mais
positivas quando expostas a fontes de luz “morna” (com tons relativamente
amarelado, alaranjado ou avermelhado) que as fontes de luz “fria” (com tons
mais esverdeados ou azulados), combinadas à baixa, mais que à alta
iluminância (FONSECA, PORTO e CLARKE, 2002, p. 186).
Assim, conforme os mesmos autores, constata-se que a iluminação ideal deve combinar
iluminância e temperatura de cor, e, quando um dos dois fatores aumentar, o outro também
34
deve subir. Então quanto mais alta a iluminância, mais branca deverá ser a luz e, quando mais
baixa a iluminância, mais amarelada deverá ser a luz.
Em se tratando de luz natural, sabe-se que ela é favorável e deve ser priorizada na
maioria dos casos, sendo, muitas vezes, melhor que a luz artificial em diversos aspectos. Sobre
esse assunto, Fonseca, Porto e Clarke ressaltam que
A presença de luz solar em espaços internos tem impactos positivos e
negativos. Os impactos positivos da luz solar em seu uso como fonte de calor
ou para melhorar o bem-estar visual, emocional e psicológico dos ocupantes.
A luz do sol varia, em questão de segundos, a intensidade, cor e alcance. Há,
entretanto, de se fazer a ressalva de que a janela traz a luz, mas, sobretudo,
interliga o interior ao exterior. Informa sobre o passar do dia, sobre as
condições atmosféricas e apresenta dados de um contexto social, espacial e
temporal.
Os impactos negativos incluem fatores como ofuscamento e excesso de ganho
de calor aos ocupantes. Esses problemas se agravam quando a luz solar
penetra diretamente em áreas onde atividades que necessitavam de alguma
acuidade visual são exercidas (FONSECA, PORTO e CLARKE, 2002, p.
187).
Portanto a luz do sol, apesar de trazer inúmeros benefícios, deve ser utilizada
racionalmente, pois em excesso traz efeitos negativos. Segundo os mesmos autores, a luz
natural pode trazer sentimentos que induzem a interações entre as pessoas, mas o excesso dessa
luz traz sensações ruins, como estresse, caos, indiferença e pouca atenção aos detalhes, já que
o local se torna menos interessante.
Outros fatores além da iluminação podem causar impactos nos seres humanos, como
[...] temperatura, umidade, barulho, qualidade do ar, e presença de multidão.
Temperaturas do ambiente muito altas ou muito baixas por exemplo induzem
o afeto negativo se comparadas a condições mais confortáveis. O mesmo
acontece com o barulho - especialmente o imprevisível - incontrolável que
pode gerar fortes sentimentos de incômodo (FONSECA; PORTO; CLARKE,
2002, p. 185).
Assim, torna-se clara a necessidade da preocupação com aspectos que nem sempre são
prioridades em um projeto de arquitetura e acabam sendo pensados por último, ou até mesmo
são consequências de outras decisões tomadas anteriormente. Conforme os trechos anteriores,
percebe-se que, desde a fase inicial de projeto, questões envolvendo conforto ambiental devem
estar intrínsecas na mente do arquiteto.
4 ESTUDOS DE CASO
Neste capítulo serão demonstrados os estudos de caso realizados no CAPS III (Romeu
Casarsa) e no CAPSi (Dr. João Castelo Branco) que foram selecionados para que fosse possível
a compreensão tanto da demanda adulta quanto da infantil. Os estudos nortearam o processo de
projeto e guiaram as escolhas feitas para Centro de Convivência projetado neste trabalho.
4.1 CAPS III – Romeu Casarsa
Para realização de um estudo de caso, foi feita uma visita ao CAPS III – Romeu Casarsa,
localizado na Rua Baltazar Carneiro, número 90, no Centro de Campos dos Goytacazes. Essa
unidade do CAPS funciona 24h por dia, todos os dias da semana, atendendo à população que
possui mais de 18 anos da parte Sul do Rio Paraíba do Sul (Figura 1).
Figura 1 - Fachada do CAPS III.
Fonte: GOOGLE, 2017.
Dentre os profissionais responsáveis pelo local, encontram-se três psiquiatras, quatro
psicólogos, oito enfermeiros, 15 técnicos em enfermagem, um assistente social, quatro
vigilantes, dois profissionais de limpeza/apoio, dois responsáveis pela administração e cinco
estagiários.
Quanto aos assistidos, atualmente cerca de 600 pessoas estão inscritas na unidade e, por
dia, uma média de 60 usuários frequenta o local. Essas pessoas têm acesso a rodas de conversa
que funcionam como terapia e, nas terças-feiras, são realizadas reuniões de família, momentos
36
em que os parentes dos assistidos mais frequentam o CAPS. Apesar disso, segundo informações
obtidas na entrevista à coordenadora dessa unidade, a maioria das famílias não está presente
nas reuniões.
Amigos e conhecidos dos usuários frequentam o CAPS, mas com uma frequência menor
que os familiares. Já a parcela da população que não possui vínculos com o local e com os
assistidos, frequenta em menor quantidade, normalmente para comprar no brechó organizado
por uma das assistidas (Figuras 2 e 3).
Figura 2 - Produtos no Brechó.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 3 - Produtos no Brechó.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Além do brechó, outras oficinas são realizadas na unidade, entre elas estão as de criação,
de reciclagem, de beleza, de bijuteria, de leitura e de corpo e movimento. Também são feitas
atividades como karaokê, bingo e caminhadas pela cidade com intuito de dar mais autonomia e
liberdade aos usuários, ao mesmo tempo que estimula a memória, a percepção, a noção de
espaço e a sensação de pertencimento à cidade.
37
Normalmente a maior parte dessas atividades são realizadas em uma mesa com bancos
sem encosto localizada na área externa próxima à entrada da edificação, o que torna complicada
a dinâmica entre os assistidos, pois há um constante fluxo de pessoas por ali. É uma área
pequena e desconfortável onde faltam assentos para todos, e alguns acabam tendo que ficar em
pé ou sentando em outros locais. Essa dinâmica prejudica a realização dos trabalhos propostos
nas oficinas, pois alguns usuários têm que ficar separados dos demais.
Além disso essa mesma mesa é utilizada para as refeições dos usuários, gerando conflito
de usos constantemente e atrapalhando a circulação das pessoas que frequentemente se
esbarram quando precisam passar ao lado da mesa.
Há inúmeros outros problemas na estrutura física do local, entre os quais destacam-se
os banheiros com infraestrutura de péssima qualidade, salas de atendimento em quantidades
menores que a ideal e com iluminação ruim, falta de depósito para materiais, pouca quantidade
de leitos, áreas precárias para funcionários e área externa livre pequena e sem atrativos.
Existem dois banheiros utilizados pelos assistidos, sendo um externo e um para uso de
quem está nos leitos. Conforme pode-se observar nas figuras 4 e 5, o banheiro externo encontra-
se em péssimo estado de conservação, com vaso sanitário sem assento e sem tampa, com
tubulação aparente e pé direito muito alto, o que causa desconforto. Além disso, é um ambiente
que não possui higiene adequada, pois foi encontrado sujo e com piso molhado quando foi
realizada a visita.
Figura 4 - Vaso sanitário.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
38
Figura 5 - Pé-direito alto do banheiro.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
O banheiro da área externa acaba sendo utilizado por um número muito grande de
pessoas, já que grande parte delas fica do lado de fora da edificação. Devido a menor circulação
interna, o banheiro utilizado pelos usuários que estão nos leitos é mais higiênico e de melhor
qualidade (Figura 6).
Figura 6 - Banheiro para usuários que estão nos leitos.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
As salas de atendimento existem em número menor que o necessário e são
compartilhadas para diversos tipos de atendimento. Uma delas foi visitada e pôde-se observar
que o ambiente dá a sensação de enclausura, além de não possuir nenhum tipo de atrativo para
os assistidos, o que pode causar sensações negativas.
A sala é escura, devido à iluminação ruim e aos tons fechados da madeira dos armários
e do teto, gerando incômodo tanto para o profissional que atende no local, quanto para o usuário
(Figuras 7 e 8). Parte do armário é utilizada como depósito de materiais, causando confronto de
usos no ambiente (Figura 9).
39
Figura 7 - Sala de atendimento com armários em tons fechados.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 8 - Teto escuro e iluminação ruim de uma das salas de atendimento.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 9 - Armário da sala de atendimento utilizada como depósito.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
40
Existem dois dormitórios pequenos reservados para os leitos, e esses ambientes são
desconfortáveis, pois apresentam ruídos altos provenientes da área externa, além de muita
claridade. Há também falhas na composição do layout interno, já que os leitos não são
distribuídos da forma ideal e a quantidade deles é menor que a necessária, havendo um
colchonete no local para possivelmente atender a todos (Figuras 10 e 11).
Figura 10 - Dormitório com colchonete.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 11 - Leitos mal distribuídos.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
As áreas destinadas aos funcionários podem ser desconfortáveis, pois não possuem
elementos atrativos, o que pode influenciar na qualidade do trabalho a ser realizado. A sala
administrativa possui quatro mesas, e a cozinha que é uma grande área na parte superior, é mal
aproveitada e quase não é utilizada pelos funcionários, apenas para refeições (Figuras 12 e 13).
41
Figura 12 - Sala administrativa.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 13 - Cozinha e refeitório para funcionários.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Já as figuras 14, 15 e 16 mostram que as áreas abertas, apesar de existirem e de haver
um jardim nos fundos do terreno, são pequenas, sem atrativos e muito mal aproveitadas. Todos
os assistidos aguardam o atendimento sentados em bancos sem encosto no corredor que fica em
frente às salas de atendimento. Não há conforto e lazer algum proporcionado nesses locais.
Figura 14 - Assistidos aguardando atendimento.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
42
Figura 15 - Jardim sem uso definido.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 16 - Área externa de circulação sem uso definido.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Foi utilizada a metodologia do Poema dos Desejos ou Wish Poems, desenvolvida por
Henry Sanoff 2, que consiste em solicitar que o público alvo através de poemas, textos ou
desenhos, demonstre suas necessidades e vontades em relação à edificação em questão
(MACHADO; AZEVEDO; ABDALLA, 2011).
Em uma oficina que envolve arte e estava sendo realizada durante o momento da visita,
foi explicada a ideia do projeto e foi proposto aos usuários que desenhassem o que gostariam
que existisse no Centro de Convivência. A maioria deles aceitou contribuir com o trabalho.
Os resultados trouxeram uma visão muito ampla da real necessidade de espaços que
tratam da saúde, do coletivo, da diferença e do bem-estar geral e contribuíram fortemente na
construção principalmente do programa de necessidades do projeto.
A seguir, será feita uma análise dos desenhos feitos pelos usuários e até mesmo da fala
2 Professor de arquitetura na School of Design, nos Estados Unidos, consultor de arquitetura em projetos escolares
de ambientes infantis em vários países e autor de obras importantes sobre o tema.
43
deles durante o processo de criação. Esses desenhos foram divididos por participantes e podem
ser encontrados no Apêndice A desse trabalho.
No desenho do participante 1, foi mostrada a necessidade de haver um grande número
de locais para sentar e para descanso, algo que facilita a convivência entre as pessoas.
O participante 2 evidenciou a vontade de que o Centro seja como uma casa, no sentido
de abrigar e ser refúgio. Nesse desenho existe uma bicicleta, que remete ao desejo de esportes,
e a antena de televisão que mostra a vontade de que exista televisão no local.
No seu desenho, o participante 3 demonstrou a importância do contato com a natureza,
com a vegetação e com os animais.
O participante 4 explicou que seu desenho representa um local onde convivem juntos
crianças e adultos, sendo isso benéfico para ambas as faixas etárias.
Já o participante 5 desenhou uma planta baixa para o Centro, com cômodos que
remetem, mais uma vez, ao ambiente residencial. Destaca-se a presença de antena de televisão
e de uma horta no local.
Os desenhos feitos pelos usuários comprovam a carência de locais para descanso no
CAPS, demonstram uma necessidade de uma maior quantidade de áreas de lazer, elementos
naturais, áreas para esportes e, acima de tudo, reiteram o desejo que o ser humano tem de se
unir com o próximo e estar junto em diversos círculos de convívio.
4.2 CAPSi – Dr. João Castelo Branco
Para desenvolvimento do segundo estudo de caso, outra visita foi feita, dessa vez ao
CAPSi – Dr. João Castelo Branco, localizado na Rua José do Patrocínio, número 154, no Centro
da cidade. O CAPSi atende crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de idade e tem suas portas
abertas de 8h a 17h (Figura 17).
Figura 17 - Fachada do CAPSi.
Fonte: GOOGLE, 2017.
44
A equipe profissional conta com três psiquiatras, quatro psicólogos, dois enfermeiros,
quatro técnicos em enfermagem, quatro assistentes sociais, um guarda que trabalha somente
durante o dia, um profissional da limpeza, um responsável pelo apoio logístico, dois
responsáveis pela administração, um fonoaudiólogo e oito estagiários.
Quanto ao fluxo de pessoas pelo local, uma média de 300 usuários é atendida ao todo e,
por dia, são assistidas entre 60 e 70 pessoas na unidade. Além disso, devido ao fato de o CAPSi
priorizar a aliança entre as crianças e os adolescentes com suas respectivas famílias, muitos
parentes frequentam a unidade, gerando um contato que torna o tratamento mais eficaz. Em
contrapartida não existe visita aos usuários feita por amigos, e a abertura do local para toda a
população é complicada por questões de segurança.
Em se tratando de oficinas, são realizadas no local as terapêuticas, a de pintura em tela,
confecção de brinquedos com materiais recicláveis (Figura 18), artesanato, autocuidado, escrita
poética (Figura 19), música e habilidades sociais para autistas. Atividades “extra-muro”
também são frequentes e auxiliam a vivência da realidade externa, com visitas a locais como a
Cidade da Criança, o Horto Municipal e o Centro de Educação Ambiental.
Figura 18 - Brinquedo feito com materiais recicláveis.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 19 - Produtos da oficina de escrita poética.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
45
As atividades das oficinas são majoritariamente realizadas no salão da área externa
(Figura 20), mas algumas são feitas em salas fechadas, não havendo um espaço próprio para
cada atividade.
Figura 20 - Salão Externo.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
O salão externo é um dos aspectos positivos do Centro, pois o contato com áreas abertas
e de livre circulação promovem uma maior sensação de bem-estar e facilita o convívio entre as
pessoas.
A presença de vegetação nessa área também traz vida para o local, proporcionando
sensações que locais fechados não trazem.
O salão também apresenta alguns elementos lúdicos como por exemplo o grafitti que
colore os muros, balões e objetos de cores variadas (Figuras 21 e 22).
Figura 21 - Grafitti presente nos muros.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
46
Figura 22 - Objetos coloridos.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Entretanto, apesar de haver elementos lúdicos nesse salão, as paredes revestidas por
tijolinhos são muito escuras, o que prejudica o conforto lumínico (Figura 23).
Figura 23 - Parede escura com revestimento de tijolinhos.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Por se tratar de uma casa alugada pela Prefeitura da cidade, o local passou por algumas
adaptações no sentido de deixar o ambiente mais amigável, porém em pouca quantidade.
Os atrativos para crianças e adolescentes no salão externo quase não existem nas outras
áreas, e esse é um dos pontos negativos detectados no local, que não foi projetado para atender
o público infanto-juvenil.
Além disso, existem outros problemas relacionados à estrutura física da edificação,
como por exemplo a cozinha localizada na circulação entre a recepção e a área externa, o que
47
causa inúmeros riscos para as crianças e adolescentes que podem manusear objetos perigosos
(Figura 24).
Figura 24 - Cozinha.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Quando se trata de estrutura física do CAPSi, outro aspecto ruim é a escada caracol que
faz a conexão do térreo com a área administrativa restrita a funcionários. Essa escada não
oferece segurança, possui alguns degraus tortos, além de não ser apropriada para esse tipo de
estabelecimento.
Existem outros ambientes que também não são adequados para o Centro, como o
depósito que é pequeno, os banheiros escuros e com pouca manutenção, a sala de espera,
pequena e sem atrativos, e os consultórios que existem em pouca quantidade, são simples, com
poucos atrativos e não são destinados especificamente para cada tipo de consulta (Figuras 25,
26, 27 e 28).
Figura 25 - Depósito.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
48
Figura 26 - Banheiro.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 27 - Banheiro.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 28 - Consultório.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
49
No CAPSi também foi utilizada a metodologia do Poema dos Desejos. Durante uma
oficina destinada a crianças com autismo que estava sendo realizada durante o momento da
visita, foi executado o mesmo procedimento feito no CAPS III, e todas as crianças aceitaram
representar seus desejos para o projeto do Centro através de desenhos.
Os resultados, que podem ser encontrados nos Apêndices desse trabalho, mais uma vez,
evidenciaram pontos que contribuíram positivamente com o projeto e trouxeram uma visão “de
criança” bastante enriquecedora e que foi levada em conta, ajudando na execução do programa
de necessidades do projeto.
O participante 6 fez um palco onde as crianças poderiam subir e se apresentar ou
discursar para um público, até mesmo como forma de brincadeira, de integração ou de “se
soltar”.
Já o participante 7 desenhou um computador, um vídeo game e um celular, explicitando
a vontade de equipamentos tecnológicos para o contato das crianças com as atualidades e com
o mundo globalizado.
O participante 8 representou uma casa de brinquedos e uma bola, demonstrando o desejo
de áreas destinadas ao esporte e às atividades físicas.
E, por fim, o participante 9 desenhou uma casa de bonecas onde pudesse brincar e passar
o tempo. Além disso também foi feito um celular, novamente sendo evidenciada a ligação que
algumas crianças têm com as tecnologias.
5 REFERENCIAIS DE PROJETO
Neste capítulo serão demonstrados os referenciais de projeto que serviram de inspiração
para a concepção de uma solução satisfatória para o Centro de Convivência apresentado neste
trabalho.
5.1 Referencial Plástico
Esse tipo de referencial é escolhido em função de suas características plásticas, como
por exemplo sua estética e sua forma.
5.1.1 Residência RCH
Arquitetos do projeto: Frederico Andrade e Guilherme Ferreira (Skylab).
Ano do projeto: 2008.
Local do projeto: Juiz de Fora, MG.
Nesse projeto, o desejo dos clientes era uma casa plana e aberta. A mistura de materiais
e o vazio na fachada inspiraram plasticamente os arquitetos, que projetaram uma construção
que apresenta características modernistas e foge completamente dos padrões de recortes e
desníveis normalmente presentes nas residências (Figura 29).
Figura 29 - Residência RCH.
Fonte: CASA.COM.BR, 2017.
51
Essa casa foi selecionada como referencial plástico, pois o Centro de Convivência
projetado também é térreo, trazendo acessibilidade e boa integração com a natureza, além de
ter misturas de materiais e aberturas nas fachadas, facilitando a ventilação e a iluminação
natural, itens bastante desejados nesse projeto.
Por se tratar de um projeto residencial de uma casa aberta e sem muros, o projeto é um
referencial bastante inspirador na concepção de uma edificação ampla, livre e acessível a todos.
Acima de tudo, essa edificação traz a sensação de acolhimento que se almeja no Centro de
Convivência, onde pretende-se que os assistidos se sintam em casa.
O uso de cores neutras, como marrom, cinza e do branco, obtidas com a presença de
materiais como madeira e concreto também foi um fator de relevância na escolha desse
referencial, já que o objetivo maior em se tratando da plástica do Centro de Convivência, é que
ele não sobressaia à natureza, mas se integre de forma sutil.
Dentre as formas que essas tonalidades foram obtidas, destaca-se o uso de materiais em
sua forma natural e aparente, como é o caso do concreto e da madeira, que juntos compõem de
forma harmoniosa a estética da casa (Figura 30).
Figura 30 - Tons neutros na residência.
Fonte: SKYLAB ARQUITETOS, 2017
52
5.2 Referencial Funcional
Esse tipo de referencial é selecionado de acordo com a função que desempenha e sua
dinâmica, que relaciona o projeto com o seu funcionamento.
5.2.1 Villa Ipanema
Autor: desconhecido.
Ano do projeto: 1999.
Local do projeto: Rio de Janeiro, RJ.
O Centro de Convivência Villa Ipanema foi escolhido como referencial funcional do
Projeto desenvolvido nesse trabalho devido às suas missões e à forma que se coloca perante a
sociedade. Esse Centro é referência no atendimento de pessoas com transtornos mentais, e o
tratamento e a frequência são completamente voluntários, o que deixa os usuários mais à
vontade e livres.
O local foge do modelo onde o hospital é o centro e traz calor humano, segurança,
integração, atividades positivas para o tratamento e mais qualidade de vida para os assistidos.
Nesse Centro, as pessoas se sentem incluídas, capazes e acolhidas, sendo tudo isso benéfico
para o tratamento humano.
Segundo a equipe da Villa Ipanema,
O espaço desta clínica psiquiátrica diferenciado e centro de convivência é
propício às atividades terapêuticas e produtivas. O ambiente
acolhedor incentiva a criatividade, a autoestima e a interação social, sempre
com muita atenção e afeto. As atividades desenvolvidas permitem que essas
pessoas ultrapassem o “modus vivendi” do sobreviver para o viver (VILA
(IPANEMA, 2017, s.p.).
A edificação é grande e rodeada por vegetação, o que traz maior contato com a natureza
e com a vida (Figuras 31 e 32). Uma equipe multidisciplinar, que inclui psicólogos, trabalha no
local para obter resultados positivos em diversas áreas do desenvolvimento humano. Várias
atividades internas são realizadas, como arteterapia, oficinas de jogos, informática, além das
atividades externas, que incluem visitas a locais como Lagoa Rodrigo de Freitas, Praça Pio XI,
53
Jardim Botânico, Parque Lage, livrarias e lanchonetes, e também as saídas individualizadas,
que envolvem idas ao dentista, psiquiatra, psicólogo, entre outros.
Figura 31 - Villa Ipanema.
Fonte: GOOGLE, 2017.
Figura 32 - Villa Ipanema rodeada por vegetação.
Fonte: GOOGLE, 2017.
54
5.3 Referencial Tecnológico
Esse tipo de referencial é escolhido levando em conta os materiais que são empregados
no projeto, ou até mesmo alguma tecnologia utilizada na construção.
5.3.1 Garden Room House
Arquitetos do projeto: Paul McAneary Architects.
Ano do projeto: 2015.
Local do projeto: Richmond, Inglaterra.
Nesse projeto, a residência possui um pátio central descoberto com jardim, e o acesso a
ele se dá por meio de portas de correr deslizantes. Foi utilizado um sistema minimalista na
estrutura dessas esquadrias, ou seja, a moldura fina das portas de correr amplia a passagem de
luz através do pequeno espaço ao ar livre (Figura 33).
Figura 33 - Pátio central da Garden Room House.
Fonte: IQ GLASS, 2017.
O fato de as portas serem de correr permite que haja diversas possibilidades de
posicionamento das aberturas, o que traz mais versatilidade ao ambiente.
55
O vidro utilizado é isolante e protege o ambiente do superaquecimento que pode ser
causado devido às radiações solares. As portas deslizantes possuem aproximadamente 60 mm
de profundidade cada e, como o sistema é de duas pistas, a espessura total é de 120 mm.
Como o projeto do Centro de Convivência se constrói em torno dos jardins internos que
permitem ventilação e iluminação natural em abundância, destaca-se a importância da escolha
das esquadrias. O motivo da escolha das esquadrias utilizadas no pátio interno da Garden Room
House são a proteção contra radiação, a espessura dos vidros e o fato das portas serem de correr,
não tomando espaço dos corredores e dos jardins quando estiverem abertas (Figura 34).
Figura 34 - Portas abertas sem atrapalhar a passagem dos corredores.
Fonte: HOUZZ, 2017.
5.4 Referencial Tipológico
Esse tipo de referencial é escolhido devido a sua configuração e à forma com que se
ajusta no projeto.
5.4.1 Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti
Arquitetos do projeto: Emergent Vernacular Architecture (EVA Studio).
Ano do projeto: 2016.
Local do projeto: Carrefour-Feuilles, Haiti.
56
O Tapis Rouge é um espaço público que foi construído visando a integração social e a
inclusão em um projeto multifuncional. Com o objetivo de diminuir as diferenças sociais do
local, foi criado um ambiente mais seguro e organizado, com atrativos que englobassem a todos
sem distinções.
O projeto foi implantado no topo de uma encosta, local que antes foi utilizado como
acampamento para os desabrigados após o terremoto. O espaço é completamente voltado para
a comunidade, visando trazer aos moradores orgulho e sensação de pertencimento, já que possui
identidade e relações sociais que devem ser mantidas e intensificadas (Figura 35).
Figura 35 - Tapis Rouge.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Segundo a equipe do projeto,
De forma pontual, em torno das bordas dos degraus/assentos, há diversos
Flamboyants que, quando completamente crescidos, protegerão os usuários
do sol. Os anéis concêntricos definem áreas dentro da praça. Uma delas é
ocupada por equipamentos de exercício ao ar livre e bancos (ARCHDAILY,
2017, s.p.).
57
O Centro de Convivência projetado tem o Tapis Rouge como referencial tipológico
justamente por sua tipologia da estrutura em formato circular, protegida por árvores, que é
utilizada como ponto de encontro de todas as pessoas, sem nenhuma distinção. No Centro, essa
estrutura de anfiteatro é menor e, além de ser utilizada como espaço de convivência, será uma
espécie de mini arquibancada.
Além disso existe ainda liberdade de expressões artísticas nos muros (Figura 36).
Figura 36 - Muros Grafitados.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Ainda conforme a equipe (2017),
O muro que circunda o perímetro do local foi transformado pela comunidade
e artistas locais com murais coloridos. Os desenhos surgiram a partir de uma
das oficinas de engajamento comunitário, em que os artistas discutiram o valor
da arte com pessoas do bairro. As crianças da área, seus pais e artistas do Le
Centre d'art e o artista francês Bault trabalharam juntos na obra final, que
reflete a rica tradição de pintura do Haiti (ARCHDAILY, 2017, s.p.).
No Centro de Convivência também há muros destinados às expressões artísticas dos
usuários, com intuito de trazer mais identidade ao ambiente e, ao mesmo tempo, cor e vida.
6 SITUAÇÃO DE PROJETO
O anteprojeto tem como proposta um Centro de Convivência para Tratamento e
Reintegração com Enfoque em Transtornos Mentais Comuns, ou seja, um local onde a
população em geral pode frequentar, mas terá um suporte específico para quem possui algum
tipo de TMC, independente da faixa etária.
A ideia central foi criar um ambiente de liberdade, em que houvesse a frequência de
toda a população, desde criança, adolescentes, adultos e idosos e promover a convivência entre
as diferenças, sendo entre pessoas que possuem TMC com as que não possuem ou entre crianças
e idosos por exemplo.
A integração entre diferentes faixas etárias e diferentes tipos de realidade, como
comentado previamente nesse trabalho, facilita o tratamento de transtornos mentais, gerando
melhorias na qualidade de vida das pessoas e abrindo a mente da população acerca de
transtornos que são muitas vezes ignorados ou tratados de forma preconceituosa.
Não existe na cidade um Centro que se assemelhe ao projetado neste trabalho, sendo os
CAPS os modelos que mais se aproximam à ideia do projeto, mas, conforme explicitado ao
longo do trabalho, são ainda estruturas precárias e que não focam em transtornos mentais
comuns e na convivência entre realidades distintas.
6.1 Terreno
6.1.1 Localização
O terreno onde o anteprojeto do Centro de Convivência foi projetado possui cerca de
9.890,00 m² e está localizado em Campos dos Goytacazes – RJ, no encontro de duas vias, a Rua
José Idelfonso Evangelista Campos e a Rua Antônio Manoel, no Parque Alphaville.
A escolha do local foi feita levando em consideração a localização em uma área de fácil
acesso que fosse, ao mesmo tempo, calma e não muito afetada pelo caos dos centros urbanos
(Figuras 37, 38 e 39). Outro fator que interferiu na seleção do terreno foi a proximidade de três
vias importantes para a cidade, a Avenida Arthur Bernardes, a Avenida 28 de Março e a Rua
Princesa Isabel, que possui previsão de prolongamento até a Avenida Arthur Bernardes.
59
Figura 37 - Campos dos Goytacazes em destaque no mapa do Brasil.
Brasil RJ Campos dos Goytacazes
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Legenda das vias:
Rua Antônio Manoel.
Rua José Idelfonso Evangelista Campos.
Figura 38 - Terreno escolhido em área selecionada do mapa de Campos dos Goytacazes.
60
Figura 39 - Terreno Escolhido.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Além dos aspectos mencionados, a Avenida 28 de Março apresenta uma ciclovia e
também bastantes pontos de ônibus, o que facilita o acesso tanto de ciclistas, quanto de usuários
de transportes públicos.
6.1.2 Legislação
O terreno escolhido encontra-se em uma Zona Residencial 4 (ZR4), segundo a Lei de
Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes. Ainda conforme essa lei, a Rua Antônio
Manoel é classificada, como um Eixo de Comércio e Serviços 1 (ECS 1), por isso ela foi
escolhida para ser a via principal de acesso ao terreno (Figura 40).
Figura 40 - Parte da ZR4 que mostra o terreno selecionado e o ECS 1.
Fonte: Mapa de Uso e Ocupação do Solo. Modificado pela autora, 2017.
61
O local selecionado para o projeto do Centro, que é um serviço local, está de acordo
com o Artigo 71 da mesma lei, pois esse artigo informa que o ECS 1 destina-se ao comércio e
serviço local e ao uso residencial unifamiliar e multifamiliar. O artigo também estabelece que
as atividades não residenciais compatíveis com o Eixo de Comércio e Serviços 1 serão as de
grau de impacto 1.
Conforme Quadro nº 6 do Anexo II da mesma lei, na ZR4, o Coeficiente de
Aproveitamento do Terreno é 3,5 e a Taxa de Ocupação é de 80%.
6.1.3 Acessos ao terreno
O terreno selecionado possui acesso por duas vias, a Rua Antônio Manoel, que foi
selecionada para gerar os acessos principais ao Centro de Convivência, e a Rua José Idelfonso
Evangelista Campos, por onde será feio o acesso de serviço. (Figuras 41 e 42).
Figura 41 - Rua Antônio Manoel.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 42 - Rua José Idelfonso E. Campos.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
62
6.1.4 Insolação, ventilação e ruídos
O vento predominante na cidade de Campos dos Goytacazes é o Nordeste. Os estudos
dos condicionantes climáticos demonstraram que a testada frontal do terreno é voltada para
Norte e a lateral direita voltada para Oeste. Quanto aos ruídos, a maioria é proveniente da
Avenida Arthur Bernardes, mas não são muito intensos. Esse estudo está melhor explicitado na
figura 43.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Legenda dos estudos de ventilação e insolação:
Sol nascente. Sentido do vento predominante.
Sol poente. Sentido dos ruídos predominantes.
6.1.5 Aspectos físicos
A topografia do terreno é plana com poucos desníveis e existem algumas árvores na área
selecionada (Figuras 44 e 45).
Figura 43 - Estudos de Ventilação e Insolação.
63
Figura 44 - Terreno plano.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 45 - Árvores na fachada do terreno em frente ao asilo.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
6.1.6 Entorno
O local possui um entorno basicamente residencial e térreo, mas existem alguns
comércios e edificações de uso institucional, como pode-se notar no Mapa de Usos (Figura 46)
e no Mapa de Pontos Principais (Figura 47).
Conforme observado, em se tratando de equipamentos públicos e coletivos, nas
proximidades do terreno existe somente o Parque de esportes e lazer Ricardo Ferreira Pessanha
e, com isso, faz-se necessária a existência de mais áreas que atendam a essa demanda,
justificando a existência áreas verdes, abertas e livres no Centro de Convivência que será um
equipamento público e coletivo.
64
Figura 46 - Mapa de Usos.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Legenda dos usos:
Uso residencial. Uso Comercial. Terrenos vazios.
Uso institucional. Terreno em questão. Equipamentos coletivos.
Figura 47 - Mapa de Pontos Principais.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Legenda dos pontos principais:
1. Buffet Euclides. 3. Citroën Cannes. 5. Recopel.
2. A-DO-LE-TÁ. 4. Asilo do Carmo. 6. C. E. Dr. Thiers Cardoso.
Apesar de ser um local de fácil acesso por estar localizado próximo às avenidas
principais da cidade, não existe tanto trânsito nas ruas que circundam o terreno. A locomoção
3
2
6
1
2
3
4 5
6
65
até o local é facilitada pelos pontos de ônibus localizados na Avenida 28 de Março, que está
distante cerca de 650 km do terreno, e pelas ciclovias presentes na Avenida Arthur Bernardes
e na Avenida 28 de Março.
Quanto ao entorno do terreno, as figuras 48, 49, 50 e 51, mostram melhor os aspectos
referentes a esse tema.
Figura 48 - Organização Religiosa em frente ao terreno.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 49 - Serviço de limpeza e portaria próximo ao terreno.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 50 - Residências térreas próximas ao terreno.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
66
Figura 51 - Pequeno comércio próximo ao terreno.
5
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Dessa forma, conclui-se que, apesar de sua proximidade com vias importantes da cidade,
o terreno está em localizado uma área residencial e tranquila que favorece a implantação de um
Centro de Convivência. Os comércios e instituições de seu entorno, apesar de pouco numerosos,
fazem com que haja maior fluxo de pessoas pelo local, o que não isola o Centro.
7 O ANTEPROJETO ARQUITETÔNICO
7.1 Conceito e partido
O conceito do projeto é a sua integração com os elementos naturais. Todas as decisões
tomadas visam esse mesmo propósito: trazer a natureza para dentro do projeto e fazer com que
ela seja o elemento de destaque sempre.
Tudo que é natural é capaz de trazer um denominador comum entre os seres humanos:
a proximidade e o contato com a vida. Parte das pessoas que têm sofrimentos mentais passa a
desacreditar um pouco na existência humana e, assim, ficam cada vez mais solitárias e sem
rumo, presas a sentimentos e sensações que parecem um ciclo sem fim.
Portanto acredita-se que um bom projeto nesse ramo deve envolver símbolos que tornem
as pessoas mais unidas e que façam com que elas se identifiquem entre si, trazendo de volta o
contato humano tão importante no processo de tratamento dos pacientes.
Alguns elementos naturais são desejados na composição arquitetônica do lugar, como a
vegetação, a madeira, o vento e a luz (Figura 52). Eles serão responsáveis por criar uma
identidade que torna possível que as pessoas se sintam em casa, fiquem à vontade, sem medos
e receios, facilitando a convivência, a reintegração e o tratamento.
Figura 52 - Elementos naturais desejados no projeto.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Partindo desse conceito, algumas decisões de projeto foram tomadas visando a
concretização desse ideal.
A primeira decisão tomada foi a da edificação ser térrea, pois essa característica permite
que todas as pessoas, mesmo de faixas etárias diferentes, estejam e se sintam em um mesmo
nível, com um único campo de visão, o que facilita a união entre usuários e frequentadores do
local.
A segunda decisão foi a de todos espaços projetados serem o mais livres e abertos
68
possível, para trazer a ventilação e a iluminação natural de forma eficaz. Os vãos de portas e
janelas são bastante amplos, os corredores são largos e há espaçamento entre os blocos. Além
disso, o que marca bastante o projeto são os jardins internos com coberturas abertas e com
vedações feitas através de portas de vidro de correr, permitindo uma boa iluminação e uma
circulação de vento eficaz.
A terceira decisão foi a dos materiais e tonalidades utilizados. As fachadas apresentam
bastante vidro e madeira, trazendo rusticidade e transparência aos blocos, ao mesmo tempo que
o concreto complementa com seu ar moderno. A paleta de cores escolhidas engloba branco,
marrom e cinza, tons neutros, que fazem com que a edificação não chame mais atenção que a
natureza, que é a peça principal do projeto do Centro de Convivência.
7.2 Funcionamento
Para melhor compreensão do pré-dimensionamento dos ambientes do projeto e
entendimento mais eficaz do Centro de Convivência, seu funcionamento será explicado neste
capítulo.
O Centro terá caráter público e funcionará de 6h a 20h, contando em todo esse período
com os funcionários de plantão que atenderão a todas as faixas etárias.
Ao todo são 19 funcionários, divididos em: um administrador, um secretário, um diretor,
dois seguranças, dois cozinheiros, dois enfermeiros, dois recepcionistas, dois assistentes
sociais, três psicólogos e três psiquiatras.
As atividades que podem ser realizadas de forma individual ou coletiva no local
envolvem artes, música, jogos de mesa, cinema, informática, culinária, além de haver uma sala
extra multiuso que pode ser utilizada para oficinas temporárias, como reciclagem ou costura
por exemplo.
A área de artes envolve aulas de desenho, pintura, poesia, entre outros. Já a parte de
música, engloba aulas de canto, de instrumentos, e até mesmo de dança. Os jogos de mesa
estimularão o convívio entre o grupo e a competitividade saudável. As sessões de cinema serão
utilizadas como lazer e debate posterior acerca de um tema escolhido. As salas de informática
serão livres para pesquisas, lazer e cultura, além de serem realizadas aulas sobre alguns
programas básicos de computador. Nas aulas de culinária, o que for ensinado e produzido será
também servido, tanto em refeições diárias, quanto em eventos. E, por fim, as oficinas
temporárias ocorrerão de acordo com as demandas das pessoas que frequentam o local.
Além das atividades, haverá um bloco destinado ao atendimento especializado aos
69
usuários que possuem TMC, com psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e enfermeiros
sempre à disposição.
Já as áreas externas contarão com uma estufa, uma horta para plantio e consumo do
próprio Centro, uma quadra poliesportiva para uso livre e também aulas de esportes, um
parquinho, uma academia, muros disponíveis para manifestações artísticas, como grafitti, e, por
último, um espaço circular com desnível que funcionará como ponto de encontro ou como local
de apresentações, rodeado por degraus que também são assentos.
Passeios culturais, de conhecimento e vivência da história da cidade também serão
realizados pelo menos uma vez por semana, sempre com acompanhamento de algum
profissional responsável.
No Centro de Convivência serão atendidas cerca de 50 pessoas por turno, incluindo
assistidos, suas famílias e frequentadores sem vínculos com a parte especializada no tratamento.
Esse número foi escolhido baseado no fluxo por turno dos CAPS e devido à preferência por um
local menor, que remete mais a uma casa que a uma instituição. De acordo com as necessidades
de cada um, poderá ser feita uma ficha exclusiva para o assistido com suas necessidades e
diagnósticos.
A área de atividades e as áreas externas são livres para todos os públicos, todas as idades,
com transtornos mentais comuns ou não. Já a área de atendimento com psicólogos e psiquiatras
atenderá somente os usuários que apresentam algum tipo de transtorno mental comum.
Sendo um local aberto, cuja única restrição é a quantidade máxima de assistidos por
turno, é necessário haver um sistema de controle e segurança organizado. Para isso, no primeiro
contato com o Centro, os frequentadores serão identificados em uma das guaritas e receberão
um crachá. Após esse processo, serão direcionados para a recepção e lá terão que realizar um
cadastro.
Nesse cadastro constarão as necessidades e preferências de cada assistido, e se for o
caso, eles serão encaminhados para os consultórios dos psicólogos ou dos psiquiatras. Assim,
uma lista de identificação será encaminhada para o sistema do Centro, para que o profissional
de segurança que atua na guarita tenha acesso a quem já está cadastrado nessa rede.
Os usuários podem optar por frequentar esporadicamente, ou regularmente, de acordo
com seus desejos e recomendações do atendimento especializado.
Já o acesso de funcionários será feito de forma separada do acesso dos usuários, para
melhor controle e setorização. Para evitar gastos excessivos, optou-se por não criar uma guarita
exclusiva para funcionários, já que as duas entradas são próximas. No portão de entrada dos
funcionários terá uma câmera de identificação cujas imagens poderão ser vistas pelo segurança
70
responsável na guarita de acesso dos usuários e, de lá, ele poderá abrir o portão de acesso dos
funcionários.
7.3 Programa de necessidades e pré-dimensionamento
Conforme a tabela 1 mostrada a seguir, pode-se verificar o programa de necessidades
do projeto, a quantidade de cada ambiente, suas áreas unitárias e totais. Além disso, dividiu-se
o espaço em cinco setores demonstrados na primeira coluna da tabela.
Tabela 1 - Programa de Necessidades.
- AMBIENTE QUANT. ÁREA
UNIT. (m²)
ÁREA
TOTAL (m²)
ADMINISTRATIVO
Administração 1 17,60 17,60
Secretaria 1 14,40 14,40
Diretoria 1 14,40 14,40
Lavabo 1 2,50 2,50
Sala de Reuniões 1 39,50 39,50
FUNCIONÁRIOS Copa de Funcionários 1 25,00 25,00
Lav./ Vest. de Funcionários 2 15,50 31,00
ATENDIMENTO
Recepção/ Sala de Espera 1 30,00 30,00
Lavabo 1 2,50 2,50
Consultórios Psicólogo 3 17,90 53,70
Consultórios Psiquiatra 3 17,90 53,70
Sala de Enfermagem 1 14,00 14,00
Sala Assistente Social 2 14,00 28,00
Sala Terapia em Grupo 1 17,90 17,90
Sala de Descanso 1 14,00 14,00
Lavabo/ Vestiário 2 15,20 30,40
Guarita com Lavabo 2 9,55 19,10
APOIO
Depósito 1 14,00 14,00
Sala de Medicamentos 1 14,00 14,00
Refeitório 1 159,50 159,50
Cozinha 1 21,34 21,34
Cantina 1 8,55 8,55
Despensa 1 13,20 13,20
Área de Serviço 1 8,25 13,20
Lixo 1 4,05 4,05
Lavagem de Panelas 1 4,50 4,50
Estacionamento 1 1 274,51
ATIVIDADES
Sala de Artes 1 40,00 40,00
Sala de Música 1 40,00 40,00
71
Sala Multiuso 1 40,00 40,00
Sala de Jogos 1 40,00 40,00
Sala de Cinema 1 40,00 40,00
Sala de Informática 1 40,00 40,00
Sala de Culinária 1 21,34 21,34
Biblioteca Externa 1 38,15 38,15
Biblioteca Interna 1 18,00 18,00
Área de Exposições Artísticas 1 37,10 37,10
Lavabo/ Fraldário 2 20,85 41,70
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.
7.4 Setorização
Quando se trata de setorização, conforme pode-se observar na figura 53, optou-se por
dividir a edificação em três blocos, um que engloba basicamente os atendimentos, outro que
abrange principalmente as áreas de apoio e, por fim, o que contém os setores administrativo, de
funcionários e de atividades.
Figura 53 - Setorização.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.
Legenda da setorização:
Administrativo. Atividades. Atendimento.
Funcionários. Apoio. Acessos.
72
A setorização do projeto foi pensada de forma que as áreas administrativas e de
funcionários ficassem na parte frontal da edificação, compondo a fachada principal, mais
próxima aos acessos. Ao lado dessas regiões, decidiu-se colocar a parte de atividades, para
facilitar o acesso a elas, que serão áreas bastante utilizadas pelos usuários. Alguns setores de
atividades ficaram fora dessa região, como por exemplo a sala de culinária e a parte de
exposições artísticas, que foram posicionadas de acordo com suas particularidades e com o que
poderiam proporcionar.
Optou-se para que o setor de atendimento ficasse mais reservado que o restante da
edificação, justamente por se tratar de atendimentos mais particulares, como psiquiátricos e
psicológicos, ainda assim sem isolar esse setor que compõe a fachada lateral. A recepção e as
guaritas que também são áreas de atendimento, mas que precisam ser avistadas com mais
facilidade, foram implantadas em partes mais visíveis do terreno.
Por último, o setor de apoio, onde basicamente funcionam as atividades relacionadas a
alimentação, limpeza e armazenamento, fica centralizado na parte posterior da área edificada
por ser uma região mais reservada do projeto. A parte correspondente aos estacionamentos ficou
localizada junto com as calçadas, que foram recuadas, para evitar o acesso de carros ao interior
do terreno.
7.5 Fluxograma e acessos aos blocos
Foi realizado um fluxograma para estudo da circulação e para mostrar a setorização
dentro do projeto, além de uma melhor análise dos acessos.
Os acessos principais são o de usuários e o de funcionários, que se dão, respectivamente,
pela recepção/ sala de espera e pela área de exposições artísticas. Quanto ao acesso de serviço
decidiu-se separar dos demais, ficando localizado ao lado da guarita de serviço.
Como é possível verificar na figura 54, todos os três blocos estão conectados, e não é
necessário que se percorra todo o comprimento dos corredores para que se chegue ao destino
desejado, já que há algumas quebras de linearidade.
Para proteção, foi feita uma ligação por corredores entre os blocos, mas são circulações
com esquadrias laterais que poderão ser abertas e fechadas dependendo do caso. Até mesmo os
corredores internos, que geram áreas de convívio entre os cômodos, trazem sensações
agradáveis por possuírem jardins internos com bastante vegetação.
Em resumo, os fluxos são bem definidos e abertos, para que as sensações de “labirinto”
e “prisão” fossem evitadas.
73
Figura 54 - Fluxograma e acessos.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.
Legenda de setores e acessos:
Administrativo. Atividades. Acesso de usuários.
Funcionários. Atendimento. Acesso de funcionários.
Apoio. Acesso de serviço.
74
7.6 Implantação
A implantação da construção foi feita basicamente na metade frontal do terreno, de
modo que sobrasse uma parte livre para serem locados os elementos da área externa do projeto.
Como mencionado anteriormente, o Centro de Convivência é térreo para gerar acessibilidade e
um campo de visão único entre as pessoas, fazendo também com que a edificação se misturasse
com mais facilidade à vegetação.
A divisão da edificação foi feita em três blocos interligados: bloco A, bloco B e bloco
C conforme a figura 55.
Figura 55 - Implantação.
Legenda:
1. Bloco A
2. Bloco B
3. Bloco C
4. Guaritas
5. Quadra
6. Mini Arquibancada
7777. 7. Horta
8. Estufa
9. Academia
10. Parquinho
11. Estacionamento
12. Áreas de Convívio
Acesso de usuários
Acesso de funcion.
Acesso de serviço
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.
1
1
1
1
1
1 1
1
1
1
1
1 1
1
1
Rua Antônio Manoel
1 1
4
4
5
6
7
8
10
9
11 11
12
12
12
1
12
12
2
1 3
75
7.7 Memorial justificativo
7.7.1 Bloco A
No bloco A, que é o bloco mais visível, o cartão de visita do projeto e o que compõe a
fachada frontal (Figura 56), estão localizadas áreas de atendimento ao público, áreas de
funcionários, administração e de atividades, conforme pode ser observado no Apêndice B. Os
ambientes existentes nesse bloco são recepção/sala de espera com lavabo, copa de funcionários,
área de exposições artísticas, sala de reuniões, diretoria com lavabo, secretaria, administração,
lavabo/vestiário de funcionários, biblioteca interna e externa, salas de arte, música, jogos,
cinema, informática e multiuso, e lavabos/fraldários.
Figura 56 - Bloco A destacado na implantação.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Um dos principais aspectos envolvidos no bloco A é a presença de jardins internos ao
longo dos corredores (Figura 57). Por ser um projeto baseado na Psicologia Ambiental, pelo
fato de que as pessoas passam a maior parte do tempo em locais construídos e por acreditar-se
que o ambiente molda as pessoas, as circulações foram pensadas de modo que não gerassem
uma sensação de enclausura. Esse efeito foi obtido justamente devido às aberturas superiores
Bloco A
76
dos jardins que marcam o bloco e também pela vegetação que traz um ar de vida ao ambiente,
tornando mais agradável a locomoção dos usuários e funcionários e um cômodo para outro.
Figura 57 - Jardins internos no bloco A.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Ainda seguindo a Psicologia Ambiental, e dessa vez baseando-se também nas terapias
que eram objeto de desejo no projeto, foram criadas salas onde pudessem ser desenvolvidas
cada tipo de atividade. Essas salas estão localizadas no bloco A e possuem um amplo vão que
abrange quase o comprimento inteiro da maior parede do ambiente.
A sala de artes será utilizada para o estímulo e a prática das artes em geral, seja em
forma de desenho, pintura, poema, escultura ou até mesmo reciclagem de materiais. O ambiente
possui diversas possibilidades para acomodar das pessoas, seja por meio de bancos acolchoados
que permitem momentos mais individuais, seja pelas cadeiras nas mesas redondas que facilitam
as atividades em grupo, ou seja pelo tapete no chão que gera uma área mais descontraída e
informal para os usuários (Figuras 58, 59 e 60). As diversas possibilidades de uso dentro dessa
sala foram pensadas segundo a linha de raciocínio da Psicologia Ambiental, que defende a
particularidade de cada indivíduo dentro de um ambiente.
Esse mesmo ambiente apresenta vasos de plantas que dão sensação de vida ao local,
além de uma parede para exposições de artes, fazendo com que o usuário contribua também
para a decoração do local.
77
Figura 58 - Mesas e banco na Sala de Artes.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Figura 59 - Espaço com tapete para criação e exposição.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Figura 60 - Mesas redondas para criação e interação.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
78
A sala de música, por sua vez, tem o intuito de instigar o contato com a música, seja por
meio de instrumentos musicais ou até mesmo pelo canto. A musicoterapia, tendo um espaço
amplo e destinado a ela, pode trazer consequências positivas também por ser uma terapia que
une gerações em um propósito comum.
Já a ideia da sala de cinema e da sala de informática veio da visita ao CAPSi, em que
algumas crianças demonstraram certo apego às tecnologias. Ao mesmo tempo que se usada de
forma exagerada a tecnologia pode afastar as pessoas, se ela for dosada de forma correta, pode
gerar atividades grupais, proporcionar estímulos diferenciados que não existem no “mundo
real", além de provocar debates e conversas acerca de um tema.
A sala de jogos é um espaço de descontração cujo maior objetivo é o de unir as gerações
e proporcionar um contato real de aprendizado entre as diferentes faixas etárias. Já a sala
multiuso é um cômodo que oferece suporte a atividades extras ou a cursos esporádicos que
podem vir a acontecer.
Por fim, a biblioteca tem parte externa e interna (Figuras 61 e 62) para que, segundo a
Psicologia Ambiental, possa gerar conforto para as mais diferentes personalidades. Ela é
integrada à parte de espera da recepção (Figura 63), fazendo com que uma possível demora no
atendimento se torne algo prazeroso e útil, podendo ser utilizada também em outros momentos
de leitura e produção literária.
Figura 61 – Biblioteca.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
79
Figura 62 - Área de leitura e armazenamento de livros.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Figura 63 - Recepção.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
7.7.2 Bloco B
No bloco B, localizam-se os setores de atendimento e de apoio (Apêndice C). Dentre
eles estão os consultórios psiquiátricos, psicológicos, de terapia em grupo, sala de descanso,
salas de assistência social, sala de medicamentos, sala de enfermeiros, depósito e
lavabos/vestiários.
É um bloco mais silencioso e reservado, que concebe a fachada lateral do projeto. Assim
como o bloco A, o bloco B possui jardins internos que permitem um maior bem-estar durante
a caminhada pelos corredores. (Figura 64).
80
Figura 64 - Bloco B destacado na implantação.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Os consultórios localizados nesse bloco foram também baseados na Psicologia
Ambiental. As terapias podem causar desconforto no início das sessões e, para diminuir a
possibilidade do surgimento dessa sensação, foram criados espaços com elementos de cores
alegres e com um layout que proporciona variedades nas formas de atendimento (Figuras 65 e
66). O banco localizado na bay window, o tapete e as duas poltronas que podem ter suas
posições alteradas no ambiente, são alternativas para que se possa sair do padrão de mesa e
cadeira quando for necessário.
Figura 65 - Layout do consultório do psicólogo permite variados atendimentos.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Bloco B
81
Figura 66 - Layout do consultório do psicólogo.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
7.7.3 Bloco C
Já o bloco C é um bloco central, que facilita também o acesso de serviço através da rua
José Idelfonso E. Campos (Figura 67). Nele estão as áreas e apoio e uma sala de atividades, que
é a sala de culinária (Apêndice D). Além dessa sala, o bloco contém refeitório, cozinha,
despensa, área de serviço, lavagem de panelas, lixo e cantina.
Figura 67 - Bloco C destacado na implantação.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Bloco C
82
O refeitório oferece quatro refeições gratuitas, café da manhã, almoço, lanche da tarde
e jantar, que são preparados na cozinha. Já a cantina possui mais variedades para que os usuários
possam comprar alguns itens se quiserem. A sala de culinária é uma forma de gerar uma
atividade que integra as gerações, através do preparo de alguns pratos.
7.7.4 Guaritas
O projeto apresenta duas guaritas, a principal e a de serviço. A primeira está localizada
na fachada principal do Centro e controla tanto o acesso de usuários, quanto o de funcionários.
Apesar de estar mais próxima da entrada de usuários, existe o controle do acesso de funcionários
por meio de um sistema de câmeras. Já a segunda fica localizada na fachada secundária com o
objetivo de supervisionar a entrada de serviço.
7.7.5 Quadra poliesportiva
A quadra foi pensada para o projeto com objetivo de possibilitar a realização dos mais
diversos esportes (Figura 68). Localizada no fundo do terreno, cercada por vegetação e com
locais de estar que podem ser utilizados como arquibancada, a quadra pode ser um local onde
acontecem desde jogos informais até treinos e competições.
Figura 68 - Quadra Poliesportiva.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
83
Conforme foi explicado nesse trabalho, as atividades físicas constituem um aspecto
importante na reabilitação dos usuários que possuem TMC, por liberarem substâncias positivas
para o organismo humano e por diminuírem o sedentarismo.
Optou-se por uma quadra descoberta para que os usuários sentissem mais os aspectos
externos da natureza, seja em forma de ruídos gerados por pássaros, pela luz do sol, pelo vento
ou pela vegetação. O ser humano quando em contato com o meio natural apresenta melhores
condições para tratarem os TMCs.
7.7.6 Academia
A academia ao ar livre foi projetada principalmente para uso dos idosos, pois é composta
de equipamentos mais leves e que não utilizam peso, que são os mais indicados para as pessoas
dessa faixa etária (Figura 69). Apesar disso, é um espaço que pode ser utilizado por todos,
gerando uma interação positiva, já que ali também tem um espaço de estar com bancos.
Atividades físicas realizadas ao ar livre proporcionam mais tempo de contato com o
meio ambiente, com a vegetação, a luz natural e a ventilação predominante, com a tentativa de
reduzir o tempo que os usuários passam em locais construídos e cobertos.
Figura 69 - Academia ao ar livre.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
84
7.7.7 Parquinho
O parquinho foi uma área pensada para as crianças no geral, tanto as que possuem algum
tipo de TMC, quanto as demais que frequentam o local (Figura 70). É um espaço alegre com
brinquedos variados para que possa entreter o público infantil e também proporcionar
momentos de convivência entre as gerações.
Nesse local também poderão ocorrer brincadeiras de todos os tipos, estimulando o
convívio da criança com o meio externo e sua independência e autonomia.
Figura 70 - Parquinho.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
7.7.8 Horta
Projetada no fundo do terreno, a horta é um elemento que auxilia na prática da terapia
com plantas (Figura 71). Poderão ser cultivadas diversas espécies de alimentos e temperos para
que os frequentadores do local se sintam mais úteis sendo responsáveis por espécies vivas que
crescem melhor sob cuidados e que também aprendam a manusear e a cuidar da vegetação.
Os aprendizados ali adquiridos poderão ser levados para além dos muros do Centro de
Convivência, possibilitando parcerias que beneficiam tanto os locais onde se deseja ter hortas,
quanto os frequentadores que poderão interagir com o meio externo de forma segura e positiva.
85
Figura 71 - Horta.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
7.7.9 Estufa
Buscando mais uma vez o contato com plantas, a estufa foi pensada como um espaço
que pode ser montado pelos usuários, ou seja, os frequentadores do local poderão plantar e
cuidar das espécies escolhidas para o local (Figura 72). Assim como na horta, os usuários
poderão utilizar os aprendizados ali adquiridos em parcerias que podem acontecer entre o
Centro de Convivência e outros locais.
Figura 72 - Estufa.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
86
7.7.10 Estacionamento
Foram projetadas 20 vagas de automóveis, sendo 17 delas obrigatórias, segundo o
Quadro 8 da Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes. Nesse cálculo, a cada
25m² de área útil principal em hospitais, clínicas e similares cujas áreas sejam maiores que
600m², 1 vaga deve ser destinada a estacionamento de veículos. O estacionamento fica
localizado no recuo da calçada da Rua Antônio Manoel, pois a entrada de veículos no terreno
não foi desejada na concepção do projeto devido ao caos e ruído que podem gerar.
7.7.11 Volumetria
A ideia da volumetria do projeto surgiu baseada no conceito e no partido que foram de
suma importância para o seu desenvolvimento. Seguindo o conceito de integração com
elementos naturais, dentre eles vegetação, madeira, vento e luz, pensou-se em um volume
simples que ornasse com a vegetação proposta para o local, não sobressaindo à natureza, mas
também não ficando escondido (Figura 73).
Figura 73 - Arquitetura e vegetação em harmonia.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
87
Para alcançar tal objetivo, a ideia principal foi uma edificação térrea, que partiu da
necessidade de um único e amplo campo de visão, ou seja, todos os frequentadores no mesmo
nível, gerando certa igualdade e colaborando para que as pessoas fiquem e se sintam menos
separadas.
Outra decisão relevante foi que o projeto tivesse um aspecto de casa, gerando maior
bem-estar nos usuários. Então fez-se o uso de materiais como madeira e vidro que, de forma
neutra, compuseram as fachadas do projeto harmoniosamente.
O bloco A possui vazios e uma forma que lembra uma “linha quebrada”, gerando
movimento e um charme a mais para a fachada principal (Figura 74).
Figura 74 - Fachada do bloco A com uso de madeira e no formato "linha quebrada".
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
O bloco B é menos óbvio, os consultórios se dispõem de forma alternada para frente e
para trás, gerando movimento na fachada lateral direita e atraindo visitantes para o local (Figura
75).
A arquitetura majoritariamente linear, com algumas quebras que dão movimento à
forma proporcionou um destaque às arvores do terreno que são bastante numerosas. A
alternância entre tons de madeira claros e escuros, sua mescla com o vidro e com o concreto
também propiciaram tal efeito.
88
Figura 75 - Movimento na fachada do bloco B.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Os amplos vãos de portas e janelas permitiram que o contato do interior com o exterior
fosse bastante eficaz (Figura 76). Dessa forma, todos os cômodos são bastante ventilados e
iluminados de forma natural fazendo com que a Psicologia Ambiental entrasse em prática mais
uma vez no projeto.
Figura 76 - Amplos vãos em uma das fachadas.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
89
A cobertura linear feita com laje impermeabilizada, conforme pode-se observar na
figura 77, possui alguns vazados das aberturas para os jardins internos, que são elementos que
marcam esteticamente a parte de dentro do projeto de maneira que gere sensações positivas.
Figura 77 - Vazados na cobertura.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Elementos importantes na composição da volumetria são os três pergolados que unem
os blocos e protegem as pessoas da chuva com suas coberturas de vidro e madeira. Esses
elementos também são compostos com vegetação e foram pensados de forma que compusesse
bem o espaço. Eles possuem vedações laterais de madeira que se movem em torno de um eixo
podendo abrir ou fechar dependendo na necessidade (Figura 78).
Figura 78 - Pergolado que liga bloco A ao bloco C.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
90
7.7.12 Áreas de convívio e mobiliários
Os espaços de estar criados nesse projeto, tiveram um objetivo muito importante: a
integração entre as pessoas. Desde o princípio de sua concepção, desejou-se que essas áreas
pudessem gerar reintegração e convivência entre pessoas com TMCs ou não, das mais diversas
idades. Para isso, foram pensados ambientes que não segregassem, mas que trouxessem as
pessoas para perto umas das outras. São pontos de encontro feitos ao longo do terreno que não
se restringem a um tipo de usuário específico, assim como todo o restante do projeto.
Primeiramente foi concebida a mini arquibancada, inspirada no referencial tipológico
apresentado anteriormente nesse trabalho e cuja ideia surgiu da visita ao CAPSi, quando uma
das crianças demonstrou a necessidade de espaços para apresentação.
Essa mini arquibancada (Figura 79) possui forma circular e desníveis que proporcionam
espaços para sentar, palcos e que instigam a imaginação dos frequentadores.
Figura 79 - Mini arquibancada.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Nas demais áreas de convívio foram criados mobiliários. São bancos variados que
podem contribuir para o descanso tanto individual, quanto coletivo. Eles são de concreto e
madeira, podem ter encosto ou não, alguns possuem um vaso embutido para plantar alguma
muda e também mesas para auxiliar na realização de determinadas tarefas (Figuras 80 e 81).
91
Figura 80 - Mobiliário criado para espaço de estar próximo ao refeitório.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
Figura 81 - Mobiliário ao longo dos caminhos internos.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do modo de vida atual muitas vezes envolto em pressão e cobrança e diante
também da dificuldade do questionamento a respeito desse modo de vida, estatísticas
demonstram que há uma tendência de que os transtornos mentais comuns, que já existem em
grande quantidade, afetem cada vez mais pessoas ao longo dos anos.
Os TMCs, sua relevância e incidência atuais mostram que ainda há um longo caminho
a ser percorrido mesmo com a luta e com o que foi alcançado após a Reforma Psiquiátrica
Brasileira. Apesar disso, durante o desenvolvimento desse trabalho, um dos dois hospitais
psiquiátricos de Campos dos Goytacazes teve suas portas fechadas, o que demonstra que, ainda
que a evolução das soluções para saúde mental seja lenta, é possível acelerar o processo
trazendo esse tema à tona.
Assim sendo, a metodologia utilizada nesse trabalho se fez bastante útil e inspiradora
para que ele fosse bem estruturado. As pesquisas bibliográficas e as pesquisas de legislação
geraram a real compreensão do tema e de suas ramificações. Já os estudos de caso, as entrevistas
não estruturadas e o poema dos desejos que foi aplicado no CAPSi e no CAPSIII, sensibilizaram
e deram um sentido mais humano e real à toda pesquisa e ao projeto.
Com isso alcançou-se o objetivo geral desse trabalho, que foi o de desenvolver e
apresentar o anteprojeto de arquitetura de um Centro de Convivência para tratamento e
reintegração de pessoas com transtornos mentais comuns, assim como os objetivos específicos,
que englobaram observar, perceber e buscar soluções para problemas atuais em unidades
arquitetônicas que tratam da saúde mental e criar espaços capazes de possibilitar a reunião e a
reintegração das pessoas em tratamento com grupos sociais.
A arquitetura mostrou-se extremamente útil a partir do momento que, atrelada à
Psicologia Ambiental, foi uma ferramenta que lidou com especificidades e não com pessoas
genéricas. Assim pôde oferecer espaços amplos com contato com a natureza, que são capazes
de trazer uma sensação de liberdade. Essa proposta associada a terapias e a atividades que
promovem o bem-estar e a saúde, são instrumentos fortemente necessários em meio a essa
importante luta.
A primeira dificuldade encontrada na realização do projeto foi no sentido da criação de
um ambiente que funcionasse bem, proporcionando ao mesmo tempo o convívio entre várias
gerações e também abrigando pessoas que possuem ou não TMC. A outra dificuldade foi o
93
desejo de que o espaço fosse aberto e livre para todos e, ao mesmo tempo, seguro. Esses itens
geralmente vistos como opostos foram associados na busca da solução de projeto desejada.
A solução encontrada para esses obstáculos foi a criação de espaços que contivessem
atrativos para todas as idades, não segregando por blocos as diferentes faixas etárias. O espaço
aberto foi solucionado com amplos vãos, jardins internos e muros com grades, diminuindo a
sensação de prisão dentro de um terreno. A segurança foi feita através das duas guaritas, do
sistema de controle e cadastro para o acesso de usuários e funcionários do local.
Desta forma, o trabalho aqui apresentado pode ser utilizado para posteriores pesquisas
referentes aos temas aqui estudados, podendo trazer ainda mais informações, inspirações e
soluções para os que desejam uma sociedade mais integrada e igualitária.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Aline Siqueira; SILVA, Mônica Rodrigues da. Os efeitos das atividades musicais
como modalidade alternativa de cuidado em saúde mental. Revista de Enfermagem e Atenção
à Saúde, [s.l.], v. 2, n. 1, p.13-20, 2013. Disponível em: <http://seer.uftm.edu.br>. Acesso em:
20 ago. 2017.
ANDRIOLO, Arley. A: leituras e escritos. Psicologia: Ciência e Profissão, [s.l.], v. 23, n. 4,
p.74-81, dez. 2003. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1414-
98932003000400011. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
ARCHDAILY. Espaço público Tapis Rouge em um bairro informal no Haiti. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/804436/espaco-publico-tapis-rouge-em-um-bairro-
informal-no-haiti-emergent-vernacular-architecture-eva-studio>. Acesso em: 06 dez. 2017.
AZEVEDO, Cláudia. Plantando Sonhos: O Jardim Como Campo Terapêutico. In: RIO,
Vicente del; DUARTE, Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso (Orgs.). Projeto do
Lugar: Colaboração Entre Psicologia, Arquitetura e Urbanismo. Rio de Janeiro, RJ:
Contracapa, 2002. p. 123 - 128.
BECHELLI, Luiz Paulo de C.; SANTOS, Manoel Antônio dos. O paciente na psicoterapia de
grupo. Revista Latino-americana de Enfermagem, [s.l.], v. 13, n. 1, p.118-125, fev. 2005.
FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-11692005000100019.
BERTOLETTI, Roberta. Uma Contribuição da Arquitetura para a Reforma Psiquiátrica:
Estudo no Residencial Terapêutico Morada São Pedro em Porto Alegre. 2011. 212 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianóplis, 2011. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br>. Acesso em: 20 ago.
2017.
CALICCHIO, Renata Ruiz. Vinte anos de luta antimanicomial no Brasil – arte e comunicação
como estratégia de participação e transformação social no contexto da reforma
psiquiátrica. Eco-pós, [s.l.], v. 10, n. 1, p.13-21, 2007. Disponível em:
<https://revistas.ufrj.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
CAMPOS DOS GOYTACAZES. Lei nº 7.974, de 31 de Março de 2008. Institui a Lei de Uso
e Ocupação do Solo Urbano do Município de Campos dos Goytacazes. Disponível em: <
http://www.campos.rj.gov.br/plano-diretor.php>. Acesso em: 11 nov. 2017.
CASA.COM.BR. Uma casa sem muro, mas com brises e parede de mosaico. Disponível em:
<https://casa.abril.com.br/casas-apartamentos/uma-casa-sem-muro-mas-com-brises-e-parede-
de-mosaico/>. Acesso em: 06 dez. 2017.
CORREIA, Ludmila Cerqueira. O movimento antimanicomial: movimento social de luta pela
garantia e defesa dos direitos humanos. Prima f@cie: Revista da Pós-graduaçao em Ciências
Jurídicas, [s.l.], v. 5, n. 8, p.83-97, 2006. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br>. Acesso
em: 20 ago. 2017.
95
COQUEIRO, Neusa Freire; VIEIRA, Francisco Ronaldo Ramos; FREITAS, Marta Maria
Costa. Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde mental. Acta Paulista de
Enfermagem, [s.l.], v. 23, n. 6, p.859-862, 2010. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s0103-21002010000600022. Disponível em:
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
ELALI, Gleice Azambuja. Psicologia Ambiental para Arquitetos: Uma Experiência Didática
na UFRN. In: RIO, Vicente del; DUARTE, Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso
(Orgs.). Projeto do Lugar: Colaboração Entre Psicologia, Arquitetura e Urbanismo. Rio de
Janeiro, RJ: Contracapa, 2002. p. 65 - 71.
FOLHA 1. Campos avança em saúde mental. Disponível em
<http://www.folha1.com.br/_conteudo/2017/09/geral/1224656-campos-avanca-em-saude-
mental.html>. Acesso em: 20 out. 2017.
FONSECA, Ingrid Chagas da; PORTO, Maria Maia; CLARKE, Cynthia. Qualidade da Luz e
Sua Influência Sobre o Estado de Ânimo do Usuário. In: RIO, Vicente del; DUARTE,
Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso (Orgs.). Projeto do Lugar: Colaboração Entre
Psicologia, Arquitetura e Urbanismo. Rio de Janeiro, RJ: Contracapa, 2002. p. 183 - 188.
GODOY, Rossane Frizzo de. Benefícios do Exercício Físico sobre a Área
Emocional. Movimento, [s.l.], v. 8, n. 2, p.1-10, 2002. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br>.
Acesso em: 20 ago. 2017.
GOOGLE. Google Earth. Disponível em: <https://earth.google.com/web/>. Acesso em: 06
dez. 2017.
GOOGLE. Google Maps. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps>. Acesso em: 06
dez. 2017.
HOUZZ. Garden Room House. Disponível em: <https://www.houzz.ie/photo/7175635-
garden-room-house-richmond-contemporary-london>. Acesso em: 06 dez. 2017.
IQ GLASS. Garden Room House. Disponível em:
<https://www.iqglassuk.com/projects/garden-room-house-thin-framed-sliding-
doors/s19353/>. Acesso em: 06 dez. 2017.
LUCCHESE, Roselma et al. Prevalência de transtorno mental comum na atenção
primária. Acta Paulista de Enfermagem, [s.l.], v. 27, n. 3, p.200-207, jul. 2014. FapUNIFESP
(SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201400035. Disponível em:
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
MACHADO, Ernani S.; AZEVEDO, Giselle A. N.; ABDALLA, José G. F.. A Importância do
Olhar dos Usuários em Ambientes da Arquitetura Hospitalar: uma aplicação do Poema dos
Desejos. Anais do Ii Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído -
Sbqp 2011. X Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de
Edifício, [s.l.], p.390-400, 4 nov. 2011. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
http://dx.doi.org/10.4237/sbqp.11.292.
96
MACIEL, Silvana Carneiro et al. Exclusão social do doente mental: discursos e
representações no contexto da reforma psiquiátrica. Psico-usf, [s.l.], v. 13, n. 1, p.115-124,
jun. 2008. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-82712008000100014.
Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
MACIEL, Tania Maria de Freitas Barros. A Representação Entre Cognição e Concepção do
Ambiente Construído. In: RIO, Vicente del; DUARTE, Cristiane Rose; RHEINGANTZ,
Paulo Afonso (Orgs.). Projeto do Lugar: Colaboração Entre Psicologia, Arquitetura e
Urbanismo. Rio de Janeiro, RJ: Contracapa, 2002. p. 131 - 134.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a rede de
atenção psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(sus). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
OLIVEIRA, Francisca Bezerra de; FORTUNATO, Maria Lucinete. Saúde mental:
reconstruindo saberes em enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, [s.l.], v. 56, n. 1,
p.67-70, fev. 2003. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0034-
71672003000100014. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
PITTA, Ana Maria Fernandes. Um balanço da reforma psiquiátrica brasileira: instituições,
atores e políticas. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 16, n. 12, p.4579-4589, dez. 2011.
FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-81232011001300002. Disponível
em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
PHILIPPINI, Angela. Mas o que é mesmo arteterapia? Imagens da Transformação, [s.l.], v. 5,
p.1-4, 1998. Disponível em: <https://pt.scribd.com/>. Acesso em: 20 ago. 2017.
PORTAL SAÚDE. CAPS - Centro de Atenção Psicossocial. Disponível em
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/803-sas-
raiz/daet-raiz/saude-mental/l2-saude-mental/12609-caps>. Acesso em 20 de out. 2017.
PREFEITURA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES. Campos conta com quatro Centros de
Atenção Psicossocial. Disponível em
<http://www.campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=5282>. Acesso em 19 de jun.
2017.
PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Disponível
em < http://www.rio.rj.gov.br/web/sms/caps>. Acesso em 19 de jun. 2017.
RIBEIRO, Jane. Henrique Roxo fecha as portas. 2017. Disponível em:
<http://www.folha1.com.br/_conteudo/2017/10/geral/1226430-henrique-roxo-fecha-as-
portas.html>. Acesso em: 17 fev. 2018.
RODRIGUES-NETO, João Felício et al. Transtornos mentais comuns e o uso de práticas de
medicina complementar e alternativa: estudo de base populacional. Jornal Brasileiro de
Psiquiatria, [s.l.], v. 57, n. 4, p.233-239, 2008. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s0047-20852008000400002. Disponível em:
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 ago. 2017.
97
SKYLAB ARQUITETOS. Residência RCH. 2008. Disponível em:
<http://www.skylabarquitetos.com.br/portfolio_page/residencia-lj/>. Acesso em: 06 dez.
2017.
SOMMER, Robert. O Desenvolvimento e a Aplicação dos Conceitos de Espaço Pessoal. In:
RIO, Vicente del; DUARTE, Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso (Orgs.). Projeto
do Lugar: Colaboração Entre Psicologia, Arquitetura e Urbanismo. Rio de Janeiro, RJ:
Contracapa, 2002. p. 19 - 29.
VALLADARES, Ana Cláudia Afonso. O VÍNCULO DA ARTETERAPIA A REFORMA
PSIQUIÁTRICA NO BRASIL. In: 6° CONGRESSO BRASILEIRO DE ARTETERAPIA,
2004, Vitória. Anais do 6º Congresso Brasileiro de Arteterapia. Vitória, 2004. p. 1 - 3.
VILLA IPANEMA. Villa Ipanema: Saúde mental com um diferencial em psiquiatria.
Disponível em: <http://www.villaipanema.com.br/>. Acesso em: 13 dez. 2017.
APÊNDICES
APÊNDICE A: Poema dos Desejos aplicado no CAPSIII e no CAPSi.
100
PARTICIPANTE 1
101
PARTICIPANTE 2
102
PARTICIPANTE 3
103
PARTICIPANTE 4
104
PARTICIPANTE 5
105
PARTICIPANTE 6
106
PARTICIPANTE 7
107
PARTICIPANTE 8
108
PARTICIPANTE 9
APÊNDICE B: Planta Baixa do Bloco A.
110
PARTE 1
Legenda:
1. Lavabo/ Fraldário Feminino 6. Sala de Cinema
2. Lavabo/ Fraldário Masculino 7. Sala de Artes
3. Sala Multiuso 8. Sala de Jogos
4. Sala de Informática 9. Biblioteca Externa
5. Sala de Música 10. Biblioteca Interna
1
2
3
5
7
9
4
6
8
10
111
PARTE 2
Legenda:
1. Diretoria com Lavabo
2. Secretaria
3. Administração
4. Lavabo / Vestiário de Funcionários Feminino
5. Lavabo / Vestiário de Funcionários Masculino
6. Recepção/ Sala de Espera com Lavabo
7. Copa de Funcionários
8. Área de Exposições Artísticas
9. Sala de Reuniões
1 2 3 4 5
6 7 8 9
APÊNDICE C: Planta Baixa do Bloco B.
113
Legenda:
1. Sala de Descanso 6. Lavabo/ Vestiário Masculino
2. Sala Assistente Social 7. Lavabo/ Vestiário Feminino
3. Sala de Medicamentos 8. Consultório Psiquiatra
4. Sala de Enfermagem 9. Consultório Psicólogo
5. Depósito 10. Consultório Terapia em Grupo
1
2
2
3
4
5
6
7
8
8
8
9
9
9
10
APÊNDICE D: Planta Baixa do Bloco C.
115
1. Área de Serviço
2. Cozinha
3. Despensa
4. Sala de Culinária
5. Lavagem de Panelas
6. Lixo
7. Cantina
8. Refeitório
1 2 3 4
6
7 8
5