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CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO MARIANA MARQUES PINHEIRO PARQUE LUGARES DE MEMÓRIA: sistema de conectividade da cidade de Macaé/RJ Campos dos Goytacazes/RJ 2018

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CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA MARQUES PINHEIRO

PARQUE LUGARES DE MEMÓRIA:

sistema de conectividade da cidade de Macaé/RJ

Campos dos Goytacazes/RJ

2018

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MARIANA MARQUES PINHEIRO

PARQUE LUGARES DE MEMÓRIA:

sistema de conectividade da cidade de Macaé/RJ

Trabalho Final de Graduação apresentado ao

Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia Fluminense Campus Campos –

Centro como requisito parcial para a conclusão

do Curso de Bacharelado em Arquitetura e

Urbanismo.

Orientadora: Profª DSc Danielly Cozer

Aliprandi

Campos dos Goytacazes/RJ

2018

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Grandes realizações não são feitas por impulso,

mas por uma soma de pequenas realizações.

Vincent Van Gogh.

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Agradecimentos

Muitas pessoas foram importantes ao longo destes anos de curso, então agradeço a

todos pelo apoio e carinho.

À minha mãe, Marcia, pela paciência, confiança e demonstrações de carinho e

admiração todo esse tempo.

À minha orientadora Danielly Cozer Aliprandi, que me acompanhou em todo processo

de graduação, como orientadora de pesquisa e incentivadora, me conduzindo e

confiando como profissional.

À CAPES, por acreditar e me proporcionar uma das melhores experiências da minha

vida a partir do programa Ciências Sem Fronteiras.

À coordenação do curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense - Campos dos Goytacazes/RJ, a

todos os colegas professores e aos alunos.

Aos grandes amigos e parceiros de faculdade, em especial agradeço a Priscila Gomes,

Sara Contage e Ursula d’Almeida, por estarem sempre ao meu lado, incentivando e

ajudando pacientemente em todos os momentos.

A uma amiga em especial que sempre esteve ao meu lado nos momentos decisivos,

agradeço carinhosamente a Ana Caroline Mafra, obrigada pela paciência, compreensão

e sabedoria passada ao longo desses anos.

Acima de tudo, agradeço à Deus por ter me dado força e sabedoria durante toda

caminhada. E, por fim, meus mais sincero obrigada a todos que estiveram comigo nesse

processo e que, de alguma forma, contribuíram para o sucesso deste trabalho.

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RESUMO

A cidade de Macaé está localizada na Região Norte do Estado do Rio de Janeiro e passa

por diversas mudanças econômicas significativas desde a chegada da Petrobras na

cidade. No espaço urbano, essas alterações podem causar consequências nem sempre

positivas, podendo estar presentes nas formas de ocupação e apropriação dos espaços

livres urbanos, bem como na consolidação de uma expansão urbana caracterizada pela

segmentação e diferenciação social, demográfica, econômica e ambiental. O presente

trabalho trata do estudo da implementação de um Masterplan do Parque Lugares de

Memórias, visando a requalificação do eixo urbano a partir da implantação de um

parque linear entorno de parte da ferrovia de Macaé/RJ. Através dos procedimentos

metodológicos que consistem em revisão bibliográfica, primeiramente acerca dos

principais conceitos a serem abordados no decorrer do trabalho, como sistema de

espaços livres e sua categorização , paisagem, ressignificação dos espaços; logo após

dividiu-se o projeto em três escalas de análise e intervenção: Macro, Meso e Micro,

sendo estas descritas detalhadamente ao longo do trabalho. O trabalho teve como

prioridade a ressignificação e conexão de áreas de grande potencial paisagístico e de

lazer, com intuito de torna-las ativas, aumentando a relação ambiente/pessoa, no eixo

urbano. Com objetivo de valorizar antigos e novos espaços que desenvolvam na cidade

o senso de urbanidade e vivência, buscou-se melhorar a qualidade de vida da população

local. A articulação dos espaços livres públicos incentiva o lazer e cultura, encoraja

efemeridades da cidade, através de comércios e serviços, requalifica áreas

ambientalmente degradadas, além de ressignificar a construção da antiga ferrovia, hoje

subutilizada, de potencial histórico, promovendo a revalorização do espaço para uso

cultural.

Palavra-chave: Masterplan. Espaços livres. Ressignificação do espaço urbano.

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ABSTRACT

The city of Macaé is located in the northern region of the State Rio de Janeiro and is

more precisely from an entrance of Petrobras in the city. In urban space, changes may

have been successful and positive, they are present in the forms of occupation and

appropriation of urban urban spaces, as well as the consolidation of an urban expansion

characterized by social, demographic, economic and environmental segmentation and

differentiation. The present work deals with the study of the implementation of a

Masterplan of the Park of Memories, aiming at the requalification of the urban axis

from the implantation of a linear park surrounding part of the railroad of Macaé / RJ.

Through the methodological procedures that consist of a bibliographical review, first

about the main concepts to be approached during the work, as a system of free spaces

and their categorization, landscape, re-signification of spaces; soon after the project was

divided in three scales of analysis and intervention: Macro, Meso and Micro, being

these described in detail throughout the work. The work had as a priority the

redetermination and connection of areas of great landscape and leisure potential, in

order to make them active, increasing the relation environment / person, in the urban

axis. With the purpose of valuing old and new spaces that develop in the city the sense

of urbanity and living, it was sought to improve the quality of life of the local

population. The articulation of public spaces encourages leisure and culture, encourages

ephemerality of the city, through commerce and services, requalifies environmentally

degraded areas, and re-signifies the construction of the old railroad, now underutilized,

of historical potential, promoting the revaluation of space for cultural use.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Estação Ferroviária Macaé ..........................................................................8

FIGURA 2. Bairro Imbetiba, Macaé década de 1970....................................................22

FIGURA 3. Bairro Imbetiba, Macaé década de 2012....................................................23

FIGURA 4. Linha do Tempo de Macaé/RJ....................................................................25

FIGURA 5. Gráfico de crescimento populacional de Macaé/RJ...................................27

FIGURA 6. Vista da cidade de Macaé...........................................................................29

FIGURA 7. Tipos de vias Macaé/RJ .............................................................................39

FIGURA 8. Tabela de diretrizes da Legislação.............................................................51

FIGURA 9. Tabela de analise CPP................................................................................53

FIGURA 10. Masterplan do Parque Botânico de Medellín...........................................55

FIGURA 11. Rio Muddy River......................................................................................56

FIGURA 12. Parque Emerald Necklace.........................................................................57

FIGURA 13. Masterplan da High Line..........................................................................58

FIGURA 14. Diretrizes Globais.....................................................................................62

FIGURA 15. Deck de madeira plástica..........................................................................67

FIGURA 16. Concreto permeável..................................................................................67

FIGURA 17. Macabaíba árvore e fruto..........................................................................68

FIGURA 18. Intervenções urbanas................................................................................77

FIGURA 19. Guarda corpo Aço corten.........................................................................78

FIGURA 20. Mercado Municipal San Miguel, Madrid.................................................79

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1. Recorte de escalas............................................................................................9

MAPA 2. Mapa de Localização Macaé/RJ.....................................................................20

MAPA 3. Mapa de Distribuição de renda urbana de Macaé/RJ.....................................24

MAPA 4. Mapa de Expansão Urbana de Macaé/RJ.......................................................28

MAPA 5. Suporte geobiofísico......................................................................................31

MAPA 6. Área de interesse ...........................................................................................33

MAPA 7. Modificações da paisagem.............................................................................35

MAPA 8. Análise socioeconômica.................................................................................37

MAPA 9. Hierarquia Viária............................................................................................40

MAPA 10. Uso e ocupação.............................................................................................42

MAPA 11. Figura fundo.................................................................................................44

MAPA 12. Aspectos ambientais....................................................................................47

MAPA 13. Raios de abrangencia equipamentos............................................................49

MAPA 14. Equipamentos...............................................................................................50

MAPA 15. Legislação.....................................................................................................52

MAPA 16. Análise CPP.................................................................................................54

MAPA 17. Mapa de Atividades......................................................................................64

MAPA 18. Masterplan Parque Lugares de Memória......................................................69

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................2

1. QUADRO TEÓRICO ..............................................................................................10

1.1 A paisagem .............................................................................................................10

1.2 Os espaços livres compreendidos de forma sistêmica .............................................12

1.3 Conceitos adotados e categorização ........................................................................13

1.4 Os Espaços livres e sua importância .......................................................................14

1.5 Atributos do Sistema de Espaços Livres .................................................................16

1.6 O direito à cidade .....................................................................................................17

1.7 Resignificando o lugar .............................................................................................18

2. CONTEXTO URBANO (Macroescala)....................................................................20

2.1 O Município de Macaé .............................................................................................20

2.2 Evolução urbana do município .................................................................................24

2.3 Espaços Livres de Caráter Ambiental ......................................................................28

3. DIAGNÓSTICO DA ÁREA (Ferrovia Macaé – Mesoescala) .................................32

3.1 Recorte espacial da Mesoescala ..............................................................................32

3.2 Modificações da paisagem .......................................................................................34

3.3 Contexto socioeconômico da Mesoescala ................................................................36

3.4 Diagnóstico urbano da área ......................................................................................38

3.4.1 Sistema viário ........................................................................................................38

3.4.2 Uso e ocupação do solo .........................................................................................41

3.4.3 Figura e fundo ........................................................................................................43

3.4.4 Aspectos ambientais ..............................................................................................45

3.4.5 Equipamentos da área de interesse ........................................................................48

3.4.6 Legislação Urbana .................................................................................................51

3.4.7 Análise CPP ...........................................................................................................53

4. MATERPLAN PARQUE LINEAR (Mesoescala) ...................................................55

4.1 Referenciais de projeto .............................................................................................55

4.1.1 Parque Botânico de Medellín Joaquín Antonio Uribe ...........................................55

4.1.2 Parque Emerald Necklace ......................................................................................56

4.1.3 High Line ...............................................................................................................57

4.2 Diretrizes do Projeto .................................................................................................60

4.2.1 Conceito e partido ..................................................................................................60

4.2.2 Diretrizes de projeto ..............................................................................................61

4.3 Mapa de Atividades ..................................................................................................62

4.4 Materplan Parque Lugares de memória ...................................................................65

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5. Recortes dos Lugares de Memória (Microescala) ...................................................70

5.1 Recorte 01 – Área de grande contemplação paisagística..........................................70

5.2 Recorte 02 – Efemeridades urbanas .........................................................................73

5.3 Recorte 03 - Requalificação da Estação Ferroviária ................................................76

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................82

REFERÊNCIAS ............................................................................................................83

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INTRODUÇÃO

[...]e a cidade ia tomando a forma que o olhar revelava...

Clarice Lispector

As transformações ocorridas no espaço urbano constituem um complexo objeto de

estudo que pode despertar o interesse de diversos sujeitos sociais. Nem sempre estas

transformações priorizam os espaços livres e, por consequência, na maior parte das

vezes, acabam sendo constituídos por fragmentos urbanos restantes do parcelamento do

solo. Atrelado ao fator de priorização das propriedades privadas e à insegurança,

causada pelo medo habitual do uso dos espaços públicos, a cidade vai perdendo o senso

de apropriação e acolhimento.

A inquietação sobre como os grupos sociais podem usufruir os espaços livres públicos,

traz questionamentos: até que ponto a apropriação dos espaços livres públicos se

relaciona com a identidade cultural? De que maneira essa identidade cultural da

sociedade promove a conquista do direito à cidade? Quais são os papéis, valores e

potencialidades que permeiam as relações entre os indivíduos e a cidade? Como esse

espaço manifesta essas relações? Todas essas questões são tratadas ao longo do

trabalho, buscando de alguma forma entender as dinâmicas da cidade e como a mesma

lida com seus espaços livres públicos.

Observando o desenvolvimento da cidade de Macaé/RJ, constatamos que houve um

aumento populacional bastante acentuado a partir da implantação da Petrobrás na região

em 1970. A "cidade formal" vem crescendo, transformando profissionais das mais

diversas áreas em investidores da construção civil. Porém a "cidade informal" não fica

atrás, evidenciando também um crescimento bastante elevado. É importante o

dimensionamento destes dois crescimentos para que o Poder Público, ciente destas

perspectivas, possa atuar, garantindo melhor qualidade de vida para a população

municipal. Esse município recebeu a indústria petrolífera e hoje tem sua dinâmica de

crescimento baseada nesse agente econômico.

O molde privativo de urbanização resulta em segregação socioespacial, esta debatida

por diversos autores, como Lefebvre (2001), Villaça (2003) e Maricato (2006), os quais

defendem que a sociedade é organizada através do espaço produzido. “A segregação é,

portanto, aquela forma de exclusão social que apresenta uma dimensão espacial”

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(VILLAÇA, 2003, p. 1 apud Godoy et al, 2017, p.5). Essa segregação citada pelos

autores, reflete no espaço urbano, fazendo com que as pessoas de baixa renda tenham

menos acesso ao lazer de qualidade e fiquem mais afastadas dos serviços dispostos nos

centros urbanos. Além da população com alto poder aquisitivo intensificar a busca pelo

lazer privativo na tentativa de haver maior segurança. Neste sentido, a cidade passa a

retratar em um mesmo espaço urbano interesses individuais, no qual a população

segregada cria meios alternativos para atender suas demandas e a população elitizada

passa a privatizar serviços e espaços, diminuindo a importância real dos espaços livres

públicos fazendo com que os mesmos deixem de promover a interação social. Villaça

ainda afirma que:

A segregação, como um mecanismo de dominação e exclusão, sempre

impede ou dificulta o acesso dos segregados a algum serviço, benefício

direito ou vantagem, seja público, seja privado. Pode ser o conforto de um

serviço de transportes, um bom parque, os serviços públicos ou os shoppings.

A segregação urbana atua através da acessibilidade, ou seja, através das

facilidades ou dificuldades de locomoção no espaço urbano (VILLAÇA,

2003, p.2).

Neste enquadramento, autores como Gehl (2013) e Jacobs (2000) explicitam a

necessidade de garantir a diversidade de práticas e funções da cidade, sendo pensada

para seus usuários, considerando a escala humana. Enfatizando a necessidade de

reestruturação e valorização dos espaços livres de uso público na cidade, como

Pellegrino et al (2006 apud HULSMEYER, 2014, p. 5) dizem:

Os sistemas de espaços livres podem ir além de funções relacionadas apenas

à circulação e acessibilidade, ou de permanência como contemplação e

recreação. Entre suas múltiplas funções, por vezes sobrepostas, podem

exercer várias outras funções, como conectar fragmentos de vegetação,

conduzir as águas com segurança, oferecer melhorias microclimáticas,

atender os usos relacionados à moradia, trabalho, educação e lazer,

garantindo uma maior segurança social, acomodar as funções das demais

infraestruturas urbanas como transporte e abastecimento, além de atender os

objetivos mais tradicionais de recreação e melhorias ambientais e estéticas,

naquilo que Hulsmeyer denomina de ‘infraestrutura verde’.

Estes espaços devem estar dispostos pela cidade à população, para que esta possa

usufruir dos benefícios destes ambientes, proporcionando melhor qualidade de vida aos

moradores. Neste contexto, identifica-se que a mudança econômica na cidade de Macaé,

Região Norte Fluminense do Rio de janeiro, tenha influenciado significativamente as

transformações territoriais locais. Devido ao crescimento expressivo a partir da década

de 1970, quando a Petrobras instalou sua Sede Administrativa na cidade após a

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descoberta da Bacia de Campos, grandes mudanças passam a acontecer na cidade. A

economia que, segundo o Plano Diretor Municipal de Macaé (PMM, 2006),

anteriormente era predominantemente agrária, associada à atividade de pecuária leiteira

e pesca artesanal, passa a ser industrial.

Macaé teve, em função de todas essas transformações, sua paisagem alterada

significativamente. A velocidade do crescimento e a falta de regulamentação devido a

criação tardia do seu Plano Diretor Municipal (2006) geraram uma infraestrutura urbana

desigual. Além disso, observa-se na cidade uma falta de incentivos ao uso de seus

espaços livres públicos, a partir do degrado e falta de manutenção de praças e parques.

Hulsmeyer (2014) afirma que a paisagem urbana é constituída de sistemas, como,

ambientais, sociais, dentre outros, e estes garantem a integridade da cidade. O autor diz

também que o sistema de espaços livres pode e deve assumir este papel, de maneira a

proporcionar equilíbrio e estabilidade nos espaços urbanos. Os espaços livres citados

anteriormente, como Miranda Magnoli (1982) já descrevia, são áreas livres de

edificações, todos eles: quintais, jardins públicos ou privados, ruas, parques, rios,

mangues, praias urbanas etc. Estes constituem a cidade, formando um conjunto, que

apresentam relações de conectividade, complementariedade e hierarquia.

Segundo Queiroga (2011, p. 13 apud Hulsmeyer, 2014), todos os espaços livres,

independentemente de sua dimensão, qualificação estética ou funcional, de sua

localização e propriedade, públicos ou privados, fazem parte deste sistema.

Segundo Macedo et al (2009), o espaço livre possibilita o convívio social e não apenas

possui importância ambiental, como também é um elemento estruturador da paisagem.

A ampliação do seu entendimento abre a possibilidade para a qualificação de novas

áreas por meio de ações políticas e materiais, inclusive com a percepção de novos usos e

manifestações por parte da população – a construção social da paisagem.

A cidade de Macaé, a partir de uma percepção de usuária, na qual a autora se coloca,

possui grandes potencialidades para a complementação e suplementação de seu sistema

de espaços livres (SEL).

Entendendo que os espaços subutilizados podem ser compreentendidos como áreas de

grande potencial para usos públicos, a linha férrea de Macaé, hoje desativada e sofrendo

descaso dos órgãos públicos, torna-se um ambiente promissor. Além de ser um eixo

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estruturante da cidade, a linha férrea, que tem um importante papel na história de

Macaé, pode cumprir o papel de revitalizar a alma da cidade, sendo também um local

ideal para a implementação de um parque linear. O mesmo, pretende conectar, como

será mostrado ao logo do trabalho áreas de diferentes padrões econômicos, beneficiando

a população como um todo, além de tornar a ferrovia um local de memórias macaenses.

Cada cidade tem sua história, seus pontos de referência. Não me refiro

somente aquelas construções que são classificadas como marcas importantes

do patrimônio histórico da nação. Refiro-me, principalmente, aos locais que

pertencem à memória da cidade e que são pontos do antigo bonde ou uma

daquelas antigas vendas que tinham tudo ingenuamente expostos (LERNER,

2003, p.41).

A proposta é utilizar a mesma também como meio de conectividade com outros espaços

livres públicos, formando um corredor socioambiental, unindo estes espaços, fazendo

com que eles se relacionem de forma fluida. Estes espaços livres, básicos na existência

de um bom funcionamento da cidade, podem ajudar na qualidade de vida, fazem com

que o indivíduo faça parte ativamente da paisagem, integrando diferentes perfis

socioeconômicos. Assim, o presente trabalho visa possibilitar à cidade de Macaé um

melhor aproveitamento dessa área, além de propor um anteprojeto de requalificação

para a Estação Ferroviária, localizada na parte central da linha férrea.

Mas como já é mais possível recuperar essas áreas e reviver as antigas

atividades, temos que encontrar novos usos, novas atividades, temos que

encontrar novos usos, novas atividades que tragam vida. Não há nada que

agrade mais uma vizinhança, e até a uma população inteira, que o

reaproveitamento de um desses espaços (LERNER, 2003, p.41).

Diante disso, o objetivo deste trabalho é, a partir de análises da dinâmica dos espaços

urbanos de parte da cidade, propor um Parque Linear utilizando a antiga linha férrea,

que corta a cidade como eixo estruturante. O projeto tem por finalidade gerar

conectividade entre os espaços públicos, reunindo antigos e novos espaços livres,

mantendo uma relação fluida com todo o entorno.

Pretende-se, assim, criar espaços que desenvolvam na cidade o senso de urbanidade e

vivência nos espaços públicos; buscar a melhoria da vida cotidiana da população local,

com intuito de valorizar a forma como os espaços públicos da cidade se articulam;

incentivar práticas de lazer e cultura; incentivar a utilização dos espaços para comércios

efêmeros; requalificar áreas ambientalmente degradadas; requalificar a construção da

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antiga ferrovia, hoje subutilizada, de potencial histórico, promovendo, então, a

ressignificação do espaço para uso cultural.

Para alcançar esses objetivos, os procedimentos metodológicos consistem em pesquisa

bibliográfica acerca dos principais conceitos a serem abordados no decorrer do trabalho,

como sistema de espaços livres e sua categorização , paisagem, ressignificação dos

espaços dentre outros, tendo como base as principais referências do grupo “Sistema de

Espaços Livres / Rio de Janeiro” (SEL/RJ1) e do grupo de pesquisa “Quadro do

paisagismo no Brasil - Sistema de Espaços Livres” (Quapá-SEL2), e autores como

Kevin Lynch, Jan Gehl, Jaime Lerner, dentre outros.

Para análise local foi aplicado o método da visão serial de Gordon Cullen (1961), que

descreve uma experiência visual que a caminhada nos possibilita ao se movimentar,

evocando emoções e memórias diversas ao observador no espaço em que se caminha. A

partir de percepções e visões da cidade, pretende-se identificar as necessidades da

população através da análise do espaço.

Após revisão bibliográfica, e análise do contexto urbano em que a ferrovia se insere

dividiu-se o projeto em três escalas de análise e intervenção: Macro, Meso e Micro,

sendo estas observadas e descritas a partir do esquema a seguir (Mapa 1).

A escala Macro é composta da contextualização do município de Macaé, envolvendo

seus aspectos socioeconômicos, históricos e as características de seu suporte

geobiofísico, dando enfoque no perímetro urbano (mancha vermelho mais claro e

tracejada no Mapa 1) como pode ser observado nas próximas páginas, possibilitando

assim explorar parte da história de formação da cidade e a importância da linha férrea

para a mesma.

Já na escala Meso, será realizado um recorte dos bairros no entorno da área onde será

implementado o Parque Linear (recorte delimitado pela tonalidade pouco mais escura

ainda no Mapa 1), realizando diagnósticos como: perfil socioeconômico e demografia –

1 Grupo de pesquisa Sistema de Espaços Livres no Rio de Janeiro – SEL/RJ é Grupo interdisciplinar

constituído em 2007, vinculado ao PROARQ-FAU/UFRJ, coordenado por Vera Regina Tângari, com o

objetivo de estudar os sistemas de espaços livres de edificação e sua relação com o planejamento e

desenho urbanos e com a configuração e a dinâmica da paisagem na cidade e no Estado do Rio de

Janeiro. 2 Grupo de pesquisa nacional Quadro do paisagismo no Brasil /Sistemas de Espaços Livres (QUAPÁ-

SEL), coordenado pelos professores da FAUUSP Silvio Macedo e Eugênio Queiroga.

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por bairro –, levantamentos de elementos de caráter ambiental – lagoa, rios, canais,

áreas de preservação, restingas, manguezais e áreas alagáveis –, características do

sistema viário – vias locais, arteriais, coletoras; ferrovia e pontos de ônibus ao longo do

trecho, sendo esses analisando o raios de abrangência3; levantamento de uso e

ocupação do solo – áreas residenciais, comerciais, industriais, serviços, institucionais;

levantamento de Equipamentos – praças e parques, utilizando raio de abrangência;

atributos perceptivos – emergência visual, fundos cênicos, marcos históricos; análise da

legislação – plano diretor, uso e ocupação do solo e leis ambientais.

E, por fim, a analise CPP: condicionantes, problemáticas e potencialidades, que será

realizada a partir da análise de características locais que devem ser mantidas, corrigidas

ou melhoradas, gerando uma tabela. Os condicionantes, como a legislação e alguns

elementos imutáveis a nível projetual do parque, as problemáticas, que são

características negativas que podem dificultar o desenvolvimento das ações, e as

potencialidades, que são as vantagens identificadas em cada local, sendo essas

analisadas nas seguintes esferas: topografia, hidrografia, vegetação, acessos e vias,

localização, ocupação, esgotamento sanitário. Com base na tabela gerada, será

elaborado um mapa de classificação do sistema de espaços livres, atribuindo algum tipo

de valor a ele, verificando as potencialidades para integração das áreas com o parque.

Por fim, ainda na escala meso, será desenvolvido um Masterplan do Parque Linear,

considerando a área e propondo a resolução de problemas gerados pelo crescimento

desordenado da cidade.

E na escala Micro (representado por círculos mais escuros no Mapa 1), na intervenção

local será proposto o anteprojeto de revitalização da área entorno da Estação

Ferroviária, dando novos usos e propondo a ressignificação da mesma para futuros

projetos detalhados. Objetiva-se observar e valorizar cada ponto da ferrovia,

entendendo-a como a alma da cidade local que carrega parte de sua história,

considerando que esta deve ser contada e propagada através de seu espaço, ampliando

seus usos, valorizando a identidade municipal, acarretando um processo de mobilização

com repercussões culturais, políticas e educativas nas formas de ocupação e uso do

3 A distribuição equilibrada pelo tecido da cidade dos equipamentos comunitários é fundamental

para sua sustentabilidade. Os raios de abrangência são a distanciação de cada equipamento na

cidade obedecendo os critérios de acessibilidade fundamentados na relação entre os espaços e as

moradias (CASTELLO,2013).

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espaço público urbano. A seguir na figura 1 pode ser observada a ferrovia nos dias de

hoje.

Além de mostrar outros dois recortes em áreas de atividades e conexões com o Parque

lugares de memória.

Figura 1. Estação Ferroviária Macaé.

Fonte: Acervo pessoal (2017).

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1. QUADRO TEÓRICO

1.1 A paisagem

A paisagem, em suas múltiplas definições, pode ser compreendida de diferentes

maneiras e por várias ciências, sendo ela formada por diversos elementos e podendo ser

de domínio natural, humano, social, cultural ou econômico e estes comunicam-se entre

si, trazendo maior dinamicidade aos locais.

A paisagem está em constante transformação, sendo adaptada conforme as atividades

humanas, revelando uma história, o passado inscrito nas formas geradas por diferentes

tempos acumulados, mas sempre atuais, sincrônicos e diacrônicos, que produzem uma

impressão apreendida pelos sentidos, conforme descreve Carlos (2007), que define a

paisagem como o “imediatamente visível”, aquilo que somos capazes de apreender pelo

olhar, em uma unidade visual. As apropriações visíveis da paisagem reproduzem a

história e a concepção do homem sobre o morar, o trabalhar, o viver. A paisagem é

também proporcionadora de rica vivencia sensorial, ao somar as mais diversas e

completas experiências perceptivas, como descreve Abbud (2008).

Carlos (2007), identifica o processo de rápida transformação de porosidade, que é

essencialmente algo não definido, sendo configurações que ganham sentidos múltiplos e

dinamismo através da apropriação humana, produzindo um movimento cambiante

presente na paisagem, pois “nenhuma situação aparece como é destinada, para todo o

sempre, nenhuma forma declara ser desta maneira e não de outra” (BENJAMIN, ano

apud CARLOS, 2007, p.148).

Magnoli (2006) também ressalta que não existe paisagem sem essa transformação e não

há natureza sem ação humana, sendo a paisagem, portanto, um produto profundamente

impregnado não só por ações culturais, mas também ditados por fatos biofísicos e

econômicos, consequentemente políticos, rebatidos nas formas de ocupação e gestão do

território.

Macedo (1999, p. 11) entende a paisagem como um produto e como um sistema, sendo

produto por resultar de processos sociais de ocupação e gestão de territórios. E um

sistema, pois as ações impressas sobre parte dela, resultam em uma reação equivalente,

podendo gerar mudanças morfológicas.

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Fundamentado na discursão anterior, a paisagem pode ser analisada de diferentes

formas e escalas, utilizadas pelos diversos âmbitos de conhecimento voltados ao seu

estudo e intervenção. Podendo ser dividido em duas vertentes a partir da análise feita

por Maria Ângela Faggin Leite (1992): a vertente que relaciona a paisagem a sua

essência física, material, objetiva, categorizável e a vertente que relaciona a paisagem à

sua essência simbólica, à sua experimentação e criação individual ou coletiva (LEITE,

1992, p. 45).

Sendo a paisagem essência física, material, objetiva e categorizável, inicialmente é

percebida como a expressão materializada das relações do homem com a natureza em

uma determinada porção do espaço. Os progressos tecnológicos ocorridos ao longo do

século XIX no campo da litografia e da fotografia propiciaram o reconhecimento e a

divulgação da diversidade das paisagens existentes na superfície terrestre, através da

multiplicidade de pontos de vista sucessivos e do melhoramento substancial dos

documentos iconográficos, como mapas e plantas cadastrais (CLAVAL, 1994 apud

SCHLEE et al., 2009).

Ainda segundo Claval (1994 apud SCHLEE et al., 2009), a partir do século XIX, com

os avanços tecnológicos, a paisagem se torna cartografável e sua organização mais

reconhecível, passando a ser concebida como interface entre a atmosfera, a litosfera, a

hidrosfera e a ação humana, ou seja, como interface entre natureza e cultura. As

relações complexas entre os seres humanos e os ambientes onde eles vivem passam

gradativamente a ser incorporadas no estudo das paisagens. E consolidam esse campo

de estudos ao formular as bases metodológicas de análise em seus estudos relacionados

à ecologia da paisagem, ciência que estuda as relações entre os padrões espaciais e os

processos ecológicos em múltiplas escalas e níveis de organização (TROLL, 1950 apud

SCHLEE et al., 2009).

Já a paisagem como essência simbólica, experimental e processual, compreende o

campo perceptivo e simbólico, expondo que as paisagens urbanas são resultado da

imagem transmitida, como mostra Kevin Lynch (1980[1960]), explicitando a relação

entre percepção, legibilidade, significado e identidade, considerando que o ser humano

utiliza “as sensações visuais de cor, forma, movimento ou polarização da luz, além de

outros sentidos como o olfato, a audição, o tato” (LYNCH, 1980, p. 11) para perceber a

paisagem. Outra analise similar das paisagens urbanas é a de Gordon Cullen (1983) que

busca entender como as paisagens urbanas suscitam "reações emocionais" nas pessoas.

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Ao serem experimentados, tais conceitos serão pormenorizados ao longo de todo

trabalho, explorando conceitos e metodologias desses autores citados no debate.

Segundo Schlee et al. (2009), Meinig (1979) considera “todas as paisagens como

simbólicas, como expressão dos valores culturais, do comportamento social e de ações

individuais trabalhadas em localidades específicas por um período de tempo” (MEINIG,

1979, p. 6 apud Schlee et al.,2009). Entendendo a expressão da cultura na paisagem de

um determinado local e de uma época específica, através de representações individuais,

indicando que as paisagens acumulam essas representações e se tornam extremamente

complexas para serem entendidas em sua totalidade.

O grande desafio contemporâneo citado por Menezes (2003), é procurar compreender as

complexas relações que a paisagem compõe, tecendo, movimentando e transformando

as identidades, gerando conflitos, com representações, apropriações e ideologias. A

importância da paisagem no âmbito dos sistemas de espaços livres é notória, pois neles

a paisagem se caracteriza como produto que incorpora os processos biofísicos e os

processos sociais nela refletidos, em diversos tempos e escalas, e que apresenta

elementos de integração ou fragmentação territorial, criando e recriando formas,

funções e fluxos, com funções ecológicas diversas, em estágios diferentes de

intervenção humana.

1.2 Os espaços livres compreendidos de forma sistêmica

O sistema, em seu significado geral da palavra, é um conjunto de componentes, partes

ou elementos que interagem entre si, essa interpretação é utilizada por diversas ciências

com a mesma significação, entretanto com objetos diferentes. As pesquisas do grupo

Quapá – SEL apresentam uma visão sistêmica dos espaços livres, constituindo

referências para as bases metodológicas de análise, que permeiam nosso olhar sobre os

objetos de estudo, em qualquer escala e recorte territorial.

Para alguns autores, os sistemas podem ser formados não só por componentes concretos

que se relacionam, como também podem tratar de sistemas de relações: sistemas de

valores, de leis, de interesses. Segundo D’Agostini e Cunha (2007, apud SCHLEE et al.,

2009), essas relações funcionais, estruturais e morfológicas ocorrem num espaço e entre

diferentes ambientes. Gerando inter-relações que estão sempre presentes, desde a

formação da cidade até como ela se modifica e desenvolve, sendo essa relação de

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grande importância principalmente nos espaços livres públicos, articulando a ideia de

sistema à noção de estrutura espacial.

Ao determinar a complexidade metodológica em se assimilar o espaço em todas as suas

dimensões, Milton Santos (1988), define o espaço como uma totalidade, apontando as

potencialidades do emprego da teoria dos sistemas para a compreensão do espaço

urbano. Todavia, para fins de análise, sugere a possibilidade de dividi-lo em partes.

Estas partes consistiriam, para o autor, em elementos em interação.

No presente trabalho busca-se compreender como esses espaços livres se articulam de

forma sistêmica, englobando também um pouco da identidade cultural expressa nos

mesmos. Essa noção é fundamental para compreender as relações de interdependência,

complementariedade e hierarquia entre os espaços livres, ainda que não seja planejado

para ter relação, conforme descreve Macedo et al. (2007).

Conforme sugere Gilles Clément (2004 apud SCHLEE et al., 2009), estes espaços,

alguns em desuso ou esquecidos, conservam manifestações de diversidade biofísica e

cultural. As funcionalidades destes espaços variam de acordo com as mudanças locais,

podendo-se mencionar alguns como circulação, drenagem, preservação, conservação,

requalificação ambiental, convívio social e atividades de lazer (LUNA et al., 2014).

Sendo que o sistema de espaços livres de cada recorte espacial, tanto urbano como rural,

segundo Schlee et al. (2009), apresentando maior ou menor grau de planejamento e

projeto, e um maior ou menor interesse da gestão pública num ou noutro subsistema a

ele relacionado.

De maneira geral, os espaços livres são conceituados segundo Miranda Magnoli (2009,

apud PINHEIRO, ALIPRANDI, 2015), como todo espaço não ocupado por edifícios,

independente de existir ou não elementos naturais, podendo ser destinado a pedestres,

aos veículos, à preservação de ecossistemas ou outras apropriações. Esses podem

possuir diversas funções, como proporcionar perspectiva e vistas no cenário urbano,

proporcionar recreação, proteger áreas ecológicas e valores importantes, além de servir

como ativador da vivência e identidade cultural, provocando sensações e apropriações

diversas ao longo do percurso.

Segundo Macedo (2009), os espaços livres podem ser classificados como espaços livres

públicos ou privados, baseado em uma questão de propriedade. Os espaços livres

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públicos podem ser: áreas de parques, praças, áreas militares, jardins, praias, reservas,

calçadas, ciclovias, rotatórias, pátios de escolas, de hospitais, entre outros; e os espaços

livres privados podem ser: espaços livres de condomínios, espaços livres dentro do lote,

dentre outros.

Nesse projeto serão focados os espaços livres públicos, classificando-os em 3 categorias

principais: de Caráter Ambiental (corpos hídricos, áreas de preservação ambiental- de

acordo com o Plano diretor da cidade de Macaé); de Caráter de Urbanização –

relacionados à permanência (praças, parques, bosques, praia, campos de futebol público

etc.); de Caráter de Urbanização – relacionados à Circulação (rotatórias, ciclovias,

canteiros, calçadas etc.). Existem outras categorias, mas não abrangem o objeto de

estudo deste trabalho. (MACEDO et al, 2009, p.75)

A conectividade entre esses espaços pode ser explorada em uma divisão de escalas

(macro, meso e microescala), pelos mapas que irão ser gerados a partir de estudos e

observações. Sendo que todas essas análises serão determinantes para o uso da área

pretendida para o parque linear a ser implementado.

1.4 A importância dos Espaços livres públicos

Os espaços livres públicos são de grande importância, tanto para lazer e recreação

urbanos, como para o conjunto da cidade, melhorando as condições locais em relação à

insolação, ventilação e permeabilidade do solo, etc. Os usos destes espaços estão

diretamente relacionados com sua qualificação e gestão. O presente projeto pretende

ressaltar sua importância em relação aos seguintes aspectos: realização da esfera

pública; modificações ambientais; constituição da imagem/identidade da cidade e

realização de atividades de lazer. Pretende-se possibilitar a construção da cidadania,

com acesso pleno ao território e sua apropriação, diante destas novas formas urbanas.

Além de se tornarem lugares de especial representatividade no cenário da recuperação

urbana como elementos dinamizadores.

A proposta de desempenhar as funções dos espaços em esfera pública4 requer não só a

participação política, com debates, ações com a comunidade, mas também ações

4 Segundo Queiroga (2011), a esfera pública geral refere-se a toda experiência vivenciada em público. Não somente os espaços livres públicos, mas a internet e outros meios de comunicação também são

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implícitas de realizações humanas. Estas fazem com que a cidade seja representante da

abrangência de sentidos e significados que a sociedade produz, reavivando na esfera

pública a liberdade do acesso, uso e apropriações de diferentes grupos. As ações

incitam a criatividade e o melhor aproveitamento das infraestruturas públicas,

fortalecendo a imagem da cidade.

Esta percepção dos ambientes urbanos objetiva interpretar a cidade enquanto um

conjunto de diversos elementos e sob a perspectiva dos indivíduos. E também a

identidade local, relacionada com a soma de um aglomerado de signos, referências e

influências que definem o entendimento relacional de uma determinada sociedade, essa

relação entre a imagem da cidade e a identidade local ela estará representada no projeto

a partir de elementos paisagísticos (ALIPRANDI, 2017).

A configuração dos espaços livres, segundo Magnoli (1982 apud PINHEIRO,

ALIPRANDI, 2015), tende a influenciar na qualificação do espaço urbano e pode, por

consequência, aumentar a qualidade de vida urbana e auxilia na constituição da imagem

da cidade. Silva (2009) descreve a concepção da identidade construída a partir do

convívio social, conforme a seguir:

O centro essencial do ˹eu˺ era identidade do sujeito donde se assumia que a

identidade era algo natural, gerada conjuntamente com indivíduo. Não se

imaginava então que a identidade era construída ao longo da vida pela

experimentação e relacionamentos com os outros (SILVA, 2009, p. 3).

Assim como Queiroga (2011) relaciona a identidade como resultado de uma

correspondência dialética entre sujeito e sociedade, sempre considerando os espaços

públicos como locais em que essas identidades se manifestam. Sendo os espaços livres

públicos de grande importância também pela possibilidade que gera na realização de

atividades recreativas de acesso irrestrito, onde as próprias pessoas constroem a imagem

simbólica e memorial das cidades.

Já a relevância em relação as modificações ambientais, que a urbanização tem gerado na

cidade como, impermeabilização do solo, poluição sonora, alterações microclimáticas

além de alterações do suporte geobiofísico em diversas escalas, essas modificações

geram efeitos negativos ao sistema urbano e a qualidade de vida de um modo geral. O

elementos da esfera pública. É um sistema de ações que se realiza a partir de um sistema de objetos espaciais - concretos ou virtuais -, constitutivo de um sistema de símbolos e valores culturais.

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sistema de espaços livres contribui com uma série de questões relacionadas ao bem-

estar e qualidade de vida, especialmente em espaços públicos, que permitem a interação

entre pessoas de diferentes classes sociais e culturais.

1.5 Atributos do Sistema de Espaços Livres

A paisagem possui propriedades que revelam suas potencialidades, como é mostrado

por Tângari (1999, apud ALIPRANDI, 2017), podendo se expressar a partir de três

tipos: ambientais, sociais ou estéticos. A qualidade ambiental relaciona-se ao contexto

do suporte geobiofísico no qual a paisagem está inserida, como descrito pelas autoras

citadas anteriormente. A qualidade social da paisagem, ou funcional, como denomina

Macedo (1999), está intrínseca ao seu contexto cultural, condicionada ao atendimento

das demandas da sociedade, enquanto sua qualidade estética está relacionada ao seu

contexto formal, fruto de padrões projetuais e modelos adotados.

Os principais atributos de um espaço público são aqueles que têm relação com o

cotidiano, com a vida pública e com a urbanidade. Estes atributos são expressos nos

diversos subsistemas que compõem a paisagem, como os espaços livres públicos, objeto

deste trabalho.

As potencialidades da paisagem, como descritas a cima, podem ser contextualizadas

conforme diz Macedo (2009), como: qualidade ambiental, estando relacionada aos

serviços de suporte ambiental, geobiofísicos da paisagem e também regulamentado pela

prefeitura do município. Sendo a função dos espaços livres públicos para além da

recreação, estes podem contribuir para manutenção da permeabilidade do solo,

auxiliando a drenagem urbana e também contribuindo para a amenização de altas

temperaturas.

Outra das potencialidades, também descritas pelo mesmo autor, é a qualidade social

dos espaços livres públicos, que está diretamente vinculada aos seus usos sociais e/ou

funcionais, tendo a importante função de atender a diversos grupos sociais,

independente da sua renda e o lugar onde moram. Colaborando com a mobilidade

urbana, dando a oportunidade de escolha e interação social, ampliando o potencial de

realização da esfera pública. É necessário considerar ainda, que seu uso pode ser

determinado pelo projeto, mas apropriação depende da liberdade de escolha (MACEDO

et al., 2009). Sendo assim, para o uso e também para apropriações diversas, os projetos

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devem permitir a liberdade de se apropriar dos espaços livres públicos da maneira que

se desejar e que contemple a cultura de cada um.

[...] não apenas a biodiversidade como a sociodiversidade e a garantia à

diversidade cultural. Hábitos tradicionais e novos, endógenos e exógenos

estão sempre em relação dialética, os espaços livres públicos são suporte

importante para sua manifestação, contendo elemento educador na medida

em que propiciam a visibilidade e, quem sabe, o respeito pela alteridade

(QUEIROGA, 2011, p. 34).

Deste modo a qualidade estética e projetual, está relacionada a locais planejados por

profissionais e que preveem considerar as necessidades e especificidades socioculturais

locais. Um local bem projetado transmite satisfação e segurança aos seus usuários.

Neste caso, a qualificação estética e projetual está relacionada às possibilidades de uso e

apropriação do espaço (MACEDO et al., 2009).

Por fim, as atribuições dos espaços livres públicos devem estar diretamente ligadas às

condições do mesmo, para que eles atendam aos três pontos de qualidade citados acima,

utilizando-se de áreas comuns como um sistema de conectividade.

1.6 O direito à cidade

Se tratando dos Espaços Livres públicos as apropriações e usos da cidade hoje são

realizadas por diferentes grupos sociais, sendo resultado de processos sociais e

econômicos, suas contradições são reveladas por meio do entendimento da identidade

cultural que as constitui e as transforma, como os usos e apropriações de locais

públicos. Segundo Lefebvre (2001), apropriação não tem a ver com propriedade, mas

com o uso, e precisa acontecer coletivamente como condição de possibilidade à

apropriação individual, sendo que a disposição do espaço urbano traduz as relações

conflitantes entre o capital e o trabalho, condicionando não somente no sentido material,

mas nas relações de poder projetadas territorialmente e nas práticas sócio-espaciais

inscritas no espaço. Ainda segundo o mesmo autor, o espaço urbano é construído

historicamente, tendo como representação urbana a cidade como expressão material

desta representação constituída as diversas formas de apropriação de cada local. A

própria cidade criando seus signos, a linguagem própria de acordo com os seus

habitantes, agregando valores que cada vez mais atraem capitais e formação de redes

urbanas, tudo que se cria é vendido, tornando o espaço dinâmico como se a cidade

tivesse vida própria.

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Para Lefebvre (2001), lutar pelo direito à cidade é romper com a sociedade da

indiferença e caminhar para um modo diferencial de produção do espaço urbano,

considerando a cidade como obra dos cidadãos. Não citando apenas sobre os aspectos

da vida social de cada lugar, mas também o plano mais abstrato, que é composto por

definições da cidade, sendo resultado de todas essas abstrações a projeção da cidade que

a compõem.

Essa relação espaço-sociedade é descrita não só por Lefrebve (1969), como também por

David Harvey (2014), que ressalta que as diferentes práticas humanas estabelecem

conceitos de espaço diversos. Esse autor concebe o espaço em um contexto dialético, ao

mesmo tempo absoluto (com existência material), relativo (como relação entre objetos)

e relacional (espaço que contém e que se relaciona com os objetos).

Para Harvey, “o direito à cidade não é simplesmente o direito ao que já existe na cidade,

mas o direito de transformar a cidade em algo radicalmente diferente” (HARVEY,

2009, p. 270). Complementando como a cidade deve ser vista “não como uma cidade de

fragmentos, mas como um corpo político, como uma “entidade que tem um caráter, um

papel a desempenhar na divisão internacional do trabalho” (HARVEY, 2006), e que,

deve ser produzida coletivamente a partir das ideias e ideais dos sujeitos que participam

ativamente dessa produção.

1.7 Ressignificando o lugar

A ressignificação do espaço é considerada nesse projeto como um método de atribuição

de um novo significado a um local já existente, que já possui algum tipo de identidade.

Consiste no processo de revalorização da identificação das pessoas com locais por vezes

esquecidos, fazendo com que a alma da cidade que se encontra no entendimento de cada

cidadão se manifeste de alguma forma física no espaço livre público.

As nossas cidades, segundo Lynch (1980), apresentam muitas ambiguidades, confusões

e descontinuidades; as atividades significativas não são passíveis de apreciação; a

história e a base natural são obscurecidas. Segundo o mesmo autor, o excesso de

estímulos e sensações impostas (estímulos visuais, sonoros, informações etc.) criam

cidades vivencialmente desagradáveis. Lynch também destaca que a forma física de

uma cidade tem um impacto sensorial que condiciona profundamente a vida de seus

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habitantes, e esse fato é frequentemente ignorado na tarefa da construção urbana

(LYNCH, 1977, p. 208).

Estas formas físicas da cidade podem ser formadas, segundo o mesmo autor, pelo

excesso de estímulos e sensações imposto pelas cidades que vão muito além dos limites

de conforto e tolerância humanos (estímulos visuais, sonoros, informações, etc.); Além

da questão da percepção ambiental que pode ser analisada segundo o autor a partir de

três componentes: estrutura, identidade e imageabilidade. A identificação de um objeto

se diferencia em relação a outras coisas, seu reconhecimento como uma entidade

separada, no sentido de unicidade, ou seja, sua identidade. Além disso, a imagem da

cidade deve incluir o padrão espacial ou a relação do objeto com o observador e com os

outros objetos, como as vias férreas, ruas, margens de lagoas, praias e etc., o que Lynch

chamou de estrutura.

Já o conceito de imageabilidade, está ligado ao conceito de legibilidade, uma vez que

imagens “fortes” aumentam a probabilidade de construir uma visão clara e estruturada

da cidade. Sendo de grande importância quando se considerar os ambientes em suas

dimensões e complexidades.Uma cidade com imageabilidade (aparente, legível, ou

visível), nesse sentido, seria bem formada, distinta, memorável; convidaria os olhos e

ouvidos a uma maior atenção e participação (LYNCH, 1960, p. 10).

Toda a descrição a cima caracteriza e se relaciona com a forma de uso e a importância a

partir das experiências e do contato direto com as manifestações culturais, em múltiplos

aspectos, reavivando assim a herança cultural. Desta forma a ressignificação dos

espaços busca, através deste trabalho, proporcionar, por meio da requalificação da

estação ferroviária de Macaé, a propagação da história local trazendo também novos

atrativos.

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2. CONTEXTO URBANO

2.1 O Município de Macaé

A cidade está localizada na Região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro

(Mapa 4) , estando a 182 km da capital. Segundo o censo do IBGE de 2010, o

Município ocupa uma superfície de 1.216,846 km² e densidade demográfica de 169,89

hab/km² (IBGE, 2017). O Produto Interno Bruto per capita do município (PIB) é de R$

91.676,24/hab (IBGE, 2017). A cidade conta com as instalações da unidade

administrativa da Petrobrás, que opera principalmente a Plataforma Continental da

Bacia de Campos, trazendo um dos principais benefícios econômicos e meios de

crescimento para a cidade, os royalties pagos pela empresa devido à exploração do

petróleo são os principais responsáveis pelas obras de infraestrutura do município, como

saneamento básico e malha viária. A verba corresponde a cerca de 50% do orçamento

municipal. A indústria é a principal atividade econômica da região, sendo o PIB a preço

corrente de R$ 21.051.064,00 (IBGE, 2017).

Mapa 2. Mapa de Localização Macaé/RJ.

Fonte: Desenvolvido pela autora, com base em IBGE,2017.

Macaé

RJ

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Macaé também possui um grande potencial energético, tendo instaladas, de acordo com

o site oficial da Prefeitura (PMM,2017), duas usinas termelétricas, a Mário Lago e a

Termo Macaé, que produzem energia a partir do gás da Bacia de Campos, que chega do

mar diretamente para o Terminal de Cabiúnas, localizado no limite de Macaé-

Carapebus, maior pólo de processamento de gás natural do país.

A instalação da Petrobras, em 1970, constituiu um marco de mudanças da dinâmica da

cidade, determinando demandas de moradia, infraestrutura, espaços públicos, serviços e

quipamentos coletivos. Apesar das vantagens, como aumento na oferta de empregos e

atrativos econômicos para a cidade, o avanço economico trazido pela indústria

petrolífera fez com que a cidade enfrentasse uma forte pressão sobre a infraestrutura

urbana. Segundo Dias (2006), algumas dessas desvantagens podem ser citadas como:

ocupações irregulares, aterros de corpos hídricos para criação de loteamentos,

desmatamento e assoreamento e lançamento de esgoto em lagoas e mares.

Esse ciclo que se inicia com a mudança econômica traz consequências positivas, como o

aumento da renda per capta, geração de emprego e implantação de infraestrutura urbana,

atraindo assim investimentos públicos e privados para a cidade. Todavia, ocasiona uma

série de conflitos socioambientais que impactam diretamente a ocupação do território.

Como afirmam Binsztok e Ramos (2011, p. 1):

Percorrendo o interior do município verificamos como o desenvolvimento de

tecnologias de ponta utilizadas na exploração de petróleo convive com o

quadro de estagnação dos espaços agrários. O quadro pode ser acrescentado

pela forte depredação dos recursos naturais, representados pelas extensas

áreas desmatadas, intensos processos erosivos, ‘voçorocas’, ocasionando

inúmeros locais de riscos sujeitos a desmoronamentos de encostas e

enchentes dos cursos d’água.

O crescimento das oportunidades de emprego e o aumento da renda tornam-se atrativos.

A Petrobrás, assim como as outras empresas que chegam para dar suporte à exploração

do petróleo, necessitou de mão de obra especializada e, por consequência, inicia-se um

grande processo de migração, tanto de pessoas especializadas, que já chegam na cidade

com a garantia do emprego, como aqueles que buscam por um meio de se especializar.

Segundo censo do IBGE de 2010, 42,6% das pessoas residentes no município não

nasceram em Macaé, sendo destes 83,2% naturais do Estado do Rio de Janeiro. Do total

analisado, 41% não possui carteira assinada (2017), indicando que o crescimento

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economico ainda que alto não é igual ao aumento das oportunidades de emprego na

cidade.

A área escolhida para a sede da Petrobras na cidade, anteriormente era um local de

reparo de vagões de trens. O grande terreno era localizado de frente para o mar e no

centro histórico da cidade, que devido à implementação foi desativada e seus

funcionários realocados para outras regiões, causou transtorno às famílias, como

explicita Parada (1997, p.64 apud Carvalho[s.d.]). Com a realocação dos funcionarios

antigos e a chegada dos novos funcionarios da Petrobras, iniciaram-se os primeiros

conflitos, tanto pela inflação imobiliária gerada pelo repentino aumento da renda local,

como pela relação frequentemente exploratória, desconsiderando sua memória. Parada

(2006) ainda acrescenta em suas “Cartas da Província”, publicadas no jornal niteroense

“O Fluminense”, provocando constantemente um amigo ficticio a ir “banhar-se na

Imbetiba antes que ela acabe”, local onde a sede foi instalada. Transformações

ambientais ocorreram em decorrencia dessa instalação como pode ser observado na

figura 2 e 3.

Figura 2. Bairro Imbetiba, Macaé década de 1970.

Fonte: Jornal O Diário Macaé, 2016.

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Figura 3. Bairro Imbetiba, Macaé década de 2012.

Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé, 2012.

Diversos conflitos de interesse podem se destacar ao longo do desenvolvimento da

cidade, um deles é a divisão socioespacial5, gerada pela valorização e aumento da renda

na cidade, essa divisão é explicitada neste trabalho através do Mapa de Distribuição de

renda (Mapa 3), desenvolvido a partir de dados da Prefeitura Municipal de Macaé

(2014). Acredita-se que o pleno processo de desenvolvimento economico que ocorre na

cidade e as ocupações urbanas ao longo das décadas, foram juntos tratornando essa

divisão socioespacial mais visíveis, como Rolnik (1995), descreve no trecho abaixo:

5 Essa divisão socioespacial citada pode ser entendida a partir da observação do funcionamento da cidade,

entendendo-a por maior ou menor capacidade que os indivíduos ou famílias de diferentes rendimentos

têm de se apropriar das externalidades do espaço urbano. FARIA( 1999 apud Silva, 2004).

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Nas grandes cidades hoje, é facil identificar territórios diferenciados: ali é

bairro das mansões e palacetes, acolá o centro de negócios, adiante o bairro

boêmio onde rola a vida noturna, mais à frente o distrito industrial, ou ainda o

bairro proletário (1995, p. 40).

A partir do Mapa 3, desenvolvido por GODOY et al (2017), pode-se verificar essa

divisão social a partir da renda, analisando que o local onde foi implementada a Sede

Administrativa da Petrobras está, além de próximo do centro comercial e histórico,

próximo as zonas de maior renda populacional. Considerando também que a área

valorizada corresponde ao núcleo original a partir do qual se expandiu a malha urbana

da cidade. Em contrapartida, nota-se que a maior parte da ocupação urbana corresponde

à faixa de renda de até um salário mínimo. O que em parte se retrata em ocupações

informais e loteamentos irregulares e clandestinos.

Mapa 3. Mapa de Distribuição de renda urbana de Macaé/RJ.

Fonte: GODOY et al,2017, p.10.

Segundo GODOY et al (2017), o Rio Macaé exerce um papel de fronteira natural,

partindo a cidade social e economicamente onde a margem sul representa áreas de

maior concentração de renda e valor do solo, e, ao norte, áreas majoritariamente de

renda mais baixa. Como resultado a área mais valorizada recebe maiores investimentos

públicos e privados. Resaltando a segregação socioespacial que se materializa no espaço

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urbano em função do crescimento econômico oriundo das atividades industriais e

petroliferas.

2.2 Evolução urbana do município

A cidade de Macaé, segundo Parada (1958 apud SEMED, [s.d.]), surge como pequena

Aldeia em 1615, quando o Rei Espanhol manda ordens para que se aloque índios

Tamoios em frente ao Rio Macaé, a fim de proteger a costa contra os ataques de piratas.

Logo após, em 1630, os jesuítas se estabeleceram no local, criando currais para o

descanso do gado que vinha de Campos. Um século depois, eles criaram dois engenhos:

um próximo à Lagoa de Imboassica e outro junto à foz do rio Macaé (Sant’Anna). Em

Sant’Anna havia engenho, colégio e capela e a mão de obra utilizada era ainda escrava.

Em 1795, os jesuítas foram expulsos do local, e em consequência o território tomou um

novo impulso, as terras deixadas pelos religiosos, tornaram-se atrativas, devido à

localização. Neste contexto, surgiram novas fazendas e engenhos, com a população

imigrante de Cabo Frio e Campos (PARADA, 1958, apud SEMED, [s.d.]).

Devido à posição estratégica, que servia como passagem obrigatória entre o Rio de

Janeiro e Campos dos Goytacazes, seu território foi crescendo e estendendo-se ao longo

do rio e do mar. Segundo Paulo Knauss (2001 apud SEMED, [s.d.], p.5), “É relevante

reafirmar que em Macaé, a elevação à condição de vila precedeu a criação da freguesia

na cidade (litoral), num processo singular na formação de novas vilas naquela época”.

Todos esses marcos importantes para a cidade podem ser contados através da figura 4.

Figura 4. Linha do Tempo de Macaé/RJ.

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Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.

Outro marco importante para a cidade foi a Ferrovia de Macaé, anteriormente a área

fazia parte da Fazenda União, inaugurada nos anos de 1870, que trouxe, de forma

tímida, crescimento da cidade, apesar de utilizada somente para passagem ligando a

indústria açucareira de Campos dos Goytacazes ao Rio de Janeiro. Após a decadência

do açúcar na cidade de Campos dos Goytacazes, a ferrovia da cidade de Macaé torna-se

obsoleta. Desativada, o local torna-se um eixo verde estruturante da cidade, ainda que

sem uso. O espaço livre público é utilizado atualmente pelos moradores, principalmente

ciclistas. Até 1951, a área pertenceu na propriedade da companhia ferroviária inglesa

The Leopoldina Railway Company Limited S/A, que vinha explorando a madeira nativa

da região a fim de alimentar as caldeiras das locomotivas a vapor. Nesse ano, todos os

bens foram transferidos à União, que os repassou à Rede Ferroviária Federal S/A

(RFFSA).

A partir da instalação da Petrobras na década de 1970, o crescimento da cidade começa

a acelerar, surgem novas áreas, principalmente no entorno do centro comercial, onde a

empresa instalou o centro administrativo, devido à proximidade do porto. O que

expandiu o território principalmente para região sudoeste da cidade. Devido à

necessidade de demanda de mão de obra especializada, a população do município cresce

significativamente ao longo dos anos (SILVA, 2006; TERRA, RESSIGUIER, 2010).

Sua economia anteriormente agrária, associada à atividade de pecuária

leiteira, pesca artesanal e agroindústria açucareira, utilizava o porto da

Imbetiba para escoamento de produtos, processo iniciado no século XVIII

(PMM, 2012). Macaé passa por uma mudança com a chegada da Petrobras,

em 1970, instalando sua sede na cidade, onde o município e todo seu entorno,

passam a sofrer as consequências dessa nova fase de crescimento econômico,

como por exemplo Rio das Ostras e Campos dos Goytacazes, cujo ambiente

urbano transformou-se de forma significativa, em seus aspectos social e

político, e também na produção de riqueza local (LOUREIRO et al, 2005).

A partir deste momento a cidade começa a se modificar, aumentando a população

conforme apresentado na figura 5, e a demanda por infraestrutura também. Esse

aumento populacional veloz faz com que o planejamento urbano fique em segundo

plano, priorizando a prosperidade econômica.

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Figura 5. Gráfico de crescimento populacional de Macaé/RJ.

Fonte: Desenvolvido pelo autor, com base nos dados do IBGE, 2017.

A mudança na paisagem da área nordeste da cidade, como mostra no Mapa 4, passa a

ser significativa a partir da década de 1980, quando o valor imobiliário no centro da

cidade aumenta, fazendo com que as pessoas migrassem em busca de áreas mais baratas

ou ainda não exploradas, levando a ocupação de áreas ambientalmente sensíveis,

ocasionando degradação ambiental. Como destacado por Baruqui (2004):

Este acelerado processo de crescimento urbano modificou a paisagem

costeira de Macaé, com perda de áreas significativas de restingas que na

atualidade encontram-se descaracterizadas, em decorrência da especulação

imobiliária, que, além disto, criou vários vazios urbanos e elevou o preço da

terra. Em decorrência, terrenos menos valorizados como as áreas de

manguezais e os terrenos inundáveis estão sendo ocupados pela população de

baixa renda (p.22).

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Mapa 4. Mapa de Expansão Urbana de Macaé/RJ.

Fonte: GODOY et al,2017, p8.

As oportunidades de emprego e aumento da renda se tornaram atrativos. A Petrobrás e

outras empresas se instalam para dar suporte à exploração do petróleo, aumentando a

demanda por mão de obra especializada, por consequência, inicia-se um processo de

migração, pessoas especializadas que chegam com garantia de emprego, e aqueles que

buscam por especialização.

2.3 Espaços Livres de Caráter Ambiental

O meio ambiente é considerado um bem de interesse público e, sendo de propriedade

particular ou pública, este deve ser usufruído por toda a coletividade. As atividades ou

obras que potencial ou efetivamente causem danos ao sistema ambiental devem

submeter-se ao processo de licenciamento que, em princípio, é antecedido de estudos

prévios de impacto ambiental.

A análise do suporte geobiofísico do município contextualiza as potencialidades

ambientais e a disponibilidade dos espaços públicos de caráter ambiental, representando

Sede

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no Mapa 5 (página 31) as áreas de preservação ambiental, relevos, hidrografias, rios,

canais, lagoas, entre outros aspectos do sistema ambiental de espaços livres.

A hidrografia do município pode ser observada no mapa como numerosa e de grande

importância para a cidade e municípios turísticos, a exemplo o Rio Macaé que

compreende cerca de 1766 km² e abrange grande parte do município de Macaé e

parcelas dos municípios de Nova Friburgo, onde estão localizadas as nascentes, e de

Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Conceição de Macabu e Carapebus sendo que,

aproximadamente, 82% da superfície da bacia está no município de Macaé. Este, por

sua vez, é um importante recurso hídrico responsável por abastecer diversos municípios,

mas está se tornando um rio contaminado por efluentes. Na região central da cidade,

este rio se encontra com o mar, proporcionando aos moradores e visitantes uma das

mais belas vistas da natureza no local, esse encontro pode ser observado de diversos

pontos mais altos da cidade, como citado no hino da cidade criado por Parada (1989)

“Onde o mar beija a areia morena, onde o Rio se encontra com o mar ...”, como pode

ser observado na figura 6.

Figura 6. Vista da cidade de Macaé.

Fonte: Acervo pessoal (2017).

O município também possui uma região serrana com grande potencial turístico, com

altitudes que variam entre 300 e 500m, que confere a essa região um clima agradável

durante todo o ano, com temperaturas entre 18°C e 24ºC na maior parte do ano e calor

distribuído o ano inteiro. No 6º Distrito de Macaé, existe uma APA, observada no lago

oeste também no Mapa 5, criada pelo município em 2001, pela Lei Municipal 2172,

com um avançado processo de gestão, contando com um Conselho Gestor e de

legislação própria, que vem adequando-se à realidade do desenvolvimento sustentável a

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partir dos recursos naturais, da preservação e proteção à fauna, à flora e às belezas

naturais, como as elevações rochosas e cachoeiras, e ordenar o processo de ocupação. A

APA é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável dos Recursos Ambientais, e

engloba toda a extensão do distrito. Pode-se citar o Sana, Lumiar e São Pedro da Serra,

3 cidades serranas com grande visitação em todas as épocas do ano.

Na região central da cidade se observam poucas áreas ambientais em seu perímetro

urbano e as poucas áreas existentes, como as orlas, passam por um processo de

degradação por meio de ocupações irregulares. Essas ocupações irregulares possuem

consequências, como problemas de saneamento que, por se tratarem de áreas em

situação irregular e, geralmente situadas em locais de risco ou vulnerabilidade, a

prefeitura não disponibiliza coleta e tratamento de esgoto. A cidade de Macaé possui

uma grande campanha para regulamentação das áreas de ocupação de restinga e

manguezais, entretanto toda política prevista pelo Plano Diretor ainda não é vista na

prática. As ocupações só aumentam e a falta de infraestrutura, consequentemente, geram

problemas ambientais.

No Mapa 5, nota-se também a grande quantidade de rios, canais e valas dentro do

perímetro urbano, muitos desses como o Rio Macaé e alguns pequenos canais sem

denominação especifica já foram assoreados ou estão em processo de degrado.

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3 DIAGNÓSTICO DA ÁREA (Ferrovia Macaé - Escala Meso)

3.1 Recorte espacial da Meso escala

A escolha da área para o local de desenvolvimento do projeto final de graduação, o

Parque Linear do Ferroviário, se deu a partir da verificação do uso informal, para

circulação e/ou comércio pela população e o potencial de conexão da cidade, sendo a

linha férrea um eixo estruturante do tecido urbano, que conecta mais de 30 bairros em

todo seu percurso na cidade.

O recorte de intervenção está localizado na região sul da cidade de Macaé, iniciando

próximo ao limite com o município de Rio das Ostras (uma das cidades que possui

maior fluxo de pessoas que fazem o movimento pendular6 para a cidade, segundo o

IBGE,2010), até a área central da cidade. A região de estudo escolhida possui a maior

concentração de equipamentos públicos, maior renda e engloba o centro histórico e

comercial da cidade.

A Meso escala (região determinada para intervenção) foi separada em duas áreas de

estudo, sendo a primeira a Área de Interesse geral, esta dividida a partir do mapa de

bairros disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Macaé, demonstrada no Mapa 8.

São cerca de 8km de intervenção, englobando 16 bairros de interesse e, a partir desses,

serão analisados, principalmente, equipamentos e aspectos ambientais que possuem

raios de abrangências, que segundo Castello (2013), é um raio de influência máximo

para cada equipamento comunitário.

O segundo recorte foi a partir de Áreas de influência imediata, sendo essas quadras

mais próximas e com ligação direta a Ferrovia, ponto principal de análise. Esses

polígonos foram gerados a partir dos setores censitários do IBGE (2010), para assim

facilitar os levantamentos e mapeamentos, bem como análises que necessitem de maior

precisão. Essa área pode ser observada também no Mapa 6, delimitada através da linha

retilínea tracejada.

6 A migração pendular, também chamada de migração diária, é caracterizada pelo deslocamento diário de

pessoas para estudar ou trabalhar em outra cidade, estado ou país. Após realizar a atividade profissional

ou cumprir a carga horária de estudo, essas pessoas retornam para as cidades onde residem. Para isso,

utilizam, em grande medida, os transportes públicos e individuais.

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3.2 Modificações da paisagem

A partir da observação e escolha dos locais de influência que o Parque Linear

Ferroviário irá compor, foram utilizados métodos descritos por Gordon Cullen no livro

“Paisagens Urbanas” (1971), no qual o autor diz que, existe participação emocional das

pessoas no percurso, sendo este de percepção do caminho. O primeiro ponto utilizado

seria decompor o ambiente onde será realizada a intervenção através da divisão do

ambiente nas suas partes constituintes, identificando as modificações da paisagem ao

longo dos 8 km da ferrovia, utilizando o método de análise através do visão serial do

autor, descrevendo o processo de transformação um extremo ao outro a passo uniforme,

revelando uma sucessão de pontos de vista através, neste caso, de imagens da paisagem

conforme a visão do caminhante que vai sendo pontuada por uma série de contraste

súbitos de grandes impactos visuais e que dão vida ao percurso.

O primeiro ponto de vista é a rua; a seguir, ao entrar no pátio, surge um novo

ponto de vista que se mantém durante a travessia na segunda rua, porém,

depara-se com uma imagem completamente diferente; e, finalmente, a seguir

à curva, surge bruscamente o monumento. Por outras palavras, embora o

transeunte possa atravessar a cidade a passo uniforme, a paisagem Urbana

surge na maioria das vezes como uma sucessão de surpresas ou revelações

súbitas. É o que se entende por visão serial (CULLEN, 1971, p.11).

No Mapa 7, pode-se observar as representações dessas modificações na paisagem,

buscando com esse mapa de imagens verificar a variedade do público que o parque

pretende conectar. Buscando reavivar a identificação com o local, ressignificando as

áreas que fazem parte da história da cidade e fazendo com que as pessoas valorizem o

local em que moram e verifiquem as potencialidades dos espaços livres públicos

urbanos.

Sobretudo busca-se entender como as pessoas se relacionam com a Ferrovia, como a

mesma pode conectar a cidade, os elementos, barreiras, espaços mais amplos e até

variação econômica ao longo do eixo central, como pode ser observado entre as fotos 3

e 6. Nota-se também alguns elementos barreiras como a grade na foto 1, e na foto 3 uma

barreira de concreto para privar o acesso a uma via criada pelos próprios moradores,

sendo a entrada para uma pequena comunidade. Na foto 4 se observa o amplo espaço

com vegetação localizado em frente ao Parque da Cidade, este por sua vez será também

conectado ao parque linear. E, por fim, como representado na foto 5, um dos

cruzamentos principais que irão cortar o parque, ponto de grande importância que deve

ser pensado no projeto.

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3.3 Contexto socioeconômico da mesoescala

Um dos resultados do rápido crescimento e urbanização das cidades brasileiras é o

acesso desigual ao solo urbano, ou seja, a diferença social e econômica especializada no

território da cidade. Por vezes essa segregação pode ocorrer dentro de um mesmo

bairro, através de barreiras sociais. “Essa dinâmica impacta negativamente no cotidiano

destas populações, haja vista a dificuldade no uso de equipamentos públicos, transporte

e infraestrutura urbana”, GODOY et al (2017), podendo ser observado ao longo destas

análises.

Macaé, atualmente, é o segundo município mais populoso do estado, com a chegada das

multinacionais e o crescimento populacional de 316,49% em 40 anos (IBGE, 2010),

como já foi citado, o que pode ser observado em uma escala local no Mapa 8, onde está

demarcado a área de influência imediata, podendo verificar a partir dos esquemas

laterais a demarcação a variação da quantidade de domicílios, e da população e renda ao

longo dos 8km escolhidos para intervenção.

Ao se tratar da formação da cidade tal qual se apresenta nos dias atuais, observa-se a

partir do mapa, que os bairros Praia Campista, Costa do Sol e Cajueiros, onde está

localizada a comunidade da linha, possui grande quantidade de domicílios e de

população.

Observando que no esquema de densidade populacional, as áreas que possuem maior

quantidade de pessoas ou são verticalizadas, como na área próxima à Lagoa de

Imboassica, ou são bairros mais antigos e com lotes menores. No caso do esquema de

domicílios pode ser observado a mesma situação, áreas com maior quantidade possuem

terrenos mais valorizados e por isso são menores, obtendo assim maior lucro com a

especulação imobiliária.

Os bairros com maior renda, são localizados mais a sul, considerada parte “nobre” da

cidade, com maior infraestrutura urbana, maior segurança e maior planejamento, esses

bairros foram loteados após a chegada da Petrobrás e cresceram de forma rápida e

valorizada. Os 8km que serão beneficiados e conectados pelo Parque Lugares de

memória abrange todos os tipos de renda e atende a todo tipo de população. Essa

conexão da cidade vai além da criação de um parque, ela busca quebrar uma divisão

socioeconômica hoje existente.

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3.4 Diagnóstico urbano da área

3.4.1 Sistema viário

O sistema viário é estruturado predominantemente por um traçado ortogonal. No Mapa

de hierarquia viária (Mapa 9, página 40) pode-se observar e analisar a tipologia das

principais vias ao longo dos 8km de projeto, que variam entre:

Transito rápido ou expressa – caracterizada por acessos especiais, com transito livre,

sem interseções em nível, alta velocidade, somente para veículos motorizados, sem

acessibilidade e sem travessia em nível de pedestre;

Vias arteriais – caracterizada por interseções em nível, geralmente controlada por

semáforos, com acessibilidade aos lotes, vias secundarias e locais, possibilitando o

transito rápido entre bairros da cidade, interligando áreas distantes, com larguras

consideráveis, que no caso de Macaé são vias duplas;

Vias coletoras – responsáveis por coletar e distribuir o transito que tenha necessidade

de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro

das regiões da cidade; e, por fim, as

Vias locais – caracterizadas por interseções em nível não semaforizadas, destinadas

apenas ao acesso local ou a áreas restritas, geralmente possuem utilização mista

(veículos e pedestres).

A cidade de Macaé possui originalmente 2 vias principais, sendo elas paralelas ao mar,

uma começa na Rodovia Amaral Peixoto, finalizando na Av. Rui Barbosa, onde

também está localizado o “calçadão comercial”, com lojas e comércios, o centro da

cidade. Já a segunda começa como Rodovia Amaral Peixoto e finaliza como Av. Fabio

Franco, está é paralela a ferrovia e todas duas características de vias arteriais,

estruturando a cidade e conectando.

Em dezembro de 2008, pela Lei Complementar n° 111/2008, a Secretaria Municipal de

Mobilidade Urbana foi criada pela nova estrutura administrativa do Poder Executivo de

Macaé. Sendo de responsabilidade da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana a

formulação, execução e gestão de políticas públicas municipais relacionadas ao trânsito

e transporte de Macaé. Sendo o Mapa 9 feito com base nos dados gerados pela mesma

secretaria.

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No Mapa 9, também pode ser verificado, a partir de imagens do Google Streetview, os

principais pontos nodais7, onde se observa os principais desafios viários a serem

enfrentados na implementação do parque linear.

A qualidade da pavimentação da via e das caçadas se encontram boas somente nas vias

principais, como a Av. Amaral Peixoto e Av. Carlos Augusto T. Garcia, ainda que em

melhores condições as calçadas não são padronizadas, e devido ao local ter alto índice

de alagamentos, os proprietários aumentam as alturas para proteger as residências.

A vegetação urbana da cidade, em partes, possui maior quantidade nas vias principais,

sendo pouco observadas em outras, ainda que a vegetação seja, em sua grande parte,

baixa e somente para paisagismo, ainda que se verifique uma preocupação com o

plantio. Ao longo da via principal paralela à ferrovia existem também equipamentos

urbanos como pontos de ônibus, todos variando o design, de acordo com a política.

A seguir podem ser observados perfis de alguns pontos marcados no Mapa 9:

Figura 7. Tipos de vias Macaé/RJ.

Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.

7 Nodes – Segundo Kevin Lynch (1980), são pontos estratégicos da cidade onde o observador pode entrar,

e que são importantes focos para onde se vai e de onde se vem. Variam em função da escala em que se

está analisando a imagem da cidade.

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3.4.2 Uso e ocupação do solo

O levantamento do uso e ocupação do solo foi necessário para a compreensão dos

padrões de organização do espaço. As medidas para o planejamento e funções do uso ao

longo do parque, até recentemente, foram baseadas em informações fragmentadas sobre

os efeitos da ocupação do solo no meio ambiente.

A cidade de Macaé possui suas áreas bem definidas e sua Lei de uso e ocupação (Lei

nº 042/2004), atua em sintonia com as políticas de zoneamento, visando, em especial, à

implantação de corredores ecológicos urbanos. Foram estabelecidas também para

proteger dos recursos naturais em áreas de mananciais e bacias hidrográficas, e APP’s

(Áreas de Preservação Permanentes), principalmente localizadas nas áreas urbanas.

No Mapa de uso e ocupação do solo (Mapa 10), destacam-se as áreas residenciais, em

amarelo, sendo adotada uma classificação baseada na densidade e predominância por

quadra; as áreas em salmão são de uso comercial e serviços sendo essas áreas utilizadas

como suporte a uma série de atividades, além de serem responsáveis por uma grande

porcentagem da oferta de empregos. Na cidade de Macaé existem dois centros

comerciais maiores e que atendem um maior número de pessoas, o centro da cidade

“Calçadão” e a orla dos Cavaleiros, sendo o calçadão mais voltado para comercio e os

cavaleiros mais voltado para serviços. As áreas em laranja são voltadas para uso misto,

envolvendo, simultaneamente, o uso residencial e o uso não residencial, sendo o uso

vantajoso especialmente para convivência, proporcionando a maximização e

racionalidade da utilização dos serviços urbanos, essas áreas geralmente acontecem em

um determinado local do bairro, uma quadra por exemplo.

Essas características foram analisadas na área de influência imediata, para auxiliar nos

usos e as funções ao longo do parque.

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3.4.3 Figura fundo

O Mapa de figura-fundo é instrumento analítico bastante conhecido no urbanismo, no

qual, sobre a planta baixa de uma cidade ou bairro, os elementos construídos são

escurecidos, enquanto são mantidos sem preenchimento os vazios, sendo estes: figura

(espaços edificados) e fundo (espaços livres). Esse recurso representa a estrutura

bidimensional dos cheios e dos vazios em duas dimensões, e é largamente utilizado por

profissionais, tanto para avaliações críticas, quanto na elaboração de projetos. Essa

estrutura pode representar segundo o diagrama ilustrativo da Gestalt, o dinamismo ou

não entre as áreas da cidade, sendo as áreas em branco verificam-se maior número de

espaços livres demonstrando, já as áreas em preto se observa a densidade dos locais

construídos.

A partir desta observação, o Mapa 11 nos auxilia sobre a densidade e vazios urbanos8

na cidade. Que segundo Borde (2012 apud Beltrame,2013), ao analisar esses vazios de

uso urbano decorrentes de estruturas obsoletas, indica que esses espaços constituem

lócus de identidade, liberdade e de memória para os habitantes da cidade frente à trama

eficiente e produtiva da cidade. Essa ideia é compartilhada por Lynch (1980), que

afirma serem esses espaços locais de potencialidade onde “coisas novas começam”.

Na cidade de Macaé, como se observa no Mapa 5, a área mais antiga da cidade, a área

central, é mais densa que as áreas mais a sudoeste, isso porque o crescimento da

população nesses bairros foi mais intenso, além dos lotes serem menores. Nas regiões

próximas ao mar também se observar áreas mais densas, com maior número de

construções e menos espaço vazios.

Algumas das áreas em branco, com entorno urbanizado, se caracterizam por áreas de

lazer, entretanto muitas delas não se conectam entre si, pode ser observado também no

mapa que a faixa da ferrovia é um eixo estruturante, que faz parte desses vazios,

passando por boa parte destes, com potencial de conectar os espaços de lazer na região

sul da cidade de Macaé.

8 Segundo Magalhães (2005 apud CLEMENTE, 2011), o conceito de vazio urbano é bastante amplo,

envolvendo termos como terrenos vagos, terras especulativas, terras devolutas, terrenos subaproveitados,

relacionando-se com a propriedade urbana, regular ou irregular, ao tamanho e à localização.

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3.4.4 Aspectos ambientais

O levantamento dos aspectos ambientas (Mapa 12) é um mapa que orienta as ações das

organizações em relação a gestão dos impactos ambientais, fazendo com que as

atividades interajam com o meio ambiente.

O mapa destaca a Restinga da praia do pecado, área com aproximadamente 170 mil

metros quadrados, uma unidade de preservação ambiental na cidade e se confronta com

a areia da praia do Pecado, de um lado, e com a Rodovia Amaral Peixoto, além do

bairro Cavaleiros. A restinga, segundo dados da Prefeitura Municipal de Macaé, é

formada por um tipo de vegetação característica das áreas litorâneas, adaptada a

condições climáticas e especiais como vento, escassez de água, solos bastante

permeáveis e alta salinidade, essa formação vegetal faz parte do Bioma Mata Atlântica,

a área também tem importância estrategicamente geográfica na manutenção do

equilíbrio de inúmeras espécies presentes no litoral de Macaé.

O Mapa 12 também apresenta o relevo da área escolhida que, próximo a ferrovia,

possui uma variação de 1 a 20 metros, em algumas áreas, dificultando o acesso da

população de alguns bairros específicos. Pretende-se aproveitar tirar partido desse

relevo durante o projeto para que ele deixe de ser uma barreira visual e física, sem

degradar as características ambientais. O mapa evidencia também as áreas alagáveis,

determinada a partir do Plano Diretor Municipal (2001) e as áreas inundáveis

classificadas a partir de percepções de casos ocorridos, como mostrado nas fotos. Essas

áreas possuem vulnerabilidade ambiental e devem ser pensadas para que o projeto

proponha permeabilidade e funções especificas.

Os espaços livres públicos de lazer e convívio marcados nesse mapa, são praças e

parques, destacados na cor verde, podendo assim analisar que os bairros mais ao centro

possuem maior quantidade de praças, embora exista lazer ativo paralelo a toda a

ferrovia através da Orla, as praças com equipamentos de lazer principalmente infantil se

concentram ao norte. Para entender melhor a abrangência desses equipamentos públicos

foi utilizada a metodologia de verificação a partir dos raios de abrangência citados por

Castello (2013), isto é, um raio de influência máximo para cada equipamento

comunitário.

Castello destaca que praças, playgrounds e áreas verdes devem estar a pé, a

aproximadamente 10 minutos de deslocamento, esses devem possuir um raio de

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abrangência de 400m, podendo assim atender as necessidades da população de forma

mais eficaz. Já para áreas de maior abrangência como parques, esse raio se amplia para

800m, atendendo assim maior número de pessoas.

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3.4.5 Equipamentos da área de interesse

A análise do mapa de equipamentos da área de interesse (Mapa 13), auxilia na

verificação de áreas que possuem maior concentração de escolas e hospitais, podendo, a

partir disso, verificar também áreas deficientes de equipamentos. Assim como a análise

dos espaços livres públicos de recreação e lazer, os equipamentos institucionais foram

analisados de acordo com o raio de abrangência determinado por Castello (2013),

destacando as distancias máximas para melhor distribuição espacial dos equipamentos

públicos.

Castello (2013), destaca para creches, pré-escolas, maternal e escolas de 1º grau, um

raio de abrangência de 400 metros, como de praças, estes equipamentos devem ficar ao

máximo de 10 minutos a pé para atender melhor a população. Já para escolas de 2º grau,

parques, postos de saúde e ambulatórios devem possuir o raio de abrangência de 800m,

estes são de frequência media e podem ter o deslocamento a pé de até 30 minutos.

Equipamentos como Faculdades, escolas técnicas, bibliotecas, museus e hospitais gerais

e especializados possuem raio de abrangência de 1600 metros, pois são relações menos

frequentes, menos numerosas, ou excepcionais, o deslocamento pode ser feito por

transporte individual ou coletivo.

O Mapa 13 destaca áreas com o maior número de equipamentos na área central da

cidade, evidenciando uma grande quantidade de instituições de pré-escolas, maternais e

1º grau, que exigem um deslocamento menor.

Já o Mapa 14, também de equipamentos, ressalta áreas de interesse histórico culturais,

podendo observar a necessidade de proteção da cultura local, de preservação e fomento

à identidade local, após passar por tantas modificações econômicas e com inserção de

novos modos de viver e tradições culturais. A partir de observação empírica nota-se que

o município sofreu com a descaracterização de seu espaço urbano e de sua dinâmica

cultural.

Ao analisar o patrimônio cultural, entendemos os elementos culturais simbólicos que

caracterizam uma determinada sociedade, tornando-a especifica e individual. Os bens

patrimoniais, representados muitas vezes pela arquitetura e pelo campo artístico dos

monumentos, obras de arte, como estão destacados com imagens no mapa, contam um

pouco da história da cidade e seu desenvolvimento. Assim, destacando o que é relativo

a identidade, a história e à memória de um povo.

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3.4.6 Legislação Urbana

O Mapa 15, destaca os condicionantes da Legislação municipal nas áreas de influência

imediata da ferrovia, evidenciando a diferenciação, a partir do mapa de uso e ocupação

do solo delimitado pelo Plano diretor Municipal. Onde a Lei complementar Nº

141/2010, do Código de Urbanismo da cidade, destaca no Art. 14, quanto às faixas de

domínio, faixas marginais de proteção e faixas não edificáveis, no caso da ferrovia é de

15,00 m (quinze metros) ao longo de cada lado das ferrovias, a partir do término da sua

respectiva faixa de domínio, a se estende para áreas urbanas. Em relação às ciclovias, o

Art. 159 afirma que elas podem ser implantadas nas faixas de domínio das vias,

lateralmente, no canteiro central, ou em outros locais como em faixas de domínio da

ferrovia, de lagoas, de cursos d´água, em parques e outros espaços naturais, de forma

totalmente independente da malha viária urbana, devendo nesses casos, ter controle de

acesso em todos os cruzamentos com outras estruturas viárias.

Outro condicionante que a legislação destaca é o Art. 102, que afirma que o patrimônio

é constituído de bens arquitetônicos e sítios notáveis pelos valores históricos,

arquitetônicos, culturais e paisagísticos, nos termos da Lei nº 2.445/2003 e do Decreto

nº 160/2004, que lista a Estação Ferroviária como um dos bens que integram o Setor

Especial de Preservação Histórico-Cultural. A tabela abaixo (figura 7) apresenta os

condicionantes das áreas de influência imediata ao longo da ferrovia.

Figura 7. Tabela de diretrizes da Legislação.

Zonas Residenciais (ZR) _Área mínima igual a 200,00 m2 (duzentos metros quadrados) e testada mínima igual a 8,00 m

(oito metros) para: ZR-3 e ZR-7;

_Área mínima igual a 360,00 m2 (trezentos e sessenta metros quadrados) e testada mínima igual a

12,00 m (doze metros) para: ZR-2 e ZR-4;

Zonas de Uso Diversificado (ZUD); _Área mínima igual a 360,00 m2 (trezentos e sessenta metros quadrados) e testada mínima igual a

12,00 m (doze metros) para: ZUD-1, ZUD-2, ZUD-7 e ZUD-8;

_Área mínima igual a 450,00 m2 (quatrocentos e cinquenta metros quadrados) e testada mínima

igual a 15,00 m (quinze metros) para: ZUD-3 e ZUD-9;

Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA) _ZEIA-1 Faixa Marginal da Lagoa de Imboassica

_ZEIA-2 Vegetação de restinga da Praia do Pecado.

*A definição dos parâmetros urbanísticos está condicionada à análise prévia do projeto pelo órgão

municipal de meio ambiente, considerando as limitações ambientais impostas por legislação

específica.

Setores Especiais de Requalificação Urbano-Ambiental (SRU) _Área destinada à recuperação do ambiente natural ou construído, que esteja em processo de

degradação;

Fonte: Desenvolvido pela autora a partir da legislação Municipal de Macaé, 2010.

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3.4.7 Análise CPP

Para a sistematização dos dados levantados e para auxiliar o processo de compreensão

da área de estudo, e assim fornecer subsídios para formulação das diretrizes que

orientarão as ações de projeto, foi realizado o Mapa 16, Análise CPP. Entende-se por

CPP: condicionantes – são as características existentes e que devem ser mantidas;

problemáticas – são as características negativas dos aspectos condicionantes que

podem dificultar o desenvolvimento das ações; e potencialidades – são todas as

vantagens identificadas que não estão sendo aproveitadas devidamente.

Essas características são numeradas e identificadas no mapa, sendo que os triângulos

representam deficiências e círculos são potencialidades, conforme a tabela descrita a

seguir abaixo.

Figura 9. Tabela de analise CPP.

Fonte: Desenvolvido pela autora, 201

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4. Materplan Parque Lugares de Memória (Escala Meso)

4.1 Referenciais de projeto

4.1.1 Parque Botânico de Medellín Joaquín Antonio Uribe

Segundo o site ArchDaily (2013), um dos referenciais de projeto utilizados é o Jardim

Botânico de Medellín Joaquín Antonio Uribe. O local possui cerca de 13,2 hectares e

está localizado na cidade colombiana de Medellín. Tem um recinto para eventos

chamados Orquideorama, um local arquitetônico para a exposição de flores. O Jardim

tem a condição de ser um centro de cultura e educação ambiental e botânica.

O nome do Jardim Botânico Joaquim Antonio Uribe é do ano de 1972, quando suas

instalações foram ampliadas para dotá-lo com o orquideorama inicial, uma coleção

muito maior de espécies vegetais, auditório, biblioteca, museus e zona de refeições mais

amplas para os visitantes.Com o objetivo de ressignificar uma área o parque também

serve como centro de pesquisa, o Jardim, o Orquideorama e suas variadas coleções de

espécies, possuem todo um grupo de cientistas , técnicos , patrocinadores e amigos da

natureza9, ecologistas, botânicos e biológicos e, além disso, o turismo , atividade em

que a cidade está envolvida.

Figura 10. Masterplan do Parque Botânico de Medellín .

Fonte: ArchDaily,2013.

9 Grupo de colaboradores voluntários que ajudaram a construir o parque.

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4.1.2 Parque Emerald Necklace

Segundo Bonzi (2014), o Parque foi desenvolvido por Olmsted entre 1878 e 1895 com a

colaboração do arquiteto Charles Eliot, o Emerald Necklace é parte importantíssima do

tecido urbano de Boston. Com oito milhões de metros quadrados, a proposta inicial era

criar uma faixa vegetada atravessando todos os bairros periféricos de Boston para

orientar o crescimento da cidade. Executado apenas em parte, o famoso Emerald

Necklace é um dos projetos de paisagem mais importantes da história. O “colar de

esmeraldas” tem 10 km de extensão e é formado por parques interligados por

parkways2 e cursos d’água, em traçado que envolve boa parte dos setores norte e oeste

da cidade de Boston. O Emerald Necklace também se conecta a parques existentes antes

de sua criação: o histórico Boston Common, o parque mais antigo dos Estados Unidos,

e o Arnold Arboretum. A seguir, explica-se cada um deles.

O jardineiro-paisagista Robert Morris Copeland sugeriu que

parques fossem ligados por bulevares ou por caminhos

densamente vegetados com 30 metros de largura e apontava a

região do Back Bay como passível de transformação.

(BONZI,2014. P. 111).

O projeto foi implementado como uma solução para unificar dois desejos municipais:

ligar o Back Bay Fens10 a uma área verde e controlar as cheias do Rio Muddy, dentre

outras áreas e parque que seriam interligados a esse “Colar de esmeraldas”. Abaixo na

figura 10, pode-se observar o Rio Muddy, onde se propôs o tratamento das águas.

Figura 11. Rio Muddy River.

Fonte: Bonzi,2014.

10 O Back Bay Fens , muitas vezes chamado The Fens , é um parque e urbano selvagem em Boston ,

Massachusetts, nos Estados Unidos, criado em 1879.

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Das diversas áreas que o Emerald Necklace propôs como mostrado na figura 11, pode-

se resumir a experiência de quem vivencia como: “partindo do coração da cidade, era

possível alcançar o cenário agreste colocado em suas margens, permanecendo sempre

no interior de uma faixa verde contínua” (2013, p. 514). O projeto é sempre citado para

validar a ideia de que a paisagem pode oferecer respostas aos problemas ambientais e

sociais que acompanham a industrialização e o crescimento das cidades.

Figura 12. Parque Emerald Necklace,

Fonte: Bonzi,2014.

O Emerald Necklace é fruto de um trabalho coletivo, e certamente são importantes e

válidas para os tempos atuais. Como se pode observar brevemente a escala dessa

intervenção só pode ser apreendida como relação entre o planejamento urbano regional

e o projeto de paisagem. Ao articular soluções de saneamento, drenagem, sistema

viário, recreação, áreas verdes e conservação ambiental, o “colar de esmeraldas”

sinaliza para a pertinência de uma abordagem de intervenção na paisagem que seja

multifuncional e que tome as necessidades infraestruturais da cidade como meio real de

projeto.

4.1.3 High Line

O High Line Park teve sua origem na transformação de uma linha férrea suspensa

desativada e outrora reservada ao transporte de cargas destinado a servir o distrito

industrial de Chelsea em Manhattan, Nova York. O projeto surge através de dois

moradores próximos ao local, Joshua David e Robert Hammond, eles fundaram o grupo

“Amigos do High Line” com o objetivo de preservar a área e transformá-la em um

espaço público aberto. Em 2009, após dez anos de planejamento, desde estrutural ao

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projeto de plantio, a primeira seção do parque foi aberta ao público. Posteriormente, em

2011, foi aberta a seção e a Terceira Seção Northernmost em 2014. O parque High Line

hoje possui extensão total de aproximadamente 2,3km.

Um dos maiores sucessos do projeto é a diversidade de usos do local, segundo a revista

Vitruvius (2015), pode-se observar pessoas andando de bicicleta, patins, correndo,

caminhando e outras pessoas apenas aproveitando um dia quente de verão lendo um

livro ou mesmo contemplando a paisagem, o que justifica um projeto como local onde

as pessoas não apenas viverem na cidade, mas sim poder vivenciá-la. Abaixo a figura

12, mostra a distribuições das atividades ao longo do local.

Figura 13. Masterplan da High Line.

Fonte: Vitruvius,2015.

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Dos muitos detalhes que chamam atenção, o mobiliário personalizado e inserido ao

entorno são destaques. O acesso ao parque elevado pode ser realizado por meio de nove

pontos, distribuídos pelas suas duas seções da forma mais uniforme permitida pelas

condições existentes. Desses nove pontos, quatro possuem elevadores, e um deles

possui banheiros. Os elevadores asseguram o acesso de cadeirantes e pessoas com

mobilidade por que esse espaço. Bancos, decks e pequenas arquibancadas foram

projetados e implantados ao longo de toda a extensão do parque.

O projeto da High Line teve grande impacto na forma de ressignificar os locais, o

projeto abriu portas não só para conhecimento da sociedade como investimentos

econômicos sobre o uso destinado a população. O intuito deste projeto a ser apresentado

a seguir é a valorização urbana e social da área antes subutilizada, e com grandes

potencialidades, como o caso da High Line, antes abandonada e hoje representativo

mundialmente.

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4.2 Diretrizes do Projeto

4.2.1 Conceito e Partido

Um dos papeis mais importantes da ferrovia é seu valor simbólico para a população, a

ferrovia tem valor histórico e cultural, a mesma tornou-se um lugar de memória onde

conta, por si só, parte da história do crescimento e desenvolvimento da cidade de

Macaé. O conceito que pretende-se desenvolver ao longo do parque é a caracterização

dos 8km como lugares de memória. Esse termo é referenciado por um historiador

francês contemporâneo, Pierre Nora, em seu livro “Entre história e memória: a

problemática dos lugares”, de 1993. Para Nora, são lugares em todos os sentidos do

termo, vão do objeto material e concreto, ao mais abstrato, simbólico e funcional,

simultaneamente e em graus diversos, esses aspectos devem coexistir sempre. É

material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese, pois garante, ao mesmo

tempo a cristalização da lembrança e sua transmissão; mas simbólica por definição visto

que caracteriza por um acontecimento ou uma experiência vivida por pequeno número

de pessoas, uma maioria que deles não participou.

Os lugares de memória seriam o que resta e que se perpetua de um outro tempo, e que

transmitem ritos para uma sociedade desritualizada, sociedade que necessita desses

lugares de memória por não mais terem meios de memória, devido ao crescimento e a

descaracterização da cultura local, esses locais se tornam importante, considerando

ainda que o patrimônio não é objeto estático, distante, a ser apreciado. A participação da

comunidade é determinante para que políticas públicas sejam realmente efetivas e

duradouras.

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não existe

memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter os

aniversários, organizar as celebrações, pronunciar as honras fúnebres,

estabelecer contratos, porque estas operações não são naturais (...). Se

vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam

inúteis. E se em compensação, a história não se apoderasse deles para

deformá-los, transformá-los, sová-los e petrificá-los eles não se tornariam

lugares de memória. É este vai-e-vem que

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os constitui: momentos de história arrancados do movimento de história, mas

que lhe são devolvidos (...)" (NORA 1993, p. 13).

Segundo Nora (1993), o lugar de memória existe onde transcende o sentido simbólico

da história. Esses lugares seriam os espaços onde a memória se fixou e servem como

uma nova forma de apreender a memória que não nos é natural, pois não vivemos mais

o que eles representam e que são apropriados pela história como fonte. São, portanto,

locais materiais e imateriais onde se cristalizaram a memória de uma sociedade, de uma

nação, locais onde grupos ou povos se identificam ou se reconhecem, possibilitando

existir um sentimento de formação da identidade e de pertencimento.

O partido do projeto considera a história da cidade de Macaé como pontos dos lugares

de memórias, para isso será utilizada a árvore, da Macabaíba ou Macaíba, e das várias

hipóteses sobre o nome da cidade (Macaé), a mais aceita é que o termo provém do tupi,

que chamava de maca ê, a macaba doce, que é a macaíba abundante na região, será

prevista a utilização da mesma em pontos paisagísticos estratégicos afim de valorizar a

cultura. Além da árvore, pretende-se destacar as ondas do mar, através dos caminhos

orgânicos, pois a cidade que possui sua vida urbana 90% costeira, tem sua arquitetura e

urbanismo sempre marcados pelas ondas.

Por fim, o partido pretende se caracterizar também através dos pontos de memória, que

permitiram ao morador e visitante que estejam esperando nos pontos de ônibus

conhecer um pouco da história macaense. Para que assim, os 8km de parque linear

possam contar a história da cidade.

4.2.2 Diretrizes Globais

É de grande importância para reduzir os impactos negativos e pode planejar de forma

correta os espaços, o estudo da área, além de traçar diretrizes, que nesse trabalho serão

chamadas de Diretrizes Globais onde podemos observar o intuito do projeto, de forma

mais pratica seus objetivos e metas a serem alcançados com essa intervenção urbana.

Todas as etapas serão abordadas neste trabalho enfatizam as fases de concepção e

planejamento, que são as principais para estabelecer as atividades na elaboração do

projeto. Na totalidade o projeto do Masterplan apresentado busca de forma ampla inserir

atividades artísticas, e de lazer nos espaços públicos. Além de pensar na mobilidade de

forma sistemática e conectar os meios de transporte para que possam trabalhar em

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conjunto. No âmbito da Infraestrutura pretende-se com as diretrizes globais salientar

pontos como, acessibilidade, tornar áreas de lazer sustentáveis, além de incentivar áreas

de preservação aos componentes ecológicos. Já na área de uso e ocupação pretende-se

eliminar usos conflituosos, pensando nos melhores usos a partir dos mapas

desenvolvidos anteriormente. Abaixo segue o esquema com as diretrizes globais (figura

13) de projeto utilizas para desenvolver o Masterplan.

Figura 14. Diretrizes Globais.

Fonte: Desenvolvido pela autora,2017.

4.3 Mapa de Atividades

O Mapa 17, vai determinar a partir dos mapas anteriores, junto com as diretrizes

globais as atividades a serem desenvolvidas em cada pedaço do Parque proposto. O

mapa foi desenvolvido também a partir de observações feitas ao longo dos pontos da

ferrovia, caminhos que as pessoas já fazem anteriormente foram mantidos, assim como

os usos para comércios. Algumas atividades como o bosque, preserva o ambiente

natural do local, implementando a infraestrutura necessária para uso, outras atividades

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como parque infantil e academias que já são mais conhecidas pela população foram

locadas em áreas

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que a partir dos mapas tinham deficiência em áreas de lazer infantil e atividades

esportivas. Já áreas como os jardins efêmeros11, é um conceito novo porem já

apropriados pela população, o comercio informal, e/ou de pequeno porte tem lugar ao

longo do parque linear proposto, assim como as áreas destinadas a uso e apropriações

artísticas.

11 Efêmero é um termo de origem grega (em que "ephémeros" significa "apenas por um dia")

usado para designar uma situação que durem pouco tempo, nesse caso utilizado como jardim efêmero

para designar áreas destinadas a atividades não permanentes.

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4.4 Masterplan Parque Lugares de memória

O Masterplan, de forma geral, foi criado com a função de realizar o planejamento

urbano de uma cidade ou parte dela, como um loteamento, mas mais mutável e flexível,

definindo uma proposta do projeto global, em todos os aspectos significativos,

implantação, programa, arquitetura, urbanização e paisagem, que permita a

compreensão do produto final. Ao elaborar um Masterplan deve-se levar em

consideração as possíveis transformações e adaptações que o usuário pode querer fazer

com aquele espaço. Muito utilizado pelo escritório dinamarquês Bjarke Ingels Group

como destacado no site Master Geoengenharia (2016):

O masterplan possibilita traçar diretrizes de ocupação futura da área. Para

chegar ao resultado, é feito inicialmente um diagnóstico do terreno, com

estudo das legislações pertinentes, cruzamento com planos governamentais e

avaliação do potencial da região.

O Masterplan do Parque Lugares de Memória foi resultado de todas as análises

desenvolvidas ao longo do trabalho, as funções foram pospostas como soluções de

problemáticas apresentadas, assim como pretendeu-se destacar as potencialidades

locais. No mapa a seguir, pode-se observar os aproximados 8km de parque linear,

gerando suas conexões com espaços livres de lazer já existentes, buscando interligar

essas áreas através de bulevares.

As funções foram se distribuindo ao longo do mesmo de forma natural, foi mantida

sempre a ferrovia existente para que não perdesse seu importante papel histórico, e ao

lado da mesma, foi locada a ciclovia, que busca conectar mais de 16 bairros. Os

caminhos, como já dito, anteriormente foram pensados de forma orgânica, lembrando as

ondas do mar, assim como o material pensado para ser utilizado foi a madeira, fazendo

com que os trilhos se liguem aos caminhos.

Marcados também de forma instigante, os jardins efêmeros dão vida e por

consequências a maior sensação de segurança a locais em desuso da cidade. Outra

proposta foram os pontos de aluguel de bicicleta, tornando mais dinâmico o

deslocamento ao longo de todo o parque, estes pontos foram locados, próximos aos

pontos de ônibus (todos já existentes e atendendo bem a população local).

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O Mapa também apresenta esquemas de como chegou-se ao resultado esperado, os

critérios projetuais, além de mostrar também, através das imagens, o objetivo que

pretende-se alcançar com as principais atividades ao longo do parque.

No canto esquerdo do Mapa encontra-se o recorte da área de intervenção social entorno

da Estação ferroviária, em uma escala mais aproximada (1/2000), podendo verificar

com mais clareza as funções que serão implementadas e detalhadas na continuidade

deste trabalho. Essa área será trabalhada buscando a ressignificação não só do espaço

como do entorno ferroviário, observando as conexões com áreas de lazer já existentes, a

mesma foi escolhida a partir de sua importância histórico-cultural para a cidade.

O presente trabalho busca conectar a cidade e seus espaços de forma sistêmica e

integrante. Objetivo alcançado pelo Masterplan, verificando a continuidade dos espaços

e suas inter-relações. Através dos recortes ao longo dos 8km pode-se verificar os

benefícios na qualidade de vida para a população local.

Os materiais escolhidos também foram pensados para que atendam a funcionalidade,

que por ser em locais abertos e públicos, foi necessário pensar em materiais com maior

tempo de vida útil e menor manutenção, além de ter que atender aos principais

condicionantes do projeto, como a sustentabilidade e permeabilidade, pois hoje o local é

área de escoamento de água de chuva ao longo da cidade.

Para áreas de passeio, foi pensado o deck de madeira plástica encapsulada que possui

altíssima resistência e tamanhos variados de acordo com necessário. Essa madeira

plástica é produzida através da reciclagem de rejeitos industriais, plásticos que

normalmente não se tem interesse de reaproveitamento. A tecnologia é de origem

nacional e não utiliza materiais nobres, nem madeira natural. Esse produto é revestido

por uma camada de material (também reciclado) que dá o acabamento parecido com a

madeira, aditivado com corantes, agentes anti-UV e agentes anti-chamas, deixando a

madeira plástica um produto muito resistente a intempéries. As vantagens do material

são: não racha, não empena, não solta farpas, não absorve umidade, é resistente a

corrosão, não necessita manutenção em curto prazo, limpeza a base de água e sabão e

principalmente é imune a pragas, roedores e insetos (ECOPEX, 2018). O material se

torna interessante principalmente pela estreita ligação entre os decks, tornando-os mais

acessíveis, conforme imagem a seguir:

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Figura 15. Deck de madeira plástica.

Fonte: ECOPEX, Loja online, 2018.

Foi utilizado para área de ciclovia, jardins efêmeros e pontos de taxi, o concreto

permeável que é vantajoso pelo sistema de drenagem, pode ser usado como via para

pedestres, estacionamento, ciclovia, piso de quadras poliesportivas, ajuda a diminuir

enxurradas e enchentes, atua como filtro, impedindo que impurezas e metais pesados

atinjam o lençol freático e permite melhor aproveitamento de terrenos

(INFRAESTRUTURAURBANA,2018). As áreas de ciclovia terão pigmentação

vermelha e as outras áreas pigmentação cinza.

Figura 16. Concreto permeável.

Fonte: INFRAESTRUTURAURBANA, Revista de soluções online,2018.

As árvores se destacarão como existentes, pequeno, médio, grande porte e a árvore

Marco, única espécie que será identificada nesta fase de recorte, sendo ela parte do

partido arquitetônico, a Macabaíba é uma espécie típica do território macaense, que

originou o nome da cidade. A Acrocomia Aculeata, pode atingir até 15 m de altura,

as folhas mais velhas de mais ou menos um metro de comprimento encobrem parte do

tronco e seu fruto, quando maduro, é comestível, revestido de uma casca dura, ao ser

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quebrado é encontrado uma polpa amarelo escuro, também chamado pela população

local de “coco- doce” (TUDOSOBREPLANTAS, 2018).

Figura 17. Macabaíba árvore e fruto.

Fonte: TUDOSOBREPLANTAS, Revista online,2018.

Outros detalhes serão abordados nos recortes a seguir, escolhidos para apresentar a

importância e representatividade do Parque lugares de Memória ao longo da cidade de

Macaé/RJ.

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5. RECORTES DO PARQUE LUGARES DE MEMÓRIA

5.1 Recorte 01 – Área de contemplação paisagística

[...] Os jardins reconstituem nas pessoas o verde que a cidade lhes roubou...

Roberto Burle Marx

Desde a Antiguidade, as áreas verdes e jardins têm finalidades de passeio e repouso.

Atualmente com o crescimento e as problemáticas das cidades modernas, elas, os

parques e jardins possuem função maior que somente a ornamentação urbana, estes

também auxiliam na estabilização e melhoria climática, redução da poluição

atmosférica, além de trazer benefícios sociais e também a função de recreação. São

destinadas para comportar o verde urbano e também um indicador muito importante

para a qualidade ambiental. A cidade de Macaé não se difere, a partir de observações

feitas ao longo da cidade percebeu-se uma demanda necessária por áreas de

contemplação paisagística, áreas que as pessoas possam relaxar após o almoço, o

trabalho, ou um simples fim de tarde. Ao longo de todo Masterplan foram projetadas

áreas de transição, áreas para contemplação com sombreamento, espaços gramados,

bancos e pergolados.

Das diversas intervenções ao longo dos 8km de parque linear, é válido destacar a

revalorização paisagística em áreas de grande fluxo de veículos e pessoas. Como o

Recorte 01, localizado na área sul da cidade, local de grande movimentação, este é

próximo de uma das áreas comerciais mais movimentadas, por esse motivo foi proposto

um ponto de taxi no local, e próximo a ele uma área dedicada ao uso dos comércios

efêmeros, que estará com maior destaque no Recorte 02.

Outro ponto de relevância deste recorte é o ponto de história, localizados nos pontos de

ônibus normais, trazendo a população maiores informações sobre a cidade, como

objetivo de sensibilizar a população e os visitantes para a cidadania e valorização do

património, respeitando-o profundamente.

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5.2 Recorte 02 – Efemeridades urbanas

O Recorte 02, destaca as efemeridades urbanas. Localizado estrategicamente para

mostrar a conexão entre o Parque da cidade, a praça Municipal Edgard dos Santos

Moraes e o Parque Lugares de Memória, esta área ressalta a importância dos estudos do

entorno, para que o parque à ser implementado supra as necessidades ainda faltantes da

população local apesar da existência de outros espaços públicos.

Deste modo, os jardins efêmeros que estão espalhados ao longo do projeto serão usados

com o objetivo de estabelecer relações que possam conectar a população e dar

autonomia de uso do espaço, esses jardins podem ser apropriados por pequenos

comerciantes autônomos ou até foodtrucks de pessoas que estiverem de passagem pela

cidade. Proporcionando a experimentação de liberdade criativa e crítica. Uma

ferramenta potencializadora de dinâmicas inovadoras no pensamento individual e

coletivo da população.

Além dos jardins, foi implementada na área próxima uma horta comunitária, reforçando

o convívio social, estimulando a alimentação saudável, aumentando a autoestima e

ampliando os conhecimentos da população ao redor. Esse uso foi implementado a partir

da percepção do uso informação da população do local.

Esse recorte busca mostrar a relação pessoa e cidade. Onde a paisagem pode despertar

as atividades imaginativas, poéticas, criativas, podendo ser traduzida, numa linguagem

menos técnica como um "olhar" diferenciado, um olhar amoroso, um olhar estético

sobre a cidade. Pode-se pensar a partir disso na construção de um olhar poético urbano.

(...) Você é capaz de captar momentos especiais na vida de uma cidade, de

enxergar que cada cidade pode ser melhor. Depende de você conhecê-la e

sentir aquilo que ela tem de melhor, que é a solidariedade. Então, você é

capaz de amar as pessoas de todas as cidades. Vamos todos pensar a cidade.

Eu, de minha parte, penso(LERNER, 2003, p. 130)

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5.3 Recorte 03 - Ressignificação da Estação Ferroviária

O Recorte 03 evidencia a ressignificação da Estação Ferroviária Leopoldina (c.1890-

1975) que se concretizou como um marco histórico-cultural na formação da cidade de

Macaé. A “linha do litoral”, como foi chamada, foi construída por diversas companhias,

em épocas diferentes, empresas que acabaram sendo incorporadas pela Leopoldina até a

primeira década do século XX. Segundo o IBGE (1958), a estação de Macaé foi

inaugurada em 1873 pela E. F. Macaé a Campos. A data de abertura citada pelo Guia

Geral das Estradas de Ferro do Brasil, de 1960 é a de 5 de abril de 1891.

Essa área destaca que a sociedade precisa da história como instrumento para encontrar

um significado que não lhe é mais inteligível. Foucault apud Arévalo ([199?]) apontava

que,

a história contínua é o correlato indispensável à função fundadora do sujeito:

a garantia de que tudo que lhe escapou poderá ser devolvido; a certeza de que

o tempo nada dispensará sem reconstituí-lo em uma unidade recomposta; a

promessa de que o sujeito poderá, um dia – sob a forma da consciência

histórica -, se apropriar, novamente, de todas essas coisas mantidas a

distância pela diferença, restaurar o seu domínio sobre elas e encontrar o que

se pode chamar sua morada.

Logo, a Ferrovia como lugar de Memória torna-se imprescindível para propagação da

história local, como resposta a essa necessidade de identificação do indivíduo

contemporâneo, principalmente em uma cidade de tantas culturas, como mostrado ao

longo do trabalho.

Os lugares de memória se configuram essencialmente por serem espaços onde a

ritualização de uma memória-história, podendo ressuscitar a lembrança, tradicional

meio de acesso a esta, portanto pretende-se que um dos prédios torne-se o Museu do

Ferroviário. Um dos lugares que pode ser definido por este critério irá conter memorias

e contos de antigos moradores e trabalhadores da ferrovia exercendo um papel de

educação patrimonial na cidade.

Outra área deste recorte são os espaços destinados às intervenções artísticas, que são

manifestações organizadas por grupos de artistas com o propósito de transmitir

mensagens, geralmente são um tipo de arte que tem o objetivo de questionar e

transformar a vida cotidiana.

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Essas intervenções urbanas são mais do que marcos espaciais, estabelecem padrões

culturais, particulariza lugares e recria paisagens. Existem intervenções urbanas de

vários portes essas lançam no espaço público questões que provocam discussões em

toda a população. De uma maneira ou de outra, fazendo com que a população pare um

pouco a rotina e perceba o entorno, seja para questionar, criticar ou simplesmente

contemplar a arte, conforme a proposta do projeto. A seguir alguns exemplos de

intervenções urbanas.

Figura 18. Intervenções urbanas.

Fonte: Archdaily,2018.

O recorte 03, busca também mostrar a relação entre o parque e o canal, hoje degradado,

o projeto propõe a revalorização e conexão através de elementos que destaquem o canal,

como o guarda corpo proposto, feito de aço Corten e com espaços vazados, para que

apesar da segurança o mesmo não se torne um obstáculo visual na paisagem. Abaixo

segue imagem do guarda corpo proposto ao longo do canal.

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Figura 19. Guarda corpo Aço corten.

Fonte: Archdaily,2018.

Além de todas essas intervenções o Parque linear neste recorte de estudo propõe o

Marcado Municipal em um dos prédios da ferrovia, este busca valorizar a cultura

gastronômica local, a muito esquecida, valorizar também pequenos agricultores e

artesãos locais. Considerando os Mercados Municipais lugares, não apenas de compra e

venda de mercadorias, mas também, e significativamente, de contato humano, sendo

analisado como um espaço público no qual relações de trocas não comerciais

encontram-se associadas a produção de sentimentos de pertencimento comum,

reciprocidade e identidade coletiva em seus frequentadores. Propondo para

detalhamentos futuros uma remodelação da arquitetura ferroviária, mantendo o estilo

colonial, entretanto misturando-o com o ferro internamente, elemento que caracteriza as

estradas de ferro. A partir do seguinte modelo que pode ser observado a seguir.

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Figura 20. Mercado Municipal San Miguel, Madrid.

Fonte: Site Mercado San Miguel,2018.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Propor um novo espaço público para a cidade é fundamental para a melhoria da

qualidade de vida da população. Este trabalho objetivou ressignifica uma área antes

subutilizada, porém com grande potencial paisagístico, ambiental e social, fazendo com

que este espaço se torne útil e funcional para a população no seu exercício de direito a

cidade, auxiliando na identificação do indivíduo como para do coletivo.

Através dos estudos desenvolvidos foi possível se aprofundar um pouco mais e entender

sobre a relação espaço urbano e indivíduo, principalmente nos espaços livres públicos,

onde buscou-se desenvolver além da valorização da história local, estimular a

identidade participativa da população macaense que foi construída ao longo de anos e

possui influência de diversas partes do brasil e do mundo.

Os diagnósticos desenvolvidos foram conclusivos para destacar a importância da

construção do parque linear sob a ferrovia desativada da cidade de Macaé. Além de

evidenciar o papel da mesma na história da cidade, o parque se torna um eixo de

conexão local, ligando diversos bairros com grande variação socioeconômica,

atendendo a população de modo geral.

Os diagnósticos também serviram para identificas os condicionantes, as problemáticas e

potencialidades que poderiam ser encontradas ao longo do desenvolvimento do projeto

de Masterplan. Essas analises serviram para buscar compreender e efetivar de forma

eficás ao longo dos 8km de parque as necessidades da população.

O Parque Lugares de Memória busca desenvolver no cidadão local seu senso de

urbanidade e participação coletiva na construção da cidade, onde se destacam jardins

efêmeros, áreas de intervenção artísticas e hortas comunitárias, entre outras atividades

que buscam aumentar o uso dos espaços livres públicos.

Como cidadã Macaense, é de grande orgulho ver o resultado positivo deste projeto,

onde foram alcançados os critérios estabelecidos no objetivo do trabalho que eram

promover a maior sociabilidade, usos, atividades, requalificação ambiental,

ressignificação urbana e conexão entre os espaços livres públicos da cidade, atendendo

de forma eficiente os morados da cidade.

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