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CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ALINE FERREIRA DE AZEVEDO CRUZ
ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE TRATAMENTO PSICOLÓGICO
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO MUNICÍPIO DE CAMPOS
DOS GOYTACAZES/RJ.
Campos dos Goytacazes/RJ
2017
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ALINE FERREIRA DE AZEVEDO CRUZ
ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE TRATAMENTO PSICOLÓGICO
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO MUNICÍPIO DE CAMPOS
DOS GOYTACAZES/RJ.
Trabalho Final de Graduação apresentado ao
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Fluminense Campus Campos – Centro
como requisito parcial para graduação do Curso de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profª. D.Sc. Margarida Maria Mussa
Tavares Gomes
Co-orientadora: Prof.ª. Ana Paula Pereira de
Campos Lettieri
Campos dos Goytacazes/RJ
2017
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família, pelo apoio em todos esses anos, independente dos caminhos
que escolhi traçar, e por sempre me ajudarem quando preciso, mesmo que houvesse um custo.
Este trabalho não seria possível sem eles.
Também agradeço à minha orientadora, Margarida Tavares, e à minha co-orientadora,
Ana Paula Lettieri, por todo apoio e dedicação nos últimos meses, e não me deixarem
desanimar.
Aos meus colegas da turma 7, que nunca mediram esforços em compartilhar
conhecimento e informações. Com vocês, aprendi a trabalhar em equipe. Em especial, agradeço
à Damianna, Hugo, Ítalo, Jefferson, Luiza, Mariah e Tainá.
Aos meus amigos, que não desistiram de mim nos últimos cinco anos, apesar das
ausências e desencontros, e sempre me acolherem com palavras amigas, em qualquer situação.
E, por último, mas não menos importante, agradeço a Joaquim por estar me ajudando
nos momentos em que mais preciso, me motivando todos os dias, e me ensinando a ser uma
pessoa melhor.
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RESUMO
As discussões acerca da saúde mental vêm aumentando ao longo dos anos, deixando, aos
poucos, o preconceito que os cerceia. Dentro deste contexto, a saúde mental ganhou espaço
interdisciplinar, entendendo as influências da percepção humana no seu bem-estar. O presente
trabalho aborda a proposta de criação de um Centro de Tratamento Psicológico para crianças e
adolescentes com transtornos mentais comuns, visto que, atualmente, não há espaços voltados
para o tratamento e reintegração de pessoas com tais transtornos no município de Campos dos
Goytacazes – RJ. O trabalho foi baseado nos princípios humanistas, levando em conta temas
como psicologia e percepção ambiental, para melhor compreender a relação do homem com o
ambiente, além de abordar um breve histórico da psiquiatria, e a saúde mental na infância e
adolescência. Utilizou-se como métodos para a elaboração deste trabalho, as pesquisas
bibliográficas, pesquisa da legislação local e legislações pertinentes. Espera-se, com este
trabalho, contribuir para ressaltar a falta de espaços voltados para o tratamento de transtornos
mentais comuns, e o papel do arquiteto, urbanista e paisagista na construção social do homem.
Palavras-chave: Saúde Mental. Crianças e Adolescentes. Psicologia Ambiental. Percepção
Ambiental. Centro de Tratamento.
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ABSTRACT
Discussions about mental health have been increasing over the years, gradually leaving the
prejudices behind them. Within this context, mental health has gained interdisciplinary space,
understanding the influences of human perception on their well-being. The present work deals
with a proposal to create a Psychological Treatment Center for children and adolescents with
common mental disorders, since there are currently no spaces for the treatment and reintegration
of people with such disorders in the municipality of Campos dos Goytacazes - RJ. The work
was based on humanistic principles, taking into account topics such as psychology and
environmental perception, to better understand the relationship between man and the
environment, as well as a brief history of psychiatry and mental health in childhood and
adolescence. Bibliographic research, research of local legislation and relevant legislation were
used as methods for the elaboration of this work. It is hoped, with this work, to contribute to
highlight the lack of spaces aimed at the treatment of common mental disorders, and the role of
architect, the urban planner and the landscape architect in the social construction of mankind.
Keywords: Mental Health. Children and Adolescents. Environmental Psychology.
Environmental Perception. Treatment Center.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Sistematização do processo de relação Pessoa-Ambiente. ....................................... 34
Figura 2: Exemplos de iluminação natural utilizada em ambientes internos. .......................... 38
Figura 3: Espectro visível das cores. ........................................................................................ 38
Figura 4: Possíveis barreiras visuais e acústicas. ..................................................................... 44
Figura 5: Mobiliários e a preocupação com as dimensões. ...................................................... 45
Figura 6: Exemplos de nichos sociopetos. ............................................................................... 45
Figura 7: Ambiente amplo e indicação de circulação de pessoas. ............................................ 47
Figura 8: Östra Psychiatry Hospital. ........................................................................................ 48
Figura 9: Interior do Östra Psychiatry Hospital – Madeira. ..................................................... 49
Figura 10: Östra Psychiatry Hospital - Uso da iluminação artificial e natural na criação de
espaços. ..................................................................................................................................... 49
Figura 11: : Interior do Östra Psychiatry Hospital – iluminação natural através de painéis de
vidro, e utilização de jardins internos. ...................................................................................... 50
Figura 12: Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos. ..................................... 51
Figura 13: Implantação e Planta Térrea da Residência e Centro dia. ....................................... 52
Figura 14: Nova Escola Municipal em Frederikshavn. ............................................................ 53
Figura 15: Implantação da Nova Escola Municipal em Frederikshavn.................................... 53
Figura 16: Casa da Criança. ...................................................................................................... 54
Figura 17: Implantação da Casa da Criança. ............................................................................ 55
Figura 18: Imagem interna da Casa da Criança. ....................................................................... 55
Figura 19: Pavilhões da Expo Flora de Taipei. ........................................................................ 56
Figura 20: Pavilhões da Expo Flora de Taipei – vegetação nas paredes. ................................. 57
Figura 21: Pavilhões da Expo Flora de Taipei – purificação da água da chuva. ...................... 57
Figura 22: Localização do Estado do Rio de Janeiro no Mapa do Brasil e Localização da
cidade de Campos dos Goytacazes no Mapa do Estado do Rio de Janeiro. ............................. 59
Figura 23: Localização do terreno no mapa de Campos dos Goytacazes e uma ampliação com
a marcação do terreno (com prolongamento previsto da Rua Princesa Isabel). ....................... 59
Figura 24: Terreno no Mapa de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes. .......... 60
Figura 25: Legenda de Eixos do Mapa de Uso e Ocupação do Solo........................................ 61
Figura 26: Mapa de acessos. ..................................................................................................... 61
8
Figura 27: Estudo de insolação. ................................................................................................ 62
Figura 28: Estudo de ventilação e ruído. .................................................................................. 62
Figura 29: Vista da fachada frontal adotada para o terreno voltada para a rua Antônio Manoel.
.................................................................................................................................................. 63
Figura 30: Esquina das ruas Antônio Manoel e José Ildefonso E. Campos, demonstrando o
banco adaptado pelos moradores embaixo da árvore. .............................................................. 63
Figura 31: continuação da vista da fachada frontal adotada para o terreno, na Rua Antônio
Manoel (parte voltada para a Associação Mantedora Asilo Nossa Senhora do Carmo). ......... 64
Figura 32: Vista da fachada secundária adotada para o terreno, na Rua José Ildefonso E.
Campos (sentido da Rua Antônio Manoel). ............................................................................. 64
Figura 33: Vista da fachada secundária adotada para o terreno, na Rua José Ildefonso E.
Campos (sentido da futura extensão da Av. Princesa Isabel). .................................................. 64
Figura 34: Mapa de uso ocupação do solo no entorno do terreno. ........................................... 65
Figura 35: Mapa de gabarito do entorno do terreno. ................................................................ 66
Figura 36: síntese do estudo do entorno. .................................................................................. 67
Figura 37: Cata-vento. .............................................................................................................. 68
Figura 38: Estudo inicial de volumetria e de implantação. ...................................................... 68
Figura 39: Estudo de setorização. ............................................................................................ 73
Figura 40: Estudo inicial de fluxograma. ................................................................................. 75
Figura 41: Implantação. ............................................................................................................ 77
Figura 42: Implantação das Praças. .......................................................................................... 78
Figura 43: Bloco A. .................................................................................................................. 80
Figura 44: Bloco B. .................................................................................................................. 81
Figura 45: Bloco C. .................................................................................................................. 82
Figura 46: Bloco D. .................................................................................................................. 84
Figura 47: Setor de animais. ..................................................................................................... 85
Figura 48: Depósito geral. ........................................................................................................ 85
Figura 49:Guaritas. ................................................................................................................... 86
Figura 50: Salão Externo .......................................................................................................... 87
Figura 51: Praça Pública. .......................................................................................................... 88
Figura 52: Área de Alimentação. .............................................................................................. 89
Figura 53: Volumetria geral. .................................................................................................... 90
Figura 54: Acesso Principal. ..................................................................................................... 91
Figura 55: Praça Labirinto e Praça das Cores........................................................................... 92
9
Figura 56: Praça Colmeia. ........................................................................................................ 92
Figura 57: Praça da Capoeira e Casa da árvore. ....................................................................... 93
Figura 58: Praça do Encontro. .................................................................................................. 94
Figura 59: Praça das Águas. ..................................................................................................... 94
Figura 60: Praça Pública. .......................................................................................................... 95
Figura 61: Mesa com banco de encaixe.................................................................................... 96
Figura 62: Mesa com banco sociopeto. .................................................................................... 97
Figura 63: Mesa de parede com bancos.................................................................................... 97
Figura 64: Mesa-casinha. .......................................................................................................... 98
Figura 65: Sistema de reúso de água. ....................................................................................... 99
Figura 66: Telha termoacústica. ............................................................................................. 100
Figura 67: Vidro Low-E. ........................................................................................................ 101
Figura 68: Placas fotovoltaicas. .............................................................................................. 102
Figura 69: Madeira ecológica. ................................................................................................ 102
Figura 70: Goiabeira. .............................................................................................................. 103
Figura 71: Amoreira Preta. ..................................................................................................... 103
Figura 72: Pé de Jaca. ............................................................................................................. 103
Figura 73: Pé de Acerola. ....................................................................................................... 103
Figura 74: Flamboyant. .......................................................................................................... 104
Figura 75: Ipê. ........................................................................................................................ 104
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
1. BREVE HISTÓRICO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA ............................................. 16
1.1 Arteterapia .................................................................................................................... 22
1.2 Musicoterapia ............................................................................................................... 23
1.3 Prática de Exercícios Físicos ........................................................................................ 23
1.4 Meditação Mindfulness ................................................................................................ 24
1.5 Contato com a natureza ............................................................................................... 25
1.6 Contato com animais e cinoterapia ............................................................................. 26
1.7 Jogos e brincadeiras ..................................................................................................... 26
2. SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ............................................. 28
2.1 Transtornos mentais comuns em adolescentes .......................................................... 30
3. PSICOLOGIA AMBIENTAL ........................................................................................... 33
3.1 Apropriação e apego ..................................................................................................... 35
3.2 Percepção ambiental e arquitetura ............................................................................. 36
3.2.1 Visão, iluminação e cores ........................................................................................ 37
3.2.2 Olfato ....................................................................................................................... 38
3.2.3 Paladar ..................................................................................................................... 39
3.2.4 Tato, sentido háptico e conforto térmico ................................................................. 39
3.2.5 Audição .................................................................................................................... 40
3.2.6 Sentido proxêmico, barreiras visuais e acústicas, mobiliário e nichos .................... 41
3.2.7 Sentido de movimento e amplidão .......................................................................... 46
4. REFERENCIAIS PROJETUAIS ...................................................................................... 48
4.1 Referenciais Funcionais ............................................................................................... 48
4.1.1 Östra Psychiatry Hospital ........................................................................................ 48
4.1.2 Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos ....................................... 51
4.2 Referencial Tipológico .................................................................................................. 52
4.2.1 Nova Escola Municipal em Frederikshavn .............................................................. 52
4.3 Referencial Plástico ...................................................................................................... 54
4.3.1 Casa da Criança ....................................................................................................... 54
4.4 Referencial Tecnológico ............................................................................................... 56
11
4.4.1 Pavilhão da Expo Flora Taipei ................................................................................ 56
5. O PROJETO ARQUITETÔNICO ................................................................................... 58
5.1 Localização .................................................................................................................... 58
5.1.1 Legislação ................................................................................................................ 60
5.1.2 Acessos .................................................................................................................... 61
5.1.3 Insolação, ventilação e ruídos .................................................................................. 62
5.1.4 Aspectos Físicos ...................................................................................................... 63
5.1.5 Entorno .................................................................................................................... 65
5.1.6 Gabarito ................................................................................................................... 65
5.2 Diretrizes Projetuais ..................................................................................................... 66
5.3 Conceito e Partido ........................................................................................................ 67
5.4 Capacidade, atendimento e logística ........................................................................... 69
5.5 Programa de necessidades e pré-dimensionamento .................................................. 70
5.6 Setorização .................................................................................................................... 71
5.7 Fluxograma ................................................................................................................... 74
5.8 Implantação ................................................................................................................... 76
5.9 Bloco A ........................................................................................................................... 79
5.10 Bloco B ......................................................................................................................... 80
5.11 Bloco C ......................................................................................................................... 82
5.12 Bloco D ......................................................................................................................... 83
5.13 Setor de animais .......................................................................................................... 84
5.14 Depósito geral .............................................................................................................. 85
5.15 Guaritas ....................................................................................................................... 86
5.16 Salão externo ............................................................................................................... 86
5.17 Praça pública .............................................................................................................. 87
5.18 Cobertura .................................................................................................................... 89
5.19 Volumetria ................................................................................................................... 89
5.20 Conforto ambiental .................................................................................................... 96
5.21 Mobiliários .................................................................................................................. 96
5.22 Memorial Descritivo ................................................................................................... 98
5.22.1 Tanque de purificação de água e sistema de captação de águas pluviais .............. 98
5.22.2 Telhas termoacústicas ............................................................................................ 99
5.22.3 Esquadrias ............................................................................................................ 100
5.22.4 Energia Solar ....................................................................................................... 101
5.22.5 Revestimento externo .......................................................................................... 102
5.22.6 Paisagismo ........................................................................................................... 103
12
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 105
REFERENCIAIS .................................................................................................................. 107
13
INTRODUÇÃO
A saúde mental ainda é um assunto pouco discutido e disseminado na sociedade
brasileira. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014), de 10 a 20% dos
adolescentes sofrem de transtornos psicológicos e parte deles são negligenciados. Estes, por
não receberem o devido tratamento, podem se agravar na fase adulta.
Conforme afirma a UNICEF (2011):
Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 20% dos adolescentes tenham
problemas de saúde mental ou de comportamento. A depressão é o principal
fator isolado que contribui para a carga mundial de doenças em meio a
indivíduos de 15 a 19 anos; e o suicídio é uma das três principais causas de
mortalidade em meio a indivíduos de 15 a 35 anos de idade. Em termos
globais, estima-se em 71 mil o número anual de adolescentes que cometem
suicídio; e é 40 vezes maior o número de adolescentes que tentam o suicídio.
Cerca de 50% dos transtornos mentais têm início antes dos 14 anos de idade,
e 70% deles, antes dos 24 anos de idade (UNICEF, 2011 - ONLINE).
De acordo com Asbahr (2004), os transtornos mentais mais comuns em crianças são os
transtornos de conduta, de atenção e hiperatividade e de ansiedade, que trazem sofrimento para
os jovens e para aqueles com quem convivem. Além disso, podem gerar interferência no
desenvolvimento intelectual e psicossocial, resultando em problemas psiquiátricos e de
relacionamentos na fase adulta.
Segundo Bacy W. Fleitlich e Robert Goodman (2002), um estudo realizado no Brasil
em 2002 encontrou aproximadamente 10% de prevalência de transtornos psicológicos em
crianças e adolescentes em áreas urbanas de classe média e em áreas rurais carentes (agricultura
de subsistência), número semelhante à população de classe média dos países desenvolvidos.
Entretanto, áreas urbanas e carentes (comunidades) apresentaram taxas mais elevadas, em torno
de 20%, sugerindo a presença de outros fatores socioculturais, além do econômico, que
diferenciam as duas populações de baixa renda estudadas, como a área rural de subsistência e
a favela.
A proposta do Centro de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes surge
para tentar suprir a necessidade de informar a população e oferecer o diagnóstico e tratamento
de acordo com as especificidades de cada criança e adolescente que necessita de cuidados
especiais.
Devido à falta de informação, os familiares, amigos e instituições de ensino não sabem
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como tratar adequadamente o jovem que sofre de transtornos psicológicos. Este jovem cresce
num ambiente inadequado, muitas vezes nocivo, que interfere no seu desenvolvimento.
Transtornos mentais são negligenciadas, apresentam tratamento com alto custo, e as escolas
não estão preparadas para ensinar alunos que precisam de atenção diferenciada, ao seguirem o
sistema tradicional de ensino.
De acordo com Ximenes et al (apud FEITOSA et al, 2011), a demanda por tratamentos
para transtornos mentais em crianças e adolescentes é crescente, e existe falta de serviços e
especialistas nessa área, fato que contribui para a dificuldade dos profissionais da saúde em
geral em encaminhar crianças e adolescentes com problemas emocionais. Ainda acrescenta que
os poucos serviços existentes apresentam longas filas de espera, e nem sempre as crianças são
assistidas.
Sendo assim, há necessidade de criação de um espaço que possa acolher os jovens, tratá-
los e reinseri-los na sociedade, além de atuar diretamente na conscientização da população e
trabalhar em conjunto com escolas da cidade, para que se possa avaliar o comportamento da
criança e do adolescente, verificar e diagnosticá-lo. A proposta deste trabalho busca oferecer
um ambiente onde o jovem possa se sentir à vontade, aprender e se relacionar com os outros,
além de melhorar suas habilidades físicas e cognitivas.
O objetivo geral deste trabalho consiste na elaboração de um anteprojeto de um Centro
de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes, com a finalidade de contribuir para a
saúde mental e o bem-estar social dos jovens da população de Campos dos Goytacazes,
diminuindo a ocorrência de transtornos mentais em adultos.
Para tanto, procurou-se projetar um espaço que proporcione o bem-estar às crianças e
adolescentes, além de propor uma edificação que atenda às necessidades dos mesmos e de seus
familiares. Buscou-se também a criação de uma estrutura física capaz de receber atividades
físicas, culturais e artísticas, que esteja em harmonia com os jardins e a natureza.
Para o levantamento de dados e melhor entendimento e desenvolvimento do anteprojeto,
foi feita uma visita ao Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi), órgão
responsável por atender crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e moderados
na cidade de Campos dos Goytacazes, onde foram realizadas conversas informais com a equipe
sobre a relevância da criação de um Centro de Tratamento Psicológico na cidade. Foram
empreendidas, também, pesquisas bibliográficas para maior conhecimento sobre o campo da
psicologia ambiental, os principais transtornos psicológicos que afetam crianças e adolescentes,
e como pode-se criar um ambiente de tratamento através da arquitetura. Fizeram-se necessárias,
ainda, pesquisas por referências projetuais que nortearam os aspectos físicos e funcionais do
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projeto. Foi realizada uma visita técnica para analisar os aspectos físicos do local onde se
pretende implantar o Centro de Tratamento Psicológico, assim como o estudo da legislação
pertinente, incluindo leis urbanísticas, para a adequação da proposta de projeto nas leis vigentes
no município.
Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. Sendo três capítulos teóricos, que
embasam a realização do anteprojeto, apresentando como se deu a evolução dos tratamentos
psiquiátricos, a saúde mental da criança e do adolescente, e a relação do homem com o ambiente
que o cerca. Há um capítulo com referenciais de projeto, suas principais características e
aplicabilidade, atuando como introdução ao conceito e realização do anteprojeto de arquitetura.
O capítulo cinco aborda a descrição e desenvolvimento projetuais. As considerações finais
relatam o que foi aprendido no decorrer deste trabalho e o que se pretende com o mesmo. Além
disso, reforça o papel social do arquiteto, urbanista e paisagista, inserido na sociedade.
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1. BREVE HISTÓRICO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
Para o melhor entendimento de como se faz a assistência a pessoas com transtornos
mentais atualmente, buscou-se fazer um breve histórico, a fim de melhor explicar quais os
caminhos traçados pela psiquiatria até hoje.
Os manicômios surgiram para assistir às pessoas com transtornos mentais, visto que a
palavra tem sua origem na língua grega, “mania” significa loucura e “komêin”, curar.
Nos séculos XVI e XVII, os Hospitais e as Santas Casas de Misericórdia abrigavam os
“loucos”, como locais de acolhimento e piedade. Nestas instituições, os religiosos recebiam os
excluídos, doentes, prostitutas, ladrões, miseráveis e “loucos” para oferecer-lhes conforto e
tentar, de alguma forma, diminuir seu sofrimento. (AMARANTE, 1998; FOUCAULT, 1984,
2004 apud KNOPP, 2012). Sobre essa época, Rosa relata:
Os loucos, antes da fundação do hospício, se tranquilos, eram acolhidos pela
sociedade e assim podiam circular livremente; porém, se agitados e
agressivos, eram reclusos nas cadeias públicas. Além do critério
comportamental, a classe social também definia a abordagem do louco, pois
os ricos eram tratados domiciliarmente ou enviados para tratamento na Europa
(ROSA, 2008, p. 87 apud KNOPP, 2012, p.11).
Conforme afirmado por Koda (2002, apud KNOPP, 2012), foi apenas no final do século
XVIII, que Pinel criou o conceito de doença mental. Várias instituições foram inauguradas em
seguida, a fim de tratar os indivíduos que são afetados por essas doenças. A partir disso, Pinel
começa um trabalho de separação e classificação dos diversos tipos de “loucura”, o que acabou
resultando na exclusão dos indivíduos com transtornos mentais da sociedade. Conforme
afirmam Alberti e Couto (2008), foi com Pinel que se deu a primeira Reforma Psiquiátrica.
Com isso, os “loucos” tinham um local para si, onde eram excluídos da vida em
sociedade num sistema asilar, que pode ser equiparado com uma prisão. Os indivíduos eram
vítimas de maus tratos, falta de higiene e superdosagem de medicamentos, além de serem
isolados da família e da vida em sociedade. Szasz (1978, apud KNOPP, 2012) discorre sobre
as origens do sistema de hospital psiquiátrico:
“O grande confinamento dos insanos”, segundo a adequada denominação de
Michel Foucault, começou no século XVII: “Uma data pode servir de marco:
1656, o decreto que fundou, em Paris, o Hôpital Général. O decreto que
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fundou esse estabelecimento, e outros promulgados na França, foram
ordenados por Luís XIII (SZASZ, 1978, p.41 apud KNOPP, 2012 p.12).
De acordo com Alberti e Couto (2008), foi somente após a Segunda Guerra Mundial
que o sistema asilar de “tratamento” e a massa que ocupava os manicômios foram questionados
novamente. Alguns principais fatores que influenciaram o enfraquecimento das internações
nestes hospitais psiquiátricos foram o crescimento econômico de alguns países, a reconstrução
social e os movimentos sociais e civis. Além destes, outros fatores importantes são: os
psicofármacos1 e a entrada da psicanálise nos meios psiquiátricos.
O aumento considerável do número de psiquiatras com formação psicanalítica, tanto
nos hospitais ingleses quanto nos franceses, gerou uma nova postura diante do paciente.
Posteriormente, como consequência, seria cobrada a participação do Estado, fazendo com que
o mesmo se inserisse nesta área.
Logo surge na Europa a Psicoterapia Institucional, que atendia os pacientes de forma
setorizada, tal experiência começou na França. A Psicoterapia Institucional teve uma forte
adesão à Psicanálise, principalmente a de orientação lacaniana2, e defendia que não somente os
pacientes estavam doentes, mas a instituição de modo geral, ou seja, os agentes da instituição e
seus funcionários também estavam doentes. Sua proposta era ser uma ação de saúde pública.
Ainda no período da Segunda Guerra, na Grã-Bretanha, iniciam-se as comunidades
terapêuticas, principalmente através do trabalho realizado por Main, Bion e Reichman, por meio
do atendimento em grupo aos soldados. Logo a Organização Mundial da Saúde (OMS) elogiou
a estruturação de programas de atendimento parcial e nos serviços residenciais completos
propostos por Bion. Foi na Inglaterra que se usou primeiro o termo Saúde Mental em detrimento
da doença (ALBERTI E COUTO, 2008). Quando retornavam das guerras, os jovens soldados
ingleses apresentavam danos emocionais, e para voltar a viver em sociedade, precisavam cuidar
de seus transtornos. Surge então um problema na Inglaterra, devido ao aumento da demanda
por profissionais capacitados para tratar transtornos mentais, e a escassez dos mesmos. Main,
Bion e Reichman usam então o potencial dos próprios pacientes no tratamento.
Ainda nessa época surge o termo Psicossocial, no livro Psychosocial Medicine James
L. Halliday, que estabelecia as primeiras relações entre o psiquismo e as transformações sociais.
Sobre o tratamento oferecido por Main, Bion e Reichman no MonthField Hospital, Amarante
1 Psicofármacos sofriam constante questionamento quanto aos efeitos de sua comercialização, como pode ser
observado em Alberti e Couto (2008). 2 Desenvolvida por Jacques Lacan, psicanalista francês do século XX.
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explica que eram organizadas reuniões para discutir “[...] as dificuldades, os projetos, os planos
de cada um; realizavam assembleias com duzentos ou mais pacientes; elaboravam propostas de
trabalho em que todos (pacientes e funcionários) pudessem estar envolvidos, etc”.
(AMARANTE, 2007, p.42).
A OMS define a saúde mental como “[...] o estado de bem-estar no qual o indivíduo
realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma
produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere” (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2001, apud COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2005,
p.4).
Amarante (2007) afirma que a saúde mental, ao contrário da psiquiatria, não se baseia
em apenas um tipo de conhecimento, e não é exercida por apenas, ou fundamentalmente, por
um profissional, o psiquiatra. O autor aponta:
Saúde mental não é apenas psicopatologia, semiologia. Ou seja, não pode ser
reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais. Na complexa rede de
saberes que se entrecruzam na temática da saúde mental estão, além da
psiquiatria, a neurologia e as neurociências, a psicologia, a psicanálise (ou as
psicanálises, pois são tantas!), a fisiologia, a filosofia, a antropologia, a
filologia, a sociologia, a história, a geografia (…). Mas se estamos falando em
história, em sujeitos, em sociedade, em culturas, não seria equivocado excluir
as manifestações religiosas, ideológicas, éticas e morais das comunidades e
povos que estamos lidando? (AMARANTE, 2007, p.16).
Saúde mental pode ser entendida, portanto, como um conjunto de fatores que interferem
no bem-estar do indivíduo, sendo assim multidisciplinar. Não existem, então, respostas
concretas e definitivas em torno da saúde mental, como uma ciência exata, fazendo com que a
saúde mental não se caracterize como ausência da doença mental. A partir do novo termo, novas
formas de atender às pessoas com transtornos mentais surgem.
Em 1961, o psiquiatra Franco Basaglia tornou-se diretor do Hospital de Gorizia,
província italiana, e teve início então a Psiquiatria Anti-nstitucional, ponto de partida para a
Reforma Psiquiátrica italiana. Apoiando-se no modelo da comunidade terapêutica, tentava-se
humanizar, transformar a instituição psiquiátrica e, a posteriori, levar a experiência dos
pacientes para fora da instituição, para a sociedade que os excluiu. De acordo com o psiquiatra:
Uma comunidade que se queira terapêutica deve levar em conta esta realidade
dupla, a doença e a estigmatização, para poder reconstruir gradualmente o
rosto do doente, como devia ser antes de a sociedade, com seus inúmeros atos
de exclusão e através da instituição que inventou, agir sobre ele com sua força
19
negativa (BASAGLlA; 1967 [1985], p.124 apud ALBERTI; COUTO, 2008).
No entanto, diferente dos movimentos ocorridos na França e Inglaterra, o movimento
iniciado por Basaglia e seu grupo se opôs fortemente ao sistema manicomial, criticando as
diversas formas de violência sofridas pelos pacientes. Além disso, Basaglia afirma que o
problema em si não é a doença mental, mas a relação que se estabelece com ela.
Em 1963, John Kennedy lançou um Programa de Saúde Mental para os EUA, o qual
chegou a ser considerado uma revolução na psiquiatria norte-americana. O que mais chamou a
atenção nesse programa foi a proposta da Psiquiatria Preventiva, de Gerald Caplan. Como
observado por Alberti e Couto,
[...] para a Psiquiatria Preventiva residia na postulação de que as várias formas
de doença mental, nas diferentes populações, eram resultado de fatores
contrastantes, fatores positivos, denominados subsídios e fatores negativos,
denominados práticas de risco. O trabalho da Psiquiatria Preventiva seria
identificar tais fatores negativos e tentar corrigi-los de maneira positiva, para
que eles não viessem a desencadear uma doença mental (ALBERTI; COUTO,
2008, p.53).
No Brasil, em 1841, foi criado o Hospital Dom Pedro II, conhecido por ser o primeiro
hospital de atendimento a psiquiatria no país. O tratamento aos pacientes foi feito com
violência, usando camisa de força, choques elétricos e superdosagens de medicamentos. O
tratamento psiquiátrico brasileiro foi associado à Medicina Higienista, cujo objetivo era
“limpar” a cidade do Rio de Janeiro dos riscos de infecção gerados pela falta de saneamento e
planejamento urbano e da massa de desempregados e indigentes que habitavam as ruas.
(RESENDE, 1987, apud ALBERTI; COUTO, 2008).
A Política de Saúde Mental no Brasil baseou-se no modelo manicomial. Porém, nos
anos de 1970, segundo afirmam Alberti e Couto:
[...] o movimento que resultou nas 'Comunidades Terapêuticas' instaladas em
alguns hospitais psiquiátricos, passou a apostar na possibilidade de
efetivamente sustentar um trabalho terapêutico em função das propostas que
vinham das reformas realizadas em outros países e dos investimentos pessoais
de alguns psiquiatras (ALBERTI; COUTO 2008, p.55).
Então, de acordo com Delgado (1998, apud ALBERTI; COUTO, 2008), três eventos
políticos desencadearam o início da contestação e aquilo que se denominou Reforma
20
Psiquiátrica brasileira: i) o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no ano de 1977, em Camboriú
– SC; ii) o I Congresso de Trabalhadores de Saúde Mental, 1979, em São Paulo e iii) o III
Congresso Mineiro de Psiquiatria, em 1979, com a presença de Basaglia, que teve forte
influência na reforma psiquiátrica brasileira. Ainda conforme Alberti e Couto:
A partir do projeto de lei, conhecido como projeto Paulo Delgado, apresentado
à Câmara Federal, em 1989, iniciou-se, em nível nacional, um movimento
crescente de reformulação das Políticas Públicas de Saúde Mental, que abriu
as portas dos hospitais psiquiátricos tanto para a entrada de pesquisadores e
técnicos de diversas áreas quanto para a saída de pacientes que, muitas vezes,
encontravam-se internados há décadas. Uma das grandes contribuições da
primeira versão do projeto de lei foi possibilitar o debate sobre a Lei Federal
de Saúde Mental, tendo em vista que a referida lei datava de 1934, baseando-
se, mormente, na exclusão dos pacientes do convívio social (ABERTI;
COUTO, 2008, p.56).
Apenas 12 anos após a criação da proposta feita por Delgado, a lei foi sancionada no
país. Conforme afirma Knopp (2012), a Lei Federal 10.216 reformula a assistência em Saúde
Mental, e privilegia o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe
sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais.
Em 7 anos, a Lei 10.216 (BRASIL, 2001) promoveu grandes mudanças: o surgimento
dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), as residências terapêuticas e o trabalho articulado
em Redes de Atenção Psicossocial (RAPs), principalmente nas capitais. Em áreas mais
afastadas, ainda há resistência, e a reforma ocorre mais lentamente. O que fica mais claro após
a Lei 10.216, é que se prioriza a atenção, o cuidado e a reinserção dos indivíduos na sociedade,
revertendo o quadro do modelo manicomial, onde o centro de tratamento não tinha como
objetivo a cura e o cuidado, mas a exclusão dos pacientes.
Conforme a Portaria Nº 3.088 (BRASIL, 2011), os Centros de Convivência fazem parte
da rede atenção psicossocial, sendo importantes para a promoção de interação social, produção,
e intervenção na cultura e na cidade.
Segundo Pereira (2014), em Campos dos Goytacazes3, a rede de atenção psicossocial
conta com um Pronto Socorro Psiquiátrico4, que funciona como porta de entrada para os demais
serviços da rede, atendendo a 1.600 pessoas por mês, segundo dados da Prefeitura de Campos5;
3 Campos dos Goytacazes é o maior município em extensão territorial do interior do estado do Rio de Janeiro, com
população de 463.731 habitantes (IBGE, 2010). 4 Endereço: Rua Saldanha Marinho, nº 59, Centro.
5 Fonte: http://www.campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=33644, acesso em fev., 2017.
21
dois Ambulatórios, sendo um deles o Hospital São José6 e o outro Hospital Psiquiátrico Dr.
João Viana7 ; que oferecem consultas de psiquiatria e psicologia; quatro CAPS, CAPS II8,
CAPS III9, CAPSad10 e CAPSi11, que oferecem tratamentos conforme especificidade do
paciente e dois Hospitais Psiquiátricos, Hospital Psiquiátrico Espírita Dr. João Viana12 e
Hospital Psiquiátrico Henrique Roxo13.
A política da saúde mental em Campos dos Goytacazes foi marcada pela predominância
da estrutura manicomial. Com o impulso que veio da Reforma Psiquiátrica brasileira, novos
dispositivos foram instalados na cidade, dentre eles estão os CAPs e ambulatórios. Pode-se
observar então que a cidade já evoluiu a caminho da Reforma.
Segundo pesquisa realizada por Pereira (2014), houve uma evolução na política da
saúde mental na cidade de Campos dos Goytacazes, mas até então falta muito a ser feito. Ainda
segundo a pesquisa, muitas pessoas da cidade continuam presas a modelos antigos e tradicionais
de tratamento – recorrendo à internação.
De acordo com Rosa (2010, apud PEREIRA, 2014), diferente de outras doenças, o
transtorno mental tem origem multifatorial (biológica, social, psíquica e cultural) e é notado a
partir de um comportamento desviante daqueles socialmente aceitos. Como consequência, os
transtornos mentais acabam, muitas vezes, passando despercebidos, por serem, muitas vezes,
“invisíveis”.
Embora existam tantos estudos acerca da ressocialização dos pacientes, ainda há muitos
estigmas e preconceitos que cerceiam os indivíduos que apresentam transtornos mentais, que
dificultam a vida em sociedade. Além disso, estas dificuldades afastam os sujeitos dos
tratamentos, pois os mesmos preferem se esconder a sofrer repressão.
Atualmente, nos CAPs, ocorrem terapias ocupacionais, que buscam reinserir os
indivíduos que sofrem de transtornos mentais na sociedade. Rissato, Crotti e Antonelli
comentam:
6 Endereço: Rodovia Raul Souto Maior, s/nº, Goytacazes.
7 Endereço: Rua Machado de Assis, nº. 49, Parque Rosário.
8 Endereço: Rua André Luís, nº. 54, Jardim Carioca.
9 Endereço: Rua Primeiro de Maio, 43, Centro.
10 Endereço: Rua José do Patrocínio, nº. 104, Centro.
11 Endereço: Rua José do Patrocínio, nº. 154, Centro.
12 Instituição filantrópica conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Endereço: Rua Machado de Assis, nº. 49, Parque Rosário. 13
Instituição particular conveniada ao SUS. Endereço: Rua Conselheiro Thomaz Coelho, 194, Centro.
22
Neste contexto extra-hospitalar, a arte assume um papel de extrema
importância, viabilizando o processo de reabilitação e inclusão sócio familiar
dos portadores de transtornos mentais e priorizando o tratamento do paciente
como um todo (RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008, p.1).
De acordo com Benetton (2006, apud RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008), Pinel
criou o tratamento moral, que hoje é o que se entende por terapia ocupacional, em um ambiente
asilar, o qual possuía três ideais: liberdade, racionalidade e a humanidade.
Ainda Benetton (1994, apud RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008), ressalta a
relevância da realização de atividades para que se mantivessem ativos os pacientes com
transtornos mentais. Além disso, também afirma que as atividades não existem somente para
serem realizadas, mas conversadas, discutidas, debatidas, mudar de lugares e de pessoas, e que,
inclusive, podem não ser realizadas. Sobre isso, Rissato, Crotti e Antonelli acrescentam:
O ensino das atividades é imprescindível, pois é através deste que acontece a
realização das atividades, começando a dar sentido a Terapia Ocupacional, é
também neste momento que se desperta a criatividade do paciente, para que o
mesmo crie ou recrie uma melhor forma de viver (RISSATO; CROTTI;
ANTONELI, 2008, p.5).
Levando em conta as considerações sobre terapia ocupacional, e o processo de
humanização dos cuidados com pacientes que sofrem de transtornos psicológicos, o projeto
aqui proposto visa adotar algumas atividades que contribuirão para o processo de recuperação
e ressocialização dos indivíduos que sofrem de transtornos mentais, sendo elas: arteterapia,
musicoterapia, prática de exercícios físicos, jogos e brincadeiras, meditação, contato com a
natureza e os animais. Algumas atividades estão relacionadas com a terapia ocupacional,
enquanto outras são tratamentos complementares, já que se entende a saúde mental como
multidisciplinar.
1.1 Arteterapia
A arteterapia é definida pela Associação Brasileira de Arteterapia (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ARTETERAPIA, 2017) como um modo de trabalhar utilizando a linguagem
artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência é a criação estética e a
elaboração artística em prol da saúde.
A configuração dos campos prático e teórico da arteterapia tiveram início na psiquiatria,
23
onde aconteceram as primeiras experiências com uso da arte com a finalidade de promover o
bem-estar mental. Reis (2014) comenta:
Na arteterapia o fazer artístico é um instrumento para a promoção da saúde e
da qualidade de vida. Nela podem ser usadas como recursos terapêuticos as
mais diversas atividades artísticas: desenho, pintura, modelagem, música,
poesia, dramatização e dança. Estas atividades visam a facilitar a expressão
do sujeito por meio de outras linguagens (plástica, sonora, escrita, corporal)
além da verbal, ampliando as possibilidades de comunicação, facilitando o
autoconhecimento e promovendo o desenvolvimento da criatividade (REIS,
2014, p.247).
De acordo com Cirnai (1995 apud REIS, 2014), o fazer artístico auxilia a pessoa no
aprendizado de lidar criativamente com a sua própria vida, fazendo com que possa ocorrer um
contato profundo e eficaz na relação terapêutica.
A arte aplicada em terapias é um poderoso meio para a expressão de subjetividade das
pessoas que sofrem com transtornos psicológicos, fazendo com que o mesmo possa conseguir
demonstrar sua visão única de mundo, possibilitando, assim, o autoconhecimento e a melhor
resolução de conflitos pessoais e de relacionamentos.
1.2 Musicoterapia
A música como elemento capaz de influenciar diretamente as sensações dos indivíduos
é reconhecido cientificamente. A partir de estudos e experimentos, surge a musicoterapia. Esta,
de acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia, é uso profissional da música para
otimizar a qualidade de vida e bem-estar das pessoas, tanto físico, quanto emocionalmente
(WORLD FEDERATION OF MUSIC THERAPY, 2011 apud SAMPAIO,2015).
De acordo com Sampaio et al (2015), através da musicoterapia, o indivíduo experimenta
a música, e participa ativamente, realizando performance, composição e improvisação musical,
além do processo auditivo. Wigram e Gold (2006 apud SAMPAIO, 2015) afirmam que a
musicoterapia favorece a motivação, as habilidades de comunicação e a interação social, além
de melhorar a atenção.
1.3 Prática de Exercícios Físicos
A saúde mental está diretamente relacionada à saúde física, visto que uma afeta a outra
diretamente. Pessoas que sofrem com transtornos mentais estão mais sujeitas a sofrerem com
outros tipos de doenças, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares (SAÚDE DA
24
MENTE, 2017). Por outro lado, tanto as doenças cardiovasculares quanto a obesidade podem
provocar transtornos mentais.
Neste contexto, a prática de exercícios físicos é fundamental para contribuir com a
melhora da saúde física, e consequentemente, da saúde mental. Além disso, segundo o site
Saúde da Mente:
Estudos realizados tanto em animais quanto em humanos sugerem que
exercícios, principalmente os aeróbios (que varia entre baixa e média
intensidade e longa duração), auxiliam na preservação da memória, na
qualidade do sono, no humor, diminuem os níveis de estresse, combatem as
doenças ligadas ao envelhecimento e ainda ajudam a controlar os sintomas de
depressão e ansiedade, tanto em pacientes com algum transtorno psiquiátrico,
quanto na população em geral (SAÚDE DA MENTE, 2017, s.p.).
Ainda de acordo com o site Saúde da Mente (2017), a contribuição dos exercícios físicos
ocorre devido ao aumento de endorfina no sistema nervoso. Endorfinas são produzidas no
cérebro quando o indivíduo pratica a atividade física, e esta provoca sensação de prazer e bem-
estar.
As contribuições vão além do fator biológico, pois promove integração social, ao fazer
com que o indivíduo conviva e faça trocas com outras pessoas e combata a tendência ao
isolamento (SAÚDE DA MENTE, 2017).
1.4 Meditação Mindfulness
Em geral, classifica-se a meditação em dois estilos básicos na visão ocidental:
mindfulness14 e concentrativo (CAHN & POLICH, 2006; DAVIDSON & GOLEMAN, 1977;
apud DELL’AGLIO & MENEZES, 2009). O tipo mindfulness é uma adaptação ocidental,
sendo descrito como uma prática de abertura, onde ocorre percepção dos estímulos, como
pensamentos, sentimentos e sensações, livre de julgamentos e análises (DELL’AGLIO &
MENEZES, 2009).
De acordo com Barros (2013, apud GIRARD & FEIX, 2016), o objetivo do mindfulness
é treinar a mente para que a mesma esteja sempre consciente do que está executando. Ao ser
treinada, a mente passa a reconhecer seu conteúdo mais claramente, e assim, aprende a lidar
14 Mindfulness é a tradução inglesa para a palavra sati, em Pali, que significa “recordar-se continuamente do seu
objeto de atenção” (Siegel, Germer and Olendzky, 2009, apud Barros, 2013).
25
melhor com as emoções.
Segundo Girard e Feix (2016), aprender a lidar com as emoções é uma das causas mais
recorrentes da busca por ajuda psicológica, e dentro deste contexto, a prática do mindfulness
vem ganhando espaço no campo da psicoterapia. Muitas vezes, antes de iniciar a prática da
meditação mindfulness, é preciso treinar a concentração, fazendo com que o indivíduo foque,
primeiro, num só objeto. Este objeto é, normalmente, a própria respiração. No entanto, existem
diferentes práticas, e elas devem se adequar à demanda do indivíduo que busca tratamento.
1.5 Contato com a natureza
Ambientes saudáveis influenciam diretamente na nossa saúde mental. De acordo com
Lundin & From (FROM & LUNDIN, 2009), o impacto da natureza no estado mental do homem
vem sido descrito em vários estudos.
Roger Ulrich (1984, apud DOBBERT & BOCCALETTO, 2015) realizou uma pesquisa
em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos em um hospital na Filadélfia, com o intuito
de avaliar a influência da paisagem proveniente da janela dos pacientes em seu processo de
recuperação. No resultado da pesquisa, os pacientes que tinham suas janelas voltadas para os
jardins precisaram de menos analgésicos e se recuperaram mais rapidamente que os demais.
Podemos perceber, com base no estudo de Ulrich, que a relação entre o indivíduo e o
espaço que o cerca pode ser também uma ferramenta que acelera o processo de cura, e as
paisagens naturais promovem uma melhor sensação de bem-estar.
Kaplan comenta:
O contato com áreas verdes, ainda que recriadas pelo ser humano, porém
conservando as características do meio natural, traz benefícios para a saúde,
como a diminuição do estresse, melhora na realização das atividades laborais
e bem-estar. (KAPLAN & KAPLAN, 1995 apud DOBBERT &
BOCCALETTO, 2015, p.144).
Evidências apontam que quando crianças e adolescentes mantêm contato com a
natureza, ocorre melhora nos níveis de atenção com crianças que sofrem com déficit de atenção,
melhora emocional, cognitiva e de desenvolvimento relacionado com valores (FABER
TAYLOR et al., 2001; KELLERT, 2002 apud DOBBERT & BOCCALETTO, 2015).
26
1.6 Contato com animais e cinoterapia
Partindo do princípio da importância do meio para o bem-estar do ser humano, os
microssistemas presentes neste meio também têm influência direta no comportamento e
sensação do indivíduo, a partir de uma inter-relação dinâmica. Assim, não se pode excluir a
presença de animais como parte importante deste meio.
Segundo Faraco et al (2009), a inclusão de animais em práticas de saúde coletiva ainda
é pouco estruturada, e é uma possibilidade que foi ganhando espaço informalmente. Apesar
disso, manter contato com a natureza e os animais é também uma questão de reencontro com a
própria natureza humana. Sobre isso, Faraco et al afirmam:
A ideia de (re)aproximação à nossa condição natural também reflete a noção
de que nos afastamos dela, ou que somos (ou temos) uma condição bastante
diferenciada das demais espécies, ainda que parecemos “magneticamente”
atraídos por algumas delas (FARACO et al, 2009, p.4).
Ainda de acordo com Faraco et al (2009), somente a partir do ano de 1960 que o
psiquiatra Boris Levinson documentou, a partir de suas observações, que a relação com animais
de companhia deveria ser considerada no cuidado da saúde, pelo valor terapêutico atribuído a
essa relação.
Partindo deste conceito, a cinoterapia foca no cachorro para a realização de terapia que
envolve o contato com os animais. Tal contato melhora crianças com ansiedade e depressão,
visto que estas se sentem amadas, seguras e competentes, capazes de cuidar de um outro ser
(BICHOS..., 2003 apud OLIVEIRA, 2007).
1.7 Jogos e brincadeiras
O ato de brincar e jogar são importantes por estarem diretamente ligados a uma ação
cujo objetivo é o divertimento. A diferença entre brincar e jogar está no fato que a brincadeira
é uma atividade não estruturada, enquanto o jogo requer um conjunto de regras a serem
seguidas.
De acordo com Vygotsky (1991 apud CORDAZZO & VIEIRA, 2007), na brincadeira,
a criança cria um espaço imaginário, onde ela pode, através da fantasia, satisfazer desejos
impossíveis na sua realidade. Ou seja, a mesma nasce de uma necessidade de um desejo
27
frustrado pela realidade.
Além disso, a brincadeira é a atividade principal da infância. Não só devido à frequência
de uso dessa atividade pelas crianças, como também no papel fundamental que o ato exerce no
desenvolvimento infantil (CORDAZZO & VIEIRA, 2007).
Ainda de acordo com Cordazzo e Vieira:
A elaboração criativa no jogo proporciona trocas afetivas e uma convivência
alegre e descontraída, que permite aos envolvidos, trabalharem suas fantasias,
estabelecerem vínculos com o meio-ambiente, no qual estão inseridos e
conseguirem ingressar e participar da vida cultural, viabilizando a emergência
do sujeito social (RIGHETTI, 1996 apud CORDAZZO & VIEIRA, 2007,
p. 91).
Por fim, o brincar não apenas proporciona desenvolvimento físico, intelectual e afetivo.
De acordo com Ramalho (2000, apud CORDAZZO & VIEIRA, 2007), brincar permite a
preservação da cultura e favorece a socialização. Valorizar a brincadeira possibilita o
desenvolvimento da saúde, inclusão e facilita a interação social.
28
2. SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
Como foi visto no capítulo anterior, o campo da saúde mental no Brasil sofreu muitos
avanços nos últimos 27 anos, mas quando pensamos nas crianças e adolescentes, pouco foi
feito. Eles também foram submetidos aos regimes de exclusão, e também sofreram violências
diversas dentro de diferentes instituições e manicômios.
A saúde mental da criança e do adolescente não recebe tanta atenção quanto a dos
adultos. No Brasil, o Ministério da Saúde não apresenta programas que contemplam crianças
e adolescentes com transtornos mentais que não sejam graves. Os casos mais graves ou severos
são assistidos pelos Centro de Atenção Psicossocial para a Infância e Adolescência (CAPSi),
que, de acordo com CAPSi de Campos dos Goytacazes, encaminham crianças e adolescentes
com transtornos emocionais e comportamentais para os ambulatórios. Com isso, acaba sendo
desconsiderada a abrangência do termo saúde mental, restringindo-se apenas ao atendimento
psiquiátrico, negligenciando o atendimento de crianças e adolescentes com transtornos mentais
e comportamentais menos severos.
No entanto, pode-se testemunhar, de acordo com Dias (2009), o cenário da atenção a
crianças e adolescentes no campo da saúde mental, onde coexistem com a atual Reforma
Psiquiátrica, práticas manicomiais capazes de gerar consequências tão devastadoras quanto os
existentes em hospícios. Estigmas e preconceitos ainda cerceiam transtornos mentais,
provocando uma exclusão sutil, muitas vezes dentro da própria família, e principalmente na
instituição escolar. Ainda sobre o assunto, Dias afirma:
Sabe-se que crianças e adolescentes ainda são encaminhadas para instituições
que, sob os significantes de “cuidado e proteção” ou que remetem à ideia de
acolhimento, como “Associação de pais e amigos dos excepcionais”, escolas
especiais, submetem-nas a práticas ortopédico-pedagógicas, tomando como
frente de trabalho o apagamento do sintoma, retirando da criança a
possibilidade de subjetivar suas questões; além de contribuem para a
desassistência no campo da saúde mental (DIAS, 2009, p.3).
Essas instituições trabalham na tentativa de transformação dos comportamentos
“anormais” em “normais”, procurando restabelecer a ordem para aquilo que vai de encontro
aos valores dominantes sobre a “normalidade”. Segundo Dias (2009):
Ao ser considerada como anormal e passível de conserto, não estaria sendo
29
retirada da criança a possibilidade de subjetivar suas questões e criar saídas
singulares para lidar com seu mal-estar, mesmo que uma dessas saídas seja a
loucura? (DIAS, 2009, p.4).
Ainda de acordo com Dias (2009), muitas vezes as questões referentes aos adultos adiam
as discussões sobre crianças e adolescentes, o que contribui para a desigualdade entre os dois
campos de pesquisa. Esta desigualdade não se designa necessariamente à diferença entre os
cuidados oferecidos às crianças e os adultos, mas à prioridade dada ao tratamento do adulto em
detrimento da criança. De acordo com Campos (1992, apud DIAS, 2009):
A submissão do planejamento da área infantil aos projetos referentes aos
adultos, em função de uma concepção que colocava a clínica psiquiátrica da
criança como um decalque da clínica do adulto, relegando historicamente a
estas o mesmo destino dos adultos; o entendimento de que as clínicas e escolas
para “retardados” encobriam todos os problemas mentais na infância; a falta
de peso na difusão de saberes sobre a especificidade dessa clínica que pudesse
mobilizar a própria área de saúde mental e outros setores da saúde e da
sociedade como um todo (CAMPOS, 1992, p. 9 apud DIAS, 2009, p.5).
É possível perceber que o principal problema no tratamento das crianças e adolescentes
está na noção equivocada que se pode oferecer o mesmo tratamento para crianças e adultos. É
necessário repensar o tratamento mental das crianças e adolescentes, atentando-se para o fato
que os sintomas podem se agravar na fase adulta, quando não tratados adequadamente na
infância e adolescência – fases onde parte dos transtornos mentais se manifestam.
A literatura aponta que cerca de 10 a 20% das crianças apresentam problemas de saúde
mental e necessitam de assistência especializada (HALPERN & FIGUEIRA, 2004, apud
SANTOS, 2006). Discute-se ainda que os transtornos mentais em crianças e adolescentes
resultam de falhas nas instituições onde as crianças e os adolescentes estão inseridos ou das
instituições que prestam assistência às mesmas (BOARINI & BORGES, 1998; CABRAL &
SAWAYA, 2001, apud SANTOS, 2006).
A partir de pesquisas bibliográficas, Thiengo et al. (2014) concluem que os transtornos
mentais que prevalecem em crianças e adolescentes são depressão, transtornos de ansiedade, de
déficit de atenção com ou sem hiperatividade, por uso de substâncias e de conduta, associados
principalmente a fatores biológicos, genéticos e ambientais.
Thiengo et al. comentam:
Verifica-se uma carência na atenção à saúde mental infanto-juvenil, não só em
30
países em desenvolvimento, mas também em países desenvolvidos. Assim,
identificar os transtornos mais prevalentes e seus fatores associados pode
colaborar com a melhora na atenção e aumento da oferta de serviços
específicos para população infanto-juvenil (THIENGO et al., 2014, p. 370).
Para que sejam feitos estudos capazes de melhorar a qualidade de vida de crianças e
adolescentes que apresentam transtornos mentais, é preciso reconhecer que tal assunto é
interdisciplinar e complexo, e não há uma área de estudo capaz de oferecer respostas e soluções.
É necessário que haja integração, discussão e pesquisa em diversas disciplinas, na busca de
resultados positivos e satisfatórios, para que haja, verdadeiramente, democracia.
Quando se pensa na criança, não se pode afastá-la do âmbito familiar. Adultos
negligentes, abusos sexuais, violência doméstica, pais alcoólatras ou usuários de drogas,
ausência de figura paterna, materna ou ambos, acabam por influenciar e marcar fortemente a
personalidade da criança, e influir no desenvolvimento ou não de transtornos mentais.
Bechtel (1997, apud CUNHA & GÜNTHER, 2014, p.171) assinala que filhos de
fumantes têm entre 20 a 80% de chance de apresentar problemas respiratórios. Partindo dessa
afirmação, pode-se imaginar o quanto crianças não “herdam”, de forma inconsciente ou passiva
dos adultos que os cercam, e o ambiente no qual está inserido. Ainda de acordo com Bechtel,
“As crianças são menos influenciadas pela aprendizagem e mais influenciadas pela sua
herança” (BECHTEL, 1997, p.46, apud CUNHA & GÜNTHER, 2014, p.172).
Atualmente, atentemo-nos ainda ao desenvolvimento das cidades e do crescimento da
falta de segurança nas ruas. As crianças ficam presas em suas casas, depois presas em suas
instituições de ensino, e, em casa, muitas vezes não se conectam com a família e com a cidade,
devido ao distanciamento cada vez mais frequente, dado ao uso da internet, e falta de segurança
pública.
As crianças crescem em “bolhas”, protegidas por seus pais ou responsáveis, e, muitas
vezes isoladas. As mesmas, como seres sociais, não foram feitas para o isolamento. Tal
comportamento aproxima-as ainda mais à falta de saúde mental. Além disso, os padrões de
beleza e comportamento são cada vez mais exigidos, fazendo com que as crianças e
adolescentes que não se encaixam, sintam-se deslocadas e não-pertencentes aos grupos que os
cercam.
2.1 Transtornos mentais comuns em adolescentes
De acordo com o psiquiatra Josué de Castro (DIÁRIO DO NORDESTE, 2008), os
31
transtornos mentais psicóticos, ou psicose, são aqueles que resultam em perda de contato com
a realidade, e podem ser crônicos ou se manifestar através de surtos psicóticos. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (2002, apud LOPES et al, 2016), cerca 90% dos transtornos
mentais não são psicóticos.
Os transtornos mentais não psicóticos são denominados de Transtornos Mentais
Comuns (TMC). Estes têm prevalência de 20-30% da população geral, e apresentam,
principalmente, sintomas de ansiedade, depressão, além de queixas específicas ou somáticas
(GOLDBERG & HUXLEY, 1992 apud LOPES et al, 2016).
Os TMC em crianças e adolescentes podem ser sintomas iniciais de transtornos mentais
mais severos além de prejudicar as relações sociais e o rendimento escolar (Patel et al, 2007
apud LOPES et al, 2016). O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA),
realizou um estudo de prevalência dos TMC em adolescentes no Brasil, aplicado em municípios
com mais de 100 mil habitantes, nos anos de 2013 e 2014. Para a avaliação, foi utilizado
General Health Questionnaire, versão de 12 itens (GHQ-12), e o resultado da mesma pode ser
verificado no quadro 1.
Quadro 1: Tamanho da amostra, população e prevalências de transtornos mentais comuns nos
municípios com mais de 100 mil habitantes, segundo sexo, faixa etária, natureza da escola e
macrorregião.
Fonte: ERICA, Brasil, 2013-2014 apud LOPES et al, 2016.
A partir deste estudo, pode-se concluir que há grande demanda de adolescentes que
32
apresentam TMC, e estes não são tratados pelos CAPSi, visto que os mesmos encaminham a
maioria dos casos de TMC para ambulatórios, ficando restritos, principalmente, a casos de
gravidade alta ou moderada.
Além disso, o ambiente no qual a criança está inserida deve ser feito para facilitar o
tratamento. Ajudá-la, partindo de estudos feitos em conjunto com a psicologia ambiental,
espaços devem ser feitos e pensados para ela, contribuindo para seu bem-estar. O ambiente
físico, assim como o social, também tem influência sobre o comportamento da criança.
33
3. PSICOLOGIA AMBIENTAL
Para que a arquitetura contribua para a atenção e o cuidado com a saúde mental de
crianças e adolescentes, é necessário entender a Psicologia Ambiental e sua aplicabilidade, com
o objetivo de tornar o espaço construído mais agradável e funcional, contribuindo para
proporcionar o bem-estar de seus usuários.
Segundo Fisher, Bell & Baum (1984, apud GÜNTHER & ROZESTRATEN, 2005), a
psicologia ambiental pode ser definida como o estudo da inter-relação entre comportamento e
ambiente, construído ou natural. A psicologia ambiental é, então, multidisciplinar, integrando
ergonomia, arquitetura, urbanismo, paisagismo, geografia social, sociologia urbana, biologia e
meteorologia, a fim de melhor entender a relação do homem com o meio que o cerca.
Bateson (1986, apud OKAMOTO, 2014) afirma:
Sempre coloquei em minha vida as descrições de varas, pedras, bolas de bilhar
e galáxias em uma caixa, o pleroma15, e deixei-as em paz. Na outra caixa
coloquei as coisas vivas: caranguejos, pessoas, problemas de beleza e
problemas de diferença. (BATESON, 1986, p.15, apud OKAMOTO, 2014,
p.13).
Ainda Bateson (1986, apud OKAMOTO, 2014) explica que a arquitetura muitas vezes
é deixada na primeira caixa, embora devesse estar na segunda, já que apresenta caráter
estruturador das chamadas “coisas vivas”.
O espaço16 transmite estímulos ao ser humano através dos elementos que o compõe.
Então, o indivíduo o percebe – esta etapa entremeia questões relativas ao sujeito17 e ao meio e
é onde se obtém informação. Na próxima etapa, a consciência, as questões relativas ao sujeito
são tratadas, gerando, por consequência, um comportamento determinado (OKAMOTO, 2014).
A figura 1 apresenta uma sistematização deste processo.
A arquitetura encontra-se claramente como agente transformador nas etapas aqui
apresentadas, estando relacionada claramente com o que afirma Merleau-Ponty (1999, apud
SILVA, 2008), percebemos os objetos sempre os relacionando a outros objetos do mundo.
15
Pleroma (do grego πληρόω): significa plenitude. Segundo os Gnósticos, é o lugar de onde viemos e para onde
iremos como espíritos. 16
O espaço refere-se tanto ao ambiente construído quanto ao ambiente natural. 17
O indivíduo e seus elementos subjetivos: a sua bagagem de conhecimento, valores sociais, culturais e crenças.
34
Figura 1: Sistematização do processo de relação Pessoa-Ambiente.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.
O fator determinante da arquitetura dentro deste contexto, está na tentativa de minimizar
possíveis estresses e ansiedades que podem acometer o indivíduo dentro de um ambiente que
causa estranheza. Almeja-se levar espaço aos indivíduos, deixá-los livres para apropriarem-se
do meio onde estão inseridos, respeitando seu território e sua noção de privacidade. A intenção
não é assustar, causar desconforto, mas acolher, provocar aconchego e segurança. Busca-se na
arquitetura coisas não muito diferentes do que se procura em um amigo. Sentir-se confortável
num espaço é o primeiro passo para uma melhor saúde mental.
Quando se pensa em centros de tratamento psiquiátrico ou psicológico, pensa-se em
35
espaços hospitalares, em muros e grades, e até mesmo ao sistema manicomial de tratamento,
devido à prevalência deste sistema por muito tempo no Brasil. Esta organização espacial,
segundo From e Lundin (2009), acaba por gerar no paciente o sentimento de inferioridade,
dependência e aprisionamento. Quando um indivíduo busca atendimento psiquiátrico ou
psicológico, chega ao ambiente ansioso, assustado por causa do ambiente estranho, com medo
de seus sintomas e de estar ficando “louco”. Se este ambiente o intimida num primeiro
momento, a sensação fica.
A psiquiatria humanista deve ser tomada como base quando se pensa em psicologia
ambiental. O ambiente deve proporcionar ao indivíduo potencial de bem-estar, contribuir para
determinados comportamentos, ações e sensações que beneficiem o mesmo.
Tratando-se de crianças e adolescentes, objeto de estudo deste trabalho, deve-se levar
em consideração suas idades, visto que isso influi na interação da mesma com o meio que a
cerca. Assim como estar na presença ou ausência dos pais ou pessoas próximas. O espaço para
receber a criança precisa ser seguro, divertido, interessante e convidá-la a explorar. Para os
adolescentes, a percepção ambiental se faz mais madura, menos diferente, independente da
pessoa que o acompanha. Adolescentes e jovens gostam de se apropriar de ambientes existem
de forma única, expressando-se dessa forma.
Para melhor entender a relação pessoa-ambiente e aplicá-la ao anteprojeto arquitetônico
proposto neste trabalho, precisa-se entender como funciona a apropriação e apego aos espaços
realizados pelos seres humanos.
3.1 Apropriação e apego
A apropriação trata de adequar algo ou um lugar às necessidades pessoais do indivíduo
ou de um grupo, provocando o sentimento de posse de algo como próprio. De acordo com
Ornstein (1995, apud PIMENTEL, 2015), a forma como o indivíduo se apropria do espaço está
diretamente ligado à sua herança e variações culturais. A partir de imagens associativas, a
pessoa atribui significado ao meio onde está inserido.
Conforme afirma Tassara (2004, apud PIMENTEL, 2015), o indivíduo busca nas suas
relações, tanto interpessoais quando ambientais, segurança e conforto, sentimentos que são
associados a noção de lar.
Além de segurança e conforto, muitas outras funções psicológicas são
atribuídas ao lar, e sua importância pode variar dependendo da idade ou do
36
sexo, ou também da etapa atingida no processo de construção do lugar como
um espaço significativo nas vidas dos habitantes. Para se obter uma teoria
mais abrangente do desenvolvimento afetivo, o apego talvez pudesse ser
melhor conceituado como um “componente” de diferentes vínculos, em vez
de um laço específico (TASSARA, 2004, p. 100 apud PIMENTEL, p.26).+
Ainda segundo Tassara (2004, apud PIMENTEL, 2015), pode ocorrer a necessidade de
autoexpressão no ambiente. A personalização do espaço é importante para a ligação do lugar a
pessoa que ali frequenta.
A proposta deste trabalho é de criar um centro de convívio pra crianças e adolescentes
que sofrem de transtornos mentais comuns (TMCs), onde os mesmos passarão um curto período
de tempo. No entanto, é imprescindível que ocorra a apropriação e o apego dos mesmos com o
espaço, para que este processo de aprendizado e recuperação do bem-estar ocorra de forma
completa, dentro de um ambiente que seja familiar e seguro para os mesmos. Dentro deste
contexto, deve-se permitir a personalização dos ambientes pelas pessoas que frequentarão o
espaço, a caracterização e demarcação de território.
Reconhecendo a Psicologia Ambiental como locus privilegiado na interseção entre os
campos da Arquitetura e da Psicologia, este trabalho procura realizar o esforço de projetar uma
edificação que considere, em especial, a relação pessoa-ambiente. Em face disso, a palavra
“percepção” passa a ser uma das palavra-chave para o desenvolvimento desse Centro de
Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes.
3.2 Percepção ambiental e arquitetura
A percepção consiste na interpretação dos estímulos que o homem recebe do meio que
o cerca, através dos sentidos. Assim, a percepção ambiental é a interpretação dos estímulos do
ambiente que o rodeia, e está diretamente relacionada com a arquitetura e os elementos que
compõe o interior das edificações.
Visto que o presente trabalho se trata de uma proposta de anteprojeto para um Centro
de Tratamento Psicológico, no qual, a saúde mental é o foco, deve-se levar em consideração
que as ações que acontecem na mente humana não estão relacionadas no cérebro somente. De
acordo com Ackerman (1992, apud OKAMOTO, 2014), a mente humana não está limitada ao
cérebro:
A maioria das pessoas pensa na mente como localizada na cabeça, mas as
37
últimas descobertas da fisiologia afirmam que a mente não se encontra
exatamente no cérebro, mas percorre o corpo em caravanas de hormônios e
enzimas, ocupadas em dar sentido às maravilhas que catalogamos como tato,
paladar, olfato, audição e visão. (ACKERMAN, 1992, p. 19, apud
OKAMOTO, 2014, p. 80).
A partir deste conceito, o estudo de alguns sentidos do ser humano e de como o
indivíduo percebe o ambiente que o cerca, faz-se interessante para melhor compreender e tomar
decisões projetuais no processo da criação de uma arquitetura que provoque bem-estar. Sobre
a relação entre arquitetura e os sentidos, Serra (1999 apud ALVES, 2006) completa:
Acostumados a definir arquitetura como forma geométrica, o espaço como
proporção e a edificação como função e uso com um valor estético associado,
esquecemos com frequência a possibilidade de valorizá-la também em termos
de energia, como soma total de luz e cor, som, temperatura e qualidade do ar
(SERRA, 1999, s.p., apud ALVES, 2006, p. 120).
Para a valorização do espaço em termos de energia, busca-se entender como se dá a
percepção humana do ambiente, a partir dos sentidos.
3.2.1 Visão, iluminação e cores
O ser humano só é capaz de enxergar as cores, relacionadas à presença da luz, que é
refletida pelos objetos. A visão, de acordo com Okamoto (2014), ocupa 87% das atividades
envolvendo os cinco sentidos, fazendo com que o indivíduo tenha a impressão de que a
realidade é aquilo que vê. A missão instintiva da visão é localizar e reconhecer possíveis
ameaças à segurança.
Ainda conforme Okamoto (2014), há níveis de percepção, que ocorrem de forma
gradativa, na visão, sendo elas: i) a configuração dos objetos e dos seres (silhuetas); ii) a visão
do volume (luz e sombra); iii) a sensação de peso (textura e padrão). Ao utilizar luz e cores, a
arquitetura pode explorar a percepção do ser humano, provocando as sensações e
comportamentos desejados para cada ambiente.
A iluminação, tanto artificial quanto natural, é importante para a qualificação dos
espaços construídos. A luz beneficia o estado fisiológico e psicológico do indivíduo.
Construções que valorizam o contato com o exterior garantem o conforto visual, térmico e
psicológico do ser humano. Além disso, biologicamente, a luz natural, proveniente de átrios,
38
janelas e zenitais (figura 2), é a melhor para os ambientes internos. (VASCONCELOS, 2004
apud PIMENTEL, 2015).
De acordo com Del Rio, Duarte e Rheingantz (2002 apud LETTIERI, 2013), excesso
de iluminação, por outro lado, pode gerar ofuscamento e excesso de ganho de calor aos usuários,
provocando sensações desagradeis, como estresse, caos, e estes evitarão visitar tais locais.
Pode-se concluir então que a luz pode trazer benefícios e malefícios, dependendo de como é
utilizada, e qual a função do ambiente que está sendo projetado.
Figura 2: Exemplos de iluminação natural utilizada em ambientes internos.
Fonte: BARROS et al, 2005.
As cores só existem porque existe luz. Segundo Pimentel (2015), estudos científicos
comprovam o efeito das cores no estado psicológico dos indivíduos. “Elas têm a propriedade e
a habilidade de despertar sensações e definir ações e comportamentos, além de provocar reações
corporais e psicológicas” (MANAIA, 2011, p.74 apud PIMENTEL, 2015, p.33).
As cores podem ser classificadas como quentes ou frias (figura 3). Conforme
Vasconcelos (2004 apud PIMENTEL, 2015), Modesto descreve que as cores quentes são
relacionadas com a agitação, e transmitem proximidade, calor, opacidade e secura, enquanto as
frias são calmantes, provocam a sensação de distância, frieza, leveza, umidade e transparência
Figura 3: Espectro visível das cores.
Cores quentes Cores frias
Fonte: VASCONCELOS, 2004 apud PIMENTEL, 2015.
3.2.2 Olfato
O olfato também é um sentido utilizado de forma persistente, levando em consideração
39
que a respiração é vital. Okamoto (2014), comenta que “(...) as fragrâncias têm sido por séculos
uma forma de nos dar prazer e simpatia com relação ao ambiente e às pessoas. A simpatia, ou
empatia, começa com o cheiro” (OKAMOTO, 2014, p.86).
O olfato está próximo do sistema límbico, e tem uma forte ligação com os sentimentos.
De acordo com Hirsch (WEISS, 1995 apud OKAMOTO, 2014), o olfato afeta o humor, a
memória a habilidade de resolver problemas, o apetite sexual e a escolha de parceiros.
Cheiros desagradáveis aceleram a respiração e os batimentos cardíacos, enquanto os
agradáveis reduzem o estresse. Sendo assim, a utilização de plantas e do paisagismo para
beneficiar os usuários através do aroma se faz muito positiva, além de purificarem o ar, através
da absorção de toxinas, alegram o ambiente e aumentam o contato com a natureza
(VASCONCELOS, 2014 apud PIMENTEL, 2015).
3.2.3 Paladar
Conforme explica Okamoto (2014), o cotidiano dos seres humanos também está
relacionado ao paladar. O alimento é a fonte de energia, sendo, portanto, essencial para a
existência. Por instinto, a criança já nasce sabendo mamar, e enquanto cresce, acaba por levar
tudo à boca, por ser o primeiro sentido que desenvolve. Além disso, o ato de comer está
diretamente relacionado com o contato com o outro. Ainda Okamoto (2014), comenta:
(...) devido ao atual estilo de vida, todos os membros da família saem de casa:
os pais vão para o trabalho, as crianças, à escola e a outras atividades sociais
ou esportivas. Esse fato tem ocasionado desencontros, fragmentando o
convívio familiar. Algumas famílias conseguem reunir-se uma vez por dia, à
hora do jantar (no meio urbano). Quando existe. (OKAMOTO, 2014, p.86)
O ambiente onde ocorre a alimentação deve ser devidamente elaborado, pensado
cuidadosamente, a fim de proporcionar interação social a partir do ato de comer. Questões como
iluminação, dimensão da mesa e altura do encosto da cadeira são importantes para criar uma
ambiência confortável.
3.2.4 Tato, sentido háptico e conforto térmico
De todos os sentidos, o tato é o maior em extensão. O corpo humano é revestido de pele,
e por toda a extensão da mesma, é possível sentir tudo que entra em contato com ela. Através
40
da visão o indivíduo tem acesso a parte superficial dos elementos, enquanto que, através do
tato, pode entrar em contato com a ampla realidade do meio em que vive. Quando toca a
superfície, a pessoa sente a interiorização do objeto. Sentir o tato é o que define o corpo humano
no meio que o cerca, e é como este sente a existência de si (OKAMOTO, 2014).
De acordo com Montagu (MONTAGU, 1988), há vários sentidos táteis que são
definidos por tato, como pressão, dor, prazer, temperatura, fricção, informações que são
recebidas pelos músculos ao realizar movimentos e assim por diante. Para descrever o tato a
partir de sua extensão mental, utiliza-se o termo háptico. Bloomer e Moore (1975, apud
OKAMOTO, 2014) argumentam:
(...) o sentido háptico é o sentido do toque reconsiderado para incluir o corpo
todo, em vez de somente os instrumentos de tato como são, por exemplo, as
mãos. O sentido háptico não é outra coisa senão o sentido do tato ampliado.
Como sistema perceptivo, o sistema háptico inclui todas aquelas sensações
(pressão, calor, frio, dor e cinestesia) em que previamente se havia dividido o
sentido do tato e, consequentemente, todos aqueles aspectos de percepção
sensível que têm a ver com o contato físico dentro e fora do corpo
(BLOOMER & MOORE, 1995, p. 46, apud OKAMOTO, 2014, p. 95).
O sentido háptico é imprescindível para que o ser humano assegure sua integridade
física, devido à percepção de perigo, e o sentimento de dor e calor, que impedem o indivíduo
de sofrer queimaduras graves ou insistir em uma atividade que provoca dor. Além disso,
Okamoto (2014) afirma que “(...)o entorno exerce também importância sobre nós. A harmonia,
a suavidade ou a agressividade do meio ambiente reflete sobre nosso sistema háptico, sobre a
nossa sensibilidade” (OKAMOTO, 2014, p. 96).
Dentro do sistema háptico, encontra-se o conforto térmico. É através da pele que o calor
ou frio é percebido no ambiente, e este é essencial para a sobrevivência do ser humano. O papel
da arquitetura, é de suma importância que o projeto apresente soluções para proporcionar
conforto térmico aos usuários. De acordo com Okamoto (2014), o cérebro trabalha melhor em
temperaturas mais frias do que quentes. Desta forma, é preciso trabalhar medidas que
minimizem o impacto do clima da região em que se pretende implantar um projeto
arquitetônico.
3.2.5 Audição
O ouvido está permanentemente aberto, logo, a audição está diretamente relacionado à
41
segurança, até mesmo quando o indivíduo está dormindo, a comunicação oral, e ao sentido de
equilíbrio. Qualquer som que destoe ao fundo sonoro do ambiente onde está inserido, provoca
tensão e insegurança à pessoa (OKAMOTO, 2014).
Os sons afetam o bem-estar do ser humano. Alguns sons provocam prazer, enquanto
outros, estresse e desconforto. Nos aspectos arquitetônicos, pode-se trabalhar o tratamento
acústico e utilização de barreiras acústicas e visuais na elaboração do interior da edificação, e,
no paisagismo, trabalhar elementos que possam provocar sons relacionados a relaxamento,
como de água ou folhas de árvore balançando ao vento.
3.2.6 Sentido proxêmico, barreiras visuais e acústicas, mobiliário e nichos
Segundo Davis (apud OKAMOTO, 2014), Hall criou o termo proxemia e o definiu
como o estudo da estruturação inconsciente do microespaço humano. É a relação dos
indivíduos com as pessoas e o espaço que os cercam, as distâncias que promovem comunicação,
contato e interação interpessoais de forma a não causar estranhamento ou incômodo aos
mesmos.
Okamoto (2014) acrescenta que “Todo homem tem necessidade do espaço territorial, e
a utilização desse espaço influencia seu relacionamento com os outros” (OKAMOTO, 2014,
p.112). No estudo do sentido proxêmico, o espaço é dividido em quatro categorias: íntimo,
pessoal, social e público. Trataremos dessas categorias para melhor compreender a vivência
espacial do homem, e as distâncias confortáveis entre os indivíduos para que possam se
relacionar em um ambiente social. Tais distâncias variam de acordo com a cultura dos povos.
As distâncias apresentadas neste trabalho são aplicadas ao povo brasileiro.
O espaço íntimo, de acordo com Okamoto (2014), possui distância de 0 a 45 cm. A essa
medida, acontecem relações interpessoais íntimas, como as que acontecem entre parceiros
amorosos e a relação entre a mãe a criança, pois há contato físico direto, ou a possibilidade de
haver. Dependendo da cultura, também pode acontecer com pessoas próximas. Na cultura
brasileira, a proximidade física com familiares e amigos é comum, ocorrendo abraços, e
conversas mais próximas em determinadas ocasiões. Quando não se tem intimidade, esta
proximidade torna o contato embaraçoso.
Segundo Okamoto (2014), o espaço pessoal é entendido como uma bolha que cerca o
indivíduo, e a distância para que ocorram as relações pessoais está no intervalo entre 45 e 120.
Sommer (1973, apud OKAMOTO, 2014), explica sobre a bolha:
42
O espaço pessoal refere-se a uma área com limites invisíveis que cercam o
corpo da pessoa, e na qual os estranhos não podem entrar. (...) não tem
necessariamente a forma esférica, nem se estende igualmente por todas as
direções. Ela se ajusta conforme situações de presença de outras pessoas no
local. (SOMMER, 1973, p. 32, apud OKAMOTO, 2014, p.113).
Ainda de acordo com Okamoto (2014), essa bolha desaparece em algumas situações,
como escuro ou na intimidade, e se faz presente, instintivamente, na presença de qualquer outro
ser.
Gifford (1997, apud BARROS et al., 2005) defende que o espaço pessoal é
influenciado por questões pessoais (gênero, idade e personalidade), questões físicas, sociais
(medo, segurança, atração e relações de poder e status), religiosas, étnicas e culturais.
Pode-se concluir, então, que a bolha do espaço pessoal funciona como um escudo que
protege o indivíduo das pessoas que os cercam, fazendo com que este entre em alerta para
proximidades que provocam estranheza.
O espaço social ocorre onde são tratados assuntos impessoais. É utilizado nas relações
entre empregado e empregador e para tratar de negócios. A distância mantida para que essas
interações aconteçam estão entre 120 e 365 cm. Essa distância também é utilizada para
organização de espaços de trabalho, para que os funcionários continuem trabalhando, sem
permitir assuntos pessoais, e também para apresentar relação de status e poder (OKAMOTO,
2014).
De acordo com Sommer (1973, apud OKAMOTO, 2014), a distância entre 200 e 365
cm é utilizada para relações formais ou de negócios, ocorrendo apenas contato visual. Quando
o indivíduo deixa de olhar, ocorre a exclusão do outro. Ainda Sommer (apud OKAMOTO,
2014), realizou um estudo com estudantes dispostos em diferentes arranjos físicos a fim de
constatar como a posição do indivíduo influi nas interações interpessoais que o mesmo realiza.
No quadro 2, pode-se observar a preferência dos estudantes por posições em mesas.
Quadro 2: Preferência por posições em mesas.
Disposição
Assentos
Condição 1
Conversar
Condição 2
Cooperar
Condição 3
Ação
Condição
Competição
42 19 3 7
43
46 25 32 41
1 5 43 20
0 0 3 5
11 51 7 8
0 0 13 18
100 100 100 100
Fonte: Sommer (1973, p. 78, apud OKAMOTO, 2014). Modificado pela autora.
A arquitetura de interiores apropria-se dos arranjos físicos estudados por Sommer, e das
distâncias sociais para criar ambientes impessoais. Okamoto (2014) comenta que:
[...] a distância entre as cadeiras nas salas de estar em espaços públicos, como
aquelas utilizadas nos aeroportos, não permitem conversas íntimas e normais.
Isso é feito para tornar o ambiente impessoal, típico de salas de espera em
clínicas, onde o silêncio impera (OKAMOTO, 2014, p.118).
O espaço público é aquele onde, de acordo com Hall (1966 apud OKAMOTO, 2014),
uma pessoa pode perceber o outro, e adotar uma postura de fuga ou defesa, se ameaçada. Este
compreende a distância entre 350 a 750 cm. Nessa distância, as conversas ocorrem com voz
relativamente alta.
O sentido proxêmico, que pode ser entendido como as distâncias interpessoais,
demonstram o tipo de relacionamento existente entre dois ou mais indivíduos. No quadro 3, as
distâncias interpessoais são apresentadas de forma resumida. A partir da definição dos espaços
e distâncias que o homem, de forma inconsciente, impõe para as suas relações com os outros,
pode-se perceber a noção da extensão do Eu. A partir do entendimento da extensão do
indivíduo, que deixa de atuar apenas no corpo, e passa a atuar também no espaço que o cerca,
pode-se entender a apropriação espacial do homem do ambiente no qual está inserido, e o apego
que o mesmo estabelece com o meio.
44
Quadro 3: Distâncias interpessoais.
Distância Preferência Dimensão (cm) Conversação
Íntima Próxima
Longe
De 0 a 15
De 15 a 45
Sussurro audível
Conversação Íntima
Pessoal Próxima
Longe
De 45 a 75
De 75 a 120
Voz moderada
Participação Pessoal
Social Próxima
Longe
De 120 a 220
De 220 a 365
Assunto impessoal
Negócio formal
Pública
Próxima
Longe
De 365 a 730
> 750
Discurso formal
Declaração pública
Manifestação
Fonte: OKAMOTO, 2014. Modificado pela autora.
Para aplicar o sentido proxêmico no projeto de arquitetura e interiores, pode-se utilizar
barreiras visuais e acústicas, os mobiliários e os nichos para influenciar a inter-relação entre os
usuários. As barreiras visuais e acústicas (figura 4) preservam a privacidade, promovem a
interação social, ou isolam o usuário do espaço. De acordo com Barros et al (2005), quando
móveis, essas barreiras também contribuem para a maior adaptabilidade do ambiente, além de
poder representar status, separando usuários ou grupos dos demais.
Figura 4: Possíveis barreiras visuais e acústicas.
Fonte: BARROS et al, 2005.
45
Os mobiliários flexíveis adaptam-se de acordo com as atividades que serão
desenvolvidas no ambiente (BARROS et al, 2005). Ao pensar no tipo de mobiliário empregado
para o interior da edificação, deve-se pensar nos espaços íntimo, pessoal, social e público, além
da preocupação com a ergonomia. As dimensões dos mobiliários podem facilitar interações
sociais, ou impor barreiras que impossibilitam ou dificultam a comunicação (figura 5).
Figura 5: Mobiliários e a preocupação com as dimensões.
Fonte: BARROS et al, 2005.
Os nichos podem ser classificados como: fixos (inclusos na edificação), ou flexíveis
(que podem se adaptar ao ambiente, utilizando móveis). Estes funcionam como fechamentos
ou conchas (figura 6), criando espaços íntimos, que acabam por provocar interações
interpessoais, e destacam o espaço pessoal (BARROS et al, 20015). Além disso, os nichos
podem melhorar o bem-estar quando o indivíduo se alimenta, relacionando-se diretamente com
o paladar.
Figura 6: Exemplos de nichos sociopetos.
Fonte: BARROS et al, 2005.
46
3.2.7 Sentido de movimento e amplidão
Le Boulch (1987, apud OKAMOTO, 2014) afirma:
(...) os organismos vivos estabilizam sua própria composição, orientam a
natureza menos complexa que os rodeia. Portanto, o organismo nunca é um
sistema em repouso, mas é sempre a sede de uma atividade: a necessidade de
ação é a própria necessidade de viver. (..) é o movimento que confere ao
comportamento seu caráter de ação, por oposição à simples reação
condicionada (LE BOULCH, 1987, p.21, apud OKAMOTO, 2014, p. 99).
O ser humano, está, portanto, em constante movimento, em processo de ação e reação
ao ambiente que o cerca. Deve-se atentar ao fato que o movimento ocorre no espaço vazio, onde
não há elementos. Segundo Okamoto (2014):
É no espaço entre as coisas que nos movimentamos, atuamos, vivemos. Esse
espaço, com sua significação, sua importância e o valor a ele atribuído, conduz
à ação e é nele que se realizam todas as atividades. (OKAMOTO, 2014, p.
105).
De acordo com Okamoto (2014), a intensidade da circulação de pessoas tem influência
direta nos ambientes próximos, atraindo ou inibindo a saída das pessoas para fora, dependendo
da abertura dessas salas. Maior abertura torna o espaço sociofugo, enquanto menor abertura faz
com este seja sociopeto. Segundo Hall (1966, apud OKAMOTO, 2014), Osmond criou os
termos sociofugo e sociopeto, estando o primeiro relacionado a ambientes que tendem a manter
as pessoas afastadas, e o primeiro a ambientes que tendem a unir as pessoas.
Ainda conforme Okamoto (2014):
A criação do espaço arquitetônico é a criação do espaço vivencial, tanto para
o indivíduo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento
de uma atividade para outra. (OKAMOTO, 2014, p. 101)
O sentido de movimento está intimamente ligado à ergonomia dos espaços, dimensões
que proporcionam comodidade aos indivíduos ao se movimentar, e amplidão. Segundo Barros
et al (2005), o ambiente que permite o ajuste de tais distâncias de acordo com as circunstâncias,
caracteriza-se como amplo (figura 7).
47
Figura 7: Ambiente amplo e indicação de circulação de pessoas.
Fonte: BARROS et al, 2005.
Alta incidência de iluminação, cores claras em materiais de acabamento e pé direito
alto, ou ambientes descobertos e/ou sem paredes transmitem a sensação de amplidão. Ainda
assim, desde que não comprometam a sensação de amplidão, nichos e mobiliários podem ser
utilizados para proporcionar sensação de intimidade em ambientes amplos (BARROS et al,
2005). Para Hall (apud BARROS et al, 2005), ambientes amplos são aqueles que permitem o
usuário caminhar de um canto a outro.
48
4. REFERENCIAIS PROJETUAIS
Neste capítulo são apresentados os referenciais funcionais, tipológico, plástico e
tecnológico que serviram como inspiração para o desenvolvimento do projeto apresentado neste
trabalho.
4.1 Referenciais Funcionais
4.1.1 Östra Psychiatry Hospital
Ano do projeto: 2006
Local do projeto: Östra Sjukhuset, Göteborg, Suécia
Autor do projeto: White Arkitekter
O principal objetivo do Hospital Psiquiátrico Östra (Figura 8) foi de quebrar o estigma
associado aos hospitais psiquiátricos. O ambiente institucional e com portas trancadas é visto
como o oposto do que os arquitetos responsáveis entendem como “arquitetura de cura”. O Östra
ganhou um prêmio denominado Care Building Prize em 2007, e o autor do projeto, Stefan
Lundin, vem se dedicado à pesquisa de Psicologia Ambiental desde então.
Figura 8: Östra Psychiatry Hospital.
Fonte: ARCHITIZER, 2017
49
Os jardins são entendidos como o coração do projeto, sendo local de encontro dos
pacientes. O hospital não apresenta longos corredores e não é associado a prisão. A escolha de
materiais e o design de interiores se deu a partir de preceitos intimistas. Pode-se observar
(Figura 9) o uso da madeira e de cores para criar situações de conforto e aconchego.
Figura 9: Interior do Östra Psychiatry Hospital – Madeira.
Fonte: ARCHITIZER, 2017.
Projetado para transmitir a sensação de calma, o hospital apropria-se de iluminação
natural (Figura 10) e de quartos individuais, para que o paciente sinta sua individualidade e
tenha um “ninho”. Sobre o espaço, From e Lundin afirmam:
Pequenez de escala, um exterior atraente, pequenas unidades de cuidado que
fornecem, tanto aos pacientes quanto aos funcionários, quartos privados, o
bom acesso ao cenário natural, e a cor e o projeto que promovem o processo
de cura (FROM & LUNDIN, 2009, p.21 – tradução realizada pela autora).
Figura 10: Östra Psychiatry Hospital - Uso da iluminação artificial e natural na criação de espaços.
Fonte: ARCHITIZER, 2017.
50
O programa do hospital compreende, em seu primeiro andar, o hall de entrada, a área
administrativa e a área de atendimento à emergência. No segundo pavimento, há o acesso de
ambulâncias, a continuação da área de emergência, os arquivos e os vestiários. No terceiro,
encontra-se o café, a cozinha, as unidades de tratamento, área de terapia funcional e
treinamento, facilidades para lecionar, avaliação de remédios, e salas de contemplação. No
quarto pavimento, há salas de treinamento, a gerência, a administração e unidades de
tratamento. Em um bloco conectado ao primeiro prédio, encontra-se sala de reciclagem,
escritórios, serviços, salas de terapia e consultas, recepção, estação de unidades de tratamento,
átrio, salão, cozinha, despensa, sala de jantar, sala de atividades, salão de uso comum, quartos
de pacientes com duas camas, quartos de paciente com válvula de isolamento, vestiário, loja,
sala de reunião e trabalho em equipe, sala de tratamento, sala de retenção, sala dos funcionários,
sala de utilitários sujos, sala de utilitários limpos, lavanderia e depósito. No projeto destacam-
se suas aberturas e vistas para os jardins (Figura 11).
Figura 11: : Interior do Östra Psychiatry Hospital – iluminação natural através de painéis de vidro, e
utilização de jardins internos.
Fonte: ARCHITIZER, 2017.
A escolha deste projeto como referencial funcional se deu a partir da aproximação do
mesmo com a psiquiatria humanista, tendo como objetivo fugir do sistema manicomial e
respeitar o espaço do indivíduo e dos funcionários. A integração entre o espaço construído e a
natureza proporcionam bem-estar e cuidado com o indivíduo em tratamento. A proposta foi
pensada de forma que pudesse contribuir ativamente para o processo de melhorar a saúde
mental das pessoas que trabalham ou são atendidas no local.
51
4.1.2 Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos
Ano do projeto: 2010
Local do projeto: Barcelona, Espanha
Autor do projeto: Aldayjover Arquitectura y Paisaje
A Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos (Figura 12) encontra-se entre
duas torres gêmeas de 10 andares. No entanto, no lote onde foi inserido, só é possível construir
até 3 pavimentos. Devido as normas urbanísticas, esta edificação não pode ser rodeada de
jardins, que seria ideal pela tipologia, então, optou-se por fazer uma circulação que rodeasse
um jardim interno.
Figura 12: Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Os usos fundamentais foram estruturados por nível, não por bloco. A maior parte do
centro dia encontra-se no térreo, o que possibilita maior integração com o pátio interno, e
garante a privacidade dos usuários, como pode ser observado na figura 13.
52
Essa edificação foi selecionada para fazer parte dos referenciais Funcionais devido ao
seu programa, que se relaciona com a proposta projetual deste trabalho. No subsolo, concentra-
se: serviços gerais, estacionamento e instalações de apoio e uso de funcionários. No térreo está
o ginásio, refeitório e as dependências menores e de uso ocasional. Há um mezanino que abriga
todos os escritórios (médicos, psicólogos e salas de visita). Nos pavimentos acima estão as 3
residências, e no terceiro andar encontra-se a área para instalações (ARCHDAILY, 2017).
Figura 13: Implantação e Planta Térrea da Residência e Centro dia.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
4.2 Referencial Tipológico
4.2.1 Nova Escola Municipal em Frederikshavn
Ano do projeto: 2012
Local do projeto: Frederikshavn, Dinamarca
Autor do projeto: Arkitema Architects
A nova escola municipal em Frederikshavn (Figura 14), foi implantada em forma de
estrela, fazendo com que todas as salas de aula da escola pudessem receber luz e ventilação
naturais, além de facilitar o acesso ao pátio.
53
Figura 14: Nova Escola Municipal em Frederikshavn.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Esta escola, como referencial tipológico, apresenta implantação interessante, fazendo
com que a construção se abra completamente no terreno, como pode ser visto em sua planta de
implantação na figura 15. A forma de estrela, com os ambientes voltados para a área externa,
acaba por unir a construção com o terreno.
Figura 15: Implantação da Nova Escola Municipal em Frederikshavn.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Outros fatores que contribuíram para a escolha desde projeto como referencial
tipológico foram a predominância horizontal que a escola apresenta, e a existência de uma praça
central de convivência, que pode ser acessada a partir de todos os departamentos da mesma.
54
4.3 Referencial Plástico
4.3.1 Casa da Criança
Ano do projeto: 2014
Local do projeto: Briis-sous-Forges, França
Autor do projeto: MU Architecture
A Casa da Criança (Figura 16) surgiu como a proposta de se misturar no bosque que o
rodeia, deixar com que a criança sinta o cheiro da natureza, as mudanças provenientes das
estações do ano, e que pudesse observar a sombra das árvores de dentro das suas salas de aula.
A estrutura da escola é curvilínea, acompanhando o desenho formado entre as árvores.
Figura 16: Casa da Criança.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Como referencial plástico, a casa da criança foi escolhida devido ao uso predominante
da madeira, e de sua proposta de se misturar com a natureza que a rodeia, adotando formas
curvilíneas como pode ser visto em sua implantação (Figura 17), possibilitando ao usuário a
integração com o ambiente externo a partir de qualquer ambiente.
55
Figura 17: Implantação da Casa da Criança.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Além disso, construção reflete um caráter natural e poético do entorno no qual está
inserido, sendo dependente da natureza que o cerca, para que seus grandes vãos (Figura 18)
possam enquadrar a paisagem natural do entorno. Pode-se dizer que a arquitetura ocupa o papel
de coadjuvante.
Figura 18: Imagem interna da Casa da Criança.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
56
4.4 Referencial Tecnológico
4.4.1 Pavilhão da Expo Flora Taipei
Ano do projeto: 2010
Local do projeto: Cidade de Taipei, Taiwan
Autor do projeto: Bio-architecture Formosana
Os Pavilhões da Expo Flora Taipei (figura 19) integram arte arquitetônica e tecnológica,
estendendo-se sobre o terreno respeitando as árvores existentes. Pode-se encontrar um sistema
inteligente de controle das aberturas, dos elementos de sombreamento e nos sistemas de ar
condicionado.
Figura 19: Pavilhões da Expo Flora de Taipei.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Na cobertura, também se encontra a alta tecnologia aplicada: a estufa utiliza isolantes
transparentes para ajudar na fotossíntese das plantas, e uma espécie de cortina ajusta a luz
interna automaticamente, de acordo com o tempo. Além disso, há painéis solares que
proporcionam energia alternativa, reduzindo as emissões de gás carbônico.
A temperatura interna é reduzida por causa da parede de gotejamento da estufa. O hall
foi equipado com ventiladores de umidade, que vaporizam água no ambiente e resfriamento de
piso em vez de ar condicionado. A cobertura verde reduz o efeito de ilha de calor, e a vegetação
nas laterais do pavilhão, como pode-se observar na figura 20, contribuem com a baixa
manutenção e isolamento térmico (ARCHDAILY, 2017).
57
Figura 20: Pavilhões da Expo Flora de Taipei – vegetação nas paredes.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
A escolha do referencial tecnológico se deu a partir de uma construção
sustentável que pudesse ser exemplo de tecnologias que podem ser aplicadas no projeto,
como os painéis solares nas fachadas inclinadas no pátio, e o recolhimento de água da
chuva para tanque de purificação (Figura 21), onde a flora aquática absorve metais
pesados na água e demais elementos aceleram a precipitação de contaminantes,
purificando a água naturalmente.
Figura 21: Pavilhões da Expo Flora de Taipei – purificação da água da chuva.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
58
5. O PROJETO ARQUITETÔNICO
A proposta de anteprojeto, objeto de estudo deste trabalho, é um Centro de Tratamento
Psicológico para Crianças e Adolescentes. Este Centro visa a promoção de bem-estar através
de terapias tradicionais e complementares, e se difere dos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPs) por ser voltado principalmente para casos de transtornos mentais de baixa intensidade,
e os chamados Transtornos Mentais Comuns (TMC), que são subdiagnosticados, e
negligenciados, principalmente em áreas carentes. Além disso, os Centros de Convivência
fazem parte da rede de atenção psicossocial, que ainda está em expansão na cidade de Campos
dos Goytacazes.
Neste capítulo, o anteprojeto arquitetônico será apresentado, seguindo a ordem de seu
desenvolvimento. Serão apresentados o terreno pensando na implantação do anteprojeto, o
conceito e partido do mesmo, seu programa de necessidades e pré-dimensionamentos,
setorização, fluxograma, implantação, as plantas baixas e os principais estudos realizados
durante sua evolução.
5.1 Localização
O terreno escolhido para elaboração do anteprojeto do Centro de Tratamento está
situado na cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, Brasil (Figuras 22
e 23). Sua fachada frontal está voltada para a Rua Antônio Manoel, sua fachada posterior está
voltada para a Rua Princesa Isabel, que já possui previsão de prolongamento até a Av. Dr.
Arthur Bernardes, sua lateral direita está voltada para a Rua José Ildefonso E. Campos, e a
esquerda para a Av. Dr. Arthur Bernardes. Pode-se utilizar terrenos semelhantes para a
implantação do projeto.
A escolha do terreno se deu principalmente pela localização, estando próximo de duas
vias arteriais, a Av. 28 de Março, distante cerca de 270 m, e a Av. Dr. Arthur Bernardes, para
onde está voltada uma das fachadas, facilitando o acesso ao mesmo. Além disso, o terreno é
amplo, permitindo a horizontalidade da edificação, e o contato com a natureza, e está em um
bairro tranquilo, predominantemente residencial, para fugir do estresse que centros urbanos
costumam transmitir.
59
Terreno
Figura 22: Localização do Estado do Rio de Janeiro no Mapa do Brasil e Localização da cidade de
Campos dos Goytacazes no Mapa do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Figura 23: Localização do terreno no mapa de Campos dos Goytacazes e uma ampliação com a
marcação do terreno (com prolongamento previsto da Rua Princesa Isabel).
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
60
5.1.1 Legislação
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo do município de Campos dos
Goytacazes, o terreno está situado na Zona Residencial 4. É possível observar, nas figuras 24 e
25, a delimitação do terreno no Mapa de Uso e Ocupação do Solo e os principais eixos. O
Centro de Tratamento Psicológico na ZR-4 (Zona Residencial 4) deve estar em um Eixo Local.
A Rua Antônio Manoel, via principal de acesso ao Centro, é um eixo de comércio e
serviço (ESC-1), destinada ao comércio e serviço local e ao uso residencial unifamiliar e
multifamiliar. Sendo assim, o terreno escolhido está em conformidade com as leis municipais.
A taxa de ocupação nos terrenos da ZR-4 é de 80%, de acordo com o Anexo II da Lei de Uso e
Ocupação de Solo, e o coeficiente de aproveitamento é 3,5.
Ainda segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo, um empreendimento com o grau de
impacto do Centro está sujeito a um Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança, devido ao tráfego
que pode ser gerado a partir dele, tanto de veículos como pessoas, que afetará o entorno.
Figura 24: Terreno no Mapa de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes.
Fonte: Mapa de Uso e Ocupação do Solo (2008). Modificado pela autora.
61
Acesso principal
Figura 25: Legenda de Eixos do Mapa de Uso e Ocupação do Solo.
Fonte: Mapa de Uso e Ocupação do Solo (2008). Modificado pela autora.
5.1.2 Acessos
O terreno é cercado por três vias, porém, como existe a previsão de prolongamento da
rua Princesa Isabel, serão consideradas quatro vias neste estudo, como pode ser visto na figura
26. O acesso principal se dará pela Rua Antônio Manoel, que será para atendimento e
recebimento dos usuários. O acesso ao estacionamento se dará a partir da Rua José Ildefonso
E. Campos, onde também estará o acesso de funcionários e serviço.
Figura 26: Mapa de acessos.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Av. 28 de Março Av. Dr. Arthur Bernardes R. Antônio Manoel
R. José Ildefonso E. Campos Rua Princesa Isabel
Acesso de funcionários e serviço
62
Sol Poente
Vento (Nordeste)
Ruído
Sol Nascente
5.1.3 Insolação, ventilação e ruídos
A figura 27 aponta o estudo de insolação feito, demonstrando a orientação solar do
terreno. Na figura 28 são indicados o sentido do vento predominante na cidade de Campos, que
é o Nordeste, e os ruídos, oriundos principalmente da Av. Dr. Arthur Bernardes e do cruzamento
da mesma com a Rua Antônio Manoel, provenientes de carros e buzinas.
Figura 27: Estudo de insolação.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
Figura 28: Estudo de ventilação e ruído.
63
5.1.4 Aspectos Físicos
O terreno é plano e tem forma trapezoidal, com ressalva para um espaço voltado para a
Av. Dr. Arthur Bernardes, onde há residências já construídas em parte do terreno. As figuras
29, 30, 31, 32 e 33 mostram as vistas do terreno nas duas principais vias de acesso, as ruas
Antônio Manoel, e José Ildefonso E. Campos.
A topografia do terreno se apresenta plana, predominante da cidade de Campos dos
Goytacazes, com alguns declives que podem ser desconsiderados, e tem área total de
19.660,72m². Há uma árvore da espécie Delonix Regia, mais conhecida como Flamboyant, na
esquina das ruas Antônio Manoel e José Ildefonso E. Campos (Figura 30), que se faz marcante
e é utilizada pelos usuários do entorno, que construíram um banco de madeira rústico embaixo
da mesma. Além disso, sua sombra é utilizada como estacionamento para os comércios locais.
Figura 29: Vista da fachada frontal adotada para o terreno voltada para a rua Antônio Manoel.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Figura 30: Esquina das ruas Antônio Manoel e José Ildefonso E. Campos, demonstrando o banco
adaptado pelos moradores embaixo da árvore.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
64
Figura 31: continuação da vista da fachada frontal adotada para o terreno, na Rua Antônio Manoel
(parte voltada para a Associação Mantedora Asilo Nossa Senhora do Carmo).
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Figura 32: Vista da fachada secundária adotada para o terreno, na Rua José Ildefonso E. Campos
(sentido da Rua Antônio Manoel).
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Figura 33: Vista da fachada secundária adotada para o terreno, na Rua José Ildefonso E. Campos
(sentido da futura extensão da Av. Princesa Isabel).
Fonte: Acervo pessoal.
65
Residencial
Institucional
Comércio e
Serviço
Religioso
Terreno
5.1.5 Entorno
Os usos dos terrenos no entorno imediato foram analisados, para que pudesse ser
avaliada a viabilidade da implantação de um Centro de Tratamento Psicológico no local. Pode-
se observar, na figura 34, a predominância residencial do entorno, tornando o espaço propicio
à tranquilidade e relaxamento
Figura 34: Mapa de uso ocupação do solo no entorno do terreno.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
No entorno, pode-se perceber a falta de equipamentos públicos, como praças e espaços
de uso comum. Em uma das visitas, algumas crianças do bairro utilizavam o terreno escolhido
como campo de futebol, algo perigoso, visto que há animais mortos e alguns lixos jogados,
próximo à área que estava sendo utilizada. De acordo com a percepção ambiental da autora
deste trabalho, o vazio urbano provocado pelo terreno transmite sensação de abandono e
insegurança.
5.1.6 Gabarito
No gabarito apresentado na figura 35, nota-se a predominância de construções de até
dois pavimentos, devido ao uso do solo ser principalmente residencial. Entretanto, há algumas
66
3 Pavimentos
2 Pavimentos
1 Pavimento
Terreno
construções de três pavimentos no entorno. Tal configuração torna o ambiente acolhedor,
afastado das zonas de intensa atividade comercial, com muito movimento de pedestres e carros,
que acabam por afetar e comprometer o bem-estar das pessoas.
Figura 35: Mapa de gabarito do entorno do terreno.
Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.
5.2 Diretrizes Projetuais
Foram elaboradas algumas diretrizes iniciais, que nortearam as decisões projetuais em
conjunto com conceito e partido adotados, sendo elas:
Interações Sociais: criar espaços que promovam a sociabilidade, partindo dos arranjos
sociopetos, e as distâncias interpessoais.
Integração com o bairro: permitir que a comunidade interaja com os usuários do
Centro, criando espaços que possam ser utilizados por ambos simultaneamente.
Relação do interior com o exterior: tal relação deve ocorrer em escala micro, com a
integração da edificação com o ambiente externo, e macro, através de soluções que
possibilitem o ambiente externo à edificação de estar em contato sutil com a cidade.
Promover atividades externas, para que o indivíduo possa vivenciar o espaço livre.
Edificação como parte da natureza que a cerca: a construção deve apresentar
características naturais, sem elementos que chamem atenção, para que a mesma possa
se misturar, como se fizesse parte da natureza em seu entorno.
67
Iluminação natural: projetar espaços com iluminação natural, para que o usuário possa
sentir-se mais próximo da natureza. Além da utilização deste ser mais sustentável,
devido à redução da necessidade do consumo de energia elétrica.
Acessibilidade: a edificação deve estar apta para receber qualquer indivíduo que quiser
visitá-la ou frequentá-la.
Valorização do encontro: utilização de espaços de convivência em diferentes
tamanhos para atender às atividades dos usuários. Criação de um espaço central que seja
o ponto de encontro dos usuários.
Inserção urbana: buscar solucionar algumas carências do bairro através do projeto que
se pretende implantar no local, a partir do estudo do entorno, sintetizado na figura 36.
Figura 36: síntese do estudo do entorno.
Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.
5.3 Conceito e Partido
O cata-vento (figura 37) é um brinquedo, constituído por uma haste feita com algum
material fino e firme, normalmente de madeira, e uma dobradura de papel, imitando um moinho
de vento, criando um efeito visual interessante quando em contato com o vento. Pode-se
entender como a capacidade de tornar visível o invisível – o vento.
Os transtornos mentais são invisíveis, como o vento. Dentro do contexto de um Centro
68
de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes que sofrem com transtornos mentais
comuns, o conceito deste projeto é o cata-vento, que aparece como o objeto que remete à
infância, e ao mesmo tempo, torna belos os “ventos” mais devastadores que podem vir a ocorrer
na vida da criança e do adolescente. Tornando visível o invisível.
Figura 37: Cata-vento.
Fonte: FLATICON, 2017.
O conceito será traduzido por uma arquitetura em blocos, se fechando em um espaço
comum, como as pás do cata-vento, como pode-se ver no primeiro estudo volumétrico, na figura
38. No espaço central, onde os blocos se encontram, haverá um jardim voltado para
contemplação e relaxamento, com espaços para convívio social. Todos os blocos se abrirão para
este espaço, formando grandes antessalas. Entre os blocos haverá grandes espaços verdes, para
que o contato com a natureza se faça presente em todos os espaços do Centro de Tratamento,
para que mesmo nos momentos de crise, os usuários possam sentir a tranquilidade, aconchego
e paz que a natureza é capaz de transmitir.
Nos jardins que cercam os blocos, também pode-se ter a sensação de estar andando
sobre um cata-vento, já que os mesmos seguem a forma e se fecham no espaço central comum.
Figura 38: Estudo inicial de volumetria e de implantação.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
69
5.4 Capacidade, atendimento e logística
Afim de melhor desenvolver o programa e pré-dimensionamento, buscou-se formular a
logística de funcionamento e atendimento do Centro de Tratamento Psicológico. Além de
elaborar um esquema com número aproximado de funcionários.
O Centro funcionará durante o dia, das 6h às 18h, e receberá crianças e adolescentes
para consultas com os psicólogos e o psiquiatra. Além disso, funcionará como centro dia para
pessoas em período de reintegração, que necessitam de uma maior atenção ou que estejam em
fase de terapia. No quadro 4, pode-se entender melhor a distribuição dos grupos que passarão
meio período na unidade. Os mesmos são formados por 25 crianças e 25 adolescentes,
totalizando em 50 usuários por turno.
No total, o Centro atenderá 150 crianças e 150 adolescentes, divididos em 6 grupos. A
ideia de alternar os dias, surgiu a partir de conversas informais no Centro de Atenção
Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) de Campos dos Goytacazes, onde discutiu-se a
institucionalização das crianças e adolescentes, e a necessidade de haver dias em que os mesmos
pudessem viver a cidade, a família e atividades diversas, que promovam bem-estar. A
quantidade de dias que a pessoa frequentará o centro dependerá das recomendações dos
psicólogos, do psiquiatra ou a pedido dos pais ou responsáveis.
Quadro 4: Distribuição dos grupos durante a semana.
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
Manhã Grupo 1 Grupo 3 Grupo 1 Grupo 3 Grupo 1 Grupo 5
Tarde Grupo 2 Grupo 4 Grupo 2 Grupo 4 Grupo 2 Grupo 6
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
O número estimado de funcionários é de 43, considerando as atividades dos ambientes
elaborados. A quantidade de enfermeiros foi calculada a partir do número de usuários, sendo
um enfermeiro para cada 5 crianças ou adolescentes. Além disso, cada psicólogo e psiquiatra
deverá atender de 8 a 16 pessoas por dia. Os profissionais poderão fazer consultas em domicílio
quando necessário, e deverão participar de campanhas em conjunto com as escolas e o Centro
de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) do município.
70
5.5 Programa de necessidades e pré-dimensionamento
O programa de necessidades foi elaborado a partir das pesquisas bibliográficas, e das
conversas informais com a equipe do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi)
de Campos dos Goytacazes realizadas no início do desenvolvimento deste trabalho. A tabela 1,
a seguir, apresenta o programa de necessidades e o pré-dimensionamento dos ambientes
pensados para compor o anteprojeto do Centro de Tratamento Psicológico.
Tabela 1: Programa de necessidades e pré-dimensionamento.
PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
Ambiente Quantidade Área un.
(m²)
Área total
(m²)
AT
EN
DIM
EN
TO
Recepção 1 50 50
Consultórios 3 25 75
Assistente Social 1 15 15
Enfermaria 1 15 15
Lavabos 3 - 30
Sala de Terapia (pais/responsáveis) 1 25 25
AD
MIN
.
Sala de direção 1 12 12
Sala de auxílio à direção 15 15
Arquivo 1 5 5
Sala de Reuniões 1 25 25
Mini-auditório 1 75 75
SE
TO
R D
E
FU
NC
ION
ÁR
IOS
Sala dos Funcionários 1 35 35
Vestiário 2 30 60
AP
OIO
LO
GÍS
TIC
O
Guarita 2 8 16
Estacionamento 2 - -
Depósito geral 1 30 30
71
TE
RE
AP
IA
OC
UP
AC
ION
AL
Sala de artes 1 60 60
Sala de vídeo 1 30 30
Sala de música 1 30 30
Sala de jogos 1 50 40
Brinquedoteca 1 50 40
Lavabos 3 - 30
Sala de múltiplos usos 1 40 40
AT
IVID
AD
ES
CO
MP
LE
ME
NT
AR
ES
Dormitório 1 15 15
Despensa 1 15 15
Refeitório 1 120 120
Cozinha 1 40 40
Sala de dança 1 80 80
Biblioteca 1 120 120
Sala de Informática 1 20 20
Sala para exercícios diversos 1 50 50
Vestiários 2 35 70
ES
PO
RT
E E
LA
ZE
R
Salão Externo 1 120 120
Pista de corrida e caminhada 1 - -
Jardim Sensorial 2 - -
Praças 7 500 500
Plantio 1 50 50
CA
NIS
Sala de cuidados 1 10 10
Canis 4 4 16
Consultório veterinário 1 15 15
Lavabo 1 5 5
Sala de banho e tosa 1 15 15
Depósito de ração e materiais 1 5 5
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.6 Setorização
A setorização foi elaborada para que os ambientes fossem organizados de forma
coerente, de acordo com as funções e atividades exercidas em cada um dos mesmos, tornando
72
mais cômoda a movimentação dos usuários e funcionários por estes. A setorização geral é
mostrada na figura 39.
O setor de atendimento ao público foi locado no bloco que ficasse mais próximo do
acesso principal à edificação. Ainda neste setor, há alguns espaços voltados para o setor
administrativo.
Os setores de atividades complementares e terapias ocupacionais, que abrange a maior
parte do anteprojeto, foram implantados de modo que pudesse ocorrer uma maior
movimentação dos usuários pela edificação, provocando-o a explorar o espaço, principalmente,
a praça central.
A outra parte do setor administrativo está próxima a entrada de serviço, e ao setor de
funcionários, para que estes pudessem estar integrados. Além disso, estão próximos à cozinha,
para que haja maior facilidade no recebimento de alimentos, e na movimentação dos
funcionários responsáveis por esta.
As praças públicas ocuparam a fachada principal da construção, fazendo com que a
árvore Flamboyant, que já é utilizada pelos moradores do bairro, conforme visto anteriormente,
pudesse continuar pertencendo a população do entorno, além de proporcionar lazer à área mais
próxima do comércio local.
O setor de apoio logístico concentra-se nos acessos da edificação, nos extremos, de
forma que não interfira na utilização dos espaços criados.
73
Figura 39: Estudo de setorização.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Pista de corrida/ Caminhada
Terapia Ocupacional
Administração
Atendimento
Banheiros e vestiários
Praça pública
Apoio Logístico
Atividades complementares
Animais
Setor de Funcionários
Acesso de Funcionários
Acesso Principal
74
5.7 Fluxograma
O fluxograma foi elaborado para a realização de um estudo da circulação entre os
setores. Para o desenvolvimento do mesmo, foi necessário entender as atividades realizadas por
cada ambiente, posicionando-os para que a movimentação entre estes se desse de forma
eficiente.
A decisão projetual do Centro de Tratamento Psicológico, fez com que a circulação pelo
mesmo se desse da forma menos linear possível, buscando integrar a maioria dos ambientes em
uma única circulação que envolve toda a construção. Na figura 40, pode-se observar que todos
os ambientes dos quatro blocos principais que compõem o anteprojeto estão conectados,
fazendo com que apenas algumas circulações estivessem isoladas.
O estudo de fluxos neste trabalho pode ser justificado pela necessidade de entender a
proximidade de alguns ambientes, de forma a tornar mais confortável o trabalho dos
funcionários. Além disso, por tratar de crianças e adolescentes, os ambientes de maior estadia
precisavam estar mais distantes do fluxo público, afim de garantir a segurança e privacidade
para os usuários.
75
Figura 40: Estudo inicial de fluxograma.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
76
5.8 Implantação
A construção foi implantada a partir do conceito do projeto, em forma de cata-vento. Os
quatro principais blocos da edificação foram locados a partir de uma praça central, que também
funciona como ponto de encontro, tornando-se o marco principal da circulação.
Optou-se por uma distribuição horizontal, para que houvesse uma maior área de
integração com o ambiente natural, aproveitando a amplitude do terreno. A construção foi
rotacionada no terreno, a partir do centro da praça, para que o acesso do bloco de atendimento
público ficasse voltado para a fachada principal, na Rua Antônio Manoel.
A decisão de tornar a Rua Antônio Manoel como principal via de acesso deu-se pelo
fato de ser uma rua movimentada, importante para o entorno. No entanto, esta não é tão
movimentada quanto a Avenida Arthur Bernardes, facilitando o acesso e manobra de veículos.
Na Rua José Ildefonso Evangelista Campos estão os acessos de funcionários e a vaga
de carga e descarga. Esta rua foi escolhida por ser a menos movimentada, causando menos
impacto no tráfego de carros do entorno.
Como o terreno ocupa uma quadra inteira, exceto por construções já existentes na
fachada voltada para a Avenida Arthur Bernardes, pôde-se pensar num recuo do muro, para que
fosse possível a existência de calçadas largas, e praças para atender o entorno.
Na figura 41, pode-se observar a implantação do Centro de Tratamento Psicológico, a
localização dos blocos, as construções anexas, os estacionamentos, e as praças públicas. A
circulação dos blocos é voltada para a área externa, criando algumas varandas em volta dos
mesmos, fazendo com que os usuários estejam em contato constante com o exterior, e evitando
longos e monótonos corredores. A área total de circulação é de 1936,61m².
Há dois estacionamentos, um para visitantes, que fica na área externa, para que, à noite,
possa também atender à praça, com 26 vagas, e um para funcionários, com acesso pela Rua
José Ildefonso Evangelista Campos, também com 26 vagas. O número de vagas segue as
exigências de clínicas no Código de Obras de Campos dos Goytacazes (CAMPOS DOS
GOYTACAZES, 2016). Próximo ao estacionamento dos funcionários, há bicicletários.
77
Figura 41: Implantação.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
1. Estacionamento de visitantes 2. Área de Alimentação 3. Guarita
4. Bloco D 5. Bloco A 6. Casa na Árvore
7. Salão Externo 8. Bloco C 9. Bloco B
10. Estacionamento de funcionários 11. Depósito 12. Área dos Animais
Além das construções, há espaços na área externa, como pode ser visto na figura 42. A
criação de espaços ao ar livre foi pensada a partir da necessidade de apropriação da criança e
do adolescente. Partindo da importância do contato com a natureza, pensou-se em fazer com
que os espaços externos fossem mais atraentes do que os internos, provocando os usuários a
ocupar a área externa na maior parte do tempo que estivesse no centro.
Em uma das visitas ao Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) de
Campos dos Goytacazes, pode-se perceber que não havia espaço para as crianças na recepção
do local, fazendo com que as mesmas ficassem impacientes. Com isso, optou-se por criar um
parque infantil próximo a recepção.
Há uma pista de corrida de obstáculos, e um jardim zen, inspirado nos jardins japoneses.
78
Os jardins sensoriais são divididos em duas partes, uma acessível, onde o usuário provoca as
sensações na altura ideal para portadores de necessidades especiais, e uma parte feita para que
os usuários pisassem em diferentes texturas.
Além disso, foram elaboradas praças no entorno da edificação. As praças labirinto e
colmeia são voltadas para a contemplação, para que não houvesse ruídos que atrapalhassem o
setor de atendimento, no bloco A. A praça do encontro é o ponto de interseção entre a biblioteca
e o refeitório, podendo ser usada como extensão dos dois ambientes, e a praça capoeira é onde
será realizada a atividade de capoeira, e outras apresentações livres. Próximo ao reservatório,
há a praça das águas, que apresenta chafarizes de superfície em toda sua extensão.
Figura 42: Implantação das Praças.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
1. Praça Pública 2. Praça da História 3. Jardim Zen
4. Parque Infantil 5. Corrida de Obstáculos 6. Praça Labirinto
7. Jardim Sensorial 8. Praça das Águas 9. Praça Capoeira
10. Praça das Cores 11. Praça Colmeia 12. Praça do Encontro
13. Bicicletário
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Na praça pública, há uma quadra, onde é prevista a realização de atividades
complementares, uma área de alimentação, próximo a um recuo, onde há vagas exclusivas para
uso de foodtrucks e foodbikes, um parque infantil, uma pista bowl de skate, uma academia,
bancos e elementos paisagísticos.
5.9 Bloco A
O bloco A, que pode ser visto na figura 43, é voltado principalmente para o atendimento
ao público, e é composto por uma recepção, lavabos, consultórios, uma enfermaria, uma sala
de terapia em grupo, e um mini auditório. O acesso a este bloco se dá pela Rua Antônio Manoel,
através de uma circulação direta. Como já foi citado anteriormente, as circulações se dão pela
área externa.
A recepção apresenta mobiliário pensado com base no sistema sociopeto, e balcão com
duas alturas, para que portadores de necessidades especiais e crianças possam ter acesso a
informações com conforto. A janela curva da mesma, é voltada para o nordeste, sendo
privilegiada com a ventilação natural, visto que o vento predominante da região é o nordeste.
A janela atrás do balcão também facilita a ventilação natural.
Os lavabos feminino e masculino apresentam fraldários, também com duas alturas para
garantir a acessibilidade. O lavabo para portadores de necessidades especiais é separado, para
facilitar e promover conforto em casos que precisem de acompanhamento.
Os consultórios são amplos, para que consiga passar uma ideia de sala de estar,
proporcionando um ambiente mais intimista, e que não remeta ao usuário a ideia de um hospital.
Os consultórios de psicologia também contam com tapetes no chão, almofadas e mesas, para
que se consiga trabalhar no espaço em que a criança ou adolescente se sinta mais à vontade.
Além disso, se for do desejo do usuário, a consulta pode ser realizada em qualquer espaço da
edificação. A enfermaria atende às pessoas que passam o dia lá, para primeiros socorros.
Também funciona como uma pequena farmácia, para aqueles que precisam ser medicados
regularmente. A Assistência Social funciona como um apoio aos usuários e suas famílias,
contando com um banco em sua lateral, para que possa reunir uma maior quantidade de pessoas
em sua sala. A sala de terapia em grupo é ampla, conta com uma mesa redonda, sofá e um jogo
de mesa, para que as pessoas se comportem como numa reunião de amigos, de forma mais
intimista. O mini auditório tem capacidade para 49 pessoas, com assentos para portadores de
necessidade especiais. Este foi projetado para palestras voltadas para os funcionários e
80
familiares, e reuniões com os responsáveis pelos usuários.
Utilizou-se iluminação zenital em alguns pontos de destaque, ou em espaços com
escassez de esquadrias, como na sala de arquivo, no palco do mini auditório, e no espaço onde
há um sofá na recepção. Todas as esquadrias do bloco, exceto as dos lavabos, são de alumínio,
pintada de preto, e vidro. Optou-se por grandes vãos, para que fosse possível observar a natureza
do jardim central e da área externa de todos os ambientes, além destes serem beneficiados com
iluminação e ventilação natural. Neste bloco, o jardim interno é contemplativo, de forma a não
gerar ruídos ou muita movimentação, para que não atrapalhe as consultas, ou provoque
distrações.
Figura 43: Bloco A.
1 – Recepção
2 – Arquivo
3 – Lavabo
4 – Lavabo PNE
5 – Consultório Psiq.
6 – Consultório Psic.
7 – Enfermaria
8 – Serviço Social
9 – Sala de Terapia
10 – Mini-Auditório
11 – Jardim interno
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.10 Bloco B
O bloco B (Figura 44) foi elaborado para as atividades complementares, e conta com
81
biblioteca, sala de informática, sala de exercícios, espaço para plantio, sala de dança e
vestiários. A biblioteca apresenta alguns mobiliários especiais para crianças, e um espaço para
histórias, onde o funcionário responsável pela biblioteca pode ler para as mesmas. Além disso,
há um espaço para este funcionário, um sofá, e tapetes com almofadas dispostos em todo o
ambiente, tornando-o mais informal, e convidativo a uma leitura prazerosa.
A sala de informática funciona como auxilio, para casos em que a criança ou adolescente
precise fazer alguma pesquisa escolar no tempo que está no centro. A partir desta sala pode-se
acessar o pátio interno. A sala de exercícios ocupa um grande espaço, para que sejam realizados
exercícios físicos diversos, como alongamento, yoga, exercícios aeróbicos, entre outros.
Também conta com duas esteiras. A sala de dança é ampla, e apresenta uma pequena
arquibancada, para apresentações.
O pátio interno contém algumas caixas com horta, cujas especiarias serão utilizadas na
cozinha do refeitório. O objetivo é fazer com que as crianças e adolescentes, em conjunto com
o responsável pelos jardins, cuidem da horta. Na circulação até o pátio, há um armário com
materiais de jardinagem, e alguns lavatórios.
Este bloco também apresenta amplas esquadrias para iluminação e ventilação naturais.
Figura 44: Bloco B.
1 – Biblioteca
2 – Vestiário
3 – Sala de dança
4 – Plantio
5 – Sala de Exercícios
6 – Sala de Informática
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
82
5.11 Bloco C
O bloco C (Figura 45) apresenta ambientes voltados principalmente para os
funcionários, como a sala dos mesmos, vestiários, sala de reunião, sala de auxílio ao diretor,
sala do diretor com lavabo, e atividades complementares para os usuários, como cozinha,
despensa e refeitório. Também há um depósito de material de limpeza neste bloco.
Figura 45: Bloco C.
1 – Refeitório
2 – Área externa do Refeitório
3 – DML
4 – Vestiário
5 – Sala dos Funcionários
6 – Sala de Reunião
7 – Auxiliar da direção
8 – Lavabo
9 – Direção
10 – Despensa
11 – Cozinha
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Este bloco foi elaborado a partir da despensa, que deveria ser locada próximo ao acesso
83
de funcionários, facilitando a armazenagem de alimentos. A partir de então, locou-se a cozinha,
que pode ser utilizada pelos usuários com auxílio do responsável pela cozinha, e o refeitório.
Por ser um centro dia, utilizado em dois turnos diferentes, o refeitório não atende a grandes
refeições, apenas lanches rápidos. O refeitório foi locado de forma a estar integrado à praça
central e ao pátio externo, para que os usuários pudessem escolher onde ficar. Contando com a
área interna e externa, o refeitório apresenta 51 lugares. O mobiliário do mesmo também foi
pensado para criar nichos, com barreiras visuais e acústicas, e alguns em formato sociopeto.
A sala de funcionários foi projetada para que oferecesse privacidade e conforto para os
mesmos, e apresenta papel de refúgio. A sala de reuniões apresenta mobiliário com medidas
que permitam menos distância entre os funcionários, tornando o ambiente mais amigável.
A sala de auxílio à direção é ampla, e serve também como recepção. A sala do diretor é
pequena e intimista, diminuindo a distância interpessoal, provocando mais conforto e
comodidade na comunicação.
5.12 Bloco D
O bloco D (Figura 46) é composto por um dormitório, uma sala de múltiplos usos,
lavabos e ambientes do setor de terapia ocupacional, como arteterapia, musicoterapia, cinema,
sala de jogos e brincadeiras, como listados e explicados no primeiro capítulo deste trabalho.
Na sala de artes, há mesas de diferentes tamanhos, para atender adolescentes e crianças,
lavatórios, e cavaletes removíveis, que podem ser transportados para a área externa, para que
as atividades possam ser realizadas ao ar livre. Na videoteca, há tapetes e almofadas, poltronas
e uma televisão. Na sala de música, há cadeiras, e diversos instrumentos musicais, para que as
pessoas possam utilizá-los com liberdade.
A brinquedoteca tem como objetivo atender às crianças, enquanto a sala de jogos é
voltada para os adolescentes, com jogos de mesa, tabuleiros e videogames. O dormitório é para
as crianças, que, como vão passar meio período no Centro, podem se sentir cansadas. A sala de
múltiplos usos foi elaborada para realização de atividades diversas, determinadas pela equipe
ou pelos usuários. Além disso, há um parque infantil no pátio interno, com equipamentos
acessíveis.
Neste bloco, também se explorou amplas aberturas, e esquadrias de alumínio e vidro,
para que haja maior integração, ventilação e iluminação natural.
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Figura 46: Bloco D.
1 – Sala de múltiplos usos
2 – Dormitório
3 – Parque infantil
4 – Sala de jogos
5 – Brinquedoteca
6 – Sala de Música
7 – Videoteca
8 – Sala de Artes
9 – Lavabo
10 – Lavabo PNE
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.13 Setor de animais
Neste setor (Figura 47), há ambientes voltado para os cuidados dos cães, como
consultório veterinário, um lavabo, sala de banho e tosa e sala de cuidados. Também conta com
quatro canis e um depósito de ração. Há um espaço para os cães ficarem soltos próximos ao
canil, com caixa de areia, e uma praça com brinquedos e piscina destinados aos animais, onde
as pessoas podem entrar para brincar com eles.
85
Figura 47: Setor de animais.
1 – Praça dos cães
2 – Veterinário
3 – Sala de cuidados
4 – Lavabo
5 – Canil externo
6 – Sala de banho e tosa
7 – Canil
8 – Depósito
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.14 Depósito geral
Há um depósito geral (Figura 48) que dá apoio ao Centro de Tratamento, com materiais
de jardinagem, limpeza e alguns mobiliários que necessitam de reparos. O mesmo está locado
próximo ao estacionamento de funcionários, para facilitar a carga e descarga.
Figura 48: Depósito geral.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
86
5.15 Guaritas
As duas guaritas (Figura 49) apresentam a mesma planta baixa, com um lavabo e uma
sala com duas janelas de vidro, uma voltada para a calçada e outra para o interior do terreno,
para ocorrer o controle de entrada e saída.
Figura 49:Guaritas.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.16 Salão externo
O salão externo (Figura 50) foi pensado para utilização da área externa com conforto
ambiental e acessibilidade. É formado apenas por uma cobertura e pilotis, sem elementos de
vedação. O salão pode ser utilizado para prática de meditação, pintura e desenho com cavaletes,
festas e eventos diversos.
87
Figura 50: Salão Externo
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.17 Praça pública
A praça pública (Figura 51) foi elaborada para atender a população local. Esta é
composta por um espaço de estacionamento voltado para foodtrucks e foodbikes, uma área de
alimentação, um parque infantil, uma quadra poliesportiva, um banco sociopeto, uma pista de
skate bowl, espelhos d’água e uma academia. Além disso, há canteiros e espaços voltados para
o paisagismo, com bancos dispostos em toda extensão da praça.
88
Figura 51: Praça Pública.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
1. Estacionamento de Foodtrucks e Foodbikes 2. Parque Infantil 3. Área de Alimentação
4. Quadra Poliesportiva 5. Banco Sociopeto 6. Pista de Skate Bowl
7. Espelhos d’água 8. Academia 9. Fonte
A área de alimentação (Figura 52) apresenta mobiliário semelhante ao encontrado no
refeitório da edificação, em formato sociopeto e fazendo nichos, com barreira acústica e visual.
Esta área está locada próximo ao espaço destinado a estacionamento de foodtrucks e foodbikes,
e ao parque infantil, para que estes espaços se complementem.
9
89
Figura 52: Área de Alimentação.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.18 Cobertura
Para as coberturas, adotou-se a platibanda com telhas termoacústicas, para manter a
plástica pensada inicialmente. Na cobertura principal, instalou-se placas fotovoltaicas na área
central, para utilização de energia solar na edificação.
5.19 Volumetria
A volumetria do projeto, como pode ser observado na figura 53, foi elaborada a partir
do cata-vento, com grandes vãos de circulação que remetem a varandas, com pilotis expostos,
90
passando a sensação de segurança e esbelteza. A escolha da madeira ecológica como principal
material das fachadas dos blocos ocorreu devido à influência do referencial plástico, de forma
que a edificação fosse coadjuvante da natureza que a cerca. Procurou-se interpretar a arquitetura
de forma simples, e com padrões, para que a mesma não provocasse sensação de caos, ou
excessos nos usuários. Além disso, materiais como a madeira, passam sensação intimista, de
acolhimento.
Figura 53: Volumetria geral.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Na figura 54, pode-se observar o acesso principal, e parte do Bloco A. Nele é possível
visualizar a varanda frontal, ampla, e como se dá a circulação pelos blocos. Juhani Pallasmaa
afirma que a “visão periférica nos integra com o espaço, enquanto a visão focada nos arranca
para fora do espaço, nos tornando meros espectadores” (PALLASMAA, 2011, p. 13, apud
MORAES, 2015). Partindo desta premissa, pode-se entender a visão periférica como agente
principal da percepção ambiental do ser humano, onde ele participa ativamente do espaço que
o cerca. Assim, buscou-se provocar sensações aos usuários enquanto estes caminham pela
circulação dos blocos, tendo em sua visão periférica a paisagem natural e a paisagem
arquitetônica, em contraste.
91
Figura 54: Acesso Principal.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Na figura 55 pode-se ver a Praça Labirinto e a praça central, que foi chamada de Praça
das Cores, devido à utilização de ipês de quatro cores diferentes em seus quatro canteiros. No
meio, há uma árvore, baseado no princípio de árvore-lugar, explicada por Rayssa de Oliveira
(OLIVEIRA, 2014) como uma árvore que é visitada frequentemente pelas crianças, passando,
assim, a estar presente no mapa afetivo das mesmas, diferenciando-se da árvore-paisagem, que,
por sua vez, aparece como um plano de fundo das atividades. Ainda de acordo com Oliveira
(OLIVEIRA, 2014), tais árvores devem apresentar galhos baixos, copas acessíveis, ser
frutíferas ou não. Neste caso, optou-se por uma amoreira-preta, que apresenta características
semelhantes às descritas, e ser frutífera. O tronco desta é rodeado uma pequena arquibancada,
pintada de vermelho, sendo o único elemento colorido da paisagem, para destacar o espaço. Ao
fim dessa arquibancada, há uma rede, até tronco, proporcionando mais um espaço para criação
de laços com a árvore-lugar.
92
Figura 55: Praça Labirinto e Praça das Cores.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Na praça colmeia, foram elaborados pisos de madeira ecológica em formato hexagonal,
e bancos revestidos da mesma madeira, como se tivessem sido elevados do piso, provocando
uma sensação visual de movimento (Figura 56). Também foram locados espelhos d’água, com
alguns bancos suspensos sobre estes, aumentando a sensação de movimento.
Figura 56: Praça Colmeia.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
93
A Praça Capoeira é o espaço destinado para prática de capoeira, no piso central. O
elemento principal é a casa da árvore (Figura 57), com guarda-corpo voltado para a mesma, e
possui acesso pela Praça das Cores.
Figura 57: Praça da Capoeira e Casa da árvore.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
A Praça do Encontro (Figura 58) foi elaborada de forma a atender a biblioteca e o
refeitório, como uma extensão, ao ar livre, com mesas e cadeiras dispostas, e escadas que podem
servir de bancos.
94
Figura 58: Praça do Encontro.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Na figura 59, pode-se observar a praça das águas e parte do lago de purificação. A praça
das águas consiste num espaço com vários chafarizes de superfície dispostos em seu entorno.
O lago de purificação, por sua vez, é todo cercado por um guarda corpo de vidro, para garantir
a segurança dos usuários.
Figura 59: Praça das Águas.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
95
A praça pública (Figura 60), visa atender a população do entorno, visto que não se deve
separar a psicologia e percepção ambiental do urbanismo, o entorno também deveria ser
contemplado com a edificação proposta neste trabalho. A praça conta com uma quadra
poliesportiva, que será também utilizada pelos usuários do Centro de Tratamento Psicológico,
em atividades complementares, uma área de alimentação, espelhos d’água, bancos e uma pista
de skate bowl. Segundo Oliveira (OLIVEIRA, 2014), formas curvas, como as encontradas neste
tipo de pista de skate, são confortáveis para crianças e adolescentes, que se apropriam da
mesma, utilizando-as para desafiar a gravidade, brincar de bola, ou apenas acomodarem-se no
que pode ser comparado a uma rede de concreto.
Figura 60: Praça Pública.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
A partir dos estudos realizados, pode-se elaborar diversos espaços no terreno voltados
para a criação de laços afetivos. O principal objetivo é fazer com que o ambiente externo seja
mais atraente do que o interno, provocando a criança e o adolescente e estar em contato direto
com os elementos naturais, e a criar um “cantinho” para si, podendo customizá-lo com seus
quadros, e até mesmo pintar diretamente com tinta. Este “cantinho” é descrito por Oliveira
(OLIVEIRA, 2014) como o lugar predileto da criança e do adolescente, contendo elos afetivos.
Com a proposta deste projeto, buscou-se permitir a apropriação de espaços pré-
definidos. Nichos e bancos em formato sociopeto, árvores, que podem ser uma árvore-lugar ou
uma árvore paisagem, pergolados, pneus, pista de corrida de obstáculos, jardins sensoriais e
96
espaços construídos com finalidades específicas estão dispostos no terreno, e cabe aos usuários
designar, não somente uso a estes espaços, mas também a afetividade e caracterização.
5.20 Conforto ambiental
Para garantir o conforto ambiental da edificação, algumas medidas foram tomadas. Com
relação ao conforto térmico, a ampla cobertura que se estende na circulação, proporciona
sombra nas esquadrias fazendo com que não haja incidencia direta de sol. Além disso, optou-
se por uma telha termoacústica, para maior conforto no interior da edificação, que atende tanto
ao conforto térmico quanto ao acústico. O isolamento acústico, por sua vez, foi trabalhado a
partir da área com maior ruído, proveniente da Avenida Arthur Bernardes, sendo assegurado
pela vegetação. Utilizou-se arbustos em toda fachada voltada para a avenida, e árvores de médio
a grande porte.
O conforto lumínico se deu através da utilização de iluminação zenital e amplas
esquadrias, além da utilização de vidro nas mesmas.
5.21 Mobiliários
Para compor os ambientes, a partir dos princípios humanistas, houve pesquisa por
referenciais de mobiliários, e elaboração de croquis esquemáticos demonstrando, em
perspectiva, alguns que merecem destaque.
Na figura 61, pode-se observar uma mesa com banco infantil, que funciona com um
sistema de encaixe, como um brinquedo. A disposição desse mobiliário acontece na biblioteca.
Figura 61: Mesa com banco de encaixe.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
97
Os mobiliários locados no interior do refeitório, foram pensados de modo que pudesse
haver vegetação no topo, aumentando o conforto acústico e a privacidade das pessoas no
momento da alimentação. Na parte externa do refeitório, utilizou-se em um mobiliário lúdico.
No interior do refeitório, estão locadas as mesas redondas circundadas por banco em formato
sociopetos (Figura 62), que são protegidas por barreira acústica e visual, e a mesa de parede
(Figura 63), acompanhada de bancos, que também tem barreiras visuais e acústicas. Na parte
externa do refeitório, encontra-se a mesa-casinha (Figura 64), que também funciona como um
brinquedo infantil, como se pertencesse a um parque infantil.
Figura 62: Mesa com banco sociopeto.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 63: Mesa de parede com bancos.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
98
Figura 64: Mesa-casinha.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.22 Memorial Descritivo
Afim de destacar características construtivas do anteprojeto apresentado neste
trabalho, desenvolveu-se um memorial descritivo destacando os principais materiais e
tecnologias utilizadas na elaboração do mesmo.
5.22.1 Tanque de purificação de água e sistema de captação de águas pluviais
O tanque de purificação de água aparece como um lago na implantação projetual. Este
tanque funciona como um filtro natural, a partir da flora, de águas pluviais e das águas
provenientes apenas dos chuveiros da edificação. A água da chuva é captada pelas calhas, nos
telhados, sendo direcionadas até o tanque, que também recebe água da chuva de forma direta.
A vegetação elimina metais pesados e purifica a água, que, por sua vez, vai para uma caixa
d’água extra, como pode ser visto na figura 65. No entanto, neste caso, o reservatório é externo,
ao ar livre, e a filtragem acontece a partir de princípios biológicos, utilizando a vegetação
apropriada. A água tratada pelo tanque será utilizada na irrigação do paisagismo, e nas
instalações sanitárias.
99
Figura 65: Sistema de reúso de água.
Fonte: FOLHA, 2014.
Optou-se por esse sistema para que houvesse redução do consumo de água, do custo
com a mesma, e em respeito à natureza, importante elemento do anteprojeto.
Para determinar a capacidade da caixa d’água abastecida pela estação de tratamento do
município, partiu do cálculo estimado para instituições de ensino. Usou-se 93 usuários por
turno, sendo eles 43 funcionários e 50 crianças e adolescentes, utilizando 50L de água cada um.
O tanque de águas de reuso apresenta a mesma capacidade desta.
5.22.2 Telhas termoacústicas
A telha termoacustica também é conhecida como telha sanduíche, por ser composta de
duas chapas metálicas com um material isolante no meio, como pode ser visto na figura 66.
A escolha desta telha se deu principalmente pela propriedade termo acústica, garantindo
o conforto ambiental da edificação. Além disso, estas telhas possuem baixa absorção de água,
100
são leves e de fácil aplicação. Por serem cortadas de acordo com o projeto, evitam desperdícios
de materiais na obra. São antifúngicas e antibacterianas, e não propagam chamas (ISOALFA,
2015).
Figura 66: Telha termoacústica.
Fonte: ISOALFA, 2015.
5.22.3 Esquadrias
Conforme visto anteriormente, as principais esquadrias do anteprojeto são de alumínio
e vidro temperado. O vidro temperado acompanha a tecnologia Low-E (baixo emissivo),
auxiliando no controle solar sem criar o efeito “espelho”. Este vidro apresenta uma fina camada
metálica, que forma um filtro protetor de raios solares e ultravioleta (ARCOWEB – ONLINE),
como pode ser obervado no esquema da figura 67. Tal tecnologia faz com que ocorra uma
baixa transferência térmica do exterior para o interior.
101
Figura 67: Vidro Low-E.
Fonte: ANAVIDRO, 2014.
5.22.4 Energia Solar
Optou-se pela implementação de placas fotovoltaicas (Figura 68) na cobertura do
projeto, para que se pudesse aproveitar a alta incidência solar da região. A energia solar
trabalhará em conjunto com a alimentação de energia proveniente da cidade, atuando como
complemento, afim de reduzir os custos, além de ser um elemento de geração de energia de
baixo impacto ambiental.
Todos os painéis fotovoltaicos instalados na edificação estão voltados para o norte, com
inclinação de 21%, acompanhando a latitude da cidade, sendo a melhor posição para captação
de energia possível (PORTAL SOLAR – ONLINE).
102
Figura 68: Placas fotovoltaicas.
Fonte: GALILEU, 2017.
5.22.5 Revestimento externo
Para o revestimento das fachadas, optou-se pelo uso da madeira ecológica (Figura 69),
cujo processo de fabricação ocorre a partir de matérias-primas recicláveis, como resíduos
plásticos provenientes da indústria (ECOPEX – ONLINE). Apesar de não ser madeira natural,
esta conserva características semelhantes, é sustentável e contribui para a preservação de
recursos naturais. Além disso, também torna mais fácil a manutenção, se comparada a madeira
natural.
Figura 69: Madeira ecológica.
Fonte: EKOMPOSIT, 2017.
103
5.22.6 Paisagismo
O paisagismo do Centro de Tratamento Psicológico foi elaborado com árvore de
pequeno, médio e grande porte, plantas ornamentais, e vastas áreas de vegetação rasteira,
cobertas por grama esmeralda, por ser uma grama de pisoteio. Além disso, há plantas com
diferentes texturas, aromas e colorações, provocando os sentidos dos usuários.
Algumas árvores foram escolhidas de modo que pudessem ser apropriadas pelos
usuários. Árvores frutíferas apresentam características que podem ser associadas ao laço
afetivo, sendo interessante a implantação das mesmas no terreno. Algumas das escolhidas foram
a goiabeira (Figura 70), a amoreira preta (Figura 71), o pé de jaca (Figura 72) e pé de acerola
(Figura 73).
Figura 70: Goiabeira.
Fonte: PERSPECTIVA ONLINE, 2015.
Figura 71: Amoreira Preta.
Figura 72: Pé de Jaca.
Fonte: PREFEITURA BELO HORIZONTE,
2017.
Figura 73: Pé de Acerola.
Fonte: ARBOCENTER, 2017. Fonte: CEA POLONÊS, 2012.
104
Além destas, árvores com grandes copas para promover sombras, como o Flamboyant
(Figura 74), e árvores ornamentais, como Ipês (Figura 75), para provocar sensações visuais,
também foram adotadas. Optou-se também por manter duas árvores Flamboyant, existentes no
terreno, que são apropriadas pelos moradores locais.
Figura 74: Flamboyant,
Fonte: SÍTIO DA MATA, 2017.
Figura 75: Ipê.
Fonte: GIULIANA FLORES, 2017.
Seguindo os conceitos da psicologia ambiental, o anteprojeto proposto neste trabalho
baseou-se na percepção ambiental e na relação pessoa-ambiente para criar espaços que
proporcionassem reintegração, acolhimento e conforto para crianças, adolescentes e familiares
em situação de tratamento, sem suprimir as necessidades da população do entorno.
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na sociedade em que estamos inseridos, cada vez mais pessoas isolam-se em suas
“bolhas”, utilizando smartphones, tablets e computadores, em detrimento das relações
interpessoais. Dentro deste cenário, sabendo que o homem é um ser social, percebe-se a
tendência de existir um a lacuna no desenvolvimento pessoal, autoconhecimento, e equilíbrio
emocional, aumentando a incidência de transtornos mentais comuns. Crianças e adolescentes,
que ainda estão em formação, são os mais suscetíveis a sofrer com as mudanças do
comportamento humano que não condizem com a natureza do ser, podendo assim, desenvolver
tais transtornos. Neste ponto, este trabalho oferece uma proposta arquitetônica de um espaço
voltado para o tratamento e reintegração da criança e do adolescente que sofre com tais
transtornos, sendo baseado em conceitos humanistas, relacionando o homem com o espaço
natural e construído, fazendo com que o mesmo seja o objeto central de estudo, entendendo
como a pessoa se comporta de acordo com os estímulos, e como percebe o ambiente à sua volta.
O Centro de Tratamento Psicológico Cata-vento surge, não somente como um espaço
voltado para tratamento psicológico e psiquiátrico, oferecendo a estrutura necessária para tal,
mas também como uma síntese do papel social do arquiteto, urbanista e paisagista, em conjunto,
formando um espaço voltado para o ser humano, sua relação com o meio, sem excluir, de
nenhuma forma, seu entorno. A construção não está suspensa no espaço, mas inserida em um
bairro, que, por sua vez, pertence a uma cidade. Assim como os assuntos ligados a saúde mental
não podem se desassociar de uma visão holística do ser, uma construção não pode ser
desvinculada do seu entorno
A justificativa da escolha deste tema, deu-se pela ausência de espaços voltados para o
tratamento de transtornos mentais comuns no município de Campos dos Goytacazes - RJ. Tais
transtornos, sofridos por um número considerável de pessoas, necessita de atenção e cuidados
específicos. A saúde mental não está dissociada da saúde física, então, é de responsabilidade
pública tratar, de forma adequada, do bem-estar das pessoas.
Neste ponto, vale ressaltar a importância das pesquisas bibliográficas, que permitiram
melhor compreensão dos assuntos abordados, e uma visão diferente do objeto construído, e dos
referenciais projetuais, que serviram para direcionar algumas decisões projetuais. Além disso,
houve grande contribuição das conversas informais que aconteceram no Centro de Atenção
Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi), para que fosse possível entender a demanda e o
tratamento da saúde mental no município.
106
Visa-se, com este trabalho, tornar visível a necessidade de atenção para os transtornos
mentais comuns, e servir como objeto de pesquisa para trabalhos futuros, com temáticas
semelhantes. Além de ressaltar o papel do arquiteto e urbanista, como modelador de espaços,
não só neste contexto, mas em todos, visto que este não trabalha com a criação de espaços
vazios, mas lugares, que serão utilizados ou habitados por seres humanos, e serão diretamente
influenciados por estes.
107
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