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1 Uso do software Padlet no ensino-aprendizagem da língua inglesa: relato de uma experiência com alunos de uma escola de idiomas * Ana Osorio Coelho ** Resumo O uso de tecnologias digitais pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira uma vez que aproxima o conhecimento à realidade vivida pelo aluno. Este artigo apresenta uma experiência com o software Padlet como um recurso tecnológico em sala de aula numa escola de idiomas privada, com alunos entre 10-13 anos de nível pré- intermediário de conhecimento. O objetivo foi verificar a percepção e interação dos alunos quanto à introdução do Padlet como ferramenta auxiliar de produção textual, buscando identificar de que forma esse recurso auxilia no reforço dos conteúdos. A pesquisa, de natureza qualitativa, envolveu atividades de produção textual realizadas no Padlet com base na Abordagem Comunicativa e Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador. Os resultados da experimentação foram analisados com base na observação, acompanhamento das atividades de produção textual e entrevista com os participantes. A análise se fundamentou, também, na perspectiva sócio-interacionista de Vygotsky, a partir da ideia de que a aquisição do conhecimento ocorre na interação do indivíduo com o meio. O experimento forneceu indicativos de que o Padlet apresenta recursos que permitem a realização de atividades pedagógicas de forma colaborativa e interessante para os alunos em sintonia com a chamada Abordagem Comunicativa no ensino de língua estrangeira. A ajuda mútua e a troca de conhecimento entre alunos, professora e pesquisadora no processo de elaboração dos murais demonstraram a importância da interação entre os pares da aprendizagem indicada no sócio-interacionismo. Palavras-chave: Padlet, Tecnologias Digitais no Ensino de Língua Estrangeira, Sócio- interacionismo, Computer Assisted Language Learning (CALL), Abordagem Comunicativa. * Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação lato sensu em Docência no Século XXI: educação e tecnologias, cursada no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense, campus Campos Centro, nos anos de 2016/2017, desenvolvido sob a orientação da Prof Dr Hélvia Pereira Pinto Bastos. ** Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas/RS. E-mail:[email protected].

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Uso do software Padlet no ensino-aprendizagem da língua

inglesa: relato de uma experiência com alunos de uma

escola de idiomas*

Ana Osorio Coelho**

Resumo

O uso de tecnologias digitais pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem de uma

língua estrangeira uma vez que aproxima o conhecimento à realidade vivida pelo aluno. Este

artigo apresenta uma experiência com o software Padlet como um recurso tecnológico em sala

de aula numa escola de idiomas privada, com alunos entre 10-13 anos de nível pré-

intermediário de conhecimento. O objetivo foi verificar a percepção e interação dos alunos

quanto à introdução do Padlet como ferramenta auxiliar de produção textual, buscando

identificar de que forma esse recurso auxilia no reforço dos conteúdos. A pesquisa, de

natureza qualitativa, envolveu atividades de produção textual realizadas no Padlet com base

na Abordagem Comunicativa e Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador. Os

resultados da experimentação foram analisados com base na observação, acompanhamento

das atividades de produção textual e entrevista com os participantes. A análise se

fundamentou, também, na perspectiva sócio-interacionista de Vygotsky, a partir da ideia de

que a aquisição do conhecimento ocorre na interação do indivíduo com o meio. O

experimento forneceu indicativos de que o Padlet apresenta recursos que permitem a

realização de atividades pedagógicas de forma colaborativa e interessante para os alunos em

sintonia com a chamada Abordagem Comunicativa no ensino de língua estrangeira. A ajuda

mútua e a troca de conhecimento entre alunos, professora e pesquisadora no processo de

elaboração dos murais demonstraram a importância da interação entre os pares da

aprendizagem indicada no sócio-interacionismo.

Palavras-chave: Padlet, Tecnologias Digitais no Ensino de Língua Estrangeira, Sócio-

interacionismo, Computer Assisted Language Learning (CALL), Abordagem Comunicativa.

* Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação lato sensu em Docência no

Século XXI: educação e tecnologias, cursada no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia

Fluminense, campus Campos Centro, nos anos de 2016/2017, desenvolvido sob a orientação da Profạ Dr

ạ Hélvia

Pereira Pinto Bastos. **

Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas/RS. E-mail:[email protected].

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Use of software Padlet in teaching-learning processes:

report of an experiment with students of English in a

private language school

Abstract

The use of digital technologies can contribute to the teaching-learning process of a foreign

language in order to bring knowledge closer to the students’ reality. This article presents an

experiment using Padle as a technological resource with pre-intermediate students ages 10-13

in an English Language School. The purpose of the research was to verify the perception and

interaction of the students regarding the use of Padlet as an auxiliary tool of textual

production activities. The qualitative research involved textual production activities based on

the Communicative Approach of Language Learning. The results of the experiment were

based on observation, textual production, follow-up activities, and interviews with the

participants. Data analysis also considered notion given by Vygotsky's socio-interactionist

theory that the acquisition of knowledge occurs in the interaction of the individual with the

environment. The experiment provided indicators that Padlet offers resources that allows the

accomplishment of pedagogical activities in a collaborative and interesting way in line with

the Communicative Approach applied to foreign language teaching . Mutual help and

exchange of knowledge between the students, the teacher and the researcher in the process of

creating the online boards demonstrated interaction between the pairs as indicated by the

socio-interactionist theory.

Key words: Padlet, Digital Technologies in Foreign Language Teaching, Social

Interacionism, Computer Assisted Language Learning (CALL), Communicative Approach.

1 Introdução

O uso da tecnologia na educação tem estimulado pesquisas quanto à compreensão do

impacto e das mudanças pelas quais o processo de ensino-aprendizagem vem passando. A

relação entre ensino-aprendizagem e tecnologia pode levar o professor a refletir sobre seu

aluno, a compreender suas experiências em sala de aula e a desenvolver suas práticas

pedagógicas, pois como destaca Lopes (2014), o uso da tecnologia em sala de aula é uma

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forma de promover o acesso ao conhecimento e estimular o aluno por pesquisa, leitura e

atividades interativas, colaborando assim, para o desenvolvimento do processo de

aprendizagem.

O uso de recursos tecnológicos em situações de aprendizagem é visto como

instrumento importante para que o professor promova e motive os alunos na busca pelo

conhecimento. Segundo Duqueviz (2017, p. 31), “como ferramenta educacional, o

computador tem a capacidade de aperfeiçoar e, possivelmente, mudar a qualidade do ensino,

vislumbrando uma mudança no paradigma da educação – do ensino para a aprendizagem”.

Sendo assim, no ambiente atual de ensino de língua estrangeira, percebe-se o quanto a

utilização de tecnologias digitais em sala de aula tem se tornado um fator potencializador da

aprendizagem. Isso se verifica em um estudo realizado em 2015 pelo Centro Regional de

Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade e da Informação (CETIC.br, 2015) em escolas

públicas e privadas no Brasil. O estudo identificou que 73% dos professores realizaram

atividades com o uso do computador e/ou internet com os alunos. Além disso, 50% dos

professores de escolas privadas e 23% dos professores de escolas públicas utilizaram a sala de

aula como um local de uso de internet para realizarem atividades com os alunos.

Percebe-se que a tecnologia e o ensino de língua estrangeira têm uma estreita ligação,

tendo em vista que os aparatos tecnológicos têm um papel inovador na forma como a língua é

ensinada e aprendida. Para Leffa (2006, p. 13), “o computador tem provocado muitos debates

e gerado inúmeros trabalhos na área do ensino de línguas”. Partindo desse contexto, este

trabalho levanta o seguinte questionamento: de que maneira a interação entre os alunos na

produção do mural interativo do Padlet pode influenciar neste processo de ensino-

aprendizagem da língua inglesa, especificamente no reforço de conteúdos?

Considerando o exposto, o estudo teve como objetivo identificar a percepção e

interação dos alunos em uma escola de idiomas quanto à introdução do Padlet em sala de aula

como ferramenta auxiliar no reforço da língua inglesa, através de uma atividade de produção

textual.

Tendo em vista alcançar o objetivo geral, alguns objetivos específicos foram

estabelecidos: i) acompanhar a criação e apresentação da produção textual realizada pelos

alunos; ii) descrever como os alunos trocam conhecimento e a forma como trabalham em

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grupo durante o uso do Padlet; iii) identificar suas facilidades e dificuldades encontradas

durante o uso do software.

Este trabalho utilizou o Padlet1 como recurso tecnológico em sala de aula numa escola

de idiomas, para que se pudesse identificar de que forma ele auxilia como mediador no

reforço dos conteúdos. O Padlet é um software gratuito de fácil manuseio que tem como

propósito possibilitar a criação de murais interativos utilizando recursos hipermidiáticos como

textos, fotos, vídeos e links. Existe também espaço para comentários e discussões em grupo

possibilitando a participação e colaboração de todos os integrantes. Dessa forma, o Padlet

pode tornar o processo de ensino-aprendizagem mais atraente e dinâmico, por oportunizar a

aprendizagem colaborativa e ser utilizado como uma metodologia diferenciada.

Para entender como acontece a relação de aprendizagem e interação durante o uso do

Padlet pelos alunos, este estudo fundamentou-se em três aportes teóricos: i) a teoria sócio-

interacionista de Lev Semyonovich Vygostsky (1991, 1998) – que entende que a aquisição do

conhecimento ocorre na interação do indivíduo com o meio; ii) o campo CALL (Computer

Assisted Language Learning- Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador)- que

através dos trabalhos de Mark Warschauer (1996, 1997, 1998, 2005) estuda o computador

como ferramenta pedagógica mediadora do ensino-aprendizagem; iii) e a Abordagem

Comunicativa - que se caracteriza por ter foco no sentido, significado e interação propositada

entre os sujeitos que estão aprendendo uma língua estrangeira.

A pesquisa apresentada neste estudo foi motivada pelo fato da pesquisadora ter sido

instrutora da língua inglesa na escola de idiomas onde foi realizada a pesquisa de campo para

este trabalho. Neste período, pôde-se perceber que a utilização de um recurso computacional

como o Padlet na escola poderia oportunizar novas estratégias e práticas de ensino-

aprendizagem da língua inglesa.

Portanto, o resultado deste trabalho poderá ajudar professores de língua estrangeira a

refletirem na importância do uso de tecnologias digitais em sala de aula, com o intuito de criar

um ambiente motivador, participativo, interativo e de aprendizagem efetiva da língua

estrangeira.

1 URL: www.padlet.com

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2 Referencial Teórico

Apresentam-se, a seguir, fundamentos e conceitos sobre diferentes aspectos relativos

ao uso de tecnologias digitais na educação, particularmente, no ensino-aprendizagem da

língua inglesa.

2.1 Tecnologias Digitais na Educação

Ao refletir sobre educação, um aspecto relevante a se pensar é em novos recursos

como facilitadores no processo de ensino-aprendizagem. A inserção das tecnologias digitais

na educação pode proporcionar diferentes formas de trabalhar com a informação e trazer

transformações pedagógicas. Como afirmam Batista, Barcelos e Azevedo (2015, p. 7) “[...] as

tecnologias digitais podem não só representar um conjunto de ferramentas auxiliares para o

trabalho dos professores e alunos, como podem abrir novas oportunidades de aprendizagem”.

Nessa perspectiva, as tecnologias digitais têm um papel importante nesta nova forma

de trabalho. Conforme Porto (2006, p. 45):

as tecnologias de informação e/ou comunicação possibilitam ao indivíduo ter acesso

a uma ampla gama de informações e complexidades de um contexto (próximo ou

distante) que, num processo educativo, pode servir como elemento de aprendizagem,

como espaço de socialização, gerando saberes e conhecimentos científicos.

Dessa forma, educação e tecnologia podem ser trabalhadas juntas de forma a

aproximar o conhecimento da realidade vivida pelo aluno. Segundo Duqueviz (2017, p. 38):

[...] as tecnologias digitais não se configuram como uma condição sine qua non, sem

as quais a educação contemporânea está fadada ao fracasso ou à inexistência. Porém,

compreendemos que essas tecnologias pertencem ao momento histórico de hoje e

mediam relações sociais da vida, é natural que essas tecnologias já presentes nas

vidas dos seres humanos se constituam como instrumentos mediadores nas

interações decorrentes do processo de ensino e aprendizagem nas instituições

escolares.

Para Porto (2006), a escola depara-se com o desafio de inserir ferramentas

tecnológicas em seu contexto, associando essas ferramentas ao conhecimento escolar e

possibilitando, então, a comunicação entre os indivíduos. Consequentemente, ela disponibiliza

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aos sujeitos escolares um conjunto de saberes que, se trabalhados em perspectiva

comunicacional, promovem transformações nas relações vivenciadas no dia a dia da escola.

Pode-se pensar na possibilidade de usar tecnologias digitais como uma ferramenta

estratégica capaz de ajudar o aluno na apropriação do conhecimento. Porém, a ferramenta por

si só não atende ao propósito educacional, e sim a forma como o indivíduo a utilizará. Sendo

assim, é preciso que o uso dos recursos tecnológicos tenha um objetivo pedagógico claro.

O desenvolvimento tecnológico tem permitido a integração de tecnologias digitas com

o processo de aprendizado de línguas – campo de trabalho discutido na seção que segue.

2.2 Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador (CALL) e a

Teoria Sócio-interacionista

Em função do desenvolvimento constante dos recursos computacionais e da difusão

de práticas pedagógicas mais centradas no aluno, verifica-se, na atualidade, uma forte relação

entre educação e tecnologias. Na literatura encontram-se estudos que abordam as

contribuições que a tecnologia tem trazido para o ensino de línguas. De acordo com

Warschauer e Healy (1998, p. 57): “[...] with the advent of multimedia computing and the

Internet, the role of computers in language instruction has now become an important issue

confronting large number of language teachers throughout the world.”1

Uma área de investigação que tem trazido contribuições quanto ao estudo da

aprendizagem mediada pelo computador é conhecida como CALL (Computer Assisted

Language Learning - Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador). O campo CALL

entende que a interação entre os aprendizes no processo de aprendizagem pode se dar através

da mediação de um instrumento, seja ele um livro, quadro negro, ou mesmo o uso do

computador. De acordo com Leffa (2006, p.12): “a Aprendizagem de Línguas Mediada por

Computador (CALL) é uma área de investigação que tem por objetivo pesquisar o impacto do

computador no ensino e aprendizagem de línguas, tanto materna quanto estrangeira.” Em seus

estudos, Warschauer (1996) identifica alguns fatores que influenciam uma atitude positiva dos

alunos em relação ao uso dos computadores: o benefício da comunicação mediada pelo

1 “[...] com o advento da computação multimídia e da internet, o papel dos computadores na instrução da

linguagem tornou-se uma questão importante confrontando o grande número de professores de línguas em todo o

mundo” (tradução nossa).

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computador, o sentimento de capacitação pessoal e o aumento das oportunidades de

aprendizagem. Além disso, Warschauer e Healey (1998) apontam que alunos apresentam uma

atitude positiva em relação à produção textual com o uso de computadores, promovendo a

motivação e melhorando as suas habilidades na escrita, favorecendo assim, o uso da

linguagem num contexto real.

A teoria sócio-interacionista de Vygotsky (1991, 1998), por usa vez, pode contribuir

no entendimento do processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira, pois sua

questão central é a aquisição dos conhecimentos pela interação do indivíduo com o meio.

Apesar de Vygotsky ter estudado a aquisição da linguagem da criança em sua língua materna,

seus conceitos têm sido aplicados ao aprendizado de uma segunda língua.

O ambiente escolar pode ser entendido como um local de interação social. Nessa

perspectiva de interação, é dada ao aluno a oportunidade de negociação, mediação, diálogo e

troca de conhecimento. Sendo assim, a sala de aula de língua estrangeira oportuniza ao aluno

a construção do seu próprio conhecimento em conjunto com outros. Dessa forma: “[...] a

produção realizada por meio do uso da língua alvo através da tarefa colaborativa para a

solução de problemas comunicativos e para a construção do conhecimento é considerada

como um elemento que favorece a aprendizagem” (OTHAN, 2001; SWAIN, 2000;

LANTOLF, 2000; PICA, 1987 apud SEBA; QUEIROZ, 2008, p. 194).

Conforme Seba e Queiroz (2008, p.195), “sob essa ótica, a interação não é vista

apenas como um fator emocional. Ao contrário, ela é crucial para o desenvolvimento

cognitivo do aluno.” O sócio-interacionismo entende que a interação é o próprio processo de

aprendizagem. Ou seja, o desenvolvimento do aprendiz é construído, em primeiro momento,

socialmente na interação e, depois, é internalizado e torna-se integrante do indivíduo.

Segundo Seba e Queiroz (2008, p. 195):

[...] a negociação entre os participantes de pequenos grupos em tarefas colaborativas

nas quais eles desempenham um papel ativo na construção de sua aprendizagem

proporciona oportunidades para que melhor compreendam e usem adequadamente a

língua alvo.

Um dos preceitos básicos da teoria sócio-interacionista é o conceito de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZPD), que Vygotsky (1991 p. 58) explica ser:

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a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através

da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,

determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em

colaboração com companheiros mais capazes.

Sendo assim, na aprendizagem de uma língua estrangeira, a ZPD pode ser entendida

como a distância entre o que o aluno consegue fazer com ou sem a ajuda de uma falante mais

competente. Em outras palavras, a aprendizagem ocorre através da mediação e negociação

entre o que um professor ou aluno ensina a outro, desenvolvendo assim as competências

comunicativas do aluno.

Tendo como base as ideias de Vygotsky, o pesquisador Mark Warschauer busca

entender a relação entre os indivíduos e as ferramentas. Para ele:

sociocultural theory allows us to dialectically link these seemingly contradictory

perspectives. Yes, technology is just a tool, but, like all tools, it mediates and

transforms human activity. Both teachers and researchers need to take into account

both how this mediation occurs at the micro level, and also how it intersects with,

and contributes to, broader social, cultural, historical, and economic trends1

(WARSCHAUER, 2005, p. 11).

2.3 Abordagem Comunicativa

Segundo Jack C. Richards (2006, tradução nossa), a aprendizagem de línguas tem sido

vista como resultante: i) da interação entre o aprendiz e os usuários do idioma; ii) da criação

colaborativa de significado; iii) da interação significativa e proposital através do idioma; iv)

da negociação de significado entre o aprendiz e seu interlocutor para chegar à compreensão;

v) do aprendizado com base no feedback que os alunos recebem quando eles usam o idioma; e

vi) da atenção que se dá ao idioma que se ouve (input) e da tentativa de se incorporar novas

formas de desenvolver competências comunicativas.

Nessa perspectiva de aprendizagem da língua estrangeira, a Abordagem Comunicativa

tem sido utilizada como metodologia de ensino por focar o aprendizado do aluno,

relacionando com as situações reais vividas na língua estrangeira. Para Leffa (1988, p. 21), “o

1“A teoria sócio-cultural nos permite ligar a dialética nessas perspectivas aparentemente contraditórias. Sim, a

tecnologia é apenas uma ferramenta, mas, como todas as ferramentas, media e transforma a atividade humana.

Tanto professores quanto pesquisadores precisam levar em conta tanto a forma como essa mediação ocorre no

nível micro, como também é interceptada e contribui para tendências sociais, culturais, históricas e econômicas

mais amplas” (tradução nossa).

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uso de linguagem apropriada, adequada à situação em que ocorre o ato da fala e ao papel

desempenhado pelos participantes, é uma grande preocupação na Abordagem Comunicativa.”

Portanto, a ênfase da Abordagem Comunicativa está na comunicação, no aluno saber usar a

língua para se comunicar. O saber se comunicar, passa a ser tão importante quanto ter

conhecimento da gramática, por exemplo.

Conforme Leffa (1998, p. 23), “a Abordagem Comunicativa defende a aprendizagem

centrada no aluno não só em termos de conteúdo, mas também de técnicas usadas em sala de

aula”.

De acordo com Richards (2006), a Abordagem Comunicativa possibilita que o aluno

assuma maior responsabilidade na aprendizagem. Ainda segundo o autor, seguindo essa

metodologia de trabalho, o professor assume o papel de orientador e facilitador na sala de

aula. O uso de técnicas de trabalho em pares e grupo são muito adotadas nessa abordagem.

Portanto, a Abordagem Comunicativa aliada ao uso de tecnologias digitais pode

favorecer a aprendizagem de uma língua estrangeira por possibilitar que os alunos interajam

entre si e com o mundo real, mediado por um instrumento, no caso o computador.

Na revisão de literatura para este artigo, poucos estudos científicos sobre a utilização

do Padlet na educação foram identificados. Dentre os trabalhos correlatos encontrados, cita-

se, inicialmente, o realizado por Gianini (2017) com alunos do curso de Análise e

Desenvolvimento de Sistemas da FATEC Arthur de Azevedo, Mogi Mirim/SP. A autora

buscou identificar, a partir de proposições de uso de ferramentas da internet, melhores

resultados na autonomia dos alunos através do uso do software Padlet. Dos resultados obtidos

na pesquisa, a autora identificou que os alunos que realizaram as tarefas no Padlet, tornaram-

se mais conscientes em relação ao processo de aprendizagem, colaborativos nas aulas e com

os colegas, além de terem adquirido mais autonomia.

Por sua vez, Lestari (2017) realizou um estudo na Universitas PGRI Madiun da India,

com alunos do terceiro semestre do Departamento de Educação, no qual utilizou o Padlet para

identificar de que forma o software poderia melhorar as habilidades de escrita dos alunos. O

estudo foi composto por três ciclos no qual o autor comparou a evolução das habilidades de

escrita dos alunos quantitativamente, através de avaliação escrita no Padlet, e

qualitativamente, através da descrição e implementação do uso do Padlet, análise da

observação e entrevista. Os resultados mostraram que os alunos aprimoraram suas habilidades

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de escrita e se sentiram estimulados a explorar novas ideias no processo de criação de seus

murais.

Por último, Moreira e Kelecon (2017) realizaram um trabalho com turmas da 2ª série

do Ensino Médio do Colégio Pedro II, no qual narram o desenvolvimento de um projeto

interdisciplinar envolvendo três línguas estrangeiras (inglês, francês e espanhol). O objetivo

do estudo foi o compartilhamento das pesquisas realizadas pelos alunos, através do uso do

Padlet, com músicas temáticas em cada uma das línguas. Os resultados mostraram que, pelo

caráter multimodal do software, a construção dos murais se mostrou eficaz para a

apresentação das pesquisas dos alunos.

3 Procedimentos Metodológicos

Este trabalho descreve a realização de uma atividade de produção textual em língua

inglesa com o uso do Padlet. A abordagem escolhida foi a qualitativa, uma vez que se buscou

compreender e interpretar determinados comportamentos, opiniões e expectativas dos

indivíduos da amostra. Para Creswell (2007, p. 188) “a pesquisa qualitativa é uma pesquisa

interpretativa, com o investigador geralmente envolvido em uma experiência sustentada e

intensiva com os participantes.”

Os instrumentos de coleta de dados usados no trabalho foram observação e entrevista

semiestruturada com os participantes conforme descrito adiante nesta seção. A observação

pode fornecer ao pesquisador detalhes por basear-se na descrição e a entrevista é uma

ferramenta de coleta de dados porque possibilita a obtenção direta de informações dadas pelos

sujeitos da pesquisa. Segundo Creswell (2007), a observação da amostra consiste em tomar

nota sobre o comportamento e atividade dos participantes no local da pesquisa. Na entrevista,

o pesquisador conduz a conversa de forma a extrair ideias e opiniões dos participantes.

A pesquisa foi realizada em seis etapas: i) revisão de literatura sobre a teoria sócio-

interacionista, CALL, a Abordagem Comunicativa e o uso pedagógico das tecnologias

digitais; ii) planejamento de uma atividade de produção textual juntamente com as professoras

das turmas; iii) elaboração das perguntas para entrevista; iv) aplicação das atividades de

produção textual no Padlet; v) realização das entrevistas com os alunos; vi) e análise dos

dados levantados com os participantes da pesquisa.

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O trabalho de campo foi realizado no segundo semestre de 2017 numa escola de

idiomas privada que desenvolve suas atividades desde 2014 na cidade de Campos dos

Goytacazes/RJ. Conforme dados informados pela coordenadora pedagógica, a escola trabalha

com a faixa etária de 02 a 15 anos, possuindo, na época da pesquisa, 100 alunos. A escola

busca desenvolver uma metodologia diferenciada, seguindo a linha de trabalho da Abordagem

Comunicativa; entretanto, ainda pouco utiliza recursos tecnológicos como prática pedagógica

em sala de aula.

A amostra da pesquisa foi composta por três turmas de nível pré-intermediário -

denominadas de Turma A (três alunos), B (três alunos) e C (dois alunos), com alunos entre 10

e 13 anos, somando um total de oito participantes. A seleção das turmas ocorreu a partir do

nível pré-intermediário de conhecimento, de modo que os alunos tivessem autonomia na

língua quanto a vocabulário e estrutura gramatical para a realização da tarefa proposta. Foram

ministradas três aulas de 1 hora e 15 minutos para a aplicação da pesquisa para cada turma.

De acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (CEFR1), o

aluno de nível pré-intermediário é capaz de: i) compreender frases e expressões relacionadas a

informações pessoais e familiares simples; ii) se comunicar em tarefas simples e em rotinas

que exigem apenas uma troca de informação simples e direta sobre assuntos que lhe são

familiares e habituais; e iii) descrever de modo simples a sua formação, o meio circundante.

O software Padlet foi selecionado por ser uma ferramenta dinâmica de aprendizagem

que possibilita o trabalho em grupo, a interação entre os participantes e o aprendizado através

da troca de conhecimento numa situação real. Além disso, é uma ferramenta que está próxima

da realidade atual dos alunos por utilizar recursos tecnológicos. O Padlet é um mural online

que funciona em diferentes suportes tecnológicos, tais como computador e dispositivos

móveis iOS, Android e Kindle. Para utilizar o software, basta acessar o site e criar uma conta.

O mural estará pronto para uso, podendo o usuário fazer algumas modificações, como:

colocar um título, mudar a imagem de fundo, alterar a exibição de mensagens, ou escolher o

nível de privacidade. Além disso, podem ser inseridos textos, imagens, vídeos, músicas e

links. O desenvolvimento dos murais pelos alunos foi realizado na versão demo que está

1 URL: www.britishcouncil.org.br/quadro-comum-europeu-de-referencia-para-linguas-cefr

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disponível na internet1. Para este trabalho, a escola disponibilizou um computador do tipo

laptop.

As etapas de realização do experimento são listadas no quadro seguinte.

Quadro 1- Descrição das etapas de coleta de dados

Dia Atividades

Dia 1

(1h15 min)

Capacitação e familiarização dos alunos quanto aos

recursos do Padlet.

Filmagem das atividades para análise posterior.

Aplicação da primeira parte da entrevista.

Dia 2

(1h15 min)

Realização do mural no Padlet.

Filmagem das atividades para análise posterior.

Dia 3

(1h15 min)

Apresentação dos murais.

Avaliação das atividades (segunda parte da entrevista)

Fonte: elaboração própria

O trabalho começou com o planejamento de uma atividade de produção textual

juntamente com as professoras das turmas. Essas atividades estavam relacionadas com o tema

da unidade do livro texto que os alunos tinham trabalhado recentemente. As turmas A e C

haviam trabalhado com o conteúdo gramatical “Graus do adjetivo - comparativo e

superlativo”. A proposta para essas turmas foi desenvolver uma produção textual sobre: Four

Extreme Places in the World (Quatro lugares extremos no mundo). Na turma B, havia sido

trabalhado o tempo verbal do futuro, usando o verbo auxiliar will para formar previsões sobre

o que ainda pode acontecer. A proposta para essa turma era desenvolver uma produção textual

sobre: What will the Earth be in the future in 50 years from today (Como será o planeta terra

daqui a 50 anos).

Após o planejamento das atividades, foram elaboradas perguntas para a realização de

uma entrevista individual com os alunos participantes no momento da conclusão da pesquisa.

Essas perguntas tinham a finalidade de identificar a familiaridade e tempo diário de uso do

computador e internet, a percepção quanto ao uso do software Padlet e a interação entre os

colegas.

1 A versão demo não disponibiliza acesso a todos os recursos do software. Para se ter acesso ilimitado, deve-se

cadastrar e pagar o Plano Premium.

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No primeiro encontro (dia 1) com os alunos, foi realizada uma capacitação quanto ao

uso do software de forma que os estudantes pudessem conhecer e se familiarizar com o

programa. A pesquisadora mostrou o passo a passo de como se utiliza as funções do Padlet,

como: escrever o título, inserir textos, selecionar e inserir imagens e vídeos e como configurar

o layout do mural. Após essa apresentação inicial, em grupo, os alunos tiveram o restante do

tempo de aula para trabalhar com o software de forma livre. Além disso, foram feitas

perguntas referentes aos nomes, idades, à familiaridade e tempo diário de uso do computador

e internet.

No segundo encontro (dia 2), após a familiarização com o software, a pesquisadora

repassou para cada turma a sua tarefa para a realização da produção textual (conforme

explicado anteriormente) no mural interativo. Os alunos foram instruídos a trabalhar em grupo

e orientados a utilizar o restante do tempo de aula para a execução da atividade. Além disso,

salientou-se de que poderiam solicitar ajuda da professora ou da pesquisadora quanto ao uso

do software ou tirar dúvidas quanto ao uso da língua inglesa.

No terceiro encontro (dia 3), como conclusão das atividades propostas, a pesquisadora

solicitou aos alunos que apresentassem os murais produzidos por eles. Após as apresentações,

individualmente, os alunos foram entrevistados pela pesquisadora.

4 Resultados e Discussão

As subseções seguintes apresentam dados coletados no experimento e análise dos

mesmos, incluindo a percepção da pesquisadora quanto à relação dos participantes com o

computador do tipo laptop.

4.1 Encontro 1: Introdução ao Padlet

No primeiro encontro, os alunos foram perguntados sobre seus nomes, idades, à

familiaridade e tempo diário de uso do computador e internet: Você utiliza computador no seu

dia a dia? Para quê? Quantas horas de computador você utiliza no seu dia a dia?, dos oito

alunos participantes da pesquisa, cinco responderam que utilizam o computador de duas a três

vezes por semana, um aluno utiliza todos os dias, um utiliza somente aos finais de semana e

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outro não utiliza. Os motivos para o uso do computador são, entre eles: realizar trabalho da

escola, jogar e assistir filme.

Após essa etapa inicial, a pesquisadora mostrou aos alunos o exemplo de um mural

criado no Padlet, mostrando as possibilidades de incluir figuras, vídeos, fotos, além do texto.

Uma aluna da turma A comentou que: “gosto muito de fazer murais de papel, porque gosto de

recortar e colar figuras.” O levantamento das idades dos participantes mostra que essa aluna

era a mais nova do grupo. Além disso, a escola de idiomas tem como prática de ensino a

criação de murais de papel.

O objetivo desse primeiro contato com o software era que os alunos pudessem

conhecer e explorar os recursos disponíveis de forma a se familiarizarem com o Padlet. As

três turmas demonstraram gostar de trabalhar com recursos específicos: a turma A postou

imagens que pesquisaram na internet, a turma B pesquisou e postou vídeos e a turma C tirou

fotos deles mesmos. Os alunos ficaram o restante do tempo de aula trabalhando no mural de

maneira livre sem demonstrar qualquer dificuldade.

Um fato não previsto pela pesquisadora foi a dificuldade mostrada pelas três turmas

quanto ao uso dos comandos do computador como, por exemplo, os comandos copiar e colar

(Ctrl+c e Ctrl+v). Esses comandos foram necessários para postar vídeos ou links nos murais.

Outro comando do computador que os alunos apresentaram dificuldade de manuseio foi

salvar a imagem. A pesquisadora havia criado uma pasta na área de trabalho do computador

onde os alunos pudessem salvar imagens da internet. Toda vez que eles tinham que salvar

uma imagem, a professora ou a pesquisadora precisavam ajudar no processo porque não

sabiam como encontrar a imagem salva por eles na pasta na área de trabalho. Um aspecto

relevante verificado na observação foi a colaboração intensa entre os participantes - a todo o

momento, os alunos se ajudavam na produção do mural. Quando um tinha mais dificuldade,

os outros colegas ajudavam e orientavam quanto à atividade. Para Vygotsky (1998, p.11), “a

zona de desenvolvimento proximal, por sua vez, abrange todas as funções e atividades que a

criança ou o aluno consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém”. A ajuda

poderá vir de um aluno que já tenha desenvolvido a habilidade requerida ou até mesmo de um

professor.

Ao final do primeiro encontro, os alunos haviam criado murais bem variados, já que a

orientação da pesquisadora foi deles conhecerem e experimentarem as funções do software.

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No encerramento deste encontro, foi perguntado aos alunos como havia sido trabalhar com o

Padlet, e todos responderam que tinham gostado da experiência.

Após esse primeiro encontro, percebendo que os alunos apresentaram dificuldades

quanto ao uso do computador, a pesquisadora acrescentou duas perguntas ao roteiro de

entrevista, de forma a identificar quais recursos tecnológicos os alunos tinham o hábito de

utilizar e quais dificuldades eles percebiam ter no uso do computador. Quando perguntados:

Quais recursos tecnológicos você utiliza no seu dia a dia?, sete participantes responderam

que utilizam o celular. Outras alternativas citadas foram computador, tablet e televisão. Os

motivos mais citados para o uso do celular são - conversar e jogar. Quanto a segunda

pergunta: Você encontrou alguma dificuldade no uso do computador?, cinco alunos

reponderam “Sim”, e três alunos comentaram que tiveram dificuldade nos comandos copiar e

colar. (Ctrl+c e Ctrl+v).

4.2 Encontro 2: Realização da produção textual no mural do Padlet

No segundo encontro, a pesquisadora explicou aos alunos que eles iriam criar os

próprios murais. Para as turmas A e C, a proposta de trabalho foi desenvolver um mural

sobre: Research and write about: “Four extreme places in the world” (Pesquise e escreva

sobre: Quatro lugares extremos no mundo). Na turma B, a proposta de trabalho foi

desenvolver um mural sobre: Research and write about: “What will the Earth be in the future

in 50 years from today” (Pesquise e escreva sobre: Como será o planeta terra daqui a 50

anos).

Quando os temas foram apresentados para os alunos, as turmas B e C realizaram

juntas as atividades de planejar, pesquisar e escrever a tarefa proposta. A turma A decidiu que

o tópico do trabalho seria desenvolvido individualmente; portanto, cada aluno planejou,

pesquisou e escreveu sobre um item que escolheu. Durante toda a realização dos murais, os

alunos se ajudaram mutuamente, solicitando a ajuda da professora e da pesquisadora para os

comandos do computador e tirando dúvidas quanto à ortografia e à estrutura das frases.

Nas turmas A e B, por solicitação dos alunos, as intervenções da professora e da

pesquisadora foram frequentes, dessa forma, as correções da estrutura das frases, gramática e

ortografia aconteceram de forma pontual. No entanto, a turma C teve uma postura mais

independente na realização da tarefa. Solicitaram ajuda nos comandos do computador, mas

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não solicitaram ajuda quanto ao o quê e como escrever. Por esse motivo, a professora e a

pesquisadora combinaram que não iriam fazer intervenções e correções no momento em que

os alunos escreviam. As correções aconteceram no terceiro encontro, antes da apresentação do

mural. Todas as turmas conseguiram concluir o mural no Padlet no segundo encontro. A

Figura 1 apresenta o mural produzido pela turma A.

Figura 1 – Mural produzido pela turma A

Fonte: protocolo de pesquisa

Os resultados da entrevista individual evidenciaram que os alunos não tiveram

dificuldades com o Padlet. Na pergunta: Você encontrou alguma dificuldade no uso do

software Padlet?, dos oitos participantes, sete responderam que não. Para a pergunta: O que

você achou fácil no manuseio do software?, cinco alunos responderam que foi fácil inserir

textos e imagens, organizar as informações no mural e tirar foto. Quando perguntados: O que

você achou difícil no manuseio do software Padlet?, três alunos responderam que não houve

dificuldade no manuseio, outros dois identificaram os comandos copiar e colar (Ctrl+c e

Ctrl+v) como tendo sido sua dificuldade.

4.3 Encontro 3: Correções e apresentação dos Murais

No terceiro encontro o objetivo era a apresentação dos murais produzidos pelos

alunos. Os alunos das turmas A e B apresentaram os murais com clareza e demonstraram

muita descontração ao interagir com as funções do Padlet. Nessas duas turmas, conforme

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mencionado anteriormente, as correções foram feitas durante a realização da atividade de

produção textual, por isso, esse encontro se propôs somente à apresentação dos murais.

Com a turma C, no entanto, a professora e a pesquisadora solicitaram aos alunos que

olhassem novamente o mural de forma a identificar possíveis erros na construção dos textos.

Juntamente com a professora, eles foram identificando e corrigindo algumas falhas de

ortografia, gramática e estrutura do texto. Após essa etapa, os alunos apresentaram seu mural

também com descontração ao interagir com as funções do Padlet. Importante ressaltar que as

três turmas apresentaram erros na ortografia, gramática e estrutura das frases. Esses erros são

comuns em alunos de nível pré-intermediário, pois estão começando a trabalhar com

produção textual.

As Figuras 2 e 3 ilustram os murais produzidos pelas turmas B e C.

Figura 2 – Mural produzido pela turma B

Fonte: protocolo de pesquisa

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Figura 3 – Mural produzido pela turma C

Fonte: protocolo de pesquisa

Foi nítida a ajuda mútua dos alunos na realização do mural, mesmo que um grupo

tenha se organizado diferente na divisão das tarefas. As respostas coletadas na entrevista

mostram o quanto a ajuda e a interatividade dos colegas são importantes para a realização das

tarefas e para a aprendizagem. Quando perguntados: Como foi realizar a tarefa com os

colegas no Padlet?, os oito participantes responderam que foi uma experiência positiva.

Cinco alunos justificaram que “fica mais fácil aprender com os colegas além de ser uma aula

divertida.” Warschauer (2005), considera que a teoria de Vygotsky contribui para entender o

campo CALL, uma vez que ela preconiza que o aprendizado ocorre, primeiramente, pelo

aprendizado social, no qual a criança aprende através do contato com outros (interpsicológico)

e depois, através do contato consigo mesma (intrapsicológico).

Outro dado importante é o quanto os alunos gostaram do Padlet pelo fato de poderem

usar várias funções do programa. Quando perguntados: O que você gostou do software

Padlet?, cinco alunos comentaram sobre poder inserir informações e vídeos além da

facilidade do manuseio do software. De acordo com Porto (2006, p. 46), “a relação interativa

com os meios permite ao usuário assumir o papel de sujeito”, ou seja, nesse processo de

interação entre indivíduo e tecnologia, o aluno assume o papel de sujeito ativo por explorar

caminhos, criar e experimentar possibilidades.

Um resultado relevante é que todos os alunos tiveram a percepção de que houve mais

facilidade na aprendizagem da língua, seja através do vocabulário ou como reforço do que foi

aprendido. O fato de ter que pesquisar em inglês na internet e todo o software estar em inglês

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criou um ambiente de “imersão” na língua. Segundo Warschauer (1997), as atividades

colaborativas envolvem não apenas pesquisar informações, mas saber usar ativamente a

tecnologia para construir novos conhecimentos juntos.

Quando perguntados: O Padlet te ajudou na aprendizagem da língua inglesa?, os oito

participantes responderam “Sim”. Seis alunos justificaram a resposta comentando que o

Padlet ajudou na aprendizagem por estimular a pesquisa e a leitura na língua inglesa. Para um

dos alunos: “O Padlet ajudou na aprendizagem da língua porque a gente pesquisou e

escreveu em inglês. Assim, fomos aprendendo também com a ajuda dos colegas e da

professora”. Outro participante comentou: “Aprendi novas palavras na pesquisa que fiz”. A

teoria de Vygotsky tem como questão central “[...] a aquisição de conhecimento pela

interação dialética do indivíduo com o meio em um processo histórico, mediado por sistemas

simbólicos, através de instrumentos e signos (ferramentas auxiliares)” (SEBA; QUEIROZ,

2008, p. 193). Portanto, para o sócio-interacionismo, toda atividade humana pode ser

mediada por ferramentas, e essas ferramentas podem modificar o comportamento humano.

Quanto à pergunta: Você gostaria de utilizar o software Padlet novamente?, os oito

alunos responderam que “Sim”. Os motivos citados foram os mais variados, entre eles:

facilitar na aprendizagem, poder editar, conectar-se mais com os colegas, realizar atividades

divertidas e não perceber o tempo passar. Referente a essa questão, um dos alunos comentou:

“Gostaria de utilizar o Padlet novamente porque ajudou a gente a aprender várias coisas.

Me ajudou a aprender inglês porque a gente tinha que pesquisar e escrever em inglês.”

5 Conclusão

O trabalho apresentou um estudo experimental, de natureza qualitativa, sobre o uso do

Padlet como auxiliar no reforço dos conteúdos da língua inglesa com alunos de nível pré-

intermediário em uma escola de idiomas. A investigação buscou identificar como os recursos

do software fomentaram a interatividade entre alunos e professor e proporcionaram um

ambiente cooperativo de aprendizagem, em conformidade com as estratégias de ensino-

aprendizagem de idioma fundamentado na Abordagem Comunicativa e nas indicações de

Warschauer para a Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador (CALL).

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A possibilidade de se utilizar um software para desenvolver as tarefas de produção

textual propostas pela pesquisadora representou um diferencial na construção do

conhecimento dos alunos participantes da pesquisa. Essas atividades foram planejadas

levando em conta a Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos participantes, resultando

no reforço de conhecimentos prévios e facilitação na aquisição de novos. Da mesma forma, a

ajuda mútua e a troca de conhecimentos entre todos os envolvidos no processo de elaboração

dos murais demonstraram a importância da interação entre os pares na aprendizagem, em

concordância com o pensamento de Vygotsky.

O experimento forneceu indicativos de que o software Padlet apresenta recursos que

permitem a realização de atividades pedagógicas de forma colaborativa entre os alunos. O uso

dessa ferramenta potencializou a motivação, o envolvimento dos participantes no processo de

aprendizagem e o reforço dos conteúdos como indicado nos dados apresentados. A atitude

colaborativa entre os sujeitos durante a produção dos murais foi determinante, também, na

resolução de problemas referentes ao manuseio do software e na busca e seleção de imagens

para ilustrar os textos.

Cabe salientar que o trabalho desenvolvido foi uma oportunidade de aprendizagem e

crescimento para a pesquisadora, assim como para os professores e alunos participantes da

pesquisa. Acredita-se que, para a escola de idiomas, a realização do experimento oportunizou

uma reflexão quanto à possibilidade de buscar novos recursos tecnológicos para a prática

pedagógica. Além disso, é importante ressaltar o quanto este trabalho pode contribuir para a

pesquisa de estudos científicos relacionados ao uso do Padlet na educação, devido a escassez

de artigos encontrados na literatura.

Como trabalho futuro, aponta-se a intenção de se utilizar o Padlet em atividades com

língua estrangeira aplicados ao celular, cujo manuseio se diferencia do computador

tradicional, e constitui a principal ferramenta de comunicação dos alunos observados.

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Apêndice A – Murais produzidos pelas turmas A, B e C

Mural produzido pela turma A

Mural produzido pela turma B

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Mural produzido pela turma C

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Apêndice B – Roteiro de Entrevista

1. Você utiliza computador em seu dia a dia? Para que?

2. Quantas horas de computador você utiliza no seu dia a dia?

3. Quais recursos tecnológicos você utiliza no seu dia a dia? Para que? Por quantas horas?

4. Você já havia utilizado o Padlet antes?

5. O que você gostou do software Padlet? Justificar.

6. Você encontrou alguma dificuldade no uso do computador?

7. Você encontrou alguma dificuldade no manuseio do Padlet?

8. O que você achou fácil no manuseio do Padlet?

9. O que você achou difícil no Padlet?

10. O Padlet te ajudou na aprendizagem da língua inglesa? Justificar.

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11. Como foi realizar a tarefa com os colegas no Padlet? Justificar

12. Você gostaria de utilizar o Padlet novamente? Justificar.