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ESTADO DE MINAS S E X T A - F E I R A , 2 2 D E J U N H O D E 2 0 1 2 POL ÍTICA EDITOR: Baptista Chagas de Almeida EDITOR-ASSISTENTE: Renato Scapolatempore E-MAIL: [email protected] TELEFONE: (31) 3263-5293 3 LEIA MAIS SOBRE O GRUPO DE DILMA EM MINAS PÁGINA 4 Inquérito detalha ação em Minas Para órgão da repressão, Dilma coordenava doutrina ideológica em escolas, mas não integrava o grupo que assaltava bancos JOSIE JERONIMO E EDSON LUIZ Brasília – Um inquérito policial mili- tar do Conselho de Segurança Nacional (CSN) de 1969 relata as ações de roubo a bancos do Comando de Libertação Nacio- nal (Colina) em Minas Gerais e "enquadra" a então revolucionária Dilma Rousseff co- mo integrante da organização por ter ce- dido a casa para encontros do grupo e coordenar ações de doutrina ideológica nas escolas. O documento que se tornou público esta semana está sob a guarda do Arquivo Nacional. O inquérito lista o no- me dos 16 integrantes do Colina que ti- nham participação direta nos assaltos e foram presos à época da ditadura, relação da qual Dilma não faz parte. No perfil re- volucionário de Dilma traçado pelo CSN ela é descrita como agente de suporte in- telectual da organização. O documento do CSN de monitora- mento das ações de roubo a bancos em Minas Gerais confirma as declarações da presidente Dilma Rousseff, que sempre negou ter participado de ações efetivas de grupo armado. "Não tive nenhuma ação armada, se tivesse não receberia conde- nação de dois anos. Cumpri três anos de cadeia, mas fui condenada a dois", disse em abril de 2010, logo após deixar a Casa Civil para disputar a Presidência, negan- do em uma entrevista em Porto Alegre que tenha pegado em armas. Os "delitos" de Dilma listados pelo in- quérito policial militar são: pertencer a "organização clandestina e revolucioná- ria de cunho marxista-leninista", fazer parte da célula política da organização na faculdade de medicina, integrar o setor estudantil da organização, "encarregada de coordenar as ações nas escolas", reali- zar reuniões de "caráter subversivo em seu apartamento", participar de congres- so da organização em Contagem, convi- dar dois integrantes (Ageu Henriger Lis- boa e Marcos Antonio de Azevedo Meyer) para entrar na organização, rece- ber contribuições mensais para a organi- zação e utilizar "sua residência" para rea- lizar reuniões da organização. O inquérito lista assaltos cometidos pelo comando em Belo Horizonte, Saba- rá, Ibirité e Uberaba. Além do trabalho de acompanhamento que os militares fize- ram, identificando automóveis usados pela organização e o modus operandi dos assaltos, depoimento de Afonso Celso La- na Leite, o Ciro, tomado em 21 de feverei- ro de 1969, descreve as ações do Colina. Os carros usados nos assaltos eram roubados e trocados com frequência, pa- ra não chamar a atenção da polícia. À épo- ca, os integrantes da organização direta- mente mobilizados para os roubos moni- toravam as cidades, optando por institui- ções que tivessem grande circulação de dinheiro e esquema de segurança de me- nor porte. O município de Sabará era um dos alvos favoritos. Nos relatos, os milita- res identificaram que a má conservação das estradas desmotivou o grupo, que passou a mirar em alvo maior: bancos em Uberaba. Os 16 presos da Colina por assal- to a bancos em Minas tinham entre 21 e 24 anos. As armas usadas eram revólver calibre 38 e bombas coquetel molotov. Em um dos maiores roubos relata- dos, a organização levou 100 mil cruzei- ros de um banco, o equivalente a R$ 147 mil. Com o dinheiro dos roubos, o Coli- na comprava armas e aumentava o nú- mero de "aparelhos", alugando casas e sí- tios, para não manter o endereço, des- pistando os militares. GRÁFICA A abertura dos documentos do período militar também trouxe a públi- co relatórios das superintendências da Polícia Federal em Minas Gerais e no Pa- raná, que abrigam informações sobre a atuação de Dilma no Colina. Em ficha do Departamento de Vigilância Social da Se- cretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais, foto original de Dilma está anexada a despacho do juiz Mauro Seixas Telles em que informa que ela es- tá presa "para ser interrogada no proces- so que responde" em Juiz de Fora. O do- cumento é de 3 de julho de 1972. Dez anos depois, Dilma ainda era mo- nitorada pelos militares. A polícia do Pa- raná elaborou relatório sobre a atuação política da militante e Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem foi casada. Os militares descobriram que Dilma re- gistrou em seu nome a gráfica do mari- do, a Impremato, usada para imprimir panfletos políticos. "Carlos Franklin é só- cio da referida gráfica, embora no regis- tro da mesma não conste o seu nome, sim o de sua concubina, Dilma Vana Rousseff Linhares, ex-militante da Var- Palmares e ex-mulher de Galeno", traz o documento de agosto de 1982. REPRODUÇÃO Fac-símile da ficha do Departamento de Vigilância Social da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas

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  • E S T A D O D E M I N A S S E X T A - F E I R A , 2 2 D E J U N H O D E 2 0 1 2

    POLTICA E D I T O R : B a p t i s t a C h a g a s d e A l m e i d aE D I T O R - A S S I S T E N T E : R e n a t o S c a p o l a t e m p o r eE - M A I L : p o l i t i c a . e m@ u a i . c o m . b rT E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 2 9 3

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    LEIAMAIS SOBREOGRUPO

    DEDILMAEMMINASPGINA 4

    Inqurito detalhaao emMinas

    Para rgo da represso, Dilma coordenava doutrina ideolgicaem escolas, mas no integrava o grupo que assaltava bancos

    JOSIE JERONIMO E EDSON LUIZ

    Braslia Um inqurito policialmili-tar do Conselho de Segurana Nacional(CSN) de 1969 relata as aes de roubo abancosdoComandodeLibertaoNacio-nal(Colina)emMinasGeraise"enquadra"aentorevolucionriaDilmaRousseffco-mo integrantedaorganizaopor ter ce-dido a casa para encontros do grupo ecoordenar aes de doutrina ideolgicanas escolas. Odocumentoque se tornoupblicoestasemanaestsobaguardadoArquivoNacional. O inqurito lista ono-me dos 16 integrantes do Colina que ti-nhamparticipao direta nos assaltos eforampresospocadaditadura,relaodaqualDilmano fazparte.Noperfil re-volucionrio deDilma traado pelo CSNeladescrita comoagentedesuporte in-telectualdaorganizao.

    O documento do CSN demonitora-mento das aes de roubo a bancos emMinasGerais confirma as declaraes da

    presidente Dilma Rousseff, que semprenegouterparticipadodeaesefetivasdegrupo armado. "No tive nenhuma aoarmada, se tivesse no receberia conde-naodedois anos. Cumpri trs anos decadeia,mas fui condenada a dois", disseemabrilde2010, logoapsdeixaraCasaCivil para disputar a Presidncia, negan-do emuma entrevista em Porto Alegreque tenhapegadoemarmas.

    Os "delitos"deDilmalistadospelo in-qurito policial militar so: pertencer a"organizao clandestina e revolucion-ria de cunhomarxista-leninista", fazerpartedaclulapolticadaorganizaonafaculdade demedicina, integrar o setorestudantil da organizao, "encarregadade coordenar as aesnas escolas", reali-zar reunies de "carter subversivo emseuapartamento",participardecongres-so daorganizao emContagem, convi-dar dois integrantes (AgeuHenriger Lis-boa e Marcos Antonio de AzevedoMeyer)paraentrarnaorganizao, rece-

    bercontribuiesmensaisparaaorgani-zaoeutilizar "suaresidncia"pararea-lizar reuniesdaorganizao.

    O inqurito lista assaltos cometidospelo comando emBeloHorizonte, Saba-r, IbiriteUberaba.Almdotrabalhodeacompanhamento que osmilitares fize-ram, identificando automveis usadospelaorganizaoeomodusoperandidosassaltos,depoimentodeAfonsoCelsoLa-naLeite,oCiro, tomadoem21defeverei-rode1969,descreveasaesdoColina.

    Os carros usados nos assaltos eramroubadose trocados comfrequncia, pa-ranochamaraatenodapolcia.po-ca, os integrantes da organizao direta-mentemobilizadosparaosroubosmoni-toravamascidades,optandoporinstitui-es que tivessem grande circulao dedinheiroeesquemadeseguranademe-norporte.OmunicpiodeSabareraumdosalvos favoritos.Nosrelatos,osmilita-res identificaramque am conservaodas estradas desmotivou o grupo, que

    passouamiraremalvomaior:bancosemUberaba.Os16presosdaColinaporassal-to a bancos emMinas tinhamentre 21 e24 anos. As armas usadas eram revlvercalibre38ebombascoquetelmolotov.

    Em um dos maiores roubos relata-dos, a organizao levou100mil cruzei-rosdeumbanco, oequivalenteaR$147mil. Como dinheiro dos roubos, o Coli-na comprava armas e aumentava on-merode"aparelhos", alugandocasases-tios, para nomanter o endereo, des-pistandoosmilitares.

    GRFICAAaberturadosdocumentosdoperodomilitar tambmtrouxeapbli-co relatrios das superintendncias daPolcia Federal emMinasGerais enoPa-ran, que abrigam informaes sobre aatuaodeDilmanoColina.EmfichadoDepartamentodeVigilnciaSocialdaSe-cretaria de Estado de Segurana PblicadeMinas Gerais, foto original de Dilmaest anexada a despacho do juizMauro

    SeixasTellesemque informaqueelaes-tpresa "paraser interrogadanoproces-so que responde" em Juiz de Fora. O do-cumentode3de julhode1972.

    Dezanosdepois,Dilmaaindaeramo-nitoradapelosmilitares.ApolciadoPa-ran elaborou relatrio sobre a atuaopoltica da militante e Carlos FranklinPaixodeArajo, comquem foi casada.Osmilitares descobriramqueDilma re-gistrou em seu nome a grfica domari-do, a Impremato, usada para imprimirpanfletospolticos. "CarlosFranklins-cio da referida grfica, embora no regis-tro damesma no conste o seu nome,sim o de sua concubina, Dilma VanaRousseff Linhares, ex-militante da Var-Palmares e ex-mulherdeGaleno", trazodocumentodeagostode1982.

    REPRODUO

    Fac-smile da ficha do Departamento de Vigilncia Social daSecretaria de Estado de Segurana Pblica de Minas