Jornal fisenge nº54

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JORNAL DA Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros Entrevista RENÉE DE CARVALHO Página 8 www.fisenge.org.br Ano VII - nº 54 março / abril - 2012 Seminário de Planejamento Estratégico traça rumos da gestão 2011/2014 Foi realizado entre os dias 1 e 3 de março o Seminário de Planejamento Estratégico da Fisenge, em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de toda a diretoria executiva da Federação, além de membros dos 11 Sindicatos filiados. Entre os principais temas discutidos estava a formulação e execução de políticas públicas ligadas à engenharia. (Página 3) Organizações articuladas na Platafor- ma Operária e Camponesa para Energia (Sin- dicatos, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fede- ração Nacional dos Urbanitários (FNU), Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Central Única dos Trabalhadores) estão em campanha pela renovação das concessões do setor elétrico. As entidades acreditam que a renovação será um passo importante para evitar a privatização das usinas, das linhas de transmissão e das distribuidoras que ainda permanecem como estatais. Caso não aconteça, estará em jogo a possibilidade de privatização de cerca de 20% do parque gerador de energia do Brasil e 33% dos contratos de distribuição. (Página 7) Coletivo de Mulheres da Fisenge na internet No último dia 8 de março, foi lançado pelo Coletivo de Mulheres da Fisenge o primeiro número do seu Informativo Eletrônico. A publicação contou com matérias sobre os avanços das mulheres na vida pública, os desafios da mulher que opta pela engenharia e as perspectivas futuras do gênero. Apesar dos grandes avanços e conquistas, as mulheres ainda encontram muitas dificuldades no mercado de trabalho. (Páginas 4 e 5) entidades começam campanha por renovação das concessões do setor elétrico RENOVAÇÃO JÁ:

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março / abril - 2012

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JORNAL DA

Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros

Entrevista

RENÉE DE CARVALHO

Página 8

www. f i s e n g e . o r g . b r

Ano VII - nº 54março / abril - 2012

Seminário de Planejamento Estratégico traça rumos da gestão

2011/2014 Foi realizado entre os dias 1 e 3 de março o Seminário de Planejamento Estratégico da Fisenge, em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de toda a diretoria executiva da Federação, além de membros dos 11 Sindicatos fi liados. Entre os principais temas discutidos estava a formulação e execução de políticas públicas ligadas à engenharia. (Página 3)

Organizações articuladas na Platafor-ma Operária e Camponesa para Energia (Sin-dicatos, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fede-ração Nacional dos Urbanitários (FNU), Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Central Única dos Trabalhadores) estão em campanha pela renovação das concessões do setor elétrico. As entidades acreditam que a renovação será um passo importante para evitar a privatização das usinas, das linhas de transmissão e das distribuidoras que ainda permanecem como estatais. Caso não aconteça, estará em jogo a possibilidade de privatização de cerca de 20% do parque gerador de energia do Brasil e 33% dos contratos de distribuição. (Página 7)

Coletivo de Mulheres da Fisenge na internet

No último dia 8 de março, foi lançado pelo Coletivo de Mulheres da Fisenge o primeiro número do seu Informativo Eletrônico. A publicação contou com matérias sobre os avanços das mulheres na vida pública, os desafios da mulher que opta pela engenharia e as perspectivas futuras do gênero. Apesar dos grandes avanços e conquistas, as mulheres ainda encontram muitas dificuldades no mercado de trabalho. (Páginas 4 e 5)

ma Operária e Camponesa para Energia (Sin-dicatos, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fede-ração Nacional dos Urbanitários (FNU), Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Central Única dos Trabalhadores) estão em campanha pela renovação das concessões do setor elétrico.

entidades começam campanha por renovação das concessões do setor elétrico

RENOVAÇÃO JÁ:

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F E D E R A Ç Ã O I N T E R E S T A D U A L D E S I N D I C A T O S D E E N G E N H E I R O S

MOBILIDADE URBANAEDITORIAL

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Carlos Roberto Bittencourt; Vice-presidente: Raul Otávio da Silva Pereira; Diretor Secretário Geral: Clovis Francisco Nascimento Filho; Diretor Financeiro: Eduardo Medeiros Piazera; Diretor Financeiro Adjunto: Roberto Luiz de Carvalho Freire; Diretor de Negociação Coletiva: Fernando Elias Vieira Jogaib; Diretora da Mulher: Simone Baia Pereira; Diretor Executivo: José Ezequiel Ramos; Diretora Executiva: Giucélia Araujo de Figueiredo; Diretora Executiva: Silvana Marília Ventura Palmeira; Jornalista responsável: Manoela Barbosa Diagramação: Ricardo Bogéa; Revisão: Beatriz Fontes; Tiragem: 3.000 exemplares; Impressão: Reproarte; fi senge: Av. Rio Branco, 277 - 17º andar - CEP 20040-009 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Tel: (21) 2533-0836 - Fax: (21) 2532-2775 – E-mail: fi senge@fi senge.org.br Site: www.fi senge.org.br

A partir de 2015, vencem as concessões de cerca de 20% da geração, 80% da transmissão e 40% da distribuição do setor elétrico brasileiro. Isto

pode representar uma mudança signifi cativa no panorama da energia elétrica no Brasil, principalmente se as concessões não forem renovadas, pois se trata da movimentação de valores da ordem de 30 bilhões de reais. Por causa disso, setores muito poderosos do empresariado brasileiro, capitaneados pela FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo), estão há alguns meses em franca campanha para que as concessões não sejam renovadas e tudo isto seja leiloado.

A Fiesp, através de uma milionária campanha midiática, alardeia a necessidade de licitar as concessões das estatais para permitir a redução da tarifa. Nada mais falacioso. É justamente o contrário: a entrada no setor dos entes privados trouxe a necessidade de obter lucros cada vez maiores. O que a Fiesp não revela é o seu real interesse em se apropriar da energia produzida pelas usinas já amortizadas, pagas principalmente pelos consumidores residenciais, que historicamente, pagam as tarifas mais caras.

A FISENGE e a Plataforma de Energia, articulação de outras Federações e Movimentos Sociais, da qual fazemos parte, defendem a renovação das concessões das estatais e afi rmam que o principal problema é o modelo, de característica neoliberal, aplicado ao setor elétrico nacional. Este modelo, implantando na década de 90, tem como consequência a explosão das tarifas. Aquilo que era um serviço essencial, de utilidade pública e de alta qualidade, operado, mantido e planejado pelas estatais, transformou-se em uma mercadoria na qual se procura obter lucros cada vez maiores.

A presidente Dilma tem dado sinais favoráveis à renovação das concessões, mas mediante uma redução drástica da tarifa, uma vez que esta é incompatível com os custos de produção, a partir da base hidráulica. Porém, o problema central é que as empresas privadas operam no chamado mercado livre, com contratos protegidos por sigilo, obtêm grandes lucros, com vultuosas remessas destes valores para o exterior. Além disso, a rigor, não há nenhum controle dentro do setor. A ANEEL, por exemplo, tendo como base a empresa referência, avalia a Light, em que pese as explosões, como uma das melhores empresas do país. Um dos critérios para isso é a utilização em suas atividades de trabalhadores terceirizados.

No mercado “spot”, o preço da energia pode ser até 100 vezes mais barata do que nós, consumidores (cativos), podemos comprar. E este mercado já chega a quase 30% da geração total. É por isso, e por outros meios de favorecimento ao empresariado, que a população em geral paga um “pato” tão caro. Um sistema de base hídrica como é nosso poderia ser o mais barato do mundo, mas, infelizmente, todas as mudanças e implementações feitas a partir de 1995 foram no sentido de favorecer os poderosos.

A tão propalada modicidade tarifária só virá a acontecer se o modelo atual for completamente modifi cado e suas enormes vantagens comparativas com outros que existem pelo mundo forem colocadas a serviço da maioria da população, e não apropriadas pelos setores privilegiados da sociedade.

Foi realizado, em São Paulo, nos dias 15,16 e 17 de março, o Encontro

Nacional do Fórum Nacional de Refor-ma Urbana. Com a proposta de reunir movimentos sociais e segmentos diver-sos da sociedade civil em conferências e sob o tema “Desenvolvimento urbano com igualdade social”, o encontro reuniu entidades dos movimentos populares, organizações culturais, profi ssionais e sindicais, ONGs, universidades e parla-mentares que lutam pela desigualdade e por condições de vida digna nas cidades.

O debate girou em torno da articulação de formas para intervir na realidade urba-na, em um momento de extrema vertica-lização das cidades, que recebem mas-sivos investimentos como os da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. A remoção de favelas e a expulsão desses moradores para zonas cada vez mais longe dos centros impõem a discus-são de estratégias para um novo modelo de desenvolvimento em nossas cidades.

O secretário-geral da Fisenge e enge-nheiro sanitarista, Clovis Nascimento, participou da Ofi cina de Saneamento e Meio Ambiente. Segundo ele, a importân-cia de um encontro como este se refl ete na necessidade de chamar a atenção da sociedade para temas importantes. “O combate à privatização, na forma das PPP’s, a universalização da água, o caso Pinheirinho, o Encontro serviu para deba-termos todos esses assuntos, de extrema importância para o nosso país.”

PELA RENOVAÇÃO DAS CONCESSÕES Fórum Nacional de Reforma

Urbana debate desenvolvimento com

igualdade social

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De 1º a 3 de março, ocorreu o Semi-nário de Planejamento Estratégico

da Fisenge, em Itaipava, na região ser-rana do Rio de Janeiro com a presença de toda a diretoria executiva da Fisenge, além dos representantes dos 11 Senge’s filiados à Federação.

Entre os principais objetivos eleitos para discussão estava a ampliação do nível de intervenção sistemática sobre a formu-lação e execução das políticas públicas ligadas à engenharia, com ênfase em Ci-dades, principalmente no que concerne à habitação, mobilidade urbana e sanea-mento; Energia, destacando o debate so-bre a renovação das concessões do setor

GESTÃO

SEMINÁRIO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ESTABELECE METAS PARA A GESTÃO 2011/2014

elétrico e o fundo social do pré-sal; e De-senvolvimento Rural, tratando da reforma agrária, Assistência técnica e Extensão Rural (ATER) e segurança alimentar.

Outro objetivo discutido foi a promoção do desenvolvimento institucional, visan-

e a contribuição de todos que participa-ram do evento.

Para abrir o evento, ocorreram dois de-bates de conjuntura no auditório do Sen-ge-RJ, com o economista Carlos Lessa e o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lucio. Sob o tema “A Engenharia e o Desenvolvimento”, Lessa falou sobre a situação precária das estradas brasileiras e do conseqüente número alarmante de acidentes automobilísticos. Ele também questionou a falta de posicionamento dos engenheiros sobre a desigualdade no sistema de transportes brasileiro. Para o economista, falta um questionamento da categoria acerca do assunto.

Com uma fala mais otimista, Clemente lembrou avanços do movimento sindi-cal nos últimos anos, como a política de valorização do salário mínimo. Segundo ele, o governo Lula modificou a importân-cia da atuação das centrais. “Antes, nós entrávamos em campo sabendo que iría-mos perder, agora não é mais assim”. O diretor técnico do Dieese destacou tam-bém que além do aumento da renda, é preciso haver uma estratégia distributiva. Para ele, este debate deve ser impulsio-nado pelas centrais.

Entre os principais objetivos eleitos para discussão estava a ampliação do nível de intervenção sistemática sobre a formulação e execução das políticas públicas ligadas à engenharia, com ênfase em Cidades, principalmente no que concerne à habitação, mobilidade urbana e saneamento;

Outro objetivo discutido

foi a promoção do

desenvolvimento

institucional, visando

melhorar a estrutura da

Federação e a organização

sindical como um todo.

Diretoria Executiva da Fisenge e membros dos Senge’s da gestão 2011/2014

do melhorar a estrutura da Federação e a organização sindical como um todo. Isso será feito com o aprimoramento do mo-delo de gestão da Fisenge, assegurando bases estáveis de financiamento e refor-çando a participação sindical no âmbito das negociações coletivas nacionais.

Por fim, o terceiro objetivo que fez parte do debate no Seminário foi a promoção do reconhecimento do(a) profissional de engenharia. Apresentou-se a necessida-de de continuar a dar observância à Lei do Salário Mínimo Profissional, promover a defesa do espaço das atividades de en-genharia para o engenheiro e manter o incentivo à equidade de gênero.

Para o presidente da Fisenge, o enge-nheiro agrônomo Carlos Roberto Bitten-court, o resultado do Seminário foi muito positivo: “houve uma participação muito expressiva, com 19 membros da diretoria executiva e presidentes e representan-tes dos 11 Senge’s filiados. Além disso, um diferencial foi levarmos em conta os planejamentos anteriores, então con-seguimos avançar em todos os pontos. Contamos que esse planejamento vai ba-lizar as ações da Fisenge e dos Senge’s.” Bittencourt agradeceu ainda a presença

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No dia 8 de março de 2012 foi come-morado mais um Dia Internacional

da Mulher. O Coletivo de Mulheres da Fi-senge aproveitou a importante data para lançar o primeiro número do seu Informa-tivo Eletrônico, contendo matérias sobre os avanços das mulheres na vida públi-ca, os desafios da mulher que opta pela engenharia e as perspectivas futuras do gênero.

É inegável que, mesmo com algumas di-ficuldades, a imagem da mulher vem se modificando e está claro que além de tra-balhadora, ela é capaz de contribuir de di-versas formas para a construção de uma sociedade melhor. Tanto no Brasil, como no mundo, é notável esta evolução e, por conseqüência, o aumento da importância do personagem feminino em todos os es-paços da sociedade. Espaços estes que antes abrigavam majoritariamente ho-mens, mas agora contam com mulheres em posições de grande destaque.

Mas o caminho percorrido por estas mu-lheres não é nada fácil. O modelo patriar-cal imposto pela nossa sociedade impede que elas enxerguem a vida pública como uma possibilidade real. Como ainda são as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e cuidados dos filhos, muitas não conseguem dividir os afazeres com

Coletivo de Mulheres comemora 8 de Março com Informativo Eletrônico

GENERO

o marido e abdicam da participação mais ativa na sociedade. Contudo, mesmo com os constantes desafios ao enfrentar a cha-mada “jornada tripla”, muitas mulheres dri-

para chegar ao extraordinário feito, ela teve que percorrer um longo caminho que começou em 1978, quando entrou como estagiária na empresa.

O bem sucedido exemplo de Graça Foster nos mostra que é possível reverter o qua-dro de predomínio masculino, mas tam-bém aponta para as enormes dificuldades que as mulheres ainda têm de enfrentar quando se deparam com desafios deste porte na carreira. Muitas se queixam e afirmam ter a impressão de que a mulher precisa provar mais do que o homem sua capacidade e firmeza ao estar em uma po-sição de destaque profissional.

Nessa luta pelo reconhecimento e neces-sidade de uma diretoria exclusiva para desempenhar e tratar de políticas es-peciais para as mulheres, foi criada, no último CONSENGE, em 2011, a Diretoria da Mulher, na Fisenge. Para a primeira Diretora da Mulher, a engenheira química Simone Baía, “no mundo da engenharia, onde a predominância é masculina, a criação da Diretoria da Mulher demonstra um salto de importância e de valorização das profissionais. Todos sabemos da difi-culdade das engenheiras no mercado de trabalho – remuneração desvalorizada, discriminação, dificuldades de cresci-mento vertical e horizontal, entre outras

... mesmo com os

constantes desafios ao

enfrentar a chamada

“jornada tripla”, muitas

mulheres driblaram

as dificuldades e os

preconceitos para assumir

as suas posições atuais.

Diretora da Mulher, Simone Baía, fala sobre mulheres empreendedoras em evento promovido pelo Senge-ES

blaram as dificuldades e os preconceitos para assumir as suas posições atuais.

Um grande exemplo é a engenheira Ma-ria das Graças Foster, empossada no úl-timo dia 13 de fevereiro como presidente da Petrobras, se tornando a primeira mu-lher no mundo a comandar uma empre-sa petroleira do porte da estatal. Porém,

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–, por isso, a Diretoria da Mulher da Fi-senge é o início de um processo de evo-lução na categoria, onde podemos levar esse debate para dentro dos sindicatos filiados à Federação, além de debater este assunto junto a sociedade e nas ne-gociações coletivas”.

Além disso, uma das diretoras executi-vas da Fisenge, a engenheira agrônoma Giucélia Figueiredo, foi eleita presidente do CREA da Paraíba, tornando-se a pri-meira mulher nos 46 anos de fundação do Conselho a presidi-lo. Na acirrada dis-puta, ela apresentou uma plataforma de administração baseada em pontos como a informatização da estrutura burocrática do Conselho e a participação efetiva em mídias sociais.

Alguns Sindicatos, como o Senge-ES e o Senge-MG também realizaram suas homenagens ao 8 de março. Em Vitória, o Sindicato dos Engenheiros do Espírito Santo firmou uma parceria com o CIN-DES JOVEM para promover o evento Ala Feminina com o tema “Como empreender sem abrir mão de viver?”. O debate foi voltado às mulheres dos diversos setores que sabem como é difícil a tarefa de levar a vida de mulher, trabalhadora e também empreendedora. Em Belo Horizonte, o Senge-MG optou por homenagear as en-genheiras, estudantes do Senge Jovem, funcionárias do Sindicato e demais co-laboradoras. Diretoras, ex-diretoras e a diretora da Mulher da Fisenge, Simone Baía, receberam placas em homenagem à data.

Entretanto, mesmo com os avanços, o desafio é grande. De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), as mu-lheres no Brasil representam mais da metade do eleitorado e não ocupam nem 10% das vagas do Congresso Nacional. No mundo, as mulheres representam apenas 19% das parlamentares.

Na 3ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, realizada em dezembro do ano passado, em Brasília, a ex-presi-dente do Chile e atual diretora-executiva da ONU Mulheres, Michelle Bachelet, destacou que, durante sua trajetória como ministra e ex-presidente, pôde per-ceber que políticas neutras não bastam para alcançar as mulheres, é preciso fazer leis exclusivas para elas. “A cres-cente presença de mulheres em postos de decisão no Brasil deve servir de inspi-ração para muitas mulheres, oferecendo uma oportunidade única para repensar o

sistema político e eleitoral e ajustá-los a esta nova realidade”, discursou Bachelet.

Na engenharia, o número de mulheres que ingressam na profissão tem crescido lentamente. De acordo com o resultado do Censo de Educação Superior, reali-zado pelo Ministério da Educação, a re-presentatividade feminina em relação ao total de matrículas subiu de 17,4% para 20,3%. Se considerarmos áreas particu-lares, como a Engenharia Elétrica, este número é ainda mais baixo.

Muitas alegam que sofrem, desde o início da carreira, uma desvalorização profissio-nal por serem mulheres. Outras afirmam que a convivência com homens é positi-va, porque eles supostamente dão mais espaço a elas, enquanto companheiras do mesmo gênero procuram competir. Seja qual for a opinião, todas concordam que a mulher precisa se esforçar mais do que o homem para ser respeitada e crescer no mundo da engenharia. Po-rém, este requisito não se dá por qual-quer dificuldade que as mulheres tenham em exercer a profissão, pelo contrário,

as conquistas femininas na engenharia mostram que, atualmente, as mulheres se destacam tanto quanto ou até mais que os engenheiros.

Sendo assim, por que será que o balanço entre homens e mulheres na engenharia não aumenta na mesma proporção que nas outras profissões? Pelo que é visto nas universidades, ainda há um inte-resse pequeno do gênero feminino em ingressar na carreira. Uma explicação para esse fato é a grande discriminação que as mulheres sofreram ao longo dos últimos anos. Segundo Pedro Carlos da Silva Telles, autor do livro “A História da Engenharia no Brasil”, houve uma época em que as mulheres não sentavam nas salas de aula com os rapazes. Havia ca-deiras especiais para elas, colocadas à frente da primeira fila. Outra ideia equi-vocada que também afasta as mulheres é a de que a engenharia estaria ligada ao trabalho braçal e, portanto, não poderia ser realizado por elas.

Uma pesquisa realizada pela Universi-dade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriu que as mulheres não são tão propensas quanto os homens a seguirem essa carreira porque não estão seguras de sua capacidade, ou seja, não têm con-fiança. Os pesquisadores sugerem que os professores criem um ambiente em que as dúvidas sobre confiança sejam discutidas abertamente. Também é im-portante que existam mais aulas práticas nas faculdades. Isso pode ajudar tanto os homens como as mulheres a desenvol-verem confiança em si mesmos. Afinal, quanto opta pela engenharia, como qual-quer outra carreira, a mulher é tão bem sucedida quanto o homem.

Simone Baía, Raul Otavio da Silva Pereira e Anildes Lopes em evento promovido pelo Senge-MG em home-nagem às mulheres

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No último dia 22 de março, se comemorou o 19º Dia Mundial da

Água, que trouxe à tona a necessidade de debatermos e refletirmos sobre os desafios relacionados ao tema, em todo o mundo. Por aqui, apesar de concentrarmos aproximadamente 12%

UNIVERSALIZAÇÃO DA ÁGUA

Dia Mundial da Água e o déficit de saneamento básico no Brasil

“Os indicadores do

governo mostram que

ainda há um déficit muito

grande neste quesito. O

Governo Lula resgatou o

investimento nesta área,

com as obras

do PAC e o ‘Minha Casa,

Minha Vida’, mas ainda

não é suficiente.”

das reservas de água doce do planeta, a distribuição deixa muito a desejar, principalmente quando constatamos que o saneamento básico ainda é muito deficitário em diversas regiões do país.

Segundo um levantamento feito pelo governo federal, cerca de 2.500 crianças

morrem anualmente devido à falta de saneamento básico, no Brasil. Há mais de 100 milhões de brasileiros que vivem sem coleta e sistema de tratamento de esgoto. Por conta disso, mais de 300 mil crianças são internadas anualmente vítimas de doenças causadas pela falta de saneamento adequado.

Dados da Unicef apontam que na América Latina e Caribe, a segunda causa de mortalidade infantil, depois das doenças respiratórias, é a diarréia causada por infecções transmitidas pela água imprópria para uso. E, embora a situação tenha melhorado na região nas últimas décadas, atualmente, mais de 100 milhões de pessoas na região não têm saneamento básico.

Para o secretário-geral da Fisenge e engenheiro sanitarista, Clovis Nasci-mento, falta muito a avançar. “Os indi-cadores do governo mostram que ainda há um déficit muito grande neste que-sito. O Governo Lula resgatou o inves-timento nesta área, com as obras do PAC e o ‘Minha Casa, Minha Vida’, mas ainda não é suficiente.”

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Entre os dias 13 e 15 de março, a Fi-senge, Sindicatos de Engenheiros

de todo o país e movimentos sociais de diversas esferas se mobilizaram para manifestar a posição favorável à renova-ção das concessões do setor elétrico. O governo já anunciou que as concessões serão prorrogadas por mais 30 anos.

Se a renovação não acontecesse, estaria em jogo a possibilidade de privatização de cerca de 20% do parque gerador de energia do Brasil e 33% dos contratos de distribuição, firmados, por exemplo, com a Copel, Celesc e Chesf.

As organizações articuladas na Platafor-ma Operária e Camponesa para Energia (Sindicatos, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Federação Úni-ca dos Petroleiros (FUP) e Central Única dos Trabalhadores) acreditam que a re-novação será um passo importante para evitar a privatização das usinas, das li-nhas de transmissão e das distribuidoras que ainda permanecem como estatais. Por isso, a realização de uma nova licita-ção funcionaria como um aprofundamen-to da privatização do setor elétrico.

De acordo com o presidente da FNU, Franklin Moreira Gonçalves, “uma nova licitação traria consigo consequências na-turais da privatização: desemprego, má qualidade de serviço e preços elevados”.

SETOR ELÉTRICO

Movimentos Sociais se mobilizam em campanha pela renovação das concessões do setor elétrico

Uma matéria publicada no jornal “Valor Econômico” de 10 de março afirma que o executivo vai enviar ao Congresso um projeto de lei em caráter de urgência, com 45 dias para ser votado na Câmara e no Senado. A idéia é que o projeto não seja muito extenso e os detalhes da re-novação sejam definidos quando a lei for regulamentada por decreto presidencial. Entre os detalhes estaria quanto será o desconto nas tarifas que as empresas deverão oferecer para continuarem com as concessões.

Este ponto é bastante levantado pela Pla-taforma: só a renovação das concessões não é o suficiente. É necessário também assegurar que o preço das tarifas irá diminuir e garantir os direitos dos traba-lhadores do setor e dos atingidos pelo modelo energético vigente. De qualquer forma, a possibilidade de uma relicitação dos ativos, que voltam às mãos do gover-no federal com o fim dos atuais contratos, já está descartada.

O presidente da Fisenge e engenheiro agrônomo, Carlos Roberto Bittencourt, acredita que o debate na sociedade faz com que alcancemos o objetivo, que é a renovação das concessões: “alguns es-tados já estão puxando a discussão so-bre este tema e isso faz toda diferença.” Segundo ele, a redução das tarifas, tanto para os consumidores comuns quanto

para as indústrias é outro ponto que não pode ficar fora das reivindicações dos sindicatos e da sociedade organizada.

Seguindo esta linha, a Fisenge, o Sindi-cato dos Engenheiros do Paraná (Senge--PR) e o MAB promoveram o seminário “Renovação das concessões do setor elétrico”, no último dia 14, em Curitiba. Mais de 300 pessoas se reuniram para defender a posição de que a energia é um bem público e não uma mercadoria. Na mesa de abertura do seminário, o presi-dente do Senge-PR, o engenheiro eletri-cista Ulisses Kaniak reafirmou a posição do sindicato na luta pela renovação das concessões públicas do setor elétrico, cujos contratos começam a vencer a partir de 2015. “Esse é o momento de unirmos forças contra novas licitações, que se re-sumem em um projeto privatista que suca-teia ainda mais o patrimônio público, pre-cariza as condições de trabalho e onera o estado e a população, com tarifas cada vez mais abusivas”, defendeu Kaniak.

E, nos dias 19 e 20 de abril, será realiza-do o Seminário Nacional sobre o tema, com a presença de membros da diretoria executiva da Fisenge e representantes do governo federal, como o secretário--geral da presidência da República, Gil-berto Carvalho; a ministra do Meio Am-biente, Izabella Teixeira e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

“A redução das tarifas, tanto

para os consumidores comuns

quanto para as indústrias é

um ponto que não pode ficar

fora das reivindicações dos

sindicatos e da sociedade

organizada.”

Carlos Roberto Bittencourt,

presidente da Fisenge

Seminário “Renovação das concessões do setor elétrico”, promovido pela Fisenge e pelo Senge-PR

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Histórias de resistências, combate ao na-zismo, discriminação por ser mulher. Es-ses são alguns dos assuntos abordados no livro “Uma vida de lutas”, da militante Renée de Carvalho, lançado pela Editora Perseu Abramo. Com prefácio assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a obra detalha as mais importantes passagens da vida de Renée, membro ativo da Resistência francesa ao nazismo e grande pilar da luta das mulheres por espaço na vida política.

Nesta entrevista, ela fala um pouco sobre o livro, o envolvimento com o Brasil e as perspectivas para as mulheres no futuro.

Como surgiu a ideia de realizar o livro?

- Meu filho tentou, durante uns três anos, convencer-me a escrevê-lo. Mas eu acha-va que meu olhar sobre esse período não era diferente , pelo fato de ser mu-lher, e pelo papel subordinado que nós, as mulheres, tínhamos nas organizações de esquerda, no caso o PCB. Marly Vian-na, doutora em História, conseguiu, após várias conversas sobre reminiscências e sobre pessoas que conhecíamos, con-vencer-me a responder a um roteiro de perguntas e gravou - com meu consen-timento, é claro - minhas respostas e as conversas que tivemos durante as entre-vistas. Ramon Peña, seu companheiro e professor da Fiocruz, a auxiliou em todo esse processo. A minha participação veio depois. Eu li os resultados da sequência de entrevistas e achei que elas poderiam ser transformadas em livro, em escrita corrida e não apenas sob a forma de per-guntas de respostas. Eu não queria muito essa história de livro, mas meu filho bus-cou identificar lacunas temporais deixadas pelas perguntas e cobriu-as me entrevis-tando de novo sobre essas questões.

Como começou seu envolvimento com o comunismo e a política?

- Como conta no livro, a aproximação de minha família com o Partido Comunista

ENTREVISTA RENÉE DE CARVALHO

Francês fez-se inicialmente através da luta dos comunistas em Marselha, para renovar a política local, dominada por máfias e bandidos. Depois, veio o entu-siasmo pelas greves e pela Frente Popu-lar. E, logo depois, a luta de resistência contra o nazismo. A família toda fez esse percurso.

A senhora é francesa, mas se engajou durante anos nas causas brasileiras.Como foi construída essa relação com o Brasil?

- Vir ao Brasil foi uma decisão minha, de acompanhar o Apolônio. Com a cassa-ção do PCB e a ida para a clandestini-dade, apesar de todas as dificuldades, me engajei na militância do PCB. Hoje, apesar dos meus “rrrs”, me sinto mais brasileira que francesa.

Apesar de ter sido casada com um ícone da esquerda no Brasil, a senhora sem-pre manteve sua individualidade e opini-ões. Houve muita discriminação por ser mulher, já que se trata de um universo predominantemente masculino?

- O primeiro grande choque para mim foi a rápida passagem à clandestinidade, no Brasil, com dois filhos, o que tornou mi-nha vida muito difícil . A França era, tam-bém, antes da guerra, um país machista, até as escolas eram separadas para me-ninos e meninas. Depois da guerra, en-tretanto, as coisas começaram a mudar. Muitas mulheres tinham participado da Resistência. Várias continuaram mesmo no exército. No contexto do pós-guerra, o anseio igualitário cresceu.

No Brasil, a sociedade e o Partido per-maneciam ainda atrasados frente a es-sas questões. As mulheres no Partido

eram tratadas como na sociedade da época. A cozinha era um espaço somen-te feminino. Os companheiros, nas reu-niões, tiravam os pratos da mesa, e não limpavam absolutamente nada. Era algo que afetava todas as mulheres militan-tes. Fazíamos, todo dia, comida para de-zenas de companheiros e nunca alguém nos disse se estava bom ou não. Ne-nhum companheiro passava na cozinha. Nós estávamos apenas fazendo ‘nosso dever’... Isolada por minhas tarefas, não tinha uma visão de conjunto do Partido, mas não me lembro de ter encontrado, nessa época, nenhuma mulher que hou-vesse se tornado dirigente.

Como a senhora vê a participação atu-al da mulher na política brasileira?

- É uma participação crescente e muito positiva, que agora chega à Presidência e aos tribunais. Mas é preciso notar que os avanços em direção à igualdade ainda es-tão restritos a uma parcela pequena da po-pulação, e que muitas discriminações ain-da são fortes: salários, estudo, progressão funcional, divisão das tarefas domésticas entre o casal e a possibilidade de escolher o momento em que queremos ter filhos.

Qual é a mensagem que a senhora daria às mulheres que pretendem par-ticipar da vida pública, seja em sindi-catos, partidos políticos ou gestões governamentais?

- Houve importantes avanços e sua am-pliação recente no quadro da eleição de uma mulher para presidente. Mas as mulheres devem continuar em sua luta, ocupar as posições a que são capazes, defender seus pontos de vista, para en-fim chegar à igualdade com os homens. Ainda falta muito a avançar.

“Os companheiros, nas reuniões, tiravam os pratos da mesa, e não

limpavam absolutamente nada. Era algo que afetava todas as mulheres militantes. Fazíamos, todo dia, comida para dezenas

de companheiros e nunca alguém nos disse se estava bom ou não.

Nenhum companheiro passava na cozinha. Nós estávamos apenas

fazendo ‘nosso dever’”

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