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O que é? Histórico do site: saímos do Geocities para o Google-Pages, de lá para o Forumeiros, e agora viemos para o Google-Sites. Manteremos este local para as informações principais e o fórum para arquivo de comentários, depoimentos, dúvidas, relatos, contato e troca de material. PROPÓSITOS O que pretendemos: Reverência às deidades e mistérios gregos pré- cristãos. Conexão com os ancestrais, honrando Héstia como a deusa do coração, do fogo e do lar. Dentro de um contexto moderno, isso significa um interesse pela famiília, no seu mais largo senso, seja ele relacionado ao sangue, ao espírito ou a laços de afinidade. Um conexão com o passado helênico. Nós nos esforçamos para ser historicamente (e mitologicamente) acurados o máximo que as evidências permitem. Quando falhas na evidência ou na realidade da vida moderna acontecerem, faz-se necessário criar algo novo, que deve ser: o Tão consistente quanto possível com o que sabemos da grécia antiga e suas colônias desde acima do Mediterrâneo até o ponto do fim do Oráculo de Delfos na história; e o Claramente apresentado como uma inovação recente. Nós franzimos a testa quando vemos uma tentativa de anunciar algo moderno e inventado como se fosse algo antigo e histórico com finalidade de dar-lhe autoridade (e negociabilidade!) que não merece. Um equilibrado acesso à compreensão da religião grega que se fia tanto na erudição quanto nas inspirações poéticas sem perder-se um do outro. Inclusividade. Enquanto nós reconhecemos a importância de um componente ético na tradicional religião grega, nós procuramos reconstruir a cultura religiosa dos antigos, e não a sociedade deles.

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O que é?

Histórico do site: saímos do Geocities para o Google-Pages, de lá para o Forumeiros, e agora viemos para o Google-Sites. Manteremos este local para as informações principais e o fórum para arquivo de comentários, depoimentos, dúvidas, relatos, contato e troca de material.

PROPÓSITOS

O que pretendemos:

Reverência às deidades e mistérios gregos pré-cristãos. Conexão com os ancestrais, honrando Héstia como a deusa do coração, do fogo

e do lar. Dentro de um contexto moderno, isso significa um interesse pela famiília, no seu mais largo senso, seja ele relacionado ao sangue, ao espírito ou a laços de afinidade.

Um conexão com o passado helênico. Nós nos esforçamos para ser historicamente (e mitologicamente) acurados o máximo que as evidências permitem. Quando falhas na evidência ou na realidade da vida moderna acontecerem, faz-se necessário criar algo novo, que deve ser:

o Tão consistente quanto possível com o que sabemos da grécia antiga e suas colônias desde acima do Mediterrâneo até o ponto do fim do Oráculo de Delfos na história; e

o Claramente apresentado como uma inovação recente. Nós franzimos a testa quando vemos uma tentativa de anunciar algo moderno e inventado como se fosse algo antigo e histórico com finalidade de dar-lhe autoridade (e negociabilidade!) que não merece.

Um equilibrado acesso à compreensão da religião grega que se fia tanto na erudição quanto nas inspirações poéticas sem perder-se um do outro.

Inclusividade. Enquanto nós reconhecemos a importância de um componente ético na tradicional religião grega, nós procuramos reconstruir a cultura religiosa dos antigos, e não a sociedade deles. Portanto, nós não nos fiamos em genealogias ou geografias para determinar QUEM é um politeísta helênico. Assim como os Mistérios Eleusianos eram abertos a quem pudesse entender a linguagem grega, nós também somos abertos a todos que cultuam a tradição grega antiga nos dias de hoje.

Respeito aos homens e mulheres, independente de etinicidade, cor, credo, posição social, orientação sexual, ou habilidade física.

Um código moral inspirado pelas máximas délficas que enfatizam o seguinte: conhecer-te a ti mesmo, nada em excesso, e o respeito por si, pelos outros e pelos deuses.

O que NÃO pretendemos:Como estamos interessados na precisão história, os ritos públicos dos helênicos não incluem:

Nenhuma das interpretações de filosofias herméticas e mágicas que emergiram durante a Renascença Européia (não as tradições por elas mesmas, mas suas interpretações da Renascença) e/ou seus modernos movimentos religiosos que desde então foram assim inspirados (tais como a Wicca, o neo-xamanismo etc).

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Ecletismo (no sentido de algo oposto ao histórico sincretismo; combinando o helenismo antigo com outras tradições culturais que não foram combinadas historicamente).

Hellenismos

"Hellenismos é um termo sendo usado em mais de uma forma no mundo moderno.

A palavra significa Helenismo, que é um vocábulo usado para descrever a cultura, as religiões, a linguagem e os costumes do povo grego que se chama de Helenos. Isso significa que o termo Helenismo inclui as pessoas antigas e modernas da Grécia, e as várias religiões e costumes que possam vir a existir naquela terra. No paganismo, porém, o Helenismo se refere ao antigo sistema politeísta de crença religiosa, costumes, linguagem e ritual que floresceu na Grécia e nos arredores do mundo Egeu e Mediterrâneo dos tempos pré-históricos até a conversão de Roma ao cristianismo. Em um sentido mais restrito, a palavra se refere às crenças e práticas religiosas do povo helênico dos tempos de Homero, mais ou menos de 800 AEC até os tempos da conquista da Grécia por Roma.

O Hellenismos é um termo mais amplo do que o Olimpianismo ou o Dodecáteon (religião dos 12 deuses) porque ele inclui todas as variantes de crenças e teologias no mundo helênico as quais tinham um largo alcance de cultos e práticas."

Formas Antigas, Vida Moderna

"Um reconstrucionista tenta reunir as informações de maior qualidade razoavelmente disponíveis sobre o assunto em questão. Isso é contrastado com uma tendência entre alguns escritores pagãos modernos conhecidos de transmitir uma informação falsa ou uma pesquisa duvidosa como se fosse um fato fundamentado. Os reconstrucionistas torcem o nariz para essas práticas, porque a desinformação intencional (ou até inocente) não serve para uma função útil, mas diminui a reputação de pagãos na sociedade contemporânea.

A inovação é encorajada, mas os reconstrucionistas tentam usar o senso comum e as pesquisas disponívels para saber quando isso é mais apropriado. Por exemplo, tentativas de reconstruir a religião minóica irão requerer uma inovação considerável e educadas conjeturas devido à falta de informação confiável sobre as vidas e a religião do povo minóico. A reconstrução da religião da Atenas Clássica, no entanto, é uma situação na qual podemos acessar uma voluptuosa quantidade de informações de pessoas que estavam realmente lá e escreveram de suas experiências. Na abundância de informações confiáveis, menos inovação é necessária.

Reconstruir sistemas de valores é uma área especial para pessoas modernas. Você e eu não fomos educados na mesma cultura que os antigos que praticavam várias tradições pagãs anteriores. Nós temos valores um tanto diferentes deles, assim como de uns para os outros. Algo reconstrucionista saudável a fazer é seriamente tentar entender os valores dos antigos, resistindo à tentação de encobrir as partes que não gostamos ou dispensá-las como noções selvagens. Um bom reconstrucionista leva tempo para tentar entender algo da história toda e

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de como os valores deles funcionavam em suas vidas. Os humanos compartilham esperanças, medos, alegrias e angústias básicas, e deveríamos respeitar isso enquanto exploramos seus valores. A sabedoria dita que teremos que discordar com dado escritor antigo em alguns pontos e aprender dele em outros.

O Ecletismo é um questão complicada para algumas pessoas. Alguns ecléticos sentem que os reconstrucionistas não dão espaço para eles serem ecléticos. Alguns reconstrucionistas sentem que o ecletismo compromete o paganismo reconstruído. Ambos estão certos e ambos estão errados. Meu sentimento é que as pessoas deveriam confiar mais no senso comum do que em dogmatismos aqui. A verdade da história é que, em dado momento, algumas pessoas por aí estavam praticando mais do que uma perspectiva religiosa. Ao mesmo tempo, pode ser problemático misturar e emparelhar múltiplas tradições de uma forma que cause um descompromisso com nenhuma ou com ambas. Às vezes é possível uma metodologia parcialmente reconstrucionista e uma eclética darem as mãos, mas deveríamos ainda ser honestos e sensíveis sobre o que estamos fazendo.

Se você olhar para a forma na qual as comunidades fariam um círculo em torno de um altar na antiga Hélade e ver que há algumas flexibilidade em como isso é feito, você poderia pensar que é isso é uma ótima forma de ser eclético. Afinal, você se acostumou a fazer esse círculo cabalístico com outro grupo pagão no ano anterior, e você acha que um círculo é um círculo, então você decide fazer isso desse jeito. Bom, tudo bem, é improvável que Zeus se ofenda pessoalmente com isso. Porém, você definitivamente não deveria fingir que eles faziam isso em Atenas. Admita para si e para os outros de uma forma clara que você reconstruiu as partes ABC de um festival helênico e preencheu as partes XYZ com peças de outras fontes.

Talvez uma boa regra de acerto é perguntar a si mesmo o que os antigos fariam na sua situação. Então se pergunte o que você faria na sua situação. Compara os dois e tome uma decisão. Apenas seja honesto e claro o máximo que puder. E seja crítico de uma maneira humana quando as pessoas tentarem alimentar sua informação. Está tudo bem em admitir que a verdade importa."

(por Rob Andrews, membro dos Dadoukhoi, lido em Sponde.com e traduzido por Alexandra Nikaios)

FAQ

AS 10 PERGUNTAS MAIS FREQUENTES:

01. Os politeístas helênicos podem ser caracterizados como pagãos?R: Pagão é uma palavra de origem latina ("paganus") que carrega um fardo pesado com ela. Para começar, os Helenos antigos nem falavam latim. Embora originalmente a palavra caracterizasse "distrito rural" (pagus) na época de Virgílio, no tempo de Tertúlio e Prudêncio (escritores da Galiléia) ela passou a ser usada para descrever pessoas que eram corrompidas e impuras. Os escritores judeus (como Filástrio) preferiam usar o termo 'gentio'. Há vários outros problemas com a palavra 'pagão'. Tal palavra também ignora, por exemplo, a variedade de crenças e práticas de culto que não são galiléios e tenta sincretizar as religiões debaixo de um único guarda-chuva, quando várias dessas religiões têm muito pouca coisa em comum, como -por exemplo- o Mitraísmo e os cultos cívicos helênicos. Outra nota: a adoração dos

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dôdekatheoi (doze deuses) era desenvolvida ao longo de uma base pólis-cêntrica, e não especificamente rural. O imperador Juliano (Flavius Claudius Iulianus) tentou corrigir isso descrevendo a crença dos que acreditavam no panteão dos deuses helênicos como "Hellênismos". A mais antiga instância do uso desse tipo de linguagem dentro do contexto nos remete ao escritor neoplatonista Iamblikhos no começo do século IV. Acontece que a base cultural na qual os dôdekatheoi são cultuados trata-se de um sistema de crenças que não é nem "pagão" nem romano nem judeu nem galileu, e como tal deveria ser reconhecido como uma entidade separada. Mas se você acredita na tolerância religiosa e aceita a crença dos outros, então pode aceitar também a ideia de que cabe aos adoradores dos deuses da Hellas (Grécia) se auto-definirem com seus próprios termos.

02. Quantos deuses os Helenos cultuam?R: Nem tanto quanto você pensa. Comparado com os panteões romanos ou egípcios, por exemplo, você verá que os Helenos, embora politeístas, tinham de fato menos deuses que muitos outros modelos antigos. Os romanos sincretizavam e identificavam seus deuses com os dos Helenos, mas também tinham muitos outros deuses rurai e caseiros não encontrados no nosso panteão. Augustino costumava dizer que os romanos tinham um deus para a porta, um para a maçaneta da porta, outro para o buraco da porta etc. Outro ponto a considerar é o papel crescente do culto imperial no mundo romano. Tal crença de que o imperador era um deus teria sido considerada "húbris" (transgressão, coisa impura) pelos antigos Helenos e nunca considerada no panteão grego. Os egípcios tinham por si só uma abundância de deidades zoomórficas e antropomórficas muitas das quais não poderiam ser equacionadas com os deuses gregos. Heródoto estava desinformado disso quando os egípcios disseram a ele que as crenças egípcias tradicionais agrupavam os deuses em tríades, octíades, eníades, e não em grupos de doze. Então, embora os helenos tenham uma grupo base de doze, não era compulsório adorar toda e qualquer outra deidade ou espírito.

03. O que e onde é o Olimpo?R: Embora haja muitos lugares com esse nome, não apenas na Grécia, o Olimpo onde os deuses residem é um reino espiritual. A palavra 'Olympos' na verdade vem do verbo "lampo" que significa "brilhar". Então, os deuses olimpianos são também chamados de "os brilhantes".

04. O quão velho é o Hellenismos?R: O desenvolvimento do Hellenismos envolveu um considerável período de tempo. Lingüistas fizeram links entre as deidades indo-européias e os deuses helênicos, como Zeus e Dis Pater, os Dioskouri e os Asvins, por exemplo. É preciso ter cuidado com isso, porém, porque parece muito fácil ligar deuses entre panteões apenas pelo nome quando nenhuma ligação sequer existia a principío. Nós temos, contudo, evidência na forma das tábuas de Linear B, onde muitos dos nomes dos deuses helênicos podem ser encontrados, como nas tábuas de Cnossos, que indicam um sacrifício a Todos os Deuses (pasiteoi), e Zeus, Hera, Ares e Poseidon estão entre os dôdekatheoi nomeados em Pylos. Se essas tábuas foram escritas um pouco antes da descrição desses centros, estamos falando então de cerca de 1150-1120 AEC, ou seja, há no mínimo 3100 anos atrás.

05. Qual a posição geral do Hellenismos com relação ao patriarcado?R: Mulheres na antiga sociedade helênica tinham um igual - quando não dominante - papel na vida sacerdotal, muito mais do que o que se tinha na igreja galiléia posterior. Os dôdekatheoi por si só geralmente compreendem seis deidades femininas e seis masculinas.

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06. O politeísmo helênico é uma forma de satanismo ou bruxaria?R: O Hellenismos não reconhece ou cultua nenhuma deidade que se pareça com a figura judaico-cristã de Satã. Da mesma forma, embora alguns pagãos se refiram a si mesmos como "bruxos gregos", na verdade a bruxaria e a feitiçaria era mal vista na antiga Grécia e, medidas foram tomadas, por exemplo em Atenas, para legislar contra a prática da feitiçaria. Até Platão nos seus escritos filosóficos queria que o abuso da mágica fosse punido pela lei. A Wicca, no entanto, é uma invenção do século XX e não tem uma base histórica de relação com a crença do Hellenismos de uma propensão ao cívico, à lei, à ordem, e ao trabalho como comunidade.

07. Eu tenho o "Ramo de Ouro" do James Frazer e muitos livros do Robert, do Thomas Bullfinch ("Livro de Ouro da Mitologia"), e da Edith Hamilton. Eles são úteis?R: Em geral, os politeístas helênicos trabalham com fontes antigas. Isso inclui Homero, Hesíodo, os escritores de peças como Eurípedes, Aristófanes, Ésquilo, os hinos de Orfeu e as fábulas de Êsopo. Embora haja muitos autores nos últimos dois séculos que escreveram sobre o mundo antigo, suas versões podem ser dispensadas. Por exemplo, o tema central do livro de Frazer de um deus vegetativo que morre e ressuscita não é mais aceito como válido. Graves, Bullfinch, e Hamilton, embora escritores maravilhosos, estão vendo os mitos de uma perspectiva muito vitoriana. Qualquer politeísta helênico que queira fazer valer seu dinheiro deveria ler as fontes antigas. Algumas editoras publicaram os textos antigos com novas traduções e acréscimo de comentários, e algumas até em edição bilíngüe. Mas devemos nos lembrar de que os mitos, apesar de úteis, não são a base central da nossa crença religiosa.

08. A Wicca é compatível com o Reconstrucionismo Helênico?R: Há um número de diferenças fundamentais no modo que os Deuses são abordados em ambos os sistemas. Consideremos que a teologia wiccana se desenvolva em torno de um "Senhor e Senhora, Deus Cornífero e Deusa Mãe", que todos os deuses são facetas de um deus, todas as deusas são parte da deusa tríplice, que círculos são lançados e que torres são invocadas, o uso de pentagramas, nudez, termos como "Blessed Be" e "Merry Meet" são falados, e um calendário festival baseado em solstícios e equinócios. Bom, tudo isso está AUSENTE no Reconstrucionismo Helênico. Primeiro porque somos politeístas (crença em mais de um deus e que cada deus tem seu próprio poder indivisível), é como se os deuses helênicos formassem uma extensa família: pais, mães, filhos, filhas etc. Os rituais envolvidos são muito mais simples e cuidadosos, com uma ênfase no sacrifício e na prece, e são normalmente executados a um altar em frente a um templo, e não requerem círculos ou prostrações. A música às vezes acompanha o ritual. O sacrifício humano é considerado afronta aos deuses, assim como o sexo e a nudez no 'temenos' (o templo ou a área do santuário). As preces são compostas nominalmente na nossa língua nativa ou em grego antigo. E os festivais são celebrados de acordo com um calendário lunar, de lua nova a lua nova. (Falando nisso, os festivais formavam um aspecto significativo da vida helênica. Eles marcavam o culto às deidades e agiam como uma ocasião social para celebrações de júbilo.)

09. E quanto aos chamados de "deuses menores", como as Três Graças (ou seja, os que não fazem parte dos Doze)? Como eles se encaixam on esquema do Reconstrucionismo Helênico?R: Eles são parte do Hellenismos e se encaixam nele se você os quiser. Uma vez que estamos discutindo o Reconstrucionismo HELÊNICO, por razões óbvias as deidades de outros panteões estão excluídas.

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10. O que significa "Khairete"? Há outras frases que os novatos deveriam saber?R: 'Khairete' significa 'saudações' (a todos), caso se dirija a uma só pessoa diga 'Khaire'. Outros termos comuns são 'erroso' (seja forte, tenha saúde) e 'eirene' (paz) como forma de despedida.

(FAQ traduzido e adaptado de Jasmine L. Taylor, 1998-2001)

Guia Rápido para o Iniciante

Perguntas a fazer quando se deseja ser um heleno:

1) Qual meu nível de interesse?

Ser reconstrucionista exige leitura e prática correta. Você está disposto a dedicar parte do seu tempo para ler e fazer rituais, e parte do seu dinheiro para comprar livros e estatuetas e outros suprimentos? Se não, pense bem por que está aqui.

2) Que tipo de heleno quero ser?

Não existe um único caminho para os deuses. Se alguém lhe disser que você tem que ser de uma escola filosófica específica para ser considerado esperto ou sofisticado, ou que você tem que praticar uma forma específica de misticismo para se aproximar dos deuses, ou que você tem que ser etnicamente grego pros deuses gostarem de você, ou que você tem que adotar um estilo de vida e uma posição política específica para ser helênico, não acredite nessas pessoas! Elas só querem fortalecer o reconhecimento daquilo que elas mesmas escolheram, e - quando você não dá isso a elas - elas te tratam como inferior. Isso porque elas precisam mais de você do que você delas.

Os caminhos podem variar de: alguém que estuda e honra os deuses em geral sem adotar nenhum ponto de vista em especial, alguém que adota uma abordagem filosófica em particular para se aproximar dos deuses, alguém que praticam uma forma de misticismo conectado a uma deidade em particular que eles reverenciam, e ainda outros caminhos possíveis.

A não ser que você já saiba o que quer desde o começo, comece sendo generalista (simplesmente estudando e seguindo suas devoções), depois você pode ou não desenvolver um foco especial depois de entender como as coisas funcionam.

3) Como sei se estou no grupo/lista/fórum/organização certo?

Os administradores falam como se eles estivessem sempre com a razão e incapazes de serem questionados? Eles têm um ar de autoridade e insistem que são mais espertos do que todo mundo ou mais próximo dos deuses que o resto? Eles têm um séquito de 'beatos' que elogiam tudo o que eles fazem e criticam os que discordam deles? Eles agem como se sempre precisassem estar no centro das atenções, fazem drama e insultam quem não for da panelinha

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deles? Se sim, isso é uma seita. Caia fora correndo, agora.

Fora isso, observe o tom geral da lista. Eles respondem educadamente suas perguntas sinceras? Eles parecem amistosos e prestativos? Se você tem um ponto de vista particular da religião, eles compartilham dele ou pelo menos o toleram?

Saiba, porém, que os helenos são argumentativos e bem instruídos. Se você der informação histórica inconsistente, eles vão lhe corrigir. Se você tentar se passar por um especialista quando claramente não é, espere ser incomodado com um monte de perguntas bem-merecidas!

4) Que deuses devo cultuar?

Não entre em pânico quando ver pessoas falando de suas deidades favoritas e patronos. Se você não sabe as suas, não se preocupe, você não precisa ter favoritos. Há quem não tenha patrono, e mais ainda há quem tenha mais de um patrono. Isso a gente só descobre depois de um tempo dentro da religião e de realizar com muita profundidade estudos sobre os deuses.

Há 12 Olimpianos, há deidades menores, e há semideuses. Os patronos mais populares são Apolo, Hermes, Dionísio, Atena, Afrodite, Ártemis e Hécate, mas existem tantas possibilidades que você não precisa procurar só entre os mais conhecidos.

Quando você estudar bastante sobre os cultos, mitologias, atributos e representações artísticas dos deuses, você vai achar um ou mais que se conectam com você. Se você não achar absolutamente nenhum, talvez deva considerar que não está no panteão certo.

A deidade a quem é mais fácil de nos aproximarmos é Héstia, ela é gentil e não exige mais do que uma vela acesa e uma prece rápida. Se estiver confuso, comece por ela.

5) E os outros panteões?

Há deuses estrangeiros comumente associados com o Helenismo, como a frígia Cibele, a egípcia Ísis e outros. Não é proibido cultuá-los, mas isso deve ser feito fora do contexto helênico, o que exige que você explore o paradigma cultural daquela deidade em particular. Ou seja, se você quiser cultuar Odin, não espere que os helenos te ajudem a dizer como se faz isso, você tem que aprender com um nórdico como se deve abordar propriamente Odin. Se você cultuar Odin com uma postura helênica, você vai desagradar tanto os helenos quanto os nórdicos, e até o próprio Odin.

6) E o panteão romano, não é o mesmo, tipo sermos greco-romanos?

O reconstrucionismo romano é algo separado, com seus próprios deuses e espíritos e formas de culto. Não só a abordagem é diferente, como também há diferenças entre os deuses, algumas mais significativas e outras mais sutis. O Ares grego, por exemplo, é uma deidade guerreira, enquanto o Marte romano abrange características de fertilidade agrícola. Já outros, como Apolo, foram "importados" diretamente dos gregos para Roma, mas ainda assim têm algo distinto na hora de em quais aspectos da deidade os gregos e romanos irão focar ao

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cultuá-los.

7) Como que eu faço um ritual?

Antes de desenvolver peculiaridades suas, você deve tomar como base:

- Montar um altar em casa, tipo com uma vela, uma tigela para verter ofertas líquidas, um lugar para queimar incenso ou essências, uma imagem legal da deidade (pode ser uma figura impressa se não tiver estátua).

- Lavar-se antes do ritual. De preferência banho e roupas limpas, se não pelo menos lave as mãos.

- Entrar em sintonia com a deidade e com o que você está fazendo ao se aproximar do altar.

- Acender a vela, consagrar a chama para Héstia lendo um hino homérico a ela.

- Ler hinos para a deidade do rito, pedir bençãos e outras coisas, vendo a especifidade e o domínio de cada uma (por exemplo, se você for pedir por cura física, deve se dirgir a deidades como Apolo, Asclépio, Higéia...).

- Dizer o que você vai oferecer a eles em troca, pode ser algo geral ou bem específico.

- Verter libações (ofertas líquidas) e/ou acender incenso ou vela perfumada.

- Agradecer pela atenção, apagar a vela sem soprar.

[Para mais informações, veja nossa página sobre Ortopraxia no site.]

8) Que mais preciso saber para começar?

O mais importante é seguir seu coração E sua mente. Use o coração para descobrir seus interesses e perceber os sinais dos deuses. Use sua mente para aprender tudo o que puder sobre a religião e a cultura helênica. Quando você juntar as duas coisas, não vai ter muito erro.

Lembre-se sempre de não ir com muita sede ao pote. Não queira fazer tudo de uma vez. Duas máximas da cultura grega são "Nada em excesso" e "Conhece-te a ti mesmo". Conheça tanto suas forças quanto suas limitações como humano. O helenismo requer tempo, paciência e trabalho, mas o investimento compensa quando você começar a se ver imerso nas belezas da cultura clássica e nas deidades que a presidem!

Para quem está começando

escrito por Sannion e traduzido por Alexandra N.

Então você decidiu virar reconstrucionista helênico. Parabéns! Aposto que sei o que te trouxe aqui: os deuses, e provavelmente um ou dois deles em particular. Provavelmente começou com uma simples curiosidade. Você leu sobre eles em algum lugar e teve uma espécie de “click”. Então você começou a ver coisas relacionadas a deles aparecendo com grande freqüência em lugares diferentes e ao “acaso”, e é possível que tenha vivenciado

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algumas coincidências estranhas, até que uma atração poderosa e indescritível tomou conta do seu espírito. Você se viu cada vez mais voltado na direção deles. Quanto mais você lia sobre o assunto, mais fascinado ficava, até que não pode mais negar que foi fisgado. Não se tratava mais de puro exercício intelectual, mas sim de um sentimento de conversão religiosa. E aí está você, provavelmente sem saber o que fazer com tudo isso. Há muita informação por aí, e ela é tão densa e contraditória e diz respeito a coisas que você não prestava atenção antes. Você só quer saber a melhor forma de cultuar os deuses, e fica se perguntando se realmente precisa aprender a calcular o calendário luni-solar ou a recitar um hino homérico no dialeto Ático antigo. E pobre de você se tentar entrar numa lista de discussão e fizer uma pergunta ali. Ao menos que você seja de aço, aposto que vai ter vontade de enfiar o rabo entre as pernas e correr para as colinas.

Então, a primeira coisa a fazer é parar de se preocupar. Eu sei que existe uma ansiedade sempre que se começa um novo caminho. É muita coisa que você ainda não sabe, e que você quer fazer direito porque é importante para você, porque você não quer cometer um grande erro, não quer ver as pessoas rindo de você como se você fosse tolo ou mesmo não quer acidentalmente irritar os deuses ao quebrar alguma etiqueta ritualística. Mas essas coisas podem te fazer ficar pensando tanto nelas que você vai acabar não fazendo nada por medo de fazer errado. E isso é muito pior do que errar. É melhor tentar e falhar do que passar a vida ao longo da estrada olhando a experiência passar, sem poder aprender com os próprios erros. E, quer saber? Nós todos já estivemos onde você está, e a maioria de nós ainda comete erros até hoje. É até bom cometer um erro por semana, para manter as coisas interessantes e nos fazer ficar humildes. Então: faça. Mesmo sabendo que você vai se atrapalhar todo, que você vai parecer meio estranho e bobo, mesmo que seja desconfortável ou que não lhe seja familiar. Dê tempo ao tempo. Você vai começar a ir pegando as coisas, se acostumando, encontrando as palavras e fazendo as ações virem naturalmente pra você, e em alguns anos você vai olhar para trás e rir do quanto você hesitava a se aproximar das coisas.

Agora, eu sei que, se você for como muitos, você pode estar querendo correr até os portões abertos, assimilar tudo de uma vez, e mergulhar a si mesmo nisso até que você esteja pensando, falando, comendo e respirando o helenismo. Se você fizer assim, em pouco tempo vai desanimar, porque o helenismo é imenso e tem coisas demais para absorver. A melhor maneira é fazer isso devagar, gradualmente, se deixando mergulhar aos poucos e ir expandindo sua consciência até que as coisas se tornem tão naturais para você que você nem mesmo tenha que pensar sobre isso: trata-se simplesmente da forma que você reage ao mundo à sua volta, às pessoas que você conhece e aos deuses que guiam tudo.

A princípio não se preocupe demais em conhecer todos os mitos e suas variantes, memorizar os hinos homéricos e órficos, conhecer os poetas líricos, entender a filosofia de Platão, queimar incensos e ofertar grãos, ter estátuas lindas e fazer libações, usar túnicas e coroas de folhas, seguir todos os festivais que existem aos deuses, ou fazer tudo de acordo com a performance esperada pelos padrões helênicos. Essas coisas são ótimas, acrescentam elementos maravilhosos ao culto, mas são apenas ferramentas.

O principal do helenismo é algo muito simples: trata-se de gratidão e de incorporar esse sentimento em atos e expressões tangíveis. É algo que pode ser feito a qualquer hora, em qualquer lugar, sozinho ou no meio das pessoas. É uma consciência de que o mundo inteiro é permeado por uma multidão de deuses e espíritos divinos, e que essas divindades são

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responsáveis por tudo o que vemos, sentimos e experimentamos no mundo à nossa volta, e que, de fato, sem eles não haveria vida e não haveria um mundo onde morarmos. E, por todas essas bênçãos não ditas, nós agradecemos – através sim de preces e hinos e ofertas reais, mas também pela forma que vivemos nossa vida como um testemunho da presença deles na nossa vida e no mundo. Essa gratidão é uma coisa a ser feita o tempo todo, e com a disposição mental apropriada.

É por isso que eu digo para você não se apressar. Passe um tempo cultivando esse sentimento. Tente se concentrar nas maneiras que os deuses têm usado para interceptar sua via. As coisas que eles têm feito por você e as coisas que você gostaria da ajuda deles no futuro. Tente se conscientizar da presença deles em torno de você o tempo todo. Quebre essa noção moderna de que o divino é algo remoto, infinitamente distante do mundo cotidiano onde vivemos. Tire essa idéia de que deus mora lá longe no céu. Tente ver cada nascer do sol como uma epifania de Hélio; uma árvore balançando na brisa como a presença de uma ninfa; aquela repentina inspiração que você teve para solucionar um problema como um presente de um deus. Isso nem sempre é fácil de fazer. Às vezes você pode se sentir meio bobo ao atribuir fenômenos perfeitamente naturais a uma ação divina, mas a coisa engraçada é que, quanto mais você começa a ver o mundo dessa forma, mais exemplos disso você irá encontrar. Talvez seja o caso de ver o que você quer ver nas coisas – ou talvez seja algo mais que isso. Talvez quanto mais aberto você estiver para esse tipo de encontro direto, mais desejoso os deuses estarão de se revelarem para você. Afinal, se você estivesse no lugar deles, você iria se incomodar de aparecer para alguém que está constantemente duvidando do que você diz ou mesmo do fato que você exista?

A próxima coisa a fazer é estudar. Leia tudo o que puder sobre os deuses (nos lugares certos, de preferência). Não só sobre os deuses nos quais você está mais interessado, mas também sobre aqueles que aparentemente não te fazem sentir nada. Porque, como nada no mundo, não existe um vácuo entre eles. Eles estão relacionados, seja por parentesco, amizade, romance ou o que for. Você vai ver que pode descobrir coisas sobre Dionísio ao estudar Hera, coisas que nunca entenderia se não fosse no contexto da relação que há entre essas divindades. E, quando falo para estudar os mitos, não é ler o livro e fechar depois. É se debater com o texto, tentar desvelá-lo mais profundamente, no seu sentido escondido. Entenda que há muitos níveis para um mito, e nem todos devem ser tomados literalmente. Que tipo de sentido eles têm naquele ponto? São só alegorias ou algo mais, algo que contém uma verdade superior e universal, mas que só pode ser expressa de uma maneira criativa e atemporal? Leia as diferenças entre os mitos e se pergunta que diferença é essa. O que significa ver Dionísio como filho da deusa Perséfone versus ver Dionísio como filho da princesa mortal Semele? Pergunte o que essas estórias expressam sobre a natureza dos deuses, do mundo em que vivemos, e sobre os homens que primeiro as contaram. Os mitos seriam diferentes se contados por pessoas do dia de hoje? Você vai experimentar diversas coisas ao tentar aprender mais dessa forma.

Mas os mitos são só uma das fontes de conhecimento que temos dos deuses, e nem sempre uma das mais acuradas. Por exemplo, em Homero você verá Hera como uma esposa ciumenta, mas no culto ela era muito mais poderosa, com controle sobre o céu, a agricultura e o gado. Você pode ler sobre Apolo ser o garoto dourado da arte e da música e da ordem, mas descobrir pouco sobre o seu aspecto profético escuro e seu papel na agricultura e pecuária. Para conhecer um deus, temos que entender todas as suas manifestações, e a melhor forma

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de fazer isso é estudando como ele se revelava aos antigos e como eles o respondiam através dos cultos. Leia sobre ritualística grega, sobre a história, a cultura, e como isso tudo se encaixava na concepção antiga dos deuses. Comece lendo Walter Burkert e Carl Kerenyi, por exemplo, mesmo que lhe pareçam densos demais a princípio. E lembre-se que todo autor tem seus fanatismos e que as coisas mudam quando novas descobertas são feitas e as velhas teorias são testadas, então isso tudo tem que ser levado em consideração ao avaliar uma fonte. Questione tudo o que lê, e verifique o que cada autor diz que contradiz o outro. Tente ler principalmente o que os próprios autores antigos escreveram. Eles viviam na época que os deuses eram sentidos como reais e a religião ainda era praticada, então todos os poetas e dramaturgos e filósofos são ótimos. Tente ler principalmente Pausânias, Plutarco, Diodoro Siculo, porque eles se preocupavam com a prática real de culto, não só com sua expressão mitológica. Não deixe passar também a maravilhosa fonte que temos na comunidade politeísta helênica, onde as pessoas estão diretamente experimentando e cultuando os deuses, e podem ter um entendimento deles melhor do que um acadêmico seco que os estuda como se eles fossem apenas umas antigas e curiosas espécies.

Agora, estudar é legal, mas nada vai substituir a experiência direta que você pode ter dos deuses. Há várias maneiras de se fazer isso.

A primeira é reservar um tempo do seu dia para ficar só você e os deuses. Não precisa fazer algo muito longo ou muito ritualizado, mas deve ser algo só para vocês. Trate como se fosse o tempo que você reserva para alguém que ama, uma hora que não é para se falar de negócios ou xingar o trânsito ou outra coisa que tire sua atenção da pessoa em questão. Pode ser em casa, em um parque, ou outro lugar que você não seja interrompido. Se você puder acender vela, incenso, colocar uma música, ajudaria muito. Você pode pensar em quem eles são, o que eles têm feito na sua vida, tentar se lembrar do que você leu sobre eles, pensar nas coisas que podem ser associadas a eles... Você pode meditar, fazer visualização, ou mesmo apenas se sentar para observar o sol se pôr ou as árvores estremecerem com a brisa e assim deixar seus pensamentos vagarem para onde quiserem. Você pode falar, uma prece formal ou espontânea – vinda da cabeça ou do coração – ou você pode ficar em silêncio o tempo todo. O que funcionar melhor para conectar você a eles.

Outra coisa que você pode fazer é realizar coisas para eles, como escrever poemas, escrever peças, desenhar, pintar, cantar, dançar, compor uma música, tocar um instrumento, atuar, esculpir, enfim, elaborar representações deles ou de coisas associadas a eles. Você pode gravar um CD com as músicas que te fazem lembrar dos deuses. Pode ser por causa da letra ou pela melodia ou pelo sentimento que a música te evoca.

Agora, pode parecer estranho falar disto depois de ter exaltado a liberdade dentro do culto aos deuses, mas existe a questão da Ética, que vem sido muito negligenciada nas discussões da nossa crença, coisa que não deveria acontecer, visto que uma está profundamente ligada à outra (afinal, ética é fazer a coisa certa pelo nosso próximo e devoção religiosa é fazer a coisa certa pelos deuses). A ética e a devoção helênica repousam sobre o mesmo princípio: “sophrosune”. Ou seja, autocontrole moderado, introspecção, conhecimento, gentileza e civilidade. Vimos isso expresso em duas famosas máximas do templo délfico a Apolo: “meden agan” (tudo em moderação) e “gnothi seauton” (conheça-te a ti mesmo). Para os gregos, poucas coisas eram intrinsecamente boas ou más. Algo que pareceria ruim poderia acontecer para evitar um mal maior, e algo que pareceria bom poderia causar grande dano. A chave é

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conhecer a medida das coisas, pois excessos podem ser perigosos. Para Plutarco, a devoção religiosa era o caminho do meio entre dois extremos odiosos: ateísmo de um lado e superstição do outro. Theognis dizia “o caminho do meio é o melhor” e essa é uma frase que deveria ficar estampada no seu coração e guiar suas ações. Não ser nem um capacho nem um arrogante. Não odeie o corpo e seus prazeres, mas também não permita que ele controle seus pensamentos e te leve a cometer atos abomináveis. Respeite os deuses e ouça o que eles dizem, mas não confunda cada pensamento ou capricho seu como se fosse de interferência divina. Como isso se relaciona com a religião? Bom, não pense que você pode tratar as pessoas como quiser, achando que os deuses não vão perceber. Eles atuam no mundo. Zeus preside os juramentos, Hera os relacionamentos de compromisso, Dionísio a expressão livre individual, Hermes a gentileza com estranhos e necessitados. Quando você ignora essas coisas, você os ofende. E eles não levam a “hubris” (orgulho excessivo, abuso vergonhoso dos outros) numa boa.

E, em se tratando de devoção, precisamos falar sobre os rituais. É recomendável que você lentamente introduza ações rituais na sua vida diária. Por exemplo: agradecer a Hermes se você receber um golpe de sorte (desde achar um dinheiro no chão até conseguir o emprego que você esperava); quando entrar numa floresta ou passar por um rio ou montanha ou fonte, oferecer uma prece aos espíritos que ali residem; nas refeições, agradecer pela comida e separar a primeira porção para eles e oferecê-la em sacrifício ao final; manter uma vela ou lareira acesa no centro da casa para honrar a Héstia; saudar o sol ao acordar; saudar a lua assim que a vê-la pela primeira vez no dia; fazer uma prece a Hermes ao ir para a cama; etc. Algumas pessoas mantêm um altar a “Zeus Ktesios” (Zeus Domiciliar), também conhecido como “Agathos Daimon” (Bom Espírito). Se você tiver um jardim ou quintal, pode montar belos altares aos deuses; se morar em um apartamento pequeno ou dormitório de faculdade, pode separar um lugar na estante para coisas associadas aos deuses com quem você mais mantém relações de afinidade. E, mesmo se você morar com pessoas que não compartilham a sua fé e por isso não poder erguer altares, ainda assim ofereça preces regulares a eles.

Outro costume antigo que você pode desejar incluir na sua prática é o “Noumenia”. O Noumenia era o primeiro dia do mês helênico, quando o primeiro pedaço da lua nova ficava visível. Nesse dia, a casa inteira era limpa, especialmente os altares, e colocavam-se flores e ofertas neles. É uma bela forma de começar o mês, com perfume de flores, com frutas frescas, com roupas novas, de banho tomado, com o altar purificado, e com isso se sintonizando aos ritmos sagrados do ano e da criação inteira.

Ainda falando da lua, outro costume pode ser observado: a refeição (“deipnon”) de Hécate, que cai na escuridão da lua ou ultimo dia do mês helênico. Nesse dia (os dias helênicos começam ao pôr-do-sol), se preparava uma refeição – normalmente bolos, mas você pode oferecer outra coisa – e se deixava em uma encruzilhada, principalmente se fosse o cruzamento de três estradas/caminhos. Ali se faziam preces e se deixavam ofertas aos deuses do submundo e aos espíritos dos mortos. Muitos gregos acreditavam que os mortos só existiam enquanto alguém vivo se lembrasse deles, então pense naqueles que você conheceu ou que vieram por este caminho antes de você.

Esses são apenas alguns dos caminhos para você começar pelo Helenismo antes de procurar rituais mais elaborados. Na verdade, a expressão mais fundamental e consistente da nossa fé é o sacrifício, compartilhar uma porção das coisas que provêm nosso sustento essencial com

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aqueles que nos as deram. Não que eles precisem de comida como nós, mas eles apreciam o significado desse gesto, o qual demonstra que nós percebemos, que nos importamos, que nos realmente somos gratos e que desejamos demonstrar isso através de atos tangíveis em vez de simplesmente pensar neles. Isso faz reafirmar os laços sociais entre nós e nos dá uma chance de nos unirmos, como em uma espécie de Ação de Graças. Essas ofertas podem ser de três tipos: libações (ofertas líquidas, como vinho, leite, água, mel, óleo etc), primeiros frutos (carne, grão, fruta ou outras coisas comestíveis), e ofertas votivas (flores, estátuas, vasilhas, coisas que você pode comprar ou fazer você mesmo, e qualquer outra coisa que você queira conceder a eles).

Você pode ofertar coisas em vários lugares e momentos, mas, é claro, o melhor lugar para se fazer isso é no seu altar pessoal. Não há nada como entrar no seu quarto e avistar seu altar cheio de imagens de deuses e ornado de ofertas a eles e perceber que os deuses estão presentes em todos os aspectos da sua vida, principalmente no lugar onde você mora. O altar tem uma qualidade dupla: de um lado ele pertence inteiramente aos deuses. É algo que você mantém apenas para eles. Não o deixe bagunçado ou sujo, mantenha-o afastado de estranhos, animais e crianças que podem acidentalmente causar-lhe dano. Todas as coisas do altar e o próprio espaço do altar são dos deuses. Por outro lado, eles são uma expressão muito pessoal do nosso relacionamento com nossos deuses, e cada um dos itens que colocamos ali ou usamos para cultuá-los têm um sentido profundamente pessoal. Então, nesse sentido, eles estão preenchidos da nossa personalidade e presença, da mesma forma que estão com as dos deuses. Na verdade, o altar é um lugar onde os reinos mortais e imortais se fundem e se unem, como uma interseção entre os mundos. Por isso, nenhum altar é igual ao outro, já que cada um de nós tem suas próprias experiências pessoais com os deuses. E também é por isso que não posso ficar lhe dizendo como montar um altar. Você vai perceber isso gradualmente. Claro, ele provavelmente terá imagens dos deuses, bacias ou pratos para ofertas, uma taça para libações, um queimador de incensos, velas da cor apropriada e coisas assim. Ele pode ser bem simples e limpo ou pode ter várias coisas mantidas juntas como se fosse um memorial do seu relacionamento com o deus, e por isso que a maioria dos altares da antiguidade era no jardim ou quintal ou pátio, mas isso é você quem vai definir. Minha única sugestão é não deixar cinzas, sujeira e outras coisas acumularem, e retirar as ofertas comestíveis antes de elas começarem a estragar. Um outro conselho seria montar um altar a um só deus ou a deuses que têm uma longa e boa relação um com o outro. Evite manter muito próximos os altares a deuses que têm uma relação ambivalente entre si. A exceção é o caso de você montar um altar a todos os deuses coletivamente, que é algo com precedentes na antiguidade, onde existiam altares aos Doze Deuses na Ática e em Olímpia e estruturas semelhantes como o Pantheon (“todos os deuses”) em Roma.

Se você está fazendo tudo o que falei até aqui, ótimo! Mas, você deve estar se perguntando, “e a história do calendário e dos festivais, das palavras certas para recitar preces ou o que dizer quando eu fizer sacrifícios?” e outras coisas que a gente sempre vê serem perguntadas nas listas de discussão.

Certo, essas coisas são importantes sim, mas acontece que… os festivais são ocasiões muito especiais que não acontecem sempre. E, se você se limitar a eles para dirigir seu pensamento aos deuses, algo está errado. Você não faz coisas legais para seu cônjuge apenas no dia dos namorados e no aniversário de casamento de vocês (e, se faz, saiba que está correndo o risco de ele/a se separar de você). O ritual formal é legal, mas nunca substituirá uma prece ou um

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sacrifício que é feito de todo o coração.

Além disso, na Grécia Antiga, os festivais eram diferentemente celebrados de acordo com a polis. Cada uma tinha seus costumes, leis, sistemas políticos, dialetos regionais e até tradições religiosas. Alguns festivais eram realizados por todas elas, como os pan-helênicos, com muitas coisas em comum, mas tanto existiam pessoas que viviam muito enfiadas nas tradições da área onde moravam quanto existiam pessoas que não se incomodavam com as contradições e variações dos outros, até pelo fato de estas serem bastante numerosas de um lugar para outro. E isso ainda se repete hoje entre os reconstrucionistas, havendo também pessoas que vivem entre esses dois pólos. Temos pessoas que buscam seguir piamente os costumes antigos, temos pessoas que incluem as modificações feitas durante a Renascença, temos pessoas que misturam tradições de outras culturas junto com a dos olimpianos, tempos órficos, tempos pitagóricos, temos neoplatonistas, temos animistas e panteístas e várias outras vertentes de politeísmo, e até pessoas que se dizem agnósticas mas que ainda assim encontram beleza nos mitos e rituais da Grécia antiga. Nada que eu dissesse seria igualmente aceito por todos esses grupos e indivíduos, e espero que você tenha percebido que não existe uma Verdade Universal e um Caminho Único dentro da nossa religião. Não siga piamente o que alguém lhe diz, encontre a sua verdade, afinal, estamos falando da sua “re-ligião”, da sua maneira de se re-ligar aos deuses.

Após essa pequena advertência, vamos voltar ao que falávamos. Uma das primeiras coisas que você precisa fazer é definir quais os deuses você quer cultuar. É impraticável cultuar a todos os deuses do panteão. Não só é impossível devido ao tempo – já que provavelmente temos cerca de 30 mil deidades – mas porque não é necessariamente desejável fazer isso. Certamente devemos respeitar todos os deuses, porque são deuses, e mesmo o menor deles é superior ao maior dos mortais, e porque sabemos o que acontece àqueles que os desrespeitam (vide Hipólito, Penteu e Niobe, por exemplo), mas não se espera que tenhamos o mesmo tipo de sentimento com relação a todos, assim como não temos o mesmo tipo de relacionamento com todas as pessoas que conhecemos. Seria diminuir o sentimento que tenho por alguém que amo se eu dissesse que não há diferença entre essa pessoa e outra que passa por mim na rua. Da mesma forma, há deuses com os quais temos um relacionamento muito intenso e duradouro. Alguns outros deuses aparecem na nossa vida por um tempo e às vezes voltam, enquanto outros não desenvolvem relacionamento conosco. Alguns podem até ser hostis com a gente. Esteja aberto a eles e responda quando eles se manifestam para você – é muito ruim ignorar o chamado de um deus, acredite – e esteja disposto a mudar sua prática de acordo com as mudanças no seu relacionamento com eles, mas no começo é melhor apostar em começar com os deuses aos quais você se sente mais próximo e então trabalhar seu caminho a partir daí. Se você não se sentir próximo de nenhum, então tente usar algum método de adivinhação ou estudar um deus a cada mês para aprender sobre ele e experimentar uns rituais a ele. Isso pode te ajudar a sentir algo e a eliminar preconceitos que você possa ter com alguma deidade em particular. Certamente a sua percepção inicial com relação a alguns deles irá mudar. Hera, por exemplo, não é só uma matrona ciumenta como muitos podem pensar.

Assim que você tiver os seus deuses, estabeleça uma rotina regular de culto. Não importa qual, desde que você se fixe nela e não perca seu momento de devoção. Você pode, por exemplo, escolher um dia que é associado a um deus. Em outros idiomas, os dias da semana têm os nomes deles. Lunes/lunedí/monday (segunda-feira) é o dia da lua – Selene, terça-feira de Ares, quarta de Hermes, quinta de Zeus, sexta de Afrodite, sábado de Cronos e domingo de

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Apolo. Ou use os dias helênicos (veja o calendário) a cada um, normalmente no começo do mês. Hesíodo, em “O Trabalho e os Dias” lista um número de dias que eram consagrados aos deuses na Beócia. O que você vai fazer nesse dia cabe a você. Você pode fazer um ritual completo de sacrifício, pode apenas oferecer incensos e libações ou pode fazer atividades associadas ao deus (como artes marciais para Ares, atividades ecológicas para Ártemis, teatro para Dionísio, música para Apolo etc).

A próxima coisa, depois de conhecer os rituais oficiais, seria criar os seus próprios, e segui-los. Pense na sua vida. Quando foi que você sentiu o chamado de um deus? Foi em alguma data em especial? Há algum aspecto deles que você quer honrar ou um mito que você quer comemorar? Qual é o ciclo agrário da região onde você vive? (Afinal, para que celebrar a colheita da uva se na sua terra a vinha ainda nem amadureceu, ou celebrar a festa das flores quando seu jardim está encoberto pela neve?) O que os festivais antigos representavam? Como você obter o mesmo efeito sem ter centenas de pessoas para entrar numa procissão ou uma hecatombe de bois para oferecer a Zeus ou uma estátua enorme de Atena para costurar um “peplos” ou um porto de onde seguir em um cortejo náutico? Há várias coisas que se pode fazer com os recursos limitados. E lembre-se que esses não são rituais de vinte minutos e depois seguir com o seu dia, esquecendo da data; eles são algo grande, com sacrifícios, danças, jogos, cantos, banquetes e outras atividades durante o dia inteiro. Desde que você acordar até ir dormir, ofereça o dia aos deuses. Faça coisas para eles – artes, refeições, ofertas, jogos, corridas, preces, ouvir boa música, assistir um filme relevante para o tema do festival etc. Coletivamente, tudo contribuirá para o espírito festivo do dia. E então, para coroar isso tudo, você pode então fazer o tal ritual formal de vinte minutos que tantos consideram como “observar o festival”. Comece pequeno e depois construa em cima dos festivais, a cada ano, até perceber que tem algo já bem estabelecido dentro da tradição.

A partir daí, expanda sua prática incluindo os festivais antigos também, aqueles que falarem mais alto a você, aqueles que expressarem mais a natureza do seu deus, e celebre ele ou ela. Leia tudo o que puder deles, tente entender o que era feito e por que era feito – a linguagem simbólica por trás dos atos. Você pode adaptar algumas coisas, mas cuidado para não adaptar demais a ponto de ele parar de lembrar o original num sentido que despersonalize você chamá-lo do mesmo nome, ou admita que você inventou uma outra coisa nova. É terrível gente que faz algo totalmente ‘nada-a-ver’ e diz que está praticando tal festival só para ter o prestígio de dizer que segue o que se fazia antigamente. O espírito é totalmente diferente, o sentido e, às vezes, até as ações são mudadas, nada que faça lembrar o original, então ele não pode ser chamado pelo mesmo nome! Seria como afirmar que você celebra o Natal escondendo ovos, comendo coelhos de chocolate, vestindo cores pastéis e anunciando que um vampiro judeu de dois mil anos acordou. Mas, se você fizer mudanças consistentes, ótimo! Por exemplo, há um ritual em que antigamente se sacrificava um porco para Deméter e jogava o sangue sobre as ofertas, e hoje em dia se cozinha o milho (que também se associa a ela) e se asperge a água do cozimento.

Mas sabe de uma coisa? A fórmula helênica é até bem simples de se lembrar: purifique tudo com a água lustral (“khernips”), caminhe em torno do aposento, espalhe cevada no altar e no fogo, diga algumas preces, faça algumas ofertas etc. Não precisa elaborar roteiros ou pronunciar palavras mágicas com o sotaque perfeito para dividir seu corpo, nem tocar sinos na hora certa ou usar pinhas para liberar poder. E, honestamente, ler um roteiro tira um pouco do espírito da celebração. Suas preces deveriam vir do coração. E se você repetir frases e

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tropeças nas palavras, qual a graça? Você acha que os deuses preferem ouvir alguma poesia em tom monótono com você concentrado no próximo passo e acabando perdendo tudo o que está acontecendo à sua volta? Cultos são experiências que devem envolver todos os seus sentidos. Por isso que acendemos fogos, queimamos incensos, bebemos vinho, fazemos procissões, dançamos, usamos imagens bonitas, tocamos música. Não desperdice seu tempo ou o deles com celebrações onde você só se doa pela metade.

Então, resumindo, a única coisa que você realmente precisa saber para começar pode ser expressa em três simples palavras: viva sua crença. Nossos deuses são reais e eles não exigem de nós nada menos do que isso.

Entrevista do Thiseas com a Alexandra

A organização grega THYRSOS lançou a primeira edição de sua revista IDEON ANTRON, com 60 páginas, e nela vocês encontram uma entrevista de 5 páginas do Thiseas com a Alexandra, representando o RHB. Pode-se ler em grego no site da revista clicando AQUI (páginas 8 a 12) ou a original em inglês clicando AQUI. Embaixo segue a tradução para o português a partir do inglês:

1) Por favor, nos apresente o que é o RHB e uma curta história de como as coisas começaram!

RHB significa "Reconstrucionismo Helênico no Brasil". Ele começou quando eu comecei a estudar o politeísmo helênico (acho que foi em 1998, pois estava estudando mitologia grega em 1996) através de alguns grupos estrangeiros do yahoo, pois não havia um site ou grupo em português para isso, os poucos que existiam eram ou sobre mitologia ou história, não relacionados a uma verdadeira religião ainda acontecendo. Eu era membro de alguns Thiasi on-line e senti a necessidade de reunir informação sobre minha crença em minha própria língua, então comecei a pedir permissão a alguns autores para traduzir coisas para minhas práticas de culto e colocá-las em algum lugar on-line. Também importei alguns livros para estudar. Então veio a Hellenion e o Neokoroi e outros dos EUA, os quais eu seguia, e mais tarde encontrei o website grego do YSEE. O primeiro site brasileiro (e primeiro em língua portuguesa) sobre o reconstrucionismo helênico construí em março de 2003 na Geocities, mudando depois para o GooglePages. Sempre atualizei-o enquanto aprendia mais e mais, e todo ano mudava algo no 'layout'. Naquela época eu comecei a receber vários e-mails de brasileiros perguntando coisas, esclarecendo dúvidas, e percebi que não estava sozinha em meu serviço aos Deuses, eis por que decidi transformar o website em um forum. Infelizmente, o forum grátis que o hospedava às vezes ficava fora do ar sem avisar, e algumas pessoas faziam certa bagunça nos tópicos. Então decidi reconstruir o site no novo GoogleSites e manter o forum apenas para as pessoas se conhecerem, sugerirem coisas, fazer perguntas e postar material legal que viam pela Internet. Eles diziam que se sentiam melhor assim, porque quando as coisas estão seguras no website eles não ficam com vergonha ou com receio de postar coisas no fórum. Além disso, temos uma comunidade no Orkut com quase 300 membros e uma nova página no Facebook.

2) Não seria estranho perguntar como você foi parar na religião helênica? Muitos pensariam - não eu - "não é algo estrangeiro?" Como você responderia para eles?

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Sim, quando comecei eu tinha uma amiga que me dizia que eu cultuava "deuses mortos". Ano passado estive na casa dela e a lembrei do que havia me dito, mas graças a Eles ela está mais mente-aberta hoje e tentando não julgar as pessoas como costumava fazer anos atrás. O estranho para eles não é o fato de serem deuses estrangeiros (já que muitas pessoas no Brazil cultuam orixás africanos), mas ser uma religião quase desconhecida que tomam como apenas mitologia e literatura. Eu costumo mostrá-los que não estou sozinha no mundo, mostrando os grupos que têm a mesma crença que eu e como eles são pessoas adultas/maduras com alto nível educacional e que gostam de estudar e serem racionais, porque nossa religião faz bastante sentido, ela tem ética e é humana (no bom sentido do termo). Eu conto sobre os convites que recebo para palestrar em outras cidades, então eles vêem que não sou louca e é uma coisa séria. Eu também lembro de Salustius que dizia que mesmo que os mitos fossem histórias que "nunca aconteceram", elas "sempre existiram", então elas têm seus efeitos nas nossas almas e vidas. Se eles não vêem isso como religião, ao menos têm que concordar com o poder de se acreditar em algo que faz você se sentir melhor e lidar melhor com as outras pessoas, a natureza e o mundo em geral. Penso que a melhor maneira de mostrá-los que isso é uma coisa boa é dando o exemplo em nossas vidas (mais do que apenas dizer palavras), e eu tento fazer isso.

3) Você acha que o restabelecimento dos Antigos Caminhos é só outra curva do que é conhecido como "nova era" ou é algo mais sério e é verdadeiramente uma questão crucial na história da humanidade? Você acha que ele vai crescer mais do que está agora?

Não acho que é uma curva da "nova era", porque o que me contavam sobre a "nova era" desde a minha infância era ou coisas muito assustadoras (relacionadas ao demônio e o fim do mundo) ou coisas zen/esotéricas (relacionadas com mágica e reino espiritual, que de certa forma é melhor do que ser uma pessoa materialista, mas enfim...), ambas as coisas não definem os Antigos Caminhos de maneira alguma. A Nova Era traz novas leituras sobre coisas não-tão-velhas, e os Caminhos Antigos são tradições que sempre estiveram lá. A humanidade evoluiu tecnologicamente, mas perdeu muito da conexão com a ética e a justiça e todas as virtudes que as pessoas aprenderam nos Tempos Antigos. O Mundo Grego Antigo era tão cheio de maravilhas e importantes conhecimentos e descobertas em todas as áreas que importam, que deveríamos pensar por que não temos aquelas mentes/almas prolíficas que eles tinham. A humanidade tem que se espelhar em bons exemplos de civilizações, e a Hélade era uma das mais inspiradoras. É hora de parar de falar sobre por que era assim e começar a fazer as melhores coisas que funcionavam para eles e deveriam funcionar de novo para nós. E acho que vai sim crescer, porque já está crescendo. Quando penso como a maioria dos meus amigos são politeístas, é difícil imaginar que somos menos do que 1% da população. Como disse na resposta anterior, as pessoas estão ficando mais acostumadas com a nossa presença e espero que elas comecem a respeitar isso ao ver como somos sérios e o quão boas são nossas vidas agora que estamos próximos aos Deuses.

4) Vocês preferem alguma escola filosófica em particular como grupo? Vocês acreditam que é "fácil" combinar as diferentes opções das escolas filosóficas helênicas? Aqui na Hélade há muita discussão quanto a isso!

Aqui não discutimos muito sobre isso, nós meio que deixamos as pessoas livres para escolher o que querem seguir, embora estejamos focados na orientação das máximas délficas e nos

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princípios de Sólon. Mas posso responder por mim mesma, eu gosto mais do método socrático da maiêutica e de algumas práticas de Sêneca. Sobre ser ou não "fácil" combinar escolas, acho que é uma questão de re-definir conceitos. Por exemplo, nós (meu grupo) gostamos de pensar na Ataraxia como um sinal de controle sobre nossas emoções de modo que não nos perturbemos com questões diárias, como os estóicos dizem ser uma tranquilidade mental; mas se você pesquisar como os epicuristas entendiam a Ataraxia você verá que eles dizem algo sobre "não temer os deuses porque eles são distantes e indiferentes a nós" e não podemos concordar com isso. Então voltamos a Sócrates e Platão que costumavam definir todas as coisas antes de falar delas.

5) Que significado você pode definir para a frase "gnothi s'eauton" (conhece-te a ti mesmo)? Se temos de um lado a opinião de Sêneca sobre a brevidade da vida, o quão difícil você acha que é atingir um objetivo como esse?

Eu gosto de pensar na frase completa "conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses". Ela me lembra de duas coisas. A primeira é de o único controle (relativo, não total) que temos é sobre nós mesmos, então não podemos esperar mudar outras pessoas ou que outras pessoas façam o que faríamos. Tipo, se alguém te magoa, é escolha sua continuar a se sentir magoado, você não pode colocar a responsabilidade em algo de fora. Temos que conhecer nossas forças e fraquezas, nossas sombras e potenciais, nossos dons e falhas, de uma forma a procurar pelo nosso Self ("know your self" seria "know your Self"*), aquela coisa similar à sagrada completude dentro de nós. Nós caminhamos nessa direção para sermos um só com as deidades e com todo o mundo que eles criaram. Nós não podemos pensar como se fôssemos separados de todo o resto. A segunda coisa é a máxima "assim como é em cima, é embaixo", todas as coisas que acontecem no Universo acontecem dentro de nossos seres também, todas as coisas que os Deuses são e mostram nós podemos ver refletidos na terra também. Então faz sentido que ao nos conhecermos nós conheceremos qualquer coisa que exista. Com relação a Sêneca, bem, eu li que pessoas que costumam achar a vida curta é porque estavam mortas por tempo demais antes de começar a viver de verdade. Além disso, se Platão e Homero estão certos, podemos reencarnar e beber menos do Lethe para nos lembrarmos de vidas anteriores melhor e tentarmos avançar neste caminho ao auto-conhecimento. A dificuldade de atingir esse objetivo não pode ser uma desculpa para nos fazer sequer tentar chegar lá. Toda conquista é um passo dado que traz uma melhor comunhão com o divino e com a felicidade.

* Self = 'si mesmo' da teoria junguiana (Nota da tradução, pois o jogo de palavras não coube muito em português).

6) Estamos chegando a uma questão crucial. Você acredita que alguém nasce com um "pepromeno" - destino, que não pode mudar, então ele não pode mudar nem mesmo o caráter, ou você acredita que está em nossas mãos e escolhe fazer o que quisermos disso? Acho que seria algo que dá o curso à evolução humana através dos anos. Você concorda?

Acredito que construímos nossa "tapeçaria" no tear das Moiras junto com Elas e com os outros Deuses. Eles nos apresentam opções, fazemos escolhas, eles mostram as possíveis consequências dessa escolha e então nosso fio se move em direções diferentes e cruza com o fio de outras pessoas, então no final da vida podemos olhar qual desenho/figura foi tecida ali. Também, talvez a Teoria das Cordas (que é um bom nome para isso) da Física Quântica torna

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possível existir um multiverso, onde cada universo mostra um caminho que não tomamos, tipo, em um desses múltiplos mundos algumas pessoas ainda estão vivas ou coisas assim. Isso é algo que não podemos dizer com certeza, apenas pensar sobre. Eu gosto de pensar que todos têm um "daimon" para realizar, como uma semente que está esperando para se tornar uma árvore. Quando você vai na direção de vê-la crescer, você provavelmente terá muitos "deja-vus" de estar dentro do seu destino, mas você pode escolher não segui-lo e fazer outra coisa da sua vida. Eu tenho visto muitos sinais dos deuses que não podem ser apenas coincidência, talvez seja "sincronicidade", mas eu amo ver como eles têm planos e estão trabalhando conosco e construindo a tapeçaria de nossas vidas junto com nossas vontades.Com relação à evolução, acho que ela tem um aspecto duplo, por um lado é bom, mas por causa de certas escolhas "erradas" nós perdemos um monte de coisas, e uma delas é a conexão que costumávamos ter com o mundo sagrado e a sabedoria do cosmos.

7) Na sua opinião, é possível para o homem moderno se reconectar com os valores e o caminho dos Antigos? Algumas pessoas dizem que isso é só uma reação romântica fantasiosa contra os problemas de hoje. Como você argumenta com elas?

É possível a reconexão. A História nos ajuda a entender o comportamento de pessoas e sociedades e a entender as mudanças que tivemos até sermos o que somos agora, e isso também ajuda a prever o futuro um pouquinho. Ao estudar o resultado das coisas e sistemas que aconteceram antes, podemos verificar quais funcionaram e quais foram prejudiciais à humanidade como um todo e seus grupos particulares. A História também nos faz pensar sobre nossa identidade e valores morais, para desenvolver uma cidadania saudável. Se tomarmos os bons exemplos e tentarmos segui-los, esperamos ter os mesmos bons resultados, ou até melhor, porque temos mais conhecimento do que antes. Se alguém pega a experiência histórica conhecida com a guerra para fazer uma guerra mais poderosa, ninguém diz que isso é uma idéia romântica ou fantástica de que tal coisa funcionará como antes. As pessoas estão mais acostumadas a copiar desastres e coisas ruins do que batalhar por serem mais justas e virtuosas. (Isso me lembra Tácito, que dizia "a gratidão é um fardo e a vingança é um prazer"). Quando você estuda História e Filosofia, você vê que os problemas de hoje são praticamente os mesmos daqueles que tínhamos no mundo antigo. Nós normalmente ouvimos as pessoas dizer que "ah, esse texto é tão velho mas ainda assim tão atual/verdadeiro para o momento recente...", e é verdade, hoje em dia estamos repetindo erros que os antigos já tinham nos ensinado como solucionar. Então deveríamos tentar pensar e agir de forma similar a eles, em um esforço para ser tão virtuoso quanto eles foram (ou tentavam ser). Se você verificar como as pessoas dos nossos dias lidam com seus problemas, verá que elas têm menos habilidades para solucionar coisas práticas e manter sua saúde emocional/mental ao mesmo tempo. Eis como sabemos que precisamos de mais intervenções como psicoterapia hoje do que eles precisavam naquela época. (E minha primeira graduação foi em Psicologia, então não estou sendo leviana/descuidada ao dizer isso.)

8) Acho que fizemos um círculo completo, a primeira coisa era apresentar o RHB, seu trabalho e idéias. Quero lhe agradecer por seu tempo e paciência ao responder nossas perguntas. Por favor, encerre esta entrevista como desejar!

Foi um prazer, obrigada pelo interesse de vocês em nós! Eu gostaria de dizer que quando falamos de um novo culto aos Deuses antigos, queremos dizer que é "novo" por ser "eterno" (nunca envelhece) e não porque seja algo que muda ou renasceu como uma moda passageira.

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É diferente de algumas assim-chamadas "tradições" que são do nosso século e não têm tempo para provar que irão durar. Isso é algo que temos que deixar bem claro, porque define como o reconstrucionismo não é uma forma de pensar por algum modismo de "nova era". Espero que as pessoas tenham gostado da nossa conversa e que tenhamos clarificado coisas nesta entrevista. Se alguém ainda tiver perguntas, podem nos contatar pelo site, forum ou e-mail. Que os deuses vos sejam favoráveis!

Calendário

Explicação do Calendário

1. INTRODUÇÃO(traduzida do calendário oficial)

Nosso calendário normalmente segue o do grupo Hellenion, que é baseado nas observações mensais e anuais e nos festivais dos antigos helênicos de cerca de 800 AEC a 323 AEC. A versão deles foi criada usando informações do site HMEPA e das Fases da Lua, assim como do livro Greek Religion de Walter Burkert (Harvard University Press, 1977, English translation: Basil Blackwell Publisher and Harvard University Press, 1985), Old Stones, New Temples: ancient Greek paganism reborn de Drew Campbell (Xlibris Corporation, 2000) e Festivals of the Athenians, de H. W. Parke (London, Thames and Hudson, 1977).

O calendário delineia antigas práticas mensais, tais como o Deipnon de Hécate (na noite mais escura, honrando Hécate, a "Portadora da Luz", por uma doação de comida em uma encruzilhada ou para a caridade), a Noumenia (lua nova, começo do mês ateniense), e o dia do Agathos Daimon (honrando o espírito pessoal de alguém, um destino, característica, bênção, que não é inerentemente bom nem mau). Ele também lista antigos festivais atenienses, nas datas exatas onde eles são conhecidos. Onde a data exata não for revelada por pesquisa, um ponto de interrogação segue o nome do festival. Informações sobre cerimônias específicas podem ser encontradas nas referências mencionadas acima. Notem que a data da lua nova é determinada por quando o crescente é visível em Atenas; deve-se verificar fontes locais para o tempo e dia exatos na localidade do praticante caso este deseje ser mais preciso.

Em acréscimo aos festivais e práticas antigas, certas ocasiões modernas são listadas também. Isso inclui a libação mensal da Hellenion (garantindo que ao menos um dia por mês seja compartilhado por uma comunidade ao mesmo tempo, ainda que estejamos espalhados, e também garantindo que cada um dos doze olimpianos seja honrado ao menos uma vez por ano). Notem que esta libação não é uma prática oficial da Hellenion, mas uma atividade voluntária endossada (defendida, apoiada) por muitos membros da Hellenion.

Alguns festivais modernos também estão listados, como a Heliogenna, feita por vários dias durante os dias mais curtos de dezembro, e a Prometheia, feita na Grécia, no solstício de verão, perto do Monte Olimpo.

Lembrem-se de que, entre os antigos gregos, o dia começa ao pôr-do-sol do dia anterior. Dias

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em cinza indicam dias observados por membros da Hellenion, incluindo a lua nova que é o começo do mês grego e as libações mensais da Hellenion.

O calendário da Hellenion tem tradução para o português por Alexandra Nikaios. Às vezes, porém, fazemos o calendário do RHB antes de o calendário da Hellenion ter saído. Portanto, provavelmente existirão algumas diferenças, como o acréscimo de festivais, especialmente os do antigo demos de Erchia.

~-x-~

2. COMO FUNCIONA:(por Alexandra Nikaios)

Muita gente costuma perguntar se devemos inverter o calendário por vivermos no hemisfério sul (estações opostas). O conselho é que mantenham o calendário do norte, que é baseado nas "pólis" (cidades) e não na agricultura. Alguns festivais realmente vão se relatar à agricultura, mas não todos (como acontece com o calendário celta, por exemplo). O helênico não se refere a solstícios (exceto o de verão) nem equinócios, então não é preciso ter que ficar invertendo.

O ano helênico pode ter 354 dias, 355 dias (anos de 12 meses), 383 dias ou 384 dias (anos de 13 meses). O ano no qual estamos é um ano de 12 meses, com 355 dias, e começou numa lua nova de julho ou setembro (depende da pólis) de 2008 da Era Comum. No final de junho de 2009, começará um ano de 13 meses. Os meses se alternam entre meses de 30 e de 29 dias, isso porque a lua tem uma periodicidade de 29½ dias. Começamos nosso site original (de Reconstrucionismo Helênico no Brasil) no mês de Elaphebolion de 2003, que começou em 02 de março e foi até 1º de abril da Era Comum. Sendo o sétimo mês na Lacônia/Esparta, e o décimo mês em Atenas, Elaphebolion tem sempre 30 dias. Os outros meses mudam (às vezes têm 29 dias e outras vezes 30), principalmente o último mês do ano em vigor, ou seja, no ano de 12 meses laconiano seria o mês de Metageitnion e, no ano de 13 meses laconiano, o de Poseideon II.

Em alguns lugares, você pode encontrar uma referência ao calendário helênico que fale em "HMERA". HMEPA quer dizer "Hellenic Month Established Per Athens" (Mês Helênico Estabelecido por Atenas), mas também é um trocadilho com "hemera", que significa "dia", em grego (kali mera = bom dia), o que em fonte grega para editor de texto seria escrito 'HMEPA.

O 1º dia de cada mês é celebrado como o Noumenia, a festa da Lua Nova Visível. Por vezes também é chamado de Enikainea (Hene kai nea), "o Velho e o Novo". O dia 15 do mês é celebrado como o Dikhomenia (do ancestral da palavra moderna dikhiazo, ou seja, "Eu divido em duas partes"), o que ocorre na ou muito perto da lua cheia. Este dia é consagrado a Selene, a deusa da lua cheia. Alguns outros dias são considerados consagrados a certos deuses e deusas em particular. Esses dias são quase inteiramente situados nos primeiros dez dias do mês, com a lua crescendo. O dia 2 é consagrado ao Agathos Daimon, o "Bom Espírito", o dia 3 a Atena, o dia 4 a Afrodite e a Hermes (e às vezes também a Héracles), o dia 6 a Ártemis, o 7 a Apolo, o 8 a Poseidon e às vezes também a Teseu, particularmente em Atenas. O último dia do

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mês, seja ele 29 ou 30, é consagrado a Hécate.

Os nomes dos meses que virão entre parêntesis são nomes alternativos, a sua maioria em Macedônico. Algumas pessoas usam o calendário das olimpíadas, aqui há um bom site com ele: A 697ª Olimpíada, segundo o site estamos no 2º ano da 697ª Olimpíada e, no final de junho de 2011, iremos para o 3º ano.

Para acompanhar o ano helênico, preferi colocá-lo mês a mês, assim pode-se seguir tanto por Atenas (em que Boedromion é o terceiro mês) quanto pela Lacônia (em que ele é o primeiro).

Há também um calendário da Beócia, elaborado pelo Ruadhan, em inglês, neste site: Of Thespiae.

PS: Para se referir ao calendário atualmente adotado, usaremos o sistema AEC (Antes da Era Comum) e EC (Era Comum), em vez de AC/DC, porque tal notação cristã é certamente inadequada para o nosso caso.

Nossas Referências Online:

Cheiron Hellenic Pagan Site (1999-2000).Time and Date (Steffen Thorsen, 1995-2003).Hellenic Neo-Pagan Calendar (Killaly Barr, 1999).HMERA (calendário de Atenas, sempre atualizado).Hellenic Polytheist Notebook (Dennis Dutton, 2003).Seasonal Festivals of the Greeks (Apollonius Sophistes, 1997).   Greek and Roman Calendar (Perseus Encyclopedia, 1890).Ancient Athenian Festival Calendar (Neokoroi, Sarah Winter, 2008).Khaire - HEMRA (Zoe Hedley, 2007).

NOTA sobre 2012: Nós continuamos a seguir o calendário do site HMERA ("Meses Helênicos Estabelecidos por Atenas"). A Hellenion, porém, passou a adotar o calendário desenvolvido por alguns membros, que optaram por transferir o mês de Poseidon 2 de um ano para o outro, a fim de coincidir com as estações e para que o Anthesteria continuasse caindo próximo ao carnaval.  Seguir o calendário do HMERA é uma questão simbólica. Se você preferir um calendário mais alinhado com a natureza e os eventos mundiais, poderia ter seguido o da Hellenion, em inglês. As diferenças nos calendários de cada pólis na antiguidade eram comuns, então a falta de sincronia não deve ser motivo de preocupação. Na Hélade, se acrescentavam e retiravam dias de acordo também com a situação política e, como hoje não temos um arconte que diga "eliminem esse mês", cabe a cada um decidir pela observância do calendário que lhe for mais conveniente. 

Festivais

Dias Fixos:

Noumenia (1) - Lua Nova Agathos Daimon (2) Atena (3), Afrodite/Hermes/Héracles (4), Ártemis (6), Apolo (7),

Poseidon/Teseu (8) Dikhomenia (15) - Lua Cheia

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Deipnon de Hécate (29 ou 30)

Festivais por Meses:

Poseideon : Plerosia, Poseidea, Dionísia Rural, Haloá Gamelion : Lenaia, Gamelia/Theogamia Anthesterion : Anthesteria, Mistérios Menores de Eleusis, Diasia, Soteria, Delia Elaphebolion : Asklepieia, Dionísia Urbana, Pandia, Galaxia, Elaphebolia Mounykhion : Delphinia/Iketiria, Mounykhia, Olympeia, Demetreia, Braboneia,

Eroteia Thargelion : Thargelia, Bendídeia, Kallynteria, Plynteria Skirophorion : Arrephoria, Skirophoria, Dipolieia, Bouphonia Hekatombaion : Ano Novo Ateniense, Kronia, Synoikia, Panathenaia Maior,

Aphrodisia, Adonia, Eiseteria, Hekatombaia, Artemisia, Ponnykhis Metageitnion : Eleusínia, Metageinia, Herakleia Kynosargous, Brauronia Boedromion : Ano Novo Espartano, Niketeria, Genesia, Artemis Agrotera

(Kharisteria), Boedromia, Demokratia, Grandes Mistérios de Eleusis, Ninfas e Akhelous e Hermes e Géia

Pyanepsion : Proerosia, Pyanepsia, Theseia, Stenia, Thesmophoria, Khalkeia, Oskhophoria, Apatyria

Maimakterion : Pompaia, Maimakteria + Sacrifícios do demos/deme ático de Erchia, em Atenas

Noumenia

O mês helênico começa com a lua nova. Esse dia, a Noumenia, honra todos os deuses, especialmente Apollon Noumenios. Hoje em dia é comum unirmos em uma só celebração estes três dias: a véspera - Deipnon de Hécate, onde também se honravam os ancestrais; a Noumenia; e o dia 2 - do Agathos Daimon. Alguns helênicos fazem isso por considerarem que a Lua Nova seja tanto o fim quanto o começo de algo.

Preparação:O altar (ou espaço sagrado) é montado com imagens ou símbolos de Hécate, Apolo, Agathos Daimon e os Ancestrais. A cor principal é o preto, mas pode-se acrescer vermelho, branco, prata e dourado. Há uma vela para cada deidade ou grupo delas. As ofertas são três (por exemplo, três bolos ou três tortas): uma para Apolo, uma para todos os deuses, e outra para os ancestrais e o Agathos Daimon. As libações podem ser de vinho, mel e leite.

Procedimentos:Primeiro faça a procissão e a purificação que você estiver acostumado. Depois, pegue uma mão cheia de cevada e faça uma prece como esta: "Deuses Sagrados, olimpianos e ctônicos, venho diante de vós trazendo ofertas e sacrifícios. Hécate, nós te honramos, pois és tu que te apresentas no céu desta noite. Possa tua sabedoria nos guiar por todo este mês. Honramos os olimpianos, criadores e protetores de nossos corpos. Honramos os ctônicos, que cuidam de nossas almas quando transcendemos o além. E honramos aqueles que vieram antes de nós, nosso ancestrais, e o seu guardião, o Agathos Daimon, protetor de todas as coisas. Sagrados, aceitem e se deliciem com nossas ofertas!" ou outra que desejar. Jogue a cevada na tigela de ofertas do altar de sacrifícios. Se houver um grupo de pessoas, cada um joga uma mão de

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cevada ou traz uma oferta sua. Acenda então as velas de todos os espaços sagrados da casa, já que todos os deuses e 'daimons' estão recebendo ofertas. Finalmente, uma libação é vertida em cada prato de libação. Então começa um banquete, onde o resto da comida é consumida e há festas. Pode-se fazer jogos, assistir filmes, qualquer coisa que honre os deuses e ancestrais.

Bolo de Mel Grego

Receita enviada e traduzida por Diego Vilaça e sugerida para uso no festival da Noumenia por Jota Aktaios.

Ingredientes:

- 1 xícara de farinha de trigo;

 - 1 colher e meia (de chá) de fermento em pó;

-  ¼ de colher (de chá) de sal;

- Meia colher (de chá) de canela em pó;

- 1 colher (de chá) de raspas de laranja;

- ¾ de uma xícara de manteiga;

- ¾ de uma xícara de açúcar branco;

- 3 ovos;

- ¼ de uma xícara de leite;

- 1 xícara de nozes picadas.

- 1 xícara de açúcar branco;

- 1 xícara de mel;

- ¾ de uma xícara com água;

- 1 colher de chá de suco de limão.

Instruções:

1. Pré-aqueça o forno a 175º Celsius. Unte e enfarinhe uma panela de aproximadamente 9

polegadas quadradas. Misture a farinha, o fermento, o sal, a canela e as raspas de laranja.

Conserve.

2. Em uma tigela grande, bata a manteiga e os ¾ de açúcar branco até ficar claro e macio.

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Bata os ovos, um de cada vez. Bata na mistura da farinha alternadamente com o leite,

mexendo até encorpar. Misture as nozes.

3. Despeje a massa na forma preparada. Deixe-a no forno pré-aquecido durante 40 minutos,

ou até um palito inserido no centro do bolo sair limpo. Deixe esfriar por 15 minutos. Despeje

xarope de mel sobre o bolo.

Para o xarope de mel: em uma panela, misture o mel, 1 xícara de açúcar e água. Leve ao

fogo brando e cozinhe por 5 minutos. Misture o suco de limão, deixe ferver e cozinhe por mais

2 minutos.

Informações nutricionais:

Quantidade por fatia:

Calorias: 423

Gordura total: 19,3 g

Colesterol: 84 mg

Agathos Daimon

O Agathos Daimon ("Bom Espírito") para os helênicos é um pouco semelhante ao anjo-da-guarda judaico-cristão ou o Iwa dos vodunistas ou o Genius romano ou o Dola eslávico ou o Fylgja nórdico ou o Serapis (Cnum-Agathodaemon-Aion) egípcio ou mesmo o familiar-guardião xamânico. Ele é ligado a nós no nascimento (ele é nosso e nós somos dele) e continua conosco pela vida, protegendo, guiando, dando saúde, sabedoria, abundância, e influenciando na nossa sorte. Por conta disso, às vezes era representado como o par masculino da deusa Tyche (Fortuna), segurando uma cornucópia e uma tigela em uma mão, enquanto na outra segurava uma papoula e uma espiga. Mas, antes disso, o Agathos Daimon era considerado andrógino, e provavelmente por isso era também representado como uma serpente (que antigamente acreditava-se não ter gênero/sexo), razão pela qual se fazia libações na terra (e com vinho não-misturado) para ele. Tanto a forma de serpente quanto a com cornucópia lembram os Penantes (guardiões caseiros da prosperidade) dos romanos. Era necessário agradá-lo para que ele respondesse bem e nos desse boa sorte e proteção.

Sócrates comentou que o dele dizia quando ele deveria parar de falar ou ficar quieto. Aristófanes o cita na peça 'A Paz': "Eis o momento de verter uma taça em honra do Agathos Daimon". Píndaro, Próclus e Plotino também o mencionavam. Platão o chamava de "intérprete" e de "balseiro", pois o Agathos Daimon intermedia nossa relação com os deuses. Aliás, se você precisa de orientação, é mais conveniente voltar-se primeiro para ele antes de dirigir-se a algum deus. Ele costuma ser um ótimo professor. E, se receber um belo golpe de sorte, agradeça primeiro a ele também. Como hoje não temos mais casas com chão de terra, em um lugar fechado nós podemos verter libação em um pratinho e, de vez em quando, verter

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esse conteúdo em algum outro lugar depois.

Algumas pessoas imaginam que talvez ele possa até desenvolver uma relação romântica com seu protegido, a exemplo da que as ninfas desenvolviam com seus ninfoleptos. Mas na maioria das vezes ele é mais como aquele amigo invisível que responde seus pensamentos e te dá a mão para atravessar em segurança e lança um sopro de sorte quando você precisa. Para honrá-lo, vertemos libação nas refeições e nos lembramos dele no segundo dia de cada mês helênico. Ele pode ser não só um mensageiro aos deuses, mas também o espírito que enviamos para ajudar aqueles nossos amigos que estão fisicamente longe de nós. O daimon é capaz inclusive de influenciar sonhos e adivinhações. Ele protege nosso bem-estar, nossos pertences, qualquer lugar onde nosso coração esteja. Qualquer lugar ao qual chamamos de lar. (Até quando o nosso lar é uma pessoa.)

Na minha experiência com essa presença invisível constante, eu o percebo como alguém que rapidamente me responde e ao mesmo tempo faz isso com toda a paciência (e nenhuma arrogância) de um verdadeiro mestre orientador. Sabe aquela pessoa que tem as respostas às suas perguntas, muitas vezes antes mesmo de você formulá-las? Alguém que sabe do que você precisa sem que você chegue a pedir? Que olha por você e lhe protege das coisas e pessoas que lhe tentem fazer mal? E que, ao mesmo tempo, é seu companheiro na bebida e nos festivais, com quem você se diverte junto? Com ele do seu lado, o "tempo" nunca fecha e há um calorzinho gostoso da presença dele ali. E, de vez em quando, esse amigo lhe dá um presente (de sorte) só porque "se lembrou" de você (não que ele alguma vez tivesse esquecido, mas agradar sempre também não surte o efeito da surpresa, não é?). Seja ou não um "melhor amigo com benefícios" românticos, nenhum momento com ele fica abaixo de expectativas, porque - mesmo quando sai diferente do que você pensava que seria - ainda assim é tudo de bom, quando não melhor.

A maioria de nós se foca nos deuses e se esquece de cultuar seu 'agathodaemon', perdendo toda a parte gostosa de um relacionamento desses. Mas nunca é tarde para começar a reparar isso, ou pelo menos para passar a chamar do nome certo aquela voz que nós já tão bem conhecemos...

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Fazendo um Kathiskos em honra de Zeus Ktesios(por Zoe McMac, tradução de Alexandra Nikasios)

Kathiskos significa "pequeno balde" e é um jarro pequeno e selado usado para guardar uma porção da comida da família em oferta a Zeus Ktesios.

De Anticleides (140 F22) - "É necessário fazer um símbolo a Zeus Ktesios (protetor dos bens domésticos, responsável pela prosperidade do lar). Nós fazemos um novo Kathisko com duas orelhas (alças) através das quais enrolamos lã branca e fio amarelo os quais passamos por sobre o ombro direito para que se pendure na frente. Colocamos nele tudo o que encontrarmos e também ambrosia. A ambrosia é de água pura ou óleo e todos-os-frutos. É isso que colocamos dentro."

Escolha um pote novo e limpo, com uma tampa que vede firmemente. O pote pode ser feito de qualquer material à prova d'água - latas também funcionam bem. Cuidado: o conteúdo do pote pode fermentar ou apodrecer e, se o jarro não estiver bem selado, você corre o risco de estragar suas outras comidas com bolor. E no mínimo ele vai feder.

Ponha uma pequena quantidade de azeite de oliva no pote junto com um pouco de comida que a família tiver. Isso pode incluir uma pitada de farinha, pedaços pequenos de fruta, arroz, lentilha, mel, ervas e/ou chocolate.

Encha o pote até o topo com água. Você decide que tipo de água usar, se água de torneira, de rio, mineral engarrafada etc.

Feche vedando bem o pote com a tampa.

Opcional: amarre fios brancos e amarelos em torno da tampa ou das alças do pote. Pessoalmente, eu tenho uma pequena imagem de jade de Zeus Ktesios que eu amarro em volta da tampa do pote. Outros pintam uma cobra do lado do pote.

O Kathiskos é pessoal do seu lar, então variações são bem-vindas.

Em cada Noumenia, um kathiskos recém-preenchido é colocado na despensa ou onde a comida é guardada na sua casa, mas não em um armário onde o lixo ou coisas inúteis ficam. Como alternativa, ele pode ser mantido no altar da sua família.

A cada Deipnon de Hécate, o pote pode ser esvaziado e limpo. O conteúdo pode ser esvaziado do lado de fora, de preferência no seu jardim ou em um composto de adubo. Uma planta de vaso funciona bem - especialmente uma cujas ervas ou comida para a família crescem nela. Isso ajuda a completar um ciclo onde a Zeus Ktesios é oferecida a comida da sua família em agradecimento à proteção dele e as ofertas são então usadas para crescer mais comida para a família consumir. Se isso não é algo que dê para você fazer, não se sinta como se estivesse fazendo algo errado. Faça o melhor que pode, mas - mais importante - faça com constância. Você ganha mais fazendo um culto regular de coração aberto do que fazendo um culto esporádico "perfeitinho".

Fixos (3 a 8)

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Sugestões da Alexandra:

3 - AtenaVista alguma peça de roupa azul-clara, faça uma prece pedindo que Atena lhe ajude a planejar bem suas ações e falas neste dia, ofereça seus estudos e leituras de hoje a ela, pratique atos corretos e nobres.

4 - Afrodite, Hermes, HéraclesUse algo azul-turquesa consigo; faça uma prece pedindo a Afrodite beleza em sua vida, a Hermes para que faça a comunicação e o trânsito fluírem bem, a Héracles pedindo que lhe ajude a executar suas tarefas e enfrentar seus monstros hoje; ofereça uma flor a alguém, alimente os pombos, mande uma correspondência, faça exercícios.

6 - ÁrtemisVista ou carregue alguma coisa verde, cuide do meio-ambiente e da natureza, dê um presente para uma criança (menininha), peça que Ártemis proteja e cuide das jovens da sua família, que ajude no parto de alguém que você conheça, que olhe pelo seu bichinho de estimação hoje.

7 - ApoloUse algo dourado, saúde o sol; organize seu quarto/armário/escrivaninha; ouça/faça música; faça exames médicos, cuide da sua saúde; peça a Apolo que lhe dê iluminação, consciência e ordem no seu dia.

8 - Poseidon/TeseuVista uma peça azul, cate conchinhas, faça ofertas de peixe e frutos-do-mar, ajude alguma ONG que mantém o oceano limpo, desenhe touros, peça ajuda para atravessar em segurança os intrincados labirintos do seu dia e sair vitorioso.

Dikhomenia

No dia 15 de cada mês helênico acontece a celebração do Dikhomenia (do ancestral da palavra moderna dikhiazo, ou seja, "eu divido em duas partes"), o qual ocorre na ou muito perto da lua cheia. Este dia é consagrado a Selene, a deusa da lua cheia.

A lua cheia é uma época de poder, mas também perfeita para executar qualquer ritual ou prece a uma deidade ctônica, como por exemplo as Erínias (Fúrias). É uma época de encarar os fatos difíceis e meditar nas suas motivações. Seus juramentos têm uma força extra neste dia, cuidado para não quebrar suas promessas nem faltar com a palavra.

Aproveite a noite para fitar a lua; ofereça libações, leia hinos para Selene, aprenda os mitos que envolvem a deusa e escreva poesia para ou sobre ela. Muitos poetas a tinham como tópico favorito, principalmente para poemas de amor. O luar traz esse sentimento de romance. Dizem que os raios da lua de Selene caem sobre os mortais da mesma forma que seus beijos caíam sobre seu amado Endymion.

Deipnon de Hécate

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O Deipnon de Hécate acontece na noite mais escura, honrando a "Portadora da Luz" com uma doação de comida nas encruzilhadas. É um tempo de purificação de si e do lar.

As ofertas mais comuns neste dia são pão, queijo, figos, azeitonas, carne, ovos, alho, alho-poró. Você também pode varrer sua casa, ofertar as coisas que não quer que continuem no mês que vai entrar, limpar o refrigerador, arrumar a despensa, pagar as dívidas, se entender com quem você está brigado, e tudo o mais que sirva para "virar a página" antes do próximo mês helênico.

Se você tiver um Kathiskos em honra a Zeus Ktesios, essa é a hora de desfazer-se do conteúdo para (re)preenchê-lo com um novo.

Sugestões de como fazer um Kathiskos você irá encontrar na página do dia do Agathos Daimon.

(Alexandra)

Sugestão de Rito:

Limpe o altar. Isso pode ser feito mais cedo no mesmo dia ou imediatamente antes do ritual. Se quiser, junte as sobras de libações anteriores, restos de vela, e até poeira, para jogar no fogo - simbolizando o mês que terminou. Por exemplo: se você libou vinho e sobrou um pouco daquela garrafa, ou se ofertou cevada e sobrou uma porção no pote, essas coisas podem ser oferecidas a Hécate para limpar o mês inteiramente, seja queimando-as ou servindo-as no deipnon/jantar.

Você vai precisar de um prato de ofertas, uma taça de libação, um queimador de incenso, incenso, vela, líquido para libar (de preferência vinho ou mel), uma imagem de Hécate (se não tiver estátua, pode ser uma figura impressa), e - claro - a ceia de Hécate. A ceia tradicionalmente consistia de um pão doce ou bolo, peixe, alho, ovos e queijo; mas, se você não tiver tudo isso, pode oferecer algumas dessas coisas ou mesmo outras que sentir apropriadas. Azeitonas pretas costumam ser percebidas como uma boa oferta nos dias de hoje. Separe tudo antes do rito.

Comece no mínimo lavando as mãos - o ideal é tomar banho e usar roupas limpas. Se tiver khernips (água lustral), purifique as mãos nela. Aproxime-se do altar, acenda a vela e consagre-a a Héstia. Faça um momento de silêncio, depois leia o Hino Órfico a Hécate e/ou a passagem da Teogonia de Hesíodo que fala dela. Há também um hino nos Papiros Mágicos Gregos (IV 2520-2569)* que podemos adaptar para este ritual. Se tiver algo para queimar, coloque no carvão ou no fogo primeiro. Depois coloque ou acenda o incenso. Verta a libação na taça. E apresente a ceia. Você pode dizer algo tipo: "Hécate, eu te ofereço este incenso, este vinho/mel, este (cite os itens da ceia)... Olhe com gentileza para estas ofertas e aceite-as com o coração alegre". Se estiver fazendo só o deipnon, o rito pode terminar aqui.

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Se já quiser começar a purificação para a Noumenia, faça uma prece como esta: "Hécate, seja favorável a seu/sua suplicante que lhe traz ofertas este dia assim como em outros dias no passado. Poderosa Hécate, por favor, leve embora a sujeira e as faltas deste lugar. Limpe-o de toda a negatividade e de coisas prejudiciais". Faça então uma fumigação do seu lar com o incenso, carregando o incensário pela casa (mas com cuidado, pois ele pode estar quente e você precisa proteger suas mãos!). Faça um circuito que te leve de volta ao altar. Lá, faça uma prece para a proteção de Hécate durante o novo mês, como esta: "Hekate Propylaia, por favor conceda-nos sua proteção e evite que qualquer coisa prejudicial entre em nosso lar. Fazendo isso, lhe seremos sempre gratos".

Aqui você pode aproveitar para consultar um oráculo, se precisar de orientação de Hécate em algo.

Ao terminar o rito, ou no máximo no dia seguinte, junte as ofertas da ceia e se desfaça delas, seja deixando em uma encruzilhada ou no jardim ou - se for jogar no lixo - coloque já o saco para fora na mesma hora. Se onde você mora há horário para coleta de lixo, considere isso antes de retirar as ofertas do altar.

(por Alexandra, adaptado e traduzido de Hekatatia)

*PGM IV 2520-2569 (do século II AEC ao 5 EC):

Venha a mim, ó amada senhora, Hécate de três faces,

Gentilmente ouça meus cantos sagrados.

Tu armas tuas mãos com terríveis e sombrias tochas,

Tu sacodes teus cachos de temíveis serpentes em tua testa,

Tu soas como o bramido de touros saindo de tua boca.

Ferozes cães são queridos a ti, onde quer que te chamem

Hécate, de muitos nomes, Mene (Lua) que fende o ar como

Ártemis que atira dardos, Perséfone,

Atiradora de cervo, noite, brilhante, trissonante,

Selene, de três cabeças, de três vozes,

De três pontas, de três faces, de três pescoços,

E deusa dos triplos caminhos, que segura

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A incansável chama em cestos triplos,

E tu que constantemente frequenta o triplo caminho

E rege as triplas décadas,

A mim que te chamo

Seja graciosa e com gentileza dê atenção;

Tu que proteges o espaçoso mundo à noite,

Diante de quem os daimones (espíritos) tremem de medo

E os Deuses imortais estremecem; Deusa que

Exalta os homens, tu de muitos nomes, mãe dos Deuses

E dos homens e da Natureza, Mãe de todas as coisas,

Pois tu frequentas o Olimpo, e o largo caos sem fronteiras

Tu atravessas. No começo e no fim tu estás,

E somente tu reges tudo.

Pois todas as coisas vêm de ti, e em ti

Todas as coisas, Eterna, chegam a seu final.

Saúdo-te, Deusa, e, observando teus epítetos,

Queimo para ti este incenso.

(Tradução de Alexandra)

Poseideon (Perition)

PLERÓSIA (Πληρώσια) - Festival em honra de Zeus, no demos ático de Myrrhinous.

POSEIDEA - O nome Poseidon parece significar "Senhor da Terra" ou "Esposo da Terra", o que nos lembra Saturno, marido de Réia (do dórico: Poteidon = Potei-Dan = Senhor da Terra, como a sua às vezes esposa: Démeter = De-Meter = Ge-Meter = Mãe-da-Terra). Neste dia se homenageiam Poseidon e Anfitrite (deusa pré-helênica), as divindades do mar. Poseidon era o deus dos mares, lagos e rios, o regente das criaturas aquáticas e senhor dos terremotos e tempestades. Embora nos mitos gregos mais recentes Anfitrite seja descrita como uma simples Nereide obrigada a se casar com Poseidon, ela era a manifestação feminina dos oceanos, morando nas grutas submarinas repletas com suas jóias, de onde emergia para provocar ou acalmar as tempestades, direcionar as ondas ou cuidar dos peixes e mamíferos marinhos. Uma das manifestações de Anfitrite era a deusa grega da água Halsodine.Como celebrar hoje: fazendo ofertas a Poseidon, pensando nos mares e terremotos e no poder dele sobre os mesmos, tentando passar um momento próximo ao oceano ou perto de cavalos, recitando o Hino Órfico 17 e/ou o Hino Homérico 22 ou mesmo hinos modernos a Poseidon.

TERRA DIONÍSIA / DIONÍSIA RURAL (Διονύσια τα τατ'αγρούς) - Este festival a Dionísio, que é chamado de Terra Dionísia (ta Kat’Agrous Dionysia) ou Pequena Dionísia (ta Mikra Dionysia),

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não é celebrado em uma data fixa, mas a um tempo determinado por cada vila. Todos participam (incluindo, em tempos antigos, os escravos), e seus ritos são parecidos com os da Saturnália romana. De acordo com Plutarco, há uma procissão que inclui os carregadores de um jarro de vinho e uma videira, alguém conduzindo um bode, depois os Kanephoros (Portadores-de-Cesta) carregando uma cesta de passas (uvas secas), depois os carregadores de um mastro-falo ereto de madeira, decorado com hera e fitas, e finalmente o cantor da Phallikon (Canção Fálica), que é dirigida a "Phales", embora a procissão possa ser mais elaborada. No Askolia, o segundo dia do festival, há o Askoliasmos, uma competição para ver quem pode balançar por mais tempo em cima de uma banha, uma odre inflada. Askoliazo pode se referir a ficar de pé com uma perna só, porque há muitas outras competições de um-pé-só no festival (por exemplo, corridas de um pé só, ou girar sobre um pé só, etc). Também podem ser competições dramáticas; mas, realmente, Aristóteles alegou que a comédia nasceu no Terra Dionísia.Como celebrar hoje: Cante, dance, jogue, assista desfiles ou teatros de comédia, faça bolos em forma de falo, beba vinho, ria, leia Aristófanes, recite os hinos órficos 30 e 45 e os homéricos I, VII e XXVI, ou hinos modernos a Dionísio.

HALOÁ (Άλωά) - Festival em honra a Deméter e Dionísio. Tem esse nome por causa do "halos", o chão debulhado. O festival incluía bolos em forma de falos ou pudentas, mas sem as comidas proibidas nos Mistérios Eleusinos (romãs, maçãs, ovos, aves e alguns peixes). Mulheres dançavam em torno de um falo gigante, deixando-lhe ofertas. Mais tarde na noite, os homens eram admitidos e havia uma grande orgia pelo resto da madrugada. Um sacerdote e uma sacerdotisa presidiam sobre a celebração de fertilidade. [É também possível que os homens tivessem um festival à parte para Poseidon nesse dia.] Como celebrar hoje: fazendo ofertas a Deméter com frutos da estação ou da sua região e bolos em forma de genitálias, trocando piadas eróticas, recitando os hinos órficos 30 e 45 a Dionísio, os hinos homéricos I e VII e XXVI também a Dionísio, o hino homérico II a Deméter, ou hinos modernos a ambos. Este festival é mais para mulheres e impróprio para crianças. Neste dia devemos evitar comer romãs, maçãs, ovos, galinha e peixe.

(Alexandra)

Gamelion (Dystros)

LÉNAIA (Λήναια): Festival que celebra Dionísio, deus do vinho e da fertilidade. Embora o festival não seja bem compreendido, ele provavelmente é realizado para trazer a fertilidade e a primavera. Há uma procissão, durante a qual o Daidykhos (carregador da tocha) diz: "Invoque-se o Deus" e os celebrantes respondem: "Filho de Sêmele, Iaco, Fornecedor de Prosperidade!". Há também competições de drama (teatro), canção (música) e poesia. O Lenaia mais provavelmente tem esse nome por causa das Lenai, que eram Mênades (mulheres participantes nos ritos orgiásticos dionisíacos). À meia-noite, vestidas e portando os thyrsos (cajado), castanholas, tamborins, flautas e tochas, elas começavam uma dança extasiante que durava a noite inteira, em frente a uma imagem de Dionísio com uma coroa de flores. Esse ídolo é um poste

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simples, vestido em túnica de homem, com ramos de flores como se fossem braços levantados, e com uma máscara barbada de Dionísio. Diante dele ficava uma mesa com dois stamnoi (jarros, moringas) de vinho e um kantharos (cálice) entre eles; dos stamnoi as dançarinas bebiam o inebriante vinho.

Como celebrar hoje: coma, beba e se divirta. Assista ou represente peças de teatro ou outro tipo de performance de palco. Recite os hinos órfico 30 e 45, os homéricos I, VII e XXVI ou hinos modernos a Dionísio. É também um bom momento para um rito noturno de dança, restrito, apenas com mulheres.THEOGAMÍA (θεογαμία) / GAMELIA - Gamelion era chamado o "Mês do Matrimônio", e era um tempo popular para casamentos. O Gamelia (banquete de casamento) ou Theogamia (casamento dos deuses), no fim do mês, é uma celebração do Hieros Gamos (Sagrado Matrimônio) de Zeus e Hera, e é considerado um presságio de primavera e novos começos. Os gregos ofereciam a Hera figos cobertos de mel e guirlandas de ouro, invocando suas bênçãos durante os casamentos feitos neste dia.

Como celebrar hoje: Após colocar roupas limpas e coroa de folhas ou flores ou ramos na cabeça e fazer o ritual básico de purificação do temenos (espaço sagrado) com o fogo de Héstia etc, com uma ou ambas palmas das mãos erguidas ao céu (por Zeus e Hera serem olimpianos) ou na direção do seu altar, recite: “Zeus e Hera, Rei e Rainha dos Deuses Imortais, venho celebrar o vosso sagrado matrimônio. Contam os poetas que Zeus uma vez viu a jovem Hera e quis estar com ela. Ele então causou uma tempestade que fez Hera escalar uma montanha procurando por abrigo. Zeus se transformou em um cuco e o pássaro encharcado pousou no colo da deusa. Ela o abrigou em seu manto. Então, Zeus se transformou de volta à sua forma e a seduziu. Ela resistiu até que ele prometesse se casar com ela. A celebração de suas bodas foi uma festa sem comparação, que levou 300 anos. Tal casamento é um símbolo para todos os humanos, e honramos vocês neste dia, o aniversário de seu casamento. Pedimos que abençoem nossos relacionamentos e famílias sempre, que sejam eles harmoniosos e nos dêem uma grande alegria.” Jogue então um pouco de cevada no altar e nas flores e ofertas que tiver preparado. Acenda o incenso ou jogue as ofertas comestíveis no fogo, a fim de a fumaça subir até eles. Separe uma porção de comida de fora, para o banquete final. Faça uma libação ("spondê", oferta líquida) de vinho, dizendo: "Gentil Zeus, Zeus Gamelios, Zeus Heraios (de Hera), belo e glorioso noivo, que trouxe liberdade à sua esposa ao libertá-la da barriga de Cronos, seu divino pai, depois a seduziu na forma de um cuco no Monte Kokkux e, no dia de seu casamento, se uniu à Rainha do Céu, sua parceira e irmã, e encontrou

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seu lar; Rei Zeus, deus dos juramentos, o saudamos, generoso noivo, por empreenderes essa união!” e "Linda Hera Numfeuomeni (noiva prometida), Hera Gamelia, Hera Esposa, que em seu sagrado casamento presidido por Eros se uniu em amor com o rei dos deuses e homens, que recebeu de Gaia um pomar de maçãs douradas, guardadas pelas Hespérides, e cuja lua de mel durou 300 noites; Deusa imortal, elevada pelas Horas (Estações), eres moça, mulher, noiva, esposa, e viúva. Com cada passo, o casamento e sua igualdade e dignidade são teus dons e teu domínio. Hera Zygia (a que une), a saudamos, abençoada rainha, por empreenderes essa união!" Recite os hinos órficos e homéricos para Zeus e Hera. Faça uma oferta e/ou prece pessoal a Zeus Gamelios (do casamento), Hera Gamelia (do casamento), Zeus Basileus (o rei) e Hera Teleia (a realizadora). Faça uma libação final dizendo: "Saúdo a vós, Zeus e Hera, filhos de Cronos e Réia, o mundo se rejubila com a vossa união!" Termine o ritual com uma refeição e, se possível, jogos. O menu do banquete pode incluir bife, azeitona, queijo, maçã, mel e bebidas.

Anthesterion (Xanthikos)

ANTHESTÉRIA - PITHOIGÍA (

'Ανθεστήρια Πιθιογία) [

Abertura do Jarro] - O primeiro dia celebra a abertura dos pithoi (jarros) nos quais o vinho era fermentado. Uma pompe (procissão) simboliza a vinda de Dionísio do mar numa carruagem-navio para o Seu santuário. O Deus deveria ser representado por uma imagem ou um homem mascarado. A procissão inclui músicos e portadores dos instrumentos rituais, e outros homens, dirigindo carretas e talvez mascarados como os Sátiros, divertidamente lançando insultos aos espectadores curiosos. Os pithoi também são trazidos, e depois eles se quebram (abrem) e o vinho é misturado pelos sacerdotes (ou seja, diluído em água, como Dionísio ensinou aos gregos a bebê-lo), uma oferta das primeiras frutas é feita a Ele com uma prece pedindo que o vinho seja benéfico. Então o vinho é provado e há canções e danças, nas quais Ele é celebrado como o Amável-Florescer, o Festeiro, o Tempestuoso, etc.

ANTHESTÉRIA - KHOÉS (

'Ανθεστήρια Χοής) [Festa do Cântaro] - Neste dia todos os templos dos deuses são fechados, exceto o Limnaion, o templo de "Dionísio nos Pântanos" (limnais, embora não haja pântanos/brejos presentes), que só é aberto durante o festival. Então os espíritos do submundo são libertados para perambular e curtir as festas dos vivos. Para se protegerem, as pessoas passam piche nas suas portas e mastigam ramos de arbusto de manhã. Os negócios são suspensos e nenhum juramento é feito. Também neste dia é comum que todas as pessoas com mais de 3 anos de idade bebam vinho. (Espera-se que as crianças participem por causa da sua conexão com a fertilidade). Todo mundo, incluindo crianças, tem seus próprios khoes (jarros, sendo de 2 litros para os adultos) e bebem em canecas de vinho, normalmente adquiridas no festival. O khous tem um corpo arredondado, pescoço curto e boca trifoliada. Este é um festival muito orientado para as crianças, e o primeiro Khoes de uma criança é um dos maiores pontos de desenvolvimento da vida: Nascimento, Khoes, Puberdade e Casamento. Ele ou ela é coroado com flores e deve receber um khous, assim como outros presentes, como brinquedos e

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animais de estimação; os professores geralmente convidam seus pupilos para uma recepção. Este é um dia de bebedeiras, tanto em público quanto em particular. Pessoas diferentes são convidadas pelo mais alto sacerdote de Dionísio para uma competição pública de bebidas. Um sinal de trompete anuncia o começo da disputa, durante a qual ninguém pode falar (nessa hora as pessoas são separadas umas das outras assim como dos outros deuses que não Dionísio). A vitória vai para o primeiro a esvaziar seu khous, que é agraciado com um odre cheio. Competições particulares são similares, mas o prêmio é uma torta. Participantes trazem sua própria comida, cálices e khoes, já cheios de vinho misturado (da Pithoigia); o celebrante provém as coroas de flores, os perfumes e as sobremesas. Depois da disputa, eles colocam suas coroas de flores em volta de seus khoes e vão até o Limnaion, onde eles dão suas coroas para os sacerdotes. Lá eles todos agradecem a Dionísio despejando uma libação ao Deus do último vinho de seus khoes.

ANTHESTÉRIA - KHÝTROI (

'Ανθεστήρια Χύτροι) [

Festa do Pote] - Uma vez que os Gregos e Romanos contavam o dia a partir do pôr-do-sol, o último dia do festival começa na noite do Dia dos Jarros. Esta é a noite do Hieros Gamos (Sagrado Matrimônio) de Dionísio com a Basilenna (Rainha), a esposa do Arkhon Basileus (Sacerdote Rei); ele deve entregar sua esposa a Dionísio assim como Teseu, seu distante predecessor, entregou Ariadne a Ele. No recinto sagrado a Basilenna ministra um juramento de pureza para as quatorze mulheres, as Gerarai (As Veneráveis) do Limnaion, que são nomeadas por ela:"Eu santifico a mim mesma, pura e consagrada,de todas as coisas que não são purificantese especialmente de todo intercurso com homens,e eu devo agir como Gerara ... nos moldes ancestraise em todos os tempos apropriados."Elas então conduzem ritos sagrados, o que inclui fazer ofertas para os quatorze altares e dançar diante de máscaras de Dionísio como no Lenaia. Outra pompe (procissão) traz a Noiva Sagrada, que é identificada com Ariadne, para sua câmara nupcial no Boukoleon (talvez a antiga casa do Arkhon Basileus). Ela é precedida por um guia portando duas tochas, que personifica Hermes Psychopompos (Guia Espiritual); ele usa a ependytes, uma túnica decorativa. Um Sátiro (talvez mascarado) carrega a alta cesta do dote na cabeça ou faz sombra sobre a Basilenna; uma das Gerarai carrega uma tocha. Os ritos atuais de Hieros Gamos são secretos, mas isto pode ser dito. A Noiva Sagrada espera na sua cama nupcial, enquanto um Sátiro age como Thyroros (Porteiro) na câmara nupcial. Então, em segredo mas com um Sátiro acompanhando-o carregando Seu khous, Dionísio vem bêbado para Sua noiva para a consumação do casamento deles, durante o qual os festeiros com suas tochas celebram fora da câmara nupcial. (Tem-se hipotetizado que a Basilenna durma com um representante de Dionísio ou com uma pessoa mascarada, talvez o Arkhon Basileus ou o mais alto sacerdote de Dionísio). Depois do fim do dia o Aiora (balanço, "swing") comemora a Erigone (Prematura), que enforcou a si mesma de tristeza quando seu pai, que trouxe a vinicultura para Atenas, foi morto por um homem bêbado. As garotas se balançam numa dança e os garotos pulam em sacos cheios de vinho. Por essas ações e por enforcar máscaras agitadas e marionetes em árvores, as crianças transformam a memória de uma morte triste em um símbolo de jubilosa vida nova, purificam a vindima dessa tragédia (balançando num significado tradicional de purificação do Ar) e banem os espíritos do submundo (veja mais

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abaixo). Também neste dia o Hydrophoria (Portador-da-Água) é celebrado: uma procissão de garotas carregando hydriai (moringa d’água) nas suas cabeças vão para um lugar onde a água pode ser despejada numa fenda cúbica da terra; então elas comemoram seus ancestrais que morreram no dilúvio de Pirra e Deucalião, e celebram o desaparecimento dos dilúvios na terra. Finalmente, uma refeição é preparada para o morto (e para Hermes Psychopompos, seu guia), cozinhando-se vários grãos com mel em khytrai (potes de barro, a partir dos quais este dia é nomeado). De acordo com a tradição, era essa refeição, que é o mais primitivo prato de cereais, que era comido depois do dilúvio. Todo mundo divide essa comida, exceto os sacerdotes (pois os templos estavam fechados). No final do festival, os espíritos do submundo são banidos dizendo-se:Thyraze Keres, ouk eni Anthesteria!"Vão embora, Keres (Espíritos Mortos), o Anthesteria terminou!"A celebração ritual do dilúvio, o balanço, e o banimento da morte marcam a ressurreição, como se fosse a própria ressurreição de Dionísio.

OBS.:O Anthesteria é o "Festival das Flores," quando os primeiros botões de flor aparecem, e é um dos mais antigos festivais gregos, datando de antes do segundo milênio Antes da Era Comum; também era chamado de Mais Velha Dionísia. Nessa época, as videiras se enchem de novo e a segunda fermentação do vinho é completada; ficando agora pronto para beber, e então este festival complementa a Oskhophoria, que celebra a vindima. A Anthesteria é o festival dedicado à Chloris (Flora, para os romanos) e ao deus Dionísio. No primeiro dia, degustava-se o vinho da safra nova; no segundo, levavam-se guirlandas de flores aos templos. No terceiro, festejava-se o casamento sagrado entre o deus e a deusa, representados pelo rei e pela sacerdotisa, reverenciando-se ao final os ancestrais.COMO CELEBRAR HOJE o festival de Anthesteria (festa das flores):Sugestão (Álex):1º dia: ANTHESTERIA - PITHOIGIA (Abertura do Jarro) - Faça uma máscara. Dance, ouça música, se souber tocar algum instrumento, o faça. Beba vinho com água, ofereça frutas a Dionísio, recite os hinos antigos a ele.2º dia: ANTHESTERIA - KHOES (Festa do Cântaro) - Faça preces aos ancestrais que já se foram. Convide-os a participar com você. Beba vinho em caneca. Doe brinquedos às crianças. Brinque com seus animais de estimação. Confraternize com seus alunos e/ou professores. Façam competição de bebidas. Faça silêncio. Prepare uma torta doce. Use perfume. Faça libações a Dionísio.3º dia: ANTHESTERIA - KHYTROI (Festa do Pote) - Leia o mito de Dionísio e Ariadne. Faça ofertas e dance diante da sua imagem de Dionísio. Acenda duas velas para Hermes Psychopompos como seu guia espiritual. Celebre núpcias. Balance em honra de Erigone, pulando e dançando. Enforque a máscara do primeiro dia, brinque de marionete, espante os maus espíritos, faça libações de água lembrando o mito de Deucalião e Pirra e comemorando o fato de não haver mais dilúvios. Prepare uma refeição para os ancestrais e para Hermes Psychopompos, condutor das almas, misturando mel com grãos e cereais. No final do festival, os espíritos do submundo são banidos dizendo-se: "Thyraze Keres, ouk eni Anthesteria!" = (Vão embora, Espíritos Mortos, o Anthesteria terminou!). A celebração ritual do dilúvio, o balanço, e o banimento da morte marcam a ressurreição, como se fosse a própria ressurreição de Dionísio.Relato de Anthesteria celebrada pela Sarah Helena: clique AQUI para ver. Sugestão de celebração solitária ou para pequenos grupos do Sannion CLIQUE AQUI.

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Anthesteria para almas solitárias

Texto escrito pelo Sannion

Tradução de Thiago Oliveira (Petraios)

Um dos fatos tristes que a maioria de nós como helênicos modernos temos a resolver é o caráter solitário do nosso culto. Temos sorte se há um outro helenista em nosso estado, e mesmo que esse seja o caso, isso não é nenhuma garantia de que seremos capazes de participar de um culto comunitário. Além disso, eles podem estar muito longe para poder se encontrarem regularmente, ou mesmo se moram perto um do outro, isso também não significa que eles vão adorar os mesmos deuses, ou fazê-lo da mesma maneira já que o Hellenismos abrange uma amplo espectro de práticas pessoais. Ler os relatos de culto como eram feitos antigamente, com rituais luxuosos e procissões incluindo centenas de pessoas pode parecer desanimador, mas, de toda maneira, não ter com quem celebrar não deve ser a razão para você deixar de realizar qualquer coisa. Afinal, a verdadeira adoração é realizada no coração - e para isso você só precisa de si mesmo e dos deuses.

A Anthesteria é um dos meus festivais dionisíacos preferidos, e eu gostaria de encorajar mais pessoas a comemorá-lo. Para tal, compilei informações sobre como o festival pode ser realizado, seja individualmente, seja em pequenos grupos. A maioria das sugestões que se seguem consistem em atividades devocionais pequenas que podem ser realizadas durante os três dias do festival. Se você está procurando um simples preenchimento de espaços em branco,um modelo de ritual para ser realizado em 20 minutos numa única noite, temo que esteja no lugar errado. Não acredito que esse tipo de coisa faça bem a um festival em circunstâncias normais e que, no caso especial da Anthesteria, que isso sustente a natureza dupla do festival. Cada um dos dias de Anthesteria é único e possui uma poderosa linguagem poética própria. Amontoá-los borra seu significado e tira do festival o seu poder característico.

Então, vamos começar com algumas informações contextuais.

A Anthesteria era um dos mais importantes dos festivais áticos dedicados a Dioniso e emprestou seu nome ao mês de anthesterion. É um dos festivais áticos mais antigos, e era comum a todos os jônicos como nos informa Tucídides (2,15). A Anthesteria tem seu nome derivado da palavra grega “anthes”, que significa "desabrochamento" ou "florescimento" e, portanto, é um festival de novos começos, de renascimento e da vegetação. Era um momento em que o impulso de vida mexia em toda a natureza, quando os botões maduros começavam a se desdobrar no ramo e os brotos emergiam da terra estéril após os meses longos e frios de inverno. Mas não há vida sem morte. A terra de onde surgem as plantas é alimentada pelos corpos colocados nela; as almas dos mortos habitam sob a terra, sedentas e amarguradas pela sua perda. As passagens pela qual a vida flui para o nosso mundo, uma vez abertas,

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poderiam permitir também que outras que coisas para escapassem - e era o que acontecia.

Esse é um festival marcado por estranhezas, uma das muitas camadas conflitantes que fluem entre os mundos. É um momento de alegria, quando celebramos a vida triunfante e abrimos os barris com vinho novo, e deixamos que as crianças provem pela primeira vez da safra;, mas também é um momento de tristeza e de poluição, quando os mortos trilham pelos caminhos cheios de sol do mundo de cima e coisas estranhas e incomuns acontecem. Unindo estes dois polos, vida e morte, que são apenas dois lados da mesma moeda, há também um fluxo de sensualidade, o sexo como uma força primal, libertadora de uma só vez da afirmação final de existência animal e o mais próximo que podemos chegar à obliteração enquanto ainda respiramos. Neste festival único reside a essência dos mistérios de Dioniso.

Segundo Apolodoro de Atenas, o festival de Anthesteria consistia de três partes: Pithoigia "abertura dos jarros de vinho", Khoes "Cântaros", e Khutroi ou "panelas". (Scholia para Acharnians Aristófanes 961)

De Phanodemus (citado por Ateneus na obra Deipnosophistae '11.465a), aprendemos que,

No templo de Dioniso Lenaios ("do Pântano "), os atenienses levavam o vinho novo dos potes e o misturavam em honra do deus e em seguida bebiam. Devido a esse costume, Dioniso é chamada Lenaios, porque o vinho foi misturado com água e, em seguida, pela primeira vez foi bebido diluído".

Para celebrar este dia do festival, você deve criar uma imagem de Dioniso. Essa imagem geralmente o apresenta mascarado e coberto com hera ou folhas de parreira, como podemos ver a partir de representações do festival em vasos de beber. Se você não tem uma imagem, pode imprimir de alguma página da internet e emoldurá-la, ou então usar sua criatividade e fazer uma você mesmo. A vegetação pode ser colhida naturalmente ou você pode usar o material plástico encontrado em lojas de artesanato (NT.: no caso de nós brasileiros, por exemplo, onde nem sempre é possível encontrar folhas de parreira, dependendo da região). Particularmente, sinto que o natural seria melhor, mas você pode não ter acesso a ela onde vive, e o material plástico também funciona. Decore o altar com todos os tipos de vegetação e frutas (especialmente uvas, romãs, figos, e qualquer produto da estação da região onde você mora), uma vez que estamos honrando Dioniso como a personificação da força da vida. Você também pode comprar flores para colocar sobre o altar, ou trançar uma coroa de flores silvestres para guirlanda com sua imagem.

Representação da abertura dos jarros e mistura do vinho no primeiro dia da Anthesteria

Em seguida deixe uma tigela em frente da imagem – é nela onde você verterá as libações - e os itens rituais que você utilizará, como velas ou queimadores de incenso, etc. Você também

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pode ter uma outra tigela de água fresca para misturar com o vinho , já que este era parte do ritual na antiguidade. Nem todo mundo gosta de seu vinho misturado, em todo caso parece que o próprio Dioniso não se importa com o jeito como você o prefere. Você vai precisar adquirir lotes de vinho. O ideal seria um vinho da sua região, mas isso não é necessário. Esse vinho também deve ser de uma safra relativamente recente, já que estamos comemorando a degustação do vinho novo. Eu prefiro vinhos tintos para todas as minhas festas dionisíacas, mas se você gosta de brancos também é válido. Você também pode optar por usar os vinhos mais doces, como o Mavrodaphne grego, ou até mesmo um porto ou vinho de sobremesa.

Você poderá optar por seguir a estrutura padrão do ritual helênico, ou você pode simplesmente fazer um rito informal, de criação própria. No entanto, importante é que você deve convidar o deus para estar presente, uma vez que o objetivo desta parte do festival é abrir o vinho na frente d’Ele, e nunca é demais recitar poesia ou hinos apropriados para a ocasião.

Feito isso, abra o vinho e despeje uma quantidade grande na tigela. Então, se você beber o vinho com água pode misturá-los. Em seguida podes fazer uma prece a Dioniso Soter (Salvador), já que foi Ele quem institui o costume da mistura para livrar os homens da loucura. Em seguida você pode tomar um gole do vinho. Então, agradeça ao deus pela sua dádiva à humanidade, pelo vinho como uma afirmação de bondade e generosas recompensas. Passe o resto da noite na companhia d’Ele, bebendo e comemorando. Toque as músicas que você achar mais adequado ao deus. Este também seria um bom momento para dançar ou cantar para Ele, especialmente se isso é algo que você normalmente não se sente confortável fazendo. Você também pode contar piadas e outros jogos descontraídos. Seja lá o que você fizer esta noite, esteja ciente de fazê-lo na presença de Dioniso. Medite sobre a imagem d’Ele, sobre quem Ele é, o que Ele fez por você no último ano. Pense sobre o que significa vinho, sobre a vida e a abundância da natureza. Realmente tentar sentir o deus em torno de você e responder a ele na alegria e amizade. Feche o ritual da maneira que você achar mais apropriada, ou apenas diga boa-noite e aproveite a bebedeira.

O segundo dia de Anthesteria é o Khoes ou "Cântaros". A parte principal desta parte do festival era celebrada no santuário de Dioniso nos pântanos também, embora derramado sobre a cidade e houve numerosas revela privadas naquela noite.

Certos rituais especiais eram realizadas em segredo por um colégio de sacerdotisas, o “Geriai”, e, embora tenhamos alguma ideia do que acontecia ali, até mesmo do juramento que era prestado, boa parte das informações sobre esta parte do ritual ainda permanecem obscuras. Aparentemente, ele envolvia um hierogamos entre a Basilenna (rainha) ou esposa dos Arkhon Basileus (Sacerdote Rei) que era vista como representando a terra da Ática e era casada com Dioniso no Boukoleion, o estábulo. Tem havido alguma especulação sobre como este rito foi realizado. Alguns especulam que a parte de Dioniso era realizada pelo Arkhon Basileus ou um sacerdote de Dioniso, que poderia apenas representa-lo, ou poderia realmente ter sido possuído pelo deus de uma forma similar às lwas, as "mulas" das religiões

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afrocaribenhas. Outros especulam que um ídolo fálico do deus era usado, ou que o deus possuía a Basilenna e eles se envolviam em algum tipo de sexo espiritual. Outros ainda postulam que o acasalamento era apenas simbólico ou metafórico, mas isso é duvidoso considerando a os termos usados por Aristóteles em sua discussão sobre o ritual em “Constituição dos Atenienses” 3,5; pare ele há um contexto muito carnal no ritual.

Enquanto a basilenna estava sendo casada com Dioniso, uma grande celebração irreverente acontecia em toda a cidade. Aristófanes nos diz no Acharnianas, uma peça cujo tema é a celebração rural do dia de Khoes, que as canções fálicas grosseiras eram entoadas na ocasião, bolos em forma de pênis eram comidos e também que prostitutas estavam presentes. Há cântaros feitos para a celebração que mostram matronas escapando na companhia de Sátiros e pessoas celebrando orgias a luz de tochas (no aspecto lúgubre da palavra).

Apesar de toda essa indecência que acontecia, uma observância pouco mais contida também acontecia.

Phanodemus (Ateneu 10.437 frag. c-d) informa-nos desta parte do Khoes e as origens alegadas ao festival.

"Demofonte o Rei instituiu a festa dos cântaros em Atenas. Quando Orestes chegou em Atenas, após assassinar sua mãe, Demofonte queria recebê-lo, mas não estava disposto a deixá-lo se aproximar dos ritos sagrados nem compartilhar as libações, já que ele ainda não havia sido levado a julgamento. Então ele ordenou que as coisas sagradas fossem trancadas e um jarro de vinho separado para ser colocado ao lado de cada pessoa, dizendo que um bolo seria dado como prêmio para aquele que esvaziasse o pote primeiro. Também ordenou que, quando eles parassem de beber, que não colocassem as guirlanda com que seriam coroados junto aos objetos sagrados, já que tinham estado sob o mesmo teto que Orestes. Ao contrário, cada um enrolaria um barbante no seu próprio cântaro e apanhariam a guirlanda com a sacerdotisa no precinto no Limnaion, e então performariam o resto do sacrifício no santuário. O festival tem sido chamado desde então de Khoes”.

Assim, para esta parte do festival, você deve cobrir quaisquer santuários ou altares que você tiver para outros deuses, para que eles não sejam corrompidos pelo miasma do dia. Simples peças de pano branco ou pretos, ou até mesmo xales são suficientes. Se possível, realize o ritual fora do espaço habitual em que outros festivais e rituais são realizados. Se possível, faça uma guirlanda de flores, cipós ou algo igualmente apropriado. Este é um caso em que os plásticos das lojas de artesanato realmente viriam a calhar. Você pode optar por usar a guirlanda durante o ritual ou amarrá-la em torno do jarro ou garrafa de vinho. Uma boa maneira de acentuar a solenidade e anormalidade do dia é falar o menos possível. Obviamente, se você trabalha em um lugar onde você tem que interagir com os clientes isso pode não ser possível, mas do contrário, tente conter-se e permanecer em silêncio, tanto quanto você puder. Mais tarde, quando você executar o ritual, faça-o em silêncio total. Vá ao

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altar, acenda o incenso, verta as libações, cumprimente o deus - tudo sem dizer uma única palavra. Acredite em mim, esta é uma experiência estranha e que irá desencadear em sua mente a consciência de que algo estranho está acontecendo. (N. T.: Esse é um dia onde as crianças são apresentadas à comunidade e recebem o seu primeiro khous - uma coisa a ser feita é oferecer suco de uva ou mesmo vinho para as crianças da sua família ou oferecer presentes a elas).

Jarra ática mostrando crianças imitando os adultos nos rituais do dia de Khoés.

Durante todo o dia pense em coisas tristes e deprimentes, especialmente aqueles relacionadas com a morte e o assassinato. Então, durante o ritual, separe vários copos de vinho (uma para si, uma para Orestes, e outra para o povo de Atenas). Beba seu vinho em silêncio. Você pode optar por fazer um jogo e desafiar-se para terminar o vidro em um único gole ou para beber uma quantidade X de vinho durante a noite.

Quando essa parte do ritual terminar, sente-se por um tempo em frente da imagem de Dioniso. Imagine em sua mente o deus aproximando de sua cidade, vindo como um estranho no meio da noite. Tudo é envolto em trevas e escuridão - mas aqui está Ele, belo, radiante e cheia de vida vibrante, o rei da videira, o touro poderoso, aquele que intoxica o mundo. Visualize-lo de entrar no estábulo e lançando-se sobre a Basilenna e suas damas de companhia. Seus olhos com medo e ainda cheia de desejo por Ele. Senta sua alegria quando Ele a conduz, como sua presença desperta o calor no teu corpo e na terra. E solte um grito exultante, saudando Dioniso, o deus que vem!

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Neste momento, você pode começar a falar de novo. Você pode recitar poesia ou cantar para ele. Também pode dançar e realizar um culto mais alegre e em êxtase para o deus. Se você tem um parceiro, agora seria um momento maravilhoso para fazer amor, sentindo a presença do efeito de deus envolvendo vocês. Mesmo se você está sozinho você pode optar por experimentar a felicidade da liberação sexual. Mas, claro, isso é algo que você TEM QUE FAZER. Algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis misturando o sexo e deuses, e isso é perfeitamente normal – e compreensível. (Não é uma atitude que eu particularmente entenda, mas Dioniso teria cada adora Dioniso à sua própria maneira, e como diz Tirésias em As Bacantes, de Eurípides, uma donzela casta passará mal nenhum nos ritos de Dioniso.)

Depois que tudo estiver terminado, você pode optar por fazer sua guirlanda e deixá-lo em algum lugar lá fora. O melhor lugar para deixá-lo, é claro, seria em um pântanos ou na margem de um rio ou lago. Mas se tais lugares não estão disponíveis para você, encontrar um lugar desolado ou estranho a sair. Você pode optar por não descartá-lo se a sua não-biodegradável, mas você deve mantê-lo em algum lugar onde ele não vai entrar em contacto com os seus outros artigos religiosos.

O último dia do Anthesteria é Khutroi, as “Panelas". Enquanto Pithoigia é um dia de exuberância total, e Khoes uma mistura de alegria e melancolia, Khutroi é dado inteiramente à solenidade e estranhamento, pois é neste dia que os mortos caminham sobre a terra.

Durante Khutroi não vemos o rosto de Dioniso como o deus da luz e da vida; aqui Ele é totalmente o deus do submundo escuro, o senhor das almas, o filho de Perséfone e o companheiro do Hermes ctonio. Nós mal o vemos durante todo neste dia. Na verdade, toda a atividade ritual de Khutroi é consagrado a seu irmão.

Theopompos, no escólio às Acharnianas1076, de Aristófanes, descreve Khutroi da seguinte forma:

"Aqueles que sobreviveram ao grande dilúvio de Deucalião, cozinharam potes com todo tipo de semente, e a partir disso, o festival recebe seu nome. É o costume sacrificar a Hermes Khthonios. Ninguém prova o pote. Os sobreviventes fizeram isso propiciando-o a Hermes em nome daqueles que morreram".

De acordo com Photius era neste dia que as Keres, ou espíritos dos mortos, caminhavam sobre a terra; elas tinham que ser expulsos com a exclamação ritual, "Para as portas, vós Keres, não é mais Anthesteria!" Photius também nos informa que em Athenas, as pessoas mascavam espinheiro (N.T.: Rhamnus sp) e marcavam suas portas com piche para afastar os mortos.

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Reprodução de um píthos ático mostrando Hermes a conduzir as Keres para longe.¹

O santuário ou altares permanecem fechados, já que os templos em Atenas permaneciam fechados neste dia. Passe o dia pensando sobre seus entes falecidos e diga-lhes qualquer coisa que você deseje dizer ou que você gostaria de ter dito enquanto eles estavam vivos. Prepare uma refeição para eles. A refeição mais adequada seria, evidentemente, a panspermia, que é uma mistura de feijão, grãos e sementes. Para algumas pessoas isso é feito acrescentando-se o óleo, o mel e o leite, uma vez que estas eram as libações tradicionalmente feitas aos mortos; esses ingredientes também enchem a cozinha com um aroma forte e inquietante. Se você não tem acesso a isso, você poderia oferecer-lhes um prato de ovos, cebolas, alho, sementes de romã, e peixe ou carne de porco, uma vez que estes foram os alimentos que muitas vezes eram ofertados aos mortos ou àqueles considerados impuros. Você também pode montar um menu próprio para os seus mortos (N.T.: talvez com comidas que os seus entes queridos que já se foram gostassem de comer). Mas seja lá o que você escolher para cozinhar e oferecer ao morto, isso não pode ter gosto de nada, uma vez que este é o alimento dos mortos, e se você comer em breve poderá juntar-se a eles. Deixe sua oferta do lado de fora da casa e faça uma prece a Hermes enquanto estiver ofertando. Mais tarde, expulse os espíritos das keres, purifique sua casa e todos os lugares. Só depois de terminado isso você poderá descobrir os altares ou santuários.

Há outra prática que é ligada à Anthesteria, embora a data em que foi realizada seja contestada. De acordo com a história, quando Dioniso veio para a Ática para compartilhar do vinho com as pessoas, de lá ele foi mostrado hospitalidade por um bondoso agricultor chamado Icário. Em troca, Dioniso lhe deu a videira, e lhe ensinou a fazer o vinho. As primeiras pessoas que compartilharam a dádiva do deus com Icário ficaram bêbadas e suas famílias pensaram que eles tivessem sido envenenados. Então, mataram Icário e jogaram o corpo do agricultor em um poço. Quando Erígone, a filha de Icário, chegou e viu o corpo do

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pai, foi abatida por uma dor e enforcou-se. Como punição por seu crime (e porque Dioniso havia se encantado de Erígone), Dioniso amaldiçoou a terra da Ática com esterilidade e infligiu uma praga de loucura às suas filhas para que se enforcassem. As pessoas procuraram ajuda do Oráculo de Delfos, e Apolo informou que era necessário que eles necessário que prestassem respeito para Erígone e seu pai. Então, os habitantes da Ática deram a Erígone e seu pai o enterro apropriado e instituiram o festival de Aiora em sua honra. Em troca, Dioniso fez com que o suicídio das meninas parasse e devolveu a fertilidade da terra. Durante a Aiora, as meninas jovens penduravam fitas, copos pequenos, e bonecas nos galhos de árvores e deixavam-se ser empurradas em um balanço. (N.T.: Alguns textos e a iconografia mostram que o balançar poderia ser feito sobre um jarro de vinho aberto). Alguns sustentam que esta ocorreu em Khoes, outros em Khutroi, mas a maneira que eu vejo, isso encaixa-se em qualquer um dos dias, e o tema desse mito e ritual se encaixam muito bem no contexto da Anthesteria.

Sátiro balançando Erígone - vaso ático século V AEC.

Seja qual noite for, você pode escolher para fazer isso, você pode ir a um parque [ou mesmo na sua casa, caso tenha árvores] e pendurar coisas nas árvores. (A novidade do ambiente e do perigo de ser pego só vai aumentar a experiência para você.) Além das fitas, copos e bonecas, você pode sempre usar sinos ou tiras de papel com o nome Erígone escrito neles, ou qualquer coisa nessa linha. Em seguida, vá para o playground e balance para Erígone, pensando durante este tempo todo sobre a sua história e os mistérios escondidos nela.

Com isso, eu trago a minha forma particular de celebrar a Anthesteria. Espero que tenha ajudado, lhe dado alguma ideia das coisas que você pode fazer, e gostaria de incentivá-lo a ir além, com próprias ideias inspiradas nos temas do festival.

MISTÉRIOS MENORES DE ELEUSIS - A iniciação nos Mistérios Inferiores é um pré-requisito para a iniciação nos Grandes Mistérios Eleusinianos. Os Mistérios Inferiores realizam a purificação preliminar do Mystos (Iniciado). Esses ritos sagrados pertencem à Réia - a Mãe dos Deuses e a mais velha da tríade Réia-Démeter-Core, embora também se diga que se celebrava o retorno de Core-Perséfone-Démeter do

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mundo subterrâneo, com rituais de fertilidade da terra, destinados a ativar o poder de germinação e o despertar/desabrochar da natureza, mas nada mais pode ser dito sobre eles.

DIÁSIA (Δϊάσια) - A 'Diasia' (de Deus = Zeus) é o principal festival para Zeus Meilikhios (O Gentil), que é Zeus no seu aspecto submundano, manifestando-se como uma cobra gigante. Burkert sugere que essa imagem paternal significa reconciliação com os mortos, assim como seu epíteto se relaciona ao efeito apaziguador das ofertas aos mortos. Apesar desse efeito, o clima do festival era de alegria, como uma feira rústica, conforme Aristófanes dá a entender em várias referências. As famílias ricas queimavam ofertas inteiras a Zeus, mas as pessoas comuns ofereciam bolos no formato de animais. São as "ofertas sem sangue" ('thymata epikhoria'), como as descrevia Tucídides. Hoje fazemos apenas as ofertas de bolos/tortos/biscoitos no formato de animais, como ovelhas e porcos, mas também oferecemos grãos e frutos porque Ele é responsável pela fertilidade do solo e é normalmente mostrado com uma cornucópia (corno de bode). Segundo Kerényi, Zeus Meilikios também recebia ofertas de mel. Uma vez que este é um festival de propiciação, todas as ofertas são queimadas para o Deus. Depois disso, há uma festa geral e presentes são dados às crianças (que são especialmente queridas pelas deidades submundanas). A Diasia é um festival que acontecia não no centro de Atenas, mas na beira do rio Ilissos. 

COMO CELEBRAR HOJE o festival da Diasia:Material:

o Perirrhanteria – tigela com água para aspersãoo Água lustral o Galho de planta para a aspersãoo Vela ou outra chama para Héstiao Incenso ou essência (preferência aromas terrenos/amadeirados, como

mirra ou patchouli)o Grãos (cevada ou outros)o Copo com leiteo Copo com vinhoo Krater (vasinho) para misturar água e vinhoo Altar a Zeus com flores, figuras de serpentes e touros, cores marrom,

preto, branco, verde-escuroo Biscoitos ou bolos em forma de animais (especialmente ovelha e porco)

para ofertao Prato ou chão para verter os líquidos

Procedimentos:A vela para Héstia é acesa com o Hino Homérico a Héstia, o espaço é purificado com a água lustral, o incenso é aceso com a frase "Paresmen time, sonta tas theas kai tous theous - Estamos aqui para honrar os deuses e deusas".

Parte dos grãos são espalhados no altar enquanto se diz uma prece como esta: "Sagrado Zeus Melikhios, Deus que dá abundância e fertilidade à terra, venho diante de ti para celebrar a Diasia, pedindo que possamos chegar logo ao próximo equinócio. Aceite minhas ofertas, que elas te agradem, e conceda suas bençãos e sua divina presença neste dia!" - "Lambane kai heydou anathema mou!" (Aceite e se delicie com minhas

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ofertas!)

Misture o vinho com a água no krater, dizendo: "Theasthe ta hudata biou." (Observem as Águas da Vida.") Prece que pode ser feita: "Venho agora diante do Deus Zeus Meilikhios! Para louvá-lo e agradá-lo, agradecê-lo pelos dons que me trouxe, para agradecê-lo por sua bondade e justiça, para pedir que Ele me ouça e dirija minhas preces a meus ancestrais, para pedir por proteção para mim, minha família, meus amigos, meu amor, e meus convidados. E para honrá-lo com alegria, preces e sacrifício."

As ofertas de comida são trazidas para (perto d)o fogo. Pode-se fazer as preces: "Grande Zeus, tu unes as coisas, dos imortais no Olimpo às sombras dos corredores de teu irmão Hades. Proteja nossas famílias, especialmente nossas crianças, e receba nossas preces de nossos ancestrais. Como aqueles que partiram te honraram no passado, assim te honramos agora, e esperamos que nossos descendentes possam te honrar sempre!" e/ou "Eu canto a Zeus, o melhor e maior dos deuses, que vê longe, poderoso, cumpridor dos desígnios que pertencem a seus intrincados esquemas com Têmis que se senta perto dEle. Sede misericordioso, Cronida que longe vê, o mais glorioso e grandioso!"

Asperge-se o resto dos grãos sobre as ofertas de comida, dizendo: "Ó Imortal, eu lhe trago presentes! Veja estas coisas e tome-as como desejar!"

Pegue o vinho misturado com água no krater, dizendo: "Grande Zeus, Rei dos Deuses, és justo e bondoso, és o protegor de todos os que te seguem. Tu que tudo vês, no Olimpo, na Terra e no Hades, eu te peço que concedas sua gentileza e proteção sobre mim e sobre todos que eu amo." Faça a libação com: "Zeus, Hilathi (seja propício)! Spondê!"

Pegue o copo com leite e verta também, dizendo: "Sponde! Dios Meilikhios!"

A última libação em vinho é para Héstia: "Hestiê, sou aei to protôn te to pumatôn!" (Héstia, a Ti sempre o primeiro e o último!)

"Sagrados Imortais, meu rito terminou. Se for de seu desejo, que eu possa voltar a seus altares, trazendo ofertas e cantando hinos de louvor e ação de graças!"

"Ésto" OU "Ghênoito" OU "Houtos heksoi" (todos são como um "assim seja").

As ofertas só são retiradas no dia seguinte.

SOTERIA - Dia 5 de Anthesterion. Festival em honra a Zeus Soteros (o Salvador).

DELIA - Dia 29 de Anthesterion. Celebrações realizadas no santuário de Délio na Maratona, de onde a Theoria (grupo de representantes) ateniense começa a sua jornada para a ilha de Delos.

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Elaphebolion

ASKLEPÍEIA ('Ασκληπίεια) - Festival em honra de Asclépio, Apolo e Higéia.“Em honra de Asclépio, cobras eram usadas em rituais de cura. Serpentes não-venenosas eram deixadas para arrastar no chão de dormitórios onde enfermos e feridos dormiam. (...) Os centros de cura eram chamados de asclepieion; os peregrinos iam em bandos para lá para serem curados. Eles passavam a noite e contavam seus sonhos a um sacerdote no dia seguinte. Ele prescrevia a cura, que normalmente era uma visita aos banhos ou ao ginásio.” (Michael Lahanas)Como celebrar hoje: Os gregos não excluíam o potencial de cura da tecnologia (tekné) ou do espírito (psiquê). Esteja aberto para questionar e investigar as afirmações da medicina moderna e aceite os possíveis benefícios de preces e outras práticas espirituais assim como as modalidades de cura alternativa.

CIDADE DIONÍSIA / DIONÍSIA URBANA / DIONUSIA TA ASTIKA (Διονύσια τα άστιχά) - Festival de seis dias em honra de Dionísio. A celebração começa com sacrifícios de touro e porco, com o deus Falo (Phallus) sendo coroado e a estátua de Dionísio sendo carregada pela noite. Também há procissão, teatro e danças ditirâmbicas.Como celebrar hoje: assista dramas e participe de leituras poéticas. Faça festas a fantasia onde se sirva o vinho e a decoração inclua hera e vinha e os convidados usem guirlandas na cabeça e flores. Ofereça uma libação ao deus, leia os hinos antigos a Dionísio.

PÁNDIA (Πάνδια) - Festival em honra de Zeus Pandios e de Pandias (filha de Zeus e Selene), estabelecido por Pandion, rei de Atenas e líder do clã dos Pandionídos. Sabe-se apenas de um Demos (Plotheia) que celebrava esse festival.Neste pôr-do-sol, além de termos o último dia da Dionísia Urbana, teremos o festival helênico da Pandia, quando honra-se Zeus Pandios (brilhante deus dos céus) e sua filha com Selene (a lua cheia), chamada Pandias ou Pandeia ("Toda-Divina" ou "Toda-Brilhante"). O festival político da Pandia foi estabelecido pelo rei de Atenas, Pandion, mas apenas um demos de Atenas, o Plótheia, o celebrava. O curioso é que encontrei algo mais sobre ele justo em um livro sobre Dionísio em sua relação com a Índia, onde "Pandia" é também o nome de uma dinastia vinda da Lua:

"Segundo o mito cretense, Lampros, esposo de Galatéia, cujos filhos eram bissexuais, era ele mesmo filho de Pandion, descendente das dinastias do Sol e da Lua. O festival ático do Pandia era celebrado com a lua cheia. O festival, cujo nome advinha de Pandion, epônimo da tribo de Pandionis, era em honra a Zeus." (R.F. Willets, Cretan Cults and Festivals, p.178)Deve-se observar que Pandia é o nome de uma dinastia dravidiana oriunda da Lua que, desde tempos imemoriais, reinou na Índia e que também é mencionada no grande poema épico tâmul, o Shilappadikaram. Os pandavas, filhos de Pandu (o branco), eram membros da dinastia que se opôs aos arianos na guerra do Maabárata.

(Alain Daniélou, Shiva e Dioniso - 'A Religião da Natureza e do Eros', p.30)

Para quem não lembra ou não leu o Mahabharata hindu, os Pandavas lutavam contra os Kauravas, o que muitos estudiosos interpretam simbolicamente como as virtudes enfrentando os vícios. Outros dirão que os Pandavas representam o Dharma - o caminho da justiça, que se parece com a realização do nosso daimon - e os Kauravas

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sendo o Adharma - tudo aquilo que impede os humanos de alcançar o divino, o sagrado.

Nós podemos pensar nessa união do Sol com a Lua como uma união de opostos que traz o equilíbrio. As virtudes, para os gregos, eram exatamente esse meio termo entre dois vícios. Por exemplo, a virtude da paciência seria o equilíbrio entre o extremo do "pavio-curto" e o extremo da leniência (quando se permite/aceita tudo), os quais seriam vícios. Por conta disso, há muito mais vícios do que virtudes, assim como no Mahabharata encontramos cem Kauravas para apenas cinco Pandavas. Também podemos pensar que as virtudes nos aproximam dos deuses, da Toda-Divina, enquanto os vícios vão nos impossibilitando de alcançar esse divino.

Fica, então, a sugestão para - durante tal festival - refletirmos sobre como vencermos nossos vícios e nos aproximarmos do sagrado.

GALAXIA - Festival em honra de Réia, libação e banquete acontecem com a Galáxia, um mingau de farinha de cevada fervida com leite. Os jovens oferecem potes dourados e trocam entre si doces feitos de leite e mel. O festival de primavera chamado Galaxia tem a ver com Réia, o nascimento de Zeus e a dança dos Curetes.O festival de primavera chamado Galaxia tem a ver com Réia, o nascimento de Zeus e a dança dos Curetes.

Quando Réia pariu Zeus, o escondeu de Cronos numa caverna e o deixou aos cuidados dos Curetes (kouros = "juventude") e das ninfas Adrasteia e Ida, filhas de Melisseus ("homem do mel"). As ninfas o alimentaram com leite da cabra Amaltéia e as abelhas das montanhas lhe deram mel. Os Curetes inventaram a dança em armadura, com ritmo frígio e flautas. Esse barulho distraía Cronos, para manter Zeus escondido.

Há muitas evidências do nascimento e criação do deus até o dia de hoje na ilha de Creta. Por exemplo, quando ele foi levado pelos Curetes, dizem que o cordão umbilical (omphalos) caiu perto do rio conhecido como Triton, e aquele local se tornou sagrado e a planície ficou sendo chamada de Omphaleion. A caverna e os prados no monte Ida também continuaram sagrados a ele. Mas a relação mais impressionante é do mito das abelhas, que diz que Zeus mudou a cor delas do cobre para o dourado e, como a região tem muita altitude, com ventos fortes e neve, ele fez as abelhas insensíveis a essas coisas, incapazes de serem afetadas por elas, suportando o frio do inverno.

Por tudo isso celebramos a Galaxia (do grego γαλαξίας, galaksias, "via láctea") com leite e mel.

O 'mingau' de cevada ("poltos", uma pasta feita de leite com cevada) seria para Réia, a mãe de Zeus. A cevada era um cereal predominante na Ática, que se adaptava melhor ao clima dali do que o trigo. O trigo era melhor para fazer pão, com a cevada faziam mais era esse tipo de mingau. A cevada na Ática florescia entre o final de março e o meio de abril, no mês chamado de Galaxion, equivalente ao Elaphebolion de Delos. Ela é associada a Réia por ela ser uma mãe anterior a Deméter, a cevada sendo um 'pré-cereal' (anterior à cultura do trigo).

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ELAPHEBOLIA - Festival arcaico em honra de Artemis Elaphebolos (caça ao cervo) com ofertas de pão em forma de cervo, feito com farinha, mel e sementes de gergelim. Provavelmente acontecia no sexto dia do mês, que é o dia dela. No século IV AEC, este festival foi perdendo importância, com o festival da Dionisia Urbana crescendo em seu lugar.

Mounykhion (Daisios)

DELPHÍNIA (Δελφίνια) ou IKETIRIA - Festival para honrar Apollon Delphinio (ou seja, "Apolo de Delfos"; Delfos era a cidade onde havia um oráculo no templo de Apolo), com uma procissão na qual garotas virgens ofereciam Iketiria (ramo de oliveira amarrado com lã) e Popana (bolos assados no forno) para Seu santuário. Este festival acontece em memória do retorno de Teseu de Creta e para suplicar a Apolo que tenhamos viagens marítimas seguras (o inverno teria acabado e as jornadas no mar começariam nesta época do ano).

MOUNYKHÍA (Μουνυχία) - Festival em honra de Ártemis Mounykhia e o herói Mounykhos. Este festival honra Ártemis como Deusa Lua e a Senhora das Feras. Há uma procissão na qual as pessoas carregam Amphiphontes (brilhante dos dois lados), tortas arredondadas nas quais dadia (pequenas tochas) são fixadas, simbolizando o nascer e o pôr da lua; bem parecido com as tortas oferecidas a Hécate. As tortas são oferecidas a Ártemis com uma prece semelhante a esta: "Ártemis, Querida Mestra, para Quem eu carrego, Senhora, este Amphiphon, e que deverá servir como oferta bebível". Alguns dizem que a razão da torta ser chamada Amphiphon, que também pode significar "Brilho de Dupla Luz", é que ela é oferecida quando o sol e a lua estão ambos visíveis. Nos tempos antigos, uma cabra (fêmea) era sacrificada à Senhora; agora nós podemos usar tortas em forma de cabra, ou oferecer folhas de palma, porque as palmas são sagradas a Ela. Este é também um tempo apropriado para o Arkteia (Encenação da Ursa) em agradecimento pelos animais dos jogos juvenis (o mais importante, para as tribos do Neolítico, era o urso). As Arktoi (Ursas) são jovens garotas (com cerca de 10 anos de idade) que dançavam nuas ou de shorts, sob khitones (túnicas) de cor açafrão. Elas usam coroas de folhas no cabelo e carregam tochas ou galhos.

OLÝMPEIA ('Ολύμπεια) - Festival em honra a Zeus Olímpio. O festival incluía uma procissão de cavalaria, e às vezes também competições e exibições de cavalaria. Além disso, vários touros eram sacrificados a Zeus.Como celebrar hoje: A Oenochoe (2004) sugere, em substituição ao sacrifício ao touro, usar ofertas votivas de cerâmica em forma de touro, ou oferecer um bolo em forma de touro, ou mesmo um belo de um bife.

DEMETREIA - Festival arcaico em honra de Demetra, os celebrantes açoitam uns aos outros simbolicamente com ramos de uma árvore chamada Morotos. No dia 13 de Mounykhion. A lua cheia marca o final do festival.

BRABONEIA - Festival em honra de Ártemis, nos ritos participam as 'Arktoi', garotas de 5 a 10 anos de idade usando camisas amarelas. Uma cabra branca era sacrificada e os itens sagrados de Ártemis eram carregados em procissão dentro de um cesto chamado 'Heleni' e a celebração terminava com

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a dança das jovens sacerdotisas. Dia 17 de Mounykhion.

EROTEIA - Festival em honra de Eros, que acontecia a cada cinco anos em Thespies, na Boiotea/Beócia. No dia 4 de Moynykhion (2006 - 2011 - 2016...).

Thargelion (Panemos)

THARGÉLIA (Θαργήλια)  - o Thargelia, que é provavelmente idêntico ao antigo Thalysia (Oferta dos Primeiros Frutos), é um festival da colheita, celebrado quando o milho é debulhado. Embora em muitos casos o tempo varie de fazenda a fazenda e coincida com a real conclusão da colheita (maio ou junho), uma vez que este é um festival para Apolo (como um guardião de safras), ele nominalmente ocorre no sétimo dia, Seu aniversário. O festival tem duas partes: purificação e oferenda. O sexto dia (o aniversário de Sua irmã, Ártemis) é um dia de purificação, e dois homens (preferivelmente sem atrativos), os Pharmakoi (Bodes-Expiatórios), que foram alimentados pelas pessoas, são conduzidos pela cidade, e depois afugentados por ramos de figo e bulbos de cebola (venenosos/tóxicos e usados para a purificação). Um dos Pharmakos usa um colar de figos negros, o qual representa os homens da cidade, e o outro usa um colar de figos brancos, representando as mulheres. O dia seguinte é para a oferta dos primeiros frutos ao Deus; o Thargelos é feito com milho fervido e outros vegetais em um pote. Há disputas separadas de cantoria de hinos, para coros masculinos de homens e de meninos; os vencedores recebem um trípode, o qual eles então dedicam ao Deus.

BENDÍDEIA (Βενδίδεια) - festival realizado na Trácia, dedicado à Bendi, deusa da lua e da fertilidade, que corresponde a Ártemis. O festival consistia de corridas de cavalos e de procissões indo para o templo de Pireus.

KALLYNTÉRIA (Καλλυντήρια) - este é um festival pequeno, mas bastante importante em Atenas. Kallynteria é o festival da "Varredura" e é o dia em que as mulheres varrem o templo de Atena, e Sua chama eterna é recarregada e reacesa pelas sacerdotisas.

PLYNTÉRIA (Πλυντήρια) - Este é o festival para lavar (plynteria hiera) a estátua antiga de Atena Polias, Guardiã da Cidade (Polis); banhar imagens sagradas era um costume comum na Grécia e em outros lugares. O dia é considerado desafortunado (apophras) porque a Deusa está ausente da cidade; ele produz a ruptura da ordem normal, um vazio entre o velho e o novo. As mulheres retiram o peplos (manto) e as jóias da imagem antiga de Atena, a qual é então envolta e carregada em uma procissão para o local da lavagem. A procissão é conduzida por uma mulher carregando um cesto de tortas de figo, já que o figo é um antigo símbolo de fertilidade e foi a primeira comida cultivada; os doces devem ser oferecidos à Deusa no litoral. Epheboi (jovens rapazes) montados podem também acompanhar a imagem coberta. Ela é trazida ao litoral (porque deve ser purificada em água corrente, especialmente água salgada), onde é banhada por duas garotas, as Loutrides (banhistas); o peplos pode ser limpo ao mesmo tempo que a estátua (talvez por um sacerdote). Nesse começo de noite, a Deusa é reconduzida ao templo em uma procissão à luz da tocha e é coberta com o peplos limpo e adornado com Suas jóias. Apenas as Loutrides e as mulheres que vestem e despem a Deusa são permitidas de vê-la nua. A estátua antiga era de tamanho humano ou menor, entalhada em madeira de oliveira, e provavelmente mostrava a

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Deusa sentada e sem armas. Ela usa uma alta e dourada stephane (coroa) e podia ter uma Gorgoneion (cabeça de górgona, da Medusa) em seu peito.

Skirophorion (Loios)

ARREPHORIA ('Αρρηφορία): Duas jovens garotas (entre 7 e 11 anos de idade), as Arrephoroi (Carregadoras das Coisas Não-Ditas) que são as filhas rituais do Arkhon Basileus (Sacerdote-Rei), passaram o ano precedente vivendo no templo de Atena Polias (guardiã da cidade). Alguns dizem que elas estiveram tecendo um novo peplos (manto) para Atena, o qual elas trarão a Ela na procissão sagrada (veja o festival Panathenaia no mês que vem). Em um secreto rito noturno, a Sacerdotisa dá para as Arrephoroi um pacote, cujo conteúdo é escondido de todas as três. Elas levam o pacote por um caminho secreto até o santuário de Afrodite nos Jardins, e trazem de volta outro pacote secreto. Depois disso, as Arrephoroi são substituídas por duas novas garotas. O rito recorda quando Atena deu o cesto contendo Erictônio para as filhas do Rei Kekrops, que atuaram como amas. Duas delas desobedeceram Sua ordem de não olhar no cesto, e quando elas viram o homem-serpente elas se jogaram da Acrópole, morrendo. O nome da ama leal era Pandrosos (TodaOrvalho), ou, de acordo com outras fontes, as duas filhas que se auto-sacrificaram eram Pandrosos e Herse (que também significa orvalho). (O festival também pode ser chamado de Ersephoria - Carregando Orvalho.) A árvore da oliveira, que era o presente especial de Atena a Atenas, traz pequenas olivas se não houver orvalho suficiente nesta época do ano. Afrodite, como Deusa da Manhã e Estrela Vespertina, era responsável pelo orvalho, e então Sua cooperação era essencial. As Arrephoroi usavam mantos brancos, jóias douradas, e comiam Anastatos (Feito-para-crescer), um pão leve especial (tipo um pastelão de queijo).COMO CELEBRAR HOJE: Pode-se realizar um ritual normal para Atena, sendo que o momento de relembrar os mitos e epítetos, estes sejam centrados no mito relacionado ao rito da Arrephoria, ou seja, quando Atena deu o cesto contando o homem-serpente Erictônio para as filhas do Rei Kekrops, relacionadas ao orvalho, que tomaram conta dele. As que desobedeceram a recomendação de Atena de não olharem dentro da cesta acabaram se jogando da Acrópole. Lembra-se também da cooperação de Afrodite, deusa da manhã e estrela vespertina, que fornece o orvalho necessário para que a oliveira dê bons frutos. As roupas deste dia são brancas, os enfeites dourados, o alimento é pastel de queijo ou um pão leve especial. Minha sugestão é que, antes do rito, se guarde uma oferta (não perecível) em uma caixinha ou pacote, que fica presente no ritual e depois é escondido até o próximo mês, quando será aberto na Panathenaia. Caso você possua uma estátua de Atena, este é o momento de confeccionar ou adquirir um novo manto para ela, que também só será entregue no mês seguinte. [Alexandra]"Essa foi a forma como eu festejei, e acho que é cabível: alguns dias antes eu comecei a coletar o orvalho matinal e também junto com ele, um pouco de agua e chuva. No dia do festival fiz libações à Áthena e Afodite com esta água e lhes fiz ofertas de adornos e bijuterias, além de espelhos e vestimentas, além de pão de soja." [Thiago]

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SKIROPHORIA/SKÍRA (Σχίρα): Este festival ocorre na época do corte e debulhamento do grão. A Sacerdotisa de Atena, o Sacerdote de Poseidon e o Sacerdote de Hélio vão para o Skiron, um lugar sagrado para Deméter, Koré, Atena Skiras e Poseidon Pater, pois lá foi onde Atenas e Elêusis se reconciliaram. Atena e Poseidon representam a vida da cidade, e Deméter e Koré representam a agricultura; Hélio testemunha Seus juramentos (como Ele testemunhou o rapto de Koré). O Skiron é onde, de acordo com a tradição, a primeira semeadura aconteceu. Um grande e branco dossel (chamado de skiron) é carregado sobre as cabeças dos sacerdotes e sacerdotisas durante a procissão. É um escudo que simboliza a proteção dos campos, fazendas e pessoas do calor escaldante, evitando a queimada e a seca. A Skirophoria é celebrada principalmente por mulheres (enquanto os homens dominam a Cidade Dionísia - ver mês de Elaphebolion). Para trazer fertilidade, elas se abstém do intercurso neste dia, e para este fim elas comem alho para manter os homens afastados. Elas também jogam ofertas dentro das megara - cavernas sagradas de Deméter: bolos em forma de cobra, falos e leitõezinhos. (Eles se tornam os Thesmoi - coisas deitadas ao chão - que são removidas na Thesmophoria, no mês de Pyanepsion). Essa cerimônia relembra o guardador de porcos Eubouleus que foi engolido/tragado com seus porcos quando Perséfone foi raptada para dentro do submundo por Hades. Os homens têm uma corrida na qual eles carregam ramos de videira do santuário de Dionísio até o templo de Atena em Skiras. O vencedor ganha a Pentaploa (Taça Quíntupla), contendo vinho, mel, queijo, algum milho e óleo de oliva. Só a ele é permitido compartilhar essa bebida com a Deusa, para quem uma libação é vertida para que Ela abençoe esses frutos da estação.O Skirophoria (também conhecido como Skira) ocorre na época do corte e debulhamento do grão. A Sacerdotisa de Atena, o Sacerdote de Poseidon e o Sacerdote de Hélio vão para o Skiron, um lugar sagrado para Deméter, Koré, Atena Skiras e Poseidon Pater, pois lá foi onde Atenas e Elêusis se reconciliaram. Atena e Poseidon representam a vida da cidade, e Deméter e Koré representam a agricultura; Hélio testemunha Seus juramentos (como Ele testemunhou o rapto de Koré). O Skiron é onde, de acordo com a tradição, a primeira semeadura aconteceu. Um grande e branco dossel (chamado de skiron) é carregado sobre as cabeças dos sacerdotes e sacerdotisas durante a procissão. É um escudo que simboliza a proteção dos campos, fazendas e pessoas do calor escaldante, evitando a queimada e a seca. A Skirophoria é celebrada principalmente por mulheres (enquanto os homens dominam a Cidade Dionísia - ver mês de Elaphebolion). Para trazer fertilidade, elas se abstém do intercurso neste dia, e para este fim elas comem alho para manter os homens afastados. Elas também jogam ofertas dentro das megara - cavernas sagradas de Deméter: bolos em forma de cobra, falos e leitõezinhos. (Eles se tornam os Thesmoi - coisas deitadas ao chão - que são removidas na Thesmophoria, no mês de Pyanepsion). Essa cerimônia relembra o guardador de porcos Eubouleus que foi engolido/tragado com seus porcos quando Perséfone foi raptada para dentro do submundo por Hades. Os homens têm uma corrida na qual eles carregam ramos de videira do santuário de Dionísio até o templo de Atena em Skiras. O vencedor ganha a Pentaploa (Taça Quíntupla), contendo vinho, mel, queijo, algum milho e óleo de oliva. Só a ele é permitido compartilhar essa bebida com a Deusa, para quem uma libação é vertida para que Ela abençoe esses frutos da estação.http://sites.google.com/site/helenismo/Home/festivais/skirophorion-loios

Como podemos celebrar hoje?

Na rua: se você morar na cidade, visite o campo. Se morar no campo, visite a cidade. Torne isso uma espécie de descoberta e apreciação do novo. Leve algo branco para Atena, azul para Poseidon, verde para Deméter, vermelho para Perséfone e dourado

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para Hélio. Se houver cinco pessoas, cada uma pode estar usando essas cores. Os homens podem fazer uma corrida levando ramos de videira.

Em casa: Faça dois altares ou divida o altar em uma parte rural (com marrom/verde) para Deméter e Koré e outra parte urbana (com cinza) para Atena e Poseidon, decorando-os com suas ofertas votivas e imagens que tiver associadas a essas deidades. Entre as duas partes, coloque algo dourado que represente Hélio e, diante desse centro, uma tigela contendo o Pentaploa: uma mistura de vinho, mel, queijo, grãos e azeite. Se possível, faça um dossel branco por cima de tudo.

Rito: Primeiro dirija suas preces e ofertas para Atena, em agradecimento por as pessoas da cidade terem a oportunidade de se alimentar dos frutos do campo. Depois dirija-as a Poseidon, agradecendo os frutos do mar que nos alimentam sem pedir quase nada em troca. Volte-se então para Deméter, comprometendo-se a manter a terra limpa para termos abundância em sua honra e que ela nos conceda uma divisão justa de seus frutos. Em seguida, agradeça a Perséfone por guardar os pensamentos e a cultura, a memória e os mistérios. Peça a Hélio para testemunhar as intenções de que os deuses mencionados protejam uns aos outros, e que Eles e nós estejamos em harmonia trabalhando pela mesma causa. Verta libações do Pentaploa esperando bênçãos de Atena aos frutos da estação e ofereça os Thesmoi (bolos em forma de cobra, falos, porcos) para Deméter. Conclua o ritual como estiver acostumado/a.

DIPÓLIEIA (Διπόλια - "ao deus da cidade"): Festival em honra a Zeus Polieus. BOUPHÓNIA (Βουφόνια - "matança do boi") - Neste dia (parte do Dipolieia), algumas garotas buscam água para usar em ferramentas afiadas. Os afiadores afiam um machado com cabo e uma faca de açougueiro. Vários arados de boi são arrebanhados pelo pasto até um altar, onde cevada e trigo foram colocados. O primeiro boi que for ao altar está "consentindo" em ser sacrificado. Um homem mata o boi com o machado e outro corta sua garganta com a faca. Ambos soltam suas ferramentas e fogem. Depois o boi é retalhado e preparado para o banquete. Seu couro é estufado com palha e costurado, de forma que pareça vivo. Um julgamento então começa para determinar quem é o culpado pela morte do boi. As primeiras apontadas são as carregadoras de água. Elas culpam os afiadores, que, por sua vez, culpam os sacrificadores. Finalmente, os sacrificadores culpam o machado e a faca, que são declarados culpados e jogados ao mar. (O tema para refletir nesse festival parece ser o ato da reparação - alguém tem que pagar pelo que acontece - e de como nos livrarmos da culpa).

DIPOLIEIA ("ao deus da cidade"): Festival em honra a Zeus Polieus (di - a zeus, polis - cidade). BOUPHONIA ("matança do boi"): Neste dia (parte do Dipolieia), algumas garotas buscam água para usar em ferramentas afiadas. Os afiadores afiam um machado com cabo e uma faca de açougueiro. Vários arados de boi são arrebanhados pelo pasto até um altar, onde cevada e trigo foram colocados. O primeiro boi que for ao altar está "consentindo" em ser sacrificado. Um homem mata o boi com o machado e outro corta sua garganta com a faca. Ambos soltam suas ferramentas e fogem. Depois o boi é retalhado e preparado para o banquete. Seu couro é estufado com palha e costurado, de forma que pareça vivo. Um julgamento então começa para determinar quem é o culpado pela morte do boi. As primeiras apontadas são as carregadoras de água. Elas culpam os afiadores, que, por sua vez, culpam os sacrificadores. Finalmente, os sacrificadores culpam o machado e a faca, que são declarados culpados e jogados ao mar. (O tema para refletir nesse festival parece ser o ato da reparação - alguém tem que pagar pelo que acontece - e de como nos livrarmos da culpa).

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BUMBA-MEU-BOI: A origem dessa festa seria uma mistura, nas fazendas, de tradições africanas (como a do boi geroa) com européias (como as touradas) e alguns elementos indígenas. O enredo básico é o seguinte: um rico fazendeiro possui um boi muito bonito, que inclusive sabe dançar. Pai Chico, um trabalhador da fazenda, rouba o boi para satisfazer sua mulher Catirina (ou Catarina), que está grávida e sente uma forte vontade de comer a língua daquele boi. Os caboclos, junto com os índios e índias, procuram entre os vaqueiros quem fez isso, descobrem e prendem Chico. Quando o fazendeiro encontra o boi, ele está doente (ou morto). Os pajés curam a doença do boi (ou o ressuscitam) e descobrem a real intenção de Pai Chico. O fazendeiro o perdoa e celebra a saúde do boi com uma grande festividade.

RELAÇÃO: Como a Dipolieia caiu em junho (ela costuma cair entre o final de junho e começo de julho) e aqui tem várias apresentações de Boi nessa época, sinto que é inevitável pensar na semelhança por termos a questão de um boi sendo morto e vários personagens procurando um culpado (fuga e julgamento) que é, por fim, redimido da sua culpa; fora a parte em que tentavam fazer parecer que o boi está vivo e, no mito mais atual, ele realmente ressuscitar. Além disso, o Pai Chico usa um facão nas danças, que me lembra a faca afiada do Bouphonia, e tanto a língua (no Bumba-boi) quanto a garganta (no Bouphonia) são partes da boca.

[ Nota: Curiosamente, sem saber qual grupo iria se apresentar naquele horário, assisti ao Boi de Teodoro, sendo que Teodoro vem do grego, "presente de deus", embora não tenha sido esse o motivo do nome do grupo que ali estava (que o batizou pelo seu fundador). Além disso, eles eram de Brasília, onde fui criada. Para mim, tudo foi um sinal, ou melhor, um aval. Nota 2: Aliás, se formos mais longe, veremos que essas cerimônias com a ressurreição de um boi começaram no Egito, no culto a Ápis, no Nilo. ]

A lenda "demonstra sempre o contraste entre a fragilidade do homem e a força de um boi" (wikipedia). É uma festa que acontece no país inteiro, só muda o nome:"...no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é chamado bumba-meu-boi, no Pará e Amazonas é boi-bumbá ou pavulagem; em Pernambuco é boi-calemba ou bumbá; no Ceará é boi-de-reis, boi-surubim e boi-zumbi; na Bahia é boi-janeiro, boi-estrela-do-mar, dromedário e mulinha-de-ouro; no Paraná, em Santa Catarina, é boi-de-mourão ou boi-de-mamão; em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Cabo Frio e Macaé é bumba ou folguedo-do-boi; no Espírito Santo é boi-de-reis; no Rio Grande do Sul é bumba, boizinho, ou boi-mamão; em São Paulo é boi-de-jacá e dança-do-boi."

Então, onde quer que você more, fica a sugestão de alternativa para a sua celebração da Bouphonia na Dipolieia dos próximos anos.

Hekatombaion

ANO NOVO ATENIENSE - No começo do ano ateniense, os magistrados faziam sacrifícios a Zeus o salvador da cidade (Zeus Soteros) e a Atena a salvadora (Athena Soteiras) na véspera. Eles esperavam proteção para a cidade no ano que iniciava. O primeiro ato do novo arconte era proclamar que tudo o que todos possuíam continuaria sendo deles. Todos os negócios do ano anterior tinham que ser completados antes do ano terminar, incluindo julgamento criminais que não poderiam ser deixados pro ano seguinte.

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Como celebrar hoje: Faça ofertas a Zeus Soteros e Atena Soteiras pedindo por sua cidade ou município na véspera do ano novo ateniense.

KRÓNIA (Κρόνια) - O Kronia é um festival cretense em honra de Cronos como o deus da colheita de grãos, que é representado com um gancho de ceifar. Neste dia, uma ceia com a safra celebra o final da colheita. Mais claramente, esta é uma celebração da Era de Ouro regida por Cronos e Réia, quando não havia trabalho laborioso nem opressão. Uma vez que essa era se deu antes de Zeus trazer ordem ao mundo, o Kronia é um festival caótico. Em tempos antigos, era permitido aos escravos correrem desordenadamente pelas ruas e serem convidados por seus senhores a suntuosos banquetes. Durante o Kronia, nós temos a permissão de um retorno temporário à Era de Ouro, à igualdade, à luxúria, ao ócio e à liberdade irrestrita.Sugestão de celebração: TEMA: Liberdade.RELATO: Para honrar Cronos, pai de Zeus, todos os escravos eram libertos este dia e nenhum negócio era fechado. No banquete, os senhores jantariam com os escravos.IDÉIAS DE DECORAÇÃO: cordas, correntes, bandagens, tudo o que lembrar escravidão.VESTES: Antigamente um manto de linho branco e um amuleto de osso de porco com Zeus segurando uma foice. Hoje, podem ser roupas de algodão branco e um amuleto de madeira de cedro (referência ao sangue de Cronos). Se você não conseguir esculpir ou desenhar bem, as imagens do amuleto podem ser estilizadas a simples raios e uma foice.LÍQUIDO DO RITUAL: bebida com mel.COMIDAS DO RITUAL: comidas amarradas com barbante, como salame e pamonha (cortar o barbante representa se libertar), pratos com grãos (por Cronos ser um deus dos grãos).INCENSO: cedro (sangue de Cronos)ATIVIDADES: Comece a trabalhar em se libertar de algum vício, um relacionamento opressivo, uma situação de dívida financeira etc. Começar ao pôr-do-sol da noite anterior, começar a pensar em como você se libertará e como sua vida será quando estiver livre. Durante toda a vigília da noite (ou de manhã cedo) dê um passeio longo e silencioso na natureza, contemplando a sua libertação e o que Cronos pode fazer para lhe ajudar nisso. Procure por sinais de corvos (o pássaro de Cronos).BANQUETE/INVOCAÇÕES: Durante o banquete, sirva duas porções extras, uma para Cronos pela ajuda dele e uma para a coisa da qual você está tentando se livrar (seu ‘senhor’, por assim dizer).Exemplo de prece: "Chamo por Kronos, Filho de Urano e Géia, Pai do trovão e do raio, Fundador do mundo inabitado, Que teve o reino tomado por seu filho, E foi atado a Hélio em grilhões de aço. Mostre-me uma forma de liberdade financeira. Ajude-me a sair das adversidades monetárias. E eu farei um altar em sua honra E lhe verterei libações por um ano."Reescreva a prece acima com aquilo do que você deseja se libertar e o que você oferece em troca.(Fonte: Dennis Dutton, 2006, traduzido e modificado por Alexandra Nikaios.)

SYNOIKIA (Συνοίχια) / Synoikesia [associação] - é um festival em honra à "Poliouhos" (guardiã da cidade) Palas Atena, em memória dos vilarejos arcaicos amalgamados por Teseu para formar uma cidade organizada (Atenas).

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PANATHENAIA (Παναθήναια) - A Panathenaia é, de fato, a celebração do nascimento de Atena, de acordo com a tradição que diz que foi no dia 28 de Hekatombaion que Ela irrompeu da cabeça de Zeus (representado no frontão triangular do lado leste do Parthenon). Embora seja o dia dela, todos os Olimpianos atendem às festividades (como vemos no friso leste), porque todos eles estavam presentes no nascimento dEla. Esta é uma festa sagrada, na qual os deuses e mortais celebram juntos o nascimento de Atena. O dia anterior à procissão Panathenaica é chamado de Pannykhis (Vigília de Noite-Inteira - um aspecto comum dos festivais gregos, uma vez que eles começam ao pôr-do-sol). Ao nascer do sol, o fogo sagrado é tirado do altar de Eros na Academia, onde um sacrifício foi feito a Eros e Atena (na Academia também há um altar a Prometeu, que trouxe o fogo aos mortais), e uma corrida de tocha leva o fogo para o altar de Atena. A cada quatro anos, a Panathenaia Maior é feita, para a qual um novo peplos (manto) é tecido para a Deusa (Seu presente de aniversário). Em sua faixa central de painéis se apresenta a Gigantomaquia, a batalha dos Gigantes contra os Olimpianos (representada nas métopas leste do Parthenon), que simboliza o triunfo da civilização sobre a selvageria. A procissão traz o peplos até a cidade, pendurado como uma vela no mastro de um navio com timão, o qual é pilotado por sacerdotes e sacerdotisas adornados com guirlandas coloridas. Epheboi (jovens rapazes) montados podem acompanhar a procissão. O navio é deixado na entrada dos precintos sagrados e o manto é carregado pelo resto do caminho sozinho ou no mastro. Na cabeça da procissão Panathenaica estão as Kanephoroi, as garotas enfeitadas de ouro, que carregam as Kana, as sagradas cestas de oferendas, as quais são dadas aos mestres-de-cerimônias no altar. As Kana contém a cevada que é atirada sobre o sacrifício e que cobre os implementos sacrificiais escondidos nas Kana. (Veja "Sacrifício Neoclássico", para mais detalhes.) Depois vêm as Ergastinai (Trabalhadoras), que teceram o novo peplos, e outras garotas trazem tigelas e jarros (cântaros/moringas), incensários e implementos adicionais do ritual. Em tempos antigos, a procissão se dividia em duas filas. A fila do norte trazia uma vaca para Atena Polias, a guardião da cidade na Era do Bronze, e uma ovelha para Pandrosos (uma das filhas de Kekrops). Elas eram sacrificadas no altar do Velho Templo, o qual as deusas compartilhavam, e a carne assada era comida pelos sacerdotes e funcionários públicos. Esse rito de local fechado é mais velho que o sacrifício ao ar livre, o qual era destinado à fila do sul, que trazia gado para Atena Parthenos, a padroeira da democracia, até o Grande Altar, fora do Parthenon, onde a carne assada era dada ao público. Na procissão mais sagrada do norte, o(s) vitorioso(s) da corrida de tocha (um vitorioso na Panathenaia Menor, e todos os quatro na Maior) devem trazer água para o sacricífio nos hydria (jarros d’água) que eles ganharam nas corridas; eles serviam como Hydriaphoroi (Carregadores de Água). Eles são seguidos por músicos, tanto tocadores de lira (Kitharodoi) quanto flautistas (Auletes), uma vez que a música normalmente acompanha os sacrifícios. Os músicos eram elegantemente vestidos, por exemplo, em khiton (túnica) com mangas, um peplos (manto) e uma himation (capa), como vemos no friso norte do Parthenon (nas placas VII e VIII). Em ambas as filas há os Skaphephoroi (Carregadores de Bandeja), jovens homens vestidos em becas púrpura, que carregam em seus ombros bandejas de bronze ou prata com bolos/tortas e favos de mel. (Eles seguiam os vencedores da tocha na procissão do norte e o gado na procissão do sul.) Depois dos Carregadores de Bandeja, vinham na procissão os Thallophoroi (Carregadores de Ramos), Idosos bem-aparentados, que carregavam galhos das árvores sagradas de oliveira, e os outros celebrantes. Os Não-Helenos (nãogregos) carregavam ramos de carvalho. O número 4 organiza a procissão: quatro Hydriaphoroi, quatro Kitharodoi, quatro Auletes, quatro ovelhas e quatro vacas. O peplos é retirado do mastro, se necessário, e dobrado por um

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jovem garoto ou garota e um sacerdote (o Arkhon Basileus), que o dará para a sacerdotisa de Atena Polias. A garota pode ser uma das Arrhephoroi (veja o festival da Arrephoria no mês de Skirophorion), que eram as filhas rituais do Arkhon; o garoto, que é seu filho ritual, pode ser o rapaz encarregado de alimentar a Cobra Sagrada. Eles correspondem às três filhas e o filho de Kekrops, o homem-serpente que foi o primeiro rei de Atenas e um grande benfeitor das pessoas. Crianças participam de muitas outras formas; algumas carregam accerai (do latim, caixas de incenso) para preencher os thymiateria (incensários). Elas também carregam pequenas e sagradas mesas e cadeiras, que são arrumadas para entreter as deusas ctônicas (da terra) aliadas com Atena: Pandrosos (Toda Orvalhada) e Ge Kourotrophos (Mãe Terra Cuidadora, a padroeira das enfermeiras). Ge Kourotrophos tem a cadeira maior, uma vez que Ela é mais importante que Pandrosos, pois Ge recebe a prothyma (primeira oferenda) de todos os sacrifícios atenienses, talvez cevada do Kanoun (cesto sagrado) ou bolos de mel trazidos pelos Carregadores de Bandeja (ambas oferendas típicas a deidades ctônicas). A cidade é especialmente agradecida a Ela pelas lindas crianças e jovens mulheres, que caminham juntas na procissão. O trigésimo Hino Homérico agradece a Mãe Terra pelas condições bem-ordenadas da beleza das mulheres; onde seus filhos exultam com alegria e jovial folia; suas filhas tocam em danças de espalhar flores, com o coração feliz, e saltando sobre campos em flor. “Assim dadas a Ti, Sagrada e Rica Divindade”. Note que, como as vítimas do sacrifício, que devem ser livres de máculas, pessoas bem-aparentadas e distintas (hoi kaloi k’agathoi) são proeminentes na procissão - a Deusa é honrada com o melhor que a cidade tem a oferecer. O novo peplos é colocado nos joelhos de Atena como um presente, e é mais tarde armazenado com os tesouros; ela não ‘troca de roupa’ desta vez, isso é feito no festival da Plynteria. Sacrifícios são também feitos para Atena Hygieia (Deusa da Saúde) e Nikê (da Vitória). Na Panathenaia Maior, os três ou quatro dias seguintes à procissão são ocupados por Agones (competições) esportivas (corridas, boxe e luta-livre) e artísticas (música, poesia). Traditionalmente o prêmio para os atletas é uma ânfora Panathenaica contendo óleo de oliva do bosque sagrado da deusa; e o prêmio para os artistas é uma coroa dourada de olivas silvestres, e às vezes dinheiro. Podem haver competições para as crianças, nas quais elas são premiadas com coroas planas de oliveira. Dez funcionários públicos chamados de Hieropoioi (Administradores dos Ritos) organizam a Panathenaia Menor; os dez Agonothetai (Diretores das Competições) administram a Maior.Devido ao tempo, ou até mesmo à ausência de uma estrutura organizada que possa estabelecer atividades envolvendo grupos grande, nem sempre é possível celebrar alguns festivais antigos presentes em nossos calendários como eles o eram celebrados na antiguidade. A maior parte dos festivais eram fenômenos que envolviam grandes aglomerações participando ou apenas assistindo, mas o fato é que os festivais religiosos gregos eram comemorações civis com grande quantidade de pessoas. Devido à desestruturação de nossa religião ao longo da história, hoje estamos reduzidos a um número pequeno de adeptos, mas nem por isso desleixados com as suas práticas.Da mesma forma que os cristãos celebram suas datas religiosas, nós temos o direito de celebrar as nossas. Em momentos como as pompês, celebrações grupais e outras momentos mais dos ritos isso fica complicado de realizar devido às questões numéricas, é aqui que surge a necessidade de adaptações.O principal momento das Panethenáicas era procissão para entrega do presente de aniversário da Deusa, era nesse momento que a cidade e seus cidadãos mostravam-se com o que tinham de melhor a oferecer para os deuses. Após isso jogos, sacrifícios e banquetes enormes eram realizadas para toda a pólis em honra de deusa Athena. Esta é a minha adaptação da celebração para moldes mais versáteis, tentando manter a máxima coerência com os significados e momentos do ritual grego antigo.

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Dia 1O primeiro dia envolve festividades mais relacionadas à purificação da casa e do altar para a deusa, bem como a entrega dos presentes e a purificação da casa e do corpo do miasma.

· Pôr-do-Sol e Noite : A celebração começa com um momento de vigília. Do pôr do Sol até a noite pode-se apagar as luzes e usar apenas velas. A casa, quarto ou altar pode ser limpa à luz das velas (preferencialmente azuis, a cor da deusa). O altar pode ser montado com motivos festivos como fitas azuis, presentes como roupas e acessórios, oferendas votivas e bolos de aniversário. Pode-se confeccionar vasos para libação, pintando-os, ou bordando toalhas para o altar dEla. Pode fazer a purificação do ambiente com khernips, após varremos bem o local e ungirmos o altar com óleo de oliva ou azeite. Quando se tem um espaço físico, pode-se fazer a purificação antiga, ou seja, a purificação pelo enxofre algumas horas antes, ou, para quem busca algo mais simples, a fumigação com incenso.

· Nascer do dia: Ao nascer do dia começam os rituais propriamente religiosos. Começamos pela preparação das ofertas e libações a serem entregues. Podemos ofertar roupas, como na antiguidade quando um peplos novo, que era confeccionado durante cerca de nove meses, era entregue como presente à deusa nas Panethenáias maiores, além disso podemos fazer outras ofertas como jóias ou acessórios em geral. Uma dica: escolha temáticas que tenham relação com a deusa, como: colares, anéis, broches ou pulseiras com serpentes, corujas ou górgonas. Como comidas podemos fazer bolos, biscoitos ou pães em formato de cabras e vacas. Para libar: azeite, vinho, mel. O ritual segue as linhas gerais: purificação (feita na noite anterior), hino à Héstia, ao deus do festival e aos deuses e heróis que se queira louvar junto, nesse caso, podemos louvar a virtude dos heróis, como Odisseu, Belerofonte. Perseu e Hérakles. Podemos relembrar mitos em que se conta como Ela sempre esteve presente nas ações desses heróis, fazendo algo como que promessas de melhorarmos nossa conduta de modo a nos tornarmos dignos de estar frente à divina face dos deuses, em especial dEla. Após isso podemos fazer as ofertas e o sacrifícios dos simulacros, agradecendo à deusa pela Sua proteção e observância durante esse ciclo, parabenizando-A pelo Seu aniversário e tudo o mais que se queira fazer, como rituais de advinhação, encenações de mitos, danças ou músicas.

Dia 2· O segundo dia fica reservado à jogos, competições e momentos de agradecimento emgeral. Se você tem filhos pode leva-los para conhecer locais importantes para a história de sua cidade, ou fazer competições com Eles. Pode-se reunir amigos e famílias para um grande churrasco (caso você coma carne opte especialmente por carnes de vaca e cabra) em honra dEla. As competições podem ser premiadas com vasos cheios de leite ou doces no caso das crianças. O importante aqui é não perder o sentido do ritual e transformar as ações em momentos indiferentes ou apenas ‘ocasiões’. Deixe claro a intensão da celebração, mesmo que os outros não compartilhem da mesma fé que você. Não é necessário que eles participem do ritual, mas apenas que respeitem e/ou entendam o motivo das festividades. Ações veladas podem ser entendidas como vergonha, do meu ponto de vista,frente à fé que defende pratica e aos deuses que você cultua.APHRODISIA - Este é o festival do banho de Afrodite Pandemos (Afrodite de Todas as Pessoas) e Peitho (Persuasão), Sua ajudante, que têm sido consideradas deusas poderosas desde o período arcaico; elas são tanto deusas da guerra e diplomacia quanto deusas do amor. Primeiro o templo é purificado (em tempos antigos, com o sangue de uma pomba, o pássaro de Afrodite) e o altar é ungido. Era celebrado na Grécia e em

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Chipre, como um festival pan-helênico com banquetes, danças e jogos atléticos.Hoje em dia, nós podemos dedicar uma rosa limpa para Ela e ungir o altar com óleo puro de rosas. (Maçãs, flores de macieira, e sprays de murta também são apropriados). Finalmente, as imagens sagradas são carregadas em uma procissão até um lugar onde elas são lavadas (reveja o festival da Plynteria no mês de Thargelion para saber mais sobre festivais de lavagem).Sugestão de celebração:

Faça o ritual de purificação como de costume. Use essências de rosa ou mirra. Consagrado o fogo do altar a Héstia, verta a primeira libação a ela: "Spondê,

Héstia, guardiã do fogo sagrado, a ti sempre o primeiro e o último!" Leia hinos antigos a Afrodite e faça uma libação a ela. Diga algo do tipo:

"Honramos o amor e a beleza e por isso nos reunimos em teu nome, Afrodite de muitas formas." Aqui você pode citar os epítetos dela, por exemplo: "Aprodite Citéria, tua é a ilha de Chipre. Afrodite Pelagia/Aligena/Anaduomene, que se ergue das espumas do caloroso mar. Afrodite Khryse (Dourada), mais valiosa que todo o tesouro da terra. Afrodite Pasiphaessa, cujo brilho poderia iluminar a mais escura noite."

Então cada participante se aproxima do altar e amarra ou coloca uma fita na estátua de Afrodite, de preferência com uma prece ou oferta verbal (hino, canção, poesia) junto.

Depois vem o sacrifício, as ofertas de maçã (lavada), rosa (com gotinhas d'água) e outras que possam lhe agradar. Diga algo do tipo "Bela e gentil Afrodite, companhia da alegria e conforto na tristeza, lembra-te das vezes que te honrei com preces e das vezes que te verti libações e te recitei hinos, e abençoa-me agora."

Faça uma libação final aos olimpianos: "Spondê, deuses imortais do Olimpo, juntem-se a nós!", uma a Afrodite, dizendo algo do tipo: "Amada Afrodite, deusa querida, digna de exaltação; agradecemos-te por tuas bençãos: pelo amor, pela paixão, pela perda e a espera, pelo desejo e a realização; por tudo te agradecemos, te adoramos e te honramos!" e uma a Héstia: "Spondê, Héstia, guardiã do fogo sagrado, a ti sempre o primeiro e o último!"

Termine o rito como de costume.

ADONIA - Festival a Adônis, celebrado exclusivamente por mulheres, por serem normalmente elas as que pranteiam os mortos. Durava dois dias. No primeiro elas levavam estátuas de Adônis às ruas e faziam um funeral das mesmas, proferindo lamentações e se batendo, para imitar os gritos chorosos de Afrodite pela morte de seu amado. No segundo dia, havia alegria e banquetes, pois Adônis retornara à vida e passa metade do ano com Afrodite.Durante esse festival, as mulheres plantavam em cestos e potes rasos os "Jardins de Adônis", feitos de cevada, trigo, alface, erva-doce e outras plantas que germinam rapidamente nos telhados das casas. Elas brotam rápido, mas também morrem logo, devido a seus sistemas de raizes não-profundas, então elas eram descartadas ao final de oito dias, junto a outras imagens do deus.A data do festival tem sido debatida. Ele era relacionado com o ciclo da lua nova no mês de Hekatombaion.

EISETERIA - Festival em honra de Zeus Boulaios e Athena Boulaia no dia 1º

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de Hekatombaion.

HEKATOMBAIA - Celebração com grandes ritos rites em honra de Apollon Hekatombaios e Zeus Hekatombaios no dia 7, dia de Apolo.

ARTEMISIA - Festival em honra de Artemis no dia 21.

PONNYKHIS - Festival que durava a noite toda do dia 27, com corridas de tochas, danças de virgens e jogos juvenis.

Metageitnion (Hyerbetaios)

ELEUSÍNIA ('Ελευσίνια) - Festival de ação de graças e sacrifícios em honra a Deméter, na época da colheita dos grãos. Não tinha relação com os mistérios de Elêusis (apesar da semelhança dos nomes). O festival, realizado a cada dois anos, incluía jogos e concursos. (O último foi em 2010.)

HERÁCLEIA ('Ηράκλεια) KYNOSARGOUS - Festival das crianças ilegítimas (crianças de pais não-casados).

METAGEITNIA - Este é um festival pequeno em honra de Apolo pela Sua habilidade de trazer a harmonia. É uma celebração de boas relações com o próximo.

BRAURONIA - Celebração a cada 5 anos na cidade ática de Brauron para Ártemis como Potnia Theron, a senhora dos animais. As meninas (de idade entre 5 e 10 anos) vestem túnicas amarelas e máscaras com pêlos de urso, dançando e cantando para reverenciá-la como Deusa dos Ursos. (Também havia um festival Brauronia em Brauron para os homens e mulheres dissolutas em honra a Dionísio, mas não se sabe se era na mesma data que o de Ártemis, o mais provável é que não.) - Ver "Braboneia" no mês de Mounykhion.Boedromion (Dios)

ANO NOVO ESPARTANO - O ano na Lacônia começa no mês de Boedromion, enquanto o ateniense começa no mês de Hekatombaion, 2 meses antes.

NIKETÉRIA (Νιχητήρια) - Festival em honra de Niké, deusa da vitória.

GENÉSIOS (Γενέσιος) ou Genesia - Festival Ateniense público em honra dos mortos. (As famílias honram seus mortos nos seus aniversários de falecimento). Há lamentações e discursos de louvor. Nos tempos antigos, o equinócio de outono (aproximadamente) marcava o fim do tempo das campanhas de verão, então muitos desses festivais (Genesia, Kharisteria, Boedromia) estão relacionados ao fim das lutas.

ARTEMIS AGROTERA (Άρτεμις Άγροτερα) - festival à Ártemis como deusa da caça, Artemis Agrotera (Caçadora), já que o 6º dia é o aniversário dela. Depois da vitória ateniense na Maratona, esse festival se tornou conhecido como KHARISTERIA ("Ação de Graças"). Kharisteria é o dia em que o Rei Teseu de Atenas derrotou as amazonas na batalha de Ática (a Amazonamaquia) e é considerado o dia da perda do matriarcado, onde a Rainha das Amazonas Antíope ficou ao lado de seu marido e os atenienses lutaram contra as amazonas. Antíope foi morta por Molpadia. Este é um dia de lamentações para elas/nós. Um mês depois

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será o 'orkomosion', que é o sacrifício das amazonas realizado antes da festividade da Theseia. As amazonas assinaram um tratado de paz com Teseu, por isso esse foi chamado o 'dia do juramento'.

BOEDROMIA - Este festival é uma ação de graças menor, para Apolo (uma vez que o dia 7 é seu aniversário), em gratidão a ele como um resgatador na guerra.Boedromia é dedicado a Apolo Boedromios ("o que ajuda na aflição", "o que corre para ajudar alguém") era um festival de conotação militar, agradecendo sua intervenção nas guerras. Ele poderia ser a comemoração de um evento como a ajuda trazida a Teseu na batalha contra as amazonas ou como o auxílio dado ao rei Erecteus durante seu embate contra Eumolpus. Neste dia também se faziam sacrifícios a Artemis Agrotera. Artemis Argotera tinha um templo no século V AEC, com uma estátua carregando um arco. Durante o Boedromia,  uma procissão armada levava 600 cabras para o templo, que eram sacrificadas em honra da vitória na Batalha de Maratona. Era um 'sacrifício matador' (sphagion) para Artemis Agrotera. O templo foi destruído em 1778, quando os otomanos que ocupavam Atenas demoliram antigos locais para ter material para construir uma muralha em torno da cidade.

DEMOKRATÍA (Δημοχρατία) - Festival no qual os atenienses celebravam a democracia, o governo constitucional, e a justiça sob a lei. Eram honrados Zeus Agoraios, Atena Agoraia e à deusa Têmis. Ela é a deusa da lei divina, as primeiras leis não escritas que governavam a conduta humana e que foram estabelecidas primeiro pelos deuses celestes. Você pode ler o Hino Órfico a Têmis, e pode recitar a Zeus e Atena [como deidades do mercado/ágora] este trecho de Euforion de Calcis, no século III AEC: "Enviem Eirene (Paz) com sua prosperidade aos homens! E, no mercado, deixem vir Têmis, retribuidora das boas ações; e, ao lado dela, Dike (Justiça), que salta como um tigre atacando em ira as ações dos homens sobre os quais ela olha - aqueles que provocam os deuses e desvirtuam seus mandamentos [isto é, suas 'themistai' ou 'leis divinas'] e de tal forma tratam seus frágeis pais com arrogância, zombando do conselho dos vivos e dos mortos; ou transgridem o banquete hospitaleiro e a mesa de Zeus."

PREPARAÇÃO para os Grandes Mistérios de Eleusis - as preparações começam dois dias antes dos Mistérios, pois no dia 13 dois cavaleiros, os Epheboi (Adolescentes), viajavam para o Eleusis e no dia 14 eles acompanhavam Ta Hiera (as Coisas Sagradas, ou os "sacras"), contidas no círculo Kistai amarrado com fitas púrpura, que eram trazidas pelo vagão da carroça até Atenas - algumas fontes dizem que as sacerdotisas carregavam as cestas na cabeça -, onde eram recebidas no santuário (Eleusinion). As sacerdotisas percorriam em silêncio os 30 km que separavam Eleusis de Atenas. Um oficial, o Phaidryntes (Limpador) das Duas Deusas, relata sua chegada à Atenas, quando a sacerdotisa de Atena oferece respeito às duas sacerdotisas de Demeter. (As duas Deusas são, claro, Demeter e Perséfone, mas seus nomes são considerados sagrados demais para serem mencionados nos ritos).

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Agyrmos (Colheita) - Os "sacra" eram depositados no Eleusinion, o santuário de Demeter na Ágora (templo) de Acrópolis, até o dia seguinte, quando eram purificados no mar. Os 'que-seriam' Mystai, que já devem ter sido iniciados nos Mistérios Inferiores, entram na Ágora. O Kerykes (Arauto) chama-os para seguir em frente, e informa-os que eles devem ter "uma consciência (alma) de não maleficência" e que eles "devem ter vivido bem e justamente". Aqueles afligidos pela 'culpa sangüínea' ou outras impurezas são advertidos a sair (todos aqueles

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que tinham cometido algum delito ou que não falavam grego). Nesse momento nomes podem ser tomados e pode-se assegurar de que o postulante já foi iniciado nos Mistérios Inferiores. O postulante passa o resto do dia em exercícios espirituais recomendados pelo seu ou sua Mystagogos.

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Holade Mystai (Em direção ao mar, Iniciados!) - O segundo dia é para a purificação. As sacerdotisas levam os "sacras" escoltadas pelos epheboi. Os postulantes - vestidos com túnicas brancas - viajam para o mar (ou outro lugar para ritual de limpeza). Ao comando dos tambores e dos gritos de "Em direção ao mar, Iniciados!" dos(as) sacerdotes(isas), os postulantes entram na água com suas ofertas, onde ambos podem ser purificados pelo sal da água. Nos tempos antigos, a oferta era um leitãozinho, que era fornecido ao postulante, porque o porco é sagrado para Demeter. No começo da noite o leitão era sacrificado e o postulante era aspergido com o seu sangue; mais tarde havia uma festa com a carne do porco. Hoje em dia nós costumamos usar milho cozido como oferta, e o postulante é aspergido com a água onde o milho foi cozido.

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Hiereia Devro (Perto das Vítimas) - O terceiro dia é para o sacrifício principal às Duas Deusas. (Veja "Sacrifício Neoclássico" para mais detalhes).

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Epidauria/Asclepia - Festival em honra de Asclépio - Neste dia o(a) postulante é isolado (a) entre paredes para se preparar mentalmente para a iniciação. Há também celebrações para o deus Asclépio (Deus da cura) neste dia. Ele vem, com sua filha Higéia (Saúde) e sua cobra sagrada, e requere a iniciação do Eleusiniano. Por meio de libações de vinho chamadas trygetos, invocava-se a proteção de Dionísio e Asclépio. Os sacerdotes preparavam kykeon, a bebida sagrada, e os iniciados continuavam recolhidos e jejuando. O Epidauria incluía uma procissão com mulheres carregando ofertas e um banquete com um sofá para o deus deitar. Esse festival ocorria exatamente seis meses antes do Asklepieia, que ocorria perto do Cidade Dionísia.

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Pompe (Marcha para Eleusis) - O cavaleiro Epheboi, o postulante Mystai, seu Mystagogoi, o iniciado Mystai, e a escolta de oficiais Ta Hiera voltam pelos 30 km até Eleusis. A procissão começa no santuário de Iaco, e seu sacerdote, o Iakkhogogos (Guia de Iaco), lidera a procissão com a sagrada imagem de Iaco, que o retrata como um jovem portador da tocha. Iaco é o nome Eleusiniano de Dionísio/Baco; na procissão ele é o regozijante atendente das Duas Deusas, e mediador entre elas e o Mystai. As marchas são acompanhadas pelos músicos (flauta, harpa, voz); todos se unem em um grito de êxtase, "Iakkhe!" ("Grite!"). O Mystai veste roupas novas, uma guirlanda de murta e pode carregar bakkhoi (ou bacchus), que são cajados feitos de galhos de murta entrelaçados e atados com lã (símbolos da morte do velho e nascimento do novo); eles também podem carregar uma sacola de necessidades de viagem numa estaca. Observações religiosas são feitas pelo caminho. A procissão parava em certos lugares para deixar oferendas sob as hiera syke (figueiras sagradas). Em um lugar o Krokidai amarra uma linha de lã amarela (kroke) na mão direita e perna esquerda de cada postulante. Em outro lugar, na ponte sobre o rio Kefisos, os sacerdotes (mascarados ou disfarçados) expunham, publicamente, os vícios e as verdades vergonhosas dos iniciantes, que deveriam ouvir com humildade e não protestar. A intenção era expor o velho Eu para que ele morresse

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de vergonha e pudesse renascer. A parte final da procissão é com danças e cânticos à luz de tochas, porque Demeter é tradicionalmente retratada procurando Core pela luz da tocha. À noite o postulante oferece a Demeter o Kernos, que é um prato de barro com muitos pequenos copos junto; pequenas oferendas de frutas da terra (grãos, ervilhas, feijões, etc) são colocadas nos copos. O postulante divide-as com a Deusa.

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Iniciação1) Synthema. No dia de iniciação, sacrifícios de produtos de milho são feitos para as Duas Deusas. Em simpatia com Demeter quando ela pranteou a ausente Core, os postulantes jejuam e preparam a si mesmos mentalmente para o rito sagrado. Ao início da noite, como Demeter quando ela aceitou a bebida de Metanaira, os postulantes bebem o Kykeon (bebida misturada), feita de água engarrafada, produto da cevada fermentada, e menta 'pennyroyal'. (Há divergências quanto os ingredientes do Kykeon, mas esta é a fórmula dada no "Hino Homérico a Demeter"). A mais famosa inscrição sobre este dia resume o que os iniciados faziam: "Eu jejuei, eu bebi o kykeon, eu peguei algo no cesto, eu coloquei algo de volta no cesto e depois passei do cesto para o meu peito". O 'retirar do cesto' se refere aos objetos sagrados (uma esfera, um cone e um espelho), o 'colocar de volta' designa as oferendas' e a menção ao peito assinala o complemento de um ciclo: tirar - devolver - se preparar de novo, com preces e encantamentos.2) Epopteia. A iniciação, que dura até a noite, se dá em uma construção fechada chamada de Telesterion (Lugar de Iniciação); no seu centro fica o Anaktoron (Lugar do Anax - Rei), o "Sagrado dos Sagrados" para onde ninguém além do Hierophantes (Revelador) é admitido. Os ritos específicos da iniciação são, claro, secretos, e não foram revelados até hoje (embora uma grande quantidade de conjecturas tenha sido publicada). Antes de entrar no Telesterion, eram feitas oferendas de cereais e sacrifícios de leitões na gruta de Hades, no templo Plutonion. Uma pedra na entrada da gruta, chamada "omphalos" (o umbigo do mundo) assinalava a transição da luz para a escuridão, a descida de Perséfone ao mundo subterrâneo, revivida pelos iniciados que encarariam os fantasmas de seus medos da morte e as aparições tenebrosas dos espíritos dos mortos. Depois desse momento de sofrimento, os iniciados presenciavam o Hieros Gamos (Casamento Sagrado), a união ritualística dos sacerdotes e a encenação do nascimento de Iaco, a criança divina, (que nasce e morre anualmente nos ciclos de renovação), simbolizada por uma espiga de trigo elevada pelo sacerdote no meio de luzes e ao som de címbalos. Em seguida, havia a revelação dos objetos da cista mystica, a cesta sagrada de Demeter e a celebração da continuidade da vida após a morte com os gritos de Ye (chuva) e Kye (nascimento), ou seja, "flua e conceba", a chuva fertilizando a terra.3) Mysteriotides Nychtes, a noite dos mistérios. Reencenava-se o mito de Demeter e Perséfone em três estágios: o das Coisas Ditas (legomena), Coisas Feitas (dromena), e Coisas Reveladas (deiknymena). Há música, canções, e discursos; há ações rituais; há revelações sob a luz da tocha. Desse modo, o Mystai participa da alegria de Demeter na restauração de Perséfone - a transformação de Core, a donzela, em Perséfone, a Rainha das Sombras, esposa de Hades, senhor do mundo escuro dos mortos. O efeito dos Mistérios no iniciado é profundamente transformador, representando a esperança da vida renovada, a coragem em enfrentar as sombras e o medo da morte e a confiança no eterno ciclo das reencarnações. Mesmo as roupas usadas durante a iniciação são consagradas mais tarde. Os Epoptai (Aqueles Que Têm Visto) são iniciados do nível mais alto (que deve ter sido um Mystai pelo menos por um ano), que abraçaram o símbolo supremo de Demeter, como Triptolemos - o primeiro Iniciado - abraçou-o, e

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eles têm testemunhado o Hieros Gamos de Demeter e Zeus.

GRANDES MISTÉRIOS DE ELEUSIS - Plemo Choai / Plemokhoai - A celebração dos vasos sagrados que representam o ventre fértil de Demeter. Cada Mystes tem duas cheias d'água Plemokhoai (Enchentes da Maré), que são vasos de barro em forma de um alto parafuso. Um é com a ponta virada para o leste e outro para o oeste, enquanto o(a) Mystes pronuncia um feitiço conhecido somente pelos iniciados. São reverenciados os ancestrais com libações de vinho e oferendas. Os sacerdotes levam as oferendas para as frestas da terra e despejavam o conteúdo uma para o leste e outro para o oeste. As pessoas gritavam "hye, kye" (flua e conceba) e os sacerdotes invocavam o princípio paternal (para fluir) e a origem maternal (para conceber). Depois as pessoas comiam romãs e maçãs, as frutas do renascimento, comemorando a continuidade da vida e encarando a morte como uma simples pausa entre as vidas.

Obs.: Grandes Mistérios dos Eleusis ("Eleusina ta Megala" - Ελευσίνια τα μεγάλα, 15 a 21 de Boedromion) - Os Mistérios de Eleusis, os "Mistérios da Mãe e da Filha", são oriundos de um antigo festival da colheita dos cereais, um festival para a semeadura de outono. Eles eram, claro, mistérios, então algumas coisas sobre eles permanecem ocultas; em particular, os conteúdos dos Sagrados Kistai (caixas) e a atual iniciação dos Mystai (Iniciados). Qualquer pessoa pode ser iniciado, independente da idade ou do sexo. O festival é conduzido por Arkhon Basileus e quatro assistentes. Dois deles, os Hierophantes e Dadoukhos (Portador da Tocha), usavam os ependytes (uma túnica de mangas longas ornamentada na bainha e nos ombros), uma faixa na cabeça e botas Thrakian que vão até o joelho; eles carregavam uma ou duas tochas longas. Além disso, há os Mystagogoi (Guias Iniciados), que guiam os postulantes - normalmente seus amigos - até a iniciação.

NINFAS, AKHELOUS, HERMES, GÉIA e ATENA - Ninfas: protetoras das fontes, rios, montanhas, mares, prados, lagos, pântanos, vales e florestas. Achelous: deus do Rio Aquelous (ou Aspropotamos) - o maior da Grécia, filho mais velho de Oceano e Tétis, assumia a forma de um touro, Héracles pegou um de seus chifres e fez a Cornucópia (chifre de plenitude). Hermes: mensageiro dos deuses. Géia: a Terra.Como celebrar hoje: Faça as seguintes preces (frases adaptadas de trechos de Hector Lugo para outros deuses e ocasiões):Akhelous, Alokhus, Hermes... "Ανοίξτε τις πύλες. Καλώς ήλθατε στον κόσμο, ο κύριος μου. | Abra os portões. Bem-vindo ao mundo, meu senhor." Ninfas, Gaia, Atena... "Ελάτε Μεγάλης Κυρίες. Ευλογήστε με μέ την παρουσία Σας. | Venham, Grandes Damas. Abençoem-me com vossa presença."

Pyanepsion (Apellaios)

PROEROSÍA (Προερωσία) - Festival para obter as bênçãos de Deméter na preparação para o arado e semeadura na estação agrícola (proerosia = coisas antes do tempo de cultivo); em tempos antigos isso era feito nos Eleusis. Este festival imediatamente precede a Pyanepsia, que é feita em honra de Pythian Apolo, porque Seu oráculo disse aos Atenienses para iniciar a Proerosia a fim de levar a fome (escassez absoluta) mundial ao seu fim. Sob o comando de

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Hierophantes, o Arauto Sagrado proclama a Proerosia, reconta o mito de sua fundação, e chama pela oferta dos primeiros frutos (na maioria das vezes cereais, especialmente cevada e trigo).

PYANÉPSIA (Πυανέψια) - O Pyanepsia é um festival dos recentes frutos colhidos no outono que recorre às bênçãos divinas para a semeadura no mesmo outono. Esse festival muito antigo era no princípio em honra de Phoebos Apolo como deus sol, mas também para Hélio (Sol) e as Horas; todos são considerados deidades vegetativas, talvez por causa da Sua conexão com o sol. Mais tarde, desde os tempos Miquenianos os Atenienses nativos têm considerado eles mesmos como descendentes do Sol (a quem os Miquenianos podem ter chamado de Pa-ya-wo = Phoibos = Brilho) e Ge (Terra). Além disso, o festival é celebrado no sétimo dia, e em cada sétimo dia de cada mês grego (que é o primeiro quarto da lua) o aniversário de Apolo é celebrado. Na procissão cada Pais Amphithales (Criança com Dois Pais Vivos) carrega uma Eiresione. Tipicamente uma Eiresione é um ramo de oliveira carregado por um suplicante e envolto com lã (eiros = lã), mas nesse caso é um ramo de louro (consagrado a Apolo), talvez com dois ou três pés de comprimento, decorado com frutas de verdade e com modelos de harpas, copos e ramos de videira, feitos de massa (de confeiteiro), todos símbolos de frutificação. Numa espécie de Prendas-ou-Travessuras as crianças levam a Eiresione a cada casa e cantam: 'A Eiresione traz ricos bolos e figos e mel em um jarro, e óleo de oliveira para santificar você, e copos de vinho maduro que você pode beber e adormecer'. Se o ocupante da casa dá um presente às crianças, ele ganha uma Eiresione que abençoa a casa pelo resto do ano. Normalmente ela é amarrada acima da porta da casa, assim como era amarrada acima da porta do santuário de Apolo quando a procissão chegava. Se nenhuma Pais Amphithales vier à sua casa, você pode abençoá-la você mesmo com a sua própria Eiresione. O festival deriva seu nome de um cozido de feijões (pyanon epsein = cozinhar feijões) e outros vegetais leguminosos e cereais que são cozidos num pote (khytros) e dividido pelos celebrantes e o Deus; esse cozido é uma típica Panspermia (Todas-as-Sementes) grega. De acordo com a lenda, essa era a oferenda votiva que Teseu e sua tripulação fizeram a Apolo quando ele retornou para a Grécia naquele dia, com tudo o restava de suas provisões. Por outro lado, também é um típico ritual de semeadura, para 'combinar' que todas as plantas comestíveis fossem semeadas e divididas com o Deus, rezando para que o próximo ano fosse abundante.Panspermia

Receita de Panspermia

Rendimento: 100 porções

2,3 kg de trigo em grão500 grs de gergelim500 grs de amêndoas sem pele2 xícaras de nozes picadas1 xícara de noz pecã picada1 xícara de groselhas (opcional)500 grs de uvas passas brancas sem caroço

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500 grs de uvas passas escuras sem caroço3 colheres de sopa de canela em pó1 colher de sopa de cravos moídos½ xícara de salsinha picadaSementes de 1 romã (opcional)200 gr de farinha de rosca peneirada11/2 a 2 kg de açúcar de confeiteiro500 gr de amêndoas confeitadas brancas85 grs de confeito prateado (um pacotinho)

Cobertura:4 xícaras de açúcar2 xícaras de água6 claras                                                                                                       (foto: Kriosa Lysia)1/2colher de sopa de creme de tártaro1 colher de sopa de baunilha

Presumindo que será servido no domingo, comece a preparação na noite da sexta feira.Etapa 1. Escolha o trigo para retirar objetos estranhos. Coloque o trigo em uma panela grande, encha com água e deixe a água escorrer lentamente na panela para cobrir o trigo, mexendo nos grãos de modo que qualquer palha solta e pó serão lavados. Preencha a panela com água limpa e deier repousar durante a noite. Na manhã seguinte, escorra toda a água e coloque o trigo em uma panela grande o suficiente para acomodar 2 partes de água e 1 parte de trigo. Cozinhe em fogo médio até ficar macio, mexendo sempre com a colher de pau para evitar que grude.Etapa 2. Escorra o trigo, lave e espalhe sobre a mesa coberta com várias camadas de pano limpo para absorver completamente a umidade. Ocasionalmente vire o trigo para facilitar a secagem. Esse processo leva de 2 a 4 horas.Etapa 3. Enquanto o trigo está secando, prepare os outros ingredientes. Despele amêndoas, parta em pedaços e doure em forno moderado. Coloque o gergelim em um aforma rasa e doure em forno moderado mexendo sempre. Transfira o trigo para um tecido grande e limpo, adicione o gergelim torrado, as amêndoas, nozes picadas, groselhas, uvas passas, a salsa e as sementes de romã. Com as mãos e uma espátula larga, misture devagar e bem.Etapa 4. Cubra o fundo de uma bandeja de 40X60 cm com papel alumínio. Guardanapos de papel branco ou prata pode ser colocado em volta da bandeja, ultrapassando a borda da bandeja. Molde a mistura de trigo na bandeja. Termine cobrindo a bandeja completamente. (Se toda a mistura de trigo não couber na bandeja, o restante pode ser colocado em uma tigela e levado para o templo/altar junto com a bandeja decorada.)Etapa 5. Cubra o trigo com uma folha de papel manteiga. Pressione firmemente alisando a superfície da massa. Peneire farinha de rosca sobre toda a superfície. A camada de farinha de rosca deve ser de 6 mm de profundidade. Peneire açúcar de confeiteiro sobre a superfície inteira.Pressione firmemente com papel manteiga. Peneire mais açúcar e pressione com firmeza até que o açúcar é 3 mm de profundidade. Faça a superfície firme e reta, totalmente coberta.Etapa 6. Decoração: a forma desejada é desenhada em papel e cortada para servir de molde. Posicione a imagem no monte e risque no açúcar com um palito. Remova o molde de papel. Com a ponta de uma colher de chá, cuidadosamente remova o açúcar

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de confeiteiro no contorno para aparecer a camada de farinha de rosca.Use o mesmo procedimento para letras/iniciais do que se quiser escrever (como uma homenagem a um ancestral ou ente querido falecido ou deidade).Etapa 7. Cobertura: Ferva o açúcar e a água (sem mexer) até o ponto de fio. Bata as claras em neve e despeje a calda quente de forma lenta e constante, sem parar de bater. Adicione o creme de tártaro e a baunilha e bata até esfriar e estar firme o suficiente para manter a forma quando sair do saco de confeiteiro.Etapa 8. Coloque a cobertura no saco de confeiteiro, preencha onde removeu o açúcar na figura/frase desenhada, cerca de 1,5 cm acima da superfície. Decore a imagem como desejar com confeitos, usando uma pinça para colocá-los. Use o restante da cobertura para fazer 2 ou 3 linhas em torno do monte, decore com amêndoas e confeitos como desejar.

Nota: Essa mistura de trigo é perecível. Deve ser mantida sob refrigeração, especialmente se for para ser mantida para o dia seguinte.Também: A tradição dita que deve usar sempre um número ímpar de libras de trigo, ou seja, 3, 5, 7 e 9 ou 11. (Nota da tradutora: Essa tradição vale pra Itália, há um monte de receita que tem que usar sempre ingredientes em número ímpar. Na tradução de libras, onças e coisas do tipo para quilos e gramas, isso se perdeu, mas no original temos muitos números ímpares.)

Fonte: Mrs. B. K. Taras (Bessie), in "It's Greek to Me!" cookbook, c. 1981.

Foto da Panspermia feita por: Kriosa Lysia, do grupo NeokoroiPS. (Kriosa): A Wikipedia fala que atualmente as igrejas que adotaram o prato [Koliva] têm um cozinheiro específico para fazê-lo a fim de evitar os perigos da fermentação. Isso nos faz pensar se ele ainda seria comestível/gostoso quando fermentado e, se fosse, se talvez isso não seria parte do que se esperava na versão antiga dessa refeição.

Tradução: Sarah Helena, com pequenas adaptações da AlexandraPS. (Álex): Esta receita pode ser utilizada como oferta e banquete em vários rituais, mas recomenda-se especialmente para a Pyanepsia.

THESEÍA (Θησεϊα) - O oitavo de cada mês é consagrado a Poseidon, então é apropriado que Seu filho, Teseu, seja honrado no dia seguinte à Pyanepsia e Oskophoria (assim como no oitavo dia de cada mês). Há uma procissão, sacrifícios, jogos atléticos (times com corridas de tochas e eventos de pista e campestres), e uma festa na qual carne é distribuída para as pessoas (celebrando Teseu como benfeitor popular e herói democrático). A festa inclui Athare (ou Athera), uma refeição de trigo descascado cozinhado em água e leite.

STÉNIA (Στένια) - A Thesmophoria propriamente é precedida por dois dias pelo Stenia, um festival noturno de mulheres para Démeter e Perséfone em preparação para a Thesmophoria. As mulheres se envolvem numa Aiskhrologia (linguagem suja, abuso), proferindo insultos umas a outras para comemorar o modo com que Iambe fez a ofendida Démeter rir (veja os Hinos Homéricos a Démeter). Também pode ser por causa de quando os Thesmoi (Coisas Deitadas) eram colocados nas cavernas do santuário de Démeter; que incluem modelos (em massa de farinha) de cobras e

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genitália masculina e carne de leitões sacrificados, e outros símbolos de fertilidade (porcos por causa da sua fertilidade); desse modo o túmulo da Mãe é fertilizado; e eles irão ser removidos na Thesmophoria apropriada. (Outros dizem que os Thesmoi são depositados na Skirophoria).

THESMOPHÓRIA (Θεσμοφόρια) - ANODOS (Ascensão) - Festival oriundo dos cultos neolíticos de celebração da colheita dos cereais e oferenda de leitões. As mulheres se reuniam e praticavam rituais relacionados à fertilidade das plantações, animais e pessoas. Durante a Thesmophoria, as mulheres acampam por três dias no Thesmophorion, o santuário ao lado da colina, de Démeter Thesmophoros, a guardiã da lei. Sob a direção de duas Arkhousai (Oficiais), as mulheres seguem em procissão com os suprimentos necessários para três dias e duas noites, e demarcam seu acampamento, que é organizado em fileiras de abrigos ou barracas com corredores entre eles. As mulheres dormem no chão, geralmente duas por barraca.

THESMOPHÓRIA (Θεσμοφόρια) - NESTEIA (Abstinência) - Dia em que todos jejuavam, prisioneiros eram libertados, anistias eram conferidas, julgamentos suspensos e todos veneravam Démeter. Neste segundo dia as mulheres sentam no chão e se abstém de toda comida sólida, em humildade e simpatia pelo pranto de Démeter (quando ela também recusou uma cadeira), mas também para transferir sua força ao solo. Quando a fome começa a atormentar seus estômagos, elas também se envolvem numa Aiskhrologia (linguagem abusiva); algumas dizem, relembrando Iambe e Démeter, que seus insultos são falados em versos iâmbicos, a métrica tradicional de escárnio (de gozação). As mulheres podem também chicotear umas às outras com um açoite feito de morotton (casca de árvore trançada). A obra 'Thesmophoriazousai' de Aristófanes contém dois belos hinos típicos dessas canções do dia, mas eles são longos demais para serem reproduzidos aqui. Diz-se que neste dia invocava-se a justiça divina para aqueles que tinham transgredido as leis, ofendido a moral da comunidade ou agredido as mulheres.

THESMOPHÓRIA (Θεσμοφόρια) - KALLIGENEIA (Descendência Honesta) - A caída da noite traz o início oficial do terceiro dia, e há uma cerimônia à luz de tochas, por causa da visão que Démeter teve de Perséfone à luz da tocha. Dizem que nesse momento havia o ritual de Kathodos e Anados, a cerimônia do "ir abaixo e voltar para cima", quando os Thesmoi são removidos da terra pelas sacerdotisas chamadas Antletriai (conchas, baldes), de quem a pureza nos três dias do ritual (incluindo abstinência sexual e o evitar contato com objetos de ferro) é requerida. Enquanto as mulheres batem palmas para afastar as cobras sagradas que guardam as cavernas, as Antletriai entram nas grutas -- vestidas com túnicas vermelhas --, coletam os Thesmoi em cestas, e colocam a matéria emputrecida (geralmente leitões) no altar de Démeter e Perséfone, ou seja, nas fendas da caverna. Era um ritual perigoso, pois nessas fendas existiam serpentes que se alimentavam das oferendas. As sacerdotisas as espantavam com chocalhos. Mais tarde, o "composto" é removido do altar e misturado com grãos para ser semeado no mês seguinte (entre novembro e dezembro). Era uma fertilização mágica, feita pelas mulheres que não tinham tido nenhuma morte em suas famílias. Neste rito, podemos observar a regra do círculo da vida e morte na fertilização da Terra. O jejum acaba e o resto do dia é pleno de celebrações de júbilo pelos presentes das belas crianças, até que as mulheres desarmam o acampamento e voltam para casa.

KHALKEÍA (Χαλχεία) - Nestes dois dias os Ergastinai (Trabalhadores), incluindo a

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sacerdotisa e os Arrhephoroi (veja Arrhephoria), colocam lã no tear para fazer o tecido do novo peplos (manto) de Atena, que será tecido por nove meses e será presenteado a Ela na PanAtenaia. A decoração, semelhante a uma tapeçaria, representa em cores brilhantes, como o amarelo e o azul, a Gigantomaquia, uma especial defesa de Atena aos Enkeladus.Como celebrar hoje: É um dia de artesanatos ou de descansar deles? Pode ser um bom dia para começar um projeto de longo prazo, principalmente um que contribua para um festival posterior do calendário. Leia o Hino Homérico XX a Hefesto e Atena, assim como o Hino Órfico 32 a Atena também.

OSKHOPHORIA - A Oskhophoria é um festival da vindima e do fazer-vinho, em agradecimento a Dionísio, feito no mesmo dia da Pyanepsia, quando os Mistérios de Dionísio também aconteceram. Nós podemos achar que os dois são aparentemente pólos opostos, Dionísio e Apolo, sendo honrados no mesmo dia, mas nós não devemos esquecer que Eles também dividiram o santuário em Delfos: Apolo era honrado no verão e Dionísio no inverno (quando Apolo estava na Hyperborea). Uma antiga krater (tigela de mistura) mostra-os apertando as mãos sobre o Omphalos em Delfos. Há uma procissão do templo de Dionísio para o templo de Atena Skira, porque a colheita da uva é um aspecto do interesse Dela no bem-estar da comunidade (cf. o Arrhephoria e Skirophoria, ambos no meio de junho). Esse aspecto de Atena pode derivar da deusa vinícola Skiras, adorada em Salamis, uma vez que ela foi até Atenas (veja a explicação do festival de Skirophoria para outra idéia do significado de skira). A procissão é liderada pelos dois Oskhophoroi (Portadores dos Ramos da Videira), jovens homens que carregam ramos ainda com uvas (oskhoi) e são vest idos como mulheres, o que relembra a androgenia de Dionísio, já que eles usam a mesma Ionic khiton (túnica que vai até o tornozelo) como Ele às vezes faz. Atrás deles vem um coro cantando hinos especiais ao Deus. Eles são acompanhados por um arauto, que tem uma coroa (guirlanda) em volta de seu bastão, e não em volta da sua cabeça, como seriam os costumes normais. Isso se explica pelo mito de Teseu: quando seu arauto disse aos Atenienses da volta de Teseu, nos seus júbilos eles tentaram coroá-lo com uma coroa de flores, mas ele se recusou porque ele tinha sabido da trágica morte do pai de Teseu. Então ele voltou a Teseu com a coroa de flores no seu bastão. A procissão também inclui Deipnophoroi (Portadoras do Jantar), mulheres que trazem a comida da festa sagrada que segue o sacrifício. Uma porção de carne é queimada para o Deus e uma parte é comida pelos celebrantes; o resto é dividido para ser levado para casa. Estórias são contadas durante a festa, especialmente a estória de Teseu e Ariadne, e como ela foi reivindicada por Dionísio. O Deipnophoroi representa a Mãe dos Duplo-Sete, que traz a carne, pão e estórias acalentadoras para suas crianças, as sete donzelas e sete mocinhos escolhidos para navegar até Creta para serem sacrificados ao Minotauro (uma confrontação ritual das "Belas" com a Fera). A lenda também explica o porquê do travesti Oskhophoroi, que foi porque Teseu escolheu dois garotos com aspectos femininos, e treinou-os para andar e agir como garotas, então eles seriam substitutos para duas das sete garotas, e eram destinados a proteger os outros. No festival eles carregam ramos de videira e lideram a procissão, e eles representam o triunfo de Teseu, em agradecimento a Dionísio e Ariadne. Quando a procissão chega no santuário, há canções, tanto alegres como tristes, e libações são feitas ao Deus, seguidas por gritos de: "Eleleu! Iou! Iou!". Um brado um tanto paradóxico, já que "Eleleu!" (pronunciado "e-le-LU!") é um grito de encorajamento (de elelizo, para reunião), e "Iou!" (pronunciado "iú!") é um grito de aflição (do latim Heu!). Isso era explicado pela mista alegria e pesar da volta de Teseu e morte de seu pai, mas também celebra a morte e a

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ressurreição de Dionísio como um Deus Vegetativo. Recomenda-se, neste dia, misturar vinho da safra anterior com a atual e beber um copo, pedindo a cura dos males antigos e recentes.

APATYRIA - ANARRHYSIS (Sacrifício) - Sacrifícios são feitos a Zeus Phratrios e Atena Phratria, que vigiam os Phratriai. Às vezes Dionísio é também incluído, o que é explicado pelo mito da luta entre Melanto, o Rei Sombrio, e Xanto, o Rei Justo. Dionísio, aparecendo a Melanto numa pele de cabra negra (Melainaigis), o distrai, e permite que Xanto o corte (o atinja). Hefesto também pode ser honrado neste dia.

APATYRIA - KOUREOTIS (Juventudes) - Neste dia há muita celebração pelos novos membros que são introduzidos à Phratria; para muitos isso será feito no primeiro dia de Apatyria depois que eles nascem, embora a introdução completa só seja feita na puberdade (quando eles devem oferecer seu cabelo cortado aos Deuses). Uma esposa também pode ser introduzida depois de se casar com um membro da Phratria. Logo, pode-se tornar um membro pelo nascimento, pela entrada na vida adulta ou pelo casamento. Em cada caso o parente ou outro responsável deve financiar o sacrifício de introdução.

APATYRIA - EPIBDA (Dia Seguinte) - Não é uma parte formal do festival, mas uma "manhã seguinte" para a recuperação das festanças (orgias) precedentes. (Há muita bebida durante a Apatyria).

Maimakterion (Andynaios)

POMPAIA (Πομπαϊα) [último terço do mês] - Em uma procissão (pompaia) através da cidade, sacerdotes carregam o Dion Kodion (Espólio Sagrado), a pele da ovelha sacrificada a Zeus Meilikhios (Aberto à Propiciação, Gentil), um aspecto submundano de Zeus no qual Ele aparece como uma cobra e é especialmente protetor das crianças. No Pompaia um sacerdote também carrega a varinha mágica com cobras entrelaçadas de Hermes. Por este rito, tempestades e outros males são dirigidos para fora da comunidade, e a mais recente semeadura de grãos é protegida. Um indivíduo poluído pode se purificar permanecendo com seu pé esquerdo no Espólio, que absorve a poluição. Ou então ele pode se sentar descalço no espólio, com a cabeça coberta, e ser purificado por um sacerdote que lhe aplica o Likhnon ('Ventarola Sopradora'). O Pompaia corresponde à primaveril Diasia para Zeus Meilikhios, onde a chegada da primavera une seres comuns para os festivais agrícolas gregos.

MAIMAKTERIA - Neste mês começa o inverno no hemisfério norte, então as pessoas faziam preces a Zeus Maimaktes (Tempestuoso) para ser gentil. Como senhor dos ventos, reza-se para que Ele possa ser gentil com as pessoas, plantações e casas nessa estação. Que ele traga calor e felicidade na brisa.Como celebrar hoje: Podemos nessa época pedir boas chuvas, já que para nós será verão.

Libações da Hellenion

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Janeiro-HeraSugestão:

Fazer a purificação do miasma, inclusive lavando as mãos com a água lustral antes de começar.

Circular o altar em sentido anti-horário para deixar suas ofertas. O altar de preferência deve estar voltado para o leste e ter imagens de Hera e coisas associadas a ela. Uma tigela para receber as libações estará no altar, assim como a vela com a chama sagrada.

Erguer as mãos para cima e dizer essas partes retiradas do Hino Homérico a Hera:

"Ouça-me, Hera Parthenos (virgem), Hera Zygia (unificadora), Hera Akraia (Das alturas), ou quaisquer nomes que desejas ser chamada. Cantamos à Hera do trono dourado, Rainha dos Imortais, que sobrepassa tudo em beleza, a irmã e esposa do Zeus de altos trovões. Pedimos que abençoe e proteja nossa(s) família(s). Faça isso por nós, e nos reuniremos em sua honra novamente."

Verter as libações de vinho, água, leite, mel, azeite de oliva etc. Enquanto são feitas as ofertas líquidas, recita-se uma das seguintes frases:

Uma libação em sua honra, Hera Boöpis, “olhos de vaca”Uma libação em sua honra, Hera Khera, “solitária”Uma libação em sua honra, Hera Pais, “donzela”Uma libação em sua honra, Hera Agreie, “de Argos”Uma libação em sua honra, Hera Leukolenos, “de braços brancos”Uma libação em sua honra, Hera Teleia, “realizada”Uma libação em sua honra, Hera Gamelia, “do casamento”

Acender incenso e oferecer a Hera. Ler o Hino Órfico a Hera (16):

“Tu estás oculta em buracos escuros, e aérea é a tua forma,Ó Hera, rainha de tudo e abençoada consorte de Zeus.Tu envias brisas suaves aos mortais, assim como nutres a alma,e, mãe das chuvas,tu cuidas dos ventos e dás nascimento a tudo.Sem ti não há sequer vida nem crescimento;e, misturada como estás no ar, te veneramos,participas de tudo e de tudo és rainha e senhora.Atiras-te e te viras com o vento impetuoso.Que tu possas, ó deusa abençoada e rainha de muitos nomes,trazer gentileza e alegria em teu amável rosto.”

Qualquer pedido especial ou devoção pessoal é feito neste momento. Outras ofertas podem ser feitas, com algumas palavras espontâneas ditas em voz alta junto com o oferecimento.

Para concluir o ritual, uma libação final é vertida, enquanto se diz "Salve, gloriosa deusa, mãe dos Imortais. Devemos nos reunir em sua honra novamente.”

Após o ritual, compartilha-se uma refeição.

---(Alexandra)

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Fevereiro-AfroditeCelebra-se a 'deusa do amor', oferecendo-a incenso (de olíbano, de mirra, florais), flores, chocolate e vinho. Enquanto isso, cabe recitar os hinos homéricos e órfico a Ela, os poemas de Safo dedicados a Afrodite, e ler sobre seu nascimento na Teogonia de Hesíodo. Outros poemas de amor podem ser utilizados também. Procurem usar coroas de flores durante o rito.

Teogonia de Hesíodo (versos 188 a 206):E tão rapidamente quanto ele tinha cortado seus membros com resolução e lançado-os da terra ao surgente mar, eles foram varridos por cima do alto-mar por um longo tempo: e uma espuma branca se espalhou em torno de sua carne imortal, e nela ali cresceu uma donzela. Primeiro ela se arrastou para perto da sagrada Citéria, e dali, em seguida, ela veio para o cinturão do mar de Chipre, e ela avançou, uma terrível e amável deusa, e a grama cresceu sob seus pés bem formados. Os deuses e homens dela a chamam de Afrodite, e a deusa nascida da espuma e ricamente coroada Citéria, porque ela cresceu entre a espuma e Citéria porque ela atingiu Citéria, e Chiprogênea porque ela nasceu na encrespada Chipre, e Filomedes porque ela saltou dos membros. E com ela veio Eros, e o gracioso Desejo a seguiu em seu nascimento no princípio enquanto ela entrava na assembléia dos deuses. Esta honra ela tem desde o começo, e esta é a porção reservada a ela entre os homens e deuses imortais – o sussurro de virgens e sorrisos e decepções com a doce delícia e amor e graciosidade.

arço-HefestoNeste dia, decore seu altar com objetos preciosos de metal, prepare um fogo onde verter sua libação e leia os hinos a Hefesto junto com o incenso de olíbano aceso. Visite uma loja ou feira de artesanato ou trabalhe em algo de destreza manual.

Hinos Antigos:Hino Órfico 66 e Hino Homérico XX.

Exemplo/Relato de Ritual:

Consagração da vela a Héstia, depois leitura do Hino Homérico XX a Hefesto, depois as libações, cada uma dizendo um epíteto. Como:

(vinho) Uma libação em sua honra, Hefesto Periklytós/Agaklytós, o muito famoso por sua arte.(água) Uma libação em sua honra, Hefesto Klytómetis/Polymétis, o famoso por suas habilidades.(leite) Uma libação em sua honra, Hefesto Amphyghêeis, o coxo.(mel) Uma libação em sua honra, Hefesto Polúphron, o engenhoso.(azeite) Uma libação em sua honra, Hefesto Polyteknés/Klytoteknés, o de muitas artes, famoso artesão.(pimenta) Uma libação em sua honra, Hefesto Kalkheus, o ferreiro de bronze e cobre.(chocolate escuro/cacau/amargo) Uma libação em sua honra, Hefesto Aithalóeis Theos, o coberto de fuligem.

Acende-se o incenso (frankincense) para a leitura do Hino Órfico 66 a Hefesto com fumigação de olíbano.

Momento de outras ofertas e pedidos. Eu ofereci meus trabalhos com o pirógrafo a ele, deus do fogo e do artesanato.

Libação final ou queima das ofertas dizendo: "Saúdo-te, Hefesto, deus do fogo e das artes manuais! Conceda-nos suas bênçãos, e nos reuniremos em tua honra novamente."

Encerramento com Héstia.

Abril-ÁrtemisÁrtemis é lembrada em abril por causa da proximidade com o festival do Mounykhia e por causa do Dia da Terra. Verta uma libação a ela (pode ser com cerveja não-fermentada, chá de babosa, ou os tradicionais vinho/água/leite/mel, ou o que você já tiver percebido ser do gosto dela), acenda incenso (de olíbano, jasmim ou cânfora) e leia os hinos homéricos (9 e 27) e o hino órfico (36).

Maio-Apolo

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Neste dia, verta uma libação a Apolo com incenso; leia os hinos homéricos a Apolo (21 e 25), o hino a Apolo Délio, o hino órfico (33), o hino de Calímaco a Apolo; ouça música grega ou toque um instrumento a Ele; estude as máximas délficas; pratique a moderação e busque o auto-conhecimento; saiba que você é meramente humano, mas pode ser consciente e aspirar a virtude e o refinamento.

Algumas ofertas relacionadas a Ele: folha de louro, vinha, junco, girassol, âmbar, jacinto, olíbano, babosa.

Junho-Zeus"O mês de Junho/Skirophorium é dedicado a Zeus e por isso o conselho da Hellenion optou por conduzir as libações do mês em honra ao Pai Celeste. As libações a Ele seguem o formato de spondé, tradicionalmente usado para todos os deuses olímpicos. Isso implica que o fluxo do líquido é vertido do jarro em direção ao solo ou recipiente adequado sobre o altar. Pode-se usar quaisquer líquidos, mas aqueles que mais se relacionam com Zeus são a água, o leite e o mel. E pode-se-Lhe ofertar mingau, imagens votivas, ou esforçar-se em atividades humanitárias de ajuda em abrigos para estranheiros ou abandonados; bem como pode-se fazer o ritual tradicional cantando os hinos homéricos e/ou órficos dedicados a Ele, ou mesmo poemas especialmente compostos." (Thiago Oliveira)

O incenso aqui é de olíbano, estoraque (benjoim), jasmim ou mel.

Julho-Atena(por Thiago Oliveira)

Ofertas: roupas, oliveiras, armas brancaslibações: leite, mel e azeiteincenso: olíbano

Antes de iniciar, purifique-se, por meio de banhos ou da khernips. Se possível, monte um altar com velas e imagens dEla. Faça a dedicação dos líquidos e ofertas a serem entregues à deusa. E comece. Antes faça uma prece a Héstia ou a Gê Koutrophos (a deusa Géia). Pode-se começar com o hino órfico a Ela:

"Eu canto à Palas Atena, guardiã da cidade, a temível,Que com Ares cuida das ações bélicas,Dos saques às cidades e das batalhas de guerra.Ela salva os soldados que vêm e se vão.Seja bem-vinda, ó Deusa,Dê-me sorte e satisfação."

Enquanto ele é declamado, vá derramando o líquido da libação sobre outro recipiente ou sobre o chão. Entre um hino e outro você poderá fazer alguma oferta. Outros hinos podem ser cantados, bem como poemas e/ou músicas dedicadas à Ela. Após terminar isso, faça uma prece de encerramento:

"Saúdo os eternos deuses de nossos paisreiterando minha devoção e fé ao sagrado panteãopara que todos os pensamentos que compartilhamos juntossejam enviados e reconhecidos pela TerraAssim seja. "

---

Agosto-Hermes

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(por Thiago Oliveira)

Hermes é um deus que perambula, literalmente, por diversos mundos. Não se pode dizer que Ele seja Olímpico, ou Ctônico, posto que Ele sempre está. O espaço dele é sempre o limite, o caminho, a encruzilhada. Essa libação será um pouco diferente das demais porque vou tentar contemplar os dois aspectos dEle, o aspecto olimpiano e o aspecto ctônico. Seria legal montar o altar num local fora de casa, preferencialmente na entrada, caso seja possível, ou no jardim. Se você for realizá-lo fora de casa, melhor um local do tipo por onde passem pessoas, pois Hermes é o dispensador de bençãos, e é justamente na estrada, o Seu reino, que podemos vê-lo mais nitidamente. Monte um altar caprichado, afinal de contas, a dádiva de Hermes é a sorte, e sorte nunca é demais. Junte todo o material que você vai usar, e junto com isso uma jarra a mais ou, caso isso não seja viável, providencie um bôthros, um buraco no chão, que servirá para a libação a Hermes Ctônico. Você pode ornamentar o altar com moedas, imagens dEle, velas amarelas, fotos de lugares os quais você deseja conhecer, e parentes já falecidos. Então purifique o local antes de começar e podemos seguir ao ritual em si:

1- A primeira libação é sempre para Héstia ou Géia. Então você pode cantar, recitar o Hino à Ela(a) , bem como uma prece pessoal, ou poema...

2- Então podemos seguir a Hermes, primeiramente ao aspecto Olímpico. Pegue o líquido que você vai libar, ofereça-o e comece com o hino, aqui no fórum há vários (no final do post eu coloco uma lista de links...

3- Então você pode fazer libações aos vários aspectos de Hermes, despejando porções sobre a chama a cada epíteto. Lembre-se que a posição deve ser nobre. Mãos elevadas, enquanto oferece e os olhos em frente, em direção à chama ou à imagem enquanto liba. Não poste-se como um pobre coitado. Os deuses querem homens e mulheres nobres e austeros, e não dependentes...

4- A seguir vamos libar a Hermes ctônico. Coloque as mãos no chão enquanto recita o hino ou prece que você elaborou para Ele. A seguir, despeje o líquido no bôthros, lembrando-se que tudo que é ctônico é consumido inteiramente pelos deuses, não é compartilhado como no aspecto olímpico. Após isso, ou durante os hinos, você pode fazer seus pedidos a Ele.

5- Caso você tenha algo a ofertar, pode fazer isso agora. Uma coisa que eu acho legal é inserir atitudes de Kharis, que pode ser traduzido como reciprocidade. Trata-se nada mais nada menos que dividir o que você tem com os deuses e com a comunidade. Como não temos uma comunidade exatamente grande e/ou próxima, podemos fazer isso com as pessoas que fazem parte do nosso convívio. Sendo assim, eu sugiro que você faça doações de comida para albergues, ou casa de desabrigados. Confeccione alguns saquinhos com moedas e intencionalmente os perca pelas ruas da cidade, ou até mesmo dê esmolas. Essas coisas você pode fazer durante a semana, como forma de devoção, de Kharis. Após o ritual em si, você pode fazer outras coisas, tais como confeccionar o oráculo de seixos que é a arte de Hermes, ou até mesmo tarô, encenar mitos ou contá-los para amigos, filhos, sobrinhos, família... e quem sabe até um jantar, como eu geralmente faço aqui em casa. Mas, como no caso da Panathenéia, que eu comentei, não esqueça de mencionar a todos os convidados a ocasião do jantar/almoço. Ofereça as porções de Héstia e de Hermes. Como na antiguidade eram ofertardos porcos, carneiros e cabritos a Ele, você pode fazer um prato com isso, ou então fazer um lanche com mortadela suína... o que não falta é sugestão.

6- Após tudo isso você pode encerrar. Agradeça, e faça as ofertas finais a Héstia.

Setembro-Deméter e Perséfone(por Gitana, traduzido por Alexandra)

1. Preparação como de costume: banho, roupas limpas, vela acesa consagrada para Héstia, água lustral. Não é preciso todo um ritual de purificação, apenas lave suas mãos na água lustral.

2. Faça a prece, enquanto ergue as mãos até o alto:“Ouçam-me, Deméter e Perséfone, as Duas Deusas de Eleusis. Vocês que trazem as estações e as colheitas; protegem as crianças; vingam os injustiçados. Aceitem as ofertas que estamos para fazer. Dê-nos prosperidade, e traga-nos paz em nossos corações.”

3. Dirija-se ao local de libação, enquanto verte o líquido, e recite:Uma libação em sua honra, Demeter Kourotróphos, “protetora da juventude”Uma libação em sua honra, Persephone Khthonia, “do submundo”Uma libação em sua honra, Demeter Lousia, “a suave/branda”Uma libação em sua honra, Persephone Praxidikê, “a vingadora”

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Uma libação em sua honra, Demeter Karpophoros, “que traz fruto”Uma libação em sua honra, Persephone Hagne, “a pura”Uma libação em sua honra, Demeter Erinus, “feroz/intensa”Uma libação em sua honra, Persephone Sôteira, “a salvadora”.

4. Leia o Hino Órfico (#40) a Demeter Eleusinia:“Deo, divina mãe de todos, deusa de muitos nomes,augusta Deméter, educadora de jovens e doadora de prosperidade e riqueza;Tu nutres as espigas de milho, ó doadora de tudo,e tu te delicias na paz e no laborioso trabalho de parto.Presente na semeadura, empilhagem e debulha, és o espírito do fruto não-maduro,tu que habitas no sagrado vale de Eleusis.És charmosa e amável, dás sustento a todos os mortais,foste a primeira a pôr o arado no boi para lavrar a terrae a enviar de cima a baixo uma adorável e rica colheita aos mortais.Através de ti, tudo cresce e brota, ó ilustre companheira de Bromioe, carregando a tocha e sendo pura, delicias-te com a produção do verão.De debaixo da terra apareces e com todos és gentil,Ó sagrada cuidadora dos jovens e amantes das crianças e da boa descendência.Tu conduzes tua carruagem com rédeas nos dragões,e circulas teu trono girando e uivando em êxtase.Com filha única, mas com muitas crianças e muitos poderes sobre os mortais,Tu manifestas tua miríade de rostos à variedade de flores e botões sagrados;venha, abençoada e pura, e carregada dos frutos do verão,traga paz junto com as regras de boas-vindas da lei,riquezas também, e prosperidade, e saúde que nos governa a todos.”

5. Leia o Hino Órfico (#29) a Perséfone:“Perséfone, abençoada filha do grande Zeus, filha únicade Deméter, venha e aceite este gracioso sacrifício.Muita honrada esposa de Pluto, discreta e doadora da vida,tu comandas os portões do Hades nas entranhas da terra,Praxidikê (justiça exata) amavelmente trançada, pura flor de Deo,mãe das Fúrias, rainha do mundo inferior,a quem Zeus gerou em união clandestina.Mãe do Eubouleus que tem várias formas e que ruge alto,radiante e luminosa companheira de recreação das Estações,augusta, toda-poderosa, rica donzela em frutos,brilhante e de cornos, só tu és a amada dos mortais.Na primavera tu rejubilaste nas brisas das campinase mostras tua figura sagrada nos brotos e frutos verdes.Foste feita esposa de um sequestrador no outono,e apenas tu és vida e morte para os mortais que labutam;Ó Perséfone, pois tu sempre nutres tudo e matas tudo também.Escutai, ó abençoada deusa, e enviai os frutos da terra.Tu que floresces em paz, em saúde de mão suave,e em uma vida de fartura transportas pelo ar a velha idade

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em conforto até teu reino, ó rainha, e para o reino do poderoso Pluto.”

6. Quaisquer pedidos especiais ou devoções pessoais são feitas neste momento. Pela comunidade, pode-se pedir a Demeter para cuidar das crianças que sofrem e a Perséfone para confortar as pessoas que morreram este ano.

7. Para concluir o ritual, uma libação final é vertida, enquanto se diz “Khairete, Duas Deusas. Reuniremo-nos em vossa honra novamente.”

[Nota: Apesar de eu normalmente dirigir as instruções de rituais como individuais, no caso de um grupo todas as pessoas devem passar pela preparação e fazer a libação, e pelo menos um condutor da cerimônia deve recitar as preces. Cada pessoa pode trazer um líquido diferente para libar: água, mel, leite, azeite de oliva extra-virgem etc.]

Outubro-PoseidonPoseidon é o grande deus olimpiano do mar, rios, enchente e seca, terremotos, e cavalos. Ele era representado como um homem maduro e forte, com barba escura e segurando um tridente.

Mapa atualizado dos locais dos últimos terremotos: http://earthquake.usgs.gov/eqcenter/recenteqsww/

Incenso: olíbano e/ou mirra.Ofertas: Conchas grandes (búzios), coral, ametista, safira, água-marinha, cedro, mirra, sal, atum, âmbar cinza, ônix, argila (queimada mas não esmaltada), a primeira pesca da estação.Animais sagrados: Cavalo, touro, golfinho, todos os animais marinhos.Epítetos: Aspheleios (Decidido), Basileus (Rei), Ennosigaios (que Sacode a Terra), Gaieokhos (que Segura a Terra), Hippios (dos Cavalos), Pater (Pai), Petraios (da Pedra), Phutalmios (o que Nutre), Soter (Salvador), Taureos (semelhante ao Touro).Símbolos: Tridente, coroa, concha grande (búzio).Cor: Azul.

Novembro-Arespor Sarah Helena

A libação de novembro é para Ares. Ares é o deus da guerra, da fúria de batalha, mas também da ordem civil e da coragem.

Ares nos fala de força, bravura, de masculinidade e honra. Ares mostra a camaradagem que existe entre aqueles que lutaram juntos em batalhas, e os mostra uma maneira de encarar a vida que se baseia nas verdades simples e não nos jogos estratégicos. Para ele, mais do que a vitória, importa lutar por que é preciso lutar. Ele destrói, mas também defende e protege.

Curiosamente, Ares é o único olímpico que nunca foi para a cama de alguém sem seu consentimento.

Entre seus atributos, podemos falar de sua carruagem dourada puxada por quatro garanhões que soltam fogo. Sua lança é de bronze e sua armadura é dourada (elmo, couraça, cinturão, grevas e escudo), e que brilham de modo ardente.

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Preparação:

Inicie a preparação para o rito tomando um banho e vestindo roupas limpas. Pensando na natureza de Ares como um deus dos guerreiros, minha sugestão é que o banho seja o mais perto de frio que você agüentar, e as roupas sejam as mais simples e funcionais.

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Prepare o altar colocando nele objetos e imagens que o façam lembrar de Ares, como armas brancas, cápsulas deflagradas, flâmulas e bordados militares, fotos de familiares que serviram no exército e, porque não, bandeiras do seu país ou Estado. Pense em que aspectos da sua vida você age como um guerreiro e pense em que de sua vida cívica você assume um papel de cidadão – essas são coisas adequadas para você deixar no seu altar como ofertas a Ares.

Mantenha no altar uma vela ou lamparina para a chama de Héstia e uma vasilha para receber as libações.

Rito:

Acenda a chama de Héstia e recite um hino para ela. Purifique o ambiente com água lustral. Diante do altar, em pé, com as palmas das mãos na direção da imagem de Ares, diga algo semelhante a isto:

as cidades, que insufla coragem no coração dos homens e refreia suas atitudes quando é necessário, venho diante de Ti prestar honras neste dia.” Acenda o incenso ou disponha as oferendas que trouxe sobre o altar. Seguem-se as libações. Enquanto verte o líquido na vasilha do altar, recite um hino ou alguns epítetos de Ares (algumas sugestões seguem este texto). Se você costuma ter um altar fixo para Ele, pode dedicar algum objeto para Ares, assim como os vitoriosos ofereciam ofertas aos templos:

agradecimento às vitórias em minha vida e porque mesmo na derrota eu agi com fortitude e correção. Honra a Ares, senhor de exércitos, encouraçado de bronze, aterrador para os inimigos.”

Devoções pessoais, leituras relacionadas ao momento e adendos pessoais ao rito podem ser incluídos neste momento. Agradeça a presença de Ares no ritual e em sua vida: “Glorioso Ares, poderoso senhor, agradeço e peço para que sua presença em minha vida traga bons frutos e que novamente eu

retorne diante desta abençoada chama para erguer hinos ao teu sagrado nome.”

Para ver os epítetos de Ares, as ofertas a ele e os seus animais sagrados: clique AQUI.

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Este também é um bom momento para pensarmos: onde em nossas vidas nós somos guerreiros? Onde agimos de maneira rude e selvagem, mas com nossa verdade? o que defendemos? pelo que estamos dispostos a morrer - e a viver?

Algumas atividades que podem ser feitas em honra a ele:

assista a filmes de guerra (recomendo, mais que todos, o seriado Band of brothers) procure saber mais sobre os veteranos de guerra que vivem/viveram em sua região conheça os projetos da polícia militar (em São Paulo, existe um tour pelos lugares históricos da polícia, entre outras) atividades de contato com a comunidade leia, partilhe, conte histórias sobre a participação do Brasil ou outros países que você admire em guerras (já te contei sobre o piloto brasileiro que perdeu a asa em pleno vôo, completou

a missão de bombardeio e voltou e pousou, tudo isso só com uma asa?). leia livros como A Arte da Guerra de Sun Tzu ou O Livro dos Cinco Anéis de Musashi, assim como outros compêndios de arte militar. pratique artes marciais brinque de luta

Dezembro-Dioniso Em dezembro nos preparamos para abraçar Dioniso e dedicar libação a esse deus libertário por essência. Dioniso, três vezes nascido, nos ensina sobre renascimento, força de superação, energia indestrutível, libertação, catarse. Uma grande oportunidade para nos despir das máscaras que não mais nos servem, das personas que estão fora do ritmo de nossos corações.verve na vida, no mundo. A transpor os obstáculos, a superar nossos medos, a derrubar as ilusões . É hora de deixar seu coração pulsar verdadeiramente, livre!

Como qualquer ritual, as preparações começam no dia anterior. Começamos a nos sintonizar com Dioniso em pensamentos, preparativos, separando os hinos, poemas que queremos dedicar, ofertas votivas, comidas, frutas, flores etc. Sendo Dioniso o deus do vinho, este é um item importante para esta libação. Mas, se não for possível, verta água, o essencial são as intenções sinceras de honra a Dioniso.

No dia da libação, siga os preparativos habituais com purificação pessoal, do ambiente, do altar, e o acender a vela. (Veja na parte de Recite os hinos homéricos e órficos de sua preferência. Se desejar, recite suas próprias poesias a ele. Sugestão moderna: recite os poemas de Hilda Hilst para Dioniso ("

Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio" - 10 canções).

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Diga “Amado Dioniso, selvagem, indomável, indestrutível, nascido da coxa de Zeus aceita hoje minhas ofertas, peço-te... [ex.: tua cura]” e disponha as ofertas votivas sobre o altar. Faça as libações a Dioniso. Verta o vinho no receptáculo e diga “Khaire Dioniso Hygiates (Dispensador de Saúde)! Hoje te saúdo!” A cada epíteto verta mais um pouco de vinho. (Veja os epítetos na parte

de Tabelas do site.) Aproveite agora para abrir seu coração a Dioniso. Mãos abertas para o altar, diga "Dioniso, venho a ti honrar-te, peço que me ensine tua dança de cura/liberdade."

fechados, corpo solto, movimente-se e deixe-se levar por Dioniso. Deixe sua mente aberta a todas as sensações, imagens, emoções, enquanto entrega seu corpo à dança. Sinta-se livre! Encerre o ritual agradecendo a Dioniso.

(por Dionaea Muscipula, com revisão da Alexandra)

Festivais (Modernos) de outras Organizações:

Anadikia"Renovação da Ação". Festival moderno para as divindades da natureza, focado em Pã e criado pela organizaçãoparques, mas um jardim serve se não tiver outro jeito. O ritual envolve construir ofertas votivas, montar um altar às divindades da natureza, fazer libações e um banquete. Perto de rios, faça ofertas às Naiades. Perto do mar, às Nereidas.

Alguns grupos helênicos costumam celebrar o Anadikia no Ano Novo Ateniense (Hekatombaion 1). Nessa celebração, se honram os deuses olimpianos de manhã, os deuses e daimones da natureza de tarde, e os deuses ctônicos do submundo à noite.

Círculo ApolíneoRitual semanal a Apolo, seguindo o grupo do Kyklos Apollon. A ser realizado no nascer do sol em Delfos, que, em horário brasileiro, cai aproximadamente à meia-noite e alguns minutos do sábado para o domingo.

Exemplo baseado em textos de Jim Kollens e de Michael Standingwolf, adaptados e traduzidos e com sugestões de

ANTES DO RITO:Junte a tigela de khernips (água lustral), a vasilha de libação (e o líquido a libar), o incenso, a vela, e os hinos a Apolo. Se tiver um assento de tripé (tripode), traga-o para a frente do altar. Separe as músicas que irá oferecer ao deus. Tome banho e use roupas limpas ou pelo menos lave as mãos, de preferência na água lustral. Se puder, lave as mãos, pés e rosto dizendo "purifico-os em honra do deus".

PREPARAÇÃO:Consagre a vela a Héstia com um dos hinos a ela (escolha AQUI), se já não o tiver feito antes para preparar a água lustral. Segure a vela (com ou sem o suporte dela) com ambas as mãos e faça três círculos diante do altar, no sentido horário. Sente-se na frente do altar, relaxado. Antes de qualquer coisa, respire fundo 3 vezes, sinta o ar, procure se concentrar no momento do ritual.

INÍCIO:

"Venho diante deste altar para honrar os deuses abençoados que habitam o Olimpo, os brilhantes e magníficos deuses que são eternos. Nenhum de vós é uma criancinha, todos são verdadeiramente grandes. Portanto, são dignos de louvor e sacrifício, deidades olimpianas, sagrados deuses da humanidade."

DEDICATÓRIA:

"Já esta radiante carruagem de quatro cavalos, o sol, brilhará sobre Delfose sua chama do fogo celeste afastará as estrelas na noite sagrada;os rochedos não-trilhados do Parnaso recebem a roda do dia para os mortais.A fumaça do incenso voa do teto de de Febo, e as pitonisas se sentam no trípode,cantando aos helenos sempre que Apolo as exorta.

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Os servos délficos de Febo vão até as fontes prateadas da Castália,chegam ao templo após banhar-se em águas puras;e esperam ter a boca sacra para levar boas palavras à aqueles que consultam o oráculo.E nós trabalharemos para tornar pura a entrada no templo de Apolo,trazendo o louro e umedecendo o chão com gotas d'água.Ó Pean, ó pean, possas tu ser afortunado, filho de Leto!Amável é o trabalho, ó Febo, que conduzo diante de tua casa,honrando seu santuário profético;glorioso é meu trabalho, de servir aos deuses imortais,Louvo Febos que me alimenta e governa este templo!Ó Pean, ó pean, possas tu ser afortunado, filho de Leto!"

INCENSO:Acenda o incenso (louro, olíbano, âmbar, mirra) na vela consagrada.Circule a imagem com o incenso no sentido horário e diga:

"Ouça-me, Apolo Pítio, Apolo Loxias, Apolo Musaghetes,Febo Apolo, Apolo Akesios, Apolo Smintheus,ou quaisquer nomes que desejes ser chamado.Ofereço este incenso em tua honra."

PRECE:

"Ó criança sagrada da grande Leto, Febo de cabelos dourados,venha de longe para perto de nós,quando o filho de Hipério se erguer sobre o centro do mundo.Agora que a luz do dia nasce em Delfos,nós que te adoramos voltamos nossos pensamentos para lá,espalhados como estamos por toda a terra,e cada um te saúda do seu jeito,lembrando daquele que nunca deve ser esquecido.Onde teus pés dourados pisarem é chão consagrado;que tu possas vir a cada um de nóse nos aquecer com tua luz crescente.Tua presença purifica o ar com tua suave harmonia,pois só o que é puro se aproxima de ti.Onde estás se faz uma nova Delfos,e nós que somos teus nos unimos para te saudar,sentir o aroma da tua divindadee nos lembramos do Apolo que-atira-longe."

MÚSICAS/HINOS:

"Ó senhor de Delos, cujo coração é canção,que melhor oferta podemos depositar diante de tido que as gloriosas músicas de quem te ama?

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Aceite este sacrifício de palavras que vertemos em tua honra."

Aqui você pode cantar/tocar algo apropriado (apolíneo), ou ler os hinos antigos (homérico, órfico, de calímaco) dispostos

MEDITAÇÃO:Pare para contemplar Apolo, pense nos membros que também estão fazendo o ritual ao mesmo tempo, medite sobre o deus, se quiser reflita sobre as máximas délficas (disponíveis

PEDIDO:

"Venho diante de Apolo Paian para purificar-me,pois ele é conhecido por ser um deus que limpa-nos do que nos aflige.Dizem que havia uma fonte em Delfos onde o senhor filho de Zeus matou um dragão com seu arco,um monstro que inflingiu muitos males às pessoas da terra,com sua crueldade sanguinária.Ó gentil Febo, há monstros aqui também,por favor escute enquanto eu lhe conto tudo."

Fale abertamente para Apolo sobre as coisas na sua vida nas quais você precisa da ajuda dele, reconhecendo também o quanto disso é resultado de suas próprias ações faltosas. Imagine suas preocupações e negatividades saindo de você para formar um grande dragão serpentino. Enquanto ler os próximos versos, visualize Apolo arqueiro parado diante de você e mirando o bicho que vai se formando. Quando chegar na parte certa do hino, veja-o lançar suas flechas no píton que ele tirou completamente do seu corpo e que agora jaz no chão. Veja-o entrar no chão e se desintegrar até não deixar nenhum rastro de si.

"O píton trouxe seu dia de destruição a quem o conheceu,até o senhor Apolo que-atira-longe lançou sua poderosa flecha,concedendo-lhe insuportável dor e levando-o estremecido ao chão.O estrondo foi incrível e percorreu a floresta, com sua cauda em zig-zag,até ele dar seu último suspiro ensanguentado quando Febo Apolo declarou:'Desça agora nesta terra e nunca mais traga o mal aos seres humanosque comem o fruto da terra que os nutre e produz ofertas imaculadas.Nem Tifeu nem a malfadada Quimera podem evitar a sua deplorável morte,mas bem aqui a terra negra e o sol flamejante lhe enterrarão.'Assim ele falou e a escuridão cobriu os olhos do monstro,e a fúria sagrada de Hélio o enraizou na terra;desde então o lugar ficou sendo chamado de pito,e as pessoas chamam o senhor Apolo de pítio."

Agora visualize Apolo lavando seu corpo com sua luz dourada, queimando qualquer traço de negatividade e curando/regenerando cada parte, da cabeça aos pés. Diga:

"Ê pean, estou curado; ê pean, estou limpo; ê pean, estou purificado!"

LIBAÇÃO A LETO E ÁRTEMIS:

"Donzelas de Delos,seguidoras do senhor que-atira-longe,louvo agora também Leto, a mãe do deus que sofreu pelo bem dele,e sua formidável irmã Ártemis flecheira, que fica a seu lado,pois aqueles que são caros ao luminoso Apolosão também queridos a aqueles que o amam."

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Verta uma libação e leia os hinos a Leto e a Ártemis - AQUI e AQUI.

ENCERRAMENTO:

"Ó sagrado arqueiro cujos largos ombros cintilam,a ti dou graças pela purificação que trouxeste,a cura que tens me dado nesta época da alvorada délfica.Fique a meu lado, ó radiante, como meu santuário e suporte,tanto hoje como sempre, até a respeitada Perséfone me chamar para perto.Teus caminhos são os meus, ó precioso filho da nobre filha de Céos (Koios),então me conduza pelos passos dos olimpianos,no teu caminho que cura e honra o corpo,que harmoniza e enobrece o coração,que eleva e inspira o intelecto,e que purifica e ilumina a alma.Ê pean, deus que carrega a lira!É através de ti que os mortais atingem a perfeição.Senhor Apolo, fundado das leis e das cidades, que envia os navios a novos litoraise inspira as almas profundas às alturas da filosofia,possam nossas preces serem agradáveis a ti.Que possas verdadeiramente nos purificar e dissolver o efeito de nossas falhasque tanto mundanamente nos debatemos para diminuir.Que possamos pertencer às espirais da restauração de teu culto,e que estes, que um dia foram enfraquecidos,possam nunca mais serem apagados de novo."

Respire fundo três vezes.Conclua o ritual como estiver acostumado.

PhilokoriaO Philokhoria foi criado por Thista Minai, do 'Temple of Artemis at Cataleos', nos EUA. Trata-se de uma celebração no solstício de verão (final de junho no hemisfério norte) que incorpora um mito contado por Calímaco. No mito, Ártemis dança de uma forma tão linda que Hélio (deus do sol) pára no céu para assistir e é por isso que os dias ficam mais longos. No festival, há uma dramatização do mito que inclui um final moderno, no qual os outros deuses procuram encontrar um jeito de fazer Hélio retornar ao seu curso normal.

Alguns helênicos americanos sugerem que celebremos esse festival com hinos convidando Ártemis e Apolo, seguidos de jogos e dança e, se possível, também com a dramatização do mito (que pode ser com o uso de bonecos/fantoches/marionetes). Honra-se então Apolo, Ártemis, Hélio, as ninfas e as musas com ofertas.