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Tingimento e Ultimação I -Curso Química da Qualidade - Universidade do Minho - J. I.N. Rocha Gomes TINGIMENTO 1. INTRODUÇÃO Definição Coloração do material com corantes 1.1.Objectivos: 1- Coloração do material de modo a obter uma cor pretendida pelo próprio ou por outros (clientes) 2- Colorir o material com um nível de penetração do corante na fibra adequado 3- Obter uma cor “sólida”, com boa solidez à lavagem e a outros fenómenos, como o efeito da luz e da fricção por exemplo. 4- Obter os objectivos 1 a 3 com o mínimo de alterações das propriedades físicas das fibras. 5- Conseguir alcançar os objectivos 1 a 3 com o mínimo de custos, aumentando simultaneamente o valor económico do artigo têxtil 1.2. Métodos de coloração a) Pigmentação b) Tingimento A) Exemplo de pigmentação: Na viscose os pigmentos são introduzidos durante a extrusão o que lhes confere uma solidez elevada. Na fibra acrílica os pigmentos podem ser introduzidos imediatamente após a extrusão quando a fibra entra em contacto com o pigmento num estado de inchamento e portanto mais acessível. B) Tingimento: processo de coloração durante o qual a totalidade do material pode absorver o corante; o corante é aplicado uniformemente, embora possa não ser absorvido uniformemente. O que determina se o corante é ou não absorvido uniformemente, são as características das fibras que constituem o material. A absorção não uniforme do corante provoca diferenças na intensidade da cor em diferentes zonas do material. Existem dois processos distintos de tingimento: (i) Esgotamento (ii) Impregnação seguida de fixação do corante Nota: a fixação pode ser em contínuo ou em descontínuo. Diferenças:

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    TINGIMENTO

    1. INTRODUO

    Definio Colorao do material com corantes

    1.1.Objectivos:

    1- Colorao do material de modo a obter uma cor pretendida pelo prprio ou por outros (clientes)

    2- Colorir o material com um nvel de penetrao do corante na fibra adequado 3- Obter uma cor slida, com boa solidez lavagem e a outros fenmenos, como o

    efeito da luz e da frico por exemplo. 4- Obter os objectivos 1 a 3 com o mnimo de alteraes das propriedades fsicas das

    fibras. 5- Conseguir alcanar os objectivos 1 a 3 com o mnimo de custos, aumentando

    simultaneamente o valor econmico do artigo txtil

    1.2. Mtodos de colorao

    a) Pigmentao b) Tingimento

    A) Exemplo de pigmentao: Na viscose os pigmentos so introduzidos durante a extruso o que lhes confere uma solidez elevada. Na fibra acrlica os pigmentos podem ser introduzidos imediatamente aps a extruso quando a fibra entra em contacto com o pigmento num estado de inchamento e portanto mais acessvel.

    B) Tingimento: processo de colorao durante o qual a totalidade do material pode absorver o corante; o corante aplicado uniformemente, embora possa no ser absorvido uniformemente. O que determina se o corante ou no absorvido uniformemente, so as caractersticas das fibras que constituem o material. A absoro no uniforme do corante provoca diferenas na intensidade da cor em diferentes zonas do material.

    Existem dois processos distintos de tingimento:

    (i) Esgotamento (ii) Impregnao seguida de fixao do corante

    Nota: a fixao pode ser em contnuo ou em descontnuo.

    Diferenas:

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    Em (i) h a possibilidade de redistribuio de corante entre as fibras porque todo o material se encontra exposto durante 1,2 ou mais horas. H portanto a possibilidade de corrigir um tingimento no uniforme.

    Em (ii) a impregnao tem que ser uniforme porque o corante fixo onde foi aplicado.

    1.3. Indicao de quantidades no tingimento

    Durante o tingimento a estamparia e os acabamentos, quando necessrio calcular quantidades de reagentes conforme instrues fornecidas pelos fabricantes, na maior parte dos casos estas instrues so claras e precisas, mas noutros casos no so. Para facilitar a interpretao de tais instrues. So fornecidas de seguida algumas indicaes que podero ser teis.

    Substantividade

    essencial que se compreenda claramente este termo. Numa operao tpica de tingir o material entra em contacto com um corante em soluo. Ao elevar a temperatura ou ao ajustar o pH, ou ambos, o corante adere ao material e transfere-se gradualmente do banho para o material. Podemo-nos referir a este fenmeno como: o corante substantivo e esgota fibra; Quando este processo levado at ao fim o banho diz-se esgotado. Por razes econmicas desejvel transferir tanto corante quanto possvel da soluo para o material e na prtica obtm-se um grau razovel de esgotamento. A cor obtida no material depende da quantidade de corante absorvido e portanto vulgar indicar uma determinada tonalidade em termos de percentagem de corante em relao ao material. Por exemplo uma cor indicada num catlogo como sendo de 2%, implica que para a reproduzir seja necessrio calcular 2% do peso do material e pesar essa quantidade de corante a aplicar. no entanto necessrio acautelar a influncia da razo de banho que se for maior influencia negativamente o esgotamento.

    Razo de banho = Peso do material (Kgs) : Volume do banho (Lts)

    Muitos produtos auxiliares aplicados a materiais txteis (fibras, fios, tecidos, malhas) so substantivos e as quantidades necessrias so calculadas com base no peso do material. Ser substantivo significa ter afinidade para com o material txtil.

    Mecanismos no substantivos

    Alguns tipos de corantes so absorvidos por mtodos que no so substantivos. Nestes casos, durante o tingimento a concentrao de corante no banho no muda. Para aplicar o corante impregna-se o material, geralmente um tecido, no banho, espreme-se por intermdio de rolos e depois seca-se. A operao de absoro do banho pelo tecido seco, pode ser comparada ao efeito mata-borro em que a totalidade da tinta absorvida, por

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    no haver transferncia de corante do banho para a fibra, mas sim do banho no seu todo (tinta) que o tecido pode absorver. O excesso de banho espremido pelos rolos. Numa operao destas a quantidade de corante no tecido depende portanto de dois factores:

    1) A concentrao de corante no banho 2) A presso exercida pelos rolos espremedores

    O corante no pode ser substantivo (ter afinidade) para com a fibra, pois se for corre-se o risco da concentrao do corante no banho diminuir medida que o tecido espremido e progressivamente menos corante transferido para a fibra, com a consequncia da tonalidade do material se tornar cada vez mais clara.

    Presso dos rolos espremedores

    A eficincia do processo por impregnao depende da presso dos rolos espremedores, ou taxa de espresso ou de absoro. Se por exemplo um tecido pesa seco 100 kgs e 180 kgs depois de impregnado e espremido, significa que o tecido absorveu 80 kgs de banho de corante, ou seja 80% do seu peso. Este valor neste caso a taxa de espresso ou taxa de absoro.

    1.4 Caracterizao de um processo de tingir por esgotamento

    Neste mtodo de tingir, todo o material a ser tingido se encontra acessvel a todo o banho. A soluo ou disperso do corante continuamente redistribuda em todo o material, pelo movimento do material em relao ao banho e o inverso tambm. Estes processos so efectuados em partidas e so caracterizados pelos seguintes factores:

    Difuso Substantividade (afinidade) Saturao

    O controlo da velocidade e da quantidade de absoro de corante (esgotamento), principalmente um controlo de temperatura, pH do banho e quantidade de electrlito (no caso de corantes inicos). Com certas fibras utilizam-se tambm agentes especficos para retardar a absoro do corante. Um tinto uniforme depende de:

    a) Uniformidade de absoro em todo o material b) Migrao do corante

    Como os materiais no so homogneos, havendo zonas no material mais acessveis ao corante do que outras, a melhor forma de garantir uma uniformidade de absoro, de controlar a substantividade (afinidade) do corante de modo que na fase inicial a substantividade seja baixa e depois medida que se tinge, a substantividade aumente.

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    Quando este procedimento no resulta, promove-se a migrao das zonas com mais corante (mais escuras) para as zonas com menos corante (mais claras), atravs de um aumento de temperatura. Em muitos casos, nomeadamente no tingimento da l e de fibras sintticas, recorre-se a agentes retardadores ou igualizadores, para retardar a absoro e/ou promover a migrao, respectivamente. desejvel tambm que fique sempre algum corante no banho ao longo do tingimento para redistribuir pelas zonas menos acessveis, prolongando o estado de equilbrio, at ao ponto em que a uniformidade da cor seja atingida em todo o material.

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    2. TINGIMENTO DE FIBRAS CELULSICAS POR ESGOTAMENTO

    2.1.CORANTES DIRECTOS

    2.1.1. Classificao

    Os corantes directos so corantes muito substantivos s fibras celulsicas cujo tingimento um processo por esgotamento tpico, controlado por adio de sal e/ou pela temperatura. Conforme a substantividade do corante, a sensibilidade ao sal e o seu poder de migrao variam. Por este motivo estes corantes so classificados pelos fornecedores em trs classes:

    Classe A constituda por corantes que tm bom poder de migrao e que so portanto de boa igualao, o que torna possvel uma correco dum tinto manchado.

    Classe B constituda por corantes de fraca capacidade de migrao e que necessitam duma adio cuidadosa de sal para se efectuar o tingimento. Se estes corantes no so absorvidos uniformemente logo no incio, extremamente difcil de se proceder a uma correco posterior.

    Classe C constituda por corantes que alm de no terem capacidade de migrao so extremamente sensveis ao sal. O tingimento com estes corantes deve ser feito atravs dum controlo de temperatura.

    2.1.2. Tratamento posterior

    Os corantes directos tm duma maneira geral fraca solidez lavagem e muitos tm fraca solidez luz. Podem-se no entanto melhorar estas propriedades atravs dum tratamento posterior com um produto que se vai associar s molculas de corante, tornando-as maiores e menos solveis em gua e portanto mais difceis de serem extradas do interior da fibra durante um processo posterior em molhado, tal como uma lavagem domstica. Um destes tratamentos em que se aplica sulfato de cobre melhora tambm a solidez luz.

    2.2. CORANTES DE CUBA

    Os corantes de cuba so corantes insolveis que se tornam solveis atravs duma reaco de reduo.

    As etapas do tingimento podem-se dividir em:

    1) Reduo do corante, com a formao duma forma de corante solvel, incolor, denominado por composto leuco

    2) Absoro do composto leuco pela fibra.

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    3) Regenerao do corante de cuba insolvel no interior da fibra por oxidao do composto leuco.

    A substantividade de muitos corantes de cuba torna-se bastante elevada devido presena no banho de grandes quantidades de agente redutor, necessrio para manter o corante na forma solvel (leuco), sendo o agente redutor um electrlito forte. Com muitos corantes de cuba a substantividade do corante torna-se to elevada que d origem a problemas na uniformidade no tingimento por esgotamento. Alguns compostos leuco tambm podem sofrer alteraes na sua estrutura qumica quando so aplicados em meio alcalino e a temperatura muito elevadas o que vai ter como consequncia uma diminuio na intensidade, ou alterao da tonalidade.

    2.2.1. Mtodos de tingir com corantes de cuba

    Os mtodos de tingir podem-se dividir em mtodos: tingimento com o corante na forma solvel (leuco) ou na forma insolvel.

    2.2.1.1. Tingimento com corante na forma leuco

    A forma leuco do corante preparada aquecendo a disperso do corante de cuba num banho com soda custica e hidrosulfito de sdio. A soluo de corante de cuba assim preparada ento adicionada ao banho de tingir e procede-se em seguida ao tingimento do material. Seguem-se a oxidao, 1 enxaguamento, neutralizao em soluo cida e o ensaboamento. As condies de tingir variam de corante para corante e dependem da facilidade de reduo e das diferenas na afinidade. Na tabela em baixo podem-se distinguir estas diferenas:

    Processo I II III Afinidade elevada mdia Baixa Temperatura A quente (60C) A morno (45C) A frio (25C) Sal No Algum Bastante Agentes de igualizao Sim No No Cuba-me No Sim Sim

    A utilizao da cuba-me pressupe uma operao extra de reduo. Segue depois para a mquina. Nos mtodos em que se usa a cuba-me (II e III) a dissoluo feita a 50C-60C. Para controlo da reduo /dissoluo analisa-se a soluo num tubo de ensaio devendo esta ser transparente ou coloca-se uma gota em papel de filtro, sendo a aurola da mesma cor. Os mtodos de tingir seguem os esquemas representados nos grficos na figura em baixo.

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    Mtodo a Quente (I) Mtodo a Morno (II)

    2.2.1.2.Tingimento com o corante na forma insolvel

    Este mtodo baseia-se numa converso do corante de cuba para a forma leuco, a partir duma disperso das partculas de corante num banho com soda custica e hidrosulfito de sdio. O material impregnado nesta soluo a frio e a temperatura aumentada lentamente at atingir o mximo. medida que a temperatura aumenta o corante de cuba reduzido e convertido na forma leuco que ento absorvida uniformemente. Este mtodo por exemplo aplicado no tingimento de fio. A estabilidade da disperso das partculas de corante muito importante, nomeadamente no tingimento de fio. Se houver formao de agregados (aglomerados) de corante, estes podem ficar retidos nas bobines de fio e causar manchas de cor mais intensa nas zonas onde ficarem retidos. A estabilidade da disperso depende de vrios factores, nomeadamente:

    (i) Tamanho das partculas de corante quanto mais pequenas as partculas de corante mais estvel a disperso

    (ii) Temperatura um aumento de temperatura pode resultar num aumento de instabilidade

    80C

    30C

    Tempo

    30C

    60C

    50C

    Tempo

    Tempo

    Mtodos a Frio (III)

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    (iii) Presena de electrlitos com certos tipos de disperso at pequenas quantidades de electrlitos podem causar a agregao de partculas de corante

    (iv) Presena de agentes tensioactivos Usam-se produtos tensioactivos apropriados para melhorar a disperso do corante (agentes dispersantes). Geralmente so tensioactivos aninicos. Quando se usam dispersantes preciso ter cuidado no usar simultaneamente produtos catinicos pois provocam a precipitao de corante.

    2.2.2.Tratamentos Posteriores

    Em todos os processos de tingir com corantes de cuba necessrio proceder a um enxaguamento do tecido j tingido, seguido duma oxidao, duma neutralizao e ensaboamento. A oxidao necessria para fixar o corante fibra e pode ser feita ao ar, ou com um tratamento numa soluo de perxido de hidrognio, perborato, percarbonato, dicromato ou mesmo clorito ou hipoclorito de sdio. O ensaboamento tambm importante pois retira corante que se encontra superfcie do material e aumenta deste modo a solidez abraso (frico). O ensaboamento confere tambm ao material tingido a tonalidade final.

    2.3. CORANTES REACTIVOS

    2.3.1.Estrutura

    Um corante reactivo pode ser representado da seguinte forma:

    C R

    Em que C o cromforo, o elemento que lhe confere cor, e R o grupo reactivo, o elemento que reage com a fibra e estabelece a ligao com a fibra. A ligao uma ligao covalente e portanto de grande resistncia, conferindo ao corante elevada solidez lavagem. Podemos ainda representar os corantes reactivos duma forma em que inclumos o grupo de ligao entre o cromforo e o grupo reactivo, X:

    C- X- R

    Desta forma fica evidente que o grupo reactivo no interfere na cor e que o cromforo no interfere significativamente na reactividade do corante, por estarem separados por o grupo X.

    A Estrutura do corante influencia as seguintes propriedades do corante:

    1) Reactividade do corante. Esta vai ser determinada pela natureza do sistema reactivo. Uma reactividade elevada permite a aplicao do corante a temperaturas mais baixas.

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    2) A afinidade do corante. Quanto mais elevada for a afinidade maior a eficincia de todo o processo. Uma afinidade elevada pode no entanto ter consequncias desvantajosas, como por exemplo: - Pior migrao de corante no material - Maior dificuldade em extrair nas lavagens posteriores corante que no ficou

    ligado quimicamente fibra (ligaes covalentes)

    3) Solubilidade Estruturas moleculares maiores tm menor solubilidade

    4) Cores brilhantes (vivas) Os corantes reactivos tm cores mais vivas que os outros corantes aplicados a fibras celulsicas, por terem estruturas moleculares mais pequenas

    2.3.2. Eficincia

    A eficincia dum corante reactivo a razo entre a quantidade de corante fixo fibra, isto , quimicamente ligado fibra atravs de ligaes covalentes, e o corante aplicado. Esta razo nunca igual unidade, isto a eficincia nunca pode ser de 100% pelas seguintes razes:

    a) Nem todo o corante absorvido pela fibra b) Algum corante desactivado por reaco com a gua (hidrlise) c) Uma pequena quantidade de corante pode ainda sofrer a rotura da sua ligao com a

    fibra em processos posteriores ao tingimento, nomeadamente em lavagens posteriores

    2.3.3. Factores que influenciam o tingimento com corantes reactivos

    1) Reactividade do corante. Uma maior reactividade permite tingir a temperaturas inferiores. Pode no entanto ser mais complicado durante o tingimento controlar a fixao do corante fibra, havendo o risco do corante fixar antes de ser distribudo duma forma uniforme pelo material.

    2) Temperatura de tingimento Um aumento de temperatura corresponde a um aumento na velocidade de difuso do corante na fibra e uma consequente maior migrao e uniformizao da cor no material

    3) Razo de banho. Quanto menor for a razo de banho, maior ser o esgotamento.

    4) Concentrao de electrlito Como afecta a substantividade do corante, uma adio de sal significa uma maior velocidade de tingimento e um maior esgotamento final.

    5) O pH do banho

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    Um valor de pH mais alto promove a reaco entre o corante e a fibra e resulta num aumento do grau de fixao. Pode no entanto a valores elevados, acima de pH 12, provocar uma transferncia do corante da fibra para o banho, quando a fibra se encontra saturada de corante, devido ionizao da celulose que vai repelir o corante.

    6) Pr-tratamento Operaes que aumentem a hidrofilidade do material, tais como o branqueio, melhoram a fixao do corante. Outras operaes como a mercerizao, atravs do inchamento que causam na fibra, tambm aumentam o rendimento.

    2.3.4. Cintica do tingimento por esgotamento de corantes reactivos

    A cintica do tingimento, ou seja, a evoluo da absoro de corante pela fibra ao longo do tempo, geralmente representada por curvas de esgotamento-tempo. No caso dos corantes reactivos, pode-se ainda acrescentar uma curva de fixao-tempo, que representa a reaco do corante com a fibra, e a sua consequente fixao, ao longo do tempo. Duas dessas curvas, uma para um corante de baixa afinidade e outra para um corante de alta afinidade, pode ser do tipo abaixo exemplificado.

    No caso do corante de baixa afinidade (curva A), no ponto de adio do alcali, aos 30 minutos, quase 2/3 do corante adicionado encontra-se ainda no banho. O perodo que se segue adio do alcali crtico por o corante se fixar rpida e irreversivelmente na fibra. Para estes corantes aconselha-se o doseamento automtico do alcali, para assegurar um esgotamento mais gradual nesta fase de fixao irreversvel de corante. No caso de corantes de elevada substantividade (curva B), do corante absorvido durante a fase inicial de tingimento neutro. No entanto, embora a capacidade de migrao

    Curva A Curva B

    100

    E%

    50

    100

    E%

    50

    30 Tempo (min)

    30 Tempo (min)

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    deste tipo de corante ser menor, devido sua maior afinidade, obtm-se facilmente um tingimento uniforme durante esta fase atravs duma elevao maior de temperatura, uma vez que os corantes de maior afinidade serem tambm os de menor reactividade e de precisarem de uma temperatura superior para promover a reaco com a fibra.

    2.3.5. Substantividade (S), Esgotamento (E) e Fixao (F)

    A fixao indica a eficincia do corante. Uma diferena pequena entre esgotamento e fixao (F-E) indica que depois de enxaguar h relativamente pouco corante que no est fixo por extrair. Um corante que tem elevada substantividade e apresenta uma grande diferena entre esgotamento e fixao, vai ser de difcil extraco numa lavagem posterior. Estas trs propriedades dum corante podem ser definidas da seguinte forma:

    Substantividade (ou Razo de Substantividade) percentagem de corante aplicado no tingimento que foi absorvido depois de 30 minutos num banho s com corante e sal

    Esgotamento percentagem total de corante aplicado no tingimento que foi absorvido durante todo o processo (inclui corante que no se encontra ligado quimicamente por ligaes covalentes)

    Fixao percentagem de corante que permanece na fibra depois do ensaboamento.

    2.3.6. Processo de tingir

    Nos corantes de baixa reactividade (alta temperatura), o processo segue o grfico como representado na figura acima. O sal acrescentado no incio seguido do corante, ou pode ser primeiro o corante, segundo o recomendado pelo fabricante. A temperatura depois elevada a um gradiente de pelo menos 1.5C/minuto, at atingir a temperatura de reaco.

    Soda solvay + soda custica

    corante

    sal

    80

    C

    25

    Tempo em minutos 60

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    Pode-se ainda antes de acrescentar o alcali para proceder fixao do corante, deixar algum tempo temperatura prxima da ebulio para promover a migrao do corante. temperatura de reaco adiciona-se o alcali, que pode ser s soda solvay (carbonato de sdio), ou uma mistura com soda custica (hidrxido de sdio). Deve-se arrefecer o banho at uma temperatura prxima dos 60C no fim do processo, e em seguida vazar a mquina. Nos corantes de alta reactividade a temperatura pode no ser suficientemente elevada para promover a migrao do corante, pelo que devem ser aplicados em mquinas com boa circulao de banho e de preferncia com doseamento automtico de alcali.

    2.3.7. Lavagens posteriores

    O corante hidrolisado deve ser removido em lavagens posteriores ao tingimento, podendo ser utilizada a mesma mquina que serviu para tingir, embora algumas mquinas sejam pouco eficientes para este tipo de lavagem. As lavagens devem seguir uma sequncia prpria:

    1 A frio, para retirar o pior dos produtos utilizados que restam no banho, e o corante hidrolisado que est no banho. 2 A morno (60C) para retirar o sal que deve sair antes de se tentar retirar o corante hidrolisado na fibra, uma vez que o sal insolubiliza o corante impedindo-o de sair da fibra 3 ebulio (ensaboamento) com um tensioactivo aninico, para retirar o corante hidrolisado que se encontra no interior da fibra 4 A morno 5 A frio, para terminar

    Por vezes necessrio repetir as lavagens posteriores, nomeadamente em cores escuras, para assegurar que todo o corante hidrolisado saiu e assim assegurar uma boa solidez lavagem.

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    3. TINGIMENTO POR IMPREGNAO-FIXAO

    3.1. Processo de Impregnao

    Neste processo utiliza-se uma mquina designada por foulard que na sua forma mais simples pode ser representada na figura abaixo:

    Como se pode ver na figura, no caso dos rolos espremedores estarem dispostos na vertical o tecido impregnado o banho contido num balseiro. No caso dos rolos espremedores estarem dispostos na horizontal, o tecido impregnado no banho que se encontra entre os rolos. Para tingimento mais vulgar o primeiro caso, sendo o segundo caso utilizado sobretudo em impregnao de produtos de acabamento. A razo de banho deve ser o mais baixa possvel e o volume de banho mantido durante todo o processo por um sistema de alimentao automtico. Os rolos espremedores so forrados a borracha sinttica e a presso deve ser uniforme em todas as zonas dos rolos. vulgar com o tempo os rolos ficarem descalibrados provocando diferenas de cor entre o centro e a ourela do tecido (quanto maior a presso mais clara fica a cor). O tecido deve estar sob tenso (como o material deve estar sobre tenso, este tipo de mquina mais usado para tecidos do que para malhas, embora haja mquinas prprias para malhas). Os corantes a aplicar pelo processo de impregnao devem ter baixa afinidade para com o material. Se houver afinidade o corante vai esgotando e o banho vai ficando cada vez mais fraco, com menos corante. Este efeito tem como consequncia o fenmeno conhecido por dgrad, em que a parte da pea de tecido que passou primeiro pelo foulard fica duma cor mais forte que o fim da pea.

    3.2. Fixao de corantes impregnados em foulard

    Depois de impregnar o tecido com corante ainda falta uma operao posterior que permita a difuso do corante ao interior da fibra e a sua fixao. Esta operao posterior varia conforme o tipo de corante, podendo-se enquadrar num de dois grupos: 1) Processos semi-contnuos 2) Processos contnuos

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    3.2.1. Processos semi-contnuos

    3.2.1.2. Pad-Batch (impregnao-repouso)

    Neste processo aps a impregnao o tecido enrolado em contnuo e permanece assim a frio algum tempo para dar tempo difuso e fixao do corante. O rolo de tecido deve rolar lentamente durante este perodo para o corante no migrar para o fundo do rolo, por aco da gravidade.

    Corantes de cuba

    O tecido primeiro impregnado com corante e em seguida impregnado com a soluo de hidrosulfito e soda custica e armazenado por 1 a 4 horas a frio. em seguida lavado e ensaboado noutra mquina.

    Corantes Reactivos

    Neste processo o material primeiro impregnado com uma soluo alcalina de corante e em seguida permanece neste estado durante algum tempo a temperatura ambiente, para dar tempo a que o corante reaja com a fibra.

    A sequncia de operaes a seguinte:

    1. Dissolve-se o corante, utilizando ureia para melhorar a solubilidade acima de determinadas concentraes de corantes.

    2. Prepara-se a soluo de alcali 3. Prepara-se o banho, misturando a soluo de corante com a soluo de alcali

    imediatamente antes do tingimento, para evitar a hidrlise do corante 4. Impregna-se o material com uma absoro (espresso) mnima e deixa-se o tecido

    neste estado durante um certo tempo 5. Procede-se finalmente s lavagens posteriores e ensaboamento, noutra mquina.

    3.2.1.3. PAD ROLL

    Para corantes reactivos que no reagem a frio, o processo Pad-Batch no pode ser utilizado, utilizando-se uma variante deste processo, o PAD-ROLL, em que o rolo de tecido aquecido num compartimento fechado.

    3.2.1.4. PAD JIG

    Para o tingimento de corantes de cuba o processo em semi-contnuo que mais se usa o PAD JIG . Neste processo o corante de cuba dissolvido, esgotado e fixo por oxidao, numa mquina designada por Jigger, cujo funcionamento est representado na figura em baixo.

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    O tecido desenrolado e enrolado alternadamente de um rolo para o outro, passando pelo banho e absorvendo os produtos do banho neste processo de transferncia.

    3.2.2. Processos em contnuo

    3.2.2.1. PAD-DRY (impregnao secagem)

    Utilizado em corantes Reactivos de elevada reactividade! Este tipo de corante normalmente s precisa da energia fornecida pela secagem do tecido, para reagir e fixar. A secagem feita numa estufa com ventilao de ar quente ou cilindros aquecidos, mas pode tambm ser efectuada numa estufa com vapor.

    (i) Impregnao (bicarbonato) secagem lavagem (ii) Impregnao (bicarbonato) secagem vapor lavagem (iii) Impregnao (s corante) secagem impregnao (carbonato) vapor

    lavagem

    Em (i) e (ii) a impregnao executada a frio, com uma espresso mnima. A secagem feita durante 1 a 2 minutos. A vaporizao s normalmente necessria para a fixao de tintos escuros. O tratamento de 10 20 segundos a 100C 105C no caso de (ii) e de 15 20 segundos ou no caso de (iii).

    3.2.2.2. PAD STEAM (impregnao vaporizao)

    Corantes Reactivos:

    Para corantes de baixa reactividade:

    (i) Impregnao (carbonato) secagem vaporizao lavagem

    A vaporizao a 100 105C durante 3 10 minutos

  • Tingimento e Ultimao I -Curso Qumica da Qualidade - Universidade do Minho - J. I.N. Rocha Gomes

    (ii) Impregnao (s corante) secagem impregnao (soda custica) lavagem

    A vaporizao feita a 100 105C durante 60 75 minutos.

    Corantes de cuba

    Neste processo so utilizados dois banhos, o primeiro de impregnao do corante e o segundo de reduo com hidrosulfito e soda custica (por exemplo). Depois de cada um destes banhos h uma estufa, uma de secagem e outra de fixao.