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PERFORMANCE CASULOnovember 10, 2014O que o corpo, seno a nossa casa durante toda a nossa vida?O presente texto no tem a inteno de explicar em palavras o significado do que chamamos de corpo, mas apresentar um experimento sobre ele e consequentemente sobre o espao e a habitao. Antes de discutir habitao preciso discutir o corpo. preciso cuidado para entender o que realmente o corpo. A anatomia diz que o corpo um conjunto de partes que formam o animal. Plato utilizava a seguinte comparao:O corpo humano a carruagem.Eu, o homem que a conduz.O pensamento, as rdeas.Os sentimentos, os cavalos.Mas para um antigo filosofo alemo, Hermann Schmitz, existem dois conceitos de corpo que so diferenciados em duas palavras ausentes em outras lnguas europias: Krper - corpo, no sentido fsico - e Leib - o corpo vivo do ser humano e dos animais superiores. Comparando com o adjetivo corpreo, tambm existem duas palavras: krperlich, aquilo que percebido pelos sentidos, e leiblich, aquilo que sentido no corpo e no atravs dos sentidos, ou seja, sentido na essncia. Consideramos como pressuposto que existe algo alm do visvel no nosso prprio corpo.Antes do corpo, Schmitz diz que existem os sentimentos. Os sentimentos seriam uma espcie de campo energtico (atmosferas) que se expandem no espao e envolvem todo o corpo. O espao, portanto, tem um papel de potencializar a nossa auto-consciencia, tanto fsica, quanto psicolgica. Logo a sua fenomenologia afirma que o espao entendido por meio do Leib. H algo da essncia do homem, portanto, no nosso espao.Se discutimos o espao e o corpo, tambm discutimos habitao. A casa do homem contemporneo pode ser o resultado desses paradigmas, que no foram superados, to pouco resolvidos. Afinal colocamos em discusso se os parmetros de uma arquitetura boa continuam sendo os mesmos de dcadas atrs. O mundo mudou e vivemos na poca do imediatismo projetual, onde cada design melhorado constantemente. O idealismo de um projeto efetivamente perfeito deixou de existir quando os produtos beta comearam a aparecer em nossa rede. Contudo a ideia de projeto, no sentido mais amplo de programao, ainda recorrente e muito pouco questionada. H o melhor projeto de habitao? Se criamos um modelo como parmetro podemos cair na armadilha de criar uma verdade absoluta. E o mundo contemporneo est cheio de verdades que j se tornaram mentiras. Abrindo um parnteses, no foi coincidncia que as manifestaes de junho eclodiram em um momento de imposio de valores sem o mnimo de dilogo.A escola de Frankfurt, de Bauman e Adorno, j questionava a liberdade do homem, se ela seria uma beno ou uma maldio, j que ao mesmo tempo que proporciona aos individuos a liberdade de agir conforme os seus pensamentos, ela entrega a responsabilidade do homem em assumir suas aes. Para Bauman a sociedade mudou. Anteriormente predominavam um conjunto de valores estveis, e agora tudo voltil. As relaes humanas, a famlia, as crenas, a poltica, o Estado perderam a estabilidade e podem ser questionados. Logo, o nosso lar - tanto o corpo, quanto a habitao - algo extremamente complexo que precisa ser questionado, entretanto no ser entendido sem primeiro discutirmos sobre ns mesmos.ASSIM NASCE A EXPERINCIA CASULO: UMA ARTE PARA SERMOS LIVRES EM NS MESMOS. A idia estimular a livre-expresso corporal dos participantes por conta da suavizao das normas sociais vigentes, que sero limitadas partir do momento em que o participante se v envolto em uma pelcula que age como barreira entre dois universos - o universo scio-espacial externo e o universo scio-espacial corporal."Invisvel" aos olhos dos outros, o participante convidado a reorientar seu foco em seu prprio corpo, favorecendo a primazia do seu espao-tempo singular, livre de quaisquer identidades que lhe fora imbudo previamente.O participante convidado, em primeira instncia, a redescobrir seu prprio corpo atravs do movimento, atravs da dana essencial que nos impele a tatear a ns mesmos antes de poder deslumbrar o mundo que nos cerca.A presena da dana - aqui referida de modo menos tcnico e mais ldico, de expresso corporal atravs de movimentos sincronizados ou no de ordem consciente - extrapola seu carter investigativo e interno para em um segundo momento tornar-se exploratrio.Diante de tal liberdade exploratria, a que liberta em possibilidades, ao mesmo tempo em que aprisiona em responsabilidades, o pblico que usufruir da experincia Casulo se atrela fisicamente e emocionalmente numa espiral de sensaes e de prerrogativas de ao e escolhas que impulsionam a maximizao da relao entre o corpo e espao.O projeto da experincia Casulo visa, portanto, gerar uma ruptura com uma sociedade que era acostumada a definir valores slidos, sem ter a pretenso de encontrar uma verdade totalitria. A soluo foi potencializar a livre expresso da experincia do nosso corpo e investigar o nosso espao e nossa vida em uma arte performtica de ns mesmos.ORGANIZAO EXPERIMENTAL 5:30