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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO DEPARTAMENTO DE PROCESSOS QUÍMICOS Transferência de Calor e Massa em Colunas de Destilação a Vácuo: uma abordagem Euleriana-Lagrangeana Autora: Karolline Ropelato Orientador: Prof. Dr. Milton Mori Co-Orientador: Washington de Oliveira Geraldelli, PhD Campinas - São Paulo Dezembro – 2008

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA QUMICA

    REA DE CONCENTRAO

    DEPARTAMENTO DE PROCESSOS QUMICOS

    Transferncia de Calor e Massa em Colunas de Destilao a

    Vcuo: uma abordagem Euleriana-Lagrangeana

    Autora: Karolline Ropelato

    Orientador: Prof. Dr. Milton Mori

    Co-Orientador: Washington de Oliveira Geraldelli, PhD

    Campinas - So Paulo

    Dezembro 2008

  • ii

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA REA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE -

    UNICAMP

    R681t

    Ropelato, Karolline Transferncia de calor e massa em colunas de destilao a vcuo: uma abordagem Euleriana-Lagrangeana / Karolline Ropelato. --Campinas, SP: [s.n.], 2008. Orientadores: Milton Mori, Washington de Oliveira Geraldelli. Tese de Doutorado - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Qumica. 1. Escoamento multifasico. 2. Destilao. 3. Dinmica dos fluidos. 4. Calor-Transmisso. 5. Massa-Transferncia. I. Mori, Milton. II. Geraldelli, Washington de Oliveira. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Qumica. IV. Ttulo.

    Ttulo em Ingls: Heat and mass transfer in vacuum towers: an Eulerian-

    Lagrangian approach Palavras-chave em Ingls: Multiphase flow, distillation, Fluid dynamics,

    Heat-Transmission, Mass transfer rea de concentrao: Departamento de Processos Qumicos Titulao: Doutor em Engenharia Qumica Banca examinadora: Rodrigo Koerich Decker, Jos Roberto Nunhez,

    Marcos D vila, Waldir Pedro Martignoni Data da defesa: 18/12/2008 Programa de Ps Graduao: Engenharia Qumica

  • Agradecimentos v

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo o meu orientador Prof. Milton Mori e ao meu co-orientador o Eng. Washington

    Geraldelli, pelo incentivo e confiana.

    Agradeo a PETROBRAS pela liberao do tema em que se desenvolveu o meu estudo de

    pesquisa.

  • Resumo vi

    RESUMO

    A compreenso dos fenmenos existentes em equipamentos industriais de extrema

    importncia para o seu projeto e otimizao. O uso de colunas de destilao conhecido antes

    mesmo do sculo XX. Desde o seu surgimento at os tempos atuais, significativos avanos

    ocorreram. A literatura apresenta diversos trabalhos considerando o estudo de colunas de

    destilao com pratos ou recheios. No entanto, pouca ateno tem sido dada para colunas com

    vazios. O presente trabalho apresenta uma metodologia para o estudo da transferncia de calor

    e massa em colunas de destilao com distribuidores do tipo sprays em processos de

    destilao, considerando uma abordagem Euleriana-Lagrangeana. Neste tipo de abordagem, as

    gotas so modeladas individualmente a partir de trajetrias na fase contnua. O modelo k- foi

    empregado para predizer o comportamento da fase vapor. O equilbrio termodinmico

    modelado considerando a lei de Raoult. Utilizando conjuntamente conhecimentos de

    Termodinmica, Processos de Separao (destilao) e de Fluidodinmica Computacional

    (CFD), um modelo matemtico proposto. A aplicao das escalas caractersticas de tempo

    como metodologia de anlise e compreenso dos resultados proposta.

  • Abstract vii

    ABSTRACT

    The understanding of fluid dynamic phenomena in industrial equipments are extremely

    important for new projects and their optimization. Distillation columns are being used even

    before the XX century. Since that time many advances have happened. The literature presents

    different studies as far as plates or packed columns are concerned, but few attention have been

    done in empty section. The present study shows a methodology to study the heat and mass

    transfer in empty sections of distillation columns considering the Eulerian-Lagrangian

    approach. The Lagrangian tracking for the liquid droplets was used to predict spray

    distribution. The model takes into account the influence of the liquid flow within the vapor

    phase flow. The k- turbulence model was applied to predict the vapor behavior. The

    thermodynamic equilibrium considered the Raoults Law. Considering the different areas as

    thermodynamics, Separation Process (distillation) and the Computational Fluid Dynamics

    (CFD), a mathematical model is proposed. The time scales methodology is important as a

    feature to analyze and understanding the results.

  • viii

    ndice

    AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... v

    RESUMO..............................................................................................................................vi

    ABSTRACT ........................................................................................................................vii

    Lista de Figuras .................................................................................................................... x

    Lista de Tabelas ..................................................................................................................xii

    Nomenclatura.....................................................................................................................xiii

    CAPTULO 1. CONSIDERAES INICIAS................................................................... 1

    1.1 Objetivos da Tese............................................................................................................. 2 1.1.1 Objetivos Especficos ................................................................................................................. 3 1.1.2 Organizao da Tese................................................................................................................... 3

    CAPTULO 2. FUNDAMENTAO TERICA............................................................. 5

    2.1 O Processo de Refino (ABADIE, 2003) .......................................................................... 5

    2.2 Tendncias de um Projeto de Coluna de Destilao ..................................................... 9

    2.3 O Fenmeno de Mudana de Fase................................................................................ 11

    2.4 Caracterizao da Fluidodinmica de Bolhas/Gotas.................................................. 12

    2.5 Sprays.............................................................................................................................. 13 2.5.1 Simulao de sprays ................................................................................................................. 15

    2.6 Escolha da Abordagem Experimental - Numrica ..................................................... 17

    2.7 A Tcnica Numrica Empregada ................................................................................. 19

    CAPTULO 3. MODELAGEM MATEMTICA........................................................... 21

    3.1 Modelagem Matemtica da Fase Contnua ................................................................. 21 3.1.1 Turbulncia............................................................................................................................... 24 3.1.2 Equaes constitutivas.............................................................................................................. 25

    3.2 Modelagem Matemtica da Fase Dispersa .................................................................. 27 3.2.1 Equilbrio lquido-vapor (ELV)................................................................................................ 31 3.2.2 ELV para fluidos ideais Lei de Raoult................................................................................... 32 3.2.3 Regras de mistura ..................................................................................................................... 34

    3.3 Correo do dimetro de gota ...................................................................................... 34

    3.4 Compreendendo a Fluidodinmica do Escoamento ................................................... 35

    3.5 Representao dos Pseudocomponentes ...................................................................... 39

    CAPTULO 4. MTODOS NUMRICOS E O CDIGO DE CFD ............................ 42

    4.1 Aspectos Gerais Sobre o Mtodo dos Volumes Finitos (MVF).................................. 43 4.1.1 Discretizao do termo transiente............................................................................................. 45 4.1.2 Discretizao do termo referente contribuio convectiva .................................................... 45 4.1.3 Discretizao do termo referente contribuio difusiva......................................................... 45 4.1.4 Discretizao do termo fonte .................................................................................................... 46 4.1.5 Esquemas de interpolao......................................................................................................... 46 4.1.6 Esquemas de interpolao Upwind Difference Schme (UDS) ................................................. 48 4.1.7 Esquemas de interpolao Higher Upwind............................................................................... 48

  • ix

    4.1.8 Esquemas de interpolao High Resolution ............................................................................. 48 4.1.9 Acoplamento presso velocidade ............................................................................................. 49

    4.2 MVF com base em Elementos Finitos .......................................................................... 50

    4.3 Geometria e Malha Numrica ...................................................................................... 50

    CAPTULO 5. APARATO DE ESTUDO ........................................................................ 53

    5.1 Modelo de resistncia para validao do modelo empregado.................................... 55

    CAPTULO 6. RESULTADOS E DISCUSSES ........................................................... 59

    6.1 Verificao de Coerncia Fsica do Modelo................................................................. 59 6.1.1 Resultados: ar mido e gua ..................................................................................................... 61 6.1.2 Modelo 1D para Pseudocomponentes....................................................................................... 63

    6.2 Modelo 3D para Pseudocomponentes .......................................................................... 64 6.2.1 Verificao da malha numrica ................................................................................................ 65 6.2.2 Representao da trajetria dos sprays ..................................................................................... 67 6.2.3 Mtodo de interpolao ............................................................................................................ 69 6.2.4 Modelos de turbulncia ............................................................................................................ 72 6.2.5 Anlise fluidodinmica do escoamento .................................................................................... 76

    6.3 Validao do Modelo de CFD Empregado .................................................................. 80

    6.4 Anlise de Sensibilidade Paramtrica.......................................................................... 82

    CAPTULO 7. CONCLUSES E SUGESTES............................................................ 85

    7.1 Principais dificuldades encontradas............................................................................. 87

    7.2 Sugestes para trabalhos futuros ................................................................................. 88

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................. 89

  • Lista de Figuras

    x

    Lista de Figuras

    Figura 2.1: Esquema de destilao (ABADIE, 2003). ........................................................... 6

    Figura 2.2: Evoluo conceitual dos projetos de fracionadoras de unidades de

    coqueamenteo retardado. ...................................................................................................... 10

    Figura 2.3: Exemplos de diferentes caractersticas de spray, (a) cone oco, (b) flat e (c)

    cone cheio (Hede et al., 2008).............................................................................................. 14

    Figura 3.1: Mapa de regimes de interao entre gotas e a turbulncia. (ELGHOBASHI,

    1994)..................................................................................................................................... 35

    Figura 3.2: Frao mssica dos componentes presentes na seo de GOL.......................... 40

    Figura 4.1: Balano de massa para um volume de controle. ................................................ 43

    Figura 4.2: Representao de um volume de controle.......................................................... 50

    Figura 4.3: Detalhamento da malha numrica. (a) Malha 1, (b) Malha 2, (c) Malha 3 e (d)

    10 camadas de prismas. ........................................................................................................ 52

    Figura 5.1: Torre de vcuo para destilao. (CALDAS et al., 2007)................................... 54

    Figura 5.2: Equipamento de estudo. ..................................................................................... 54

    Figura 5.3: (a) Torre a vcuo, (b) distribuidor de lquido e (c) entrada do vapor. ............... 55

    Figura 5.4: Modelo de resistncia para validao dos resultados......................................... 56

    Figura 5.5: Modelo de aleta para ilustrao do modelo. ...................................................... 57

    Figura 6.1: Representao do Modelo 1D empregado. ........................................................ 60

    Figura 6.2: Carta psicromtrica com os valores obtidos para o caso de validao e

    verificao do modelo empregado........................................................................................ 61

    Figura 6.3: Perfil de temperatura para simulao de ar mido e gua em condies

    unidimensionais. ................................................................................................................... 62

    Figura 6.4: Frao mssica de gua em condies unidimensionais.................................... 63

    Figura 6.5: Frao mssica para as hipteses para a modelagem dos componentes do

    sistema. ................................................................................................................................. 64

    Figura 6.6: Avaliao da frao molar do pseudocomponente no vapor para diferentes

    malhas................................................................................................................................... 66

    Figura 6.7: Perfil de temperatura para diferentes malhas. .................................................... 66

    Figura 6.8: Perfil de velocidade para diferentes malhas....................................................... 66

    Figura 6.9: Frao molar do pseudo no vapor para trajetrias diferentes. ........................... 68

  • Lista de Figuras

    xi

    Figura 6.10: Temperatura do pseudo no vapor para trajetrias diferentes. .......................... 68

    Figura 6.11: Velocidade do vapor para trajetrias diferentes............................................... 69

    Figura 6.12: Frao molar de pseudo no vapor para diferentes esquemas advectivos. ........ 71

    Figura 6.13: Temperatura do pseudo no vapor para diferentes esquemas advectivos. ........ 71

    Figura 6.14: Velocidade do vapor para diferentes esquemas advectivos. ............................ 72

    Figura 6.15: Frao molar do pseudo no vapor para diferentes modelos de turbulncia. .... 73

    Figura 6.16: Temperatura do pseudo no vapor para diferentes modelos de turbulncia...... 73

    Figura 6.17: Velocidade do pseudo no vapor para diferentes modelos de turbulncia. ....... 74

    Figura 6.18: (a) Frao volumtrica mdia de lquido, (b) Plano de corte a 1 m do

    distribuidor spray.................................................................................................................. 75

    Figura 6.19: Trajetria das gotas. ......................................................................................... 75

    Figura 6.20: Energia cintica turbulenta para a fase contnua.............................................. 76

    Figura 6.21: Taxa de dissipao de energia turbulenta. ....................................................... 77

    Figura 6.22: Escala integral Euleriana de turbulncia do fluido (tc). ................................... 77

    Figura 6.23: Escala dissipativa de Kolmogorov (tk). ........................................................... 78

    Figura 6.24: Tempo de relaxao da gota (td)...................................................................... 79

    Figura 6.25: Correlao turbulenta gota-vapor (tdg)............................................................ 79

    Figura 6.26: Stokes na escala de Kolmogorov (Stk). ........................................................... 80

    Figura 6.27: Validao do modelo empregado..................................................................... 82

    Figura 6.28: Perfil de frao mssica do pseudo para diferentes alturas do equipamento: (a)

    altura original, (b) 85,7% da altura original e (c) 71,4% da altura original. ........................ 83

    Figura 6.29: Perfil de temperatura do vapor para diferentes alturas do equipamento: (a)

    altura original, (b) 85,7% da altura original e (c) 71,4% da altura original. ........................ 84

  • Lista de Tabelas

    xii

    Lista de Tabelas

    Tabela 2.1: Vantagens da modelagem Lagrangeana para representao de sprays. ............ 18

    Tabela 2.2: Exemplos de aplicaes de CFD. ...................................................................... 19

    Tabela 3.1: Regras de mistura para as propriedades de transporte....................................... 34

    Tabela 3.2: Propriedades dos componentes.......................................................................... 40

    Tabela 3.3: Condies iniciais para o modelo. ..................................................................... 41

    Tabela 4.1: Nmeros de ns e camadas de prismas simulados. ........................................... 51

    Tabela 6.1: Distribuio de tamanho de gota. ...................................................................... 70

    Tabela 6.2: Valores globais comparativos entre os resultados analisados para o vapor. ..... 81

  • Nomenclatura

    xiii

    Nomenclatura

    Letras Latinas

    A rea e coeficiente matricial

    C Coeficiente convectivo e concentrao de partculas

    CD Coeficiente de arraste

    D Tensor taxa de deformao

    D Difusividade cinemtica e operador difuso

    d Dimetro

    e Vetor unitrio

    F Vetor fora

    f fugacidade

    G Gerao de energia cintica turbulenta

    g Acelerao gravitacional

    H Comprimento vertical

    h Distncia entre os ns e entalpia sensvel

    I Tensor identidade

    k Energia cintica turbulenta

    Ke Constante de equilbrio

    L Comprimento horizontal

    l Comprimento de mistura e ponto leste da malha

    M Foras interfaciais

    m Fluxo de massa

    n Vetor normal

    o Ponto oeste da malha

    P Ponto central do volume de controle

    p Presso

    PM Massa molar

    Q Vazo volumtrica e termo para representar a transferncia de calor da fase

    atravs da interface

    q Escala de velocidade

  • Nomenclatura

    xiv

    R Constante universal dos gases

    Re Nmero de Reynolds

    S Tensor cisalhante

    S Termo fonte

    Sh Nmero de Sherwood

    Sc Nmero de Schimidt

    SP Coeficiente angular de linearizao

    St Stokes na escala de Kolmogorov

    SU Coeficiente linear

    T Tensor tenso

    T Temperatura

    t Tempo

    U Velocidade axial e coeficiente global de transferncia de calor

    V Volume

    v Vetor velocidade

    x Frao molar em uma fase lquida

    Z Fator de compressibilidade

    y Componente ou frao molar em uma fase vapor

    w Frao mssica

    Letras Gregas

    Taxa de transferncia de massa entre fases

    Solubilidade

    Taxa de dissipao de energia trmica turbulenta

    Condutividade trmica

    Coeficiente de atividade

    Viscosidade molecular

    Viscosidade cinemtica

  • Nomenclatura

    xv

    Frao volumtrica

    Massa especfica

    Tensor normal, constante do modelo k-, tenso superficial

    Propriedade escalar genrica e coeficiente de fugacidade

    Fator acntrico

    Constantes e Parmetros

    A, B, C Parmetros para o clculo do equilbrio

    a, b Parmetros da equao cbica

    C1, C2, C Constantes do modelo k-

    K1, K2 Constantes do modelo de coeficiente de arraste

    k, Constantes do modelo k-

    Superescritos

    ` Indica flutuao

    __ Indica propriedade mdia temporal

    ef Valor efetivo

    T Indica operao matricial de transposio

    t Turbulento

    Subscritos

    b Condio de ebulio

    c Fase contnua ou condio crtica

    d Fase dispersa

    g Fase gs

    i Componente i

    k Relativo a fase genrica k

    L Fase lquida

  • Nomenclatura

    xvi

    nb Vizinhanas das regies analisadas

    O, o Referente ao ponto a oeste de P

    P Referente ao ponto central do volume de controle

    p gota

    res resistiva

    sat Condio de saturao

    V Fase vapor

    x Direo axial

    y Direo radial

    z Direo tangencial

    Escalas de tempo

    c Escala integral Euleriana de turbulncia do fluido

    d Tempo de relaxao das gotas

    e Tempo de durao dos grandes vrtices

    dc Correlao turbulenta gota-vapor

    Escala dissipativa de Kolmogorov

    Siglas

    CFD Fluidodinmica Computacional (Computational Fluid Dynamic)

    CFX Cdigo CFD comercial

    E-E Euleriano - Euleriano

    E-L Euleriano - Lagrangeano

    FEQ Faculdade de Engenharia Qumica

    MVF Mtodo dos Volumes Finitos

    1D Unidimensional

    2D Bidimensional

    3D Tridimensional

  • Consideraes Iniciais

    1

    CAPTULO 1

    CONSIDERAES INICIAIS

    1 CAPTULO 1. CONSIDERAES INICIAS

    O processo de destilao pode ser considerado como o precursor das operaes

    unitrias, sendo utilizado antes do sculo XX. A origem exata do processo no fica totalmente

    clara, sabe-se apenas que estaria relacionada produo de bebida alcolica. FORBES (1949)

    apresentou em seu livro intitulado A Short history of the art of distillation from the beginnings

    up to the death of Cellier Blumenthal uma descrio da origem da destilao a partir de

    estudos de outros pesquisadores. O autor menciona que de acordo com etnologistas os quais

    estudam civilizaes de tribos primitivas, uma tribo africana tinha um licor intoxicante que era

    obtido atravs da fermentao de uma farinha de aveia com gua, bebida esta chamada de

    manawa, uma espcie de bebida tradicional da tribo. Esta seria a primeira aplicao de um

    processo de destilao. Outros relatos apontados por Forbes tambm mencionam tribos da

    sia, e que a civilizao Grega j desenvolvia bebidas alcolicas. Entretanto o autor ressalta

    que nenhuma destas bebidas foi comprovada como sendo de origem destilada, embora seja

    possvel deduzir que, de alguma forma, a destilao j era conhecida 1000 a 2000 A.C., devida

    existncia nesta poca, de produtos como leos essenciais, remdios e perfumes, entre

    outros.

    A primeira coluna para o processo de separao conhecido por destilao foi

    desenvolvida por Cellier-Bumenthal na Frana em 1813. Perrier introduziu uma nova verso

    para o prato com bubble-cap na Inglaterra em 1822. Colunas com recheio j eram usadas antes

    de 1820 por Clement, o qual usava esferas de vidro para a destilao de bebidas alcolicas.

    Coffey inventou a primeira coluna com pratos em 1830. Apesar de haver relatos desde 1813

    do incio do processo de separao conhecido por destilao, somente cem anos depois surgiu

    a primeira publicao na forma de um livro tratando dos fundamentos da destilao: La

    Rectification de lalcohol, publicado por Ernest Sorel em 1893 intitulado (KISTER, 1992).

    Significativos progressos ocorreram nesta rea, at o ano de 1930. As aplicaes

    envolvendo destilao evoluram de uma ferramenta para a produo de bebidas alcolicas

  • Consideraes Iniciais

    2

    destiladas, tornando-se parte primordial nos processos da indstria qumica, tais como a

    extrao de produtos para qumica fina, extrao de leos essenciais e indstria de petrleo,

    entre outros. Um marco significativo neste avano foi quando a destilao passou

    a transformar o petrleo bruto em derivados de maior valor agregado, como o diesel e a

    gasolina.

    A complexidade que envolve os atuais avanos tecnolgicos tornou imprescindvel a

    aplicao de novas ferramentas que permitam o desenvolvimento de novos conhecimentos

    tcnicos. Destaca-se, atualmente, o uso da Fluidodinmica Computacional (CFD

    Computational Fluid Dynamics), que vem se tornando uma ferramenta de engenharia cada vez

    mais importante, reproduzindo detalhes locais do escoamento em equipamentos de forma

    tridimensional e transiente, alm de possibilitar a anlise de complexos fenmenos fsicos,

    como escoamentos multifsicos, turbulentos e reacionais. O uso de CFD no dia a dia do

    engenheiro uma forte tendncia que permite, entre outras coisas, a reduo dos custos de um

    projeto tradicional. Trata-se de uma rea com crescimento em torno de 30% a 40% ao ano na

    indstria brasileira em geral e, especificamente, na indstria de petrleo. O avano da CFD

    deixou de ser uma promessa para se tornar uma realidade, relativamente barata e eficiente,

    com resultados consolidados na indstria moderna.

    1.1 Objetivos da Tese

    Utilizando conjuntamente conhecimentos de Termodinmica, Processos de Separao

    (destilao) e de Fluidodinmica Computacional (CFD), o presente trabalho prope o

    desenvolvimento de um modelo matemtico para representao simultnea dos fenmenos de

    transferncia de calor, massa e momento em processos de destilao, considerando uma

    abordagem Euleriana-Lagrangeana. Neste tipo de abordagem, as gotas so modeladas

    individualmente a partir de trajetrias na fase contnua. Neste caso especfico, esta tcnica foi

    utilizada para a predio do comportamento em uma coluna de destilao a vcuo com

    distribuidor do tipo spray. Condies fluidodinmicas para analisar perfis de temperatura,

    velocidade e composio das fases contnua e dispersa sero detalhadamente discutidas ao

    longo deste trabalho e foram usadas para melhor compreenso e otimizao do equipamento

    citado.

  • Consideraes Iniciais

    3

    1.1.1 Objetivos Especficos

    Realizao de experimentao numrica para obteno de um modelo matemtico

    multifsico, multicomponente, tridimensional, turbulento e permanente, utilizando o

    software comercial ANSYS CFX com o acoplamento para a representao do

    fenmeno de mudana de fase a partir de rotinas FORTRAN para o estudo do

    equilbrio Lquido-Vapor em uma coluna de destilao a vcuo com sprays;

    aplicao do modelo desenvolvido para anlise de melhorias na performance do

    equipamento, aperfeioando e otimizando projetos a partir do estudo detalhado dos

    fenmenos envolvidos e determinao das variveis de maior relevncia.

    1.1.2 Organizao da Tese

    Captulo 2 apresentam-se os fundamentos tericos para uma melhor compreenso

    do processo de refino contextualizando a regio da coluna a vcuo, as tendncias de

    um projeto de coluna de destilao, alm de descrever os principais fenmenos

    envolvidos no estudo de colunas de destilao. Estes sero detalhadamente

    discutidos neste trabalho, incluindo o fenmeno da mudana de fase e a

    caracterizao da fluidodinmica de gotas.

    Captulo 3 a modelagem matemtica adotada para a resoluo desse trabalho

    apresentada, comparando-se os fundamentos matemticos para a representao da

    fluidodinmica de colunas de destilao a vcuo a partir dos princpios da

    conservao de massa, momento e energia, e das equaes constitutivas de natureza

    emprica necessrias para o fechamento do modelo.

    Captulo 4 os mtodos numricos, que se apresentam como uma ferramenta

    poderosa na tentativa de reproduzir e prever o comportamento da natureza, so

    apresentados numa discusso sobre o mtodo dos volumes finitos baseado em

    elementos finitos alm da caracterizao da malha numrica e da soluo de

    equaes, adotada nos experimentos numricos.

    Captulo 5 para facilitar a compreenso dos fenmenos envolvidos, detalha-se o

    equipamento adotado para a modelagem.

  • Consideraes Iniciais

    4

    Captulo 6 so apresentados os resultados obtidos com modelo multifsico com

    transferncia de calor e massa, adotado como aproximao da fluidodinmica de

    colunas de destilao a vcuo, e os estudos realizados para corrobor-los.

    Apresenta-se tambm uma discusso sobre a influncia do acoplamento das fases e

    uma proposta para otimizao geomtrica a fim de garantir a troca de energia

    necessria para o equipamento de estudo.

    Captulo 7 - as concluses e sugestes so apresentadas, apontando alguns

    desdobramentos para a continuidade deste estudo.

    .

  • Fundamentao Terica

    5

    CAPTULO 2

    FUNDAMENTAO TERICA

    2 CAPTULO 2. FUNDAMENTAO TERICA

    O Captulo 2 apresenta a Reviso Bibliogrfica elaborada no desenvolvimento desta

    Tese. O estudo da transferncia de calor e massa associado ao mecanismo de mudana de fase

    constitui um fenmeno extremamente complexo. Os trabalhos de maior relevncia para esta

    tese so apresentados, com nfase na descrio do processo de refino de petrleo,

    caracterizao da fluidodinmica de bolhas e gotas, estado da arte em simulao de sprays e a

    escolha da abordagem experimental-numrica. Embora o presente trabalho destine-se

    principalmente avaliao da fluidodinmica da seo de gasleo leve em uma torre de

    destilao a vcuo, a metodologia proposta pode ser empregada para outras sees de

    destilao onde distribuidores do tipo spray so utilizados.

    2.1 O Processo de Refino (ABADIE, 2003)

    A destilao um processo fsico de separao, baseado na diferena de ponto de

    ebulio (temperatura) entre os compostos numa mistura lquida. Variando-se as condies de

    aquecimento do petrleo, possvel vaporizar compostos leves, intermedirios e pesados que,

    ao se condensarem, podem ser separados. Paralelamente, ocorre a formao de um resduo

    pesado constitudo principalmente de hidrocarbonetos de elevada massa molar, que no se

    vaporizam em condies de temperatura e presso na qual a destilao realizada.

    Alm da temperatura, a presso outro fator importante no processo de destilao. O

    ponto de ebulio de um determinado lquido funo da presso a que ele est sendo

    submetido. Quanto maior for a presso exercida, maior ser a temperatura de ebulio do

    lquido. Assim, a diminuio da presso acarreta na diminuio da temperatura de ebulio do

    lquido.

    A conjugao desses dois parmetros temperatura e presso permite que um

    lquido como o petrleo seja separado em diversas fraes.

  • Fundamentao Terica

    6

    Para a descrio detalhada do processo de destilao, Figura 2.1, considera-se como

    ponto de partida o incio do bombeamento contnuo do petrleo frio, por meio de vrios

    trocadores de calor, nos quais o leo progressivamente aquecido e ao mesmo tempo em que

    resfria os produtos acabados que deixam a unidade de refino.

    Figura 2.1: Esquema de destilao (ABADIE, 2003).

    Antes do o petrleo ser enviado seo de fracionamento, este passa pela dessalgadora

    (ou dessalinizadora) para remoo de sais, gua e suspenses de slidos particulados,

    permitindo maior flexibilidade operacional em relao aos tipos de petrleo processados.

    Esses contaminantes causam srios danos unidade de destilao se no forem removidos do

    leo cr, limitam o tempo de funcionamento efetivo do equipamento, e causam ineficincia na

    operao da unidade.

    A dessalgadora um precipitador eletrosttico. A mistura gua/leo submetida a um

    campo eletrosttico ao entrar em um vaso de presso para coalescer as gotas de leo e

    promover a separao. O petrleo dessalinizado flui pelo topo do vaso, e continua seu fluxo

  • Fundamentao Terica

    7

    dentro da unidade, enquanto a salmoura formada (gua, sais e sedimentos) contnua e

    automaticamente descartada pelo fundo.

    O petrleo, aps ser dessalinizado, passa numa segunda bateria de pr-aquecimento,

    onde a sua temperatura elevada ao mximo valor possvel conseguido por troca trmica com

    as correntes quentes que deixam o processo. Quanto mais alta for a temperatura atingida no

    pr-aquecimento, menor ser a quantidade de combustvel gasta nos fornos para o

    aquecimento final do leo.

    Aps deixar o ltimo trocador da bateria de pr-aquecimento, o petrleo ainda est

    com uma temperatura abaixo da requerida para que ocorra um fracionamento eficaz. Com a

    finalidade de elevar mais a temperatura, possibilitando assim que as condies ideais de

    fracionamento sejam atingidas, a carga introduzida em fornos tubulares, onde recebe energia

    trmica produzida pela queima de leo e/ou gs combustvel.

    Para que se consiga vaporizar todos os produtos (que sero retirados na torre de

    destilao atmosfrica), a carga dever ser aquecida at o ponto estipulado, no devendo

    ultrapassar uma temperatura limite, a partir da qual tem incio a decomposio das fraes

    pesadas presentes no leo bruto. Em temperaturas demasiadamente elevadas, pode ocorrer o

    craqueamento trmico, que uma ocorrncia altamente indesejvel em unidades de destilao,

    pois provoca a deposio de coque nos tubos dos fornos e nas regies inferiores das torres,

    causando problemas operacionais. A mxima temperatura de aquecimento de petrleo, sem

    que haja perigo de decomposio trmica, de 400C, temperatura a qual boa parte do

    petrleo j se encontra vaporizado, e nessas condies a carga alimentada na torre.

    O ponto de entrada da torre conhecido como zona de vaporizao ou zona de flash.

    Esta a regio onde a separao em duas distintas correntes: uma constituda de fraes

    vaporizadas que sobe em direo ao topo da torre, e outra lquida, que desce em direo ao

    fundo.

    Os produtos so retirados da torre de destilao em determinados pontos da coluna,

    segundo as temperaturas limites de destilao das fraes desejadas (leo diesel, querosene e

    nafta pesada).

  • Fundamentao Terica

    8

    Pelo topo da torre de destilao so retirados os vapores de nafta leve e GLP, os quais

    so condensados, fora da torre, e posteriormente separados. O resduo da destilao

    atmosfrica que deixa o fundo da coluna chamado de resduo atmosfrico (RAT), e dele

    ainda devem ser retiradas fraes importantes por meio da destilao a vcuo.

    O resduo atmosfrico, subproduto da destilao atmosfrica do petrleo, um produto

    de elevada massa molar e de baixo valor comercial. Sua nica utilizao prtica como leo

    combustvel. Contudo nele, encontram-se contidas fraes de elevado potencial econmico,

    tais como os gasleos, os quais no podem ser separados por meio da destilao usual porque,

    devido aos seus altos pontos de ebulio presso atmosfrica se torna impossvel vaporiz-

    los, devido ao limite de 400C imposta pela decomposio trmica dos hidrocarbonetos

    pesados.

    A destilao a vcuo empregada usualmente em dois casos: produo de leos

    lubrificantes ou produo de gasleo para carga da unidade de craqueamento cataltico. O

    resduo atmosfrico que deixa o fundo da torre principal bombeado e enviado aos fornos da

    seo de vcuo, para que sua temperatura seja aumentada. Os hidrocarbonetos vaporizados na

    zona de flash desta coluna so geralmente coletados em duas retiradas: gasleo leve (GOL),

    pelo topo e gasleo pesado (GOP) por uma retirada lateral.

    O gasleo leve um produto ligeiramente mais pesado que o leo diesel podendo ser a

    ele misturado, desde que seu ponto final de ebulio no seja muito elevado. O gasleo leve

    um produto de topo, saindo neste local somente vapor dgua e hidrocarbonetos leves, e uma

    pequena quantidade de ar proveniente de ligeiros escapes nos equipamentos. Esses gases so

    succionados da torre pelo sistema de produo de vcuo.

    Entre a zona de flash e a retirada de gasleo pesado existe um conjunto de telas de ao

    superpostas chamadas de eliminador de nvoa (conhecido comumente pelo nome comercial de

    Demister Pad), com a finalidade de evitar o arraste conduzido pelo vapor de gotas das fraes

    pesadas oriundas do produto de fundo, que iriam contaminar os cortes laterais, aumentando o

    resduo de carbono e o teor de metais na carga a ser destinada ao craqueamento cataltico.

    O produto residual da destilao comumente chamado de resduo de vcuo. Este

    constitudo de hidrocarbonetos de elevadssimo massa molar, alm de contar com uma

  • Fundamentao Terica

    9

    razovel concentrao de impurezas. Conforme as suas especificaes pode ser vendido como

    leo combustvel de baixo valor agregado como por exemplo o piche.

    As torres de vcuo, comumente, possuem grande dimetro (valores superiores a 4m),

    uma vez que o volume ocupado por uma determinada quantidade de vapor bem maior em

    presses reduzidas do que presso atmosfrica.

    Os esforos para o estudo fluidodinmico com transferncia de calor e massa

    avaliando a mudana de fase foram concentrados na seo de gasleo leve da torre de

    destilao a vcuo. O modelo proposto trata-se de um modelo genrico e capaz de representar

    os fenmenos envolvidos para outras sees de destilao.

    2.2 Tendncias de um Projeto de Coluna de Destilao

    A evoluo conceitual de um projeto de uma coluna de destilao vem levando

    substituio dos tradicionais dispositivos de contato entre fases (pratos de destilao, recheios

    e chicanas) por sees de vazios em que sprays permitem o contato entre as fases. Este

    movimento uma tendncia natural, visando a minimizao da perda de carga da seo. O

    domnio dos fenmenos envolvidos alm do conhecimento das variveis de maior relevncia

    vem a ser fundamental para a aplicao destas tecnologias. A Figura 2.2 ilustra a evoluo

    desse conceito em torres fracionadoras de Unidades de Coqueamento Retardado. Para colunas

    de destilao a tendncia a substituio de sees com recheios para vazios.

    A Figura 2.2 (a) apresenta um projeto tradicional de uma coluna com pratos de

    destilao (vermelho) e chicanas (azul) idealizado em 2001. Na Figura 2.2 (b) um projeto

    idealizado em 2004, os pratos de destilao so substitudos por chicanas. J a Figura 2.2 (c),

    projeto idealizado em 2006, demonstra a tendncia da utilizao de distribuidores do tipo

    spray onde o dispositivo de troca de calor pode ser considerado como a prpria superfcie da

    gota.

    Esta evoluo conceitual traz diversas vantagens:

    Eliminao de regies de formao de acmulos indesejveis;

    Maior facilidade de inspeo e reparos do equipamento;

  • Fundamentao Terica

    10

    Maior tempo de operao do equipamento;

    Pratos

    Chicanas

    Spray

    (a) (b) (c)

    Figura 2.2: Evoluo conceitual dos projetos de fracionadoras de unidades de

    coqueamenteo retardado.

    A literatura apresenta um vasto estudo sobre colunas com recheios, como os trabalhos

    apresentados por TROMPIZ (2000) e SPIEGEL (2003). Contudo, o mesmo no ocorre para

    colunas com vazios (sprays). O primeiro passo na busca da compreenso dos parmetros que

    governam o desempenho da torre de destilao a vcuo pode consistir em experimentao

    virtual (numrica). Para isto, a ferramenta mais indicada a fluidodinmica computacional.

    Na aplicao da fluidodinmica computacional possvel realizar avaliaes adequadas de

    grandezas fundamentais, tais como: distribuio de velocidades das fases envolvidas no

    processo, distribuies do tempo de residncia, influncia da variao do dimetro da gota

  • Fundamentao Terica

    11

    sobre a mudana de fase. Estes aspectos fenomenolgicos sero explorados ao longo deste

    estudo.

    2.3 O Fenmeno de Mudana de Fase

    Os fenmenos de condensao e evaporao esto associados diretamente aos

    fenmenos de transferncia de calor e de massa. Este estudo altamente complexo pela

    dificuldade de representao dos fenmenos fsicos envolvidos, principalmente quando

    envolvem uma fase contnua e outra polidispersa. Essas dificuldades esto associadas tanto ao

    estudo numrico do problema quanto ao experimental.

    Em diversos processos industriais, o contato entre a fase gasosa e a fase lquida ocorre

    por disperso de gotas da fase lquida na fase gasosa. Para simular corretamente a

    representao da condensao e evaporao necessrio um modelo composto de pelo menos

    duas fases, uma dispersa e outra contnua. De forma geral, para o estudo do fenmeno de

    mudana de fase em uma coluna de destilao baseada em sprays, a fase contnua representa a

    fase vapor, enquanto que as gotas de leo caracterizam a fase dispersa. A fase dispersa fica

    diretamente em contato com a fase contnua durante um intervalo de tempo que deve ser o

    necessrio para se atingir o equilbrio termodinmico e trmico necessrio. As taxas de calor e

    massa envolvidas so dependentes das propriedades das fases envolvidas ( rea de troca,

    velocidade relativa e propriedades fsicas) e dos coeficientes de transferncia de calor e massa.

    Nos trabalhos de mudana de fase aplicados ao estudo de borbulhamento, geralmente,

    durante o contato entre as fases envolvidas, constata-se uma variao na hidrodinmica do

    sistema. Isto provocado, entre outros fatores, pelas mudanas na geometria das bolhas e nas

    temperaturas de ambas as fases, gerando, assim, um processo que opera em regime transiente.

    Este fato implica em dificuldades nas solues das equaes envolvidas, tanto do ponto de

    vista terico quanto em aplicaes experimentais, sendo que a literatura, embora trate de

    processos transientes, geralmente o faz de uma forma isolada apresentando resultados

    isoladamente para transferncia de massa ou de calor (SCHMEHL, 1999).

    Diversos autores estudaram o processo de borbulhamento, como SANTANA (1994)

    que mostra os fenmenos de transferncia envolvidos, abordando aspectos fundamentais a

    serem levados em conta (propriedades dos fluidos, velocidade de ascenso, dimetro da fase

  • Fundamentao Terica

    12

    dispersa, entre outros), descrevendo as dificuldades na obteno das taxas de transferncia de

    calor e/ou massa.

    Alguns aspectos importantes das pesquisas desenvolvidas na literatura so:

    anlise simultnea de transferncia de calor e massa, ou seja, as equaes de

    conservao resultantes devem ser resolvidas simultaneamente;

    necessidade do conhecimento das quantidades de calor envolvidas no processo para a

    determinao das quantidades de massa evaporada;

    ocorrncia de mudana na geometria que, alm de impossibilitar a representao do

    fenmeno atravs de um conjunto de equaes axialmente simtricas, provoca

    alterao na circulao interna com modificaes no perfil de velocidade e

    conseqente mudana nas taxas de transferncia de calor e massa.

    A transferncia de calor e massa, que ocorrem no fenmeno de mudana de fase,

    devem ser caracterizadas para uma descrio apropriada dos fenmenos envolvidos,

    permitindo que os coeficientes de transferncia expressem os efeitos das diferenas de

    temperaturas. Para a obteno de um modelo mais completo para uma coluna de destilao,

    torna-se imprescindvel o conhecimento dos fenmenos de transporte das duas fases.

    2.4 Caracterizao da Fluidodinmica de Bolhas/Gotas

    Para sistemas em que h gotas, fatores ligados hidrodinmica das gotas (tais como

    forma, dimenses, velocidade de ascenso, perfis de velocidade, foras de arraste, tempo de

    resistncia) tm influncia direta ou indireta nas taxas de transferncia, o que leva

    necessidade de quantific-las tanto na fase gasosa, quanto na fase lquida. Devido

    complexidade do comportamento de grupos de bolhas ou gotas em um meio contnuo,

    atualmente ainda se modelam estes sistemas polidispersos com base nos estudos de uma

    partcula isolada. Mesmo esta abordagem simplificada permite uma melhor descrio desse

    comportamento e suas principais caractersticas.

    O conhecimento da distribuio de gotas de um sistema requisito fundamental para a

    anlise de todos os fenmenos em um sistema disperso como, por exemplo, o que se observa

  • Fundamentao Terica

    13

    em equipamentos do tipo de ciclone. A literatura apresenta diversos trabalhos onde os autores

    discutem diversas metodologias para a determinao do dimetro de gotas. Os trabalhos

    desenvolvidos por MUGELE e EVANS (1951), SELLENS e BRZUSTOWSKI (1986),

    SOVANI et al. (1999), e BABINSKI e SOJKA(2002) apresentam detalhadamente diferentes

    metodologias para a caracterizao da distribuio de gotas.

    SANTANA (1994) indica em seu trabalho que, para dimetros pequenos, a bolha ou a

    gota possui formato esfrico, enquanto que, para nmero de Reynolds elevados, h uma

    distoro desse formato. O pesquisador observou que a dimenso das bolhas e/ou gotas,

    dependente, entre outros fatores, das propriedades fsicas do gs e do lquido, do dimetro do

    orifcio onde gerado, da tenso interfacial gs-lquido ou lquido-lquido e da taxa

    volumtrica do escoamento do gs atravs do orifcio.

    Um estudo de caracterizao fenomenolgica para bolhas foi desenvolvido por GUET

    et al. (2003) observando que pequenas bolhas possuem menores velocidades de ascenso no

    lquido quando comparada com bolhas grandes. Pequenas bolhas no escoamento ascendente

    se movem no sentido da parede, enquanto que bolhas grandes se movimentam para o centro da

    tubulao. Por esses motivos, bolhas pequenas ficam distribudas mais uniformemente na

    tubulao e, conseqentemente, a concentrao de gs no fluxo com bolhas pequenas menor.

    2.5 Sprays

    O processo de atomizao (tambm chamado de nebulizao) consiste basicamente em

    transformar uma fase contnua lquida em gotas pequenas. O jato lquido desintegrado pela

    energia cintica da prpria fase lquida, ou pelo contato com a fase gs em contra-corrente. As

    diversas origens do fenmeno de atomizao faz com que na sua grande maioria resulte em

    um spray caracterizado por um amplo espectro de tamanhos de gotas. Este comportamento faz

    com que a caracterizao da distribuio do dimetro de gotas seja dificultado, o que se torna

    um obstculo na determinao de uma metodologia completamente eficaz para tal

    representao.

    A eficincia de um atomizador influenciada pela sua prpria geometria (detalhes

    internos, dimetro de sada do spray) alm das caractersticas da fase contnua. As

  • Fundamentao Terica

    14

    propriedades da fase lquida (massa especfica, tenso superficial, viscosidade) tambm

    influenciam significativamente as caractersticas do tipo de distribuio de gotas obtido no

    spray.

    No estudo apresentado por Hede et al. (2008), uma reviso bibliogrfica sobre os

    trabalhos de maior relevncia em sprays apresentada. A ilustrao apresentada na Figura 2.3

    representa as diferentes reas molhadas obtidas com os diferentes tipos de bicos spray. A

    Figura 2.3 (a) apresenta o spray do tipo cone oco, Figura 2.3 (b) o spray do tipo flat e Figura

    2.3 (c) spray do tipo cone cheio. Para o presente estudo empregado o spray do tipo cone

    cheio com um ngulo de 60.

    Figura 2.3: Exemplos de diferentes caractersticas de spray, (a) cone oco, (b) flat e (c)

    cone cheio (Hede et al., 2008).

    No trabalho desenvolvido por LEFEBVRE (1989), um amplo estudo sobre

    caracterizao de sprays apresentado. Descrevendo as propriedades dos lquidos que

    exercem maior influncia sobre a distribuio do dimetro de gotas, concluiu-se que a tenso

    superficial, uma das variveis de maior relevncia. Conceitualmente, a tenso superficial

    pode ser entendida como a fora de resistncia formao ou ampliao de uma nova rea de

    contato entre duas ou mais fases. A energia mnima requerida para que ocorra a atomizao

    igual prpria tenso superficial multiplicada pelo aumento da rea superficial do lquido. A

  • Fundamentao Terica

    15

    razo entre a razo da fora inercial e a tenso superficial representada pelo parmetro

    adimensional conhecido como Nmero de Weber (We), que empregado para correlacionar

    os valores obtidos para dimetro de gotas.

    A viscosidade consiste em uma das propriedades mais importantes dos lquidos.

    Apesar de a tenso superficial influenciar mais na atomizao, esta propriedade tambm

    fundamental para a descrio do fluxo desta fase e as tendncias de escoamento das gotas

    geradas pelo spray.

    2.5.1 Simulao de sprays

    Para a representao matemtica do escoamento bifsico gs-lquido so empregados

    basicamente dois tipos de abordagens: a Euleriana-Lagrangiana (E-L); e a Euleriana-Euleriana

    (E-E). Na abordagem E-L, aplicada neste estudo, o gs considerado como uma fase

    contnua, enquanto o lquido considerado uma fase descontnua. As fases interagem entre si

    por meio de foras de interao, como as de arraste. A fase contnua modelada por equaes

    clssicas de conservao baseadas na mecnica do contnuo, e as gotas (ou bolhas), como

    entidades individuais, tratadas pela mecnica clssica do corpo slido, especificamente pela

    aplicao da 2a Lei de Newton. Para a abordagem E-E, todas as fases so consideradas como

    fases contnuas, possuindo propriedades distintas na mesma localizao do espao-tempo,

    interagindo entre si e induzindo interpenetrabilidade das fases (MEIER, 1998).

    A simulao de sprays um tema que tem chamado a ateno da comunidade

    cientfica em funo da ampla gama de aplicaes. Alguns dos primeiros trabalhos detalhados

    nessa rea foram desenvolvidos por PIGFORD e PYLE (1951) e BOZORGI et al. (2006), nos

    quais foram realizados experimentos para determinar a influncia de parmetros como a razo

    de gs/liquido do sistema, distribuio de gotas, tipo do bico (spray) utilizado, formao de

    filme na parede, alm dos diversos parmetros de projetos envolvidos. O trabalho

    desenvolvido por Pigford e Pyle teve um carter predominantemente experimental, segundo

    Bozorgi.

    Colunas de destilao operando em condies de vcuo so equipamentos que

    usualmente possui grandes dimetros. Portanto, existe um grande empenho no projeto

    otimizando tais equipamentos, o que inclui a opo de utilizao de atomizadores (sprays). A

  • Fundamentao Terica

    16

    substituio de chicanas por sprays, conforme mencionado no item 2.2, mostra diversas

    facilidades, tais como o aumento da rea de contato entre fases liquido/gs, alm da reduo

    de paradas do equipamento para manuteno.

    Alguns fatores podem influenciar significativamente na regio de vazios:

    reduo do espao entre os sprays e o leito;

    anlise da escolha do tipo de spray empregado;

    estudo do arranjo para a distribuio dos sprays.

    A formao de um filme na parede do equipamento um fenmeno real, o qual vem

    sendo alvo de estudo de alguns pesquisadores. O trabalho desenvolvido por OLUIC (2001)

    apresenta o estudo experimental sobre sprays do tipo cone cheio com grande ngulo ( 120).

    Neste estudo, o pesquisador considera o dimetro mdio para as gotas variando entre 0,2 mm e

    2 mm. Chama a ateno para o fato de grande quantidade do lquido se deslocar no sentido da

    parede, formando um filme que chega a conter 50% do lquido aspergido pelo spray.

    Quantificar a massa de lquido na parede extremamente difcil, por ser uma

    quantidade muito influenciada pelas condies de operao do sistema e do tipo de spray

    adotado. BOZORGI et al. (2006) tambm demonstram estudos experimentais em que em

    torno de 75% de lquido est na regio prxima parede do equipamento, nas condies

    experimentais realizadas. SHARMA e MEHTA (1970) fizeram seus estudos tendo como foco

    principal a transferncia de massa em torres que dispem de spray, Nestas pesquisas foram

    negligenciadas, no modelo, a formao do filme na parede do equipamento, mas ressaltaram a

    existncia da formao deste.

    A pesquisa desenvolvida por MICHALSKI (1997) empregou um modelo

    unidimensional para a estimativa do comportamento fluidodinmico das gotas. Por este

    motivo no possvel considerar a formao do filme na parede.

    A distribuio do dimetro de gotas empregada neste trabalho foi fornecida pela

    empresa fabricante dos sprays utilizados na coluna analisada. A distribuio do dimetro de

  • Fundamentao Terica

    17

    gotas correlacionada atravs da capacidade e perda de carga do spray. Maiores detalhes

    sobre os valores da distribuio bem como do spray so apresentados no decorrer do trabalho.

    2.6 Escolha da Abordagem Experimental - Numrica

    Cdigos de CFD tm sido empregados desde o ano de 1960 para a simulao de casos

    industriais, basicamente para casos unidimensionais (1D), e com srias limitaes no

    detalhamento matemtico necessrio para um bom resultado.

    O desenvolvimento de uma nova gerao de ferramentas computacionais e mtodos

    numricos, a partir da dcada passada, vem proporcionando maior nvel de detalhamento

    fenomenolgico na anlise de casos de estudo, aumentando significativamente a qualidade das

    predies tericas. Isto foi possvel graas aos avanos computacionais.

    MASON e LEVY (1998) compararam a utilizao de um modelo unidimensional (1D)

    com um tridimensional (3D), simulando o escoamento gs-slido em uma tubulao. Ambos

    os modelos resolveram as equaes de conservao de massa, de momento e de energia.

    Observaram que o modelo 1D apresenta, como esperado, resultados mais rpidos em relao

    ao 3D, embora este apresente a vantagem de predizer problemas em algumas regies para

    geometrias com curvas, tais como o desgaste em curvas, e na predio de escoamento

    estratificados, onde a velocidade de transporte menor que o da suspenso. Para representao

    adequada da fluidodinmica do sistema de estudo a modelagem 3D fundamental.

    MUDDE e SIMONIN (1999) simularam a injeo de bolhas no centro da base de uma

    geometria retangular, utilizando o cdigo ASTRID. As simulaes incluram a turbulncia

    com o modelo k- para as geometrias bidimensional (2D) e tridimensional (3D). Observaram

    que, para o caso 2D, uma soluo estacionria obtida enquanto para o caso 3D, o

    escoamento no atinge o regime estacionrio, de tal maneira que o escoamento

    inerentemente transiente. A viscosidade turbulenta observada para o caso 3D menor do que o

    2D; conseqentemente a difuso da bolha menor no caso 2D.

    Em 2001, MUDDE e VAN DEN AKKER avaliaram a simulao de condies 2D e

    3D em um reator air lift, considerando a condio de estado estacionrio. Basearam-se no

    escoamento bifsico com o modelo de turbulncia k- . A geometria 3D apresentou uma

  • Fundamentao Terica

    18

    reprodutibilidade fenomenolgica melhor das condies reais, comparada ao desempenho da

    geometria 2D.

    NORILER (2003) observou a formao de pequenas zonas de recirculao ao simular

    o escoamento 3D transiente em um prato de destilao, o que no foi observado no modelo

    2D.

    O modelo matemtico empregado ao longo desta tese consiste em uma abordagem

    Euleriana-Lagrangeana para o escoamento multifsico. Tal abordagem demonstra-se a mais

    indicada para aplicaes em que a frao volumtrica da fase dispersa (fase lquida no caso)

    seja prxima ou inferior a 1% (FAETH, 1987). Ao comparar a modelagem Euleriana-

    Lagrangeana com a abordagem Euleriana-Euleriana, diversas vantagens podem ser

    ressaltadas. A Tabela 2.1 apresenta as vantagens da modelagem Lagrangeana

    comparativamente com a Euleriana.

    Tabela 2.1: Vantagens da modelagem Lagrangeana para representao de sprays.

    Lagrangeana Euleriana

    Representao do

    dimetro das

    gotas

    Possibilidade de modelagem

    de uma ampla faixa de

    dimetro de gotas

    Soluo de um sistema adicional de

    equaes de conservao para cada

    dimetro de gota simulado (aumento do

    tempo computacional)

    Discretizao

    geomtrica

    Definio de pontos de injeo

    representando a entrada da fase

    lquida nos sprays

    Discretizao da regio de entrada de

    lquido, acarretando em malhas

    extremamente refinadas (aumento do

    tempo computacional)

    Em contrapartida s vantagens apresentadas na Tabela 2.1 para o caso de estudo a que

    se prope este trabalho, para uma aplicao onde fosse de interesse a representao da

    influncia do detalhamento interno do spray uma abordagem E-E seria mais adequada. Outra

    caso seria, por exemplo a necessidade de reproduzir o fenmeno de cavitao no interior do

    spray.

  • Fundamentao Terica

    19

    2.7 A Tcnica Numrica Empregada

    Segundo GUNZBURGER e NICOLAIDES (1993), CFD consiste na anlise de

    problemas, ou seja, situaes fsicas envolvendo escoamento de fluidos, transferncia de calor,

    de massa, e fenmenos associados (como reaes qumicas), por meio de fontes

    computacionais de simulao numrica. Esta tcnica poderosa e abrange vrias aplicaes

    nas reas industrial e educacional (Tabela 2.2).

    Tabela 2.2: Exemplos de aplicaes de CFD.

    REA DE APLICAO EXEMPLOS

    Automotiva Aerodinmica de veculos, escoamento atravs de

    vlvulas, filtros e tanques.

    Processos Industriais

    Escoamento de plstico e vidro, matrizes de extruso,

    transferncia de calor e de massa em reatores qumicos,

    operaes unitrias (destilao, evaporao, filtrao e

    secagem) e tratamento de guas e efluentes.

    Biomdica e Farmacutica Escoamento de fluidos atravs de veias, artrias,

    prteses e crebros.

    Alimentcia Processos de pasteurizao e envase de lquidos.

    Aeroespacial

    Escoamento em torno de corpos submergidos, efeitos

    da ao (ou ausncia) da gravidade, cabines de

    ventilao e tanques.

    As tcnicas de CFD apresentam grande utilidade na concepo de projetos novos e/ou

    otimizados, produzindo grandes volumes de resultados computacionais com baixos custos, se

    comparados com o caso da construo de um aparato experimental e execuo de

    experimentos reais. Entre as vantagens da utilizao da tcnica de CFD como uma ferramenta

    aliada ao conhecimento tcnico e cientfico, destacam-se:

  • Fundamentao Terica

    20

    reduo substancial de tempo computacional e custos, relativos concepo de

    novos projetos;

    facilidade em estudar problemas onde os controladores experimentais so difceis,

    impossveis ou perigosas de se estabelecerem como, por exemplo, situaes

    relacionadas a grandes escalas;

    nvel ilimitado de detalhes dos resultados com as simulaes para projeto;

    O emprego de CFD tm crescido em torno de 30 a 40% ao ano na indstria brasileira

    (segundo dados da empresa ESSS do ano de 2007), especialmente na indstria de petrleo. Na

    maior empresa de refino de petrleo do Brasil, a PETROBRAS, as aplicaes se iniciaram h

    cerca de duas dcadas. As primeiras anlises eram uni ou bidimensionais, em regime

    estacionrio, monofsicas e em geometria retangular (DAMIAN, 2007). Com avano

    computacional, iniciaram-se as anlises em regime turbulento, transiente e em geometrias

    complexas. Atualmente tm sido simulados vrios equipamentos acoplados, incluindo

    fenomenologia complexa em um nmero de aplicaes cada vez maior.

  • Modelagem Matemtica

    21

    CAPTULO 3

    MODELAGEM MATEMTICA

    3 CAPTULO 3. MODELAGEM MATEMTICA

    Um modelo matemtico no a representao fiel da realidade concreta do fenmeno,

    mas apenas uma tentativa de represent-la adequadamente num campo abstrato da realidade

    matemtica. Assim, tanto melhor ser o modelo quanto mais adequadamente ele descrever a

    realidade, com a simbologia, regras de sintaxe, propriedades e definies tpicas da

    matemtica (MEIER, 1998).

    O objetivo principal desse captulo apresentar a modelagem matemtica proposta

    para a representao das equaes que governam o escoamento multifsico, tridimensional e

    turbulento, associados fluidodinmica de uma seo de uma coluna de destilao a vcuo

    equipada com distribuidor do tipo spray.

    3.1 Modelagem Matemtica da Fase Contnua

    O modelo matemtico dos fenmenos de transporte so aqueles que utilizam os

    princpios fsico-qumicos regidos por leis de conservao de massa, de energia e momento,

    ou seja:

    conservao de massa (Lei de Lavoisier) Na natureza nada se perde, nada se cria,

    tudo se transforma;

    conservao de energia (1a Lei da Termodinmica) A variao na energia de um

    sistema igual ao calor fornecido ao sistema, menos o trabalho realizado pelo

    sistema;

    conservao de momento (2a Lei do Movimento de Newton) O somatrio das

    foras atuantes sobre o sistema igual a variao do momento.

  • Modelagem Matemtica

    22

    Para um caso CFD, o modelo matemtico pode ser considerado fechado, ou seja,

    passvel de soluo matemtica, se estiver composto por todas as equaes de conservao

    relevantes, com todas as informaes experimentais ou constitutivas, e por todas as condies

    iniciais e de contorno que descrevem o fenmeno a ser estudado.

    As equaes de conservao e as condies de contorno tradicionais aplicadas em

    simulaes CFD, para escoamentos monofsicos, podem ser encontradas em diversas

    publicaes clssicas, como BIRD (2002), MALISKA (2004).

    Aplicando estas leis de conservao ao escoamentos multifsicos e multicomponentes

    (as fases so misturas de diversas substanciais), para uma abordagem Lagrangeana-Euleriana

    em um sistema Gs-Lquido, onde a fase contnua a gasosa, que escoa no sentido

    ascendente, e a fase dispersa a lquida, que escoa no sentido descendente chega-se a

    seguinte descrio matemtica (BIRD, 2002),:

    Equao da conservao de massa total (equao da continuidade)

    ( ) ( )

    =+ PN

    CDCDCCCt

    v (3.1)

    onde

    CD a taxa lquida de transferncia de massa entre as fases contnua e dispersa por

    unidade de volume.

    C e D representam as fases contnua e dispersa respectivamente.

    Equao da conservao de momento (equao do momentum)

    ( ) ( ) gMTvvv cCCCCCC .p.t +++=+

    (3.2)

    em que CM representa as foras interfaciais presentes sobre a fase contnua devido

    presena de outras fases e T o tensor tenso que, para um fluido newtoniano, pode ser

    expresso pela equao de Stokes:

  • Modelagem Matemtica

    23

    ( )[ ]TCCC vvT += (3.3)

    onde c a viscosidade dinmica.

    Equao de conservao do componente i na fase contnua

    ( ) ( ) ( ) mC,iiCiCCiCCiCC )y(Dyyt =+

    v (3.4)

    iCD coeficiente de difuso molecular;

    iCD difusividade cinemtica.

    mC,i o termo fonte (Ex.: - transferncia entre fases, reaes qumicas)

    Equao da energia

    onde:

    Ch entalpia sensvel da fase contnua

    CT temperatura da fase contnua

    C condutividade trmica

    CS representa fontes externas de calor

    CQ representa a transferncia de calor da fase c atravs da interface com outras fases

    mC,i representa a transferncia de calor induzida pela transferncia de massa

    ( ) ( ) ( ) =

    ++=+ Ncomp

    1icCCmC,iCCCCCCC SQhThht

    v (3.5)

  • Modelagem Matemtica

    24

    3.1.1 Turbulncia

    As equaes de conservao mdias temporais podem ser usadas como uma

    aproximao para representar tanto o escoamento em regime laminar quanto o escoamento em

    regime turbulento, em virtude deste ltimo ser de natureza instantnea (VERSTEEG e

    MALALASEKERA, 1995). Entretanto, no comum, para propsitos de clculos de

    engenharia, resolver tais equaes na forma direta, pelo fato da necessidade de escalas

    temporal e espaciais muito pequenas para caracterizar o escoamento instantneo. Isto conduz a

    um esforo computacional atualmente indisponvel, exceto para escoamentos em baixo

    nmero de Reynolds. Devido a isto, introduz-se os conceitos das mdias temporais e o da

    decomposio de Reynolds.

    A mdia temporal de uma propriedade qualquer definida como1:

    dtt

    1tt

    t+

    =

    (3.6)

    em que t uma diferena de tempo grande em relao s flutuaes turbulentas, e pequeno

    em relao ao tempo em que se almeja avaliar. Separando-se em termos das flutuaes, tm-

    se:

    '+= (3.7)

    sendo uma varivel fluidodinmica instantnea, a sua mdia temporal, e a flutuao de

    ( isto , a diferena entre a mdia e seu valor instantneo).

    Introduzindo este conceito nas equaes de transporte, e aplicando o procedimento

    conhecido como decomposio de Reynolds, obtm-se as equaes mdias temporais para as

    propriedades envolvidas (massa, velocidade e presso):

    Equao mdia-temporal da continuidade,

    1 Todas variveis sero consideradas como variveis mdias-temporais sem a notao ( ), por questes de convenincia.

  • Modelagem Matemtica

    25

    ( ) ( ) =

    =+ PN

    1DCDCCCt

    v (3.8)

    Equao mdia-temporal de energia

    Equao mdia-temporal do momentum,

    ( ) ( ) c'c'ctcccc p)- .(.t MvvTTvvv

    ++=+

    (3.10)

    O termo da Equao (3.9), 'c

    'cvv refere-se mdia temporal do produto didico da

    flutuao da velocidade e chamado de tensor de Reynolds ou tensor turbulento. E

    justamente este novo termo na equao do momentum que responsvel pela mistura de

    momentum em escoamentos turbulentos, ou seja, responsvel pela dissipao de energia..

    Dificuldades aparecem quando da caracterizao do tensor de Reynolds em termos das

    propriedades mdias temporais. Este problema conhecido como problema de fechamento da

    turbulncia (turbulence closure) e ainda considerado em aberto na Fsica contempornea.

    Este fechamento se d pela utilizao dos chamados modelos de turbulncia.

    Para o estudo da troca de calor e massa na coluna de destilao de interesse sero

    avaliados, para representao da fase contnua, dois modelos de turbulncia, o modelo clssico

    de turbulncia k- (WILCOX, 2000) e o modelo SST (MENTER, 2003).

    3.1.2 Equaes constitutivas

    Para o clculo de momento pode-se dizer que a fora total exercida na interface (foras

    inerciais) entre as fases, pode ser escrita da seguinte forma

    CD

    N

    CDCD

    P

    FF =

    e DCCDFF = (3.11)

    Alguns dos efeitos que podem criar foras de interface, em que;

    ( ) ( ) ( ) =

    ++=+ Ncomp

    1icCCmC,iCCCCCCC SQhThht

    v (3.9)

  • Modelagem Matemtica

    26

    TDCD

    VMCD

    LUBCD

    LCD

    DCDCD FFFFFF ++++= (3.12)

    onde:

    DCDF fora de interface devido ao arraste;

    LCDF fora lift;

    LUBCDF wall lubrification force;

    VMCDF fora de massa virtual;

    TDCDF fora de dissipao turbulenta.

    Neste trabalho discutido apenas a fora de arraste, por esta ser a de maior relevncia

    para a aplicao que esse estudo se prope.

    A fora de arraste a fora exercida pelo fluido sobre um corpo imerso:

    ( )DCCDDCDF vv = (3.13)

    Como CC = 0 e CD=DC

    Como j discutido na literatura em trabalhos como o de GIDASPOW (1994), o arraste

    sofrido por uma partcula escoando em uma fase contnua pode ser dado por:

    Ento a fora total de arraste por unidade de volume avaliada como:

    PPDCD FnF = (3.15)

    onde:

    ( )CDCDPCDP AC21

    vvvvF = (3.14)

  • Modelagem Matemtica

    27

    AP rea projetada por uma nica partcula, na direo do escoamento;

    nP nmero de partculas ou gotas por unidade de volume;

    CD coeficiente de arraste na interface.

    Para o estudo da transferncia de calor e massa na seo de vcuo foi utilizado o

    coeficiente de arraste de Shiller Naumann. Este coeficiente aplicvel para gotas que podem

    ser consideradas como esfricas.

    ( )687,0D Re15,01Re24

    C += (3.16)

    Para a equao de energia o tratamento para a transferncia de calor entre uma fase contnua e

    dispersa pode ser escrito da seguinte forma, a partir do Nmero de Nusselt na interface (BIRD,

    2002) para o regime turbulento.

    3,05,0 PrRe6,02Nu += (3.17)

    onde:

    Pr Nmero de Prandtl.

    Sendo que o Nmero de Nusselt, para a interface entre as fases pode ser definido da seguinte

    forma (INCROPERA, 2006)

    CD

    PCDdhNu

    = (3.18 (a))

    3.2 Modelagem Matemtica da Fase Dispersa

    Para a representao efetiva de um sistema envolvendo sprays adotou-se a abordagem

    Lagrangeana para a modelagem da fase dispersa que, neste caso a fase lquida. Esta

    abordagem se apresenta como a mais adequada para a discretizao dos pontos de injeo das

    gotas, conforme justificado no Captulo 2 Fundamentao Terica.

  • Modelagem Matemtica

    28

    A literatura apresenta uma grande diversidade de trabalhos de simulao de

    funcionamento de sprays, destacando-se o trabalho de alguns pesquisadores como MUGELE

    (1951). Em sua pesquisa, MUGELE (1951) ressalta a importncia do conhecimento do

    dimetro de gotas, como uma condio do sistema em estudo, sendo pr-requisito para uma

    anlise fundamental dos fenmenos de transferncia de massa e de calor. A distribuio dos

    dimetros de gota em uma coluna de fracionamento determina, por exemplo, a taxa de

    transferncia de calor e massa entre as fases. Diferentes metodologias so discutidas para a

    determinao dos dimetros de gota para as mais diversas substncias, alm de propor uma

    expresso para a determinao destes dimetros com bons resultados. Contudo, para a

    aplicao da metodologia proposta por Mugele para a determinao do dimetro de gota,

    muitas vezes, nem todos os parmetros necessrios so conhecidos.

    A aplicao de um modelo Euleriano-Euleriano para anlise simultnea da

    transferncia de calor e massa no projeto de colunas com sprays foi proposto por MEYER

    (1995). Do ponto de vista macroscpico o modelo inclui a presena da fase contnua (gs),

    o bico spray e a disperso de gotas alm da considerao da formao de um filme na

    parede do equipamento. Do ponto de vista microscpico, foram consideradas as

    transferncias simultneas de calor e massa. Os resultados obtidos com o modelo foram

    comparados com dados experimentais obtidos em uma planta piloto, com boa

    concordncia. O pesquisador utilizou o dimetro mdio de Sauter para caracterizao do

    dimetro mdio das gotas adotado para o estudo. Embora as consideraes do estudo

    possam parecer razoveis, poucos detalhes foram apresentados no trabalho, como por

    exemplo, as condies detalhadas de processo em que os dados experimentais foram

    obtidos. As caractersticas do distribuidor com 41 bicos do tipo spray, fazem com que o uso

    de uma abordagem Euleriana-Euleriana para discretizao dos bicos seja invivel,

    considerando os recursos computacionais atuais.

    TROMPIZ (2000) apresenta uma metodologia para determinao do dimetro

    inicial da gota em funo do nmero de Weber (We), do nmero de Reynolds (Re) e do

    dimetro do orifcio do spray. Entretanto variveis importantes para a estimativa do

    dimetro de gota, como a tenso superficial do fluido, so desconsideradas.

  • Modelagem Matemtica

    29

    BECK (2003) considera uma abordagem Euleriana-Eulerina, apresentando uma

    metodologia desenvolvida pelo prprio autor para a representao das gotas formadas por

    um spray como uma funo de distribuio de gotas. O autor prope um sub-modelo para a

    representao do arraste, da quebra e coliso das gotas atravs de equaes de transferncia

    de calor e massa. Alm das dificuldades encontradas para a discretizao do spray, a

    metodologia proposta apresenta a dificuldade de necessitar de uma srie de parmetros

    iniciais para a representao do fenmeno de interesse.

    KIM (2003) considera uma abordagem Euleriana-Lagrangeana para o estudo da

    evaporao de uma nica gota. A metodologia empregada semelhante apresentada no

    presente trabalho, entretanto a aplicao do modelo desenvolvido pelo autor KIM (2003)

    considera apenas o fenmeno da evaporao e uma nica gota. Consideraes como a

    condensao e a variao do dimetro de gota foram desprezadas.

    Assim como KIM (2003), BOZORGI (2006) considera uma abordagem Euleriana-

    Lagrangeana para o estudo da evaporao de gotas. Entretanto uma forte considerao foi

    adotada para representar a variao do dimetro de gota em virtude do fenmeno de

    evaporao ter sido desconsiderado.

    Os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores, MUGELE (1951), MEYER

    (1995), TROMPIZ (2000), BECK (2003), KIM (2003) e BOZORGI (2006), no

    exploraram o nvel de complexidade e detalhamento propostos nessa tese. Esta pesquisa

    contempla o desenvolvimento cientfico diretamente relacionado com a inovao

    tecnolgica de engenharia para a modelagem de dispositivos tipo spray envolvendo os

    fenmenos de transferncia de calor e massa simultneos para distribuidores do tipo spray.

    A partir da representao apresentada no software ANSYS CFX (2007) para a fase

    dispersa usando a abordagem lagrangeana, se prope para a representao da condensao

    e da evaporao de gotas (considerando a gota como uma esfera rgida), a seguinte equao

    para a representao do fluxo de massa existente na fase dispersa:

    ( )VeLpmC,iD wKwDShddtdm

    == (3.19)

  • Modelagem Matemtica

    30

    O cdigo multifsico lagrangeano do software comercial ANSYS CFX-11.0 para a

    modelagem de transferncia de massa entre fases considera somente a evaporao da fase

    lquida discreta. Assim, foi desenvolvido um cdigo especial e Fortran, a fim de prever a

    possibilidade de condensao da fase contnua tambm. O termo fonte que prev a

    transferncia de massa nas equaes de conservao na Equao (3.19) no alterado,

    apenas passa a ser permitido que tenha tanto sinal positivo (condensao) quando sinal

    negativo (evaporao). O equilbrio de fases na interface limita a transferncia de massa

    (ANSYS CFX, 2007), j que, para o modelo empregado, no so consideradas variaes de

    composio no interior da gota. Quando o equilbrio for atingido, a troca de massa cessar.

    Conforme a Eq. (3.19), o fluxo de massa pode ser representado da seguinte maneira:

    ( )VeLp wKwDShdm =

    (3.20)

    onde:

    dp dimetro da fase dispersa (gota)

    D difusividade cinemtica

    Sh nmero de Sherwood

    wL fraco mssica da fase dispersa

    wV frao mssica da fase contnua

    Ke constante de equilbrio

    O nmero de Sherwood funo do nmero de Reynolds e Schmidt, representado

    nesta pesquisa, da seguinte maneira, ANSYS CFX (2007):

    ( )31c0,5pm SRe6,02Ddh

    Sh +== (3.21)

    onde:

    D difusividade cinemtica

  • Modelagem Matemtica

    31

    Sh nmero de Sherwood

    hm coef. de transferncia de massa

    O nmero de Schmidt a razo entre a difusividade de momento (viscosidade

    dinmica) e a difusividade mssica:

    DSc

    = (3.22)

    3.2.1 Equilbrio lquido-vapor (ELV)

    A condio de ELV (VAN NESS, 2000) para misturas de hidrocarbonetos pode ser

    definida de diversas maneiras. Dependendo da abordagem adotada na definio da fugacidade

    de cada fase, pode-se chegar a diferentes definies para o clculo da constante de equilbrio.

    As representaes para a fugacidade podem ser feitas da seguinte maneira:

    formulao simtrica: quando se utiliza a mesma definio de fugacidade nas duas

    fases (gama-gama, fi-fi);

    formulao assimtrica: quando se utiliza definies distintas entre as fases (fi-

    gama, gama-fi).

    As abordagens destacadas recebem muita ateno na literatura, sendo base para a

    maioria dos modelos de ELV encontrados nos simuladores de processo comerciais

    consagrados e validados. Podem ser citados, por exemplo, os softwares PRO-II da Invensys e

    o HYSYS desenvolvido pela Hyprotech.

    Para o clculo da ELV deste trabalho optou-se pela abordagem gama-fi. Nesta

    abordagem, uma equao de estado, atravs do coeficiente de fugacidade, usada para

    predizer o comportamento e as no-idealidades da fase vapor, enquanto um modelo de energia

    livre de Gibbs em excesso, atravs do coeficiente de atividade, usado para predizer o

    comportamento e as no idealidades da fase lquida (AZNAR, 2002). Esta uma abordagem

    tradicional, que pode ser aplicada a uma ampla variedade de misturas, e adequada para

    sistemas sob presses baixas ou moderadas, como o caso da coluna a vcuo em questo.

  • Modelagem Matemtica

    32

    Entretanto, este modelo no aplicvel a sistemas a presses altas. Esta limitao deve-se aos

    modelos de energia livre de Gibbs em excesso, que so determinados em condies de baixas

    presses. Alm disto a abordagem gama-fi uma das mais usadas na indstria de petrleo.

    A abordagem empregada se baseou nas correlaes generalizadas para o clculo da constante

    de equilbrio (Ke) propostas por CHAO e SEADER (1961) e GRAYSON e STREED (1963).

    Foi utilizada a abordagem baseada na lei de Raoult (VAN NESS, 2000), j que foi

    possvel considerar tanto o vapor quanto o lquido como fluidos ideais (BEJAM, 1988).

    3.2.2 ELV para fluidos ideais Lei de Raoult

    A considerao do equilbrio ideal pode ser aplicada para sistemas onde existe o

    comportamento prximo da idealidade nas fases em equilbrio. Em uma soluo ideal, a

    temperatura e presso constante, a fugacidade de cada componente proporcional frao

    molar do componente. Considerando um componente i qualquer, a seguinte relao

    fundamental para o equilbrio termodinmico pode ser aplicada, PRO-II (2002):

    Vi

    Li ff = (3.23)

    onde L indica a fase lquida, V indica a fase vapor e fi representa a fugacidade do componente

    i.

    Para a fase vapor, se ideal, a fugacidade considerada como sendo igual a presso

    parcial:

    pyf i

    Vi = (3.24)

    onde yi a frao molar do componente i na fase vapor e p a presso do sistema.

    Para a fase lquida, se ideal:

    satii

    Li pxf = (3.25)

  • Modelagem Matemtica

    33

    onde xi frao molar do componente i na fase lquida e pisat presso de saturao do

    componente i na temperatura do sistema.

    Substituindo as Eq (3.24) e (3.25) na Eq. (3.23), obtm-se a lei de Raoult, descrevendo

    o ELV da seguinte forma:

    satiii pxpy = (3.26)

    A constante de equilbrio para um sistema ideal, pode ser representada da seguinte

    forma:

    p

    p

    x

    yKe

    sati

    i

    i == (3.27)

    A presso de saturao obtida a partir da equao de Antoine generalizada, Eq. (3.28)

    (PRO-II, 2002), na qual a temperatura deve ser usada em Rankine e a presso dada em psi

    ( )CT

    BApln vap +

    += (3.28)

    ( )CT

    B696,14lnA

    b += (3.29a)

    ( ) ( )

    CT

    1

    CT

    1696,14lnPln

    B

    bc

    c

    +

    +

    =

    (3.30b)

    C = -80 (3.31c)

    Conforme se observa nas equaes anteriores, a constante de equilbrio funo da

    temperatura e presso locais.

    Esta abordagem geralmente pode ser empregada quando a soluo composta de

    espcies qumicas anlogas e de peso molecular prximo.

  • Modelagem Matemtica

    34

    3.2.3 Regras de mistura

    As regras de mistura utilizadas na etapa anterior principalmente, para as propriedades

    de transporte. Apresentam-se na Tabela 3.1, as regras de mistura utilizadas pelo software

    PRO-II:

    Tabela 3.1: Regras de mistura para as propriedades de transporte

    Propriedade Regra de mistura

    Condutividade Trmica do vapor

    =

    i

    31

    ii

    i

    31

    iii

    m

    PMY

    PMY (3.32)

    Viscosidade do vapor

    =

    i

    21

    ii

    i

    21

    iii

    m

    PMY

    PMY (3.33)

    Condutividade Trmica do lquido 2

    1

    i

    2iim w

    = (3.34)

    Viscosidade do lquido 3

    i

    31

    iim Y

    = (3.35)

    3.3 Correo do dimetro de gota

    Os valores obtidos para dimetro de gota foram fornecidos pelo fabricante de sprays

    BETE Fog Nozzle, obtidos para a gua. Os resultados foram comparados considerando a

    influncia da variao de dimetro de gota a partir da correlao proposta por MUGELE

    (documento interno da Petrobras) para o dimetro de gota. A Equao (3.36) apresenta a

    correlao proposta por MUGELE. Para a correo do dimetro de gota, a Equao (3.36)

    apresenta as variveis relevantes segundo esta correlao.

    3,0

    leo

    gua

    2,0

    gua

    leo

    5,0

    gua

    leo

    gua

    leo

    d

    d

    = (3.36)

  • Modelagem Matemtica

    35

    As variveis , e representam a tenso superficial, a viscosidade dinmica e a

    massa especfica dos fluidos leo e gua. Um aspecto interessante desta equao est no fato

    de considerar as principais propriedades mencionadas por MUGELE (1951) como sendo as

    mais relevantes na determinao do dimetro da gota.

    3.4 Compreendendo a Fluidodinmica do Escoamento

    O estudo do comportamento fluidodinmico fundamental para predizer o transporte

    da fase dispersa pela fase contnua. Para tal necessria a compreenso do acoplamento entre

    as fases e a turbulncia envolvida, responsvel pela interao entre as fases. A Figura 3.1,

    proposta por ELGHOBASHI (1994) apresenta um mapa com a classificao dos regimes de

    interao entre as gotas e a turbulncia da fase contnua.

    Figura 3.1: Mapa de regimes de interao entre gotas e a turbulncia. (ELGHOBASHI,

    1994).

    onde:

    FVd Frao Volumtrica da fase dispersa;

  • Modelagem Matemtica

    36

    Dp Dimetro da gota;

    d tempo caracterstico de resposta hidrodinmica das gotas ou tempo de relaxao das

    gotas;

    Escala dissipativa de Kolmogorov;

    e tempo de durao dos grandes vrtices (large eddy)

    O tempo de resposta da gota pode ser representado da seguinte forma (ELGOBASHI,

    1994):

    SlipDc

    dpd

    VC3

    D4

    =

    (3.37)

    ( )2cdslip uuV = (3.38)

    A escala dissipativa de Kolmogorov (ELGOBASHI, 1994) e o tempo de durao

    mdio das menores escalas dissipativas podem ser representados, respectivamente, da seguinte

    forma:

    5,0

    c

    = (3.39)

    u

    l

    u

    k2

    3

    e ==

    (3.40)

    onde:

    c viscosidade cinemtica da fase contnua;

    l comprimento de escala de energia que contm os vrtices (eddies);

    u velocidade do fluido.

  • Modelagem Matemtica

    37

    Para baixos valores da frao volumtrica da fase dispersa (FVd = 10-6) a turbulncia

    da fase dispersa no exerce influncias sobre a fase contnua, ou seja a transferncia de

    momentum das gotas para a fase contnua desprezvel para o escoamento. Este tipo de

    interao entre as fases pode ser caracterizada pelo termo de acoplamento do tipo uma via

    (one-way).

    Para o segundo regime, 10-6 < FVd 10-3, a transferncia de momento das gotas

    suficiente para alterar as estruturas turbulentas, sendo necessrio usar um acoplamento do tipo

    duas vias (two-way). Neste regime e para um dado valor de FVd os baixos valores de d

    (menores valores para o dimetro da gota considerando as mesmas propriedades da gota e a

    mesma viscosidade do fluido) aumentam a rea superficial da gota e, conseqentemente, o

    aumento da taxa de dissipao turbulenta. Por outro lado, com o aumento de d para um

    mesmo valor de FVd o nmero de Reynolds da gota e para valores de Reynolds superiores a

    400 indicam a presena de regies com altos valores de energia turbulenta. A coordenada d/e

    est relacionada com a coordenada d/ atravs do nmero de Reynolds turbulento sendo que

    (e/) = Re0,5. Deste modo a coordenada mostrada no grfico para a regio de Re = 104.

    Escoamentos delimitados nesta faixa so denominados de escoamentos diludos.

    O terceiro regime de escoamento, em virtude da grande quantidade de gotas FVd >10-3,

    so chamados de escoamentos densos e, para este tipo de regime, as colises entre as gotas

    tambm se tornam importantes, caracterizando um acoplamento do tipo quatro vias (four-

    way).

    O comportamento de gotas/partculas em escoamentos turbulentos caracterizados pelo

    acoplamento one-way razoavelmente bem entendido, pelo menos para escoamentos livres e

    homogneos. Escoamentos considerando o acoplamento two-way e four-way ainda

    apresentam desafios para a completa compreenso dos fenmenos envolvidos devida prpria

    complexidade dos fenmenos envolvidos na interao entre a fase dispersa e a fase contnua.

    Para o desenvolvimento deste trabalho cientfico, considerando as caractersticas

    fenomenolgicas do sistema de interesse, foi empregado o acoplamento two-way,

    considerando as propriedades e caractersticas do regime estudado se encaixarem neste tipo de

    acoplamento, segundo a descrio apresentada por PEIRANO (1998) e CROWE (1998).

  • Modelagem Matemtica

    38

    Alm das equaes anteriormente descritas para a representao do acoplamento entre

    as fases, o trabalho desenvolvido por PEIRANO (1998) apresenta o detalhamento de outras

    escalas de tempo fundamentais para a classificao e compreenso do mecanismo dominante

    em suspenses. Para anlise do campo turbulento do vapor a escala integral Euleriana de

    turbulncia do fluido (c) do modelo k- pode ser representada segundo a Equao (3.41). A

    relao existente entre a energia cintica turbulenta (k) e a taxa de dissipao de energia

    turbulenta () determinarm o comportamento de c representando o tempo de durao mdia

    das grandes escalas de turbulncia modelada pelo k-.

    =