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30/12/2015 Resistência à Insulina e Indicadores Antropométricos entre Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda — Revista Brasileira de Cardiologia
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Publicação Oficial da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro
Artigo original
Resistência à Insulina e Indicadores Antropométricos entre Pacientes com Síndrome CoronarianaAguda
Insulin resistance and anthropometric indexes among patients with Acute Coronary Syndrome
Autores: Aline Marcadenti, Verônica Guattini de Oliveira, Vanessa Maria Bertoni, Estefânia Wittke, Laura
Petry Dourado, Rafael Brum de Souza, Tiago Moscarelli Pinto, Pedro Pimentel Filho, Justo Antero Sayão
Lobato Leivas
Resumo
Fundamentos: Prevalências de resistência à insulina (RI) são elevadas em pacientes com síndrome
coronariana aguda (SCA); entretanto sua associação com indicadores antropométricos específicos e a
identificação do melhor parâmetro para detecção de RI nesses pacientes ainda não estão estabelecidos.
Objetivos: Determinar a prevalência de RI através de diversos indicadores e correlacioná-los com
parâmetros antropométricos em pacientes com SCA.
Métodos: Estudo transversal incluindo 28 pacientes. Aferiu-se peso (kg), estatura (m), circunferências da
cintura e do quadril e foram calculados índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC),
razão cintura-quadril (RCQ), razão cintura-estatura (RCEst) e body adiposity index (BAI). Exames
bioquímicos foram obtidos através de prontuário médico e resistência à insulina foi determinada por razão
glicose-insulina (RGI), índice HOMA-IR e critério clínico de Stern. Regressão linear múltipla e modelos
lineares generalizados foram utilizados para associações.
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Resultados: As prevalências de resistência à insulina de acordo com os diferentes critérios foram: HOMA-IR 67,9 %; critério clínico 57,1 % e RGI 43,4 %. RCEst, CC e BAI se correlacionaram significativamente
com HOMA e RGI. Em relação ao critério clínico de Stern, apenas a CC apresentou médias
significativamente diferentes, sendo inferior nos indivíduos classificados com não RI (95,8±9,9 vs.
106,4±12,5, p=0,02). Todos os índices antropométricos se associaram com RI após ajuste para idade, sexo
e diagnóstico médico prévio de diabetes mellitus.
Conclusões: As prevalências de RI são elevadas em pacientes com SCA independente do critério utilizado;
entretanto HOMA-IR parece ser o melhor preditor. Indicadores de obesidade central, assim como BAI,
apresentam melhor associação com RI.
Palavras-chave: Infarto do miocárdio; Angina instável; Obesidade; Obesidade abdominal; Antropometria;
Resistência à insulina
Abstract
Background: The prevalence of insulin resistance (IR) is high among patients with acute coronary syndrome(ACS); its association with specific anthropometric indicators has not been established, nor has the best
parameter been identified for detecting IR among these patients.
Objectives: To detect the prevalence of IR through assorted indicators and correlate them withanthropometric parameters for patients with ACS.
Methods: Cross-sectional study of 28 patients, measuring their weight (kg), height (m), waist (WC) and hip
circumferences and calculating their Body Mass Index (BMI), waist-to-hip ratio (WHR), waist-to-heightratio (WHtR) and Body Adiposity Index (BAI). Biochemical data were obtained from their medical records
and IR was detected by the glucose-insulin ratio (GIR), HOMA-IR index and the Stern clinical criterion.Multiple linear regression and generalized linear models were used for associations.
Results: The prevalence of IR based on different criteria was: HOMA-IR 67.9 %; GIR 57.1 % and clinical
criteria 43.4 %. The WHtR, WC, and BAI were significantly correlated with HOMA and GIR. With regardto the Stern criterion, only the WC presented significantly different measurements, being lower among
individuals classified as non-IR (95.8±9.9 vs. 106.4±12.5, p=0.02). All the anthropometric indexes wereassociated with IR after adjustments for age, gender and previous medical diagnosis of diabetes mellitus.Conclusions: The prevalence of insulin resistance is high among patients with ACS, regardless of the criteria
used; however, HOMA-IR seems to be the best predictor. The central obesity and BAI indicators presenteda better association with IR.
Keywords: Myocardial infarction; Unstable angina; Obesity; Abdominal obesity; Anthropometry; Insulin
resistance
Introdução
As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de óbito tanto em países desenvolvidos quanto em
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desenvolvimento. Apesar da tendência no declínio da mortalidade por agravos cardiovasculares em algunspaíses1, no Brasil os eventos coronarianos agudos são responsáveis por cerca de 20 % de todas as mortes
entre indivíduos acima de 30 anos2.
Entre os clássicos fatores de risco para as doenças isquêmicas do coração, como a síndrome coronarianaaguda (SCA), destacam-se hipertensão arterial, níveis alterados de lipídeos séricos e tabagismo3. Além
disso, anormalidades glicometabólicas como a resistência à insulina tem se destacado na gênese da doençacardiovascular4. O clamp euglicêmico hiperinsulinêmico é a técnica de referência utilizada na avaliação da
sensibilidade à insulina5; entretanto, devido à complexidade e ao alto custo, outros parâmetros sãofrequentemente utilizados na prática clínica por sua maior praticidade e boa reprodutibilidade. O índice
HOMA (homeostasis model assessment) para resistência à insulina6, a razão glicose-insulina7 e o critérioclínico proposto por Stern et al.8 são alguns desses indicadores.
Alterações em nível ponderal, principalmente relativas ao acúmulo de gordura abdominal estão associadas
com doença cardiovascular e resistência à insulina9. Entretanto questiona-se a utilização de algunsindicadores antropométricos tradicionais na predição de risco cardiovascular. O índice de massa corporal(IMC), indicador de obesidade amplamente utilizado, não distingue massa magra de massa gorda e
questiona-se sua acurácia na detecção do excesso de adiposidade na população em geral10. Comoindicador alternativo de obesidade geral, Bergman et al.11 descreveram o body adiposity index (BAI),
fortemente correlacionado com gordura corporal total e sensibilidade à insulina entre indivíduos obesos12. Acircunferência da cintura isolada, assim como as razões envolvendo altura, circunferência do quadril e
abdominal têm se mostrado superiores ao IMC na detecção de resistência à insulina na população emgeral13 e diabetes mellitus nos indivíduos com risco cardiovascular14, principalmente por sua associação
com o tecido adiposo visceral15,16, depósito de gordura abdominal considerado de risco.
Sabe-se que as prevalências de resistência à insulina em pacientes com doença cardiovascular estabelecida
são elevadas. Entretanto, poucos estudos em pacientes com SCA compararam essas prevalências através de
diversos indicadores. Da mesma forma, as informações acerca da correlação entre indicadores
antropométricos não tradicionais e resistência à insulina nesses indivíduos são limitadas.
O objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência de resistência à insulina através de diversosindicadores e correlacioná-los com parâmetros antropométricos em pacientes com quadro de SCA
admitidos em hospital terciário.
Métodos
Trata-se de um estudo transversal em pacientes hospitalizados por SCA (infarto do miocárdio ou angina
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instável)17 em Unidade de Cuidados Especiais (UCE) do Serviço de Cardiologia do Hospital Nossa
Senhora da Conceição (HNSC), Porto Alegre, RS, Brasil. Os critérios de inclusão adotados foram:
pacientes com idade entre 18-80 anos e que consentiram em participar do estudo. Foram excluídos osindivíduos que não apresentavam condições para verificação de algum dos parâmetros antropométricos e os
que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O projeto de pesquisa foi previamente autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Grupo Hospitalar
Conceição sob o nº 11-177, e foram respeitados os princípios da Declaração de Helsinki e da Resolução196/96 do CNS.
O cálculo amostral foi realizado para a detecção de um coeficiente de correlação de Pearson de 0,55 (r=
0,55)13 para ao menos um dos indicadores, considerando-se um nível de significância de 5 % e um poder
de 80 %. Foi então determinado o número de 24 pacientes a serem avaliados.
Questionário complementar com dados demográficos e socioeconômicos (idade, sexo, escolaridade, cor da
pele autorreferida) foi aplicado por pesquisadores treinados. Os indivíduos também responderam sobre o
consumo de álcool e tabagismo, sendo classificados como abusadores se o consumo entre mulheres e
homens fosse ≥15 g de etanol/dia e ≥30 g de etanol/dia, respectivamente; sobre o hábito de fumar, foramclassificados como fumantes atuais, ex-fumantes e nunca fumaram.
O nível de atividade física foi avaliado através do questionário International physical activity
questionnaire (IPAQ versão curta)18. Os pacientes foram estratificados em ativos e irregularmente
ativos/sedentários de acordo com os critérios propostos pelo instrumento.
Para a verificação do peso corporal foi utilizada balança antropométrica da marca Cauduro® (modelo BB,
Cachoeira do Sul, RS, Brasil), com capacidade para 150 kg e divisão em 100 g, devidamente calibrada,com o paciente descalço e com o mínimo de roupa possível.
Para a mensuração da estatura utilizou-se o antropômetro vertical, marca Sanny® (Sanny Medical, São
Paulo, SP, Brasil) com capacidade para 205 cm e precisão de 1 mm. Os protocolos para aferição de peso e
altura foram realizados de acordo com as técnicas propostas por Lohman19.
Calculou-se o índice de massa corporal (IMC) de acordo com os critérios da Organização Mundial da
Saúde (OMS), e considerou-se como ponto de corte para excesso de peso um IMC≥25 kg/m2.
Circunferência abdominal e do quadril foram aferidos através de fita métrica inextensível, de acordo com ospontos de corte e as técnicas utilizadas no estudo National Health and Nutrition Examination Survey III
(NHANES III)20. Ambos foram registrados em centímetros e para o cálculo da razão cintura-altura utilizou-
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se o perímetro da cintura dividido pela altura (cm) do paciente. Para diagnóstico de obesidade abdominal foiutilizado o ponto de corte 0,516. Razão cintura-quadril foi calculada através da divisão entre as
circunferências da cintura e do quadril e BAI foi calculado de acordo com a fórmula proposta por Bergman
et al.11: (circunferência do quadril, cm)/(altura, m)1,5 –18.
Os exames bioquímicos (glicemia de jejum, hemoglobina glicada e insulina sérica) foram obtidos através de
prontuário médico e realizados através de técnicas padronizadas pelo Laboratório de Análises Clínicas doHNSC. A pressão arterial foi aferida de acordo com as técnicas estabelecidas nas diretrizes e o paciente foi
considerado hipertenso através do diagnóstico médico prévio registrado em prontuário, PAS/PAD ≥140×90
mmHg ou uso de medicação anti-hipertensiva21. Para o diagnóstico de diabetes mellitus foram considerados
os valores de glicemia de jejum e hemoglobina glicada de acordo com os pontos de cortes preconizados pelaAmerican Diabetes Association (ADA), ou diagnóstico médico prévio22.
O cálculo do índice HOMA-IR foi realizado através da fórmula: [glicemia (mMol) x insulina (uU/mL) ÷ 22,5]
e o ponto de corte utilizado para detecção da resistência a insulina foi >2,71, sugerido para brasileiros23. O
critério clínico proposto por Stern et al.8 utiliza o IMC e/ou índice HOMA-IR, sendo que os critériosIMC>28,9 kg/m2 ou HOMA-IR >4,65 ou IMC>27,5 kg/m2 e HOMA-IR>3,6 classificam os pacientes
como resistentes à insulina8. Para o cálculo da razão glicose-insulina dividiu-se o valor da glicemia em jejum,
em mg/dl, pelo valor da insulina sérica, em uU/mL, sendo o ponto de corte para resistência a insulina <67.
Análise dos dados
Criou-se um banco de dados para a digitação das informações em programa específico (Microsoft Office
Excel®). Os dados foram expressos em média, desvio-padrão e percentuais. Variáveis com distribuiçãoassimétrica foram transformadas logaritmicamente. Foram realizadas comparações entre médias utilizando-se
o teste t de Student e para comparações entre proporções o teste do qui-quadrado de Pearson. Variáveis
contínuas foram correlacionadas através de correlação de Spearman. Regressão linear múltipla e modelos
lineares generalizados foram utilizados para controle de fatores de confusão nos testes de associação. Asanálises foram feitas através do programa SPSS (Statistical Package for the Social Science,versão 17.0,
Il., EUA) para Windows.
Resultados
Entre janeiro e fevereiro 2012 foram avaliados consecutivamente 28 pacientes com média de idade de61,1±11,9 anos, 71,4 % homens, 78,6 % brancos e com escolaridade média de 5,9±3,2 anos de estudo.
Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, 10,7 % dos participantes foram considerados abusadores de
acordo com o consumo de etanol e 10,7 % se declararam fumantes. De acordo com o IPAQ, 71,4 % foram
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considerados ativos em relação ao nível de atividade física.
Sobre os diagnósticos médicos, 75 % dos indivíduos eram hipertensos e 39,3 % com diabetes mellitus tipo
2. A pressão arterial sistólica e diastólica média foi, respectivamente, 122,5±18,3 mmHg e 70,7±10,9
mmHg.
Em relação às prevalências de resistência à insulina definida pelos três critérios propostos, o índice HOMA-
IR detectou 67,9 % dos pacientes; de acordo com o critério clínico proposto por Stern et al.8 57,1 %
apresentaram a condição e 43,4 % dos indivíduos foram classificados através do critério razão glicose-
insulina.
A Tabela 1 mostra as características da população avaliada de acordo com o sexo. Apesar da falta de
significância estatística, comparativamente às mulheres os homens eram mais velhos, apresentavam maiores
valores de glicemia em jejum, insulina sérica, hemoglobina glicada e pressão arterial. Já as mulheres
apresentaram maiores valores de IMC, circunferência da cintura, razão cintura-quadril, razão cintura-altura e
body adiposity index, sendo os dois últimos com significância estatística (p=0,04 e p=0,01,
respectivamente). Os percentuais de resistência à insulina definidos pelos diferentes critérios foram superioresnos homens, apesar da falta de significância estatística.
Tabela 1
Características da população amostral de acordo com o sexo (média±DP)
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A Tabela 2 indica as correlações entre HOMA-IR, razão glicose-insulina (transformados logaritmicamente) e
indicadores antropométricos de obesidade geral e abdominal. Não houve correlação entre os padrões de
resistência à insulina, IMC e razão cintura-quadril. Ao contrário, circunferência da cintura, razão cintura-
altura e body adiposity index se correlacionaram significativamente com HOMA e RGI, sendo que a razão
cintura-altura apresentou maiores valores de rho para os dois indicadores (HOMA: ρ=0,54; RGI: ρ=0,55).
Tabela 2
Correlação† entre indicadores de resistência à insulina e antropometria
Quando as médias de todos os indicadores antropométricos foram comparadas de acordo com a presença
ou não de resistência à insulina detectada a partir do critério clínico de Stern, apenas a circunferência da
cintura apresentou médias significativamente diferentes, sendo inferior nos indivíduos classificados como não
resistentes à insulina (95,8±9,9 vs. 106,4±12,5, p=0,02).
A Tabela 3 mostra a análise multivariada entre indicadores glicêmicos e antropométricos, após ajustes paraidade, sexo e diagnóstico médico prévio de diabetes mellitus. Os três indicadores mantiveram sua
significância no teste de associação, sendo a razão cintura-altura o índice de obesidade central mais
fortemente associado com os marcadores de resistência à insulina. Da mesma forma, a média ajustada da
circunferência da cintura permaneceu superior nos indivíduos com resistência à insulina de acordo com o
critério clínico [107,9±12,4 (IC95 % 101,4 a 114,3); 93,8±12,6 (IC95 % 86,3 a 101,4), p=0,01].
Tabela 3
Análise multivariada* entre indicadores glicêmicos e antropometria
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Discussão
O presente estudo mostrou associação entre índices antropométricos de obesidade geral e abdominal eresistência à insulina definida por três indicadores em homens e mulheres com síndrome coronariana aguda,
independente da idade, sexo e diagnóstico médico prévio de diabetes mellitus. Comparativamente às
mulheres, os homens apresentaram um pior perfil glicometabólico em relação aos valores de glicemia de
jejum, hemoglobina glicada e insulina sérica; entre as mulheres, entretanto, as médias de todos os indicadores
antropométricos foram maiores comparativamente às observadas nos homens, destacando-se um pior perfil
em relação à adiposidade.
As prevalências de resistência à insulina definidas pelos indicadores propostos foram expressivas, com
destaque para o índice HOMA-IR. Matos et al.24 avaliaram a resistência à insulina em indivíduos com risco
cardiovascular no Brasil e detectaram prevalências inferiores definidas pelo mesmo índice; entretanto, a
população avaliada no presente estudo é de muito alto risco cardiovascular, evidenciado pela presença de
doença isquêmica e por percentuais elevados de fatores de risco. Assim, era previsto que as prevalências de
alterações glicometabólicas nos pacientes avaliados neste trabalho fossem superiores. Poucos estudosavaliaram as diferenças nas taxas de resistência à insulina comparando diversos indicadores, e o índice
HOMA-IR parece se diferenciar em relação aos outros métodos25.
Alguns indicadores antropométricos tradicionais podem não estratificar corretamente o risco metabólico
associado à obesidade, inclusive em pacientes obesos26, por não diferenciarem massa muscular, tecidoadiposo visceral e gordura subcutânea. Diferentemente de outros autores brasileiros24,27, não houve
correlação entre IMC e indicadores de resistência à insulina neste estudo, enquanto que o percentual de
adiposidade total detectado por BAI associou-se com índice HOMA-IR e RGI. Apesar de não eliminar
completamente os problemas observados com o IMC em relação à detecção de massa gorda e magra28,
BAI pode ser uma alternativa simples e de fácil execução para estimar o percentual de gordura corporal
total. Adiposidade total detectada por bioimpedância elétrica também se associa à resistência à insulina27,
com a desvantagem de ser um exame nem sempre disponível na prática clínica.
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Com exceção da razão cintura-quadril, os demais indicadores de obesidade central propostos
(circunferência da cintura e razão cintura-estatura) associaram-se positivamente com resistência à insulina
detectada por índice HOMA-IR e RGI em homens e mulheres. Entretanto, as mulheres apresentaram piorperfil antropométrico e sabe-se que no sexo feminino os depósitos de gordura visceral se associam mais
fortemente a um perfil metabólico adverso, pois comparativamente aos homens, apresentam maior
mobilização de ácidos graxos provenientes da gordura visceral e maior tendência ao acúmulo de gordura
ectópica29. A circunferência da cintura isolada foi o único índice antropométrico associado à resistência à
insulina definida pelo critério clínico de Stern. Por sua maior facilidade de aferição e interpretação
comparativamente às razões, permanece como o indicador de obesidade abdominal mais recomendado na
avaliação do risco cardiovascular em homens e mulheres30, sendo neste estudo associado aos três diferentesíndices de resistência à insulina. Na população brasileira24,27 os indicadores de obesidade central
apresentaram melhores correlações e superioridade na associação com resistência à insulina
comparativamente aos indicadores de obesidade geral.
Entre as limitações deste estudo cita-se o pequeno número amostral; a falta de algum método de imagem
para discriminação de compartimentos corporais, para detectar uma verdadeira correlação entre tecidoadiposo visceral (consideravelmente de risco) e resistência à insulina; e o delineamento transversal, que
diferentemente de um estudo longitudinal, não mostra o risco verdadeiro entre obesidade detectada por
antropometria e aumento da resistência à insulina.
Conclusão
Conclui-se que as prevalências de resistência à insulina verificadas através dos índices HOMA-IR, RGI e
critério clínico de Stern são elevadas em pacientes com síndrome coronariana aguda. O índice HOMA-IR
parece ser o indicador que melhor detecta essa condição em pacientes com doença cardiovascular. Conclui-se também que indicadores de obesidade central, com destaque para a circunferência da cintura, associam-
se melhor com resistência à insulina independente de idade, sexo e diagnóstico prévio de diabetes mellitus
tipo 2 comparativamente aos indicadores de obesidade geral.
É de fundamental importância a detecção precoce da resistência à insulina em indivíduos com doença
cardiovascular, visto que alterações glicometabólicas são fatores de risco adicionais para eventoscardiovasculares. Um tratamento mais agressivo, incluindo mudanças no estilo de vida e metas rigorosas no
que se refere a níveis pressóricos e lipídicos é altamente recomendado em pacientes com resistência à
insulina, pois podem contribuir para desfechos mais favoráveis em indivíduos com doenças isquêmicas do
coração.
Agradecimentos
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A toda a equipe dos Serviços de Cardiologia e de Nutrição e Dietética do Hospital Nossa Senhora da
Conceição, pelo apoio e colaboração na construção deste trabalho.
Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.
Fontes de Financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
Vinculação acadêmica
Este artigo representa o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Residência Médica em Cardiologia de
Laura Petry Dourado, Rafael Brum de Souza e Tiago Moscarelli Pinto pelo Hospital Nossa Senhora da
Conceição, Porto Alegre, Brasil.
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