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    Índice  ___________________________________________________________________________

    A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO PESSOAL DA BÍBLIA.......................................................................031 . A Bíblia pode e deve ser estudada...................................................................................................O32. Resultados do estudo bíblico.............................................................................................................083. Manuseie com cuidado!......................................................................................................................114. A necessidade de métodos para estudar a Bíblia..............................................................................13 PASSOS PARA O ESTUDO DA BÍBLIA..............................................................................................15I. OBSERVAÇÃO...................................................................................................................................15  

    A. O valor da observação....................................................................................................................15B. Aprenda a ler o texto bíblico...........................................................................................................16

    1. Estratégias para uma leitura do texto bíblico..............................................................................16a. Ler com atenção, repetidas vezes, pacientemente e aquisitivamente.....................................17

    b. Ler com oração e meditativamente..........................................................................................17c. Ler seletivamente: seis perguntas básicas...............................................................................18d. Ler descobrindo o propósito através da estrutura gramatical e literária..................................18

    2. Elementos a procurar (desvendar) no texto bíblico em estudo..........................................................23a. Elementos que são enfatizados.....................................................................................................24b. Elementos que se repetem.............................................................................................................24c. Elementos que são relacionados....................................................................................................25d. Elementos semelhantes e diferentes.............................................................................................26e. Elementos que são da vida real.....................................................................................................27

    II.  INTERPRETAÇÃO.............................................................................................................................34 A. O valor da interpretação.................................................................................................................34B. Chaves para a interpretação do texto bíblico em estudo...............................................................39

    1. Conteúdo...................................................................................................................................392. Contexto....................................................................................................................................403. Antecedentes históricos e culturais...........................................................................................424. Consulta a fontes secundárias..................................................................................................43

    III. CORRELAÇÃO.................................................................................................................................48  A. Definição e objetivos da correlação...................................................................................................48B. Meios para fazer a correlação bíblica do texto em estudo.................................................................48

    1. Referências bíblicas.......................................................................................................................482. Versões bíblicas.............................................................................................................................493. Esboço minucioso..........................................................................................................................494. Gráficos..........................................................................................................................................50

    C. Juntando as partes............................................................................................................................51IV. APLICAÇÃO.....................................................................................................................................58  A. O valor da aplicação..........................................................................................................................58B. Passos para fazer uma boa aplicação do texto bíblico estudado......................................................60

    1. Conheça o texto e conheça a si mesmo........................................................................................602. Relacione a verdade à própria experiência....................................................................................623. Medite.............................................................................................................................................634. Pratique: a. A importância de princípios; b. O processo de mudança............................................65

    V. MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA................................................................................................751. MÉTODO DEVOCIONAL...............................................................................................................752. MÉTODO BIOGRÁFICO................................................................................................................81  3. MÉTODO ANALÍTICO...................................................................................................................83  

    4. MÉTODO TÓPICO.........................................................................................................................86  5. MÉTODO LIVRO POR LIVRO.......................................................................................................88 ANEXO: Programas de leitura e de estudo da Bíblia.............................................................................91BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................................96

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    UNIDADE I  ___________________________________________________________________________

    A importância do estudo pessoal da Bíblia

    1. A Bíblia pode e deve ser estudadaOs cristãos são o povo do livro — isto é, da biblioteca de 66 livros conhecida como a Bíblia. Ainspiração divina desta obra múltipla a eleva para sua posição central e fundamentoinabalável da fé cristã.

    Durante séculos seguidos a Bíblia ficou na situação ambígua de ser a narração dos fatos em

    que a Igreja colocava sua fé salvadora e ao mesmo tempo o livro virtualmente desconhecido.Desde os séculos V e VI depois de Cristo, quando Jerônimo traduziu a Bíblia do hebraico egrego para o latim, até o trabalho pioneiro de Wycliffe e Lutero, a Bíblia foi destinada a sercada vez menos lida e entendida. O latim, que há 1500 anos atrás foi a língua do povo dEuropa ocidental, transformou-se num véu cada vez mais espesso para os povos quefalavam as línguas românicas, italiano, espanhol, francês, português e outras. A vantagem dolatim se baseava na possibilidade de manter comunicação entre povos que falavam línguasdistintas. Por outro lado, os analfabetos, que constituíam a maioria da população européia,não entendiam o latim.

    A Vulgata, traduzida por Jerônimo, era a versão aceita oficialmente pela igreja CatólicaRomana, mas o conteúdo das suas páginas ficou desconhecido pela maioria. Assim se deu aoportunidade de criar e aumentar as tradições dogmáticas sem interferência séria da Bíblia.

    A própria Igreja Romana achou por bem seqüestrar a Bíblia do povão. Dessa maneira osensinamentos do magisterium  (órgão oficial para a determinação do ensino bíblico aceitável àIgreja) se transformaram “no que a Bíblia disse”, segundo os mestres autorizados pelahierarquia em Roma.

    Paulatinamente, na era das trevas, ou período medieval, a Bíblia ficou cada vez mais distantedo povo – era vista apenas na biblioteca dos mosteiros e das universidades ou entre as

    pessoas de recursos. Quem teria coragem de colocar em dúvida as interpretaçõeseclesiásticas oficiais? Quem quer que fosse e publicamente desafiasse as tradições eratachado de “herege” e morto ou banido juntamente com suas obras.

    Assim, duas barreiras ofuscavam a mente do “cristão” típico antes da Reforma do sáculo XV:1) A língua latina que não se entendia. 2) Uma ameaça física e espiritual, efetivamenteobscureceu as mentes dos católicos. Torturas e martírio pela fogueira intimidavam qualquerinteressado no restabelecimento da religião bíblica como aconteceu com Jan Hus eSavanarola. Muitos certamente discerniam os interesses humanos que os principais líderesda Igreja tinham para manter os membros dependentes e obedientes às ordens eclesiásticas.

    Além destas formidáveis barreiras que mantiveram os católicos na ignorância das Escrituras,houve mais uma: a produção de livros dependia de papel rude e caro, chamado papiro. Aospoucos foi sendo substituído por pergaminho, feito de peles de ovelhas e cabras, por volta do

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    século X. Mais ainda, a reprodução realizou-se por escrito com pena e tinta. Quantascentenas de horas se gastaram para copiar um exemplar da Bíblia?

    Como seria possível buscar nela o amor de Deus e a Sua perfeita vontade? A Reforma é quefez dela um livro popular. Foi a convicção de que a Bíblia traz ao coração fiel a legítimaPalavra de Deus que tornou os reformadores ousados na insistência em que o Livro fosseaberto todos os homens.

    “É uma espécie de impiedade não ler aquilo que por nós e para nós escreveu a mão dopróprio Deus. Que ninguém incorra nesta falta, tendo ao seu alcance a leitura da Bíblia.”,afirmou Santo Agostinho .

    “Quero saber de uma só coisa – o caminho para o Céu; como desembarcar em segurançanessa praia feliz. O próprio Deus dignou-se em ensinar-nos o caminho: foi com essafinalidade que Ele desceu do Céu. Escreveu as instruções em um livro. Ó, dê-me esse livro! Aqualquer preço, dê-me o livro de Deus! Eu o tenho: tem conhecimento suficiente para mim.Quero ser um homem de um só livro.”, expressou John Wesley. 

    “A grande necessidade da hora presente entre as pessoas espiritualmente famintas é dupla:Primeiro, conhecer as Escrituras, sem as quais nenhuma verdade salvadora será concedidapor nosso Senhor; segundo, ser iluminado pelo Espírito, sem Quem as Escrituras não serãocompreendidas.”, era a convicção de A. W. Tozer. 

    O Cristianismo é peculiarmente religião de um só livro. A Bíblia é o meio pelo qual Deusdecidiu apresentar Sua revelação ao homem através de sucessivas eras. A Bíblia é a Palavrade Deus. Isto quer dizer muita coisa. Significa que ela encerra a auto-revelação de Deus eexpressa a vontade toda de Deus em matéria de fé e conduta. É a informação segura quantoa Deus, quanto à vida e quanto à eternidade.

    Você tem em sua própria língua um livro de texto e de devoção que encerra o programa todode Deus, uma espécie de enciclopédia que fornece toda sorte de informação teológicanecessária, um manual de avaliação que mostra a diferença entre o certo e o errado.

    A prática da leitura e do estudo da Palavra de Deus é a arte de procurar o Senhor naspáginas das Sagradas Escrituras até achar, a arte de enxergar a riqueza toda que está atrásda mera letra, de ouvir a voz de Deus, de relacionar texto com texto e de sugar todo o leitecontido na Palavra revelada e escrita, tanto nas passagens mais claras como nas passagensaparentemente menos atraentes, através de uma leitura responsável e do auxílio do EspíritoSanto.

    A Bíblia foi escrita para pessoas comuns. Se desejarmos ser crentes felizes, vitoriosos efrutíferos, teremos que nos alimentar regularmente da Palavra de Deus.1  Depois que nosconvencemos de que podemos estudar a Palavra de Deus por nós mesmos, a nossa vidaespiritual toma uma nova dimensão.

    Deus quer encontrar você pessoalmente na Sua Palavra. Você tem o direito de estudar pó simesmo. O pastor Gordon MacDonald avaliou: “Os pastores gastam muito tempo estudando aBíblia para o seu povo... Francamente, uma das minhas maiores tristezas em 25 anos depregação é que acho que não ensinei os membros da minha congregação a estudarem aBíblia sozinhos, seja individualmente ou em grupo. Penso que fui um pregador relativamente

    1 Uma pesquisa Gallup nos EUA, na década de 1990, mostrou que embora 82% dos americanos acreditem que a Bíblia é apalavra “literal” ou “inspirada” de Deus, só 21% estão envolvidos no estudo bíblico. (Citado por James C. Denison. 7Questões Cruciais sobre a Bíblia. Bom Pastor Editora, 1995, p. 239.

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    “Os cristãos são o povo do Livro — isto é, da biblioteca de 66 livros conhecida como a Bíblia. A inspiração divina desta obramúltipla a eleva para sua posição central e fundamento inabalável da fé cristã.” — Russell P. Shedd  

    Qualificações do livro sagrado

    1. É Palavra de Deus (II Tm 3:16; II Pe 1:20-21). As Escrituras emanam de Deus; são umainspiração divina. Deus ama sua Palavra e está moralmente comprometido a falar atravésdela!

    2. A Bíblia é um livro igualmente humano e divino. Os cristãos não procuram ocultar suanatureza humana. Sabemos que ela foi escrita por homens e que não desceu do Céu numabandeja de ouro. Todavia, também cremos que os homens que a escreveram estavam sob ainspiração de Deus, conduzidos pelo Espírito Santo. A Palavra de Deus nos é dada naspalavras desses autores humanos e por meio delas.

    3. Sua preservação é um milagre.

    4. A Bíblia é tanto histórica quanto contemporânea. É um livro arraigado nas culturas, naslínguas e nas tradições da Antigüidade. Mesmo assim é também um livro poderoso para tocara vida dos leitores de hoje (Mt 24:35).

    5. É completo (Ap 22:18-19).

    6. A Bíblia é singular em sua universalidade cósmica (reflete a glória de Deus sobre todo ouniverso) e em sua universalidade social (dirige-se a todos os membros da sociedade

    humana, a povos de todas as raças). É singular no impacto histórico, quanto à iniciativa deDeus, ao poder de Deus e à vitória de Deus na história: é o único livro que descreve umahistória mundial com início e conclusão definidos no ato divino de revelação. A história é aestrada que vai do primeiro jardim do Éden à gloriosa cidade chamada Nova Jerusalém. É

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    singular na comunicação: compreendida pela fé e compreendida pela iluminação. E nosconfronta com a vontade de Deus para nossa vida. Temos de decidir favoravelmente oucontra a mensagem que recebemos.

    7. Sua preeminência na literatura, em línguas e dialetos (Is 56:7; At 2:8; Ap 7:9).

    8. A Bíblia é tanto um livro simples quanto complexo. As crianças podem desde cedocomeçar a estudá-la e a amá-la, e milhões de crianças o fazem. Mas alguns dos maiscapacitados estudiosos em todo o mundo gastam a vida inteira estudando a Bíblia e mesmoassim confessam ter somente um conhecimento superficial desse livro maravilhoso. A Bíblia éo livro mais estudado em todo o mundo, assim como também o mais publicado, e quasecertamente o livro mais apreciado do mundo.

    9. É uno em coesão de pensamentos (Is 7:14; Mq 5:2; Mt 1:23; 2:6).

    10. Sua adaptabilidade alcança a todos (Lc 4:17-18; At 4:13; 8:27-28).

    11. Sua eficácia, efeitos reais e eternos (At 17:11-12; II Rs 22:13; 23:4-25).12. A Bíblia é um livro de pesquisa ímpar e indispensável para o cristão e para a igreja. É luzpara o nosso caminho (Sl 119:105). Ler suas palavras em voz alta é como saborear o mel (Sl119:103). É uma arma na luta por uma fé mais robusta (Ef 6:17). A vida do cristão é moldadapela Bíblia, e ela é lida, ensinada, pregada, cantada, crida e amada na igreja. A Bíbliaconcede aos cristãos uma visão de mundo. Fornece-lhes um conjunto de valores morais.Propicia-lhes experiências com Deus. Transmite-lhes o sentido da vida. Todo cristão podeafirmar como o salmista: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia” (Sl 119:97).

    Que retrato a Bíblia traça de si mesma?

    É necessário considerar sobre as metáforas que a Escritura utiliza de si mesma para que secrie um compromisso mais forte com o estudo da mensagem que Deus inspirou e os autoresbíblicos escreveram. Estas figuras literárias parecem as mais apropriadas para descrever aPalavra em sua vitalidade e poder. Grandes lições são colhidas quando se permite que Deususe essas metáforas para convencer seus servos da importância do estudo e da exposiçãobíblica.

    Espelho . A Bíblia é como um espelho no sentido de refletir com precisão nossa aparênciaespiritual.

    Espada . A Bíblia é como uma espada no sentido de poder ser utilizada como arma de defesae de ataque contra o inimigo (Hb 4:12; Ef 6:12, 17).

    Luz .  A Bíblia é como luz no sentido de nos capacitar a enxergar na escuridão da vida,manter-nos no caminho certo e evitar os perigos. A frase “Lâmpada para os meus pés é a tuapalavra” (Sl 119:105) deve ser entendida como o ganho da perspectiva de Deus nas decisõesque uma pessoa tome.

    Água . A Bíblia é como água no sentido de saciar nossa sede e nos purificar as impurezasespirituais (Jo 15:3; 13:10; IJo 1:9; Ef 5:25-27).

    Alimento . A Bíblia é como alimento no sentido de satisfazer nossa fome espiritual e fazer-noscrescer espiritualmente.

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    A Semente (IPe 1:23-25). A palavra de Deus tem vitalidade quando ela é aplicada peloEspírito divino.

    Martelo e Fogo . O “martelo que esmiúça a penha” (Jr 23:29) sugere que eventos,completamente inesperados, ocorram quando Deus decide comandar transformações pelasua Palavra. A “palha”, isto é, mensagens sem qualquer respaldo na revelação divina, seráqueimada.

    Arma  (IICo 10:3-5). As armas “poderosas em Deus” referem-se à verdade revelada, escrita ecanonizada, à clara e inabalável Palavra de Deus explicada e sabiamente aplicada, a únicaarma segura para explodir os “sofismas” e “fortalezas” mentais, desvios doutrinários que dãobrechas para o usurpador.

    2. Resultados esperados do estudo da BíbliaQuais os benefícios do estudo bíblico? O que há nele para mim? Se eu investir meu temponisso, que vantagem terei? Que diferença isso fará em minha vida?

    Há diversos benefícios que você pode esperar quando investe no estudo da Palavra de Deus.Estes benefícios não se encontram em nenhum outro lugar; e, francamente, eles são reaisnecessidades do cristão. Não é uma opção – é essencial estudar a Bíblia.

    Veja três passagens que conspiram para edificar um caso convincente pelo qual devemosestudar a Bíblia:

    O estudo bíblico é essencial para o crescimento

    “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vosseja dado crescimento para salvação.” (1 Pd 2:2).

    Os ensinamentos das Escrituras são os elementos da nutrição espiritual. A primeira razãopara se estudar as Escrituras é que este é um meio de crescimento espiritual. Não hácrescimento fora da Palavra. Ela é o instrumento primário de Deus para o desenvolvimentocomo indivíduo. O segredo do sucesso na vida cristã, em grande parte, depende da avidezcom que o leitor busca ao Senhor e a Sua vontade nas Escrituras.

    O estudo bíblico é essencial à maturidade espiritual“A esse respeito temos muitas cousas que dizer, e difíceis de explicar,porquanto vos tendestornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempodecorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são osprincípios elementares dos oráculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados deleite, e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, é inexperiente napalavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aquelesque, pela prática, têm as suas faculdades exercidas para discernir não somente o bem, mastambém o mal.” (Hb 5:11-14)

    A Bíblia é o meio divino de desenvolver a maturidade espiritual. Não nos podemos satisfazercom um êxito parcial, e nem com o crescimento espiritual obtido ontem. Diz o autor que vocêé maduro se treinou a si mesmo através do uso constante das Escrituras não só paradistinguir o bem do mal mas também para saber aplicar a Palavra a si mesmo, para praticar o

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    bem, obtendo progresso espiritual em sua vida. A marca da maturidade espiritual não é oquanto você entende, mas o quanto você usa. Na esfera espiritual, o oposto de ignorâncianão é sabedoria, mas obediência. A verdade fortalecedora torna ainda mais fortalecido ocristão que já é forte.

    O estudo bíblico é essencial à eficácia espiritual

    “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamentehabilitado para toda boa obra.” (2 Tm 3:16-17).

    Este texto fundamenta o papel das Escrituras na orientação da Igreja e na vida do cristãopara que correspondam à vontade de Deus. Baseado na origem divina das Escrituras, Paulodeclarou a utilidade delas para:

    Doutrina ou ensino  – Isto é, ela irá estruturar seu pensamento. Isto é crucial porque se vocênão estiver pensando corretamente, não estará vivendo corretamente. Aquilo em que você

    acredita determina seu comportamento.

    Repreensão   – Isto é, ela dirá onde você está fora dos limites; ela produz convencimento,convicção. É como um árbitro; ela mostra o que é pecado. Mostra o que Deus quer para suavida. Ele provê seus padrões. O endurecimento do coração reflete na falta de preocupaçãocom a voz viva do Espírito em nosso íntimo.

    Correção  – Isto é, ela abre as portas de sua vida e provê uma dinamite purificadora para oajudar a limpar o pecado e a aprender a se conformar à vontade de Deus. O estudo dasEscrituras eleva os desejos dos regenerados a se voltarem para o Senhor e mostra ocaminho de volta à verdade. A alegria se seguirá à obediência. O ensino só se efetua quandoo aluno muda de comportamento.

    Treinamento para uma vida de justiça  – Deus a usa para mostrar como se deve viver: aexpressão prática de sua fé. Tendo-o corrigido nos aspectos negativos, Ele dá a vocêorientação positiva a se seguir na vida. Não basta alguém ser bom; é mister também praticaro bem.

    Qual o propósito global da Bíblia? Equipar-nos para toda boa obra. Você alguma vez jádisse: “Gostaria que minha vida fosse mais eficaz para Jesus cristo?” Se já, o que tem feitopara se equipar? O estudo bíblico é um meio primário pelo qual podemos nos tornar servos

    eficazes do Senhor Jesus.Deus talvez não possa usá-lo mais do que Ele quer porque pode bem ser que você nãoesteja preparado. Talvez você tenha freqüentado igreja por cinco, dez, até vinte anos, masnunca abriu a Bíblia para preparar-se eficazmente como instrumento de Deus. Você estevedebaixo da Palavra, mas não a estudou por si mesmo. Agora é a sua vez; Deus quer secomunicar com você no século vinte e um. Ele escreveu Sua mensagem em um Livro e pedeque você venha e estude este Livro por três razões que nos impelem: É essencial aocrescimento. É essencial à maturidade. É essencial para equipá-lo e treiná-lo a fim de quevocê possa ser um instrumento disponível, limpo e preciso nas mãos dele, para cumprir osSeus propósitos.

    Mais benefícios do estudo bíblico na vida pessoal:

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    1. Promove sabedoria, que é a aplicação do conhecimento; um homem sábio é aquele quesabe distinguir o fundamental do trivial, que sabe o que é a vida e que age adequadamente,sejam quais forem as circunstâncias (Sl 119:98-100). A sabedoria que se propõe aosdiscípulos, como aquela que se harmoniza com o reino de Deus, não é mero bom sensohumano. O sábio é aquele que faz a vontade do Senhor (Mt 7:24) – a sabedoria do crente seacha na sua obediência.

    2. Segurança pessoal (Sl 119:72).

    3. A imagem do Filho no coração do homem (I Pe 3:9).

    4. Estar ligado na videira (Jo 15:5)

    5. Comunhão com Deus (I Jo 1:6)

    6. Abertura do entendimento para as Escrituras (Sl 119:18 e 130; Lc 24:31; 45)

    7. Ter o coração aberto (At 16:14)8. Ter a revelação do Espírito Santo (Lc 2:26)

    9. Confiança. “O Deus cuja Palavra eu louvo, neste Deus ponho a minha confiança”  (Sl 56:4,10-11). Como observou A. W. Tozer: “O quanto conhecemos da Palavra é o quantoconhecemos do Deus da Palavra”.

    Tim Lahaye, no livro “Como Estudar a Bíblia Sozinho” , relaciona os seguintes pontos sob otítulo: O que o estudo bíblico fará por você:

    1. Ela nos tornará crentes mais fortes (I Jo 2:14b).2. Ela nos assegura a certeza da nossa salvação (I Jo 5:13)3. Ela nos dará confiança e poder na oração (Jo 15:7)4. Ela nos adverte contra o pecado, nos indica a purificação e nos faz saber quando estamosperdoados (Jo 15:3).5. Ela nos dará alegria (Jo 15:11).6. Produzirá paz (Jo 16:33).4 7. Ela nos orientará nas decisões da vida (Sl 119:105).8. Ela nos capacitará a testemunhar de nossa fé (I Pe 3:15).9. Será uma garantia de sucesso (Js 1:8).

    Bryan Jay Bost, no livro Do Texto à Paráfrase enfatiza cinco vantagens e bons resultadosobtidos pelo estudo cuidadoso das Escrituras:

    1. Teremos mais fé.

    4 A Bíblia não é um sedativo. Ela não tranqüiliza. No entanto, ao lê-la, você encontrará paz. “Grande paz têm osque amam a tua lei”  (Sl 119:165). Os tranqüilizantes químicos podem agir minimizando o impacto que arealidade exerce sobre as pessoas; as Escrituras, não. Elas transmitem paz ao mostrar-lhe como resolver qualquerconflito interior que destrua essa paz. A paz é mais do que ausência de ansiedade. É uma qualidade positiva quebrota da harmonia interior. Uma paz que é destruída por ameaças externas não é autêntica. A paz de Deus, queaumenta à proporção que se compreendem as Escrituras, desafia a incerteza e o perigo. Esta é a paz profunda

    com a qual os cristãos romanos enfrentaram leões famintos, nas antigas arenas, e com a qual os cristãos daEuropa Oriental, num passado recente, enfrentaram prisões, torturas e ameaças contra suas famílias. Esta é umapaz que vem da convicção de que Deus permanece no controle, você lhe pertence, e o caos e a incerteza ao seuredor representam apenas a superfície nebulosa da realidade. E essa paz melhora o seu bem-estar físico; é “amedula dos ossos”.

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    2. Teremos mais o que dizer.3. Teremos a certeza de ensinar a são doutrina.4. Teremos mais condições de prosseguir.5. Teremos mais influência do Espírito Santo sobre nós.

    Howard e William Hendricks, em seu livro Vivendo na Palavra , relacionam três outrasvantagens do estudo bíblico pessoal:

    1. Você ganhará um valioso senso de autoconfiança em sua habilidade de manusear asEscrituras.

    2. Você experimentará a alegria da descoberta pessoal (as pesquisas vêm mostrandoreiteradas vezes que as pessoas aprendem mais e se lembram melhor quando participamelas mesmas do processo de descoberta).

    3. Você irá aprofundar seu relacionamento com Deus.

    3. Manuseie com cuidado!“Se você crê naquilo que nos evangelhos é de seu agrado e rejeita aquilo de que não gosta,não é nos evangelhos que você crê – mas em si próprio.” – Agostinho .

    Já lhe aconteceu de ler um livro, um capítulo ou um versículo da Bíblia e, cinco minutosdepois, não conseguir lembrar nada do que leu? Muitas vezes lemos a Bíblia com os olhos;mas não com a mente. Há muitas explicações para isso. Ou pensamos que a Palavra deDeus deixará de forma mágica uma marca indelével em nós, sem nenhum esforço nosso, ou

    não acreditamos poder entender de fato o que lemos, ou esperamos que o pastor preguesobre a passagem para sabermos seu significado. Muitas vezes, porém, esquecemos aleitura feita simplesmente por não saber como ler e estudar o texto bíblico.

    Modos pelos quais a Bíblia pode ser mal empregada

    Devemos estar sempre atentos para os métodos que se usam para invalidar a Palavra deDeus: esquecimento, reinterpretação, racionalização, ignorância, desobediência.

    Existe perigo no mal uso da Bíblia, quando se despreza o seu estudo sistemático e metódico

    e quando não se discerne o espírito com que devemos lidar com ela (Jo 5:39; Mt 22:29).Cuidado com essas armadilhas quando estudar a Bíblia:

    1. Má leitura do texto.

    2. Interpretar por idéia própria ou superficialmente.

    3. Distorção do texto. Forçar uma passagem a dizer o que ela não diz. Tomar um texto forado seu contexto.

    4. Enfatizar indevidamente minúcias insignificantes.

    5. Contradição do texto. Equivale a chamar Deus de mentiroso. A ilustração clássica éSatanás no jardim no Éden (Gn 3:1-4).

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    6. Ignorar a íntegra de determinada doutrina bíblica. Tentar levar Deus a satisfazer a vontadehumana, em vez de desejar aquilo que Ele quer que seja feito.

    7. Julgar as Escrituras – isso leva a perder a fé. Alguns se consideram mais inteligentes doque os escritores inspirados. No estudo bíblico, bem como na vida, o orgulho antecede aqueda. A sabedoria envaidece (ICo 8:1). Pode fazê-lo arrogante e resistente ao ensino.

    8. Supervalorizar dogmas religiosos que não traduzem preceitos bíblicos (Mt 15:1-3).

    9. Subjetivismo.

    10. Relativismo.

    11. Estudar inutilmente (há aqueles que ficam se preparando a vida toda, e nunca estãoprontos para agir). Nossos estudos da Palavra devem levar geralmente a propósitos deaprendizado, ensino, evangelização e, sobretudo, obediência.

    12. Tomar cuidado para que o estudo não “suba à nossa cabeça” e comecemos a julgar-nosmelhores que outros. Quando isto ocorre, o orgulhoso não gosta de ouvir os “irmãos maissimples” falando, e passa a ser um juiz do conhecimento alheio, ao invés de acolher a palavrade Deus.

    13. Querer ser original demais. É muito comum ver alguém querendo marcar época na igrejapor ensinar algo completamente novo. Cautela! O estudo bíblico trará sem dúvida novosconhecimentos, mas o amor da novidade para engrandecimento pessoal ou para levantarpolêmica é sempre pernicioso. Infelizmente, quase todas as “grandes novidades” não passamde ressurreição de velhas heresias (Ec 12:12-13).

    14. Não aplicar a Palavra a si próprio. Você deslizará para o legalismo, ou para a tradição queinvalida a verdade, ou para algum estilo de vida extravagante que tenha um ar dereligiosidade, mas seja contrário a um relacionamento correto com Deus.

    15. Segundo observou Russell Shedd, “Há duas tentações que todo leitor da Bíblia deveprocurar vencer. A primeira é ler a Palavra como um manual de sugestões. Conselhos paraviver bem no mundo não devem ser desprezados. A Bíblia não convida o homem a fazer oque Deus manda somente se se sentir disposto a obedecer. Ordens divinas são obrigatórias,não opcionais. O leitor bíblico deve aproximar-se da Palavra como quem se apresenta paraum patrão honrado. “Que queres que eu faça; eu vim para fazer a tua vontade!” (Hb 10:7) é aúnica atitude apropriada. A segunda tentação conduz o leitor com tendências legalistas a

    pensar em seguir os mandamentos bíblicos ao ‘pé da letra’.” 5 

    Análise de um caso de má interpretação e distorção bíblica —Oração (cf. Jo 14:13):

    Primeiro contexto, Jo 15:7 (permanência em Jesus e vice-versa)Segundo contexto, Jo 15:16 (frutificação permanente)Terceiro contexto, I Jo 5:14 (segundo a vontade de Deus)Quarto contexto, Sl 104:27 (tempo oportuno)

    Quinto contexto, Tg 4:3 (pelo motivo certo)

    5 Russell P. Shedd. A Bíblia e os Livros. Abec, 1993, p. 12.

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    Quinto contexto, Sl 104:13,14,23 (Deus não faz o que o homem pode fazer. Há necessidadede semear para depois colher) 

    Exemplos resultantes de uma exata interpretação e aplicaçãobíblica:

    1. Caso de Matias, At 1:16-26; Sl 109:82. Caso do Pentecostes, At 2:14-173. Caso dos diáconos, At 6:1-3; Êx 18:18-214. Caso do Primeiro Concílio, At 15:13-195. Caso de Apolo, At 18:24-286. Caso de Beréia, At 17:10-117. Caso de Roma, At 28:22-29

    IMPORTANTE: Faça distinção entre o texto e afirmações sobre o texto. Aprenda a discernirentre:

    1. Um fato textual ............................................................ o que a Bíblia realmente diz.2. Conhecimento geral................................................ o que se sabe de outras fontes.3. Uma implicação................................. os fatos naturalmente levam a concluir que...4. Uma opinião ................................................................................ um ponto de vista.5. A imaginação............................................. o que podemos visualizar mentalmente.6. Uma interpretação ...........................o que se entende com base nos fatos textuais.7. Uma aplicação.................................................como podemos praticar este ensino.8. Uma identificação ............................................................. com pessoas ou atitudes.9. Uma especulação...................... teorização, sem quase nenhuma base verdadeira.10. Uma espiritualizaçãoa mudança da realidade concreta para o simbolismo fantasioso.

    4. A necessidade de métodos para estudar a Bíblia

    A. Definição de Método

    O estudo bíblico efetivo requer um método, ou seja, uma diretriz, estratégia ou linha de ação,um plano que produzirá resultados máximos para seu investimento de tempo e esforço.Definição: “Método é metodicidade, com perspectiva de se tornar receptivo e reprodutivo, pormeio de contato direto com a Palavra.”

    Esta definição, apresentada por Hendricks, tem três desdobramentos:

    a.  Envolve dar certos passos em uma certa ordem para garantir um certo resultado. Nãosomente qualquer passo; não somente qualquer ordem; não somente qualquer resultado. Oresultado governa tudo. Qual o produto do estudo bíblico metódico? O que você é após ele?Lembre-se: o estudo bíblico pessoal tem um objetivo muito específico – a saber, mudança devida. Então como chegar lá? Que processo levará a tal resultado? São propostos quatrospassos essenciais executados em uma ordem específica: Observação (O que vejo? ),Interpretação (O que isto  significa? ), Correlação e Aplicação (Como isto funciona? ).

    b.  Quando a Palavra de Deus e um indivíduo receptivo e obediente se juntam, atenção!Esta é uma combinação que pode transformar a sociedade. É para isso que o estudo bíblicopessoal foi designado – para transformar sua vida, e como resultado, transformar seu mundo.Você quer causar impacto em sua sociedade? Primeiro, as Escrituras têm causar impacto em você.

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    c.  Não há nada que supere a exposição pessoal prolongada à Bíblia. É vital. Sem ela,você nunca estará diretamente envolvido com o que Deus tem a dizer. tendo sempre quedepender de um intermediário. Não há substituto para a exposição direta à Sua Palavra.

    B. Princípios gerais de estudo pessoal da Bíblia 

    O conceito bíblico do sacerdócio do crente significa que todos os cristãos têm o direito e aresponsabilidade de alimentar-se da Palavra de Deus.

    Walter A. Henrichsen, no livro Métodos de Estudo Bíblico  reforça a importância de recorrer àsEscrituras como a fonte primária do cristão e lista cinco princípios que devem ser incluídos noestudo bíblico pessoal, independentemente do método adotado.

    1. Fazer investigação original – É importante que a convicção da sua fé se forme com o quea Bíblia ensina; é a autoridade da infalível Palavra examinada pessoalmente que permanece.Há algo novo e edificante acerca de uma verdade ensinada pelo Espírito Santo durante otempo que você passar pessoalmente com a Palavra de Deus.

    2. Habituar-se a fazer anotações do seu estudo – Este exercício ajuda a desembaraçar ospensamentos e armazenar conteúdos e conhecimentos das Escrituras.

    3. Estudar constante e sistematicamente – Estabeleça um programa de estudo da Bíbliaque lhe desenvolva um equilibrado entendimento de toda a Palavra de Deus.

    4. Aplicar o estudo à vida – É importante a aplicação na perspectiva de Deus. Ele esperaque a sua Palavra seja encarada com seriedade.

    5. Comunicar o conteúdo estudado – A intenção de Deus é, não só de que cresçamos eamadureçamos em nosso andar com Ele, mas também de que ajudemos outros adesenvolverem ao máximo o seu potencial em prol de Jesus Cristo.

    3. A qualidade dos estudos bíblicosO trabalho de estudar a Bíblia é um grande projeto, a ser conduzido com zelo eperseverança. Excelência e compenetração são o mínimo que se pode almejar no estudo dolivro inspirado pelo Deus Altíssimo. Nosso trabalho para o Senhor Deus deve sercaracterizado pela alta qualidade. Na aprendizagem, na exposição e no ensino de Sua

    Palavra, esta alta qualidade só é atingida com empenho pessoal e a ajuda do próprio EspíritoSanto. O lema de J. A. Bengel, um dos maiores expositores de todos os tempos, tambémdeve ser o nosso: “Aplica-te totalmente ao texto: aplica-o totalmente a ti”.

    2 Timóteo 2:15 diz que o obreiro deve MANEJAR BEM a palavra da verdade. O modo corretodeste obreiro lidar com a revelação divina (a palavra da verdade) é o critério principal paraaveriguar a qualidade dele. “Manejar bem” é a principal qualidade do obreiro que Deus querdesenvolver entre o seu povo. As traduções sugeridas pelos lexicógrafos para esta expressãosão: “guiar por uma estrada reta”; “ensinar corretamente”; “expor de maneira sadia”; “pregardestemidamente”; “utilizar bem, sem desvios nem distorções, tanto em sua análise quanto emsua apresentação”. O contexto mostra como “manejar mal” a palavra nos versos 14,16-18 e

    23; “manejar bem” está descrito nos versos 15,21,24-27.A Palavra de Deus e a nossa palavra. A Escritura é inspirada por Deus; nossos escritosnão. Ou dizemos: “Assim diz o Senhor...” ou é melhor não dizer nada, menos ainda dizer: “Eu

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    acho...” A maior parte dos desvios da verdade está na confusão entre a palavra dos homense a Palavra de Deus. Pelo estudo bíblico devemos nos assegurar de transmitir a mais puravontade divina, e não apenas nossa opinião sobre ela.

    Incertezas e inescrutabilidades. Existem coisas que não saberemos nunca (Dt 29:29).Submissão piedosa é necessária ao lidar com o que não é claramente revelado na Bíblia.Conjecturar e construir suposições sobre textos e assuntos obscuros é como construir naareia. Muitas coisas foram guardadas sob o conhecimento apenas de Deus (Atos 1:7, porexemplo), e é bom não procurar falar o que Deus não disse. Não devemos fugir de nenhumaparte da Bíblia: fácil ou difícil, ela foi escolhida pelo Espírito para nossa instrução. Por outrolado, qualquer temeridade no tratamento da mesma é reprovável.

    A orientação divina no estudo. Deus quer ajudar-nos no estudo da sua Palavra. Sem essaajuda o trabalho seria impossível. É a iluminação divina que faz a diferença maior para oestudante (Ef 1:17-18; 3:18-19), no sentido de que ele entenda o que Deus disse. Isso nãoquer dizer que o estudante vá ter visões e revelações independentes da Bíblia. Também nãosignifica que não precisa estudar. Mas, sim, que é impossível tentar entender a Palavra de

    Deus sem a ajuda de Deus (I Co 2:10-16). Dependa totalmente do Espírito Santo. João16:13-15 diz que quem nos guia em toda a verdade e nos revela as coisas de Deus é oEspírito Santo, nosso Mestre que habita em nós. O Espírito Santo não prescinde do estudoescrupuloso das Escrituras. Pelo contrário, seu esclarecimento só pode ser assimiladoespiritualmente quando nos dedicamos ao exame criterioso da Bíblia. Então peça a Deus, porseu Espírito, que o guie em toda a verdade e abra os olhos “a fim de que possa contemplaras maravilhas” de sua Palavra. Comece com oração — e continue em atitude de oração.

    Passos para o estudo da BíbliaQuatro partes essenciais compõem o fundamento de todo estudo da Bíblia – observação,interpretação, correlação e aplicação. Estas são partes básicas para empregar no seu estudoda Palavra, independentemente da espécie de estudo em que você está empenhado (taiscomo, devocional, biográfico, analítico, tópico e livro por livro), é necessário examinar cadauma individualmente, com profundidade.

    Observação (Descubra o que o texto diz!) – O passo da OBSERVAÇÃO requer que vocêassuma o papel de detetive bíblico, procurando pistas quanto ao significado do texto.Aprender nunca é fácil. Exige um ato de vontade: você precisa ter a disposição e o desejo deaprender. Exige persistência, diligência e disciplina. Exige registro; anote tudo que achar

    importante, mas não se perca nas minúcias.

    A. O valor da observação

    Observar significa estar mentalmente ciente do que se vê. “O propósito da observação noestudo da Bíblia é saturar-se do conteúdo da passagem6 da Escritura, ficar tão familiarizadoquanto possível com tudo que o escritor bíblico está dizendo, explícita ou implicitamente.”

    O primeiro passo para o estudo bíblico é a Observação, onde perguntamos e respondemos aquestão: “O que vejo?” Quando o salmista orou: “Desvenda os meus olhos, para que eu

    6 Texto ou passagem refere-se a qualquer trecho da Bíblia que está em estudo. Na língua portuguesa, a palavra“texto” tem a mesma raiz de “textura” e “tecido”. E a idéia é exatamente essa: um texto é formado por fios que secruzam e entrelaçam.

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    observe os eventos que ocorrem nesta seção, e então dramatize-os com família ou amigos.

    1 Samuel 17  — Esta é uma narrativa épica de Davi e Golias. Entretanto, apesar da maioria daspessoas saberem desta história, conhecem pouco do que realmente acontece nela. Leia o capítulocuidadosamente, então reescreva-o de modo que se refira a uma gangue de adolescentes das ruasda cidade.

    Atos 15:22-29 — Lucas reimprime uma carta que o conselho de Jerusalém enviou aos novos crentesem Fenícia e Samaria. Estude o contexto cuidadosamente, então reescreva esta passagem como umfax para uma reunião de um novo grupo de crentes no centro da cidade.

    c. Leia a Bíblia pacientemente  – Numa época em que você tem tudo num instante, atendência é querer ter instrução instantânea. Todavia, a verdadeira aprendizagem toma muitotempo. Não use atalhos no processo da aprendizagem; os caminhos aparentemente maiscurtos levam a resultados vãos. O fruto da Palavra leva tempo para amadurecer. Se você éimpaciente, é provável que desista cedo e perca uma rica colheita. Muitas pessoas fazemisso; se desiludem com o processo. Talvez estejam procurando um passatempo ao invés deesclarecimento. Outros desistem do texto bíblico e se voltam para fontes secundárias, antes

    de embeberem suas mentes no que o texto bíblico diz. Você tem que desenvolverpersistência, poder de resistência para insistir com um texto até que comece a fazerprogresso.

    Não se esqueça de que um bom pregador tem estudado as Escrituras diligentemente poranos. Não há meio pelo qual um novato possa começar já neste nível. Seja paciente com otexto e consigo mesmo. A verdade de Deus está lá, e você a encontrará se tão-somente dertempo a si mesmo para ler pacientemente.

    d. Leia a Bíblia aquisitivamente – Isto é, leia-a não apenas para receber informação, maspara reter; não meramente para tomar conhecimento, mas para tomar posse. Reivindique os

    seus direitos sobre o texto; faça dele sua propriedade particular. Como isso pode acontecer?A chave é o envolvimento pessoal e ativo no processo de estudo. Há um antigo provérbiopara tal efeito: “Quando ouço, esqueço. Quando vejo, lembro. Quando faço, entendo”. Este éo objetivo desta apostila: ajudar você na sua iniciativa própria de estudar a Bíblia, visandomudança de vida como resultado de sua interação pessoal com a Palavra de Deus.

    Exercício

    Eis uma idéia para fazer com que você se aproprie de uma passagem das Escrituras. Abra aBíblia em Números 13, na história dos espias enviados por Moisés à Terra Prometida. Leia o relato

    cuidadosamente, usando todos os princípios cobertos até aqui. Então, escreva sua paráfrase da histó-ria. Eis algumas sugestões:

    1. Decida qual o ponto principal da história. O que acontece? Por que o incidente tem significado?2. Pense sobre quaisquer paralelos ao que acontece aqui na história de sua família, igreja, nação ousua própria vida.3. Decida sobre o “ângulo” que quer usar. Por exemplo: o relatório de uma força-tarefa para umaorganização (ângulo de negócios); um concílio tribal (ângulo indígena); um debate político entre duasfacções (ângulo político ou governamental). O ponto é: escolha algo que se adapte à situação e façaeste incidente memorável para você.4. Reescreva a história de acordo com o ângulo escolhido. Utilize uma linguagem condizente com otema. Faça com que os personagens pareçam reais. Mude nomes e lugares para condizer com oestilo.

    5. Quando terminar, leia sua paráfrase a um amigo ou parente.

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    e. Leia a Bíblia com oração – Leia conhecendo o Autor do Livro, que está presente e podeexplicá-lo melhor. A oração é uma chave para o estudo bíblico efetivo. Aprenda a orar antes,durante e após a leitura das Escrituras. Comece com adoração, ocupe-se com quem é Deus(ore sempre com base nas promessas de Deus – e o ponto chave em qualquer promessa équem a fez). Isto o conduzirá à confissão porque você se verá pela perspectiva adequada.Então estará pronto para pedir a Deus o que precisa.

    Exemplo: Salmo 119 é um brilhante exemplo de estudo bíblico com oração. Muitos versículosse referem especificamente à leitura das Escrituras acompanhada de oração. O salmista usaa Palavra para louvar a Deus (v. 12); pede a Deus que o ajude a se tornar um leitorobservador (v. 18); ora por entendimento da verdade de Deus (v. 27 e 34); pede ajuda paraaplicar a verdade à sua vida (v. 33, 35-36, 133); menciona que a lei de Deus está sendoquebrada; portanto, é hora de Deus agir (v. 126). Ele ora por misericórdia com base nocaráter de Deus (v. 132), baseia suas petições nas promessas de Deus (v. 169-170) e ora porperdão após refletir nos mandamentos de Deus (v. 176).

    ExercícioFilipenses 4:8-9 – Aqui está um conjunto de promessas — e condições — que você pode lere estudar em forma de oração. Reveja a lista de qualidades de Paulo e pergunte-se a simesmo: que ilustrações disso têm na minha vida? Então com base no versículo 8: o que precisocomeçar a praticar para conhecer a paz de Deus? Fale com Deus sobre as coisas mencionadasnestes versículos e sua reação a eles. Em que áreas Deus precisa mudar seu ser? Você precisa deSua ajuda para cultivar que atitudes e pensamentos?

    f. Leia a Bíblia meditativamente. Isto é, aprenda a refletir na Bíblia. Existe uma íntima

    conexão entre a meditação na Palavra de Deus e a ação por ela. A freqüência com a qual averdade bíblica deve permear sua mente é: “dia e noite” (Js 1:8). É uma disciplina mental quevocê pratica por todo o seu dia. É uma mentalidade e um estilo de vida no qual a Palavrapercorre sua mente. E você se torna aquilo que pensa. Esta característica da leitura seráenfatizada no passo Aplicação e no Método Devocional.

    g. Leia a Bíblia seletivamente – seis perguntas básicas. Observamos a Bíblia quantoadotamos uma estratégia que nos force a examinar um texto mais de perto. Não leia com amente vazia. Leia à procura de respostas. Ao estudar um texto você deve interrogá-lo comofaz o detetive com uma testemunha a fim de descobrir os pormenores que envolvem um fatoem questão, ou como faz o jornalista para entender e reportar uma história por inteiro.

    Quando você sabe que perguntas fazer, as respostas são em geral mais satisfatórias. Àmedida que você for lendo, pergunte: 

    Quem?

     – Quem escreveu? É sempre proveitoso para o leitor procurar conhecer o autor humano doslivros bíblicos: seu modo de viver, pensar e trabalhar.

     – Quem está recebendo (ou deveria receber) a mensagem? É o exercício de identificar osprováveis leitores originais (os destinatários da mensagem ou do livro bíblico). Outra variaçãodesta pergunta é: A quem se fala? ou A quem se dirige esta palavra?

     – Quem são as pessoas no texto? Ao identificar quem está na passagem (quem está falandoou quem é retratado), procure saber:

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    a. O que se diz a respeito da pessoa ou pessoas? Note bem cada vez que se diz algo sobreuma pessoa. Certifique-se de consultar outras passagens para aprender tudo que pudersobre a pessoa mencionada.b. O que a pessoa diz?

    O quê?

     – O que está acontecendo neste texto? Quais são os eventos? Em que ordem ocorrem? Oque acontece com as personagens? Ou, se for uma passagem que discute um ponto: Qual oargumento? Qual o ponto? O que o escritor está tentando comunicar?

     – O que está errado nesta situação?

    Onde?

     – Onde a narrativa está acontecendo? Onde estão as pessoas na história? De onde estãovindo? Para onde vão? Onde está o escritor? Onde estavam os leitores originais do texto?

    Esta pergunta fornece o local. Mapas que mostram onde os eventos bíblicos acontecerampodem ajudar você obter as respostas.

    Quando?

     – Quando os eventos do texto aconteceram? Quando ocorreram em relação a outros eventosnas Escrituras? Quando acontecerá? Quando o autor escreveu?

    Esta é a pergunta que indica tempo. Palavras que geralmente dão a dica para o leitorobservar o tempo: depois disto, quando, até, então, etc.

    Por quê?

     – Por que esse “ensino” em particular foi apresentado? Por que foi colocado aqui? Por quevem depois daquilo? Por que precede aquilo? Por que esta pessoa diz isso? Por que aquelapessoa não diz nada?

    A questão “Por quê?” busca por significado ou propósito; ela investiga o texto mais do quequalquer outra pergunta. Fazê-la, inevitavelmente conduzirá você a novas perspectivas emseu estudo bíblico.

    Para quê?

     – Que diferença isso faria se eu fosse aplicar esta verdade?

    “Para quê” é a pergunta que nos faz começar a praticar algo sobre o qual lemos. Lembre-se,a Palavra de Deus não foi escrita para satisfazer nossa curiosidade; mas para mudar nossasvidas. Assim, em qualquer passagem das Escrituras, precisamos perguntar: e daí? Quandochegarmos ao passo da Aplicação, você verá maneiras de se responder a esta pergunta.

    Também pode ser usada a pergunta Como?   – Como as coisas se deram? Qual foi oresultado? Que método foi utilizado? Como isso é feito? Como aconteceu? Como essaverdade é exemplificada?

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    Exercícios

    1. Use o capítulo 1 e I Tessalonicenses para exercitar a responder esta série de perguntas iniciais.2. As seis perguntas da leitura bíblica seletiva são especialmente divertidas quando se estudam ashistórias das Escrituras. Lucas 24:13-35 registra uma das mais fascinantes — a narrativa de Jesus,encontrando dois de Seus discípulos na estrada para Emaús após Sua ressurreição. Leia este trecho

    duas ou três vezes, e então investigue-o com as seis perguntas apresentadas neste capítulo. Não seesqueça de escrever suas observações.

    h. Leia a Bíblia descobrindo o propósito do texto através da sua estrutura gramatical eliterária

    Toda Escritura é dada por inspiração divina e “útil”, isto é, serve a quatro propósitos: ensino,repreensão, correção e instrução para uma vida de justiça. Portanto, um dos aspectosessenciais da leitura é procurar pelo propósito do autor no texto em estudo. Não há um

    versículo das Escrituras que tenha sido lançado nelas por acidente. Toda palavra contribuipara o significado do texto. Seu desafio como leitor é discernir tal significado, é entender opropósito de um autor. Você deve fazer a si próprio indagações do tipo: Como o escritor tratao conteúdo? Que forma ou estrutura emprega? Como fazê-lo? Uma das chaves é atentar praa estrutura gramatical e literária do texto.

    1. Propósito através da estrutura gramaticalPrecisamos prestar cuidadosa atenção nos seguintes aspectos gramaticais do texto:

    Verbos – são as palavras de ação ou movimento que nos dizem quem está fazendo o quê.

    Examine-os com toda atenção e questione: Que espécie de ação os verbos expressam? Amaioria está na voz ativa ou passiva? Os verbos estão no imperativo – dão ordens? Quaisverbos se repetem? Que significam?

    Sujeito e objeto  – o sujeito de uma sentença executa a ação e o objeto sofre a ação. Éimportante não confundi-los.

    Modificadores – são as palavras descritivas como os adjetivos e advérbios. Eles ampliam osignificado das palavras que modificam e muito freqüentemente fazem toda a diferença. Entreelas, estão os termos de conclusão e conseqüência – veja, por exemplo, II Tm 1: v.4 (paraque ); v.6 (por   cujo motivo   ou por esta razão ); v.7 (porque ); v.8 (portanto ); v.12 (por isso;

    porque ).

    Frases preposicionais – preposições são pequenas palavras que nos dizem onde a açãoacontece: em , sobre , através , para  etc.

    Conjunções – são palavras que unem duas orações ou dois termos semelhantes da oração:e , mas , portanto , porém , enquanto , ainda , a fim de que etc.

    2. Propósito através da estrutura literária

    Na Interpretação, veremos como tipos diferentes de literatura utilizam vários tipos de estruturaliterária. Por enquanto, eis cinco tipos a serem procurados:

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    Estrutura biográfica – comumente encontrada nos livros narrativos, a estrutura biográfica sebaseia nas pessoas chaves da história. Por exemplo, Gênesis 12—50 destaca quatrogerações de líderes.

    Estrutura geográfica – aqui a chave é o lugar.

    Estrutura histórica – eventos chaves são a base da estrutura histórica. O livro de Josué foielaborado com o relato de diferentes acontecimentos.

    Estrutura cronológica  – as expressões de tempo (então, quando, antes, neste tempo,enquanto, até, depois disto   etc.) nos ajudam a perceber quando algo aconteceu.Proximamente relacionada à estrutura histórica está a estrutura cronológica, onde o autororganiza material com base em tempos chaves. Geralmente as narrativas são assim.

    Estrutura ideológica  – argumentação estruturada em redor de idéias e conceitos, o quefacilita a sumarização de um livro pelo entendimento do seu tema e propósito. A maior partedas epístolas do NT são desenvolvidas desta forma: começam com a apresentação da

    verdade espiritual e doutrinária. O resto do texto fala sobre como nossa vida deve sertransformada por esta verdade.

    As Leis da EstruturaLEI DESCRIÇÃO EXEMPLOS

    Causa e efeitoUm evento, conceito ou ação que causa outro(termos chaves: portanto, então, assim, resultado ).

    Mc 11:27—12:44Rm 1:24-32; 8:18-30

    ClímaxUma progressão de eventos ou idéias que atingemum certo ponto alto antes de regredir.

    Êx 40:34-35; 2 Sm11; Mc 4:35—5:43

    ComparaçãoDois ou mais elementos que são semelhantes oudissimilares (termos chaves: como, assim como,também, de igual maneira ).

    Sl 1:3-4; Jo 3:8,12, 14; Hb 5:1-10

    ContrasteDois ou mais elementos que são semelhantes oudissimilares (termos chaves: mas, ainda ).

    Sl 73; At 4:32—5:11; Gl 5:19-23

    Explicação ourazão

    Apresentação de uma idéia ou evento seguida porsua interpretação.

    Dn 2, 4, 5, 7—9Mc 4:13-20Atos 11:1-18

    IntercâmbioQuando a ação, conversação ou conceito mudapara outro, então volta novamente.

    Gn 37—39; 1 Sm1—3; Lc 1—2

    Introdução eresumo

    Observação na abertura ou conclusões sobre umassunto ou situação.

    Gn 2:4-25; 3Js 12; Mt 6:1

    “Pivô” ou eixo Mudança súbita de direção ou fluxo do contexto;um clímax menor.

    2 Sm 11—12Mt 12; Atos 2

    Proporção Ênfase indicada pela quantidade de espaço que oescritor dedica a um assunto. Gn 1—11; 12—50Lc 9:51—19:27Efésios 5:21—6:4

    Propósito Declaração das intenções do autor. Jo 20:30-31; At1:8; Tito 1:1

    Pergunta eresposta

    Uso de perguntas ou perguntas e respostas. MalaquiasMc 11:27—12:44Lucas 11:1-13

    Repetição Termos ou frases usados duas ou mais vezes. Sl 136; Mt 5:21-48Hebreus 11

    Específico parageral, geral para

    específico

    Progressão de pensamento de um único exemplopara um princípio geral, ou vice-versa.

    Mt 6:1-18Atos 1:8; Tiago 2

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    Exercício

    Os livros da Bíblia estão repletos de declarações que expressam o propósito dos escritores.João 20:30-31 é uma das mais diretas. Outras são menos óbvias, mas um leitor observadornormalmente poderá encontrá-las. Eis abaixo algumas declarações de propósito. Leia cada uma

    cuidadosamente, depois folheie o restante do livro no qual se encontra. Veja como o escritor cumpre oseu propósito na maneira em que apresenta seu material.

    Deuteronômio 1:1; 4:1; 32:44-47Provérbios 1:1-6Eclesiastes 1:1-2; 12:13-14Isaías 6:9-13Malaquias 4:4-6Lucas 1:1-4II Coríntios 1:8; 13:1-10Tito 1:5; 2:15II Pedro 3:1-2

    I João 5:13

    3. Elementos a procurar (desvendar) no texto em estudo – padrõesestruturais

    Na OBSERVAÇÃO se pergunta e responde àquestão: “O que vejo”? O leitor assume o papel dedetetive bíblico, à procura de pistas, e nenhumdetalhe é trivial; anota e faz uma lista dos detalhese das relações que encontra, para reflexão ecomparação nos passos seguintes do estudo.10 Háseis pistas importantes a se observar nasEscrituras. Você acha uma mina toda vez que asnota.

    a. Elementos que são enfatizados.

    Há quatro maneiras pelas quais os escritoresbíblicos enfatizam seus pontos:

     – Quantidade de espaço utilizado ao assunto que se deseja enfatizar. Exemplo: No livro deÊxodo, os capítulos 25—40 ocupam-se do tabernáculo, com detalhes minuciosos sobre a suaconstrução, e também com o sacerdócio. Uma das razões para tal quantidade de materialsobre o tabernáculo é certamente impressionar-nos com a importância que Deus dá àadoração; Ele desejou relacionar-se com o seu povo, um relacionamento somenteestabelecido e mantido na base do sacrifício de sangue.

    10  “A inspiração de Deus não chega ao homem que espera sentado, de braços cruzados, com a mente ociosa,senão à mente que pensa, busca e investiga.” – William Barclay.“Devemos abrir nossa mente de acordo com a grandeza dos mistérios divinos, e não limitar estes mistérios àpequenez do nosso entendimento.” – Francis Bacon.

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     – Propósito expresso ou declarado no próprio texto. Exemplos: Pv 1:2-6; João 20:30-31.

     – Ordem ou seqüência estratégica daquilo que se deseja enfatizar. Pela escolha de ondecolocar as pessoas, os eventos, as idéias e assim por diante, um escritor pode chamar aatenção para algo. Assim, atente para a ordem dada. Ela pode revelar importantes critériosno texto. Isto se manifesta por meio de cadeias de pensamentos associados ou progressõesde idéias numa passagem. Exemplo: Observe a progressão do pensamento de Paulo sobrenão se envergonhar do evangelho (II Tm 1): v. 8 “não te envergonhes.” ;  v. 12 “não me  envergonho...” ; v. 16 “Onesíforo... nunca se envergonhou...”  

     – Movimento do menor para o maior, e vice-versa. Um escritor irá freqüentementedesenvolver o texto até chegar ao clímax (ponto de interesse máximo), onde apresentainformações chaves. Exemplo: Êxodo é um exemplo de clímax; podemos vê-loacentuadamente em 40:34-35. Depois da narrativa da partida de Israel do Egito, dorecebimento da Lei, das instruções, dos detalhes do tabernáculo, finalmente a nuvem deglória cobre a congregação de Israel, e a presença deslumbrante do Senhor enche otabernáculo. Esse é o clímax do livro.

    Exercício

    Eis uma seção das Escrituras em que você pode observar coisas enfatizadas: I e II Samuel.Desenvolva um quadro genérico destes dois livros, mostrando o espaço relativo dedicado aospersonagens fundamentais: Samuel, Saul e Davi. (Veja o exemplo do quadro “Lucas – lei deproporção”, na página 44.) Que personagem era o mais importante para o escritor? O que isso dizsobre o propósito de I e II Samuel?

    b. Elementos que se repetem.

    É provável que não haja ferramenta de ensino mais poderosa do que a repetição – elareforça, enfatiza a importância do assunto em estudo. Em quase todas as passagens queestudar há palavra, frase, idéia ou conceito importante repetido. Determine por que serepetem e como se relacionam. Em algumas categorias de repetição a se procurar no texto:

    Termos, expressões e orações. Exemplos: a) Salmo 136: “porque a sua misericórdia durapara sempre”. b) Hebreus 11: “pela fé” aparece dezoito vezes. O escritor fala sobre pessoasdiferentes, vivendo em épocas diferentes, sob circunstâncias diferentes. Mas todos elestiveram o mesmo estilo de vida “pela fé”. c) Em I Coríntios 15:12-38, Paulo usa sete vezes a

    palavra “se” para enfatizar o fato de tudo que cremos ser condicionado à ressurreição deCristo. d) Observando as repetições em I Ts 3:

    PALAVRA OU FRASE Nº DE REPETIÇÕES VERSÍCULOS USADOSFé 5 2, 5, 6, 7, 10Tribulação 2 3, 7

    Observando que a palavra fé  aparece cinco vezes nesse trecho, você poderia perguntar: “Porque a fé é mencionada tantas vezes?” Vendo a repetição da palavra tribulação , poderiaconcluir que a fé fortalecida pela correta reação à tribulação.

    Personagens. Exemplo: Barnabé (Atos 4:36; 9:27; 11:22 e 15:36-39).

    Incidentes e circunstâncias. Exemplos: a) No livro de Juízes, o escritor começa cada seçãocom as palavras: “Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor”. b) No

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    decorrer do evangelho de Mateus, o autor desenvolve uma tensão entre Jesus e os fariseus,e usa tais incidentes para chamar a atenção para a luta pelo poder que acontecia entre oantigo sistema de legalismo autojustificado e o novo caminho de salvação em Cristo.

    Padrões. Exemplos: a) Paralelos entre a vida de José e a vida de Jesus. b) Em I e II Samuelo escritor usa justaposições para mostrar que Saul era a escolha do povo para rei, enquantoDavi era escolha de Deus.

    O uso de passagens do AT no NT. Se o Espírito de Deus compele um escritor do NovoTestamento a recordar uma passagem do Antigo Testamento, é provável que seja porque Elequer enfatizar aquela porção das Escrituras. Exemplos: a) Mateus 12:39-41 cita Jonas. b)Hebreus cita Levítico. c) Romanos 10 cita Levítico e Deuteronômio.

    Exercício

    A repetição é um dos meios de dar ênfase mais freqüentemente usados na Bíblia. Aproveite asugestão de alguns projetos que o ajudarão a estudar porções da Palavra, procurando por coisasrepetidas.

    Salmo 119 – Neste salmo, Davi se refere à Palavra de Deus em todos os versículos. Observe o salmocuidadosamente, e catalogue todas as coisas que Davi diz sobre as Escrituras.

    Mateus 5:17-48 – Observe como Jesus usa a fórmula “Ouvistes o que foi dito... Eu, porém,vos digo...” nesta porção do Sermão do Monte. Que estrutura esta expressão dá àpassagem? Por que é significante que Jesus diga isso?

    Aritmética em Atos – Use uma concordância para procurar todas as expressões“aritméticas” no livro de Atos — números de pessoas sendo “acrescentados” à igreja. oscrentes se “multiplicando”. Há até mesmo algumas “divisões” e “subtrações”. Você podeencontrá-las? Como Lucas usa tais termos para descrever o crescimento da igreja primitiva?

    1 Coríntios 15:12-19 – Investigue a importância da pequena palavra “se” para o argumentode Paulo.

    c. Elementos que são relacionados  (que têm alguma conexão ou interação). Procure trêstipos de relacionamento em seu estudo das Escrituras:

    Movimento do geral ao específico. Entre um todo e suas partes, entre uma categoria eseus membros individuais, entre o quadro geral e os detalhes. Quando você se deparar comuma declaração ampla e genérica nas Escrituras, procure perceber se o escritor prosseguecom detalhes específicos. Exemplos: a) Gênesis 1:1 dá uma visão geral; o restante docapítulo provê informações específicas. b) Mateus 6:1 dá um princípio geral; vs. 2-4, 5-15 e16-18 dão três ilustrações específicas.

    Perguntas e respostas. Exemplos: a) Jó 38—39; às vezes, a pergunta carrega em si mesmatanto peso que não necessita de resposta. b) Romanos 3:31; 6:1,15; Gl 3:5; Ml 1:2, 6-8, 13; c)Perguntas penetrantes que o Senhor lança aos discípulos (Mt 6:27; 26:40; Mc 4:40).

    Causa e efeito. Exemplos: a) Neemias 1, o povo desobedeceu (isso foi a causa), e Deuspermitiu que os babilônios os levassem cativos (isso foi o efeito). b) Atos 8:1-4, a perseguiçãoera a causa, e a pregação, o efeito. c) Salmo 1, há um elo direto de causa-efeito entre asEscrituras e a bênção de Deus.

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    d. Elementos semelhantes e diferentes. As coisas que são semelhantes e as que sãodiferentes fazem uso da forte tendência humana de comparar e contrastar . Conforme vocêestudar as Escrituras, atente para a voz dentro de sua mente, que diz: “Ei! Isto é igual àpassagem que li ontem” ou “Esta parte é diferente de tudo neste livro”. Esses são clarossinais de que o autor está usando coisas semelhantes e diferentes para comunicar a suamensagem.

    Semelhanças se destacam ao leitor observador por meio de duas “figuras de linguagem” 11 (são desvios das formas gerais da linguagem; servem para dar maior brilho e ênfase àcomunicação):

    Símiles – é uma imagem de palavra que evoca uma comparação entre duas coisas. Duaspalavras mais comuns a se procurar são “tão”  e “como”. Exemplos: a) Salmo 42:1. b) II Tm2:3; c) I Pedro 2:2. d) Isaías 44:6-7. e) João 3:14 usa símile por meio da expressão “do modopor que” . f) I Ts 2:7, 11. São usadas para este mesmo recurso as palavras: semelhantemente,assim também .

    Metáforas – Todo emprego de palavra fora do seu sentido normal, por efeito da analogia ouilustração, constitui uma metáfora. Exemplos: a) Jesus diz: “Eu sou a videira verdadeira, emeu Pai é o agricultor” (Jo 15:1). Ele está falando figuradamente, não literalmente. b) Jesususa uma metáfora quando fala com Nicodemos (Jo 3). c) Em I Ts 5:2, o uso que Paulo faz dafigura de um ladrão de noite ilustra a necessidade de estarmos preparados; a da mulhertendo filho (vers. 3) ilustra a subitaneidade.

    Os contrastes se destacam ao leitor observador por meio de:

    Uso de mas  e porém   – A palavra mas  ou porém  é uma pista que indica que uma mudança

    de direção está para acontecer. Ao encontrá-las no texto, pare e pergunte que contraste estásendo feito. Exemplos: a) Mateus 5: “Ouviste o que foi dito... Eu, porém, vos digo...”. b) Atos1:8. c) Atos 8:5-8 e 26. d) Gálatas 5:19 e 22. e) I Ts 2:4; 5:6. As palavras de outra forma, pelocontrário, nem, entretanto, podem nos dar pista de contrastes.

    Metáforas – Assim como as coisas que são semelhantes podem ser mostradas através demetáforas, também o podem as coisas que são diferentes. Exemplos: a) Na parábola do juiziníquo, em Lucas 18, a chave é notar que Jesus está estabelecendo um contraste efetivoentre um juiz humano e Pai celestial. b) I Ts 5:5.

    Ironia  – É a expressão de um pensamento em palavras que, literalmente entendidas,

    exprimem o pensamento oposto. Exemplos: a) Mt 27:40. b) Em Lucas 8, o contraste irônicoacontece com a interrupção brusca da caminhada de Jesus para perguntar à multidão: “Quemme tocou?”  Este é o contraste que Lucas quer que vejamos: no meio de uma crise, em meio auma multidão, uma mulher desconhecida se aproxima privativa e quietamente em fé – eJesus reconhece isso. Ela se destaca da multidão por causa de sua fé. Lucas narra o fatopara que a notemos e nos beneficiemos pelo seu exemplo.

    Exercício

    11  Observar os recursos literários que o autor empregou em sua obra é também parte da boa observação daestrutura do texto. Recomendamos que o estudante saiba identificar figuras de linguagem no texto (figuras depalavras, de construção e de pensamento). É útil recordar este assunto em uma gramática. Esta compreensãoajuda a não perder a mensagem do escritor por não entender o veículo que ele utiliza para transmiti-la.

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    João 11:1-46 traz um importante estudo em comparação e contraste. É a história da ressurreição deLázaro, mas ele é na verdade, apenas um personagem secundário. João focaliza suas lentes nasduas irmãs de Lázaro: Marta e Maria.

    Leia o relato cuidadosamente, e considere perguntas como: qual o relacionamento entre Jesus eestas duas mulheres? há outros textos que dão luz a esta pergunta? como as irmãs se aproximam deJesus? como Ele reage a elas? o que Ele diz? Compare e contraste a fé destas duas mulheres. Comoelas se comparam aos discípulos e às pessoas que observavam o incidente?

    Obs.: O ponto alto do contraste não consiste na palavra que o indica, mas na diferença dasqualidades acentuadas. Procure observar contrastes, por exemplo, no Salmo 1 ou no capítulo 7 deHebreus.

    e. Elementos que são da vida real. Há um toque de autenticidade nos relatos dospersonagens bíblicos – suas experiências de vida são cortadas do mesmo rolo de tecidohumano. O que a passagem diz sobre a realidade? Que aspectos do texto se repercutem emminha própria existência?

    Obviamente vivemos em uma cultura dramaticamente diferente das culturas da época

    bíblica. Mas as mesmas coisas que os personagens bíblicos experimentaram, nósexperimentamos. Sentimos as mesmas emoções que sentiram. Temos as mesmas dúvidasque tinham. Eles eram reais, pessoas vivas que enfrentavam as mesmas lutas, os mesmosproblemas e as mesmas tentações que você e eu enfrentamos.

    Assim, quando ler sobre eles nas Escrituras, você precisa perguntar:

    Quais eram as ambições desta pessoa? Quais os seus objetivos? Que problemas estavaenfrentando? Como se sentia? Qual a sua reação? Qual seria a minha reação?

    Freqüentemente estudamos ou ensinamos a Escritura como se fosse uma lição acadêmica, enão vida real. Não se admira que tantos de nós nos sintamos entediados com nossas Bíblias.Estamos perdendo as melhores lições da Palavra de Deus quando deixamos de consideraras experiências de pessoas nela.

    NOTA: Marque sua Bíblia enquanto a lê e estuda.

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    NOTA: Marque sua Bíblia enquanto a lê e estuda.

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    Como estudar uma seçãoRecapitulação e sugestões sobre como compilar o máximo de uma seção das Escrituras.

    1. Leia a seção toda completamente. Aliás, tente lê-la duas ou três vezes, talvez emdiferentes traduções, se possível.

    2. Identifique os parágrafos e ponha um rótulo ou título em cada um deles. Lembre-se de queo parágrafo é a unidade básica do estudo. Por isso, é importante entender a idéia ou temaprincipal de cada parágrafo, e então expressá-la em uma ou duas palavras.

    3. Avalie cada parágrafo à luz de outros parágrafos. Use as seis pistas dadas anteriormentepara procurar relacionamentos.

    4. Avalie como a seção como um todo se relaciona com os restante do livro, usando osmesmo princípios (coisas enfatizadas, repetidas, e assim por diante).

    5. Tente expressar o ponto principal da seção. Veja se consegue reduzi-lo a uma palavra oufrase pequena que resume o conteúdo.

    6. Mantenha uma lista de observações na seção. Melhor ainda, registre-as em sua Bíblia,usando palavras breves e descritivas.

    7. Estude as pessoas e os lugares mencionados. Veja o que pode aprender sobre eles quepossa dar luz à seção como um todo.

    8. Mantenha uma lista de perguntas não respondidas e de problemas não resolvidos. Estes

    se tornam avenidas para investigações adicionais.9. Pergunte:se o que vi nesta seção que desafia meu modo de viver? Que questões práticasse refere a passagem? Que mudança preciso considerar à luz deste estudo? Que oraçãopreciso fazer como resultado do que estudei?

    10. Compartilhe os resultados de seu estudo com alguém.

    Resumo – exemplo da observaçãoA observação é necessariamente o passo básico do estudo bíblico, porque nos leva a desco-brir o que o texto realmente diz acerca dos fatos, dos personagens, da importância de certosacontecimentos e declarações. Não é difícil, mas exige bastante atenção e uma mente abertapara não chegar a conclusões baseadas nos preconceitos ou influências não bíblicas que têmpenetrado o pensamento dos cristãos. Há muitas atitudes diante da vida, do corpo, dodinheiro etc., nas igrejas, que estão hoje baseadas em filosofias e ideologias que nada têm aver com o que a Bíblia ensina.

    O estudo bíblico nos ensina a ver os fatos e as idéias de acordo com os valores da própriaPalavra de Deus.

    Ao observar os fatos da Bíblia afirmamos: “O texto diz que... (um fato explícito)”. Ou: Este eaquele fato, juntos, implicam que... (fato oculto, ou implicação)”.

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    Olhe até descobrir quais são os fatos significativos.

    Pergunte até observar conscientemente todos os fatos importantes.

    Observe até descobrir a ênfase do autor e a maneira como ele organizou a apresentação desuas idéias.12 

    A. Olhe!

    Tomemos como exemplo Lucas 5:1-11. Veja:

    1. a forma literária: é uma narrativa, que enfatiza os acontecimentos? uma mensagemdiscursiva, que enfatiza as idéias? um texto poético, que enfatiza a intuição? um textofilosófico, que enfatiza as percepções? ou ainda um texto profético, que enfatiza a revelação?Exemplo: Lc 5.1-11 é uma narrativa, parte do relato sobre a vida e obra de Jesus.

    2. a estrutura: quais são as divisões principais? Como as idéias e ações se desenvolvem até

    chegar a um clímax ou a um desafio?

    Exemplo: Em Lc 5:1-3 Simão Pedro escuta uma mensagem de Jesus. Em Lc 5.4-l0a Jesusdesafia Simão Pedro pela primeira vez. Em Lc 5:l0b-11 Jesus desafia Simão Pedro pelasegunda vez.

    3. o contexto: De que maneira as informações obtidas de passagens bíblicas relacionadascom o texto, ou de informações históricas da época em que o livro foi escrito nos ajudam aentender a mensagem, o conflito, as dificuldades e soluções?

    a) histórico  (informações sobre o contexto social e espiritual em que a mensagem foiproferida).

    Exemplo: Em Lucas 5 vemos o conflito interno de Pedro. Ele era um pescador experiente,que havia se dedicado à pesca durante as horas mais propícias (de noite), sem obterresultados. Agora Jesus, que não é pescador, manda que saia de novo, numa hora imprópriapara pescar. Vemos, também, em Pedro, a atitude característica de um judeu piedoso,quando recebia uma revelação de Deus: um sentimento forte de ser indigno, diante dasantidade do Senhor (Veja Êx 24:9-11 e Is 6:1-7).

    b) textual imediato (vínculos com o texto que vem antes e depois).

    Exemplo: Este incidente ocorre no início do ministério de Jesus, quando a equipe dediscípulos ainda não era formada. O texto 4:31 a 44 mostra que Simão já conheciapessoalmente a Jesus: já tinha ouvido o seu ensino; observado vários de seus sinaispoderosos como a libertação de um endemoninhado e a cura de sua própria sogra e lheoferecido sua hospitalidade. Lucas 5:29-35 mostra que já havia uma equipe de discípulos queandava com Jesus e em Lucas 6:12-16 vemos a designação e formação definitiva destaequipe.

    e) textual mais amplo (alguns esclarecimentos importantes, em textos paralelos, passagenscom mensagens complementares e a localização do texto no contexto do livro do qual faz

    parte).

    12 Este Resumo-exemplo da Observação e o Resumo-exemplo da Interpretação (página ...) foram usados pela professoraAntonia Leonora van der Meer (Tonica), na obra O Estudo Bíblico Indutivo. ABU Editora, 1999 (4 ª ed.), p. 9-14 e 16-18.

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    Exemplos:  a) João 1:35-42 relata o primeiro encontro de Jesus e Simão. E mostra que jáhavia uma fé incipiente em Simão: ele já conhecia as mensagens de João Batista a respeitode Jesus e tinha certas expectativas em relação a Ele.

    b) Mateus 4:18-22 e Marcos 1:16-20 relatam o que foi provavelmente a primeira vez em queJesus chamou a Pedro e seus companheiros para segui-lo. É possível que sejam relatosabreviados do mesmo acontecimento relatado em Lucas 5 ou que só após essa convicçãoprofunda de ser pecador, e do Senhorio de Jesus, o compromisso em segui-lo se tomou maisforte.

    4. as chaves gramaticais (observe o uso dos verbos):

    a) Os tempos  (presente/passado/futuro), os modos  (indicativo, subjuntivo, imperativo,infinitivo, gerúndio e particípios) e a voz (ativa e passiva).

    Exemplo: Ef 5:18-21 – “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei- 

    vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor,com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, emnome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”.Neste texto há dois imperativos: não vos embriagueis e  enchei-vos. Os verbos dosversículos 19-21 estão no gerúndio. Isto mostra que se trata de conseqüências do encher-noscontinuamente do Espírito.

    b) O sujeito/objeto no singular ou no plural (Isto inclui a mudança no uso dos pronomes;quem é o sujeito ou o objeto deste verbo?).

    Exemplo: Jo 1:50-51 — “Ao que Jesus lhe respondeu: Por que te disse que te vi debaixo da

    figueira, crês? Pois maiores cousas do que estas verás. E acrescentou: Em verdade, emverdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre oFilho do homem”. No versículo 50, Jesus faz uma promessa a Natanael, que no versículo 51é estendida a todos os discípulos.

    Exemplo: Lucas 5:1-11 – Qual é o verbo principal no versículo 1? Quem é o sujeito das açõesprincipais nos versículos 1 a 4 e nos versículos 5 a l0a? O que Lucas nos diz, por meio destamudança, sobre a maneira pela qual Jesus atrai Simão Pedro para sua obra?

    c) que mudanças no pensamento do autor vêm à tona através do uso das conjunções e daspreposições, como: “mas” , “para”, “porque”, “se”, “ainda que”, “quando”, “de modo que”, “e

    portanto” etc.

    Exemplo: Que aparente conflito indica o “mas” de Simão Pedro, no versículo 5? Que outraspalavras indicam mudanças no pensamento do autor (ou da pessoa que fala)?

    B. Pergunte

    Comece com as perguntas básicas: quem? onde? quando? o quê? como? por quê?

    1. Passagens narrativas

    a) Personagens: Quem são? O que esta passagem mostra acerca deles? Como reagem einteragem entre si? Em quem se concentra a atenção?

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    b) Circunstâncias. Onde estão? Por que estão ali? Por que o lugar é significativo? Qual é aatmosfera emocional/psicológica? Quando o fato acontece? Caso se mencione o momento(direta ou indiretamente), como isso contribui para a nossa compreensão?

    e) Fato central. Qual  é o acontecimento central? Como é descrito? Como as açõesanteriores culminam nele? Como as ações e as palavras das pessoas revelam seu caráter esuas possíveis motivações? Por que isso acontece? Há razões expressas ou implícitas?

    d) Conseqüências. Quais são os resultados? Eram esperados? Que outras implicações há?

    2. Passagens discursivas

    a) Personagens: Quem é o escritor e quem são os leitores; ou o orador e os ouvintes? Querelação existe entre eles? Que outras pessoas são mencionadas? Por quê?

    b) Circunstâncias: Onde está o escritor? Por que está ali? Onde estão os leitores? Quando a carta foi escrita (ou o discurso pronunciado)?

    e) Mensagem central: Qual é a idéia central? Como o escritor ou orador tenta persuadir osouvintes na verdade? Que razões, ilustrações, experiências ou outros meios utiliza? Por que está tão desejoso de que a entendam e creiam nela?

    d) Conseqüências: Quais seriam os resultados, caso aceitem sua mensagem? E em casocontrário?

    C. Observe

    Examinemos Lucas 15 para descobrir o magistral método de ensino de Jesus, usando osseguintes princípios literários:

    1. Observe a ênfase do escritor (ou do orador):a) Pela repetição de certas palavras, frases, idéias, personagens, ações.

    Exemplo: Jesus usa “perder”, “perdido/a” sete vezes, “encontrar”,  “achar” ou “achado” setevezes, mas “pecador/pecadores” só duas vezes e “arrependimento/se arrepende” só trêsvezes. Diante dos fariseus Ele enfatiza não o arrependimento do pecado, mas enfatiza seuresultado natural: a alegria e a celebração! Observe que Ele fala dez vezes de “júbilo”,“alegrar-se” e “regozijar-se”; quatro vezes de “comer” e “fazer festa” ; três vezes de “matar onovilho cevado” e que fez outras referências à mesma idéia: “o abraçou e beijou” ; “a melhorroupa... um anel no dedo.., a música e as danças...”

    b) Pela comparação de idéias com coisas conhecidas, vinculando coisas semelhantes entresi.

    Exemplo: Jesus compara a Deus com que personagens familiares? O que a ovelha, a moedae o filho têm em comum? Com quem se comparam? Com quem Jesus compara o filho maismoço? Que semelhança há entre o filho mais velho nos versículos 11 a 32, e os críticos deJesus nos versículos 1 e 2?

    c) Pelo contraste entre coisas opostas, da mesma categoria, mas não semelhantes.Exemplo: Qual a diferença entre o valor das três coisas perdidas? Qual a diferença entre ofilho mais moço e o seu irmão? E entre o filho mais velho e o pai? O que distingue a terceira

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    parábola das outras duas?

    d) Pela proporção do espaço dado a pessoas ou idéias-chave.

    Exemplo:   Quem é o personagem central de cada parábola: “o perdido que foi achado” ouaquele que o encontra? Qual é a parábola mais extensa? O que Jesus nos diz com estaproporção?

    2. Observe a organização das idéias do escritor (orador) pelo seu uso de:a) Relações de causa e efeito: Quando uma coisa é uma conseqüência natural da outra.

    Exemplo: O que causou a busca diligente do dono? E qual foi o resultado do encontro doobjeto (ou da pessoa) perdido/a? O que Jesus está dizendo aos fariseus, com respeito àatitude deles?

    b) Relação entre os meios e o fim.

    Exemplo: Por que Jesus usou parábolas para responder aos seus críticos?c) Progressão do pensamento: uma série de idéias e ações que progride em direção a umclímax ou desafio.

    Exemplo:  Observe na ordem das parábolas como Jesus passou do simples ao complexo, doconhecido ao desconhecido, dos valores inferiores (as coisas) ao valor maior (as pessoas).

    d) Uma declaração geral no começo, seguida por explicações ou evidências específicas ouuma declaração conclusiva no fim, precedida por uma série de idéias.Exemplo: 0 que encontramos no ensino de Jesus neste capítulo?

    Exercício

    Observe esta seção: Mateus 13:1-23, a parábola do semeador. Abaixo há um quadro dedivisões para ajudar você a começar, o qual considera quatro questões para cada um dosquatro tipos de solo: como Jesus descreve o solo? Que tipo de crescimento acontece?Qu