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LAAD E FIDAE HAVERÁ ESPAÇO PARA AS DUAS? Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF e Membro da Sociedade Latino Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS) Membro de Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da UFJF. [email protected] Na América Latina, acontece a cada dois anos uma feira de aviação militar no Chile, a FIDAE - Feria Internacional Del Aire y Del Espacio e outra de defesa, aviação e helicópteros no Brasil, a LAAD -Latin América Aero & Defense. Diante de um cenário em que os grandes fabricantes de material aeronáutico e de defesa reduzem a cada ano suas verbas para e conseqüentemente, as participações em feiras, torna-se imperativa a seguinte pergunta: haverá espaço para duas feiras na América Latina? Qual seria a mais cotada a sobreviver? Para responder a estas perguntas, é necessário fazer uma comparação entre as duas feiras, apesar de que tratam em princípio de temas não relacionados diretamente, mas que disputam as verbas de muitos fabricantes e expositores em comum. A Fidae surgiu há 26 anos e em 2006, a décima quarta edição da feira foi sem dúvida impecável em sua organização. Na bela e segura capital do Chile, a feira foi realizada pela primeira vez no aeroporto Internacional Arturo Merino Benítez em instalações novas e construídas especialmente para o evento. O acesso à feira foi fácil e rápido graças a uma nova rodovia, construída para tal, que passa inclusive sob o rio Mapocho. O número de expositores e visitante foi impressionante, com uma enorme quantidade de aeronaves militares e civis, bem como helicópteros de inúmeros fabricantes. No grande pátio de aeronaves, os visitantes puderam ter contato direto com aviões e helicópteros, dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Brasil, Rússia, Austrália e outros. Sem contar a grande novidade que foi a apresentação dos recém chegados F-16C da Força

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LAAD E FIDAE HAVERÁ ESPAÇO PARA AS DUAS?

Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF e Membro da Sociedade Latino

Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS) Membro de Centro de Pesquisas Estratégicas

“Paulino Soares de Sousa” da UFJF. [email protected] Na América Latina, acontece a cada dois anos uma feira de aviação militar no Chile, a FIDAE - Feria Internacional Del Aire y Del Espacio e outra de defesa, aviação e helicópteros no Brasil, a LAAD -Latin América Aero & Defense. Diante de um cenário em que os grandes fabricantes de material aeronáutico e de defesa reduzem a cada ano suas verbas para e conseqüentemente, as participações em feiras, torna-se imperativa a seguinte pergunta: haverá espaço para duas feiras na América Latina? Qual seria a mais cotada a sobreviver? Para responder a estas perguntas, é necessário fazer uma comparação entre as duas feiras, apesar de que tratam em princípio de temas não relacionados diretamente, mas que disputam as verbas de muitos fabricantes e expositores em comum. A Fidae surgiu há 26 anos e em 2006, a décima quarta edição da feira foi sem dúvida impecável em sua organização. Na bela e segura capital do Chile, a feira foi realizada pela primeira vez no aeroporto Internacional Arturo Merino Benítez em instalações novas e construídas especialmente para o evento. O acesso à feira foi fácil e rápido graças a uma nova rodovia, construída para tal, que passa inclusive sob o rio Mapocho. O número de expositores e visitante foi impressionante, com uma enorme quantidade de aeronaves militares e civis, bem como helicópteros de inúmeros fabricantes.

No grande pátio de aeronaves, os visitantes puderam ter contato direto com aviões e helicópteros, dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Brasil, Rússia, Austrália e outros. Sem contar a grande novidade que foi a apresentação dos recém chegados F-16C da Força

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Aérea do Chile. Uma das pistas do Aeroporto Internacional foi destinada quase exclusivamente à feira, com exibições em vôo que se sucediam durante todos os dias do evento. Pouco notada, mas também interessante foi a presença de vários veículos blindados e tanques na exposição.

Vista da FIDAE 2006 no Chile. (Foto: autor)

A LAAD surgiu em 1997, como Latin América Defentech – LAD. Na sua

segunda edição, passou a se chamar LAAD Latin América Aero & Defense. A quinta edição da LAAD, em 2005 que também foi unida à Helitech, foi muito afetada pelo cancelamento do programa FX. O cancelamento da compra de aviões novos pela Força Aérea Brasileira trouxe muito descontentamento a alguns fabricantes que haviam investido no programa. A localização da feira, no Rio de Janeiro, fica longe dos aeroportos, em um lugar distante e de difícil acesso, como é o Riocentro. Foi impressionante a falta de sinalização nas vias, em obras para o Pan 2007.

Vista parcial da LAAD 2007 vista da Sala de Imprensa. (Foto: autor)

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Poucos helicópteros foram apresentados, entre eles um Eurocopter EC-135 entregue à Receita Federal. Os grandes fabricantes mundiais de aeronaves estiveram presentes, limitando-se a distribuir folhetos de seus produtos, com exceção da Embraer, não houve coletivas para a imprensa nem acontecimentos marcantes. Isso, considerando que é esperado, que a FAB poderá anunciar brevemente o avião escolhido para reequipar a sua aviação de combate. O caça francês Rafale é considerado um dos favoritos e a sua comercialização está sendo feita por um consórcio denominado Rafale International, composto pela Dassult Aviation, Snecma e Thales. A Sukhoi russa concorre com seu SU-35, mas tem em contra o fato de estar desenvolvendo o jato de passageiros Sukhoi Superjet 100, que é um concorrente direto com os aviões da Embraer. Na disputa estão também os americanos com o FA-18E/F da Boeing e o F-35 da Lockheed-Martin. No Stand da Saab também se viu material relacionado ao Gripen.

A Bell apresentou um Helicóptero Bell 407 da Policia Rodoviária Federal e um Helicóptero Enstrom também esteve em exposição.

Maquete do Rafale e Helicóptero Bel 407 da Polícia Rodoviária Federal. (Fotos: autor) A presença da Índia, em um grande stand, mostrou os novos caças supersônicos de

concepção nacional HAL LCA-Tejas e os novos treinadores IJT – Intermediate Jet Treiner.

A Denel da áfrica do Sul apresentou uma grande gama de produtos entre ele um

míssil ar-ar A- Darter, que está sendo aperfeiçoado em cooperação com a FAB. A Companhia Israelense Rafael, apresentou o míssil Derby, adotado pela FAB e o

míssil Python 5 ademais do sistema Spice 1000 que aumenta a precisão e o alcance de bombas convencionais.

A Companhia Elbit, também de Israel apresentou seu sistema de kits de bombas

laser Lizard.

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Maquete do avião de treinamento indiano IJT, mísseis A-Darter da Denel sul-africana. (Fotos: autor)

Mísseis fabricados pela Rafel israelense – Dervy e Python 5. (Fotos: autor)

O Centro de Logística da Aeronáutica – CELOG exibiu uma gama de

componentes nacionalizados, que possibilitam a manutenção do estado operacional de inúmeras aeronaves da FAB. Entre os itens nacionalizados, estão 2.410 componentes para os AT-26 Xavante, 1.198 para os C-95 Bandeirante, 1.002 dos C-130 Hércules, 855 dos Buffalo entre outros.

O CTA exibiu novas bombas nacionais recentemente homologadas. A primeira

equipada com pára-quedas de frenagem e a segunda destinada à destruição de pistas, semelhante à Durandal francesa a terceira é uma bomba que dispersa submunições sobre concentrações de tropas. Também foi apresentada uma maquete do míssil MA1-B.

Maquete do futuro míssil brasileiro MA1-B. (Foto: autor)

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O Exército Brasileiro apresentou seu novo Sistema de Defesa Anti Aérea,

composto pelo radar Saber M-60, o Centro de Operações Aéreas e a Unidade de Tiro. Esse sistema, com alcance de 60 Km e funcionamento tridimensional pode rastrear 40 aeronaves simultaneamente e também diferenciar aeronaves de asa fixa e aeronaves de asas rotatórias.

Unidade de tiro do radar SABER M-60 produzido pelo Exército Brasileiro em parceria com

empresas nacionais> (Foto: autor) Sem dúvida o acontecimento mais importante da feira foi a entrevista coletiva da

Embraer, relacionada ao projeto em estudo do transporte militar Embraer C-390. Trata-se de um jato com capacidade de transportar até 19 toneladas e que poderá vir a substituir os Lockheed C-130 Hercules em muitas forças aéreas no futuro. Vários componentes da família de jatos Embraer 170-190 deverão ser utilizados neste projeto, como a cabine, asa, estabilizadores em uma fuselagem totalmente nova, com rampa traseira.

Outro fato que marcou a LAAD foi a interdição e a desmontagem do stand do Irã,

que está sujeito a um embargo da ONU.

Entrevista coletiva da Embraer apresentando o futuro C-390 na versão de transporte militar. (Fotos: autor e Embraer)

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Stand do Irã interditado no primeiro dia da feira e desmontado à noite. (Foto: autor)

No tocante à importância política atribuída à feira, basta comparar a presença da

presidenta do Chile, Sra. Michelle Bachelet e muitas autoridades na abertura da FIDAE, enquanto que à LAAD, esteve presente o Ministro da Defesa do Brasil, Valdir Pires que vive um grave momento de crise. Foi notória a ausência do Governador do Estado do Rio de Janeiro. . Sem adequado apoio político, e sem uma reformulação de local com a presença de aeronaves e apresentações aéreas e a presença efetiva de veículos militares em maior escala, a LAAD deverá enfrentar muitas dificuldades para continuar sobrevivendo ao lado de uma FIDAE cada vez mais fortalecida e melhor organizada. Porém, uma mudança política, com maior apoio do Governo Brasileiro à feira, pode fazer a diferença.

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