Géneros dramáticos menores AE: reconocen los distintos géneros dramáticos menores.
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JOGOS DRAMÁTICOS, ARTE E O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DE ALUNOS
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: contribuições da psicologia histórico-cultural
Professora PDE: Marinêz Rodrigues do Socorro1
Orientadora: Sonia Mari Shima Barroco2
Resumo
Este artigo resultou dos estudos realizados no período de agosto de 2010 a agosto de 2012, como participação no Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Objetivamos investigar a importância da arte cênica, o teatro, como uma ferramenta escolar promotora de encantamento, emoção e sensibilização e fundamental para o processo de desenvolvimento de alunos com deficiência intelectual. Os pressupostos teóricos utilizados neste estudo foram os da Teoria Histórico-Cultural, de L. S. Vygotski (1896-1934) e de seus continuadores, que consideram o homem numa perspectiva dialética de ser biológico e social. Essa teoria defende que o ser humano é constituído a partir das relações sociais que ele estabelece com o mundo. Assim, discorremos a respeito do trabalho sobre o teatro, com enfoque nos jogos dramáticos, partindo das obras de arte de artistas do Paraná. Trabalhamos com os eixos: O homem em busca de conhecer a si mesmo, estudo da obra de Guido Viaro; O espaço individual, tendo como base a obra de Alfredo Andersen; e O espaço coletivo, produção artística de Poty Lazzarotto. As obras desses pintores constituíram-se como objetos de reflexão e análise. Neste contexto, a Arte foi tomada como produção humana que informa sobre seus produtores e como meio de humanização dos sujeitos que com ela entram em contato. Consideramos que, com base na teoria de Vygotsky, quanto mais mediações eles tiverem, mais se desenvolverão. Concluindo, assumimos a concepção de que a Arte é de grande valia para o processo de formação do homem cultural, humanizado, cabe ao professor utilizar-se desse meio fecundo para a superação das limitações que impossibilitam o aluno com NEE de aprender, auxiliando-o no processo de apropriação da cultura construída pela humanidade.
Palavras-chave: Arte; jogos dramáticos; deficiência intelectual; Teoria Histórico-Cultural; humanização.
1 Especialista em Educação Especial – Deficiência Mental, Graduada em Letras (Português- Inglês), Professora
da Escola Professora Selma Rodrigues dos Santos – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade de
Educação Especial. 2 Doutora em Educação Escolar pela UNESP de Araraquara, professora do Departamento de Psicologia da
Universidade Estadual de Maringá – UEM, Coordenadora do Mestrado em Psicologia da UEM.
1 Introdução
O presente trabalho resultou das atividades e estudos realizados durante a
participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Programa de
Formação Continuada dos Professores da Rede Pública do Estado do Paraná, no
período de agosto de 2010 a agosto de 2012. Objetivamos com essa experiência
formativa investigar a importância do trabalho com a Arte na Educação Especial,
enfocando as artes cênicas, o teatro e especificamente os jogos dramáticos.
Procuramos discutir quanto a Arte pode ser promotora de desenvolvimento humano,
orientando-nos pelos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural.
Falar desta temática é algo imperativo, visto que a Arte é primordial no
processo de humanização de alunos com necessidades educacionais especiais –
NEE geradas pela deficiência intelectual. O trabalho com a Arte constituiu-se como
um recurso de grande importância para o desenvolvimento dos escolares, já que,
além de proporcionar informação, também gera encantamento e sensibilização,
além de desenvolvimento do psiquismo. A Arte permite que o artista faça
objetivações por meio de sua arte musical, cênica, pictórica ou de outra natureza, ou
seja, que faça em suas criações muitas das apropriações que realizou graças a
mediações diversas. Ao criar novas objetivações, ele as disponibiliza para serem
apropriadas por outros, contribuindo para o dinâmico processo de apropriação e
objetivação que permite a formação do psiquismo humano (DUARTE, 2003). Esse
processo dialético de internalizar e de apropriar-se do já criado, compondo um
acervo, e com ele elaborar novas objetivações que se externalizam, explica a
formação social da mente, o modo como o psiquismo humano se forma e se
desenvolve e como o gênero humano se forma de modo a superar a condição de
espécie. A arte, a ciência, a filosofia - enfim, as produções humanas -, permitem
àqueles que com elas tenham acesso enriquecer-se pelo já criado. As elaborações
passam a ser conteúdo daqueles que delas se apropriam (BARROCO, 2007a,
2007b). Por esse entendimento, pressupomos quanto a Arte pode contribuir para a
humanização da pessoa com deficiência, e trabalhamos nessa direção. Com base
em Fischer (2002), as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Arte, do Estado
do Paraná (SECRETARIA..., 2008, p. 54) apontam que a arte está presente desde
os primórdios da humanidade, sendo ela “(...) uma forma de trabalho criador”. Com
base nessas diretrizes, podemos dizer que é pelo trabalho que o ser humano
transforma a natureza e a si mesmo, pois, conforme escreve Fischer (2002), ao
produzir a própria existência o homem retira da natureza o seu sustento e
transforma os objetos naturais em ferramentas. Podemos dizer ainda que esse
processo lhe possibilita a formação de uma segunda natureza, a natureza humana.
No âmbito da teorização sobre a Arte, Fischer (2002) se destaca ao postular,
com base no marxismo, que ao produzir os seus próprios objetos para estes se
interporem entre ele e o mundo, o homem criou meios de expressão e de
comunicação. Segundo Vigotski e Luria (1996), criou a linguagem, cuja origem é de
natureza simpráxica e depois libera-se da prática que a gera e assume um caráter
sinsemântico. Podemos considerar, com base nos autores da Arte e da Psicologia,
que o pensamento e a linguagem são elaborações criadas e desenvolvidas no e
pelo processo de trabalho.
O homem transformou o mundo e formou-se como gênero humano pela sua
ação sobre o mundo, pelo trabalho, e por esse trabalho foi sendo capaz de abstrair,
de simbolizar e de criar arte. Em Secretaria... (2008, p. 54 e 55) consta que:
(...) em todas as culturas, constata-se a presença de maneiras diferentes daquilo que hoje se denomina arte, tanto em objetos utilitários quanto nos ritualísticos, muitos dos quais vieram a ser considerados objetos artísticos. O ser humano produz, então, maneiras de ver e sentir, diferentes em cada tempo histórico e em cada sociedade. Por isso, é fundamental considerar as influências sociais, políticas e econômicas sobre as relações entre os Homens e destes com os objetos, para compreender a relatividade do valor estético, as diversas funções que a Arte tem cumprido ao longo da história, bem como o modo de organização das sociedades. (SECRETARIA..., 1992, p. 149).
Temos visto que o mundo vem passando por profundas modificações,
advindas do aceleramento da aplicação da ciência à produção, as quais influenciam
a forma humana de ser e fazer. A todo o momento são disponibilizadas inúmeras
informações, levando-nos a pensar que o conhecimento em sua totalidade não está
sendo propiciado a todos. Assim, pesquisadores da Teoria Histórico-Cultural
afirmam:
Vygotski demonstra que as pessoas com deficiências podem ser tão alienadas ou livres como as pessoas comuns. Dito isso de outro modo, ele sabia que as elaborações de uma sociedade postas em circulação levam à riqueza dos seus integrantes – algo que não é possível na forma de organização capitalista -, e que o inverso disso os limita e os aliena. (BARROCO, 2011, p. 189).
Nesse sentido, no universo capitalista, a supremacia do ter sobre o ser
demanda um posicionamento dos professores envolvidos com o processo de
humanização humana. Barroco (2011, p. 171) ressalta que oferecer subsídios para
os professores e instituições escolares não é uma tarefa fácil, pois exige que se
tenha uma concepção clara da constituição do humano no homem, das várias
possibilidades e modos do existir; por se ter que apostar e investir naquilo que não é
visível, mas que se espera possa vir a ser.
Barroco (2007a, p. 41) afirma que Vigotski e os demais autores da Teoria
Histórico-Cultural, com base no marxismo, defendiam com veemência a tese de que
a formação social da mente e o desenvolvimento humano são bem diferenciados.
Entendiam que o trajeto do desenvolvimento no plano ontogenético implica em
elevar o homem da condição primitiva de espécie biológica à de gênero humano,
através da formação e do desenvolvimento das capacidades propriamente humanas,
com a identificação da potencialidade do homem enquanto criador de uma nova
realidade.
Assim, ao retratarmos a relevância da Arte, acreditamos ser esta um recurso
imprescindível para o trabalho na área da Educação Especial. O que é ensinado às
pessoas com deficiência intelectual deve ser visto em uma nova perspectiva: a de
contribuir para a sua modificação, devendo, segundo Vygotsky & Luria (1996) apud
Barroco (2011, p. 173), transformá-las, metamorfoseá-las, e contribuir para que
passem de crisálidas a borboletas. Essa concepção justifica a escolha, para estudo,
da temática que aborda as artes cênicas.
2 A Importância da Arte na Educação Especial
Conforme o contido nas Diretrizes Curriculares (SECRETARIA..., 2008, p. 68),
para o planejamento das aulas de todas as séries da Educação Básica propõe-se a
organização horizontal dos conteúdos como forma de encaminhamento
metodológico, com elementos formais, composição e movimento e períodos. Com
essa direção, busca-se superar a fragmentação dos conhecimentos na disciplina de
Arte. Embora não sejamos professora de Arte, em nossa implementação do PDE
trabalhamos com o teatro, e consideramos como elementos formais: personagem
(expressões corporais, vocais, gestuais e faciais), ação e espaço. Como
composição, foram desenvolvidas atividades inspiradas nas telas eleitas de artistas
paranaenses: representação; roteiro – com base em algum texto ou na organização
dos alunos, espaço cênico, iluminação, cenografia, figurino, adereços, máscara e
caracterização. Como técnicas empregamos os jogos teatrais, a improvisação e os
jogos dramáticos, sempre buscando ensinar, para que os alunos pudessem
aprender e ter seus desenvolvimentos movimentados, como escreveu Vigotskii
(2006).
O que propusemos está previsto, pois nas séries/anos iniciais (1º a 4º séries/
1º ao 5º anos) o trabalho pedagógico deve centrar-se nas atividades artísticas, como
os jogos teatrais, o desenho, a dança e outras. Nessas atividades devem ser
priorizados “(...) os elementos formais, como estudos sobre cores primárias e
secundárias (artes visuais); timbre, duração e altura (música); expressão facial,
corporal e gestual (teatro) e movimento corporal (dança)” (SECRETARIA..., 2008,
p.69).
Para o alcance do nosso propósito e a promoção de um espaço escolar mais
interessante, prazeroso e desafiador, o trabalho com o teatro com destaque aos
Jogos dramáticos - teve como ponto de partida o estudo de obras de arte de artistas
paranaenses, já que estes nem sempre são estudados nas próprias escolas do
Paraná. Buscamos, assim, unir informações que as pinturas forneciam com o que as
crianças poderiam expressar a respeito, como modo de enriquecer a educação
escolar ofertada a elas, que têm deficiência intelectual, portanto devem ter um
ensino forte, como sugere Vygotski (1997).
A vasta produção de cada artista pode ser um fecundo tema de reflexão do
homem no processo sócio-histórico e em seu processo de individuação. Os artistas
escolhidos para a realização do trabalho de artes cênicas com os educandos foram:
Guido Viaro (1897-1971), tendo-se como eixo “O homem em busca de conhecer a
sim mesmo”; Alfredo Andersen (1860-1935), em que o eixo de estudo foi “O espaço
individual”; e a obra de Poty Lazzarotto (1924-1998), com a abordagem do eixo “O
espaço coletivo”. As obras desses artistas foram escolhidas por retratarem as
necessidades humanas e se constituírem como privilegiados temas de reflexão
sobre a formação do homem, da cultura paranaense, da brasileira e até da de outros
continentes.
Procuramos, com base nas obras de arte, realizar reflexões sobre o homem
histórico-social que, ao se modificar, altera a realidade vigente, pois ao
desempenhar novas atividades, segundo Bueno (2011, p. 93), “ele cria novas formas
de ser que possibilitam a formação de sua cultura”. Foi realizada uma série de
atividades, pelas quais os alunos procuravam representar com seus próprios corpos
as obras de arte, por meio de brincadeiras de faz-de-conta ou de simulação, comuns
aos jogos dramáticos. Esta formulação remete à afirmação de Vygotsky (1996, p.
237) quando defende a tese de que “o talento cultural significa antes de mais nada
usar racionalmente as capacidades de que se é dotado, ainda que sejam médias ou
inferiores, para alcançar o tipo de resultados que uma pessoa culturalmente não
desenvolvida só pode alcançar com a ajuda de capacidades naturais
consideravelmente mais fortes”; em outras palavras, o talento cultural pode ser
desenvolvido para compensar limites biológicos.
No entendimento de Vygotsky (1996, p. 220), “O homem é uma criatura
social, e as condições socioculturais o modificam profundamente”. Com base nesse
pensamento é possível afirmar que todas as pessoas podem aprender e que o
acesso à produção humana é fundamental para o desenvolvimento dos sujeitos
culturais. Afirma Barroco:
O homem cultural é aquele que, vivendo com outros homens, apropria-se e cria formas imediatas de estar no mundo, de aprendê-lo, de transformá-lo. Necessariamente, vale-se da língua/ linguagem para tanto e desenvolve o pensamento verbal. Esse passa a regular o seu comportamento, permitindo que as suas próprias funções elementares (sensação, percepção, etc) sejam desenvolvidas para um dado curso que o habilita a estar no mundo de modo ativo. (BARROCO, 2007b, p. 245).
Assim, não fica difícil entender os resultados positivos do trabalho efetuado
com alunos com deficiência intelectual ao se apropriarem dos bens culturais
produzidos por artistas do Paraná. Vale ressaltar a exposição de Barroco:
Vygotski (1997b), já na década de 1920, criticava uma pedagogia especial arcaica e caduca, que era fraca para os fracos. A nova educação especial ou defectologia, a seu ver, deveria oferecer uma escola auxiliar ou escola especial forte para quem, se apresentava fraco. Ela deveria gerar potencialidades, assim como a educação regular ou comum; deveria provocar revoluções nos alunos que nela estudavam. Ele defendia a necessidade de os professores e demais profissionais investirem mais em explicar os aspectos íntegros ou positivos do aluno (aspectos físicos, emocionais, sociais) e por eles encaminhá-los às compensações e superações, numa clara aplicação do materialismo histórico-dialético... (BARROCO, 2011, p. 172).
Os resultados dos estudos teóricos e do trabalho prático desenvolvidos
apontam a possibilidade de superar barreiras, visto que os alunos com deficiência
intelectual se demonstraram capazes de apropriar-se dos conteúdos cotidianos e
também de conteúdos de cunho científico, filosófico e artístico produzidos pela
humanidade. Ao realizarem a tarefa de imitar as obras de arte, após desvendá-las,
estes sujeitos fizeram um retrato pessoal e único de cada obra: apresentaram uma
nova forma de sentir, de dar significado à vida e ver o mundo representando o
contido nas telas com seus corpos compondo, coletivamente, as cenas retratadas.
Estes fatos demonstram a importância do trabalho pedagógico.
Facci (2011, p. 138) defende a ideia de que o processo de humanização
assenta-se na apropriação das objetivações produzidas no contexto histórico-social.
A autora afirma que, quando é relegada a segundo plano a apropriação do
conhecimento científico, ou seja, quando a ciência, a filosofia e a arte são
esquecidas na prática pedagógica, a escola perde sua função como uma instituição
socialmente organizada que objetiva direcionar os alunos à apropriação do
conhecimento produzido historicamente pelos homens.
Assim, a arte exerce um papel fundamental na área da Educação Especial,
possibilitando um trabalho que envolve vários aspectos, entre os quais podemos
destacar o emocional, o cognitivo, o social, o cultural e outros. Sua linguagem
universal permite aos alunos com deficiência realizar uma infinidade de atividades
essenciais para o seu desenvolvimento, pois oportuniza a cada um apreender pela
sensação e pela percepção o já criado, fazer a interpretação do que foi apropriado
pelos órgãos dos sentidos e pela cognição, imitar e, posteriormente, elaborar novas
objetivações com base no que foi internalizado e apropriado. Esse dinâmico
processo de apropriar-se do já criado e, depois, realizar novas elaborações e novas
objetivações constitui-se num contínuo processo que leva à formação do que é
próprio aos homens: o psiquismo com base nas funções psicológicas superiores.
Por meio da atenção voluntária, da memória mediada, da abstração, do pensamento
e da linguagem verbais e outras funções não existentes nos animais, os homens se
constituem em seres humanos irrepetíveis, sendo capazes de representar e de
interpretar a realidade (por meio do emprego de marcações gráficas, de gestos, de
verbalizações) e de sobre ela intervir. Isso tudo pode se dar de maneira subjetiva,
criativa e singular.
Enfatizando esse ponto de vista, Vigotski destaca que quanto mais acesso
aos bens culturais construídos pela humanidade as pessoas tiverem ao longo de sua
existência, mais elas poderão desenvolver essas funções. Nesse processo a Arte
assume papel fundamental, por ser uma área do conhecimento que abrange
diferentes atividades realizadas pelos homens, como a música, o teatro, a literatura
(prosa e verso), dança e artes plásticas. Reafirmando esse pensamento, Barroco
(2007, p. 183) cita que a teoria vigotskiana põe em destaque a qualidade das
mediações escolares, para desencadear no aluno e nos professores saltos em seu
desenvolvimento, sendo fundamental o conhecimento das artes enquanto ciência e
produção humana.
Para o aluno com deficiência intelectual, pela sua especificidade, isto é, por
ele necessitar de recursos variados que possam facilitar e acelerar a sua
aprendizagem, a Arte pode ser uma mola propulsora de desenvolvimento,
possibilitando ao escolar uma heterogeneidade de recursos que podem contribuir no
seu processo formativo. Para Heller (1991, p. 22 apud BARROCO 2007a, p. 185),
“sem dúvida, cada um deve adquirir uma capacidade média, deve ter um mínimo de
capacidade prática nas coisas mais importantes, sem a qual é impossível viver”.
Sobre isto escreve Leontiev:
É evidente que a educação pode ter e tem efetivamente formas muito diversas. Na sua origem, nas primeiras etapas do desenvolvimento da sociedade humana, como nas crianças pequenas, é uma simples imitação dos atos do meio, que se opera sob o seu controle e com a sua intervenção depois complica-se e especializa-se, tomando formas tais como o ensino e a educação escolares, diferentes formas de educação superior e até formação autodidata. (LEONTIEV, 1978, p. 272 apud BARROCO 2007a, p. 67-68).
Afirma ainda o autor que quanto mais os seres humanos ampliam seus
conhecimentos científicos, artísticos e culturais, mais vão desenvolvendo diferentes
processos de intervenção sobre a natureza, e as relações humanas, e,
consequentemente, enriquecem-se histórica e dialeticamente.
Neste sentido a Arte na Educação Especial propicia vivenciar determinadas
situações advindas dos estímulos a partir das atividades elaboradas, como ocorreu
no Projeto PDE. De acordo com as colocações de Leontiev (1997, p. 424) citadas
por Barroco (2009, p. 123), o autor defende que as mediações semióticas imprimem
caráter diferencial ao desenvolvimento humano, levando em conta que o
desenvolvimento do psiquismo humano é de caráter fundamentalmente social.
Figura 1 - Atividade do Eixo: “O homem em busca de conhecer a si mesmo” - trabalho com a obra
“Lavadeiras”, de Guido Viaro. Buscou-se a localização da Itália no globo terrestre, país onde Guido Viaro nasceu.
Fonte: Foto do acervo da autora.
Figura 2 - Atividade do Eixo: “o espaço individual”, com a obra “Imagem do Cadeado (sem data)”, de
Alfredo Andersen. Imagem de alunos escrevendo o respectivo nome no desenho, após a identificação do desenho que representa o seu próprio corpo. Imitação da figura humana que está sobre a linha do
trem da respectiva obra. Fonte: Foto do acervo da autora.
Estas atividades artísticas foram realizadas com um grupo de seis alunos que
frequentam a Escola Especializada da APAE. Esses são adolescentes com idade de
10 a 12 anos, pertencentes a uma turma do Ensino Fundamental, Programa de
Escolaridade, período matutino. Os encontros foram realizados duas vezes por
semana, com duração de três horas cada, perfazendo, no cômputo geral, oitenta e
quatro horas. Foi surpreendente a curiosidade apresentada pelos alunos ao
tentarem localizar no Globo Terrestre o continente europeu e o país (Itália) onde
nasceu Guido Viaro, autor da obra Lavadeiras. Na outra atividade percebemos
quanto os alunos começam a criar individualmente a partir das vivências coletivas
com o ensinado sobre a arte de artistas paranaenses. Dois desses alunos do grupo
ilustraram o desenho do formato dos seus corpos, sem que isso fosse solicitado pela
professora. Os demais alunos, ao notarem tal ato, começaram também a decorar os
desenhos, realizando criações significativas.
Para entendermos o ocorrido, vale lembrar que Leontiev (1978, p. 272, citado
por BARROCO, 2007, p. 67), explica que a educação permite aos homens
desenvolver suas aptidões mediante a apropriação dos resultados do
desenvolvimento processado historicamente, por meio das interações que
estabelecem com seus pares. Tal colocação se coaduna com os estudos de Vigotski
citados por Barroco (2009, p. 115) quando o filósofo russo afirma que a formação da
consciência parte da experiência histórica e social para a constituição da experiência
individual, caminhando de uma direção interpsicológica para uma direção
intrapsicológica.
A esse respeito afirma Vigotskii:
Todas as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes no decurso do desenvolvimento da criança: a primeira, nas atividades coletivas, nas atividades sociais, ou seja, como funções interpsíquicas: a segunda, nas atividades individuais, como propriedades internas do pensamento da criança, ou seja, como funções interpsíquicas. (VIGOTSKII, 2006, p. 114).
Nesse sentido, foram de grande relevância as atividades artísticas realizadas
com educandos com deficiência a partir de obras de artistas do Paraná, pois
possibilitaram várias formas de atuação em tarefas tanto individuais quanto
coletivas, além do aprofundamento dos eixos que levam o aluno da Educação
Especial a refletir sobre si mesmos e sobre os diferentes espaços por eles
ocupados, de forma individual ou coletiva.
Ressaltando a importância do ensino de Arte para alunos da Educação
Especial, Barroco afirma:
A criança com deficiência, seja qual for ela e em que nível de comprometimento se apresenta, tal como todas as demais, deve ter oportunidade de se apropriar daquilo que está no plano social, público, levando à sua esfera ou ao seu domínio particular, privado; não só o que se refere a valores e saberes do cotidiano, mas o que se refere aos conteúdos científicos, ou, como expõe Heller (1991), aos conteúdos não cotidianos (ciência, arte e filosofia). (BARROCO, 2007b, p. 262-263).
Pelo exposto, percebe-se que, para a autora, o ensino de Arte é uma
atividade necessária. Citando Marx e Engels, Barroco assim se refere à questão:
Não se parte aqui daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam, nem daquilo que são nas palavras, no pensamento, na imaginação e na representação de outrem para chegar aos homens em carne e osso; parte-se dos homens em sua atividade real. (MARX e ENGELS, [19...], p. 26 apud BARROCO, 2007a, p. 69).
Tal afirmativa leva-nos a pensar o ensino da Arte, sobretudo da arte cênica,
como atividade humana que possibilita investigar o homem real, o homem
contemporâneo, em situações que permitem identificá-lo em diferentes espaços,
mas também que permitem a esse homem refletir sobre si mesmo e sobre seus
comportamentos individuais e sociais, o que pode levar esse sujeito histórico-cultural
a transformar-se, a humanizar-se. Segundo Barroco (2007a, p. 69), isto nos
possibilita estudar as condições concretas que fazem indivíduos de determinada
época que são semelhantes em suas necessidades, ações e comportamentos
serem diferentes dos de outros períodos históricos.
2.1 Sobre o teatro e as atividades de jogos dramáticos e sua importância para
o desenvolvimento de alunos com deficiência intelectual
Conforme o contido nas Diretrizes da Educação Básica – Arte
(SECRETARIA..., 2008), o teatro na Educação permite que se desenvolvam a
criatividade, a socialização, a memorização e a coordenação. Entendemos que pelo
teatro o aluno tem a oportunidade de trocar de papéis sociais, de experimentar o
mundo num modo em que a atividade é de representação – o que o leva a
experimentar situações no âmbito da zona de desenvolvimento proximal, como
escreve Barroco (2007a).
Segundo a Secretaria... (2008), espera-se que os diversos encaminhamentos
metodológicos possíveis para o ensino de teatro propiciem momentos para teorizar,
sentir e perceber, não reduzindo o trabalho artístico a um mero fazer. Essas
diretrizes consideram a possibilidade de iniciar o trabalho com exercícios de
relaxamento e aquecimento e com os elementos formais do teatro: personagem e
expressão vocal, gestual, corporal e facial. Preveem ainda que a composição se
faça presente, com jogos teatrais, improvisações e transposição de texto literário
para texto dramático, com pequenas encenações que podem ser elaboradas pelos
alunos, entre outras atividades.
Segundo as Diretrizes (SECRETARIA..., 2008, p. 78),
(...) para o trabalho de sentir e perceber é essencial que os alunos assistam a peças teatrais de modo a analisá-las a partir de questões como: • descrição do contexto: nome da peça, autor, direção, local, atores, período histórico da representação; • análise da estrutura e organização da peça: tipo de cenário e sonoplastia, expressões usadas com mais ênfase pelos personagens e outros conteúdos trabalhados em aula; • análise da peça sob o ponto de vista do aluno: com sua percepção e sensibilidade em relação à peça assistida. Os conteúdos estruturantes devem ser tratados de forma orgânica, ou seja, mantendo as suas relações: • elementos formais: personagem, ação e espaço cênico; • composição: representação, cenografia; • movimentos e períodos: história do teatro e as relações de tempo e espaço presentes no espaço cênico, atos, cenografia, iluminação e música.
Consideram ainda que
O teatro na escola promove o relacionamento do homem com o mundo. E numa sociedade que não compreende o sujeito em sua totalidade, fragmentando-o, surge a necessidade de integrar as partes que compõem esse sujeito, desenvolver a intuição e a razão por meio das percepções, sensações, emoções, elaborações e racionalizações, com o objetivo de propiciar ao aluno uma melhor maneira de relacionar-se consigo e com o outro. (SECRETARIA..., 2008, p. 78).
As encenações estão presentes desde os primórdios da humanidade, em ritos
como expressão de diferentes culturas, por diferentes gêneros (tragédia, comédia,
drama, etc.), em diferentes correntes estéticas teatrais, em festejos populares, nas
fantasias e brincadeiras infantis, referindo e revelando o universo do conhecimento
simbólico do ser humano (SECRETARIA..., 2008, p. 78).
Concordamos com as Diretrizes (SECRETARIA..., 2008) ao afirmarem que se
deve superar a ideia do teatro enquanto apenas uma atividade espontânea ou de
espetáculo comemorativo e que o seu ensino deve extrapolar as práticas que o
restringem a apenas uma oportunidade de produção de espetáculos ou de mero
entretenimento. A nosso ver, ele pode, ainda, ser empregado como demonstração
da capacidade de se revelar como pessoa normal ou comum – como não raramente
ocorre na Educação Especial.
O teatro na escola tem o seu valor ampliado não só ao abrir possibilidades para apresentações de espetáculos montados pelos professores, e/ou alunos ou companhias itinerantes, mas como espaço que viabiliza o pensar simbólico por meio da dramatização individual ou coletiva. O Teatro oportunizará aos alunos a análise, a investigação e a composição de personagens, de enredos e de espaços de cena, permitindo a interação crítica dos conhecimentos trabalhados com outras realidades socioculturais. (SECRETARIA..., 2008, p. 79).
Conforme as Diretrizes,
O professor poderá partir de uma obra da literatura dramática universal, da literatura brasileira ou da oralidade (contos, lendas, cantigas populares), uma letra de música, um recorte de jornal, uma fotografia ou pintura, os
quais contêm temas sobre situações relevantes do ser humano em sua relação consigo e com o outro. Devem ser consideradas a faixa etária e a realidade dos alunos, para que possam questionar e reelaborar essas temáticas em peças cênicas. Outra opção é iniciar pelo processo de construção da personagem. Na elaboração do seu perfil físico e simbólico (figurino, adereço, suas ações, espaço, gestual, entonação), devem estar presentes a pesquisa, a exploração, a descoberta individual e coletiva de temáticas e conceitos propostos pelo professor, para que se estimulem discussões acerca da condição humana em seus aspectos sociais, culturais e históricos. (SECRETARIA..., 2008, p. 79).
Expõem ainda que
O Teatro na escola possui características diferenciadas ao oferecer oportunidades que prezem o direito do aluno ao conhecimento a partir dos conteúdos específicos, metodologias de aprendizagem e avaliação. Na escola, a dramatização evidenciará mais o processo de aprendizagem do que a finalização, a montagem de uma peça. É no teatro e em seus gêneros, propostos como jogo do riso, do sofrimento e do conflito, que se veem refletidas as maneiras de sentir o mundo por meio de um ser criado (a personagem) num mundo criado (a cena). (SECRETARIA..., 2008, p. 80).
Dada a importância da Arte para a Educação Básica, como vimos, para a
área de Educação Especial a relevância se mantém. Neste sentido faremos a seguir
um relato do desenvolvimento das atividades que deram origem a este artigo,
considerando o trabalho com o teatro/jogos dramáticos, para mostrar as
peculiaridades desse processo.
As atividades de implementação do Projeto PDE abordaram, sobre o Teatro,
especificamente os jogos dramáticos. A esse respeito, vale destacar o que escreve
Slade apud Japiassu (2005, p. 25) quando esclarece que o vocábulo drama, também
de origem grega, significa; “eu faço, eu luto”. Assim, trabalhar com jogos dramáticos
significa envolver-se em ações para cuja formação e desenvolvimento a imaginação
é fortemente estimulada. Estas ações foram desenvolvidas no contraturno do horário
escolar com um grupo de seis alunos do Ensino Fundamental, Programa de
Escolarização, ano 2011, de uma escola especializada para alunos com deficiência
intelectual do município de Terra Rica, pertencente à rede APAE - Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais.
A escolha dessa turma para a realização do Projeto PDE deveu-se a uma
sugestão da pedagoga responsável pela Escola, pelo fato de essa turma apresentar
um perfil de cooperação tanto dos alunos quanto da família, que participavam
ativamente do processo de ensino-aprendizagem de seus filhos, como também à
professora regente da turma, a qual se mostrou interessada em contribuir com o
projeto trabalhando conteúdos advindos das obras de arte, objeto de estudo do
Projeto PDE. No desenvolvimento desse projeto foram levados em conta os
pressupostos da matriz teórica adotada para o trabalho, que entende ser o homem
um sujeito histórico que se constitui a partir das relações que estabelece com os
seus pares, o que torna essencial a mediação de um adulto - no caso, o professor.
Considerando ser a educação fundamental para a formação do homem cultural, ao
iniciar o trabalho, no retorno à escola, procuramos envolver todos os seus
integrantes no projeto, e para isso foi realizada uma palestra sobre a Teoria
Histórico-Cultural e a importância da Arte para o desenvolvimento dos escolares,
com apoio da professora orientadora do PDE, a qual explicou o desenvolvimento do
referido projeto. Esta ação mediadora foi um marco importante, pois provocou o
interesse da comunidade escolar por essa proposta de trabalho. Outro fato
relevante na implementação foi o envolvimento dos familiares dos educandos em
todo o processo. Ao despertar o interesse e promover a valorização da família, os
pais mostraram-se extremamente colaborativos, participando integralmente das
reuniões e incentivando seus filhos a participarem do projeto. Ao ser explanado o
conteúdo do projeto os pais questionaram sobre o que é arte e para que serve,
revelando seu envolvimento no processo de aprendizagem de seus filhos.
A permissão para realizar algumas ponderações acerca de como a educação
ocorre possibilitou que a matriz teórica adotada no desenvolvimento do trabalho
fosse exposta à escola, o que nos faz lembrar o pensamento de Vigotski exposto
por Facci quando esta escreve:
O aluno, de acordo com Vigotski (2001, p. 210) deve ser educado no mais alto respeito à sua realidade e esta não deve ser entendida de forma limitada apenas ao ambiente imediato que está à volta da criança: temos de vê-lo como a grande realidade que nos cerca se não quisermos criar um ser pequeno burguês e mesquinho. (FACCI, 2009, p. 97-98).
Em continuidade, no decorrer da realização das tarefas os alunos mostraram-
se bastante interessados; foram questionadores e colaboradores e apresentaram
espírito investigativo, curiosidade e interesse. Percebemos muita sensibilidade ao
interpretarem as obras de arte, uma vez que isso não é inato, mas revela as
resultantes da formação social dos sentidos com o projeto.
Quanto aos procedimentos dos encontros, em cada um deles iniciávamos
apresentando os propósitos do que seria trabalhado. Entendemos que sempre a
intervenção pedagógica deve buscar um nível de maior consciência dos alunos,
tenham estes deficiência ou não, incidindo no processo de organização interna, de
planejamento. Também fazíamos comentários sobre o que tinha sido trabalhado no
encontro anterior, estimulando a memória.
Sempre era solicitado aos alunos que relatassem o que haviam aprendido
sobre o artista trabalhado, que descrevessem a ilustração da obra de arte já
estudada estimulando-os a lembrar-se das atividades. Esse procedimento foi
repetido em quase todos os encontros, para que, ao iniciar uma nova tarefa, o aluno
tivesse domínio da tarefa anterior, o que compõe o nível real do desenvolvimento,
mesmo que surjam novas dúvidas, ampliando a zona de desenvolvimento proximal
(VIGOTSKII, 2006). Caso os alunos não se lembrassem de aspectos significativos
dos conteúdos trabalhados, realizávamos novas explicações, novas mediações de
nossa parte, procurando explicar novamente esses conteúdos. Como já exposto,
foram trabalhados três eixos.
Com relação ao primeiro eixo “O homem em busca de conhecer a si mesmo”,
as atividades foram subdivididas em seis temas, a saber: Valorização da figura
humana - apresentação; Percepção da figura humana; Representação de figuras
humanas e espaços; Figuras humanas – percepção de Sons; Figuras humanas –
imitação; e Representação da casa e a paisagem do quadro de Guido Viaro. Dentro
de cada um dos temas foram realizadas de duas a quatro atividades. O trabalho
desse eixo foi desenvolvido em doze encontros, nos quais foram utilizadas as obras
do artista paranaense Guido Viaro (1897-1971), por nos fornecer uma vasta
produção de material artístico que permite um mergulhar do homem como um ser
que ao se modificar altera a realidade sócio-histórica. Foram trabalhadas as obras:
Lavadeiras (1944), Paisagem (1958), Polaca, Autorretrato e Paisagem (1940). As
atividades de jogos dramáticos desenvolvidas abordaram aspectos da história das
obras e apresentações dos educandos. Isto permitiu aos alunos não apenas brincar,
mas também conhecer-se a si mesmos, ter consciência do papel que exercem no
local onde vivem, da influência que têm em suas relações sociais e das
representações das figuras humanas mostradas no contexto do quadro, além de
imitar sons presentes nos ambientes das obras.
Cumpre referir que em todo o trabalho destacamos os aspectos cronológicos,
sociais, emocionais e geográficos das obras e representação de situações do
cotidiano das figuras humanas presentes nas obras.
Durante o desenvolvimento das atividades propostas percebemos que os
alunos mergulharam no universo das obras de arte de Guido Viaro. Inicialmente,
para o desenvolvimento do trabalho, fazíamos uma exposição oral sobre a vida e
obra do autor e em seguida fazíamos a revisão do que havíamos trabalhado no
encontro anterior; depois era desenvolvida a atividade de acordo com o tema
proposto e feita uma reflexão sobre o eixo trabalhado, procurando sempre fazer
alusão ao conteúdo da obra trabalhada; por fim era representado o quadro com
composições corporais, após planejamento conjunto. Essa metodologia partiu da
nossa experiência como professora atuante durante muitos anos na área da
Educação Especial, considerando a matriz teórica adotada, que pressupõe que
quanto mais mediações o aluno tiver, mais ele vai se desenvolver. Podemos dizer,
pelo que foi produzido, que em todos os encontros os educandos conseguiram
descrever as obras com precisão de detalhes e realizar observações que antes não
havíamos conseguido fazer, tanto que queriam saber quando os quadros foram
pintados. É importante salientar que a professora regente da turma também
procurou trabalhar os conteúdos advindos das obras de arte trabalhadas, reforçando
e incorporando na cotidianidade da sala de aula o aprofundamento científico
necessário para ampliar o conhecimento dos alunos, conforme já foi exposto
anteriormente neste artigo. Foram trabalhados textos sobre as lavadeiras que
falavam dessa profissão e outros que abordavam as temáticas das obras estudadas.
Assim, a revisão dos conteúdos, que ocorria no início dos encontros, consistia na
exposição dos quadros dos artistas trabalhados e do relato coletivo dos alunos, no
qual estes procuravam expor o que haviam aprendido sobre cada um dos artistas,
os nomes e a descrição oral das obras. Os alunos sempre relatavam situações
novas que tinham aprendido durante a realização das atividades. O professor
regente da turma e a pedagoga responsável pela escola fizeram questão de
testemunhar e comunicar a observação e percepção de um avanço bastante
significativo destes alunos participantes do Projeto PDE, notando que estes
apresentavam-se mais ativos e participativos do processo de ensino e
aprendizagem, dando respostas mais rápidas às atividades realizadas em sala de
aula do que antes da participação no Projeto. Tal foi o envolvimento dos escolares
com o Projeto, que muitos professores da escola disseram que não conheciam o
artista trabalhado, porém alguma coisa haviam aprendido devido ao contato que
tiveram com os alunos participantes, pelo encantamento apresentado por eles. Essa
colocação faz-nos lembrar que, para Vigotski, a experiência pode mobilizar o agir e o
pensar com consciência. Sobre isto assim escreve o autor:
[...] deve situar-se a experiência social, a de outras pessoas, que constitui um importante componente do comportamento do homem. Disponho não só das conexões que se tem fechado em minha experiência particular entre os reflexos condicionados e elementos isolados do meio, senão também das numerosas conexões que se tem sido estabelecidas na experiência de outras pessoas. Se conheço o Saara e Marte, apesar de não haver saído uma só vez do meu país e de não ter olhado jamais através de telescópio, deve-se evidentemente que esta experiência tem sua origem na de outras pessoas que tem ido ao Saara e tem olhado pelo telescópio. Evidentemente que os animais não possuem essa experiência. Designá-la-emos de componente social do nosso comportamento. (VIGOTSKI, 1997, p. 45, tradução da autora apud BARROCO, 2009, p. 116).
Podemos, então, considerar a experiência histórica fundamental para o
desenvolvimento da arte dramática com alunos intelectualmente deficientes.
Figura 3 – Tela de Guido Viaro: Paisagem, 1958.
Figura 4 - Atividade do Eixo: “O homem em busca de conhecer a si mesmo”, Representação da obra
“Paisagem, 1958”, de Guido Viaro. Fonte: Foto do acervo da autora.
Com relação ao eixo “O espaço individual”, com base nas obras do artista
paranaense Alfredo Andersen (1860-1935), os alunos foram levados a refletir que o
sujeito é ao mesmo tempo individual e social, e que dentro desse processo há o
espaço individual. É importante pensar sobre os espaços que ocupamos em todos
os contextos sociais da convivência humana, como o espaço individual na família,
na escola, na instituição religiosa - enfim, todos os espaços do convívio humano,
pois isto pode nos levar a situar-nos como seres ao mesmo tempo individuais e
coletivos, ou seja, um não existe sem o outro. Para o desenvolvimento desse
processo reflexivo e artístico, os quadros disponibilizados para o estudo intitulavam-
se Imagem do Cadeado, Passeio Público de Curitiba e Queimada. O critério de
escolha dessas obras foi a presença da figura humana nos quadros, pois mostram
sujeitos individuais que ao mesmo tempo são coletivos, podendo nos levar à
reflexão sobre a individualidade do gênero humano. Para o desenvolvimento das
atividades deste eixo, as atividades foram subdivididas em seis temas, a saber: 1)
Representação do quadro de Alfredo Andersen “Imagem do Cadeado”; 2)
Representação de música com base no quadro de Alfredo Andersen; 3) O espaço
individual – sons produzidos pelo corpo humano; 4) Repetição de trava-línguas – a
rima nas palavras; 5) Contação e representação de uma história; e 6) Descrição e
representação de pessoas. Neste eixo foram realizadas duas atividades por
temática, totalizando doze atividades desenvolvidas em dez encontros de três horas
cada, as quais envolviam os seguintes aspectos: representação e dramatização das
obras; aprofundamento nas questões históricas, geográficas, filosóficas, sociais e
culturais que envolviam o universo das temáticas dos quadros trabalhados;
percepção de sons presentes nos ambientes das obras e sons produzidos pelo
corpo humano, bem como, a imitação destes; exploração de movimentação da face;
repetição de trava-línguas do folclore brasileiro, para mostrar a beleza das rimas, da
combinação entre as palavras; respostas rimadas dos alunos às perguntas por nós
elaboradas com base na obra trabalhada; criação e representação de histórias;
observação e imitação dos colegas - e outros. No desenrolar das atividades, os
alunos, mesmo sem lhes ter sido solicitado, já iam representando cada quadro novo
que lhes era apresentado. Luria (2006, p. 48) explica que o pensamento
classificatório não é apenas um reflexo da experiência individual, mas é fruto de uma
experiência partilhada, comunicada pela sociedade através do seu sistema
linguístico. Essa crença nos critérios difundidos pela sociedade transforma os
processos de pensamento gráfico-funcional em um esquema de operações
semânticas e lógicas em que as palavras se tornam instrumento norteador da
abstração e da generalização.
Em todos os dias da realização das atividades do Projeto PDE
recapitulávamos o que tinha sido trabalhado anteriormente, o que possibilitou
realizar reflexões constantemente. Uma das atividades marcantes foi a de imitação
do outro, atividade que os alunos pediram que fosse repetida quase todos os dias.
Demonstravam o desejo do brincar, de imitar o outro e de ser imitado pelo colega.
Eles se concentravam de tal forma que se tornava difícil o encaminhamento de
outras atividades. Outro fato marcante a ser destacado foi a curiosidade dos alunos
em saber sobre as obras, quais tinham sido pintadas primeiro – se as de Andersen
ou as de Viaro – e se estes pintavam bem; igualmente expuseram o desejo de ver
pessoalmente uma dessas obras.
No início do processo de trabalho não pudemos medir o envolvimento dos
alunos nas tarefas, pois pensávamos que o professor deveria propiciar aos alunos
um encantamento pelas obras, mostrar a importância do trabalho e, sobretudo, estar
disposto a se surpreender constantemente. Isto talvez se deva à sensibilização que
as obras de Arte podem suscitar. Vale destacar novamente a riqueza de detalhes
com que os alunos descreviam cada uma das obras, mostrando uma sensibilidade
aguçada. Leontiev (2006, p. 65) explica: “Por atividade, designamos os processos
psicologicamente caracterizados por aquilo a que o processo, como um todo, se
dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a
executar esta atividade, isto é, o motivo.” Isso nos leva a crer que a mediação do
professor é crucial nesse processo.
Figura 5: Tela de Alfredo Andersen – Imagem do Cadeado, sem data.
Figura 6 - Atividade do Eixo: “O espaço individual”, representação da Obra “Imagem do Cadeado, sem data”, de Alfredo Andersen. Fonte: Foto do acervo da autora.
O eixo “O espaço coletivo” teve como ponto de partida as obras de um dos
maiores artistas paranaenses: Poty Lazzarotto (1924-1998). Esse eixo é de
fundamental importância para as artes dramáticas, levando-se em conta a teoria
vigotskiana segundo a qual o homem é um ser eminentemente social, sabendo-se
que as vivências sociais formam e alteram o comportamento do gênero humano.
Barroco (2009, p. 117) reforça a tese de que estudar as produções ou elaborações
humanas permite “reconstruir a história dos homens e nela situar as diferentes
histórias de vida dos sujeitos singulares”. Esse processo de socialização tem início
com a concepção e vai até a morte. De fato, os diferentes espaços dizem respeito a
uma infinidade de perfis culturais e sociais, e esse eixo tem como princípio mostrar
que o ser humano ocupa um espaço individual que é ao mesmo tempo coletivo.
Quanto à arte da representação, os jogos gramáticos são tão antigos quanto a
própria história do homem gestada a partir das necessidades apresentadas nesse
percurso. As obras de Poty utilizadas como fonte de pesquisa e aprofundamento
científico e cultural foram: um Painel de Mosaico, do Teatro Calil Haddad, da cidade
de Maringá, com representação de objetos e dos ícones alusivos à história do Norte
do Paraná e de Maringá; o mural “O eterno sonho” e “Aeroporto: a porta para o
mundo”, trabalhos expostos no Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba; e um mural em
concreto aparente que está num shopping da cidade de Maringá, datado de 1992.
Neste último eixo, foram trabalhados quatro temas: 1) Representação de uma obra
de Poty Lazzarotto; 2) Representação de sonhos; 3) Representação do mundo; e 4)
Representação e criação de um mural. As atividades desenvolvidas a partir dessas
obras foram realizadas em seis encontros de três horas: 1) Representação através
do corpo, com gestos imitando cada um dos itens dos murais. 2) Exploração dos
elementos culturais expostos nas referidas obras; 3) representação de sonhos; 4)
explicação oral da história da aviação, bem como da contribuição para o
desenvolvimento da sociedade; 5) O avião como um meio de aproximação de
pessoas, gerando desenvolvimento ao proporcionar diminuição de distâncias
temporais e espaciais; e 6) Representação da bandeira do Brasil e criação de um
painel inspirado nas obras de Poty, representando-o.
Sobre o trabalho desse último eixo é importante registrar o encantamento dos
alunos pelos painéis que retratam a história da aviação, pois eles ficaram fascinados
e questionaram o tempo todo. Outro fato marcante foi a curiosidade de conhecer as
duas obras que estão na cidade de Maringá - o que se concretizou quando, na
apresentação do projeto num evento do curso de Psicologia (UEM, 2011)3, os alunos
pediram uma visita coletiva ao aeroporto para ver os aviões.
3 Sarau promovido pela disciplina de graduação Psicologia, Arte e Processos Criativos
Figura 7 - Poty Lazzarotto – Painel de mosaico, no Teatro Calil Haddad, em Maringá. Fonte: Foto do acervo da autora.
Figura 8 - Atividade do eixo: “O espaço coletivo”, representação da Catedral Nossa Senhora da Glória (Maringá), da obra de Poty Lazzarotto, “Painel de mosaico, no Teatro Calil Haddad, em Maringá”.
Fonte: Foto do acervo da autora.
Com relação ao encerramento do projeto PDE na escola que deu origem à
pesquisa aqui apresentada, um dos pontos altos foi a criação e representação de um
painel. Os educandos foram capazes de, com a ajuda da professora, criar uma obra
de arte, representá-la e dar-lhe um nome. Leontiev (2006, p. 126-127) afirma que o
conteúdo do processo da brincadeira apresentada pela análise psicológica, a qual é
chamada de ação, é uma ação real para a criança, que a tira da vida real. Ela não
pode ser vista de modo arbitrário, pois não é fantástica. Existe uma operação real e
imagens reais de objetos reais, indicando que há algo imaginário no jogo como um
todo, que é a situação imaginária. Em suma, a estrutura da atividade lúdica ocasiona
o surgimento de uma situação lúdica imaginária.
Figura 9 - Atividade do eixo: “O espaço coletivo”, com base na obra de Poty Lazzarotto, Criação de Painel: obra de arte produzida pelos alunos.
Fonte: Foto do acervo da autora.
Com base nesta experiência vale uma colocação de um grande estudioso,
citada por Facci (2009, p. 103):
A educação não deve proporcionar uma simples cópia da experiência social, mas sim uma atividade do indivíduo destinada a dominar o mundo dos objetos da cultura humana e suas transformações. É nesse processo de apropriação do mundo externo, por meio do processo de internalização, que o aluno desenvolve as funções psicológicas superiores. A educação, se corretamente organizada, constitui uma forma universal e indispensável ao desenvolvimento do processo intelectual. (DAVIDOV; MARKOVA, 1987).
Em outras palavras, a educação faz-se necessária para tornar o homem
participante da genericidade humana. Esse processo formativo ocorre no cotidiano
através da convivência com o outro, do domínio da cultura humana. Neste sentido a
Arte é fundamental, pois pode gerar desenvolvimento nos alunos com deficiência
intelectual e contribuir para a formação do sujeito humano humanizado.
2.2 Arte e formação do homem cultural
Com base no já exposto faz-se necessário um aprofundamento na temática
da Arte enquanto uma área essencial que pode contribuir para a formação do
homem cultural.
De acordo com os estudos dos psicólogos soviéticos Vigotski e Luria (1996, p.
51), citados por Barroco (2007b, p. 243), a formação do psiquismo humano em sua
genericidade decorre de três linhas principais: evolutiva, histórica e ontogenética. Os
autores querem mostrar que o desenvolvimento do homem cultural é o resultado
dessas linhas.
A primeira linha, a evolutiva, trata da garantia da existência humana pela sua
herança genética. Faz alusão aos comportamentos instintivos que dizem respeito à
luta pela preservação da espécie; porém diz respeito a comportamentos que não
dependem da herança genética e que foram aprendidos por treinamento (estágio
dos reflexos condicionados).
Esses pesquisadores defendiam a tese que o processo de formação do
homem histórico-social ocorre paralelamente ao desenvolvimento da atividade vital
humana e se caracteriza pelo exercício do trabalho e divisão de suas funções, como
observou Barroco (2007a, p. 246).
Considera-se homem cultural aquele sujeito que, vivendo com outros homens,
apropria-se da cultura destes e passa a criar novas formar de estar, interpretar,
adaptar e lidar com o mundo, transformando-o:
Desta forma, diferente dos animais e do homem primitivo, o homem cultural domina, cada vez mais, novas formas de refletir a realidade não por meio da experiência sensível imediata, mas da experiência abstrata racional. Esta é a particularidade que caracteriza a consciência humana, diferenciando-a do psiquismo dos animais. Este traço, a capacidade do homem em transpor os limites da experiência imediata, é a peculiaridade fundamental de sua consciência. (LURIA,1986, p. 13 apud BARROCO, 2007, p. 246).
Em outras palavras, o processo de formação da consciência humana é
construído historicamente, e se dá pela apropriação humana dos bens socio-
culturais elaborados pela espécie humana. Assim, através da troca e apropriação
desses bens vão-se gerando novas formas de comportamento, possibilitando à
conduta desenvolver-se mais independentemente do aspecto biológico.
Dentro dessa perspectiva, entende-se que o homem é formado culturalmente,
pelo contato, troca, apropriação, transformação. Pode-se, pois, vislumbrar a ideia de
que a Arte pode e deve contribuir com essa construção do sujeito humano. Barroco
(2009, p. 126), citando Leontiev (1978), considera que a educação escolar e a não
escolar constituem-se em um processo histórico que humaniza os indivíduos,
permitindo-lhes assumir formas de um determinado momento histórico ou cultural.
Nesse entendimento, o homem passa a ser a reprodução da cultura e do momento
histórico em que estabelece contato e compartilha sua vivência.
Na experiência desenvolvida com os escolares com deficiência intelectual
percebemos que estes, ao executarem as tarefas propostas, procuravam se basear
na apresentação feita pelo colega anteriormente, mas após a apropriação dos
conteúdos de Arte eles foram criando novas formas de realizar a representação das
obras de arte estudadas, até conseguir reproduzi-las o mais fielmente possível.
Essas propostas consistiam numa série de atividades de jogos dramáticos que
partiam de obras de arte de artistas paranaenses interpretadas mediante reflexão
sobre três eixos: O homem em busca de si mesmo; O espaço individual; e O espaço
coletivo.
Vamos aqui registrar a tomada de iniciativa no decorrer do processo de
desenvolvimento das atividades dos três eixos trabalhados.
No início os educandos necessitaram da mediação docente para interpretar
as tarefas; mas com efetivação das atividades eles foram se revelando, elaborando
e reelaborando novas formas de apresentar a arte teatral. De acordo com pesquisas
realizadas por Luria (2006, p. 197), é com base na linguagem que se formam
complexos processos de regulação das próprias ações do homem, e mesmo que no
início a linguagem se apresente como uma forma de comunicação entre o adulto e a
criança, a linguagem vai gradualmente se transformando em uma forma de
organização da atividade psicológica humana.
Entendemos o profundo valor da Arte e todas as suas peculiaridades,
enquanto área do conhecimento que não se traduz somente em ciência, mas trata,
sobretudo, de valores estéticos e humanos, podendo causar emoção, sensibilização
e levar o homem a colocar-se como sujeito. O homem, segundo Vigotski, é um
sujeito que se forma historicamente e socialmente, sendo produto desse processo. É
preciso salientar a colocação de Duarte (1993, p.173), citado por Barroco (2007a, p.
242), quando diz: “[...] os sentidos humanos se reduziram ao sentido de ter” e o “[...]
ser humano teve que ser reduzido a essa absoluta pobreza, para que pudesse dar à
luz a sua riqueza interior partindo de si”.
Tal afirmativa leva-nos a refletir sobre o sentido e a contribuição da Arte para
a transformação desta realidade, com a formação do homem cultural com
humanização.
Neste trabalho procuramos trabalhar a Arte em contraposição à ideia da
utilização da atividade artística somente como produção de espetáculo,
considerando-a como fundamental para a transformação dos homens em sujeitos
culturais, na perspectiva da humanização.
2.3 As Contribuições da Psicologia Histórico-Cultural no Processo de
Aprendizagem do Ensino da Arte Cênica para Alunos com Deficiência
Intelectual
A perspectiva de reconhecer o sujeito e apostar no desenvolvimento de suas
potencialidades e na sua capacidade e elevar-se para um patamar que transforme e
revolucione, passando da condição de meros objetos para a de senhores do
processo, vem a ser a principal contribuição da Psicologia Histórico-Cultural no
processo de formação de alunos em arte cênica. Essa matriz teórica foi criada por L.
S. Vigostski (1896-1934) e continuada por seus seguidores A. N. Leontiev (1903-
1979) e A. R. Luria (1902-1977), pesquisadores russos da época da Pós-Revolução,
e se caracteriza pela possibilidade de mudar de foco, deixando-se de ver a pessoa
como incapaz e limitada pela falta de perspectiva de superar as dificuldades e
passando-se a acreditar em sua capacidade de aprender e transformar-se em um
ser que se constrói histórica e socialmente. Neste sentido escreve Vigotski:
A diferença substancial no caso da criança é que esta pode imitar um grande número de ações - senão um número ilimitado – que supera os limites da sua capacidade atual. Com o auxílio da imitação na atividade coletiva guiada pelos adultos, a criança pode fazer muito mais do que com a sua capacidade de compreensão de modo independente. A diferença entre
o nível das tarefas realizáveis com o auxílio dos adultos e o nível das tarefas que podem desenvolver-se com uma atividade independente define a área de desenvolvimento potencial da criança. (VIGOTSKII, 2006, p. 112).
Esta colocação de Vigotskii, que aborda os pressupostos de sua teoria, é
revolucionária por acreditar na capacitação, desenvolvimento, ressignificação e
transformação do homem, mesmo que este, em suas condições físicas, cognitivas,
sociais, emocionais e atitudinais, seja diferente dos demais sujeitos, isto é,
apresente deficiências, limites ou impedimentos para o seu desenvolvimento e
assuma um percurso diferenciado da maioria. Especialmente por esse motivo
apostamos, ao desenvolvermos o projeto PDE, nos pressupostos e orientações
teóricas advindos da Teoria Histórico-Cultural.
Podemos assim afirmar, com base na experiência vivenciada no Projeto PDE,
que essa teoria se aplica ao ensino da arte cênica a alunos que apresentem
limitação intelectual. Estes obtiveram resultados favoráveis, superaram dificuldades
e mostraram-se capazes de aprender.
2.4 A Mediação docente e o trabalho com os jogos dramáticos
Uma das atividades do Projeto PDE foi desenvolvida com um grupo de
professores do Estado do Paraná pertencentes à rede pública de ensino, no formato
a distância em ambiente virtual.
Tais colocações se fazem necessárias, pois é o professor o responsável pela
mediação do educando, por encaminhá-lo, orientá-lo e intervir no seu processo de
desenvolvimento intelectual, artístico e humano. Em seus estudos Vigotskii (2006, p.
108) demonstra que o intelecto não é a reunião de determinado número de
capacidades gerais - como observação, atenção, memória, juízo etc., mas,
sobretudo, é a somatória de diferentes capacidades, sendo cada uma, em certa
medida, independente das outras. Assim, cada uma deve ser desenvolvida
independentemente, com um exercício adequado. Essa tarefa cabe ao professor e
consiste em não apenas desenvolver uma única capacidade de pensar, mas em
desenvolver diferentes faculdades de concentrar a atenção sobre diferentes
matérias. Tal colocação vem afirmar a importância do papel do professor no
processo de desenvolvimento cultural dos educandos. Sobre isto afirma Facci:
Somente o conhecimento, baseado na ciência, é que deve se constituir enquanto instrumento para o professor. Nesse sentido, Vigotski criticou o ‘pedagogo-babá’ (expressão usada por ele), do qual se exigia somente amor, ternura e preocupação. Segundo ele, isto era mediocrizar a profissão do professor, pois o domínio do conhecimento do professor é a chave-mestra para a apropriação do conhecimento por parte do aluno. (FACCI, 2009, p. 96).
Ademais, o professor deve levar o aluno a pensar, a refletir, a ter acesso aos
bens culturais da humanidade.
Apresentamos a seguir uma síntese do processo de formação continuada,
conhecido como Grupo de Trabalho em Rede (GTR). O trabalho foi dividido em três
temas.
No primeiro tema do GTR abordou-se o projeto “Jogos Dramáticos na Escola
de Educação Especial: em busca da formação humana em alunos com deficiência
intelectual”. Nele foi proposto ao grupo realizar um aprofundamento sobre questões
como, por exemplo, se as atividades de jogos dramáticos despertam o interesse dos
alunos, se estes costumam realizar essas atividades no cotidiano da escola, como
esses jogos são trabalhados e se as atividades de teatro são direcionadas para o
desenvolvimento humano. Outra questão foi a contribuição da Arte para a formação
do homem cultural humanizado.
As atividades foram realizadas de forma satisfatória. Houve uma significativa
interação entre as cursistas e a tutora, com troca de experiências e ideias.
Percebemos muito comprometimento, interesse, dedicação e aprofundamento por
parte de todas as cursistas, os quais procuraram realizar pesquisas utilizando outros
referenciais teóricos e demonstrando interesse pelas tarefas. Foi perceptível a
compreensão da Arte enquanto promotora de desenvolvimento humano.
O grupo enfatizou a importância do teatro para o desenvolvimento dos
sujeitos, seu valor histórico e social. Os jogos dramáticos foram descritos como um
meio de os educandos expressarem suas emoções e sentimentos em relação à
realidade, pois o trabalho com esses jogos possibilita o desenvolvimento do
imaginário e a apropriação de novos conhecimentos.
O professor foi considerado pelo grupo como mediador e transmissor de
conhecimentos científicos, tal como apregoa a Teoria de Vigotski.
Segundo colocações das docentes do GTR, os jogos dramáticos são
valorizados e são realizados com frequência no cotidiano escolar, despertando o
interesse dos alunos.
Dessa forma, as reflexões sobre a Arte, especialmente sobre os jogos
dramáticos, foram bastante proveitosas e os objetivos da abordagem do tema foram
atingidos com louvor.
No segundo tema foi proposto às cursistas analisar e discutir a produção
didático-pedagógica intitulada "Jogos Dramáticos e Processo de Humanização de
Alunos com Deficiência Intelectual". Elas refletiram sobre a realização dos jogos
dramáticos a partir de obras de arte de artistas paranaenses e sobre a relevância
das ações propostas na produção didático-pedagógica para a realidade das escolas.
O grupo foi favorável à realização de atividades de jogos dramáticos a partir
de obras de arte de artistas paranaenses. Consideraram o tema relevante e
interessante, principalmente por valorizar os artistas do Paraná, que muitas vezes
não são lembrados no cotidiano da escola.
As ações propostas na produção didático-pedagógica para o trabalho com os
jogos dramáticos foram consideradas de suma importância para a realidade de
qualquer escola, sendo de Educação Especial ou não, por tratar de temas que dizem
respeito à Arte e ao desenvolvimento de valores humanos.
Os eixos de trabalho “O homem em busca de conhecer a si mesmo”, “O
espaço individual” e “O espaço coletivo” foram citados por várias cursistas, que os
consideraram essenciais para o desenvolvimento do homem cultural humanizado. O
grupo reportou-se à importância das atividades artísticas para os alunos com NEE,
considerando-as fundamentais para a formação humana.
As cursistas realizaram interações de forma aprofundada e abrangente,
demonstrando interesse e envolvimento com o GTR; foram cooperativas e
participativas e mostraram domínio do assunto proposto.
No terceiro tema foram postas todas as ações do projeto para análise das
cursistas/docentes. Essa ação foi realizada em forma de fórum.
A seguir algumas considerações das cursitas no GTR:
Acho que só tem a contribuir com o Processo de Humanização dos alunos com Deficiência Intelectual, já que a Arte faz parte da historicidade humana e promove o desenvolvimento do homem, sendo um dos elementos de ligação e reflexão. Estabelece um contato com o mundo e ajuda a compreendê-lo, contribuindo para a formação da consciência do aluno, como afirmou Peixoto apud Barroco "Quanto mais condições de acesso ao mundo da cultura – arte – filosofia e ciência tanto mais genuinamente humano o homem se faz". Os alunos serão levados a refletirem sobre a arte, usando-a como recurso que pode levar os seres humanos individualizados a se qualificarem como humanos e se tornarem humanizados, além de adquirirem conhecimentos sobre os artistas e suas obras e o quanto contribuíram para a Arte no estado. (CURSISTA, GTR, 2011).
Outra colocação importante de umas das cursitas é a exposta abaixo:
Segundo Barroco inspirada pela Pedagogia Histórico-Crítica e Psicologia Histórico-Cultural, é possível entender a relevância de que na escola especializada se tenha um bom ensino. Eu creio nisso, vem de encontro com seu projeto. Ensinar Arte é ao mesmo tempo ponto fundamental para que o aluno entenda mais de si e do mundo, se traduz num meio de alcançar êxito, apropriação de um acervo que será matéria prima, possibilitando-lhe a expressão pessoal de valores, sentimentos e emoções; construção de conceitos e cognição. Nunca tinha pensado em Jogos Dramáticos para meus alunos da APAE como forma de reflexão e significado da Arte, mas em forma de expressão e autoconhecimento de si mesmo. Seu projeto está abrindo novas portas, ideias para melhorar não só meu trabalho, mas modificar, alterar, lançar novos conhecimentos partindo de obras dos artistas paranaenses, estudando sobre a vida, trajetória de cada um deles. Tenho certeza que com essas ações levarei meus alunos a entenderem o homem no processo histórico, no tempo, espaço individual e coletivo. Serei o porta voz a professores de sala de aula que procura intervenções, mediações motivadoras para ensinar questões de cunho geográfico, cultural, filosófico e artístico, e através dos Jogos Dramáticos, partindo da criação artística eles avançaram e utilizaram também deste meio maravilhoso. (CURSISTA, GTR, 2011).
Outra fez questão de ressaltar que:
Após ler e analisar a Produção Didático-Pedagógica me senti leiga em relação aos jogos dramáticos e a maneira de como trabalhar com Arte na escola, pois com a leitura pude ampliar meus conhecimentos, adquirindo várias informações de grandes artistas paranaenses, que até então não sabia nada a respeito. Também não era do meu conhecimento a importância do trabalho com Arte, seja ela em música, teatro, dança, pintura e mímica, imaginava que fazia a diferença, mas hoje em dia, penso que esse tipo de trabalho seja fundamental para a formação humana do indivíduo. Visto que, a Arte é uma forma de expressar sentimentos, valores
e comportamentos, contudo a mesma possibilita o desenvolvimento do indivíduo para alcançar sua plenitude humana. (CURSISTA, GTR, 2011).
Com relação a essas colocações, nas quais ficam implícitas a
responsabilização e a valoração do trabalho pedagógico, Facci (2009, p. 102) faz a
seguinte observação: “Nos estudos posteriores desenvolvidos na escola de Vigotski
fica evidente que a transmissão e apropriação da experiência sócio-histórica tornam-
se fundamentais para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, ou
seja, para o próprio processo de humanização dos indivíduos, residindo aí, o grande
e importante trabalho a ser realizado pelo professor em sala de aula”.
Observa ainda a autora:
É possível se defender que a forma mais desenvolvida da Teoria de Vigotski na compreensão da educação e do trabalho docente evidencia que o ensino tem um papel central em todo o sistema de organização da vida da criança, determinando seu desenvolvimento psíquico. É evidente, portanto, que a tarefa do professor é ensinar à criança aquilo que ela não é capaz de aprender por si só e é tarefa do processo educativo dirigir o desenvolvimento psíquico do indivíduo. O professor é o mediador dos conteúdos científicos e intervêm, de modo particular, na formação dos processos psicológicos superiores. (FACCI, 2009, p. 104).
Assim, compreende-se o papel do professor como mediador do processo de
aprendizagem dos alunos. Na área da deficiência intelectual, o papel do professor é
fundamental e necessário.
3 Conclusão
A Arte é um campo fecundo e rico para o desenvolvimento do trabalho
pedagógico na área de Educação Especial e essencial para que o escolar entenda
mais sobre si mesmo, o espaço individual e o espaço coletivo. Os pressupostos
teóricos e a intervenção docente através das atividades do projeto PDE
desenvolvidas com os escolares com deficiência intelectual, assim como os jogos
dramáticos, a partir das obras de arte dos artistas paranaenses, levaram-nos a
refletir sobre as palavras de Vigoskii, citadas por Barroco (2007a, p. 46), quando o
autor afirma que as cotas mais elevadas da criação são atualmente acessíveis a
uma parcela que compreende os grandes gênios da humanidade, porém no
cotidiano todos têm a oportunidade de criar, e esse processo tem sua gênese na
capacidade criadora do ser humano.
Além disso, Barroco (2007a, p. 85) reconhece que as potencialidades
criativas existem em todos os seres humanos, e embora estas se apresentem em
graus diferentes e áreas diversas, entende sua realização como uma necessidade
de vida. Gombrich (1978, p. 15) ressalta que nada existe realmente a que se possa
dar o nome de Arte, o que existe são artistas. Esse modo de pensar nos permite
afirmar que é a pessoa humana que deve ser vista como produtora de Arte e que
todo o trabalho pode vir a ser arte, e não apenas os objetos materiais. Sendo assim,
todos podem ser artistas e desenvolver-se.
No tocante ao trabalho desenvolvido com os alunos com deficiência
intelectual, percebemos claramente o envolvimento dos educandos no processo de
aprendizagem: eles questionavam e mostravam-se curiosos em aprender os
conteúdos filosóficos implícitos nas obras de arte. Desde o início da execução das
atividades, mostraram-se interessados e comprometidos com a proposta de
trabalho. Outro fato de relevância foi, após um longo período de execução do Projeto
PDE, alguns educandos conseguirem identificar outras obras de arte dos artistas
trabalhados, tendo como base as características das obras que tinham visto.
Percebemos quanto foi significativo para esses alunos o projeto de artes dramáticas
envolvendo obras de arte.
Tal acontecimento e os resultados apresentados nos levam a pensar que o
desenvolvimento desse projeto dá margem a outras pesquisas sobre o significado
da Arte para alunos com deficiência intelectual, a metodologia empregada no ensino
da Arte, as contribuições da Psicologia Histórico-Cultural e, principalmente, o papel
do professor nesse processo.
Esperamos ter, de alguma forma, contribuído para mostrar quão relevante é a
Arte, e que esta não consiste apenas em atividade produtora de espetáculos, mas,
sobretudo, pelas suas características e peculiaridades, pode ser a mola propulsora
na formação do homem com sensibilidade e humanização.
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