HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

37
HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA HIPERINFECÇÃO POR Strongyloides stercoralis EM PACIENTE COM SEPSE DE FOCO ABDOMINAL E DISTÚRBIO IMUNITÁRIO: RELATO DE CASO MIGUEL ADOLFO LOPEZ TORREZ São Paulo 2019

Transcript of HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

Page 1: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL

DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA

HIPERINFECÇÃO POR Strongyloides stercoralis EM

PACIENTE COM SEPSE DE FOCO ABDOMINAL E

DISTÚRBIO IMUNITÁRIO: RELATO DE CASO

MIGUEL ADOLFO LOPEZ TORREZ

São Paulo

2019

Page 2: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

MIGUEL ADOLFO LOPEZ TORREZ

HIPERINFECÇÃO POR Strongyloides stercoralis EM

PACIENTE COM SEPSE DE FOCO ABDOMINAL E DISTÚRBIO

IMUNITÁRIO: RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Comissão de Residência

Médica do Hospital do Servidor Público

Municipal, como requisito para conclusão

da Residência em Clínica Médica

Área: Gastroenterologia clínica

Orientador(a): Dr. Cleyton Padilha Andrade

São Paulo

2019

Page 3: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E

PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

São Paulo, 28 de Agosto de 2019

Assinatura do Autor:

___________________________________________________

Lopez Torrez, Miguel Adolfo

Hiperinfecção por Strongyloides stercoralis em paciente com sepse

de foco abdominal e distúrbio imunitário: Relato de caso / Miguel

Adolfo Lopez Torrez.-- São Paulo: HSPM, 2019.

37p.

Orientador: Cleyton Padilha Andrade.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de

Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal de São

Paulo, para obter o título de Residência Médica, na área de Clínica

Médica.

1.Strongyloides stercoralis. 2. Sepse. 3. Imunodeficiencia

I.Andrade, Cleyton Padilha, orient. II. Título

Page 4: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

MIGUEL ADOLFO LOPEZ TORREZ

HIPERINFECÇÃO POR STRONGYLOIDES STERCORALIS EM PACIENTE COM

SEPSE DE FOCO ABDOMINAL E DISTÚRBIO IMUNITÁRIO: RELATO DE CASO

Trabalho de conclusão do Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do

Hospital do Servidor Público Municipal, como requisito parcial para obtenção do

título de Residência Médica

Área: Clínica Médica

Orientadora: Dr. Cleyton Padilha Andrade

São Paulo, _____ de ___________________ de ______

Banca Examinadora

__________________________________________________________________

Prof. Dr. ____________________________________________________________

Profa. Dra. __________________________________________________________

Prof. Dra. ___________________________________________________________

Conceito final:

Page 5: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

Dedico esse trabalho

a minha família, que a pesar da distancia,

sempre me brindaram seu apoio

constante.

Page 6: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Cleyton Padilha Andrade, meu orientador de TCC e preceptor da

Gastroenterologia clínica, pela inestimável e generosa ajuda na elaboração do

presente trabalho.

Aos meus preceptores, equipes de enfermagem e administrativos do Hospital

do Servidor Público Municipal, pela grande contribuição na minha formação na

especialidade de Clínica Médica.

Aos meus colegas e amigos residentes, companheiros nessa difícil porém

gratificante caminhada.

A minha família, pelo seu apoio incondicional, e porque nunca me permitiram

sentir sua ausência mesmo na distância.

Page 7: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

RESUMO

Strongyloides stercoralis é um nematodo intestinal de grande importância por

ser um dos únicos enteroparasitas que pode proliferar no hospedeiro, produzindo

autoinfecção. Em indivíduos submetidos a terapias com corticosteróides, com outros

imunossupressores ou co-infectados com o HTLV-1 e S. stercoralis, pode haver

hiperinfecção ou infecção disseminada podendo levar a morte. Em contraste com

pacientes infectados pelo HIV que raramente apresentam hiperinfecção por S.

stercoralis. O presente relato de caso, descreve a hiperinfecção por S. stercoralis,

em um paciente de 24 anos, com quadro de suboclusão intestinal, que evolui para

sepse de foco abdominal, acompanhado de lesões cutâneas urticariformes. O

diagnóstico foi confirmado com a realização de endoscopia digestiva alta, que

demonstrou atrofia duodenal e duodenite crônica ulcerada, e cuja biópsia evidenciou

formas adultas de S. stercoralis em grande quantidade. Posteriormente, o

tratamento foi realizado com ivermectina, apresentando melhora clínica e

laboratorial. Na pesquisa para identificar possíveis causas, para explicar o quadro de

hiperinfecção, detectou-se sorologia positiva para HTLV-1. A infecção por

estrongiloides é superior a 25% da população em áreas tropicais, mas a

hiperinfecção como apresentada neste caso é rara. Diversas formas de

imunodeficiência estão associadas a apresentação grave, entre elas a infecção pelo

HTLV-1, comum no Brasil. Uma característica fundamental ilustrada por este caso é

que a presença de estrongiloidíase grave deve levar à suspeita de imunodeficiência

subjacente. Os médicos devem manter um alto índice de suspeita ao tratar

pacientes em países desenvolvidos ou áreas urbanas, onde a infecção por

estrongiloidíase pode ser incomum. Histórias de viagens e imigração são essenciais

para avaliar os riscos de exposição..

Palavras-chave: Strongyloides stercoralis, sepse, hiperinfecção,

Imunodeficiência.

Page 8: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

ABSTRACT

Strongyloides stercoralis is a major intestinal nematode because it is one of the

only enteroparasites that can proliferate in the host, producing self-infection. In

individuals undergoing corticosteroid therapy, other immunosuppressive drugs, or co-

infected with HTLV-1 and S. stercoralis, there may be hyperinfection or widespread

infection which may lead to death. In contrast to HIV-infected patients who rarely

have S. stercoralis hyperinfection. The present case report describes S. stercoralis

hyperinfection in a 24-year-old patient with intestinal semiobstruction who develops

sepsis with abdominal focus, accompanied by urticarial skin lesions. The diagnosis

was confirmed by upper digestive endoscopy, which showed duodenal atrophy and

chronic ulcerated duodenitis, and whose biopsy showed large amounts of adult S.

stercoralis. Subsequently, the treatment was performed with ivermectin, presenting

clinical and laboratory improvement. In the search to identify possible causes, to

explain the hyperinfection, positive serology for HTLV-1 was detected.

Strongyloides stercoralis infection is greater than 25% of the population in tropical

areas, but hyperinfection as presented in this case is rare. Several forms of

immunodeficiency are associated with severe presentation, including HTLV-1

infection, common in Brazil. A key feature illustrated by this case is that the presence

of severe strongyloidiasis should lead to the suspicion of underlying

immunodeficiency. Physicians should maintain a high rate of suspicion when treating

patients in developed countries or urban areas, where Strongyloides stercoralis

infection may be uncommon. Travel and immigration stories are essential for

assessing exposure risks.

Keywords: Strongyloides stercoralis, sepsis, hyperinfection, Immunodeficiency.

Page 9: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APC Coprocultura em placas de agar

CD4 Grupamento de diferenciação 4

EDA Endoscopia digestiva alta

HDA Hemorragia digestiva alta

HIV Vírus da imunodeficiência humana

HSPM Hospital do Servidor Público Municipal

HTLV-1 Vírus linfotrópico de célula T humana tipo 1

IFN Interferon gamma

IG Imunoglobulina

IL Interleucina

PCR Reação em cadeia de polimerase

SNC Sistema nervoso central

TGF Fator de necrose tumoral

Page 10: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9

2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 14

3 RELATO DE CASO ........................................................................................... 15

4 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 17

5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 24

6 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 26

ANEXO A ............................................................................................................. 35

Page 11: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

9

1. INTRODUÇÃO

Strongyloides stercoralis (Bavay, 1876) é um nematodo intestinal de grande

importância por ser um dos únicos enteroparasitas que pode proliferar no

hospedeiro, produzindo autoinfecção (1). É um nematodo pertencente à família

Strongyloididae (Classe Secernentea, Ordem Rhabditida, Superfamília

Rhabditoidea), que é formada por três gêneros, Strongyloides, Parastrongyloides e

Leipernema. Dessa forma, a estrongiloidíase pode persistir por décadas, sem a

necessidade de uma nova exposição à infecção exógena (2).

A prevalência mundial da estrongiloidíase está estimada em 370 milhões de

indivíduos infectados (3; 4). Contudo, a acurácia dessa estimativa é incerta devido à

baixa sensibilidade dos métodos de triagem e diagnóstico, tratamentos incorretos e

a falta de acompanhamento dos pacientes infectados pelo parasita. O

acompanhamento desses pacientes é essencial, pois, a recorrência da

estrongiloidíase em pacientes previamente diagnosticados e tratados para o parasita

tem sido relatada (5)

Em indivíduos submetidos a terapias com corticosteróides, com outros

imunossupressores ou co-infectados com o HTLV-1 e S. stercoralis, pode haver

hiperinfecção ou infecção disseminada podendo levar a morte (6; 7; 8). Em contraste

com pacientes infectados pelo HIV que raramente apresentam hiperinfecção por S.

stercoralis, pacientes co-infectados com S. stercoralis e HTLV-1, frequentemente

desenvolvem hiperinfecção. Uma diferença importante nas duas infecções é que o

HTLV-1 ativa as células T CD4+ e induz sua proliferação através do aumento de IL-2

e seus receptores, criando um ambiente imunitário inverso ao que ocorre na

infecção pelo HIV. O aumento da população de linfócitos T reguladores (CD4+,

CD25+ e Foxp3+) foi demonstrado em pacientes com HTLV-1 co-infectados com S.

stercoralis, admitindo os autores que esse aumento de linfócitos T reguladores seja

responsável pela facilitação da infecção através da redução da diferenciação de

eosinófilos imposta pela redução de IL-5 relacionada à maior atividade desses

linfócitos (9). É possível que uma desregulação imunitária decorrente de alterações

em linfócitos T reguladores induzida pelo etanol possa estar relacionada com

aumento da sobrevivência ou fecundidade do nematodo em alcoolistas crônicos.

As parasitoses são causas relevantes de agravo à saúde em países

subdesenvolvidos e em desenvolvimento, principalmente onde as condições sócio-

Page 12: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

10

econômicas e culturais permitem a manutenção e disseminação dos parasitas (10).

A estrongiloidíase é uma doença parasitária, causada pelo nematodo intestinal

Strongyloides stercoralis, com distribuição mundial heterogênea, sendo a

prevalência relativamente comum em regiões tropicais e subtropicais (11; 12). Nos

trópicos, a doença acomete principalmente as crianças, pelo frequente contato com

solos contaminados, enquanto que em países de clima temperado a infecção

prevalece em trabalhadores do campo (13).

A prevalência da estrongiloidíase na população pode ser dividida em três

categorias: esporádica (<1%), endêmica (1–5%) e hiperendêmica (>5%) (14). O

Brasil é considerado um país hiperendêmico com 5,5% de infecção com S.

stercoralis na população em geral e 11,8% em indivíduos imunocomprometidos,

considerando o diagnóstico parasitológico (15). No Brasil, existem vários estudos

avaliando a prevalência da estrongiloidíase, que podem sofrer variações de acordo

com as diferentes regiões, populações e métodos utilizados no diagnóstico

parasitológico (16).

Em Concórdia, Santa Catarina, no período de 2000 a 2002, a análise de 9024

amostras de fezes demonstrou uma frequência variando de 17,6% a 28,3% (17). No

Amazonas, alguns estudos mostram uma prevalência de 6,25% em crianças com

idade de 6 a 10 anos e de 9% em uma população ribeirinha de idosos (18). Em

Uberlândia, MG, um estudo com crianças menores de sete anos demonstrou 13%

de infecção, sendo que a maioria dos casos (71,8%) foi confirmada somente após

análise da segunda e terceira amostra (19). Em São José da Bela Vista, SP, houve

ocorrência de 8,3% em trabalhadores rurais (20). Na Bahia, a prevalencia do S.

stercoralis em pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde foi de 4,6%, sendo

7,7 vezes maior do que a dos pacientes atendidos pelo sistema privado, que foi de

0,6% (21).

Nos últimos anos, a associação entre o S. stercoralis, doenças virais ou outras

morbidades que deprimem o sistema imune tem se tornado bastante frequente.

Pacientes portadores de HIV apresentam uma variação da prevalência de 2,5 a

21,9% (22; 23). Em São Paulo, a frequência de Strongyloides stercoralis em

pacientes portadores de HTLV-1 foi de 12%. Na Bahia, um estudo realizado com

pacientes portadores HTLV-1, atendidos no ambulatório do Hospital Professor Edgar

Santos, Universidade Federal da Bahia, demonstrou uma prevalência de 15,7% (24).

Em pacientes em uso de corticóides e com doenças neoplásicas a prevalência

Page 13: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

11

atinge de 0,84% a 9,1%, dependendo do grau de exposição e outros fatores que

favorecem a infecção (25). Em pacientes alcoolistas principalmente cirróticos, a

infecção pelo S. stercoralis é bastante elevada, podendo sofrer variações de 40 a

44% (26).

O parasita S. stercoralis, possui complexo ciclo de vida e diferentes formas

evolutivas. As larvas rabditóides ou de primeiro estádio (não infectantes) medem

cerca de 250 μm de comprimento. As larvas filarióides ou de terceiro estádio

(infectantes) medem cerca de 500 μm de comprimento e se distinguem pela cauda

“entalhada ou bifurcada”. As fêmeas parasitas, partenogenéticas, vivem nas criptas

da mucosa duodenal e são as maiores formas. Têm aspecto filiforme e medem

cerca de 2 mm de comprimento. As fêmeas de vida livre são menores do que as

parasitas, medem cerca de 0,8 a 1,2 mm de comprimento e apresentam útero

desenvolvido cheio de ovos. Os machos são menores do que as fêmeas, e

apresentam espículas na extremidade posterior (6; 27; 28). O ciclo de vida do

parasito é complexo e apresenta uma fase no hospedeiro humano (ciclo direto,

homogônico ou ciclo parasitário) e uma fase no meio externo (ciclo indireto,

heterogônico ou ciclo de vida livre) (Figura 1).

O ciclo de vida direto, homogônico ou parasitário começa com a maturação de

ovos nas fêmeas partenogenéticas, no interior dos quais já se desenvolvem as

larvas rabditoides; a postura dos ovos larvados é feita na mucosa duodenal e a

eclosão dos ovos é rápida, liberando as larvas rabditoides (L1) que são eliminadas

com as fezes. No meio externo, as larvas L1 se alimentam de bactérias e após 24-

36 horas sofrem duas mudas, evoluindo para larvas rabditóides de segundo estádio

(L2) e finalmente para larvas filarióides infectantes de terceiro estádio (L3). As larvas

filarióides infectantes (L3) não se alimentam e sobrevivem de reservas de glicogênio.

Larvas filarióides, em condições favoráveis, permanecerão no solo até que entrem

em contato com o hospedeiro. Por ação mecânica (movimentação ativa) e química

(melanoproteases), as larvas filarióides infectantes penetram na pele do hospedeiro,

atravessam os tecidos e caem na circulação venosa e linfática, chegando aos

pulmões via pequena circulação. Rompendo os alvéolos pulmonares, ascendem por

via brônquica até a faringe, podendo ser expulsas com as secreções pulmonares ou

deglutidas. Ao serem deglutidas, chegam ao intestino delgado onde se transformam

em fêmeas adultas entre 17 e 21 dias após a penetração através da pele do

hospedeiro. Em seguida, inicia-se a ovoposição pela fêmea parasita (fêmea

Page 14: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

12

partenogenética). No entanto, há também evidências de que as larvas L3 podem

migrar diretamente para o intestino via tecidos conectivos sem passagem pelos

pulmões (28; 29). Ainda no ciclo direto, homogônico ou parasitário, a infecção pode

ocorrer de forma interna, denominando-se autoinfecção, ou seja, sem a necessidade

de o parasito sofrer as fases (L1→L2→L3) fora do corpo do hospedeiro. A

ocorrência da autoinfecção depende da evolução de larvas rabditoides para

filarióides na luz intestinal, o que pode ser favorecido, por exemplo, por lentidão no

trânsito intestinal, fornecendo tempo suficiente às larvas rabditóides (L1) a se

transformarem em larvas filarióides (L3) ainda no intestino delgado e grosso. As

larvas filarióides diferenciadas na luz intestinal podem penetrar a mucosa do

intestino (autoinfecção interna) ou podem penetrar na pele da região perianal

(autoinfecção externa) continuando o ciclo de vida dentro do hospedeiro. Não se

conhece os mecanismos que podem facilitar a diferenciação de larvas filarióides no

intestino, mas a resposta imunitária do hospedeiro parece desempenhar papel

importante no processo. Autoinfecção, levando a quadros de hiperinfecção ou

infecção disseminada é descrita em algumas condições de imunossupressão. No

entanto, como será descrito adiante, os mecanismos exatos da autoinfecção não

são ainda conhecidos. Esse fato está associado a doenças imunossupressoras, uso

de medicamentos ou ingestão abusiva de bebidas alcoólicas, que causam lentidão

no trânsito intestinal (6; 27; 28). No ciclo de vida indireto, heterogônico ou de vida

livre as larvas rabditóides (L1) sofrem quatro mudas e aquelas provenientes de ovos

haploides (1n) darão origem a machos de vida livre, enquanto que as larvas

rabditóides diploides (2n) originarão as fêmeas de vida livre. Após cópula, as fêmeas

de vida livre farão postura de ovos triploides (3n), que darão origem a larvas

rabditóides (L1), que sofrem duas mudas e se transformam em larvas filarióides

infectantes (L3). A partir dessa fase, o ciclo é semelhante: não se alimentam,

possuem sobrevida de uma a três semanas, período em que estão aptas a infectar

novo hospedeiro (6; 27; 28). Os casos de parasitismo muito intenso podem ser

explicados por constantes autoinfecções (6; 30; 31). Possivelmente, o

estabelecimento da resposta imunitária contra o parasita modula a diferenciação

endógena das larvas, diminuindo a chance de autoinfecção. De fato, em gerbilos

(roedores) recém-nascidos, a infecção se estabelece e é seguida de evolução rápida

de grande número de larvas rabditoides para filarióides infectantes, produzindo uma

“explosão” de autoinfecção até 30 dias após a inoculação das larvas infectantes

Page 15: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

13

(32). Da mesma forma, em hospedeiros tratados com corticosteroides ou outras

drogas imunossupressoras há um aumento explosivo de autoinfecção, levando a

hiperinfecção, corroborando que a resposta imunitária do hospedeiro é importante

no processo de evolução das larvas rabditoides ainda no intestino (33). O presente

relato de caso, mostra uma evolução clínica rara de estrongiloidíase disseminada,

em um paciente jovem.

Figura 1 – Ciclo biológico de Strongyloides stercoralis. Traduzido de: Schar F,

Trostdorf U, Giardina F, Khieu V, Muth S, Marti H, Vounatsou P, Odermatt P. (2013)

Strongyloides stercoralis: Global Distribution and Risk Factors. PLoS Negl Trop Dis

7(7): e2288. doi:10.1371/journal.pntd.0002288

Page 16: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

14

2. OBJETIVOS

Descrever as características clínicas, epidemiológicas, propedêutica

diagnóstica e terapêutica implementada de um caso de hiperinfecção por S.

stercoralis, em um paciente jovem com um distúrbio imunitário, e realizar uma

revisão da literatura sobre o tema.

Page 17: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

15

3. RELATO DE CASO

O presente relato de caso, descreve a hiperinfecção por S. stercoralis, em um

paciente de 24 anos, com quadro de semioclusão intestinal, que evolui para sepse

de foco abdominal, acompanhado de lesões cutâneas urticariformes. O diagnóstico

foi confirmado com a realização de endoscopia digestiva alta, que demonstrou

atrofia duodenal e duodenite crônica ulcerada, e cuja biópsia evidenciou formas

adultas de S. stercoralis em grande quantidade. Posteriormente, o tratamento foi

realizado com ivermectina, apresentando melhora clínica e laboratorial. Na pesquisa

para identificar possíveis causas, para explicar o quadro de hiperinfecção, detectou-

se sorologia positiva para HTLV-1.

BVNS, sexo masculino, 24 anos, natural do Piauí, desempregado, casado e

residente em São Paulo – SP há 4 anos, previamente independente para ABVD e

AIVD. No dia 16/04/18, da entrada pelo pronto-atendimento no Hospital do Servidor

Publico Municipal HSPM, por quadro de constipação e dificuldade para eliminação

de flatos há 4 dias, em piora progressiva, vômitos recorrentes nos últimos 2 dias e

perda ponderal de 4 Kg há 1 semana aproximadamente. Negava histórico patológico

prévio, mais nas sucessivas consultas informou relato de diagnostico prévio de

parasitose rara há muitos anos.

À admissão, no exame clinico inicial se encontrava taquipneico e hipotenso, FC

108, PA 90/60 mm Hg, desidratado, caquético, com abdome distendido e doloroso

difusamente, sem irritação peritoneal. Na radiografia de abdome foi observada

dilatação de alças com área de afilamento. A impressão diagnostica inicial foi:

síndrome consumptiva evoluindo com obstrução intestinal, e a conduta inicial

consistiu em SNG aberta; ceftriaxona + metronidazol; laboratório com sorologias; TC

de abdome e 2 pares de hemoculturas.

Inicialmente o laboratório revelou: leucocitose, elevação de PCR e

hipoalbuminemia, com sorologias negativas para hepatites virais, HIV, CMV e

isolamento de Pantoea agglomerans multissensível em hemocultura. A tomografia

de abdome inicial mostrou dilatação difusa de alças cólicas e jejunais, sem fator

obstrutivo. Nesse momento, a impressão diagnostica foi obstrução intestinal e sepse

de foco abdominal e possível doença inflamatória intestinal.

O paciente evoluiu com melhora do quadro abdominal e da resposta

inflamatória sistêmica após SNG, expansão volêmica e antibioticoterapia. Não

Page 18: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

16

obstante, após poucos dias, recorreu com parada da eliminação de fezes, estase

gástrica e piora do leucograma e PCR, agora associadas a lesões cutâneas

urticariformes difusas no abdome. Então foi instituída expansão volêmica, antibiótico

do amplo espectro piperacilina-tazobactam e nova tomografia de abdome, que

mostrou espessamento e distensão gástrica e de alças jejunoileais e cólicas, sem

obstrução, evolui com piora do prurido e das lesões abdominais.

Novo laboratório mostrou eosinofilia, e nos dias posteriores a eosinofilia se

tornou persistente (chegando a valores de 10% de eosinófilos no diferencial), por

outra parte resultados para suspeita de doença celíaca resultou em sorologia

negativa para anti-endomisio e sobretudo anti-transglutaminasa tecidual IgA TGT

negativas.

Posteriormente foi realizada endoscopia digestiva alta, em que se encontrou

atrofia duodenal e duodenite crônica ulcerada, e nas amostras de tecido digestivo o

resultado da biópsia acusou presença de abundante quantidade de ova e vermes

adultos de Strongyloides stercoralis. Seguiu-se de investigação de fatores

associados para imunossupressão, assim nova sorologia foi realizada, e na

investigação de fatores predisponentes, identificou-se sorologia positiva para HTLV-

1.

A impressão diagnostica definitiva foi: hiperinfecção por Strongyloides

stercoralis. Iniciou-se tratamento com Ivermectina 200mcg/kg/dia, com resolução

dos sintomas em poucos dias e alta hospitalar, sucedida de seguimento ambulatorial

sem intercorrências após suspensão do anti-helmíntico após 2 semanas.

Page 19: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

17

4. DISCUSSÃO

Os pacientes infectados com o S. stercoralis geralmente apresentam as formas

aguda e crônica da doença, sendo que a maioria desenvolve a forma crônica, que

cursa de maneira assintomática ou oligossintomática. Na forma aguda, as

manifestações clínicas são decorrentes da penetração das larvas filarióides

infectantes na pele e da sua migração pelos tecidos, auxiliadas pela ação das

metaloproteases, que atuam como um importante fator de virulência. Dentre as

manifestações dermatológicas mais frequentes podem ser observadas prurido,

urticária e erupção eritêmato-papulosa na região inferior do tronco, coxas e nádegas,

conhecida como larva currens (34). Além disso, outras manifestações como febre,

tosse não produtiva, artralgia e cefaléia, podem ocorrer (35).

A forma crônica da estrongiloidíase pode variar e ser classificada como forma

leve, moderada ou grave. A forma leve, geralmente é assintomática, enquanto a

moderada e grave, apresentam manifestações gastrointestinais, como dor

abdominal, vómitos intermitentes, anorexia, diarreia e constipação intestinal (36).

Estas manifestações começam cerca de duas semanas após a infecção e, três ou

quatro semanas depois, as larvas são encontradas nas fezes. O intenso parasitismo

intestinal pode causar lesões mecânicas, com espessamento da parede intestinal,

secundária à resposta inflamatória, podendo causar atrofia, ulcerações e

consequentemente má absorção e diarreia. Este quadro pode evoluir para

enteropatia perdedora de proteína, hipocalemia e outros distúrbios hidroeletrolíticos.

A auto-infecção interna pode levar ao desenvolvimento de quadros graves como a

hiperinfecção e disseminação da doença. Isso ocorre devido à evolução das larvas

rabditóides para larvas filarióides infectantes, ainda na luz intestinal. Desta forma,

vários órgãos como os pulmões, o fígado, o coração, o apêndice e o sistema

nervoso central (SNC) podem ser invadidos pelo parasita, agravando o quadro

clínico e levando muitos pacientes à morte (36). Em torno de 15% a 80% dos

pacientes com hiperinfecção por S. stercoralis e disseminação do parasito vão a

óbito, provavelmente associado ao diagnóstico tardio (36). Na auto-infecção as

larvas estão confinadas nos órgãos geralmente envolvidos no ciclo pulmonar (ou

seja, trato gastrointestinal, peritônio e pulmões), embora a septicemia causada por

bactérias entéricas possa ocorrer, uma vez que as larvas filarióides transportam

bactérias intestinais para a circulação, através das ulcerações intestinais. Quando

Page 20: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

18

ocorre um desequilíbrio na relação parasita-hospedeiro, o que geralmente acontece

em pacientes imunocomprometidos, os pacientes podem desenvolver um quadro de

hiperinfecção, observando-se um número aumentado de larvas nas fezes e / ou

escarro, com presença de larvas filarióides (37). Os pacientes apresentam sintomas

que podem variar da forma aguda a insidiosa, acompanhada de fadiga, mal estar,

fraqueza e dores no corpo (38; 39). Possivelmente, a ocorrência destes sintomas se

deve ao hematofagismo do parasita, as úlceras hemorrágicas e a inflamação da

mucosa intestinal. A infecção disseminada é o termo usado para se referir a

migração das larvas para outros órgãos, além daqueles do alcance do ciclo

pulmonar, e implica em uma maior gravidade da doença. No entanto, muitos casos

de hiperinfecção, mesmo não sendo detectadas larvas fora da via pulmonar, podem

ser fatais. Na infecção disseminada, as manifestações clínicas variam a depender

dos órgãos acometidos. Geralmente os sintomas respiratórios estão presentes e se

manifestam como tosse, sibilos, rouquidão, dor torácica, hemoptise, palpitação,

fibrilação atrial, dispneia até colapso respiratório. Também são relatados casos de

esofagite, gastrite, duodenite, jejunite, colite, além de colite pseudomembranosa e

septicemia bacteriana (40). Em infecções humanas, as células do tipo Th2, os

anticorpos da classe IgE, IgA e IgG4 contribuem para resolução da infecção pelo S.

stercoralis (41). A IgE se liga aos receptores das células efetoras, especialmente aos

mastócitos e aos basófilos, e consequentemente induzem a degranulação e

liberação de mediadores da inflamação, com expulsão e morte do helminto. Os

anticorpos da classe IgA reduzem a fecundidade do verme e a viabilidade de ovos,

diminuindo a reprodução das larvas (41). Por sua vez, a interleucina 4 (IL-4) modula

a produção de classes de imunoglobulinas pelas células B ativadas, resultando na

maior liberação de IgE e IgG4. Além disso, a IL-4 e a IL-13 estimulam a produção do

fluido intestinal, contribuindo também para eliminação do parasita. Por outro lado,

IgG4 bloqueia a ligação da IgE na superfície dos mastócitos e dos basófilos,

modulando a resposta efetora da IgE (41; 42).

Nos casos de co-infecção pelo S. stercoralis e o vírus HTLV-1, ocorre um

decréscimo da secreção das citocinas IL-4, IL-5, IL-13 e da IgE específica. Com a

persistência da infecção pelo HTLV-1, uma elevada expressão do IFN-𝛾 e das

citocinas produzidas pelas células do tipo T regulatórias (Treg), como o fator de

necrose tumoral (TGF beta) e da IL-10, modulam negativamente a resposta Th2,

favorecendo a susceptibilidade à infecção pelo S. stercoralis e possível

Page 21: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

19

disseminação da doença (43; 44; 45; 46). Na década de 80, a infecção pelo HIV

(virus da imunodeficiência humana) associada à hiperinfecção pelo S. stercoralis era

considerada uma doença oportunista. Atualmente, muitos trabalhos demonstram que

a susceptibilidade à infecção destes pacientes não difere de outros grupos

estudados (47). Na infecção pelo HIV, observa-se uma progressiva alteração do

sistema imunológico, com destruição das células TCD4+, pelo efeito citopático do

vírus, ou ainda, pela citotoxicidade mediada pela célula TCD8+. Desta forma, a

diminuição quantitativa do número e a alteração da função das células TCD4+ levam

a uma redução da produção das citocinas do tipo Th1, como a IL-2, IFN-𝛾 e TNF

(48). A maioria dos casos de hiperinfecção associada à infecção pelo HIV ocorre em

pacientes que receberam previamente esteroides, seja como tratamento adjuvante

para pneumonia por Pneumocystis carinii (49) ou como parte de um esquema

quimioterápico para linfoma não- Hodgkin (50).

A infecção por estrongiloides é superior a 25% da população em áreas

tropicais, mas a hiperinfecção como apresentada pelo paciente é rara. Geralmente

se associa a síndrome consumptiva, septicemia e exantema, comuns a este relato,

mas também diarreia e sintomas pulmonares, em contraste com a semiobstrução

sem alterações respiratórias deste paciente. Diversas formas de imunodeficiência

estão associadas a apresentação grave, entre elas a infecção pelo HTLV-1, comum

no Brasil.

A infecção pelo HTLV-1 é um fator de risco bem conhecido para a síndrome de

hiperinfecção. A alta produção de IFN-𝛾 observada em pacientes co-infectados com

HTLV-1 e S. stercoralis diminui a produção de IL-4, IL-5, IL-13 e IgE, moléculas que

participam do mecanismo de defesa do hospedeiro contra helmintos. Além disso, há

uma diminuição na eficácia do tratamento de S. stercoralis em pacientes co-

infectados com o HTLV-1 (52). Geralmente, a síndrome de hiperinfecção está

associada a morbidade e mortalidade significativas que podem ser evitadas pelo

diagnóstico e tratamento precoces. Se não tratada, a taxa de mortalidade da doença

disseminada se aproxima de 100%. Isso está relacionado, em parte, a um atraso no

diagnóstico e no início do tratamento, bem como à sepse gram-negativa associada.

Propõe-se que as larvas transportem bactérias do cólon durante a sua migração

para o sistema venoso, levando à translocação para o sangue e outros tecidos,

incluindo as meninges. Os organismos comumente relatados incluem bastonetes

Gram-negativos, como E. coli e cocos Gram-positivos, por exemplo, Streptococcus

Page 22: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

20

bovis. A bacteremia recorrente por E. coli e a meningite por S. bovis são uma

manifestação dessa translocação (53).

O diagnóstico da síndrome de hiperinfecção pode ser difícil. Embora a

eosinofilia seja um achado comum em pacientes com infecção crônica por

Strongyloides, ela é um preditor pouco confiável da síndrome de hiperinfecção. Até

75% das pessoas com estrongiloidíase crônica têm eosinofilia periférica leve ou

níveis elevados de IgE. No entanto, a eosinofilia periférica esteve presente em

apenas 12/73 casos (16,4%) de infecção disseminada. (54, 55). Semelhante à

apresentação do nosso paciente, a ausência de eosinofilia durante o tratamento com

corticosteroides não pode excluir com segurança a infecção subjacente por

Strongyloides. A confirmação laboratorial da estrongiloidíase baseia-se

principalmente na detecção de larvas de Strongyloides por exame microscópico das

fezes, expectoração ou LCR na infecção disseminada. Um único exame de fezes

não consegue identificar larvas em até 70% dos casos; a sensibilidade diagnóstica

para S. stercoralis aumenta para 60-70% com 3 ou mais amostras de fezes,

enquanto que até sete exames de fezes são necessários para atingir a sensibilidade

de 100% (56). As técnicas de cultura em placas de agar em fezes (APC) ou em

cultura de Baermann apresentaram maior rendimento quando comparadas à

microscopia pela técnica de Kato-Katz (57). Diferentes métodos moleculares foram

encontrados para ser mais sensível e confiável na detecção de S. stercoralis. A

sensibilidade e especificidade da nested PCR foram 100 e 91%, respectivamente,

enquanto uma PCR em tempo real rendeu 100% de sensibilidade e 91,6% de

especificidade (58). Um diagnóstico precoce neste paciente poderia ter sido

garantido na presença de sorologia. Os métodos sorológicos são as ferramentas

diagnósticas mais sensíveis disponíveis. Diversos estudos demonstraram alta

sensibilidade com especificidade de> 90% na maioria dos relatos. Esses testes

podem ser usados para tornar o diagnóstico e a triagem mais importantes como um

possível teste de cura (59).

As opções de tratamento incluem albendazol, tiabendazol e ivermectina. Em

recente revisão Cochrane, a ivermectina tem se mostrado mais eficaz que o

albendazol (RR: 1,79; IC: 1,55 a 2,08) e igualmente eficaz para o tiabendazol, mas a

ivermectina foi mais tolerável do que o tiabendazol (RR: 1,07; IC: 0,96 a 1,20) (59).

Geralmente é administrado por via oral; injeção subcutânea (formulação veterinária)

e enema de retenção também foram utilizados. A duração do tratamento da

Page 23: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

21

síndrome de hiperinfecção é variável. O CDC recomenda ivermectina, 200 μg / kg

por dia por via oral, até que as fezes e / ou exames de escarro sejam negativos por

duas semanas. Se possível, a terapia imunossupressora deve ser interrompida ou

reduzida.

O diagnóstico final do paciente foi de estrongiloidíase disseminada com choque

séptico associado a suboclusão intestinal. Os principais indicadores que levaram a

esse diagnóstico foram os resultados da esofagogastroduodenoscopia. Houve

sintomas semelhantes relacionados a essa doença com base na endoscopia

digestiva alta. (60; 61). No entanto, esses resultados não são específicos para a

estrongiloidíase disseminada e também estão associados a outras patologias.

Recentemente, outros relatos (62) indicaram que o tratamento da estrongiloidíase

disseminada em pacientes imunocomprometidos com ivermectina é eficaz, embora

ainda seja motivo de controvérsia. Foi mostrado que, o uso enteral dessa medicação

pode causar alterações farmacocinéticas em caso de íleo paralítico (63),

prejudicando sua biodisponibilidade e levando a concentrações mais baixas do

fármaco do que em sua formulação subcutânea (0,8 vs. 11,4-17,2 ng / mL). (64). Por

outro lado, argumenta-se também que a via oral fornece a concentração adequada

no plasma e líquido cefalorraquidiano do fármaco, (65) contradizendo os achados

mencionados anteriormente. Além disso, as propriedades farmacocinéticas da

ivermectina podem ser modificadas em pacientes críticos, porque a droga está

altamente ligada à albumina sérica humana. (66). A inflamação sistêmica causa

hipoalbuminemia e, portanto, tanto a concentração da droga livre quanto a ação

terapêutica estão elevadas. (64). No entanto, um estudo recente, que foi o primeiro a

documentar níveis totais e livres de ivermectina subcutânea, surpreendentemente

encontrou menos de 1% de ivermectina livre localizada no plasma. (61). Uma

possível explicação para esse achado é a forte ligação entre a droga e a alta

concentração de glicoproteínas ácidas alfa-1, que reduz a distribuição do fármaco

nos tecidos e contribui para resultados terapêuticos ruins. (61).

Tratamentos bem sucedidos (65) e malsucedidos (61) de estrongiloidíase

disseminada foram encontrados. Em um relato de caso descrito por Rose et al., (66)

a paciente foi tratada exclusivamente com ivermectina oral, e essa terapia foi

ineficaz; o nemátodo não foi eliminado e o paciente morreu. Em outros relatos, no

entanto, o uso enteral dessa droga erradicou com sucesso o S. stercoralis, mas o

paciente ainda morreu devido a complicações de toxicidade (64; 67) ou devido à

Page 24: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

22

gravidade da doença subjacente. (68; 69). No caso descrito no presente artigo,

foram documentados desfechos favoráveis, pois não houve achado de larva nas

fezes ou no lavado broncoalveolar e, além disso, o paciente sobreviveu e recebeu

alta da unidade de terapia intensiva e do hospital. A dose de ivermectina subcutânea

utilizada foi de 15 mg por dia durante os primeiros quatro dias (214g / kg) e, cinco

dias após a interrupção da ivermectina parenteral, foi iniciada uma terapia adicional

de sete dias (20mg por dia; 285g / kg). porque o paciente apresentava piora do

estado neurológico e febre. O uso entérico de ivermectina pode resultar em falha

terapêutica; Além disso, em algumas situações, atinge níveis plasmáticos

adequados. Neste paciente, o uso parenteral desta droga foi essencial para o

sucesso terapêutico. Considerando que os dados extrapolados de experimentos

com animais são insuficientes, é extremamente importante que os relatos sobre o

uso da ivermectina parenteral em humanos sejam discutidos, juntamente com sua

viabilidade e sua toxicidade, para continuar a melhorar o tratamento dessa forma

devastadora de estrongiloidíase. Por outro lado, a estrongiloidíase é frequentemente

uma infecção assintomática do intestino delgado. A imunossupressão pode levar à

hiperinfecção com disseminação de S. stercoralis para quase todos os órgãos, com

sepse bacteriana. (70). A síndrome de hiperinfecção está frequentemente associada

à administração de corticosteróides e outras condições imunossupressoras, como as

doencas malignas. (19). Essa doença é potencialmente letal, com taxas de

mortalidade de até 87%, e é caracterizada por envolvimento gastrointestinal e / ou

pulmonar. (71). As manifestações clínicas do comprometimento gastrointestinal

incluem dor abdominal, diarréia, sangramento, náusea e vômito. O diagnóstico é

desafiador devido a características clínicas inespecíficas e pode ser feito por meio

de biópsia de alterações suspeitas na endoscopia digestiva alta. (72).

Strongyloides stercoralis é um nematoide com notável capacidade de continuar

reproduzindo-se dentro de um hospedeiro humano por meio de um ciclo de

autoinfecção que leva a uma infecção de longo prazo, potencialmente persistindo -

na ausência de tratamento - por décadas. (73; 74). Entretanto, indivíduos com

comprometimento da defesa do hospedeiro (particularmente o excesso de

corticosteróides e a infecção pelo HTLV-I) estão sob risco de proliferação larval

acelerada (75) e alta carga parasitária levando à hiperinfecção por S. stercoralis.

Hemorragia gastrointestinal grave pode ocorrer na hiperinfecção devido à invasão

larvar maciça da mucosa GI. (73) Invasão larval extra-intestinal disseminada além do

Page 25: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

23

padrão normal de migração e em órgãos extraintestinais é característica da

estrongiloidíase disseminada, também conhecida como superinfecção, que pode

levar a sequelas graves como meningite, bacteremia polimicrobiana, sepse e morte

(73; 75; 76). A estrongiloidíase é tipicamente diagnosticada em casos leves quando

um paciente com histórico de viagem relevante apresenta eosinofilia, possivelmente,

mas nem sempre acompanhada de dor abdominal ou outras queixas. O exame

clínico, o teste laboratorial, a imagem e a endoscopia não são específicos na

ausência de um diagnóstico etiológico, que pode ser obtido pela visualização de

parasitas em exames de fezes (insensíveis), histopatológicos (invasivos) ou

sorológicos (que podem ter reações cruzadas com outros helmintos). A eosinofilia

em níveis baixos ou altos pode ser o único a sugerir infecção subclínica por

Strongyloides, mas na presença de excesso de corticosteróides ou coinfecção por

HTLV-I (outro fator de risco para estrongiloidíase complicada) é distintamente

incomum e pode estar ausente na hiperinfecção por Strongyloides. A presença

variável de eosinofilia na hiperinfecção por Strongyloides está provavelmente

relacionada a superinfecções bacterianas ou a causas desconhecidas da resposta

imune do hospedeiro. Os sintomas inespecíficos da hiperinfecção por S. stercoralis

podem retardar o diagnóstico, levando a sequelas graves, incluindo fibrose,

perfuração da parede intestinal ou sepse gram-negativa. (73).

Page 26: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

24

5. CONCLUSÃO

Uma característica fundamental ilustrada por este caso é que a presença de

estrongiloidíase grave deve levar à suspeita de imunodeficiência subjacente. Os

médicos devem manter um alto índice de suspeita ao tratar pacientes em países

desenvolvidos ou áreas urbanas, onde a infecção por estrongiloidíase pode ser

incomum. Histórias de viagens e imigração são essenciais para avaliar os riscos de

exposição. A estrongiloidíase é endêmica na Europa Oriental, América Latina, África,

sudeste da Ásia e no sul dos Estados Unidos, (77; 78) garantindo uma alta suspeita

de estrongiloidíase em pacientes dessas áreas. Segundo as diretrizes da

Organização Mundial da Saúde, a ivermectina tem uma taxa de cura de 82,9%

baseada em um ensaio randomizado realizado em crianças, mas em pacientes com

hiperinfecção e / ou disseminação, múltiplas doses podem ser necessárias até que

as fezes e / ou expectoração sejam negativas por 2 semanas (79). Normalmente, a

amostragem de fezes seriada é usada para monitorar a resposta ao tratamento. No

entanto, nosso paciente nunca teve um exame de fezes positivo, apesar da coleta

repetida de fezes, quando foram encontradas os parasitas na endoscopia digestiva

alta. A ausência de achados fecais em pacientes com hiperinfecção já foi descrita

anteriormente. Em vez disso, a contagem absoluta de eosinófilos foi usada como um

biomarcador para avaliar a depuração do parasita. A contagem de eosinófilos foi

normal após cada tratamento de 2 dias com ivermectina (200 μg / kg / dia). Uma vez

feito o diagnóstico de hiperinfecção por Strongyloides, o paciente deve ser avaliado

quanto à imunossupressão subjacente. A eosinofilia em um imigrante de uma área

endêmica deve levantar suspeita clínica de infecção helmíntica, mesmo na ausência

de sintomas. A associação entre S. stercoralis e HTLV-1 foi relatada pela primeira

vez em Okinawa, Japão (80). A taxa de infecção por S. stercoralis em Belem, estado

do Para foi de 14,3% entre os pacientes infectados pelo HTLV-1 (81). Esse resultado

foi consistente com outros dois relatos do Brasil, especificamente das cidades de

São Paulo (12,1%) (82) e Salvador (15,7%) (45).

Finalmente, indicar que o presente trabalho, mostra a importância de

considerar esse tipo de diagnóstico, por exemplo em pacientes que tenham proposta

de uso de terapias imunosupressoras, devido a doenças hematológicas,

reumatológicas, transplante de órgão, etc., devido a alta prevalência de infecção por

Page 27: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

25

S. Stercoralis e possibilidade de desenvolvimento de quadros graves de

hiperinfecção, como o descrito no presente relato de caso.

Page 28: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

26

6. REFERÊNCIAS

1. Lam CS, Tong MK, Chan KM, Siu YP. Disseminated strongyloidiasis: a

retrospective study of clinical course and outcome. Eur J Clin Microbiol Infect

Dis. 2006; 25(1):14-8.

2. Prendki V, Fenaux P, Durand R, Thellier M, Bouchaud O. Strongyloidiasis in

man 75 years after initial exposure. Emerg Infect Dis. 2011; 17(5):931-2.

3. Greaves D, Coggle S, Pollard C, Aliyu SH, Moore EM. Strongyloides

stercoralis infection. BMJ. 2013; 30;347:f4610.

4. Requena-Méndez A, Chiodini P, Bisoffi Z, Buonfrate D, Gotuzzo E, Muñoz J.

The laboratory diagnosis and follow up of strongyloidiasis: a systematic

review. PLoS Negl Trop Dis. 2013; 7(1):e2002.

5. Montes M, Sawhney C, Barros N. Strongyloides stercoralis: there but not

seen. Curr Opin Infect Dis. 2010; 23(5):500-4.

6. Grove DI. Human Strongyloidiasis. Advances in Parasitology. 1996; v.38,

p.251-309.

7. Keiser PB, Nutman TB. Strongyloides stercoralis in the Immunocompromised

Population. Clin Microbiol Rev. 2004; 17(1):208-17.

8. Buonfrate D, Angheben A, Gobbi F, Muñoz J, Requena-Mendez A, Gotuzzo

E, Mena MA, Bisoffi Z. Imported strongyloidiasis: epidemiology, presentations,

and treatment. Curr Infect Dis Rep. 2012; 14(3):256-62.

9. Montes M, Sanchez C, Verdonck K, Lake JE, Gonzalez E, Lopez G,

Terashima A, Nolan T, Lewis DE, Gotuzzo E, White AC Jr. Regulatory T cell

expansion in HTLV-1 and strongyloidiasis co-infection is associated with

reduced IL-5 responses to Strongyloides stercoralis antigen. PLoS Negl Trop

Dis. 2009; 9;3(6):456.

10. Ludwig, K. M.; Frei, F.; Alvares Filho, F.; Ribeiro-Paes, J. T. Correlaçäo entre

condiçöes de saneamento básico e parasitoses intestinais na populaçäo de

Assis, Estado de Säo Paulo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina

Tropical, v. 32, n. 5, p. 547–55, out. 1999.

11. Kobayashi, J.; Hasegawa, H.; Forli, A. A.; Nishimura, N. F.; Yamanaka, A.;

Shimabukuro, T.; Sato, Y. Prevalence of intestinal parasitic infection in five

Page 29: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

27

farms in Holambra, São Paulo, Brazil. Revista do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo, v. 37, n. 1, p. 13–18, fev. 1995.

12. Sato, Y.; Kobayashi J.; Toma, H.; Shiroma, Y, S. Efficacy of Stool Examination

for Detection of Strongyloides Infection. The American journal of tropical

medicine and hygiene, v. 53, n. 3, p. 248–250, set. 1995.

13. Ronan, S. G.; Reddy, R. L.; Manaligod, J. R.; Alexander, J.; Fu, T.

Disseminated strongyloidiasis presenting as purpura. Journal of the American

Academy of Dermatology, v. 21, n. 5, Part 2, p. 1123–1125, nov. 1989.

14. Pires ML, Dreyer G. Revendo a importancia do Strongyloides stercoralis. Rev

Hosp Clin Fac Med Univ São Paulo. 1993; 48(4):175-82.

15. Paula FM, Costa-Cruz JM. Epidemiological aspects of strongyloidiasis in

Brazil. Parasitology. 2011; 138(11):1331-40.

16. De Paula, F. M.; De Castro, E.; Goncalvez-Pires, M. D; Marcal, M. D;

Campos, D. M.; Costa-Cruz, J. M. Parasitological and Immunological

Diagnoses of Strongyloidiasis in Immunocompromised and Non

Immunocompromised Children at Uberlândia, State of Minas Gerais, Brazil.

Revista Do Instituto De Medicina Tropical De São Paulo, v. 42, n. 1, p. 51–55,

fev. 2000.

17. Marques, T.; Marcia, S.; Bandeira, C.; Marinho De Quadros, R. Prevalência

de enteroparasitoses em Concórdia, Santa Catarina, Brasil. Parasitología

latinoamericana, v. 60, n. 1-2, p. 78–81, jun. 2005.

18. Hurtado-Guerrero, A. F.; Alencar, F. H.; Hurtado-Guerrero, J. C. Ocorrência

de enteroparasitas na população geronte de Nova Olinda do Norte

Amazonas, Brasil. Acta amazônica, v. 35, n. 4, p. 487–490, dez. 2005.

19. Machado, E. R.; Teixeira, E. M.; Goncalves-Pires, M. do Rosário F.; Loureiro,

Z. M.; Araujo, R. A.; Costa-Cruz, J. M. Parasitological and immunological

diagnosis of Strongyloides stercoralis in patients with gastrointestinal cancer.

Scandinavian Journal of Infectious Diseases, v. 40, n. 2, p. 154–158, 1 jan.

2008.

20. Tavares Dias, M.; Grandini, A. A. Prevalência e aspectos epidemiológicos de

enteroparasitoses na populaçäo de Säo José da Bela Vista, Säo Paulo.

Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 32, n. 1, p. 63–5, fev.

1999.

Page 30: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

28

21. Santos, L. P.; Santos, F. L. N.; Soares, N. M. Prevalência de parasitoses

intestinais em pacientes atendidos no Hospital Universitário Professor Edgar

Santos , Salvador - Bahia. Revista de Patologia Tropical, v. 36, n. 3, p. 237–

246, 22 jan. 2008.

22. Cimerman, S.; Castañeda, C. G.; Juliano, W. A.; Palacios, R. Perfil das

enteroparasitoses diagnosticadas em pacientes con infecção pelo vírus HIV

na era da terapia antiretroviral potente em um centro de referência em São

Paulo: Brasil. Parasitología latinoamericana, v. 57, n. 3/4, p. 111–118, dez.

2002.

23. Da Silva, C. V.; Ferreira, M. S.; Borges, A. S.; Costa-Cruz, J. M. Intestinal

parasitic infections in HIV/AIDS patients: Experience at a teaching hospital in

central Brazil. Scandinavian Journal of Infectious Diseases, v. 37, n. 3, p.

211–215, 1 jan. 2005.

24. Carvalho, E. M.; Porto, A. da F. Epidemiological and Clinical Interaction

between HTLV-1 and Strongyloides stercoralis. Parasite Immunology, v. 26, n.

11-12, p. 487–497, 1 nov. 2004.

25. Machado, E. R.; Texeira, E. M.; Goncalves-Pires, M. do Rosário F.; Loureiro,

Z. M.; Araujo, R. A.; Costa-Cruz, J. M. Parasitological and immunological

diagnosis of Strongyloides stercoralis in patients with gastrointestinal cancer.

Scandinavian Journal of Infectious Diseases, v. 40, n. 2, p. 154–158, 1 jan.

2008.

26. Oliveira, L. C. M. de; Ribeiro, C. T.; Mendes, D. de M.; Oliveira, T. C.; Costa-

Cruz, J. M. Frequency of Strongyloides stercoralis Infection in Alcoholics.

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 97, n. 1, p. 119–121, jan. 2002.

27. Neves DP. Parasitologia Dinâmica. 3 ed., São Paulo: Atheneu, 2009.

28. Nutman TB. Human infection with Strongyloides stercoralis and other related

Strongyloides species. Parasitology. 2016; 16:1-11.

29. Breloer M, Abraham D. Strongyloides infection in rodents: immune response

and immune regulation. Parasitology. 2016; 24:1-21.

30. Genta RM. Global prevalence of strongyloidiasis: critical review with

epidemiologic insights into the prevention of disseminated disease. Rev Infect

Dis. 1989; 11(5):755-67.

31. Liu LX, Weller PF. Strongyloidiasis and other intestinal nematode infections.

Infect Dis Clin North Am. 1993; 7(3):655-82.

Page 31: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

29

32. Nolan TJ, Bhopale VM, Schad GA. Hyperinfective strongyloidiasis:

Strongyloides stercoralis undergoes an autoinfective burst in neonatal gerbils.

J Parasitol. 1999; 85(2):286-9.

33. Nolan TJ, Megyeri Z, Bhopale VM, Schd GA. Strongyloides stercoralis: the

first rodent model for uncomplicated and hyperinfective strongyloidiasis, the

Mongolian Gerbil (Meriones unguiculatus). J Infec Dis. 1993; 168:1479-84.

34. Maruyama, H.; Nishimaki, A.; Takuma, Y.; Kurimoto, M.; Suzuki, T.; Gordon,

S. M.; Gal, A. A.; Solomon, A. R.; Bryan, J. A. Disseminated Strongyloidiasis

with Cutaneous Manifestations in an Immunocompromised Host. Journal of

the American Academy of Dermatology, v. 31, n. 2 Pt 1, p. 255–259, ago.

1994.

35. Porto, M. A. F.; Muniz, A.; Oliveira Junior, J.; Carvalho, E. M. Clinical and

immunological consequences of the association between HTLV-1 and

strongyloidiasis. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 35,

n. 6, p. 641–649, dez. 2002.

36. Vadlamudi, R. S.; Chi, D. S.; Krishnaswamy, G. Intestinal Strongyloidiasis and

Hyperinfection Syndrome. Clinical and Molecular Allergy, v. 4, n. 1, p. 8, 30

maio 2006.

37. Souza, J. N. de; Machado, P. R. L.; Texeira, M. C. A.; Soares, N. M.

Recurrence of Strongyloides stercoralis Infection in a Patient with Hansen’s

Disease: A Case Report. Leprosy Review, v. 85, n. 1, p. 58–62, mar. 2014.

38. Vandebosch, S.; Mana, F.; Goossens, A.; Urbain, D. Strongyloides stercoralis

Infection Associated with Repititive Bacterial Meningitis and SIADH: A Case

Report. Acta Gastro-Enterologica Belgica, v. 71, n. 4, p. 413–417, dez. 2008.

39. Wurtz, R.; Mirot, M.; Fronda, G.; Peters, C.; Kocka, F. Short Report: Gastric

Infection by Strongyloides stercoralis. The American Journal of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 51, n. 3, p. 339–340, set. 1994.

40. Suarez, A.; Sanchez, C. [Strongyloides stercoralis: histopathological findings

of duodenal mucosa (1999-2005)]. Revista De Gastroenterología Del Perú:

Órgano Oficial De La Sociedad De Gastroenterología Del Perú, v. 26, n. 1, p.

44–48, mar. 2006.

41. Atkins; Conway; Lindo; Bailey; Bundy. L3 Antigen-Specific Antibody Isotype

Responses in Human Strongyloidiasis: Correlations with Larval Output.

Parasite Immunology, v. 21, n. 10, p. 517–526, 1 out. 1999.

Page 32: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

30

42. Mota-Ferreira, D. M. L.; Goncalves-Pires, M. do R. F.; Junior, A. F.; Sopelete,

M. C.; Abdallah, V. O. S.; Costa-Cruz, J. M. Specific IgA and IgG Antibodies in

Paired Serum and Breast Milk Samples in Human Strongyloidiasis. Acta

Tropica, v. 109, n. 2, p. 103–107, fev. 2009.

43. Porto, A. F.; Neva, F. A.; Bittencourt, H.; Lisboa, W.; Thompson, R.; Alcantara,

L.; Carvalho, E. M. HTLV-1 Decreases Th2 Type of Immune Response in

Patients with Strongyloidiasis. Parasite Immunology, v. 23, n. 9, p. 503–507,

set. 2001.

44. Carvalho, E. M.; Porto, A. da F. Epidemiological and Clinical Interaction

between HTLV-1 and Strongyloides stercoralis. Parasite Immunology, v. 26, n.

11-12, p. 487–497, 1 nov. 2004.

45. Keiser, P. B.; Nutman, T. B. Strongyloides stercoralis in the

Immunocompromised Population.Clinical Microbiology Reviews, v. 17, n. 1, p.

208–217, 1 jan. 2004.

46. Belkaid, Y. Regulatory T Cells and Infection: A Dangerous Necessity. Nature

Reviews. Immunology, v. 7, n. 11, p. 875–888, nov. 2007.

47. Feitosa, G.; Bandeira, A. C.; Sampaio, D. P.; Badaro, R.; Brites, C. High

Prevalence of Giardiasis and Stronglyloidiasis among HIV-Infected Patients in

Bahia, Brazil. The Brazilian Journal of Infectious Diseases: An Official

Publication of the Brazilian Society of Infectious Diseases, v. 5, n. 6, p. 339–

344, dez. 2001.

48. Machado, P. R. L.; Araujo, M. I. A. S.; Carvalho, L.; Carvalho, E. M.

Mecanismos de resposta imune às infecções. Anais brasileiros de

dermatologia, v. 79, n. 6, p. 647–662, dez. 2004.

49. Cirioni, O.; Giacometti, A.; Burzacchini, F.; Balducci, M.; Scalise, G.

Strongyloides stercoralis First-Stage Larvae in the Lungs of a Patient with

AIDS: Primary Localization or a Noninvasive Form of Dissemination? Clinical

Infectious Diseases: An Official Publication of the Infectious Diseases Society

of America, v. 22, n. 4, p. 737, abr. 1996.

50. Dutcher, J. P.; Marcus, S. L.; Janowitz, H. B.; Wittner, M.; Fuks, J. Z.; Wiernik,

P. H. Disseminated Strongyloidiasis with Central Nervous System Involvement

Diagnosed Antemortem in a Patient with Acquired Immunodeficiency

Syndrome and Burkitts Lymphoma. Cancer, v. 66, n. 11, p. 2417–2420, 1 dez.

1990.

Page 33: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

31

51. E. M. Carvalho and A. Da Fonseca Porto, “Epidemiological and clinical

interaction between HTLV-1 and Strongyloides stercoralis,” Parasite

Immunology, vol. 26, no. 11-12, pp. 487–497, 2004.

52. T. T. Khan, F. Elzein, A. Fiaar, and F. Akhtar, “Recurrent Streptococcus bovis

meningitis in Strongyloides stercoralis hyperinfection after kidney

transplantation the dilemma in a non-endemic area,” The American Journal of

Tropical Medicine and Hygiene, vol. 90, no. 2, pp. 312–314, 2014.

53. D. Buonfrate, A. Requena-Mendez, A. Angheben et al., “Severe

strongyloidiasis: a systematic review of case reports,” BMC Infectious

Diseases, vol. 13, no. 1, article 78, 2013.

54. Centers for Disease Control and Prevention, “Transmission of Strongyloides

stercoralis through transplantation of solid organs—Pennsylvania, 2012,”

MMWR Morbidity and Mortality Weekly Report, vol. 62, no. 14, pp. 264–266,

2013.

55. I. Izquierdo, J. Briones, R. Lluch, C. Arqueros, and R. Martino, “Fatal

Strongyloides hyperinfection complicating a gramnegative sepsis after

allogeneic stem cell transplantation: a case report and review of the literature,”

Case Reports inHematology, vol. 2013, Article ID 860976, 5 pages, 2013.

56. P. Steinmann, X.-N. Zhou, Z.-W. Du et al., “Occurrence of Strongyloides

stercoralis in Yunnan Province, China, and comparison of diagnostic

methods,” PLoS Neglected Tropical Diseases, vol. 1, no. 1, article e75, 2007.

57. M. R. Watts, G. Robertson, and R. S. Bradbury, The Laboratory Diagnosis of

Strongyloides, vol. 1, The Australian Society for Microbiology, Canberra,

Australia, 2016. [24] P. P. Yori, M. Kosek, R. H. Gilman et al.,

“Seroepidemiology of strongyloidiasis in the Peruvian Amazon,” American

Journal of Tropical Medicine and Hygiene, vol. 74, no. 1, pp. 97–102, 2006.

58. D. Buonfrate, F. Formenti, F. Perandin, and Z. Bisoffi, “Novel approaches to

the diagnosis of Strongyloides stercoralis infection,” ClinicalMicrobiology and

Infection, vol. 21, no. 6, pp. 543– 552, 2015.

59. C. Henriquez-Camacho, E. Gotuzzo, J. Echevarria et al., “Ivermectin versus

albendazole or thiabendazole for Strongyloides stercoralis infection,”

Cochrane Database of Systematic Reviews, no. 1, Article IDCD007745, 2016.

Page 34: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

32

60. Marty FM, Lowry CM, Rodriguez M, et al. Treatment of human disseminated

strongyloidiasis with a parenteral veterinary formulation of ivermectin. Clin

Infect Dis. 2005;41:e5–8.

61. Leung V, Al-Rawahi GN, Grant J, Fleckenstein L, Bowie W. Failure of

subcutaneous ivermectin in treating Strongyloides hyperinfection. Am J Trop

Med Hyg. 2008;79:853–5.

62. Luna OB, Grasselli R, Ananias M, et al. Estrongiloidíase disseminada:

diagnóstico e tratamento. Rev Bras Ter Int. 2007;19:463–8.

63. Nonaka D, Takaki K, Tanaka M, et al. Paralytic ileus due to strongyloidiasis:

case report and review of the literature. Am J Trop Med Hyg. 1998;59:535–8.

64. Turner SA, Maclean JD, Fleckenstein L, Greenaway C. Parenteral

administration of ivermectin in a patient with disseminated strongyloidiasis. Am

J Trop Med Hyg. 2005;73:911–4.

65. Salluh JIF, Feres GA, Velasco E, Holanda GS, Toscano L, Soares M.

Successful use of parenteral ivermectin in an immunosuppressed patient with

disseminated strongyloidiasis and septic shock. Intensive Care Med.

2005;31:1292.

66. Rose CE, Paciullo CA, Kelly DR, Dougherty MJ, Fleckenstein LL. Fatal

outcome of disseminated strongyloidiasis despite detectable plasma and

cerebrospinal levels of orally administered ivermectin. J Parasitol Res.

2009:818296.

67. Hauber HP, Galle J, Chiodini PL, et al. Fatal outcome of a hyperinfection

syndrome despite successful eradication of Strongyloides with subcutaneous

ivermectin. Infection. 2005;33:383–6.

68. Chiodini PL, Reid AJ, Wiselka MJ, Firmin R, Foweraker J. Parenteral

ivermectin in Strongyloides hyperinfection. Lancet. 2000;355:43–4.

69. Pacanowski J, Santos MD, Roux A, et al. Subcutaneous ivermectin as a safe

salvage therapy in Strongyloides stercoralis hyperinfection syndrome: a case

report. Am J Trop Med Hyg. 2005;73:122–4.

70. Lim S, Katz K, Krajden S, Fuksa M, Keystone JS, Kain KC. Complicated and

fatal Strongyloides infection in Canadians: risk factors, diagnosis and

management. CMAJ. 2004; 171(5):479-84.

Page 35: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

33

71. Marcos LA, Terashima A, Dupont HL, Gotuzzo E. Strongyloides hyperinfection

syndrome: an emerging global infectious disease. Trans R Soc Trop Med Hyg.

2008; 102(4):314-8.

72. Keiser PB, Nutman TB. Strongyloides stercoralis in the immunocompromised

population. Clin Microbiol Rev. 2004; 17(1):208-17.

73. Csermely L, Jaafar H, Kristensen J, Castella A, Gorka W, Chebli AA, Trab F,

Alizadeh H, Hunyady B, 2006. Strongyloides hyper-infection causing life-

threatening gastrointestinal bleeding. World J Gastroenterol 12: 6401 6404.

74. Keiser PB, Nutman TB, 2004. Strongyloides stercoralis in the

immunocompromised population. Clin Microbiol Rev 17: 208–217.

75. Cummins RO, Suratt PM, Horwitz DA, 1978. Disseminated Strongyloides

stercoralis infection. Association with ectopic ACTH syndrome and depressed

cell-mediated immunity. Arch Intern Med 138: 1005–1006.

76. Puthiyakunnon S, Boddu S, Li Y, Zhou X, Wang C, Li J, Chen X, 2014.

Strongyloidiasis—an insight into its global prevalence and management. PLoS

Negl Trop Dis 8: e3018.

77. Concha R, Harrington W Jr, Rogers AI, 2005. Intestinal strongyloidiasis:

recognition, management, and determinants of outcome. J Clin Gastroenterol

39: 203–211.

78. Siddiqui AA, Berk SL, 2001. Diagnosis of Strongyloides stercoralis infection.

Clin Infect Dis 33: 1040–1047.Centers for Disease Control and Prevention,

2012. Parasites: Strongyloides. Available at: http://www.cdc.gov/parasites/

strongyloides/health_professionals/.

79. Nakada K, Kohakura M, Komoda H, Hinuma Y. High incidence of HTLV

antibody in carriers of Strongyloides stercoralis. Lancet 1984; 1 (8377):633.

80. Furtado KCYO, da Costa CA, Ferreira LSC, Martins LC, da Costa Linhares A,

Ishikawa EAY, Batista EJO, de Souza MS. Occurrence of strongyloidiasis

among patients with HTLV-1/2 seen at the outpatient clinic of the Núcleo de

Medicina Tropical, Belém, State of Pará, Brazil. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical 46(2):241-243, Mar-Apr, 2013

http://dx.doi.org/10.1590/0037-8682-981-2013

81. Chieffi PP, Chiattone CS, Feltrim EN, Alves RC, Paschoalotti MA. Coinfection

by Strongyloides stercoralis in blood donors infected with human T-cell

Page 36: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

34

leukemia/lymphoma virus type 1 in São Paulo City, Brazil. Mem Inst Oswaldo

Cruz 2000; 95:711-712.

Page 37: HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL …

35

ANEXO A - RESULTADO DE BIÓPSIA

(Fonte: Prontuário do Hospital do Servidor Público Municipal)