DeepakChopraCienciaxEspiritualidade

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Este livro abrange dezoito tópicos, nototal, com ensaios dos dois autores. Cadapensador contou seu lado da história, umtema de cada vez. Porém, em cadatópico, quem escreveu depois fez issocom o texto do outro à mão, sentindo-seà vontade para apresentar uma réplica.Como as réplicas tendem a convencer asplateias, buscou-se ser justo sobre quemteria essa vantagem.

Transcript of DeepakChopraCienciaxEspiritualidade

  • Ttulo original:

    War of the Worldviews

    (Science vs. Spirituality)

    Copyright 2011, Deepak Chopra e Leonard

    Mlodinow

    Copyright da edio brasileira 2012:

    GMT Editores Ltda.

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    Preparao: Angela Ramalho Vianna | Reviso:

  • Eduardo Farias, Vania Santiago

    Indexao: Nelly Praa | Capa: Srgio Campante

    Fotos da capa: Adrien Dewisme/Getty Images

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DELIVROS, RJ

    C476c

    Chopra, Deepak, 1946-

    Cincia x espiritualidade [recurso eletrnico]

    / Deepak Chopra e Leonard Mlodinow

    [traduo de Cludio Carina]; Rio de Janeiro:

    Sextante, 2012.

    recurso digital; il.

    Traduo de: War of the worldviews

  • 12-5491

    Formato: ePub

    Requisitos do sistema: Adobe Digital

    Editions

    Modo de acesso: World Wide Web

    ISBN 978-85-7542-841-2 (recurso eletrnico)

    1. Religio e cincia. 2. Livros eletrnicos. I.

    Mlodinow, Leonard, 1954-. II. Ttulo.

    CDD: 201.65

    CDU: 2-67

  • A todos os sbios e cientistasque expandiram a mente humana

  • SUMRIO

    Prefcio

    Parte I: A GUERRA

    1. PerspectivasA perspectiva espiritual: DeepakA perspectiva cientfica: Leonard

    Parte II: O COSMO

    2. Como surgiu o Universo?

  • Leonard | Deepak

    3. O Universo consciente?Deepak | Leonard

    4. O Universo evolui?Deepak | Leonard

    5. Qual a natureza do tempo?Leonard | Deepak

    6. O Universo est vivo?Deepak | Leonard

    Parte III: VIDA

    7. O que a vida?Leonard | Deepak

    8. H um projeto no Universo?

  • Leonard | Deepak

    9. O que nos torna humanos?Deepak | Leonard

    10. Como funcionam os genes?Leonard | Deepak

    11. Darwin deu errado?Deepak | Leonard

    Parte IV: MENTE E CREBRO

    12. Qual a conexo entre mente ecrebro?

    Leonard | Deepak

    13. O crebro determina o

  • comportamento?Deepak | Leonard

    14. O crebro como um computador?Leonard | Deepak

    15. O Universo pensa atravs de ns?Deepak | Leonard

    Parte V: DEUS

    16. Deus uma iluso?Deepak | Leonard

    17. Qual o futuro da f?Deepak | Leonard

    18. Existe uma realidade fundamental?

  • Leonard | Deepak

    EplogoLeonard | Deepak

    Crditos das figuras

    Agradecimentos

    ndice remissivo

  • PREFCIO

    Nada mais misterioso que o ponto devista de outra pessoa. Cada um de nstem uma perspectiva. Acreditamos quenossa viso de mundo expressa arealidade. Os amerndios do sudoeste dosEstados Unidos viajavam centenas dequilmetros para caar bisontes, masjamais comiam os peixes dos riachoslocais. Do ponto de vista deles, os peixes

  • eram os espritos de seus ancestraismortos. No Velho Testamento, osacrifcio de animais realmente mitigavaa ira de Deus. Para o povo romano, eramesmo possvel ler o futuro nasentranhas de uma galinha. Os antigosgregos consideravam uma realidade ofato de que a moral de cada umpermitisse ter escravos, de que houvessemuitos deuses, para o amor, a beleza, aguerra, o mundo subterrneo, a caa, acolheita, o mar.

    O que acontece, ento, quando duasvises de mundo se chocam? Em 399a.C., trs cidados de Atenas acusaram

  • Scrates de no reconhecer os deusestradicionais e propor novas divindades(foi incriminado tambm por corromperos jovens). A pena para esse choque devises de mundo, ou de deuses, era amorte. Durante o julgamento, Scratesrecusou-se a abjurar para escapar dasentena de culpado, tida como certa. Deacordo com Plato, ele teria dito:Enquanto eu respirar e conservarminhas faculdades, no cessarei depraticar a filosofia. Infelizmente, emmuitas partes do mundo atual, esse tipode coliso de pontos de vista aindaprovoca violncia e morte.

  • Este livro versa sobre um choque devises de mundo, mas no haver trocade golpes. A ideia surgiu quando doisestranhos se encontraram num debatetelevisado sobre o futuro de Deus. Ocenrio era um auditrio do Instituto deTecnologia da Califrnia (Caltech), e aplateia se compunha de muitosestudantes e cientistas, mas tambm deleigos, inclusive admiradores locais deDeepak. Cada pessoa tinha suas prpriasconvices pessoais sem dvidaalgumas eram religiosas , mas tambmsuas vises de mundo, algo muito maisprofundo que a f.

  • No debate da Caltech, Deepak seapresentou como defensor de uma visode mundo em geral conhecida comoespiritualismo. Um dos temas versavasobre as noes da fsica, e, no perodo deperguntas e respostas, Deepak indagou:Temos algum fsico na casa? NemLeonard nem qualquer outroresponderam. Mas, depois do debate, omoderador, sabendo que Leonard erafsico, chamou-o da plateia a fim deformular uma pergunta para Deepak. Emvez de interrog-lo, Leonard se ofereceupara lhe ensinar fsica quntica. Deepakaceitou ao fundo, ouviu-se um misto de

  • risos e aplausos. Quando comearam aconversar, descobriram que suas visesde mundo eram muito discordantes. Aoperceber a profundidade do choque,decidiram expor isso em um livro.

    A cincia ps a humanidade nocaminho da descoberta dos segredos danatureza, de dominar suas foras edesenvolver novas tecnologias usando arazo e a observao em lugar de umatrajetria emocional como ferramentaspara revelar a verdade das coisas. Aespiritualidade se orienta para umaregio invisvel e transcendente, internaao indivduo. A cincia estuda o mundo

  • tal como ele se oferece aos nossos cincosentidos e ao crebro, enquanto aespiritualidade considera que o Universotem um projeto e dotado de significadoprprio. Na viso de Deepak, o grandedesafio da espiritualidade oferecer algoque a cincia no pode dar em especial,respostas que esto no domnio daconscincia.

    Qual dos pontos de vista est correto?Ser que a cincia descreve o Universo,ou ser que ensinamentos antigos, comoa meditao, revelam mistrios que estoalm da perspectiva cientfica? Paradescobrir isso, este livro aprofunda o

  • choque de pontos de vista em trs nveis:o cosmo, ou Universo fsico, a vida e ocrebro humano. No fim, ser analisadotambm o mistrio maior, Deus. Em Ocosmo, o debate sobre a origem doUniverso, sua natureza e para onde elevai. Em Vida, discuti-se evoluo,gentica e origem da vida. Mente ecrebro aborda a neurocincia eenfrenta todas as questes sobre a mentee o corpo. E Deus refere-se no s auma divindade reguladora, comotambm ao conceito mais abrangente deuma presena divina no Universo.

    Este livro abrange dezoito tpicos, no

  • total, com ensaios dos dois autores. Cadapensador contou seu lado da histria, umtema de cada vez. Porm, em cadatpico, quem escreveu depois fez issocom o texto do outro mo, sentindo-se vontade para apresentar uma rplica.Como as rplicas tendem a convencer asplateias, buscou-se ser justo sobre quemteria essa vantagem.

    Ns dois estamos convencidos dospontos de vista que representamos.Escrevemos de maneira impetuosa,porm corts, para definir a verdade daforma como a vemos. No possvel

  • ignorar a questo a respeito de comoperceber o mundo. O melhor quepodemos fazer tanto os autores quantoos leitores entrar na contenda. O quepoderia ser mais importante?

    DEEPAK CHOPRA

    LEONARD MLODINOW

  • PARTE I

    A GUERRA

  • 1. Perspectivas

  • A PERSPECTIVAESPIRITUAL: DEEPAK

    Quem olha para fora sonha; quem olha

    para dentro desperta.

    CARL JUNG

    e quiser vencer a luta pelo futuro, aespiritualidade primeiro deve superar

  • Suma grande desvantagem. Naimaginao popular, h muito tempoa cincia j desacreditou a religio. Osfatos substituram a f. A superstio foigradualmente vencida. por isso que aexplicao de Darwin sobre adescendncia do homem a partir dosprimatas inferiores prevalece sobre oGnesis, e por isso que vemos o bigbang como a origem do cosmo, e nocomo um mito de criao povoado deum ou mais deuses.

    Por isso importante comeardizendo que religio no o mesmo queespiritualidade longe disso. Nem Deus

  • a mesma coisa que espiritualidade. Asreligies organizadas podem ter perdidoo crdito, mas a espiritualidade nosofreu essa derrota. Milhares de anosatrs, em culturas que se espalhavam portodo o planeta, mestres espirituaisinspirados, como Buda, Jesus e Lao-Ts,propuseram profundas vises sobre avida. Eles ensinaram que existe umdomnio transcendente alm do mundocotidiano de dor e luta. Ainda que osolhos contemplem rochas, montanhas,rvores e cu, isso apenas o vu queencobre uma realidade mais vasta,misteriosa e invisvel. Alm do alcance

  • dos cinco sentidos, h um domnioimperceptvel de infinitas possibilidades;e a chave para desenvolver esse potencial a conscincia. Olhe para dentro,declararam os sbios e videntes, e vocencontrar a verdadeira fonte de tudo:sua prpria conscincia.

    Foi essa extraordinria promessa quea religio deixou de realizar. As razesno nos dizem respeito, aqui, pois estelivro sobre o futuro. Basta dizer que, seo reino de Deus est no interior de ns,como declarou Cristo, se o nirvanasignifica liberdade de todo sofrimento,como pensava Buda, e se o conhecimento

  • do cosmo est encerrado dentro damente humana, como propunham osrishis, ou sbios da ndia, hoje nopodemos olhar ao nosso redor e dizerque esses ensinamentos deram frutos.Cada vez menos gente pratica a devoodos tempos antigos, no mundo todo;mesmo que os mais velhos lamentemesse declnio, os que se afastaram dareligio nem precisam mais de umadesculpa. H muito a cincia nosmostrou um admirvel mundo novo queno exige qualquer crena numa esferainvisvel.

    A verdadeira questo o

  • conhecimento e como atingi-lo. Jesus eBuda no tinham dvida de quedescreviam a realidade a partir doverdadeiro conhecimento. Mais de 2 milanos depois, ns achamos que sabemosmais.

    A cincia comemora seus triunfos,que so muitos, e pede desculpas porsuas catstrofes, que tambm soinmeras e aumentam a cada dia. Abomba atmica nos levou a uma era dedestruio de massa que provocapesadelos s de pensar. O meio ambientefoi abalado de forma desastrosa poremisses expelidas de mquinas que a

  • tecnologia nos oferece para tornar a vidamelhor. Mas os que apoiam a cinciadescartam essas ameaas como efeitoscolaterais ou falhas da poltica social. Amoralidade, como nos dizem, no responsabilidade da cincia. Mas, seolharmos mais detalhadamente, a cinciaest diante do mesmo problema que areligio. Esta perdeu de vista ahumildade diante de Deus, a primeiraperdeu o sentido de reverncia,encarando cada vez mais a naturezacomo uma fora que devemos conquistare a que devemos nos opor, desvelandoseus segredos em benefcio da

  • humanidade. Agora pagamos o preodisso. Quando indagados se o Homosapiens est em risco de extino, algunscientistas acenam com a esperana deque, em algumas centenas de anos, asviagens espaciais estejam avanadas obastante para abandonarmos o refgioplanetrio que agora polumos. L vamosns estragar outros mundos!

    Todos sabem o que est em jogo: ofuturo previsvel paira sombrio sobrens. A soluo-padro contra os nossosinimigos atuais muito conhecida. Acincia vai nos resgatar com novastecnologias para recuperar o meio

  • ambiente, substituir os combustveisfsseis, curar a Aids e o cncer, acabarcom a ameaa da fome. Explique a suadoena, e sempre haver algum paradizer que h uma soluo cientfica ali naesquina. Mas ser que a cincia no estprometendo nos resgatar dela mesma?Por que devemos confiar nessapromessa? O ponto de vista que triunfousobre a religio, e que v a vida comoalgo essencialmente materialista, nosconduziu por um caminho que leva a umbeco sem sada. Literalmente.

    Mesmo que, por milagre, eliminemoso desperdcio e a poluio, to

  • desastrosos, as geraes seguintescontinuaro sem um modelo para viverbem, a no ser aquele que nos fezfracassar: consumo desenfreado,explorao dos recursos naturais ediablica criatividade na guerra. Comoum estudante chins comentou comamargura sobre o Ocidente: Vocscomeram o banquete todo. Agora nosdo o caf e a sobremesa, mas nosapresentam a conta da refeio inteira.

    A religio no pode resolver essedilema ela j teve sua chance. Mas aespiritualidade pode. Precisamos voltar fonte da religio. Essa fonte no Deus.

  • a conscincia. Os grandes mestres queviveram milnios atrs ofereciam algomais radical que a f num poder superior.Apresentavam uma forma de ver arealidade que no comea nos fatosexteriores e numa existncia fsicalimitada, mas na sabedoria interior enum acesso ilimitado conscincia. Aironia que Jesus, Buda e outros sbiosesclarecidos tambm eram cientistas.Tinham uma maneira de chegar aoconhecimento que corre em paralelo cincia moderna. Primeiro vinha umahiptese, uma ideia que precisava sertestada. Depois vinha a experimentao,

  • para verificar se a hiptese eraverdadeira. Finalmente vinha a revisodos pares, oferecendo novos achados aoutros pesquisadores e pedindo quereproduzissem a mesma descoberta.

    A hiptese espiritual apresentadamilhares de anos atrs tem trs partes:

    1. H uma realidade invisvel que afonte de todas as coisas visveis.

    2. Essa realidade invisvel pode serconhecida pela nossa conscincia.

    3. A inteligncia, a criatividade e o poderde organizao esto entrelaadas nocosmo.

  • Esse trio de ideias equivale aosvalores platnicos na filosofia grega, quenos diz que amor, verdade, ordem erazo moldam a existncia humana apartir de uma realidade superior. Adiferena que mesmo as antigasfilosofias, com suas razes plantadas h 5mil anos, nos dizem que a realidadesuperior est conosco aqui e agora.

    Nas prximas pginas, enquantoLeonard e eu debatemos as grandesquestes da existncia humana, meupapel ser oferecer respostas espirituais no como um padre ou praticante dequalquer f, mas como um pesquisador

  • da conscincia. Existe o risco, eu sei, dealienar os fiis mais devotos, os muitosmilhes de pessoas de todas as crenaspara as quais Deus muito pessoal. Masas tradies de sabedoria do mundo noexcluem um Deus pessoal. (Para sersincero, quando criana, eu no aprendi avenerar um deus. Mas minha me, sim, etodos os dias de sua vida rezava numtemplo para Rama.) Ao mesmo tempo,todas as tradies de sabedoria incluemum Deus impessoal que permeia todos ostomos do Universo e todas as fibras denosso ser. Essa diferena incomoda osque acreditam numa nica e verdadeira

  • f e querem se apegar a ela , seja qualfor a escolha. Mas um Deus impessoalno precisa ser visto como uma ameaa.

    Pense em algum que voc ama.Agora pense no prprio amor. A pessoaque voc ama d rosto a esse amor, masvoc sabe que o amor existia antes deessa pessoa nascer, e que vai sobreviver aela. Nesse exemplo simples, vemos adiferena entre o Deus pessoal e oimpessoal. Quem acredita pode dar umrosto a Deus uma questo de escolhapessoal , mas espero que voc percebaque, se Deus est em toda parte, asqualidades divinas de amor, clemncia,

  • compaixo, justia e todos os outrosatributos relacionados a Deus seestendem infinitamente por toda acriao. No surpreende que essa ideiaseja uma vertente comum em todas asprincipais religies. O alto nvel deconscincia permitiu que grandes sbios,santos e visionrios chegassem a um tipode conhecimento que faz a cincia sesentir ameaada, mas que totalmentevlido. Nesse caso, nosso entendimentocomum da conscincia limitado demaispara ser aqui devidamente apreciado.

    Se eu perguntasse, Do que voc estconsciente neste exato minuto?, voc

  • provavelmente comearia por descrevero aposento onde est, as imagens, os sonse aromas ao seu redor. Ao refletir, vaicomear a perceber seu estado deesprito, as sensaes de seu corpo, talvezuma preocupao escamoteada ou umdesejo mais profundo que ospensamentos superficiais. Mas essajornada interior pode ir bem alm disso,levando a uma realidade que no dizrespeito a objetos l fora ou asentimentos e pensamentos aquidentro. Esses dois mundos podem svezes se fundir numa condio do ser queest alm dos limites do espao-tempo,

  • numa regio de infinitas possibilidades.

    Mas agora nos vemos diante de umacontradio. Como podem duasrealidades opostas se tornar a mesma(torrar um po no o mesmo quesonhar com um po torrado)? Essaperspectiva improvvel descrita demodo sucinto no Isha Upanixade, umaantiga escritura indiana. Aquilo completo, e isto tambm completo. Estatotalidade foi projetada a partir daquelatotalidade. Quando este todo se fundircom aquele todo, o que resta atotalidade. Num primeiro olhar, essetrecho parece um enigma, mas pode ser

  • decifrado quando entendemos queaquilo o estado de pura conscincia,enquanto isto o Universo visvel. Asduas coisas so completas em si mesmas como nos diz a cincia, que h quatrosculos se contenta com a pesquisa doUniverso visvel. Mas, na perspectivaespiritual do mundo, existe um todooculto subjacente a qualquer criao; emltima anlise, esse todo invisvel quemais importa.

    A espiritualidade est entre ns hmuitos milhares de anos, e seuspesquisadores foram brilhantes verdadeiros Einstein da conscincia.

  • Qualquer um pode reproduzir e verificarseus resultados, como ocorre com osprincpios da cincia. Ainda maisimportante, o futuro que essaespiritualidade promete de sabedoria,liberdade e realizao no desapareceunas pocas de declnio da f. Realidade realidade. S existe uma, e ela permanente. Isso significa que mundointerno e mundo externo devem seencontrar em algum ponto; noprecisamos escolher entre os dois. Esta,em si mesma, ser uma descobertarevolucionria, pois o debate entrecincia e religio vem persuadindo quase

  • todos a encarar a realidade e a lidar comas difceis questes da vida cotidiana(cincia), ou se retirar passivamente econtemplar uma regio para alm davida cotidiana (religio).

    Essa escolha de tipo e/ou nos foiimposta quando a religio fracassou narealizao de suas promessas. Contudo, aespiritualidade, a fonte mais profunda dareligio, no fracassou e est pronta paraenfrentar a cincia, oferecendo respostascoerentes com a maior parte das teoriascientficas. Foi a conscincia humana quecriou a cincia, e esta, agora,ironicamente, age para excluir a

  • conscincia, seu prprio criador! Masclaro que isso iria nos deixar em piorescondies, com uma cincia rf eencolhida habitaramos um mundoempobrecido.

    Essa poca j chegou. Vivemos umaera de inclemente atesmo, e seusadeptos veem a religio comosuperstio, iluso ou engodo. Mas overdadeiro alvo no a religio: ajornada interior. Estou menospreocupado com os ataques a Deus quecom um perigo muito mais insidioso: asuperstio do materialismo. Para osateus cientistas, a realidade sempre

  • externa; de outro modo, todos os seusmtodos desmoronam. Se o mundo fsico tudo que existe, a cincia tem razo emesquadrinh-lo em busca de dados.

    Mas aqui que a superstio domaterialismo se rompe. Nossos cincosentidos nos estimulam a aceitar que hobjetos l fora, rios e florestas, tomose quarks. No entanto, nas fronteiras dafsica, onde a natureza fica muitopequena, a matria se desfaz edesaparece. Aqui, o ato de mensurarmuda o que vemos: todos osobservadores acabam entrelaados como que observam. Trata-se de um

  • Universo j conhecido pelaespiritualidade, em que a observaopassiva d lugar participao ativa, edescobrimos que somos parte datessitura da criao. O resultado umpoder e uma liberdade enormes.

    A cincia jamais atingiu umaobjetividade pura, nem jamais atingir.Pois negar o valor da experinciasubjetiva descartar boa parte do que faza vida valer a pena: amor, confiana, f,beleza, espanto, maravilha, compaixo,verdade, arte, moralidade e a prpriamente. O campo da neurocincia jacredita que a mente no existe, apenas

  • um produto colateral do crebro. Ocrebro (um computador feito decarne, como definiu Marvin Minsky,especialista em inteligncia artificial) onosso chefe, decidindo quimicamentecomo nos sentimos, determinandogeneticamente como crescemos,vivemos e morremos. Essa imagem no aceitvel para mim, pois, aodescartarmos a mente, eliminamos nossoportal para o conhecimento e a visointerior.

    Enquanto Leonard e eu debatemos osmais importantes mistrios, os grandessbios e visionrios nos lembram de que

  • s existe uma pergunta: O que arealidade? Ser o resultado natural de leisde causa e efeito que funcionamrigorosamente, ou ser algo mais? Hboas razes para que nossos pontos devista estejam em choque. Ou a realidade limitada pelo Universo visvel ou no .Ou o cosmo foi criado a partir de umabismo vazio e sem sentido ou no foi.Enquanto no entendermos a naturezada realidade, estaremos como os famososseis cegos, tentando descrever umelefante ao apalpar apenas uma de suaspartes. O que est na perna diz: Umelefante como uma rvore. O que est

  • na tromba fala: Um elefante parece umacobra. E assim por diante.

    Essa fbula infantil sobre os cegos e oelefante na verdade uma alegoria daantiga ndia. Os seis cegos so os cincosentidos e a mente racional. O elefante Brahma, a totalidade do que existe. Nasuperfcie, a fbula pessimista: se vocs tiver os cinco sentidos e a menteracional, jamais ver o elefante. Mas huma mensagem oculta, to bvia que amaioria das pessoas no percebe. que oelefante existe. E j estava l antes dens, esperando pacientemente para serconhecido. Esta a verdade mais

  • profunda da realidade unificada.

    O fato de a religio no ter dado certono significa que uma novaespiritualidade, baseada na conscincia,tambm no vai dar certo. Nsprecisamos enxergar a resposta, e, nesseprocesso, vamos despertar os poderesprofundos que nos foram prometidosmilhares de anos atrs. O tempo estesperando. O futuro depende da escolhaque fizermos hoje.

  • A PERSPECTIVACIENTFICA: LEONARD

    Quanto mais avana a evoluo

    espiritual da humanidade, mais certo me

    parece que o caminho genuno da

    religiosidade no reside no medo da

    vida, no medo da morte ou na f cega,

    mas passa pela luta em prol do

  • Aconhecimento racional.

    ALBERT EINSTEIN

    s crianas vm ao mundoacreditando que tudo gira em torno

    delas e a humanidade tambm. Aspessoas sempre se sentiram ansiosas paraentender o Universo, porm, durante amaior parte da histria humana, ns nodesenvolvemos os meios para isso.Como somos animais antecipatrios eimaginativos, no entanto, no deixamosque a ausncia de ferramentas nosdetenha. Simplesmente usamos a

  • imaginao para conformar imagens.Estas no se baseiam na realidade, socriadas para atender s nossasnecessidades. Todos ns gostaramos deser imortais. Desejaramos acreditar queo bem triunfa sobre o mal, que umgrande poder cuida de ns, que somosparte de algo maior, que fomos postosaqui por alguma razo. Gostaramos deacreditar que nossas vidas tm umsignificado intrnseco. Antigos conceitossobre o Universo nos consolavam, aoreafirmar esses desejos. De onde vem oUniverso? De onde surgiu a vida? Deonde vm as pessoas? As lendas e

  • teologias do passado nos asseguravamque ramos criados por Deus e que anossa Terra era o centro de tudo.

    Hoje a cincia pode responder ainmeras das mais fundamentaisquestes da existncia. As respostas queela d nascem da observao e deexperimentos, no das preferncias oudos desejos humanos. A cincia oferecerespostas em harmonia com a naturezaenquanto tal, no com a natureza talcomo gostaramos que ela fosse.

    O Universo um lugar espantoso, emespecial para os que sabem alguma coisaa respeito dele. Quanto mais

  • aprendemos, mais admirvel ele nosparece. Newton disse que enxergou maislonge porque se apoiava sobre os ombrosde gigantes. Hoje podemos todos nosapoiar sobre os ombros dos cientistas eenxergar respostas incrveis e profundassobre o Universo e o nosso lugar nele.Podemos entender como ns e a nossaTerra somos fenmenos naturais,surgidos a partir de leis da fsica. Nossosancestrais olhavam o cu noturno comuma sensao de alumbramento, mas verestrelas que explodem em segundos ebrilham com mais luminosidade quegalxias inteiras d uma nova dimenso

  • ao espanto. Hoje, um cientista podeajustar o telescpio para observar umplaneta semelhante Terra, a trilhes dequilmetros de distncia, ou estudar umespetacular mundo interior, em quemilhes e milhes de tomos conspirampara criar um pequeno ponto. Sabemosagora que a Terra um planeta entremuitos, e que nossa espcie surgiu deoutras espcies (cujos integrantes nopodemos convidar para o jantar, masainda assim so nossos ancestrais). Acincia revelou um Universo muitovasto, antigo, violento, estranho e lindo,com variedades e possibilidades quase

  • infinitas, que talvez um dia acabe numburaco negro, e onde seres conscientesevoluem a partir de uma sopa deminerais. Nesse Universo, as pessoasparecem insignificantes. Maissignificativo e profundo o fato de quens conjuntos de um nmero quaseincontvel de tomos que no pensam nos tornamos conscientes e entendemosnossas origens e a natureza do cosmo emque vivemos.

    Deepak acha que as explicaescientficas so estreis e reducionistas,que elas resumem a humanidade a umasimples coleo de tomos no muito

  • diferente de qualquer outro objeto noUniverso. Mas o conhecimento cientficono reduz nossa humanidade, assimcomo saber que nosso pas um entremuitos no reduz a avaliao quefazemos de nossa cultura nativa. Naverdade, o contrrio est mais prximoda verdade. Emoo, intuio, apego autoridade traos que levam crenana religio e a uma explicao mstica so caractersticas que podem serencontradas em outros primatas e at emanimais inferiores. Mas os orangotangosno conseguem pensar nos ngulos dostringulos, e os chimpanzs no olham

  • para o cu e se perguntam por que osplanetas percorrem rbitas elpticas. Sos homens podem se envolver nosmaravilhosos processos da razo e dopensamento chamados de cincia; s elespodem entender a si mesmos ou como oplaneta chegou at aqui; s os sereshumanos teriam como descobrir quesomos formados por tomos.

    O triunfo da humanidade nossacapacidade de entender. O que nosdestaca nossa compreenso do cosmo,nossa viso acerca da nossa origem,nossa viso sobre o lugar que ocupamosno Universo. Um dos subprodutos dessa

  • compreenso cientfica o poder deadministrar a natureza em nossobenefcio ou, verdade seja dita, de us-lacontra ns mesmos. As escolhas ticas emorais especficas que as pessoas fazemdependem da natureza e da culturahumanas. As pessoas jogavam pedrassobre o inimigo muito antes de entendera lei da gravidade. E j despejavampoluio no ar bem antes decompreender a termodinmica daqueima do carvo.

    A promoo do bem e a inibio domal fazem parte do papel das religiesorganizadas. E foram essas empreitadas

  • e no a cincia que em geral deixaramde cumprir o que prometeram. Asreligies orientais no evitaram umahistria de guerras brutais na sia, assimcomo as religies ocidentais nopacificaram a Europa. Na verdade, maispessoas foram chacinadas em nome dareligio do que por todas as bombasatmicas criadas pela fsica moderna.Apesar de ser um instrumento debondade e amor, as religies tm sidousadas como ferramentas de dio, desdeas Cruzadas at o Holocausto. Aabordagem pacfica e universalista queDeepak tem da espiritualidade portanto

  • uma alternativa bem-vinda. Suametafsica vai alm da orientaoespiritual, para oferecer perspectivassobre a natureza do Universo. Aconvico de Deepak, de que o Universotem um projeto e est penetrado deamor, pode ser atraente, mas sercorreta?

    Deepak critica a cincia por sua visoessencialmente materialista da vida.Por materialista, ele no est sugerindoque os cientistas se concentram apenasnas coisas e no desejo de possu-las, masque eles lidam somente com fenmenosque podem ser vistos, ouvidos,

  • cheirados, detectados por instrumentosou medidos por nmeros. Deepakcompara o Universo visvel (oudetectvel) estudado pela cincia a umaregio de infinitas possibilidades,implicitamente superior, mas invisvel,que se encontra alm de nossos sentidos,um domnio transcendente que afonte de todas as coisas visveis. Deepakargumenta de forma apaixonada que,apenas aceitando esse domnio, a cinciapode evoluir para alm de seus limites eajudar a salvar o mundo. Mas alegar queesse domnio pode expandir os limites dacincia, que pode ajudar a humanidade,

  • ou que os sbios antigos j o ensinavam,no o torna verdadeiro. Se voc acha queest comendo um hambrguer, e eu digoque em alguma outra regio invisvel seusanduche na verdade de fil mignon,voc vai querer saber como eu sei disso,em que evidncias se baseia minha ideia.S essas respostas fazem com que umacrena transcenda a realizao do desejo.Portanto, se Deepak quiser serconvincente, deve encarar o desafiorepresentado por essas questes.

    O verdadeiro problema, como dizDeepak, o conhecimento e como obt-lo. Ele critica a cincia por negar o valor

  • da experincia subjetiva. Mas a cinciano teria ido muito longe se um cientistadescrevesse um tomo de hlio comobem pesado, enquanto outro dissesseque, para ele, o tomo parece leve. Oscientistas empregam medidas e conceitosobjetivos por boas razes, e o fato detentarem garantir que suas medies econceitos no sejam influenciados poramor, confiana, f, beleza, espanto,maravilha, compaixo etc. no significaque eles descartem o valor dessasqualidades em outras reas da vida.

    Cientistas muitas vezes se guiam porsuas intuies e seus sentimentos

  • subjetivos, mas reconhecem anecessidade de outro passo: a verificao.A cincia avana numa espiral deobservao, teoria e experimento. Aespiral repetida at que teoria e provaemprica se harmonizem. Mas o mtodono funciona se os conceitos no foremdefinidos com preciso e se osexperimentos no forem rigorosamentecontrolados. Esses aspectos do mtodocientfico so cruciais, eles quedeterminam a diferena entre a boa e am cincia, ou entre cincia epseudocincia. Deepak disse que Jesus foium cientista. Ser? Jesus no reuniu uma

  • amostragem da populao e, depois deser insultado, ofereceu a outra face parametade dela, enquanto nocauteava aoutra metade com um bom e slidogancho de direita, a fim de calculardepois a estatstica da eficcia das duasabordagens. Pode parecer tolice eu fazeruma objeo quando Deepak chamaJesus de cientista, mas isso introduz umtema o uso da terminologia que setornar importante adiante, neste livro,em contextos mais substantivos: quandodebatemos questes cientficas, devemoster cuidado para no usar as palavrasassim to livremente. fcil empreg-las

  • de forma imprecisa num argumento, mastambm perigoso, pois a substncia doargumento, em geral, depende da nuancedas palavras.

    No estou sugerindo que a cinciaseja perfeita. Deepak diz que ela nuncaatingiu uma objetividade pura, e temrazo. Uma dessas razes que osconceitos usados pela cincia soconcebidos pelo crebro humano.Aliengenas com estruturas cerebrais,processos de pensamento e rgossensoriais diferentes poderiam consideraro problema de forma bem distinta, masigualmente vlida. Se existe certa

  • subjetividade em nossos conceitos eteorias, tambm h subjetividade emnossos experimentos. Na verdade,experimentos realizados comexperimentalistas mostram umatendncia de os cientistas verem o quequerem ver e se deixarem convencer pordados que desejam considerarconvincentes. Sim, os cientistas sofalveis, assim como a cincia. Contudo,todas essas razes no levam a duvidardo mtodo cientfico, e sim a segui-lo daforma mais escrupulosa possvel.

    A histria mostra que o mtodocientfico funciona. Como so apenas

  • seres humanos, alguns cientistas podemde incio resistir s ideias novas erevolucionrias. No entanto, se asprevises de uma teoria foremconfirmadas pelos experimentos, ela logose torna consagrada. Por exemplo, em1982, Robin Warren e Barry Marshalldescobriram a bactria Helicobacter pylori,e lanaram a hiptese de que elaprovocava a lcera. Na poca, otrabalho, no foi bem-recebido, pois oscientistas acreditavam com firmeza que oestresse e o estilo de vida eram asprincipais causas das doenasenvolvendo lceras ppticas. Porm,

  • novos experimentos comprovaram ahiptese, e em 2005 ficou estabelecidoque a Helicobacter pylori causa de maisde 90% das lceras de duodeno e de maisde 80% das lceras gstricas, e Warren eMarshall ganharam o Prmio Nobel. Acincia tambm poderia aceitar Deepakse suas afirmaes fossem verdadeiras.

    Quando teorias que encantamalgumas pessoas so descartadas pelacomunidade cientfica, em geral surgemacusaes de caretice. Mas a histria dacincia mostra que o verdadeiro motivopara a rejeio de algumas teorias queelas se chocam com evidncias

  • observacionais. De fato, por uma nicarazo, algumas ideias muito estranhas,surgidas de reas obscuras e inesperadas como a relatividade e a incertezaquntica , logo foram aceitas, apesar dedesafiar o pensamento convencional: elaspassaram por testes experimentais. Osproponentes da metafsica e daespiritualidade de Deepak esto muitomenos abertos para revisar ou expandirseus pontos de vista de modo a abrangernovas descobertas. Em vez de se mostrarreceptivos a novas verdades, eles emgeral se aferram a ideias, explicaes etextos antigos. Mesmo que em algumas

  • ocasies recorram cincia para tentarjustificar suas ideias tradicionais, sempreque ela parece recusar esse apoio, eleslogo lhe do as costas. E quandoempregam mtodos cientficos, fazemisso de forma to livre que os significadosso alterados, e, por isso, as concluses aque chegam no so vlidas.

    No se espera que a cincia respondaa todas as questes do Universo. Podemuito bem haver segredos na naturezaque permanecero para sempre alm doslimites mais avanados da intelignciahumana. Outras problemticas, como asrelacionadas s aspiraes humanas e ao

  • significado da nossa vida, so mais bem-avaliadas a partir de mltiplasperspectivas, tanto cientficas quantoespirituais. Essas abordagens podemcoexistir e respeitar umas s outras. Oproblema surge quando a doutrinareligiosa e espiritual se pronuncia sobre oUniverso fsico contradizendo o queobservamos como verdade.

    Para Deepak, a chave de tudo acompreenso da conscincia. verdadeque a cincia apenas comeou a lidarcom essa questo. Como esses tomosno pensantes de que somos feitosconspiram para criar amor, dor e alegria?

  • Como o crebro produz o pensamento ea experincia consciente? O crebro temmais de 1 bilho de neurnios, mais oumenos o nmero de estrelas numagalxia, porm, as estrelas quase nointeragem, enquanto um neurnionormalmente est conectado a milharesde outros. Isso faz do crebro algo muitomais complexo e difcil de decifrar que oUniverso de galxias e estrelas. Essa uma das razes de termos dado grandespassos na compreenso do cosmo,enquanto nosso autoconhecimentocontinua a engatinhar. Ser isso um sinalde que nossa mente no pode ser

  • explicada?

    uma espcie de miopia acreditarque, se hoje a cincia no consegueexplicar a conscincia, esta est alm doseu alcance. Contudo, mesmo que aorigem da conscincia seja complexademais para ser entendida pela mentehumana, isso no prova que aconscincia resida num reinosobrenatural. Na verdade, embora osurgimento da conscincia aindarepresente um enigma, j temos muitasevidncias de que ela funciona de acordocom as leis da fsica. Por exemplo, emexperimentos de neurocincia,

  • pensamentos, sentimentos e sensaes namente dos sujeitos o desejo de moverum brao, pensar em alguma pessoaespecfica, como Jennifer Aniston oumadre Teresa, ou a fissura por uma barrade chocolate j foram localizadas emreas e atividades especficas no crebrofsico. Cientistas chegaram a descobrir oque chamam de clulas conceituais,que disparam quando o sujeito reconheceum conceito como uma pessoa, um lugarou um objeto especficos. Esses neurniosso o substrato celular de uma ideia. Elesdisparam, por exemplo, cada vez quealgum reconhece madre Teresa numa

  • foto, no importa sua posio ou o queesteja vestindo. Disparam at se o sujeitos v o nome dela escrito num texto.

    A cincia pode responder intratvelquesto de como o Universo comeou, eh razes para acreditar que acabeexplicando as origens da conscinciatambm. Ela um processo sempre emmovimento, cujo final no est vista. Seem algum dia, no futuro, conseguirmosexplicar a mente em termos de atividadede um conjunto de neurnios, se ficarprovado que todos os nossos processosmentais so produzidos no fluxo de onscarregados no interior das clulas

  • nervosas, isso no significa que a cinciair negar o valor de coisas como amor,confiana, f, beleza, espanto, maravilha,compaixo, verdade, arte, moralidade ea prpria mente. Como j disse, explicaruma coisa no significa reduzir ou negarseu valor. Tambm importantereconhecer que, embora uma explicaocientfica dos nossos processos depensamento (ou de qualquer outra coisa)seja considerada insatisfatria ou nopalatvel em termos estticos ouespirituais, isso no significa que ela sejafalsa. Nossas explicaes devem se guiarpela verdade, e a verdade no pode ser

  • ajustada para se conformar ao quedesejamos ouvir.

    Infelizmente, a atual ausncia de umateoria cientfica bem desenvolvida sobrea conscincia d margem ao tipo deraciocnio impreciso que leva aconcluses conflitantes com as leis fsicasconhecidas. A filosofia e a metafsica nopodem explicar um aparelho deressonncia magntica, uma televiso ouuma torradeira. Ser que podem explicara conscincia, ou por que o Universo talcomo o percebemos? Talvez, mas,enquanto Deepak oferece suasexplicaes de uma conscincia

  • universal, eu pretendo manter umimportante princpio da cincia, oceticismo. Deepak diz que, em nossodebate, ele o injustiado. Os dadosmostram o contrrio. Segundoamostragens aleatrias, somente 45%dos norte-americanos acreditam naevoluo, mas 76% acreditam emmilagres. Nenhum candidato apresidente seria vivel se noproclamasse sua f em algum poder maiselevado, e muitos percebem que podemobter vantagens polticas negando ateoria de evoluo. A cincia no asenhora da vida moderna como imagina

  • Deepak, mas sua desvalorizadaservidora.

    As respostas da cincia no vm comfacilidade. O fsico Steven Weinberg,ganhador de um Prmio Nobel, temdedicado a vida ao incansvel estudo dateoria de partculas elementares como oeltron, o mon e o quark. Ele jescreveu que jamais considerou essaspartculas muito interessantes. Por queento se dedica a entend-las? Poracreditar que, neste momento da histriado conhecimento humano, seu estudoindica o caminho mais promissor para acompreenso das leis fundamentais que

  • regem toda a natureza. Alguns dos 10 milcientistas que trabalharam, muitos pormais de uma dcada, para construir emGenebra o Grande Colisor de Hdrons, oacelerador de partculas que custouvrios bilhes de dlares, talvez noachassem fascinantes as inmeras horaspassadas calibrando delicadosinstrumentos e sintonizandoespectrmetros (embora algunsrealmente gostem da tarefa!). Elesfizeram isso pela mesma razo queWeinberg estuda os mons. Os sereshumanos so diferentes dos outrosanimais na maneira de formular

  • perguntas sobre o ambiente. Colocadonum novo ambiente, o rato o explora porum tempo, forma um mapa mental,sente-se seguro e para de fuar. Noentanto, uma pessoa iria perguntar: Porque estou nesta jaula? Como chegueiaqui? H um bom caf por perto? Osseres humanos estudam cincia porquetm necessidade de saber como nossavida se encaixa no esquema maior doUniverso. Essa uma das caractersticasespecficas que nos tornam humanos.Mas as respostas s podem serproveitosas se forem verdadeiras. Avoc, leitor, eu recomendaria que, ao

  • ponderar sobre a viso de mundo svezes muito atraente de Deepak, tivesseem mente as palavras do cone da fsicado Caltech, Richard Feynman: o primeiroprincpio no enganar a si mesmo evoc a pessoa mais fcil de serenganada.

  • PARTE II

    O COSMO

  • 2. Como surgiu o Universo?

  • T

    LEONARD

    odas as civilizaes tm suas histriassobre a criao. Os europeus vieram

    com uma esquisitice, no comeo dosculo XX, que desde ento refinada ereelaborada por estudiosos de todas aspartes do mundo. Ela foi chamada de bigbang, mas se metamorfoseou em algoconhecido como modelo-padro da

  • cosmologia. Ns achamos que umateoria, enquanto chamamos as outrasexplicaes de mitos. O que torna o bigbang diferente da proposta dos maias, deque somos todos feitos de milho branco eamarelo? Ser que a f da cincia em suaexplicao se justifica? Quais os limitesdo conhecimento atual?

    A ideia do big bang surgiu da teoria darelatividade geral de Einstein, concludaem 1915, depois de mais de uma dcadade trabalho. A relatividade geral umconjunto de equaes que descreve aforma como gravidade, espao, tempo,energia e matria interagem. Com sua

  • formulao, Einstein pedia s pessoasque descartassem a muito bem-sucedidae satisfatria teoria de Isaac Newton,para aceitar em seu lugar algumas ideiasmuito estranhas, que pareciamcontradizer o que eles vivenciavam nocotidiano. A metafsica um cortejo deargumentos s com a abertura e oencerramento, sem necessidade deapresentar evidncias no meio. Nacincia, s importa a evidncia. Por isso,quando Einstein disse que h umarealidade oculta subjacente, bem diversado mundo que percebemos com nossossentidos, nenhum cientista acreditaria

  • nele se no encontrasse uma srie deprovas. E elas foram encontradas.

    Embora a relatividade geral possa seraplicada ao Universo como um todo, asaplicaes que fornecem as verificaesmais fceis de sua validade so as queconseguem explicar sistemas simplescomo um planeta orbitando o Sol, ou umraio de luz estelar passando ali por perto.Foram essas aplicaes que forneceram aprimeira evidncia fsica de que Einsteintinha descoberto alguma coisa. No casodo planeta, a teoria esclarecia umairregularidade j observada na rbita deMercrio, que se desviava das previses

  • das leis de Newton. Era umairregularidade pequena, por isso, amaioria dos cientistas antes de Einsteinsimplesmente coou a cabea, esperandoque algum dia se encontrasse umaexplicao trivial para aquilo. Einsteinmostrou que a explicao no era nadatrivial. Como essa irregularidade j eraconhecida, o teste ainda maisimpressionante da teoria foi sua novapreviso (na poca, espantosa) de que,por efeito da relatividade, a gravidadecurvaria os raios de luz, e, portanto,nossa observao das estrelas distantesseria alterada quando a luz passasse

  • perto do Sol. Para confirmar esse efeitosem que a luz da estrela fosse ofuscadapela do Sol, era preciso realizar asobservaes durante um eclipse solartotal. O experimento foi feito, e a teoriade Einstein se mostrou correta, ao preverno apenas que a luz se curva comotambm o ngulo do desvio.

    O triunfo de Einstein e o igualmenterevolucionrio triunfo da teoria quntica no significou que de repente toda aviso de mundo de Newton ficavainvalidada. No o caso de a civilizaoacordar de manh e perceber que tinhaconstrudo seus prdios e pontes da

  • forma errada, que a lmpada de Edisonna verdade um laser quntico, ou que,se voc dirigir mais rpido que avelocidade da luz, nunca mais vaiprecisar de creme antirrugas. A teoria deNewton j havia passado por muitostestes e, parte o problema da rbita deMercrio, nunca falhou; mas as ideias deEinstein no negavam o fato de que ateoria de Newton fornecia uma excelentedescrio dos eventos que vivenciamosno cotidiano. Na verdade, quandoaplicada a essas situaes, a teoria deEinstein resulta em previses toprximas das de Newton que a diferena

  • s pode ser detectada por instrumentosmuito sofisticados. Porm, sob certascondies, importantes para astrofsicos eem alguns laboratrios de experimentos,as previses de Newton diferem deforma significativa daquelas decorrentesda teoria de Einstein. Ento, quando oscientistas afirmam que a teorianewtoniana est errada, esto dizendoque ela correta apenas de formaaproximada. Ainda assim, a teoria deEinstein uma descrio mais acertada efundamental da natureza, revelandocaractersticas do espao e do tempo numnvel muito mais profundo que o

  • vislumbrado por Newton.

    A confirmao experimental de suasteorias transformou Einstein emcelebridade internacional, mas asimplicaes mais espantosas dessas ideiasainda estavam por vir. Nos anos 1920,um padre e astrnomo belga chamadoGeorges Lematre aplicou as equaes deEinstein ao Universo como um todo. Eledescobriu o que na poca podia parecerao mesmo tempo bvio e chocante.Primeiro, a parte bvia. Como agravidade uma fora de atrao,quando voc joga uma ma no ar, afora da gravidade faz com que ela caia

  • de novo na Terra. Ou seja, a ma seafasta da Terra, depois volta a cair, masno paira no ar (a no ser naqueleinstante nico que marca o limite de suatrajetria). A parte chocante surgiuquando Lematre demonstrou que, damesma forma, graas atrao mtua damatria e energia que ela contm, oUniverso pode se expandir, desacelerar etalvez se contrair, mas no permanececom um tamanho fixo, como todos napoca acreditavam inclusive Einstein.Se o Universo estiver se expandindo, issosignifica que, se voc reverter a histriado Universo no tempo, vai v-lo ficar

  • cada vez menor. Por essa razo,Lematre foi adiante e especulou que oUniverso comeou como um s ponto.Essa ideia hoje conhecida como teoriado big bang.

    A teoria do big bang estavaintimamente relacionada relatividadegeral de Einstein, mas, se no resultasseem previses verificveis, seria s umpouco melhor do que dizer que oUniverso era feito de milho. Um doselementos crticos da teoria foiconfirmado pouco depois do trabalho deLematre, quando Edwin Hubbledescobriu que o Universo est em

  • expanso. Porm, a implicao maisespecfica do cenrio de Lematre que,quando essa bola de fogo primordialesfriou at 1 bilho de graus centgrados,nos primeiros minutos aps o big bang,diversos elementos leves foram criadosem certas propores definidas. Emparticular, cerca de 25% da matria noUniverso deveria estar sob a forma dehlio e exatamente o queconstatamos. Outra implicao que oUniverso deve ter esfriado muito maisdesde ento. Segundo a teoria, o espaohoje deveria estar permeado por umaradiao numa temperatura de 2,7C

  • acima do zero absoluto, na mdia. Maisuma vez, isso est de acordo com asobservaes.

    Nos anos 1970, o modelo do big bangj tinha explicado com sucesso a maiorparte da histria do Universo. Mas aindarestavam algumas aparentes anomalias.Por exemplo, considere uma frigideiranuma temperatura uniforme, comexceo de um ponto que esteja maisquente que o resto. Pouco depois, esseponto mais quente vai estar mais frio,enquanto a regio da frigideira maisprxima a ele estar ligeiramente maisaquecida. Mais tarde ainda, o ponto

  • quente esfria mais, transferindo seu calorpara reas cada vez maiores da frigideira.No fim, a frigideira toda estar numatemperatura uniforme. Mas essatransio para a uniformidade levatempo. O Universo como essa frigideiradepois de um longo tempo suatemperatura quase uniforme. Oproblema que ns sabemos que aindano se passou o perodo necessrio paraisso ocorrer. Ento, por que o Universoest to prximo dos 2,7C em todas asdirees? Por que no existe um pontoquente aqui e outro ponto frio ali? Osfsicos deram a isso o nome de problema

  • do horizonte.

    O chamado problema do Universoplano era outro enigma. A relatividadegeral diz que a quantidade de matria eenergia no Universo determina acurvatura do espao. O que significa isso?A curvatura do nosso espaotridimensional pode ser difcil devisualizar, mas a ideia similar quandopensamos em duas dimenses. Ento,vamos considerar esse caso. Um planosimples uma superfcie bidimensional,sem curvatura. A superfcie de umaesfera, por outro lado, curva-se sobre simesma, e um exemplo de superfcie

  • com o que se chama de curvaturapositiva. Em comparao, uma sela curvada para fora, portanto, afirma-seque ela tem uma curvatura negativa. Asequaes da relatividade geral nos dizemque, se existir mais que certa quantidadecrtica de matria e energia por unidadede volume no Universo, o espao securva numa forma esfrica e acabadesabando sobre si mesmo. Se essadensidade crtica for menor, o espao securvar para fora, como uma sela. Oespao s poder ser plano se aconcentrao mdia de matria e energiaestiver exatamente dentro do valor

  • crtico. Essa densidade crtica varia com aidade do Universo. Muito tempo atrs,era muito alta, mas hoje equivale a cercade seis tomos de hidrognio por metrocbico de espao.

    Podemos medir diretamente acurvatura do espao em grande escala, eele parece mesmo plano, pelo menoscom a preciso com que conseguimosrealizar a medio. O problema que asequaes da relatividade geral mostramque, se a densidade do Universo sedesviasse do valor crtico, esse desviologo seria imensamente amplificado.Assim, se, no incio, a densidade de

  • matria fosse apenas ligeiramente menorque a densidade crtica, o Universo hojeteria a forma de uma sela e seria muitomais diludo do que podemos perceber.Ou que, se a densidade fosse s umpouco mais alta que o valor crtico, oUniverso h muito teria desabado sobresi mesmo, como um balo que perdesse oar. Por causa desse efeito deamplificao, para que o modelo do bigbang responda pelo aspecto plano queobservamos, quando o Universo tinhaum segundo de idade, a concentrao dematria e energia devia estar afinadacom o valor crtico numa preciso de

  • uma parte em mil trilhes.

    Algum poderia perguntar: E da? OUniverso no poderia simplesmente terse formado dessa maneira? Poderia, masisso ilustra um ponto importante nacincia. Os aspectos-chave de uma teoriadevem seguir algum princpio, e noserem projetados de modo a fazer ateoria funcionar. Para um cientista,afirmar que a existncia do Universodepende do fato de ele ter se formado hmuito tempo e de um modo bastantepreciso no algo muito satisfatrio. Oscientistas querem entender a razosubjacente, as leis naturais que explicam

  • essa circunstncia especfica.

    O problema do horizonte, oproblema do espao plano e outrasdificuldades na teoria do big bang foramresolvidos no final dos anos 1970, quandoos fsicos descobriram um novo captulona evoluo do Universo, um captulochamado inflao, descoberto por AlanGuth, jovem terico de partculas que,segundo ele prprio admitiu, no tinharealizado muita coisa at ento. Guthmudou a situao quando percebeu quecertas condies que os fsicosacreditavam estar presentes quando oUniverso tinha uma frao de segundo de

  • idade teriam levado o cosmo aenlouquecer, dobrando de tamanho emmenos de 1 bilionsimo de trilionsimode trilionsimo de segundo. Supondo-seque esse aumento continuasse porapenas cem ciclos, uma parcela doUniverso com o dimetro de uma moedateria aumentado para mais de 10 milhesde vezes o dimetro da Via Lctea.

    Como pode a inflao beneficiar umcosmlogo confuso? Imagine quepassemos um filme do Universo de trspara diante, a partir de hoje. Quandochegarmos inflao, o Universoobservvel ser esmagado para uma

  • regio minscula. Por isso, a inflaosignifica que regies do Universo hojemuito separadas estavam to prximas,nos tempos pr-inflacionrios, que suasdiferenas de temperatura poderiam terse uniformizado antes da expanso. Issoresolve o problema do horizonte. Ainflao tambm soluciona o problemada forma plana. Para entender por que,imagine o que aconteceria com umminsculo balo que de repente enchesseat atingir o dimetro do Sol, porexemplo. Ainda que fosse fcil medir acurvatura do balo antes de ele encher,quando estivesse do tamanho do Sol,

  • algum que estivesse sobre a suasuperfcie veria o balo muito maisplano. De uma forma anloga, a inflaoachatou nosso Universo.

    A teoria de Guth no poderia ter sidoprevista por Einstein, Lematre ouqualquer outro estudioso solitrio darelatividade geral. Ela dependia de ideiasextradas de outra revoluo do sculoXX, a teoria quntica. Esta no naverdade uma teoria, mas um conjunto deprincpios que definem um tipo de teoria.As ideias desenvolvidas de acordo comesses princpios qunticos so chamadasde teorias qunticas. A relatividade geral

  • no uma teoria quntica, e ainda nemsabemos exatamente como formularuma. Mas h meios de extrair previseslimitadas que se baseiam nos princpiosdas duas teorias. Em seu trabalhos, Guthapoiou-se em muitas ideias qunticasdesenvolvidas entre os anos 1930 e 1970.

    Uma das doutrinas bsicas dequalquer teoria quntica moderna quepara cada partcula existe um campo,algo como os campos de fora que vemosnas obras de fico cientfica. Segundoessa teoria, os campos no podempermanecer constantes em magnitude,pois esto sujeitos a contnuas flutuaes

  • qunticas, em escala microscpica.Quando a inflao comeou, e as rugasdo espao comearam a se esticar,surgiram novas rugas qunticasmicroscpicas para substitu-las. medida que progredia, a inflao esticouessas rugas at uma dimensomacroscpica, resultando num padroespecfico de variao na densidadematria/energia do Universo ps-inflacionrio. Como a gravidade umafora de atrao, as reas surgidas com ainflao, mais densas que os arredores,atraram ainda mais matria, criando assementes das galxias. Dessa forma, as

  • flutuaes qunticas expandidas levaram estrutura que hoje observamos noUniverso aglomerados de galxias,galxias e estrelas. Sem as flutuaesqunticas, o Universo seria uma sopauniforme e inespecfica.

    O padro de variao da densidadecriado pela inflao pode ser detectadoat hoje. H pouco dissemos que o fatode a temperatura do Universo ser amesma em qualquer lugar era ummistrio explicado pela inflao, mas elavai um pouco alm: a inflao prev que,embora seja quase constante em qualquerdireo em que voc olhar, a

  • temperatura varia levemente, e segundoum padro especfico. Essa umapreviso muito precisa, demonstrada porinmeras evidncias, mas j seobservaram variaes exatamente comoas previstas pela inflao ocorrendonuma gama de menos de 100milionsimos de grau centgrado.

    Este , em resumo, o retrato cientficode como o Universo chegou at aqui ealgumas provas desse cenrio. O comeodo Universo no foi a grande exploso dobig bang, mas o perodo de inflao, umaexpanso muitas vezes mais drstica quea prevista pelo cenrio original do

  • modelo, que aconteceu um instantedepois do incio do Universo.

    O que aconteceu antes da inflao?Por enquanto, as respostas cientficas somuito mais especulativas e menosprecisas que a imagem que acabamos dedescrever. Respostas melhores esto espera de progressos na construo deuma verso quntica da relatividadegeral (se for verdadeira, a teoria dascordas conseguir fazer isso). Muitosfsicos argumentam que essa nova teoria,quando a tivermos, mostrar que, emalgum momento antes da inflao, noexistia o tempo tal como o conhecemos.

  • Contudo, a mais chocante especulaosobre o que uma teoria quntica, queinclua a relatividade geral, poderia nosdizer vem de um princpio chamadoflutuaes do vcuo.

    Mencionei que as galxias soprodutos de microscpicas flutuaes decampos qunticos. As flutuaes dovcuo se referem previso quntica deque at o nada que, na teoriaquntica, tem uma definio matemticaprecisa apresenta flutuaes, e portanto instvel, em certo sentido. Isto ,mesmo que voc esteja numa regio doespao onde no haja matria nem

  • energia, a situao no permanece amesma. Em vez disso, o nada umcaldeiro em ebulio no qual aspartculas esto sempre aparecendo edesaparecendo. Trata-se de um conceitoestranho ao contexto da experinciacotidiana, mas um efeito conhecidopara os que passam seus dias estudando ocomportamento das partculaselementares. As flutuaes do vcuo soum dos resultados mais bem confirmadosde toda a cincia e j foram medidas coma preciso de dez casas decimais. Elasdevem ser consideradas em todos osclculos e experimentos da moderna

  • fsica das partculas. Alis, a maior partede sua massa vem dos prtons nostomos de que somos compostos, e amaior parte da massa de um prton novem da massa dos quarks que o formam,mas da energia do espao vazio entreesses quarks, um turbulento cadinho departculas sadas do nada e que nele logodesaparecem. Por isso, da prxima vezque voc pensar em quanto voc pesa,lembre-se de que a maior parte de seupeso corresponde a espao vazio.

    Muitos fsicos acreditam que asflutuaes do vcuo indicam umaassombrosa previso: o Universo teria

  • surgido espontaneamente do nada. Ser?Ainda no sabemos, pois noentendemos exatamente como se podemcombinar a teoria geral da relatividade ea teoria quntica. Mesmo se acharmosque entendemos, primeiro precisoelaborar previses especficasrelacionadas aos fenmenos observveis,que depois devem ser testadas. Os fsicosvo conseguir fazer isso, pois, em ltimaanlise, esse o trabalho da cincia. Aocontrrio das especulaes filosficas,metafsicas e msticas, que no solimitadas pela restrio das evidncias,uma teoria cientfica sobre a origem do

  • Universo deve passar por testesobservacionais. A imagem resultantepode no satisfazer aos que procuramuma fonte divina na nossa origem, masser a resposta da cincia.

  • O

    DEEPAK

    primeiro e maior de todos osmistrios como o Universo

    comeou. Para a espiritualidade, o temaparece uma causa perdida antes mesmode a discusso comear. A fsica modernaassumiu a questo da gnese, e suaresposta o big bang e tudo o queaconteceu nos 13,7 bilhes de anos

  • seguintes conseguiu acabar com acredibilidade da Bblia, do Coro, dosVedas e de todas as outras versesnativas da criao. Mas agora, nomomento exato em que a cincia pareceestar pronta para aplicar o golpe demisericrdia, alguma coisa emperrou. Afsica quntica foi obrigada a parar beirado abismo que precedeu a criao, semmeios de seguir adiante at que esseabismo seja transposto por umaexplicao. A opinio de Leonard,partilhada pela fsica em geral, de que aexplicao plena ser encontrada pelamatemtica. Meu parecer, partilhado por

  • estudiosos da conscincia em geral, deque o prprio significado da existnciaest em questo. Nos tempos modernos,deixamos a cosmologia para osespecialistas, da mesma forma comodeixamos os genes para os geneticistas.Mas no se pode pendurar uma placa nacriao dizendo Entrada proibida; vocno sabe a matemtica necessria.Todos ns nos interessamos pela gnese,e isso bom, pois, na nossa poca, estna iminncia de brotar uma nova histriada criao, e todas as verses prviastero de passar por uma reviso radical.

    Esse abismo o ponto de partida para

  • qualquer histria da criao, seja elacientfica ou espiritual. O Gnesis nos dizque a terra no tinha forma, era vazia, ea escurido jazia sobre a face dasprofundezas. Porm, arranjar um lugarpara Deus nesse abismo no satisfaz amente cientfica, e a espiritualidade devesuperar algumas fortes objeessuscitadas pelos cticos, que incluem asseguintes, entre outras:

    No h prova cientfica da existncia deDeus nem de qualquer criador.

    No se pode provar que o Universosegue um projeto.

  • O pr-Universo pode ser inimaginvel. medida que nossa experinciaacontece no tempo e no espao, noseria intil tentar explicar a realidadeantes do surgimento do espao e dotempo?

    A aleatoriedade parece ser a vencedorade longo prazo no Universo, pois asestrelas morrem, e a energia seaproxima do zero absoluto.

    Essas parecem objees esmagadoras,e Leonard exemplifica a teimosaresistncia da cincia a outras formas deexplicar o cosmo. Ele v com

  • desconfiana as explicaes nocientficas, ou at pior: encara-as comosupersties primitivas (milho branco eamarelo) ou iluses. Para ele, todos osprocessos no cosmo, visveis ouinvisveis, podem ser explicados emtermos materialistas. Mas fascinanteperceber como a espiritualidaderessurgiu no debate; e por que, do meuponto de vista, vencer no final. Todas asobjees da cincia podem ser rebatidas.Nesse processo, vamos fincar as bases deuma nova histria da criao.

    Stephen Hawking considerado, nacultura popular, o gnio do momento, e

  • assim como Einstein carrega o peso totalda cincia em seus pronunciamentos.Hawking ganhou manchetes no mundotodo em 2010, ao declarar que no necessrio invocar Deus para fazer oUniverso funcionar. O mundo dosdevotos tinha mais uma razo para verna cincia a inimiga da f. Pessoalmente,Einstein se mostrava reverente emaravilhado diante do mistrio que pairano horizonte longnquo do cosmo. Mas,desde ento, o Universo da fsica tericase tornou aleatrio, complexo,paradoxal, rido demais para umapresena divina.

  • Hawking e outros dizem que osprincpios qunticos tornam possvel osurgimento do Universo a partir do nada.Mas, para diferenciar isso do vcuo ondecomea o Gnesis, a fsica se enroscouem um n. Se esse nada deu origem aoanseio humano de significado, por queele no ser importante? O Universo semanifesta de forma aleatria, mas essealeatrio criou o crebro humano, quefaz todos os tipos de coisas no aleatrias(como os escritos de Shakespeare e dizerEu te amo). Ento, como a ausncia deprojeto deu origem ao projeto?

    A natureza ainda no comprovada do

  • nada uma abertura para aespiritualidade, que, ao contrrio do quediz Leonard, no precisa voltar aos mitospr-cientficos. Pelo contrrio, podeapresentar vislumbres sobre o que existealm do espao e do tempo. A novahistria da criao ir se basear noseguinte:

    1. Totalidade: O Universo, incluindo onada que precede a criao, umsistema. A base da existncia no ovazio inerte, mas um campo dinmicoque envolve a criao numa totalidadesingular. Processos menores no campo

  • quntico podem estar relacionados a essesistema, mesmo que a anos-luz dedistncia. Vemos vrios tipos de coisasocorrer ao nosso redor que no podemestar totalmente desconectadas: comoum vaga-lume, numa abafada noite devero, se relaciona com os pinguinsimperadores marchando centenas dequilmetros pelo gelo antrtico, ou comuma tempestade tropical na ndiaOcidental? A verdade mais profunda que a totalidade deve incluir tudo isso.

    Nossos cinco sentidos so confundidospela diversidade, e parte do trabalho dadiversidade parecer desconectada;

  • isso que nos fascina na infinita variedadeda vida. A totalidade, por outro lado, invisvel. S pode ser conhecida comuma sondagem mental, numa anlisemais profunda esta a perspectivaespiritual. A nica forma externa devislumbrar a totalidade com amatemtica. Como Einstein observou,ele elaborou o conceito de relatividadeem termos matemticos e ficou surpresoquando a natureza se ps de acordo comisso. Mas uma experincia interna datotalidade o que Buda e outros sbiosrelatam uma forma igualmente vlidade conhecimento, afinal, at mais

  • satisfatria, como espero demonstrar.

    2. Regularidade: As leis naturais queregem o Universo so regulares porquepodem ser explicadas matematicamente.Eventos que parecem aleatrios, dadisperso da luz ao bombardeio detomos ou erupes de ventosvulcnicos, nos distraem da verdade maisprofunda: o aleatrio apenas umaforma de passar de um estado deregularidade a outro. Dizendo de outramaneira, a aleatoriedade o modo de oUniverso quebrar os ovos para fazeromeletes csmicas. medida que ordens

  • superiores vo surgindo, elas passam portransies caticas que parecem umamanifestao aleatria a forma como osvegetais se empilham num compostopara decair e se transformar em solo frtil, mas o aleatrio no o estgio final, apenas o passo intermedirio para umnvel de organizao novo e maiscomplexo. apenas um passo darealidade ao significado, e isso implicaque o Universo na verdade significaalguma coisa.

    3. Evoluo: Um dos parentes prximosda aleatoriedade a entropia, a lei

  • segundo a qual o calor constantementedisperso pelo Universo. A entropia faz ocosmo minguar em direo ao zeroabsoluto, ao congelamento que aguardatodas as coisas. Mas existe outra foraque cria o oposto zonas quentes decriao, onde o calor se concentra,levando ao DNA e vida na Terra. Essafora opositora a evoluo, a tendnciaque faz tudo crescer. A espiritualidadeacredita que a evoluo dominante nanatureza. O crescimento, quandocomea, nunca termina.

    4. Criatividade: A evoluo no monta

  • velhos ingredientes em novas frmas;nem apenas transforma pequenospedaos de matria em pedaos maiores.A evoluo d saltos de criatividade. Issoacontece de maneira quntica isto , ho surgimento repentino de umapropriedade que no existia antes. Agua surge a partir de dois gasesinvisveis, o hidrognio e o oxignio.Nada a respeito desses gases poderiaantecipar o que a gua. Os saltosqunticos predominam na criao ondequer que a observemos, mas soespeciais na linda e espantosa novidadedas formas de vida na Terra. O cosmo

  • regido pela criatividade.

    5. Conscincia: Para ser criativo preciso ser consciente. A espiritualidadeafirma que a conscincia a base dacriao. Ela sempre existiu, e o Universovisvel se desdobra como uma amostrado que a conscincia deseja analisar. Atotalidade no poderia se desdobrarseguindo apenas leis mecnicas como agravidade. Olhando ao nosso redor,podemos ver muita experimentao,inventividade e imaginao na natureza.Em vez de dizer que essas coisas sofantasias no cientficas da mente

  • humana, muitos pensadoresespeculativos fazem o contrrio. Parachegar ao DNA, vida na Terra e mente humana, o Universo estavaconsciente de si mesmo e podia entendero que fazia. A cincia obrigada a aceitaras explicaes mais singelas e elegantespara as coisas. muito mais simplesaceitar a conscincia como uma premissado que elaborar torturantes esquemasque se tornam cada vez mais complexosao negar o papel central da conscincia.

    Criao sem conscincia como afbula do quarto cheio de macacosteclando aleatoriamente uma mquina

  • de escrever at que por fim produzem asobras completas de Shakespeare, milhesde anos depois. Na verdade, umpesquisador chegou a criar um geradorde nmeros aleatrios (um macacoatualizado) para cuspir letras e ver sesurgiam algumas palavras coerentes. Elassurgiram, mas houve inmeras tentativasat se formar uma simples frase. Aimprobabilidade de produzir um Hamlet astronomicamente grande. (Opersonagem Hamlet tem 1.495 linhas defala. Se o nosso computador-macacoescrevesse a ltima slaba errada registrando O resto silente, em vez

  • de O resto silncio , ele teria derepetir todo o processo aleatrio desde oincio. Depois disso, s haveria mais 36peas a serem escritas!) O DNA humano milhares de vezes mais complexo emestrutura que as letras nos textos deShakespeare. Em lugar de achar que anatureza teve de voltar ao comeo cadavez que aleatoriamente esqueceu umtrao gentico, mais razovel supor queo Universo se lembra dos passos daevoluo e capaz de construir a partirda. Em outras palavras, o Universo temconscincia de si mesmo, ele consciente.

  • Assim, a espiritualidade dispe deargumentos viveis sobre como oUniverso comeou, argumentostranscendendo o modelo matemtico deLeonard, que se mostra incompleto. Amatemtica no comeou a explicar porque os ingredientes do Universoprimordial se parecem estranhamenteaos materiais necessrios para a vidaconsciente. Como observou o fsicoterico Freeman Dyson: Contra todas asprobabilidades, a vida pode terconseguido moldar o Universo segundoos seus propsitos. Para os que insistemna primazia da matria, tambm h

  • convincentes dados materiais que levama jogar o aleatrio pela janela. Na pocado big bang, o nmero de partculascriadas foi s um pouco maior que onmero de antipartculas. Para cadabilho de antipartculas, havia 1 bilho departculas mais um. Essas partculas eantipartculas colidiram e se aniquilaraminstantaneamente, enchendo o Universode ftons. Porm, por causa dominsculo desequilbrio inicial, aindarestaram algumas delas depois daaniquilao, e foi da que se criou o queconhecemos como mundo material. Quala probabilidade de isso acontecer? Mais

  • ou menos a mesma de explodir umarranha-cu com dinamite e encontrarum novo arranha-cu formado pelapoeira que restou.

    Leonard apresentou descries aindamais intricadas dos primeiros segundosdepois do big bang, porm, prefiro ficarcom um conceito mais simples. Se s oque importa so os dados, ento voc,eu, todas as espcies vivas, bem como asestrelas e galxias no nosso Universo, soresultado de um pequeno e aberrantedesequilbrio no momento da criao. OUniverso fsico tinha todas asprobabilidades de no acontecer. Mas

  • aconteceu. E ocorreu algo mais: umafora organizadora que, sem se tornarvisvel, moldou a semente do conturbadoe catico cosmo.

    Na ausncia dessa fora modeladora,as probabilidades de voc ou eu termosaparecido so pequenas demais para setornar crveis. Os fsicos acrescentarammuitas outras coincidncias senumeradas por Leonard, mas eleminimiza o espantoso estado das coisasda resultante: as partes do Universo seencaixam com preciso infinita einfinitesimal. No importa se empequena ou em grande escala, o cosmo

  • continua to exato que descarta oaleatrio. Alguma coisa deve ter causadoisso, e ela deve existir alm do Universovisvel. Mesmo segundo sua prpriatica, os materialistas esto diante deuma regio transcendental, e expulsarDeus dessa regio no vai torn-lo menosverdadeiro.

    Mesmo assim, para chegar a umanova histria da criao, no hnecessidade de invocar Deus no sentidotradicional (ainda que, segundo Leonard,a sensao de espanto e alumbramentoseja necessria para algum que queirarealizar descobertas cientficas). O

  • crucial, para o meu lado do debate, quea cincia foi obrigada a olhar para oabismo existente alm do tempo e doespao, abrindo a porta para conscincia,criatividade, evoluo, regularidade etotalidade como princpios bsicos danatureza. Como vou demonstrar, semessas caractersticas, o Universo nopoderia ter produzido o DNA, a vida naTerra, a espcie humana e a civilizao.Como tudo isso existe, a causa daespiritualidade nem de longe estperdida. Ela apenas comea a se afirmar.

  • 3. O Universo consciente?

  • S

    DEEPAK

    egundo uma velha piada judaica,Deus cria o mundo, senta para

    apreciar sua obra e diz: Vamos ver sefunciona. No mito de criao adotadopela cincia, nada cria o mundo nem sesabe se ele vai funcionar. O Universo notinha uma mente at a chegada docrebro humano, que olhou para sua

  • prpria evoluo no passado e declarou:Nada pode ser consciente, s eu. No hconscincia fora nem antes de mim.

    O curioso que, ao propor umUniverso onde no havia conscinciadurante 13 milhes de anos, a fsica cortaseus prprios alicerces. O mais avanadoaspecto da fsica, a teoria quntica, dizque o mundo do subatmico nos fornecea melhor descrio da natureza ocampo quntico, que mantm unida arealidade. Contudo, os fsicos situam essecampo fora de ns: em outras palavras, aconscincia humana conhece a si prpria,mas no se permite que o campo faa o

  • mesmo. Essa excluso fora a cincia aelaborar algumas alegaes tortuosas.Por exemplo, Stephen Hawking declaroupublicamente seu apoio existncia detrilhes e mais trilhes de outrosUniversos (o nmero exato um seguidopor quinhentos zeros). Nenhum dessesUniversos alternativos foi visto oucomprovado. Eles atendem necessidade de haver muitos estepes parajogar fora; pois, se voc afirmar, comofaz Hawking, que a conscincia oresultado de processos fsicos aleatrios, preciso um bocado de desacertos atque um Universo de sorte o nosso

  • receba o grande prmio.

    Contra essa concepo fantstica detrilhes de Universos jogados fora, eugostaria de citar o Bhagavad Gita, nomomento em que o Deus Krishnadescreve sua natureza divina: Eu sou ocampo e o conhecedor do campo. Embreves palavras, ele destaca o ladoespiritual do debate. Existe um campoque compreende toda a criao, tantovisvel quanto invisvel, e est imbudode uma mente que se conhece. (Emboraa fsica defina campo num sentido maistcnico e restrito, o significado antigorefere-se apenas base da existncia.)

  • Quando analisaram a prpriaconscincia, os grandes sbios da antigandia descobriram o Aham Brahmasmi,que significa tudo que existe est dentrode mim, ou, em termos mais simples:Eu sou o Universo.

    O Aham Brahmasmi afirma uma coisabsica: h conscincia em toda parte danatureza. Se voc rejeitar essa ideia, aalternativa quase absurda, porquetransforma a conscincia num acidente,no resultado aleatrio de um DNAborbulhando numa sopa qumica, nosoceanos da Terra, 2 bilhes de anos atrs.Depois de passar por uma cadeia de

  • eventos igualmente improvveis, ainteligncia humana evoluiu at olharpara o cosmo e dizer: Eu sou a nica quepode pensar por aqui. Que sorte, no?(Uma fsica que se interessou por umUniverso consciente me contou que foiinterrogada por fsicos seniores duranteuma conferncia, sendo que um delesgritou: Volte atrs e comece a fazer boafsica outra vez. Ela percebeu que oscolegas mais jovens pareciaminteressados, mas se mantiveram emsilncio.)

    Como j vimos, o elo mais fraco noatual argumento da cincia a

  • aleatoriedade. Vamos substituir oUniverso visvel por uma fbrica deautomveis. A linha de montagem dafbrica produz mquinas muito bem-feitas, intrincadas e eficientes, os projetosmostram imaginao e criatividade. Masse voc for at o local de trabalho eobservar de perto, vai encontrar umanuvem de tomos de ferro, silcio epolmeros plsticos girando loucamenteenquanto so sugados para a fbrica. Serque se pode mesmo acreditar que essanuvem de matria e energia, mais umindeterminado perodo de tempo, foi porsi s suficiente para produzir um

  • automvel? Essa a atual tese da cinciasobre como o big bang se desenvolveuat o crebro humano. O mais incrvel que, quando indagada se o big bangtinha, incorporado nele, o potencial decriatividade e inteligncia, a reaoconvencional da cincia um tonitruanteno. A resposta que o caos podeproduzir essas coisas, dados o devidotempo e trilhes de interaes aleatrias.

    Importunados com essa criao scegas, alguns cientistas tentam despertarum pouco s vezes at bastante ocosmo. Sir James Jeans, eminente fsicobritnico da primeira metade do sculo

  • XX, ponderou: O Universo parece cadavez mais um grande pensamento, e nouma grande mquina. Nos nossos dias,sir Roger Penrose, outro renomado fsicoingls (e opositor contumaz de StephenHawking), prope que as sementes daconscincia esto entranhadas noUniverso, no nvel mais sutil da natureza,no ponto de esvaecimento da matria eda energia (tecnicamente conhecidacomo escala de Planck da geometria doespao-tempo).

    Penrose fala da verdade matemtica,por exemplo, como um valor platnico,inspirado no filsofo grego Plato, que

  • propunha que todas as caractersticashumanas nasciam de uma caractersticauniversal por exemplo, o amor umvalor platnico por ser inerente criao,e no algo inventado pelos sereshumanos para definir suas emoes.Sentimos amor porque somos parte dacriao. Penrose ressalta o fato de quetoda a cincia se baseia na matemtica,mas v esta ltima como algo mais quenmeros a serem calculados. Paraalgum que realmente a entenda, amatemtica expressa valores querefletem o cosmo, incluindoregularidade, equilbrio, harmonia,

  • lgica e beleza abstrata. No possveldesnudar os nmeros e deixar essesvalores para trs.

    Todos os fsicos concordam quanto importncia da matemtica, por isso, difcil ver como a cincia pode seguirrejeitando as qualidades queacompanham o raciocnio matemtico.Em outras palavras, se voc est embusca da verdade, ser que ela no fazparte da estrutura de sua mente? Nofosse assim, como voc saberia o queprocurar? Quando atribumos harmoniae lgica fbrica do cosmo, fica muitomais difcil excluir a conscincia. A

  • espiritualidade d o passo lgicoseguinte: tudo que vivenciamos acontecena conscincia; portanto, no existe umarealidade l fora, divorciada daconscincia. Penrose no vai to longe,pois j declarou publicamente queabomina a ideia de um Universosubjetivo. Mas a beleza de invocar umaconscincia csmica que com issopodemos acabar com a guerra entresubjetivo e objetivo. No estado de pr-criao do Universo j existia o potencialpara ambos, como sementes no tero.

    Outros pensadores respiraram fundoe assimilaram a coisa toda. Em vez de

  • isolar a mente humana do campo dacriao como uma criana faminta como nariz encostado na vitrine da padaria ,alguns cientistas optaram por romper abarreira entre o Universo e ns mesmos.O falecido John Wheeler, de Princeton,afirmava que o Universo visvel spoderia existir se houvesse algum paraobserv-lo; sem esse observador, nohaveria Universo. Sem a participao deum observador, o Universo ainda estariaem estado puramente potencial. Quandoolhamos para as estrelas, esse ato quefaz com que elas apaream?

    Brados de solipsismo podem encher

  • o ar, mas no levam a crer,necessariamente, que o Universoesperou os seres humanos para comeara existir. O observador pode ser Deus.(Agora brados de f e superstioenchem o ar.) Mas tampouco precisamosde Deus. S precisamos de um Universoque contenha a conscincia como aspectoinseparvel de si mesmo. Com issoestabelecido, quaisquer e todos osobservadores divinos, humanos ou deoutro tipo so expresses deautoconscincia. Todos partilham domesmo status, todos participam dacriao. A grande ocasio para a

  • espiritualidade resgatar a cincia da ideiade uma criao cega permitir que osseres conscientes (ns) participem de umUniverso consciente.

    O que significa realmenteparticipar? Quando um fsico comoWheeler argumenta que no incio haviasomente probabilidades, ele est falandode um conceito muito conhecido nafsica, o colapso da funo de onda. Umapartcula elementar, como um fton, noexiste no tempo e no espao como umabolinha brilhante pendurada na rvorede Natal do cosmo. Os ftonstransportam a luz em minsculos

  • pacotes, mas tambm se comportamcomo ondas. Estas se estendem em todasas direes, formando o campoeletromagntico que abarca o Universo.H probabilidade de se encontrar umfton em qualquer lugar desse campo,porm, assim que um deles detectadoem algum lugar, voc no precisa maisda probabilidade. O prprio ato daobservao transformou a onda empartcula.

    Para mim, o fato de uma partculapoder existir em estado invisvel temenormes implicaes (algumasinaceitveis para os fsicos, que lidam

  • com o dia a dia), porm, a maisimportante para a espiritualidade aseguinte: antes do big bang, o estado doUniverso tinha todas as possibilidades.Tudo o que existe ou poderia existir deriva daquele estado original. Isso noparece ter efeitos prticos na vida diria,mas tem. Considere o uso da linguagem.Antes de escolher qualquer palavra paradizer elefante, por exemplo, ela apenas uma possibilidade. Voc pode ouno escolh-la. Talvez preferissepaquiderme, que est ali como outrapossibilidade. Mas quando voc escolheuma palavra, ocorreu um evento no

  • Universo fsico, e as possibilidades doque poderia ter sido escolhido naquelemomento (mas no foi) continuam emestado de puro potencial.

    A coisa mais estranha, do ponto devista lgico, que no importa quantaspossibilidades se tornam realidade, poisseu nmero continua infinito. OUniverso visvel s um pedacinho doque poderia existir. Todas aspossibilidades que no se concretizaramainda esto ali, to reais quanto as queocorreram. A conscincia funciona damesma forma. Quando voc escolhe apalavra elefante, seu vocabulrio

  • continua a conter milhares de palavrasque voc no empregou. As que noforam usadas no so destrudas ouesquecidas, continuam comopossibilidades. A estamos, voc e eu,participando da gnese neste e em todosos momentos. O Deus Krishna diz sobreesse processo: Curvando-me sobre mimmesmo, eu crio muitas e muitas vezes.

    Se o campo contm tudo que poderiaexistir, no podemos excluir dele aconscincia ou os valores humanos. aque a espiritualidade pode enriquecer afsica. Os fsicos descartam sumariamentea necessidade demasiado humana de um

  • cosmo que seja um lar significativo, umlugar de alimento para amor, verdade,compaixo, esperana, moralidade,beleza e todos os outros valoresatribudos a Deus. Como essascaractersticas no tm qualquer valormatemtico, a cincia se sente vontadepara descart-las. Mas, na verdade, nscolhemos esses valores das infinitaspossibilidades do Universo, comocolhemos palavras do nosso vocabulrio.

    Roger Penrose e quase todos osdemais estudiosos seniores no campo dacincia abomina a ideia de umUniverso subjetivo, e ela no imposta a

  • ele. Espiritualidade no quer dizersubstituir o objetivo pelo subjetivo.Alguns paranoicos esquizofrnicos estoconvencidos de que o mundo vai acabarse eles dormirem, e por isso tentam ficaracordados 24 horas por dia, para o bemda humanidade. Todavia, Buda e ossbios vdicos no dizem que isso eranecessrio. Eles afirmam que h umestado primal abrangendo tanto asubjetividade quanto a objetividade, umapremissa totalmente coerente com arealidade quntica. Quando uma funode onda entra em colapso, h umadiviso entre sujeito e objeto: agora eu

  • estou olhando para uma coisa. Mas,antes dessa diviso, a realidade umaentidade infinita. E deve ser assim, paraque todas as possibilidades estejam nelacontidas.

    H muito mais a dizer sobre a formacomo se ligam a mente humana e amente csmica. Quando se admite que oUniverso pode ser consciente de simesmo, fica sem sentido especular sobreo mistrio de por que ns, sereshumanos, somos inteligentes, criativos econscientes. O Universo est no ar querespiramos; est na vizinhana do lugaronde crescemos. Na verdade, o mundo

  • de infinitas possibilidades sempre foi acoisa mais prxima de ns. Como opoeta mstico persa Rumi expressou:Olhe esses mundos surgirem do nada.Isso faz parte do seu poder.

    O que for que o Universo contenha,inclusive ns, isso deve existir primeiroem potencial. A origem pe etiquetas nacriao porque, na verdade, estrotulando a si mesma. Esse o papel daconscincia. E, ao no reconhecer isso, acincia cega a si mesma. Do ponto devista espiritual, as ondas deprobabilidade da fsica quntica habitama mesma dimenso da mente de Deus

  • que os grandes cientistas, ao longo dahistria, sempre tiveram a esperana decompreender.

  • F

    LEONARD

    riedrich Nietzsche escreveu:Antigamente, buscava-se a sensao

    de grandeza do homem traando suaorigem divina: este se tornou umcaminho proibido, pois em seu portalest o macaco, ao lado de outras ferashorrveis, sorrindo, com ar superior,como se dissesse: no h mais nada nesta

  • direo! Isso foi em 1881, dez anosdepois de Darwin ter escrito Adescendncia do homem, no qual propunhaque mesmo os aspectos mais nobres doshomens eram resultado dos processosaleatrios e de seleo natural queproduziam o grasnado do pato ou osmovimentos da serpente. A teoria daevoluo de Darwin vem incomodandoas pessoas desde que foi publicada em Aorigem das espcies. Num encontroanterior, diz a lenda, SamuelWilberforce, bispo de Oxford, perguntoua T.H. Huxley, firme partidrio deDarwin, se ele achava que sua suposta

  • descendncia de um macaco vinha departe do av ou da av? Dizem queHuxley respondeu, em resumo, que nose aviltava por descender de um macaco,mas se sentiria envergonhado de serelacionar com um homem queargumentasse como Wilberforce. Hoje,ironicamente, o fsico Stephen Hawking,homem que muito fez para banir anecessidade de uma origem divina emnosso entendimento da criao, tem suasala, na Universidade de Cambridge,justamente na Wilberforce Road. Esseesprito de abertura no universal. Athoje inmeros estudiosos, religiosos ou

  • no, sentem necessidade de atribuir agrandeza da humanidade nossa relaoespecial com o divino.

    Deepak chama a explicao cientficasobre como chegamos at aqui de mitode criao da cincia. Ao empregar talterminologia, ele nivela a cuidadosaobservao e o trabalho terico dacincia com lendas e especulaes deantigas civilizaes, algumas das quaisformam a base de suas prpriasconvices. Mas essa abordagem do tipovale tudo no um caminho produtivopara a verdade. Deepak consideradetestvel um Universo em que a

  • conscincia no existia antes da chegadados seres humanos. Prefere a pintura cor-de-rosa de uma conscincia universal jpresente desde a criao. No entanto,quando no endossamos essa abordagemdo tipo vale tudo, a questo no seum Universo consciente prefervel, masse um Universo consciente possvel.Excessos de otimismo (whishful thinkings)no deveriam moldar nosso ponto devista.

    O que significaria um Universoconsciente? Os cientistas tm dificuldadede atribuir uma definio precisa conscincia, ainda que tenhamos uma

  • vaga ideia do significado do termo. Umadas caractersticas sempre includas naconscincia a autoconscincia. Emcomparao, os processos cerebrais, queso automticos, esto alm do nossocontrole voluntrio e dos quais notemos conscincia, so consideradosinconscientes. Experimentos comespelhos parecem indicar quechimpanzs, orangotangos e at a pegaso conscientes de si mesmos, poisreconhecem a prpria imagem noespelho. Supe-se que os nematdeos eas moscas-das-frutas no faam o mesmo,portanto, a autoconscincia estabelece

  • uma linha entre as espcies. Ainda assim,a autoconscincia por si s umreferencial tosco de classificao, e amaioria de ns gostaria de pensar que osque esto dando as bananas tm um nvelpelo menos um pouco maior deconscincia do que os que as recebem,por conseguinte, talvez haja nveis deconscincia.

    A conscincia tambm varia deacordo com o estado da mente. Porexemplo, todos ns temos perodos deno conscincia, que ocorrem no que sechama de sono de ondas lentas, ou sonoprofundo. Se voc pedir a uma pessoa

  • acordada para descrever o que estavapensando ou vivenciando um poucoantes, ela vai responder. Isso tambm verdade se voc acordar algum duranteo sono de movimento rpido dos olhos(ou sono REM), ou enquanto estsonhando, ainda que o sonho logodesaparea da memria. Mas se vocacordar algum durante o sono profundo,ele no ter nada a dizer. A mente seruma folha em branco. Na verdade, osregistros da funo neural durante o sonoprofundo mostram apenas atividadesassociadas aos processos cerebraisinconscientes, automticos.

  • Outra complicao de se definirconscincia que nossa mente conscientee a inconsciente so sistemas pareados.H inmeras pesquisas recentes sobre oefeito do inconsciente no que vemoscomo comportamento social consciente ena tomada de decises. O exemplo maisvvido de atitudes conscientes baseadasem informaes que a menteinconsciente desconhece vem de umfenmeno chamado viso s cegas(blindsight). Ela um sintoma resultantede danos numa parte do crebrochamada crtex visual primrio. Pessoasatingidas por essa disfuno no

  • conseguem enxergar conscientementenada que esteja em parte ou natotalidade de seu campo visual, situaoque pode ser confirmada por exames deimagens do crebro. Mas j sabemos que,nesses casos, as imagens captadas peloolho so transmitidas para o crebro,onde influenciam o comportamentoconsciente, sem chegar no nvel daexperincia consciente. Por isso, pessoascom viso s cegas podem estender amo e tocar as coisas, catar objetos quelhes forem lanados, distinguir rostossorridentes ou zangados e at, em umdos casos, transpor uma pista de

  • obstculos sem conscincia de estarvendo nada.

    Ns inferimos a conscincia de outrosseres humanos ou de animais interagindocom eles. Mas no podemos pr oUniverso diante de um espelho parasaber se vaidoso. Se ele consciente,como vamos saber? Seria o mesmo queuma clula das paredes estomacais saberque causa dor no indivduo do qual fazparte quando est inflamada. tentadoracreditar que a conscincia (depreferncia, uma conscincia amorosa ecompassiva) desempenha algum papelno Universo fsico. Na verdade, durante

  • sculos os filsofos da naturezaacreditaram que as leis da fsica eramanlogas s leis humanas, e que osobjetos do Universo obedeciamconscientemente essas leis para evitar ocastigo dos deuses. Ainda no sculo XVII,o grande astrnomo e fsico JohannesKepler acreditava que as leis domovimento dos planetas eramassimiladas por suas mentes. Mas essaideia no resultou em consequnciasobservveis, por isso foi abandonada pelacincia. A noo de uma conscinciauniversal igualmente estril. Por isso melhor tambm abandon-la.

  • Deepak diz que a cincia mostra umateimosa resistncia a outras formas deconsiderar o cosmo, mas essas outrasmaneiras a que a cincia resiste soafirmaes sem evidncias de apoio.Deepak lamenta que deixamos acosmologia para os especialistas, damesma forma que deixamos os genespara os geneticistas. Mas eleconcordaria que algumas tarefasprecisam do trabalho especializado, eoutras, no. Por exemplo, acho que nsdois pensamos que qualquer um podefazer um sanduche de pasta deamendoim e geleia, mas, se um de ns

  • fosse passar por uma cirurgia de corao,os dois iramos querer o melhor cirurgiocardaco do ra