A predominância do conteúdo pentecostalista no discurso nas TVs católicas
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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE BELO HORIZONTE
A predominância do conteúdo pentecostalista nodiscurso nas TVs católicas
Arildo Ferreira Hostalácio
Belo Horizonte2009
Arildo Ferreira Hostalácio
A predominância do conteúdo pentecostalista nodiscurso nas TVs católicas
Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social com Especialização em Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte.
Orientador: Professor Mestre Gilvan Ferreira de Araújo
Belo Horizonte2009
Arildo Ferreira Hostalácio
A predominância do conteúdo pentecostalista no discurso nas TVs católicas
Monografia apresentada como pressuposto para obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social com Especialização em Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte..
Professor Mestre Gilvan Ferreira de AraújoOrientador
Professora Mestra Vanessa Rodrigues de Lacerda e SilvaExaminador
Belo Horizonte2009
À “Luca Maluca” (Luísa), filha minha, garupeira em minhas aventuras, autenticadora de meus sonhos e
que inunda minha vida de amor dedicado;
À Regina, amor que semeado na juventude, colhido na maturidade minha realidade agora;
Aos que neste momento, e sempre,inundam minh´alma de doces saudades e perfumadas lembranças;
Aos mestres e funcionários da FESBH - aqueles que realmente se dedicam;
Ao orientador, Gilvan, por sua firmeza insular
Aos que me viam como louco por sonhar, aos que desconfiavam que eu fosse por
recomeçar, aos que achavam que eu era por insistir e aos que hoje têm essa certeza
por meu terminar;
A todos dedico e agradeço.
“Duas coisas te peço; não mas negues, antes que morra: Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa;
Não me dês nem a pobreza nem a riqueza; Mantém-me do pão da minha porção de costume;
Para que, porventura, estando farto não te negue, E venha a dizer: Quem é o Senhor?
Ou que, empobrecendo, não venha a furtar, E tome o nome de Deus em vão.”
Provérbios (30,7-9)
“Navegar é preciso. Viver não é preciso.”Fernando Pessoa
RESUMO
Esse estudo pretende responder até que ponto a consolidação de movimentos com base em
doutrinas pentecostais vem influindo e prevalecendo no conteúdo do discurso de
evangelização que se faz presente na programação de TVs ligadas à doutrina católica.
Buscar, identificar e entender se há prevalência de conceitos e de formatos pentecostais
inseridos nos conteúdos do discurso no programa "O Amor Vencerá", produzido pela TV
Canção Nova, e do programa “Profetizando Vida”, produzido pela TV Super e exibidos entre
os dias 01 de julho de 2009 até 08 de julho de 2009 é o objetivo deste trabalho.
Não é a pretensão neste trabalho levantar questões sobre a validade ou não desse fenômeno,
não cabendo aqui criar ou discutir juízo de valor sobre o fato. A ideia não é criticar o
movimento carismático por apropriar-se de tais fundamentos, mas sim tentar entender como se
dá essa apropriação e ou contaminação.
A intenção é buscar esta tentativa, pela prática da pesquisa e do modelo teórico proposto por
Habermas em sua Teoria da Ação Comunicativa, de que os indivíduos entre si e entre os
grupos sociais, e esses entre si permanecem em constante movimento de interação, tendo os
processos comunicacionais como mediadores no intercâmbio dos conteúdos simbólicos e das
informações produzidas neles e por eles.
Palavras chave: Televisão, TV Canção Nova, Religião, Teoria da Ação Comunicativa.
.
ABSTRACT
This study aims to answer the extent to which consolidation of movements based on
Pentecostal doctrine is prevalent and influencing the content of the speech of evangelization
that is present in the TV programming related to Catholic doctrine.
Search, identify and understand if there is a prevalence of concepts and formats Pentecostal
inserted in the content of speech in the "O Amor vencerá" produced by TV Canção Nova, and
the program "Profetizando vida" produced by Super TV and displayed on the weekend 01
from July 2009 to 08 from July 2009 is the object this study.
It is not the pretension of this work to raise questions on the validity or not of this
phenomenon, not fitting here to create or to argue value judgment about it. The idea is not to
criticize the charismatic movement for assuming itself of such beddings, but yes to try to
understand as if of this appropriation and or contamination.
The intent is get this trend understand, practice research and or the model proposed by
Habermas in his Theory of Communicative Action, that the individuals themselves and
between social groups, and those among you remain in constant movement and interaction,
with the communication processes as mediators in the exchange of symbolic content and the
information produced them and for them.
Keywords: Television, TV Canção Nova, Religion, Communicative Action Theory.
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1................................................................................................................................44
TABELA 2................................................................................................................................45
TABELA 3................................................................................................................................48
LISTA DE ABREVIATURAS
Assembleia de Deus.................................................................................... ADEstados Unidos da América......................................................................... EUAIgreja Batista da Lagoinha........................................................................... IBLIgreja Católica.............................................................................................. ICIgreja Internacional da Graça...................................................................... IIGIgreja do Evangelho Quadrangular.............................................................. IEQIgreja Pentecostal Deus é Amor.................................................................. IPDAIgreja Pentecostal O Brasil para Cristo....................................................... IPBCIgreja Universal do Reino de Deus............................................................. IURDInternational Catholic Charismatic Service……….………………….. ICRSMovimento Neopentecostal Protestante..................................................... MNPPMovimento Renovação Carismática Católico... ......................................... MRCC
ÍNDICE REMISSIVO
ação comunicativa.........................................................................................................12, 14, 16boa nova........................................................................................................................21, 23, 26comunicação........................................................................14, 16, 17, 19, 22, 35, 36, 37, 38, 41conteúdos simbólicos......................................................6, 14, 15, 17, 20, 24, 32, 36, 40, 42, 49exclusividade.......................................................................................................................26, 29Habermas............................................6, 7, 12, 13, 14, 16, 17, 19, 23, 32, 35, 36, 39, 40, 42, 49habermasiana.......................................................................................................................21, 22hegemônicos..............................................................................................................................20individualidades..................................................................................................................17, 42International Catholic Charismatic Service (ICRS)..............................................................9, 33mídia........................................................................................................................34, 37, 38, 43Movimento de Renovação Carismática Católica (MRCC).......................................................33multiplicidade............................................................................................................................16mundanidade.............................................................................................................................25ontogenéticos............................................................................................................................21parcialidade.........................................................................................................................23, 28parcialismo................................................................................................................................27pentecostalismo.......................................................................................................12, 30, 33, 37pós-modernidade...........................................................................................................18, 25, 35protestantismo.............................................................................................25, 27, 28, 30, 32, 33religião......................................................................................12, 17, 19, 23, 24, 26, 27, 31, 34secularização...........................................................................................................19, 25, 28, 29sociologia..................................................................................................................................16televisão..................................................................................................................19, 35, 36, 37TV Canção Nova.............................................................................................................6, 13, 49TV Super.............................................................................................................6, 13, 37, 43, 49universalidade...................................................................................................20, 23, 26, 28, 29
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................................................12
Discussão Teórica....................................................................................................................14
Contexto teórico....................................................................................................................16
Pensamento Cristão..............................................................................................................20
Catolicismo...........................................................................................................................23
Protestantismo......................................................................................................................27
Pentecostalismo....................................................................................................................30
Renovação carismática.........................................................................................................33
Televisão: Espaço público de manifestação da fé................................................................34
Metodologia.............................................................................................................................41
Delineamento da pesquisa....................................................................................................42
Coleta de dados....................................................................................................................43
Análise dos dados coletados.................................................................................................47
Conclusões................................................................................................................................49
Bibliografia..............................................................................................................................51
Obras Citadas.......................................................................................................................51
INTRODUÇÃO
Devido sua especificidade como campo de estudo que contempla em sua estrutura
teórica um caráter multidisciplinar, a comunicação se inscreve na esfera das ciências sociais
aplicadas e, esse aspecto se reflete no plano de investigação científica e na diversidade de
referenciais teóricos adotados para o seu objeto de estudo, neste caso, a própria comunicação.
Baseado na premissa de multidisciplinaridade da comunicação, este estudo propõe uma
pesquisa fundamentada a partir da leitura da teoria, sociológica, da ação comunicativa,
proposta por Habermas, que supõe em seu enunciado a ocorrência de uma constante e
necessária interação dos indivíduos entre si, esses entre os grupos sociais aos quais pertencem
e os grupos, por sua vez, interatuam entre si, sempre tendo a comunicação como agente de
mediação. Diante dessa dinâmica de intercâmbios, pretendeu-se, com este estudo, entender
essa atuação da comunicação nas intermediações, que ocorrem, segundo Habermas,
indistintamente nos diversos grupos sociais e em seus estratos, desde as formas mais
primitivas até as mais evoluídas de sociedades.
Por esse aspecto, justifica-se a necessidade desta pesquisa tendo-se em vista a
possibilidade, a partir de um estudo dos conteúdos manifestos em um discurso presente em
grupos determinados e em seus estratos sociais, de entender-se a ocorrência, na pós-
modernidade, da circulação desses conteúdos e dos bens simbólicos, bem como, de sua
apropriação e ou contaminação. Para isso, a abordagem desse fenômeno dar-se-á,
especificamente, por meio da analise de conteúdos expressos em um discurso religioso, que
ocorre em um ambiente de comunicação tecnicamente mediada – televisão -, dentro de um
contexto cristão.
Ao tratar-se de tema complexo como religião, e muitas vezes limitado por pontos
de vista extremamente contaminados de senso comum, foi imprescindível que a pesquisa
tivesse redobrada sua atenção quanto à isenção e à objetividade em relação ao do tema
tratado.
No desenvolvimento teórico, inicialmente foram abordados os princípios do
axioma do cristianismo e o surgimento, dentro dele, do ideário protestante, bem como o que
vai diferenciá-lo do catolicismo. A partir daí, viu-se o começo do pentecostalismo1 e como, na
1 A palavra pentecostal, segundo Campos Jr. (1995), deriva de Pentecostes, evento que ocorreu cinquenta dias após, ao que se considera a ascensão de Cristo e foi marcado pela efusão do Espírito Santo.
atualidade, se dá uma aproximação desses ramos do cristianismo com o aparecimento, dentro
da Igreja Católica, do Movimento de Renovação Carismática Católica (MRCC). A ideia,
nesse caso, não é denunciar o movimento carismático pela apropriação de tais fundamentos,
mas sim entender a dinâmica dessa apropriação.
Neste ponto, é importante destacar que não foi objeto deste trabalho o fenômeno
da pentecostalização que, se supõe, ocorra dentro da instituição Igreja Católica, nem o que
seria o seu inverso. Como também, levantar questões sobre a validade ou não deste fenômeno
tendo em vista não caber aqui criar ou discutir juízo de valor sobre o fato. Sobre esses
assuntos já se debruçaram outros autores, que produziram um grande volume de
conhecimento, muitos dos quais, inclusive, fontes bibliográficas deste trabalho.
O que se perseguiu como objetivo geral, neste estudo de caso, foi tentar entender
o seguinte problema: até que ponto o conteúdo pentecostalista contamina ou contaminou e se
esse prevalece, na atualidade, nos conteúdos do discurso evangelizador transmitido pela TV
Canção Nova, de fundamentação católica, comparando-o com o transmitido pela TV Super,
de origem pentecostal.
Para isso, com a intenção de apreender, pela prática da pesquisa e a partir do
modelo teórico proposto por Habermas, em sua Teoria da Ação Comunicativa, utilizou-se a
técnica de estudo de caso, que possibilitou um levantamento detalhado do programa "O Amor
Vencerá", produzido pela TV Canção Nova, e do programa “Profetizando Vida”, produzido
pela TV Super exibidos entre os dias 01 e 08 de julho de 2009.
A respeito da escolha desses programas como objetos de estudo é importante
ressaltar que, esta se deu, tendo em vista terem como suas propostas originais a divulgação de
conteúdos evangelizadores baseados em suas doutrinas religiosas. Quanto ao seu tipo, a
pesquisa foi explicativa, já que teve como objetivo a identificação dos fatores que poderiam
vir a ser determinantes e ou contribuintes e que concorressem para a ocorrência do fenômeno
estudado.
DISCUSSÃO TEÓRICA
O formato que se pretendeu dar à discussão neste capítulo é, em princípio, uma
reflexão sobre a comunicação como campo científico e suas particularidades e a necessidade
de sua compreensão como tal pelo pesquisador. Em seguida, empreendeu-se estudo balizado
por um contexto histórico e amparado por um arcabouço teórico-cientifico produzido em
vários campos das ciências sociais, no qual se pretendeu esclarecer alguns dos caminhos
percorridos na evolução do pensamento judaico e seus desdobramentos dentro da sociedade
contemporânea, assim como o cristianismo, o seu surgimento e seu desenvolvimento. E como
se dará, em vários contextos a integração dos conteúdos simbólicos contidos dentro desses
discursos, tendo como subsídio a teoria habermasiana.
Em principio, deve considerar-se a teoria da ação comunicativa como fio
condutor, que por intermédio de seu entendimento descortina a importância dos elementos
simbólicos contidos no imaginário das sociedades e manifestos em suas individualidades,
além disso como a comunicação atua de forma determinada na transmissão desses elementos,
o que Habermas vê como função mediadora ao afirmar que:
[...] deve ser atribuída à comunicação oral uma importante função mediadora. Os regulamentos que regem essa ação pressupõem o discurso oral como um meio de comunicação. A conexão entre a consciência coletiva, por um lado, e as regras a serem aplicadas conforme exigido pela situação e estruturas de personalidade que permitem que esse pedido seja individualmente responsável, por outro lado, permanece obscuro até a clarificação da estrutura de compreensão da linguagem. O simbolismo religioso representa uma das três raízes pré-lingüísticas da ação comunicativa, mas somente através da ação comunicativa podem ramificar-se as energias da solidariedade social ligadas ao simbolismo religioso e comunicar-se como autoridade moral, o mesmo para as instituições que para as pessoas. (Habermas, 2003, p.89-90, tradução nossa). 2
Neste caso, a comunicação possibilita, por sua função mediadora, aos indivíduos
entre si e entre os grupos sociais, e esses entre si permanecerem em constante movimento de
2 [...] atribuir a la comunicación lingüística una importante función mediadora. La acción regida por normas presupone el habla gramatical como medio de la comunicación. La conexión entre conciencia colectiva, por un lado, y normas que han de aplicarse según lo exija la situación y estructuras de la personalidad que posibilitan que esa aplicación sea individualmente imputable, por el otro, permanece oscura mientras no se esclarezca la estructura del entendimiento lingüístico. El simbolismo religioso representa una de las tres raíces prelingüísticas de la acción comunicativa; pero sólo a través de la acción comunicativa pueden ramificarse las energías de la solidaridad social ligadas al simbolismo religioso y comunicarse como autoridad moral, lo mismo a las instituciones que a las personas. (HABERMAS, 2003, p.89-90).
interação, tendo sempre os processos comunicacionais, em seus diversos níveis, como
mediadores no intercâmbio de conteúdos simbólicos e imaginários e das informações
produzidas neles e por eles.
Ao mencionar-se o termo discurso pode entender-se, em um primeiro momento,
que se refira ao “clássico debate entre platônicos e aristotélicos”, que definia discurso como
um processo discursivo de pensar que se apóia em um pensar intuitivo. Tendo em vista, que
para o primeiro “ o discurso, proporciona o conteúdo da verdade,” e para o segundo “a
forma.” (FERRATER-MORA, 2005, p. 230). O que Ferrater-Mora (2005), explica é de um
lado a ocorrência do conhecimento intuitivo em Platão, e de outro a insistência no
conhecimento discursivo em Aristóteles.
Também aqui, pode elencar-se a definição, a partir de um contexto subjetivo e
psicanalítico apresentada por Michel Foucault ao abordar o termo:
[...] discurso - como a psicanálise nos mostrou - não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que - isto a história não cessa de nos ensinar - o discurso não e simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar. (FOUCAULT, 2007, p. 10).
Diante disto, para este trabalho, a definição que pode considerada a mais
apropriada é a classificação que distingue entre vários tipos de discurso, e tomam como base
os modos de significação, os diferentes usos dos complexos de signos e os modos e usos ao
mesmo tempo. Como classificada por Ferrater-Mora (2005):
Segundo o uso, o discurso pode ser informativo, valorativo, incitativo e sistemático. O discurso é informativo (ou os signos do discurso são usados informativamente) quando se produzem os signos de tal forma que são causa de que alguém actue como se algo tivesse tido, tivesse ou viesse a ter certas características. O discurso é valorativo quando se usam os signos de modo que provoquem um comportamento preferencial em alguém O discurso é incitativo, quando se produzem os signos de modo que se suscitem modos mais ou menos específicos de responder a algo. O discurso é sistemático quando se produzem os signos para organizar uma conduta que outros signos tendem a provocar. (FERRATER-MORA, 2005, p. 230).
Esta definição de discurso está presente na semiótica contemporânea, que o
entende como “um complexo de signos que podem ter diversos modos de significação e que
podem ser usados com diversos propósitos.” (FERRATER-MORA, 2005, p. 231).
Contexto teór ico
A multiplicidade de sentidos nos quais os processos comunicacionais atuam
evidencia-se pela diversidade de disciplinas no âmbito das ciências sociais aplicadas que deles
demandam o interesse – filosofia, história, geografia, psicologia, sociologia, etnologia,
economia, ciências políticas, biologia, cibernética ou, ainda, as ciências cognitivas. Diante
desse caráter dinâmico e abrangente, a comunicação como objeto de estudo, confirma Barros
(2003), deve ser vista como um campo especial das ciências sociais. Por essa volatilidade de
conceitos e sua permeabilidade diante das outras ciências sociais, a comunicação persegue
continuamente sua própria validade como ciência, o que vai refletir-se no plano de
investigação, na abordagem científica e na diversidade dos referenciais teóricos adotados.
Esse fenômeno vai reproduzir-se na procura de uma autenticação científica, inclusive, através
de arquétipos e esquemas pertencentes às ciências da natureza, dos quais se apropria por
“meio de analogias.” (MATTERLART; MATTERLART, 2001, p. 9).
Esse processo dinâmico e interativo com as outras ciências reproduz, em termos, a
natureza complexa do próprio ato comunicativo, como analisa Quéré (1991):
O ato de comunicar não se traduz por uma transferência de informação do emissor a um destinatário, mas antes pela modelagem mútua de um mundo comum em meio a uma ação conjugada: é nossa realização social, por ato de linguagem, que empresta vida a nosso mundo [...] De fato, tal rede de gestos de conversação, comportando suas condições de satisfação, constitui não um instrumento de comunicação, mas a verdadeira trama sobre a qual se desenha nossa identidade. Connaître Varela apud QUÉRÉ (1991, p.71).
É partindo dessas premissas, que este estudo se justifica, ao basear-se no que
Calvino (1990) descreve inspirado, como afirma, no pensamento do escritor Gadda3 e sua
maneira de ver o mundo como grupos que se reúnem em “um sistema de sistemas, em que
cada sistema particular condiciona os demais e é por eles condicionado”. (CALVINO, 1990,
121). Essa ideia, em sua essência, pode ser encontrada no que Sfez (2007) sintetiza como a
“Tese de Habermas”, ao produzir estudo pertinente sobre a teoria da ação comunicativa. Para
3 Carlo Emílio Gadda (1893-1973), escritor italiano que durante toda a sua vida buscou representar o mundo como um rolo, uma embrulhada, um aranzel, sem jamais atenuar-lhe a complexidade inextricável - ou, melhor dizendo, a presença simultânea dos elementos mais heterogêneos que concorrem para a determinação de cada evento. Gadda era conduzido a essa maneira de ver por sua formação intelectual, seu temperamento de escritor e suas neuroses. No que respeita à formação intelectual, Gadda era engenheiro, alimentado de cultura científica, de grande competência técnica e de uma verdadeira paixão filosófica. Esta última ele a manteve - pode-se dizer - secreta: foi só depois de sua morte que se descobriu nos papéis do escritor o esboço de um sistema filosófico inspirado em Spinoza e Leibniz. Gadda, como escritor considerado uma espécie de equivalente italiano de Joyce - elaborou um estilo que corresponde à sua complexa epistemologia, na medida em que superpõe diversos níveis de linguagem, dos mais elevados aos mais baixos, e os mais variados léxicos. CALVINO(1990,121).
Habermas, apud Sfez (2007), “a sociedade deriva de atos de comunicação que ligam os
elementos civis entre si”. (SFEZ, 2007, p. 17). Esse enunciado sugere como determinados
processos comunicacionais podem atuar de forma efetiva, definitiva e imprescindível na
evolução – aprendizado - das sociedades através da interação, intercontaminação e
apropriação mútua dos diversos conteúdos simbólicos – imaginário – nos vários grupos
sociais. Nessa lógica, a religião, “aparece como expressão da racionalidade, e, portanto, como
mecanismo vital no desenvolvimento da capacidade humana de conhecimento de linguagem e
de ação”. (ARAÚJO, 1986, p.50), que acrescenta ainda:
[...] a espécie humana “aprende não só na dimensão (decisiva para o desenvolvimento das forças produtivas) do saber tecnicamente valorizável, mas também na dimensão (determinante para as estruturas de interação) da consciência prático moral. As regras do agir comunicativo desenvolvem-se, certamente, em reação às mudanças no âmbito do agir instrumental e estratégico, mas, ao fazê-lo, seguem uma lógica própria”. Em suma, compreende-se a lógica da evolução social por meio de processos de aprendizagem (racionalmente reconstruíveis) nas duas dimensões (irredutíveis) do trabalho e da interação. (ARAÚJO, 1986, p.48).
Diante de um cenário como o descrito acima, a comunicação, como afirma Hall
(1999), por seus processos de mediação, atua como portadora no intercâmbio, entre os
sistemas, desses conteúdos que são produzidos e reproduzidos nesses grupos sociais e entre
eles. É importante, na pesquisa, entender que ao dar-se essa circulação, intra e intersistemas -
dentro dos vários estratos sociais -, ela propicia uma contínua atualização e interação desses
conteúdos. A exposição dos sistemas particulares – individualidades - ou como cita Habermas
(2003) elementos civis, em sua constituição, a esse sucessivo intercâmbio, são representados
em todas as sociedades, e vão estabelecer-se nelas, desde as formas mais primitivas de
comunicação, verbal e gestual, até as tecnicamente mais avançadas, que mesmo apropriando-
se das mais modernas tecnologias, apenas reproduzem interna e externamente o acervo de
informações e de conteúdos simbólicos presentes nos grupos sociais, ou o que Thompson
(2005) referencia como aspectos centrais da vida social. Este caráter de interdependência
entre sistemas individuais e sociais evidencia-se dentro do modelo habermasiano descrito por
Araújo (1986) como:
[...] de “mútua dependência” entre os processos individuais e sociais de aprendizagem; o primeiro é à (sic) base do segundo, pois as sociedades dependem das competências individuais de seus membros, porém, o segundo condiciona o primeiro, já que tais competências são exercidas em condições sociais de contorno. Há uma relação intrínseca, de tal modo que “os processos de aprendizagem na evolução social não podem ser atribuídos nem apenas à sociedade, nem aos indivíduos". (ARAÚJO, 1986, p.49).
A partir dessa dinâmica social e com o surgimento e o desenvolvimento, na pós-
modernidade, de novas tecnologias de mediação, e sua consequente disseminação entre os
vários estratos sociais, determinou, nesses grupos, a predominância das interações
tecnicamente mediadas o que acaba por provocar alterações consideráveis nas formas de
circulação, na velocidade de exposição e na maneira das sociedades apropriarem-se desses
conteúdos. Esse contexto promove uma reedição – reconfiguração – das individualidades e a
manifestação de suas identidades, como explica Hall (1999):
[...] as identidades, que compunham as paisagens sociais "lá fora" e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as "necessidades" objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático. Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceitalizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. (HALL, 1999, p. 12-13).
Neste cenário, ocorre a desconstrução do sujeito previamente vivido que se
supunha ter, como afirma Hall (1999), uma identidade unificada e estável. Este sujeito, agora
se torna fragmentado, ou seja, não mais se compõe de uma única, mas de varias identidades,
sendo que em algumas vezes “estas são contraditórias ou não resolvidas”. (HALL, 1999, p.
12). Essa reestruturação explica Hall (1999):
[...] está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de c1asse, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido solidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nos próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um "sentido de si" estável e chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento - descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos - constitui uma "crise de identidade" para o individuo. (HALL, 1999, p. 9).
Dentro desta conjuntura, observar-se que essa transição ocorre nas
individualidades que, por sua vez, vêem-se representadas, nos sistemas culturais, por uma
diversidade de identidades, que Hall (1999) afirma serem definidas historicamente, e não
biologicamente. Para ele, “o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente.” (HALL, 1999, p. 13).
Como conseqüência dessas alterações, pode ser identificada o que Hall (1999)
entende como “crise de identidade”, o que para ele é “parte de um processo mais amplo de
mudança, que esta deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e
abalando os quadros de referencia que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no
mundo social.” (HALL, 1999, p. 7).
Esses aspectos apresentam-se, na sociedade, através do declínio de um sujeito que
antes orientado por velhas identidades - que prevaleceram como absolutas durante vários
séculos e, assim, agiam como catalisadores que estabilizavam o mundo das relações sociais -
dá lugar hoje a outro sujeito fragmentado e abalado em suas referências pessoais e
desancorado de suas matrizes sociais.
Neste contexto, a religião, desde sempre, desempenha papel fundamental de
contenção e sedimentação através da manutenção de elos que ligam os elementos manifestos e
contidos em seus núcleos de tradição aos elementos que surgem a partir das demandas dessa
nova configuração das individualidades. Dessa forma, deve ser considerado que “a
racionalização religiosa é, sem dúvida, um caso particular, e, no entanto fundamental, na
formação do potencial cognitivo de uma sociedade, potencial e necessário para a superação
dos desafios evolutivos por ela encontrados.” (ARAÚJO, 1986, p.51).
Para Araujo (1986), isto fica latente, na leitura de Habermas, ao afirmar:
[...] a religião, (sic) é um elemento importante dentro do processo evolutivo de aprendizagem. A despeito da secularização do mundo moderno ser analisada, sob vários ângulos, o fio condutor da racionalização interna das religiões universais (particularmente do cristianismo) é vital na compreensão da emergência da modernidade. (ARAÚJO, 1986, p.51).
Diante disso, conclui Hall (1999), uma “identidade plenamente unificada,
completa, segura e coerente é uma fantasia.” (HALL, 1999, p. 13). O que também se justifica
em Habermas, quando identifica a dinâmica dos processos de interações mediados aos quais
essas individualidades estão expostas nos e por seus sistemas sociais.
Por isso, neste estudo, é proposta uma abordagem desse fenômeno,
especificamente, a partir de uma apreciação dos conteúdos inseridos em um discurso
religioso, que é constituído e construído em um contexto cristão e que ocorre em um
ambiente, como o definido por Thompson (2005), de comunicação tecnicamente mediada,
que nesse caso é a televisão.
Pensamento Cr is tão
Ao enveredar-se por estudos dessa natureza é importante perceber-se como
ocorre, em seu início, a construção dos conteúdos simbólicos que vão formar e consolidar o
pensamento e a civilização cristã. É entender como o cristianismo em seu postulado de origem
ao apropriar-se de vários dos princípios básicos judaicos, extrapola-os, como afirma Marx
apud Mészáros (1981), ao acrescentar-lhes um conceito de universalidade. Esse conceito vai
romper com a limitação de natureza mítica e dos preceitos messiânicos4, autoproclamados
pelo judaísmo, que exoravam a continuação interminável da extensão de seus poderes
mundanos sobre os outros povos5. Para Mészáros (1981), essa conduta funcionava
plenamente no atendimento dos interesses hegemônicos de amortecimento dos conflitos de
classes existentes, internamente, nessa sociedade. Além disso, justificava, também, a
existência de um caráter segregacionista, inserido no conceito de povo escolhido, que
impunha, a essa sociedade, uma coesão necessária para a manutenção de seu confronto
permanente com aqueles que eram considerados do mundo externo.
É bom lembrar que esse modo por demasiado exclusivista era basicamente
amparado em um princípio autodeterminado de povo escolhido, sustentado numa
superioridade, em relação aos povos estrangeiros, que era justificada apenas na decisão de
Deus. Essa interpretação unilateral da vontade divina explica-se a partir de um isolamento
doutrinário, que justifica então, uma conduta em relação aos gentios, que promovia a exclusão
4 “Quando Jacó voltou de Padã-Arã, Deus apareceu-lhe novamente e o abençoou."Teu nome, disse-lhe ele, é Jacó. Tu não te chamarás mais assim, mas Israel”. E chamou-o Israel . Deus disse-lhe: "Eu sou o Deus todo-poderoso. Sê fecundo e multiplica-te. De ti nascerão um povo e uma assembleia de povos; e de teus rins sairão reis. A terra que dei a Abraão e a Isaac, eu ta darei e à tua posteridade”.Depois, Deus retirou-se de junto dele.” Gênesis (35,9-13).
5 “Portanto, eis o que diz o Senhor Deus: meus servos comerão e vós tereis fome, meus servos beberão e vós tereis sede, meus servos se rejubilarão e vós ficareis envergonhados, meus servos cantarão na alegria de seu coração, e vós vos lamentareis com o coração angustiado, rugireis com a alma em desespero. Vosso nome ficará como um termo de maldição entre meus eleitos: {Que o Senhor Deus te faça morrer!} enquanto meus servos receberão um novo nome. Aquele que desejar ser abençoado na terra, desejará sê-lo pelo Deus fiel, e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus fiel, porque as desgraças de outrora serão esquecidas, já não lhes volverão ao espírito. Pois eu vou criar novos céus, e uma nova terra; o passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito, mas será experimentada a alegria e a felicidade eterna daquilo que vou criar. Pois vou criar uma Jerusalém destinada à alegria, e seu povo ao júbilo; Jerusalém me alegrará, e meu povo me rejubilará; doravante já não se ouvirá aí o ruído de soluços nem de gritos. Já não morrerá aí nenhum menino, nem ancião que não haja completado seus dias; será ainda jovem o que morrer aos cem anos: não atingir cem anos será uma maldição. Serão construídas casas onde habitarão, serão plantadas vinhas cujos frutos comerão. Não mais se construirá para que outro se instale; não mais se plantará para que outro se alimente. Os filhos de meu povo durarão tanto quanto as árvores, e meus eleitos gozarão do trabalho de suas mãos. Não trabalharão mais em vão, não darão mais à luz filhos votados a uma morte repentina, porque serão a raça abençoada pelo Senhor, eles e seus descendentes. Antes mesmo que me chamem, eu lhes responderei; estarão ainda falando e já serão atendidos. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão, como um boi, se alimentará de palha, e a serpente comerá terra. Nenhum mal nem desordem alguma será cometida, em todo o meu monte santo, diz o Senhor.”. Isaías (65,13-25).
de deveres, enquanto, apropriava-se de direitos relativos aos não judeus. Diferente disso, o
cristianismo, como nova mensagem, propunha um mundo reconciliado no qual, acreditava-se,
iriam desaparecer as contradições entre os grupos sociais e entre os povos que até então,
necessariamente, opunham-se e só reconheciam-se como "estranhos", "estrangeiros" ou
"inimigos". (MÉSZÁROS, 1981, p. 32).
O judaísmo atinge seu apogeu com a perfeição da sociedade civil; mas esta só alcança a perfeição no mundo cristão. Só sob a influência do cristianismo, que objetiva todas as relações nacionais, naturais, morais e teóricas, poderia a sociedade civil separar-se completamente da vida do Estado, separar todos os vínculos genéricos do homem, colocar em seu lugar o egoísmo e a necessidade egoísta, e dissolver o mundo humano num mundo de indivíduos atomizados antagônicos. (MÉSZÁROS, 1981, p. 33).
A boa nova6 anunciada vem ao encontro de algumas das necessidades de uma
sociedade que, nesse tempo, colhia as contradições das várias influências de culturas que ali
aportaram e estabeleceram-se desde as invasões babilônicas, passando pela dominação
alexandrina – helênica -, até a ocupação romana. Cada uma dessas culturas contribui com seus
conteúdos – imagens – simbólicos que ao interagirem-se promovem uma apropriação e ou
contaminação mútua desses valores culturais que resulta no que a teoria habermasiana
considera como processos ontogenéticos – “transformações sofridas pelo individuo desde a
sua gênese até o seu completo desenvolvimento”, (MICHAELLIS, 1998, p. 1496) -, evolução
individual de aprendizagem que representam um estoque da evolução filogenética – “história
genealógica de uma espécie ou de um grupo biológico”, (MICHAELLIS, 1998, p. 959) -.
(ARAÚJO, 1986, p.45).
Esta, incluso en las sociedades más primitivas, se mueve ya en la etapa de la acción regida por normas, etapa en la que se han formado un sistema de instituciones, por un lado, y, por otro, la estructura propia de los individuos socializados; el nacimiento de instituciones y la formación de identidades constituyen los correlatos filogenéticos de la formación del mundo social y del mundo subjetivo, que Mead estudia ontogenéticamente.7 (HABERMAS, 2003, p.89).
6 “Enquanto, pois, subsiste a promessa de entrar no seu descanso, tenhamos cuidado em que ninguém de nós corra o risco de ser excluído. A boa nova nos foi trazida a nós, como o foi a eles. Mas a eles de nada aproveitou, porque caíram na descrença. Nós, porém, se tivermos fé, haveremos de entrar no descanso. Ele disse: Eu jurei na minha ira: não entrarão no lugar do meu descanso. Ora, as obras de Deus estão concluídas desde a criação do mundo; pois, em certa passagem, falou do sétimo dia o seguinte: E, terminado o seu trabalho, descansou Deus no sétimo dia (Gn 2,2). Se, pois, ele repete: Não entrarão no lugar do meu descanso, é sinal de que outros são chamados a entrar nele. E como aqueles a quem primeiro foi anunciada a promessa não entraram por não ter tido a fé. Hebreus.” (4,1-6).
7 Esta, incluso nas sociedades mais primitivas, movendo-se agora na fase de uma ação regida por normas, etapa na qual se forma um sistema de instituições, por um lado, e, por outro, a própria estrutura dos indivíduos socializados; o nascimento de instituições e a formação das identidades constituem os correlatos filogenéticos da formação do mundo social. (HABERMAS, 2003, p.89).
Diante desse contexto, o encontro - interação - das várias diversidades tem como
consequência a sedimentação, a construção e a consolidação daquilo que se pode entender
como uma unidade de valores simbólicos que ocorre dentro do que se poderia considerar
como o embrião de um ideário católico romano. A construção dessa coesão de valores se dá,
até certo ponto, “a partir de a priori desconhecidos até mesmo para quem os põem em
prática.” (SFEZ, 2007, p. 17). Nesse caso, Sfez (2007) define a priori como um horizonte
cultural, ou uma forma de vida de alto teor simbólico que, em sua opinião, não exprime e é
antes, implícito: costumes e comportamentos herdados. (SFEZ, 2007, p. 17). Essa construção,
também, é fruto, em um primeiro momento, do resultado da somatória de pluralidades de
referenciais, que vão sendo incorporados a esses conteúdos principalmente por vias verbais,
ou seja, por intermediações face-a-face - e nesse aspecto é bom enfatizar de que de acordo
com o modelo comunicacional habermasiano a linguagem, enquanto conteúdo, “é
necessariamente parte integrante da construção social da realidade” (QUÉRÉ, 1991, p.11) -,
vai contribuir determinantemente para o arrefecimento das tensões sociais resultante de uma
sociedade que já se fazia diversa e multiétnica8.
Nesse ambiente, amparado por uma vasta e complexa infra-estrutura de logística,
transporte e comunicação, que era disponibilizada pelo então Império Romano, o cristianismo
promove uma peregrinação pelo mundo civilizado e, levando-se em conta a teoria
habermasiana, em um movimento contínuo, aonde vai impregnando-se e sendo impregnado,
nos e pelos mais diversos estratos daquelas sociedades9.
A necessidade de uma interpretação ética do "significado" da distribuição das fortunas entre os homens aumentou com a crescente racionalidade das concepções do mundo. À medida que os reflexos religiosos e éticos sobre o mundo se foram tornando cada vez mais racionalizados e primitivos, e as
8 “No ano terceiro do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de babilônia, a Jerusalém, e a sitiou. E o Senhor entregou nas suas mãos a Jeoiaquim, rei de Judá, e uma parte dos utensílios da casa de Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os utensílios na casa do tesouro do seu deus”. Daniel (1,1-2) “Pouco tempo depois, um velho ateniense foi enviado pelo rei para forçar os judeus a abandonar os costumes dos antepassados, banir as leis de Deus da cidade, macular o templo de Jerusalém, dedicá-lo a Júpiter Olímpico e consagrar o do monte Garizim, segundo o caráter dos habitantes do lugar, a Júpiter Hospitaleiro. Dura e penosa foi para todos essa avalanche de mal. O templo encheu-se de lascívias e das orgias dos gentios que se divertiam com meretrizes, unindo-se às mulheres nos átrios sagrados e introduzindo coisas ilegais. O altar estava coberto de vítimas impuras, interditas pelas leis. Não se permitia mais a observância do sábado, a celebração das antigas festas, nem mesmo confessar-se judeu . Em cada mês, no dia natalício do rei, realizava-se um sacrifício; os judeus eram odiosamente forçados a tomar parte no banquete ritual e, por ocasião das festas em honra de Dionísio, deviam forçosamente acompanhar o cortejo de Baco, coroados com hera. Por instigação dos ptolomeus, foi publicado um decreto que obrigava as cidades helênicas dos arredores a tratar os judeus do mesmo modo e levá-los à participação nos banquetes rituais, com a ordem de matar os que se recusassem a adotar os costumes helênicos”. Macabeus II(6,1-8)
9 “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Marcos (16,15) “Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras desta vida”. Atos (5,20)
noções mágicas foram eliminadas, a teodíceia do sofrimento encontrou dificuldades crescentes, Era demasiado freqüente o sofrimento individualmente "imerecido"; não eram os homens "bons", mas os "maus" que venciam - mesmo quando a vitória era medida pelos padrões da camada dominante, e não pela "moral dos escravos". (WEBER, 1982, p.318).
Na trajetória para emancipar-se e consolidar-se como força hegemônica, a Igreja
Católica, neste momento, em oposição permanente ao Judaísmo – universalidade contra
parcialidade - assimila valores que a possibilitam habilitar-se como um grupo social apto para
assumir a direção intelectual e moral sobre as sociedades nas quais atuava e, capaz de
construir em torno de seu projeto de poder um novo sistema de alianças sociais
(MATTERLART; MATTERLART, 2001). Em consequência, dentro da pré-modernidade,
ocorre a construção de um campo convencional da moralidade, onde aparecem às separações
entre a ética e as normas jurídicas, e a religião atua, definitivamente, como legitimadora da
autoridade e da tradição da cultura feudal e, principalmente, como mecanismo de controle das
tensões sociais. Paradoxalmente, como afirma Habermas apud Araújo (1996), graças ao
potencial do caráter evolutivo dessas religiões e sua capacidade de interação e adaptação aos
meios sociais, em que se inserem, essas cumpre nas sociedades modernas, papel de
autenticadoras de novas tradições culturais a partir de um novo ponto vista da dimensão ética
que é fundamentada por elas.
Na verdade, Habermas sempre explica e interpreta a evolução do mundo moderno tomando por base o background das imagens religiosas de mundo. Isto é resultado da absoluta primazia dada por Habermas ao paradigma do agir comunicativo, na teoria da ação, e ao paradigma complementar do mundo vivido, na teoria da sociedade. A religião está enraizada neste contexto interativo enquanto fenômeno importante de reprodução simbólica. (ARAÚJO, 1996, p.36-37).
Catol ic ismo
O catolicismo – universalismo -, como referência religiosa, desenvolve-se nas
sociedades primitivas, tendo como objetivo principal a promoção no mundo do anúncio do
que era considerado, por seus fundadores, como uma boa nova ou, de forma mais elaborada,
de uma solução imaginária de autoalienação humana na configuração do mistério de Cristo10,
10 “Por essa causa é que eu, Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo por amor de vós, gentios... -Vós deveis ter aprendido o modo como Deus me concedeu esta graça que me foi feita a vosso respeito. Foi por revelação que me foi manifestado o mistério que acabo de esboçar. Lendo-me, podereis entender a compreensão que me foi concedida do mistério cristão, que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas. A saber: que os gentios são co-herdeiros conosco (que somos judeus), são membros do mesmo corpo e participantes da promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho. Eu me tornei servo deste Evangelho em virtude da graça que me foi dada pela onipotente ação divina. A mim, o mais insignificante dentre todos os santos, coube-me a graça de anunciar entre os pagãos a
essa conotação dá ao cristianismo uma dimensão que extrapola, em muito, os limites que até
então o judaísmo se impunha. Ou seja, ao revelar-se como a própria realização das promessas
– profecias – judaicas, a nova doutrina, contrapõe-se ao judaísmo como o único ente – terreno
- capaz e autorizado a atuar na mediação das tensões sociais e, assim, sua mensagem não é
apenas um reflexo de uma forma específica de luta social, mas ao mesmo tempo também sua
"resolução" mística (MÉSZÁROS, 1981).
[...] o cristianismo superou o verdadeiro judaísmo. Ele era demasiado refinado, demasiado espiritual para eliminar a crueza das necessidades práticas a não ser elevando-as á esfera etérea. O cristianismo é o pensamento sublime do Judaísmo. Este é a aplicação prática vulgar do cristianismo. Mas essa aplicação prática só se poderia tornar universal quando o cristianismo, como religiãoaperfeiçoada, tivesse realizado, de modo teórico, a alienação do homem de si mesmo e da natureza. (MÉSZÁROS, 1981, p. 32-33).
A importância em entender-se essa origem do pensamento cristão faz-se
necessária para que, também, se possa compreendê-lo além do que seria uma mera evolução
dentro uma realidade histórica. Para Weber (1982), esse caráter de religião independe das
influências sociais, que para ele, seriam determinadas pela ordem econômica ou política, e
que, na verdade, está circunscrita por aspectos como as fontes religiosas e os conteúdos de sua
anunciação e promessa o que, na realidade, propícia uma integridade ao discurso religioso.
Dessa forma, essa contextualização se refere, então, à construção do que se poderia entender
como identidade cristão-católica. Que, como se viu, vem formando-se através da apropriação
e ou contaminação da informação - mensagem – o que propicia a construção dos vários
conteúdos simbólicos que vão sendo incorporados, à medida que é apresentada a outras
culturas e estende-se às novas gerações.
Mesmo mantendo seu caráter salvífico11 inicial e, apesar de consolidado em vários
sistemas nacionais, o cristianismo vê-se, então, impossibilitado em atender às novas
condições objetivas do desenvolvimento social europeu, que se impunham pelas
transformações vindas a partir da dissolução da sociedade pré-feudal, que vão culminar com a
instalação e posterior consolidação triunfal do capitalismo. Diante desse contexto não cabia
mais o pensamento original que contemplava, em circunstâncias próprias, um cristianismo
teórico-abstrato mergulhado na conceituação mítica e etérea de uma moral que pregava a
inexplorável riqueza de Cristo”. Efésios (3,1-8).11 “Disse-lhe Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Pois o Filho do
Homem veio procurar e salvar o que estava perdido. Lucas (19,9-10) Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo”. João (6,51)
pobreza impedindo o acúmulo de riquezas e censurando os lucros como usura – pecado.
Assim, o cristianismo vê-se em parte caminhando, necessariamente, em direção à
secularização, que o levaria a uma metamorfose para um cristianismo judaico-prático, o
protestantismo, que ao reincorporar valores do judaísmo vai possibilitar uma melhor
convivência do capital, dos lucros e da riqueza com as consciências convertidas
(MÉSZÁROS, 1981).
O processo de helenização do cristianismo não foi unilateral. Resultou de uma apropriação teológica e de uma contratação da filosofia grega, a qual passou a servir à teologia. Durante a Idade Média européia, a teologia era a protetora da filosofia. Enquanto pendant (sic) da revelação, a razão natural tinha seus direitos reconhecidos. No entanto com o advento da guinada antropocêntrica, provocada pelo humanismo, nos inícios da modernidade, o discurso sobre a fé e o saber conseguiu evadir-se do cercado clerical. (HABERMAS, 2007, p. 235).
De acordo com Weber (2003), diante da tarefa de entender essas religiões com o
objetivo de descobrir quais as particularidades que resultaram dos eventos citados e que, de
certa forma, vão atuar predominantemente como características fundamentais que diferenciam
os conteúdos – discursos - entre si, pode-se concluir que a menor mundanidade do catolicismo
e o caráter ascético de seus ideais possam induzir seus seguidores a uma maior indiferença
para com as boas coisas deste mundo. Tal explicação reflete a tendência de julgamento
popular de ambas as religiões. Do lado protestante, é usada como base das críticas de tais
ideais ascéticos (reais ou imaginários) do modo de viver católico, enquanto os católicos
respondem com a acusação de que o materialismo resulta da secularização de todos os ideais
pelo protestantismo.
Se os católicos vêem na doação uma oportunidade de praticar a virtude da caridade, as igrejas pentecostais como a Universal do Reino de Deus, IURD, tem uma visão muito mais pragmática do assunto. A Igreja se inspirou na Teologia da Prosperidade criada nos Estados Unidos no início do século passado. (LOPES e PORTELA, 2009, p. 91-92).
Na pós-modernidade, então, evidenciam-se os conceitos de múltipla identidade
(HALL, 1999), e a partir deles é possível verificar o movimento que frequentemente ocorre
quando a geração seguinte reinterpreta as anunciações e promessas de modo fundamental,
ajustando as revelações às necessidades da comunidade religiosa. “Quando isso ocorre é
comum que as doutrinas religiosas se ajustem às necessidades religiosas” (WEBER, 1982, p.
312).
A mensagem religiosa enfrenta a proverbial insensibilidade de mandamentos morais válidos incondicionalmente, os quais são impassíveis ante as
conseqüências do agir moral na história e na sociedade, lançando mão de uma promessa: "A lei moral, de si mesma, não promete nenhum tipo de felicidade [...]. Entretanto, a doutrina moral cristã preenche tal lacuna [...] por meio da representação do mundo – no qual seres racionais se entregam de todo coração a lei ética – como um reino de Deus no qual a natureza e os costumes [...] entram em harmonia através de um autor sagrado que torna possível um bem supremo inferido". (KANT apud HABERMAS, 2007, p. 243).
Dentro desses conteúdos portados por um discurso baseado na doutrina católica,
estabelecem-se como componentes centrais e identificadores o seu caráter de universalidade e
a predominância da coletividade sobre a individualidade. O cristão tem sua fundamentação
na unidade da gênesis, na igualdade no mundo e em Deus. O que torna a presença divina, por
intermediação direta de Jesus Cristo12, comum a todos, ou seja, a graça de Deus, dentro desses
conteúdos, é considerada como de todos não possuindo um caráter de exclusividade13. Outra
observação necessária está na presença da interseção14 dos santos da Igreja e da Virgem Maria
justificada nesses conteúdos clássicos do discurso católico, a partir da ação do Espírito
Santo15.
De maneira geral os conteúdos desse discurso deixam transparecer, claramente, o
sentimento de pertencimento que ultrapassa os limites da individualidade e transborda para
uma coletividade que renovada de sua origem pagã, sente-se acolhida pela boa nova cristã que
lhe reconhece imperfeita, mas a caminho de uma suposta perfeição.
Sempre que as promessas do profeta ou do redentor não atenderem suficientemente às necessidades das camadas socialmente menos favorecidas, uma religião de salvação, secundária desenvolveu-se regularmente entre as massas, sob a doutrina oficial. A concepção racional do mundo está encerrada, em germe, dentro do mito do redentor. Uma teodiceia racional de infortúnio foi,
12 “Mas aquele que fora colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o vemos, por sua Paixão e morte, coroado de glória e de honra. Assim, pela graça de Deus, a sua morte aproveita a todos os homens. Aquele para quem e por quem todas as coisas existem, desejando conduzir à glória numerosos filhos, deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o autor da salvação deles, para que santificador e santificados formem um só todo. Por isso, (Jesus) não hesita em chamá-los seus irmãos, dizendo: Anunciarei teu nome a meus irmãos, no meio da assembleia cantarei os teus louvores.(Sl 21,23). E outra vez: Quanto a mim, ponho nele a minha confiança (Is 8,17); e: Eis-me aqui, eu e os filhos que Deus me deu (Is 8,18).” Hebreus (2,9-13)
13 “Porque, diante de Deus, não há distinção de pessoas. Todos os que sem a lei pecaram, sem aplicação da lei perecerão; e quantos pecaram sob o regime da lei, pela lei serão julgados. Porque diante de Deus não são justos os que ouvem a lei, mas serão tidos por justos os que praticam a lei.Os pagãos, que não têm a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei; eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente. Isso aparecerá claramente no dia em que, segundo o meu Evangelho, Deus julgar as ações secretas dos homens, por Jesus Cristo. Romanos.” (2,11-16)
14 “Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!” Coríntios II (5,20)
15 “Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.”
portanto, em geral, uma evolução dessa concepção do mundo. (WEBER, 1982, p. 317).
Protes tant ismo
O caráter de sucessão, muitas vezes dado ao protestantismo em relação ao
catolicismo, pode ser explicado como uma concessão feita sobre o conceito inicial de
universalização em favor de um parcialismo pragmático, que só se explica dentro do
judaísmo. Essa migração de conceitos e a reedição de conteúdos que se dá entre uma religião
e outra não ocorrem sem que necessariamente sejam desalojados valores simbólicos de uma
pela outra. Esses eventos, então, dar-se-ão diante de uma nova interpretação desses conteúdos
e uma reincorporação de regras e práticas vindas do antigo testamento. De acordo com essas
novas interpretações, por exemplo, de acordo com Weber (2003), não tinham mais
importância, e deveriam ser execrados, conteúdos como os dos consilia evangelica16 católicos
dos monges que, a partir de então, eram creditados pelos protestantes, em sua origem, como
ditados pelo próprio demônio. Com isso, entendia-se que a vida monástica não era somente
desprovida de qualquer valor, mas, só poderia ser justificada pela completa ausência de amor
dedicado a Deus e aos outros homens, uma vida dedicada ao egoísmo já que era fruto de
abstinência das obrigações temporais.
Na era apostólica, como nos é relatado pelo Novo Testamento e especialmente em S. Paulo, os cristãos viam as atividades mundanas com indiferença ou, no mínimo, de modo essencialmente tradicionalista, pois que as primeiras gerações de cristãos estavam cheias de esperanças escatológicas. Uma vez que estavam apenas esperando a vinda do Senhor, nada havia a fazer a não ser cada um ficar no seu posto e na mesma ocupação mundana em que o chamado do Senhor o houvesse encontrado, e continuar trabalhando. Assim eles não se tornariam sobrecarga para a caridade de seus irmãos com suas necessidades, e mesmo isso seria breve por curto tempo. (WEBER, 2003, p.75).
É preciso ressaltar, que as análises, realizadas no decorrer deste trabalho, por mais
factuais que possam parecer, são extremamente pertinentes, pois é por elas, que se evidencia,
com maior clareza, como, através dessa conjunção de sistemas sociais, vão sendo
incorporados aos respectivos discursos novos e renovados conteúdos. Sendo assim, mesmo
diante de toda a aparente facilidade que o protestantismo dá à circulação de riquezas, isso se
16 Consilia Evangélica. Lat. Conselhos evangélicos. Na teologia escolástica, os três conselhos evangélicos, também chamados votos monásticos e votos da religião, são castidade, pobreza e obediência. Concebidos como meios de perfeição cristã de livre escolha, devem ser pronunciados para entrar numa ordem religiosa. Castidade, aqui, significa abstinência sexual permanente, e chama-se celibato no caso da prescrição disciplinar eclesiástica para clérigos. Segundo a concepção católica romana, os preceitos (praecepta, a saber, o Decálogo) obrigam a todos incondicionalmente, ao passo que a observância (livre) dos conselhos evangélicos confere graça, e sua inobservância não é pecado. (SCHÜLER, 2002, p.128).
dá com base na justificação de que o cumprimento dos deveres mundanos é, em todas as
circunstâncias, o único modo de vida aceitável por Deus.
Como foi dito, sob as condições da sociedade de classes — devido à contradição inerente entre a "parte" e o "todo", devido ao fato de que o interesse parcial domina a totalidade da sociedade — o princípio da parcialidade está numa contradição insolúvel com o da universalidade. Em conseqüência (sic), é a crua relação de forças que eleva a forma predominante de parcialidade a uma universalidade fictícia, ao passo que a negação, orientada para o ideal, dessa parcialidade — por exemplo, a universalidade teórico-abstrata do Cristianismo antes de sua metamorfose em "Cristianismo-Judaísmo prático" — deve permanecer ilusória, fictícia, impotente. (MÉSZÁROS, 1981, p. 35).
Se, por um lado, a atribuição de neojudaísmo, dada por Marx ao protestantismo,
contrapõe uma visão historicamente reformadora e identifica seu caráter basicamente
reacionário, por outro lado, explica porque o cristianismo, protestante, ao apossar-se de
conceitos como a secularização judaica, se vê impulsionado diante de uma sociedade que já se
refazia sob os pensamentos iluministas e se reconstruía economicamente sobre os princípios
do mercantilismo. Além dessa questão, também deve ser enfatizado, o confronto direto dos
protestantes contra uma hierocracia17 que exercia um controle hegemônico da Igreja e que já
não representava mais os diversos estratos sociais que eram abrangidos pela instituição.
O racionalismo da hierocracia nasceu da preocupação com o culto e o mito ou - em proporções bem mais elevadas – da cura das almas, ou seja, a confissão do pecado e o conselho aos pecadores. Em toda parte a hierocracia buscou monopolizar a administração dos valores religiosos. Buscou também proporcionar e controlar a atribuição de bens religiosos na forma de "graça" sacramental ou ‘corporada’ (sic), que só podia ser atribuída ritualmente pelos sacerdotes e não podia ser alcançada pelo individuo. A busca individual de salvação, ou a busca de comunidades livres por meio de contemplação, orgias ou ascetismo foi considerada como altamente suspeita e teve de ser regulamentada ritualmente e, acima de tudo, controlada hierocraticamente. Do ponto de vista dos interesses do clero no poder, isso é apenas natural. (WEBER, 1982, p. 326).
Essa mudança ocorre pela necessidade de secularização do conceito religioso e se
dá dentro de um contexto de uma sociedade, na qual, inicia-se a recuperação de uma imersão
teocêntrica da baixa Idade Média e que em consequência caminha para uma oposição
antropocêntrica amparada pelo iluminismo.
A secularização do conceito religioso de alienação realizou-se nas afirmações concretas relacionadas com a ‘vendabilidade’(sic). Em primeiro lugar, essa secularização progrediu dentro da concha religiosa. Nada pode deter essa tendência de transformar tudo em objeto vendável, por mais ‘sagrado’ que
17 sf (hiero+cracia) 1 Govemo exercido por eclesiásticos; teocracia. 2 Sociol Tipo de organização social que se mantém graças a um sistema de coerção psíquica que se utilizadas concepções religiosas do indivíduo. (MICHAELLIS, 1998, p. 1095)
tivesse sido considerado em certa fase, em sua ‘inalienabilidade’ sancionada por um mandamento supostamente divino. (MÉSZÁROS, 1981, p. 36-37).
De acordo com Marx apud Mészáros (1981), a estreiteza judaica possibilitaria sua
prevalência dentro da sociedade civil, já que esta necessitava, para o seu desenvolvimento do
espírito supremamente prático do judeu.
Nesse caso, prevalece, em alguns ambientes, a necessidade em abandonarem-se
conceitos como o da universalidade substituindo-o pelo principio da individualidade. Assim,
nos conteúdos do discurso protestante, a igualdade já não é ilimitada na gênesis, mas é
exclusiva em Deus.
Esse, por sua vez, devolve-a em graça, que também passa a ter caráter seletivo e
individual. Quanto às práticas que foram limitadas pelo catolicismo em seu início, agora,
reaparecem justificadas pela visão neojudaica de separação e exclusividade.
A metamorfose do Judaísmo em Cristianismo encerrou em si uma metamorfose posterior do Cristianismo numa forma parcial mais desenvolvida, menos rude, de Judaísmo ‘secularizado’: ‘O judeu emancipou-se de uma maneira judaica, não só adquirindo o poder do dinheiro, mas também porque o dinheiro tornou-se, por meio dele e também à parte dele, um poder mundial, enquanto o espírito judaico prático tornou-se o espírito prático das nações cristãs. Os judeus se emanciparam na medida em que os cristãos se tornaram judeus’. As modificações protestantes do Cristianismo, que se havia consolidado em vários ambientes nacionais, realizaram uma metamorfose relativamente precoce do Cristianismo ‘teórico abstrato’ num ‘Cristianismo-Judaísmo prático’, como um passo significativo na direção da secularização completa de toda a problemática da alienação. (MÉSZÁROS, 1981, p. 35).
Diante disso, esses conteúdos vão caracterizar-se pela oposição sistemática ao
catolicismo promovida por uma reedição das formas do judaísmo e uma completa
desvinculação de valores que foram sendo editados a partir de interações ocorridas dentro do
catolicismo, no decurso da história. A partir daí, desaparecem conceitos como os da interseção
dos santos e da Virgem Maria e reaparecem, no discurso, conteúdos como o demônio, agora,
reatribuído de poderes que em sua origem o cristianismo já desautorizava18.
18 “Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão. Veio em socorro, não dos anjos, e sim da raça de Abraão; e por isso convinha que ele se tornasse em tudo semelhante aos seus irmãos, para ser um pontífice compassivo e fiel no serviço de Deus, capaz de expiar os pecados do povo. De fato, por ter ele mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados.” Hebreus (2,14-18)
Pentecos ta l ismo
A palavra pentecostal, segundo Campos Jr. (1995), deriva de Pentecostes19, evento
que ocorreu cinquenta dias após, ao que se considera, a ascensão de Cristo e foi marcado pela
efusão do Espírito Santo. O pentecostalismo tem suas origens na Europa do século XVI de
práticas desenvolvidas por um grupo de reformistas denominado de anabaptismo. Esse grupo
teve na natureza radical de suas pregações e interpretações a origem que provocou sua
repressão tanto por reformadores – protestantes - quanto por contra-reformadores – católicos.
Dentro do protestantismo, o principio da 'Igreja do crente' surgiu, claramente, pela primeira vez entre os batistas, em Zurique, em 1523-4. Esse princípio restringia a congregação aos 'verdadeiros' cristãos; significava, daí, uma associação voluntária de pessoas realmente santificadas, segregadas do mundo. (WEBER, 1982, p. 360).
O caráter extremista contido nos conteúdos do discurso anabaptista leva-o para a
marginalidade. E mesmo tendo seus líderes executados e presos, esses grupos conseguem
expandir-se pela Alemanha e pelos Países Baixos. Alguns seguidores se instalam na região da
Moravia (Liechtenstein) onde conseguem desenvolver o anabaptismo com alguma rapidez.
Com o fluxo migratório para as treze colônias inglesas na América, muitos grupos
fundamentalistas imprimem a essa travessia um caráter mítico para o povo de Deus (Israel),
19 “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua. Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: Não são, porventura, galileus todos estes que falam?Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, mapa a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus! Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: Que significam estas coisas? Outros, porém, escarnecendo, diziam: Estão todos embriagados de vinho doce. Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com voz forte lhes disse: Homens da Judéia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia. Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão. Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e profetizarão. Farei aparecer prodígios em cima, no céu, e milagres embaixo, na terra: sangue fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E então todo o que invocar o nome do Senhor será salvo {Jl 3,1-5}. Israelitas, ouvi estas palavras: Jesus de Nazaré, homem de quem Deus tem dado testemunho diante de vós com milagres, prodígios e sinais que Deus por ele realizou no meio de vós como vós mesmos o sabeis, depois de ter sido entregue, segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios. Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em seu poder.” Atos (2,1-24)
referenciando-se ao livro do Êxodo20, associando o expurgo que sofriam na Europa com a
libertação e fuga dos judeus do Egito e sua milagrosa passagem pelo mar Vermelho.
Com a chegada na nova terra, esses movimentos organizam-se em pequenas
comunidades, muitas delas compostas de um único núcleo familiar. Estes núcleos fundam nos
Estados Unidos da América (EUA) um conjunto de novas práticas religiosas – conteúdos
imaginários - francamente favorecidas por esse isolamento. Nesse contexto, as reuniões, em
sua maioria, eram presididas por pregadores leigos e caracterizavam-se por uma grande
incidência de manifestações de espontaneidade, adoração, êxtase, improviso e uma
valorização dos carismas. Nesses cultos também estavam presentes os cânticos alegres e
informais e as orações simultâneas em voz alta. Além disso, eram constantes as manifestações
do Espírito Santo e as revelações proféticas.
Dentre essas práticas também podem ser relacionadas o pietismo, o reavivamento
– avivalismo - da religião e o consequente distanciamento do mundo, a oração como um dom
divino, a prática diária como elemento de ligação com Deus e os outros e a preocupação com
a santificação pelo batismo do Espírito Santo. Esses princípios, considerados perfeitos entre
os fiéis, geram a ideia de que só era possível ao homem atingir seus objetivos mundanos por
intermédio direto da graça de Deus. E são esses os princípios que vão caracterizar e nortear os
procedimentos pentecostais. O voluntarismo, uma das características do avivalismo, vai 20 “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do SENHOR, que hoje vos fará;
porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver. O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis. Então disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco. E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros. E os egípcios saberão que eu sou o SENHOR, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros. E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era trevas para aqueles, e para estes clareava a noite; de maneira que em toda a noite não se aproximou um do outro. Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda. E os egípcios os seguiram, e entraram atrás deles todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até ao meio do mar. E aconteceu que, na vigília daquela manhã, o SENHOR, na coluna do fogo e da nuvem, viu o campo dos egípcios; e alvoroçou o campo dos egípcios. E tirou-lhes as rodas dos seus carros, e dificultosamente os governavam. Então disseram os egípcios: Fujamos da face de Israel, porque o SENHOR por eles peleja contra os egípcios. E disse o SENHOR a Moisés: Estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros. Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar retornou a sua força ao amanhecer, e os egípcios, ao fugirem, foram de encontro a ele, e o SENHOR derrubou os egípcios no meio do mar, Porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles ficou. Mas os filhos de Israel foram pelo meio do mar seco; e as águas foram-lhes como muro à sua mão direita e à sua esquerda. Assim o SENHOR salvou Israel naquele dia da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. E viu Israel a grande mão que o SENHOR mostrara aos egípcios; e temeu o povo ao SENHOR, e creu no SENHOR e em Moisés, seu servo.” Êxodo (14,13-31)
marcar de forma definitiva o nascente protestantismo norte-americano, por incluir, em seus
conteúdos, a ideia que todos poderiam estar sob a graça de Deus, o que se chocava
diretamente com os princípios do calvinismo tradicional que considerava a graça apenas
acessível para aqueles escolhidos. Para Araújo (1985), isso vem demonstrar como os sistemas
sociais, mesmo os de menor complexidade, vão intercambiando seus conteúdos simbólicos e
valores sociais.
Apoderado pelo discurso pentecostal, o sucesso do desenvolvimento econômico
nos EUA é apresentado como resultado de uma relação íntima com o divino e que a
recompensa de empreender-se, em sua existência, uma ligação entre a realização das
responsabilidades mundanas e a dedicação incontestável às suas obrigações com Deus é a
graça da prosperidade.
Com a consolidação das estruturas básicas desse movimento que, nessa época,
contemplava várias denominações - metodistas, presbiterianos e batistas – surge a necessidade
de expandir-se os conteúdos evangelizadores para outras nações que eram consideradas pagãs,
a partir da doutrina do destino manifesto, para a qual, os povos escolhidos, os de língua
inglesa, tinham a missão de propagar suas ideias a todas as nações, em todos os rincões da
humanidade.
Habermas nota o conflito intenso dentro das tradições religiosas, na medida em que, do alto grau de reflexibilidade e do potencial universalista nelas contidos, emergem formas de contestação a partir de interpretações divergentes de uma mesma mensagem religiosa. Nestes casos, “os conflitos de legitimidade assumem tipicamente a forma de movimentos messiânicos ou proféticos. Esses se dirigem contra a versão oficial de uma doutrina religiosa que legitima o Estado ou um poder sacerdotal, a Igreja ou uma dominação colonial, os rebeldes apelam então para o conteúdo religioso originário daquela doutrina”. (ARAÚJO, 1986, p.51).
O real entendimento sobre qual a importância para a cultura norte-americana
quanto a apropriação do conceito de destino manifesto pode ser ilustrado pela definição dada
por Samuel F. Bemis apud (SILVEIRA, 2003, p.75): “the Manifest Destiny of the United
States to become a Continental Republic in dimension and significance (…) - this was a
compulsive national feeling of deep inner reality".21
Sendo assim, a diversidade de práticas religiosas – pentecostais - que se
constituem e se consolidam, nos EUA, a partir de um isolamento – irremediável por ser
21 "O destino manifesto dos Estados Unidos para se tornar uma república continental em dimensão e importância [...] - este era um sentimento compulsivo nacional profundamente enraizado na realidade interior". (tradução nossa)
resultado de movimentos migratórios para o novo continente e justificado pela necessidade de
sua ocupação territorial - fixam em seus conteúdos elementos, como se viu, de forte
conotação hegemônica baseados, principalmente, em um caráter messiânico e na idéia de
povo eleito – reincorporada dos conteúdos judaicos – e como afirma Campos (2002):
O pentecostalismo representava, então como hoje, uma alternativa para o migrante. Experimentando no corpo e na alma os efeitos angustiantes da desorganização social e de padrões de comportamento produzidos pela industrialização (anomia social), o migrante busca, como por ensaio, um grupo no qual possa sentir afinidade emocional e reconhecimento pessoal. Na mesma linha, Jean Pierre Bastian afirmou que o grande poder do pentecostalismo está ligado à mensagem de tipo milenarista que proclama, e seu êxito se baseia em sua capacidade de criar um contrapoder (sic) político-religioso em nível local. Em outro sentido, pode-se afirmar também que esse catolicismo popular tradicional funciona como aliado circunstancial frente à irrupção e promoção do espírito de modernidade por parte do protestantismo histórico e da neocristandade católica, igualmente modernizadora. (CAMPOS, 2002, p.38).
Em um sentido histórico e social, apud Campos (2002), o pentecostalismo pode
ser considerado como uma parte do protestantismo herdado da Reforma Luterana. Alguns
teóricos o reconhecem como um protestantismo popular e o diferenciam do protestantismo
“histórico”. Em suma, quando se menciona protestantismo e reforma protestante deve-se
entender que esses não são homogêneos frutos que são de uma variedade de tendências
inseridos dentro da própria reforma.
Renovação car ismát ica
O papa Bento XVI anunciou ontem o nome de dom Orani João Tempesta, 58, como substituto do cardeal dom Eusébio Scheid, 76, à frente da arquidiocese do Rio de Janeiro. [...] Dom Eusébio, disse estar feliz com a escolha de seu sucessor, “uma pessoa de profunda religiosidade”, e afirmou que o problema fundamental a ser enfrentado por dom Orani é a “superficialidade da vivência da fé”. Ela [a fé] é profunda no sentimento, na emoção, mas precisa se tornar muito mais profunda no conhecimento da verdadeira fé. (MENCHEN, 2009).
Diante de uma religiosidade contemporânea cada vez mais emocional,
experimental e espontânea, como afirma Mariz (2003), a Igreja Católica vê crescer, a partir da
década de 1970, dentro de suas comunidades, um movimento baseado nos carismas de cunho
fortemente místico – Movimento de Renovação Carismática Católica (MRCC). Esse grupo,
hoje, organizado internacionalmente - International Catholic Charismatic Service22 (ICRS) -
congrega dentro da própria igreja uma rede de organizações sociais que no decorrer do tempo
vão desenvolvendo uma série de interfaces entre as várias esferas sociais.22 Serviço Internacional Carismático Católico. (tradução nossa)
Atualmente o MRCC organizado como movimento e, como tal, também é reconhecido pela própria Igreja. Mas, o que fica claro, segundo Mariz (2003), é que dentro de seu projeto atual, a renovação carismática não se satisfaz mais em ser apenas mais um movimento dentro da própria Igreja, mas sim transformar a própria Igreja: ser uma nova Igreja. O atual fundamentalismo religioso que pode observado dentro e fora dos muros do cristianismo, confere inusitada atualidade, triste à intenção daquela crítica da religião. Existe, no entanto, um deslocamento nas acentuações. Aqui, no Ocidente europeu, uma autoafirmação antropocêntrica ofensiva, da compreensão de si mesmo e do mundo, a qual se posiciona contra um autoafirmação teocêntrica é tida na conta de uma batalha já passada, de ontem. Por essa razão, a tentativa de recuperar conteúdos centrais da Bíblia numa fé racional passou a ser mais interessante do que a luta obstinada contra o obscurantismo e as mentiras dos clérigos. (HABERMAS, 2007, p.237).
É fato a tentativa da Igreja Católica de absorver suas diferenças e agregar
distensões mantendo-se estruturada em seu centro de poder – tradições -, evitando com isso,
defecções e o surgimento de novas religiões. Para Mariz (2003), essa capacidade integrativa
da organização católica não é encontrada quando se comparada com a igreja protestante que,
historicamente, sofrem cisões e subdivisões.
As afinidades que se estabelecem com os movimentos pentecostais protestantes
não se limitam apenas na forma como os grupos vão sendo formados, o que ocorre a partir de
pequenas reuniões de oração, que por sua vez desenvolvem uma dinâmica própria de
funcionamento e possuem uma relativa autonomia. Mas, também, da presença constante,
dentro de seus conteúdos, das manifestações pela santificação do Espírito Santo, da
necessidade de adoração, dos milagres, dos dons individuais de Deus, do avivamento da
religião entre outros.
Como no passado, as tentativas de mudanças eram propostas pela teologia da
libertação, hoje o projeto da renovação carismática pretende-se apresentar como uma nova
forma de se viver o catolicismo de toda a Igreja e não apenas de alguns setores.
Telev isão: Espaço públ ico de manifes tação da fé .
A constituição da televisão como espaço público predominante no trafego de
conteúdos entre e dentro de grupos sociais é um fenômeno recente, mas, sua potencialidade
em promover essa circulação é incontestável.
Para chegar a esse ponto, é útil uma distinção entre dois tipos de esfera pública. Em nossa sociedade, dominada pela mídia, a esfera pública serve, em primeiro
lugar, como espaço de autoapresentação daqueles que se destacam na sociedade por uma razão ou por outra. (HABERMAS, 2007, p.17).
Como se sabe durante grande parte da história da humanidade as interações foram,
de acordo com Thompson (2005), predominantemente face a face e, com isso, as tradições
orais prevaleciam como intercambiadoras entre os entes sociais das interações de bens
simbólicos - imaginários, que por esse formato, dependiam de um constante processo de
renovação, além possuírem uma limitação razoável quanto ao alcance geográfico onde ocorria
a circulação dessas tradições - conteúdos. O advento das tecnologias de mediação na
comunicação, vêm inicialmente possibilitar o armazenamento e, principalmente ampliar o
alcance das mensagens. Nessa conjuntura as formas de interações vão sofrendo sucessivas
alterações.
No mundo atual, e dentro de um contexto de sociedade pós-moderna, que Hall
(1999) define como “sociedades de mudança constante, rápida e permanente”. (HALL, 1999,
p. 14), é urgente a necessidade que se enfatizem aspectos antiinstitucionais e burocratizantes,
e produzir com isso, novas instâncias para a realização do que se compreende como esfera
pública. Isso levando em conta, também, que para Habermas (2007) as esferas públicas e
privadas não se misturam, mas assumem uma relação de complementaridade. Nesse aspecto, a
televisão, desde seu início, concorre para se tornar hegemônica como o espaço onde essa
complementaridade vai acontecer em sua plenitude, tal como a Ágora23 para a civilização
grega.
Habermas, ao analisar as formas institucionais assumidas pelo processo de racionalização, situa nesse terreno sociopolítico o problema da ciência. Para Marcuse, assim como para Adorno e Horkheimer, todo o potencial emancipatório da ciência está voltado para a reprodução do sistema de dominação e sujeição. Habermas reflete sobre a alternativa à degenerescência do político, do qual o Estado-sujeito se faz agente, reduzindo os problemas a seu aspecto técnico, derivado de uma administração racional. A solução encontra-se, segundo ele, na restauração das formas de comunicação num espaço publico estendido ao conjunto da sociedade. (MATTERLART; MATTERLART, 2001, p.85).
Diante de uma nova estrutura e também como afirma Thompson (1995), levando
em conta seu caráter disseminador e por sua linguagem acessível a televisão integra-se,
rapidamente, dentro desse contexto de mediação transformando-se em uma grande plataforma
23 á.go.ra sf (gr agora) (1) Praça pública onde os gregos celebravam as suas assembleias e aplicavam a justiça. (2) Praça do mercado. (MICHAELLIS, 1998, p. 80).
de produção e divulgação de conteúdos simbólicos. Nesse lugar comum, de acordo com
Thompson (1995), é no âmbito das organizações sociais que ocorre a apropriação e ou
contaminação, por esse aparato técnico, e é onde vão realizar-se, a partir da metade do século
XX, a circulação mais efetiva e abundante de bens simbólicos –imaginários - da história da
humanidade. Esse dado é fundamental, porque transborda, em significado, a importância do
que foi dominar, a priori24, a linguagem própria desse veículo.
Como lembra, nesse caso, Barbero (2003):
Ao conectar o espetáculo com a cotidianidade, o modelo hegemônico de televisão imbrica em seu próprio modo de operação um dispositivo paradoxal de controle das diferenças: uma aproximação ou familiarização que, explorando as semelhanças superficiais, acaba nos convencendo de que, se nos aproximarmos o bastante, até as mais “distantes”, as mais distanciadas no espaço e no tempo, se parecem muito conosco. (BARBERO, 2003, p. 262-263).
Mesmo considerando a força configuradora das religiões católica e protestante, e
suas capacidades como formadoras de consciências e subscritoras de valores morais, que
como se viu, são continuamente autenticados na sociedade moderna, e como Habermas
(2007) diz não estão isentas ou imunes a processos de interações promovidos dentro de
sistemas sociais, que se atualizam ativa e mutuamente. Contudo, a identificação da ocorrência
de mudanças nos conteúdos dos discursos, é bom lembrar, ocorre, na atualidade, dentro de um
universo de comunicação mediada que, por sua vez, é sempre um fenômeno social
contextualizado – continuamente é implantada em contextos sociais que se estruturam dentro
de diversidades - e que, por sua vez, produzem impacto na comunicação como afirma
Thompson (2005).
Nesse caso, como ainda sugere Thompson (2005), os processos comunicacionais
só adquirem sentido em relação ao social, do qual são antes de tudo, uma mediação e, por
isso, necessitam ser estudados à luz do processo histórico global da sociedade. Portanto, é
pertinente refletir como os conteúdos – bens simbólicos – de predominância pentecostal vão
se adaptar com maior facilidade e velocidade ao universo da linguagem televisiva, o que,
inicialmente, pode ser entendido pelo pioneirismo dos EUA na utilização de sistemas
tecnicamente mediados, nesse caso a televisão. Além disso, também deve ser considerado o
que ocorre dentro da sociedade norte-americana com o advento dos “televangelistas”.
(CAMPOS Jr., 1995, p.34). Estes eram pregadores que transportaram para a televisão, com
24 “a priori” (do latim, « partindo daquilo que vem antes »), é uma expressão filosófica que designa uma etapa para se chegar ao conhecimento, que consiste no pensamento dedutivo. (MICHAELLIS, 1998).
relativo sucesso, as técnicas que foram desenvolvidas pelos antigos presbíteros itinerantes,
que até então, apresentavam-se em cultos promovidos em várias comunidades. E esses, por
sua vez, eram marcados por uma forte incidência de componentes emocionais caracterizados
por uma execução redundante de músicas, por efusivos testemunhos de salvação e conversão,
por revelações atribuídas pela interseção do Espírito Santo, além da ênfase na cura divina e na
força das orações espontâneas Campos Jr. (1995).
No país onde o pentecostalismo nasceu, alguns televangelistas criaram verdadeiros impérios da comunicação. Os casos de Jimmy Swagart, Rex Humbard e Billy Graham são os mais conhecidos, mas o primeiro destacou-se por sua pregação radical e fundamentalista. Swagart atuava junto aos grupos pentecostais e as Assembleias de Deus norte-americanas. Possuía programas de TV por todo o mundo, inclusive no Brasil (…). Rex Humbard e Billy Graham pertencem a grupos mais conservadores [...] (CAMPOS JR., 1995, p.34).
A partir desses eventos, o que se pode observar sobre o pioneirismo das religiões
pentecostais na utilização da TV como ferramenta de divulgação e conversão, segundo
Campos Jr. (1995), é que esse fenômeno não se restringe apenas aos EUA, mas também
ocorre em outros países, tais como o Brasil. E nesse contexto, faz-se presente, inicialmente,
através da Assembleia de Deus (AD), e posteriormente da Igreja do Evangelho Quadrangular
(IEQ), Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA), Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo
(IPBC), Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Igreja Internacional da Graça (IIG),
Igreja Batista da Lagoinha (IBL) entre outras. Em vista disso, os primeiros programas de
evangelização desenvolvidos dentro de um formato pentecostal já eram exibidos desde o final
da década de 1970, através da compra de horários em emissoras de TV aberta, o que, em
conseqüência, acaba por expandir, expor e consolidar os conteúdos e ou bens simbólicos,
relativos a essas religiões, em um universo muito maior de audiência – fieis -, e possibilita, a
partir da década de 1990, a aquisição de emissoras e, em alguns casos, até redes de televisão –
Rede Record, Rede TV, TV Super, Rede Mulher - por grupos ligados às igrejas pentecostais.
Diante essa conjuntura, não se explica o que pode ser considerado como o atraso
com que a Igreja Católica e suas comunidades vão investir na utilização de uma tecnologia de
mediação, que já era disponibilizada pela TV, desde a década de 1950, e, a partir daí,
desenvolver uma programação de televisão que contemplasse um conteúdo, necessariamente,
evangelizador, pois até então, os que existiam limitavam-se à transmissão da Santa Missa.
Nesse caso, o avanço em direção à nova – velha - mídia só ocorre no final da década de 1980
e efetivamente na década de 1990, com fundação da TV Canção Nova (SP), da Rede Vida
(SP) e da TV Horizonte (BH).
A TV Canção Nova, objeto deste trabalho, iniciou suas atividades com a
transmissão da celebração da Santa Missa inaugural, em oito de dezembro de 1989, com uma
retransmissora da TVE do Rio de Janeiro. Nessa época, eram duas horas e quarenta minutos
diários de programação para Cachoeira Paulista e cidades vizinhas. A emissora pertence à
Fundação João Paulo II. A outra emissora, objeto deste estudo, é a Rede Super de Televisão,
hoje, ligada à Igreja Batista da Lagoinha, com sede em Belo Horizonte (MG). Desde que
adquiriu o canal a cabo local, em 17 de julho de 2002, a Igreja e passou a transmitir 24 horas
de programação evangélica. Atualmente está presente em cerca de 150 cidades em todo o
Brasil, com um sinal disponível em antena parabólica digital para todo o território brasileiro e
também é transmitido pela internet, inclusive para outros países.
Nessa condição, é adequado lembrar aqui a importância da TV na transmissão e
na manutenção de conteúdos ideológicos. E, diante desse descompasso histórico cometido
pela hierarquia católica, que pareceu desconsiderar por completo e por um tempo considerável
o que Matterlart; Matterlart (2001, p.109) descrevem ao analisar os estudos de Stuart Hall
sobre o papel ideológico da mídia:
[...] e a natureza da ideologia representa um momento importante na constituição de uma teoria capaz de refutar os postulados da analise funcionalista americana e de fundar uma forma diferente de pesquisa critica sobre os meios de comunicação de massa. [...] examina o processo de comunicação televisiva segundo quatro momentos distintos - produção; circulação; distribuição / consumo: reprodução - que apresentam suas próprias modalidades e suas próprias formas e condições de existência, mas articulam-se entre si e são determinadas por relações de poder institucionais. [...] Do lado da audiência, à(sic) analise de Hall definiu três tipos de decodificação: dominante, oposicional e negociada. (MATTERLART; MATTERLART, 2001, p. 109).
A infinidade de receptores – fieis – que se vêem inundados por conteúdos de
orientação pentecostal que são diariamente transmitidos por um, já diverso, conjunto de
emissoras de TV. Essa é a realidade que se impõe à Igreja Católica e a coloca no caminho para
apropriar-se do espaço público demarcado pela TV, e no uso dessa como ferramenta de
evangelização e principal portadora de conteúdo simbólico. Com isso observa-se dentro da
Igreja o crescimento do MRCC, que, como se viu, pode ser considerado um representante de
destaque do processo, e cada vez mais ativo, de pentecostalização de algumas das práticas -
conteúdos - do campo religioso católico.
Essa trajetória é denominada, por alguns autores, de neopentecostalismo, neste
caso, o mesmo neopentecostalismo, cujo maior destaque dentro do protestantismo, na
atualidade, é a IURD.
Afirmar que essa integração de conteúdos ocorre apenas no âmbito mercadológico
é desprezar todo o caminho percorrido por tais grupos sociais em suas trajetórias de
construção de suas identidades como grupos, e no consequente acúmulo, que se dá nelas, de
conteúdos, esses por sua vez, frutos de sistêmicas e constantes interações e apropriações,
neles e entre eles. E, é pensar que esses processos vão dar-se de forma isolada um diante do
outro, paralelamente como se estivessem estaqueados e impossibilitados de promover uma
mobilidade entre si, ou pior, ancorados em valores sociais imutáveis. O que Thompson (1995,
p.193) confirma ao examinar o aspecto contextual das formas simbólicas (…) suas
características derivam do fato de que tais formas estão sempre inseridas em contextos sociais
estruturados.
Ao que Habermas complete ao ser referir como:
O núcleo da consciência coletiva constitui um consenso normativo que se produz e regenera na prática ritual em uma comunidade de fé. Neste consenso, os membros do grupo se guiam por símbolos religiosos; a unidade intersubjetiva do coletivo lhes aparece como categorias de santidade. Esta identidade coletiva define o círculo daqueles que podem entender-se a si mesmos como membros de um mesmo grupo social e falar sobre si na categoria da primeira pessoa do plural. As ações simbólicas do rito podem ser entendidas como resíduos de uma etapa da comunicação, já superada em âmbito da cooperação social profana. A diferença evolutiva existente entre a interação mediada por símbolos e a interação regida por normas permite o encapsulamento em um âmbito sagrado na prática cotidiana. (HABERMAS, 2003, p.89, tradução nossa).25
A inserção de formas simbólicas em contextos sociais também implica que, além
de serem expressões para um sujeito (ou para sujeitos), são, geralmente, recebidas e
interpretadas por indivíduos que estão também situados dentro de contextos sócio-históricos
específicos e dotados de vários tipos de recursos; o modo como uma forma simbólica
25 El núcleo de la conciencia colectiva lo constituye un consenso normativo que se produce y regenera en la práctica ritual en una comunidad de fe. En ese consenso, los miembros del grupo se orientan por símbolos religiosos; la unidad intersubjetiva del colectivo les aparece en categorías de lo santo. Esta identidad colectiva define el círculo de aquéllos que pueden entenderse a sí mismos como miembros del mismo grupo social y hablar de si bajo la categoría de primera persona del plural. Las acciones simbólicas del rito pueden entenderse como residuos de una etapa de la comunicación, ya superada en el ámbito de la cooperación social profana. El desnivel evolutivo existente entre la interacción mediada por símbolos y la interacción regida por normas permite el encapsulamiento de un ámbito sagrado en el seno de la práctica cotidiana. (HABERMAS, 2003, p.89).
particular é compreendida por indivíduos pode depender dos recursos e capacidades que eles
são aptos a empregar no processo de interpretá-la. (THOMPSON, 1995, p.193).
Nesse aspecto o que se pode concluir sobre as interações e intercâmbios de
conteúdos simbólicos dentro da esfera pública no texto de Habermas (2003) é que:
[...] para que a interação mediada por gestos converta-se em uma interação mediada simbolicamente. Em primeiro lugar os gestos têm, que se transformar em símbolos mediante a substituição dos significados que só valem para cada um dos organismos, por significados que sejam idênticos para todos os participantes. (HABERMAS, 2003, p.18, tradução nossa).26
Diante disso, a constituição da televisão como espaço público resulta primeiro da
apropriação da linguagem mediada, e posteriormente da circulação, interação e interpretação
dos vários conteúdos manifestos dentro dos grupos sociais.
26 [...] para que la interacción mediada por gestos se convierta en una interacción mediada simbólicamente. En primer lugar, los gestos tienen que transformarse en símbolos mediante sustitución de los significados que sólo valen para cada uno de los organismos, por significados que sean idénticos para todos los participantes. (HABERMAS, 2003, p.18)
METODOLOGIA
O objetivo deste trabalho é tentar identificar os fatores que, por sua vez, podem
atuar como determinantes e ou contribuintes e, que, de certa forma, concorrem para o
acontecimento dos fenômenos estudados. Optou-se, então, por conduzir os levantamentos
metodológicos baseados nas diretrizes de uma pesquisa explicativa, tendo em vista, ser, como
afirma Pádua (2004), dentre outras, a práxis que mais contribui com o aprofundamento no
conhecimento da realidade, promovendo de forma dinâmica, a partir de uma lógica
estruturada, o desenvolvimento que propiciam elencarem-se os levantamentos necessários à
identificação desses eventos.
Nesse aspecto, justifica-se Pádua 2004:
[...] neste sentido que se utiliza as expressões método dialético, método positivista, método estruturalista, por exemplo, na perspectiva de que cada um tem sua visão de mundo, concepção de homem, pressupostos ético-filosóficos, que determinam suas diretrizes e procedimentos para a atividade de pesquisa, seus entendimentos sobre o processo de produção do conhecimento, bem como a forma de articulação dos conceitos e categorias para análise da realidade. Assim, partindo do pressuposto de que a ciência contemporânea é como um conhecimento em processo de construção, um contínuo re-fazer, fica a exigência de um contínuo re-pensar sobre se corpo teórico-prático. (PÁDUA, 2004, p.33).
E completa:
Com o desenvolvimento das investigações nas ciências humanas, as chamadas pesquisas qualitativas procuram consolidar procedimentos que pudessem superar os limites das análises meramente quantitativas. A partir de pressupostos estabelecidos pelo método dialético e também apoiados em bases fenomenológicas, pode-se dizer que as pesquisas qualitativas têm se preocupado com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças, valores, representações sociais, que permeiam a rede de relações sociais. (PÁDUA, 2004, p.36).
Diante dos aspectos subjetivos que normalmente expressam-se dentro do campo
da comunicação, como ciência social, deve-se ter em conta, em relação à escolha do tipo de
pesquisa, que “[...] estes aspectos não são passíveis de mensuração e controle, nos mesmos
moldes da ciência dominante.” (PÁDUA, 2004, p.36).
Delineamento da pesquisa
É importante ressaltar, que no caminho percorrido por intermédio desse trabalho
pretendeu-se identificar a ocorrência de transações de conteúdos simbólicos e de conteúdos
imaginários que circulariam entre discursos específicos, neste caso: religiosos. E, para isso,
levou-se em conta, que essa dinâmica, segundo Hall (1999), era favorecida, na
contemporaneidade, pela diversidade de novas identidades, que são assumidas pelas
individualidades, que por sua vez, vão formar outras diversidades, que se multiplicam, dentro
de um universo de grupos sociais.
As ações rituais permitem inferir que o sagrado é uma expressão de um consenso político que é atualizada regularmente: "Não existe nenhuma sociedade que não sintam a necessidade de reavivar e confirmar em intervalos regulares, os sentimentos coletivos e as idéias coletivas que formam sua unidade e sua personalidade. Essa revitalização não pode ser alcançado apenas através de reuniões, assembléias, congregações em que os indivíduos, intimamente em contato uns com os outros, reafirmam em comum os seus sentimentos comuns. Por isso, estas cerimônias, que por seu objetivo, para os resultados que produzem e pelos procedimentos que elas empregam, não se diferem em sua natureza das cerimônias propriamente religiosas. (HABERMAS, 2003, p. 79, tradução nossa).27
Dessa forma, pode-se entender que esses grupos interagem-se como em um
modelo planetário, no qual os sistemas se equilibram em orbitas elípticas, o que ilustra o
pensamento de Habermas (2003), ao buscar entender que mesmo diante das necessidades de
reavivamento e de reafirmação de valores e, apesar dessas – as necessidades - existirem e
coexistirem dentro de cada discurso, esses são, então, produtos de novas e sistêmicas
interpretações, que ocorrem com relativa autonomia e, que só se justificam por interações que
se realizam nas orbitas distanciadas dos centros de controle de tradições, o que, em
contrapartida, os torna, em suas extremidades, mais próximos entre si e, acaba por provocar
um entrelaçamento a partir de uma área de intersecção, onde ocorre com certa intensidade,
entre os grupos distintos, o transporte e a atualização de conteúdos simbólicos e imaginários.
Atendendo a essas circunstâncias e às demandas do problema, a escolha do tipo de
técnica a ser realizado, neste estágio da pesquisa, foi o do estudo de caso. O que se deu, por
27 Las acciones rituales permiten inferir que lo sacro es expresión de un consenso normativo que es actualizado regularmente: “No ha ninguna sociedad que no sienta la necesidad de reavivar y reafirmar a intervalos regulares los sentimientos colectivos y la ideas colectivas que forman su unidad y su personalidad. Esta reanimación no puede obtenerse si no es por medio de reuniones, de asambleas, de congregaciones en que los individuos, estrechamente en contacto los unos con los otros, reafirman en común sus sentimientos comunes. De ahí esas ceremonias que, por su objeto, por los resultados que producen, por los procedimientos que en ellas se empelan, no difieren en su naturaleza de las ceremonias propiamente religiosas. (HABERMAS, 2003, p. 79).
caracterizar-se pela produção, necessária, de um esboço detalhado e intensivo, que visasse, em
sua totalidade, um entendimento do assunto investigado, o que, por si, se justifica, tendo em
vista, que para uma melhor compreensão do problema era imprescindível promover-se um
levantamento particularizado dos programas: "O Amor Vencerá", produzido pela TV Canção
Nova, e “Profetizando Vida”, produzido pela TV Super.
Cole ta de dados
Em principio, a coleta de dados, para a produção deste estudo, deu-se com a
gravação, em mídia digital, de oito dos programas já mencionados, que foram exibidos entre
os dias 01 e 08 de julho de 2009. A partir da coleta dos dados foram realizadas análises –
decupagem - de cada um dos arquivos para que se pudesse constatar a ocorrência ou não de
conteúdos comuns que fossem de orientação pentecostal.
Para critério de inclusão dos dados, levou-se em conta tanto os conteúdos
verbalizados quanto aqueles contidos nas expressões gestuais utilizadas pelos apresentadores,
como também a composição dos cenários. Com relação aos temas característicos utilizou-se,
como referência, apenas um pronunciamento de cada item.
Como resultado, para melhor identificar o trânsito de conceitos e de conteúdos
transmitidos ou transacionados entre os discursos contidos nos programas, produziu-se duas
tabelas de conceituação de expressões neopentecostais com base nas referenciais de conteúdos
característicos identificados dentro do discurso pentecostal-protestante manifestados com
frequência no programa da TV Super. As tabelas, respectivamente 1 e 2 foram preparadas a
partir da apuração dos conteúdos identificados na leitura das transcrições.
TABELA 1
Conteúdos característicos identificados dentro de um discurso MNPP
Adoração do Espírito Santo “Vem Senhor, inunda-me com seu Espírito”Apresentação de músicas “Tu és oleiro Senhor”
“Sonda-me”Ascensão da crença das maldições hereditárias
“quantas pessoas só usam palavras de maldição [...].”
Ausência dos sinais externos de santidade
Não apresentam sinais crucifixos etc.
Conteúdos messiânicos “Eu nunca mais serei eu mesmo. Em nome Jesus”“Sonda-me Oh Deus”“Quebranta-me”“Deus tem levantado uma geração famintas pela glória de Deus.”“Deus quer tocar na sua vida.” “Deus está levantando mais do que nunca o profeta nas nações” Você pode suplicar a Deus que ele coloque amor no seu coração.
Conteúdos mundanos “Quantas vezes o marido dia para a esposa eu te amo, mas na verdade quer dizer: sai prá lá sua vaca”Faz queimar em mim Senhor faz queimar. Faz surgir um primeiro amor.”
Elementos da Teoria da Prosperidade “Tomar posse da palavra de Deus”.“A palavra de Deus é útil para o meu progresso, para o meu ensino [...]”“Na nossa caminha nos precisamos de coisas que suprem a nossa existência.”“Você ter para suprir suas necessidades e suprir a necessidades de outros.”“Uma pessoa prospera é uma pessoa que tem suas necessidades supridas”.“Crede no senhor e estareis seguros. Crede nos seus profetas que prosperaremos.” “Deus neste mês eu vou acabar com minhas dividas.”“Deus a partir de hoje eu tenho autoridade sobre minhas coisas e não vou me endividar mais.”
Menção a feitiçaria e macumbaria “Sua boca tem poder para abençoar sua vida, tem poder para expulsar o mal, o atraso, a perseguição.”
Orar em línguas (Anjos) “Memelele, imelele, lememebeque, memelele, lelele[...]”.Participação efetiva dos leigos na organização
Programa é apresentado com a participação de leigos, testemunhos Você pode participar em interseção ou ajudando os outros.
Pregação com características performáticas
O pregador ajoelha com frequência demonstrando emoção forte, quase lágrimas.
Referencias a Satanás/Demônio “Você é um demônio.”“Isso é uma desgraça”
Simplificação do discurso “Adoração não é apenas para encher uma igreja”
TABELA 2
Conteúdos característicos identificados dentro de um discurso MRCC
Adoração do Espírito Santo “Nós que somos batizados, precisamos da graça do Espírito Santo [...]”“Eu peço o teu santo espírito Jesus para nós que estamos aqui, pelos que estão pela TV, pelo rádio, pela internet [...]”.“Somente pelo poder o Espírito Santo é que professamos o poderio de Jesus em nossas vidas”Sabemos Jesus que o Senhor nos enche com o Espírito Santo.
Apresentação de músicas “Deus está presente – música”“Vem me seguir – música”0“Hamiana hamiana hamiana hamiana. (…)”
Ascensão da crença das maldições hereditárias
“quantas vezes nos pensamos em desistir da nossa família”“cadinho a humilhação
Ausência dos sinais externos de santidade
Não é comum o uso de crucifixos ou imagens.
Conteúdos messiânicos “[...] tem momentos que iremos ter felicidade. Mas, a verdadeira felicidade, nós iremos encontrar, no céu”“abrace agora a fé em Cristo Jesus”“Vem Senhor Jesus toca-nos [...]”“Vem reinar na minha vida [...]”“Jesus é a verdadeira saída.É a única libertação”“[...] quer para sua a vida e a vida dos seus o céu. Qual é o seu lugar? Céu! Quero ouvir bem alto. Céu! Qual é o seu lugar? Céu!”“tem momentos que iremos ter felicidade. Mas, a verdadeira felicidade, nós iremos encontrar, no céu”.
Interseção de Maria (mãe de Jesus Cristo)
“Louvemos pela bem aventurada Virgem Maria, louvemos pela vontade de Deus em sua vida.”“Alegra-te.Alegra-te em Maria a cheia de graças”“Como Maria eis me aqui”
Menção a feitiçaria e macumbaria “ [...] eu sinto neste momento que muitos laços o senhor desatou pessoas que estavam muito preocupados com inveja, com ciúmes e com olhares destruidores. Neste momento Jesus com seu sangue precioso libertou você desse medo.(..)”“Você com Deus, você com Jesus que vencem todos os males”
Orar em línguas (Anjos) “Abla, malamba, balacam, balam, chino olouw”“Murrei iagara nabuke narah amiana hamiana hamiana hamiana” “Shimala shimalaia shimalala shimalala eelelemaIelelema Maaa
Participação efetiva dos leigos na organização
Apresentado por leigos.“Eu fui lendo e fui conduzindo numa oração simples”“Colocamos as preces dos telespectadores e de você mandou seu SMS”
Pregação com características performáticas
“Deus está presente aqui para te amar.Prá te curar. Sinta a presença de Deus.Sinta o quanto te ama [...]” - Padre interpreta música“[...] Vamos agora deixar que a música possa começar a obra que o Senhor começou.”
Presença de conteúdos mundanos “[...] Digo a você que tem um celular que envie pelos SMS pelo número 49[...] e peça sua oração. E seu nome será colocado nessa barquinha.”“Pedimos aqueles que contribuem como associados”“Nosso coração é firme porque confiamos no Senhor a vitória contra nossos inimigos”Nesse começo de mês acreditamos que venceremos todas as nossas necessidades.“Pelo meu emprego”“Para nossa ouvinte engravide no tempo de Deus”
Presença de elementos da Teoria da Prosperidade
Faça senhor na canção nova a Sua Santa vontade. “[...] o sim que nos damos agora é o mesmo sim que você dá á Canção Nova.“nos hoje na canção nova, como foi o anjo Gabriel, somos portadores da boa noticia. Noticia da salvação.
Referencias a Satanás/Demônio “[...] com Deus você é muito mais forte do que satanás”“[...] todo joelho se dobra no céu, na terra e nos infernos.”“O inimigo não quer que nós louvemos. O inimigo quer que nós sintamos derrotados”
Simplificação do discurso “Existe cruz gente e ela faz parte da vida, e sem cruz a gente deve desconfiar”“como Deus quis depender do sim de uma mulher e este sim alegou todo o universo”“Senhor eu peço perdão pelos meus pecados do meu passado e do meu futuro.Então não se coloque como um fraco, como uma pessoa fraca, se coloque como uma pessoa de decisão.
Anál ise dos dados cole tados
Para análise dos dados coletados e uma melhor clareza da apuração e do
entendimento dos resultados optou-se, então, por criar uma tabela (TABELA 3) que trouxesse
o cruzamento das informações contidas nas tabelas 1 e 2, ou seja, verificar de forma objetiva a
congruência dos grupos de conteúdos encontrados nos discurso do MRCC e do MNPP.
Como pode ser observado, o resultado apresenta uma coincidência, pertinente e
determinante, de quatorze em dezesseis ocorrências listadas, o que em percentual representa
87,5% (oitenta e sete virgula cinco por cento).
TABELA 3
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Item 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
CONCLUSÕES
Levando-se em conta os levantamentos bibliográficos, a apuração dos eventos
pertinentes a este estudo de caso e da pesquisa propostos, e considerando o confronto dos
resultados obtidos na compilação das tabelas de conteúdos 1 e 2, presentes neste trabalho,
pode concluir-se que: é real o trânsito e a apropriação e ou contaminação por conteúdos
pentecostais no discurso presente na TV Canção Nova.
Portanto, em relação ao problema proposto neste trabalho, a resposta é positiva
quanto a possibilidade em comprovar-se a prevalência de conceitos e de formatos pentecostais
contidos em conteúdos manifestos no discurso do programa "O Amor Vencerá", produzido
pela TV Canção Nova, comparando-se com o programa “Profetizando Vida”, produzido pela
TV Super. A importância desta constatação é, principalmente, a possibilidade em comprovar-
se o enunciado de Habermas, sobre a Teoria da Ação Comunicativa, de que tendo os
processos comunicacionais, em sua diversidade de formatos e tecnologias, como mediadores,
os indivíduos promovem um constante movimento de interação entre si e entre os grupos
sociais e esses, por sua vez, entre si, o que propicia, neles e por eles, uma circulação e um
intercâmbio da produção de informações e de conteúdos simbólicos e imaginários.
Mesmo considerando a origem comum dessas religiões, deve-se lembrar, que elas
são sistemas distintos e esse aspecto torna-se aparente ao tomar-se contato com a construção,
evolução e consolidação do que se torna o pensamento cristão e suas estruturas de fidelização
e hegemonia. A partir daí entende-se como essas estruturas no decorrer de sua história, e de
acordo com seus interesses e suas capacidades, entrelaçam-se em um primeiro momento
através da exposição de seus antagonismos, e posteriormente através dos resultados de suas
interações.
Uma constatação que este estudo proporcionou foi a identificação de como são as
estruturas relativas aos núcleos de tradição correspondentes à Igreja Católica e às Igrejas
Protestantes. Nesse caso, evidencia-se na primeira uma estrutura de controle de tradição
uninuclear, ou seja, quase hermética que impõe um domínio a interpretação de seus dogmas,
já em contrapartida é claro, na segunda, a presença de um centro polinuclear que, por sua
formação, incentiva a dissidência e uma constante reinterpretação de seus dogmas.
O que também pode concluir-se, a partir dessas análises, é que indiferente de seus
respectivos centros de tradição, a influência das interações, ou seja, das trocas ocorridas e que
ainda ocorrem de conteúdos simbólicos e imaginários dentro de uma diversidade de grupos
sociais, que, nesse caso, se dispõem sistemicamente dentro de um universo social –
humanidade – é constante e ativa. E ocorre em movimentos cíclicos que podem ser
comparados aos de expansão e contração a partir de um centro, que por analogia, consideram-
se como os centros de tradição. Nesse caso, quando o sistema promove um movimento de
expansão, ocorre o contato com outros sistemas – externos - através da periferia ou das
extremidades, que nesse momento se encontram distantes de seus centros de tradição. Ao
contrário, no movimento de contração essas extremidades são atraídas para os centros de
tradição e, nesse caso, ocorrem às trocas e ás interações internamente nos sistemas.
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