Post on 29-Jun-2015
www.cinemaparatodos.rj.gov.br
Elaboração:SEC / SEEDUC / Equipe Pedagogica ICEM (Denise Espírito Santo - Marcelo Lins - Vanessa Castro)
Caderno pedagógico
Rio de Janeiro, 2010
1
Elaboração
SEC
SEEDUC
EQUIPE PEDAGÓGICA - ICEM Denise Espírito Santo
Marcelo Lins Vanessa Castro
Apoio
Zazen Produções
Rio de Janeiro, novembro de 2010
www.cinemaparatodos.rj.gov.br
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................3
O FILME ..................................................................................6
REALIDADE E FICÇÃO .....................................................................6
FILME DE FICÇÃO OU DOCUMENTÁRIO? ....................................................7
O MITO DO HERÓI .......................................................................10
A GEOGRAFIA DA CIDADE ................................................................12
GRAMÁTICA POPULAR....................................................................13
PRODUÇÃO E LINGUAGEM AUDIOVISUAL...................................................16
DIREITOS HUMANOS ......................................................................20
AGORA O INIMIGO É OUTRO ..............................................................26
REFERÊNCIAS ............................................................................28
3
INTRODUÇÃO
Fábula de humor negro; filme político de ação e suspense; fronteira
entre ficção e documentário: difícil classificar Tropa de Elite 2. Após
as suas quase duas horas de duração, nos perguntamos: Que
possibilidades o filme oferece a nós, educadores, para abordar e
contextualizar conteúdos em sala de aula? Como aproveitar estas
possibilidades?
Misto de fábula contemporânea sobre as mazelas da política
brasileira, o filme trata da segurança pública e das relações entre
criminalidade e poder público constituído, de relações de poder e de
tensões sociais que emergem da cidade convulsionada pelo caos e
pela violência. A narrativa é apresentada do ponto de vista do seu
protagonista, o Coronel Nascimento, interpretado por Wagner Moura.
O professor Diogo Fraga (interpretado por Irandhir Santos) desponta
como antagonista de Nascimento ao defender direitos humanos de
presos e, ao longo da trama, se elege deputado, desempenhando
importante papel no desenrolar do filme ao questionar as ações do
Batalhão de Operações Especiais (BOPE) sob o comando do Coronel
Nascimento e as metodologias utilizadas pela polícia e políticos
retratados no filme.
Numa explosão de imagens, cores, movimentos, efeitos especiais e
personagens contraditórias, o filme traz à tona temas como a
doença presente na política brasileira, as relações entre a
criminalidade e o jogo do poder, fazendo uma costura entre o que
está exposto na tela e as tensões sociais que vivemos e
entrelaçando, assim, ficção e realidade.
Com suas cenas de ação, o filme é entretenimento, mas ao mesmo
tempo provoca reflexões sobre a nossa sociedade, sobre o sistema
político-social e a violência que nos rodeia, contribuindo assim para o
pensamento e construção de princípios éticos que queremos
compartilhar e de um sistema social coletivamente desejado. E o que
podemos fazer para concretizar esta realidade que desejamos, que
atitudes e ações é preciso desenvolver para concretizar este desejo?
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Algumas idéias desenvolvidas neste caderno:
- Realidade e ficção
Na abertura do primeiro Tropa de Elite, uma legenda informa que a
sua narrativa se baseou em relatos de fatos reais, levantados nos
depoimentos de 12 oficiais e de um psiquiatra da força policial do Rio
de Janeiro. A legenda também informa que o registro dessas
entrevistas foi destruído. Agora, em Tropa de Elite 2, uma legenda
de abertura avisa que, apesar de possíveis coincidências com a
realidade, o filme é uma obra de ficção. Ao ver o filme, que
coincidências saltam entre a ficção apresentada na tela do cinema
e a realidade vivida?
- A geografia da cidade
O filme apresenta locações no Rio de Janeiro e em Brasília; espaços
da vida cotidiana, como a favela, o presídio; de representação
política, e espaços psicológicos onde os conflitos humanos se
desenrolam, como as relações familiares. E tudo isso a partir de um
enfoque voltado para os “dias de hoje”, o que proporciona quase um
choque de atualidade. Quais dos lugares que aparecem em Tropa
de Elite 2 você conhece?
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- O mito do herói
Um herói é o protagonista de uma narrativa dramática ou de um
mito. É chamado de herói porque descobre ou realiza coisas acima do
normal, é alguém que arrisca ou sacrifica a própria vida por uma
causa ou motivo maior do que ele mesmo. Também podem existir
anti-heróis numa narrativa, que apresentam atitude oposta à de um
herói. Há personagens do Tropa de Elite 2 que poderiam ser
identificados como heróis ou anti-heróis? Se sim, quais e por que?
- A linguagem cinematográfica
Um filme se constrói pela sua história. Mas, além da estrutura
narrativa, há outros elementos como a linguagem e a gramática
fílmica, que envolvem o ponto de vista do narrador e a atuação do
elenco; a trilha sonora; luz e fotografia, enquadramento e
movimentos de câmera; a contribuição de cada pessoa que está na
frente e por detrás das câmeras. Na linguagem do Tropa de Elite 2,
o que se destacou para você?
- Gramática popular
Desde o primeiro filme, Tropa de Elite traz ditos espirituosos que
acabam caindo na boca do povo, como “pede para sair” e “faca na
caveira”. Você gravou, ou já ouviu alguém falando alguma das
expressões usadas pelas personagens de Tropa de Elite 2?
- A existência e o conhecimento de direitos e deveres
A bandeira dos direitos humanos levantada pelo professor que se
elege deputado no filme é um gancho para abordar a questão dos
princípios éticos e do direito universal, regras básicas que norteiam a
convivência social. Você já leu algo sobre a Declaração dos Direitos
Humanos, os direitos e garantias fundamentais da nossa
Constituição Federal, ou o Estatuto da Criança e do Adolescente?
Conhecer nossos direitos e deveres é fundamental para o exercício da
cidadania!
Outros caminhos – a motivação dos conteúdos este caderno:
Tropa de Elite aborda várias temáticas que podem ser exploradas
pelos educadores: a política brasileira, a violência urbana e a
segurança pública; a problemática do tráfico e do consumo de
drogas; as relações entre criminalidade e poder público
constituído; as tensões sociais que emergem da desigualdade;
trazendo caos e violência ao cotidiano da cidade.
Mas, para cada educador e aluno haverá ainda várias outras questões
e possibilidades temáticas que podem ser trabalhadas a partir do
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Tropa de Elite 2. Traga a questão que mais toca o seu universo,
descubra o que está mais carregado de sentido para seus alunos e
experimente atividades em sala de aula que aproveitem o conteúdo
do filme. Incentive os alunos a produzirem materiais sobre o tema
em pauta, seja por meio de uma redação ou resenha, ou utilizando
outras linguagens criativas além da escrita, como imagens e
dramatizações.
Esta apostila tem a intenção de inspirar possibilidades de abordagem
pedagógica deste filme e do cinema como um todo: idéias para, a
partir de um filme qualquer, convidar o espectador a repensar e
discutir a sociedade brasileira e sua inserção no contexto global e,
assim, buscar uma proposta viável de País e de modo de vida no
Planeta. Sem apresentar soluções, claro, pois elas não estão prontas,
apenas fazendo provocações com base na ficção que espelha a
realidade.
Bom proveito!
Anotações
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O FILME
Tropa de Elite 2 é um marco no cinema brasileiro por conta de todo
o sucesso e recorde de bilheteria que obteve em diversas salas de
cinema de todo o Brasil: distribuído de forma independente, apenas
no seu primeiro final de semana de lançamento (de 08 a
10/10/2010), o filme teve mais de um milhão de espectadores.
Com o peso de fazer jus ao primeiro longa, Tropa de Elite 2 vem
com vigor para cumprir a missão dada. Por ser narrado do ponto de
vista dos policiais, o filme pode ser visto como um “thriller” de
ação, mas provoca surpresa pela crítica social contundente e instiga
reflexões sobre a nossa sociedade, o sistema político-social e a
violência que cerca o nosso cotidiano. A violência e a corrupção na
polícia continuam em pauta, mas desta vez a trama elabora assuntos
mais ambiciosos e complexos, indo mais a fundo em problemáticas
sociais do nosso País.
Wagner Moura retoma o personagem do primeiro Tropa de Elite. Dez
anos mais velho, neste segundo filme o Capitão Nascimento foi
promovido a Comandante Geral do BOPE. Em suas novas funções, o
Coronel Nascimento faz o BOPE crescer e coloca o tráfico de drogas
de joelhos. Como resultado das ações executadas sob o seu
comando, ele é nomeado Subsecretário de Inteligência e demora a
perceber que seu verdadeiro inimigo é outro. “E numa guerra isso
pode ser fatal”, diz o próprio Nascimento.
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REALIDADE E FICÇÃO
Repleta de referências a locais, personagens e situações reais da
conjuntura social fluminense (como o roubo do arsenal de armas de
uma delegacia de polícia; pessoas executadas por um sargento em
uma lancha e a instauração de uma CPI das Milícias), a trama é
narrada pelo protagonista – o ex-comandante do BOPE que se torna
Subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do
Rio de Janeiro - e, apesar de refletir o seu ponto de vista
particular, traz uma visão ampla do sistema que envolve policiais,
traficantes, autoridades e moradores da cidade.
Em uma cena do Tropa de Elite 2, esse protagonista, o Coronel
Nascimento, interpretado por Wagner Moura, entra em um
restaurante e, por conta de uma ação realizada sob seu Comando, é
aplaudido de pé pelas pessoas do recinto. Há nesta situação um
misto de interesses diversos por parte dos grupos ali presentes.
Sentimentos distintos e controversos, percepções positivas, irônicas
e críticas. Que grupos, interesses e percepções contraditórias
você identificou nesta cena?
FILME DE FICÇÃO OU DOCUMENTÁRIO?
Costumamos pensar filmes de ficção como aqueles que são
estruturados por uma narrativa inventada, uma história construída a
partir da imaginação. E o documentário é geralmente definido como
um gênero cinematográfico que se caracteriza por explorar aspectos
da realidade a partir de registros fílmicos. Mas, Tropa de Elite, à
primeira vista, parece escapar a essas classificações. Por que?
Para responder a esta questão, voltemos ao primeiro filme: seu
roteiro se baseou em depoimentos dados por oficiais do BOPE,
relatando situações reais, vividas por eles no ofício policial. Nesta
nova versão, as coincidências da narrativa de Tropa de Elite 2 com a
realidade lhe renderam a inusitada classificação de “documentário
rodado com atores1”.
1 Crítica sobre o filme feita por Francisco Russo no site Adoro Cinema: http://www.adorocinema.com/colunas/tropa-de-elite-2-919/
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Interessante notar que o primeiro longa-metragem do diretor de
Tropa de Elite, José Padilha, foi um documentário, Ônibus 174, em
2002. Neste filme, em que o tema da violência urbana já estava
presente, o diretor utilizou imagens de arquivo do seqüestro do
ônibus 174, que aconteceu na zona sul do Rio de Janeiro em junho
de 2000, intercaladas com depoimentos que narravam a vida de
Sandro, o seqüestrador, para mostrar o processo de transformação
de uma criança de rua em bandido.
No roteiro do primeiro e no argumento para o segundo Tropa de
Elite, Padilha contou com a participação do real Capitão Rodrigo
Pimentel, que já fora do BOPE, escreveu em parceria com Luiz
Eduardo Soares e André Batista o livro Elite da Tropa, publicação
que serviu de ponto de partida para Tropa de Elite. Tanto no
primeiro, como no segundo, Padilha e Pimentel interagiram com o
roteirista Bráulio Mantovani, que também elaborou os roteiros de
Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles e lançado em 2002;
e de Última Parada 174, versão ficcional sobre a história de Sandro,
lançada em 2008, com direção de Bruno Barreto.
Um diretor oriundo dos documentários – José Padilha - e a
participação de um ex-oficial do BOPE – Rodrigo Pimentel -, com
seus relatos para a elaboração do roteiro, são ingredientes que
conferem um ar de realidade a Tropa de Elite. O roteiro
arquitetado sob a ótica de um policial, com personagens envolventes
e contraditórias, que vivem situações de tirar o fôlego, dá o toque
de filme de suspense, no estilo “thriller hollywoodiano”. E
Mantovani, o roteirista, em recente entrevista ao Jornal O Globo (Rio
Show de 8/10/2010), disse que não se preocupa muito com a
realidade, pois sente mais prazer em inventar: “gosto de ler sobre os
temas com os quais trabalho, mas de maneira informal. A informação
e os fatos são apenas nutrientes para um processo mental cujo
centro de gravidade é a imaginação.”
Com todos esses componentes que misturam realidade e ficção, por
mais que existam pontos de contato entre o contexto real e a trama
do filme, Tropa de Elite é, de fato, um filme de ficção, pois seu
roteiro foi criado, inventado e esquematizado para contar uma
história – mesmo que tomando por base fatos e personagens da
realidade.
Há uma série de cenas e personagens do filme que aproveitam essa
“ponte” com a realidade: há a representação de PMs, deputados,
representantes de governo, jornalistas e outros personagens
inspirados na vida real; há também a representação de pessoas
comuns da população, como moradores de favela, universitários,
presidiários, entre outros. Mas é preciso lembrar, como o próprio
diretor do filme já afirmou: personagens do filme que fazem alusão
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a personalidades da vida real representam, ao mesmo tempo,
todos e nenhum dos que os inspiraram: se referem a um modo de
agir no mundo, refletem padrões psicológicos que re-
conhecemos.
Além das alusões aos personagens, existem ainda referências diretas
a acontecimentos, lugares e símbolos visuais que fazem parte da
paisagem do Rio de Janeiro e do Brasil. Em uma das cenas, o
ativista dos direitos humanos, Diogo Fraga, questiona: por que a
população confia numa polícia que tem uma caveira como símbolo?
De fato, esse é um questionamento contundente, que reflete um
dos principais pontos do filme: é correto, ou não, aplaudirmos e
compactuarmos com uma polícia e um sistema que atua com
violência? Como é hoje a reação da sociedade em relação a essa
prática? O que pensam sobre isto educadores, alunos, cidadãos e
o que podem fazer diante desta prática?
Assim como Tropa de Elite 2, Tropa de Elite 1, ônibus 174, e
Notícias de uma Guerra Particular são filmes que se destacam por
questionarem a política de segurança pública e os próprios valores
de nossa sociedade quanto a atuação de sua polícia, pondo em
xeque valores e costumes que norteiam a nossa vida.
Sugestão de Atividades:
Relembre um fato marcante que tenha ocorrido na escola,
uma festa, um final de campeonato, uma aula externa, ou
outro qualquer. Peça aos estudantes para produzirem textos
ou desenhos narrando este fato, como se fosse um storyboard
– roteiro apresentado em imagens –, ou uma crônica do fato
ocorrido no ambiente escolar. Com o material produzido,
monte uma exposição e aborde os textos e desenhos junto
com o grupo, identifique as distintas representações e os
elementos, visuais ou textuais, mais significativos. Provoque
o grupo a perceber as diferentes versões de um mesmo fato.
Faça uma votação para eleger uma das versões apresentadas
como a mais significativa para todo o grupo e proponha a
elaboração de um filme para representá-la. Apresente
alternativas: realizar um documentário, através de
entrevistas com quem tomou parte no evento e uso de
material de arquivo, como fotos ou vídeos realizados na
ocasião; ou uma obra de ficção, em que o grupo dramatizaria
o evento? Se possível, providencie as condições para
transformar essa idéia num produto audiovisual. Promova
uma sessão de exibição do vídeo e/ou de apresentação de
todo o material produzido, seguida de debate com a
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comunidade escolar, evidenciando a diversidade de olhares
sobre um mesmo fato.
O MITO DO HERÓI
Mito é uma palavra derivada do grego mythos e significa narração,
discurso. Um mito é uma narrativa que trata de situações típicas da
vida humana que povoam o nosso cotidiano e que, por refletir
padrões psicológicos que habitam o nosso imaginário, tem forte
significado simbólico. E o que é um herói?
Herói é o protagonista de uma narrativa dramática, ou de um mito.
É chamado de herói porque descobre ou realiza coisas acima do
normal, é alguém que arrisca ou sacrifica a própria vida por uma
causa ou motivo maior do que ele mesmo, superando de forma
excepcional um determinado problema de dimensão épica.
Há dois tipos de proeza que um herói pode realizar: a física, numa
competição ou batalha, em atos de coragem, ao salvar vidas, por
exemplo. E a espiritual, em que o herói, diante da adversidade,
precisa aprender a lidar com a vida de uma nova maneira, tirando
daquela situação um aprendizado.
Numa narrativa mítica também podem existir antiheróis, que
apresentam atitudes opostas às de um herói. Mas por que são
chamados de antiheróis? Um antiherói também pretende realizar
grandes feitos, mas o termo grego “anti” – que denota oposição - lhe
é conferido por que toma iniciativa com base em motivações
egoístas, como a vaidade, por exemplo, ou pelo fato dele não possuir
as qualidades físicas ou morais requeridas para realizar a façanha a
que se propõe de forma digna e bem-sucedida.
Em Tropa de Elite 2 existem personagens que poderiam ser
identificadas como heróis ou antiheróis? Se sim, quais e por que?2
No filme, as ações do Capitão Nascimento, especialmente na
rebelião do presídio, são duramente criticadas por Diogo Fraga e por
alguns setores da sociedade. Mas uma parcela da população e do
poder público reconhecia na figura do Capitão uma espécie de herói.
Na sua opinião, o filme o apresenta como herói, como antiherói, ou
existe indefinição quanto a esta sua posição?
2 No blog oficial do filme (www.tropa2.com.br/blog), consulte o resultado
da promoção “Vilões X Nascimento: Conheça as batalhas vencedoras”.
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Não só no que diz respeito aos aplausos, ou vaias, ao Capitão
Nascimento, certos acontecimentos do filme causam distintas
impressões e/ou sentimentos ambíguos. O ator Milhem Cortaz, no
blog oficial do filme3, faz a seguinte afirmação: “Fábio é meu
Macunaíma, meu herói politicamente incorreto”. Na relação entre o
que projetamos em indivíduos e o que eles podem ser, muitas vezes
há um grande abismo. Ou uma linha tênue. Assim, na medida em
que um filme faz uma ficção da realidade, de acontecimentos
passados no cotidiano das ruas, das comunidades e dos noticiários,
podemos indagar se reconhecemos como legítimas estas
representações.
Sugestões de Atividades
Peça a cada aluno que identifique alguém da sua convivência
como herói ou antiherói e solicite que relate, de forma oral
ou escrita, a história dessa pessoa. Organize uma contação
de histórias ou um varal de livros com esses relatos da
turma. Convide alguns desses escolhidos para uma roda de
conversa.
Organize um jogo sobre heróis e antiheróis apresentados
pelos alunos. Convoque-os para organizar um mural coletivo
com informações e observações relevantes sobre a vida de
3 http: www.tropa2.com.br/blog
seus escolhidos. Crie uma dinâmica para que todos leiam o
que está no mural. Depois, retire-o da vista e elabore
perguntas sobre essas personalidades. Peça que qualquer
membro do grupo, a não ser o que apresentou aquela pessoa,
responda.
Na cena do presídio, quando o defensor dos direitos humanos
entra para negociar com os presos, o Capitão Nascimento se
refere a ele como “Che Guevara”, por que? O mesmo jogo
também pode ser feito com heróis e antiheróis do Brasil e do
mundo: divida a turma em grupos e peça para selecionarem
pessoas que consideram como heróis ou antiheróis (uma
alternativa é pedir a cada grupo que apresente um número de
personalidades equivalente ao número de seus membros). Os
alunos irão levantar informações sobre essas pessoas e sobre
fatos de suas vidas. Promova a socialização dos
conhecimentos na turma: quem foram as personalidades
escolhidas e quais foram os seus feitos? Alguém discorda da
classificação de algum deles como herói ou antiherói? Por
que? Depois da troca de ideias, cada grupo elabora perguntas
sobre as personalidades que destacou e se realiza, então, o
jogo de perguntas entre os grupos. Conferir pontos às
questões corretamente respondidas é um opcional, que dá um
tom competitivo à atividade.
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Com a turma dividida em grupos, peça aos alunos que
identifiquem exemplos de heróis e de antiheróis do cinema
(também podem ser personagens da literatura, de novelas
ou de filmes de TV). Depois, cada grupo encena os destaques
que selecionou para que o resto da turma adivinhe quem
está representando. Aqui, a ênfase do jogo é cooperativa:
todos contribuem com idéias para adivinhar o que está sendo
representado pelo grupo em cena.
A GEOGRAFIA DA CIDADE
É interessante notarmos como o desenho do mapa da cidade se
materializa, ganha existência e força, a partir de um filme. De fato,
um dos elementos que determina a cena é o espaço da produção
cinematográfica; o espaço filmado. E a dimensão espacial
representada condiciona a ação das personagens em um filme, seja
este espaço um lugar amplo ou confinado, um espaço sem limites ou
com fronteiras, um lugar de passagem e trânsito, ou mesmo um
espaço institucional, simbólico e até mesmo psicológico.
Um filme apresenta imagens de espaços, que podem ser locações
existentes ou cenários criados para representar um lugar. Em Tropa
de Elite reconhecemos diversas locações no Rio de Janeiro e em
Brasília; espaços da vida cotidiana, como a favela, o presídio;
espaços de convívio, como as festas comunitárias e a universidade; a
paisagem carioca e os lugares de representação política, como a
Assembléia dos Deputados e o Congresso.
Destes espaços relatados acima, apenas o Congresso e Bangu I foram
cenários criados para o filme, todas as outras cenas foram realizadas
em espaços reais.
Para além da objetividade destes espaços específicos retratados no
filme, devemos ter em conta que o cinema é uma produção de
sentido que lida com a subjetividade. E isso quer dizer que
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emprestamos sentido à geografia onde os conflitos humanos se
desenrolam, que de algum modo interpretamos espacialmente uma
obra cinematográfica. Em linhas gerais, o conhecimento que
elaboramos a partir de um filme não está simplesmente nas coisas
que são mostradas, mas na ressonância destas coisas, que
mobilizam elementos que já trazemos em nossos repertórios. Todo
filme traz em sua narrativa pequenos detalhes culturais que
possibilitam ao público apreender informações sobre localidades em
determinado momento histórico; linguagem e comportamento de
grupos sociais.
Por outro lado, o cenário escolar é espaço privilegiado para
exercitar a sensibilidade do olhar na leitura das imagens e da
geografia da cidade, das ilustrações dos livros didáticos e dos
conteúdos assistidos nas telas de TV e de cinema. Desenvolver este
olhar crítico é uma forma do professor promover o diálogo e atuar
como agente potencializador de sentidos e afetos diante desses
conteúdos, enredando-se junto com os alunos na ampliação de
possibilidades de compreender e de intervir no mundo. Aguçar o
olhar crítico e exercitar a leitura de imagens nesta sociedade
midiática é pertinente, pois uma imagem jamais é neutra ou
inocente, ainda que seja portadora de inúmeras relações, ela é
sempre um discurso e marca um posicionamento.
Convém então provocar: como seriam as representações espaciais
neste filme? Você, professor/estudante, já viveu alguma situação
semelhante às que são apresentadas nos lugares do filme? Quais?
Conhece a história dos lugares que aparecem em Tropa de Elite 2?
Que tal utilizar um mapa da cidade do Rio de Janeiro para marcar a
localização destes espaços?
Sugestão de atividade:
Proponha aos alunos que façam coletivamente (em uma
folha de papel de grande formato) um mapa da região em
que está situada a escola. Solicite que marquem com
canetas e/ou lápis de cor as principais vias, bem como os
pontos de referência mais significativos, de acordo com as
impressões trocadas pelo grupo. Estimule o discurso
acerca destes lugares referenciais que foram
identificados. Pergunte qual é a razão de determinada
localidade ter um nome, ou se tal lugar identificado
possui uma história. Colete estas impressões e escreva-as
no mapa, ao lado dos pontos identificados.
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A GRAMÁTICA POPULAR
“Para certas pessoas a guerra é a cura; a guerra funciona como uma
válvula de escape”, diz o Coronel Nascimento em Tropa de Elite 2.
Algumas expressões características utilizadas pelo Capitão
Nascimento em Tropa de Elite passaram a fazer parte do linguajar
popular, como “pede pra sair” e “missão dada é missão cumprida”.
No Tropa de Elite 2 estas e outras expressões deste tipo
reaparecem, utilizadas por ele e por outras personagens do filme,
como: “nunca serão”; “você é moleque”; “taxa do eu sei”;
“pombagirice“; “quem quer rir tem que fazer rir”.
Você conhece ou usa algumas destas expressões? Os seus alunos
utilizam estas ou outras expressões desse tipo? Muitas vezes, no
cenário escolar, as linguagens usadas por professores e estudantes
parecem pertencer a universos distantes. Seria esta uma questão
para ser trabalhada em sala de aula? Se tomarmos como ponto de
partida as expressões usadas no filme, poderíamos pensar uma série
de articulações e invenções com os estudantes. Por exemplo:
“Imagine um professor que só esculacha os aspiras, que diz que eles
nunca serão, que quer vê-los pedir pra sair. Mas vai que um dia a
sala vira, e os alunos tomam o professor como um fanfarrão, ele é
que vai ser o zero um. Talvez o ideal seria ficar tudo fifty-fifty, na
taxa do eu sei, você sabe também, sem pombagirice”.
Se fosse reescrever esta história utilizando a gramática formal, como
se fosse um aluno contando uma situação, como ela ficaria? Se, por
um lado, estas expressões e ditos populares remetem a um modo
informal de se expressar, em que o compromisso com a correção
gramatical está ausente, o que há de criativo, de recurso expressivo
nessa linguagem? Alguém sabe dizer o que quer dizer papa-maique?
Quem é alemão? Ou como proceder na operação pneumático?
Sugestões de Atividades:
Identifique expressões de grupos representados em Tropa de
Elite e Tropa de Elite 2: gente que mora na cidade, policiais,
malandros, autoridades etc.
Promova uma dramatização com o grupo, um diálogo que
faça uso destas gírias do cotidiano.
Seria possível escrever uma carta de amor com esta
linguagem? Proponha este exercício para o grupo.
Incentive uma pesquisa sobre expressões deste tipo utilizadas
no universo de cada aluno, peça para que cada um selecione
e apresente palavras com seus significados para os colegas.
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Desafie-os a escreverem textos com estas expressões que
foram levantadas.
Proponha que os alunos conversem com pessoas mais velhas
para colherem gírias que já que tenham caído em desuso.
Também pode ser realizada uma busca de exemplos em
músicas antigas. Na próxima página você vai encontrar uma
amostra disso em expressões da antiga malandragem em
músicas de Noel Rosa e Wilson Batista. Há nelas alguma
palavra cujo sentido seja desconhecido? Se sim, onde se
pode buscar este significado? O que quer dizer o lenço no
pescoço e o tamanco a que os dois fazem referência? Um se
orgulha de usar o lenço branco, outro diz para tirá-lo do
pescoço, por que?
Lenço no Pescoço De Wilson Batista Meu chapéu do lado Tamanco arrastando Lenço no pescoço Navalha no bolso Eu passo gingando Provoco e desafio Eu tenho orgulho em ser tão vadio Sei que eles falam Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha Andar no miserê Eu sou vadio porque tive inclinação Eu me lembro, era criança Tirava samba-canção Comigo não Eu quero ver quem tem razão E eles tocam E você canta E eu não dou Rapaz Folgado De Noel Rosa Deixa de arrastar o teu tamanco Pois tamanco nunca foi sandália E tira do pescoço o lenço branco Compra sapato e gravata Joga fora esta navalha que te atrapalha Com chapéu do lado deste rata Da polícia quero que escapes Fazendo um samba-canção Já te dei papel e lápis Arranja um amor e um violão Malandro é palavra derrotista Que só serve pra tirar Todo o valor do sambista Proponho ao povo civilizado Não te chamar de malandro E sim de rapaz folgado
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Pesquise também a linguagem atual: Incentive a busca por
músicas contemporâneas que atraiam os alunos. Peça para a
eles para transcrevê-las para uma linguagem mais formal,
numa redação por exemplo. Músicas sugeridas:
Na Intimidade, Meu Preto De Nei Lopes Ouça em: http://search.4shared.com/q/1/na%20intimidade%20meu%20preto
Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro E na intimidade, meu preto
Quando eu saio pra gandaia Ela faz um escarcéu Gritando que eu não valho nada E que a grande culpada é a Princesa Isabel
Mas quando eu volto pra caxanga Pra descansar o esqueleto Aí ela me beija todo Me faz chá de boldo E me chama, meu preto
Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro
E na intimidade, meu preto
Se eu amarro uma pretinha Ela apronta um bololô E diz que negro quando pinta Tem três vezes trinta e que eu sou seu avô
Porém quando eu chego inspirado E lhe declamo um soneto Aí ela posa de musa Me usa e lambuza Me chama, meu preto
Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro E na intimidade, meu preto
Ela diz pra todo mundo Que eu atraso a sua vida E quando eu não sujo na entrada É fava contada eu sujar na saída
Porém quando eu danço gostoso A dança do minueto Aí ela ajoelha e chora Jura que me adora E me chama, meu preto
Não vai na conversa dela Essa mulher é espeto Na frente dos outros me chama esse negro E na intimidade, meu preto
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Linguagem do morro
Composição: Padeirinho / Ferreira Dos Santos
Tudo lá no morro é diferente Daquela gente não se pode duvidar Começando pelo samba quente Que até um inocente Sabe o que é sambar Outro fato muito importante E também interessante É a linguagem de lá Baile lá no morro é fandango Nome de carro é carango Discussão é bafafá Briga de uns e outros Dizem que é burburim Velório no morro é gurufim Erro lá no morro chamam de vacilação Grupo do cachorro em dinheiro é um cão Papagaio é rádio
Grinfa é mulher Nome de otário é Zé Mané (2x)
Produção e Linguagem Audiovisual
Depois do nascimento da idéia, ou da elaboração de um argumento,
a realização de um produto audiovisual se divide basicamente em
três etapas: a pré-produção (voltada para o planejamento da
filmagem); a filmagem; e a pós-produção. Todas essas etapas são
fundamentais para a concretização desse produto e para a escolha
de seus elementos de linguagem, essenciais para construir o “clima”
do filme e provocar sentimentos e reações nos espectadores. Todas
essas etapas envolvem o trabalho de uma grande equipe em que
cada um tem a sua fundamental importância!
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Chamamos a atenção para a ultima etapa, da pós-produção, que
compreende todo o processo de organização do material filmado;
edição das imagens e do som; e finalização. O material registrado
para a realização de um filme não é apresentado na íntegra, passa
por uma formatação, que é a montagem, ou edição. “No Brasil, o
termo edição geralmente é usado para se referir aos trabalhos em
vídeo e montagem em relação ao cinema” (VIDOR, 2004, p.8). Mas
aqui esses dois termos serão empregados como sinônimos. O fato é
que um filme tem muito mais horas de material gravado do que o
tempo da montagem final e, por isso, a edição desse material, ou
seja, a análise e escolha dos trechos de imagens a serem utilizadas;
sua ordenação; a definição dos cortes; tem grande importância na
criação artística de uma obra, pois é o que irá imprimir a ordem e o
ritmo do produto audiovisual final.
A edição começa na preparação do material bruto, que vai ser
identificado, sincronizado com o som e agrupado de acordo com as
cenas. Esse material segue para o editor, que fará os cortes entre
os planos de sequências. Essa sucessão de sequências segue uma
estrutura narrativa, definida no roteiro. Quando a edição é
concluída, o material vai para a equipe de finalização, que inclui
efeitos visuais e créditos, faz ajustes de imagem e de som para a
exibição.
Pode-se, então, perceber que a edição, ou montagem, tem uma
função semântica: “A primeira função da montagem é a construção
narrativa” (VIDOR, op.cit, p. 9). Mas, ela também pode ter uma
função expressiva, transmitindo ideias e sentimentos através da
transição das imagens e sons, de forma que os espectadores possam
apreender algo que as imagens, em si, não mostram. “A combinação
das funções narrativa e expressiva na montagem é responsável pelo
movimento, ritmo e ideias de uma obra”. (VIDOR, op.cit., p.8).
Semântica é o estudo dos significados. Enquanto a sintaxe se ocupa das
estruturas formais da comunicação, a semântica se debruça sobre os
sentidos despertados por uma mensagem.
20
Alguns exemplos de elementos utilizados na linguagem fílmica:
1 - A estrutura narrativa de um filme é a sua trajetória, o fio que
conduz o espectador. Pode-se perceber como a estrutura narrativa
é determinante para um filme fazendo um contraponto entre dois
filmes, comparando, por exemplo, a estrutura narrativa de Tropa
de Elite 2 e do documentário Notícias de uma Guerra Particular,
dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund. “Notícias” trata da
violência urbana decorrente do tráfico de drogas no Rio de Janeiro,
com foco no embate violento entre policiais e traficantes,
particularmente na comunidade do Morro Dona Marta. Enquanto a
narrativa de Tropa de Elite segue a ordem cronológica da vida do
Capitão Nascimento – protagonista e narrador, que aparece dez
anos mais velho em relação ao primeiro Tropa de Elite, vivendo
outra etapa de sua vida, em que outras questões o mobilizam -, o
documentário segue uma apresentação por blocos, marcados por
letreiros que entram em quadro, como uma projeção de slides. A
escolha por uma divisão em blocos, além de ter uma função
narrativa, também tem função expressiva, pois indica o caminho
que os diretores seguiram. Isabel Vidor observa que: “Se
considerarmos que todo documentário é a interpretação de seus
realizadores sobre determinado tema, será sempre possível
identificar um posicionamento” (VIDOR, op.cit., p. 16).
Enquanto Tropa de Elite é narrado do ponto de vista do policial, do
seu modo de ver as coisas, no documentário, o fato de vários lados
serem ouvidos para se chegar a uma visão geral do problema põe em
pauta a suposta “neutralidade” do jornalista na apuração de
matérias, o mito da imparcialidade - dizemos mito porque todo
discurso produzido parte de uma seleção de elementos para
apresentar uma idéia e isto é sempre subjetivo. Em todo e qualquer
discurso sempre estará implícita, na forma como as idéias são
apresentadas, a versão do seu autor (seja ele um sujeito qualquer
que fala, jornalista ou diretor de filme). Não existe verdade
absoluta, apenas possíveis interpretações da realidade. Por isso, é
importante que o público perceba o que pensa e como se posiciona
quem disponibiliza as informações que recebe para, então, poder
formar suas próprias opiniões. E isso é algo que acontece tanto no
documentário, quanto na ficção.
2 - O uso de narração em um filme é uma escolha que pode ter
funções diversas. A narração pode alterar o significado de imagens,
incluindo dados que transformam a percepção daquilo que é visto,
ou pode sustentar as imagens, interpretando-as para o público.
Tanto o primeiro quanto o segundo Tropa de Elite são narrados pelo
protagonista, Beto Nascimento. No primeiro filme, uma de suas
afirmações é que o objetivo do BOPE “não é prender traficantes, é
capturar armas”. Quando, ao invés de narração, se opta pelo uso de
21
legendas, a mensagem ganha um tom mais impessoal. Exemplo disto
são as legendas utilizadas na abertura do Tropa 1, falando do uso de
relatos verídicos como base para elaboração do roteiro, e no Tropa
2, informando que apesar das coincidências entre algumas situações
apresentadas no filme e a realidade, trata-se de uma obra de
ficção.
3 – Num filme é o roteiro que norteia a montagem, definindo uma
sequência de imagens para desenvolver a narrativa, assim como
numa redação preparamos os argumentos para introduzir,
desenvolver e concluir uma ideia. Apresentar as contradições e
antagonismos entre personagens é uma forma de dinamizar uma
narrativa. Desta forma, no Tropa 2 o antagonismo inicial entre o
Coronel Nascimento e o Deputado Diogo Fraga acaba resultado
numa união de forças. Já em Notícias, a sequência de imagens no
documentário intercala as vozes do policial e do traficante, dando-
lhes o mesmo espaço e o mesmo peso, de modo que não haja
indicação de que um ou outro está certo ou errado. Esta estrutura
faz com que ora se concorde com o policial, ora com o traficante;
em outro momento, com os moradores. A montagem é pensada de
modo a deixar lacunas a serem preenchidas pelo próprio
espectador: assim, a partir da sua própria interpretação, ele monta
a sua versão particular.
4 – A fotografia e o enquadramento são importantes elementos da
gramática de um filme. “Em Notícias de uma Guerra Particular a
fotografia é „suja‟ (...)”, diz Vidor; “as imagens causam mais
impacto pela composição dos quadros. O enquadramento nas
entrevistas é fixo, próximo, sem ser íntimo. Em outras situações, a
câmera na mão conduz o espectador para dentro da ação,
contribuindo para o clima de reportagem do programa” (VIDOR,
op.cit., p.21). Em Tropa de Elite, a velocidade nas cenas de ação
tem o intuito de nos transportar para o meio do conflito armado e,
ao contrário do documentário comentado, a fotografia do filme
apresenta imagens nítidas, refletindo o claro e firme posicionamento
de seu protagonista e narrador.
5 - A trilha sonora, assim como a fotografia e o enquadramento de
um filme também produz sentidos: auxilia na assimilação de idéias
e desperta emoções, cria tensões e/ou propicia um maior
envolvimento do espectador. No blog do Tropa 24 há um vídeo sobre
a origem do “Pa pa pa ra”, ou o “Rap das Armas”, funk carioca da
década de 90 que foi tema de abertura de Tropa de Elite,
relacionando-o, ao mesmo tempo, ao ruído de balas e ao som d´A
Flauta Mágica, de Mozart.
4 Consulte: http://www.tropa2.com.br/blog/?p=1184
22
Sugestão de atividade:
Proponha aos alunos que assistam Tropa de Elite 2, ou
que revejam Tropa de Elite, analisando elementos da
gramática fílmica (pode ser de um trecho ou de uma
cena que lhes pareça mais significativa): estrutura
narrativa; caracterização de personagens; diálogos e
narração; trilha sonora; ambientação e cenários; luz e
enquadramento das imagens. Troque idéias sobre
análises e interpretações feitas, confronte opiniões e
destaque pontos de vista e percepções diversas. Sugira
que cada um elabore um storyboard da sua cena e
exponha os trabalhos.
Fazer um estudo comparado entre documentário e filme
de ficção pode ser um bom exercício de análise da
linguagem cinematográfica. Notícias de uma Guerra
Particular aborda temas semelhantes aos enfocados em
Tropa de Elite, de um ponto de vista bem diverso.
Se a turma fosse escolher um assunto de cunho social
para produzir um audiovisual, qual seria o tema
selecionado? Proponha que cada aluno selecione um
tema e apresente sua campanha para os colegas. Depois,
promova uma votação.
Solicite que a turma elabore um plano para realizar um
vídeo sobre o tema mais votado. Primeiro, peça que cada
aluno escreva uma proposta de argumento para aquele
tema e promova um intercâmbio de idéias. Depois,
oriente o grupo na elaboração de um roteiro coletivo.
Auxilie-os a montar um vídeo ou uma peça teatral
encenando a idéia elaborada.
Anotações
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DIREITOS HUMANOS
A Declaração Universal é um marco na história porque, pela
primeira vez na humanidade, todos, independente de cor, credo,
etnia, nacionalidade, sexo ou idade, têm direitos. Ela serve como
um princípio moral de como deveríamos viver. Os 30 artigos que a
compõem começam com a expressão “todos tem direito”, ou seja,
ninguém está de fora deste contrato social. Mas, será que sempre
foi assim? E nos últimos 60 anos, desde que a Declaração foi
assinada, ainda persistem as violações aos direitos humanos?
Segundo o relatório da Anistia Internacional, 60 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido adotada pelas Nações Unidas, pessoas ainda são torturadas ou mal tratadas em pelo menos 81 países, são submetidas a julgamentos injustos em pelo menos 54 países e não têm direito de se manifestar livremente em pelo menos 77.
No filme Tropa de Elite 2, quando explode uma rebelião no presídio
de Bangu I, o professor Diogo Fraga, envolvido com a questão dos
direitos humanos de presidiários, é chamado pelos presos para
mediar a situação junto à polícia. Ele aceita a missão por acreditar
estar fazendo o bem, mas também percebe ali que a bandeira dos
direitos humanos pode lhe render alguns “dividendos” na política e
ajudá-lo a eleger-se deputado. Fraga insiste na visibilidade que o
tema lhe dá, passando a atuar como um legislador que defende as
populações marginais e que passa a atacar a corrupção do sistema.
O tema dos direitos humanos no Brasil vem servindo muitas vezes
para posições ambíguas por parte da sociedade. Ora se toma o
partido de uma pessoa que está sendo acusada de algum delito, mas
que por ter dinheiro e posição social, se vale dos seus direitos para
24
livrar-se da condenação (vejamos a esse respeito o exemplo de
vários deputados que por terem imunidade parlamentar nunca são
presos pelos seus crimes), ora se condena aqueles indivíduos que
também cometeram delitos, talvez pela própria situação de
marginalidade e de exclusão social, mas que, por não contarem com
as mesmas condições materiais, são vistos pela opinião publica
como indivíduos que não merecem ter seus direitos humanos
respeitados. Ora, se o próprio nome já diz - direitos humanos -, não
é a todos que deveriam salvaguardar?
No filme Notícias de uma guerra particular, o chefe da polícia civil
na época, Hélio Luz, afirma em seu depoimento que a polícia
corrupta é um reflexo da sociedade que protege suas elites e
reprime os excluídos, numa espécie de “apartheid” sem as cercas
de arame. Uma polícia honesta age igualmente na favela ou na
Avenida Delfim Moreira e ele acha que isso a sociedade não quer.
O filme Tropa de Elite 2 pode contribuir em sala de aula para uma
grande discussão sobre direitos humanos e até sobre a importância
da conscientização política. E não só discussão, mas inclusão deste
tema no conteúdo curricular, como uma proposta pedagógica que
também desenvolve cidadania. Tomando como base notícias de
jornais, relatos dos próprios alunos, e, identificando este tema dos
direitos humanos no filme, o professor pode promover uma
discussão sobre os direitos humanos e relacionar a situação brasileira
com a de outros países.
Você conhece ou já teve notícia de algum país que viole os
direitos humanos?
Sugestão de atividade:
Convoque para a montagem de um painel. O painel é uma
importante ferramenta didática de compilação e
apresentação de conteúdos relacionados ao tema da aula.
Proponha uma pesquisa sobre a situação dos direitos humanos
no mundo. O professor pode explorar episódios mais recentes
onde há situações de violação. Um exemplo é a iraniana que
foi condenada por adultério, cuja pena por apedrejamento,
foi rechaçada por vários países. A reação internacional
obrigou o regime iraniano a rever sua sentença; outro
exemplo recente, no Pará, foi o de uma adolescente presa
por furto que foi obrigada a permanecer numa cela com mais
de 30 homens, todos adultos, e ter sofrido abusos sexuais. A
notícia chocou todo o país, obrigando a Governadora do
Estado a afastar a cúpula da polícia daquele estado. Por outro
lado, como exemplo positivo de valorização de direitos, há o
episódio recente dos esforços e investimentos feitos para
25
resgatar 33 mineiros no Chile. Este evento terá impacto
sobre a segurança de trabalhadores e sobre a atividade de
mineração em outros países?
Direitos humanos no Brasil
Houve avanços em nosso País nos últimos anos. O governo criou a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, e a tortura foi tipificada na lei como crime hediondo (inafiançável). Mas perdura uma grande distância entre as estruturas constitucionais de defesa dos direitos humanos e os persistentes abusos, assim como a ausência de garantias para protegê-los em certas áreas do país, sobretudo na Região Norte.5
Novamente nos reportamos ao filme Tropa de Elite 2 para
identificar passagens em que assistimos a procedimentos
considerados criminosos utilizados pela própria polícia no exercício
do seu trabalho, sendo a tortura o principal deles. Sabe-se,
também, que entre facções criminosas este é um procedimento
comum para a obtenção de confissão ou delação. E no filme há uma
cena em que uma repórter e seu assistente são atacados por
agentes da milícia, sendo que seus corpos são queimados e a
dentição retirada para “queima dos arquivos”. O objetivo de
5 http://www.objetivosdomilenio.org.br/
levantar estas questões não é “demonizar”, nem “endeusar” a
polícia ou quem quer que seja por se valer de táticas hediondas para
obter informações, mas sim questionar e discutir: a lei que proíbe
tais procedimentos deve, ou não, ter dois pesos e duas medidas? Que
valores a nossa sociedade destaca hoje em relação a esses assuntos?
Teoria e prática andam juntas quando se trata destes temas?
Sugestões de atividade:
O jogo de júri popular é ideal para discutir situações
polêmicas. Para começar apresente informações divergentes
sobre o assunto a ser trabalhado. Depois, peça que os
participantes se dividam em três grupos. O professor irá
designar dois deles para defenderem ideias opostas entre si
(esta oposição de ideias pode surgir espontaneamente no
grupo, mas é preciso estar preparado para oferecer
informações e indicar posicionamentos divergentes para cada
grupo, caso isto não ocorra). O terceiro grupo, que faz o
papel de júri, ficará responsável pela mediação: ao júri cabe
marcar o tempo para uma divisão justa dos espaços de fala
(inclusive entre os membros de seu próprio grupo); conceder,
ou negar, pedidos de protesto ou direito de resposta entre
grupos opositores.
26
Fórum popular: proponha, ainda, entre os alunos um debate
a partir da seleção de algumas passagens do filme Tropa de
Elite 2 em que agentes de diferentes grupos, se valem da
tortura como meio de obter alguma vantagem pessoal
(observe que o professor, aqui, atua como mediador, não
deve tomar partido prévio sobre a atitude deste ou daquele
personagem). Este debate deve ser subsidiado com
informações precisas e textos com os artigos da nossa
Constituição e do Estatuto da Criança e do Adolescente que
condenam a tortura e os maus tratos.
Os direitos humanos e os objetivos do milênio
Em 2000, os países signatários da ONU – Organização das Nações
Unidas -, analisaram os maiores problemas mundiais e estabeleceram
8 Objetivos do Milênio, conhecidos pela sigla ODM, que
representariam oito formas de Mudar o Mundo. Quais você acha que
são?
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1. Acabar com a fome e a miséria.
2. Educação básica de qualidade para todos.
3. Igualdade entre sexos e valorização da mulher.
4. Reduzir a mortalidade infantil.
5. Melhorar a saúde das gestantes.
6. Combater a Aids, a malária e outras doenças.
7. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.
8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
Você sabia que no Brasil há alimentos suficientes para alimentar toda sua população?
Apesar disso, no nosso país, 29% das pessoas estão abaixo da linha da pobreza e apresentam deficiência
alimentar.
O Brasil é o sétimo país do mundo em número de analfabetos, sendo que 18 milhões de pessoas deste
grupo nunca passaram pela escola.
A história do mundo nos mostra que durante muito tempo homens e mulheres não tiveram
os mesmos direitos e deveres. Em alguns países isso ainda acontece. Em
outros, as mulheres conquistaram direitos que
antes lhes eram negados.
Em nosso País muitas crianças morrem antes de completar o primeiro ano de vida. As
causas são inúmeras, como a desnutrição, a falta de acompanhamento pré-natal e durante o parto. No Brasil, a mortalidade no primeiro ano de vida é, em média, de 27,8 para cada
1.000.
Mobilizar pessoas para questões importantes: - Como as vacinas protegem o bebê?
- Como a higiene pode evitar algumas doenças? - Qual a nutrição adequada para o bebê?
- Qual a importância do aleitamento materno?
Um dos maiores problemas mundiais são as doenças que
atingem grande número de pessoas – e sabemos que a prevenção é a melhor maneira de combatê-las.
Apesar do Brasil ter aproximadamente 12% de toda a água doce do planeta, 22 milhões de pessoas não têm acesso a água de boa qualidade. A água é um
recurso natural renovável: rios, lagos e lençóis subterrâneos são capazes de repor seus
suprimentos, desde que a humanidade não os
esvazie rápido demais ou os contamine.
O trabalho voluntário é quase sempre realizado em parceria. Um bom exemplo de parcerias são as realizadas entre escolas, em
que professores e alunos compartilham idéias, espaço e muita criatividade em
projetos de voluntariado educativo.
28
Atividade pedagógica inspirada nos Direitos Humanos e nos
Objetivos do Milênio
Caracterização da proposta: projeto integrado de pesquisa a
partir dos artigos que compõem a Declaração dos Direitos
Humanos e sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Um projeto integrado se caracteriza como um somatório de
esforços: da parte dos docentes interessados em fazer com que
os conteúdos de suas disciplinas se comuniquem entre si,
intensificando os canais de produção e assimilação do
conhecimento; da coordenação pedagógica que entende a
importância de incentivar esta comunicação e de providenciar
os recursos necessários para a realização de tais projetos; e
também dos alunos e seus responsáveis, que devem estar
mobilizados para construir um amplo painel que terá forte
impacto na consciência dos direitos sociais das populações, e no
exercício da cidadania.
Sugestões de atividade:
Exemplos de atividades curriculares: trabalhos de artes
inspirados nos artigos da Declaração; construção de painéis
ilustrativos contendo infográficos e mapas; produção
editorial: jornal e fanzines; experimentos científicos.
Construção de blog e compartilhamento nas redes sociais e no
site Faça parte – Instituto Brasil Voluntário.
Fomos pesquisar na Internet alguns projetos que seguem os
Objetivos do Milênio. Um deles, em especial, nos chamou a
atenção: trata-se do blog Palco digital – catraca livre, que
identifica espaços potenciais para o cultivo de atividades de
lazer, cidadania, arte e cultura. Nos inspiramos neste blog e
propomos algo similar, sugerindo aos alunos e professores a
construção de um espaço virtual – o blog MAIS PERTO DE VOCÊ...
que buscará identificar os lugares mais próximos de você e de
sua escola, que ofereçam serviços comunitários e/ou
oportunidades de serviço voluntário, assim como atividades de
arte, cultura e lazer. Para isso, propomos um passo a passo...
Reúna um grupo de alunos interessados em participar e
chame-os para desenhar uma planta da região do entorno da
escola. Neste mapa, o grupo irá localizar e marcar todas as
instituições que podem participar da rede MAIS PERTO DE
VOCÊ...
29
Descubra o entorno da escola, do bairro para
identificar os lugares de
arte e cultura.
Faça fotos e entrevistas, descubra a
programação. Alimente seu
blog com essas fontes.
Identifique os participantes do projeto e os papéis de
cada um nesta gestão.
Estabeleça um local de encontro e
uma agenda de trabalho.
Então:
Depois é só acessar e disponibilizar o endereço para seus
amigos na Internet e nas redes sociais. O blog Palco digital –
catraca livre, associado ao site Faça parte – Instituto Brasil
Voluntário, pode contribuir para compartilhar experiências e
ideias.
Algumas dicas importantes para a criação de um blog:
1. Reúna o seu grupo e escolha um nome para o blog.
2. Combinem a aparência e o layout do blog, essa etapa envolve
muita criatividade.
3. Determinem os conteúdos (textos e imagens) e a
periodicidade do blog.
4. Distribuam as tarefas: quem ficará responsável por escrever
as notícias? E por colocá-las no ar? Haverá entrevistas?
5. Façam um mural com o cronograma do que foi planejado. Isto
permitirá acompanhar as atividades realizadas e fazer
ajustes, quando necessário.
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30
AGORA O INIMIGO É OUTRO
Na época em que o primeiro Tropa de Elite esteve em cartaz, o
debate acerca da questão criminalização/descriminalização das
drogas ganhou mais uma vez corpo. No primeiro filme, o discurso do
Capitão Nascimento apontava o tráfico e o consumidor de drogas
como o grande mal social no Rio de Janeiro. A postura desta
personagem policial rendia tanto os aplausos no fim da sessão,
como acusações de que o filme tendia para o lado fascista, pela
violência opressora e a representação reducionista de questões
como a militância de direitos humanos e o próprio consumo de
drogas.
O tema das drogas, em âmbito público, ainda é recente no país e
apenas começa a ser discutido na política, na imprensa, em redes
sociais na internet e ONGs, entre outros setores. São inúmeros os
pontos de apoio dos prós e dos contras em relação à questão.
Aqueles que são contra baseiam-se, por exemplo, em argumentos
de que o consumidor alimenta uma indústria do crime e que
qualquer movimento em direção à descriminalização seria legitimar
e anistiar com status de empresa os grandes chefões do tráfico. Já
aqueles que defendem a legalização acreditam que isto colocaria
um fim à violência nas comunidades, que comercializar substâncias
que alteram a percepção é diferente de roubar e matar. Além disso,
questionam por quais razões outras substâncias, como o álcool, são
liberadas para o consumo, enquanto outras são proibidas.
O fato é que esta questão não é mais central neste segundo Tropa de
Elite. “Eu demorei muito a perceber quem eram meus verdadeiros
inimigos”, declara o Coronel Nascimento em Tropa de Elite 2. O
discurso do Coronel Nascimento toma outra direção neste filme pois,
ao longo da trama, ele vai se dando conta de coisas que antes não
percebia. O ator Wagner Moura empresta um tom mais maduro ao
ex-Capitão do BOPE. Seria esta postura uma antítese da personagem
no primeiro filme? Nascimento, na continuação da saga, parece
reivindicar para si um lugar na civilidade, inclusive pra ser ouvido em
uma sessão pública, como na cena final da CPI instaurada.
Seu inimigo agora é outro: o alvo de sua denúncia é a promiscuidade
entre o poder público e os setores corrompidos da polícia, do
sistema. O traficante do primeiro filme perde espaço para a entrada
das milícias armadas no palco do conflito narrado. Esta discussão é
recente e o filme extrai força da atualidade destes acontecimentos
no Rio de Janeiro. A milícia, que era vista com bons olhos por
proteger a comunidade do tráfico, impõe suas próprias regras e
submete os moradores a um regime severo e a altas tributações.
Através do enredamento com alguns membros do poder público,
31
estes grupos armados tornaram-se capazes de cometer todo o tipo
de arbitrariedade: assassinatos, extorsões e cobrança de inúmeros
serviços e taxas.
Em uma das cenas finais do filme, temos um vôo panorâmico sobre
um prédio público de Brasília. Para o Coronel Nascimento deste
Tropa de Elite 2, seria este um dos territórios de uma atuação social
mais contundente? Vale ressaltar que este novo filme enfatiza
outros aspectos que configuram a violência urbana. Nele estão
presentes algumas temáticas significativas, como a vida carcerária e
os direitos humanos. E a própria fala acusatória do Capitão
Nascimento parece ter sido transformada em um discurso capaz de
relativizar algumas das declarações do filme anterior - diante da
indagação do filho: “Por que você mata gente, papai?”, ele
responde: “Eu não sei.” A personagem, neste instante, parece
impactada por suas próprias ações. O primeiro filme foi taxado de
fascista por parte da opinião pública, será esta sequência uma obra
humanista, capaz de uma reflexão mais profunda sobre os papéis
sociais que exercemos na vida pública? Qual a sua opinião?
Sugestão de atividade:
Construção de cenários. A principal razão de construir
cenários é exercitar a agilidade de pensamento para reagir
da melhor maneira possível em qualquer circunstância, ver a
realidade sob pontos-de-vista diversos e enxergar
perspectivas de atuação. Quando construímos diferentes
cenários e pensamos possíveis desdobramentos da realidade
vivida, ampliamos a nossa percepção e identificamos passos
necessários para um futuro desejado.
A construção de cenários começa com uma pergunta-chave,
do tipo: como queremos que esteja o mundo daqui a um
determinado período de tempo (5 anos, por exemplo). O que
precisamos considerar para visualizar esta situação?
Vamos buscar resposta em 2 fontes de informação: o mundo
dos fatos e o mundo das percepções. De um lado, vamos
identificar fatos que tenham impacto sobre a realidade que
vamos analisar – acontecimentos atuais, ou considerados
como muito prováveis de acontecer num futuro próximo. De
outro lado, vamos acrescentar nossa visão particular de
mundo. E reunimos a esses fatos que levantamos, indicações
sobre o que acreditamos que irá acontecer, acrescentando
aspectos do futuro que ainda não estão aparentes na
realidade, no mundo concreto. Na montagem de cenários
vamos associar informações que garimpamos do exterior com
as que extraímos dentro de nós mesmos.
32
Então, vamos construir um cenário possível para o Rio de
Janeiro que queremos?
Proponha ao grupo que levante aspectos que considerem
relevantes para pensar a nossa realidade dentro de um
determinado horizonte de tempo. Delimite uma média de tempo
para os cenários que irão montar. Se forem planejar ações para
construir um futuro coletivamente desejado, é bom começar
com um horizonte de 1 ano, para poder conferir os resultados
das ações realizadas e perceber ajustes necessários ao longo do
caminho. Com base no horizonte de tempo definido, chame o
grupo para delinear um cenário local, considerando a
participação social de seus habitantes. Monte 1 painel de papel
pardo e peça aos participantes que escrevam ou desenhem
imagens dos aspectos que considerarem importantes para pensa
essa conjuntura. Instigue o grupo a visualizar formas de agir
para realizar o futuro que deseja; identifique com os
participantes os fatores-chave para o sucesso e os principais
obstáculos que o grupo deverá superar para concretizar a visão
delineada nesse cenário.
Visão sem ação é sonho.
Ação sem visão não tem sentido.
Ação com visão tem o poder de mudar a realidade.
Bom trabalho!
33
REFERÊNCIAS
Sites:
www.tropa2.com.br – site oficial do Tropa de Elite 2;
www.adorocinema.com – portal de cinema com sinopses,
trailers, fichas técnicas e críticas
http://www.facaparte.org.br/palcodigital/duvidas.asp -
portal Palco Digital que constitui uma rede social formada
por blogs criados por escolas de todo o Brasil.
Bibliográficas:
QUEIROZ FILHO, A. Carlos. Cinema, Geografia e a Pesquisa
com Imagens. ISSN: 1676-2924 - B5. Morpheus (UNIRIO.
Online), v. 07, p. 01-12, 2008.
VIDOR, Isabel. O Discurso Audiovisual: A montagem em
Notícias de uma Guerra Particular. RJ: ECO/UFRJ, 2004.
Fotos:
Banco multimídia do site www.belemcom.com.br - Fotografo
Alexandre Lima