VERMELHO RUBRO

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VERMELHO RUBRO 9º ANO D - 2013

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Livro realizado pelos alunos do 9º D - Colégio POLIEDRO - São José dos Campos - SP. Tal obra foi criada nas Oficinas de Texto criadas pelo Professor Sérgio R. L. Fascina - 2013.

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VERMELHO RUBRO

9º ANO D - 2013

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© Todos os direitos reservados. Proibida a cópia total ou parcial desta obra.

Projeto desenvolvido na disciplina de Língua Portuguesa, pelos professores Sérgio Ricardo Lopes Fascina e Darci de Souza Baptista durante o primeiro semestre letivo do ano de 2013.

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Feira do Livro 2013Oficina de Textos - Projeto Livro da Turma

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Dedicamos esta obra aos escritores de todos os tempos,

os quais nos trouxeram seus mundos,

suas inspirações,

seus medos,

suas verdades e suas mentiras,

suas certezas e suas incertezas,

a fim de que pudéssemos, nas incertezas da vida,

ter a certeza de que

podemos criar!

Podemos mais!

DEDICATÓRIA 9º ANO D

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O F I C I N A D E T E X T O S - F E I R A D O L I V R O 2 013 - P O L I E D R O - S J C

Escritos nas areias do tempo

Ilustração - homenagem

à imagem de

Padre José de Anchieta

Pegadas, desenhos, areia... Um escritor. Um ser humano que es-creve, que cria. O mar que apaga. O tempo que nunca se esgota... o tempo que perpetua... Escrevemos nossas histórias em areias de praias diferentes, apagadas pelo mar de novas vivências, mas nunca esquecidas pelas areias que se movimentam na ampulheta do tem-po. Tempo no qual vivemos e no qual escrevemos nossos dias no pa-pel que nos cabe no mundo. Areias que acolhem nossas ideias, nos-sas escritas e que formam, mesmo que em minúsculas partes, uma vastidão de uma praia sem fim. Pequenos grãos, pequenas ideias, união. Imensidão. Realização. (...)

Desde que iniciei meu primeiro projeto de Oficina de Pensamen-tos, em 2001, ainda na cidade de Curitiba-PR, com uma turma de pequenos alunos que, hoje, são grandes homens e grandes mulhe-res e os quais são motivo de orgulho, nunca imaginei que tomasse tal tamanho e tal forma. Atualmente, com a Oficina de Textos, doze anos depois, aqui está a prova física a qual é a união de grãos de ideias de 242 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental - Colégio

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POLIEDRO - São José dos Campos - SP, formando 7 livros de pró-pria autoria e mostrando que é possível ir além do horizonte além mar.

Nos capítulos, palavras apagadas e reescritas com as borrachas das ondas das vontades de melhorar... Nas ilustrações, pérolas mol-dadas pelos ventos da criatividade, acompanhadas pelas asas inquie-tantes dos novos pássaros que me visitam, convivem e alçam voos para novos continentes, para suas próprias vidas.

Vagas de pensamentos que vêm de longe e que vão ao longe, le-vando o aroma de um oceano de escritas, de leituras e de momentos. Oceano de possibilidades, de conquistas. Imensidão de agradecimen-to a todos vocês, pássaros.

Voem! Subam! Levem consigo cada grão que lhes pertenceu, for-mando, nas areias do tempo, marcas de quem foram, de quem são e de quem sempre serão. Criadores de si mesmos!

Prof. Sérgio Ricardo Lopes Fascina

Língua Portuguesa - 9º ano - POLIEDRO 2013.

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Da criação e outros fascínios

Posso contar-lhes uma pequena história? Aconteceu alguns anos atrás, quando eu lecionava Produção de Texto para uma turma da an-tiga “5ª série” (sentimos que estamos, de fato, envelhecendo, quando palavras e expressões com as quais nos acostumamos a vida inteira co-meçam, de repente, a provocar espanto nos mais jovens: “Nossa, ele ainda fala em 5ª série!” Nem vou começar a falar da vez em que um aluno do ensino médio comemorava, entre os colegas, o fato de ter ga-nhado uma moto dos pais como presente por seus dezoito anos re-cém-completados e cometi a sandice de perguntar-lhe: “Mas é moto mesmo ou é uma vespa?” Trinta e poucos rostos olharam para mim, mudos, à espera que eu confessasse, afinal, se provinha de Marte ou Saturno).

Mas são digressões e eu volto à pequena história. Eram meninos e meninas em torno dos onze anos de idade, habituados ao universo macio e aconchegante do chamado curso primário, ou ciclo básico do ensino fundamental, ou seja lá como queiram chamá-lo. E viam-se abruptamente perdidos numa floresta de mais de dez professores de diferentes disciplinas, que iam sucedendo-se no horário das aulas na velocidade da porta giratória de um hotel. Tinham dúvidas sobre

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tudo, naturalmente: desde a cor da caneta com a qual escreveriam o título de suas redações até se poderiam usar o mesmo nome do seu ca-chorrinho para dar nome ao cachorrinho do menino muito triste e muito sozinho que ia todo dia à escola e não sabia fazer redação e por isso ficava de recuperação todo ano, pobrezinho. Apesar das dúvidas, contudo, escreviam.

Menos um aluno. Que se recusava a escrever uma linha que fosse. Ou até o fazia, porém não ia muito mais longe do que isso. Ou, se fos-se mais longe, nunca chegava a lugares muito agradáveis. Odiava a ati-vidade da escrita como um condenado à prisão perpétua deve odiar o calendário. Tentei as abordagens mais diversas: permiti que ele come-çasse desenhando, antes de rascunhar o texto, pois talvez o apelo à imagem acionasse dentro dele a vontade de contar uma história. Mas ele desenhou coisas impublicáveis. Decidi, então, que ele poderia cri-ar seu texto oralmente, narrando para mim e os colegas as aventuras de suas personagens. Mas ele jogava os braços para trás do corpo, en-quanto permanecia lá em pé, diante da turma, e olhava para o chão, o teto, a parede do fundo, não necessariamente nessa ordem, até final-mente dizer que “lhe tinha dado um branco daqueles”.

Acuado por minha própria inexperiência ao lidar com uma situa-ção até então inédita para mim, comecei a angustiar-me com a falta de perspectivas para o caso. Eu estava diante não só da iminência de um fracasso escolar, como também de uma novidade, pois era absolu-tamente novo para mim que um aluno não só acumulasse seguidas no-tas zero, mas sobretudo que fosse indiferente por completo ao próprio desempenho. Faço questão de destacar, por outro lado, que seu fracas-so era relativo, já que obtinha resultados satisfatórios com outros pro-fessores. Reavaliei meu trabalho várias vezes naquele período, já dis-posto a admitir que a falha maior era minha. A verdade que se esboça-

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va, cada vez mais nítida, é que eu simplesmente não fora capaz de dar significado, na vida daquela criança, à tarefa de produzir um texto.

Foi então que algo inesperado aconteceu. Certo dia, uma das coor-denadoras do colégio onde trabalhava me chamou para conversar, an-tes da primeira aula. Contou-me sobre o drama que se iniciara recen-temente na família do garoto. O avô materno, a quem era muito liga-do, encontrava-se hospitalizado, em estado crítico. Não me ocorre ago-ra qual era a moléstia, mas certamente havia uma ameaça de contami-nação e a ordem da equipe médica foi proibir com veemência a visita de menores, cujo sistema imunológico ainda é vulnerável. O resulta-do, portanto, é que o meu aluno problemático estava impedido de aproximar-se de seu familiar mais querido. Foi fácil constatar que esse era o sentimento que os unia, pois ele só comparecera à escola por insistência dos pais e, uma vez obrigado a entrar na sala de aula, instalou-se na última carteira, meio que escondido atrás de um armá-rio. A cabeça mergulhada nos braços cruzados.

Enquanto os colegas trabalhavam em pequenos grupos com a ati-vidade do dia, fui até ele. Conversamos o mais discretamente possível. Ele contou-me que implorara a seus pais que o deixassem faltar à aula para poder acompanhá-los até o hospital, mas eles haviam sido irredu-tíveis e argumentaram que, na escola, pelo menos teria com o que se distrair. Mas ele era, naquele momento, todo feito de sofrimento. Es-crever seria a última coisa no mundo que estaria inclinado a fazer, e ainda assim foi o que lhe pedi que fizesse. Foi uma intuição. Se ele não podia entrar no quarto de hospital onde estava seu avô, o que ele escrevesse, sim, poderia.

Então ele começou com um bilhete, não mais extenso do que cin-co linhas. Usou palavras previsíveis, como “saudade”, “esperando” e “de volta”. Sugeri-lhe pedir a sua mãe que fosse a portadora da mensa-gem. No dia seguinte, narrou-me, visivelmente mais animado, que ela

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conseguira ficar com o avô por alguns minutos, tempo suficiente para ler as palavras do neto. Apesar de inconsciente sobre a cama, de algu-ma forma o garoto acreditava que seu avô as ouvira. Então, como quem não quer nada, perguntei-lhe como seria se, em vez de um mero bilhete, sua mãe levasse uma carta. Seus olhos iluminaram-se com a fagulha de uma ideia: queria contar ao velho amigo que fora seleciona-do para a equipe de futebol do colégio, e até competiriam com outras escolas. O pai não gostava de jogar bola; o avô é que lhe ensinara as re-gras do esporte, a história dos grandes times e, acima de tudo, ensina-ra a amar aquelas linhas brancas pintadas sobre o gramado.

Com o passar dos anos, fomos perdendo contato, o que é um pou-co o resumo da vida de todos nós. Lembro-me, entretanto, de que mui-tas cartas foram redigidas naquele ano e endereçadas àquele quarto hospitalar. E aumentaram em extensão e qualidade depois que o avô do menino recuperou a consciência e pôde ele próprio ler cada uma delas. Seu neto, aliás, estava convencido de que nelas estava o segredo da cura. Não sei se essa cura foi definitiva ou apenas uma ilusão à qual nos agarramos quando desejamos desesperadamente que um ser amado sobreviva. Como disse, perdemos contato. Todavia, meu cora-ção aquieta-se quando me lembro do essencial, em toda essa história – e o essencial é que as palavras escritas, para aquele meu aluno que se tornou tão especial, passaram a ter peso, sabor, cheiro, brilho, ca-lor, saudade. Passaram a significar.

Quando meu colega de área, Professor Sérgio Fascina, me propôs o trabalho de criação coletiva de uma obra de ficção, integrada ao nos-so projeto anual de Língua Portuguesa para o 9º ano, aceitei imediata-mente porque reconheci nessa ideia o objetivo maior da Produção de Texto no contexto escolar. O objetivo que transcende a aquisição de re-gras e exceções gramaticais, o domínio das técnicas de cada modalida-de redacional e a ampliação do vocabulário, embora todos esses ele-

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mentos contribuam para a competência linguística de nossos alunos. Nada se compara, no entanto, ao fascínio da criação: essa maravilho-sa possibilidade de gerar outros mundos e viver outras vidas, uma via-gem que se inicia no olhar com que contemplamos nosso próprio mun-do e nossas vidas mesmas.

Prof. Darci de Souza Baptista Língua Portuguesa - 9º ano - POLIEDRO 2013.

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CAPÍTULOS

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CAPÍTULO 1 - NÃO SIGA ADIANTE

CAPÍTULO 2 - INÍCIO E DESPEDIDA

CAPÍTULO 3 - SINAIS NA PELE

CAPÍTULO 4 - A INTRIGA

CAPÍTULO 5 - DIAS VERMELHOS

CAPÍTULO 6 - ORQUÍDEAS

CAPÍTULO 7 - CARTA MISTERIOSA

CAPÍTULO 8 - VERMELHO RUBRO

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AUTORESCAPÍTULO 1 - Ian Pereira, João Graciano, Rafael Sant’Anna, Rodrigo Higa

CAPÍTULO 2 - Beatriz Soares, Larissa Tinelli, Valentina Gómez, Mateus Ueta, Larissa Tineli, Beatriz da Silva, Belina Morandi

CAPÍTULO 3 - Bruna Gualda, Carolina Maturelli, Isabelle Barreira, Lucas Rabecchi

CAPÍTULO 4 - Carlos Valeriano, Nicolas Molina, Pedro Soares, Salomão Santa Rosa

CAPÍTULO 5 - Eduarda Rioto, Fernanda Fernandes, Giulia Camerini, Isabella Steffen, Letí-cia Fonseca

CAPÍTULO 6 - Marcelo Sasaki, Mateus Furtado, Victor Yamamoto, Richard Meyer CAPÍTULO 7 - Caio Bandeira, Glauco da Costa, Luca Faria, Rubens Terayama

CAPÍTULO 8 - Gabriela Araújo, Guilherme Horta, Júlia Sevilhano, Luana Gomes, Mayara Costa

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Tarde ensolarada, mas preguiçosa de outono... Com várias ideias para voltar a filmar, vou procurar algo em uma biblioteca que me dê a inspiração de que preciso. Chegando ao local, sinto cheiro de conheci-mento, sinto o pulsar de tantos corações que, juntos, dividem suas ideias em memórias nem sempre lembradas por quem ali entra... Pul-sar silencioso que não tem a intenção de sobressair, mas talvez a de

NÃO SIGA ADIANTE

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apenas manter o ritmo das histórias de tantas vidas colocadas em tan-tas páginas amareladas pelo entardecer do tempo.

Dentre capas empoeiradas e duras, deparo-me com uma peculiar. Ela parece ter uma cor diferente, pelo menos para mim, que estou acostumado a entrar ali toda semana, pois eu sou cineasta e ler é uma das minhas maiores paixões. Ao abrir o livro, deparo-me imediata-mente com a seguinte história...

Douglas Campbell ... um homem alto, loiro e com muita energia, foi um grande aviador americano, participou da Segunda Guerra Mundial, sendo o primeiro piloto americano a voar numa unidade operacional. Ele nasceu em São Francisco, Califórnia, e quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, o aviador e seu amigo Quentin Roosevelt, na época ambos com 20 anos, abando-n a r a m a f a c u l d a d e e s e a l i s t a r a m n o E x é r c i t o . Colocado no Serviço Aéreo, aprendeu a pilotar o avião Curtiss Jeny. Sua primeira conquista aconteceu quando estava voando com apenas uma metralhadora em vez das usuais duas; ele participou das primeiras vitórias com caças das unidades americanas na guer-ra. A batalha para Campbell estava desigual, pois ele só tinha uma de suas armas no avião, e seus inimigos o cercaram... Mesmo assim, e le derrubou boa parte das aeronaves inimigas. Tornou-se o primeiro piloto de caça de uma unidade em seu pa-ís, quando abateu o seu quinto avião inimigo sobre Lironville, Fran-ça. Campbell recebeu a Distinguished Service Cross por bravura em combate aéreo sobre Flirey, na França, e a Cruz De Guerra do Exér-cito da França. Teve a sua sexta e última vitória a 5 de junho de 1944. Nesse combate , ele foi ferido por fogos de artilharia e enviado para os Estados Unidos, para se restabelecer.

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Na viagem de volta para o seu país, sua aeronave enfrentou uma tempestade com raios e trovões fortíssimos, além de uma venta-nia que causou fortes turbulências. Depois que a chuva se acalmou, como se não bastasse, começou a ter problemas elétricos e começou uma queda livre do céu até uma ilha. Conseguiu se salvar, mas, quando o avião caiu, a gasolina começou a se espalhar por todo o es-paço, e, então, uma faísca começou um incêndio que casou uma ex-plosão.

Depois de alguns dias, os americanos, sem receber informações, decidiram mandar resgate. Depois de cinco semanas à procura de pistas, o resgate conseguiu achar os destroços que os levaram até o local do acidente. Havia apenas alguns pedaços de fuselagem e uns pedaços de roupa. Logo ninguém conseguiu achar pistas muitas e a perícia não conseguiu identificar as vítimas ou contabilizar os cor-pos.

Os americanos consideraram todos os passageiros mortos devi-do à falta de provas que dissessem o contrário. Campbell, um avia-dor muito famoso, sumido depois deste acidente, nunca mais foi vis-to. Sua esposa também sumiu sem deixar rastros.

Fiquei pensando nesse texto... Como eu era apaixonado pelo ar, uma vez que meus pais moraram em uma cidade do interior do meu país que é famosa por ter instituições relacionadas à aviação, interes-sei-me por essa história.

Pesquisei em jornais da época e descobri que, ao longo dos anos até hoje, houve uma longa busca dos jornais e dos historiadores ameri-canos por familiares e amigos militares de Douglas Campbell, que pu-dessem contar a história do grande herói de guerra.

Acho que filmar algo sobre a vida desse personagem seria algo que me faria voltar a reviver meus tempos de infância, quando eu ia,

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todos os anos, assistir ao evento Portões Abertos (Open Gate), o qual era uma exposição da Força Aérea do meu país...

Porém, num instante, antes de fechar o livro, percebi que havia um escrito na última página do livro...

“Não siga adiante.”

Ao lado, uma marca de sangue já antiga.O que seria isso?Ignorei, coloquei o exemplar novamente na prateleira e voltei

para casa.Na volta... algo me intrigava... Aquela mancha de sangue...

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Ao se preparar para dormir, em sua luxuosa mansão no bairro Park Slove, James Fosk se deparou com algo estranho. Ao olhar pela janela, viu algum tipo de mancha branca com formato de gente. Ainda zonzo por conta dos remédios que andava tomando para sua saúde, ele se sentou no sofá e continuou a olhar para aquilo que estava vagan-do, desnorteado, pelas ruas de seu condomínio. O homem se lembrou

INÍCIO E DESPEDIDA

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de Douglas Campbell, um grande aviador americano... e aquela man-cha o incomodava muito.            No dia seguinte, foi à biblioteca buscar novamente aquela

inspiração para algum filme, afinal ele era um diretor de cinema. Lá ele encontrou um colega que era bibliotecário e comentou sobre o fato ocorrido na noite anterior:            - Bom dia! Como vai você?                   - Bem, e o senhor? Veio buscar inspiração? Chegaram uns

livros ótimos. – disse o bibliotecário, entusiasmado.            - Vim sim, mas acho que já tenho alguma ideia para o pró-

ximo filme!            - Que bom! E sobre o que é?            - Estou pensando em dirigir algo sobre Douglas Campbell,

ontem eu estava me preparando para dormir quando tive essa ideia, não me lembro do ocorrido, mas acho que o vi... estou ficando malu-co... - disse ele, se lamentando.            - O quê? Como assim? O senhor viu um aviador que mor-

reu há anos?            - Bem, como eu disse, acho que estou ficando maluco; eu

não o vi em carne e osso, como uma pessoa, eu vi um tipo de espírito, uma mancha branca ou foi só a fumaça do caminhão de mosquitos. Algo parecido com o que penso que vi em um livro aqui nesta bibliote-ca, horas antes de eu descansar...            - Cruz Credo, Deus me livre, seu James! – disse o bibliote-

cário, fazendo o sinal da cruz - Esse velho deve estar louco... – pensou ele.            - Vamos tentar esquecer essa história doida! Onde estão os

livros de que você me falou?            - Aqui estão as nossas novas joias – disse rapidamente, en-

tregando-lhe uma pilha cheia deles em seus braços.

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            O diretor se sentou a uma mesa antiga, rústica e começou a ler; enquanto isso João, o bibliotecário, sentou-se à sua mesinha e ficou intrigado com o ocorrido.

De repente, o mais inusitado... Um dos livros novos era o livro que o diretor tinha manuseado no dia anterior.

Como poderia ser real? Como poderia ter manuseado um livro que não estava na bibli-

oteca na véspera? Como já estava cansado de ser considerado desajustado por

conta do efeito dos remédios, ficou calado. Ao sair, pediu apenas para que o amigo da biblioteca fizesse

algumas pesquisas... Deu alguns nomes e algumas indicações. Assim ocorreu. O bibliotecário pesquisou na internet, em livros e em aposti-las, nas pastas de documentos do velho computador da biblioteca, até que achou algum tipo de mapa em uma das apostilas. Um mapa sem título e sem legenda, o papel amarelado com as pontas velhas, sujas e levemente rasgadas escondiam o cantinho do mapa. Uma mancha de sangue. Todas as informações encontradas, João guardou-as em uma nova pasta, com senha para os bibliotecários intrometidos dos outros turnos não mexerem. Fosk não estava mais no local, então o amigo li-gou para ele e pediu para que fosse até lá:            - Boa noite! Desculpe-me por ligar a essa hora, mas tenho

algo interessante para lhe mostrar. O senhor pode vir aqui?            - Posso sim, chegarei num instante.            Ao chegar à biblioteca, João mostrou a James o mapa, mas

ele se esqueceu de mostrar as fotos e outras informações importantes que encontrou sobre o aviador e que estavam salvas na pasta com se-nha.          

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  - O que acha? – disse João.            - Não tenho nem ideia... é muito antigo e sem quase nenhu-

ma informação. – comentou.            - Ele me parece familiar, acho que já vi isso antes.                      - Eu acho que também reconheço isso, mas é bem pouco

provável. - disse James, pensativo, olhando fixamente para uma ma-

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cha de água que tinha um formato conhecido... Só não conseguia se lembrar onde havia visto uma mancha parecida... Apenas sabia que algo ali o chamara à atenção. Nada comentou novamente.            - É do porão daqui!                      - Pode até ser, mas e essas passagens secretas? Será que

elas realmente existem nessas entranhas ?            - Só vamos descobrir se procurarmos!            Os dois seguiram passo-a-passo o que o mapa dizia, come-

çaram pela cozinha, atrás da galeria de estatuetas. Lá, havia um bura-co com um tipo de escorregador. Ao chegar ao porão, os dois tiveram que passar por uma teia de raios laser, já que havia um pequeno mu-seu no subsolo da biblioteca. James, sem querer, tocou um dos raios, o que fez com que uma porta se abrisse, contrariando a expectativa de que algum alarme ensurdecedor pudesse ser acionado por tal descui-do. Os dois correram até uma escada que subia a uma pequena câma-ra... O cheiro de mofo penetrando em seus pulmões era quase insupor-tável. A sala parecia um escritório cheio de papéis, documentos, ima-gens e uma grande caixa empoeirada, esquecida no canto do local.            - Ninguém deve ter mexido nessa caixa há anos. Veja como

está empoeirada e cheia de teias de aranhas. – disse João.            - Mas veja só como apenas a mesa e esses papéis estão lim-

pos, alguém deve ter vindo aqui. – interrompeu o diretor.            Enquanto João observava os papéis na mesa, James ficou

intrigado com a caixa, então ele a pegou e a levou para casa. Por aquela hora, já estava boa a quantidade de aventura...

Quando a abriu, já no conforto do seu lar, encontrou um filme antigo e um caderno de capa preta. Ele pegou um projetor velho, en-

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caixou a película e a projetou em uma de suas paredes. A gravação era um trailer sobre Douglas Campbell, que contribuiu de forma decisiva para a aviação de guerra de seu país.            Fosk ficou muito entusiasmado, pois era algo que ele tinha

sonhado realizar ao encontrar o livro naquela primeira noite, apesar de não ter certeza de como aquilo aconteceu... De como um livro que só chegou no dia seguinte estar disponível nas prateleiras na noite an-terior...

Novamente sem dar muita atenção ao fato, conversou com al-guns amigos da área cinematográfica, pesquisou na internet e desco-briu que o filme nunca foi terminado, e a única coisa que sobrou dele foi esse trailer, que jamais fora encontrado  até agora.  Sabendo disso, resolveu recriá-lo de uma forma mais atual.               João entregou a ele os papéis da câmara, mas de novo es-

queceu-se da pasta com senha que estava no computador da bibliote-ca. As informações que James tinha em suas mãos não eram suficien-tes para concluir a trama com os roteiristas, então o diretor foi até a biblioteca:            - Olá!            - Bom dia, posso ajudar? - disse um bibliotecário.            - Sim, por favor! Onde está o João?                      - Ah, o João? Ele não estava passando bem e o gerente o

deixou descansar em casa.            - O que ele tinha?            - Ai, moço, eu num sei não.            - Você tem algum endereço ou telefone para que eu possa

falar com ele?                      - Eu tenho o endereço. Rua Morgue, nº 15, Gothan Mc.

Telefone: 33245-1666.

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     - Obrigado! – saiu intrigado com dois fatos: o primeiro era que o amigo estava passando mal... o segundo era que, como era ótimo em matemática, percebeu que o número de telefone possuía vários núme-ros 6. Fez rapidamente a conta de cabeça: 3+3=6... 2+4=6... 5+1=6 e o número da besta 666. Além disso, seus olhos ligeiros mostraram que o nome da rua também possuía 6 letras, o número da casa tam-bém somava 6, sendo 5 mais 1; o primeiro nome do bairro também possuía 6 letras... e a palavra “rua” mais a abreviação “n”, mais o “Mc” do fim do endereço também formavam um outro 6... Essas três forma-vam outro 666... E, por incrível que pareça, os três primeiros pares do número de telefone também formavam o 666... Eram 3 conjuntos do número 666!!!

Sem ter tempo de pensar sobre tal coincidência, foi em dire-ção ao local onde se encontrava seu automóvel.       James, preocupado com o amigo, pegou o seu carro e foi até

sua casa; ao chegar lá, o diretor conversou com a empregada, a qual disse que João estava internado na UTI, em coma, por causas desco-nhecidas.         Fosk não pôde ir visitar seu amigo, pois apenas a família po-

dia. Enquanto o bibliotecário estava em coma, o roteiro não pôde ser terminado, mas o filme teria que começar a ser gravado por conta da pressão dos patrocinadores!        Sem entender tantos mistérios, “Guerra nos Ares” começou a

ser filmado, mas o que seria do filme sem as informações que João ti-nha? Por que o amigo estaria tão mal se, na noite anterior, estavam juntos em uma busca?

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Sem maiores explicações da vida, seu amigo morreu.

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Hoje é sexta-feira, último dia de filmagem da semana. Tom Han-cock compareceu, logo pela manhã, nas instalações da WW Estúdios, localizadas em um subúrbio da agitada cidade.

No set de filmagem, tudo está preparado, o cenário parece uma verdadeira floresta, a fuselagem de um avião faz parte da cena e mui-tos objetos estão espalhados no chão para representar o dia do aciden-

SINAIS NA PELE

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te. As câmeras e as luzes estão prontas, tudo montado pelos profissio-nais de cinema, que estão aguardando o sinal do diretor James Fosk, pelo alto-falante, para iniciar a filmagem das cenas de “Guerra nos Ares”, no qual Hancock é o protagonista desta homenagem à aviação internacional.

Ele está, nesse momento, sendo maquiado, num ambiente ale-gre, com muita fofoca de bastidores. O esteticista Dani Bomba obser-vou uma pequena marca na pálpebra superior do olho esquerdo de Hancock, e não deixou o fato passar em branco, por ser extremamen-te observador. Isso aconteceu porque, na sua formação acadêmica, graduou-se na academia de polícia como investigador, tendo abando-nado a carreira machista pela de transformador visual por meio da es-tética e da maquiagem, que, mais tarde, descobriu ser o seu lado ver-dadeiro.

Tom Hancock, preocupado com tal descoberta, explicou que, na noite de quinta, foi ao Pub Red, e lá conheceu uma pessoa a qual, após algumas horas de conversa e de coquetéis, tornou-se amigável. Fora essa descontração, observou que a tal pessoa escondia as costas da mão direita, onde havia uma mancha que parecia uma marca de sangue velho. Relatou que, às 22 horas, foi para casa e percebeu, em frente ao espelho, que tinha essa pequena marca, e não sabia como po-deria ter surgido.

Dani Bomba continuou seu trabalho de maquiador e lembrou-se de que Guy Prestok, outro ator que figurava no mesmo filme, como mecânico de voo, apresentou, no mesmo local do seu rosto, uma mar-ca semelhante à de Tom, mas não correlacionou as marcas como coin-cidências e, sim, como um simples fato, algo comum! A marca era ape-nas um simples corte na pálpebra, nada de mais. Parecia muito insig-nificante, porém, ao mesmo tempo, com muitos possíveis significa-d o s .

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Maquiagem pronta, Tom e Guy se encontraram na antecâmara do set de filmagem para passar o texto. Lá estava Angelina Dias, atriz conceituada no meio cinematográfico, de beleza ímpar, e notaram seu nervosismo.

-Olá, Meghan, como você está? – perguntou Tom. -Quero ir logo para casa, pois hoje o dia não está bom. – res-

pondeu ela. -Você está nervosa por causa das filmagens ou alguma outra

coisa aconteceu? – disse Guy. -Não, está tudo bem! Só que me aconteceu uma coisa muito

estranha: uma senhora de nome Margaret Glassbell Knife apresen-tou-se como mãe de um aviador antigo, veio conversar comigo no meio da rua e me achou parecida com uma mulher, se eu não me enga-no, com a namorada do filho dela...

- Sério? -Sim, preciso ir, até amanhã! Porém, na manhã do dia seguinte, verificou que, após acordar

e colocar os brincos, os quais seriam usados na filmagem, havia um pequeno D atrás de sua orelha. Ao chegar à filmagem, mostrou-o a seus colegas atores... Nisso, viu que eles também o possuíam. Surpresos, Tom e Guy não haviam notado que, além de uma marca nas pálpebras, tinham uma marca semelhante à de Angelina e, imediatamente, procuraram Dani Bomba, para mascarar, por meio de algum produto da cor da pele, as marcas que ele já suspeitava serem sinais em Angelina, Tom e Guy. O diretor Fosk, próximo e antenado aos fatos que ocorriam no set de filmagem, foi logo informando ao elenco que a mãe e o irmão do aviador estavam chegando para a grava-ção dos seus depoimentos no filme e que todos iriam conhecê-los!

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Margaret e seu filho, Donald Glassbell Knife, haviam acabado de chegar e estavam indo ao camarim para ser maquiados por Dani, que se encontrava entusiasmadíssimo com o filme e com o elenco de estre-l a s c i n e m a t o g r á f i c a s . Desprovido de qualquer intenção investigativa, Dani observou a presença de um pequeno sinal, com a forma de um DC estendido na porção interna do pulso, tanto de Margaret quanto de Donald, e, silen-ciosamente, deixou o camarim a fim de conversar com o diretor sobre os sinais que vinha observando em algumas pessoas que faziam parte do filme.

Naturalmente o instinto de investigador aflorava no maquia-dor. Ele acreditava que, a partir daquele momento, devia ficar atento aos fatos que poderiam ocorrer durante as filmagens.

A entrevista aconteceu e eles foram embora... Ainda desconfia-do, preferiu não falar nada a ninguém... Preferiu apenas observar. Qual seria o significado de DC?

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No estúdio de gravação, todas as pessoas estavam discutindo e pensando quem seria o responsável pelas marcas que haviam adquiri-do por aqueles dias... Elas eram como se fossem feridas... Doíam um pouco e eram como um machucado que ainda não secara completa-mente. Era uma aparência de sangue velho, de sangue pisado.

Como teriam aparecido?

A INTRIGA

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Hancock, o ator que interpretava a personagem principal, come-çou a suspeitar de que o responsável pelo seu ferimento seria o Guy, que tinha inveja dele, por não ter o papel principal.

Beth, que era responsável pela produção da filmagem, começou a pensar que a responsável pela sua marca seria a Norah, que fazia par-te da direção de arte da obra, por possuir um comportamento estra-nho e uma vida solitária.

Maryan, a que trabalhava como continuísta, e Mirien, a fotógrafa de cena, começaram a discutir entre si sobre quem seria o responsável pelos ferimentos. Durante a discussão, Maryan disse para Mirien:

-Boa tarde.-Boa tarde!- Você já tem ideia de quem seria o culpado? – perguntou

Maryan.-Eu penso que foi o Charles, o assistente de câmera, por causa da

raiva que ele tem de nós... ele tem um comportamento estranho.-Eu já acho que foi o Dithich, o figurinista, porque ele está irrita-

do desde o início das gravações com a gente, e também tem tido um comportamento inconstante...

Um silêncio tomou conta do ambiente...-Tchau, vou ter que gravar outra cena.-Tchau. – despediu-se Mirien.Maryan começou a suspeitar de que Peter, o técnico de som, seria

o culpado, por não ter privilégios, por sempre ser colocado em segun-do lugar pelo diretor e pelos atores e atrizes, pela sua qualidade de tra-balho... Assim, imaginou que ele estaria com ódio de sempre ser des-prezado pelos companheiros de trabalho.

Porém, pensando melhor, a maioria suspeitava que a culpada era a Gaby, por ser a única que não possuía o ferimento, e, com isso, ela

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discutia, brigava e acusava outras pessoas que tinham uma vida sus-peita, para se defender das várias acusações a ela.

O diretor do filme, Fosk, começou a pensar que o culpado pelos acontecimentos no estúdio seria o seu antigo companheiro de direção, Ralph Laurenns, que ficou alguns anos sem participar de nenhuma produção, e pensou que ele teria causado isso pela inveja que tinha de tudo e de todos...

E, com isso, ia-se concluindo o péssimo clima que se havia criado no estúdio de gravação entre os atores, as atrizes, o diretor, os técni-cos, os auxiliares e entre todos aqueles que participavam daquela pro-dução.

Por que tantas marcas?Por que a cor de sangue velho em todas elas?

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Os dias mais ensanguentadosUma mulher é encontrada morta no camarim de filma-gem do estúdio onde trabalhava. A vítima foi queimada viva. Segundo amigos e colegas de trabalho, a moça,

DIAS VERMELHOS

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que tinha 27 anos, ficou encarregada de fechar, naquela noite, o estúdio de gravação, onde era figurinista. Ao lado de seu corpo, foi encontrada uma lata de spray para cabelos, e tudo indica que alguém a banhou com o produto altamente inflamável, e, em seguida, incendiou a mulher.

Os peritos ainda estão em busca de novas pistas sobre o assassinato. Assim que a equipe policial conseguir no-vas informações sobre o caso, haverá uma reportagem exclusiva sobre o acontecimento.

Camp, o velho que era auxiliar de estúdio, depois de ler a notícia,

até pensou em não aparecer hoje nas filmagens, depois dessa notícia matinal. Não é todo dia que alguém é assassinado no lugar onde você trabalha. Mas não ir ao local justamente após uma notícia tão misteri-osa ser revelada daria, a ele, um ar de fugitivo, e a última coisa que queria, naquele momento, era passar a ser suspeito de matar alguém. Tomou o último gole de café em sua xícara, que, por sinal, já estava frio, e foi-se trocar.

Em seu quarto, estava tudo em perfeita harmonia; sua esposa saíra cedo, como sempre, para trabalhar, e a casa estava sempre em ordem graças aos seus caprichos. Aliviou-se por ela não ter visto aque-la notícia, pois teria ficado muito nervosa com ele, acusando-o de ter ido para o barzinho, enquanto sua colega de trabalho sofria as dores de ser queimada viva. Nem colega a mulherzinha era!

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Assim que se aprontou, pegou a chave de sua velha pick-up C10, que, embora desbotada pela ação do tempo, estava conservada. Seu tom vermelho, que antes era vivo e resplandecente, agora estava pálido e sem graça. Mas Doug não ligava: tinha verdadeira paixão pelo carro, que antes fora de seu pai. Tomou o volante e partiu para o trabalho.

Ao chegar, não pôde deixar de notar o agudo e intermitente som da sirene que soava ao seu lado. O estacionamento estava lotado de policiais, de investigadores, e de alguns dos seus colegas de traba-lho. Logo em seguida, os profissionais da perícia anunciaram uma nova descoberta: no chão, ao lado do corpo da vítima, havia um sím-bolo. Um símbolo desconhecido, que, segundo outros funcionários, não estava ali antes. Que, ao olhar, parecia a imagem de labaredas de fogo envoltas por um círculo. Suspeitavam que, qualquer que fosse o significado daquilo, a mensagem estaria subliminar. O que tornava o caso ainda mais intrigante.

Repórteres estavam aglomerados no estúdio, tirando fotos do local do crime. O corpo já havia sido retirado e enviado para o IML analisar. Os investigadores estavam já indo embora. E, sentados nos degraus da escada, estavam alguns dos amigos mais íntimos da víti-ma, com as lágrimas correndo por suas faces. Doug passou reto, e fin-giu não os perceber. Assim seria melhor do que ter que consolá-los.

Entrou na sala principal, onde se encontrava o diretor, que o dispensou com um gesto de desprezo com a mão. Melhor assim. As coisas estavam muito sufocantes no set. Mesmo depois que a perícia fora embora, muitos policiais vieram pedir depoimento para conheci-dos da vítima. E, como estrela principal, o homem achou melhor sair logo dali, para preservar sua vida pessoal. Foi nessa hora que se depa-rou com sua esposa furiosa:

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- Por que não me contou quando ficou sabendo? Isso é terrí-vel! Por que não me ligou? – seus olhos expressavam interrogação e desconfiança - Olha, você sabe o duro que eu dei para sair do escritó-rio escondida? – disse, enfatizando seu esforço, e se afogando nas pró-prias palavras - Você vai ter que trabalhar hoje?

-Não, eu espero. Tenho que ver com o diretor... – respondeu o marido calmamente, sem o menor entusiasmo.

-E o que você está esperando? Venha logo! - gritou, puxando-o. Ele se sentiu subordinado a ela, que o arrastou até o patrão, paran-do a sua frente, em espera de atenção. Fosk estava sentado conforta-velmente em seu sofá vermelho sangue com a mão sobre os joelhos, olhando fixamente para o chão. Assim que percebeu a presença do ca-sal, olhou Taylor brevemente da cabeça aos pés, sorriu e começou:

-Ora essa, olhe quem está aqui! Senhora Taylor, exatamente quem eu estava procurando! Por favor, queira se sentar. – bruscamen-te ele havia mudado de humor. Estava triste e preocupado e, de repen-te, estava animado e satisfeito.

- Não se incomode comigo, só vim perguntar-lhe: meu esposo pode ir descansar em paz hoje ou ele terá que gravar mesmo com todo esse desastre acontecendo? – ela não estava com paciência para espe-rar, nem mais um minuto, para ir para casa.

-É claro que Camp está liberado! Mas eu preciso conversar com a senhora. Vamos direto ao assunto, vejo que está com pressa: eu estava pensando em incrementar o filme, introduzindo uma entrevis-ta exclusiva com a senhora, para demonstrar como a guerra é tanto para quem vai, quanto para quem fica. Lembro-me de a senhora ter comentado que conhecia muito sobre guerras, já que tinha vindo de outro país após os conflitos mundiais, fugindo da pobreza e da misé-ria. Serão perguntas simples, só para melhorar o documentário. O

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que a senhora acha?- perguntou o diretor na expectativa de um ´´sim´´!

- Por mim, parece ótimo. – concluiu a mulher.

De volta a casa, a esposa foi preparar o jantar. Durante toda a re-feição, não falava de outro assunto:

-Acho que o diretor vai me perguntar como eu me sentia quan-do você estava na guerra. Ou como me senti no dia em que você par-tiu. Ou então, sobre o quanto fiquei feliz quando você voltou. - ele ape-nas comeu seu espaguete em silêncio, concordando com a cabeça, sem o menor interesse na tal entrevista... Ele estava muito preocupa-do, mas não demonstrava sobre o quê... Apenas comia e parava, olhan-do para o nada e coçando levemente a parte de trás de uma das mãos...

No outro dia, acordou cedo, e resolveu não ligar a TV. Não queria logo de manhã saber de más notícias. Tomou uma xícara de chá preto, comeu algumas fatias de lombo defumado. Ele mal pen-teou os poucos fios de cabelos loiros que tinha, e foi ver como estava a situação no set de gravação.

- Onde está a sua esposa? – gritou o diretor assim que o avis-tou parando sua “pick-up” no estacionamento - Ela ficou de vir aqui às 10h para ser entrevistada!!

- Eu não sei, ligue para ela! - disse secamente, e virou-se, aden-trando o estúdio.

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Em poucos instantes, estavam todos de volta: os peritos, a po-lícia, legistas, e repórteres, todos falando ao mesmo tempo. Só que, dessa vez, não estavam no estúdio investigando a morte da figurinis-ta. Estavam na casa de Camp, investigando a morte de sua esposa.

Sim, a morte da sua esposa... Segundo os investigadores ali presentes, o cachorro da família

encontrou o corpo da mulher enterrado no jardim. A mulher não esta-va aparentemente ferida, baleada ou com qualquer lesão externa e, junto a ela, foi encontrada uma carta de tarô. O corpo estava intacto, exceto pela terra que penetrara suas narinas. Deduz-se que a vítima morreu sufocada, com terra nas vias respiratórias. Mas para realmen-te saber o que aconteceu, seria necessário fazer uma autópsia. Retira-ram-na e cobriram-na com um plástico preto, encaminhando-a para análise.

Douglas estava imóvel. O clima estava tenso! Policiais, repórte-res, câmeras, tudo aquilo embrulhava o estômago do, então, viúvo.

Ele recolheu-se em seu lar, deitou-se em sua cama. Até agora, nem sequer uma lágrima rolou de seus olhos, co-

briu-se, mesmo se sentindo sufocado e dormiu, ignorando os baru-lhos e a presença dos profissionais que estavam em seu quintal.

A casa já estava ficando bagunçada, dois dias após o enterro. O piloto, desde que casara, sempre deixava que a mulher fizesse os serviços domésticos.

- Sinto muito pela perda. Nem ao menos ela gravou a entre-vista. - ele preocupado com a entrevista, mesmo depois de tudo isso? - Mas tenho certeza de que o assassino será desmascarado. Pode con-tar com minha ajuda se precisar, certo? - a essa altura da ligação, Doug já havia desligado, o que foi uma tremenda estupidez.

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- Aquele diretorzinho só pensa nele mesmo! – falou baixo - A minha mulher morre e ele quer continuar gravando esse filme; ele só quer saber desse filme! Mas que imprestável!! - dessa vez ele gritou, apenas para aliviar a mágoa - Imprestável!!!

No terceiro dia de luto em casa, resolveu jogar em seu velho tabulei-ro de xadrez. As peças estavam su-jas de terra... a primeira e única peça que ele “derrubava” em todas as suas jogadas era a torre. Parecida com a imagem da carta de tarô que acharam ao lado do corpo de sua fa-lecida amada. Tinha a mania de jo-gar solitariamente, mesmo quando tinha companhia.

Enquanto ele terminava sua últi-ma jogada, quase concluindo sua es-tratégia para um xeque-mate, o anti-go telefone, que ficava preso na pare-de da sala de estar, tocou. O diretor exigiu que ele fosse para as grava-ções no dia seguinte...

Chegando ao estúdio, decidiu que ia tomar posse da situação: nada de entrevistar seus familiares, nada de refazer as cenas mesmo quando não ficassem boas, e nada de forçá-lo a atuar quando não que-ria. Sim, Camp não era só um assistente mas também um excelente ator já aposentado... Já estava farto de o diretor sempre exigir coisas dele. Na verdade nem ator do filme ele era! Ele só aceitara encenar,

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pois poderiam colocar algum outro atorzinho qualquer que poderia modificar quem realmente era o aviador, personagem principal de toda a trama. E, coçando a parte de trás de uma das mãos, participou com uma atitude que parecia que tinha vivido as mesmas cenas em tempos antigos, quando ainda estava em outro país junto com a espo-sa, agora morta.

Decidido, foi ser filmado. Não fez nada além de brigar com os câmeras, e o filme desandou.

Ao sair do set, estava mais irritado do que nunca e foi direto para o bar. Lá ele se sentou junto ao balcão e pediu uma dose de uís-que; bebeu. E pediu mais um. E mais outro. Quando ele se deu conta do quanto estava bêbado, pegou o carro e voltou para casa. Deu sorte de não se acidentar no caminho, mas o que viu o tirou ainda mais do sério.

Policiais novamente. Invadiram sua casa, estavam procuran-do evidências criminais, pois ainda não tinham dado a investigação como concluída. Camp queria poder esmagar cada um deles com suas próprias mãos! Alguns repórteres haviam percebido sua presença e já corriam atrás dele, gritando:

-Senhor! Como se sente em relação aos fatos? -Senhor, espere! Como foi encontrar sua esposa morta em

seu jardim? -O senhor tem em mente algum suspeito? -Sua esposa tinha algum inimigo? Espere, senhor! Ele, fervendo de raiva, virou-se e gritou: -Ninguém aqui tem o direito de invadir minha casa ou de

me perseguir com essas câmeras atrás de respostas que eu não quero dar! - tudo silenciou - Sumam da minha propriedade! Sumam da mi-nha vida! Sumam! Sumam daqui! - gritou ainda mais irritado. Olhou mais uma vez ao redor, abriu a porta de seu lar e entrou. Ao abrir a

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porta, a sua mão deixou exposta uma marca muito peculiar em sua mão, na parte de trás de sua mão... era como uma mancha de sangue pisado, era como se fossem três números iguais...

Os jornalistas se afastaram, e, consequentemente, as câmeras. Mas um deles tirou uma foto de tal imagem... Os policiais permanece-ram, assim como a perícia. Haviam descoberto algumas coisas: o rolo de fita adesiva espessa cor de chumbo, que havia sido usada para ta-par a boca da vítima no dia do assassinato e a pá utilizada para cavar a cova haviam sido enterradas junto ao corpo. Segundo a perícia cien-tífica, essa fora a forma encontrada pelo assassino para não deixar evi-dências.

Após uma pequena discussão, os peritos decidiram enviar os objetos encontrados para análise, e buscar por algum resíduo de DNA que os pudesse levar a encontrar o assassino.

Um dos policiais (que aparentemente era comandante de algo) decidiu que eles deveriam voltar no dia seguinte, então a casa fi-cou, enfim, a sós com seu dono. Assim que se viu livre dos PMs, Doug revirou sua cozinha em busca de uma garrafa de vinho, para afo-gar as mágoas com a bebida, como de costume.

Acordou em um pulo, com o celular tocando ridiculamente alto! Atendeu bruscamente para deixar bem claro que, quem quer que fosse, havia-o acordado:

-Alô... – resmungou. - Bom dia, senhor, aqui é o policial Josh, com quem eu falo? -Hummm... Doug Camp. O que você quer? -Foi descoberta uma nova pista dobre o assassinato de sua

mulher: na roupa dela, foi encontrado um símbolo, o qual foi registra-do e levado para análise. Ainda não sabemos o significado, mas está

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sendo investigado. E só para o senhor saber: esse símbolo parecia uma espécie de montinho de terra, inserido em um círculo com três números 6, ou seja, 666. Isso o lembra de alguma coisa? - disse João, mostrando-se atencioso.

-Não. – bufou. -Ah! E mais uma coisa! Aquela carta de tarô que foi encontra-

da próxima a sua mulher chama-se ´´a torre´´... tem algum ideia do que isso quer dizer??

-Não tenho. Adeus! - e desligou o telefone.

(...) Levantou-se da cama e procurou, no armário, a pior roupa

que tinha. Não queria saber de trabalhar naquele filme inútil, estava revoltado.

Assim que chegou ao estúdio, pôde perceber que algo estra-nho estava acontecendo, estavam todos inquietos, e o diretor estava cercado de pessoas. Ele se aproximou e pôde perceber que James Fosk estava chorando. Antes que ele pudesse perguntar o que havia acontecido, Dani Bomba, o maquiador, puxou-o para contar.

-A esposa dele também morreu! Ela foi encontrada morta por um mendigo que passava por um beco mal frequentado, nesta ma-nhã! Os hematomas no pescoço dela indicam que foi morta asfixiada! E, dessa vez, o símbolo que vem perseguindo a todos foi encontrado no pescoço dela!

-Símbolo? -Sim, os estranhos símbolos feitos com uma chapa de ferro

quente, que foi encontrada no chão do estúdio quando Sophie mor-reu, e na roupa de sua esposa... - parou para respirar - Sinto muito, mas acho que o assassino é o mesmo para as três vítimas, pois os sím-bolos são números e letras com uma ligação interessante...

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- Como você sabe sobre o símbolo encontrado em minha mu-lher? –desconfiou.

- Vi na televisão hoje de manhã... - forçou um sorriso - Você percebeu a gravidade da situação? Mas, dessa vez, o símbolo era pare-cido com correntes de ventos dentro de um círculo... Dentro dele, três outros círculos e, em cada um, um número 6...

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Todos   estão tensos por causa das mortes e pelos ocorridos. Eles che-garam a uma conclusão:  que o assassino seria alguém do próprio estú-dio. Mas também se perguntavam: quem poderia ser, como fazia isso e por que ele matava o elenco e os profissionais? E os símbolos nas pessoas? Os números? As letras?

ORQUÍDEAS

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A trupe estava reunida na sala de reunião, sendo que era um local meio velho e havia uma lâmpada queimada; havia cadeiras de madeira, para ser mais específico, carvalho; as paredes eram sujas e pintadas de verde; havia uma janela que dava para o lado de trás do set de filmagens. O clima na sala estava tenso, ninguém sabia o que fa-zer. Nesse dia, Megan, a única sem marcas pelo corpo, notou a falta de uma atriz do elenco... foi procurá-la. Seu nome era Cindhy.

Mal sabia ela que a atriz desaparecida ouviu, antes de todos chegarem para os trabalhos do dia, alguém chamá-la pelo seu nome, e foi em direção ao som, o que foi um erro, pois esses seriam seus últi-mos passos.    Enquanto Cindhy andava, não percebeu que, logo à frente, ha-

via um buraco. Continuou andando e, de repente, caiu. Ele era bem fundo, fazendo com que ela quebrasse uma perna, deixando seu osso exposto. Enquanto gritava de dor, avistou um vulto, e, depois, uma faca foi enfiada em seu coração. Houve muito sangue espirrado na saí-da e nas paredes do buraco. A última coisa que ela conseguiu ver foi a faca, que era preta, enferrujada e, na lâmina, estava escrito "GRANDE ESPÍRITO 666". Gritou, gritou e gritou muito até morrer. Morreu às 6 horas da tarde do dia seis de junho...

Megan conseguiu encontrá-la e viu a amiga com a faca fincada no coração, pegou o objeto e olhou seus mistérios; ficou perguntando-se: "Grande espírito 666? O que seria isso?"

Minutos depois, o restante dos componentes do filme chegou ao local de origem dos gritos, agora de Megan, vendo a outra atriz es-faqueada ao lado da personagem secundária. Eles olhavam para ela com ar de confusão, de tristeza e de dúvida.

Após um tempo, a polícia chegou, com muitos jornalistas, e pediu o depoimento de todo o elenco. A atriz falou:

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- Quando cheguei, pensei ter sido a primeira, mas, pelo visto , houve uma pessoa que chegou antes, no estúdio...

O investigador desconfiou e perguntou: - Quem chegou antes de você? -  A estrela do filme foi a primeira a chegar, apesar de não ser

costume e de sempre chegar atrasada como toda boa estrela... - Obrigado - diz o policial - chame a estrela. Depois de alguns segundos, ela chegou e o policial questio-

nou: - Então, você foi a primeira a chegar ao estúdio? - Sim, mas não tenho culpa... eu ouvi gritos, saí procurando

quem gritou pelo perímetro do lugar e, quando cheguei, vi a mulher morta e ensanguentada com essa faca enfiada em seu coração. Eu não

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mexi na cena do crime... apenas me afastei... e me escondi de medo... Eu poderia ser a próxima. Pode examiná-la, não tem nada de mais. A única coisa que me chamou a atenção foi uma frase gravada em sua lâ-mina, veja o senhor mesmo.            Após todo o interrogatório, o clima ficou ainda mais tenso

logo após a crueldade ocorrida e os outros começaram a suspeitar de que foi a personagem principal a culpada:         -Você tem certeza de que não viu nada além da moça morta?

Pois é muito estranho, não há mais pessoas que podiam matá-la, já que esse estúdio é muito seguro. Eu acho que essa história está muito mal contada! A senhora tem que dar mais explicações! - disse o aju-dante do diretor.         - Eu já falei! A mulher já estava morta quando eu cheguei, pa-

rem de me pressionar, estou muito abalada!!! Só notei um desenho como se fosse um símbolo feito de sangue ao lado do corpo da víti-ma... Só isso!         - Hum! – resmungou ele.  Os atores começaram a conversar entre si e um fez um comen-

tário: - Eu acho que foi a atriz principal, porque ela sempre chega

atrasada... e hoje chegou antes? Por quê? - Mas você também nunca está conosco e pode ser o culpado...

está tentando incriminar outra pessoa? - As chances de ela ser a culpada são muito grandes, e as chan-

ces de eu ser o culpado são iguais à de todos vocês.         Megan, sem saber o que fazer, foi pedir conselhos para sua

irmã mais nova, Maryllin, porém nem ela a ajudou, pois ela também a incriminou e disse que estava com medo. Isso aconteceu porque as du-as sabiam que uma tinha inveja da outra... Maryllin tinha inveja da

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irmã mais velha por ter ficado com um papel importante no filme, e pelo fato de o pai amá-la mais do que a outra.       Logo depois, houve uma grave discussão com a irmã mais

nova, quando trataram de assuntos familiares e  profissionais. A mais jovem saiu da sala de gravação e foi ao seu apartamento.

Era noite. Uma noite sombria. Nela, até a própria morte sentiria medo. Havia muita neblina. No meio do caminho, uma loja chamou àatenção Maryllin.

Chamava-se “Nomed”, número 666, na rua João Mc. Possuía uma fa-chada de cor estranha, como se fosse um sangue velho... mas brilhan-te... e tinha umas mercadorias exóticas, como colares de origem indí-gena e objetos gregos. Na frente da loja, havia uma cigana com uma mão esticada e com cartas de tarô na outra mão... Ela tinha roupa co-lorida, era alegre, mas com um olhar sombrio. A irmã mais nova de Megan estava a pé, pois sua casa ficava a uma distância curta do estú-dio, então decidiu parar para a cigana ler seu futuro, porque ela acre-ditava nessas coisas:       - Boa noite - disse Maryllin.       A cigana olhou com o canto dos olhos:       - O que uma jovem como você faz aqui a essa hora?        - A senhora poderia ler meu futuro? – perguntou, esticando a

mão.       A misteriosa mulher pegou uma carta e a colocou na mão da

jovem... Uma torre!       - Seu futu..ro é..- disse ela gaguejando e com os olhos arregala-

dos - A torre significa a queda, pode significar... a ... morte... – falou pausadamente.       - O quê? Mas, por quê?       - Vá!

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      Maryllin entrou em seu apartamento, pensando no que a ciga-na disse, foià janela de sua cozinha pequena, de frente para a rua, para tomar um ar. Ela observou uma cor diferente no céu, e também nuvens em forma de caveira, mas não ligou muito para isso. Pensou estar só cansada e estar vendo coisas sem sentido. Depois, foi à mesa da cozinha e se deparou com um belo pacote em formato de coração junto com seis orquídeas.     Sem se preocupar, pensou que era de seu namorado e logo re-

colheu as lindas flores azuis da mesa e as cheirou, porém, ao invés de uma delicada fragrância,  atiraram um forte jato de um gás estranho no rosto dela, o que a faz recuar.

O gás fechou sua garganta e ela não conseguiu mais respirar; ficou desesperada... sua visão foi ficando turva, sentia muita dor, e, para ela, agora o que a cigana falou fazia sentido. Rapidamente ela a-briu a caixa em forma de coração e, antes de ver o que havia dentro, o objeto explodiu, fazendo-a cair no hão. Enquanto ela estava caída, viu um homem entrando em seu apartamento, mas não conseguiu ver seu rosto...

Ela sentiu medo, ficou confusa porque não sabia quem ele era, mas também não tinha impressões boas sobre ele.

Esse homem colocou uma bomba cronometrada no chão, foi embora e, antes de ela entender o que estava acontecendo, a bomba explodiu e a lançou contra a janela da cozinha, fazendo a vidraça que-brar-se em vários cacos de vidro, que entraram em seu corpo. Nisso,  ela caiu do apartamento, que ficava a dez metros de altura e, quando foi se espatifar no chão, um carro a atropelou, arremessando-a  para um cruzamento. Não o bastante, um caminhão de gasolina foi em sua direção, tentou  frear, mas acabou virando o tanque em cima dela, e,  como estava em chamas, após ser esmagada, o tanque explodiu. Além das 6 flores, foram seis acontecimentos seguidos: a explosão da

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caixa, a vidraça, a queda, o atropelamento, o esmagamento e a quei-madura final. Um transeunte chegou a anotar a placa do carro que a lançou longe: D.C. 666. Anotou também que era de uma empresa que prestava serviços em torres de alta tensão na cidade.

No dia seguinte,  todo o elenco descobriu sobre Maryllin, a qual morreu da pior forma possível, assim, aparentemente, havia mais mo-tivos para culpar Megan de todos os assassinatos ocorridos. Primeiro porque ela sempre saiu ilesa de tudo isso e segundo porque ela sem-pre esteve, pelo menos um pouco,  ligada às pessoas que morreram.

Agora com o acontecimento de sua irmã, eles tinham quase certe-za de que Megan era a culpada!

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Quando Doug começou a ouvir sobre as suspeitas que incrimina-vam a atriz Megan, lembrou-se do que havia acontecido à sua ex-mu-lher, ao seu primeiro amor antes de conhecer a senhora Taylor, am-bas durante a guerra. Era uma memória muito dolorosa para ele.

A tragédia aconteceu no fim da tarde, em um dia que acabou sen-do muito triste. Nessa data, aconteceu algo que o deixou muito abala-

CARTA MISTERIOSA

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do, como se fosse um verdadeiro tiro no coração. Sua mulher, Valery, faleceu em um acidente de avião, por causa de um erro que ele mes-mo cometeu durante o voo.

Doug havia-se esquecido de aumentar a altitude, então o avião co-meçou a cair rapidamente e acabou raspando em alguns galhos de uma árvore muito alta, que se enroscaram na hélice e pararam o mo-tor. Mesmo com poucos segundos para reagir, apertou o botão de eje-tar, mas o banco ejetor de Valery não funcionou. O motor do avião logo começou a pegar fogo, explodindo alguns segundos depois.

Ainda assim, Doug procurou por sua mulher, mas não achou os restos dela, que haviam sumido com a explosão. A única coisa que ele pôde fazer foi chorar e se culpar pela morte dela. Só achou um colar com o número 6 ainda ileso, apesar de a corrente estar derretida... Era a data da comemoração de 6 anos de romance... Tal fato aconte-ceu no dia 6 de junho, às seis horas da tarde...

Retornando de sua lembrança, uma lágrima caiu de seus olhos.

A atriz Meghan se parecia muito com sua primeira mulher, Va-lery, e, por isso, não conseguia chegar perto dela, muito menos pensar em... em besteiras... De pouco em pouco, Doug foi-se aproximando dela e foi-se lembrando mais de sua ex-mulher, agora que a senhora Taylor estava morta, mas ele queria se livrar desse sentimento de cul-pa e dessas lembranças ruins, que Meghan despertou nele.

O velho estava procurando um jeito de remover as suspeitas que todos tinham sobre a atriz, já que, por causa dos fatos, todos pensa-vam que ela fosse a assassina... Ele se sentia mal por isso, então o úni-co jeito de desfazer o mal-entendido era realizar o que sabia... Mas isso seria muito difícil para Doug.

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Então, ao cair da noite, ele foi até o quarto de Meghan. Ele ainda se lembrou de sua amada enquanto caminhava. Cada passo dado por ele era uma dolorosa memória. Chegando perto dela, ele deu um últi-mo suspiro, respirou fundo, e, ao mesmo tempo, conseguiu sentir o cheiro de uma paixão antiga... de um amor esquartejado por um aci-dente, que o lembrou mais de Valery e deixou sua missão mais difícil. Mesmo assim, pegou sua navalha e deixou cuidadosamente uma mar-ca nela. Ao sair do ambiente, Doug ainda se questionava se o que ele fez estava certo, afinal, todos poderiam pensar que ela se marcou pro-positalmente, só para se livrar das suspeitas.

Alguns dias depois, o velho decidiu escrever uma carta

anônima para o diretor do filme, ameaçando-o por fazer o filme, di-zendo que, se ele não parasse os trabalhos, os assassinatos continuari-am e que o próprio diretor seria uma das vítimas, mas que seria a últi-ma, para ver seus amigos morrerem próximos dele, assim como acon-tece nas guerras. Ele também escreveu dizendo que Fosk devia retirar as acusações que fizera sobre Meghan, já que ela não era a verdadeira assassina.

Ele disse que se encontraria com o diretor e que revelaria tudo, na hora certa. E o tempo se passou...

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O grande relógio de madeira polida lhe anunciara que já se ha-viam passado outras duas horas, e que, agora, a negritude da madru-gada já havia consumido o quarto por completo.

Por mais tarde que fosse, o diretor continuava a encarar as pa-redes, o nervosismo e a incompreensão rondavam-lhe os pensamen-

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tos e roubavam-lhe as horas de sono de que tanto necessitava nesse momento.

Nove. Subira para nove o número de mortes entre as pessoas do elenco. Três mortes em apenas dois dias.

Talvez nem fossem as mortes que aterrorizassem a mente do homem, mas o mesmo sinal que era deixado em todas as vítimas, o si-nal que continuava a perturbá-lo, por não ter sentido nenhum. As le-tras e os números... e, agora, o pedaço de fita vermelha, bem escura, cor de sangue velho e esquecido, seco. O objeto era feito em tecido de veludo.

Por precaução, pedira aos staffs que retirassem todo e qual-quer objeto cortante do set, além de solicitar, aos atores sobreviven-tes, que fechassem bem as portas, tanto seus camarins como suas pró-prias casas.

Observou novamente o cômodo em que estava. As paredes pin-tadas de um cinza opaco, com o rodapé branco. Os móveis de madeira escura, o tapete de tecido importado que lhe custara uma fortuna, a te-levisão moderna implantada em uma das paredes. Toda a decoração do local parecia conspirar contra ele, deixando o cenário com um to-que de morte e de filme de terror, causando-lhe arrepios.

O barulho perturbador dos veículos do lado de fora já lhe cau-sava espasmos de irritação e dor de cabeça. Arrependeu-se da hora em que resolveu comprar um apartamento no bairro mais caro e movi-mentado daquela cidade.

Rodou os olhos de um lado para o outro, parando-os na pri-meira gaveta da escrivaninha. Ponderou por uns segundos se deveria abri-la, e pegar o objeto que tinha sido seu tormento diário desde que o encontrara. E, então, a compreensão o atingiu como um tapa.

Naquele momento, finalmente notou que havia sido um idiota todo esse tempo. Não eram mera coincidência todas aquelas mortes

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ou o número de pessoas feridas. Aquilo não acontecia nos primeiros dias de filmagem.

Quis socar a si mesmo por ser tão ingênuo. Era tudo tão ób-vio. Ele havia sido o cego naquela história.

Tudo era culpa daquele maldito caderno de capa negra e fo-lhas claras, levemente deterioradas pelo tempo. Tudo culpa daquele objeto que, junto com João, o bibliotecário, encontrara naquela busca pelos porões da biblioteca.

Caderno que, agora, repousava em suas mãos, enquanto o ho-mem travava uma briga interna. Deveria ou não abrir o diário e ler o desfecho da história? O que tanto temia ler lá?

Observou novamente o amontoado de papéis, a capa já desgas-tada denunciava o quão velho aquele caderno era. Tocou levemente o cordão que lacrava o diário, arrancando-o e abrindo o objeto.

Respirou fundo, olhou uma última vez pela vidraça da janela, observando o breu que de lá vinha. O céu sóbrio, as nuvens ofuscando o brilho intenso da lua, tornando o cenário negro e nublado, assim como seus pensamentos.

Na primeira página, os símbolos que encontrara tantas vezes em todos os crimes e nas pessoas... Parecia-lhe que a chave para tudo poderia ter sido descoberta caso sua curiosidade o tivesse feito olhar o caderno e não só assistir ao filme... Folheou o objeto, até chegar à pá-gina em que havia parado quem o escreveu... Havia mais escritos após, mas o marcador de página, na cor vermelha como sangue velho, marcava a seguinte passagem...

"Início de março, 1944.

Eu já posso ouvir os comentários ansiosos, os murmúrios de felicidade e de contentamento. Os sonhos de cada um ali, sonhos que

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antes se mostravam tão distantes, pareciam tornar-se realidade a cada segundo que passava.

Éramos prisioneiros de guerra. Aviadores inimigos das tro-pas nazistas. Em sua grande maioria italianos, franceses, ingleses. Alguns eram da Bélgica também.

Todos ali haviam sido capturados durante batalhas e mis-sões, alguns estavam ali havia meses, como eu, por exemplo.

Após semanas e semanas de trabalho duro e de sofrimento, finalmente estava concluído o projeto que nos tiraria dali: um túnel de 510 metros, que ultrapassava os limites da prisão em que estáva-mos, pelo subsolo.

Toda sexta-feira, no horário da 01h às 05h, ocorria a troca de guarda em frente aos seis portões. Quando esta acontecia, o nú-mero de seguranças que cercavam o presídio se reduzia considera-velmente, tornando possível nossa fuga daquele martírio.

Os homens dali mantinham as expressões esperançosas em suas faces, sonhando com o momento em que reencontrariam suas esposas, filhos e regressariam aos seus lares.

Já montavam planos de futuro, construíam objetivos e me-tas.

Éramos, ao todo, 66 aviadores. A fuga seria esta madruga-da, dia 6.

Talvez ocorresse tudo bem e todos pudessem sair dali com se-gurança, mas isso não tinha mais chances de acontecer.

Porque, dentre todos aqueles homens, um havia delatado o plano de fuga para as tropas alemãs. Havia vendido a liberdade de seus companheiros, em troca de sua própria salvação.

Em troca daquela traição, um posto altíssimo dentre os avia-dores alemães lhe seria concedido, e seu futuro glorioso como coman-dante da aeronáutica já estava garantido.

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E como eu sei disso, antes mesmo que isso ocorra? Sei disso, porque eu sou este homem. O traidor de sua própria nação. Responsável pela vida de outras 9 pessoas, de suas famílias e

amigos. Um dos maiores egoístas e macabros homens que este mun-

do conheceria. Era eu. E o pior de tudo isso é que nenhuma fibra de meu corpo esta-

va arrependida."

O diretor observou, atônito, as palavras escritas naquele cader-no, a caligrafia perfeita e rústica, típica de décadas atrás.

Um segredo como aquele sendo revelado acabaria com o méri-to e a grandeza do aviador, levando toda sua história de glórias e de conquistas por água abaixo. Talvez esse fosse o motivo pelo qual o fil-me que achara não estivesse terminado...

Uma revelação como aquela deveria ser protegida com a vida. Agora os embaraços, em sua cabeça, pareciam dissipar-se, con-

forme lia as revelações escritas naquelas páginas deterioradas pelo tempo.

Respirou fundo novamente, virando a página.

“07 de março, 1944.

Naquela última noite, a fuga fora efetuada com sucesso. To-dos os 66 homens romperam a barreira que os separava do mundo afora.

Mas por culpa de minha traição, apenas 9 tiveram êxito em não serem capturados.

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Durante a noite, os soldados alemães capturaram os outros, levando-os para as solitárias e para as câmaras de tortura. Eu esta-va entre esses homens, mas, diferentemente deles, não fui castigado. Muito pelo contrário, fui prestigiado pelo general, e meu cargo fora anunciado frente a todo o batalhão.

Meu futuro estava garantido. E quanto àqueles que haviam sido capturados na fuga e que

nunca mais veriam o brilho do dia? Que seriam fuzilados e mortos pela raiva e pelo orgulho da grande Alemanha? Aqueles que deixari-am filhos órfãos de guerra, viúvas e casas, que condenariam seus descendentes à miséria?

Simples. Eu não me importava. Desde que meu segredo estivesse a salvo, eu não me importa-

va. Nem um pouco."

O diretor, pasmo com o que havia lido naquelas páginas, sen-tiu as mãos suarem e um constante frio rondar-lhe a barriga.

Ainda trêmulo, rodou as folhas e as avançou até o dia que lhe pareceu importante, ignorando fatos irrelevantes.

“7 de março, 1950.

Já se passaram seis anos desde que me tornei um importante aviador do Exército alemão. Após anos de conflitos e de milhões de mortes, a Alemanha havia sido derrotada, mas eu continuei com meu alto cargo na aeronáutica.

Durante muito tempo, pensei que meu passado havia sido en-terrado naquele campo de concentração, mas foi algo equivocado. Os outros militares já questionavam minhas origens, após notarem

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as respostas curtas que eu lhes dirigia quando minha ascendência americana era o assunto abordado.

Preciso desaparecer, caso descubram que eu já traí meus companheiros em benefício próprio, minha fama e meu nome esta-rão manchados nos livros de história para sempre.

Após muito tempo, decidi que o melhor a fazer será forjar minha morte, sumindo desse país, deixando somente minha imagem de grande aviador e de herói para trás.

Levarei um condenado à morte em meu avião, e, durante o voo, saltarei com o paraquedas dele, fazendo com que encontrem apenas um corpo carbonizado pela queda da aeronave.

Serei dado como morto, enquanto, na realidade, estarei são e salvo."

Ao terminar de ler a página do caderno, o diretor sentiu uma respiração morna e constante chocar-se contra seus ombros, fazendo-o congelar de medo. Virou-se lentamente e sentiu uma dor extrema no abdômen, notando a lâmina da afiada e enferrujada faca penetran-do em seu estômago. A dor aguda e cortante o fez ajoelhar-se no chão, despencando a tempo de ver sua mulher, que há muito o tinha aban-donado, encarando-o com olhos semicerrados.

Uma única e solitária lágrima escorria de seu olhos límpidos, dotados de um olhar profundo e misterioso.

Fosk não encontrou maldade nas órbitas claras da esposa, ape-nas frieza e nenhum arrependimento enquanto esta o observava com pena.

- Por quê? - sussurrou o diretor; a fraqueza era tamanha que apenas um fio de sua voz rouca fora pronunciado.

- Porque era necessário. - proclamou a loira, fechando os olhos por um momento, respirando pausadamente. Ela estava usando

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uma túnica com símbolos... círculos com números 6 colocados na par-te interna, círculos com um monte de terra desenhada... Letras Mc, D.C. e vários outros que agora ele reconhecera, mas era tarde demais.

O homem derramou um último suspiro, enquanto seus olhos, que tanto já haviam visto, fecharam-se para nunca mais serem aber-tos.

A mulher inclinou-se lentamente em direção ao corpo que ain-da segurava o diário. A página que seu falecido esposo havia lido ain-da estava aberta, agora com os cantos manchados do sangue de seu amado. Sangue novo, ainda fresco.

Ela pegou o diário e leu as duas últimas páginas com os olhos pesados deslizando pelas palavras:

“12 de setembro, 1969.

Já faz quase vinte anos que estou vivendo neste país, após o sucesso que foi o plano de forjar minha morte.

Arrumei um emprego no ramo de construção de aeronaves, não me rendia tanto quanto o emprego antigo, mas era o suficiente.

Falsifiquei documentos e mudei o meu nome, para garantir que não suspeitassem de meu passado.

Na noite anterior, em uma dessas ruas sujas e recheadas de indigentes maltrapilhos, avistei dois homens espancando uma crian-ça por ter roubado a carteira de um deles. Em lugares em crise como aquele, cenas assim eram normais. É incrível o que o ser humano faz pela própria sobrevivência.

Mesmo não sendo o melhor exemplo de bondade do planeta, sou totalmente contra a violência a mulheres e a crianças pequenas.

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Atirei nos dois homens em lugares não fatais e levei a meni-na de rua para a minha casa, pois pretendia criá-la para que, um dia, ela estivesse pronta para proteger meu segredo e meu nome.

Pretendi criá-la como minha própria filha, e, a partir de ago-ra, seu nome será Valery Mc. Campbell.

Para proteger minha identidade, esconderei este caderno no concreto da parede de meus aposentos, para que nada de minha his-tória seja descoberto.

Assinado, Douglas Campbell ou Doug Camp...”

Uma última lágrima se choca contra a página amarelada; a mulher, agora, entende que cumpriu sua dívida com o homem que ha-via sido seu mentor e pai durante tanto tempo. Com o homem que en-sinou a ser detentora de conhecimentos sobre as forças do mal. O ho-mem que a havia tirado da vida miserável que tinha.

Em seguida, com pesar nos olhos e com a respiração serena, a loira retirou uma caixa de fósforos do bolso, acendendo-os todos de uma vez, ateando fogo no diário de seu mestre. Impedindo que o se-gredo máximo dele pudesse ser desvendado e filmado. Deitou-se ao lado do cadáver frio de seu marido, enquanto observava o caderno se transformar em cinzas e a fumaça dominar o local.

Após um longo suspiro, fincou a faca comprida e enferrujada em seu peito, rangendo os dentes com a dor do corte. Eram seis da manhã do dia 6 de junho.

Sentiu o gosto de ferrugem característico de sangue, sua visão ficou turva e seu rosto, pálido como neve.

Num último ato, segurou as geladas mãos de seu amado, aper-tando-as entre as suas.

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Fechou os olhos, enquanto seu sangue se uniu ao do homem, tornando o vermelho rubro a única cor presente naquela noite som-bria.

Sangue novo que findava a cor de sofrimento do velho.

Do velho aviador.

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Achei um projeto muito bem elaborado, o qual todos fizeram com muito esforço, e que, até ago-ra, ficou muito bom, superando as expectativas em todos os senti-dos.

BETINA MORANDI

É incrível como a pressão nos fez unir e trabalhar melhor do que nunca!

GUILHERME HORTA

Por fim, concluo que, nestes três projetos (Literatura, Gramáti-ca e Desenho Geométrico), eu pude aprender a trabalhar em grupo, pude ver ideias pelos olhos dos outros, ganhei paciên-cia, ganhei, de uma forma, mais amigos. Sei que todas essas três atividades vão estar lindas e te-nho a certeza de que todos vão adorar a Feira do Livro deste ano.

MAYARA COSTA

Durante o projeto de escrita do livro, foi importante a opção de escolhermos os membros do grupo, pois evitou desentendi-mentos e intrigas, o que melho-rou o resultado final do trabalho, mesmo que cada pessoa tenha sua própria opinião.

LUANA CRISTINA

Esse projeto melhorou nossa crítica textual, visto que nós anali-samos nosso capítulo para ver se ele estava de acordo com a pro-posta, o que resultou também na melhoria da minha gramática. O trabalho também aprimorou nos-so conhecimento, uma vez que fi-zemos a pesquisa de um filme an-tigo que estreou o tema “catástro-fe” no cinema.

MATEUS FURTADO

DEPOIMENTOS

PRÓLOGO

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Objetivo compartilhado com os alunos (produto final)Um livro (romance) por sala de aula, onde os alunos, em grupo,

produzissem um capítulo que comporia uma obra única por turma, se-guindo um enredo criado por eles.

JustificativaAo se trabalhar com produção de textos em todos os anos do ensi-

no fundamental, médio, superior e até em níveis mais avançados, nota-se a necessidade imprescindível de uma atividade que contem-ple um produto final e que seja para um público real, dentro de uma demanda real. Tal fato é muito presente em diversas referências bi-bliográficas da área, o que leva docentes a criarem projetos educacio-nais que incitem o despertar da escrita no meio discente, num traba-lho paralelo ao de formação teórica sobre gêneros discursivos e teorias adjacentes, além de sobre o uso da Língua Portuguesa.

Para tal, aproveitando o ensejo da Feira do Livro 2013, o que se apresenta, através desta obra finalizada, é a proposta de produção de um livro (romance) por sala de aula dos alunos 242 do 9º ano.

Além de uma prática de produção de texto, houve o imprescindí-vel objetivo de a atividade proporcionar interações entre os pares e en-tre as áreas, como aconteceu durante todas as etapas, como preconiza-do nos PCNs. Nesse contexto, houve a parceria da gramática, explo-rando as estruturas linguísticas e textuais, com a área de artes, quan-do da confecção da capa e das ilustrações da obra; com a área de litera-tura, estudando gêneros, nuances, estilos e possibilidades literárias; e com a área de desenho geométrico a qual possibilitou instalações reali-

PROJETO LIVRO DA TURMA 2013

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zadas com poliedros, também sobre o tema central proposto para este ano letivo. Ademais, tal atividade reforçou a prática da interação en-tre alunos atuantes, centro das ações, num compartilhamento cons-tante de ideias dentro de cada grupo e entre grupos, assim como entre os grupos e seus professores.

Além de todo o contexto de produção já descrito, apresentou-se a manipulação de ferramentas digitais no processo, uma vez que existiu produção tanto manualmente como digitalmente, inclusive com a con-fecção de mapas mentais e conceituais, fato que alinha o projeto com as mais utilizadas técnicas de escrita no mundo acadêmico e profissio-nal. Outrossim, houve grande pesquisa sobre o tema de 2013 “PALA-VRAS NO AR: O HOMEM, A LITERATURA E O SONHO DE VOAR” e a necessidade da versão definitiva em formato digital, utilizando a tecnologia a favor do maior engajamento estudantil. Finalizando, to-dos fizeram um texto manuscrito com relatos onde os alunos pude-ram expor etapas, angústias e conquistas neste ano letivo, e durante a confecção do livro.

O resultado está nas suas mãos, prezado leitor.Deleite-se com palavras escolhidas para você.

A todos, meu sincero agradecimento,

Prof. Sérgio Ricardo Lopes Fascina 25 de maio de 2013

“Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez.” - Thomas Edison

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O famoso diretor de cinema James Fosk está à procura de uma história verídica para transformar no roteiro de seu próximo filme. Ao pesquisar o acervo de uma biblioteca, descobre um livro antigo que narra as aventuras de Douglas Campbell, herói da Força Aérea Americana, desaparecido durante a Segunda Guerra Mundial.

Iniciam-se, tempos depois, as filmagens de “Guerra nos ares”, superprodução baseada na biografia de Campbell. Dia após dia, porém, o set cinematográfico vai-se tornando um cenário de horror: assassinatos em série envolvendo o elenco chocam a polícia e a imprensa.

Uma sucessão de intrigantes pistas, que vão do misterioso surgimento de símbolos na pele dos atores (tanto as vítimas fatais quanto os que ainda estão vivos) à repetição sistemática do 666, o número da besta; da sinistra aparição da carta de tarô chamada “A torre”, na cena dos crimes, ao enigma das iniciais “DC”, espalhadas ao longo destas páginas criadas pelos alunos do 9º D – um verdadeiro “thriller”, como os melhores que o cinema já produziu.

CONTRACAPA

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