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PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO Graduação

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PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO

PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO

Graduação

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PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO

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UN

IDA

DE 2

AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA

PSICOLOGIA NO SÉCULO XX

Na unidade 1, vimos o trajeto histórico da Psicologia como chega ao

século XX, trazendo uma herança marcada pelo positivismo. Nesta unidade,

vamos conhecer os desdobramentos da Psicologia e as principais matrizes

teóricas do século XX.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• conhecer as três principais correntes teóricas da Psicologia do

século XX.

• identificar as principais características, métodos de investigação,

objeto e conceitos das correntes teóricas.

PLANO DE UNIDADE:

As principais matrizes teóricas da Psicologia no século XX:

• O Behaviorismo.

• A Gestalt.

• A Psicanálise.

Bons estudos!

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UNIDADE 2 - AS PRINCIPAIS MATRIZES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX

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Você percebe, então, que a Psicologia ingressa no século XX com três

abordagens diferentes, mas que todas elas estão plenamente adaptadas

aos padrões de ciência, ou seja, o conhecimento científico produzido a partir

do uso de instrumentos de observação e medição em laboratórios.

É possível perceber, então, como destaca Jobim (2005, p.20) que a

Psicologia, componente das ciências humanas:

“(...) reivindicando o status de serem científicas, aderiram ao

universo do pensamento axiomático, calcado na lógica matemática,

substituindo progressivamente o mundo da realidade humana,

chegando mesmo a abolir a própria distinção entre pessoas e coisas”.

Vamos pensar juntos: qual o preço pago pela sua cientificidade? De

que teve de abrir mão para merecer esse status? O dilema vivido atualmente

pelas ciências humanas, ou seja, quanto mais busca a neutralidade científica

e objetividade mais se distancia de sua humanidade, traz uma nova

concepção de ciência humana.

Como destaca Jobim (2005, p.34)

“A existência e a legitimidade das ciências humanas estão

exatamente no enfrentamento dessa complexidade, e não na sua

negação (...). A verdade que as ciências humanas buscam desvendar

não se encontra, de modo algum, na univocidade de seus métodos,

mas ao contrário, está na possibilidade permanente de rever e enfrentar

suas contradições no bojo das práticas sociais”.

Como vimos na unidade anterior, no século XX, a Psicologia está

atrelada à lógica da produção e seus mecanismos de manutenção e a própria

ciência serve a esse propósito.

BEHAVIORISMO

Das correntes teóricas que caracterizam a Psicologia do século XX, a

que mais se afina com a perspectiva positivista, é o behaviorismo.

Com o texto de 1913 intitulado “Psicologia: como os behavioristas a

vêem”, John B. Watson apresenta à comunidade científica uma abordagem

teórica da Psicologia cuja tônica é o comportamento, por isso o conceito

behaviorismo, do termo inglês “behavior”, que significa comportamento.

Mas fique atento: dependendo do autor consultado, essa mesma

corrente teórica pode ser designada por outras terminologias, como

comportamentalismo, teoria comportamental ou análise experimental do

comportamento.

Como um objeto de estudo observável, mensurável, cujos métodos

de investigação pudessem ser reproduzidos em diferentes condições e

sujeitos, a Psicologia estaria emancipada da visão “mentalista” e de métodos

subjetivos que insistem em associar-se à Psicologia. Assim, o importante

era preocupar-se com o que as pessoas fazem e não com discussões sobre

a consciência.

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Os estudos de Watson foram fortemente influenciados pela idéia de

condicionamento clássico de Pavlov (1849 – 1936), pesquisador russo, que

desenvolveu estudos na área do comportamento, utilizando-se de cães.

Conforme escreveu Watson (apud: NEWCOMBE, 1999, p.27-28):

Dê-me uma dúzia de bebês saudáveis, bem formados, e o mundo

que eu especificar para criá-los, e garanto que posso tomar qualquer

um deles, aleatoriamente, treiná-lo para se tornar qualquer tipo de

especialista que eu venha à escolher – medico, advogado, negociante,

chefe e, sim, até mesmo, mendigo e ladrão, não interessando seus

talentos, tendências, habilidades, vocações e a raça de seus ancestrais.

B. F. Skinner (1904 – 1990) é considerado o mais importante sucessor

de Watson na escola Behaviorista. Skinner desenvolve seus estudos com

base no conceito de condicionamento operante.

Mas como ocorre o condicionamento operante?

Segundo Skinner é a ação do organismo sobre o meio e o efeito dele

resultante, em outras palavras: agimos sobre o meio em função das

conseqüências geradas pelas nossas ações. O estímulo reforçador, ou seja,

aquele que é capaz de provocar a repetição daquela resposta é chamado

“reforço”.

Vamos compreender melhor essa teoria, conhecendo um de seus

instrumentos de pesquisa a “caixa de Skinner “: um recipiente fechado no

qual se encontrava apenas uma barra. Esta barra,

ao ser pressionada por ele, acionava um

mecanismo que lhe permitia obter uma gotinha de

água.

O rato é colocado dentro desta caixa – em

privação de água - e espera-se que ele acione a

alavanca para obter a água. Inicialmente, será uma

resposta acidental, mas Skinner constatou que

existe uma grande probabilidade de o rato repetir

a ação. Este comportamento operante é

representado pelo esquema:

R S, onde R é a resposta emitida, neste

caso o ato de pressionar a alavanca e S o estímulo reforçador, que, no

experimento de Skinner, é a água.

Assim, com tais experimentos Skinner elaborou as “leis

comportamentais”.

O reforço pode ser positivo, quando aumenta a probabilidade da

repetição e emissão da resposta que o produz. Assim, o fato de receber a

água favorecerá a repetição do comportamento de acionar a alavanca. Ou o

reforço pode ser negativo, quando aumenta a probabilidade de emissão da

resposta que o remove e, nesse caso, permite a supressão de algo

indesejável.

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O mesmo instrumento experimental poderá nos fazer entender o que

é o reforço negativo. Desta vez, ao ser colocado na caixa, o rato levará

choques do piso e, mais uma vez, por acaso, pressiona a barra, e assim os

choques param. Com isso, constatou-se a probabilidade de aumento da

freqüência dessa resposta.

Extinção: é um procedimento no qual uma resposta deixa

abruptamente de ser reforçada. Como conseqüência, a resposta diminuiria

de freqüência e até mesmo poderá deixar de ser emitida. (BOCK, 2002,p.52)

Punição: é outro procedimento importante que envolve a

conseqüenciação de uma resposta quando há apresentação de um estímulo

aversivo ou a remoção de um reforçador positivo presente. (BOCK,

2002,p.52)

Aplicação das idéias Behavioristas são percebidas em várias áreas da

vida cotidiana, na educação, por exemplo, são reconhecidos métodos de

ensino que utilizam conceitos como: controle e organização da aprendizagem,

premiação pelo desempenho escolar, entre outros.

Essa prática também é recorrente na empresa, nos programas de

treinamento e desenvolvimento de funcionários, na clínica psicológica,

especialmente no trabalho com pessoas com necessidades educacionais

especiais e na publicidade.

Como vimos, as teorias comportamentalistas clássicas compartilham

de pelo menos três características:

1) buscam uma objetividade impecável;

2) explicam o comportamento em termos moleculares, isto é, de

associações estímulo-resposta elementares, não de

comportamentos molares, globais, talvez mais difíceis de

abordar;

3) fazem poucas referências às intenções do comportamento,

exceto no que se refere a necessidades e impulsos específicos.

GESTALT

Outra escola em Psicologia de grande importância é a Gestalt. Segundo

Moreira (1999, p.35-36):

“Trata-se de uma orientação psicológica que se ocupa muito mais

de variáveis intervenientes do tipo cognições e intenções, dos

chamados processos mentais superiores (percepção, resolução de

problemas por insight, tomada de decisões, processamento de

informação, compreensão)”.

Segundo Bock (2002,p. 59) “A Psicologia da Gestalt é uma das

tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia”

De origem alemã o termo “gestalt” é de difícil tradução para o

português, podendo se aproximar do conceito de configuração, organização,

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ou ainda, forma. Entretanto, esses correspondentes da língua portuguesa

não expressam a sua complexidade e, portanto, optou-se por manter o termo

alemão.

A idéia central nessa perspectiva é de que o ser humano tende a

perceber a realidade que o envolve como um todo organizado, ou seja, como

gestalts. Assim, o todo é mais do que a soma de várias partes que o compõem,

mas o todo é uma nova realidade.

Assim como o Behaviorismo, o gestaltismo, originário da Alemanha,

nasce em oposição ao movimento do estruturalismo. Lembra-se?

Segundo eles, compreender a consciência apenas em seus aspectos

estruturais a destituía do que havia de mais significativo nela. Por isso, como

destaca Moreira (1999, p.45)

“A Psicologia da gestalt é, às vezes, chamada de fenomenológica, pois

se ocupa do fenômeno ‘o que é dado’, i.e., do evento mental intacto, sem

dividi-lo para fins de análise.”

Seus precursores foram: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler

(1887-1967) e Kurt Koffka(1886-1941). Eles buscavam compreender os

processos psicológicos da percepção e sensação. Apesar de terem o mesmo

objeto de estudo que os behavioristas, o comportamento, os gestaltistas se

opunham aos behavioristas, pois com base em seus estudos afirmavam que

entre os estímulos do meio e as respostas do indivíduo existe o processo de

percepção, ou seja, a forma como nos comportamos está vinculada à

percepção que temos dos estímulos provocados pelo meio.

Por isso, os gestaltistas definem dois tipos de meio:

• geográfico: que é o meio físico, objetivo.

• comportamental: que é a realidade subjetiva particular

resultante da interpretação que fazemos do meio, através da

percepção.

A Gestalt, por meio do estudo da percepção, busca compreender o

comportamento humano, pois, segundo eles, a maneira como percebemos o

mundo exterior irá desencadear nossas atitudes.

Portanto, propõem o conceito de “boa forma”: Tudo que é percebido

tende a assumir a melhor forma possível. A boa forma significa: simplicidade,

simetria, harmonia, concisão. Assim, é possível afirmar que os eventos

psicológicos tendem a ser significativos, completos e simples.

Subordinados a este princípio central da gestalt estão outros princípios

que dele derivam:

1o. princípio da similaridade: itens semelhantes tendem a ser agrupados

na percepção;

2o. princípio da proximidade: itens que estão próximos tendem a ser

agrupados no campo perceptivo;

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3o. princípio do fechamento: é a tendência de completar um padrão, as

partes ausentes em uma figura, de modo a facilitar sua compreensão.

As contribuições de Kurt Lewin

Algumas obras, como Moreira(1999), incluem Lewim como gestaltista,

sobretudo, porque trabalhou durante dez anos com os fundadores dessa

corrente em Berlim. Entretanto, Bock (2002) afirma que “não podemos

considerar Lewim como um gestaltista, já que ele acaba seguindo um outro

rumo”. Lewim parte da teoria da gestalt para construir um conhecimento

novo e genuíno, quando elabora sua “teoria de campo”. Ele descreve o

conceito de campo psicológico que caracteriza-se pela totalidade dos fatos

coexistentes na relação do indivíduo com o meio ambiente, que incluem não

só a percepção, como haviam definido os gestaltistas, como também a

personalidade, as emoções, a história de vida na qual estão envolvidas e

que representam o “espaço vital” do indivíduo naquele momento.

Outro conceito desenvolvido por Lewim foi o de campo social, a partir

do qual afirma que o grupo forma uma gestalt, ou seja, não é tão somente

a soma de seus membros, mas a configuração (identidade) que aquele

conjunto forma, resultante dos processos que ali ocorrem.

Suas contribuições estão presentes na Psicologia até os dias de hoje,

sobretudo na área dos estudos dos grupos.

PSICANÁLISE

Não é possível compreender a psicanálise sem estabelecer uma

interlocução com a trajetória de vida de seu “criador”: Sigmund Freud (1856-

1939).

Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856 em Freiberg, Moravia. Era o

mais velho dos oito filhos do terceiro casamento de Jacob Freud. De origem

humilde, formou-se médico em Viena, em 1882. Com a ajuda de uma bolsa

de estudos, foi à Itália, onde conheceu e tornou-se amigo de Josef Breuer.

Casou-se, em setembro de 1886, com Martha Bernays. Nos três anos

seguintes à sua formatura, trabalhou no Hospital Geral de Viena para

sustentar-se, o que dificultou sua carreira de pesquisador. Praticou medicina

e neurologia até que uma bolsa o levou a Paris onde se tornou aluno do

médico Charcot. Incansável, retoma suas pesquisas, em direção à

compreensão do universo subjetivo humano.

Em 1887 conheceu Wilhelm Fliess, médico judeu berlinense, com o

qual trocou correspondências de caráter pessoal e científico, onde iniciou

sua auto-análise.

A princípio Freud utilizava os meios terapêuticos disponíveis e aceitos

na época como massagens, hidroterapia e eletroterapia. Constatando que

esses métodos não davam resultados satisfatórios, começou a utilizar a

hipnose. Aos poucos foi percebendo que também a hipnose não era suficiente

para resolver os conflitos internos de seus pacientes, pois os sintomas

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desapareciam, mas suas causas permaneciam o que provocava o surgimento

de novos sintomas. Assim, substituiu a hipnose pela catarse e posteriormente

inventou o método da livre associação e, finalmente, a psico-análise.

Em 04 de novembro de 1899, escreve o livro “Interpretação dos Sonhos”

publicado em 1900. Que, para muitos, é o marco histórico na literatura

psicanalítica.

Fundou em 1902 a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, primeiro

centro de estudos de psicanálise. O médico Eugen Bleuler, chefe da clínica do

Hospital Burghölzli de Zurique, iniciou a aplicação do método psicanalítico no

tratamento das psicoses. Em 3 de março de 1907 Carl Gustav Jung, assistente

de Bleuler, foi conhecer Freud em Viena. Em 1909, em companhia de Jung e

de Sandor Ferenzi, a convite de Stanley Hall, Freud pronunciou cinco

conferências na Clark University de Worcester, Massachusetts, EUA,

publicadas com o título de Cinco lições de psicanálise. E, logo a Psicanálise se

tornaria conhecida em todo o mundo.

Freud consegue agregar a sua volta muitos amigos e colaboradores,

como Adolf Adler, Carl Gustav Jung, para citar alguns, mas desde 1910

começaram algumas dissidências e posteriormente as cisões.

Em fevereiro de 1923 foi descoberto um tumor maligno no lado direito

do palato. Em decorrência dessa enfermidade, Freud sofreu ao todo 33

cirurgias. Tinha dificuldade para falar, mas mantinha contato com seus

interlocutores e mantinha suas atividades de rotina.

Em março de 1938, por ocasião da invasão da Áustria pela Alemanha,

Freud e sua família deixaram Viena indo exilar-se em Londres. Redigiu nesse

país seu último texto, Moisés e o monoteísmo.

Freud faleceu em 23 de setembro de 1939.

É difícil pensar em um adjetivo capaz de expressar a verdadeira

contribuição desse teórico, não somente no que se refere à produção científica

da Psicologia e outras ciências, mas na vida cotidiana, na cultura e no

conhecimento universal. Ainda hoje, utilizamos expressões, como: Freud

explica! Para além de um jargão popular, suas idéias e seus ideais invadem

o simbolismo do nosso dia-a-dia.

Num momento científico de forte contestação, de tendência objetiva e

rompimento com a subjetividade, Freud ousou colocar a interioridade humana

- o inconsciente - como foco de seus estudos e nesse aspecto a psicanálise

se constitui como uma “contraciência”, como destaca Jobim (2005, p.56)

Mas de que maneira estudar o inconsciente, se não está em categorias

observáveis como determina a ciência moderna e experimental? Se, para a

psicanálise, “o que no sujeito é verdadeiro ele não sabe e o que ele sabe

não é a sua verdade”(JAPIASSU, 1989, apud: JOBIM, 2005)

A resposta está nos signos lingüísticos na palavra a partir da qual o

sujeito representa o mundo. Não aquela palavra coerente, despida das

contradições, que proclamavam os psicólogos do comportamento, mas, ao

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contrário, aquela que insiste em se ocultar, entretanto, escapa e tropeça na

forma dos chistes, dos sonhos, do esquecido, do que é dito no não dito.

Como destaca Jobim (2005, p.57):

O objetivo da psicanálise melhor se define por permitir que o sujeito

humano assuma a sua história biográfica e cultural, a qual é construída

na e pela palavra dirigida ao outro.(…) e é por isso que a psicanálise

não elimina o sujeito.

Muito controvertida e criticada, por se distanciar da Psicologia

convencional, não podemos negar o valor da psicanálise para a compreensão

do ser humano até hoje.

Portanto, vamos conhecer alguns de seus conceitos fundamentais.

A primeira teoria que desenvolve sobre a estrutura do aparelho

psíquico foi apresentada pela primeira vez, no livro de 1900, intitulado “A

interpretação dos sonhos”, onde descreve a existência de três instâncias

psíquicas:

Inconsciente: que se refere à zona do nosso psiquismo onde se encontra

o “conjunto dos conteúdos não-presentes no campo atual da consciência”.

No inconsciente podem estar conteúdos que já estiveram presentes no

consciente e foram reprimidos - processo psíquico que visa ocultar da

consciência conteúdos(idéias ou representações) dolorosos ou conteúdos

originariamente inconscientes, os instintos, do termo alemão trieb - que

segundo Teles (2003, p.47) talvez fosse melhor traduzido por “impulso”.

Pré-consciente: refere-se à zona onde estão armazenados conteúdos

acessíveis à consciência, ou seja, são conteúdos que não estão na

consciência, mas que poderão estar no momento seguinte caso sejam

requisitados.

Consciente: é a instância psíquica que recebe as informações do meio

exterior e interior. Segundo Freud apenas uma pequena parte da atividade

psíquica é consciente, como a ponta de um iceberg.

A segunda teoria do aparelho psíquico remodela a anterior e introduz

os seguintes conceitos:

Id: corresponde a zona inconsciente e engloba os impulsos primários. É

regido pelo princípio do prazer, traduzido pela busca humana pela felicidade,

pela satisfação de seus impulsos. O seu contraponto é o princípio da realidade,

em que, segundo Freud(1997, p.24), a cultura se impõe aos sujeitos de tal

modo que, “[…]um homem pense ser feliz, simplesmente porque escapou à

infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento[…]”, nesse caso, o princípio da

realidade traduz-se pela satisfação pelo simples afastamento do sofrimento.

Ego: suas funções principais são: resolver problemas, pensar, planejar

e proteger a si mesmo. É a instância psíquica mais em contato com o mundo

exterior e tem a responsabilidade de administrar os impulsos vindos do Id e

os limites impostos socialmente e incorporados no superego.

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Superego: parte inconsciente do aparelho psíquico que representa a

interiorização das normas, dos padrões culturais, da moral, é a censura.

Quando nascemos, segundo Freud, o que existe é apenas o id, e,

portanto, o que importa é a satisfação plena dos impulsos mais primários,

mas na medida em que entramos em contato com o mundo exterior,

gradualmente o ego vai se constituindo e assumindo a função da preservação

do indivíduo, por meio de sua adaptação à realidade. Em decorrência disso,

o ego desvia-se do princípio do prazer e o substitui pelo princípio da realidade.

Já o superego se origina do Complexo de Édipo.

Segundo a mitologia grega, Édipo

nasceu com o destino de assassinar o pai e casar-

se com a mãe.

Sabedores disso, os pais mandaram

matá-lo. O encarregado da execução, porém,

apiedou-se da criança e deixou-a pendurada pelos

pés numa árvore. Um pastor recolheu-a e levou-

a para o seu senhor, que não tinha filhos. Assim,

Édipo cresceu longe da cidade e de seus

verdadeiros pais.

Já moço, dirigiu-se a Tebas, cidade onde

nascera. No caminho, discutiu com um homem e o

matou, sem saber que era o rei de Tebas, seu verdadeiro pai.

À porta da cidade, teve que responder ao enigma de uma esfinge. Se

errasse a resposta, seria morto, como muitos já tinham sido. O enigma era:

‘Qual é o ser que de manhã tem quatro pés, ao meio dia, dois, e ao entardecer,

três? Édipo acertou: “O homem”. De manhã, na infância, engatinha; ao meio

dia (durante quase toda vida), anda sobre dois pés; ao entardecer (na

velhice), anda sobre os dois pés e apoiado a bengala.

Com isso, Édipo entra como herói em Tebas e, mais tarde, casa-se com

a rainha, que era sua mãe. Cumpre-se, assim, o destino.1

Ao descobrir que havia se casado com a própria mãe Édipo fura seus

próprios olhos.

O que motivou Édipo a furar seus próprios olhos?

A culpa. É a expressão do superego.

Os mecanismos de defesa:

São os recursos que usamos para “distorcer” a percepção de uma

realidade provocadora de sofrimento ou desorganização psíquica. São

mecanismos realizados pelo ego, mas são inconscientes, portanto, não

dependem da vontade do indivíduo. Os mecanismos de defesa são:

recalque: é a supressão de parte da realidade o que deforma a percepção

do todo. Por exemplo: uma pessoa recebe o diagnóstico médico de que é

portadora de uma doença crônica, mas suprime a informação de que tem

pouco tempo de vida.

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formação reativa: é o mecanismo em que o indivíduo adota uma atitude

diametralmente oposta à um desejo. Por exemplo, superproteção dos pais.

regressão: o indivíduo, diante de uma situação desorganizadora, retorna

a estados mais primitivos do desenvolvimento. Por exemplo: a criança volta

a chupar dedo após o nascimento de um irmão.

projeção: o indivíduo projeta algo de si no outro, mas não é capaz de

reconhecer em si mesmo tal característica. Por exemplo: o indivíduo é capaz

de criticar no outro a intolerância e o preconceito, mas não é capaz de

perceber o quanto essa característica está presente nele mesmo.

racionalização: neste caso, o indivíduo constrói uma argumentação lógica

para justificar estados distorcidos da realidade. Por exemplo: a guerra.

Outra contribuição importante de Freud, diz respeito às relações

infantis e suas interferências na vida futura do indivíduo. Segundo Freud, a

infância é um período complexo permeado por conflitos, portanto, não se

trata de um período harmônico e tranqüilo. Ao afirmar a complexidade da

infância, Freud contribui para um novo olhar sobre esta fase da vida e,

sobretudo, um maior cuidado e atenção quanto aos sentimentos, emoções

e experiências primárias do ser humano.

Propõe o processo de desenvolvimento psicossexual do indivíduo.

Para compreendermos o desenvolvimento psicossexual proposto por

Freud, precisamos conhecer alguns de seus aspectos:

• a função sexual existe desde o início da vida; portanto, postula

a existência da sexualidade infantil;

• o período de desenvolvimento da sexualidade é longo e

complexo até chegar a fase adulta;

• a libido é a energia, dos instintos sexuais;

• segundo Freud, a libido esta localizada em diferentes partes

do corpo identificadas como zonas erógenas.

Assim define as seguintes fases do desenvolvimento sexual:

• fase oral: nesta fase a zona erógena é a boca.

• fase anal: zona erógena é o ânus.

• fase fálica: a zona erógena é o órgão sexual.

• fase de latência: não há uma zona erógena nesta fase. A

energia vital está voltada para os aspectos intelectuais.

• fase genital: a libido está localizada nos órgãos sexuais.

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É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no

processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nesta unidade, estudamos os principais conceitos sobre o Behaviorismo,

a Gestalt e a Psicanálise. Na próxima unidade, vamos conhecer o ramo da

Psicologia que tem o “desenvolvimento humano” como objeto de estudo.

Até lá!

NOTA

1 Texto extraído de: CORDI, C. et.al. Para filosofar. São Paulo: Scipione,2000.