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Afiação de Brocas e Fresas 1 CAPÍTULO 1 1. INTRODUÇÃO A usinagem dos metais se tornou ao longo de muitos anos uma das principais formas de fabricação de peças mecânicas, e está presente de forma direta ou indireta, na grande maioria das peças produzidas. Para se obter qualidade na usinagem, é muito importante que a ferramenta empregada nesta operação seja escolhida adequadamente, bem como estar em boas condições para cumprir sua função. A furação e o fresamento, como operações de usinagem, também dependem da qualidade das suas ferramentas para que a execução do serviço seja bem feita. Além disso, para diferentes operações temos diferentes geometrias de ferramenta mais indicado. Geometria que também varia com o tipo de material empregado. O objetivo deste estudo é dar uma visão geral da afiação de brocas e fresas. Quais os tipos de afiações mais adequados para diferentes operações, as máquinas usadas para afiar as ferramentas, bem como as vantagens e desvantagens de diversas afiações. Para isto, será feito uma breve descrição dos fenômenos que levam ao desgaste das ferramentas de corte, para que em seguida seja feito um estudo da melhor maneira de corrigir este defeito causado pelo uso normal das ferramentas.

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Afiação de Brocas e Fresas

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CAPÍTULO

1 1. INTRODUÇÃO A usinagem dos metais se tornou ao longo de muitos anos uma das principais formas de fabricação de peças mecânicas, e está presente de forma direta ou indireta, na grande maioria das peças produzidas. Para se obter qualidade na usinagem, é muito importante que a ferramenta empregada nesta operação seja escolhida adequadamente, bem como estar em boas condições para cumprir sua função.

A furação e o fresamento, como operações de usinagem, também dependem da qualidade das suas ferramentas para que a execução do serviço seja bem feita. Além disso, para diferentes operações temos diferentes geometrias de ferramenta mais indicado. Geometria que também varia com o tipo de material empregado.

O objetivo deste estudo é dar uma visão geral da afiação de brocas e fresas. Quais os tipos de afiações mais adequados para diferentes operações, as máquinas usadas para afiar as ferramentas, bem como as vantagens e desvantagens de diversas afiações.

Para isto, será feito uma breve descrição dos fenômenos que levam ao desgaste das ferramentas de corte, para que em seguida seja feito um estudo da melhor maneira de corrigir este defeito causado pelo uso normal das ferramentas.

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2 2. DESGASTE DAS FERRAMENTAS DE CORTE Toda ferramenta de corte, durante a usinagem, sofre desgaste. Isso ocorre devido a diversos fatores, que podem ser controlados de maneira a reduzir esse desgaste. Os principais fatores são o atrito da ferramenta com a peça, as variações de temperatura que ocorrem durante a usinagem, a formação de aresta postiça de corte, etc. O desgaste de uma ferramenta influi diretamente no acabamento da superfície a ser usinada. A seguir estão exemplificados os principais tipos de desgastes de ocorrem em uma ferramenta de corte.

Desgaste de cratera ocorre na superfície de saída da ferramenta originado pelo atrito entre ferramenta e cavaco (Figura 1).

Figura 1 – Representação esquemática de cratera na superfície de saída da ferramenta de corte.

O crescimento do desgaste de cratera resulta na quebra da ferramenta, quando esse se encontra com o desgaste de flanco evoluído. O desgaste de flanco ocorre na superfície de folga da ferramenta, causado pelo contato entre a peça e a ferramenta, sendo a forma de desgaste mais comum, e definidor da falha da ferramenta (Figura 2).

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Figura 2 - Desgaste de flanco na superfície de saída da ferramenta de corte.

Em condições de operação, um entalhe é formado na aresta principal de corte, na extremidade livre do cavaco, levando ao enfraquecimento da aresta de corte. Entalhes menores, também, são formados na aresta secundária de corte, influenciando principalmente o acabamento superficial produzido (Figura 3).

Figura 3 - Desgaste de entalhe na aresta principal da ferramenta de corte.

O desgaste de uma ferramenta de metal duro é o resultado da ação de vários fenômenos distintos, denominados componentes do desgaste. Dependendo da natureza do material usinado e das condições de usinagem, predominará uma ou outra das componentes do desgaste sobre as demais.

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Os mecanismos de desgaste como difusão, abrasão e adesão atuam isoladamente ou em conjunto, promovendo desgastes através de deformação plástica por cisalhamento, por altas tensões de compressão ou entalhe.

Sempre que estes desgastes atingirem determinados valores, que atrapalhem a qualidade da usinagem, estas ferramentas devem ser afiadas. Fazendo isto, teremos uma maior vida útil da ferramenta, melhor acabamento na usinagem e menor gasto de energia durante o processo.

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3 3. AFIAÇÃO DE BROCAS HELICOIDAIS

Vimos até agora, a importância da geometria de corte para a execução de uma usinagem de qualidade. Com as borcas helicoidais não é diferente. Será discutido neste capítulo, diferentes tipos de afiações e suas aplicações, vantagens e desvantagens.

3.1. GEOMETRIA DAS BROCAS HELICOIDAIS

Para que o cavaco removido pela broca helicoidal não seja ‘esmagado’ pela superfície principal de folga, é necessário que o ângulo lateral efetivo de folga αxe seja tanto quanto possível positivo, para qualquer diâmetro da broca. Este ângulo é dado pela relação (Figura 4)

αxe=αx+ η

Figura 4 – Geometria de uma broca helicoidal.

Verifica-se porem que o ângulo da direção efetiva de corte µ varia com o diâmetro da broca. Durante a furação, todos os pontos da aresta principal de corte descrevem hélices de mesmo passo a. o ângulo η correspondente aos pontos da aresta principal é facilmente calculado através da seguinte relação:

Tg ηa = a/(π*D) Tg ηb =a/(π*db) Tg ηc =a/(π*dc)

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Logo com a diminuição do diâmetro d, tem-se um aumento do valor do anglo η. Na parte central, o ângulo η será bem maior que na periferia da broca. Consequentemente o ângulo lateral de folga αx deverá ser na parte central bem maior, a fim de que αx seja positivo.

Como foi visto anteriormente (Figura 4), existe uma relação bem definida entre ângulo lateral de folga αx e o ângulo de folga α medido no plano de medida. Logo a afiação das brocas helicoidais deve ser tal, que permita um ângulo de folga α (consequentemente um ângulo lateral de folga αx) cada vez menor à medida que o diâmetro d diminui.

3.2. TIPOS DE AFIAÇÕES

3.2.1 AFIAÇÃO CÔNICA

O tipo de afiação mais antigo e ainda difundido é a “afiação em cone de revolução” ou simplesmente “afiação cônica”, cujo princípio está indicado na figura 4.

É o tipo mais comum de afiação por sua simplicidade, e por ser robusto o suficiente para a maioria das operações de furação. Não necessita de máquina especial para ser feito. Pode ser usado para furar aços duros ou macios, simplesmente variando o ângulo da ponta, quanto maior, mais dura à peça a ser furada. (Figura 5).

A remoção do cavaco formado durante a furação com uma broca helicoidal com afiação cônica é eficiente para furos de pequena profundidade, da ordem de 2D. Quando a profundidade dos furos aumenta, o momento de torção e a força de avanço também aumentam. De tempo em tempo, a broca deve ser retirada do furo para permitir a remoção do cavaco pelo refrigerante de corte. A remoção do cavaco é tanto mais simples quanto menor for o cavaco

Figura 5 – Ângulo de ponta na broca helicoidal com afiação cônica.

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Visando a produção em série de determinados produtos, foram desenvolvidos diversos tipos de afiações. De modo geral, cada uma apresenta vantagens para determinado tipo de aplicação.

3.2.2. CHANFRAMENTO DA ARESTA TRANSVERSAL DE CORTE

Aproximadamente 50% da força de avanço de uma broca com afiação cônica é devido à aresta transversal de corte, que ao invés de cortar amassa o material. O chanframento da aresta transversal de corte visa reduzir a força de avanço da broca, ao diminuir o comprimento da aresta transversal de corte. O chanframento da aresta transversal pode ser combinado com uma correção do ângulo de saída das arestas principais, próximo ao centro da broca.

Como mencionado acima, a principal vantagem do chanframento da aresta transversal de corte é diminuir a força de avanço durante a furação, contudo é necessário uma máquina especial, ou que haja um dispositivo de chanframento na máquina para que seja executado corretamente. Usando um rebolo de disco, a aresta transversal fica reduzida a 10% do valor inicial.

Figura 6 – Broca helicoidal com aresta transversal de corte chanfrada.

3.2.3. AFIAÇÃO COM 4 SUPERFICIES DE FOLGA

Na “afiação com 4 superfícies de folga”, cada superfície de folga da broca é substituída por duas superfícies planas, as quais permitem maior produção em alguns casos e aumento da vida da broca (Figura 7).

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Figura 7 – Afiação com 4 superfícies de folga.

3.2.4. AFIAÇÃO COM ÂNGULO DE PONTA DUPLO

A afiação com ângulo de ponta duplo é empregada especialmente na furação de ferro fundido cinzento (Figura 8). O objetivo é aumentar o comprimento das arestas principais de corte na região onde a velocidade de corte é máxima, isto é, próximo à periferia da broca, aumentando a vida.

Figura 8 – Broca helicoidal com afiação de ângulo de ponta duplo.

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3.2.5. AFIAÇÃO COM PONTA DE CENTRAGEM

A afiação com ponta de centragem oferece vantagem na furação de chapas, não devendo ser empregada na furação de grandes profundidades (Figura 9). Encontra aplicação nas indústrias de caldeirarias e de construção naval. Isto é possível devido ao menor percurso total de avanço.

Figura 9 – Afiação com ponta de centragem.

Esta vantagem se verifica somente com uma afiação cuidadosa da ponta. O ângulo de ponta pode ser aumentado até 180º, permitindo a execução de furos cegos e escalonados. Como desvantagens cita-se o maior desgaste junto à periferia, recomendando-se o emprego de um segundo ângulo de ponta de 90º. Também a correção do ângulo de saída das arestas principais de corte oferece vantagens.

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3.2.6. AFIAÇÃO CRUDZADA

A afiação cruzada obtém-se, esmerilhando parte da superfície de folga de uma broca com afiação cônica. Desta maneira o resultado final é próximo à afiação com 4 superfícies de folga, porém com 2 superfícies cônicas. A aresta transversal de corte pode ser totalmente eliminada (Figura 10).

Figura 10 – Afiação cruzada

Este tipo de afiação oferece vantagens na execução de furos profundos de materiais duros, com resistência superior a 80 kg/mm². A redução da força de avanço considerável é a principal vantagem.

Este tipo de afiação exige máquina especial para garantir a simetria.

3.2.7. AFIAÇÃO OLIVER

A afiação oliver permite reduções consideráveis tanto no momento de torção como na força de avanço. A superfície de folga recebe uma afiação em máquina especial, formando uma ponta de centragem.

O fato de esta afiação requerer uma máquina especial, constitui uma grande desvantagem.

3.2.8. AFIAÇÃO EM PONTA ESPRIRAL

A afiação em ponta espiral (spiralpoint), no momento de sua publicação, no final da década de 1950, teria sido anunciada como sendo um dos mais importantes aperfeiçoamentos das brocas helicoidais. De fato a geometria da ponta em espiral é mais vantajosa que a afiação cônica na grande maioria das aplicações.

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Figura 11 – Afiação em ponta espiral.

Algumas vantagens:

• Melhor centragem da broca, principalmente no inicio de corte. • A precisão dos furos é melhor. • Os furos têm melhor circularidade e cilindricidade. • Redução da força de avanço. • Desgaste menor da broca. • Afiação em uma única máquina.

O ângulo da ponta pode variar de 118º a 180º, porém os ângulos usuais são 118º, 135º e 180º. A aresta transversal de corte (a ponta espiral) tem formato de ‘s’.

A vida das brocas com ponta espiral é maior que a vida das brocas com afiação cônica, quando se trata da furação de materiais duros com resistência superior a 70 kg/mm².

A grande desvantagem deste tipo de afiação reside na necessidade de uma máquina especial.

3.2.9. AFIAÇÃO SHIROV

A afiação shirov (figura 12) é uma variante da afiação cruzada, desaparecendo por completo a aresta transversal de corte. Este tipo de afiação é indicado para a furação do ferro fundido cinzento e do aço com resistência inferior 70 kg/mm². A afiação shirov deve ser executada em máquina afiadora. De início, fez-se a afiação cônica normal das superfícies de folga e, em seguida, é afiado o rasgo do núcleo da broca que elimina a aresta transversal de corte, gerando duas novas arestas. Em alguns casos consegue-se um aumento de 100% do avanço.

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Figura 12 – Afiação Shirov.

3.3 TÉCNICA DE AFIAÇÃO DE PONTAS CÔNICAS

Veremos neste trabalho apenas a técnica de afiação de brocas de ponta cônica, por ser a principal.

A afiação das brocas é feita com um rebolo copo. A afiação manual é condenada numa ferramenta, pois não é possível garantir a forma desta maneira. As brocas devem ser afiadas com auxílio de dispositivos simples, ou quando a quantidade de brocas a ser afiadas periodicamente for suficientemente grande, devem ser adquiridas máquinas especiais de afiação.

Na afiação cônica, a broca é colocada frente ao rebolo, de maneira que o seu eixo geométrico forme um ângulo igual à metade do ângulo de ponta desejado com a face do rebolo. Uma vez encostada uma das arestas cortantes da broca na face do rebolo a broca é girada em torno de um eixo, denominado, “eixo de rotação do aparelho” Para que o ângulo de folga α seja positivo em qualquer diâmetro da broca, é necessário que este eixo de rotação do aparelho não seja coplanar com o eixo da broca (Figura 13). Caso contrário teria α=0, pois a curva obtida no plano de medida, pela interseção da superfície de folga (obtida nesta afiação) com este plano, seria uma circunferência cujo centro estaria no eixo da broca. É necessário, portanto, que exista uma distância ‘e’ entre o plano que contem o eixo da broca e o plano que contem o eixo de giração do aparelho. Esta distância aparece em verdadeira grandeza no plano de medida.

A figura 14 mostra os ângulos α, β e γ da broca, medidos em duas posições (plano de medida I e plano de medida II) correspondentes a dois diâmetros da broca. Quanto maior o valor de ‘e’, maior será o ângulo α. As máquinas de afiação cônica tem geralmente um excêntrico no eixo de rotação, que permite variar a distância ‘e’.

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Figura 13 – Principio de afiação de uma broca helicoidal por cone de revolução.

3.4 MÁQUINAS PARA AFIAÇÃO DE BROCAS

As máquinas para afiação de brocas podem ser bastante variadas. Desde simples suportes fixados a um esmeril, até máquinas completas e automatizadas capaz de realizar mais de um tipo de afiação. A escolha dessas máquinas está condicionada a qualidade da afiação desejada, bem como o tipo de afiação desejado, pois, como visto anteriormente alguns tipos de afiações exigem máquinas específicas, o que muitas vezes representa um custo adicional.

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Figura 14 – Suporte para afiação de broca com ponta cônica.

Figura 15 – Afiadora universal de brocas.

3.5. DEFEITOS NO USO DE BROCAS MAL AFIADAS

É necessário observar uma correta afiação para que a broca trabalhe bem. A ferramenta está bem afiada quando o cavaco sai de uma forma enrolada e contínua, e defeituosa quando o cavaco sai em pequenas partes sem enrolar. Quando a broca não está bem afiada, podemos observar alguns dos defeitos típicos (Figura 16).

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Figura 16 – Defeitos causados por erros durante a afiação.

A. Arestas de corte desiguais, o diâmetro do furo produzido é maior que a broca. B. Arestas desiguais e ângulos de corte distintos, o furo resultante é excessivamente

grande, a broca oscila. C. Ângulos de corte desiguais, ponta descentralizada. Somente uma das arestas

efetua o corte, a broca trabalha desequilibrada e tende a oscilar. D. Início do furo descentralizado. E. Correção por meio de ranhura feita com uma talhadeira. F. Início do furo corrigido.

3.6. RESUMO

A afiação cônica é a afiação mais antiga das brocas helicoidais e suas desvantagens são conhecidas. Contudo, apesar do desenvolvimento de novos tipos de afiações especiais, nenhuma delas substitui por completo a afiação cônica. A afiação cônica com chanframentos da aresta transversal de corte é ainda a afiação universal mais usada.

Tendo em vista as afiações apresentadas, podemos dizer que uma afiação “ideal” deve satisfazer algumas condições (algumas até contraditórias):

• Originar uma força de avanço pequena; • Originar um momento de torção pequeno; • Produzir furos com alargamento mínimo; • Produzir furos com bom acabamento superficial • Ser aplicável na furação de todos os materiais; • Não deve causar acidentes; • Não deve exigir precisão excessiva na afiação;

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• Deve ter uma vida longa; • Deve ser afiada numa única fixação na máquina; • Deve permitir a afiação manual; • A quantidade de material gasta na afiação deve ser pequena • O custo de afiação deve ser pequeno.

E evidente que qualquer afiação “real” deve sacrificar algumas das condições acima em beneficio de outras. Entre todas as afiações discutidas no presente capitulo, a afiação cônica normal satisfaz à maioria das condições acima.

As afiações especiais são vantajosas somente em alguns casos particulares, produção seriada. Indústrias que produzem pequenas séries de peças ou indústrias de produção variada exigem uma afiação universal a qual ainda é representada pela afiação cônica normal, eventualmente com chanframento da aresta transversal de corte. É uma afiação robusta, de fácil execução e que resiste melhor às condições variadas de trabalho.

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4 4. AFIAÇÃO DE FRESAS

As fresas são ferramentas muito caras em relação às ferramentas de barra comum para torno. Por esta razão os cuidados dispensados à sua afiação, controle e armazenamento não poderão ser relegados a segundo plano.

Para evitar variações nas dimensões é preciso que a quantidade de material a ser removido na afiação seja a mínima. Isso significa: as fresas deveram ser afiadas frequentemente. Para se afiar uma fresa com pequeno desgaste é preciso alguns minutos e as dimensões dos dentes são reduzidas em uma pequena quantidade, ao passo que para se afiar uma fresa com grande desgaste é preciso muitos minutos e uma porção muito grande do dente deverá ser sacrificada.

Quanto à afiação das fresas, realçam-se os seguintes fatos:

• Uma fresa afiada corretamente apresenta um consumo mínimo de potencia, quando em operação;

• Uma fresa afiada corretamente produz, quando em operação uma superfície usinada de melhor qualidade – o acabamento superficial normal para fresas de aço rápido varia de 1,25 a 6,3 Ra (µm), enquanto que para fresas de metal duro varia de 0,50 a 1,0 Ra (µm).

• Uma fresa afiada corretamente apresenta maior capacidade de corte com um mínimo de calor gerado em operação, significando isso maior vida da ferramenta.

Tendo em vista uma determinada operação, nem sempre é aceitável a fresa standard afiada pelo fabricante. Pode ocorrer a necessidade de se reafiar a fresa, para nela impor um determinado ângulo recomendado pela operação particular.

4.1. AFIAÇÃO DE FRESAS TANGENCIAIS

A operação de afiar fresas tangenciais é muito semelhante em todas as fresas tangenciais. A ferramenta é fixada à máquina afiadora, e com um rebolo retificamos a superfícies de folga de cada dente por igual, de maneira que no final todos os dentes tenham a mesma medida. Nas fresas de forma afiamos a superfície de saída, pois a superfície de folga é responsável pela forma final da peça usinada. Veremos em seguida mas detalhes da afiação das fresas tangenciais.

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4.1.1. AFIAÇÃO DOS DENTES FRESADOS

Os dentes fresados (ou agudos) são afiados na maioria dos casos somente na superfície de folga.

A afiação dos dentes fresados se faz dispondo-se rebolo e fresa conforme a figura 17, nela vemos 3 disposições possíveis para o caso de afiação com rebolo reto. Este tipo de rebolo é às vezes preferido por alguns afiadores de ferramentas, todavia, o seu uso deve ser controlado porque se o diâmetro do rebolo não for suficientemente grande, ao invés de formar uma superfície de folga côncava – o que é indesejável.

O sentido de rotação do rebolo pode ser qualquer, todavia, é preferível adotar o sentido em que o rebolo gire contra a aresta cortante, a fim de evitar a formação de rebarbas que deveram ser retiradas após a afiação. A figura 17 mostra o caso em que pode haver rebarba. Em particular, quando o dente for de metal duro somente se deve usar o sentido contrário do mostrado.

No caso em que a superfície de saída do dente apresentar deterioração muito grande, há necessidade de se retificar também essa região do dente. Para tanto, usa-se um rebolo cônico dos 2 lados com o mínimo diâmetro possível, disposto de maneira similar à usada na afiação de fresas de dentes dentalonados.

Note-se que na figura 17 aparece uma dimensão ‘h’ responsável pela geração do ângulo de folga na afiação.

Figura 17 – Afiação de uma fresa tangencial.

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Uma maneira prática e aproximada de se medir o ângulo de folga é a seguinte: prende-se a fresadora entre centros (pode ser o próprio eixo-arvore da fresadora, no caso da fresa já estar montada); em seguida, dispõe-se um comparador com o eixo de seu apalpador na horizontal cruzando o eixo da fresa; ajustando-se uma aresta cortante da fresa contra a ponta do apalpador. Desloca-se a mesa suporte do comparador paralelamente ao eixo de seu apalpador no sentido do apalpador percorrer a superfície folga do dente num comprimento menor que a largura dessa superfície. Mede-se exatamente este deslocamento do suporte e também o quanto o comparador acusa no seu mostrador.

No caso da fresa ser de dentes helicoidais este procedimento conduz ao ângulo de folga frontal.

A afiação se faz em cada dente após posiciona-lo com auxilio do suporte do dente como se vê na figura 17. Este suporte do dente é uma haste que serve para locar o dente que vai ser afiado. Por outro lado a fresa deverá ser mantida nessa posição através de um contrapeso ou então manualmente, durante a afiação.

4.1.2. AFIAÇÃO DE DENTES DENTALONADOS

Os dentes dentalonados são afiados somente na superfície de saída. A superfície de folga responsável pela forma da superfície fresadora não deve ser afiada para não alterar o seu perfil.

Distinguimos vários casos possíveis na afiação deste tipo de dente:

1º caso – Afiação de dentes dentalonados retilíneos, ângulo de saída nulo. Neste caso se emprega um rebolo prato disposto segundo a figura 18. É preciso que o plano da face do rebolo contenha o eixo da fresa para que o ângulo de saída seja nulo e para que o perfil fresado resultante seja correto.

Figura 18 – Afiação de fresas com dentes dentalonados com rebolo de prato.

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2º caso – Afiação de dentes dentalonados helicoidais, ângulo de saída nulo. Neste caso se emprega um rebolo cônico dos 2 lados. É preciso que a interseção da superfície de saída helicoidal do dente com qualquer plano frontal da fresa tenha seu prolongamento passando pelo eixo da fresa.

3º caso – Afiação de dentes dentalonados, ângulo de saída positivo. Neste caso se emprega um rebolo cônico dos dois lados, disposto segundo a figura 19.

Figura 19 – Afiação de fresa de dentes dentalonados com ângulo de saída positivo.

4.2. AFIAÇÃO DE FRESAS FRONTAIS

A afiação das fresas frontais pode se processar com rebolos cujo formato usual é copo reto ou copo cônico. A disposição empregada para fresa e rebolo é a da figura 20.

Figura 20 – Afiação de uma fresa frontal.

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A afiação das fresas frontais, tanto para o tipo integral quanto para o tipo de dentes, se faz afiando as superfícies de folga parte cilíndrica da parte frontal e também da parte chanfrada dos dentes. Recomenda-se retificar inicialmente a face da fresa, a fim de formar uma superfície de folga estrita com ângulo nulo, em cada dente: em seguida retificara parte cilíndrica da fresa, a fim de formar uma superfície de folga estreita com ângulo nulo em cada dente; depois se faz a mesma coisa na parte chanfrada dos dentes. Depois dessas operações preliminares é que se procede à afiação de cada dente. Nesta afiação é recomendado deixar uma pequena faixa da superfície de folga com ângulo nulo. Largura aproximada de 0,05 a 0,07 mm.

4.3. AFIAÇÃO DOS DEMAIS TIPOS DE FRESAS

Todos os demais tipos de fresas apresentam, ou dentes na parte cilíndrica ou dentes na parte frontal ou ainda dentes em ambas as partes. Desta forma são afiados segundo as recomendações do capitulo 4.1 e 4.2.

4.4. RECOMENDAÇÕES GERAIS

Toda afiação de fresa se faz por etapas sucessivas. A primeira etapa, do desbaste, é feita retirando material do dente em quantidade nunca superior a 0,01 mm por vez. Dá-se uma passada em todos os dentes com 0,01 mm; depois outra; etc. A segunda etapa, a do acabamento, é feita retirando material do dente em quantidade nunca superior a 0,003 mm por vez. Dá-se uma passara em todos os dentes com 0,003 mm; depois outra e etc.

4.4.1. CALOR GERADO NA AFIAÇÃO

Recomenda-se iniciar a operação de afiação na aresta cortante, percorrendo progressivamente a superfície que esta sendo afiada. Se esta operação for feita com leve pressão rebolo-dente da fresa, o calor gerado será pequeno, não chegando a prejudicar a tempera ou revenido da ferramenta. Não se deve usar refrigerante de corte (apenas se usa quando a operação particular requer) o que poderá provocar trincas que danificam a aresta cortante. É aconselhável, após a afiação, fazer-se uma inspeção pormenorizada com lentes nas superfícies afiadas para verificar a existência de eventuais trincas ou qualquer outra irregularidade.

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5 5. CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo, estudar as afiações em fresas e brocas. Nele podemos ver a importância de uma boa afiação nestas ferramentas de corte e as principais causas de desgaste de uma ferramenta. Vimos também os principais tipos de afiações de brocas helicoidais e a forma correta de afiar uma fresa.

Ao estudar os tipos de afiação de brocas helicoidais, podemos perceber, que dentre os tipos existentes, cada um presta melhor um tipo de serviço. Ao fazer isso, normalmente deixa de executar de maneira satisfatória outros. Com isso temos, quando buscamos aperfeiçoar os processos de furação, é necessário usar para cada tipo de furação, uma afiação diferente.

Nas fresas de um modo geral, temos um tipo de fresa mais adequado para cada serviço, cabe ao operador afiar a fresa de maneira a variar somente o ângulo de folga e saída. Contudo existe uma maneira adequada de fazer estas afiações, e certos cuidados devem ser tomados, de maneira a usar a ferramenta por toda sua vida útil.

Portanto, podemos concluir que para um que a furação e o fresamento sejam bem feitos, é necessário que a broca ou a fresa estejam adequadamente afiadas, de acordo com o tipo de usinagem e com o material usado.

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6 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]. FERRARESI, D. Associação Brasileira de Metais. Usinagem dos Metais, 1972

[2]. FERRARESI, D. Fundamentos da Usinagem dos Metais, 2003

[3]. DINIZ, A.E. Tecnologia da Usinagem dos Metais, 2000