Trabalho de Geotecnia_em Andamento
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1 - INTRODUÇÃO
Movimentos de massa são definidos como qualquer deslocamento de rochas
ou sedimentos (que são partículas de rochas) em superfícies inclinadas,
estando relacionados, principalmente, com a ação da gravidade. Trata-se de
eventos geomorfológicos deposicionais, ou seja, que transportam e depositam
sedimentos de um local para outro, portando-se como um dos mais
elementares processos de transformação do relevo.
Os movimentos de terra e solo que todos os anos provocam desastres nas
cidades brasileiras fazem parte de um tipo de fenômenos naturais
denominados movimentos gravitacionais de massa. Esses movimentos
caracterizam-se pela dissipação de significativa quantidade de energia e pelo
deslocamento de grandes massas de materiais terrestres, como rochas, solo, e
por vezes troncos de árvores, sob a ação da gravidade.
Dentre os diversos tipos de movimento de massa, como tombamentos,
escorregamentos (planar, rotacional), quedas, expansões laterais, dentre
outros está inserida as corridas de massa.
As corridas de massa caracterizam-se pela afluência de grande quantidade de
material para a drenagem. A parte argilosa deste material se mistura com a
água formando um líquido viscoso (lama), com alta plasticidade que flui para as
partes baixas. Pela sua velocidade e densidade elevadas possuí alto poder
destrutivo e extenso raio de ação. Normalmente a fonte do material que aflui
para a drenagem são escorregamentos que ocorrem a montante. Estão
associados a índices pluviométricos elevados. São movimentos que se
assemelham a avalanches.
Nos escoamentos, o material em movimento sofre intensa fragmentação
durante o processo de instabilização, passando a se comportar como um fluido
viscoso. A velocidade desse tipo de movimento pode variar desde lenta até
muito rápida. Dependendo do material envolvido no movimento, os
escoamentos podem ser subdivididos em: escoamentos ou corridas de solo ou
detritos e escoamentos ou corridas de lama.
Devido este movimento causar diversos prejuízos econômicos todos os anos
em diversos locais pelo mundo e inclusive no Brasil torna-se de suma
importância o estudo de suas principais características e consequentemente a
proposição de medidas de contenção para que se possa minimizar estes
desvios.
2 – CLASSIFICAÇÃO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS CORRIDAS
DE MASSAS
Os mecanismos de geração de corridas de massa podem ser classificados quanto à origem da seguinte forma:
Primária : corresponde as corridas de massa envolvendo somente os materiais provenientes das encostas.
Secundária : corridas de massa nas drenagens principais, formadas pela remobilização de detritos acumulados no leito e por barramentos naturais, envolvendo ainda o material de escorregamentos das encostas e grandes volumes de água das cheias das drenagens.
As corridas de massa recebem diferentes denominações, dependendo das
características do material mobilizado (textura), conteúdo d’água e das
velocidades de deslocamento. Na literatura nacional e internacional utilizam-se
termos como: corrida de lama (mud flow), consistindo de solo com alto teor de
água; corrida de terra (earth flow), cujo material predominante também é o solo,
mas com teor menor de água; e corrida de detritos (debris flow), cujo material
predominante é grosseiro, envolvendo fragmentos de rocha de vários
tamanhos.
Corrida de lama (mud flow)
Na corrida de lama o material movimentado apresenta uma alta qualidade de
água, formando verdadeiros rios de lama com grande poder destrutivo. São em
geral movimentos rápidos que acontecem inesperadamente, sendo associados
a locais de solos facilmente desagregados e a aterros (Proin – Capes & Unesp
– IGCE, 1999 ).
Armero ( Colombia, 1985).
Corrida de terra (earth flow)
Na corrida de solo o fluxo apresenta baixa quantidade de água e
consequentemente baixa velocidade relativa.
Rio de Janeiro, 2011.
Corrida de detritos (debris flow )
As corridas de detritos (ou de blocos ) são movimentos rápidos e de alta
energia, nos quais fragmentos, detritos e blocos de rochas escoam encosta
abaixo em conjunto com restos vegetais. São geralmente associados a uma
sequência de escorregamentos consecutivos, que juntam-se com blocos do
canal principal da drenagem, mobilizando uma grande quantidade de material,
com energia e poder destrutivo muito elevados.
Petrópolis ( RJ ), 1989.
O processo de corrida de massa também está associado à dinâmica de
evolução das vertentes de relevos montanhosos e, portanto, é natural que
mostre certa recorrência ao longo do tempo. Todavia, a ocupação de encostas
(pelos diferentes tipos de atividade modificadora) sem determinados critérios
técnicos pode antecipar e ampliar o processo.
Corridas associadas a rupturas de aterro, em cabeceiras de drenagem,
apresentando greides suaves e depósitos de argila orgânica, também têm sido
responsáveis por alguns acidentes importantes, como em Campos do Jordão
(SP), em 1972 (Guidicini e Nieble, 1976); e Contagem (MG), em 1992 (Fig.
Dentre algumas das principais características observadas em movimentos de
corridas de massa pode ser citado:
- Alta velocidade de movimentação das mesmas;
- Grandes volumes de materiais deslocados;
- Movimentos de grandes extensões;
- Materiais com diferentes condições de umidade/saturação;
- Comportamento de líquido viscoso em materiais saturados ( em casos onde
ocorra mud flow).
3 – FATORES QUE INFLUEM NAS CORRIDAS DE MASSA
1. Excesso de infiltração de água;
2. Presença de estratificação nas rochas;
3. Presença de falhas, diáclases e juntas;
4. Xistosidades;
5. Ação antrópica;
6. Ausência de drenagem;
7. Ausência de impermeabilização;
8. Ausência de elementos para fixação do solo.
4 – INSTRUMENTOS DE PREVENÇÃO
Diante de várias catástrofes ocorridas no Brasil relacionadas às corridas de
massa, a engenharia geotécnica e a geologia de engenharia desenvolveram
muitas repostas técnicas para as diversas situações encontradas. Entre esses
instrumentos estão a cartografia geotécnica, cartas de risco e planos de defesa
civil.
- Carta Geotécnica
Com a carta geotécnica é possível executar o zoneamento de risco. O risco
geológico é definido como uma situação de perigo, perda ou dano, ao homem
ou suas propriedades, em razão da existência de processos geológicos
induzidos ou não. Assim, por exemplo, um escorregamento de grandes
proporções que ocorra numa área desabitada apresenta um risco menor que o
mesmo fenômeno, em dimensões mais reduzidas, mas que tenha maior
probabilidade de causar danos materiais ou em vidas.
- Cartas de Risco
O mapa de riscos fornece informações sobre intensidade e probabilidade
temporal e espacial dos eventos perigosos. Representa uma avaliação dos
riscos presentes, incluindo o histórico dos efeitos dos desastres e a estimativa
de sua provável evolução, frente às mudanças registradas nas comunidades
que afetam, como o crescimento populacional e incremento do patrimônio.
- Planos de defesa civil
A partir do zoneamento de risco, são desenvolvidos os planos de defesa civil,
um conjunto de medidas e ações capazes de minimizar os efeitos dos
acidentes, envolvendo medidas de organização da comunidade e definição de
infraestrutura específica para atender situações emergenciais.
Além das situações emergenciais é preciso que técnicos e comunidades
estejam em alerta para que se possa conhecer, ainda que de maneira
aproximada, o momento e os locais prováveis de deflagração dos movimentos
de massa catastróficos. Também é necessário controlar novas ocupações em
áreas expostas a riscos, assegurando-se que novas construções sejam
resistentes aos fenômenos. E, finalmente, ter programas para reformar as
ocupações existentes, aumentando a cultura sobre riscos e criando ou
reforçando as estruturas das moradias frente aos fenômenos que ocorrem em
encostas.
Principais medidas preventivas
a) Promover uma caracterização geotécnica detalhada dos materiais incluindo:
a.1) Execução de furos de reconhecimento, a percussão, com diâmetro de 2 polegadas, para
determinação das camadas de solo, suas espessuras e resistência à penetração.
a.2) Sondagem rotativa para penetrar no solo residual mais resistente e penetrar na rocha de
modo a verificar as condições dos mesmos.
a.3) Determinação detalhada do lençol freático a qual poderá ser feita através dos furos de
sonda.
a.4) Obtenção de amostras indeformadas para ensaios de laboratório.
a.5) Execução de ensaios de permeabilidade "in situ" e ensaios de perda d´água, os quais
poderão ser executados nos furos de sonda rotativa.
a.6) Levantamento topográfico detalhado da área.
b.) Considerar os índices pluviométricos da região;
c.) Calcular os taludes mais adequados para cada caso;
d.) Dependendo do caso poderão ser adotadas as seguintes soluções:
d.1) Execução de taludes bermados com canaletas para drenagem;
d.2) Impermeabilização da superfície do talude com material betuminoso;
d.3) Perfuração do talude e colocação de tubos perfurados para drenagem profunda (tubos
drenos);
d.4) Cobertura do talude com vegetação para fixação do solo;
d.5) Execução de cortinas atirantadas;
d.6) Construção de muros de arrimo, etc.
e.) Alertar comunidades para evitar construir próximo de encostas que possam oferecer riscos
no futuro, e dependendo da situação, proibir a construção em locais de risco. Caso as
construções sejam realizadas, entrar com processo de demolição das casas para que não
tenham danos maiores com perdas de vida num futuro que pode ser muito próximo. Para que
esta ação seja tomada, durante as inspeções nas áreas de risco e conscientização do pessoal, já
deve deixar claro que se construir naquele local, as casas serão demolidas.
f.) Retirar comunidades com antecedência de locais já construídos, onde oferece riscos de
corridas de massas, ou qualquer outro tipo de sinistro, que por algum motivo demonstre que
naquele ponto pode ocorrer deslizamentos de massas, ou em regiões onde já é frequente
acontecer este tipo de atividade.
Entrevista realizada com a Geóloga da Universidade de Brasília
Conforme a professora Noris Diniz, do Instituto de Geociências da UnB, é especialista em
riscos geológicos. Já ministrou cursos sobre o tema na Espanha, Colômbia, Bolívia,
Guatemala, Cuba e Equador. Elaborou, em parceria com o professor André Assis, também da
UnB, os relatórios de riscos geológicos para a construção do trem-bala que ligará o Rio de
Janeiro a São Paulo. Criou e patenteou o sistema de gerenciamento de bases de dados
ambientais utilizados pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Na
entrevista a seguir, a professora fala de como é possível prevenir as mortes causadas por
desastres naturais, como os que aconteceram no início deste ano em Angra dos Reis e no Rio
Grande do Sul. E revela que o Brasil já possui conhecimento técnico para isso. O que falta é
mudar a tolerância da sociedade brasileira em relação à perda de vidas humanas.
UnB Agência: É possível prevenir tragédias como a que aconteceu em Angra dos Reis?
Noris Diniz:
O Brasil dispõe da identificação, do conhecimento e das tecnologias para prevenir a perda
de vidas nessas tragédias. O que está faltando hoje, na minha opinião, é um monitoramento
que utilize sensoriamento remoto, sistema de informações geográficas, mapeamentos
geológicos de risco e da geodiversidade nacional, aliados às previsões metereológicas. Tudo
acoplado a um sistema de celulares, com avisos tipo torpedos para as populações de áreas
afetadas. Se a gente não pode evitar que esses desastres naturais ocorram, com certeza é
possível reduzir o número de mortes. O que está faltando é uma articulação entre os
agentes públicos e uma linha de comunicação com as populações das comunidades que
podem ser afetadas, para que elas tenham conhecimento de quais os passos a serem
seguidos.
UnB Agência: Isso nunca foi feito no Brasil?
Noris:
Na década de 70, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo, devido
a recorrentes eventos na Serra do Mar e alguns municípios metropolitanos, começou a
estudar a condição geológica e geotécnica dos solos e a correlação com as chuvas. Foi
gerada uma curva de correlação chuvas/deslizamentos. Eles determinaram qual o
acumulado de chuvas, dentro de um período de 72 horas, que pode deflagrar deslizamentos.
Esse índice foi feito para Cubatão e para Petrópolis na época. Uma das famílias que estava
em Angra dos Reis percebeu isso intuitivamente. O pai viu que depois de três dias de chuva,
havia um risco muito grande e saiu de lá com a família. O que falta para que a sociedade
brasileira mude o seu padrão de tolerância ao risco é a comunicação dessas correlações.
Com essa informação, a pessoa pode medir a quantidade de chuva com uma garrafa pet no
quintal, e saber se existe risco de deslizamento. Esse é o indice usado para saber se a
população fica ou sai de casa. O conhecimento necessário para se fazer essa correlação a
comunidade técnico-científica brasileira já possui.
UnB Agência: É caro implementar esse tipo de plano?
Noris:
O plano preventivo funciona a partir de uma metodologia e de treinamento. Envolve custos
com viagens e seminários. Isso tem que ser feito ao longo de uma década, até que toda a
comunidade esteja envolvida. Todo ano, em setembro, antes do período de chuvas. As
autoridades já têm acesso a todas as informações necessárias, o que falta é treinamento
para se responder ao alerta. Onde aconteceram as tragédias, as informações estavam
disponíveis, só não chegaram à população. No caso do Furacão Catarina, eu mesma me
envolvi na prevenção. Um amigo meu estava na internet e viu no radar metereológico um
olho de tufão próximo à costa de Santa Catarina. Ele me mandou a imagem e eu reenviei a
outro colega, geólogo da Petrobras em Santa Catarina. Ele fez um alerta e tirou o pessoal do
mar. Mas isso dependeu de uma rede de amigos para acontecer.
UnB Agência: Em quanto tempo esse sistema demoraria para ser montado?
Noris:
Num esforço concentrado, um ano. Normalmente, dois anos. Um ano para se fazer os
inventários e mais uns seis meses para se estabelecer a correlação. Depois, seis meses de
treinamento.
UnB Agência: E por que isso não é feito?
Noris:
Existem interesses econômicos. Muitos municípios turísticos, cuja época de chuvas coincide
com a alta temporada de verão, preferem não alertar sobre os riscos para não perder
turistas. Um município com sistema de alerta implantado poderia proporcionar maior
segurança ao turista. Em Santos, populações que moravam em zonas consideras de alto
risco, zonas vermelhas no jargão da Defesa Civil, modificaram o mapa de risco com a atuação
consciente na encosta. Melhorando a drenagem e diminuido o lançamento de águas e de
lixo na encosta, a zona ficou laranja no mapa de risco. Espera-se que a sociedade, à medida
em que melhora a sua qualidade de vida, aumente a percepção sobre os riscos geológicos e
diminua sua tolerância em relação aos riscos e à perda de vidas
Conclusão
Referências
1 - ALMEIDA, F.F.M. & RIBEIRO, A.C.O. A Terra em transformação. In: OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. cap. 1, p.7-13.
2 - AUGUSTO FILHO, O. Escorregamentos em encostas naturais e ocupadas: análise e controle. In: BITAR, O.Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 1995. cap. 3.4, p.77-100.