TEMPO LIVRE DE LAZER E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE … · 2019. 5. 26. · O objetivo do presente...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ANDRÉ BOSCATTO
TEMPO LIVRE DE LAZER E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE ESCOLARES
DO MEIO-OESTE CATARINENSE
Natal
2012
ANDRÉ BOSCATTO
TEMPO LIVRE DE LAZER E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE ESCOLARES
DO MEIO-OESTE CATARINENSE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito à obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde.
Orientadora: Profª. Dra. Maria Irany Knackfuss
Natal
2012
Serviços Técnicos
Catalogação da publicação na fonte. UFRN / Biblioteca Setorial CCS.
B741e
Boscatto, André.
Tempo livre de lazer e composição corporal de escolares
do meio-oeste catarinense / André Boscatto. – Natal, 2012
69f. : il.
Orientadora Profª Drª Maria Irany Knackfuss.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde. Centro de Ciências da Saúde.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
1. Antropometria – Dissertação. 2. Composição corporal –
Adolescentes – Dissertação. 3. Estilo de vida – Dissertação.
4. Atividades de lazer – Dissertação. I. Knackfuss, Maria
Irany. II. Título.
RN-UF/BS-CCS CDU: 616-
071.3(043.3)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde:
Profª. Dra. Ivonete Batista de Araújo
iii
ANDRÉ BOSCATTO
TEMPO LIVRE DE LAZER E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE ESCOLARES
DO MEIO-OESTE CATARINENSE
Presidente da banca: Profª. Dra. Maria Irany Knackfuss UFRN
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. João Carlos Alchieri – UFRN
Prof. Dr. Arnaldo Tenório da Cunha Júnior– UFAL
Suplentes:
Prof. Dr. Wogelsanger Oliveira Pereira – UERN
Prof. Dr. Henio Ferreira de Miranda – UFRN
Aprovada em: 21/05/2012
iv
Dedicatória
A DEUS, minha fonte de força e motivação.
Meu refúgio, minha paz, meu conforto.
v
Agradecimentos
Aos meus pais, Angelo e Gema, dos quais tenho muito orgulho e honra,
pelos seus exemplos de retidão, fé, caráter, simplicidade, humildade e
generosidade, o que os tornam grandes, admiráveis. Não encontro forma
melhor de agradecer, a não ser seguir vossos passos.
Aos meus irmãos, Marcos, Luciano, Cristiane e Elaine, todos diferentes
e próprios, com peculiaridades distintas, mas que comungam comigo não
apenas o sangue, mas o apoio incondicional neste desafio, que resgatou minha
coragem nos momentos mais difíceis.
À Micheline, fiel companheira, amada esposa, excelente profissional.
Pelo seu carinho e entendimento, que hoje concede e compreende, pois já
vivenciou igual situação, reconhecendo a difícil luta de avançar
academicamente. Meu amor e meu respeito à mulher tão admirável.
À Profª. Dra. Maria Irany Knackfuss, que de tanto ouvir elogios e
reconhecimentos de outros, tive a imensurável satisfação de constatar
pessoalmente as qualidades retratadas. Como um pássaro que pretende alçar
seu primeiro voo, fui encorajado à independência e autonomia, mas não sem a
proteção materna que zela pela segurança e certeza de rota. Muito obrigado
Gringa.
Ao GRANDE Rudy Nodari Júnior, que fui presenteado em meu
aniversário em conhecê-lo. Ganhei um irmão que me reconheceu como um
acadêmico entusiasmado e viu a possibilidade de sucesso. De frases sempre
impactantes, de histórias enriquecidas pela sua criatividade, dos puxões de
orelha necessários até as conversas mais informais no meio de madrugadas
vazias. Sempre, sempre companheiro. Que nunca se deixou perder de vista,
para a certeza de poder sempre contar contigo.
vi
Aos valorosos amigos do laboratório de fisiologia. Felipe, Leonardo,
Jeniane, Danieli, Aline, Gracielle e a todos os demais. Meu trabalho foi
aquilatado pelas vossas colaborações. Sou muito grato.
A todos os outros demais amigos que acompanharam toda a luta.
Obrigado Ironi, Roberto, Everton, Arnaldo, Paulo, Vera, Humberto, João, Filipe
e a todos os demais amigos acadêmicos.
vii
Resumo
As inovações tecnológicas associadas às características de moradia, meios de
transporte e insegurança das cidades limitaram as condições e opções de lazer
e transporte ativo. O objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre o
tempo livre de lazer e composição corporal de escolares do 9º ano do ensino
fundamental (n=225) de cidades do meio-oeste catarinense. Foi utilizado o
Questionário de Comportamento dos Adolescentes Catarinenses (COMPAC)
para avaliar os indicadores comportamentais, considerando Ativos os escolares
que, durante a semana, acumulavam 300 ou mais minutos de atividade física
moderada ou vigorosa (AFMV). O tempo de 2 horas ou mais/dia determinou o
uso excessivo de TV, computador e vídeo game. Para analisar a composição
corporal foram utilizados dois critérios: o Índice de Massa Corporal (IMC) e o
Somatório de Dobras Cutâneas (ΣDC). Foi verificada uma proporção de 67,0%
de meninas e de 69,0% de meninos Ativos e mais de 98% dos escolares que
faziam uso excessivo de tempo de TV, computador e videogame. Na
classificação por ΣDC, a maior parte dos meninos apresentou níveis ótimos ou
baixos de composição corporal, enquanto mais da metade das meninas foram
classificadas em níveis altos. Já para o IMC, a maioria dos meninos e meninas
não apresentou excesso de peso. Houve diferença significativa na comparação
do total de minutos relatados por semana de AFMV entre os grupos, segundo
critério de ΣDC e IMC para meninas, mas não para IMC nos meninos. Sugere-
se que maior acúmulo em minutos de AFMV apresentaram melhores
indicadores de composição corporal. Um estilo de vida ativo, com maior tempo
dedicado à atividade física, tem relação positiva com indicadores de
composição corporal adequados em escolares do meio-oeste catarinense.
viii
Palavras-chave: Estilo de Vida, Atividades de Lazer, Composição Corporal,
Adolescente.
ix
Lista de abreviaturas e símbolos
AFMV Atividade Física Moderada ou Vigorosa
IA Insuficientemente Ativo
Tr Tríceps
Sb Subescapular
∑DC Somatório de Dobras cutâneas
IMC Índice de Massa Corporal
x
Sumário
Dedicatória ..................................................................................................... iv
Agradecimentos ............................................................................................. v
Resumo ......................................................................................................... vii
Lista de abreviaturas e símbolos .................................................................... ix
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 11
2. OBJETIVOS ............................................................................................. 13
3. JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 14
4. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................... 16
5. INDEXAÇÃO DE ARTIGOS ..................................................................... 20
6. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E CONCLUSÕES ...................................... 57
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 64
Abstract ....................................................................................................... 71
11
1. INTRODUÇÃO
Os indicadores de longevidade e qualidade de vida na maturidade vêm
sendo alcançados e mantidos com a melhora do acesso, condições de saúde e
informações sobre comportamentos adequados, principalmente sobre
alimentação e atividade física.1
As doenças crônico-degenerativas que se manifestam na terceira idade,
podem ter seu início e desenvolvimento ainda na adolescência. Desta forma,
as escolhas relacionadas ao estilo de vida e hábitos saudáveis enquanto
jovens, podem perdurar pelo resto da vida e resultar em uma vida com mais
qualidade,2 menos dependente de fármacos, intervenções médicas e demais
tratamentos a fim de sanar problemas ligados à saúde.
Os determinantes comportamentais da saúde são incorporados no
processo educacional, onde os ensinamentos de condutas saudáveis e de
estímulo à prática de exercícios físicos devem ser estimulados desde a
infância. O desenvolvimento e a manutenção de um estilo de vida ativo
refletem na promoção da saúde e da qualidade de vida dos adolescentes,
auxiliando na prevenção dos distúrbios do peso e doenças associadas.3
As inovações no mercado de tecnologia em informática e games, o uso
de redes sociais e demais atrativos da internet e televisão, associados a outros
comportamentos sedentários, tornaram as opções de lazer ativo menos
interessantes e praticadas.4 Outros fatores como a insegurança nas cidades e
a falta de estrutura para o transporte ativo e de espaços públicos destinados ao
12
esporte e ao lazer ao ar livre, se aliam às barreiras para a prática de atividades
físicas.
O conhecimento gerado sobre o nível de atividade física e o tempo
dedicado às atividades de lazer dos adolescentes fornece condições de
planejamento de ações e intervenções, no intuito de prevenir ou minimizar os
efeitos que as escolhas e os comportamentos sedentários venham causar na
saúde no decorrer da vida dos indivíduos.5,6 Assim, esta dissertação tem por
objetivo verificar a relação entre o tempo livre de lazer e composição corporal
em uma amostra de escolares do meio-oeste catarinense.
13
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral:
Verificar a relação entre o tempo livre de lazer e composição corporal de
escolares de cidades do meio-oeste catarinense.
2.2 Objetivos Específicos:
Conhecer as preferências e dedicação às atividades no tempo livre de
lazer;
Avaliar a massa corporal, a estatura e dobras cutâneas (Tr e Sb);
Estabelecer a relação entre os indicadores antropométricos e o tempo
livre de lazer dos escolares.
14
3. JUSTIFICATIVA
A adolescência apresenta algumas características, não necessariamente
exclusivas, mas próprias desta fase, que podem influenciar no estilo de vida,
tais como, a definição de uma preferência esportiva, as mudanças corporais
devido à maturação biológica, o interesse por relacionamentos de amizade e
amorosos, o acesso a determinadas tecnologias e internet, os conhecimentos
aprendidos ou não sobre conceitos de atividade física e saúde, entre outros.
As consequências destes comportamentos refletem na adoção do estilo
de vida que tende a perdurar para a vida adulta. Comportamentos sedentários
como dedicar muito tempo à televisão e aos jogos eletrônicos devem ser
combatidos.7 O incentivo à prática de atividades físicas e as mudanças nos
hábitos alimentares são medidas que podem trazer benefícios a curto, médio e
a longo prazo, evitando as formas farmacológicas e cirúrgicas do tratamento da
obesidade.8 As opções de lazer e deslocamento ativo, somada a hábitos
alimentares adequados são formas mais saudável de combater o sobrepeso e
a obesidade.
A criação e estruturação dos espaços públicos de lazer estimulam a
prática de atividades ao ar livre, promovendo o estilo de vida ativo. O
desenvolvimento de programas de promoção de exercícios físicos e o incentivo
às atividades esportivas extracurriculares são formas de intervenções no
combate aos problemas oriundos da obesidade que atingem os escolares.9
Tão importante quanto estimular a massificação do exercício é fornecer
condições para que seja realizado de forma correta. A interferência das
15
políticas públicas na estruturação de ambientes apropriados para a prática de
exercícios e a preocupação em fornecer assistência multiprofissional, pode
contribuir para a promoção da saúde das pessoas.
O conhecimento dos indicadores de comportamentos e de composição
corporal dos adolescentes contribui para a construção de políticas públicas
voltadas para a promoção de um estilo de vida saudável.
16
4. REVISÃO DE LITERATURA
Com a facilidade do acesso às informações, cada vez mais os conceitos
referentes às condutas positivas de estilo de vida são difundidas, e com isso,
as condições de saúde e qualidade de vida das pessoas vem melhorando.
Porém, alguns fatores dependem exclusivamente da forma como o indivíduo
reage ou se manifesta em relação à determinada situação, por exemplo, a
escolha entre opções ativas ou não de lazer.
Dos determinantes da saúde do indivíduo, os fatores comportamentais
tem grande importância na condução do processo de educação para a saúde
do indivíduo. Cada vez mais, o estilo de vida ativo se mostra fundamental para
a aquisição e manutenção de bons indicadores de saúde.10 Os componentes
do estilo de vida, que dependem de nossas ações, como o controle do
estresse, os relacionamentos, os comportamentos preventivos, aliados a
nutrição e atividade física, tendem a promover uma vida com maior
possibilidade de manutenção das condições positivas de saúde.
A compreensão de conceitos que levem os adolescentes a optarem por
hábitos mais saudáveis tendem a perdurar para a vida adulta, assim como
hábitos menos salutares adquiridos nesta fase da vida se tornam mais difíceis
de serem alterados. As condições para a prática de atividade física nas escolas
ou em espaços públicos juntamente com a estruturação e a segurança na
utilização de meios de transporte ativo, podem conduzir o adolescente a se
apropriar de hábitos que perdurem para a vida adulta.
17
Hábitos alimentares e de atividade física interferem diretamente na
composição corporal dos adolescentes, que nas últimas décadas, tornou-se
uma preocupação mundial, não somente pelo aumento do peso corporal em si,
mas também pelas suas complicações. Tem atingindo índices epidêmicos tanto
em países industrializados como em países em desenvolvimento, antes
marcados apenas por altos índices de subnutrição.11
No Brasil, as estimativas também mostram um quadro que se agravou
com o passar do tempo. Epidemiologicamente houve uma transição dos
indicadores referentes à nutrição. A desnutrição, uma das maiores
preocupações em países como o Brasil, declinou consideravelmente, enquanto
o sobrepeso e a obesidade passaram a apresentar índices alarmantes.12,13
O excesso de peso não é mais um problema regional.12 A prevalência de
sobrepeso e obesidade tem atingido altos índices em escolares de várias
cidades do Brasil.14-18 Mesmo sendo a obesidade um caso de saúde pública
que abrange todas as classes sociais, não parece ter despertado à atenção
necessária dos órgãos públicos no sentido de promover campanhas e ações de
reeducação alimentar e estímulos à prática de exercícios físicos.
A obesidade pode apresentar várias etiologias e complicações, porém o
que pode ser o maior determinante de seus altos índices, seriam as alterações
no estilo de vida, como a inatividade física e distúrbios alimentares.19
Atrelado ao excessivo aumento de peso total e especificamente de
massa gorda, estão as complicações conhecidas como síndrome metabólica. O
aumento da pressão arterial, as alterações no perfil lipídico e a hiperinsulinemia
estão ligadas ao surgimento de doenças crônicas como doenças
cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2.20-23
18
A gordura tende a se acumular de diversas formas no organismo, porém
a gordura visceral é mais propensa a desencadear os distúrbios metabólicos,24
assim como a gordura subcutânea abdominal, também responsável por
complicações referentes ao sobrepeso e à obesidade.25 As modificações
morfológicas dos indivíduos que apresentam obesidade centralizada,
verificadas pela relação cintura-quadril e pelo perímetro de cintura, associaram
tais indicadores à síndrome metabólica, hipertensão arterial e fatores de risco
para doenças cardiovasculares.26
Assim como a síndrome metabólica e outros problemas vinculados ao
sobrepeso e à obesidade, o excesso de peso interfere também na vida social e
psicológica das crianças e adolescentes, gerando baixa autoestima,
insatisfação da imagem corporal 27,28 e baixa qualidade de vida.29
Os benefícios ligados à atividade física referem-se à diminuição da
massa de gordura corporal30, melhora da aptidão física em geral e dos níveis
plasmáticos de lipoproteínas e triglicérides,31 dos níveis de glicose sanguínea,32
no controle da obesidade e doenças associadas.33,34
O estilo de vida sedentário, somado à obesidade na infância e
adolescência, é responsável pelo aumento dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares, como níveis elevados de pressão arterial e dislipidemias.35-37
Estudos como o de Hughes et al38 relatam a diminuição do tempo de
atividade física e do gasto energético por parte das crianças, sendo que as
obesas se exercitam menos que crianças não obesas, apresentando um baixo
gasto energético e um perfil insuficiente de atividade física.39,40
Com as atualizações constantes e as novidades nos negócios de
informática e jogos eletrônicos, e o tempo despendido em frente à TV, estas
19
passaram a ser opções bastante escolhidas de lazer, fazendo com que as
brincadeiras ao ar livre e demais tipos de jogos ou atividades esportivas,
fossem deixados para trás.
A falta de atividade física nos escolares também está ligada ao tempo
gasto em assistir televisão, que está relacionada no aumento do peso e
gordura corporal.41,42 Associado à permanência em frente à televisão está o
hábito de se alimentar, geralmente com alimentos hipercalóricos,43,44 que pode
resultar em maior propensão ao desenvolvimento da obesidade e de outras
doenças causadas pela hipocinesia. Além das doenças que podem ser
provocadas, o sobrepeso e obesidade também estão relacionados à morte
prematura.45
Para a diminuição da incidência de sobrepeso e obesidade deve-se
estimular a mudança do estilo de vida, pois o aumento da atividade física e a
diminuição dos hábitos sedentários têm relação direta com o ganho de peso e
gordura corporal46 e na diminuição dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares.47 Assim, ficam evidentes os efeitos positivos de um estilo de
vida ativo, devendo-se manter níveis de atividade física adequados, a fim de
adquirir os benefícios que o exercício regular e orientado promove, como a
melhora da aptidão física.48
20
5. INDEXAÇÃO DE ARTIGOS
5.1 – ARTIGO PUBLICADO – Indicadores cronológico, morfológico e funcional
e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo
comparativo – Periódico: Revista Motricidade 3 (1): 315-322, 2007;
Qualis Capes – “B4” – Medicina II
21
22
23
24
25
26
27
28
29
5.2 – ARTIGO PUBLICADO – Relação do índice de desenvolvimento humano e
as variáveis nutricionais em crianças do Brasil – Periódico: Revista Salud
Pública 10 (1): 62-70, 2008.
Qualis Capes – “B3” – Medicina II
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
5.3 – ARTIGO SUBMETIDO – Tempo livre de lazer e composição corporal de
escolares do meio-oeste catarinense (Periódico: Anales Del Sistema
Sanitário de Navarra, 2012)
Qualis Capes – “B3” – Medicina II
TEMPO LIVRE DE LAZER E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE ESCOLARES
DO MEIO-OESTE CATARINENSE.
FREE TIME FOR LEISURE AND BODY COMPOSITION OF STUDENTS IN
THE MIDWEST CATARINENSE.
André Boscatto Graduação em Educação Física. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. [email protected] Elaine Caroline Boscatto Graduação em Educação Física. Mestre em Educação Física – Universidade Federal de Santa Catarina. UFSC – Florianópolis. [email protected] Rudy José Nodari Júnior Graduação em Educação Física. Doutor em Ciências da Saúde. Universidade do Oeste de Santa Catarina. UNOESC – Joaçaba. [email protected] Maria Irany Knackfuss Graduação em Educação Física. Doutora em Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. UFRN – Natal. [email protected] Prof. Dra. Maria Irany Knackfuss Departamento de Educação Física Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Universidade Federal do Rio Grande do Norte Campus Universitário, 3000, Lagoa Nova CEP: 59078-970 – Natal, RN Tel: 55 (84) 3314-5373 – 99539727 Email: [email protected]
40
Introdução
As inovações tecnológicas trouxeram facilidades e conforto para todas
as pessoas. Especialmente para as crianças e adolescentes em idade escolar,
a televisão, o vídeo game e o computador, tomaram o lugar das brincadeiras e
atividades esportivas. Evidências recentes demonstram que os
comportamentos sedentários, assim denominados por apresentarem baixo
gasto energético (inclui tempo deitado ou sentado, despendido no uso de TV,
computador) estão associados a fatores de risco à saúde em diversas
populações,1 inclusive em adolescentes.2
Não somente os hábitos sedentários, mas também o descontrole
alimentar, caracterizado pela ingestão de alimentos hipercalóricos,3 podem
resultar em maior propensão ao desenvolvimento da obesidade e de suas
comorbidades4 causadas pela hipocinesia, as quais geralmente perduram para
a vida adulta.5
O estilo de vida saudável, com níveis adequados de atividade física e
bons hábitos alimentares, têm relação direta com o controle de peso, gordura
corporal e com a diminuição dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares.6 Os efeitos positivos de um estilo de vida ativo e a melhora
da aptidão física, mantendo-se níveis de atividade física adequados, leva à
aquisição dos benefícios que o exercício regular e orientado promove.
Considerando a tendência secular de sobrepeso e obesidade em
crianças e adolescentes7,8 e a sua relação com baixos níveis de atividade física
nesta população,9,10 o objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre o
tempo livre de lazer e composição corporal em uma amostra de escolares do
meio-oeste catarinense.
Materiais e Métodos
O estudo descritivo, de cunho transversal, pesquisou 225 escolares de
ambos os sexos, com faixa etária entre 13 e 17 anos, matriculados no 9º ano
de escolas municipais, estaduais e particulares das cidades de Herval d’Oeste,
Joaçaba e Luzerna, na região meio-oeste de Santa Catarina. Os participantes
preencheram uma ficha de dados com data de nascimento, sexo, rede de
ensino, período e escola que estudam. Também responderam à terceira parte
41
do COMPAC11 – Questionário de Comportamento dos Adolescentes
Catarinenses que trata das “Características da Educação Física e Atividade
Física Habitual”. Este instrumento serve para avaliar o estilo de vida, reunindo
um conjunto de informações tais como, ocupação do tempo livre e preferências
do lazer, tempo dedicado à TV, computador e videogame, tipos de
deslocamentos para a escola, frequência e duração de práticas esportiva e de
outras atividades físicas. Foram considerados Ativos os escolares que, durante
a semana, acumulavam 300 ou mais minutos de atividade física moderada ou
vigorosa (AFMV), e Insuficientemente Ativos (IA) os que não alcançavam tal
soma.12 Foi utilizado o tempo de 2 horas ou mais/dia para determinar o tempo
excessivo de uso de TV, computador e videogame.13
Para verificar a composição corporal, as seguintes medidas foram
coletadas com os respectivos materiais e procedimentos: a) Massa corporal:
balança mecânica com capacidade para 150 quilos, da marca Welmy, com
precisão de 100 gramas; O avaliado se posicionou em pé, de costas para a
escala da balança, com afastamento lateral dos pés, estando a plataforma
entre os mesmos. Em seguida, se colocou sobre o centro da plataforma, ereto
e com olhar num ponto fixo a sua frente; b) Estatura: estadiômetro acoplado à
balança com precisão de 0,1 cm; A medida foi feita com o avaliado em apneia
inspiratória, minimizando possíveis variações sobre esta variável
antropométrica. A cabeça foi orientada segundo o plano de Frankfurt, paralela
ao solo. A medida foi feita com o cursor em ângulo de 90º em relação à escala;
c) Dobras cutâneas de Tríceps e Subescapular: plicômetro científico marca
Sanny, com precisão de 0,1mm e pressão constante de 10g/cm2; Triciptal: foi
determinada paralelamente ao eixo longitudinal do braço, na face posterior,
sendo seu ponto exato de reparo a distância média entre a borda súpero-lateral
do acrômio e o olecrano. Subescapular: foi obtida obliquamente ao eixo
longitudinal seguindo a orientação dos arcos costais, estando localizada 2 cm
abaixo do ângulo inferior da escápula. Para analisar a composição corporal
foram utilizados dois critérios: 1) Somatório de Dobras Cutâneas (ΣDC),
estabelecido por Lohman14 e 2) Índice de Massa Corporal (IMC), utilizando-se o
ponto de corte estipulado por Conde e Monteiro.15 De forma a adequar as
análises estatísticas, foram agrupadas as categorias para ΣDC em: Baixo
42
(muito baixo + baixo) / Nível ótimo / Alto (moderadamente alto + alto + muito
alto) e para IMC em: Sem excesso de peso (baixo peso + peso ideal) / Com
excesso de peso (excesso de peso + obeso).
Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva (média,
desvio-padrão) frequência absoluta (n) e relativa (%). O teste Qui-quadrado foi
aplicado para comparar os percentuais entre os grupos. Para comparações
entre as médias dos grupos, na classificação de ΣDC, aplicou-se o teste
ANOVA One Way, com a Correção de Welch e Post Hoc de Games-Howell. Na
classificação de IMC, foi utilizado o teste de Mann-Whitney. O nível de
significância aceito foi de 5%.
Esta pesquisa foi submetida e recebeu aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa – CEP/UNOESC/HUST (nº 123/2010) e está de acordo com a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados
Participaram do estudo 225 escolares, sendo 50,2% (n=113) do sexo
masculino com média etária de 15,01 ±0,87 anos, e 49,8% (n=112) do sexo
feminino com média etária de 14,82 ±0,81 anos. A média de idade se enquadra
ao esperado para a faixa etária de escolares do 9º ano, porém apresenta uma
grande dispersão (dados não mostrados), principalmente nas redes públicas,
refletindo uma defasagem educacional.
A maioria frequenta escolas de administração pública, sendo que mais
da metade pertence à rede municipal (Figura 1). Quanto à referência sobre o
tipo de transporte utilizado no trajeto casa/escola/casa, exceto para os meninos
da rede estadual, o trajeto é feito a pé por mais da metade dos escolares,
atingindo 75,0% no grupo masculino da rede particular. A bicicleta é pouco
utilizada, não havendo relatos no grupo masculino e no feminino da rede
particular.
A Tabela 1 apresenta os tipos de atividades realizadas no tempo livre de
lazer pelos escolares. Os esportes coletivos, como futebol e vôlei, apresentam
os maiores índices de participação, sendo a 1ª opção de atividade em ambos
os sexos. Outras opções mais referidas são as atividades de caminhada,
ciclismo ou corrida, que apresentam proporção parecida com as atividades de
43
baixo gasto energético, como o uso de aparelhos eletrônicos e a leitura, tanto
para meninas, quanto para meninos. As meninas não praticam esportes com
raquetes, nem atividades de lutas. O não relato de atividades é crescente em
ambos os sexos.
A proporção de escolares Ativos praticamente não difere entre meninos
e meninas, sendo de 69,0% e 67,0%, respectivamente. Mais de 98% dos
escolares fazem uso excessivo de TV, computador e videogame,
ultrapassando 2 ou mais horas diárias dedicadas a tais atividades (dados não
mostrados).
Na Tabela 2 é demonstrada a estimativa de composição corporal por
meio do ΣDC e IMC. A maior parte dos meninos tende a índices adequados ou
baixos de composição corporal. Nas meninas, a disparidade é maior, sendo
que mais da metade apresenta distúrbios de excesso de peso. Porém, não
houve diferença significativa entre os grupos (p>0,05). Utilizando o IMC como
parâmetro de análise, foi possível observar que a maioria dos meninos e
meninas, de ambos os grupos, não possuem Excesso de Peso. Não houve
diferença significativa na classificação do IMC entre os grupos (p>0,05).
Fazendo a análise baseada no tempo gasto em minutos por semana,
nas atividades de deslocamento e lazer, observa-se que há uma relação
inversamente proporcional entre o tempo despendido com os indicadores de
composição corporal, com exceção apenas para o grupo feminino na
classificação de ΣDC. As diferenças entre as médias dos grupos foram
significativas (p<0,05) na classificação de ΣDC, para ambos os sexos e na
classificação de IMC, somente para o sexo feminino (Tabela 3).
Não foram apresentados dados de associação relacionando o tempo de
TV, computador ou videogame, pelo fato de quase 100% da amostra fazer uso
excessivo de tais atividades, não sendo possível diferenciar ou estipular grupos
distintos para a análise.
Discussão
Mais da metade dos escolares apresentou forma de deslocamento ativo
no trajeto casa/escola/casa, porém a utilização da bicicleta quase não é
mencionada, provavelmente pelas características geográficas da região, que é
44
bastante acidentada e montanhosa. As características presentes em um
ambiente seja ele natural (clima, vegetação, topografia) ou construído
(construções, espaços, criados ou modificados pelo homem), interferem no
comportamento humano e refletem nos padrões de atividade física.16 Por
exemplo, entre os adolescentes de Curitiba-PR, aqueles que perceberam
menor acessibilidade, ausência de equipamentos ou de atividades de sua
preferência nos espaços públicos da cidade, utilizavam menos os locais para a
prática de atividade física.17 Locais com alto índice de mobilidade são aqueles
caracterizados por apresentarem locais para atividades físicas, facilidades para
caminhar e andar de bicicleta e segurança em relação ao tráfego e a
criminalidade.18
Nas opções de atividades realizadas no tempo livre, foi alto o relato de
atividades de lazer ativo, sendo os esportes coletivos a preferência dos
adolescentes, provavelmente por proporcionar reunião entre os amigos e a
própria diversão pela atividade. Outras opções bastante procuradas foram as
atividades cíclicas e que envolvem menores grupos, como a caminhada, a
corrida e os passeios e deslocamento de bicicleta. Tendo boa procura por
estas atividades, cabe às políticas públicas de lazer, criar e manter espaços
públicos destinados a tais práticas, de modo a reduzir o tempo de
sedentarismo.19 Parques com áreas esportivas, pistas de caminhada e ciclovias
facilitam a busca por essas opções. Muitas cidades não foram planejadas ou
não disponibilizam áreas de lazer ativo. A maior preocupação com a moradia,
as atividades de comércio e a necessidade dos deslocamentos, fizeram com
que as áreas verdes e espaços de lazer não tivessem importância no
planejamento e organização urbana.
A maioria dos adolescentes deste estudo foi classificada como Ativos, ou
seja, acumulavam 300 minutos ou mais de atividade física semanal, no entanto
a quase totalidade fazia uso excessivo de TV, computador e videogame,
ultrapassando 2 horas diárias. Apesar destes comportamentos apresentarem
associação,1,10 os mesmos são considerados independentes, por envolverem
processos biológicos diferentes,2,20 onde o tempo prolongado de
comportamento sedentário está associado a fatores de risco à saúde,
independentemente da prática moderada ou vigorosa de atividade física.21
45
Os resultados aqui apresentados são mais altos, tendo como referência
escolares do 9° ano de todas as capitais brasileiras e Distrito Federal, onde a
proporção de meninos e meninas ativos foi de 56,2% e 31,3% respectivamente,
mas se assemelham quando avaliadas as capitais da região sul (Florianópolis-
SC e Curitiba-PR), as quais tiveram mais da metade dos jovens atingindo as
recomendações.22 Porém, são mais baixos quando comparando com estudo
realizado em escolares catarinenses, com idades entre 15 e 19 anos.23
Em estudos que utilizaram metodologias diferentes, as prevalências de
inatividade física foram de 45,5% nos meninos e 64,2% nas meninas com
idades entre 14 e 18 anos, de João Pessoa-PB24 e 43,2% nos meninos e
66,8% nas meninas com idades entre 11 e 17 anos do município de Caxias do
Sul.25 Os adolescentes investigados pelo National Health and Nutrition
Examination Survey (NHANES) nos Estados Unidos,1 foram considerados o
segundo grupo mais sedentário, atrás apenas daqueles com idades superior a
60 anos. Uma das razões destacadas foi pelas responsabilidades escolares e
funções sociais, que aumentam com a chegada da idade adulta, obrigando
muitas vezes o indivíduo a passar boa parte do tempo sentado.
Os achados com relação ao tempo excessivo de TV, computador e
videogame são superiores aos estudos com adolescentes brasileiros de
diversas regiões10,22,26 e quando comparados a estudos internacionais.21 A
Associação Americana de Pediatria recomenda que o tempo despendido em
televisão e em jogos eletrônicos não deve ultrapassar 2 horas diárias, em
crianças e adolescentes.13 Estudo com adultos indicou que a interrupção dos
períodos de inatividade podem se relacionar a um melhor perfil metabólico.27
Apesar de indivíduos fisicamente ativos apresentam melhores
indicadores de composição corporal, não foi encontrado diferença significativa
entre os grupos, tanto na análise por ΣDC quanto por IMC, em ambos os
sexos. As meninas apresentaram níveis mais altos de classificação da
composição corporal em comparação com os meninos, diferente de dados
encontrados em outros estudos com adolescentes, onde o excesso de peso
corporal foi mais prevalente no sexo masculino em escolares catarinenses10 e
em adolescentes australianos,21 no entanto, também não foram observadas
diferenças significativas entre os grupos ativos e não ativos10 e entre os grupos
46
com comportamento sedentário excessivo ou não.21 Um dado interessante é
que os meninos australianos que gastavam menos de duas horas por dia em
frente à TV ou computador, apresentaram menor prevalência de
sobrepeso/obesidade do àqueles que gastavam mais de duas horas por dia.
Esse fato não foi observado no sexo feminino.21 Ressalta-se que ambos os
estudos utilizaram classificações distintas na avaliação do IMC.
Em contrapartida, na análise baseada no tempo gasto em minutos por
semana nas atividades de deslocamento e lazer, a maioria dos grupos
apresentou diferenças significativas entre as médias, onde as maiores médias
concentraram-se basicamente nos grupos com melhor composição corporal,
em ambos os sexos e classificações. Fica demonstrado neste estudo que os
escolares classificados com distúrbios de peso, em média, alcançam ou pouco
ultrapassam o ponto de corte de 300 mim/ semana, o que parece não ser
suficiente para apresentar indicadores positivos de composição corporal. As
evidências mostram que as chances dos adolescentes apresentarem excesso
de peso diminui à medida que a atividade física aumenta,9,10,28 enfatizando que
para manter níveis adequados de composição corporal, são necessários
minutos extras de atividades moderadas e vigorosas.
Alguns pontos fortes podem ser destacados, como a verificação de
indicadores relacionados ao estilo de vida e composição corporal de
adolescentes, considerado um grupo em transição etária, onde os
comportamentos podem perdurar até a vida adulta. Além do mais, o estudo
concentrou-se na região meio-oeste catarinense, trazendo dados específicos
dessa região, já que a maioria dos dados na literatura está relacionada à
capital do estado. Como limitações incluem-se o delineamento transversal, que
não permite estabelecer relação de causa e efeito entre o estilo de vida e
composição corporal, por serem avaliados em um único período de tempo. O
uso de questionários pode ser limitante ao passo que os participantes podem
subestimar ou superestimar algumas variáveis investigadas. Apesar de
existirem instrumentos mais precisos para avaliação do nível de atividade física
e comportamentos sedentários, como por exemplo, os acelerômetros, os meios
aqui utilizados são bastante empregados em estudos epidemiológicos e, para
47
efeito de comparação, utilizaram-se dois métodos para a classificação da
composição corporal.
Os resultados permitiram concluir que, apesar da maioria dos escolares
serem classificados como ativos e relatarem formas ativas de deslocamento e
opções de lazer, a quase totalidade faz uso excessivo de TV, computador e
videogame, ultrapassando 2 ou mais horas diárias. Não foi observada diferença
significativa entre os grupos ativos e IA para classificação da composição
corporal, no entanto, houve diferença entre as médias de minutos por semana
nas atividades de deslocamento e lazer, da maioria dos grupos, onde níveis
mais baixos e adequados de composição corporal apresentaram maiores
médias de minutos despendidos nas atividades. Um estilo de vida com
comportamentos positivos, onde são inseridas opções de lazer ativo, tem
relação positiva com indicadores de composição corporal adequados em
escolares do meio-oeste catarinense.
Como sugestões, a realização de estudos longitudinais poderá
acrescentar informações importantes acerca da influência dos comportamentos
relacionados ao estilo de vida na composição corporal e vice-versa, bem como
a utilização de acelerômetros para quantificar com maior precisão as atividades
físicas e comportamentos sedentários. Condições seguras e adequadas para
transporte ativo, orientação e estímulo à prática de atividades físicas e a
adoção de hábitos alimentares saudáveis devem estar presentes dentro e fora
da escola, em diversas faixas etárias, bem como políticas destinadas à redução
do tempo de comportamentos sedentários.
48
RESUMO
As inovações tecnológicas associadas às características de moradia, meios de
transporte e insegurança das cidades limitaram as condições e opções de lazer
e transporte ativo. O objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre o
tempo livre de lazer e composição corporal de escolares do 9º ano do ensino
fundamental (n=225) de cidades do meio-oeste catarinense. Foi utilizado o
Questionário de Comportamento dos Adolescentes Catarinenses (COMPAC)
para avaliar os indicadores comportamentais, considerando Ativos os escolares
que, durante a semana, acumulavam 300 ou mais minutos de atividade física
moderada ou vigorosa (AFMV). O tempo de 2 horas ou mais/dia determinou o
uso excessivo de TV, computador e vídeo game. Para analisar a composição
corporal foram utilizados dois critérios: o Índice de Massa Corporal (IMC) e o
Somatório de Dobras Cutâneas (ΣDC). Foi verificada uma proporção de 67,0%
de meninas e de 69,0% de meninos Ativos e mais de 98% dos escolares que
faziam uso excessivo de tempo de TV, computador e videogame. Na
classificação por ΣDC, a maior parte dos meninos apresentou níveis ótimos ou
baixos de composição corporal, enquanto mais da metade das meninas foram
classificadas em níveis altos. Já para o IMC, a maioria dos meninos e meninas
não apresentou excesso de peso. Houve diferença significativa na comparação
do total de minutos relatados por semana de AFMV entre os grupos, segundo
critério de ΣDC e IMC para meninas, mas não para IMC nos meninos. Sugere-
se que maior acúmulo em minutos de AFMV apresentaram melhores
indicadores de composição corporal. Um estilo de vida ativo, com maior tempo
dedicado à atividade física, tem relação positiva com indicadores de
composição corporal adequados em escolares do meio-oeste catarinense.
Palavras-chave: Estilo de Vida, Atividades de Lazer, Composição Corporal,
Adolescente.
ABSTRACT
The aim of this study was to investigate the relationship between free time for
leisure and body composition of students in the crucial ninth year. (N = 228) of
towns in the Midwest catarinense. We used the Adolescent Behavior
Questionnaire of Santa Catarina (COMPAC) to assess lifestyle, considering that
Active schoolchildren during the week, accumulated 300 or more minutes of
moderate or vigorous physical activity (MVPA). Were used the time to 2 hours
or more / day to determine the time of excessive use of TV and computer video
game. To analyze body composition were used two criteria: the Body Mass
Index (BMI) and sum of skinfolds (EDC). It was observed a proportion of 67.3%
of girls and 68.7% of boys assets and more than 98% of students were using
excessive TV time, computer and video game. In the classification by EDC,
most of the boys showed great or low levels of body composition, while more
than half of girls were classified at higher levels. As for BMI, most boys and girls
had not overweight. Significant difference in the comparison of total minutes per
week of MVPA reported between the groups, the second criterion of EDC and
BMI for girls but not for BMI in boys. It is concluded that students with higher
accumulation in minutes of MVPA showed better body composition indicators,
but no significant difference was found when compared active groups with
inactive, according to criteria used.
Keywords: Lifestyles, Leisure Activities, Body Composition, adolescents.
50
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52
Figura 1A. Distribuição do grupo masculino quanto ao tipo de transporte utilizado para o deslocamento à escola, divididos por rede de ensino (Herval d’Oeste, Joaçaba e Luzerna – SC, 2010).
53
Figura 1B. Distribuição do grupo feminino quanto ao tipo de transporte utilizado para o deslocamento à escola, divididos por rede de ensino (Herval d’Oeste, Joaçaba e Luzerna – SC, 2010).
54
Tabela 1. Relação dos tipos de atividades realizadas no tempo livre de lazer, divididas por sexo e 1ª, 2ª e 3ª opção de preferência (Herval d’Oeste, Joaçaba e Luzerna – SC, 2010).
Tipo de Atividade
Masculino Feminino
1ª
(%)
2ª
(%)
3ª
(%)
1ª
(%)
2ª
(%)
3ª
(%)
Academia/dança/musculação
/alongamento/yoga/ginástica 5,3 2,7 5,3 8,9 3,6 7,1
Atividades aquáticas 1,8 1,8 3,6 0,0 3,6 1,8
Atividades da vida diária 0,9 0,9 0,9 3,6 1,8 3,6
Atividades sociais 2,7 4,4 5,3 4,5 5,4 8,0
Caminhada/ciclismo/corrida 14,2 24,8 15,8 17,9 20,3 17,9
Esportes coletivos 45,8 26,4 13,3 25,7 17,0 8,9
Esportes com raquete 1,8 0,9 1,8 0,0 0,0 0,0
Leitura/ouvir música 9,7 10,6 8,8 18,8 17,9 13,4
Lutas 0,9 0,0 0,9 0,0 0,0 0,0
Não relatou 0,0 6,2 20,4 4,5 7,1 17,0
Outros 2,7 2,7 7,1 3,6 9,0 8,9
TV/computador/ vídeo game 14,2 18,6 16,8 12,5 14,3 13,4
55
Tabela 2. Classificação do Somatório de Dobras Cutâneas (ΣDC) e do Índice de Massa Corporal (IMC), categorizadas por Sexo (Herval d’Oeste, Joaçaba e Luzerna – SC, 2010).
Classificação de
ΣDC Masculino n (%) p Feminino n (%) p
IA Ativo IA Ativo
Baixo 07 (20,0) 33 (42,3) 02 (5,4) 05 (6,7)
Ótimo 17 (48,6) 31 (39,8) 0,054 06 (16,2) 28 (37,3) 0,059
Alto 11(31,4) 14 (17,9) 29 (78,4) 42 (56,0)
Classificação de
IMC Masculino n (%) p Feminino n (%) p
IA Ativo IA Ativo
Sem Excesso de
peso 25 (71,4) 65 (83,3)
0,23
22 (59,5) 57 (76,0)
0,11 Com Excesso de
peso 10 (28,6) 13 (16,7) 15 (40,5) 18 (24,0)
56
Tabela 3. Média e Desvio Padrão do total de minutos relatados por semana de atividade física como deslocamento e lazer, separados segundo sexo e a Classificação de ΣDC e IMC.
Classificação de
ΣDC Masculino p Feminino p
Baixo 576,65 ± 327,72a 469,29 ± 386,31ab
Ótimo 514,27 ± 417,43ab 0,01* 664,38 ± 432,49a 0,02*
Alto 369,96 ± 208,42b 408,52 ± 233,62b
Classificação de IMC
Sem Excesso de peso 534,79 ± 375,01 0,08
528,66 ± 362,14 0,03**
Com Excesso de peso 385,61 ± 229,84 397,42 ± 234,93
* Significativo (p<0,05) para o teste ANOVA One Way. ab: Letras diferentes indicam significância estatística para Post Hoc de Games-Howell. ** Significativo (p<0,05) para o teste Mann-Whitney
57
6. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E CONCLUSÕES
Atuando na educação básica como professor de Educação Física desde
1999, observamos, mesmo empiricamente, o surgimento de distúrbios
relacionados ao peso. Quando na realização, das então chamadas aferições
biométricas, geralmente no início do ano letivo, constatávamos então uma
relação desproporcional entre massa corporal e estatura cada vez mais
frequente e precoce. Porém os dados não eram corretamente tratados e
acabavam por se perder, tendo nenhuma aplicação subsequente para alguma
orientação à família ou cuidado direto ao estudante.
Com o avanço dos estudos no Curso de Especialização em Fisiologia do
Exercício, realizado na Universidade Veiga de Almeida, entre 2002 a 2004,
tivemos uma nova abordagem sobre a antropometria e sua aplicação na
população de escolares. Decidimos então, em conjunto com demais
professores da rede de ensino em que atuávamos coletar e tratar mais dados
referentes à composição corporal de escolares, seguindo protocolos e métodos
adequados à pesquisa.
Tendo alguns trabalhos realizados em conjunto com o Prof. Dr. Rudy
José Nodari Júnior, professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina –
UNOESC – Joaçaba/SC, fomos convidados a participar como pesquisador do
grupo de pesquisa Variáveis Biofísicas, Antropométricas e Dermatoglíficas na
Performance Humana. Vários estudos foram realizados, apresentados e
publicados na forma de resumo na Revista Brasileira de Ciência e Movimento,
com temas relacionados à composição corporal de escolares, tendo um destes
58
estudos, a abrangência de mais de 4.400 escolares. Neste processo de
trabalho com escolares, fomos convidados a participar como coorientador e
membro de banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação intitulado “Perfil do estado nutricional em escolares do município de
Fraiburgo”, pela Universidade do Contestado, UNC, Caçador/SC, onde foi
verificado via programa PED2000, a incidência dos estados de desnutrição,
eutrofismo ou obesidade em crianças nascidas no ano de 2000, das redes
públicas e particulares de ensino.
Em setembro de 2006, fomos convidados pelo Prof. Rudy, então
doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCSa),
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal/RN, a participar
como pesquisador associado e ouvinte das aulas, onde também foram
verificados os métodos, os grupos de estudo e a forma como os mestrandos e
doutorandos conduziam seus estudos e projetos. Nesta ocasião, surgiu a
possibilidade de acesso ao programa, com a tendência de estudos voltados à
obesidade em crianças e adolescentes.
No ano seguinte, fizemos o processo seletivo para o Programa de
mestrado na UFRN e fomos aprovados para cursar as disciplinas com o projeto
inicial intitulado Modificações morfológicas de escolares obesos e com
sobrepeso submetidos a um programa de exercício físico, sob a orientação da
Profª. Dra. Maria Irany Knackfuss. Como parte do processo para a pesquisa do
projeto principal, desenvolvemos, em conjunto com os demais mestrandos do
programa, um estudo piloto onde se buscou o entendimento do fluxograma de
abordagem dos escolares, consentimento, coleta, tratamento de dados e
publicação científica. Com os resultados obtidos, submetemos à Revista
59
Motricidade, de Portugal, o artigo: Indicadores cronológico, morfológico e
funcional e os estágios da maturidade em escolares do Nordeste do Brasil: um
estudo comparativo (2007).
Como continuação dos estudos, porém com a proposta de aumentar a
abrangência da pesquisa, foram coletados dados referentes aos indicadores de
composição corporal de cidades de três regiões brasileiras, verificando suas
características e indicadores de desenvolvimento. Com os resultados obtidos,
submetemos à Revista de Salud Pública, da Colômbia, o artigo intitulado:
Relação do Índice de Desenvolvimento Humano e as Variáveis Nutricionais em
Crianças do Brasil (2008).
A partir destes estudos, objetivando a realização do projeto de pesquisa,
foi apresentado um projeto de extensão à UFRN, de formação de grupos de
escolares obesos e com sobrepeso, a fim de promover a intervenção com
orientação nutricional aos familiares e programa de exercícios físicos aos
escolares que atendiam aos pré-requisitos necessários à inclusão para a
pesquisa. O projeto não teve êxito devido a entraves operacionais relacionados
à disponibilidade de estrutura e recursos humanos necessários.
No início do ano letivo de 2008, apresentamos à Secretaria de Educação
de Fraiburgo/SC, uma proposta aos mesmos moldes do projeto de intervenção
proposto à UFRN. O projeto tinha por objetivo promover a intervenção, por
meio de um programa de exercícios físicos, em escolares com distúrbios
relacionados ao peso. Os procedimentos se dariam com a avaliação
antropométrica de todos os escolares da rede municipal de ensino; a
organização de grupos de intervenção; planejamento e execução de programas
de exercícios físicos e orientações nutricionais aos escolares selecionados;
60
reavaliação antropométrica e reorganização da metodologia da intervenção,
quando se fizessem necessárias. Porém, a proposta não foi aceita devido a
custos relativos à contração de pessoal e organização de estrutura física.
Desta forma, verificamos a não viabilização do projeto inicial, onde se
fazia necessário uma intervenção de médio a longo prazo, provavelmente
durando todo o ano letivo, não sendo possível obter o apoio necessário para a
concretização do programa, se tornou inviável o custeio do processo pelo
próprio pesquisador.
No desenvolvimento de um novo projeto, levamos em conta a
possibilidade real de execução, relevância acadêmica e importância social
equiparada ao estudo inicial. Verificamos a necessidade de conhecimento
sobre os hábitos cotidianos acerca dos adolescentes catarinenses e possíveis
consequências destes hábitos em suas vidas. Desta forma, desenvolvemos o
projeto Estilo de vida, tempo livre de lazer e composição corporal de escolares
do meio-oeste catarinense. Pela proximidade com a universidade, o projeto foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas da UNOESC –
Hospital universitário Santa Terezinha – Joaçaba/SC. Estudamos adolescentes
de ambos os sexos, entre 13 e 17 anos do 9º ano do ensino fundamental, das
redes públicas e privada de ensino das cidades delimitadas na pesquisa,
objetivando verificar a relação entre o estilo de vida, tempo livre de lazer e
composição corporal. Esta população apresenta algumas características, não
necessariamente exclusivas, mas próprias desta fase, que podem influenciar
no estilo de vida, tais como, a definição de uma preferência esportiva, as
mudanças corporais devido à maturação biológica, o interesse por
relacionamentos de amizade e amorosos, o acesso a determinadas tecnologias
61
e internet, os conhecimentos aprendidos ou não sobre conceitos de atividade
física e saúde, entre outros.
Após autorização das Secretarias de Educação ou diretamente na
coordenação escolar, no caso da rede privada, entramos em contato com os
estudantes, explicando brevemente o objetivo, a metodologia e a importância
da pesquisa, entregando na ocasião, o termo de consentimento para a ciência
e permissão dos pais ou responsáveis legais. Quando da coleta, os estudantes
foram relembrados da importância da pesquisa e da condição voluntária na
participação.
A contribuição deste estudo se refere principalmente ao conhecimento
dos hábitos dos adolescentes, sua exposição a comportamentos sedentários e
escolhas de lazer ativo. Suas opções de meios de transporte e suas
preferências esportivas. Estas informações nos possibilita qualificar as
orientações para a promoção de saúde, sendo por reeducação
comportamental como também por melhorias de estruturas e espaços públicos
destinados às atividades físicas e transporte ativo.
A principal dificuldade do trabalho foi a participação voluntária dos
adolescentes. O não reconhecimento da importância das informações, o receio
à exposição frente aos demais, os possíveis problemas com autoimagem e o
desinteresse com a colaboração em fornecer os dados foram as maiores
barreiras encontradas pelo pesquisador e colaboradores para a pesquisa.
Alguns pontos fortes podem ser destacados, como a verificação de
indicadores relacionados ao estilo de vida e composição corporal de
adolescentes, considerado um grupo em transição etária, onde os
comportamentos podem perdurar até a vida adulta. Além do mais, o estudo
62
concentrou-se na região meio-oeste catarinense, trazendo dados específicos
dessa região, já que a maioria dos dados na literatura está relacionado à
capital do estado. Como limitações incluem-se o delineamento transversal, que
não permite estabelecer relação de causa e efeito entre o estilo de vida e
composição corporal, por serem avaliados em um único período de tempo. O
uso de questionários pode ser limitante ao passo que os participantes podem
subestimar ou superestimar algumas variáveis investigadas. Apesar de
existirem instrumentos mais precisos para avaliação do nível de atividade física
e comportamentos sedentários, como por exemplo, os acelerômetros, os meios
aqui utilizados são bastante empregados em estudos epidemiológicos e, para
efeito de comparação, utilizaram-se dois métodos para a classificação da
composição corporal.
Os resultados permitiram concluir que, apesar da maioria dos escolares
serem classificados como ativos e relatarem formas ativas de deslocamento e
opções de lazer, a quase totalidade faz uso excessivo de TV, computador e
videogame, ultrapassando 2 ou mais horas diárias. Não foi observada diferença
significativa entre os grupos ativos e IA para classificação da composição
corporal, no entanto, houve diferença entre as médias de minutos por semana
nas atividades de deslocamento e lazer, da maioria dos grupos, onde níveis
mais baixos e adequados de composição corporal apresentaram maiores
médias de minutos despendidos nas atividades. Um estilo de vida com
comportamentos positivos, onde são inseridas opções de lazer ativo, tem
relação positiva com indicadores de composição corporal adequados em
escolares do meio-oeste catarinense.
63
Como sugestão, a realização de estudos longitudinais gera informações
importantes sobre os impactos a médio e longo prazo dos hábitos e dos
comportamentos relacionados ao estilo de vida na composição corporal, bem
como a utilização de medidores de gasto calórico para quantificar com maior
precisão, o dispêndio energético nas atividades físicas e nos comportamentos
sedentários.
Com as informações aqui apresentadas, torna mais importante a gestão
de políticas públicas que gerem condições seguras e adequadas para o
transporte ativo, a orientação e o estímulo à prática de atividades físicas, o
favorecimento de adoção de hábitos alimentares saudáveis bem como as
condutas destinadas à redução do tempo de comportamentos sedentários.
64
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ABSTRACT
FREE TIME FOR LEISURE AND BODY COMPOSITION OF STUDENTS IN
THE MIDWEST CATARINENSE The aim of this study was to investigate the relationship between free time for
leisure and body composition of students in the crucial ninth year. (N = 228) of
towns in the Midwest catarinense. We used the Adolescent Behavior
Questionnaire of Santa Catarina (COMPAC) to assess lifestyle, considering that
Active schoolchildren during the week, accumulated 300 or more minutes of
moderate or vigorous physical activity (MVPA). Were used the time to 2 hours
or more / day to determine the time of excessive use of TV and computer video
game. To analyze body composition were used two criteria: the Body Mass
Index (BMI) and sum of skinfolds (EDC). It was observed a proportion of 67.3%
of girls and 68.7% of boys assets and more than 98% of students were using
excessive TV time, computer and video game. In the classification by EDC,
most of the boys showed great or low levels of body composition, while more
than half of girls were classified at higher levels. As for BMI, most boys and girls
had not overweight. Significant difference in the comparison of total minutes per
week of MVPA reported between the groups, the second criterion of EDC and
BMI for girls but not for BMI in boys. It is concluded that students with higher
accumulation in minutes of MVPA showed better body composition indicators,
but no significant difference was found when compared active groups with
inactive, according to criteria used.
Keywords: Lifestyles, Leisure Activities, Body Composition, adolescents.