Sargento milícias
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"Viagens Literárias", um projeto de formação de leitores da Secretaria da Educação.
SALA DE LEITURA
ESCOLA ESTADUAL JOSÉ CHEDIAK
Proposta de atividade para o Ensino Médio e 9º ano do Ensino fundamental de "Memórias de um
Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, um clássico da literatura brasileira que quebrou os padrões românticos da época em que foi publicado, no ano de 1854.
Atividade elaborada pelo Professor Carlos Pires Martins
Como sugestão e complementação das atividades dos
Professores de Língua Portuguesa
Diretora da Escola: Vilma Lanzotti
Professores Coordenadores Pedagógicos:
Vera Lúcia Dias Canha – Ensino Fundamental
Rogério de Sousa – Ensino Médio
Rosa Cocco – Ensino Médio
SALA DE LEITURA
ESCOLA ESTADUAL “JOSÉ CHEDIAK”
Carlos Pires Martins
Painel do Leitor.
Escreva de forma objetiva
seus comentários. Envie-os
para o Editor do Correio
Mercantil do Rio de Janeiro.
Eles poderão ser publicados
na edição de domingo na
coluna “Painel do Leitor” do
Suplemento Literário “A
Pacotilha”. Os comentários
publicados receberão brindes
dos nossos patrocinadores.
Carlos Pires Martins
A alta sociedade é vista
pela perspectiva dos
pobres. Tendo como
personagem principal um
anti-herói, que se chama
Leonardo e relata os
esforços para driblar as
adversidades de sua
condição social e, ao
mesmo tempo, se
aproveitar ao máximo dos
intervalos de sorte que
tem na vida. O que não
falta são reviravoltas à
narrativa. Vale insistir no
valor documental e
sociológico do romance e
lembrar que se trata de
uma narrativa divertida e
bem humorada.
Primeiro capítulo do
folhetim Memórias de um
Sargento de Milícias que
mostra os costumes e
hábitos da vida suburbana
do Rio de Janeiro.
O Correio recomenda
leitura desse folhetim que
expressa visão de um
mundo sem marcas ou
traços idealizados e
sentimentalistas. O autor
se vale de um estilo
objetivo e realista ao
mostrar os tipos humanos
da gente modesta da
sociedade carioca com
suas histórias e costumes
no Século XIX.
Memórias de um
Sargento de
Milícias:
Essa é a historia
de um rapaz
chamado
Leonardo que
nasceu de uma
“pisadela” e um
“beliscão”, expli
camos melhor:
seu
pai, Leonardo
Pataca e sua
mãe Maria da
Hortaliça
conheceram-se
no navio em que
vinha de
Portugal para o
Brasil
“Para selar essa
união usaram uma
forma bem exótica:
Leonardo, deu uma
delicada pisadela
em Maria da
Hortaliça, esta
retrucou com um
tremendo beliscão
e assim nasceu
Leonardo.”
No Brasil do século 18, a
demonstração de afeto
era o beliscão.
No século 18, em
Portugal e, muito
provavelmente, também
no Brasil, uma expressão
de amor bastante
difundida era o beliscão.
Entre os recém-
conhecidos, era de bom
tom beliscar “de
pincho”, aplicando
levemente a torção sobre
a pele. Para os mais
íntimos valia o beliscão
“de estorcegão”, também
conhecido como
“enérgico”. A moda era
tão forte que houve quem
discutisse a necessidade
de construir divisórias no
interior das igrejas para
impedir beliscões durante
a missa.
Beliscões, pisadas de pé
e mútuos estalos de
dedos consistiam em
rituais que simbolizavam
a dura vida rural.
Comente e compare
a expressão de
amor e afeto no
início de namoro
dos casais do
século 18 com os
casais no tempo de
hoje. Seu amor se
tornaria mais
“energético” com
uma pisadela e um
beliscão?
Carlos Pires Martins
Comparação Histórica:
“Era no tempo do rei”
Sim, o Brasil teve um Rei!
Hoje tem uma mulher
Presidente!
Pesquise e comente:
- Os aspectos do Brasil na
época do Rei.
- Os aspectos do Brasil
na época da Presidente.
Carlos Pires Martins
Em síntese, o enredo de Memórias de um Sargento de Milícias é tecido com muitas peripécias e
intrigas, que não deixam, ainda hoje, de entreter e prender o leitor.
Pode resumir-se na história da vida de Leonardo filho de dois imigrantes portugueses, a sabia Maria da
Hortaliça e Leonardo, “algibebe” em Lisboa e depois meirinho no Rio do tempo do Rei D. João VI:
Nascimento do “herói”, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho abandonado mas sempre
salvo de dificuldades pelos padrinhos (a parteira e um barbeiro); sua juventude de valdevinos; seus
amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal, chefe de
polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de
tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a
proteção da madrinha, tudo tem “conclusão feliz”: promoção a sargento de milícias e casamento com
Luisinha”.
Primeira Parte
I – Origem
Nascimento e Batizado. A novela se abre com a frase “Era no tempo do rei”, que situa a estória no
século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora
com uma patrícia, Maria da Hortaliça, sabia portuguesa. Daí resultou o casamento e...
“sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo
e vermelho, cabeludo, espemeador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas
seguidas sem deixar o peito”.
Esse menino é o Leonardo, futuro “sargento de milícias” e o “herói” do livro.
O capitulo termina com o batizado do garoto, tendo a “Comadre” por madrinha e o. barbeiro ou
“Compadre” por padrinho, personagens importantes da estória.
II - Primeiros Infortúnios.
Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o traía com vários homens; dá-lhe uma
surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal.
O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega dele.
III - Despedida às Travessuras.O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, ficou caído pelo garoto, concentrando
todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas travessuras.
Depois de muito pensar, resolveu que ele seria padre.
IV - Fortuna.
Leonardo-Pataca apaixonou-se por uma cigana que também o abandona. Para atraí-la
novamente, recorre a feitiçarias de um caboclo velho e imundo que morava num mangue. Na última
prova, à noite, quando estava nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal...
V - O Vidigal.
Este capítulo descreve o Major - “um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão; tinha o
olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada”. Era a polícia e a justiça
da época, na cidade.
Depois de obrigar todos que se achavam na casa do caboclo a dançar, até não agüentarem
mais, chicoteia-os e leva Leonardo para a “Casa da Guarda”, espécie de depósito de presos. Depois de
visto pelos curiosos, é transferido para a cadeia.
VI - Primeira Noite Fora de Casa.
Leonardo filho vai acompanhar uma “Via Sacra” de rua”, muito comum naquela época, e junta-se a
outros moleques. Acabam passando a noite num acampamento de ciganos. Descreve-se a festa e a
dança do fado. De manhã, Leonardo pede para voltar para casa.
VII - A Comadre.
Era a madrinha de Leonardo - “uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola
até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade e
benzia de quebranto...”. Gostava de ir à missa e ouvir o cochicho das beatas. Viu a vizinha do barbeiro
e logo quis saber do que é que ela falava.
VIII - O Pátio dos Bichos.
Assim era chamada a sala onde ficavam os velhos oficiais a serviço de El-Rei, esperando qualquer
ordem.
No meio deles, estava um Tenente-Coronel a quem a Comadre vai pedir para interceder junto a El-Rei
para soltar Leonardo-Pataca.
IX - O Arranjei-me do Compadre.
O autor conta-nos como o barbeiro conseguiu arranjar-se na vida, apesar de sua profissão pouco
rentável: improvisou-se de médico, ou melhor, “sangrador”, a bordo de um navio que vinha para o
Brasil. O Capitão moribundo, entregou-lhe todas as economias para que as levasse à sua filha (do
Capitão). Quando chegou a terra, ficou com tudo e nunca procurou a herdeira.
X - Explicações.
O Tenente-Coronel interessara-se pelo Leonardo porque, de certa forma, ele o havia livrado de certa
obrigação: seu filho, um desmiolado, é que havia infelicitado a tal de Mariazinha, a Maria da Hortaliça, ex-
mulher de Leonardo. Por isso empenha-se e, por meio de um outro amigo, consegue que El-Rei solte
Leonardo.
XI - Progresso e Atraso.
Este capítulo é dedicado às dificuldades que o padrinho encontra para ensinar as primeiras letras ao
afilhado e às implicâncias da vizinha. A seguir vem um bate-boca entre os dois, com o menino
arremedando a velha, e com grande satisfação para o barbeiro que se julga “vingado”.
XII - Entrada para a Escola.
É uma descrição das escolas da época. Aborda a importância da palmatória e nos conta como o novo e
endiabrado aluno leva bolos de manhã e à tarde.
XIII - Mudança de Vida.
Depois de muito esforço e paciência, o padrinho convence ao afilhado de voltar para a escola, mas ele
foge habitualmente e faz amizade com o coroinha da Igreja. Pede ao padrinho, e este acede, para também
ser coroinha. Pensava assim o barbeiro que seria meio caminho andado para se tomar padre. Como
coroinha, aproveitou-se dessa função para jogar fumaça de incenso na cara da vizinha e derramar-lhe
cera na mantilha. Vingava-se assim dela.
XIV - Nova Vingança e Seu Resultado.
Neste capitulo, aparece o “Padre Mestre de Cerimônias”, que, embora de um exterior austero, mantinha
relações com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo-Pataca e fora causa de sua função. No dia da
festa da Igreja da Sé, o Mestre de Cerimônia prepara-se orgulhosamente para proferir seu sermão. O
menino Leonardo, encarregado de avisar-lhe a hora do sermão, informa-lhe que será às 10 horas, quando
na verdade devia ser às 9. Um capuchinho italiano, para cooperar, e porque o pregador não chegava,
começou a homilia. Depois de algum tempo, chega o Mestre, furioso, e corre para o púlpito também. Após
um bate-papo com o religioso, toma o lugar dele e continua o sermão. O resultado foi o sacristão ser
despedido.
XV - Estralada.
Leonardo-Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é que lhe tirara a cigana e que este iria ao
aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major
Vidigal, que prende todo mundo, inclusive o Padre, e os leva para a “Casa da Guarda”.
XVI - Sucesso do Plano.
O Mestre de Cerimônias, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana, voltando para Leonardo, que
recebe as censuras da Comadre.
Segunda parte
I - A Comadre em Exercício.
Aqui, o autor narra o nascimento da filha de Leonardo-Pataca e de Chiquinha. A Comadre faz o
parto, e o autor aproveita para fazer interessante descrição dos costumes da época.
II - Trama.
A Comadre, numa aliança com o sobrinho e o Compadre contra José Manuel, inventa para D. Maria
que este fora o raptor da moça na porta da Igreja (um caso policial da época).
III - Derrota.
José Manuel põe-se em campo para saber quem é seu adversário e quem tinha feito a intriga perante
D. Maria.
IV - O Mestre de Reza.
Os mestres de reza da época eram geralmente cegos que ensinavam às crianças as primeiras rezas e
o catecismo. Faziam-no á base da palmatória. O Mestre de Reza encarregou-se de descobrir, para
José Manuel, quem era o intrigante.
V - Transtorno.
O Compadre morre e deixa Leonardo como seu herdeiro. Segue-se a cerimônia de luto e o enterro.
Leonardo volta para a casa do pai. A Comadre, que também mora com a filha, faz agora as vezes do
Compadre. Leonardo não se entende com a madrasta, Chiquinha.
VI - Pior Transtorno.
Leonardo, ao voltar da casa de Luisinha, aborrecido por não a ter visto, briga com Chiquinha. O pai
intervém de espada, e Leonardo foge de casa.
A Comadre censura os dois e vai procurar o afilhado, enquanto os vizinhos comentam as
ocorrências...
VII - Remédio dos Males.
Ao fugir de casa, Leonardo encontra o antigo colega, o Sacristão da Sé, num pique-nique em
companhia de moças e rapazes, o qual o convida para ficar; ele aceita e enche-se de amores por
Vidinha, cantora de modinhas, que tocava viola.
“Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de altura regular. ombros largos, peito
alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e
úmidos, os dentes alvíssimos. a fala era um pouco descansada, doce e afinada.”
VIII - Novos Amores.
Este capitulo faz a descrição da nova família que acolhe Leonardo. Era composta de duas irmãs
viúvas, uma com três filhos e a outra com três filhas. Passavam dos quarenta anos e eram muito
gordas e parecidas. Os três filhos da primeira tinham mais de 20 anos e eram empregados no trem. As
moças, mais ou menos da idade dos rapazes, eram bonitas, cada uma a seu modo. Uma delas era
Vidinha.
IX - José Manuel Triunfa.
A Comadre procurou Leonardo por toda parte e, não o encontrando, foi à casa de D. Maria, que a
repreendeu por “ter cometido um grande...” Ela logo entendeu e percebeu que José Manuel estava
regenerado aos olhos de D. Maria; e também chegou à conclusão de que o cego Mestre de Reza é que
tinha desvendado tudo. A Comadre desculpa-se e toma conhecimento do interesse de José Manuel
por Luisinha.
X - O Agregado.
Leonardo fica agregado na nova família, como era costume naquela época. Dois irmãos pretendentes
a Vidinha unem-se contra Leonardo, que estava gostando dela. Vidinha e as Velhas tomam o partido
de Leonardo. Houve briga e confusões.
Leonardo decidiu sair da casa, mas as velhas não consentem. Chega a Comadre.
XI - Malsinação.
Depois de conferências entre as velhas e a Comadre, Leonardo fica, para alegria de Vidinha.
Os primos vencidos, combinam um modo de vingar-se. Fizeram uma patuscada semelhante à que
haviam feito quando conheceram Leonardo e avisaram o Major Vidigal... Este chega no meio da farra e
prende Leonardo.
XII - Triunfo Completo de José Manuel.
José Manuel ganha uma causa forense para D. Maria e, com isso, consegue o consentimento para
casar-se com Luisinha, que Leonardo já havia esquecido; ela aceita com indiferença o novo
pretendente. Há festa e casamento em carruagens - “destroços da arca de Noé”.
XIII - Escápula.
A caminho da prisão, Leonardo procura um jeito de fugir. O Major adivinha o pensamento do moço e
presta atenção a todos os seus movimentos. Entretanto, na hora em que surgiu um pequeno tumulto
na rua, e o Major desviou a atenção do prisioneiro, Leonardo escapuliu e foi para a casa de Vidinha. O
Major, pasmado com o acontecido, procura-o por toda parte, com os granadeiros.
XIV - O Vidigal Desapontado.
Vidigal, com o orgulho ferido, sobretudo devido às zombarias do povo, jurou vingar-se. A Comadre, entretanto, que
não sabia da fuga, procura o Major e, ajoelhada a seus pés, chora e suplica pelo afilhado. Os granadeiros riam
dela cada vez que gritava - solte, solte!
XV - Caldo Entornado.
Tendo sabido da fuga de Leonardo, a Comadre dirigiu-se à casa das velhas e pregou um sermão ao
afilhado, concitando-o a que abandonasse a vadiagem e procurasse um emprego. Ela mesma consegue para ele
uma ocupação na “Ucharia Real”.
O Major não gostou disso porque assim não poderia prendê-la Ucharia, morava um tal de Toma-Largura, assim
chamado pela sua estampa grotesca, em companhia de uma mulher bonita Leonardo começa a demorar cada vez
mais no trabalho e a esquecer Vidinha.
Um dia, Toma-Largura surpreendeu-o tomando sopa com sua mulher e corre atrás dele escorraçando-o de casa.
No dia seguinte, Leonardo é despedido do emprego.
XVI - Ciúmes.
Vidinha, extremamente ciumenta, quando soube do acontecido, foi tomar satisfação com a mulher do Toma-
Largura, depois de gritar, chorar e ameaçar. Leonardo vai atrás e se encontra com o Major Vidigal, que o prende.
XVII - Fogo de Palha.
Vidinha começa a xingar Toma-Largura e a mulher. Como não houvesse reação dos dois, ficou
desconcertada, tomou a mantilha e saiu. Toma-Largura, encantado com Vidinha, resolveu conquistar nem que
fosse uma diminuta parcela de seu amor, porque assim se vingaria de Leonardo e satisfaria seu desejo de
conquista amorosa. Desse modo, acompanhou a moça para saber onde ela morava.
XVIII - Represálias.
Quando Vidinha chegou a casa, deram também por falta de Leonardo. Mandam-no procurar por toda parte e nada.
Suspeitam do Major, mas não o encontram na Casa da Guarda.
A Comadre, avisada, põe-se em campo à procura do afilhado, mas também não o encontra. A família que
hospedava Leonardo começou a odiá-lo, julgando que ele se havia ocultado propositalmente. Enquanto isso, o
Toma-Largura começa a rodear a casa de Vidinha para cumprimentá-la. Mal imagina ele o que lhes estão
preparando...
Recebido em casa, resolvem comemorar a aproximação com uma patuscada nos “Cajueiros”, no mesmo lugar
onde Leonardo conhecera a família. E claro que o Toma-Largura lá estava. E como gosta de beber, acabou
provocando uma grande confusão na festa. Inesperadamente chega o Vidigal com um grupo de granadeiros e dá
ordem a um deles para levar o Toma-Largura preso. Este granadeiro era Leonardo.
XIX - O Granadeiro.
Depois de preso, o Toma-Largura foi abandonado na calçada porque estava completamente bêbado e
sem condições de andar. A seguir, o autor conta como Leonardo fora transformado em granadeiro:
depois de preso foi escondido por Vidigal e levado para sentar praça no Regimento Novo. A seguir, foi
requisitado para ajudar o Major nas tarefas policiais. Era a maneira de o Vidigal se vingar.
Leonardo mostrou-se bom de serviço, mas participou de uma “diabrura” quando, em
missão, representou Vidigal, defunto, numa cena para ridicularizá-lo.
XX - Novas Diabruras.
O Major decide prender Teotônio, um grande animador de festas, onde tocava e cantava modinhas e
mostrava outras habilidades, como banqueiro de jogo.
Teotônio, na festa de batizado do filho de Leonardo-Pataca com a filha da Comadre, fez caretas e
mímicas imitando o Major, que estava presente, para risada geral do público. O Major sai correndo e
incumbe Leonardo de prender Teotônio.
Leonardo, muito bem recebido na casa, revela a missão de que estava incumbido e, de comum acordo
com Teotônio, concebe um plano para lograr o Major.
XXI - Descoberta.
Leonardo foi cumprimentado por um amigo indiscreto, na frente do Major, pela façanha, e este o prende
imediatamente.
Enquanto isso, o José Manuel, depois da lua-de-mel com Luisinha, começou a mostrar que não era lá
grande coisa. Isso fez com que D. Maria se aliasse à Comadre para soltar Leonardo.
XXII - Empenhos.
Depois de uma tentativa frustrada junto ao Major, a Comadre pede os préstimos de D. Maria que, por sua
vez, recorre a Maria Regalada. Chamava-se assim por ser muito alegre, ria-se de tudo. Morava na
Prainha, e, quando mais nova, era uma “mocetona de truz”. Já era conhecida do Major, com quem há
tempos tivera encontros amorosos.
XXIII - As Três em Comissâo.
As três vão ao Major pedir-lhe para soltar Leonardo. Ele mostra-se inicialmente inflexível como o cargo
e o lugar exigiam. Como as três rompessem em prantos, ele não se conteve e chorou também, feito um
bobo. Depois recompôs-se e ficou novamente durão.
Entretanto, Maria Regalada cochichou-lhe qualquer coisa ao ouvido, e ele logo promete não somente
soltar Leonardo como alguma coisa mais.
XXIV - A Morte é Juiz.
José Manuel, com a ação que lhe moveu a sogra, tem um ataque de apoplexia e morre.
Leonardo, libertado, chega à noitinha e a primeira coisa que procura é Luisinha. Tinha sido
promovido a sargento. A admiração um pelo outro é recíproca.
XXV - Conclusão Feliz.
Depois do luto, Leonardo e Luisinha recomeçam o namoro. Os dois querem casar-se, mas há uma
dificuldade: Leonardo era soldado, e soldado não podia casar. Levaram o problema ao Major, que
vivia com Maria Regalada. Esse fora o preço pela soltura do Leonardo.
Por influência da mulher, o Vidigal logo arranjou um jeito: dar baixa em Leonardo como tropa de
linha e nomeá-lo “Sargento de Milícias”.
Leonardo pai entrega ao filho a herança que lhe deixara o padrinho barbeiro. Leonardo e Luisinha
casam-se. E agora aparece “o reverso da medalha”:
“Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que
pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto .final.”
Literatura - Proposta de abordagem reflexiva de:
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS: NEM ROMÂNTICO NEM REALISTA.
Nas produções românticas, principalmente nos romances urbanos a maioria dos personagens é
retratada como representantes das classes dominantes, na obra de Almeida essa tendência não é
seguida, aproximando-o do realismo; "procurou mostrar o povo como o povo era e continua a ser"
retratando como cenário as ruas cheias de gente, expressando dessa maneira uma preocupação
documental que também é uma característica do Realismo. Em “Sargento de Milícias” as
personagens se destacam por traços gerais e comuns ao grupo que pertencem. Muitas personagens
não têm nome pois são alegorias (representações simbólicas) do tipo de gente da época e da classe
sócio-econômica a que pertenciam.
- Identifique os personagens (mesmo aqueles que não têm nomes) do Folhetim Memórias de um
Sargento de Milícias.
A comicidade é explícita no Folhetim de Manoel Antonio de Almeida.
- Descreva e comente uma das cenas com alto teor de comicidade presente no texto.
Carlos Pires Martins
Abordagem Filosófica e Social: A DIALÉTICA DA MALANDRAGEM
O crítico literário Antônio Candido publicou Dialética da malandragem, uma referência
obrigatória para qualquer estudo filosófico que aborde o tema da malandragem brasileira. O
trabalho, um ensaio sobre Memórias de um Sargento de Milícias, toma o personagem principal
do livro, Leonardo Pataca Filho, como o primeiro malandro da literatura brasileira, mostrando
que Leonardo transita, cotidianamente, entre a ordem estabelecida e as condutas
transgressivas, Cândido afirma que esse romance, já no século XIX, retrata -
retrospectivamente - a ambiguidade ética da sociedade brasileira, na época de Dom João VI. A
desarmonia entre as instituições ético-legais e as práticas sociais efetivas não seria
novidade: "Há um traço saboroso que funde no terreno do símbolo essas confusões de
hemisférios e esta subversão final de valores. (...) É burla e é sério, porque a sociedade que
formiga nas Memórias é sugestiva. (...) manifesta (...) o jogo dialético da ordem e da
desordem". Costuma-se apontar a corrupção como uma das maiores mazelas da sociedade
brasileira. Geralmente, quando questionada acerca desse assunto, a opinião pública tem como
alvo favorito de críticas a classe política. É curioso, no entanto, que boa parte dessas pessoas
que avaliam negativamente seus representantes costuma recorrer, cotidianamente, a
pequenos artifícios que burlam o costume ético e, muitas vezes, até a lei. Estamos nos
referindo ao nosso jeitinho brasileiro, à malandragem e ao jogo de cintura, "categorias" que, já
incorporadas à nossa cultura, convivem lado a lado com os valores ético-morais mais
tradicionais. A "ética" do jeitinho e da malandragem coexiste, paralelamente, com a ética
oficial. O cidadão que cobra dos políticos o cumprimento dos preceitos da ética tradicional é o
mesmo que usa o expediente do jeitinho e da malandragem.
Comente objetivamente:
- Essa exaltação do tipo "malandro" tem sido proveitosa para o Brasil?
- A Dialética da Malandragem tem contribuído para engrandecer nossa cultura ou para
degenerá-la?
- Comente sobre o estereótipo do “jeitinho brasileiro” . Você, cidadão brasileiro, cumpre os
preceitos da ética e ao mesmo tempo usa do expediente do “jeitinho” para tirar vantagens?
Dialética da ordem e da desordem
Os personagens de Memórias de um sargento de milícias oscilam entre dois extremos da
sociedade: em um dos pólos (positivo), a ordem; no outro (negativo), a desordem. O protagonista
cresce passando ora por um ora por outro hemisfério, terminando absolvido pelo pólo
convencionalmente positivo. Leonardo pai, como oficial de justiça, pertence à ordem;
contudo, sua relação com a Cigana leva-o a praticar feitiçarias e ser preso pelo Major Vidigal.
Posteriormente, forma com a filha da comadre um casamento estável, retomando sua posição
relativamente sancionada.
Este transitar por entre a ordem e a desordem é comum entre os personagens de Memórias de
um sargento de milícias, dos quais os citados são só exemplos. Essa característica leva-nos a
uma sociedade na qual predomina a lógica da inculpabilidade. O romance de Almeida cria “um
universo que parece liberto do erro e do pecado”. Os personagens fazem coisas tidas como
reprováveis, mas também fazem outras dignas de louvor, que as compensariam. Desta
forma, “como todos têm defeitos, ninguém merece censura”.
A sociedade apresentada no romance estaria alicerçada por uma espécie de equilíbrio entre o
bem e o mal, que são compensados um pelo outro a cada instante. Para o crítico Antônio
Cândido, no romance de Almeida “decorre a ideia de simetria ou equivalência, que, numa
sociedade meio caótica, restabelece incessantemente a posição por assim dizer normal de cada
personagem. Os extremos se anulam e a moral dos fatos é tão equilibrada quanto as relações
dos homens” (CÂNDIDO, 1970).
Carlos Pires Martins
O Folhetim Memórias de um
Sargento de Milícias mostra
uma sociedade que está
alicerçada por uma espécie
de equilíbrio entre o bem e
o mal que são compensados
um pelo outro a cada
instante. São mostrados
personagens com atitudes e
comportamentos
reprováveis, mas também
ações dignas de louvor que
as compensam.
- Identifique e descreva
momentos de ações dos
personagens que mostram
essa dualidade.
A dialética da ordem e da
desordem faz emergir um
mundo sem culpa, onde
aquele que transgride não
agride e, por isso, não é
punido. Os conceitos do
certo e do errado pendulam
de um lado a outro num
movimento constante entre
os indivíduos da sociedade.
Nas manifestações de rua
nós temos visto essa
dualidade com evidência.
Há vandalismo, há
reinvidicações pacíficas e
de direito.
Comente a relação atual
entre a ordem e a desordem
e o que é considerado
louvável e reprovável
nessas manifestações.
Carlos Pires Martins
Memórias de Um Sargento de
Milícias
Martinho da Vila
Era o tempo do rei
Quando aqui, chegou
Um modesto casal feliz pelo
recente amor
Leonardo, tornando-se meirinho
Deu a Maria Hortaliça um novo
lar
Um pouco de conforto e de
carinho
Dessa união, nasceu
Um lindo varão
Que recebeu o mesmo nome do
seu pai
Personagem central da história
que contamos neste carnaval
Mas um dia Maria
Fez a Leonardo uma ingratidão
Mostrando que não era uma
boa companheira
Provocou a separação
Foi assim que o padrinho
passou
A ser do menino tutor
A quem lhe deu toda dedicação
Sofrendo uma grande
desilusão
Outra figura importante em
sua vida
Foi a comadre parteira
popular
Diziam que benziam de
quebranto
A beata mais famosa do lugar
Havia nesse tempo aqui no
Rio
Tipos que devemos
mencionar
Chico Juca, era mestre em
valentia
E por todos se fazia,
respeitar
O reverendo amante da
cigana
Preso pelo Vidigal
O justiceiro
Homem de grande autoridade
Que à frente dos seus
granadeiros
Era temido pelo povo da
cidade
Luisinha primeiro amor
Que Leonardo conheceu
E que Dona Maria, a outro
como esposa concedeu
Somente foi feliz
Quando José Manuel
Morreu
Nosso herói
Novamente se apaixonou
Quando com sua viola
A mulata Vidinha, esta
singela modinha cantou:
Se os meus suspiros
pudessem
Aos seus ouvidos chegar
Verias que uma paixão
Tem o poder de assassinar.
A Leitura à luz de nossos próprios interesses
“O fato de sempre interpretarmos as obras literárias, até certo ponto, à luz
de nossos próprios interesses – e o fato de, na verdade, sermos incapazes
de, num certo sentido, interpretá-las de outra maneira – poderia ser uma das
razões pelas quais certas obras literárias parecem conservar seu valor
através dos séculos. Pode acontecer, é claro, que ainda conservemos muitas
das preocupações inerentes à da própria obra, mas pode ocorrer também
que não estejamos valorizando exatamente a „mesma‟ obra, embora assim
nos pareça. O „nosso‟ Homero não é igual ao Homero da Idade Média, nem o
„nosso‟ Shakespeare é igual ao dos contemporâneos desse autor. Diferentes
períodos históricos construíram um Homero e um Shakespeare „diferentes‟,
de acordo com seus interesses e preocupações próprios, encontrando em
seus textos elementos a serem valorizados ou desvalorizados, embora não
necessariamente os mesmos”.
(EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins
Fontes, 2003, p.18
Carlos Pires Martins
Carlos Pires Martins
Os sentidos dos textos literários no tempo e na perspectiva de diferentes
Chama a atenção o fato de que sociedades ou partes delas já valorizaram (e certamente
muitas ainda valorizam) a interferência do leitor no texto, entendendo a leitura como uma
forma de “apropriação”. De algum modo, esse universo é próximo de você. A proposta é
fazer uma releitura ou uma reescrita do texto Memórias de um Sargento de Milícias, isto é,
criar paródias, raps, versões de músicas, trocadilhos com nomes dos personagens, sínteses
de capítulos, apresentações teatrais de capítulos, situações ou de todo texto, ensaios,
teses, trabalhos de conclusão de curso, games, enfim, releituras e ou reescritas que se
fazem “brincando” no dia a dia. Esse processo, no fundo, não é apenas individual, mas a
expressão de valores de grupos aos quais cada leitor pertence.
* Professor *
Seguindo a essência da mensagem dos textos acima, essa sugestão de situação de
aprendizagem está aberta para que se possa adicionar sugestões de atividades e, com isso,
possamos compartilhar nossas criações e adequar conteúdos conforme nossas
necessidades e proporcionarmos ferramentas cada vez mais eficientes a fim de facilitar
nosso trabalho na sala de aula.
http://saladeleiturachediak.blogspot.com.br/
Professor Carlos Pires Martins