RN Republica Velha

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República Velha Pedro Velho, primeiro governador potiguar após a proclamação da república. Somente em 15 de novembro de 1889 ocorre a proclamação da república no Brasil , sem o mínimo envolvimento da população brasileira, sendo, portanto, um movimento promovido exclusivamente por setores da elite e do exército. O Rio Grande do Norte, bem como as demais províncias, transformam-se em estados. Entretanto, a proclamação da república não chegou a ser comemorada, pois a população potiguar, assim como a do restante do país, ainda não havia conscientizado do que se tratava. A vitória da campanha republicana no estado só foi confirmada no dia seguinte, quando José Leão Ferreira Souto assinou um telegrama destinado do Partido Republicano.[36] Em 17 de novembro de 1889, Pedro Velho toma posse como primeiro governador do estado,[14] no entanto, permaneceu no cargo durante um curto período de tempo (de 17 de novembro a 6 de dezembro de 1889). Em 1892, Pedro Velho foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte.[36] No novo regime republicano, o Rio Grande do Norte, assim como os outros estados do Brasil, foi dominado pelo sistema oligárquico. A primeira oligarquia foi inaugurada no estado pelo governador Pedro Velho.[37] Em oposição a esse regime, insurgiu a figura do capitão José da Penha Alves de Souza, que foi responsável por promover a primeira campanha popular no estado. Tentou, inclusive, lançar a candidatura de uma pessoa que não conhecia o Rio Grande do Norte e nem tinha o desejo de governá-lo: o tenente Leônidas Hermes da Fonseca, filho do presidente da República da época; por esse motivo, José da Penha foi morar no Ceará, onde foi eleito para o cargo deputado estadual.[38] Desde finais do século XVIII, os estados do Ceará e o Rio Grande do Norte ainda não possuíam as suas fronteiras definidas. As cidades de Assu e Mossoró, ao fundarem as suas primeiras "charqueadas ", tornaram-se rivais das oficinas cearenses. Por isso, foram tomadas medidas que tinham objetivo pôr fim às charqueadas no Rio Grande do Norte, como o fechamento dos portos de Mossoró e Assu (na época, as duas cidades possuíam litoral). O Ceará precisava do sal produzido nas salinas do Rio Grande do Norte para poder produzir a carne de sol . A Câmara de Aracati , no Ceará, pretendeu além das fronteiras de seu estado, penetrando em terras do potiguares. No início do século XX (1901), a Assembleia Estadual do Ceará elevou Grossos

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República Velha

Pedro Velho, primeiro governador potiguar após a proclamação da república.

Somente em 15 de novembro de 1889 ocorre a proclamação da república no Brasil, sem o mínimo envolvimento da população brasileira, sendo, portanto, um movimento promovido exclusivamente por setores da elite e do exército. O Rio Grande do Norte, bem como as demais províncias, transformam-se em estados. Entretanto, a proclamação da república não chegou a ser comemorada, pois a população potiguar, assim como a do restante do país, ainda não havia conscientizado do que se tratava. A vitória da campanha republicana no estado só foi confirmada no dia seguinte, quando José Leão Ferreira Souto assinou um telegrama destinado do Partido Republicano.[36] Em 17 de novembro de 1889, Pedro Velho toma posse como primeiro governador do estado,[14] no entanto, permaneceu no cargo durante um curto período de tempo (de 17 de novembro a 6 de dezembro de 1889). Em 1892, Pedro Velho foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte.[36]

No novo regime republicano, o Rio Grande do Norte, assim como os outros estados do Brasil, foi dominado pelo sistema oligárquico. A primeira oligarquia foi inaugurada no estado pelo governador Pedro Velho.[37] Em oposição a esse regime, insurgiu a figura do capitão José da Penha Alves de Souza, que foi responsável por promover a primeira campanha popular no estado. Tentou, inclusive, lançar a candidatura de uma pessoa que não conhecia o Rio Grande do Norte e nem tinha o desejo de governá-lo: o tenente Leônidas Hermes da Fonseca, filho do presidente da República da época; por esse motivo, José da Penha foi morar no Ceará, onde foi eleito para o cargo deputado estadual.[38]

Desde finais do século XVIII, os estados do Ceará e o Rio Grande do Norte ainda não possuíam as suas fronteiras definidas. As cidades de Assu e Mossoró, ao fundarem as suas primeiras "charqueadas", tornaram-se rivais das oficinas cearenses. Por isso, foram tomadas medidas que tinham objetivo pôr fim às charqueadas no Rio Grande do Norte, como o fechamento dos portos de Mossoró e Assu (na época, as duas cidades possuíam litoral). O Ceará precisava do sal produzido nas salinas do Rio Grande do Norte para poder produzir a carne de sol. A Câmara de Aracati, no Ceará, pretendeu além das fronteiras de seu estado, penetrando em terras do potiguares. No início do século XX (1901), a Assembleia Estadual do Ceará elevou Grossos (Rio Grande do Norte) à condição de vila. Depois, a Pedro Augusto Borges, que era presidente (hoje governador) do Ceará na época, sancionou a resolução.[39] O governador do estado, Alberto Maranhão, protestou contra esta medida. Os governos cearense e potiguar reagiram e enviaram tropas para a região disputada. Porém, o bom senso continuou prevalecendo, e um conflito armado foi evitado. A controvérsia foi levada para decisão por meio de arbitramento, e o resultado final saiu favorável para o Ceará. Sendo assim, Pedro Velho convidou Rui Barbosa para defender a causa do Rio Grande do Norte,[40] contando com a participação de Augusto Tavares de Lira. No final, o jurista Augusto Petronio, por meio de três acórdãos, deu ganho de causa em definitivo ao Rio Grande do Norte (30 de setembro de 1908, 02 de janeiro de 1915 e 17 de julho de 1920), dando fim à "Questão de Grossos".[33]

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Desde a independência, a economia do estado, assim como a do país, tinham um setor industrial insignificante. No contexto regional, o Rio Grande do Norte só possuia mais indústrias do que o Piauí e o Maranhão. Nesse setor, a indústria têxtil e alimentícia eram as mais predominantes. Já em relação ao sistema de finanças, foi apenas em 1909 que apareceu o primeiro sistema bancário, localizado na capital. A primeira agência do Banco do Brasil no estado só foi inaugurada em 14 de abril de 1917. Naquela época, quase toda a região do nordeste já possuía agências. Foi Juvenal Lamartine o personagem que deu as primeiras iniciativas a esse setor. Um exemplo ocorreu na criação de bancos rurais em alguns municípios do interior potiguar. Para facilitar o crédito, foram Ulisses de Góis e Jovino dos Anjos os responsáveis pelo aparecimento de cooperativas.[41] Em meados de 1920, o eixo econômico do Rio Grande do Norte, que era restrito apenas ao litoral potiguar, desloca-se para o interior do estado, dando início à segunda fase oligárquica no estado, inaugurada por José Augusto Bezerra de Medeiros, que só foi rompida com a Revolução de 1930.[37]

Durante o governo do presidente Artur Bernardes, entre 1922 e 1926, teve início a Coluna Prestes, que tinha como líderes Luís Carlos Prestes e Miguel Costa. Essa marcha percorreu cerca de 25 mil quilômetros em grande parte do território nacional. A Coluna chegou ao Rio Grande do Norte, entrando na região oeste, durante o governo de José Augusto Bezerra de Medeiros. Este procurou, de maneira imediata, reforçar a segurança no estado. Em 1926, o primeiro contingente da polícia militar seguiu para o oeste potiguar. A região do Seridó também corria riscos de ser invadida, por isso colocou suas forças policiais em alerta. Quase todos os combates entre autoridades policiais e rebeldes ocorreram na região oeste do estado. Somente algum tempo depois, a Coluna Prestes saiu do Rio Grande do Norte, pelo município de Luís Gomes. Este foi o último acontecimento da República Velha que repercutiu em solo potiguar.[42]

Lampião e seu bando em Mossoró, no ano de 1927.

Em 10 de junho de 1927, o cangaceiro mais famoso do Nordeste, Virgulino Ferreira da Silva (conhecido popularmente como Lampião), chegou ao Rio Grande do Norte, entrando no estado pelo município de Luís Gomes. O bando percorreu várias cidades da região oeste do estado, deixando vários rastros de destruição, com destino a Mossoró. Em Apodi, parte do bando tentou atacar a cidade, mas a população já estava preparada. Ao se aproximarem de Apodi, o Juventino Cabral ordenou que ateassem fogo na cidade, mas os salteadores preferiram não se arriscar e continuaram seguindo. Em Dix-Sept Rosado (na época distrito de Mossoró), Lampião e seu bando praticaram vários atos considerados vandalismo.[43] Acredita-se que esse ataque de Lampião à cidade de Mossoró tenha sido idealizado por Massilon Leite Benevides, cangaceiro norte-riograndense, que conhecia bastante o oeste potiguar. Segundo Aglae Lima de Oliveira, o objetivo dessa invasão era "saquear as instalações do Banco do Brasil, a indústria e o comércio e as residências, para obter boa colheita" e receber uma quantia expressiva de réis, moeda do Brasil na época.[44] No entanto, poucas pessoas acreditavam que Lampião fosse atacar a cidade. O prefeito municipal da época, Rodolfo Fernandes, acreditava nessa possibilidade e tinha absoluta consciência da situação crítica da cidade. O governo do estado enviou o tenente Laurentino de Morais a Mossoró, onde foi constatado que a força policial da cidade era muito pequena, com apenas 22 soldados. Portanto, medidas deveriam ser tomadas urgentemente. Em 12 de junho, Rodolfo Fernandes promoveu uma reunião para alertar a população a respeito do ataque, contudo a população ainda não acreditava na tal possibilidade. Algumas horas depois, os sinos das igrejas começaram a tocar, e a população finalmente se conscientizou do

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ataque, fazendo com que o pânico tomasse conta da cidade. Algumas pessoas fugiram, enquanto outras não souberam agir. Para tentar conter os invasores, foram montadas várias trincheiras.[45] No dia seguinte, quando Lampião e seu bando chegaram ao Sítio Saco, o cangaceiro recebeu um bilhete pedindo um total de 400 réis em dinheiro, para poupar a cidade de Mossoró. Lampião negou e mais tarde recebeu um segundo bilhete ameaçador. À tarde, Lampião dividiu seu bando em três grupos diferentes: o primeiro grupo iria atacar a casa do prefeito, o segundo grupo atacaria a estação ferroviária de Mossoró, enquanto o terceiro teve a função de atacar o cemitério. Um hora depois, o bando recuou, deixando Colchete e Jararaca para trás. Este último foi morto e ferido no peito e encontra-se enterrado no mesmo cemitério que havia sido invadido pelo bando de Lampião.[46]

[editar]Da Era Vargas aos dias atuais

A Coluna Capitolina, doada porBenito Mussolini a Natal.

Em 1930, eclodiu um movimento revolucionário, que deu fim à República Velha. Esse movimento ocorreu principalmente por motivos de origem político-econômica, como a fraude das eleições para a escolha do Presidente da República e o assassinato de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque em Recife.[47] [48]  Após o movimento, Júlio Prestes, candidato vitorioso nas eleições para presidente, foi impedido de assumir o cargo e Getúlio Vargas assumiu o poder, onde ficou na presidência por quinze anos.[49] Durante a revolução, o Rio Grande do Norte era governado por Juvenal Lamartine, cujo governo era caracterizado pela dependência com o poder central (governo federal) e pela falta de tolerância em combater os adversários. A partir daí, surge Café Filho, principal personagem de atuação da Revolução de 1930 no Rio Grande do Norte.[50] Mais tarde, Café Filho foi perseguido e fugiu para a Paraíba, onde fez parte de um movimento idealizado pela "Aliança Liberal", que defendia Getúlio Vargas na presidência e João Pessoa como vice, candidatos de oposição ao governo da época.[33] No estado do Rio Grande do Norte, esses candidatos foram derrotados. Acredita-se que o apoio do governador Juvenal Lamartine ao paulista Júlio Prestes tenha contribuído para essa derrota. Com isso, o governador abandonou o Rio Grande do Norte, em 5 de outubro de 1930, assumindo em seu lugar uma junta governativa de três pessoas (Luís Tavares Guerreiro, Abelardo Torres da Silva e o Júlio Perouse Pontes), que ficou no poder durante uma semana (6 a 12 de outubro de 1930).[50]

No dia 1º de janeiro de 1931, o navio italizano "Lazeroto Malocello", comandado pelo capitão de fragata Carlo Alberto Coraggio, chegava à capital potiguar, trazendo a Coluna Capitolina, doada pelo chefe do governo da Itália, o fascista Benito Mussolini, com o objetivo de comemorar o "raid" Roma-Natal, realizado pelos aviadores Del Prete e Ferrarin. Cinco dias mais tarde, a capital norte-riograndense foi visitada pela esquadrilha da Força Aérea italiana.[33]

Quatro anos depois, ocorreu a Intentona Comunista, liderado principalmente por comunistas, que foi gerado principalmente por setores da população descontentes com a atuação governamental de Mário Câmara. A rebelião saiu vitoriosa e provocou grandes agitações na cidade de Natal, como o assassinato de várias pessoas e o assalto a agências bancárias. A maior resistência foi realizada pela autoridade policial, comandada pelo major Luís Júlio e pelo coronel Pinto Soares. Em 25 de novembro de

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1935, instalou-se o "Comitê Popular Revolucionário" e o jornal "Liberdade" entrou em circulação. O fracasso da Intentona nas cidades de Recife (capital de Pernambuco) e Rio de Janeiro (capital federal da época), provocaram o abandono de Natal pelos rebeldes, que deslocaram rumo à região do Seridó. Nessa região, a repressão foi realizada violentamente, e depois Intentona Comunista se encerrou.[33]

A capital potiguar não foi apenas um lugar palco de violência. Sua localização geográfica, próximo à esquina do continente, também fez com que a cidade ocupasse um lugar de grande destaque na história da aviação desde os tempos primórdios, na época dos hidroaviões, quando grandes aeronautas passaram pela cidade. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a cidade se tornou ainda mais famosa e conhecida internacionalmente. Os estadunidenses construíram uma megabase, que desempenhou um papel bastante significativo durante o conflito, que se tornou conhecida como "O Trampolim da Vitória", atualmente localizada em Parnamirim.[33]

Getúlio Vargas (centro) e Franklin Delano Roosevelt (à direita) - ambos de chapéu panamá - em Natal. Janeiro de 1943. Agência Brasil.

Em 1943, a capital potiguar sediou a Conferência de Natal, com a presença dos presidentes do Brasil (Getúlio Vargas) e dos Estados Unidos (Franklin Delano Roosevelt).[51] A partir daí, norte-americanos começaram a ocupar o território, culminando com a mudança de hábitos daquele município,[52] fazendo, também, com que a população cidade de Natal crescesse e se multiplicasse, e a cidade perdesse todos os seus hábitos de "cidade provinciana". Uma maior relações entre natalenses e militares estadunidenses foi estabelecida, com a realização de inúmeros bailes, tendo como consequência uma espécie de "entrada" de vários ritmos vindos do exterior.[33]

Em 1945, Vargas se retira do poder e inicia-se a instalação de um período democrático no país. Em 1951, volta à presidência até que, em 24 de agosto de 1954, Getúlio comete suicídio, assumindo Café Filho, primeiro e único potiguar a ocupar a presidência.[53]

Na década de 1960, o populismo se impõe em solo potiguar, através de Aloísio Alves (responsável pelo início de modernização do Rio Grande do Norte) e Djalma Maranhão (radical e político de esquerda).[33] Já em 1964, ocorre um golpe de estado que pôs fim ao governo de João Goulart e iniciou um regime militar que durou de 1964 até 1985. No Rio Grande do Norte, esse golpe de estado se caracterizou somente pelas perseguições a jovens e intelectuais da terra. Políticos como Aloísio Alves, Garibaldi Alves e Agnelo Alves, por exemplo, tiveram seus políticos suspensos pelo Ato Institucional Nº 5, de 1968.[33]

A partir de 1974, com a descoberta do petróleo, a economia do estado, que até então era prejudicada pelos longos períodos secos, começou a crescer. O turismo é também um dos setores que mais crescem no estado. Governos recentes têm feito importantes mudanças, como ocorreu na gestão de Garibaldi Alves, que elevou a irrigação como uma das metas prioritárias, com o objetivo de interligar bacias hidrográficas e levar água de boas qualidade às famílias sobreviventes em regiões secas e irrigar uma densa área do território norte-riograndense.[33]

Atualmente, o Rio Grande do Norte se divide em 167 municípios, tendo Natal como capital. A atual governadora é Rosalba Ciarlini, que exerce o cargo desde o 1° de janeiro de 2011.[54]