Revista_Scena

25

Transcript of Revista_Scena

A Revista Scena chega ao número 21 mantendo o privilégio de oferecer a seus leitores a palavra do artista.

Na entrevista Eu nunca ensaio, Laura Lima entrelaça tempos e lugares numa conversa franca e intensa, verdadeiro presente para os estudiosos da arte. Nossos agradecimentos à artista.

A estrutura das diversas seções é preservada nesta edição. Todavia, é novo o projeto gráfico, de autoria de Claudia Mendes, anseio da equipe

EDITORIALeditorial que merece nossas felicitações.

A pesquisa realizada por nossos pós-graduados está presente na seção Artigos: o trabalho fotográfico e os lugares em que se cruzam memória e ficção (Luiza Baldan); a palavra-imagem no processo de criação artística contemporânea (Julie Pires); a discussão sobre a função do figurino teatral e suas potencialidades (Desirée Bastos); a obra plural de Calmon Barreto (Gisele Rocha) sinalizam uma latitude de interesses. Inserindo-se no tema “Ficções”, em foco neste número, escrevem dois professores do Programa: Rogério Medeiros aborda as transformações provocadas no cinema francês pelo documentário de Jean Rouch, referência para o cinema brasileiro da década de 1960. No âmbito da história da arte, Ana Cavalcanti reflete sobre o caráter ficcional presente na obra de Eliseu Visconti e nos textos críticos sobre o pintor.

Na seção Colaborações, pesquisadores de outras universidades contribuem para o

debate. Leila Danziger problematiza a prática dos monumentos e a construção da memória a partir da produção de Jochen Gerz; Tatiana Martins se interessa pela desintegração das linguagens em Robert Smithson; Renata Santini analisa o processo artístico de Carlos Vergara em suas monotipias e deslocamentos. Por fim, Leandro Junqueira tece considerações a respeito da crítica, “modo de ver/ler o mundo”.

O Dossiê, que neste número é também Reedição, traz Navilouca, parte da revista lançada em 1972 por Waly Salomão e Torquato Neto. Suas proposições poético-visuais revelam a atitude anticonvencional dos protagonistas da contracultura nos anos 70. A prática experimental, marca daquela década, fundamenta as múltiplas possibilidades na arte de Hélio Oiticica, Caetano Veloso, Miguel Rio Branco, Décio Pignatari, entre outros.

O tema “Ficções” retorna em outras abordagens na seção Temáticas. As relações

entre arte, política, percepção sensorial, memória e cinema experimental são discutidas por Jacinto Lageira, Randolph Jordan, Jacques Rancière e Hollis Frampton, que generosamente nos permitiram traduzir e publicar seus artigos.

Cristina Salgado, artista e doutora pelo PPGAV, assume a Página Dupla, nela imprimindo sua poética: singularidade na figuração do corpo, fresta aberta para pensar o gênero, a sexualidade e o humano. Muito agradecemos sua participação. Por fim, a seção Resenhas completa esta edição, tratando de livros e exposições.

Somos gratas à equipe editorial, cujo entusiasmo faz de Arte & Ensaios uma revista de relevância no meio artístico e no âmbito das pós-graduações em artes. Estamos certas de que este trabalho contribuiu para o excelente conceito do PPGAV na última avaliação trienal da Capes.

The Journal Scena comes to number 21 while maintaining the privilege to offer its readers the word artist.

In the interview I never test, Laura Lima interweaves time and place in a free and intense conversation, true gift for students of art. Our thanks to the artist.

The structure of the various sections is preserved in this issue. However, it is new graphic design, authored by Claudia Mendes, the editorial board wishes that deserves our congratulations.

The research carried out by our postgraduates is present in the Articles section: the photographic work and the places that cross memory and fiction (Luiza Baldan); the word-image in the contemporary artistic creation process (Julie Pires); the discussion on the role of theatrical costumes and their potential (Desirée Bastos); the plural work of Calmon Barreto (Gisele Rock) signal a latitude of interest. Entering on the theme “Fictions”, the focus of this number, write two Programme teachers: Rogério Medeiros addresses the changes wrought by French cinema documentary by Jean Rouch, reference to Brazilian cinema of the 1960s In the history of art, Ana Cavalcanti reflects on the fictional character present in the work of Eliseu Visconti and critical texts about the painter.

In Collaborations section, other university researchers contribute to the debate. Leila Danziger questions the practice of monuments and the

construction of memory from the production Jochen Gerz; Tatiana Martins is concerned with the disintegration of languages in Robert Smithson; Renata Santini analyzes the artistic process of Carlos Vergara in his monotypes and displacements. Finally, Leandro Junqueira makes comments about the criticism, “so to see / read the world”.

The Dossier, that this number is also Reissue, brings Navilouca, part of the magazine launched in 1972 by Waly Salomão and Torquato Neto. His poetic-visual propositions reveal the unconventional attitude of the counterculture protagonists in the 70 Experimental practice brand that decade, founded the multiple possibilities in the art of Hélio Oiticica, Caetano Veloso, Miguel Rio Branco, Decius Pignatari, among others.

The theme “Fictions” returns in other approaches in Issue section. The relationship between art, politics, perception, memory and experimental cinema are discussed by Jacinto Lageira, Randolph Jordan, Jacques Rancière and Hollis Frampton, who generously allowed us to translate and publish your articles.

Cristina Salgado, artist and doctor by PPGAV, takes the Dual Page, printing it his poetic: uniqueness in the figuration of the body, open the crack to think about gender, sexuality and the human. Very appreciate your participation. Finally, the complete Reviews section this issue, trying to books and exhibitions.

We are grateful to the editorial staff, whose enthusiasm makes Art & Testing a relevance magazine in the arts and in the context of post-graduate in arts. We are certain that this work contributed to the excellent concept PPGAV the last triennial review of Capes.

COLABORADORESCristovão Fernandes Duarte

Denise B. Pinheiro Machado

Eliane da Silva Bessa

Flavio de Oliveira Ferreira

Ivete Mello Calil Farah

José Barki

Lúcia Maria Sá Antunes Costa

Luciana da Silva Andrade

Margareth da Silva Pereira

Maria Cristina Nascentes Cabral

Naylor Barbosa Vilas Boas

Oscar Daniel Corbella

Pablo Cesar Benetti

Rachel Coutinho Marques da Silva

Raquel Hemerly Tardin Coelho

Rodrigo Cury Paraizo

UFRJ | Universidade Federal do Rio de Janeiro

Reitor | Carlos Antônio Levi da Conceição

Decano do Centro de Letras e Artes | Flora De Paoli Faria

Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística

Lucia Maria Sá Antunes Costa (coordenadora)

Cristóvão Fernandes Duarte (vice-coordenador)

Editores Responsáveis

Lucia Maria Sá Antunes Costa

Cristóvão Fernandes Duarte

Conselho editorial

Adriana Sansão Fontes

Rosangela Lunardelli Cavallazzi

Sergio Ferraz Magalhães

Sônia Azevedo Le Cocq d’Oliveira

Victor Andrade

Revisão

Maria Helena Torres

Abstracts

Elvyn Marshall

Programação Visual

Cora Ottoni

Diagramação

Cora Ottoni

Capa

Cora Ottoni

Fotografia

Cora Ottoni

SUMÁRIOTrabalhos Acadêmicos

07 Mobilidade alternativa e tratamento pais-agístico proposta para o Bairro da Ferradura, Armação dos Búzios por: Amana Romano Vilhena

13 A expansão do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Subsídios para um Masterplan da área do antigo horto florestal da Gávea por: Elena Geppetti

21 Rios urbanos e paisagens multifuncionais: o pro-jeto paisagístico como istrumento de requalificação urbana e ambiental por: Ianic Bigati Lourenço

Entrevista

27 Entrevista com José Julio Lima

Projeto Paisagístico

33 Ministério da Educação e Saúde. Um ícone urbano da modernidade carioca

Artigos

41 O Passeio Público do Rio de Janeiro

44 O teatro do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

49 Patrimônio, ambiente e sociedade: novos desafios espaciais

Notícias 55

Academic | Student Works

07 alternative mobility and landscaping proposal for the Horseshoe Neighborhood, Armacao dos Buzios by: Amana Roman Vilhena

13 The expansion of the Rio de Janeiro Botanical Garden. Subsidies for a Masterplan of the old tree nursery Gavea area by: Elena Geppetti

21 City Rivers and multifunctional landscapes: the landscape design as istrumento of urban and environmental renewal by: Ianic Bigati Lawrence

Interview

27 Interview with José Julio Lima

Landscape Design

33 Ministry of Education and Health. An urban icon of Rio modernity

Articles

41 The Public Promenade in Rio de Janeiro

44 The Theatre Museum of Modern Art in Rio de Janeiro

49 Heritage, Environment and Society: new spatial challenges

News 55

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 8

O presente trabalho tem como tema principal a mobilidade alternativa em Armação dos Búzios, estado do Rio de Janeiro, com a aplicação do estudo de caso referência no Bairro da Ferradura.

A pesquisa apresenta uma proposta de mobilidade alternativa para o Bairro da Ferradura, Armação dos Búzios, em que a sua via principal, a Avenida Parque,recebe tratamento paisagístico em termos de adequação para a circulação voltada a pedestres e ciclistas e composição paisagística por meio da arborização do percurso. Mediante a produção dos diversos sentidos dos conceitos mobilidade e paisagem, foi possível alcançar o entendimento da mobilidade alternativa como meio eficaz de integrar os diferentes modaisa uma rede de percursos em que pedestres e ciclistas são os atores principais.

A priorização da circulação não motorizada e a criação de espaços de permanência ao longo do percurso estimulam a atração das pessoas para as ruas e induzem a apropriação desses espaços, estabelecendo uma relação da mobilidade com a vitalidade urbana. Nesse sentido, a conservação da paisagem urbana pode ser reforçada pela presença dos próprios usuários que se apropriam dos espaços pelo movimentoou

ACADÊMICOMOBILIDADE ALTERNATIVA E TRATAMENTO PAISAGÍSTICO PROPOSTA PARA O BAIRRO DA FERRADURA, ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 9

permanência e acabam criando uma relação de transitividade e hospitalidade com o lugar. Como um ciclo, essa dinâmica contribui para o surgimento de novos serviços voltados ao público, promovendo a interação e a diversidade social nesses espaços. Os pontos principais deste estudo são os espaços coletivos de circulação e de permanência que conectam o Centro, a Lagoa da Ferradura e a Praia da Ferradura de modo a estimular passeios no espelho d’água e nas trilhas do entorno. A adequação dos caminhos e trilhas do caso referência tende a reforçar a circulação alternativa e o passeio fora das vias de movimento intenso como a Avenida Parque e a Estrada da Usina. Desse modo, a mobilidade alternativa se expande do percurso proposto para os meios de circulação alternativos que a paisagem do entorno oferece, buscando estabelecer uma estrutura integrada entre os espaços livres de uso coletivo e entre os diferentes modais.

Primeira linha de ônibus

Cabo Frio-Búzios.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 10

No campo metodológico foi adotado o caso referência permitindo compreender situações específicas e a demonstração de adequação das propostas paisagísticas. Na fase de pesquisa em campo foram dotados os métodos de White (1980), onde se observaram os usos, as atividades desenvolvidas, o comportamento e os fluxos dos usuários. Os conceitos adotados por Cullen (1971), como a visão serial, também fizeram parte dessa primeira fase da pesquisa.

Amana Romano Vilhena

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 11

This dissertation focuses on alternative mobility in Armação dos Búzios, in Rio de Janeiro state, with a reference case in Ferradura neighborhood.

The research presents a proposal for alternative mobility in which Parque Avenue, Ferradura’s main road, receives landscaping treatment adjusted to pedestrians and bicycles and with the inclusion of landscaping composition and tree planting. The production of different meanings for the concepts mobility and landscape lead to the understanding of alternative mobility as an efficient way to integrate transport vehicles and systems into a resource net and to the creation of conviviality spaces along the road that attract people to the streets and invite them to take hold of these spaces, whereby a relation between mobility and urban vitality is established.

The preservation of the urban landscape can be improved by the presence of users who get hold of the spaces where they move about or remain. This dynamic of space appropriation through movement leads to the emergence of new services to the public

and promotes integration and social diversity. The main aspects of the study are collective spaces for circulation and permanence that link the center of town, the Ferradura lagoon and Ferradura beach, aiming to promote rides on boats, kayaks and sail boats and strolls along the treks that surround them. The treatment of the existing paths and tracks promotes traffic alternative to the main roads, such as Parque Avenue and Usina Road. In this way, the proposed road mobility is extended to the alternative traffic offered by the landscape, trying to establish an integrated structure among free spaces of collective use and the diferente means of transportation.

The methodology adopted the reference case that helps to understand specific conditions and to demonstrate the suitability of the landscaping proposals. In the field research phase White’s (1980) methods were adopted to observe uses, activities, behavior and the flux of users. The serial vision, method adopted by Cullen (1971), was also applied to this first phase of the research.

Amana Romano Vilhena

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 12

ENTREVISTAJosé Júlio Lima

José Júlio Lima possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Pará (1986), mestrado em Arquitetura – Fukui University (1991), mestrado em Desenho Urbano – Oxford Brookes University (1994) e doutorado em Arquitetura – Oxford Brookes University (2000). Atualmente é professor associado I da Universidade Federal do Pará e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Planejamento e Gestão Urbana e Regional, com ênfase em Técnicas de Planejamento e Projeto Urbanos e Regionais, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento urbano, desenho urbano, desenvolvimento sustentável, habitação popular e política de saneamento.

A pós-graduação é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. Os alunos durante a graduação crescentemente estão se interessando por bolsas de iniciação científica, o que é muito bom. Os cursos de especialização são o primeiro passo para um aprofundamento de estudos que não existe na graduação. Em arquitetura, a formação é muito generalista, não considero um problema, porém, para a pesquisa é necessário um foco maior em uma área de trabalho mais específica. Os cursos de mestrado e doutorado, especificamente em arquitetura teriam dois grandes focos, um mais acadêmico e outro profissional. Acredito que tanto para um como para outro é muito importante a experiência depois de formado. Até mesmo a crítica e a história de arquitetura necessitam que o arquiteto passe por um período de amadurecimento. Se antes era necessário ser depois de formado, agora já durante a graduação é possível desenvolver pesquisa e começar logo a refletir, ler autores mais aprofundados, ou seja, “fazer a cabeça” mesmo antes de formado.

Como um grande pesquisador que você é e tendo um trabalho de amplo reconhecimento

ao longo de sua carreira profissional e acadêmica. Conte-nos sobre a importância

das especializações e pós-graduações na formação do profissional que deseja atuar na

área da pesquisa.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 13

Tratando-se do Urbanismo, grandes países, como o Japão, enfrentaram graves dificuldades

estruturais durante o seu processo de desenvolvimento econômico e conseguiram

solucionar os problemas espaciais através de inteligentes soluções que envolviam uma arquitetura moderna e arrojados projetos de

engenharia. Como você avaliaria os problemas urbanos das cidades brasileiras e quais seriam

as melhores formas para solucioná-los?

A questão é fundamentalmente o entendimento de que o desenvolvimento econômico e a ocupação espacial passam por uma discussão que não é apenas resolvida por meio de um

projeto de engenharia ou de arquitetura. A arquitetura e a engenharia são atividades que podem e devem ser encaradas como viabilizadoras de um planejamento de desenvolvimento. Há de se considerar que o crescimento econômico do período em que o Japão se desenvolveu mais na década de 1980 ainda vivia-se em um mundo em que o capital não era globalizado, que as cidades ainda não tinham assumido um papel tão importante na circulação de capital, explicando, os problemas urbanos são de várias escalas, é importante que saibamos que há alguns atribuídos ao nível de desenvolvimento econômico e de dependência dos cidadãos de um mercado

de trabalho não sustentável na medida em que há poucas oportunidades de formar uma economia mais consolidada. Outros problemas, como a localização de favelas por um lado e de um mercado imobiliário agressivo em outro necessitam ser tratados por políticas públicas redistributivas. As cidades são espaços onde essa possibilidade é uma realidade. Não se trata de uma solução física apenas, há de se integrar os vários interesses, que são basicamente econômicos e políticos, para investir e conseguir manter os serviços urbanos em um nível de equilíbrio que possa garantir que o mercado não comprometa possíveis ações do poder público e da iniciativa privada para resolver os maiores problemas urbanos com transporte, moradia, saúde e segurança.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 14

Acredito que a cidade de Belém vive um período de crise de gestão urbanística. Há um grande boom imobiliário sem que o arcabouço legal de controle urbanístico dê conta desse processo. As dificuldades são fundamentalmente da falta de articulação entre as políticas públicas e a gestão urbana. Acredito que há recursos disponíveis, o que por si já se constitui em solução, o problema é que os projetos não conversam entre si. Apesar de Belém estar crescendo por meio de novos investimentos para moradia de diversos padrões econômicos, não há uma articulação entre eles e os serviços públicos. Temos que fazer valer instrumentos urbanísticos como a cobrança pelo Solo Criado, Zonas especiais de interesse social e deixar de pensar a cidade aos “soluços”.

Uma de suas dissertações de mestrado, intitulada “A Neighbourhood plan for upgrading a bairro of Belém” e sua tese de doutorado

“Regulatory instruments and urban form: searching for social equity in Belém, Brazil”, analisam situações recorrentes a cidade de Belém do Pará. Em suma, quais resultados foram obtidos com tais estudos?

Assim sendo, a cidade de Belém, fazendo parte da Amazônia Legal, possui grandes riquezas naturais com fortes tendências econômicas, sendo reconhecida como a

“Metrópole da Amazônia”. Dessa forma, quais as principais dificuldades que a cidade

enfrenta atualmente no que se refere ao seu planejamento urbano e o que seria mais aconselhável para amenizar tais problemas?

No caso da dissertação de mestrado havia uma preocupação grande com um aspecto do Plano Diretor de Belém que era a formulação do que seria um plano de bairro, na dissertação traduzido como Neighbourhood plan. Na época vivia-se um momento crucial para as cidades, logo após a Constituição de 1988, discutia-se a possibilidade de implementar instrumentos para ampliar a regularização fundiária, aumentar as políticas de urbanização de favelas. Assim, busquei relacionar o campo de estudo do Urban Design com as diretrizes constantes no plano diretor. Para isso escolhi o bairro do Guamá para servir como caso de estudo para refletir sobre qualidades de desenho ao mesmo tempo em que articulava os princípios da redemocratização da cidade. Estou convencido que a dissertação ajudou na discussão por exemplo da relação entre saneamento e urbanização, inclusive hoje trabalho em uma pesquisa financiada pelo CNPq que estuda as bacias de drenagem de Belém, incluindo o bairro do Guamá. Já a tese, pela própria exigência do nível do doutorado, exigia-se um estudo que propusesse uma metodologia própria e um problema também original. Desenvolvi uma metodologia de pesquisa onde a forma urbana é capaz de ser mensurada quanto a sua condição de promover maior acessibilidade e contribuir para diminuição da segregação sócio-espacial, ao mesmo tempo que o conceito de equidade social, também resultado da Constituição de 1988, era analisado ao longo dos diversos planos diretores feitos para Belém. Como resultado, tive a oportunidade de participar da revisão do plano diretor de Belém e na elaboração de outras cidades do Pará. Em todos foi possível trabalhar com a metodologia iniciada no doutorado.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 15

Acredito que os programas habitacionais integrados são caminhos para as soluções, como propus acima de forma integrada. A casa nova em área saneada precisa ter transporte, saúde, educação e criar oportunidades para acesso ao emprego. Não acredito que seja querer muito, afinal é para isso que as cidades foram criadas pela humanidade. O padrão de moradia adequado não é apenas no que se refere a unidade habitacional, o entorno saneado e com acesso garantido necessitam ser considerados. Os projetos de arquitetura ao trabalharem com padrões mínimos precisam ser articulados com ações da prefeitura, estado e União para promover o desenvolvimento dos moradores.

Você tendo orientado várias dissertações de mestrado ao longo dos anos e sendo professor

do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Pará, como vê as pesquisas que estão

sendo desenvolvidas pelos novos mestres e como avalia a importância do mestrado para o

desenvolvimento urbano da cidade?

As pesquisas que oriento e as dissertações que já foram concluídas com a minha orientação são caracterizadas pela articulação entre as questões de gestão urbana, planejamento e sempre a aplicação de uma metodologia que trate da forma urbana como um componente fundamental. Apesar de nem todas terem sido no curso de arquitetura, oriento na engenharia civil na interface entre a forma urbana e as ações de saneamento, na geografia buscando investigar os conceitos da disciplina com a aplicação de situações voltadas a gestão do espaço, inclusive avançando para o espaço rural. No programa de pós-graduação em arquitetura da UFPa iniciado em 2010 oriento dissertações que tratam da morfologia urbana diante das novas modificações nos padrões de financiamento da provisão de habitação, na questão da centralidade da forma e em temas que dizem respeito a políticas públicas na cidade, com ênfase na política de habitação em seus vários aspectos. Procuro fazer com que os trabalhos sejam capazes de avançar tanto empiricamente como conceitualmente. Apesar de muitos trabalhos serem baseados na história, é importante avançar conceitualmente e poder incluir aspectos que são trabalhados no dia a dia da gestão.

Outro grave problema que as cidades atuais enfrentam é referente ao déficit habitacional.

Programas como “Minha Casa, Minha Vida” auxiliam as famílias carentes através de uma

habitação, ainda assim longe dos padrões que uma boa moradia proporciona. Outros

programas como o PROSAMIM em Manaus e o Vila da Barca em Belém, já são caracterizados por levarem em conta uma serie de questões

importantes, como os costumes dos moradores e trabalhos de ressocialização. Neste sentido,

quais soluções você indicaria para os problemas habitações que as grandes cidades enfrentam?

Para finalizar, aqueles que estão interessados em dar continuidade aos estudos, quais

informações você aconselha ao aluno na hora de escolher uma especialização?

Não se trata de aconselhar, mas acredito que seja importante estar conectado nas várias “sub áreas” da arquitetura e do urbanismo para encontrar o que mais interessa. Outra sugestão é ler sobre metodologia de pesquisa. Há uma pressão dos órgãos de fomento da pesquisa nacionais e internacionais pelo aumento da qualidade de pesquisa por meio de um padrão comparável com outras áreas de conhecimento. Lembrar que Arquitetura é uma ciência social aplicada apesar de ter um forte conteúdo tecnológico.

Ateliê de arquitetura e

urbanismo da Universidade

Federal do Pará.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 17

José Júlio Lima graduated in Architecture from the Federal University of Pará (1986), Master of Architecture - Fukui University (1991), Master of Urban Design - Oxford Brookes University (1994) and a PhD in Architecture - Oxford Brookes University (2000). He is currently associate professor I of the Federal University of Pará and researcher at the Federal University of Rio de Janeiro. He has experience in Planning and Management Urban and Regional, with emphasis on Technical Planning and Urban and Regional Project, acting on the following topics: urban planning, urban design, sustainable development, public housing and sanitation policy.

As a great researcher who you are and having a work wide recognition throughout his professional and academic career. Tell us about the importance of specialization and post-graduate training of professionals who want to work in the field of research.The graduate is fundamental to the development of research. Students during graduation increasingly are becoming interested by research fellowships, which is very good. The specialization courses are the first step for further studies that there is no graduation. In architecture, the training is very general, do not consider a problem, however, to search a greater focus on a more specific work area is required. The master’s and doctoral courses, specifically in architecture have two large pockets, a more academic and other professional. I believe that both one as to the other is very important experience once formed. Even the critics and the architectural history require the architect to go through a maturation period. If before it was necessary to be after graduation, now during graduation is possible to develop research and just start to think, read deeper authors, ie “make the head” even before graduating.

In the case of Urban, large countries, such as Japan, faced serious structural problems during the process of economic development and managed to solve spatial problems through intelligent solutions involving a modern and bold architecture engineering projects. How would you rate the urban problems of Brazilian cities and what are the best ways to solve them?The question is fundamentally the understanding that

economic development and the spatial occupation go through a discussion that is not only solved by an engineering design or architecture. The architecture and engineering are activities that can and should be seen as enablers of a development planning. One has to consider that economic growth in the period in which Japan has developed more in the 1980s still lived in a world in which capital was not globalized, that cities had not assumed such an important role in the circulation of capital, explaining, urban problems are of various scales, it is important to know that there are some attributed to the level of economic development and dependence of citizens of unsustainable labor market in that there are few opportunities to form a more consolidated economy . Other problems such as the location of slums on the one hand and an aggressive real estate market in other need to be treated for redistributive policies. Cities are places where this possibility is a reality. This is not just a physical solution, one has to integrate the various interests, which are basically economic and political, to invest and be able to maintain urban services in an equilibrium level that can ensure that the market does not jeopardize possible actions of government and the private sector to solve the biggest problems with urban transportation, housing, health and safety.

One of his dissertations on “The Neighbourhood plan for upgrading the neighborhood of Bethlehem” and his doctoral thesis “Regulatory instruments and urban form: searching for social equity in Belém, Brazil”, analyze recurring situations the city of Belém do Pará . In short, what results were obtained with these studies?In the case of the dissertation was a major concern

to one aspect of the Master Plan of Bethlehem which was the formulation of what would be a neighborhood plan, the dissertation translated as Neighbourhood plan. At the time we lived in a crucial time for the cities, just after the 1988 Constitution, discussed the possibility of implementing instruments to enlarge land tenure, increasing slum upgrading policies. So, I tried to relate the field of study of the Urban Design with the guidelines contained in the master plan. For this I chose the Guamá neighborhood to serve as a case study to reflect on drawing qualities while that articulated the principle town of democratization. I am convinced that the dissertation helped in the discussion for example of the relationship between sanitation and urbanization, including today’s work in a research funded by CNPq that studies the Bethlehem drainage basins, including the Guamá neighborhood. Have the thesis, by the requirement of the PhD level, required a study to propose a methodology and also original problem. I developed a research methodology where the urban form can be measured as their condition to promote greater accessibility and contribute to decrease the socio-spatial segregation, while the concept of social equity, also the result of the 1988 Constitution, was analyzed over several master plans made to Bethlehem. As a result, I had the opportunity to participate in the review of the master plan of Bethlehem and the development of other cities of Pará. in all it was possible to work with the methodology began in the doctorate.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 18

Therefore, the city of Bethlehem, part of the Amazon, has large natural resources with strong economic trends, being recognized as the “metropolis of the Amazon.” Thus, the main difficulties that the city currently faces with respect to its urban planning and it would be advisable to minimize such problems?I believe that the city of Bethlehem is experiencing a period of urban management crisis. There is a large housing boom without the legal framework of urban control take account of this process. The difficulties are mainly the lack of coordination between public policies and urban management. I believe that there are resources available, which in itself is already a solution, the problem is that the projects do not talk to each other. Although Bethlehem is growing through new investments for housing various economic standards, there is a link between them and the public services. We have to enforce urban planning instruments such as charging for Solo Created, Special areas of social interest and stop thinking the city to “hiccups”.

Another serious problem that today’s cities face is related to the housing shortage. Programs like “My House, My Life” assist needy families through housing, still behind the standards that a good housing provides. Other programs such as PROSAMIM in Manaus and the Barca Village in Bethlehem, are already characterized for considering a number of important issues such as the customs of the locals and rehabilitation work. In this sense, what solutions would you indicate to the problems dwellings that large cities face?I believe that integrated housing programs are

paths to solutions, as proposed above in an integrated manner. The new home in sanitized area need to have transport, health, education and create opportunities for access to employment. I do not think that is too much to ask, after all that’s what the cities were created by mankind. The housing pattern is suitable not only as regards the housing unit, and sanitized with guaranteed access environment need to be considered. The architectural projects to work with minimum standards need to be articulated with city hall’s shares, state and Union to promote the development of the residents.

You have walked several master’s theses over the years and being teacher’s graduate program of the Federal University of Pará, you see the research being undertaken by new teachers and how do you evaluate the importance of the master for the urban development of the city ?The research that I guide and dissertations that have been completed with my guidance are characterized by the link between the issues of urban management, planning and always applying a methodology that addresses the urban form as a key component. While not all have been in the course of architecture, oriento civil engineering at the interface between urban form and sanitation actions, geography order to investigate the concepts of the discipline with the application of situations facing the management of space, including advancing to the countryside. In the post-graduate program in architecture UFPa started in 2010 oriento dissertations dealing with urban morphology on the new changes in

financing patterns of housing provision in question the centrality of form and themes that relate to public policy in the city with an emphasis on housing policy in its various aspects. I make sure that the work is able to move both empirically and conceptually. Although many jobs are based in history, it is important to move forward conceptually and may include aspects that are worked in day to day management.

Finally, those who are interested in continuing their studies, what information do you advise the student in choosing a specialization?This is not advice, but I believe it is important to be connected in various “sub areas” of architecture and urbanism to find what interests you most. Another suggestion is to read about research methodology. There is a pressure from development agencies of national and international research by improving the quality of research by means of a comparable standard to other areas of knowledge. Remember that architecture is an applied social science despite having a strong technological content.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 19

ARTIGOO PAISAGISMO MODERNO BRASILEIRO – ALÉM DE BURLE MARX

Dr. Silvio Soares MacedoArquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da USP, na qual é Professor Titular de

Paisagismo, Editor da revista Paisagem e Ambiente:

Ensaios, Coordenador do Laboratório da

Paisagem e da pesquisa Quadro do Paisagismo no

Brasil. Desenvolve, desde 1976, pesquisas na área de

paisagismo, tendo publicado quatro livros.

Resumo Os anos 1930 e 1940 foram anos de rupturas na arquitetura, no urbanismo e, naturalmente, no paisagismo. A negação do passado recente era objetivo das vanguardas. Esta se refletiu no tratamento do espaço livre urbano, público e privado. A princípio as novas concepções e programas se restringiram à obra de Roberto Burle Marx e uns poucos autores. Dos anos 1950 em diante, em São Paulo e Rio de Janeiro, com o aumento da urbanização, da população de classe média e alta, a condições para o surgimento de novos autores e obras estavam feitas. Autores como Roberto Coelho Cardozo e Valdemar Cordeiro criaram bases para o surgimento de inúmeros outros projetistas que, em escritórios ou junto à órgãos públicos, consolidaram preceitos formais e programáticos do paisagismo moderno nacional. Nos anos 1970 e 1980, o aumento do mercado para os paisagistas, associado à expansão do mercado para arquitetura, consolida-se seu o trabalho e sua identidade.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 20

Por muito tempo, para nós brasileiros, a figura de Roberto Burle Marx foi sinônimo de Paisagismo. Ele com suas diversas equipes, foi responsável (por cerca de 50 anos) pelos mais importantes projetos paisagísticos do país concebidos e executados, para o Estado e para as elites de então. A qualidade do arquiteto paisagista Burle Marx é inegável e uma grande quantidade de suas criações são consideradas obras-primas da arquitetura paisagística mundial do século XX, ao lado de nomes como Garret Eckbo, Lawrence Halprin, Thomas Church, Dan Kiley, Peter Walker, Bernand Tschumi e outros poucos mais.

Burle Marx foi um dos pioneiros do “design” moderno no paisagismo moderno mundial, cuja origem está na década de 1930, período de intenso nacionalismo e transformações sociais, tendo participado no Brasil do projeto do Ministério da Educação e Saúde (1937) – marco da arquitetura nacional. Neste, aproveitando-se da nova concepção arquitetônica-urbanística do edifício-quadra, desenha um jardim-praça estruturado por canteiros de formas rocambólicas, utilizando-se do movimento e da cor no desenho dos pisos, executados no tradicional mosaico português e plantas tropicais.

Este foi o primeiro de uma coleção de projetos de alto nível e qualidade formal indiscutível que, extremamente visíveis, bem mantidos e divulgados, transformaram Roberto no paisagista brasileiro e mundial do século XX. O rol de sua obra abriga projetos como os Parques do Flamengo (RJ)

e Mangabeiras (BH), as Praças Salgado Filho (RE e RJ), parques particulares nas serras fluminenses, o Largo da Carioca (RJ), dezenas de jardins particulares de casas e prédios de apartamentos, os parques dos palácios de Brasília e muitos outros.

Por outro lado, desde os primeiros tempos do modernismo e, em especial, após os anos 1950, delineia-se pelo país o trabalho não tão conhecido, ou divulgado, de muitos profissionais, em grande parte arquitetos de formação, que foram responsáveis, de fato, pela consolidação da arquitetura paisagística moderna brasileira.

Arquitetura Paisagística – um processo de criação e/ou readequação intencional e formal de um espaço livre urbano, que se direciona para a formalização de praças, pátios, jardins, calçadas, calçadões, parques e áreas de conservação, em especial.

Cada época ou momento histórico tem características específicas de tratamento do espaço livre urbano, da antigüidade clássica, quando os jardins palacianos e das casas patricias eram cuidadosamente elaborados e dos fóruns, grandes praças-secas, decoradas por colunatas, fontes e pisos e de intenso uso social; do período barroco, com os jardins palacianos estruturados por eixos ou as promenades arborizadas das cidades européias da época.

A arquitetura paisagística, como a conhecemos hoje, tem sua formalização na Europa (França e Inglaterra, em especial) e

nos Estados Unidos no século XIX. Foi um tempo de grandes mudanças sociais e urbanas e o crescimento populacional urbano induz, então, a novas demandas e entre elas a da projetação dos espaços livres urbanos.

Foi um período de grande efervescência cultural, de abertura e criação para as massas, de espaços de recreação e lazer e da “urbanização” da vegetação. A arborização das ruas e praças se consolida neste século e o parque público, o jardim privado de pequeno porte e o boulevard (criações dos Oitocentos), sendo desde então figuras comuns da gramática urbana.

Formalmente, o espaço público moderno do século XIX é tratado sob o ponto de vista de exposição de pessoas e objetos, destinado ao flanar das classes emergentes, novas parceiras da elite e para o divertimento das massas.

A imagem genérica dos espaços urbanos ocidentais do final dos oitocentos e dos primeiros anos dos novecentos é tipicamente cênica, romântica, uma colagem de informações e formas, descobertas, criadas e recriadas e advinda das informações sintetizadas pela Europa Ocidental no período em questão.

A qualidade do arquiteto paisagista Burle Marx é inegável e uma grande quantidade de suas criações são consideradas obras-primas da arquitetura paisagística mundial do século XX, ao lado de nomes como Garret Eckbo, Lawrence Halprin, Thomas Church, Dan Kiley, Peter Walker, Bernand Tschumi e outros poucos mais.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 21

O século XX, no pós Primeira Guerra, marca o início do rompimento ocidental com velhas ordens sociais e formais e nos anos 1930 (talvez de um modo um tanto tardio), os rompimentos surgem no Brasil, se consolidando na ordem cultural-nacional – na música, escultura, pintura, arquitetura e no paisagismo.

Arquitetura Paisagística Moderna – pauta-se basicamente pelo atendimento de novas formas de uso e, portanto, de organização morfológica do espaço livre urbano, no qual é introduzida uma nova figura – o automóvel, que exige uma reordenação dos tecidos urbanos existentes e a criação de outros especialmente tratados para a convivência veículo-pedestre. Ao

espaço livre para a circulação de pedestre – calçadas e passeios e para lazer, são atribuídas novas configurações, agora de acordo com os padrões urbanístico-sociais em voga.

A arquitetura paisagística se torna, então, funcionalista, com a determinação de áreas equipadas especialmente para o lazer, recreativo ou esportivo, nacionalista com o abandono do uso de vegetação, anódina e com ênfase na tropicalidade do país: simples, com a “proibição” do uso de elementos decorativos do passado – pitorescos e temáticos – sendo execradas as cenarizações, as topiárias e qualquer lembrança do Ecletismo recente: geométrica – com o uso e abuso das formas geométricas livres, inspiradas nas temáticas da pintura da época, no qual Burle Marx foi o

mestre inspirador nacional – e colorida – com a introdução do uso intenso de pisos multicores.

EtapasO Paisagismo Moderno Brasileiro é regido por duas influências nítidas, a primeira – a obra isolada de Burle Marx e associados, com seu nacionalismo, representações geométricas e uso da vegetação nativa; a segunda – internacional, diretamente referenciada às obras da vanguarda paisagística norte-americana da costa Oeste, que sintetizadas pelos diversos profissionais resultam em obras de caráter extremamente particular, típicas da produção paisagística nacional da segunda metade do séc. XX.

Pode-se dividir o processo de formação da arquitetura paisagística brasileira moderna em três etapas distintas, que recobrem um período de 53 anos, do surgimento do projeto marco de Burle Marx – no Ministério da Educação e Saúde, até a construção da Praça Itália em Porto Alegre (1990), projeto de cunho fortemente cenográfico e que consolida a ruptura com a linha projetual paisagística então vigente (autor Carlos Fayett).

Etapa 01 (primórdios) – 1937-1950 – O projeto moderno paisagístico é pouco a pouco difundido junto às obras de arquitetura moderna, ou modernista, cujos espaços livres adjacentes e/ou complementares são por vezes objeto de um tratamento paisagístico de vanguarda-funcional, simples e tropicalista.

Nesta época o destaque principal pode ser atribuído à obra de Roberto Burle Marx,

em Pampulha (BH), e Otávio Teixeira Mendes, entre outros, sendo comum que o próprio arquiteto de edifícios fornecesse o desenho para os pátios e jardins dos seus projetos arquitetônicos (caso de Rino Levi).

A característica principal dos novos projetos paisagísticos residenciais está baseada na transparência e visibilidade a ser dada à residência e a formalização do pátio ou jardim de estar da família, muitas vezes decorado por painéis azulejados, fontes de formas geométricas ou orgânicas e esculturas de autores do período. Poucos são os projetos públicos modernos de grande porte e estes, em sua maioria, são da autoria de Roberto Burle Marx. Por outro lado, os projetos privados são muitos e divulgados em revistas de época, criando referenciais para sua popularização e surgimento de novos autores.

Etapa 02 – 1950-1960 – Expansão com o crescimento e modernização urbana e arquitetônica do período, com o expraiamento da verticalização (agora os prédios são isolados no lote), o aumento da demanda de projetos paisagísticos modernos é um fato.

Nesta etapa, em São Paulo inicia seus trabalhos, o paisagista Roberto Coelho Cardozo que, como professor da FAUUSP e projetista, produz uma série de trabalhos junto aos arquitetos em evidência no período.

Sua obra é nitidamente influenciada pelo traçado de pisos e canteiros dos paisagistas americanos Halprin e Eckbo (com

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 22

quem trabalhou ao final dos anos 1940) e pela tropicalidade no plantio de Burle Marx, com quem também trabalhou posteriormente, em sua estada nos Estados Unidos.

Este é o período do surgimento do primeiro parque urbano modernista do país – o Parque do Ibirapuera, em São Paulo (1954), que teve executado o projeto paisagístico de Otávio Teixeira Mendes (um outro, bastante divulgado, de caráter extremamente geométrico, foi feito por Burle Marx e equipe). O projeto de Teixeira Mendes, é bastante conservador, mas despojado de cenarizações e elementos pitorescos, sendo quase um híbrido formal entre a visão bucólica do passado e a simplicidade modernista.

Formam-se nesta década uma série de jovens arquitetos – Miranda Magnoli, Ayako Nishikawa, Rosa Kliass e outros, em São Paulo e Fernando Chacel, no Rio de Janeiro, que começam a conceber jardins para residências e prédios de apartamentos dentro dos princípios modernistas vigentes que são por eles reprocessados e fortalecidos.

Paralelamente, ainda em São Paulo, Valdemar Cordeiro (artista plástico de origem, como Burle Marx) dedica-se a projetar jardins modernos, que publicados em revistas de época acabam sendo também referenciais de projeto do período. Sua obra de alta qualidade, apresenta uma visão tridimensional articulada, promovendo uma simbiose entre os planos vegetais arbóreos e arbustivos e um

desenho de piso bastante geometrizado. Etapa 03 (consolidação) – 1960-1989 – O

projeto paisagístico eclético de caráter europeu é banido definitivamente do foco de atenções, tanto nas obras públicas como privadas. Neste período a atividade recreativa passa ser ponto focal na produção dos novos espaços, tanto nos pátios particulares residenciais de classe média alta, onde a piscina se torna o ponto de referência, como nos pátios de edifícios residenciais, a princípio totalmente ajardinados e paulatinamente tendo introduzidos playgrounds, quadras e piscinas, e nos espaços públicos, nos quais os equipamentos de lazer também são introduzidos.

Estes são foco de mudanças drásticas, como pode ser observado na obra das primeiras gerações de arquitetos paisagísticas do DEPAVE – Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura Municipal de São Paulo, como Elionora Seligmann, Lucia Porto, Célia Kawaí, Vladimir Bartalini e outros, no trabalho da Fundação Parques e Jardins do Rio de Janeiro e do Instituto de Planejamento de Curitiba.

Ao final da década de 1980 são poucas as municipalidade das grandes cidades que não possuem divisões especializadas no projeto e gestão de espaços públicos. Paralelamente o trabalho de um sem número de outros profissionais-paisagistas espalha-se pelo país, alguns diretamente inspirados na obra de Roberto Coelho Cardoso, como Benedito Abbud, outros tantos como José Tabacow, advindos do escritório de Burle Marx.

Sua obra de alta qualidade, apresenta uma visão tridimensional articulada, promovendo uma simbiose entre os

planos vegetais arbóreos e arbustivos e um desenho de piso bastante

geometrizado.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 23

Dr. Silvio Soares MacedoArchitect graduated from the Faculty of Architecture and Urbanism of USP, where is Professor ofLandscaping, Editor of Landscape and Environment: Essays, from the Laboratory CoordinatorLandscape and research Framework Landscaping in Brazil. Develops, since 1976, research in the landscaping area, having published four books.

AbstractThe 1930s and 1940s were years of breaks in architecture, urbanism and of course in landscaping. The recent past denial was goal of the vanguards. This was reflected in the treatment of urban space, public and private. At first the new concepts and programs are restricted to the work of Roberto Burle Marx and a few authors. 1950s onwards, in São Paulo and Rio de Janeiro, with increasing urbanization, middle and upper class population, the conditions for the emergence of new authors and works were made.

Authors such as Roberto Coelho Cardozo and Valdemar Lamb have underpinned the emergence of numerous other designers who, in offices or by the public agencies, consolidated formal and programmatic precepts of national modern landscaping. In the 1970s and 1980s, the increase in the market for landscape associated with the expansion of the market for architecture, consolidates your work and your identity.

For a long time, for us Brazilians, the figure of Roberto Burle Marx was synonymous with Landscaping. He with its various teams, was responsible (for 50 years) by most important country of landscape projects designed and implemented for the Stateand for the elites of the time. The quality of the landscape architect Burle Marx is undeniable and a lot of his creations are considered masterpieces of architecture world landscape of the twentieth century, alongside names like Garret Eckbo, Lawrence Halprin, Thomas Church, Dan Kiley, Peter Walker, Bernard Tschumi and a few more.

Burle Marx was one of the pioneers of the modern “design” in the modern world landscaping, whose origin is in the 1930s, intense nationalism period and social changes, participating in Brazil’s Ministry of Education and Health Project (1937) - landmark national architecture. In this, taking advantage of the new architectural-urban design of the building-block, draw a garden-square structured by beds of rocambólicas forms, using movement and color in the design of floors, running on traditional Portuguese mosaic and tropical plants.

This was the first of a collection of high-value projects and unquestionable formal quality, highly visible, well maintained and disclosed, Roberto turned in Brazilian and global landscape of the twentieth century. The list of his work home projects like the Flamengo Park (RJ) and Mangabeiras (BH), the Salgado Filho centers (RE and RJ), private parks in Rio de Janeiro saws, Largo da Carioca (Rio de Janeiro), dozens of private gardens houses and apartment buildings, the parks of the palaces of Brasilia and many others.

Moreover, since the early days of modernism and, especially after the 1950s, outlined by the country work not as well known or disclosed, many professionals, largely training of architects who were responsible, in indeed, the consolidation of Brazilian modern landscape architecture.

Landscape Architecture - a process of creating and / or intentional readjustment and formal urban space, which moves to formalize squares, courtyards, gardens, driveways, sidewalks, parks and conservation areas in particular.

Each historical era or time has specific features of treatment of urban space, of classical antiquity, when the palace gardens and patricias houses were carefully designed and forums, large squares-dried, decorated with columns, fountains and floors and heavy use social; the Baroque period, with the palace gardens structured by axles or wooded promenades of European cities of the time.

The landscape architecture as we know it today, has its formalization in Europe (France and England in particular) and the United States in the nineteenth century. It was a time of great social and urban change and urban population growth induces, then the new demands and between the projecting of urban open spaces.

It was a period of great cultural effervescence, openness and creation to the masses, recreation and leisure spaces and the “urbanization” of vegetation. The afforestation of streets and squares is consolidated in this century and the public park, private garden small and the boulevard (creations of the nineteenth century), and since common figures of urban grammar.

Formally, the modern public space of the nineteenth century is treated from the point of view of exposure of humans and objects, for the strolling emerging classes, new partner of the elite and the masses for fun.

The generic image of Western urban spaces the end of eight hundred and first year of nine is typically scenic, romantic, a collage of information and forms, discoveries, created and recreated and arising out of the information summarized in Western Europe in the period in question.

The twentieth century, in the post World War, marks the beginning of Western break with old social and formal orders and in the 1930s (perhaps in a way a late both), the disruptions arise in Brazil, consolidating the cultural-national order - in music, sculpture, painting, architecture and landscaping.

Modern Landscape Architecture - is guided primarily by addressing new forms of use and therefore morphological organization of urban space in which is introduced a new figure - the automobile, which requires a reorganization of the existing urban fabric and the creation of other specially treated to vehicle-pedestrian interaction. To clear for pedestrian circulation - driveways and sidewalks and leisure, received new settings, now according to the urban and social standards in vogue.

The landscape architecture becomes, then, functionalist, with the determination of areas especially equipped for leisure, recreation or sports nationalist with the abandonment of

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 24

the use of vegetation, anodyne and with emphasis on the country tropicality: simple, with the “ban” the use of decorative elements of the past - scenic and theme - being execrated the cenarizações, the topiaries and any recent Eclecticism souvenir: Geometric - with the use and abuse of the free geometric shapes, inspired by the themes of the time painting, in which Burle Marx was the national motivational master - and colorful - with the introduction of intensive multicolored floors.

StepsThe Brazilian Modern Landscaping is governed by two clear influences, the first - the isolated work of Burle Marx and associated with nationalism, geometric representations and use of native vegetation; the second - international, directly referenced the works of American landscape forefront of the west coast, which synthesized by various professionals result in extremely particular character works, typical of the national landscape production of the second half of the century. XX.

You can divide the process of formation of modern Brazilian landscape architecture in three distinct stages, which cover a period of 53 years, the emergence of the landmark project of Burle Marx - the Ministry of Education and Health, to the construction of the Plaza Italia in Porto Alegre (1990), strongly scenic nature of the project and consolidating the break with the then current landscape architectural design line (author Carlos Fayette).

Step 01 (early) - 1937-1950 - The landscaped modern design is little by little spread to works of modern architecture, or modernist, whose adjacent and / or additional clearances are sometimes the

subject of a landscaping vanguard-functional, simple and tropicalista.

At this time the main focus can be attributed to the work of Roberto Burle Marx, in Pampulha (BH), and Otavio Teixeira Mendes, among others, it is common that the very buildings architect provide the design for the courtyards and gardens of his projects (case of Rino Levi).

The main feature of the new residential landscape projects is based on transparency and visibility to be given to the residence and the formalization of the patio or garden being of the family, often decorated with tiled panels, sources of geometric or organic forms and sculptures authors of the period . Few modern public projects large and these mostly are by Roberto Burle Marx. On the other hand, private projects are many and published in magazines of the time, creating benchmarks for its popularization and development of new authors.

Step 02 - 1950 to 1960 - Expansion to the growth and modernization of urban and architectural period, with expraiamento the vertical (now the buildings are isolated in the batch), the increase in demand of modern landscape design is a fact.

At this stage in Sao Paulo begins its work, the landscape architect Roberto Coelho Cardozo that, as a teacher of FAU and designer, producing a series of works with architects in evidence in the period.

His work is clearly influenced by the design of floors and beds landscapers American Halprin and Eckbo (who worked the late 1940s) and tropicality in planting Burle Marx, with whom he also worked later in his stay in the United States.

This is the period of the emergence of the

first modernist urban park in the country - the Ibirapuera Park in Sao Paulo (1954), which had run the landscape design Otavio Teixeira Mendes (another, well-publicized, extremely geometric character, was made by Burle Marx and staff). Teixeira Mendes project, is quite conservative, but stripped of cenarizações and picturesque elements, almost a formal hybrid between the bucolic view of the past and the modernist simplicity.

Are formed in this decade a number of young architects - Miranda Magnoli, Ayako Nishikawa, Pink Kliass and others, in Sao Paulo and Fernando Chacel, in Rio de Janeiro, which start designing gardens for homes and apartment buildings within agreed modernist principles that they are reprocessed and strengthened.

At the same time, still in São Paulo, Valdemar Lamb (artist of origin, as Burle Marx) is dedicated to designing modern gardens that time published in magazines end up being too referential period of the project. Its high quality work, has a pivotal three-dimensional vision, promoting a symbiosis between the arboreal and shrub plant plans and a very geometrized tread design.

Step 03 (consolidation) - 1960-1989 - The eclectic landscape design European character is definitely banned from the focus of attention, both in public works and private. In this period the recreational activity shall be focal point in the production of new spaces, both in private residential courtyards upper middle class, where the pool becomes the reference point, as in the courtyards of residential buildings, fully landscaped principle, having gradually introduced playgrounds, courts and swimming pools, and in

public spaces, where the leisure facilities are also introduced.

These are the focus of drastic changes, as can be seen in the work of the first generations of landscape architects DEPAVE - Department of Parks and Green Areas of the City of São Paulo, as Elionora Seligmann, Lucia Porto, Celia Kawai, Vladimir Bartalini and others, the work of the Foundation Parks and Gardens of Rio de Janeiro and Curitiba Planning Institute.

At the end of the 1980s are few municipality of big cities that do not have specialized divisions in the design and management of public spaces. Alongside the work of a number of other professional-landscape spreads across the country, some directly inspired by the work of Roberto Coelho Cardoso, as Benedito Abbud, as many as Joseph Tabacow, arising from Burle Marx office.

Revista do mestrado profissionalem arquitetura paisagistica | 2015.1 25