Revista do Meio Ambiente 04

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Edição 04 da Revista do Meio Ambiente

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2 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 003 - OUTUBRO - 2006

Comunicação Ambiental

Por Vilmar SidneiDemamam Berna*

A falta de informação ambiental é umdos maiores problemas ambientais quea Sociedade precisa enfrentar.

(*) Vilmar é escritor com 15 li-vros publicados. Em 1999, rece-beu no Japão o Prêmio Global500 da ONU Para o Meio Am-biente. É fundador e superinten-dente executivo da REBIA –Rede Brasileira de InformaçãoAmbiental (www.rebia.org.br )e editor do Portal ( www.portaldomeioambiente.org.br ) e daRevista do Meio Ambiente(www.revistadomeioambiente.org.br).Mais informações sobre o autor:(http://www.rebia.org.br/Vil-marBerna/). Contatos: [email protected]

REDE BRASILEIRA DE INFOR-MAÇÃO AMBIENTAL –WWW.REBIA. ORG.BR - Organiza-ção da Sociedade Civil – OSC, semfins lucrativos, CNPJ: 05.291.019/0001-58 Inscrição estadual e muni-cipal: isentas - sede à Trav. GonçaloFerreira, 777 – Casarão da Pontada Ilha, Bairro Jurujuba, Niterói, RJ– Brasil – Telefax: (21) 2610-2272 /Presidente do conselho diretor: Sér-gio Ricardo Ferreira Harduim, bió-logo e Educador Ambiental.

FUNDADOR DA REBIA E EDI-TOR GERAL: Escritor e jornalistaVilmar Sidnei Demamam Berna(Reg. Prof. 14.562 L65 Fl 62v MT-RJ), ganhador do Prêmio Global 500da ONU Para o Meio Ambiente –[email protected] Telfax: (021)2610-2272

Sem informação am-biental de qualidade aSociedade terá dificul-dades para compreen-

der a gravidade da crise ambien-tal, e pior, será incapaz de fazerescolhas adequadas que levem amudanças que revertam a atualrota suicida de nossa espécie so-bre o Planeta. Os recursos natu-rais são FINITOS e estamos con-sumindo em torno de 20% a maisdo que o Planeta consegue re-por (Fonte: Relatório Planeta Vivo- WWF).

A quantidade de informaçãoambiental que chega à Socieda-de ainda é insuficiente e irregu-lar. Os poucos e heróicos veícu-los especializados da mídia ambi-ental, incluindo a Revista do MeioAmbiente e o Portal do MeioAmbiente, não ultrapassam 500 milexemplares mensais de tiragem, oque é muito pouco diante de umpaís com 170 milhões de habi-tantes.

A pesquisa “O que o brasilei-ro pensa do meio ambiente”, doISER/MMA, tem constatado quea conscientização do brasileiro emrelação ao meio ambiente aumen-tou 30% nos últimos 15 anos ecresceu o número de brasileirosque não consideram exagerada apreocupação com o meio ambi-ente (42% em 97; 46% em 2001 e

S49% em 2006). Outra pesquisa doISER/MMA, realizada com 1.141dos 1.337 delegados participan-tes da “II Conferência Nacionalde Meio Ambiente”, em fev 2005,constatou que a falta de infor-mação sobre Meio Ambiente eEducação Ambiental está incluí-da por estes multiplicadores deopinião entre os três principaisproblemas ambientais brasileiros.

Isso tem levado a chamadaGrande Mídia a incluir cada vezmais o tema ambiental em suaspautas, mas ainda é uma cobertu-ra esporádica e geralmente foca-lizada ou nos aspectos da belezada natureza ou de suas agressões.As questões ambientais ainda sãotratadas de forma compartimen-talizada e o ser humano ainda nãoé visto como parte da natureza.Isso acaba reforçando na opiniãopública a idéia de que a questãoambiental é importante, mas nãoé prioritária diante das necessi-dades humanas. O meio ambien-te acaba sendo visto como umaespécie de estorvo, um obstáculoao crescimento.

As organizações governamen-tais e não governamentais, inclu-indo a iniciativa privada, na au-sência de veículos para democra-tizar suas informações ambientaisacabam tendo de criar seus pró-prios veículos. A opinião pública

é formada por grandes e peque-nos grupos de interesses, e a in-formação ambiental institucionalacaba refletindo apenas a visão deum determinado grupo de inte-resse, em detrimento de outros,podendo passar à Sociedade umavisão distorcida dos fatos.

Tenho procurado dar minhacontribuição com a democrati-zação da informação ambientalem nossa sociedade. Em janeirode 1996, fundei o Jornal do MeioAmbiente, que distribuiu gratui-tamente mais de 2 milhões deexemplares em todo o país aosmultiplicadores e formadores deopinião ambiental. A partir de ju-nho de 2006, o Jornal do MeioAmbiente foi substituído pelaRevista do Meio Ambiente e osite transformou-se no Portal doMeio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br ), com cer-ca de 5.000 acessos AO DIA, au-ditado de forma independente.O antigo IBVA – Instituto Brasi-leiro de Voluntários Ambientais foitransformado na REBIA – RedeBrasileira de Informação Ambien-tal, uma organização sem fins lu-crativos, que já reúne cerca de3.000 membros ativos através deseus seis grupos de debates am-bientais, possui diversos veículosassociados, inclusive uma TV Di-gital, uma agência de notícias es-

pecializada e 400 rádios em todoo país, e passou a ser responsávelpela edição da Revista e do Por-tal do Meio Ambiente.

Este trabalho seria mais fácil seas empresas, governos e organiza-ções compreendessem que a de-mocratização da informação am-biental não é uma mera questãocomercial ou de marketing, masé estratégica para nossa Socieda-de, pois o efetivo exercício da ci-dadania ambiental, crítica e parti-cipativa, capaz de tomar decisõese fazer escolhas de forma consci-ente, pressupõe no mínimo a exis-tência de informação ambientalacessível, de qualidade e indepen-dente, e ainda estamos bem lon-ge disso.

Expediente

VEÍCULOS DA REBIA:- impresso de circulação nacional:

REVISTA DO MEIO AMBIENTE- impressos regionais: JORNAL DA

REBIA SUDESTE, JORNAL DA RE-BIA SUL, JORNAL DA REBIA CEN-TRO-OESTE, JORNAL DA REBIANORDESTE e JORNAL DA REBIANORTE

- VEÍCULOS na Internet: PORTALDO MEIO AMBIENTE e NOTÍCIASDO MEIO AMBIENTE

CONSELHO GESTOR DA REBIAE MEMBROS DO CONSELHO EDI-TORIAL DOS VEÍCULOS: AMYRAEL KHALILI (ongcta@ terra.com.br );ANDRÉ TRIGUEIRO, ARISTIDESARTHUR SOFFIATI, CARLOS AL-BERTO ARIKAWA, DAVID MAN WAIZEE, FLÁVIO LEMOS DE SOUZA,

LUIZ FERNANDO FELIPPE GUIDA- presidente do Conselho Deliberati-vo da REBIA ([email protected]), RICARDO HARDUIM - Pre-sidente da Diretoria Executiva daREBIA ([email protected] ), RO-GÉRIO RUSCHELL.

IMPORTANTE: Os veículos daOSC REBIA e associado aceitamapoios, parcerias, patrocínios, co-laborações de Empresas, OSCs,Governos, mas não aceitam condi-cionamentos ou interferência na li-nha editorial ou na pauta. Os veícu-los da OSC REBIA e associadoaceitam publicidade na forma dematérias jornalísticas, mas irá si-nalizá-las ao leitor com destaque es-pecial. Os veículos da OSC REBIAe associado garantem espaço, com

o máximo de isenção possível, aambientalistas, empresas, gover-nos e a todos que necessitem de-mocratizar informação ambiental,sem distinção ideológica, caben-do ao leitor fazer o seu julgamen-to, assegurando-lhe também es-paço para a Opinião do Leitor. Asidéias veiculadas nos veículos daOSC REBIA e associado e noPORTAL não refletem necessari-amente as opiniões do Editor oude seu Conselho Editorial. Os ve-ículos da OSC REBIA e associa-do não se responsabilizam poropiniões e informações quandoemitidos em artigos e colunas as-sinados e qualquer pessoa ou ins-tituição que se sentir prejudicada,tem o direito, democrático, e legal,do contraditório.

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2006 - OUTUBRO - EDIÇÃO 003 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 3

De Olho no Parlamento

Sarney Filho alertapara o risco detransgênicos

Partido Verde alertapara o risco que cor-remos ao permitir oplantio de sementes

transgênicas ao lado de unidadesde conservação, como dispõe aMedida Provisória 327, enviada aoCongresso logo após o segundoturno.

Com a autoridade de ex-mi-nistro do Meio Ambiente, o de-putado Sarney Filho (PV-MA)entrou com emenda modifican-do a medida provisória, passandoa palavra final sobre a presençaou não de sementes transgênicas

no entorno ao plano diretor decada unidade de conservação.“Acho que a MP 327 é precipi-tada, o ideal seria nos atermos aoprincípio da precaução”, diz Sar-ney Filho, lembrando que a mai-oria dos parques nacionais nãotem planos de manejo e assim fi-cariam sujeitos à regra geral in-troduzida pela MP, que autorizaalgodão e soja transgênicos até800 e 500 metros das unidades deconservação, o que antes era proi-bido por lei. “O melhor seria ter-mos cautela e procurar incorpo-rar as experiências internacionais

sobre a questão dos organismosgeneticamente modificados emzonas de amortecimento de áreasde proteção e unidades de con-servação”, diz Sarney Filho.

Para o líder do PV, Jovino Cân-dido (SP), o governo deveria terenviado ao Congresso um projetode lei e não mais uma MP, “já quese trata de questão controversa edelicada, devido ao perigo de con-taminação genética de efeitos ir-

reversíveis, passando das áreas deproteção ambiental para as própriasunidades de conservação”.

A bancada do PV votou con-tra a liberação dos transgênicos noinicio do governo Lula e contra aatual lei de biossegurança, prefe-rindo recomendar o princípio daprecaução. A MP estará trancan-do a pauta a partir do dia 16,quando terá que ser votada naCâmara.

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Consumo SustentávelPor Danielle Jordan /AmbienteBrasilwww.ambientebrasil.com.br Natal ‘Ecológico’

N

O final do ano se aproximae, com isso, muita gente jáse dedica a esboçar aspromessas típicas doperíodo. A maior partedelas estaciona, porém, noterreno das boas intençõese, lá, entra em extinção.Mas não é difícil nemtrabalhoso adotar algunsprocedimentos, já nesteNatal, capazes dedisseminar umaconsciência depreservação do meioambiente, através daprática. AmbienteBrasilpreparou algumassugestões neste sentido,com base no entendimentode que proteger anatureza é uma tarefacotidiana, a ser abraçadapor todos dentro de suaspossibilidades.

este Natal:

1) Planeje suas com-pras e procure fazê-las

a pé. Para que amargar aquele es-tresse de procurar vaga nos sho-ppings ou nos centros das cida-des” Dê preferência a caminha-das: você cuida da própria saúdee ajuda a diminuir a poluição doar.

2) Planejar suas compras tam-bém faz bem ao bolso. Na últimahora, tende-se a pagar mais e aescolher menos.

O consumo racional é outramedida de proteção ao meioambiente.

3) Dispense aquele monte deplásticos e fitas e crie embalagensde presentes divertidas, com o usode materiais reciclados.

4) Para a criançada, dê brin-quedos que não precisem de pi-lhas. Eles estimulam a coordena-ção motora e a criatividade. Pi-lhas são poluentes se o seu des-carte não for feito de maneiraadequada – o que ainda é o maiscomum.

5) Ao presentear um eletrodo-méstico, observe se ele tem o selodo Procel – o programa do Go-verno Federal voltado para a eco-nomia no consumo de energia

elétrica.6) Os ingredientes principais

em uma ceia natalina são o amore a harmonia, não o luxo. Prefiraalimentos frescos, da estação, li-vres de agrotóxicos. O chester éum animal que nem existe nanatureza. Classificam-no jocosa-mente na internet como a gali-nha que freqüenta academia etoma bomba (anabolizante). Se asfinanças não derem para um peru,compre frango, melhor ainda sefor daqueles criados soltos emquintal, comendo milho.

7) Rabanada tem a cara doNatal. Que tal fritá-las em óleosque não contenham organismostransgênicos “Evite os da Bungee da Cargill, que os trazem emsua formulação e não avisam oconsumidor nos respectivos ró-tulos, conforme denúncia doGreenpeace”.

8) Decore a mesa com arran-jos de plantas vivas, em vasos ondevocê pode amarrar, por exemplo,laços dourados e vermelhos. Des-cubra a beleza da simplicidade.

9) Árvore de Natal viva tam-bém é muito mais bonita. Com-pre um pinheiro em vaso e deixe-o lá o ano todo. Ou plante-o nojardim, tendo, nesse caso, o cuida-do de escolher uma espécie cujasraízes não se espalhem muito.

10) Enfeite a árvore com bolasde PVC, mais duráveis que as devidro.

11) Não use copos, pratos outalheres descartáveis. Guardanapode pano também é mais chique emenos poluente.

12) Na hora de abrir os pre-sentes, deixe sacos de lixo à mãopara separar, de imediato, papéis,papelões e plásticos.

13) Várias famílias e escolas jápromovem seus amigos-secretoscom presentes confeccionados àbase de sucata. É muito divertidoe serve como um bom exemploàs crianças.

14) Vai arrumar a casa para re-ceber os amigos” Fazer aquela lim-peza tão completa que só no Na-tal mesmo” Então lembre-se denão desperdiçar água. Lavar calça-da, varanda e o carro com man-gueira, nem pensar. Use o balde.

15) Por fim, tente distribuir so-lidariedade, neste Natal e nos pró-ximos. A ambição desmedida, oapreço pelo “ter”, em detrimentodo “ser”, e o acúmulo de bensandam sempre de mãos dadas coma destruição do meio ambiente.

Colaboração enviada pela lei-tora Adriana Paquier [[email protected]]

a Convenção das Na-ções Unidas sobreMudança Climática foilançada uma campanha

mundial para a plantação de umbilhão de árvores em 2007. O ob-jetivo da proposta saída da reuniãosobre o clima que ocorreu emNairobi, é dar passos práticos paracombater os desafios que o aque-cimento global impõe ao mundo.

A iniciativa de Plantar Um Mi-lhão de Árvores em 2007, contacom o apoio da ambientalista Wan-gari Maathai, Prémio Nobel da Paz,do Príncipe Alberto II de Mônaco,e do Centro Agro-florestal Mun-dial. Wangari Maathai, a primeira

Plantar

Nobel da Paz patrocina campanha deum bilhão de árvores em 2007

mulher laureada com o Nobel daPaz em África, apelou à participa-ção de todo o mundo a favor dacampanha. Ela defende que se tra-ta de uma ação em que todos po-dem participar.

Achim Steiner, Director-Execu-tivo do Programa das Nações Uni-das para o Meio Ambiente, Pnu-ma, disse também que a campanhade reflorestamento pode ser ummeio de mobilizar todos os setoresda sociedade a favor das propostasdo encontro da ONU sobre asmudanças climáticas.

Fonte: http://www.un.org/av/r a d i o / p o r t u g u e s e /story.asp?NewsID=1496

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INFOGRÁFICO

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Polêmica

Milho TransgênicoSegundo o Greenpeace, a

Bayer quer que a CTNBio li-bere a comercialização davariedade transgênica resis-

tente ao agrotóxico que podecausar náuseas, diarréia e atéaborto. Segundo a Bayer, to-dos os seus trabalhos de pes-

quisa e desenvolvimento se-guem r igorosas normas desegurança e qualidade, sem-pre atendendo às políticas de

governo e regulamentaçãovigentes em cada país, o queincluí também a biotecnolo-gia.

PONTO: GreenpeaceO Greenpeace realizou em 21

de novembro, um protesto pací-fico em frente à sede da BayerCropScience, em São Paulo. Cer-ca de 30 ativistas da organizaçãoambientalista isolaram simbolica-mente a sede da empresa comuma fita zebrada dizendo “áreacontaminada”, simularam umaplantação de milho no jardim ecolaram uma faixa no prédio comos dizeres “Milho transgênico: nonosso prato não!”.

A atividade teve como objeti-vo pressionar a empresa para queretire da CTNBio (Comissão Téc-nica Nacional de Biossegurança)o pedido de liberação comercialde seu milho transgênico LibertyLink. O processo de liberaçãodessa variedade geneticamentemodificada está na pauta da reu-nião da CTNBio, que começaamanhã em Brasília. Após a ativi-dade, a Bayer não se posicionousobre as evidências do risco domilho transgênico. Representan-tes da empresa apenas apresenta-ram ao Greenpeace uma cartainformando que a variedade estáem avaliação na CTNBio. Por isso,a organização ambientalista enca-minhou uma denúncia à CTN-Bio, solicitando um posiciona-mento sobre o assunto (1).

O milho transgênico LibertyLink recebeu um gene artificialde bactéria para ser resistente aoagrotóxico glufosinato de amô-nio – também fabricado pelaBayer e conhecido comercial-mente pelo nome Basta. No iní-cio de novembro, o Greenpeaceenviou documentos (2) à CTN-Bio sobre os possíveis impactosdo milho Liberty Link para a saú-de e o meio ambiente. Os docu-mentos mostram que a quantida-de de resíduo de agrotóxico nomilho transgênico é muito maiordo que a registrada no milho con-vencional, o que pode trazer sé-rios riscos para a saúde humana,como náuseas, diarréias, nascimen-to de fetos prematuros e até abor-to (3). Além disso, os relatórios

enviados apontam para o risco deaparecimento de ervas daninhasresistentes ao agrotóxico e para apossibilidade de contaminação delavouras convencionais e orgâni-cas por milho transgênico.

O milho transgênico da Bayerfoi proibido na Áustria em 1999,e não é plantado comercialmen-te em nenhum país da UniãoEuropéia. A própria empresa re-tirou seu pedido de liberação emdiversos países – como a Ingla-terra – alegando que seria eco-nomicamente inviável produziresse milho seguindo todas as me-didas de segurança necessárias paraevitar a contaminação de planta-ções vizinhas (4).

“A Bayer não pode usar o Bra-sil como campo de testes e osbrasileiros como cobaias. Estemilho transgênico não pode serliberado até que exista uma cer-teza sobre a sua segurança”, disseGabriela Vuolo, coordenadora dacampanha de engenharia genéti-ca do Greenpeace. “Se a empresafor irresponsável e mantiver seupedido de liberação comercial,caberá à CTNBio e ao governoproteger os brasileiros”. O Gre-enpeace exige que a Bayer siga oPrincípio da Precaução e nãocoloque em jogo a saúde da po-pulação, a segurança de nossomeio ambiente e a agricultura fa-miliar.

Desde o último dia 8, o Gre-enpeace disponibilizou um pro-testo virtual contra o milho trans-gênico. Cerca de 7 mil pessoas jáparticiparam, pedindo que o mi-lho geneticamente modificado daBayer não seja aprovado pelaCTNBio. O endereço do protes-to é http://www.greenpeace.org.br/ciber_milho.

MAIS INFORMAÇÕES:Caroline Donatti, (11) 3035-1196,Cristina Bodas (11) 3035-1180 eJorge Cordeiro, (11) 3035-1192.

NOTAS:

(1) Confira a carta enviada peloGreenpeace à CTNBio em:http://www.greenpeace.org.br/t r a n s g e n i c o s / p d f /milho_ctnbio.pdf

(2) Três documentos foramenviados à CTNBio: (a) “Relató-rio das evidências científicas comas últimas descobertas sobre asmedidas de segurança na Áustriapara as linhagens de milho gene-ticamente modificado”, publica-do em outubro de 2006 peloMinistério da Saúde da Áustria edisponível em: http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/p d f / r e v i s a o _ T 2 5 _ e _MON810_Austria.pdf; (b) “Ciên-cia ruim, decisões ruins – As evi-

dências contra o milho transgê-nico da Aventis”, produzido em2001 pela ONG Amigos da Terrano Reino Unido e disponível em:http://www.greenpeace.org.br/t r a n s g e n i c o s / p d f /relatorio_ciencia_ruim.pdf; e (c)“Relatório científico da EFSA(2005) 27, 1-81, conclusão do pa-recer dos especialistas sobre glu-fosinato”, produzido pela EFSAem 2005 e disponível em: http://www.greenpeace.org.br/transge-nicos/pdf/glufosinato_saude.pdf

(3) Veja páginas 13, 14, 16, 19 e23 do relatório produzido pelaEFSA em 2005, “Relatório cien-tífico da EFSA (2005) 27, 1-81,conclusão do parecer dos espe-cialistas sobre glufosinato”, dispo-nível em: http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/pdf/glufosinato_saude.pdf

(4) Veja notícia em http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/3584763.stm

(5) O Greenpeace enviou umacarta à Bayer no dia 07 de no-vembro de 2006, solicitando es-clarecimentos sobre os possíveisimpactos do milho geneticamentemodificado Liberty Link. A em-presa nunca enviou uma respos-ta. A carta enviada pelo Greenpe-ace está disponível em http://www.greenpeace.org.br/transge-nicos/pdf/carta_bayer.pdf

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Polêmica

Contraponto: BayerEm 21 de novembro, o Gre-

enpeace realizou uma manifesta-ção em frente ao prédio da BayerCropScience, localizado na Chá-cara Santo Antonio em São Pau-lo (SP), protestando contra umapossível autorização comercialdo milho LibertyLink, que estáem análise pelas autoridades bra-sileiras. Embora o protesto blo-queasse o acesso dos trabalhado-res, o mesmo foi considerado pa-cífico.

A empresa esclarece que to-dos os seus trabalhos de pesquisae desenvolvimento seguem rigo-rosas normas de segurança e qua-lidade, sempre atendendo às po-líticas de governo e regulamenta-ção vigentes em cada país, o queincluí também a biotecnologia.Vale esclarecer também que omilho da Bayer CropScience temautorização para comercializaçãoem todos os países da União Eu-ropéia, ao contrário do que afir-ma o Greenpeace, conforme documento disponível no site daComissão das Comunidades Eu-ropéias: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/pt/com/2006/com2006_0510 pt01.pdf

Além da Europa, as sementesdo milho LibertyLink (T25) sãoreconhecidas como seguras e sau-dáveis por diversas autoridadesregulatórias pelo mundo: (http:// w w w . a g b i o s . c o m /

dbase.php?action=Submit&evidx=6).A variedade de milho LibertyLinkfoi desenvolvida para dar aos agri-cultores a alternativa de utilizarum herbicida altamente biodegra-dável e eficiente – o Glufosinatode Amônio –, melhorando doponto de vista ambiental e técni-co a difícil tarefa de livrar a la-voura da planta daninha (mato).

Sobre a questão do herbicidaà base de Glufosinato de Amô-nio, que poderia ser utilizado so-bre lavoura desta semente, a BayerCropScience esclarece que é umproduto utilizado na agriculturahá mais de 20 anos, sem relato dedanos à saúde humana. Todas asavaliações de risco mostraram queo produto da Bayer CropScienceé seguro aos trabalhadores queaplicam o herbicida no campo,aos consumidores e ao ambien-te.

Milho LibertyLink (T25) –

trata-se de uma tecnologia desen-volvida pela Bayer CropSciencee que agregada às sementes auxi-

lia os produtores rurais a contro-lar as plantas daninhas (mato) efavorecerá principalmente o pe-queno produtor brasileiro. Alémda importância agrícola, ambien-tal, social e de qualidade, as se-mentes de milho LibertyLink sãocomprovadamente saudáveiscomo qualquer outro registradopara o consumo. Vale destacar queo milho LibertyLink é autoriza-do para uso e consumo na Euro-pa, Estados Unidos, Canadá, Ja-pão e Argentina.

Lançado em 1995, o milho Li-bertyLink está em análise paraaprovação no Brasil há quase 10anos e pode ser uma alternativaque favorecerá a produção demilho de forma sustentável. Aooptar pela variedade LibertyLink,o agricultor poderá controlar ainfestação de plantas daninhas(mato) nas lavouras mesmo apósa germinação do milho, pois asemente tem um diferencial: pos-sibilita a utilização de um herbi-cida altamente biodegradável eeficiente, porém sem restringir oagricultor a optar por qualqueroutro herbicida que já utilize eseja indicado no país.

O controle de plantas daninhasé uma prática essencial e rotinei-ra porque o mato compete como milho por luz, água e nutrien-tes, prejudicando de forma signi-ficativa a produtividade da lavoura.

O milho LibertyLink auxiliano manejo eficiente e controle

pontual de plantas daninhas por-que:

- Permite a pulverização doherbicida sobre a lavoura em pós-emergência no melhor momen-to;

- Não demanda investimentosadicionais em máquinas;

- A utilização desta variedadeé viável em qualquer nível tec-nológico de agricultura;

- Possibilita ainda a rotação deculturas, uma vez que o herbici-da que pode ser utilizado nãoapresenta efeito residual no solo.

Sobre a Bayer CropScienceSubsidiária da Bayer AG e com

vendas anuais de aproximadamen-te 6 bilhões de Euros, a BayerCropScience é uma das empre-sas líderes em inovação em ciên-cias agrícolas no mundo nas áre-as de defensivos agrícolas, con-trole de pragas não agrícolas, se-mentes e biotecnologia. A em-presa oferece uma excepcionalgama de produtos e extenso ser-viço de apoio para a moderna esustentável agricultura e para apli-cações não agrícolas. A BayerCropScience conta com aproxi-madamente 19 mil colaborado-res no mundo e está presente emmais de 120 países. No Brasil,conta com cerca de 900 colabo-radores e duas fábricas, em Bel-ford Roxo (RJ) e em Portão (RS).Mais informações: www.bayercropscience.com.br

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Energia

Cadê o biodiesel de mamona?Soja avança sobre o mercadodo biodiesel em Mato Grosso

Folha de São Paulo,20/11/2006

O presidente Luiz InácioLula da Silva protagonizouum ato simbólico a favordo grande capital doagronegócio e da sojacomo principal matrizenergética do biodiesel.

m 20/11, o petista de-sembarcou no Estadode Mato Grosso edormiu na fazenda do

governador, Blairo Maggi (ex-PPS),um dos chamados “reis da soja”do Brasil. No dia seguinte, foi atéBarra dos Bugres (150 km a oestede Cuiabá), onde participou dainauguração de uma usina de bi-odiesel cuja produção inicial seráapenas a partir da soja.

Nas suas propagandas comocandidato à reeleição, Lulaapresentava o biodiesel como asolução futura para a escassez depetróleo e para a fixação dostrabalhadores no campo. O go-verno e sua maior estatal, a Pe-trobras, divulgaram a intençãodo uso da mamona na produ-ção do novo combustível. Essasemente seria produzida porfamílias de agricultores.

Até agora, todos os empre-endimentos que estão surgindonessa área pretendem usar ma-joritariamente a soja para pro-duzir o biodiesel. Só grandesgrupos econômicos investem, eas poucas experiências comagricultura familiar e mamona

começam a dar errado ou sim-plesmente não decolam, comoconstatou a Folha de São Paulonum assentamento no Piauí, umdos mais propagandeados peloPlanalto.

As esmagadoras de grãos jácomeçaram a instalar unidadesde produção do combustível epressionam o governo para queantecipe o aumento da deman-da pelo produto. A obrigatori-edade do uso está prevista paracomeçar em 2008, com 2% demistura do combustível vegetalao diesel de petróleo.

O governo cede ao lobby. Jáadmite a possibilidade de ante-cipar a segunda parte do pro-grama, inicialmente previstapara 2013, na qual a misturaobrigatória de biodiesel au-menta para 5%. A idéia é que aobrigatoriedade de 5% possa serexigida em 2010. O mercadode biodiesel com 2% é de 1 bi-lhão de litros por ano. Com 5%,essa demanda cresce para até2,7 bilhões de litros por ano.

Uma das principais indústri-as do setor, a ADM (multinaci-onal norte-americana) vai cons-truir fábrica para a produçãode biodiesel em Rondonópolis(MT) com uma capacidade anu-al de aproximadamente 180milhões de litros. As brasileirasGranol (duas fábricas, 240 mi-lhões de litros por ano), Cara-muru (uma fábrica, 100 milhõesde litros por ano) e Oleoplan(uma fábrica, 60 milhões de li-tros por ano) já estão instaladas.

O BNDES avalia que os in-vestimentos no setor podem vira se diversificar, mas reconheceque a maior parte dos projetosde financiamento de produçãode biodiesel é de empresas quejá atuam na produção de óleode soja e querem alongar a ca-deia produtiva.

Até outubro deste ano, o ban-co já havia contratado quatroprojetos (dois da agroindústria dasoja, com Granol e Caramuru) eaceito como participante do pro-grama de biodiesel mais quatro,em um total de investimentos pre-visto de R$ 464 milhões.

Os industriais da soja espe-ram que, inicialmente, essa cul-tura responda por 90% do for-

necimento de matéria-primapara produção de biodiesel. Nomédio prazo, teria entre 75% e80% do mercado. O governoprevê que a soja fique commenos de 60%.

Na inauguração da usina emBarra dos Bugres, na terça-fei-ra, Lula e Maggi participaramde um evento mais que simbó-lico.

O grupo Maggi fechou con-trato para fornecimento de óleode soja para a Brasil Ecodiesel,empresa pioneira no programa,apoiada pelo governo e que,supostamente, estaria produzin-do biodiesel a partir da mamo-na produzida por cooperativasno Piauí.

Na verdade, de acordo comrelatório apresentado à CVM(Comissão de Valores Mobiliá-rios) e ao mercado em geral, aBrasil Ecodiesel já informa quesua matéria-prima principal éo óleo de soja (97,2% dos cus-tos de produção, contra 2,1% damamona e 0,7% do algodão).

IncentivosAlém da indústria da soja, a

Petrobras deve ter participaçãoimportante no mercado. A es-tatal está iniciando a constru-ção de três usinas, analisa mais15 projetos e tem como metaproduzir 855 milhões de litrosde biodiesel por ano até 2011.

O programa do governo émontado com incentivos fiscaispara estimular a participação daagr icultura familiar. Mas aagroindústria da soja já temuma estratégia para prescindirdesse incentivo: montar fábri-cas em locais distantes das refi-narias da Petrobras, para que opreço do combustível vegetalfique mais competitivo em re-lação ao diesel de petróleo.

Segundo expectativa do pró-prio governo, a agricultura fa-miliar deve ficar com cerca de30% do negócio de fornecimen-to de matéria-prima para o bi-odiesel, enquanto o agronegó-cio ficará com 70% restantes.

Fonte: www.biodieselbrasil.com.br - No 253, ano 4, 21/11/2006

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Amazônia

Aldo defendesoja na floresta

Por Luciano Pires, daequipe do Correio

Criticados por ambienta-listas e odiados por setores dogoverno, os agricultores queplantam soja na Amazôniaganharam importante aliado.O presidente da Câmara dosDeputados, Aldo Rebelo(PCdoB-SP), disse ontemque o país precisa rediscutira presença do agronegócio nafloresta, que o grão cultiva-do de forma responsável es-timula o desenvolvimento eque os empresários instala-dos na região não podem sertratados como “criminosos”.

Rebelo falou a uma pla-téia de produtores na Co-missão de Agricultura. Inter-rompido várias vezes poraplausos e palavras de ordem,disparou contra organizações

não-governamentais e elo-giou os agricultores. “Porque não podemos plantarsoja na Amazônia? Ondeestá o decreto que proíbe?”,provocou.

Análise da notícia:Nasce um ruralistaEumano Silva, da equipe

do correio;A visita ao reduto de Blairo

Maggi consolida uma das mai-ores guinadas políticas na car-reira de Luiz Inácio Lula daSilva. A aproximação entre opresidente e o principal sím-bolo nacional do agronegóciomarca a derrubada da cercaexistente o PT e o mundoruralista desde a criação dopartido, em 1980. A adesão do

governador reeleito à reelei-ção de Lula no segundo tur-no quebrou o setor ao meio etransformou-se no primeirosinal claro da derrota do tuca-no Geraldo Alckmin na cor-rida ao Planalto. O presidentereconhece a importância doapoio e retribui com o per-noite na propriedade do go-vernador.

Lula entra pela porteira dolatifúndio sem assustar os fa-zendeiros, tradicionais inimi-gos do PT pelas ligações dopartido com os movimentosde sem-terras. Chega à fazen-da sem pisar na lavoura e fazpromessas de ajuda para osgrandes plantadores. Ao mes-mo tempo, dá sinal verde paraa ampliação da área plantada

na Amazônia, mais uma posi-ção surpreendente para umpetista que levou a ambienta-lista Marina Silva para o mi-nistério. Tratam-se de mudan-ças significativas na correlaçãode forças ideológica entre duasvisões diferentes sobre as ques-tões agrárias e de preservaçãoda maior floresta do mundo.

Blairo Maggi vai ocuparno segundo mandato de Lulao espaço aberto com a saídade Roberto Rodrigues doMinistério da Agricultura emjunho deste ano. Cacifadopela reeleição, terá papel de-cisivo nas negociações dogoverno federal com os esta-dos. E ainda contará com opresidente como um aliadodos ruralistas.

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Desmatamento

Um balanço dodesmatamento nogoverno Lula

ISA disponibiliza emseu site Fonte: http:// w w w. s o c i o a mbiental.org/nsa/deta

lhe?id=2355 uma série de repor-tagens, entrevistas e artigos sobreo desmatamento na Amazônia.Trata-se de um Especial que pre-tende fazer uma breve avaliaçãodas ações empreendidas durantea primeira administração de Lula.As informações e análises abor-dadas nos próximos dias visamdemonstrar a relação pouco co-nhecida entre o desmatamento noBrasil e as mudanças climáticas, oagronegócio e as obras de infra-estrutura, entre outros. Tema deimportância estratégica para o fu-turo do País, o desflorestamentovem sendo sistematicamente des-prezado pela classe política, paraquem as questões ambientais pa-recem ter pouca importância,como atestam os debates políti-cos da campanha eleitoral de 2006.

A queda de cerca de 30% nosdesmatamentos na Amazônia bra-sileira pelo segundo ano conse-cutivo anunciada há alguns diaspelo governo federal representaum avanço importante no que serefere às ações de controle ambi-ental implementadas, principal-mente a partir de 2004. Há umareversão de tendência e certamen-te as iniciativas governamentaisestão relacionadas com reduçõesque, mesmo localizadas, são sig-nificativas no cálculo total da de-vastação, como, por exemplo, noentorno da rodovia BR-163, noPará, e no interior de algumasUnidades de Conservação (UCs)criadas pelo atual governo. Comobem coloca a ministra do MeioAmbiente, Marina Silva, ainda queo patamar atual de desfloresta-mento seja inaceitável, certamen-te sem as políticas em curso a si-tuação seria muito mais grave.

Com a projeção de 13,1 km2de desflorestamento na Amazô-nia entre 2005 e 2006 – calculadaa partir das 34 imagens de satéli-tes analisadas pelo Inpe (InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais)até outubro – o acumulado aolongo da gestão de Lula (de 2002-2003 a 2005-2006) somará cerca84 mil quilômetros quadrados.Número superior ao de todos osquadriênios que a antecederam.

POR André Lima, ISA(16/11/2006)

A título de curiosidade, 13 milkm2 em um ano significam umamédia de desflorestamento demais de 36 km2 por dia, ou 1,5km2 por hora, ou ainda 2,5 hec-tares por minuto. A exemplo dasanalogias futebolísticas que o Pre-sidente Lula gosta de fazer, esses13 mil km2 equivalem a cincocampos de futebol devastadospor minuto, durante os 365 diasanalisados. Em quatro anos, são16,6 milhões de campos de fu-

tebol, o equivalente ao territó-rio da Áustria.

Nesses últimos quatro anos, oBrasil emitiu, a partir do desmata-mento, 996 milhões de toneladasde carbono, o correspondente aquase US$ 5 bilhões, de acordocom preços conservadores. En-tre agosto de 2005 e agosto de2006, o desflorestamento na Ama-zônia foi responsável por mais de60% do total de nossas emissões.O País emite 95 milhões de to-

neladas/ano de carbono com aqueima de combustíveis fósseis.

DesafioEm nota publicada em agosto

de 2005, o Grupo de Trabalho(GT) de Florestas do Fórum Bra-sileiro de ONGs e MovimentosSociais pelo Meio Ambiente eDesenvolvimento (FBOMS) con-siderava legítima a comemoraçãodo governo pela redução do rit-mo do desmatamento, mas, aoalertar para os efeitos da crise do

Queimada, Mato Grosso, 2002

O governo ainda não conseguiu implementar instrumentos econômicos em escala capazes de desincenti-var a conversão da floresta em proveito da produção agropecuária.

O

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Gestão Ambiental

agronegócio, apontava a necessi-dade de manter a cautela e nãodiminuir a guarda.

Se levarmos a sério o tom dacampanha presidencial de 2006,marcada pela obsessão do cresci-mento do PIB acima de tudo etemperada pela necessidade deenxugamento da máquina e dosgastos públicos (incluindo co-mando e controle ambiental?),teremos no próximo mandato umdesafio muito maior do que a sim-ples reversão da curva do desflo-restamento.

Imaginemos um cenário favo-rável ao crescimento da econo-mia em taxas próximas ou supe-riores às previstas pelo ministroda Fazenda, Guido Mantega, en-tre 4,5% e 5% ao ano. Tal con-quista supõe invevitavelmente re-dução de juros, maior oferta decrédito público e investimentosprivados, alguma desvalorizaçãodo real e crescimento da agrope-cuária, que não ocorre apenaspelo aumento da produtividade,mas também da área plantada.Nesse céu de brigadeiro hipoté-tico, será possível aos governosfederal e amazônicos reduzir odesflorestamento a um patamarpróximo do aceitável? De acor-do com a ministra Marina, o acei-tável é o desmatamento legalmen-te autorizado e o ideal é o des-matamento zero. Será possível aomenos manter a taxa estimada para2006, de 13 mil km2? O que épreciso fazer para tanto?

Nos últimos três anos, houveinédito e louvável envolvimento naspolíticas ambientais de órgãos liga-dos a outros ministérios que não odo Meio Ambiente (MMA), comdestaque para a Polícia Federal, oInstituto Nacional de Colonizaçãoe Reforma Agrária (Incra) e o Exér-cito. Também é necessário destacaro volume significativamente maiorde ações de fiscalização, graças aoempenho do Ibama, e o incremen-to substancial da criação de UCs,ainda que estejam longe de seremtiradas do papel.

Por outro lado, os governosestaduais nada avançaram na ques-tão. A impunidade de quem co-mete crimes ambientais, apesar dafiscalização, ainda é a regra abso-luta. No plano federal ou esta-dual, não se discutem metas ob-jetivas de redução do desflores-tamento. Mesmo sendo um me-canismo que ainda precisa ser tes-tado, permitiriam o planejamen-to e a avaliação real do desempe-nho das ações do Estado.

Inexistem ações estratégicas,estruturantes e em escala paraaumentar a produtividade agro-pecuária, por safra e por região,fórmulas a partir de estudos so-bre o potencial de áreas já aber-tas. O discurso em defesa dos ins-trumentos econômicos para apoi-ar a conservação, a recuperaçãode florestas e de áreas subutiliza-das ou abandonadas em terrasprivadas já vai se exaurindo e nadade concreto se fez – em nenhumgoverno, diga-se. Continuamossem saber exatamente onde es-tão os 165 mil quilômetros qua-drados de áreas já desmatadas,abandonados ou subutilizadas naAmazônia, o que corresponde aquase o triplo da área plantadacom soja no Mato Grosso, o cam-peão nacional de produção agrí-cola. A quem pertence esse pre-cioso estoque de terras?

Então, como virar o jogo?Plano nacionalUm plano “nacional” de com-

bate ao desmatamento deve ne-cessariamente envolver muito maisdo que outros ministérios im-portantes, como o do Planeja-mento e o da Agricultura, queainda não disseram a que vieramao compor o Grupo de Traba-lho Interministerial que trata doproblema. É preciso uma parti-cipação responsável dos governosestaduais, em alguns casos atémesmo municipais, e fundamen-talmente dos segmentos repre-sentativos do agronegócio brasi-leiro. Não basta um plano fede-

ral. É preciso um plano nacionalque envolva a sociedade.

No final de 2005, o governoensaiou uma avaliação, mas pornão ter disponibilizado previa-mente informações às organiza-ções que convidou para realizá-la, não aconteceu. Ainda em se-tembro do ano passado, durantereunião do Conama (ConselhoNacional de Meio Ambiente) re-alizada em Cuiabá (MT), o ISArecomendou a criação de umgrupo de trabalho para avaliaçãodo plano. Até agora não foi ins-talado.

Não seria o caso de termosno MMA uma secretaria respon-sável por formular e implemen-tar políticas e instrumentos eco-nômicos, fiscais, financeiros e cre-ditícios para consolidar a curvadescendente de desmatamentose baixá-la a algo próximo do zero?Porque não se cria no Ministérioda Agricultura uma secretaria paratraçar um plano de metas de re-cuperação de áreas abertas subu-tilizadas viáveis para a produção?

Em reunião realizada com or-ganizações socioambientalistas naúltima semana passadade outubro,logo após o anúncio dos núme-ros do desflorestamento deste ano,Marina Silva e sua equipe se com-

prometeram com a realização deuma avaliação. Como salientou aministra, pode-se dizer que che-gamos em 2006 a um “empate”nos desmatamentos, em analogiaao movimento dos seringueirosque, na década de 1980, barrava aderrubada da floresta no Acre.Mas ainda há muito a ser feitopara virar o jogo. Como superar osuposto “empate”? Só ações decomando e controle não são su-ficientes, principalmente se o ce-nário agropecuário internacionalmelhorar, como tem dado sinais.

O Especial que o ISA publicaa partir de hoje sobre desmata-mento busca trazer informações,opiniões, dados e análises recen-tes sobre a dinâmica deste que éconsiderado pela sociedade bra-sileira como o maior problemasocioambiental brasileiro - deacordo com levantamento recen-te promovido pelo Instituto deEstudos da Religião (ISER) - e,portanto, um dos maiores desafi-os para o desenvolvimento da so-ciedade brasileira.

O desafio não é pequeno.Confiram!

Fonte: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2355

Nos últimos quatro anos, foram desmatados mais de 84 mil quilômetros quadradosna Amazônia, o equivalente ao território da Áustria.

Desmatamento na Amazônia de acordo com dados do INPE:De 1977 a 1988: 21 mil quilômetros quadradosDe 1988 a 1990: 31,5 mil quilômetros quadradosDe 1990 a 1994: 39,7 mil quilômetros quadradosDe 1994 a 1998: 77,8 mil quilômetros quadrados (1º governo FHC)De 1998 a 2002: 76,9 mil quilômetros quadrados (2º governo FHC)De 2002/03 a 2005/06: 84,4 mil quilômetros quadrados (governo Lula)

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O Eco

Ambientalismo de biquíniPor Mariana Menezes eEric Macedo

B

O Brasil será representado esteano pela gaúcha Ana PaulaQuinot, uma professora deginástica de 24 anos. A principalproposta da loura para o meioambiente é um projeto paraincentivar as pessoas a construirburacos para armazenar a águada chuva.

eleza não põe mesa,mas pode ajudar aproteger o meio am-biente. Principalmen-

te quando se perfilam beldadesde todas as partes do mundo emum concurso que preza pela cau-sa ambiental – e isso existe, podeacreditar. A competição temtudo o que qualquer disputa deMiss que se preze deve ter: ga-rotas de biquíni, faixas com osnomes dos países, tiara de ven-cedora. Até o título chama aten-ção – Miss Terra (http://www.missearth.tv/ ). A diferen-ça é que uma simples Miss Mun-do ou Miss Universo não preci-sa saber falar sobre temas comoaquecimento global ou desma-tamento da Amazônia. A MissTerra tem que ter tudo isso naponta da língua.

A disputa deste ano começouno último dia cinco de novem-bro e vai até o dia 26. Ao longodo mês, 89 belezuras terão queesbanjar charme e elegância emjantares de gala, desfiles e festas.De quebra, visitarão projetos re-lacionados à proteção do meioambiente, plantarão árvores e, sepossível, posarão para fotos aolado de animais ameaçados deextinção – mas isso não vale pon-to. O importante é que as can-didatas mostrem desenvoltura aodiscursarem sobre os problemasambientais de sua terra natal eproporem soluções criativas paraas questões. Em 2005, tambémfez parte da competição um des-file de moda com trajes de ma-terial reciclado. Mais ambiental-mente correto, impossível.

Este é o sexto ano do con-curso, que sempre acontece nas

Filipinas, país sede da empresacriadora do evento. Depois decolher experiência na árdua pre-paração de aspirantes a Miss emdiferentes concursos, a CarouselProductions Inc. percebeu quehavia espaço nesse terreno paradivulgação de mensagens positi-vas, sobre causas importantes. Daía idéia de fazer as meninas tro-carem o desejo de “paz mundi-al” por coisas como o fim damatriz energética baseada emcombustíveis fósseis. Tudo ao somde um emocionante hino, quecanta ao ritmo de música disco:“Eu sou uma mulher da Terra /Espalhando amor e alegria, diver-são e risadas / Mulher da Terra /Fazendo milagres para todo osempre” (http://www.missearth.tv/downloads/missearth.mp3 ). Segundo, tercei-ro e quarto lugar também ga-nham títulos: Miss Ar, Miss Águae Miss Fogo.

O Brasil será representado esteano pela gaúcha Ana Paula Qui-not (foto), uma professora de gi-nástica de 24 anos. A principalproposta da loura para o meioambiente é um projeto para in-centivar as pessoas a construirburacos para armazenar a água dachuva. No site do evento, ela ex-plica que este seria um métodode conseguir água para o usopúblico, gastando menos e pre-servando mais. A bela se esforçaainda em divulgar que apesar deo Brasil ter diversos problemasambientais, também possui gran-des áreas de preservação da na-tureza, além de várias espécies deanimais que “ainda vivem emseus espaços naturais”. As sul-americanas têm feito sucesso em

terras asiáticas – as duas últimasvencedoras são representantes docontinente. A atual, AlexandraWaldeck Braun, é venezuelana,apesar do nome germânico. A bi-ografia explica: Alexa, para os ín-timos, tem família de origem ale-mã. Formada em marketing, abeldade teve que suar o maiôdepois de eleita. Afinal, vida demiss não é só glamour. Alexa per-correu diversas cidades filipinas,realizando atividades simbólicas,como o plantio de árvores e adistribuição de mudas de mog-no para serem plantadas pela po-pulação.

Hoje a musa divulga um pro-grama de reflorestamento emCaracas e Maracaibo. Ela tambémparticipou da criação de um pro-grama de educação ambiental in-fantil e foi chamada para estrelaruma campanha internacional dedivulgação de uma organizaçãodefensora dos animais. Sua ante-cessora fez jus à fama do Brasilde celeiro de beldades femini-nas. A amazonense Priscilla Mei-relles, Miss Brasil 2003, conquis-tou de vez os corações filipinosao se eleger Miss Terra 2004 –agora trabalha como modelo nopaís.

Segundo Vânia Rabelo, orga-nizadora do Beleza Brasil( h t t p : / / w w w . b e l e z abrazil.com.br/ ) – concurso quedá acesso ao Miss Terra – conse-guir trabalho nessa área é normal-mente o objetivo das meninas quese inscrevem em concursos dotipo. O que não desmerece o seuengajamento na causa ambiental– presente desde a instância na-cional de escolha das represen-tantes. A partir de 2003, também

o Beleza Brasil passou ter o meioambiente como tema central dadisputa. Para o ano que vem, dizVânia, estão sendo planejadoseventos de plantação de mudas ede coleta de lixo em praias. A tor-cida é para que as moças compa-reçam de biquíni.

Fonte: http://ar ruda.r i t s .org.br/noti t ia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=67&textCode=19571& d a t e = c u r r e n t D a t e&contentType=html

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Entrevista

Reforma agrária dever estaraliada ao meio ambiente,defende professor da UnB

De Brasília, da AgênciaNotícias do Planalto,Gisele Barbieri

A possibilidade de desenvol-ver a produção florestal nos as-sentamentos rurais é umas alter-nativas para geração de renda queestá começando a ser discutidapela Confederação das Coopera-tivas de Reforma Agrária do Bra-sil (Concrab) e os assentados. Oplantio de árvores para eles, alémde recuperar áreas degradadaspode se tornar também uma fon-te de renda. Segundo a EmpresaBrasileira de Pesquisa e Agrope-cuária (Embrapa), o valor pagopelo quilo de sementes de euca-lipto pode chegar a R$ 10 mil.Mas atualmente esse tipo de pro-dução sofre com a falta de finan-ciamento e de assistência técnica.Por isso, a Concrab iniciou umdebate junto do Instituto Naci-onal de Colonização e ReformaAgrária (Incra) para viabilizar aprodução florestal nos assenta-mentos.

Para saber mais sobre a impor-tância dos assentados investiremnesta prática, a Agência Notíci-as do Planalto, conversou comDonald Sawyer, professor doCentro de DesenvolvimentoSustentável da Universidade deBrasília (UnB).

ANP: Professor, qual a im-portância para os assentamen-tos de aprofundar esse debatesobre a produção florestal?

Donald Sawyer: Eu vejo estedebate com muita satisfação. Ve-nho trabalhando com o meio

ambiente desde os anos 80 e per-cebi que alguns grupos, como osseringueiros, fizeram alianças comos ambientalistas, por causa deseus interesses em comum. Assimconseguiram, inclusive, recursospara desenvolver seus trabalhos epara adquirir terra. Os seringuei-ros realizaram uma espécie de “re-forma agrária” neste sentido, fa-zendo aliança com o meio ambi-ente. Muita gente da reformaagrária resistia à questão ambien-tal, considerando que era um luxopara quem estava passando fome.Eu vejo que nos últimos anos,com o interesse por práticas comoa agroecologia, eles entenderamque uma vez que se consegue aterra, o meio ambiente é funda-mental para a sobrevivência naterra, para poder permanecer eter uma vida minimamente dig-na.

ANP: Quais a perspectivasviáveis deste debate aliado àreforma agrária?

DS: Neste ponto que eu vejomuitíssima importância do Movi-mento dos Trabalhadores RuraisSem Terra (MST) e outros movi-mentos associados, no sentido depromover as mudanças nas políti-cas públicas necessárias para queessas coisas aconteçam. O queimpede o melhor aproveitamen-to da natureza e dos recursos na-turais são as barreiras institucio-nais, são questões políticas. Entãocabe aos movimentos sociais mos-

trar o que precisa, porque infe-lizmente o governo que temosrecebeu muito apoio dos movi-mentos sociais, mas pensa muitomais em dinheiro, em termos fi-nanceiros, em exportações. Issosem reconhecer até mesmo emtermos econômicos a importân-cia que teria a reforma agrária.Não é uma questão apenas soci-al.

ANP: As políticas públicasde incentivo a práticas comoestas evoluíram durante estegoverno e os anteriores?

DS: Existem avanços no senti-do de disponibilidade de crédito.Mas apenas emprestar dinheirosem ter essas condições de orga-nizar a produção e colocar nomercado, só cria uma dívida difí-cil de pagar. Seria muito impor-tante criar as condições não ape-nas financeiras, mas institucionaispara que se possa aproveitar me-lhor a terra e os recursos naturaispara o bem-estar e qualidade devida da população rural, que tam-bém tem peso no conjunto. Pen-sa-se às vezes que a populaçãorural é uma espécie em extinção.Não é. No ano de 2050, devemoster mais de 60 milhões de pessoasmorando no campo ou em pe-quenos núcleos urbanos no in-terior. É a população de um paíscomo a França. É muita coisa.

ANP: Quais os perigos oagronegócio pode representar

para práticas como a produçãoflorestal?

DS: O problema do agrone-gócio é esta tentação de acharque se vai gerar muito dinheiropor muito tempo. O agronegó-cio com monocultivos não dácerto a médio e a longo prazo. Émuito mais adequado para climasque tem o frio, que diminui abiodiversidade, portanto as pragase as doenças. É possível produzir,mas exige muitos produtos quí-micos, além das máquinas, entãocria muita insegurança financeira.O que acontece nestes casos éque destrói a biodiversidade, fa-zendo novos desmatamentos, pre-judica os recursos hídricos, au-mentando a erosão, a arenizaçãoe a poluição das águas. Além dis-to destrói as comunidades locais.

Fonte: http://www.noticiasdoplanalto.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1751&Itemid=43

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Clima

Por Juliana Radler*

O mundo preocupadocom o aquecimento global

A

20/11/2006German Watch diz que

nações em desenvolvimen-to estão fazendo mais pelaredução das emissões dosgases do efeito estufa do queos países industrializados

Ong ambientalista alemã queacompanha as negociações demudanças climáticas faz crítica àfalta de liderança nas negociaçõese a pouca iniciativa dos paísesdesenvolvidos em reduzir suasemissões. Em entrevista concedi-da à Rebia, o diretor executivoda German Watch, Chr istophBals, que acompanha de perto asnegociações do Protocolo deKyoto e é um dos maiores espe-cialistas no tema em organizaçõesda sociedade civil na Alemanha,afirmou no último dia da Confe-rência da ONU de MudançasClimáticas, em Nairóbi, que oBrasil, assim como outros paísesem desenvolvimento, estão sen-do muito mais atuantes para di-minuir as suas emissões de gasesdo efeito estufa do que os paísesdesenvolvidos.

Os países desenvolvidos, deacordo com o Protocolo de Kyo-to, têm metas de redução de suasemissões devido à sua responsa-bilidade histórica pelo atual des-controle do clima do planeta.Além da falta de iniciativa, criti-cada por Bals e também pelo se-cretário geral da ONU Kofi Anandurante seu discurso na confe-rência, os países ricos aumenta-ram suas emissões entre o perío-do de 2000 e 2004. As emissões

questão do aqueci-mento global é, semdúvida, a mais sériaconseqüência pelo

contínuo desrespeito ao meioambiente causado pelas ativida-des econômicas do ser humano.A emissão de gases do efeito es-tufa decorrente, sobretudo, douso de veículos, da atividade in-dustrial e da queimada de flores-tas, é a causadora deste fenôme-no climático que põe a humani-dade diante do seu maior desa-fio: mudar o seu paradigma dedesenvolvimento e de consumoou defrontar-se com uma catás-trofe ambiental de dimensões in-calculáveis para a vida humana noplaneta.

Esse tema foi discutido emNairóbi, capital do Quênia, entreos dias 6 e 17 de novembro (Siteoficial da conferência: www.unfccc.com ) por lideranças dos189 países integrantes desta con-venção da ONU. A REBIA –Rede Brasileira de InformaçãoAmbiental contou com a cola-boração da jornalista Juliana Ra-dler, que cobriu diariamente aconferência para a Revista e oPortal do Meio Ambiente e paraa mídia associada à REBIA, Agên-cia de Notícias Envolverde.

Juliana viajou a convite da or-ganização alemã, INWENT, parafazer uma cobertura voltada parao Brasil, levantando os principaistemas em jogo nesta conferência

e como o país se coloca em rela-ção a eles.

Essa é a primeira vez que umaedição desta convenção da ONUpara as mudanças climáticas ocor-re em um país da África sub-Saa-riana, uma das regiões mais afeta-das pelo aquecimento global de-vido ao seu acelerado processode desertificação. Essa região étambém onde moram os habitan-tes mais pobres do planeta.

Glossário:COP - Conferência das Partes

da Convenção de Mudanças Cli-máticas da ONU

MOP – Sigla que passou a serusada em 2005, quando entrou emvigor o Protocolo de Quioto.Portanto, a Conferência passou a

ser chamada de COP/MOP.COP 12/MOP 2 significa: Essa

é a décima segunda edição daconferência relativa à convençãoda ONU sobre mudanças climá-ticas, na qual fazem parte 189 pa-íses. Dentro desta convenção, exis-te o Protocolo de Quioto, ins-trumento criado no âmbito daconvenção para que se cumprammetas de redução da emissão degases do efeito estufa. Esse me-canismo foi ratificado até hojepor 166 países.

Porém, o país líder em emis-sões, os Estados Unidos, se ne-gam a assinar o Protocolo, tornan-do-o uma ferramenta ainda ine-ficiente para diminuir o impactodas mudanças climáticas.

atingiram 19,9 bilhões de tonela-das de CO2 em 2004, ante 17,5bilhões em 2000. Em 1990, ano-referência para o protocolo, osgases lançados na atmosfera porindústrias, usinas e carros soma-vam 18,6 bilhões de toneladas.

“Temos progressos muito mo-destos. Não sabemos, por exem-plo, se teremos na próxima con-ferência, que ocorre no ano quevem, uma definição para o segun-do período de implementação doProtocolo de Kyoto (que ocorrea partir de 2012)”, diz Bals, acres-centando que na próxima roda-da de negociações é necessárioter a presença dos presidentes dospaíses envolvidos para que as ne-gociações avancem mais rapida-mente. “Não temos tempo a per-der. O problema climático é ur-gente e as negociações não po-dem ficar só no campo técnico eavançar tão lentamente”, enfati-zou Bals.

17/11/2006Brasil quer receber com-

pensações financeiras noâmbito do Protocolo deKyoto para reduzir emissõesde gases do efeito estufapelo desmatamento naAmazônia

“Somos uma potência ambi-ental”. Com essa frase a ministrado Meio Ambiente, Marina Silva,encerrou a sua exposição sobreos esforços do governo brasileiropara conter o desmatamento naregião amazônica, durante a Con-ferência da ONU sobre Mudan-

ças Climáticas, em Nairóbi, noQuênia.

O governo brasileiro defendeem Nairóbi a proposta de rece-ber compensações financeirasvoluntár ias pela contenção dodesmatamento no país. Essa com-pensação viria como uma espé-cie de pagamento pelo país terdeixado de emitir gases do efeitoestufa. Atualmente, 75% das emis-sões brasileiras são provenientesdas ações predatórias na região,deixando o país entre os quatromaiores emissores destes gasespoluentes.

Segundo a proposta, esses re-cursos constituiriam um fundo noqual os países desenvolvidos eorganismos financiadores contri-buiriam voluntariamente. Toda vezque os países em desenvolvimen-to comprovassem redução dasemissões pela contenção do des-matamento, poderiam acessar re-cursos deste fundo, de acordocom cálculos específicos relacio-nados à quantidade da redução.

A ministra Marina Silva afir-mou que essa proposta vai aoencontro do objetivo brasileiro demudar o paradigma de desenvol-vimento da região amazônica.Antes voltado para a exploraçãopredatória dos recursos naturaisda região, como extração ilegal demadeira e monocultura, a idéia éincentivar negócios sustentáveis ea criação de áreas de conserva-ção ambiental.

“É difícil para os países emdesenvolvimento mudar o seuparadigma de uso de recursos

naturais e da sua biodiversidade.É importante que possamos re-ceber apoio financeiro para a pro-moção dessas mudanças”, ressal-tou a ministra, acrescentando queassim como é um desafio para ospaíses desenvolvidos mudar a suamatr iz energética (baseada emfontes de energia não renováveis,provenientes de combustíveis fós-seis) é também um desafio com-bater o desmatamento.

A criação deste fundo, segun-do defende o Brasil, não deveimpor ao país nenhum tipo decompromisso de redução de suasemissões de gases do efeito estu-fa, mesmo após 2012, quando seráiniciado o novo período de com-promisso do Protocolo de Kyoto,com novas metas de redução. Poressa posição, o Brasil recebeu crí-ticas de muitas Ongs ambienta-listas, que atribuíram ao país o tro-féu de “Fóssil do Dia”, que édado diariamente por organiza-ções não governamentais comoforma de protesto a países que,segundo essas organizações, em-perram avanços do tratado.

Crescimento econômicoQuestionada pela Rebia se o

crescimento econômico de 5% aoano anunciado pelo presidenteLula como meta para o seu se-gundo mandato comprometerá acontinuidade do controle dodesmatamento na Amazônia, Ma-rina Silva foi enfática em dizerque esse percentual não sera obs-táculo à proteção ambiental.

“A aspiração de ter crescimen-

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Educação Ambiental

to econômico e distribuição derenda não significa dizer que essecrescimento terá bases insusten-táveis. Nos três últimos anos, tra-balhamos novos modelos de de-senvolvimento, como o que foifeito no setor elétrico, que passaagora por processos complexos delicenças ambientais. Dessa forma,nos preparamos para dar conta docrescimento com sustentabilida-de. É um desafio ético protegero meio ambiente”, finalizou aministra em Nairóbi.

16/11/2006Governo do Amazonas

planeja compor fundo parafinanciar preservação da flo-resta amazônica

O secretár io de Estado deMeio Ambiente e Desenvolvi-mento Sustentável do Estado doAmazonas, Virgílio Viana, conce-deu entrevista exclusiva à Rebiadurante a Conferência da ONUsobre Mudanças Climáticas, queocorre em Nairóbi, Quênia. Elecontou que o governo estadualdo Amazonas está engajado naconstituição de um fundo parafinanciar a proteção da florestaamazônica. A meta, segundo osecretário, é que nos próximos 30anos, o índice de demastamentona região chegue a zero. Na visãode Viana, a criação deste fundoestá baseado no princípio de queos custos da preservação ambien-tal devem ser compartilhados.

A proposta amazonense é umainiciativa local que segue linhasimilar à da proposta apresentadapelo governo brasileiro aqui emNairóbi. O Brasil defende o re-cebimento de compensações fi-nanceiras voluntárias pela redu-ção do desmatamento, que con-seqüentemente causa a diminui-ção das emissões dos

gases do efeito estufa. Essesrecursos viriam dos países desen-volvidos, que têm metas de re-dução de suas emissões definidaspelo Protocolo de Kyoto. Asqueimadas na Amazônia são res-ponsáveis por 75% das emissõesbrasileiras e colocam o Brasil en-tre os quarto maiores emissoresdo mundo.

Rebia - Como o sr. observa aproposta do governo brasileiro dereceber compensações financei-ras voluntárias para reduzir o des-matamento nas florestas?

Virgílio Viana - Vemos a pro-posta formulada pelo governobrasileiro de uma forma muitopositiva. A proposta atende a umademanda antiga de muitas ONGse também de governos estaduais,como é o caso do Governo doAmazonas. Já na conferência de

Montreal trabalhávamos nessa di-reção, de reconhecer o valor dodesmatamento evitado. Acreditoque essa iniciativa do governodeva ser vista como parte de umconjunto de iniciativas voltadaspara o combate ao desmatamen-to.

Rebia - E o Governo do Ama-zonas também trabalha neste sen-tido, de receber apoio financeiropela proteção da floresta?

Viana - No caso do governodo Amazonas estamos desenvol-vendo um trabalho em conjuntocom os movimentos sociais coma finalidade de compor um fun-do de caráter não governamentalpara conseguirmos por em práti-ca um cronograma de trabalhoque possa entrar em ação já. Tra-balhamos com o conceito deprestação de serviços ambientaise também com a de que os cus-tos da preservação ambiental de-vem ser compartilhados.Esse fun-do será complementar as ações dogoverno do Estado do Amazonase seguirá um modelo que com-bine ações de governo com açõesnão governamentais, casando duascapacidades que são complemen-tares.

Rebia - Como se pretendeconstituir esse fundo?

Viana - Esse fundo será ad-ministrado por uma instituição dedireito privado brasileiro e vai tercontribuintes do setor privado,como empresas de grande porteque tenham projetos de respon-sabilidade social, ou que tenhammetas de redução voluntária deemissão de CO2. Podemos con-tra também com a

contribuição de indivíduos ougovernos que queiram contribuircom a preservação da Amazônia.Acreditamos na capacidade decontribuição voluntária e da co-operação não governamental .

Rebia - Em que estágio doprocesso de constituição dessefundo?

Viana - Está bem adiantado.Já tivemos uma primeira rodadade negociação na Inglaterra, ondecolocamos o conceito geral, quefoi muito bem recebido. Agora,estamos lapidando esse conceitoe elaborando um plano de negó-cios.

Rebia - Como serão investi-dos os recursos deste fundo?

Viana - Os recursos desse fun-do serão investidos em quatroações. O primeiro será o paga-mento direto ao extrativista, aocaboclo, do valor relativo ao ser-viço ambiental prestado pela flo-

resta. O segundo sera o de apoiaras ações de fiscalização do gover-no na preservação ambiental e oterceiro é o investimento diretoem negócios sustentáveis com re-cursos da floresta. Finalmente, te-remos a Quarta linha de ação quefocará na melhoria da vida das co-munidades locais, no que diz res-peito à educação, saúde e comu-nicação.

Rebia - E como conciliar pre-servação ambiental com desenvol-vimento econômico?

Viana - É exatamente o queestamos implementando sob adenominação de Zona Franca Ver-de. É dizer para as pessoas que afloresta vale mais em pé do queno chão. Para isso, é preciso darlinhas de crédito, como foi dada alinha de crédito para indígenas, aprimeira do Brasil, com R$ 1,5milhão de recursos investidos. Dartambém isenção de impostos emprodutos extrativistas e florestaise ainda investimento em ações co-munitárias estruturantes que mu-dam a lógica do desmatamento.Ninguém desmata porque quer,por irracionalidade ou por igno-rância. Quem não conhece a rea-lidade de quem está na linha defrente, olha de uma forma pre-conceituosa. São as condições pre-cárias de vida que levam muitaspessoas a desmatar.

Rebia - Qual é a contribuiçãoda floresta amazônica para o equi-líbrio do clima no planeta.

Viana - As evidências científi-cas sobre as contribuições da flo-resta amazônica para o equilíbrioclimático são cada vez mais claras.E a Amazônia deve ser valorizadapor isso. As evidências mostramque a floresta não é o pulmão domundo e, sim, na verdade, o chu-veiro e o ar-condicionado domundo,

além de ser logicamente umagrande reserva de biodiversidadee um patrimônio de diversidadecultural, que possui 62 etnias in-dígenas distintas.

14/11/2006Perdas relacionadas a ca-

tástrofes ambientais dobrama cada década

Estudo divulgado duranteConferência da ONU sobre mu-danças climáticas, em Nairóbi, noQuênia, alerta que os gastos dasempresas seguradoras vem dobran-do a cada 12 anos devido a desas-tres ambientais cada vez mais fre-qüentes e intensos.

Furacões, tempestades tropicais,longas secas e outras adversidadesrelacionadas ao clima estão sendoestimulados pelo aquecimento do

planeta que, por sua vez, ocorredevido ao aumento das emissõesdos gases do efeito estufa. Navisão de especialistas da UNEP(Programa das Nações Unidaspara o

Meio Ambiente), nas próximastrês ou quatro décadas, os gastospoderão alcançar um trilhão dedólares.

Um grupo de trabalho forma-do por algumas das maiores em-presas seguradoras do mundo,como Swiss Re, Munich Re, In-surance Australia Group (IAG),entre outros, alertam para a ne-cessidade de se promover proje-tos de adaptação e de conten-ção dos efeitos negativos causa-dos pelas mudanças climáticas,

principalmente nos países emdesenvolvimento.

Entre as maiores perdas ocor-ridas esse ano foram citados otufão Shanshan, que afetou o Ja-pão em setembro e causou per-das de US$ 2,5 bilhões, seguidode tornados nos Estados Unidos(1,5 bilhão de dólares) e o tufãoSaomai, que afetou a China e asFilipinas em agosto e acarretoudanos calculados em US$ 1,4 bi-lhão.

14/11/2006Vitória dos democratas

no Congresso americanopode mudar posição dosEUA em relação ao Proto-colo de Quioto

Após a vitória dos democra-tas no Congresso americano noúltimo dia 7, novos ventos pode-rão soprar para que os EstadosUnidos mudem sua posição emrelação ao Protocolo de Quioto,tratado global ratificado por 166países para diminuir as emissõesdos gases do efeito estufa. O país,que é o maior emissor desses ga-ses poluentes, não ratificou o tra-tado argumentando que o me-canismo interfere no desenvol-vimento econômico do país. Aúltima pesquisa relacionada àemissão de gases do efeito estufarealizado pelo órgão da ONUresponsável por mudanças climá-ticas (UNFCCC), mostra que osEUA aumentaram em 15,8% suasemissões entre 1990 e 2004.

Porém, em Nairóbi (Quênia),especialistas no tema se mostra-ram mais otimistas. Para o pro-fessor e diretor do Programa dePolíticas Públicas em Ciência eTecnologia da Universidade deHarvard, John Holdren, a vitória

CORTAR

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