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MORAES, Reinaldo. A órbita dos caracóis. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 222 p. Reinaldo Moraes conquistou seu reconhecimento na década de 1980, junto com seus contemporâneos Marcelo Rubens Paiva e Caio Fernando Abreu, por seu livro de estreia, Tanto faz, publicado em 1981 pela Brasiliense, que trazia uma linguagem despojada e sem papas na língua, em um estilo minucioso e perfeccionista influenciado por Machado de Assis e pela Beat Generation de Kerouac, Ginsberg & Cia., numa mistura que merece atenção. Após seu segundo livro, Abacaxi, ficou dezessete anos sem publicar ficção, até que lançou, em 2003, o romance juvenil A órbita dos caracóis. Apesar de migrar para um público mais novo, a pujança de seu texto se manteve mesmo com a atenuação de termos e conceitos mais pesados, impróprios à faixa etária a qual o livro se destina. Mas seu estilo contundente, alegórico, sarcástico e detalhista permaneceu intacto, carregando o DNA que o consagrou como escritor inovador que é. Neste seu terceiro livro, Reinaldo nos apresenta Juliana, uma bela e sofisticada garota paulistana que domina tudo relacionado à informática, e seu namorado, Tato, um bioquímico às voltas com uma misteriosa epidemia de intoxicação alimentar que assola a cidade. De maneira inesperada e misteriosa, os dois se veem diante da

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MORAES, Reinaldo. A órbita dos caracóis. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 222 p.

Reinaldo Moraes conquistou seu reconhecimento na década de 1980, junto com seus

contemporâneos Marcelo Rubens Paiva e Caio Fernando Abreu, por seu livro de estreia, Tanto faz,

publicado em 1981 pela Brasiliense, que trazia uma linguagem despojada e sem papas na língua, em

um estilo minucioso e perfeccionista influenciado por Machado de Assis e pela Beat Generation de

Kerouac, Ginsberg & Cia., numa mistura que merece atenção. Após seu segundo livro, Abacaxi,

ficou dezessete anos sem publicar ficção, até que lançou, em 2003, o romance juvenil A órbita dos

caracóis. Apesar de migrar para um público mais novo, a pujança de seu texto se manteve mesmo

com a atenuação de termos e conceitos mais pesados, impróprios à faixa etária a qual o livro se

destina. Mas seu estilo contundente, alegórico, sarcástico e detalhista permaneceu intacto,

carregando o DNA que o consagrou como escritor inovador que é. Neste seu terceiro livro,

Reinaldo nos apresenta Juliana, uma bela e sofisticada garota paulistana que domina tudo

relacionado à informática, e seu namorado, Tato, um bioquímico às voltas com uma misteriosa

epidemia de intoxicação alimentar que assola a cidade. De maneira inesperada e misteriosa, os dois

se veem diante da morte de um estranho numa ruela do centro de São Paulo, que acaba revelando

conexões com caracóis franceses e satélites artificiais de grandes corporações internacionais. O bom

humor e as descrições imagéticas dão a tônica deste romance que, apesar de destinado aos jovens,

também tem grande capacidade para agradar adultos. Reinaldo constrói sua narrativa como num

filme, principalmente nas cenas de ação, que carregam emoção e deixam o leitor preso na cadeira,

além dos diálogos, entrecortados por observações agudas que conferem vivacidade à obra. Uma

história divertida e empolgante daquelas que é difícil parar de ler, própria para despertar a afinidade

de jovens a partir dos 14 anos.

por Leonardo J. Porto Passos

(Resenha criada exclusivamente para o Edital para Resenhadores da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato)

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BICHSEL, Peter. O homem que não queria saber de mais nada e outras histórias. Ilus Roger

Mello. São Paulo: Ática, 2002. 64 p.

Peter Bichsel é um aclamado escritor e jornalista suíço-alemão laureado com diversos prêmios por

seus livros intrigantes e de formas distintas. Ele brinca com as palavras e as frases de maneira

divertida e quase matemática, já que se desenvolvem complexos jogos de significados como numa

rede em que o leitor precisa ficar atento para captar todo o esquema criado pelo autor. O homem que

não queria saber de mais nada e outras histórias foi publicado originalmente na Alemanha, em

1969, e recebeu o Prêmio Johann Peter Hebel, o mais importante do país no segmento infanto-

juvenil. O livro traz sete histórias bastante imaginativas e com boa dose de fantasia: “A Terra é

redonda” fala sobre um velhinho que planeja dar a volta ao mundo andando em linha reta; em “Uma

mesa é uma mesa”, um homem entediado pela rotina decide renomear todos os objetos à sua volta;

“A América não existe” reconta a história do descobrimento da América de maneira bastante

curiosa; em “O inventor”, conhecemos um homem que dedica sua vida a inventar objetos, mas que,

de tão recluso, acaba inventando coisas que já existem; “O homem que tinha memória” narra a

história de um personagem apaixonado por trens, que sabia tudo sobre eles, e decide mudar o foco

do seu conhecimento para saber o que ninguém mais sabe; “Tio Iodok manda lembranças” traz a

visão de uma criança sobre seu avô que inventa uma nova língua a partir do nome de um parente

distante; e, por último, há o conto que dá título ao livro, “O homem que não queria saber mais

nada”, sobre um homem que desiste de aprender coisas novas e descobre que talvez isso seja uma

tarefa impossível. Um livro muito bem escrito, com ótimas ideias, especial e encantador para

“crianças” de 8 a 80 anos.

por Leonardo J. Porto Passos

(Resenha criada exclusivamente para o Edital para Resenhadores da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato)

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WHITE, T. H. O único e eterno rei, 1 ao 5. Tradução Maria José Siqueira. Ilus. Alan Lee. São

Paulo: W11, 2005. il. (O único e eterno rei)

A coleção em cinco volumes O único e eterno rei, do inglês Terence Hanbury White, criada na

primeira metade do século XX, se destaca das demais obras escritas anteriormente sobre as lendas

arturianas por sua inovação, com uso de conceitos pouco habituais ao tema, além de denotar uma

postura antibelicista e Naturalista, que é demonstrada na obra gradativamente, variando da literatura

infanto-juvenil à literatura épica. Considerada por muitos como a versão definitiva da lenda do Rei

Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, obteve grande relevância ao servir de referência para

uma vasta gama de autores nos campos literário, cinematográfico e dramatúrgico. Os conceitos

políticos abordados na obra são o elemento principal do enredo, utilizado como um manifesto do

autor por meio dos ensinamentos proporcionados pelo mago Merlin ao jovem Arthur, sem se

resumir a uma simples peculiaridade acrescentada por White para dar nova roupagem à lenda. A

obra traz diversos elementos originais com novas funções literárias, culturais, ideológicas e sociais,

muitas delas advindas da vida conturbada do autor e de sua época, no auge da Segunda Guerra

Mundial, e propõe grandes reflexões de cunho político-ideológico-social por meio de elementos

alheios às lendas arturianas (anacronismo, humor, fabulário, magia, etc.), que lhe conferem uma

postura mais branda, evitando que a obra seja caracterizada como panfletária. A coleção é composta

de cinco livros: “A espada na pedra” revela a aproximação entre Arthur e Merlin e toda a educação

recebida pelo menino até ele virar rei; “A rainha do ar e das sombras” nos dá conta da incansável

busca pelo Santo Graal; “O cavaleiro imperfeito” aborda a história do cavaleiro Lancelot e o

surgimento de uma grande amizade com o rei Arthur; “A chama ao vento” conta sobre os últimos

anos do reinado de Artur e seu trágico relacionamento com seu filho Mordred; e, por fim, em “O

livro de Merlin”, há uma espécie de manifesto contra movimentos nacionalistas e opressores. Sem

dúvida não se trata apenas de uma mera releitura do livro Le Morte d'Arthur, de Sir Thomas

Malory, mas de uma obra única, um clássico de considerável importância para a literatura do século

XX, principalmente para o gênero fantástico.

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por Leonardo J. Porto Passos

(Resenha criada exclusivamente para o Edital para Resenhadores da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato)

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AZEVEDO, Ricardo. Contos de enganar a morte. Ilus. Do autor. São Paulo: Ática, 2003. 64 p.

il. (Folclore)

A morte é inevitável, mas ninguém parece estar preparado para ela.

É a partir desta premissa que o prolífico escritor Ricardo Azevedo,

que também é ilustrador e pesquisador de cultura popular, reconta à

sua maneira quatro histórias do folclore brasileiro. Na primeira

delas, “O homem que enxergava a morte”, um homem simples vira

compadre da Morte e recebe dela o poder de prenunciá-la, tornando-

se um médico infalível. Na segunda, “O último dia na vida do

ferreiro”, um homem é acobertado pela mulher toda vez que recebe

a visita da Ceifadora. Em “O moço que não queria morrer”, são

contadas as andanças de um rapaz que quer viver o máximo possível até encontrar um lugar onde

ninguém morre. E em “A quase morte de Zé Malandro”, são narradas as artimanhas de um artesão

para escapar do destino final, em que a Morte pede ajuda do próprio Diabo. Ao final do livro, além

de uma pequena biografia do autor, há um interessante texto em que ele justifica a abordagem da

morte às crianças: “Trata-se de um grave erro considerar a morte um assunto proibido ou

inadequado para crianças. (...) A morte é indisfarçável, implacável e faz parte da vida.” Ricardo

defende com propriedade que esse assunto esteja presente simbolicamente na vida da criança para

que ela esteja preparada quando se defrontar com a morte de algum parente, de uma figura pública

ou até mesmo de um animal de estimação. As ilustrações remetem às xilogravuras de cordel e dão

leveza a um título que poderia ser carregado em decorrência do assunto abordado. Além disso,

trata-se de um livro interessante para ser trabalhado em sala no Dia de Finados.

por Leonardo J. Porto Passos

(Resenha criada exclusivamente para o Edital para Resenhadores da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato)

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PRADO, Ricardo Chaves Prado. Uma cor só minha: o diário de um daltônico. Ilus. Anna

Anjos. São Paulo: Moderna, 2011. 56 p. il. (Coleção Girassol)

Conforme relata o livro, cerca de 10% da população é

daltônica, parcela esta da qual o autor faz parte. Por saber da

experiência que uma criança passa ao descobrir que tem

daltonismo, Ricardo Prado compôs um texto sensível e preciso

que possui todos os elementos indispensáveis para elucidar e

auxiliar a criança a conviver com sua situação. Em forma de

diário, o jovem Francisco conta um pouco do seu dia a dia até

descobrir que enxerga as cores de maneira diferente quando

calça uma meia vermelha e outra verde. Seu tio, que é

oftalmologista, faz alguns exames, descobre que o sobrinho é daltônico e explica a situação,

dizendo para não se preocupar que sua vida não será muito diferente do normal. A partir daí, recebe

o apelido de Dalton por sua irmã, a quem ele se recusa a citar o nome por vingança. O menino relata

alguns contratempos vividos em decorrência de sua condição em paralelo às inseguranças e

incertezas da pré-adolescência, como a descoberta da primeira paixão e o preconceito sofrido pelos

colegas de escola por causa de sua singularidade. Mas tudo muda quando Francisco participa de

uma competição de paintball, na qual descobre que é o único capaz de enxergar os rivais

camuflados na mata, levando a sua equipe à vitória. Seu “poder” de ver o que ninguém mais vê e

encontrar os inimigos, o torna querido entre os colegas e ainda lhe confere a chance de receber um

beijo da garota pela qual é apaixonado. Fartamente ilustrado, é um livro que, além de divertido,

pode ser muito útil para que algumas crianças descubram sua condição especial de enxergar as

cores e aprendam a conviver com isso de forma harmoniosa.

por Leonardo J. Porto Passos

(Resenha criada exclusivamente para o Edital para Resenhadores da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato)

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ÍNDIGO. A maldição da moleira. Ilus. Alê Abreu. São Paulo: Girafinha, 2007. 128 p.

Índigo, pseudônimo de Ana Cristina Ayer de Oliveira, é uma renomada

escritora brasileira de literatura infanto-juvenil com mais de 20 livros

publicados, dentre os quais diversos receberam prêmios e foram adotados

pelo ensino público e particular. Uma das características da escritora é

criar textos indicados às crianças e adolescentes, mas que também acabam

sendo muito apreciados por adultos. Por esta razão, suas obras levam o

público infanto-juvenil a refletir sob uma ótica diferente, sem a singeleza

muito usual nos livros voltados a este público, que acabam afastando

muitos dos jovens bastante antenados da atual Era da Informação. Neste A

maldição da moleira, temos um recém-nascido que adquire consciência quando sua avó pressiona

sua moleira. Daí em diante, o bebê Heitor passa a interagir e se questionar sobre o mundo com uma

perspicácia bastante atípica para a sua idade. Com ironia e forte espírito crítico, ele vai tomando

contato com as pessoas, objetos e lugares a sua volta, nos convidando a refletir sobre a maneira

como tomamos contato com o mundo e como passamos a lidar com ele. São muito divertidas as

formas como Heitor se dá conta de quem são seus pais, seu irmãozinho, seus brinquedos e alguns

parentes, a maneira como conhece outros bebês e crianças um pouco maiores e quando começa a

engatinhar, a andar e a pronunciar as primeiras palavras. E as ilustrações de Alê Abreu intensificam

a inocência e o humor que permeiam a obra. Recomendado a pessoas de todas as idades que estejam

dispostas e se divertir e se enternecer com as descobertas e indagações do astuto bebê Heitor.

por Leonardo J. Porto Passos

(Resenha criada exclusivamente para o Edital para Resenhadores da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato)

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Título: Courtney Crumrin & As Criaturas da Noite Editora: Devir Livraria Preço: R$20,90 Formato: semiamericano - P&B - 128 páginas Argumento e desenhos: Ted Naifeh Data do review: 12/06/2007 Por: Leonardo Passos

Courtney Crumrin é uma garotinha solitária e antissocial. Seus pais são pessoas fúteis que só se preocupam em conseguir um lugar na alta sociedade. Como a família passa por dificuldades financeiras, os pais de Courtney encontram uma solução para os seus problemas: morar na rica mansão vitoriana do tio Aloysius Crumrin, assim podem almejar um lugar entre a elite da vizinhança de Hillsborough.

Enquanto os pais de Courtney atingem o seu intento de inclusão na alta sociedade, a situação da solitária garota não vai tão bem. Primeiro ela descobre que seu tio possui uma reputação no mínimo estranha, sendo alvo de várias lendas sinistras. Além do mais, sua situação social na escola não é das melhores. E como se tudo isso não bastasse, ela descobre que a mansão de seu tio abriga criaturas sobrenaturais que lhe trazem diversos problemas.

Em decorrência da existência dessas Criaturas da Noite – como são chamadas pelo professor Aloysius –, Courtney acaba se afeiçoando e se aproximando de seu enigmático tio, que lhe põe a par das situações ocorridas dentro e fora da mansão.

Opinião:

A Devir mais uma vez nos surpreende com esse excelente lançamento da editora americana Oni Press, que, infelizmente, não recebe muita atenção em terras brasileiras, fato inexplicável, se levarmos em consideração a grande quantidade de material de qualidade publicado pela editora. Quem sabe a Devir não será a responsável pela mudança dessa situação...

Courtney Crumrin & As Criaturas da Noite pode passar despercebido nas prateleiras das livrarias e comic shops, já que seu autor e sua editora original, como já mencionado, são pouco conhecidos por aqui. Mas infelizmente tais injustiças são cometidas. O que se tem aqui é um excelente álbum de horror com todos os principais requisitos necessários do gênero, tudo tratado de maneira bem construída, sem apelar para os clichês do gênero.

Não se deixe levar pelo inocente estilo de traço de Courtney na capa, que pode confundir os leitores, fazendo-os pensar enganosamente que se trata de uma HQ voltada ao público infanto-juvenil. Boa parte do horror aqui tratado é de cunho psicológico, nos remetendo aos maiores medos que tínhamos quando íamos para a cama em nossas épocas de pouca idade, além das enormes dificuldades sociais vividas no âmbito escolar que cada um tem escondido dentro de si.

Egoísmo, solidão, desespero e frustração permeiam toda a história, trazendo uma carga dramática à narrativa. Os desenhos – aliás, muito bem feitos –, ora singelos e inocentes, ora góticos e sinistros, conferem maior impacto visual à obra.

Um aviso aos leitores incautos: não se deixem levar pelas aparências, por tradicionalismos ou por modismos, caso contrário você poderá deixar de apreciar obras de extrema relevância, como é o caso dessa grata novidade da editora Devir.

(Publicado em http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=reviews&cod_review=715&lista=autor)

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Título: Nausicaä do Vale do Vento - Volume 1 (de 7) Editora: Conrad Preço: R$29,90 Formato: magazine - P&B - 136 páginas Argumento e arte: Hayao Miyazaki Data do review: 09/04/2007 Por: Leonardo Passos

A civilização nascida no ocidente da Eurásia espalhou-se pelo mundo transformando-se numa enorme sociedade industrial. Após diversos séculos de degradação desenfreada do planeta, houve a Guerra dos Sete Dias de Fogo, que culminou na queda de todas as grandes metrópoles em decorrência da poluição.

As consequências foram drásticas: praticamente toda a avançada tecnologia humana foi perdida e quase todo o meio ambiente tornou-se estéril. No lugar da vegetação surgiu uma enigmática floresta chamada Mar Podre, que libera substâncias letais aos humanos e abriga insetos gigantes.

A humanidade passou a se aglutinar em pequenos reinos, e muito deles formaram alianças para tentar vencer as agruras do novo mundo ou para

simplesmente poderem viver em paz. Em um desses reinos, o Vale do Vento, vive a valorosa princesa Nausicaä, que possui uma misteriosa ligação sensorial com os ohmus, os colossais insetos inteligentes que comandam o Mar Podre.

Opinião:

Durante árduos 13 anos, Hayao Miyazaki – autor dos animês A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado, ambos lançados no Brasil – se empenhou em realizar este magnífico épico de ficção científica, que foi lançado originalmente em sete volumes, mesmo formato adotado pela editora Conrad.

Além de muita ação, o álbum traz diversos momentos de conteúdo filosófico e de conscientização ecológica. Aliás, o cataclismo e a preocupação ambiental são os motes centrais de toda a saga, que foram explorados superficialmente neste primeiro volume.

Todos os pormenores do pós-guerra são mostrados gradualmente, inserindo o leitor pouco a pouco ao universo criado por Miyazaki. Certamente esse recurso é utilizado em decorrência da riqueza de detalhas contida na história, que poderia deixar o espectador confuso caso não fosse exposta lentamente.

Os desenhos são simplesmente magníficos. A caracterização da fauna, da flora, da arquitetura, dos trajes e dos veículos é incrivelmente rica. Cada página possui diversos quadrinhos, causando a impressão de que o detalhamento e a abundância de informações foram priorizados pelo autor, sem que em nenhum momento se tenha a sensação de prolixidade.

A iniciativa da editora Conrad de publicar Nausicaä do Vale do Vento no Brasil é no mínimo louvável, já que o título é um clássico no Japão e tem tudo para se tornar um dos melhores lançamentos de quadrinhos dos últimos tempos por aqui. Válido para qualquer tipo de leitor, principalmente os apreciadores de histórias complexas que levam à reflexão.

(publicado em: http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=reviews&cod_review=693&lista=autor)

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Título: Nausicaä do Vale do Vento - Volume 2 (de 7) Editora: Conrad Preço: R$29,90 Formato: magazine - P&B - 136 páginas Argumento e arte: Hayao Miyazaki Data do review: 09/04/2007 Por: Leonardo Passos

Neste segundo volume de uma coleção de sete livros, a princesa Nausicaä, ao adentrar no núcleo do Mar Podre, descobre a verdade sobre a floresta que todos pensam estar destruindo o planeta.

Nausicaä é aprisionada e levada por uma tribo arruinada pelos exércitos de Torumekia. Enquanto isso, os soldados do Vale do Vento esperam ansiosos por notícias de sua amada princesa, ao passo que se aliam a soldados de uma outra tribo para preparar uma emboscada contra a invasão de um enorme exército oponente.

Ciente da iminência do poderoso ataque inimigo, Nausicaä precisa escapar de seu cativeiro para avisar seus soldados e evitar a catástrofe.

Opinião:

Neste sensacional épico de ficção científica com toques de aventura medieval, Hayao Miyazaki criou uma das mais complexas e ricas histórias dos quadrinhos japoneses, dedicando-se igualmente ao detalhamento de cenários, personagens, vestimentas, veículos e tudo o mais que compõe esta magnífica obra.

Pouco a pouco são revelados alguns segredos sobre o Mar Podre e seus hostis habitantes, com detalhes surpreendentes, principalmente com relação à função da grande floresta em relação ao ambiente.

A relação de Nausicaä com os ohmus vai se estreitando, principalmente depois que a jovem princesa intervém nos planos dos doroks, salvando a vida de um filhote de ohmu. Nesses momentos a história adquire ares mais comoventes, onde é possível observar certas semelhanças com a realidade para efeito de críticas ecológicas.

A narrativa permanece lenta e dramática sem se tornar entediante. Os desenhos continuam trazendo uma enorme carga de detalhes e é possível perceber um certo avanço por parte do autor, principalmente no que concerne ao conteúdo dos quadros, que abundam em todas as páginas.

Muitos conflitos políticos vão tomando forma e mais mistérios vão surgindo. Cada página vai sendo saboreada avidamente e fica difícil recuperar o fôlego, já que novas situações de apreensão são apresentadas a todo momento.

Ler Nausicaä do Vale do Vento é extremamente prazeroso, já que se trata de uma obra genial, muito bem escrita e belamente ilustrada. O difícil é ter que aguardar tanto tempo a cada nova edição.

(Publicado em: http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=reviews&cod_review=692&lista=autor)

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Título: Pequenos Milagres Editora: Devir Livraria Preço: R$27,00 Formato: magazine - P&B - 112 páginas Argumento e arte: Will Eisner Data do review: 09/04/2007 Por: Leonardo Passos

Quatro histórias curtas sobre pessoas comuns que vivem em Nova Iorque, onde o mote principal é a dualidade entre coincidência e milagre, em contos cheios de amor, perda, traição, esperança e surpresa.

“O Milagre da Dignidade” conta uma história de cunho moralizante onde um homem tem sua ascensão e queda após agir de forma mesquinha e gananciosa com um sobrinho que o ajudou quando mais necessitava.

“Mágica de Rua” é a mais curta do álbum, contando a história de um rapaz que utiliza um ardil para escapar das agressões de um grupo de delinquentes.

“Um Novo Garoto no Quarteirão” traz a história de um misterioso rapaz, arredio e com problemas de comunicação, que traz esperança e valiosas mudanças a uma comunidade cheia de conflitos.

Por fim, “O Anel de Casamento”, mostra uma bela história de amor e perdão entre dois jovens judeus que têm seu casamento arranjado por suas mães.

Opinião:

O saudoso Will Eisner não se tornou um dos maiores ícones dos quadrinhos à toa. Seus desenhos eram brilhantes e vivos e sua narrativa era dinâmica e inovadora. O mestre sabia utilizar todo o potencial da nona arte como poucos, dando aulas de criatividade a cada novo trabalho. A importância do autor é tão grande que a maior premiação da indústria dos quadrinhos norte-americanos leva o seu nome: Eisner Awards.

Resgatando um pouco do que já havia feito em O Nome do Jogo e Avenida Dropsie, Eisner nos presenteou com esses quatro contos que abordam temas cotidianos da vida de moradores de Nova Iorque, onde a cultura judaica permanece tema recorrente. Mas apesar da qualidade de Pequenos Milagres, os outros dois livros supracitados ainda se destacam por trazerem histórias mais elaboradas, com maior riqueza de detalhes.

As melhores histórias desse álbum são justamente as duas maiores, “Um Novo Garoto no Quarteirão” e “O Anel de Casamento”, onde Eisner cria situações de uma sensibilidade ímpar, retirando ótimas histórias dos fatos mais corriqueiros. O mesmo acontece com seus desenhos, que em situações não raras são capazes de relatar muito em apenas um quadrinho, ao contrário do que fazem muitos desenhistas da grande indústria, que adoram desenhos de página inteira que nada acrescentam à narrativa.

(Publicado em: http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=reviews&cod_review=690&lista=autor)

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Título: Aventuras de Calvin e Haroldo, As - O Mundo é Mágico Editora: Conrad Preço: R$44,90 Formato: widescreen - P&B - 168 páginas Argumento e desenhos: Bill Waterson Data do review: 13/03/2007 Por: Leonardo Passos

A tirinha conta a história de Calvin, um hiperativo garoto de seis anos cujo maior amigo é o tigre de pelúcia Haroldo, que ganha vida quando não existe nenhum adulto por perto. Ao lado das fantasias e brincadeiras da dupla, surgem questões sobre política, cultura, sociedade e a relação de Calvin com seus pais, colegas e professores, com a sabedoria que os tolos adultos só conseguem traduzir como ingenuidade.

Criada em 1985, a tirinha foi publicada diariamente, durante dez anos, em mais de 2.400 jornais ao redor do mundo.

Opinião:

É impressionante como ler Calvin e Haroldo nunca cansa. Ao lado de Mafalda, do argentino Quino, e Charlie Brown e Snoopy, do saudoso Charles Schulz, Calvin é uma das melhores tiras de todos os tempos. Aparentemente voltadas ao público infantil, essas obras mostraram para muitos marmanjos que quadrinhos não são mero passatempo para crianças e que possuem conteúdo intelectual elevado, tornando-se alvo de estudos de muitos acadêmicos e estudiosos de artes e comunicação ao redor do mundo.

As tirinhas de Bill Waterson não são apenas divertidas, ajudam a nos relembrar dos bons momentos da infância, trazendo boas recordações de uma época mágica onde os problemas pareciam não existir. E quando existiam, desapareciam tão rápido quanto surgiam.

Não há como não rir com as intermináveis rixas entre Calvin e sua colega de escola Susie Derkins, ou suas investidas contra a “terrível” babá Rosalyn, as travessuras contra a professora Wormwood ou quando seus pais ficam de cabelo em pé com as inúmeras situações que o garoto apronta.

Na maior parte do tempo, Calvin prefere viver solitariamente com seu amigo imaginário Haroldo a enfrentar as agruras do mundo, que na maioria das vezes é chato, tedioso e injusto. Juntos eles vivem experiências intergalácticas em uma caixa de papelão, aventuras submarinas dentro da banheira ou emocionantes corridas a bordo de um trenó de neve. Mas a manifestação máxima da criatividade de Calvin é o seu calvinbol, onde a única regra é não ter regras.

Diversos álbuns foram publicados pela editora Best News na década de 90 e depois as tirinhas tiveram uma curta carreira na revista Calvin & Cia., da editora Opera Graphica. Felizmente tivemos esta grata e inesperada surpresa por parte da editora Conrad.

Começando com o álbum inédito O Mundo é Mágico, a Conrad inicia a publicação completa das histórias de Calvin e Haroldo no Brasil. A editora pretende publicar dois livros por ano, seguindo o formato original dos álbuns. Mas com apenas dois livros lançados anualmente, os leitores terão que ter muita paciência para completar sua coleção.

Como o álbum não reproduz as tiras em ordem cronológica, este primeiro volume traz a última tirinha feita pelo criador, publicada em dezembro de 1995. Ao relê-la, é inevitável não sentir saudades das peraltices cometidas pelo endiabrado moleque loiro de cabelos espetados.

A maioria das tiras é em preto e branco, intercaladas por algumas coloridas, que eram publicadas nas páginas dominicais dos jornais. Infelizmente, este primeiro álbum, em formato horizontal, não traz nenhum texto introdutório ou qualquer biografia do autor. Espero que os próximos volumes da coleção possam trazer algum texto sobre o criador e sua maravilhosa obra.

(Publicado em: http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=reviews&cod_review=670&lista=autor)

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Título: Aberrações - No Coração da América - Edição especial Editora: Devir Livraria Autores: Steve Niles (roteiro) e Greg Ruth (desenhos). Preço: R$38,50 Número de páginas: 152 Data de lançamento: maio de 2006 Por Leonardo Passos

Sinopse: Sob o céu castigado do interior dos Estados Unidos e nos corações feridos das famílias de uma cidadezinha rural, um terrível mistério tem sido guardado há muitos anos. O garoto Trevor precisa salvar seu irmão mais novo, Will, do medo insano das pessoas que não compreendem o trágico segredo que mantém suas famílias unidas.

Alguns chamariam Will de “aberração”, mas, para Trevor, ele é só mais uma criança presa numa realidade que não consegue entender.

Quando a situação vai de mal a pior, e seu pai ameaça se livrar de Will da maneira mais fácil, Trevor descobre que há outros como seu irmão no Vale de Gristlewood.

Agora, contra todas as diferenças e com nada além do amor incondicional por seu irmão no coração, Trevor fará de tudo para salvar Will e as outras

crianças.

Positivo/Negativo: Após o lançamento da trilogia 30 Dias de Noite, a Devir brinda o leitor com mais um trabalho do excelente roteirista Steve Niles, vencedor do prêmio Eisner de Melhor Roteirista em 2005.

Aberrações - No Coração da América é um dos melhores trabalhos de Niles, com uma história envolvente sobre garotos que fazem de tudo para salvar seus irmãos deformados, vítimas da ignorância dos próprios pais, que os veem como “filhos do demônio” ou “castigo de Deus”.

Aparentemente uma história de terror ambientada na zona rural do sul dos Estados Unidos, este álbum na verdade é uma bela história de compaixão fraternal que alerta para os diversos atos de intolerância tomados pela ignorância das pessoas que se fecham para tudo que é diferente do seu habitual.

Os desenhos impressionistas de Greg Ruth – que ilustrou diversas edições de Conan, O Cimério para a Dark Horse –, são um colírio para os olhos. E as cores são eficazmente usadas para compor a dramaticidade da obra.

A parceria entre Niles e Ruth resulta em um trabalho de primeira, que une ritmo lento, closes, textos breves e pouca iluminação para aumentar a tensão, inserindo cada vez mais o leitor na comovente e perturbadora história.

Uma caprichada e bem traduzida edição da Devir.

(Publicado em: http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/review_Aberracoes.cfm)

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Título: Almanaque dos Quadrinhos - 100 Anos de uma mídia popular - Livro teórico Editora: Ediouro Autores: Carlos Patati e Flávio Braga. Preço: R$ 39,90 Número de páginas: 232 Data de lançamento: Dezembro de 2006 Por Leonardo Passos

Sinopse: Neste livro os autores traçam a história e a trajetória das HQs desde os primórdios. Das pinturas das cavernas até as gravuras fantásticas de Goya. Dos primeiros super-heróis à febre dos mangás, sem deixarem de registrar a substituição da prancheta de desenho pela tela do computador.

O Almanaque também reserva um bom espaço para os quadrinhos brasileiros, destacando desde os personagens aos nossos grandes nomes do traço e do texto.

Positivo/Negativo: 2006 foi um ótimo ano para os fãs de quadrinhos no Brasil, com as bancas recheadas de revistas, as livrarias recebendo cada vez mais títulos extremamente bem

acabados, uma variedade considerável de gêneros, novas editoras surgindo e livros teóricos sendo lançados com alguma frequência.

E o ano terminou bem com a grata surpresa do lançamento deste Almanaque dos Quadrinhos. Os nomes de Carlos Patati (roteirista e crítico de HQs) e Flávio Braga (escritor e estudioso) sugerem a seriedade com que foi tratada a abordagem da obra.

O livro foi muito bem montado, com capítulos que contam cronologicamente a história dos quadrinhos. Os pontos mais cruciais estão lá: o Yellow Kid, as comic strips, os super-heróis, os syndicates, os comix (quadrinhos underground norte-americanos), as HQs europeias, a invasão britânica, as produções brasileiras, quadrinhos eróticos e a parceria com o cinema.

Várias informações interessantes e importantes, bem como nomes de autores de maior relevância são citados aos montes ao longo do livro. No entanto, muita coisa boa ficou de fora. Alguns personagens ou criadores de renome simplesmente foram deixados de lado ou abordados de maneira pra lá de sucinta.

A linguagem adotada é adequada e os assuntos, bem escolhidos. Mas o livro pode ser tachado como enfadonho ou superficial por leitores mais experientes. Os menos acostumados com o universo dos quadrinhos, porém, terão um bom referencial sem se defrontar com uma complexidade que poderia afastá-los da nona arte.

Provavelmente, o livro destina-se a este último grupo, dada a brevidade na abordagem de determinados temas.

Apesar de ricamente ilustrado com imagens em preto-e-branco e algumas coloridas, o livro peca pelo excesso de cortes e sobreposições de imagens, ficando confuso em determinadas páginas.

Enfim, é uma ótima opção para novos leitores que quiserem se aprofundar na história dos quadrinhos sem gastar muito. Aliás, uma louvável atitude da Ediouro lançar um livro tão bem produzido por um preço tão convidativo. Quem sabe a moda pega...

(Publicado em: http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/review_AlmHQ.cfm)

Page 16: resenhas_LeonardoPortoPassos

Título: O Traça - Edição especial Editora: Pixel Media Autores: Gary Martin (roteiro) e Steve Rude (desenhos). Preço: R$ 32,90 Número de páginas: 160 Data de lançamento: Março de 2007 Por Leonardo Passos

Sinopse: Jack Mahoney é acrobata de circo e, nas horas vagas, vigilante mascarado. Neste encadernado, o carismático Traça luta contra um homem-leão, um pilantra caça-recompensas, gângsteres e um trio de misteriosas ladras silenciosas.

O herói é ajudado pela famosa heroína Liberdade Americana, por uma gangue de motoqueiros fora-da-lei, integrantes do circo onde trabalha e feiticeiros africanos.

Sempre rodeado por companheiros esquisitos e inimigos ainda mais extravagantes, o Traça se esforça para combater o mal, conseguir dinheiro para pagar as despesas do circo onde cresceu e levar a vida adiante. Um herói cheio de problemas e mais humano que o de costume.

Positivo/Negativo: Steve Rude sempre foi um artista sem muitas pretensões, com criações simples mais destinadas ao puro divertimento, em vez de histórias intrincadas e complexas. E O Traça não foge a esse padrão.

Já na capa notam-se semelhanças com personagens bastante conhecidos, como Justiceiro, Fantasma e Homem-Aranha. Ao ler a história, percebe-se que isso talvez seja proposital, já que o Traça carrega um pouco das características dos três supracitados.

O álbum nacional traz todas as histórias do personagem: uma minissérie em quatro partes, duas edições especiais e a publicada em Dark Horse Presents #138, que marcou sua estreia. No início, a trama não empolga muito, pois tudo parece “mais do mesmo”, com os desgastados clichês do gênero. No entanto, com o passar das páginas, o leitor vai se envolvendo com o carisma de Jack Mahoney e seus companheiros de circo, em situações corriqueiras e engraçadas.

O uso de palavrões e gírias aproxima ainda mais o leitor do mundo quase normal do herói. Aliás, as situações mais divertidas do álbum são as vividas no dia a dia, quando Mahoney está sem a sua máscara, levando uma vida simples no circo ou socialmente.

Os desenhos de Rude são simples, porém competentes, com belos sombreamentos e apoiados por um bom trabalho de colorização, que reforça o ar de nostalgia. O roteiro de Gary Martin não é nenhuma obra-prima, mas o autor é eficaz ao criar personagens e situações banais para rechear a trama sem parecer pura enrolação.

O álbum nacional traz todas as capas originais e alguns textos complementares. Mas há diversos erros de ortografia e/ou digitação, além de alguns balões em que faltam palavras.

Uma revisão mais cuidadosa viria a calhar.

(Publicado em: http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/review_OTraca.cfm)

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Título: Samurai - O céu e a terra - Edição especial Editora: Devir Livraria Autores: Ron Marz (roteiro) e Luke Ross (desenhos). Preço: R$40,00 Número de páginas: 144 Data de lançamento: Fevereiro de 2007 Por Leonardo Passos

Sinopse: A história, lançada originalmente como uma minissérie em cinco edições, relata o ataque chinês ao feudo japonês de lorde Tokudaiji, em 1704. Asukai Shiro, um nobre samurai, tem a sua morada destruída, seus companheiros mortos e sua amada sequestrada.

Então, decide ir à China em busca de sua bela Yoshiko. Mas ao se deparar com o seu grande inimigo, o comandante Hsiao, descobre que ela foi levada por um árabe mercador de escravos, o que o levará à pomposa Paris, onde encontrará quatro dos maiores espadachins da guarda de elite do Rei Luís XIV.

Positivo/Negativo: Chega ao nosso mercado esta minissérie desenhada por Luke Ross, um dos mais talentosos artistas brasileiros.

A arte é realmente exuberante, com intenso realismo e extremo controle nas técnicas de luz e sombra, principalmente no uso das cores. Ross dá mostras de amplo conhecimento das vestimentas e arquiteturas orientais do início do século XVIII, além de ser um exímio fisionomista, deixando bem nítidas as diferenças mais marcantes entre japoneses e chineses.

As cenas de luta são empolgantes, com ângulos interessantes e sangue voando por todos os lados. As costumeiras elipses são utilizadas para encobrir as cenas mais sórdidas, amenizando o teor de brutalidade. As expressões dos guerreiros nos momentos de combate são quase fotográficas, chegando a impressionar.

A trama começa extremamente interessante, com bastante ação e intriga e permanece assim até que Shiro descobre que Yoshiko foi levada pelo comerciante árabe. Neste momento, a história perde a verossimilhança, quando o ronin, de uma hora para a outra, vai do Japão à China e depois para o oeste europeu, mais precisamente a Paris, na França. São milhares de quilômetros de distância e parece que os dois países são vizinhos. Numa aventura que pretende ser tão realista, isso não caiu bem.

Em Paris, a história parece que vai tomar novo fôlego quando o samurai se encontra com os três mosqueteiros – não identificados em momento algum. Surgem novas intrigas e a trama toma rumos um pouco inesperados, mas nada tão empolgante quanto no começo.

O que poderia se tornar uma história interessantíssima acaba não passando de algo mediano, com um final pouco inspirado e decepcionante – e fica a torcida para a Devir publicar a continuação. Ron Marz nunca foi dos roteiristas mais amados pelos fãs, por isso a obra acabada agradando, já que as expectativas não são tão grandes. Competente, porém muito longe de ser um clássico.

O livro traz como bônus 15 páginas de sketchbook e extras, com ilustrações de alguns artistas convidados.

(Publicado em: http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/review_SamuraiCeuTerra.cfm)