Raízes do Brasil · Roma). Ganhou diversos ... Ao invadir o Nordeste brasileiro, ... Quem detinha...
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Autor: Sérgio Buarque de Holanda
Editora: Companhia das Letras
Ano: 1995
Alunas: Maria Gabriela Montanari e Marina Toledo de Arruda Lourenção
Raízes do Brasil
Agenda Contextualização da Obra;
Capítulo 1: Fronteiras da Europa;
Capítulo 2: Trabalho e Aventura;
Capítulo 3: Herança Rural;
Capítulo 4: O Semeador e o Ladrilhador;
Capítulo 5: O Homem Cordial;
Capítulo 6: Novos Tempos;
Capítulo 7: Nova Revolução;
Considerações Finais.
Raízes do Brasil A primeira edição foi publicada em 1936.
Em agosto de 2016 foi lançada uma edição crítica pela Companhia
das Letras, comemorando os 80 anos da obra.
É um dos maiores clássicos sobre o Brasil, juntamente com "Casa-
Grande & Senzala", de Gilberto Freire e “Formação do Brasil
Contemporâneo", de Caio Prado Jr.
Consiste em um reflexão sobre o processo de colonização e suas
consequências na formação do povo brasileiro e de sua cultura.
Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) Foi um dos mais importantes historiadores brasileiros, além de
crítico literário e jornalista.
Assumiu diversas cadeiras universitárias, entre elas História da
Civilização Brasileira (USP), Estudos Brasileiros (Universidade de
Roma).
Ganhou diversos prêmios literários, publicou mais de dez livros e
escritos importantes.
Participou em 1980 da cerimônia de fundação do Partido dos
Trabalhadores (PT)
As origens da sociedade brasileira e
de sua cultura
Na origem da sociedade brasileira, a tentativa de implantação da cultura europeia é o fato dominante e que mais tem consequências.
A herança cultural brasileira decorreu da colonização por uma nação Ibérica.
Por que é significativo o fato do Brasil ter sido
colonizado por uma Nação Ibérica?
- Países Ibéricos não tem o “europeísmo”.
- Esses países só passaram a ser mais importantes na
descoberta do “Novo Mundo”.
Personalismo ou Cultura da Personalidade Característica bem peculiar à Península Ibérica que não se aplica ao
restante da Europa.
Envolve a importância particular que as pessoas dessa atribuem ao valor
próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em
relação aos semelhantes no tempo e no espaço.
Consequências do personalismo:
(1) fraqueza nas formas de organização, de todas as
associações que impliquem solidariedade e ordenação;
(2) a falta de influência decisiva dos privilégios hereditários.
A pouca importância dos privilégios
hereditários Está relacionada com a fraca estrutura social e com a falta de
regularidade hierárquica dos países ibéricos. A hierarquia e os governos
eram considerados frágeis, e a hierarquia depende dos privilégios.
É refletida na visão de que o prestígio pessoal (mérito), independente do
nome herdado manteve-se nas épocas mais gloriosas das nações ibéricas,
e nesse ponto, elas podem ser consideradas legítimas pioneiras na
mentalidade moderna.
Consequência para o Brasil:
Falta de coesão na vida social não representa um fenômeno moderno.
A fraqueza nas formas de organização
O que impediu o surgimento do espírito de organização espontânea foi
justamente a mentalidade das pessoas que o mérito e a responsabilidade
individuais levam ao reconhecimento (personalismo).
Por isso, nessas nações sempre predominou o tipo de organização política
artificialmente mantida por uma força exterior.
Porém o pensamento focado no mérito encontrou obstáculos perante a
Igreja e ao pensamento medieval de que o trabalho e esforço manual deve
ser valorizado, e de que não deve ocorrer o “lucro torpe”.
Os portugueses e espanhóis tinham a concepção de que “o ócio importa
mais que o negócio.”
Obediência
É uma alternativa à exaltação extrema da personalidade;
Aparece como virtude dos povos ibéricos.
É percebida como forma de disciplina.
Representação da disciplina pela obediência no Brasil:
Jesuítas da Companhia de Jesus, com suas reduções e doutrinas.
Uma observação é que a simples obediência como princípio de
disciplina parece impraticável, e daí portanto ocorre a
instabilidade da nossa vida social.
Portugal e a colonização do Novo Mundo
Portugal era o país do Velho Mundo mais bem armado para se aventurar à exploração das terras próximas à linha do Equador.
A colonização e exploração do Novo Mundo foi feita pelos portugueses com desleixo e certo abandono, sem entusiasmo.
Apesar disso, a colonização holandesa, se tivesse ocorrido, provavelmente não teria trazido melhores rumos para o Brasil
Os tipos trabalhador e aventureiro como
impulsionadores da colonização Tipo trabalhador Tipo aventureiro
Aquele que enxerga primeiro a
dificuldade a vencer, não o triunfo a
alcançar. Existe uma ética de trabalho.
Esse tipo de indivíduo só atribuirá valor
moral positivo às ações que sente ânimo
de praticar, ele estima o esforço.
Aquele para o qual o objeto final é mais
importante, dispensando processos
intermediários. As energias e esforços que
se dirigem a uma recompensa imediata
são enaltecidos. Esse tipo de indivíduo
prefere descobrir a consolidar.
Características: responsabilidade, busca
por estabilidade e segurança.
Características: audácia, imprevidência,
irresponsabilidade, instabilidade,
vagabundagem.
Teve papel limitado na conquista e
colonização dos novos mundos, mas
combinado com o tipo aventureiro
permitiu que os portugueses se
adaptassem ao Brasil.
Teve papel importante na colonização, se
manifestando em características do
brasileiro de ânsia de prosperidade sem
custo, de títulos honoríficos, de posições e
riquezas fáceis.
A cana de açúcar no Brasil Sua plantação começou após algumas décadas no Nordeste, que era o local mais
propício e de terras mais férteis.
O foco era produção em grande escala baseada em um processo já instituído em outros lugares.
A escolha dessa cultura se deu por dois
motivos:
(1) os portugueses vinham buscar riquezas
que não custavam trabalho, como
minerais e especiarias, que eles estavam
acostumados a conseguir na Índia, porém
não encontraram aqui no Brasil;
(2) O clima para o desenvolvimento da
cana era favorável e o produto era
valorizado na Europa.
Características da cultura da cana - Grandes propriedades.
- Se tornou a unidade de produção porque existiam
muitas terras férteis e inexploradas.
- A presença do negro representou sempre fator
obrigatório no desenvolvimento dos latifúndios.
- Tentou-se empregar mão de obra indígena, mas não
funcionou, pois os índios não se adaptavam ao
trabalho acurado e metódico que exige a exploração
dos canaviais.
- O foco era produção em escala e o mercado exterior.
- Lavoura primitiva e com métodos antigos.
Latifúndios
Mão de obra
negra e escrava
Monocultura
Plasticidade social e ausência de orgulho
racial em Portugal e claro, no Brasil
A plasticidade social se refere a uma tradição cultural de os portugueses
serem um povo de mestiços.
Essa miscigenação, que começou na metrópole portuguesa, sobretudo
com o grande aumento no número de negros, se transferiu também para
o Brasil.
Essa mistura extinguiu o sentimento de distância entre os dominadores e
a massa trabalhadora constituída de homens de cor, e a ideia de separação
de castas ou raças foi se dissolvendo.
Plasticidade social e ausência de orgulho
racial em Portugal e claro, no Brasil
Ao mesmo tempo, a miscigenação trouxe preconceitos e ofensas em
relação aos os mestiços (filhos de escravos com brancos) e aos mulatos
(descendentes de índios com brancos).
Os negros e seus descendentes eram mais desprezados do que os índios
no Brasil, que tinham uma liberdade civil pelo menos “tutelada” e
protegida e cujos filhos mulatos tiveram alguns direitos reconhecidos em
1755 pelos portugueses.
Os negros ficavam em trabalhos de baixa reputação, que degradam o
indivíduo que o exerce ( labéu associado aos trabalhos vis a vis).
Organização dos ofícios no Brasil
• Foi feita segundo moldes trazidos do reino e foi influenciada pela preponderância do trabalho escravo, indústria caseira e escassez de artesãos livres na maior parte das vilas e cidades.
• Nos ofícios urbanos o objetivo era o ganho fácil, assim como nos trabalhos rurais.
• Tinha negros e índios que faziam trabalhos artesanais. Tinham nobres que se dedicavam a serviços mecânicos também. Tinham os “negros de ganho” ou “moços de ganho”.
Tentativa de colonização holandesa
Ao invadir o Nordeste brasileiro, os holandeses tentaram implementar
uma colonização baseada em um espírito de empreendimento metódico e
coordenado, capacidade de trabalho e coesão social.
Por que não funcionou?
Os colonos que enviaram não eram adequados a um país em formação
(não queriam fincar raízes, não desejavam sair do seu país, tinham um
caráter cosmopolita, instável e urbano).
A língua portuguesa já era familiar para o povo e muito mais fácil do
que o idioma holandês.
A religião católica era muito mais fácil de ser acolhida e era comunicada
e explicada de forma mais simpatizante, enquanto o calvinismo
holandês não era bem aceito.
Novos colonos no Brasil – Alemães no Sul
Os novos colonos no Brasil, sobretudo os alemães, que vieram para o Sul
se adaptaram ao sistema de colonização português.
Eles não se mostraram progressistas: na lavoura, eles plantavam com as
mesmos processos primitivos (exploração com queimadas, sem uso de
arado).
Por que eles persistiram nesses métodos?
O emprego do arado é muitas vezes contraproducente em certas terras
tropicais e subtropicais;
A própria geografia (vales, morros) não era propícia para o uso de
técnicas mais modernas, como o arado.
Herança Rural
Toda a estrutura de nossa sociedade colonial tem raízes rurais, cujos reflexos são vistos até hoje na sociedade brasileira.
Se não foi a rigor uma civilização agrícola o que os portugueses instauraram no Brasil, foi, sem dúvida, uma civilização de raízes rurais.
Quem detinha o poder na época colonial eram os senhores rurais, ou seja, fazendeiros escravocratas que monopolizavam a política da época. A terra era sinônimo de riqueza.
As cidades brasileiras passaram a ser importantes apenas após a Abolição da Escravidão em 1988.
Fatos que levaram a abolição da escravidão
As inclinações anti tradicionalistas e empreendimento de movimentos
liberais por muitos representantes da classe desses senhores rurais.
A supressão do tráfico negreiro e a Lei Eusébio de Queirós(1850).
As diversas reformas entre 1850 e 1855
( a organização e a expansão do crédito bancário, o
incremento dos negócios, a construção de estradas
de ferro) que levaram ao desenvolvimento urbano e que fez o país crescer.
Incompatibilidade do trabalho escravo com a civilização
burguesa e o capitalismo moderno.
Então, por que a escravidão foi extinta
apenas em 1888? Primeiro, pois apesar das reformas trazerem otimismo dos que
enriqueciam rapidamente devido a grande oferta de crédito, havia um
grupo pessimista de fazendeiros endividados e descontentes com a
cessação do tráfico, que se apoiavam na instabilidade das novas fortunas
pra apresentar resistência a abolição da escravidão –rural x urbano.
Segundo, pela ocorrência da crise comercial de 1864, decorrente do fato
de se tentar implementar a democracia burguesa em uma sociedade presa
à economia escravocrata e marcada pelo patriarcalismo e personalismo.
Terceiro, devido ao caso do Barão de Mauá, que criou a ideia do crédito e
era contra o tráfico negreiro, mas teve seus esquemas descobertos,
revelando ideias ilícitas, nas quais haviam questões políticas em jogo.
Engenho e senhores de engenho
• Organismo completo, quase uma mini sociedade.
• As fazendas com engenhos possuíam igrejas, escolas,
oficinas, mercados, alojamentos, senzalas.
• Detinham o poder e sua autoridade não tinha réplica.
• Juntos com os escravos eles formavam famílias de estilo
patriarcal, nas quais os indivíduos estão associados por
sentimentos e deveres e não ideias e interesses. Os
partidos políticos também se constituíam à semelhança
de famílias patriarcais (facções políticas).
• Perderam seu prestígio com o declínio da velha lavoura e
a quase concomitante ascensão dos centros urbanos,
precipitada grandemente pela vinda, em 1808, da Corte
portuguesa e depois pela Independência.
-
Senhores de
engenho
Engenho
Posição suprema conferida às virtudes da
imaginação e da inteligência • Senhores de engenho e seus herdeiros.
• Maior riqueza possível com o menos trabalho possível.
• Relacionado com o personalismo.
• Também chamado de trabalho intelectual, relacionado com a
inteligência.
• Negros e escravos.
• Trabalho físico, pouco valorizado e pouco digno.
• Questiona o que contribui mais para a riqueza e prosperidade das
nações : a quantidade de trabalho ou de inteligência.
• Inteligência se opõe ao pensamento da Revolução Industrial.
• O sentimento de nobreza e a aversão ao trabalho físico saem da
Casa Grande e invadem as cidades.
Trabalho mental
Trabalho mecânico
Visconde de Cairu
(Silva Lisboa)
As cidades e a herança rural Nas cidades, ainda predominava o ruralismo, ou seja,
Não ocorreu uma transformação verdadeiramente substancial na estrutura
política e econômica do país com o surgimento das cidades.
As cidades se desenvolveram com elementos estreitamente vinculados ao
velho sistema e domínio rural (os senhores rurais continuaram com o
poder, dado que não há uma burguesia urbana independente) e com baixa
representatividade (escassez de habitantes) comparado ao ambiente rural.
A mentalidade de casa-grande invadiu as cidades e conquistou todas as
profissões, sem exclusão das mais humildes.
“O predomínio esmagador do ruralismo, segundo todas as aparências, foi
antes um fenômeno típico do esforço dos nossos colonizadores do que uma
imposição do meio.”
As cidades como instrumento
de dominação Para muitas nações conquistadoras, desde a Antiguidade, a construção das
cidades foi o mais decisivo instrumento de dominação que conheceram.
As cidades eram vistas como o meio específico para a criação de órgãos
locais de poder.
O recurso das cidades era duradouro e eficiente.
Nas Américas, os espanhóis criaram cidades em suas colônias (grandes
núcleos de povoação estáveis e ordenados) a fim de exercer essa
dominação, enquanto os portugueses realizaram uma dominação ligada à
estrutura rural, na qual a habitação nas cidades foi antinatural e se
desenvolveu de forma prematura.
O semeador e o ladrilhador
Semeador
(Português no Brasil)
Ladrilhador
(Espanhol na América Latina)
Tem a preocupação de exploração
comercial, colonizando sem planejamento e
de maneira desleixada, buscando uma
riqueza fácil, sem produzir grandes obras e
sem distorcer a ordem da natureza. A rotina
é o princípio norteador.
Tem a preocupação de acentuar e mostrar a
importância e a influência da metrópole
espanhola sobre as terras recém conquistadas,
e para isso eles logo se dispuseram a criarem
cidades. É planejador, intervém no curso da
natureza, é direcionado pela razão abstrata.
Cidades portuguesas na América:
- Localizadas no litoral com clima tropical
(por proximidade à metrópole e garantia
de acesso aos recursos da colônia pela
mesma e também pela facilidade de
comunicações marítimas e de encontrar a
costa habitada por uma única família de
indígenas falando o mesmo idioma).
- Não eram planejadas e muitas vezes
irregulares, pareciam mais feitorias.
Cidades espanholas na América:
- Localizadas no interior, em lugares com o
clima próximo ao europeu e com
civilizações mais progressistas;
- Planejadas em torno da denominada praça
maior, retilíneas; controladas pelo Estado e
por uma legislação.
- Deveriam ser um reflexo da metrópole.
A colonização e ocupação do interior
brasileiro Começou a partir da descoberta do ouro em Minas Gerais pelas
bandeiras, expedições predominantemente paulistas de iniciativa própria
de lucro e que possuíam pouco contato com Portugal.
O ouro fez com que o afluxo de pessoas se direcionasse para o interior da
colônia, mas Portugal tentou evitar essa migração, principalmente por
meio de leis e fiscalização.
Deve-se observar que a influência da colonização litorânea tem efeitos no
Brasil até os dias de hoje. Quando hoje se fala em “interior” , pensa-se,
como no século XVI, em região escassamente povoada e apenas atingida
pela cultura urbana.
O papel da burguesia mercantil na
expansão marítima portuguesa e na
colonização brasileira
As características dos portugueses em sua expansão marítima culminou com
o surgimento de uma burguesia mercantil, que tentava ascender socialmente
no país.
Havia um desejo de sua burguesia em se tornar parte da nobreza, mas esses
novos nobres eram muito mais preocupados com as aparências, com
engrandecer a si mesmos do que com a antiga tradição e conservadorismo.
Essa mentalidade mais liberal e essa burguesia mercantil (nova nobreza) que
veio ao Brasil marcaram a colonização portuguesa, que ao contrário da
espanhola, permitia a vinda de estrangeiros e era bem mais desleixada, sem
tentar dominar o curso dos acontecimentos.
O papel da Igreja na colonização
portuguesa no Brasil A questão religiosa parece ter exercido um maior impacto e peso na
América Portuguesa do que na América Espanhola, uma vez que:
O catolicismo sempre acompanhou Portugal e
A Igreja era estritamente sujeita ao poder civil.
A Igreja transformara-se, por esse modo, em simples braço do poder
secular, em um departamento da administração leiga, e era complicado
separar a Igreja e o Estado. Muitas vezes existiam revoltas da Igreja
quando as autoridades influenciavam em sua administração.
O poder e a influência da Igreja era bem grande sobre os colonos, talvez
maior que o da metrópole.
Estado e família Devem pertencer a ordens diferentes em essência. Isso significa que o Estado não é
uma continuidade da família.
Exemplo da evolução das pequenas empresas – relações mais próximas com os
funcionários, caráter mais familiar.
Com a revolução industrial surgiram empresas maiores, com mais cargos, nas quais as
relações se distanciaram devido a hierarquia de funcionários.
Para o individuo se adaptar a vida “prática” ele deve se libertar das “virtudes” familiares.
A obediência deve ser estimulada somente até certo ponto, é importante que a criança
consiga adquirir aos poucos a sua individualidade, a conseguir pensar por si só.
Consequência para o Brasil:
Muita dificuldade na transição para o trabalho industrial, onde muitos valores rurais e
coloniais persistiram – relações familiares patriarcais, rurais e coloniais.
Estado e família
Joaquim Nabuco diz que “ em nossa política e em nossa sociedade [...] são os órfãos, os abandonados, que vencem a luta, sobem e governam”.
Enfatiza que a política tem que estar desvinculada dos interesses pessoais, das raízes familiares, por isso o estado deve ter origem distinta da família.
Diz que é difícil para os detentores de funções públicas de responsabilidade compreenderem a distinção entre os domínios do privado e do público.
Estado e família
“É possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante
das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos
fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal. Dentre esses
círculos, foi sem dúvida o da família aquele que se exprimiu com mais
força e desenvoltura em nossa sociedade”.
FUNCIONÁRIO PATRIMONIAL:
A gestão pública representa-se como assunto de interesse
particular, as funções, os empregos e os benefícios que deles
aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a
interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado
burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o
esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos.
A hospitalidade e generosidade são virtudes dos traços do caráter brasileiro.
A forma de convívio social do brasileiro é justamente o contrário da
polidez.
Tem aversão ao ritualismo social, tem dificuldade de reverência prolongada
ante um superior.
No começo pode ser mais respeitoso, mas logo após estabelece certa
intimidade.
“No Brasil como na Argentina, para conquistar um freguês tinha
necessidade de fazer dele um amigo.”
Contribuição brasileira para a sociedade, o
homem cordial
Contribuição brasileira para a sociedade, o
homem cordial O mesmo acontece na religião. No nosso catolicismo, é permitido tratar os
santos com uma intimidade que pode parecer estranho para outros povos.
Ex. Santa Terezinha; festa do Senhor Bom Jesus de Pirapora história do Cristo que
desce do altar para sambar com o povo.
Do mesmo modo, na religião também aparece aversão ao ritualismo.
Auguste de Saint-Hilaire, que visitou a cidade de São Paulo na semana santa de
19822 conta que
“ [...] a maioria dos presentes recebeu a comunhão da mão do bispo. Olhavam à
direita e à esquerda conversavam antes desse momento solene e recomeçavam a
conversar logo depois”.
Vídeo sobre o homem cordial:
https://www.youtube.com/watch?v=nyyMjp_r5_8
O sentido do bacharelismo São raros no Brasil os profissionais que se limitem a ser homens de sua
profissão. Ninguém procura seguir o curso natural da carreira iniciada,
costumam almejar altos postos e cargos mais rendosos. Dessa forma, o
bacharelismo é visto como uma ponte para conseguir alcançar status e cargos
importantes.
Diz que o brasileiro anseia pelos meios de vidas definitivos, que dão segurança e
estabilidade, exigindo mínimo esforço pessoal, como sucede tão
frequentemente com certos empregos públicos.
Desejo de alcançar prestígio e dinheiro sem muito esforço.
“Tudo o que dispense qualquer trabalho mental aturado e fatigante, as ideias
claras, lúcidas, definitivas, que favorecem uma espécie de atonia da inteligência,
parecem-nos constituir a verdadeira essência da sabedoria.”
Como se pode explicar o bom êxito do
positivismo no Brasil Amor pelas ideias fixas e genéricas – justifica a entrada do positivismo no Brasil.
“ O mundo caberia irrevogavelmente por aceitá-las, só porque eram racionais, só
porque a sua perfeição não podia ser posta em dúvida e se impunha
obrigatoriamente a todos os homens de boa vontade e de bom senso.”
Os políticos e a aristocracia via no positivismo uma forma de apoio às ideias da
proclamação da república.
No entanto o autor comenta que “ Na verdade, a ideologia impessoal do
liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós” . Para eles, os
princípios só foram assimilados até onde não existia uma autoridade incômoda,
tendo em vista o nosso horror às hierarquias, de modo que era permitido tratar
com familiaridade os governantes.
As origens da democracia no Brasil: um mal
entendido
O autor diz que a democracia no Brasil sempre foi um mal-entendido, tendo
em vista que a aristocracia rural importou-a e tratou de acomodá-la onde
fosse possível, mantendo os seus direitos e privilégios.
A formação de uma nação democrática e republicana fora concebida, nos
ideais positivistas, dos quais muitos não tiveram a preocupação de se
realmente tudo isso iria funcionar. Todo o planejamento de uma reforma
política chegou ao Brasil através dos intelectuais e bacharéis que viam da
Europa para o Brasil, os quais muitos estavam influenciados pelas ideias
liberais e democráticas.
Desse modo puderam incorporar à situação tradicional, ao menos como
fachada, alguns lemas que eram mais parecidos com os utilizados na época e
que eram exaltados nos livros e discursos.
Romantismo
Os românticos brasileiros trataram de abandonar o convencionalismo clássico, frisando sua preferência no pessoal e no instintivo.
“ Era uma nova linguagem igualmente luxuriosa para dizer a mesma coisa. Nada de verdadeiro, tudo de belo, mais arte que ciência, mais cúpula que alicerce”.
Tornou possível a criação de um mundo fora do mundo, a literatura foi uma forma de fugir do horror a nossa realidade cotidiana.
Alfabetização
O autor relata sobre a importância da alfabetização para o país.
No entanto, também afirma que “ a simples alfabetização em massa
não constitui talvez um benefício sem- par. Desacompanhada de
outros elementos fundamentais da educação, que a completem, é
comparável, em certos casos, a uma arma de fogo posta nas mãos de
um cego” .
Abolição da escravatura
A abolição no Brasil representa o marco mais visível entre duas épocas
porque foi a partir dela que ocorreu o fim do predomínio agrário, e o
início de uma sociedade mais urbana.
As comunidades urbanas foram ampliadas enquanto que os centros rurais
passaram as ser considerados fontes abastecedoras para as cidades.
Do senhor de engenho ao fazendeiro
Mudanças no Brasil
O aumento dos centros urbanos coincidiu com a diminuição da importância da
lavoura do açúcar e com a sua substituição pelo café, cujo cultivo não exige um
terreno tão extenso e é mais barato.
Aumento do número de fazendas.
A propriedade agrícola para o fazendeiro torna-se em primeiro plano o meio de
vida, no entanto não é mais o local da residência.
As ferrovias começam a se desenvolver mais para poder levar os mantimentos
da zona rural para a cidade.
Os velhos proprietários rurais impotentes pelo golpe fatal da Abolição, não
tinham como intervir nas novas instituições. A república ignorou-os por
completo.
A urbanização continuava progressiva.
Influência da Revolução Francesa
O autor comenta que os países da América Latina tiveram influência dos
princípios da revolução francesa. No entanto, no Brasil as palavras
sofreram a interpretação que foi considerada mais conveniente aos velhos
padrões patriarcais e coloniais.
O caudilhismo surge como forma de criticar o liberalismo.
O autor relata que para superar a doutrina democrática que é dividida
entre o liberalismo e caudilhismo, é necessário uma revolução vertical
que trouxesse a tona os elementos mais vigorosos, destruindo para
sempre os velhos incapazes.
Influência da Revolução Francesa
Relata que “ As constituições feitas para não serem cumpridas, as leis
existentes para serem violadas, tudo em proveito de indivíduos e
oligarquias, são fenômenos corrente em todo a história da América do
Sul.”
Também afirma que os partidos utilizam-se muitas vezes de lemas que
alcancem prestigio em seus discursos mas que não representam as atitudes
que eles irão ter. “ [...] outros serviam do lema “Liberdade”, ainda mais
prestigioso, ao mesmo passo em que procuravam consolidar em nome
dele um poder positivamente ditatorial e despótico.”
Democracia Três fatores que contribuíram para a democracia no Brasil:
Repulsa por qualquer composição da sociedade que se tornasse obstáculo
grava à autonomia do indivíduo.
A impossibilidade de uma resistência eficaz a certas influências novas (vida
a urbana) que até recentemente foram aliadas das ideias democrático-
liberais.
A relativa inconsistência dos preconceitos de raça e de cor.
Além disso, as ideias da Revolução Francesa encontram apoio em uma atitude
que não é estranha ao temperamento nacional. A noção da bondade natural
combina-se singularmente com o nosso já assinado “cordialismo”.
Democracia X Cordialismo
No entanto, há uma unilateralidade que entra em franca oposição com o
ponto de vista jurídico e neutro que se baseia o liberalismo. A
benevolência democrática é comparável nisto com à polidez, resulta de
um comportamento social que procura orientar-se pelo equilíbrio dos
egoísmos.
Impessoal; sustenta-se na ideia de que o maior grau de amor está por
força no amor ao maior número de homens, subordinando assim, a
qualidade à quantidade.
Todo o pensamento liberal-democrático pode resumir-se na frase de
Bentham: “A maior felicidade para o maior número”.
Democracia X Cordialismo
Não é difícil perceber que a ideia está em contraste direto com qualquer
forma de convívio humano baseada nos valores cordiais, onde todo o afeto
entre os homens funda-se forçosamente em preferências.
“ As formas superiores de sociedade devem ser como um contorno
congênito a ela e dela inseparável: emergem continuamente das suas
necessidades específicas e jamais das escolhas caprichosas.”
Considerações gerais sobre os capítulos Capítulos Conteúdo
1. Fronteiras
da Europa
- Discute os antecedentes da colonização portuguesa no Brasil, ou seja, a
conjectura política e social dos países ibéricos que acabavam de sair da
época medieval.
- Trata da principal característica desses países: o personalismo, que tem
como consequências a fraqueza nas formas de organização e a falta de
influência decisiva dos privilégios hereditários (valorização do mérito).
2. Trabalho e
Aventura
- Fala efetivamente da colonização portuguesa no Brasil, caracterizada pelo
desleixo e baseada no espírito trabalhador e principalmente aventureiro
dos portugueses.
- Entre as consequências dessa colonização, com caráter explorador, está o
desenvolvimento da cultura da cana, a ausência de orgulho racial e
preconceito e a organização dos ofícios e do artesanato.
- Além disso, o capítulo discute a invasão holandesa no Nordeste e porque
essa tentativa de colonização não funcionou. Também trata um pouco
sobre os novos colonos que chegaram no Brasil, como os alemães.
Considerações gerais sobre os capítulos
Capítulos Conteúdo
3. Herança
Rural
- Mostra a marca da herança rural na formação da sociedade brasileira.
- Coloca a questão da abolição da escravidão como fato chave para o
desenvolvimento das cidades, apontando suas causas e descrevendo os
acontecimentos mais importantes da época.
- Descreve a estrutura rural, com os senhores de engenho e engenhos,
mostrando que o ruralismo se estendeu para as cidades, não
implicando em grandes mudanças políticas e econômicas do país.
4. O Semeador
e o Ladrilhador
- Aborda as cidades como instrumentos de dominação e a diferença
entre o português (semeador) e o espanhol (ladrilhador) neste
aspecto.
- Explica a ocupação tardia do interior brasileiro após a descoberta do
ouro em Minas Gerais.
- Coloca o papel da burguesia mercantil e da Igreja no processo de
colonização portuguesa no Brasil.
Capítulos Conteúdo
5. O Homem
Cordial
- Fala que a família deve estar desvinculada do estado.
- Conceito do homem cordial.
- Aversão ao ritualismo, relações mais próximas, sem tanta
formalidade.
6. Novos
Tempos
- Sentido do bacharelismo: era utilizado para conseguir altos cargos e
não para a profissão em si.
- Bom êxito dos positivistas: regras estabelecidas que não exigissem
esforço para novas reflexões.
- A origem da democracia no Brasil: o brasileiro se adequava aos
princípios liberais e democráticos, porém não é tão acostumado a
seguir as regras imposta pela democracia, principalmente em relação
a imparcialidade que é mais relacionada à polidez.
- Romantismo – maneira de afastar da realidade, histórias livrescas.
- Alfabetização – era necessária no país.
Considerações gerais sobre os capítulos
Capítulos Conteúdo
7. Nossa
Revolução
- Sugere como a dissolução da ordem tradicional ocasiona contradições
não resolvidas, que nascem no nível da estrutura social e se
manifestam no das instituições e ideias políticas.
- Do senhor de engenho ao fazendeiro: após a abolição, o café começou
a ganhar mais atenção do que o açúcar no país, as fazendas foram
superando os engenhos, houve aumento da urbanização e a parte rural
começou a ser vista como suprimento para a cidade.
- Influências da revolução francesa.
- Caudilhismo e seu avesso – princípios liberais
- Democracia X Homem cordial : o brasileiro se adequava aos princípios
liberais e democráticos, porém não é tão acostumado a seguir as regras
imposta pela democracia, principalmente em relação à imparcialidade
que é mais relacionada à polidez.
Considerações gerais sobre os capítulos
Características brasileiras derivadas
da colonização
Falta de coesão social e ânsia de prosperidade sem custo
(derivadas do personalismo).
Ausência de orgulho racial (relacionada com a questão da
miscigenação e não diferenciação forte de classes sociais).
Sociedade organizada de maneira familiar (provém da herança e
da estrutura rural).
Cordialidade.
Considerações finais sobre a obra O livro mostra como a cultura brasileira foi formada e por que tem essas
características, a partir de seu processo de colonização pelos
portugueses.
O livro também fala sobre a formação da democracia no Brasil, e como
que o homem cordial se relaciona com os seus princípios.
A expressão “homem cordial” colocada no livro ainda é muito discutida
até hoje.
O quão importante “Raízes do Brasil”
ainda é nos dias hoje?
https://www.youtube.com/watch?v=0TevWrIXXrY