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SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT PROMOÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ITAJAÍ (SC) 2012

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SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT

PROMOÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE

COMUNITÁRIO DE SAÚDE

ITAJAÍ (SC) 2012

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT

PROMOÇÃO E DUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE

COMUNITÁRIO DE SAÚDE Dissertação apresentada ao Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Vale do Itajaí como requisito para obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Promoção e Educação em Saúde. Orientadora: Profª Dra. Águeda Lenita

Pereira Wendhausen.

ITAJAÍ (SC) 2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

L197p

Lampert, Silvana Corrêa de Barros, 1972- Promoção e educação em saúde: problematizando a prática do agente comunitário de saúde / Silvana Corrêa de Barros Lampert, 2012. 112f. il.; il.; fig.; quadr. Anexos, Apêndices Cópia de computador (Printout(s)). Dissertação (Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí. Centro de Ciências da Saúde. Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. “Orientadora: Profª. Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen” Bibliografia : p.91-99 1. Promoção da saúde. 2. Saúde pública. 3. Atenção à saúde. 4. Agentes comunitários da saúde. I. Título. CDU: 614

Josete de Almeida Burg – CRB 14.ª 293

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT

PROMOÇÃO E DUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE

COMUNITÁRIO DE SAÚDE

Dissertação avaliada e aprovada pela Comissão Examinadora e referendada pelo Colegiado como requisito à obtenção do grau de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. Itajaí (SC), 13 de julho de 2012.

Orientadora: _______________________________ Profª Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen Banca Interna: __________________________________ Dra. Stella Maris Brum Lopes Banca Externa: ________________________________ Dra. Maria Soledad Rivera

Banca Externa: ________________________________ Maria Elisabeth Kleba da Silva

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS por ter me mostrado a força de seu amor incondicional e por estar sempre do meu lado, me ouvindo com a serenidade de um sábio e conduzindo minha vida com seu cajado. Obrigado por me mostrar o quanto preciso de TI! A minha mãe JUSSARA, mulher de personalidade forte, que me ensinou o valor de um caráter. Figura sempre presente em minha vida, me impulsionando nas horas difíceis. Obrigado por me ajudar a tornar esse sonho possível! A meu pai ODILON, que apesar de ausente, foi quem me ensinou a “transformar pedras em flores”. Tenho certeza que sentes orgulho de mim. Aos meus filhos INAIARA e LUÍS FELIPE fonte de toda a minha força e inspiração nos momentos difíceis. Sei que muito estive ausente, mas tudo o que fiz, foi por VOCÊS! A minha avó ZENAIRA, que embora não esteja mais entre nós, deixou um legado de valores e princípios para os seus. Foi para mim um exemplo de força e determinação. Amo-te além da vida! A MARIA MADALENA NUNES MONTEIRO, cuja perda me fez escolher a área da saúde. Tua simplicidade e benevolência influenciaram a minha vida. Ao meu namorado FERNANDO pela paciência nos momentos difíceis, pelo apoio e palavras de incentivo. Acima de tudo és um grande amigo e companheiro que muito respeito e admiro. A meu amigo de longa data ALEXANDRE RAPHAEL CABRAL que mesmo “do outro lado do mundo” sempre se fez presente em minha vida. “Figura certa nas horas incertas”, minha felicidade eu reparto contigo! Aos meus colegas enfermeiros KARLA, ENEIDA e RAFAEL e a minha EQUIPE 007 pela compreensão e apoio nos momentos em que me fiz ausente no trabalho. Valeu pela força! A minha orientadora e mestre DRA. ÁGUEDA por acreditar em mim e me direcionar no caminho certo, compartilhando conhecimentos e contribuindo para o meu crescimento profissional. Sempre te levarei do lado esquerdo do peito! Aos PROFESSORES e COLEGAS DE MESTRADO, que em muito contribuíram nessa caminhada. Aos AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE pelo acolhimento, confiança e o aprendizado que me proporcionaram. Nada teria sido possível sem vocês! O meu muito obrigado a todos!

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Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.

Paulo Freire

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LAMPERT, Silvana Corrêa de Barros. Promoção e educação em saúde: problematizando a prática do agente comunitário de saúde. 2012. Dissertação (Programa de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho) - Universidade do Vale do Itajaí/SC, Itajaí, 2012. Orientadora: Profª. Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen.

RESUMO

Vários são os conceitos acerca da Promoção da Saúde, bem como as suas variadas interpretações e aplicabilidades. Isso se reflete na forma como percebemos e trabalhamos a Promoção, utilizando como ferramenta a Educação em Saúde. No entanto, para melhor discorrer sobre o assunto, se fez necessária uma retrospectiva histórica para que possamos melhor compreender o momento atual. Objetivamos trabalhar o conceito de Promoção da Saúde de forma a problematizar a prática dos Agentes Comunitários de Saúde, visando torná-los profissionais mais críticos e atuantes na sua comunidade, intervindo como agentes transformadores de uma realidade social marginalizada e excluída. O estudo foi desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde, no município de Itajaí/SC, por meio de quatro oficinas com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Através da Teoria Problematizadora de Paulo Freire, foi suscitado nos mesmos, alguns questionamentos sobre o que é Promoção da Saúde, qual a sua real dimensão, de que forma ela se dá na prática e como ela pode ser aplicada no dia a dia da Estratégia Saúde da Família. Os resultados obtidos através destes encontros serviram para discutir e refletir o conceito, as concepções e práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas pelos ACS e sua ligação com a Educação Popular em Saúde. Foi possível observar nas falas conflitos, contradições, despreparo e desconhecimento quando o assunto é Promoção e Educação Popular em Saúde. Promoção que segue sendo confundida com Prevenção. O modelo de educação bancária ainda persiste, perpetuando a alienação nos modos de entender e fazer saúde que se reflete nas propostas educativas realizadas pela Estratégia de Saúde da Família. Persiste ainda a conduta prescritiva dos profissionais, muitos ainda formados no modelo biomédico, o que nos faz pensar que muito ainda temos que caminhar para mudar o modelo de atenção. Palavras-chave: Promoção da Saúde. Educação em Saúde. Agentes Comunitários de Saúde.

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LAMPERT, Silvana Corrêa de Barros. Health education and promotion: questioning the practice of the community health agent. 2012. Dissertation (Master’s Degree Program in Health and Management of Work) - University of Vale do Itajai/SC, Itajaí, 2012. Supervisor: Prof. Dr. Pereira Wendhausen, Águeda Lenita.

ABSTRACT There are several concepts of health promotion, as well as their various interpretations and applications. This is reflected in the way we perceive and deal with Promotion, used as a tool in Health Education. To discuss this subject properly, a historical retrospective is needed, so that we can better understand the present. This work discusses the concept of health promotion, in order to examine the practice of Community Health Workers (CHW), seeking to make these professionals more critical and active in their communities, so that they can become agents of change of a marginalized and excluded social context. The study was conducted in a Basic Health Unit in the town of Itajaí/SC, through four workshops with Community Health Agents. Using Paulo Freire’s Investigation Theory, the health workers were questioned about the nature of Health Promotion, its real dimension, how it is put into practice, and how it can be applied in the everyday practices of the Family Health Strategy (FHS). The results obtained in these workshops formed the basis of discussion and reflection on the concept, the beliefs and practices of health promotion developed by the CHWs, and its connection with Popular Education in Health. It was observed, in the conflicting speeches, that there are contradictions, a lack of training, and a lack of knowledge when it comes to Promotion and Popular Education in Health Promotion. Heath promotion is often confused with prevention. The banking model of education still persists, perpetuating a sense of alienation in relation to ways of understanding and doing health that is reflected in the educational proposals of the FHS. Prescriptive conduct is still common among professionals, many of whom are still trained according to a biomedical model. This suggests that we still have a long way to go in order to change the existing healthcare model. Keywords: Health Promotion. Health Education. Community Health Agents.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Mural “História do Nome” ......................................................................... 65 Figura 2 “Resgatando a nossa História” ................................................................. 66 Figura 3 Grupo 1 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em

Saúde” ..................................................................................................... 84 Figura 4 Grupo 2 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular

em Saúde” ................................................................................................ 85

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LISTA DE QUADRO Quadro 1 A evolução das conferências de promoção da saúde .............................. 32

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LISTA DE APÊNDICES Apêndice A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 101 Apêndice B Consentimento de Participação do Sujeito ......................................... 102

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LISTA DE ANEXOS Anexo A Atribuições do Comitê Gestor da PMPS ................................................. 104 Anexo B Objetivos e Estratégias da Agenda Nacional ......................................... 105 Anexo C Normas da Revista Trabalho, Educação e Saúde Pública para

preparo de manuscritos .......................................................................... 108

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LISTA DE SIGLAS

ACS Comunitários de Saúde ASB Auxiliar em Saúde Bucal CLS Conselhos Locais de Saúde CNS Conferência Nacional de Saúde CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa ESF Estratégia Saúde da Família ICIRA Instituto Chileno para a Reforma Agrária MCP Movimento de Cultura Popular MS Ministério da Saúde NOB Normas Operacionais Básicas OMS Organização Mundial da Saúde ONGs Organizações não Governamentais ONU Organização das Nações Unidas PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde PIB Produto Interno Bruno PNPS Política Nacional de Promoção da Saúde PSF Programa de Saúde da Família PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SESI Setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria SESP Serviço Especial de Saúde Pública SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica SISNEP Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo

Seres Humanos SUS Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TSB Técnico em Saúde Bucal UBS Unidade Básica de Saúde UNICAMPI Universidade Estadual de Campinas USP Universidade do Estado de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA .................................................................... 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 18 2.1 Breve retrospectiva histórica da saúde no Brasil e a entrada do ACS

como trabalhador em saúde ......................................................................... 18 2.2 O conceito ampliado de saúde e a Promoção da Saúde na atualidade ..... 26 2.3 A história das concepções de promoção da saúde ..................................... 29 2.4 Breve retrospectiva histórica das ações educativas no campo da

saúde ............................................................................................................... 39 3 METODOLOGIA ............................................................................................... 51 3.1 Paulo Freire: uma síntese biográfica e suas ideias ..................................... 52 3.2 Local da investigação ..................................................................................... 54 3.3 Sujeitos pesquisados .................................................................................... 56 3.4 Procedimentos de coleta dos dados ............................................................. 56 3.5 Análise dos dados .......................................................................................... 59 3.6 Aspectos éticos .............................................................................................. 60 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 62 4.1 Identificações do trabalho e das participantes ............................................ 62 4.2 Dando início às discussões ........................................................................... 66 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 87 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 91 APÊNDICES .................................................................................................. 100 ANEXOS ......................................................................................................... 103

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1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA

Desde que iniciei minha atuação como enfermeira em Saúde Pública, em

1999, mais especificamente dentro da Estratégia Saúde da Família (ESF), sempre

tive um olhar voltado para os anseios da comunidade e me questionava de que

forma o trabalho em equipe, dentro do modelo de saúde atual, poderia ser útil e

provocar necessárias e positivas transformações.

ESF iniciou em 1994, marcada pela evolução histórica e organização do

sistema de saúde no Brasil. É uma estratégia de reorientação do modelo assistencial

operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades

básicas de saúde. Tais equipes possuem uma composição mínima constituída por:

médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e

comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou

técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, podendo acrescentar a

esta composição, como parte da equipe multiprofissional, os profissionais de saúde

bucal: cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar

e/ou técnico em Saúde Bucal (BRASIL, 2011).

Dentre os profissionais da equipe de Saúde da Família, sempre me chamou a

atenção à atuação dos agentes comunitários de saúde (ACS), justamente pelo fato

de ter livre acesso a mundos com características tão singulares.

Por ser um morador na comunidade em que trabalha e ser capacitado a partir

de referenciais biomédicos, esse papel diferenciado do ACS dentro da equipe, faz

dele um ator que suscita múltiplas interpretações e intervenções. O caráter híbrido e

polifônico desse ator pode funcionar ora como faciliador, ora como empecilho na

mediação entre a comunidade e a equipe (NUNES et al., 2002).

O ACS é um trabalhador que faz parte da equipe de saúde da comunidade

onde mora e, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000a), tem como principal

atribuição estabelecer um elo de ligação entre esses dois universos. Nogueira et al.

(2000) e Carvalho (2002) confirmam o discurso preconizado pelo Ministério da

Saúde - MS e ressaltam a importância do papel social do ACS como mediador,

interferindo positivamente no trabalho da equipe de saúde. Silva e Dalmaso (2002)

constatam que essa identidade ambivalente permite que, em determinadas

situações, o ACS se aproxime mais do pólo institucional, ao passo que em outras se

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dirige mais para o pólo comunitário. O livre acesso a mundos com características

diferentes (o do usuário e o da unidade de saúde) pode ser um facilitador no

trabalho de promoção e vigilância da saúde, pois viabiliza à equipe obter as

informações necessárias para um diagnóstico situacional e à partir dele mapear o

território de abrangência e estabelecer prioridades e estratégias de intervenção que

se fizerem necessárias.

Em virtude do papel mediador, exercido pelo ACS, Nunes et al. (2002, p.

1640) se referem a esse ator social como sendo o “ator mais intrigante” da equipe.

Segundo Bornstein (2007, p. 205), “a função mediadora exercida pelo ACS pode ser

de grande importância na mudança do modelo assistencial”. Em consonância, Jorge

et al. (2007, p. 12) afirmam que o ACS

vem exercendo o papel de porta voz da comunidade, ajudando a dar respostas às necessidades da população, desenvolvendo ações de promoção, prevenção e incentivo à organização local que visam a melhoria da vida das famílias sob sua responsabilidade.

Neste contexto, a atuação dos ACS é de grande interesse tendo em vista que

estes exercem um papel importante dentro da equipe de Saúde da Família, na

permanente busca pela comunicação e trocas de experiências entre os profissionais

da ESF e a comunidade.

Na prática, pude observar que essa dicotomia, muitas vezes, causava

conflitos dentro e fora da equipe. Durante minhas visitas domiciliares, ouvia de

usuários questionamentos sobre qual era, afinal, o papel do ACS. O usuário percebe

o ACS como um fiscalizador em virtude de seu monitoramento da comunidade, ou

seja, se está tomando o anti-hipertensivo, se levou o filho para tomar a vacina ou se

a gestante fez a consulta de pré-natal. Em contrapartida entendo que as funções do

ACS podem estar diretamente ligadas à promoção, como o estímulo a manutenção

e melhoria das condições de saúde da população, a promoção da

desmonopolização do saber técnico para a população assistida e o estímulo à

incorporação da noção do autocuidado. Porém, o que se observa no cotidiano é que

quando o ACS circula entre a comunidade e a equipe, ele não quer ser reconhecido

como comunidade, também se reconhece no papel de fiscalizador. Essa visão que

os usuários e o próprio ACS têm dele próprio instiga uma reflexão sobre a identidade

desse ator. O que remete a pensar que o papel do ACS é uma identidade em

construção. O ACS talvez não tivesse se apropriado do seu importante papel. Por

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outro lado, quando questionados sobre o assunto, referem sentir-se desvalorizados,

muitos não se sentem como integrantes da equipe de saúde, não conseguem

visualizar o impacto de suas ações e falta motivação.

Naquele momento percebi que poderia ajudá-los para que resgatassem sua

autoestima e valorização profissional. Nascia assim a preocupação com estes

profissionais para que os mesmos conseguissem estabelecer vínculos de

compromisso e corresponsabilidade com a comunidade, bem como estimular a

organização das comunidades de forma a exercer o controle social das ações e

serviços de saúde, através da concepção e prática da Promoção e Educação em

Saúde.

O presente projeto assim justifica-se pelos relatos, tantas vezes mencionados,

das ACS quanto ao fato de sentirem necessidade de se instrumentalizar para poder

desenvolver, junto à comunidade, ações educativas que promovessem mudanças

positivas para a sua saúde. Entretanto, além de não terem clareza desse papel

educativo, não sabem que hoje a Educação em Saúde pode fazer parte de uma

estratégia maior, a Promoção da Saúde cuja efetivação é condição sine qua non

para que sejam cumpridos os preceitos do Sistema Único de Saúde - SUS e ESF.

Esta discussão foi retomada inúmeras vezes até que se tornou um projeto.

Seu intuito vem ao encontro de um dos eixos da Atenção Básica que trata da

Promoção da Saúde e suas conexões com a prática da Educação em Saúde,

valorizando os diferentes saberes para a construção da cidadania e autonomia de

seus cidadãos, onde a ESF exerce papel fundamental.

Levando-se em consideração que o ACS como parte da comunidade, tem o

desafio de reconhecer na realidade local necessidades e potencialidades de

mudança, bem como de articular-se com a mesma em prol dessas mudanças,

pressupõe-se que o mesmo deva estar devidamente preparado para exercer o seu

papel como educador. Para tanto, deve apropriar-se do conhecimento necessário

para conquistar sua autoconfiança, bem como estabelecer uma relação dialógica

que possibilite estabelecer o vínculo e conquistar a confiança da população de sua

área de abrangência. Suas ações devem ser voltadas para os problemas detectados

no diagnóstico realizado a partir do cadastramento das famílias, sempre sob o olhar

atento de seu enfermeiro supervisor. Sua atuação deve levar em conta a realidade

específica de cada comunidade, sempre amparado num planejamento prévio com

toda a equipe de Saúde da Família.

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Para que o mesmo consiga desenvolver ações de Promoção da Saúde é

preciso perceber quais são as suas concepções sobre saúde e de que forma

percebem e aplicam esse conhecimento na prática. As ações de Educação em

Saúde tem relação direta com a Promoção da Saúde, seja quando se relacionam a

seus princípios; por exemplo, desenvolver habilidades para a saúde, fortalecer a

ação comunitária e mesmo quando se fala em mudança do modelo assistencial,

pois, numa educação emancipatória, o usuário é tratado como sujeito e não objeto.

Foi com estas ideias que tentamos problematizar algumas práticas dos ACS.

Para problematizar estes temas escolhi trabalhar com o método Paulo Freire

e busquei juntamente aos ACS, através da reflexão-ação sobre suas atuais práticas

de Promoção e Educação promover resignificações.

A escolha pela pesquisa qualitativa, tendo como inspiração a Pesquisa

Participante, dá-se pelo fato de que a mesma envolve um processo de investigação,

educação e ação. Trabalhar na perspectiva libertadora constitui-se num grande

desafio, pois segundo Freire (1981, p. 35), a “pesquisa como ato de conhecimento,

tem como sujeitos cognoscentes, de um lado, os pesquisadores profissionais; de

outro os grupos populares e, como objeto a ser desvelado, a realidade concreta”.

Levando-se em consideração que a ESF é a porta de entrada para o SUS e

que a mesma é uma ferramenta usada para a mudança no modelo de atenção,

considero ser pertinente este estudo, por entender que o papel do ACS se constitui e

se afirma como tal, na medida em que esse se apropria do real sentido e significado

da sua existência.

Assim constitui-se o objetivo geral do estudo discutir e refletir sobre o

conceito, as concepções e as práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas pelos

ACS e sua ligação com a Educação em Saúde com vistas à elaboração de

propostas de ações para a comunidade assistida.

Escolhi realizar oficinas com os ACS por entender que é uma forma de

vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir,

com objetivos pedagógicos. É o espaço onde ocorrem apropriação, construção e

produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva. Cuberes

apud Vieira e Volquind (2002, p. 11), conceitua como sendo “um tempo e um espaço

para aprendizagem; um processo ativo de transformação recíproca entre sujeito e

objeto; um caminho com alternativas, com equilibrações que nos aproximam

progressivamente do objeto a conhecer”.

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Utilizei-me da metodologia problematizadora de Paulo Freire, para discutir

questões relativas à Promoção de Saúde e Educação em Saúde (concepções e

aplicabilidades) e identificar como ocorre a atuação dos ACS neste contexto:

verificar as dificuldades e potencialidades no que se refere à forma como os ACS

percebem e trabalham a Promoção da Saúde e a Educação em Saúde com a

comunidade, dentro e fora da Unidade Básica de Saúde - UBS e, finalmente, propor

junto com os ACS ações de saúde visando à Promoção da Saúde da comunidade

através da Educação em Saúde.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Breve retrospectiva histórica da saúde no Brasil e a entrada do ACS como

trabalhador em saúde

O movimento da Reforma Sanitária Brasileira remonta a segunda metade dos

anos 70 em meio a lutas por liberdade democrática contra a ditadura, movimento

sindical e posteriormente movimentos sociais que exerciam pressão sobre a

Assembleia Nacional Constituinte. Mas é somente na década de 80 que este

movimento toma força a partir da organização da sociedade civil que lutava em prol

de uma saúde de qualidade, em todos os níveis de complexidade (DONIAK, 2002).

Essa luta culminou com a 8ª Conferência Nacional de Saúde – CNS, realizada em

Brasília no ano de 1986, e em muito contribuiu para a elaboração da nova

Constituição Federal de 1988 que criou e instituiu o Sistema Único de Saúde – SUS.

Nos anos 90 o Brasil foi palco de grandes mudanças nas políticas de saúde,

norteadas pela urgência em romper com paradigmas dominantes no campo da

saúde e a necessidade de reorganizar a atenção básica.

Foram necessárias as leis orgânicas 8.080 e a 8.142, homologadas somente

em 1990, para que efetivamente entrassem em vigor os artigos da Constituição. E

somente em 1992, com dois anos e atraso, é que se realiza a 9ª CNS que define as

Normas Operacionais Básicas (NOB), para que o SUS começasse a funcionar, de

fato (DA ROS et al., 2006).

A NOB/96 surge como um instrumento de regulação do SUS, redefinindo as

responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, ao mesmo tempo em

que explicita e dá consequência prática, em toda sua totalidade aos princípios e

diretrizes do SUS. Está consubstanciada na Constituição Federal e nas Leis No.

8.080/90 e No. 8.142/90, favorecendo, ainda, mudanças essenciais no modelo de

atenção à saúde no Brasil (BRASIL, 1996).

Com o advento do SUS foi estabelecido um conjunto de prioridades políticas

de forma a garantir a mudança no modelo assistencial vigente, ainda focado numa

visão biomédica e hospitalocêntrica. Neste contexto, surge o então chamado

Programa de Saúde da Família (PSF) com a finalidade de reorganizar os sistemas

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de saúde, reorientando suas práticas, tendo como propósito a superação

fragmentada do ser humano. Seu foco principal é o de desenvolver uma atenção

integral, prestada por equipe multiprofissional, ao indivíduo e comunidade,

fomentando a intensa participação desta. Para tanto, em junho de 1991 deu-se início

a implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e, na

sequência, em janeiro de 1994, formaram-se as primeiras equipes de Saúde da

Família, incorporando e ampliando a atuação dos ACS com o propósito de auxiliar

os municípios na implementação da Atenção Básica.

Segundo Sá Filha (2000), o PACS foi o primeiro programa a trabalhar com

noção de área de abrangência e cobertura por família, fugindo da concepção

meramente individualista, enfocando a família como objeto de ação.

Considerando que o PSF tem como objetivo a reorganização da atenção

primária, muitos e complexos são os desafios a serem superados para consolidar-se

enquanto tal, sendo imprudente estabelecer um tempo para finalizar esta

reorganização.

Embora rotulado como programa, o PSF, por suas especificidades, foge à

concepção usual dos demais programas concebidos no Ministério da Saúde (MS), já

que não é uma intervenção vertical e paralela as atividades dos serviços de saúde.

Pelo contrário, caracteriza-se como uma estratégia que possibilita a integração e

promove a organização das atividades em um território definido, com o propósito de

propiciar o enfrentamento e resolução dos problemas identificados (BRASIL, 1997a).

Sendo assim, o MS entende que se faz necessário uma mudança de nomenclatura

passando o PSF a ser chamado de Estratégia Saúde da Família (ESF).

Em virtude da expansão do PSF e consolidação da ESF, em 28 de março de

2006 o MS aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, através da publicação da

Portaria nº 648. A referida Portaria estabelecia a revisão de diretrizes e normas para

a organização da Atenção Básica para o PSF e o PACS. A mesma foi revogada em

21 de outubro de 2011 quando passou a vigorar a Portaria 2.488.

Segundo a Portaria 2.488, o Ministério da Saúde caracteriza a Atenção

Básica

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[...] por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior freqüência e relevância em seu território, observando critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos. É desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção sócio-cultural, buscando produzir a atenção integral (BRASIL, 2011).

Para que tais ações possam ser colocadas em prática, faz-se necessária a

formação das Equipes de Saúde da Família, cujas condições foram determinadas,

conforme a Portaria 2.488:

I - Existência de equipe multiprofissional (equipe saúde da família) composta por, no

mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de

família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família,

auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, podendo

acrescentar a esta composição, como parte da equipe multiprofissional, os

profissionais de saúde bucal: cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde

da família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal;

II - O número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população

cadastrada, com um máximo de 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de

Saúde da Família, não ultrapassando o limite máximo recomendado de pessoas por

equipe;

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III - Cada equipe de saúde da família deve ser responsável por, no máximo, 4.000

pessoas, sendo a média recomendada de 3.000 pessoas, respeitando critérios de

equidade para esta definição. Recomenda- se que o número de pessoas por equipe

considere o grau de vulnerabilidade das famílias daquele território, sendo que

quanto maior o grau de vulnerabilidade menor deverá ser a quantidade de pessoas

por equipe;

IV - Cadastramento de cada profissional de saúde em apenas 01 (uma) ESF,

exceção feita somente ao profissional médico que poderá atuar em no máximo 02

(duas) ESF e com carga horária total de 40 (quarenta) horas semanais; e,

V - Carga horária de 40 (quarenta) horas semanais para todos os profissionais de

saúde membros da equipe de saúde da família. A jornada de 40 (quarenta) horas

deve observar a necessidade de dedicação mínima de 32 (trinta e duas) horas da

carga horária para atividades na equipe de saúde da família podendo, conforme

decisão e prévia autorização do gestor, dedicar até 08 (oito) horas do total da carga

horária para prestação de serviços na rede de urgência do município ou para

atividades de especialização em saúde da família, residência multiprofissional e/ou

de medicina de família e de comunidade, bem como atividades de educação

permanente e apoio matricial.

Serão admitidas também, além da inserção integral (40h), as seguintes

modalidades de inserção dos profissionais médicos generalistas ou especialistas em

saúde da família ou médicos de família e comunidade nas Equipes de Saúde da

Família, com as respectivas equivalências de incentivo federal:

I - 2 (dois) médicos integrados a uma única equipe em uma mesma UBS, cumprindo

individualmente carga horária semanal de 30 horas (equivalente a 01 (um) médico

com jornada de 40 horas semanais), com repasse integral do incentivo financeiro

referente a uma equipe de saúde da família;

II - 3 (três) médicos integrados a uma equipe em uma mesma UBS, cumprindo

individualmente carga horária semanal de 30 horas (equivalente a 02 (dois) médicos

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com jornada de 40 horas, de duas equipes), com repasse integral do incentivo

financeiro referente a duas equipes de saúde da família;

III - 4 (quatro) médicos integrados a uma equipe em uma mesma UBS, com carga

horária semanal de 30 horas (equivalente a 03 (três) médicos com jornada de 40

horas semanais, de três equipes), com repasse integral do incentivo financeiro

referente a três equipes de saúde da família;

IV - 2 (dois) médicos integrados a uma equipe, cumprindo individualmente jornada

de 20 horas semanais, e demais profissionais com jornada de 40 horas semanais,

com repasse mensal equivalente a 85% do incentivo financeiro referente a uma

equipe de saúde da família; e

V - 1 (um) médico cumprindo jornada de 20 horas semanais e demais profissionais

com jornada de 40 horas semanais, com repasse mensal equivalente a 60% do

incentivo financeiro referente a uma equipe de saúde da família. Tendo em vista a

presença do médico em horário parcial, o gestor municipal deve organizar os

protocolos de atuação da equipe, os fluxos e a retaguarda assistencial, para atender

a esta especificidade. Além disso, é recomendável que o número de usuários por

equipe seja próximo de 2.500 pessoas. As equipes com esta configuração são

denominadas Equipes Transitórias, pois, ainda que não tenham tempo mínimo

estabelecido de permanência neste formato, é desejável que o gestor, tão logo

tenha condições, transite para um dos formatos anteriores que preveem horas de

médico disponíveis durante todo o tempo de funcionamento da equipe.

A referida Portaria diz que os profissionais de saúde bucal que compõem as

equipes de saúde da família podem se organizar nas seguintes modalidades:

I - Cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família e auxiliar em

saúde bucal (ASB);

II - Cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família, técnico em

saúde bucal (TSB) e auxiliar em saúde bucal (ASB); e

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III - Profissionais das modalidades I ou II que operam em Unidade Odontológica

Móvel.

Independente da modalidade adotada recomenda-se que os profissionais de

Saúde Bucal, estejam vinculados a uma ESF e compartilhem a gestão e o processo

de trabalho da equipe tendo responsabilidade sanitária pela mesma população e

território que a ESF à qual integra, e com jornada de trabalho de 40 horas semanais

para todos os seus componentes.

Cada Equipe de Saúde da Família que for implantada com os profissionais de

saúde bucal ou quando se introduzir pela primeira vez os profissionais de saúde

bucal numa equipe já implantada, modalidade I ou II, o gestor receberá do Ministério

da Saúde os equipamentos odontológicos, através de doação direta ou o repasse de

recursos necessários para adquiri-los (equipo odontológico completo).

Além da reorganização dos serviços de saúde, a Estratégia Saúde da Família

tem como pressuposto a reorganização das práticas profissionais.

O trabalho do ACS vem sendo respaldado, legalmente, nos seguintes

documentos:

- Portaria nº 1.886/1997 (BRASIL, 1997b) que aprova as normas e diretrizes

do Programa de Agente Comunitário de Saúde e do Programa de Saúde da

Família, com vistas a regulamentar a implantação e operacionalização dos

referidos Programas.

- Decreto nº 3.189/1999 (BRASIL, 1999) que fixa as diretrizes para o

exercício da atividade de Agente Comunitário de Saúde (ACS) e dá outras

providências.

- Lei nº 10.507/2002 (BRASIL, 2002b) que cria a profissão do Agente

Comunitário de Saúde e dá outras providências. A referida Lei foi revogada

em 2006 quando passou a vigorar a Lei nº 11.350, de 5 de outubro de 2006.

- Portaria nº 44/GM de 03 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002c) que define as

atribuições do ACS na prevenção e no controle da malária e da dengue.

- Lei nº 11.350/2006 (BRASIL, 2006) que regulamenta o § 5º do art. 198 da

Constituição, dispõe sobre o aproveitamento de pessoal amparado pelo

parágrafo único do art. 2º da Emenda Constitucional nº 51, de 14 de fevereiro

de 2006, e dá outras providências.

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Segundo a Portaria MS n° 2488, de 21 de outubro de 2011, as atribuições

específicas do Agente Comunitário de Saúde são:

I - trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a microárea;

II - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados;

III - orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis;

IV - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;

V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua

responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe,

considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior

necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de 1

(uma) visita/família/mês;

VI - desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a

população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do

trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade;

VII - desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e

agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações

educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, como por

exemplo, combate à Dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a

equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco; e

VIII - estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações

educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças, e ao

acompanhamento das pessoas com problemas de saúde, bem como ao

acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa Família ou de qualquer

outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de

vulnerabilidades implantado pelo Governo Federal, estadual e municipal de acordo

com o planejamento da equipe.

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É permitido ao ACS desenvolver outras atividades nas Unidades Básicas de

Saúde, desde que vinculadas às atribuições acima.

De acordo com o art. 3º da Portaria 2.488, o Agente Comunitário de Saúde

tem como atribuição o exercício de atividades de prevenção de doenças e promoção

da saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas,

desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob supervisão do

gestor municipal, distrital, estadual ou federal.

Parágrafo único. São consideradas atividades do Agente Comunitário de Saúde, na

sua área de atuação:

I - a utilização de instrumentos para diagnóstico demográfico e sócio-cultural da

comunidade;

II - a promoção de ações de educação para a saúde individual e coletiva;

III - o registro, para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde,

de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde;

IV - o estímulo à participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a

área da saúde;

V - a realização de visitas domiciliares periódicas para monitoramento de situações

de risco à família; e

VI - a participação em ações que fortaleçam os elos entre o setor saúde e outras

políticas que promovam a qualidade de vida.

Dentro da nova proposta de ver e entender saúde, é possível identificar duas

dimensões na prática do ACS. A primeira, diz respeito a um caráter estritamente

técnico, relacionado ao atendimento individual e coletivo, o monitoramento de

grupos ou problemas de saúde específicos ou a intervenção para prevenção de

agravos. A segunda se refere a um caráter mais político, explícito no auxílio a

organização da comunidade e luta por melhorias nas condições de vida. É

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justamente nesta dimensão de caráter mais político que a Educação em Saúde

influencia no relacionamento desenvolvido entre o ACS e usuários/comunidade. No

entanto, a prática da Educação em Saúde exige dos profissionais certa cautela, no

sentido de não torná-la impositiva, ou seja, restringi-la ao mero cumprimento de

orientações repassadas pelos profissionais da ESF. Para que o conceito de

Promoção da Saúde possa, realmente, se efetivar como pensado atualmente, a

Educação em Saúde correspondente necessita ser inclusiva, permeando a troca de

saberes, contribuindo para a efetiva gestão compartilhada dos serviços de saúde e

conhecimento do processo saúde-doença. Ou seja, ela necessita ser

“libertadora/problematizadora”, como sabiamente nos ensina Paulo Freire (2005, p.

78). Assim se faz necessário que partamos de um “novo” conceito de saúde que não

aquele que preconizava este processo unicausal ou até multicausal, mas em

considerar o peso destes determinantes, o que passa a ocorrer no Brasil após a 8ª

Conferência de Saúde de 1986 como discorreremos a seguir.

2.2 O conceito ampliado de saúde e a Promoção da Saúde na atualidade

Wendhausen e Saupe (2007) ao se referir à Promoção da Saúde dizem que,

embora a efetivação de suas práticas transcenda o setor sanitário, ela reúne

potencial extraordinário para o desenvolvimento do conceito ampliado de saúde.

O próprio debate em torno do conceito de Promoção de Saúde tem como

ponto de partida o conceito de saúde (CZERESNIA; FREITAS, 2009). Sendo assim,

faz-se necessário, primeiramente, entender o que é saúde e como esta é atualmente

concebida em seu conceito mais amplo.

O conceito de saúde é muito mais do que a ausência de doença, mais do que

o conceito biomédico. Ainda é algo diferente do que propôs a OMS1, que coloca

vários determinantes à saúde, admitindo que todos tem a mesma influência.

O Conceito Ampliado de Saúde é sem dúvida, um dos mais importantes

avanços propiciados pela 8ª CNS, onde diz que saúde é considerada como:

1 A OMS organismo sanitário internacional integrante da ONU, fundada em 1948, diz que: “saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade ou invalidez” (OMS, 1946).

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[...] resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (DA ROS et al., 2006, p. 56).

Segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196,

saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

Neste conceito saúde/doença fica entendida como um processo, que é

determinado socialmente.

Assim, adotar como eixo o paradigma promocional, como forma de produzir

saúde, significa comprometer-se com sujeitos e coletividades que expressem

crescente autonomia, crescente capacidade para gerenciar satisfatoriamente os

limites e os riscos impostos pela doença, pela constituição genética e pelo contexto

sócio-político-econômico-cultural, enfim pela vida (CAPONI, 2003).

A Promoção da Saúde emerge como estratégia poderosa e de relevância

para o desenvolvimento social. Ela abarca uma série de princípios que fundamentam

uma série de estratégias, no intuito de promover as condições necessárias às

populações para que se tornem saudáveis e façam escolhas saudáveis. As referidas

estratégias baseiam-se em vários campos do pensamento como: antropologia,

epidemiologia, sociologia, psicologia e outras ciências do comportamento, saúde

pública, ciência política, educação e comunicação, entre outros e suas respectivas

metodologias (HEALTH PROMOTION AGENCY FOR NORTHERN IRELAND, 2004).

Sendo assim, essa forma de conceber saúde reconhece o ser humano na sua

integralidade e a saúde como qualidade de vida. Porém, as gritantes desigualdades

sociais que assolam nosso país constituem um importante desafio na garantia aos

direitos de saúde da população. Para tanto, é preciso gerar condições e

oportunidades para o desenvolvimento social como forma de quebrar o ciclo da

exclusão.

O desenvolvimento de políticas sociais e econômicas se faz necessário para

o desenvolvimento econômico sustentável e distribuição de renda. Cabe ao SUS

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garantir ações de promoção, proteção e recuperação da saúde tanto do indivíduo

como da coletividade, equitativamente falando (PEREIRA, 2004). Somente assim o

“direito” sairia do papel e passaria a integrar o cotidiano da vida dos brasileiros, o

que se traduz como tarefa árdua e imbricada.

Ao se perceber saúde como qualidade de vida faz-se necessário voltar o olhar

para os condicionantes e os determinantes de saúde citados no Artigo 3º das

Disposições Gerais da Lei 8.080, como: alimentação, moradia, saneamento básico,

meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e o acesso que a

população tem aos bens e serviços que lhe são essenciais e de direito (BRASIL,

1990).

É no estabelecimento de parcerias com outros setores e atores que

conseguimos estender a reflexão sobre a nova concepção de saúde. Sendo assim, é

possível desencadear um processo de repensar novas formas de planejar, organizar

e pôr em prática questões relativas à saúde. Para tanto, podemos contar com os

mais variados espaços como: escolas, igrejas, associação de moradores, sindicatos,

empresas, indústrias, Organizações não Governamentais - ONGs, Conselhos Locais

de Saúde – CLS e Conselho Municipal de Saúde entre outros setores e Secretarias

da Administração Municipal.

O conceito ampliado de saúde precisa ser pensado além do ponto de vista da

doença, levando-se em consideração os aspectos econômicos, políticos e histórico-

sociais do ser humano. É preciso entender as relações dinâmicas que o indivíduo

mantém com o outro e sua comunidade, bem como suas variadas formas de

conviver e interagir com o meio ambiente. A partir dessas percepções, do

estabelecimento de parcerias e da participação do maior número de atores

diretamente envolvidos é que podemos então trabalhar, de uma forma mais eficaz,

questões relativas à Promoção da Saúde.

A Promoção da Saúde tem estreita relação com um movimento de crítica à

medicalização do setor e com a vigilância à saúde, que desloca radicalmente o olhar

da doença para o modo de vida das pessoas. Sua essência não limita saúde a mera

ausência de doença e supõe o direito e a capacidade de exercer ação sobre seus

determinantes sociais. Essa aproximação entre a promoção e a vigilância nada mais

é do que o fortalecimento da capacidade de resposta aos velhos e novos desafios.

A atuação dessa vigilância é caracterizada pela intervenção sobre problemas

de saúde que requerem atenção e acompanhamento contínuos; articulação entre

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ações promocionais, preventivas, curativas e reabilitadoras; atuação intersetorial;

ação sobre o território e intervenção sob a forma de operações (PAIM; ALMEIDA

FILHO, 2000).

Constitui-se num olhar, numa atitude incorporada ao cotidiano, buscando

descortinar e ampliar o campo de visibilidade possibilitando ações mais concretas.

2.3 A história das concepções de promoção da saúde

O médico historiador Henry Ernest Sigerist foi quem utilizou, pela primeira

vez, a expressão “promoção da saúde” no ano de 1945. Sigerist nasceu em 1891

em Paris e morreu em 1957 na Suíça. Graduado na Universidade de Zurique

dedicou-se ao estudo da história da medicina (PEREIRA; PENTEADO; MARCELO,

2000). Foi ele quem definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: a promoção de

saúde, a prevenção de doenças, o tratamento dos doentes e a reabilitação,

afirmando que “la salud se promueve proporcionando condiciones de vida decentes,

buenas condiciones de trabajo, educación, cultura física y descanso” (SIGERIST

apud TERRIS, 1992, p. 38).

Essa definição original da promoção, que chama a atenção para os

determinantes sociais da saúde difere da concepção difundida pelo Informe Lalonde

(1974), que privilegiou os fatores particulares (TERRIS, 1992).

O documento de Lalonde destaca a limitação das ações centradas na

assistência médica e questiona oficialmente o impacto e o custo elevado dos

cuidados médicos na saúde (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2000). O mesmo

propõe ampliar o campo de atuação da saúde pública, intervindo com ênfase em

segmentos da população com maior risco, enfatiza que melhorar a saúde implica em

mudanças de comportamentos cuja responsabilidade cabe a cada indivíduo, bem

como contribui para a identificação de desigualdades sanitárias. Aumenta cada vez

mais a noção de que Promoção da Saúde estava embutida na “História Natural da

Doença”, principalmente quando era considerada unicamente como uma possível

mudança de comportamento, ou seja, como algo a prevenir o risco de adoecer. A

Promoção da Saúde comportaria três níveis de “prevenção” para o que o indivíduo,

juntamente com a família ou grupos, atuaria. Era, portanto neste momento, um

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enfoque ligado ao risco de adoecer e a escolha individual de um “comportamento”

mais saudável (BUSS, 2003).

Em contraposição, em 1978, ocorreu em Alma-Ata, na Rússia (atual

Cazaquistão), a I Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde. A

referida Conferência reconhece a saúde como um direito fundamental do ser

humano e teve um significado ímpar para a saúde pública. Menciona a adoção de

um conjunto de medidas, entre as quais, a Educação em Saúde, a prevenção de

doenças e agravos, o saneamento básico e a prioridade para a atenção à saúde

materno-infantil. Dos resultados obtidos, alguns tiveram bastante significância como:

o incentivo ao aleitamento materno, a adesão ao esquema vacinal, a procura e

distribuição do soro de reidratação oral, o controle da diarreia e infecções

respiratórias, bem como o estabelecimento da prática de puericultura (MATTA;

MOROSINI, 2006).

A Promoção e Proteção da saúde em nível mundial passam a ser condição

sine qua non para o contínuo desenvolvimento social e econômico, contribuindo

para a melhoria da qualidade de vida e para a paz entre os povos. É nessa

Conferência que se reforça o compromisso nacional e internacional com a Atenção

Primária à Saúde, concentrando esforços, de cunho técnico e financeiro, com

especial atenção aos países em desenvolvimento.

O conceito de Promoção da Saúde, assim como o desenvolvimento de novas

práticas coerentes com suas bases político-ideológicas, vem sendo construído nos

últimos anos a partir destes e outros questionamentos que se concretizam a partir da

I Conferência Internacional de Promoção da Saúde, realizada em Ottawa em 1986.

No Brasil, neste momento trava-se uma luta histórica por uma atenção à

saúde cujo modelo priorize ações com impacto positivo para a saúde do sujeito e

coletividade, o que se concentra na 8a Conferência Nacional de Saúde. O esforço

investido para a formulação, implementação e concretização de políticas de

promoção, proteção e recuperação da saúde, traduz a consciência de que o modelo

biomédico, com todo o seu instrumental científico-tecnológico, por si só, não dá

conta da gama de determinantes e condicionantes a que estamos submetidos. Faz-

se necessário pensar saúde de uma forma mais global, relacionando-a aos modos

de viver e não de forma reducionista relacionando-a meramente a determinação

genética e biológica.

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Estudos contemporâneos realizados sobre a saúde mundial apontam para

uma realidade preocupante. A pobreza crescente, fruto do descontrole do processo

de globalização, que não deu conta de questões relativas ao desenvolvimento

social, tem provocado consequências desastrosas para a saúde da população. A

violação dos direitos humanos, o crescente número de vítimas de violências e

acidentes, o ressurgimento de antigas endemias, o aumento de doenças crônicas

não transmissíveis e a disseminação de micro-organismos desconhecidos tem sido

motivo de alerta mundial. Tais consequências tornam evidente a incapacidade do

modelo biomédico vigente em dar conta de tal problemática, o que inviabiliza as

promessas de saúde para todos no início do século XXI (DECLARAÇÃO DE ALMA-

ATA, 1978 apud BRASIL, 2002a; KICKBUSCH, 2003; SANTOS, 2001).

No Brasil o Ministério da Saúde Pública, cria através da Portaria nº 1190 –

GAB/MS, de 14/07/2005, o Comitê Gestor da Política Nacional de Promoção da

Saúde, cujas atribuições encontram-se em anexo (Anexo A). Embora possamos ter

críticas, pois essa política tem desdobramentos operacionais que se voltam muito

mais para a mudança de comportamento individual que para a busca da cidadania, o

Ministério da Saúde assume a Promoção da Saúde como uma prioridade nacional.

A partir daí estabelece uma Agenda Nacional (2005-2007) num esforço de

sistematização e consolidação de ações e estratégias no campo da Promoção da

Saúde, bem como a construção de documento que subsidie o trabalho do Comitê

Gestor da Política Nacional de Promoção da Saúde. Os objetivos e as estratégias

para atingi-los estão no anexo (Anexo B).

Em resposta às demandas do setor sanitário, em 2006 o MS publica a Política

Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Esse modo de entender saúde traduz-se

na definição de seu objetivo geral que é o de:

[...] promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais [...] (BRASIL, 2006).

Assim, em nosso país cujas demandas da realidade sanitária brasileira

suscitam medidas urgentes na tentativa de reduzir os riscos e promover uma vida

saudável, outros modos de compreender o estreito vínculo entre a produção do

conhecimento e qualidade de vida, como o paradigma da Promoção da Saúde e da

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Educação em Saúde, podem contribuir na busca da integralidade e da produção de

cidadania e autonomia. A população brasileira vem construindo, ao longo dos anos,

um extraordinário processo dialógico de teoria/prática, reflexão/ação. Esse processo

se expressa na criação do SUS que vem aprofundando o debate em torno da saúde.

O somatório de atitudes pró-ativas, baseada na cooperação e no respeito às

singularidades, promovem mudanças na cultura organizacional cujo objetivo é a

adoção de práticas horizontais de gestão com ênfase na organização do trabalho em

equipe. A Promoção e Educação em Saúde, tem como finalidade a formação de

sujeitos críticos e comprometidos com a saúde individual e coletiva. Para tal, é

importante entender que para alcançarmos uma saúde de qualidade é preciso

compartilhar, trocar, construir e disseminar o conhecimento, articulando e somando

esforços em prol do bem viver.

Para que o desenvolvimento no campo da Promoção da Saúde possa ser

visualizado historicamente, proponho o seguinte esquema, por ordem cronológica,

conforme Quadro 1. A seguir discorreremos sobre cada um destes eventos.

ANO CONFERÊNCIA TEMA/OBJETIVO 1986 I Conferência Internacional sobre

Promoção da Saúde em Ottawa Promoção da Saúde nos Países Industrializados

1988 II Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Adelaide

Promoção da Saúde e Políticas Públicas Saudáveis

1991 III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Sundsvall

Promoção da Saúde e Ambientes Favoráveis à Saúde

1992 Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Bogotá

Promoção da Saúde na América Latina

1993 Primeira Conferência de Promoção da Saúde no Caribe, em Port of Spain

Elaborada, a pedido da 13ª Reunião dos Ministros responsáveis pela saúde da região. A Carta do Caribe para a Promoção da Saúde defendia a igualdade social e a atenção primária em saúde como fatores de bem-estar social.

1997 IV Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Jacarta

Promoção da Saúde no Século XXI Comunicação

1998 Rede de Mega Países para Promoção da Saúde, Suíça

Nasceu do reconhecimento da necessidade e do potencial para possibilitar um maior impacto na saúde mundial, por meio da formação de uma aliança entre os países mais populosos.

2000 V Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde na cidade do México

Promoção da Saúde: Rumo a Maior Equidade

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ANO CONFERÊNCIA TEMA/OBJETIVO 2002 III Conferência Latino Americana de

Promoção da Saúde e Educação para a Saúde, em São Paulo

Visão Crítica da Promoção da Saúde e Educação para Saúde: Situação Atual e Perspectivas

2005 VI Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Bangkok

Promoção da Saúde num Mundo Globalizado

2007 Conferência Internacional de Saúde para o Desenvolvimento, em Buenos Aires

De Alma-Ata à Declaração do Milênio

2009 VII Conferência Mundial sobre Promoção da Saúde em Nairobi (Quênia)

Ação sobre os Determinantes Sociais de Saúde para a Equidade

Quadro 1 - A evolução das conferências de promoção da saúde Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2012)

Em decorrência das expectativas mundiais por uma saúde pública eficiente, a

I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Ottawa (1986) teve como

tema a “Promoção da Saúde nos Países Industrializados”, focalizando em especial

as necessidades dos países industrializados, e estendendo tal necessidade aos

demais países.

Mediante os progressos alcançados após a Declaração de Alma-Ata para a

Atenção Primária à saúde, o documento da OMS “As Metas de Saúde para Todos” e

o debate ocorrido na Assembléia Mundial da Saúde sobre as ações intersetoriais

necessárias, foi elaborada a Carta de Ottawa, que estabelecia fatores de

importância para o alcance de uma saúde para todos. Este momento é emblemático

para a nova perspectiva da Promoção da Saúde e a Carta de Ottawa daí decorrente

identifica cinco estratégias básicas, as quais continuam sendo referência são

(BRASIL, 2002a):

− Criação de políticas de saúde pública.

− Criação de ambientes de suporte para a saúde.

− Reforço da ação e participação comunitárias.

− Desenvolvimento das capacidades individuais.

− Reorientação dos serviços de saúde.

Na sequência, a II Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em

Adelaide (1988) teve como tema central a “Promoção da Saúde e Políticas Públicas

Saudáveis” (BRASIL, 2002a), ressaltando a importância das políticas voltadas para

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a saúde e as principais alternativas mantiveram a direção já estabelecida nas

Conferências de Alma-Ata e Ottawa.

As estratégias para a ação em prol de políticas públicas voltadas para a

saúde foram estabelecidas no documento denominado Declaração de Adelaide,

cujas recomendações estabelecem uma nova direção para as políticas de saúde,

pelo realce do envolvimento dos indivíduos, pela cooperação entre os diferentes

setores da sociedade e os cuidados primários de saúde (e a sua criação). Identificou

quatro áreas prioritárias: apoio à saúde da mulher; alimentação e nutrição; tabaco e

álcool; criação de ambientes favoráveis.

Três anos depois, a III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde

foi realizada em Sundsvall (1991), cujo tema era “Promoção da Saúde e Ambientes

Favoráveis à Saúde” (BRASIL, 2002a), com a conclamação de todos os povos do

globo para o engajamento na causa ecológica como fator de saúde, apontando para

a situação de milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza, em ambientes

ameaçadores à saúde. Propõe a ação de diversos segmentos da sociedade para

obtenção do desenvolvimento de ambientes físicos, sociais, econômicos e políticos

mais favoráveis à saúde.

A Conferência de Sundsvall (BRASIL, 2002a) aponta dois princípios para a

implementação das estratégias da saúde para todos:

− A equidade deve ser uma prioridade básica na criação de ambientes de

suporte para a saúde.

− Deve ser reconhecida a interdependência entre os seres humanos na ação

pública para a criação de ambientes de suporte para a saúde.

A Declaração de Sundsvall preconiza que o princípio da equidade deve

nortear a criação de ambientes promotores de saúde (SÍCOLI; NASCIMENTO,

2003), e que todos tem um papel na criação de ambientes favoráveis e promotores

da saúde.

Engloba quatro aspectos importantes: a dimensão social; a dimensão política;

a dimensão econômica e a necessidade de reconhecer e utilizar a capacidade e o

conhecimento das mulheres em todos os setores, inclusive o político e o econômico.

Em decorrência das discussões a nível mundial, em 1992 ocorre a

Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde de Bogotá trazendo ao debate

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o significado da “Promoção da Saúde na América Latina” (BRASIL, 2002a), para o

qual foram apresentados compromissos e estratégias relacionadas com o sucesso

da saúde da população da região. A referida Conferência discutiu a transformação

da cultura e do setor saúde a fim de garantir acesso universal e estimulou o

compromisso social para assumir a vontade política de fazer da saúde uma

prioridade (WESTPHAL, 2006; HEIDMANN et al., 2006).

No ano seguinte, em 1993, foi elaborada a Primeira Conferência de Promoção

da Saúde no Caribe, em Port of Spain. A Carta do Caribe para a Promoção da

Saúde, foi elaborada a pedido da 13ª Reunião dos Ministros responsáveis pela

saúde da região. O documento, seguindo as metas das conferências anteriores,

defende a igualdade social e a atenção primária em saúde como fatores de bem-

estar social.

A Carta do Caribe (OPS, 1993) reforçou a importância da Promoção da

Saúde, e apresentou seis estratégias fundamentais.

− Elaboração de políticas públicas saúdáveis.

− Reorientação dos serviços de saúde.

− Empoderamento das comunidades para alcançar o bem-estar.

− Criação de ambientes favoráveis à saúde.

− Desenvolvimento/implementação de habilidades pessoais para a saúde.

− Construção de alianças, principalmente com os meios de comunicação.

Com o tema “Promoção da Saúde no Século XXI”, ocorreu em 1997 a IV

Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Jacarta. A mesma destaca-

se por ter sido a primeira a ter lugar em um país em desenvolvimento e a incluir o

setor privado no apoio à promoção da saúde. Ofereceu uma reflexão sobre os

determinantes da saúde, na identificação das direções e estratégias necessárias

para enfrentar os desafios do século XXI, tendo originado a Declaração de Jacarta

(BRASIL, 2002a). O referido documento identifica cinco prioridades:

− Promoção da responsabilidade social da saúde.

− Aumento dos investimentos para o desenvolvimento da saúde.

− Consolidação e expansão das parcerias para a promoção da saúde.

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− Aumento das capacidades comunitárias e do empowerment individual.

− Assegurar infraestruturas para a promoção da saúde.

Ainda nesta conferência é criada uma aliança mundial para a promoção da

saúde que tem como meta promover as prioridades de ação para a promoção da

saúde:

− Aumento da sensibilização sobre os determinantes da saúde em constante

mudança.

− Apoio à criação de atividades de colaboração e de redes para o

desenvolvimento sanitário.

− Mobilização de recursos para a promoção da saúde.

− Acumulação de conhecimentos sobre as melhores práticas.

− Facilitação da aprendizagem partilhada.

− Promoção da solidariedade em ação.

− Promoção da transparência e da responsabilidade pública na prestação de

contas na promoção da saúde.

Em consonância ao movimento existente na época, no ano de 1998, em

Genebra, Suiça, foi idealizada pela Organização Mundial da Saúde a Rede de

Megapaíses para Promoção da Saúde em reconhecimento da necessidade da

formação de uma aliança entre os países mais populosos na busca de soluções

para a promoção da saúde (BRASIL, 2002a).

Atualmente os megapaíses (Bangladesh, Brasil, China, Índia, Indonésia,

Japão, México, Nigéria, Paquistão, Federação Russa e Estados Unidos da América)

atingem 60% da população mundial. Tal diversidade de países engloba todos os

níveis de desenvolvimento, o que implica diferentes estágios nos padrões de

morbidade e de mortalidade. Tal realidade exige um trabalho conjunto, cuja

representatividade os permita traçar os rumos para a aquisição de políticas de

promoção à saúde. Para tal, a Rede de Megapaíses propõe como metas: melhorar a

base de informações da promoção, desenvolvimento da saúde, aumento da

intersetorialidade e parcerias para melhorar a distribuição dos recursos para a

saúde.

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Na virada do século, no ano 2000, acontece a V Conferência Internacional

sobre Promoção da Saúde na Cidade do México, com o tema “Promoção da Saúde:

Rumo a Maior Equidade”. A mesma reconheceu a responsabilidade dos governantes

nas políticas de saúde, assim como a necessidade do compartilhamento dessas

estratégias entre todos os setores sociais (BRASIL, 2002a).

O documento proposto, a Declaração do México, constatou uma melhora

significativa do bem-estar social em muitos países do mundo, porém ressaltou a

persistência de problemas que exigiam solução urgente e, para tanto, estabeleceu

ações dirigidas à saúde, em especial à Saúde Pública.

A Declaração reforça a importância das ações de promoção à saúde nos

programas e políticas governamentais, no nível local, regional, nacional e

internacional, bem como valoriza as ações intersetoriais para assegurar a

implementação das ações de promoção e ampliar as parcerias na área da saúde. No

entanto, verificou-se que persistiam ainda muitos problemas de saúde que

prejudicavam o desenvolvimento econômico e social. Portanto, deveriam ser

urgentemente resolvidos para promover uma situação mais equitativa em termos de

saúde e bem estar. Foi constatada a urgência de se abordar os determinantes

sociais, econômicos e ambientais da saúde e o fortalecimento de mecanismos de

colaboração para a promoção da saúde em todos os níveis e setores da sociedade

(WESTPHAL, 2006).

Já no Brasil, em 2002, acontece em São Paulo a III Conferência Latino

Americana de Promoção da Saúde e Educação para a Saúde. O tema da

Conferência, "Visão Crítica da Promoção da Saúde e Educação para Saúde:

Situação Atual e Perspectivas", teve como objetivo o estímulo e o desenvolvimento

de estratégias de promoção da qualidade de vida e saúde e educação para a saúde

na América Latina. Promoveu o debate sobre princípios, estratégias e compromissos

orientados para a universalidade e a equidade no acesso aos direitos fundamentais

e sociais da região.

Voltando às Conferências Internacionais, em 2005 ocorre a VI Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde em Bangkok. O tema foi a “Promoção da

Saúde num Mundo Globalizado”, com a elaboração da Carta de Bangkok, que

buscou identificar as ações, os compromissos e as promessas necessárias para

abordar os determinantes da saúde num mundo globalizado, através da promoção

da saúde.

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A Promoção da Saúde foi definida na Carta de Bankok como sendo “o

processo que permite às pessoas aumentar o controle sobre sua saúde e seus

determinantes, mobilizando-se (individualmente e coletivamente) para melhorar a

sua saúde” (WHO, 2005).

A Carta de Bangkok se dirigiu a todas as organizações responsáveis pela

manutenção dos objetivos de saúde, e defendeu como requisito do desenvolvimento

global as políticas e alianças capazes de capacitar as comunidades para a melhoria

social, além de reafirmar os valores e estratégias da Carta de Ottawa.

Em 2007, em Buenos Aires, Argentina, é realizada a Conferência

Internacional de Saúde para o Desenvolvimento, promovida pelo Ministério de

Saúde do país. Seu tema, “De Alma-Ata à Declaração do Milênio; Conferência

Internacional de Saúde para o Desenvolvimento: Direitos, Fatos e Realidades”,

buscou contribuir para a concretização dos “Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio” previstos para 2015, ressaltando a importância da força de trabalho em

saúde.

Os principais tópicos em discussão foram os “Cuidados primários e sistemas

de saúde no atual contexto global”, os “Recursos humanos para o novo milênio” e a

“Equidade na saúde e financiamento”. Referenda o evento – vide internet.

Mais recentemente, em 2009, em Nairobi/Quênia, houve a VII Conferência

Mundial sobre Promoção da Saúde. O tema “Ação sobre os Determinantes Sociais

de Saúde para a Equidade” foi amplamente discutido, sendo reforçado os benefícios

da Promoção da Saúde quando utilizada corretamente.

A VII Conferência trouxe como temas centrais: o empoderamento comunitário

e dos indivíduos, o fortalecimento dos processos participativos e o fortalecimento

das lideranças e das forças de trabalho. A partir do debate em torno dos temas,

buscou-se reafirmar os valores, princípios e estratégias de ações para a Promoção

da Saúde no intuito de reduzir as iniquidades em saúde e a pobreza e promover

saúde e qualidade de vida (WHO, 2010).

O ex-presidente da Comissão dos Determinantes da Saúde, o Professor

Michael Marmout, destacou em seu discurso os aspectos chaves para que se

alcance uma Promoção da Saúde de qualidade:

− Justiça Social.

− Maior poder às comunidades, no domínio social, psicológico e político.

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− Criação de condições que permitam às pessoas um maior controle sobre

suas próprias vidas.

Declarou que os países de baixa renda foram afetados pela crise financeira

internacional e que em muitos países o problema está na má distribuição de renda e

na forma como esta é utilizada e não propriamente a falta de dinheiro.

A presente Conferência contou com a participação de mais de 500 delegados

provenientes de 102 países e culminou com uma Declaração para a Ação.

A Promoção da Saúde se estabelece dentro de uma proposta holística,

incorporando a integralidade e a complexa relação sujeito-ambiente, contemplando

em seus projetos, questões éticas, valores, situações concretas, engajamento ativo

e a construção dinâmica do conhecimento. A noção de correlação entre as

comunidades, os profissionais e os espaços institucionais nos remete a um trabalho

educativo em rede onde o emprego das metodologias participativas visam a

interação e a mobilização social (POLONIA; ALVES, 2003) e um sujeito ativo em

relação à sua saúde. Neste sentido a Educação em Saúde como estratégia para

promover a saúde deve ter o mesmo embasamento, de fomentar nos sujeitos que a

saúde é um direito e é produzida socialmente. Para se obter uma prática educativa

emancipatória é preciso compreender como foi historicamente pensada e praticada,

para chegar-se atualmente ao que se propõe que seja um educar para a

emancipação.

2.4 Breve retrospectiva histórica das ações educativas no campo da saúde

Desde a Europa Medieval, acreditava-se na importância da educação em

saúde. Na época, para obter boa saúde e viver mais, era preciso uma alimentação

correta, práticas adequadas de higiene e horas prolongadas de sono. Já no século

XVIII, sob a luz das ideias de John Locke, houve uma intensa divulgação de

conhecimentos científicos, por meio de publicações em livros e periódicos,

referentes a questões de higiene e saúde. Porém este conhecimento ficou restrito as

classes dominantes (ROSEN, 1994). Pode-se dizer que não só naquela época, mas

também nos dias atuais, a pura e simples divulgação de informações ainda é vista

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como suficiente para provocar mudanças no comportamento da população. O que

não só não é verdade, como é igualmente perigoso.

Após uma série de investigações realizadas na Europa, a Teoria Microbiana

das Doenças, que sustenta que os microorganismos são a causa de inúmeras

doenças, foi confirmada no final do século XIX (ROSEN, 1994). A concepção

biológica da doença foi marcada por uma educação controladora, baseada na teoria

tradicional liderada por Durkheim, hoje considerado um dos pais da Sociologia

moderna. Sua teoria explicava de uma forma simplista o surgimento das doenças

condicionando-as à “ignorância e descaso das pessoas”. O ensino higienista, desde

o início do século XIX, já fazia parte do curriculum de formação médica exercendo

influencias na área de educação em saúde.

No Brasil, até o início do século XX as preocupações do setor saúde estavam

focadas apenas nas situações de epidemia e, no campo da educação, limitava-se ao

ensino de hábitos de higiene. A visão positivista subjacente era de que a educação

poderia corrigir através da higiene a ignorância do indivíduo que comprometia a sua

saúde, e de que a saúde individual era a base da estabilidade e segurança da

nação. Em virtude disso, o nascimento da Educação em Saúde no Brasil é marcado

por discursos e práticas normalizadoras. O controle sobre a doença e o exclusivo

poder da cura estava nas práticas dos profissionais, “rotulando as eventuais

resistências e os saberes alternativos de cegueira política, ignorância do povo, má-fé

dos charlatães” (ALVES, 2005 apud COSTA, 1987, p. 44).

O primeiro movimento sistemático de Educação em Saúde no Brasil ocorreu

durante o governo de Rodrigues Alves, em 1904, liderado por Oswaldo Cruz. Nessa

época, o poder exercido pela polícia sanitária no Rio de Janeiro, através de práticas

coercitivas de Educação em Saúde no controle das enfermidades, vacinação

compulsória, vigilância sobre o comportamento da população pobre, influenciou na

arquitetônica das cidades e dos portos. Vasconcelos (2001) denominou essas

práticas de Educação Higienista.

Movimentos de resistência e expressão de descontentamento como a Revolta

da Vacina (1906) e as greves ocorreram em virtude do aumento populacional de

imigrantes europeus avessos às ideologias e práticas de dominação

(VASCONCELOS, 2001).

Surge em 1923, através da Lei Elói Chaves, um novo modelo de regulamento

sanitário, de assistência médica, chamado “Caixas de Aposentadorias e Pensões”

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para trabalhadores das ferrovias. Nesse momento, o movimento higienista amplia

seus horizontes, seu poder de atuação e interfere na educação da população

através de medidas de divulgação de higiene pessoal e pública, inspeções médicas

de imigrantes, além do confinamento de leprosos e tuberculosos.

Neste mesmo período surge o que Vasconcelos (2001) chama de Educação

Sanitária. A educação com abordagem preventiva, presente na Educação Sanitária,

tinha como objetivo principal o indivíduo com comportamento saudável, e o

educador propunha a indução de uma mudança de hábitos que promovesse a saúde

e evitasse as doenças (ALVES, 2005).

A Educação Sanitária se definiu como uma Especialidade da medicina

preventiva, devido aos educadores sanitários utilizar como base filosófica a medicina

cujos:

[...] problemas são definidos sob o ponto de vista médico e os diagnósticos proporcionam o ponto de partida. As atividades de educação sanitária são afins a esse padrão de problemas medicamente definidos que freqüentemente terminam em programas ou campanhas fragmentadas e focalizadas em um problema apenas (STOTZ, 1993, p. 18).

Segundo Stotz (1993), a educação com abordagem preventiva, que ocorreu a

partir da década de 20, possuía como objetivo principal o indivíduo com

comportamento saudável. O sujeito desta ação era o educador através de

comportamentos persuasivos sobre os riscos de doenças. As estratégias de

prevenção de doenças ocorriam pelo desenvolvimento de comportamentos

saudáveis, ou seja, adequados, propondo a extinção ou a mudança de

comportamento individual para a eficácia do processo.

Segundo Vasconcelos (2001), o sujeito ainda possuía papel inativo no

processo educativo sendo culpabilizado individualmente pelas doenças que o

acometiam. Esta culpabilização era escamoteada pelo modelo biologicista na sua

determinação.

A Educação em Saúde, dentro da perspectiva sanitária, teve o sujeito como

um depositário de conhecimentos, partindo do pressuposto de que o profissional era

o detentor de todo o saber para a saúde e que o sujeito não tinha conhecimento

suficiente, isto é, científico sobre as doenças e as corretas medidas de prevenção,

culpabilizando-o caso viesse a adoecer, pois apontava que realmente não tinha

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modificado seus comportamentos perante as prevenções ditadas por um “educador”

(VASCONCELOS, 1997). Segundo Freire (2005), este modo de educação se

chamou de bancária, na qual não havia diálogo, e sim o opressor ditando regras

sobre o oprimido.

Essa ideologia permeou fortemente a Educação em Saúde até meados de

1940, quando outras formas de participação social começaram a surgir no Brasil,

iniciando com os movimentos operários da Era Vargas (VASCONCELOS, 2003).

Como consequência do pós-guerra, o Brasil passou a programar projetos de

apoio internacional – com influência norte-americana – principalmente nos serviços

de saúde brasileiro. Também vale registrar que foi devido aos interesses na

exploração de borracha e minérios na região amazônica que os EUA instalaram a

Fundação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), com o objetivo de

controlar as grandes endemias da região através da educação sanitária com

técnicas mais modernas, ainda que impositivas, com os grupos, como a utilização de

recursos audiovisuais, participação e lideranças comunitárias (VASCONCELOS,

2001; WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Nesse momento, ainda se destinou ao

sujeito a responsabilidade pelo processo saúde/doença, não sendo considerados

como determinantes os fatores culturais, subjetivos, valores e costumes.

Na década de 50, houve a necessidade de modernização da agricultura e da

educação do homem rural, pois a exploração rural exigia a participação do

trabalhador na incorporação de tecnologias. Nesse momento histórico se deu início

à alfabetização de adultos no Brasil, com a proposta dos Círculos de Cultura de

Paulo Freire, que abrangiam educação e mudança político-social (VASCONCELOS,

2001). Essa forma de educação diferenciava-se pela oportunidade dada ao

educando de manifestar-se e ser valorizado, apontando que é possível construir

saberes a partir do diálogo. Nessa década e no início da seguinte, o cenário político

brasileiro foi turbulento. Os movimentos sociais ganharam espaço. Começou a

alterar-se a percepção do processo saúde/doença, considerado pela

multidimensionalidade e relacionando-o aos aspectos sociais (WENDHAUSEN;

SAUPE, 2003).

Na década de 60, o fato marcante foi o surgimento da perspectiva da

Medicina Comunitária, em que foi possível perceber um apelo à participação da

comunidade para a solução dos problemas de saúde existentes. Entretanto, como

afirma Alves (2005), por trás desse apelo de participação comunitária pareceu

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camuflar-se o mesmo discurso da culpabilidade dos sujeitos, com a ressalva desta

passar da individualidade para a coletividade. As práticas de Educação em Saúde

comunitárias continuavam semelhantes à visão anterior e partiam, então, do

pressuposto de que as comunidades seriam as responsáveis pela solução de seus

problemas de saúde, devendo, para isto, serem conscientizadas (ALVES, 2005).

Segundo Vasconcelos (2001), houve um encontro entre as vertentes no

campo da saúde e da Educação em Saúde, pois a visão de sujeito social era menos

determinada pelas circunstâncias. Ainda não prevalecia o questionamento do direito

de ter saúde, mas se começou a relacionar doença com as condições de vida e com

a participação nas manifestações de encaminhamentos dos problemas,

considerando que a própria educação poderia resolver.

Entretanto, na década de 60, durante o regime militar (1964), o campo da

Educação em Saúde permaneceu sem se expressar publicamente, devido à

limitação dos espaços institucionais para sua realização. Constatou-se a expansão

dos serviços médicos privados e da medicina curativa em detrimento dos serviços de

atenção preventiva. Este modelo assistencial de cunho curativo, hospitalocêntrico,

fragmentado e de baixa resolubilidade não favorecia a Promoção à Saúde ou a

atenção primária, que contava com a participação popular. Smeke e Oliveira (2001)

afirmam que durante esse tempo a Educação em Saúde se referiu ao controle sobre

os sujeitos.

Em contraponto, ao padrão de imposição de normas e comportamentos

considerados adequados pela educação, na época do regime militar despertou-se

uma resistência e aumentou a insatisfação da população, que acelerou, ao longo da

década de 1970, a organização de movimentos sociais. Esses reuniram intelectuais

e populares visando à ampliação de conceitos sobre o processo saúde/doença e o

papel do educador e da Educação em Saúde, pois a falência na saúde se

expressava pelas condições de vida, refletindo nos altos índices de mortalidade

infantil, acidentes de trabalho, epidemias como a meningite e a crise previdenciária

(VASCONCELOS, 2001; VALLA; STOTZ, 1993; ALVES, 2005).

O modelo hegemônico vigente nesse período preconiza a persuasão sobre o

indivíduo que deveria adotar comportamentos mais saudáveis mediante a

divulgação por meios de comunicação de massa, TV, folhetos, cartazes e jornais,

responsabilizando o sujeito pelos seus comportamentos. O que fica nítido é o

esquecimento de que o sujeito possui subjetividade e que as soluções dos

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problemas de saúde requerem ações socialmente sustentadas pelos aspectos

culturais, políticos e econômicos da sociedade em que esse mesmo indivíduo está

inserido (STOTZ, 1993). A medicina curativa é praticada nos consultórios

particulares, nos hospitais e nos grandes ambulatórios da Previdência Social. A

medicina preventiva e a Educação em Saúde são realizadas por órgãos ou pessoas

isoladas sem maiores recursos (VASCONCELOS, 1997).

Dentre os movimentos que se apresentaram no início na década de 70 que

procuraram rescindir com a tradição autoritária e normalizadora da relação entre os

serviços de saúde e a população se destaca o movimento da Educação Popular em

Saúde (VASCONCELOS, 2001). Este movimento foi precipitado pela insatisfação de

alguns profissionais de saúde com os serviços oficiais, dirigindo-se para as periferias

dos grandes centros urbanos e regiões rurais, aproximando, assim, as classes

populares dos movimentos sociais locais. Através de um realinhamento ideológico

apresentava uma postura contra-hegemônica na Educação em Saúde.

Este Movimento surgiu a partir de experiências de serviços comunitários,

desvinculados do Estado, transformando-se em movimentos sociais que lutavam

pela Reforma Sanitária. A iniciativa dos profissionais em inserir-se em serviços de

saúde que prestavam assistência às classes populares se deu integrada a projetos

mais amplos, dentre os quais predominava a metodologia da Educação Popular

(VASCONCELOS, 2001). Dessa forma, esta metodologia foi assimilada pelo

movimento dos profissionais, compondo seu elemento estruturante essencial.

Nesse período, pós-regime militar, na faculdade de Saúde Pública da

Universidade do Estado de São Paulo (USP) se fez um grande investimento ao

redirecionar a profissionalização do educador de saúde pública. Sua compreensão

englobaria o processo saúde/doença na sua multicausalidade social, econômica,

cultural, e despertando a visão crítica na identificação dos obstáculos ao

desenvolvimento da população e o surgimento de propostas e medidas educativas

corretas. Esta visão de ensino despertaria nos alunos, futuros educadores, o

desenvolvimento do caráter crítico, participativo e politizador. As práticas dessa

Educação em Saúde proporcionavam flexibilização e ampliação, distanciando-se

das ações impositivas da educação higienista. Nesse momento, tratou-se de

reavaliações e reorientações aos avanços para uma participação social e política

efetiva (VASCONCELOS, 2001).

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A partir das teorias e práticas referenciadas e desenvolvidas na Educação

Popular e na saúde constituiu-se o Movimento Sanitário, com idealizações contrárias

e incompatíveis às medidas autoritárias. Nesse momento, manifestou-se a

preocupação com a autonomia do sujeito. Sujeito este que é social, competente,

responsável por transformações sociopolíticas voltadas na busca de seus interesses

(VASCONCELOS, 2001).

Alterou-se aos poucos a concepção saúde/doença, saindo do modelo

tradicional biologicista que preconizava a prevenção das doenças pela mudança de

atitudes e comportamentos individuais, incluindo informações verticalizadas para

manter a saúde e a intervenção curativa em caso de doença, para ser resultante da

inter-relação causal entre fatores sociais, econômicos, culturais e a consideração

dos determinantes psicossociais dos comportamentos de saúde (ALVES, 2005).

A Educação em Saúde, baseada na determinação social do processo

saúde/doença, considerou a luta política para a melhoria de condições de vida e

saúde. O discurso do educador mudou, pois mediante a persuasão política deveria

envolver os usuários em momentos reivindicatórios, tendo, também, o objetivo de

desenvolver uma consciência sanitária sobre os limites e possibilidades de sua ação

como sujeitos capazes de promover mudanças políticas, econômicas e sociais.

Nesses movimentos sociais e de reavaliação dos conceitos, a Educação em

Saúde passou a ter novo foco, no qual profissionais e população compartilhavam

saberes e buscavam a melhoria da qualidade de vida das pessoas (WENDHAUSEN;

SAUPE, 2003). A proposta de práticas educativas referentes às necessidades dos

usuários se inseriu no discurso emergente de Educação em Saúde – o modelo

dialógico. Em oposição ao modelo tradicional, trabalhou-se com a perspectiva de

sujeitos das práticas de saúde (AYRES, 2001). A partir de 1980, as conquistas da

democracia política começaram a acontecer com o movimento pela Reforma

Sanitária, que ganhou importância e ênfase na Constituição de 1988, na construção

do SUS, entre outras lutas mais globais nas políticas sociais. Também a

Participação Social ganhou espaço como princípio do SUS, a criação de Conselhos

de Saúde e Conferências de Saúde e na ampliação da representação popular nas

três esferas do governo; municipal, estadual, federal (WENDHAUSEN; SAUPE,

2003).

Vale ressaltar que a concepção de saúde e a Educação em Saúde estavam

na efervescência de debates e construções não só no âmbito nacional, mas também

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internacional. Em 1978, a Conferência Mundial de Saúde-Alma Ata resultou no

acordo da meta Saúde Para Todos no ano 2000 e, em 1986, com a I Conferência

Mundial da Promoção à Saúde- Ottawa/Canadá se enfatizou novamente a

assistência primária e a Promoção da Saúde (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003).

Nessa perspectiva, a Educação em Saúde é uma estratégia para se fazer a

Promoção da Saúde de modo dialógico com a população, participativo e, por fim,

emancipatório, valorizando sua autonomia e co-responsabilidade pelo processo

saúde/doença.

A Educação em Saúde adquiriu novas características, após muitas

discussões nacionais e internacionais, como: a relação com o usuário; a

comunicação horizontal entre profissional e população; privilegiamento do diálogo e

os saberes diferentes; o respeito ao outro e sua alteridade concepção mais de saúde

e a acentuação de recursos de pessoas e a participação e empoderamento do

usuário e coletivo (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003).

Para Briceño-Léon (1996) há dois princípios básicos na orientação das ações

de saúde: é necessário conhecer o ser humano, pois só conhecendo o sujeito e

suas circunstâncias se tornam possível uma ação eficiente e permanente. Devem-se

compreender suas crenças, hábitos, papéis, e as circunstâncias, condições objetivas

em que vivem; e contar com ele, pois é preciso envolver os indivíduos nas ações, o

que se contrapõe à sua imposição. O autor afirma que apenas com a participação

comunitária é possível assegurar sustentabilidade e efetividade das ações de saúde.

Dentre os modelos de Educação em Saúde, o modelo dialógico conforma-se

à proposta da integralidade, uma vez que favorece o reconhecimento dos usuários

enquanto sujeitos portadores de saberes sobre o processo saúde-doença-cuidado e

de condições concretas de vida. Nesse aspecto, este modelo contribui para uma

apreensão mais compreensiva das necessidades de saúde dos sujeitos e na

humanização da ação educativa, tornando-as mais sensíveis a seus destinatários

(BRICEÑO-LÉON, 1996).

Este autor sugere sete teses para uma educação e participação em saúde:

− Tese I: A educação não é só o que acontece nos programas educacionais,

mas em toda a ação sanitária. Nesta tese, o autor ressalta a importância de

estudar as formas de aplicação das políticas públicas em geral, ver o tipo

de mensagem e qual o tipo de ação educativa que ali se desenvolve. Outro

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fator importante é preparar “toda” a equipe envolvida nas campanhas para

o ponto de vista educacional.

− Tese II: A ignorância não é um vazio a ser preenchido, mas um cheio a ser

transformado. Esta tese afirma que o objetivo da educação não é

preencher o vazio da ignorância, mas transformar os cheios cognitivos e

comportamentais que o sujeito possui previamente. Para isso, é muito

importante conhecer os saberes e as práticas da população, identificar de

forma clara o que vai ser trabalhado, tentar transformar os conceitos, os

hábitos de forma crítica, porém respeitosa e solidariamente.

− Tese III: Não há um que sabe e outro que não sabe, mas dois que sabem

coisas distintas. Isto quer dizer que a educação é um processo bidirecional,

já que os dois sabem, os dois devem dizer algo, assim, ambos geram um

acordo de transformação de seus próprios saberes. Mas se alguém não

quer fazer algo pela sua própria saúde, obviamente o outro não pode fazê-

lo.

− Tese IV: A educação deve ser dialogada e participativa. Um processo de

diálogo é participativo e a educação deve ser participativa em si mesma.

Esse processo envolve confrontação de perspectivas e prioridades. O que

deve acontecer é tentar confrontar os saberes sem dominação e sem

submissão.

− Tese V: A instrução deve reforçar a confiança das pessoas em si mesmas.

A confiança é um fator fundamental no sucesso de uma ação. As crenças e

expectativas sempre surgem de um aprendizado social, ou seja, da ação e

das mensagens verbais dos outros sujeitos.

− Tese VI: A educação deve procurar reforçar o modelo de conhecimento

tipo esforço-recompensa: a ação educativa estará junto com as realizações

que se consigam através de esforços. As realizações obtidas a partir de

metas que o indivíduo possa cumprir, objetivos que signifiquem um

estímulo à inteligência. Se o sujeito trabalha, participa e obtém realizações,

reforça-se, assim, a ideia conectiva do esforço e realização.

− Tese VII: A educação deve fomentar a responsabilidade individual e a

cooperação coletiva. Uma boa política de estímulo à participação deve

fomentar o interesse e o compromisso de cada indivíduo com as metas de

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saúde. A educação deve enfatizar o sujeito e sua responsabilidade

individual, ressaltar a relação que existe entre o que ele faz e o que pode

obter para seu próprio benefício e, concomitantemente, desenvolver os

mecanismos de cooperação e de construção da solidariedade que tornem

possível a ação coletiva.

Como vimos anteriormente, o modelo tradicional de educação, mais

conhecido como “Educação Bancária” caracteriza-se como um modelo depositário,

cuja marca é a unidirecionalidade e a verticalidade da relação educador-educando.

Os homens eram vistos como seres de adaptação, do ajustamento. Um dos

objetivos fundamentais da concepção bancária é dificultar, em tudo, o pensar

autêntico, inibindo o poder de criar, de atuar. Indoutrinar os educandos no sentido de

sua acomodação ao mundo da opressão, ou seja, transformar a mentalidade dos

oprimidos e não a situação que os oprime. Portanto, ela nega a dialogicidade como

essência da educação e se faz antidialógica (FREIRE, 2005).

Em 2007 o Ministério da Saúde propõe, através dos Cadernos de Educação

Popular em Saúde que se faça uma educação baseada nos preceitos de Paulo

Freire, ou seja, uma educação capaz de transformar as tradicionais práticas de

Educação em Saúde em práticas pedagógicas que levem à superação das situações

que limitam o viver com o máximo de qualidade de vida que todos merecemos

(BRASIL, 2007).

Assim, a Educação em Saúde que proponho, como diz Campos et al. (2004),

faz parte do processo de fortalecimento da participação comunitária politizada,

recomendado pelas políticas de saúde, aspirando à gestão participativa das políticas

públicas. Sendo assim, o processo de fortalecimento da co-responsabilização na

produção da saúde se dá pelo estabelecimento de parcerias intersetoriais,

interinstitucionais e com entidades não-governamentais e da sociedade civil.

Briceño-Léon (1996, p. 12), inspirado nos critérios de Paulo Freire, lembra

que, a dinâmica de educação para saúde, não tem um alguém que sabe e outro que

não sabe, mas dois que sabem coisas diferentes; daí a afirmação de que “a

ignorância não é um buraco a ser preenchido, mas um ‘cheio’ a ser transformado”.

A Concepção problematizadora e libertadora vê no educador um humanista

revolucionário, cuja ação deve estar infundida da profunda crença nos homens e no

seu poder criador a serviço da libertação. A libertação autêntica é práxis que implica

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a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo. A educação

libertadora e problematizadora é um ato cognoscente, que afirma a dialogicidade e

se faz dialógica (FREIRE, 2005).

A mudança de perspectiva no pensar e fazer no campo da Educação

Popular em Saúde nos convida a (re) pensar propostas de ações que atendam aos

interesses e necessidades da comunidade. Para tanto, a criação destas propostas

deve emergir de uma prática dialógica, que contemple a autoconsciência como

prática político-pedagógica, valorizando a pluralidade de saberes e rompendo os

espaços formais na busca da aproximação entre os diferentes saberes e as diversas

culturas.

Vasconcelos (1999) entende o educador como um mediador entre os saberes

acadêmicos e a construção local do conhecimento necessário à dinamização da

assistência à saúde. Sendo assim, a educação em saúde passa a ser um

instrumento de construção da participação popular. Nesse sentido, a Educação

Popular em Saúde é também um instrumento de Promoção da Saúde.

Como confirma Oliveira (2008, p. 101)

[...] enquanto as atividades de Educação em Saúde apenas tiverem a finalidade de depositar conhecimento sobre riscos, normas, causas e efeitos, dificilmente conseguirão mobilizar e motivar as pessoas a terem atitudes e comportamentos saudáveis. Isso porque, mais uma vez o modelo tradicional será fortalecido, em detrimento do modelo alternativo, estando com isso, possivelmente fadadas ao fracasso da mobilização das pessoas para a transformação do modelo assistencial, bem como, da sua participação e responsabilização na promoção da saúde.

Por outro lado, deve-se levar em conta que o SUS é construído em seu

cotidiano por profissionais que têm por atribuição serem agentes de mudança, mas,

no entanto, foram e em grande parte ainda são, formados no modelo tradicional. A

falta de formação para consolidar na prática o avanço da legislação evidencia a

lacuna existente entre o discurso de mudança e a prática que se efetiva nos serviços

(ARIOLI, 2012).

A proposta de educação problematizadora pode ser entendida como um

movimento em espiral, em alguns momentos eles se cruzam e em outros eles

podem se distanciar (ALVIN; FERREIRA, 2007). O método Paulo Freire, aplicado à

saúde, através da educação problematizadora não provoca modificações

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significativas de imediato. A mudança só é percebida quando o educando der sinais

de transformação ao longo de contínuos processos de intermediação e construção

de novos saberes. A Educação Popular tem como pressuposto a disponibilidade e a

abertura para ouvir o outro, num encontro onde “quem educa é dialeticamente

educado”.

Assim, imbuída desta proposta da Educação Popular em Saúde como parte

da Promoção da Saúde, proponho a discussão de suas práticas com Agentes

Comunitários de Saúde através do pensamento de Paulo Freire, considerando-os

como parte fundamental para a consecução das duas em seu cotidiano.

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3 METODOLOGIA

O presente estudo teve a intenção de descrever a vivência e a troca de

experiências entre a pesquisadora e os Agentes Comunitários de Saúde, de uma

UBS no município de Itajaí/SC, através da Educação Popular em Saúde que tem

como alicerce a problematização de Paulo Freire. Tratou-se, portanto, de uma

pesquisa qualitativa inspirada na pesquisa participante o que possibilitou a

interpretação dos fenômenos observáveis, mediante a descrição e compreensão dos

seus significados. O conceito de participação dentro da Pesquisa Participante não é

unívoco no sentido de que pode ser concebido tanto com relação aos

pesquisadores, quanto com relação à população pesquisada, ou envolvida no

processo (HAGUETTE, 1987). A autora define participação como sendo “uma ação

reflexionada em um processo orgânico de mudança, cujos protagonistas são os

pesquisadores e a população interessada na mudança” (HAGUETTE, 1987, p. 141-

143).

Na pesquisa qualitativa, a interação entre o pesquisador e os atores sociais

envolvidos no trabalho é de suma importância. Nesse processo de interagir, partindo

de planos desiguais, ambas as partes buscam uma compreensão mútua. O

pesquisador tem como principal objetivo não ser considerado um “igual”, mas ser

aceito na convivência (MINAYO et al., 1994).

A interação entre o pesquisador e os atores sociais estudados, foi parte

fundamental da investigação qualitativa, em que nada substituiu o olhar atento do

pesquisador de campo à realidade das relações sociais.

Neste capítulo apresento os aspectos metodológicos que nortearam a

pesquisa. Inicio com uma síntese biográfica do educador e pensador Paulo Freire e

o seu referencial metodológico utilizado para a coleta e análise dos dados. Na

sequência discorro sobre o local da investigação, os sujeitos pesquisados,

procedimentos de coleta e análise de dados e aspectos éticos.

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3.1 Paulo Freire: uma síntese biográfica e suas idéias

Devido à sua importância literária e reconhecimento internacional de sua

práxis educativa, não poderia deixar de mencionar uma pequena biografia deste

estudioso, ativista social e trabalhador cultural chamado Paulo Freire.

As informações desta biografia foram retiradas do Instituto Paulo Freire

(FREIRE, 2012). Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921

em Recife, no nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do país, onde logo

cedo pôde experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares.

Trabalhou inicialmente no Colégio Oswaldo Cruz como professor de Língua

Portuguesa e diretor do Setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria

– SESI, onde posteriormente foi superintendente. Paulo Freire foi quase tudo o que

deve ser um educador, de professor de escola à criador de ideias e “métodos”.

Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese

de concurso para a Universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de

História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas

primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos, Rio Grande do Norte,

em 1963.

A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que

identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o

oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a

sua libertação fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados.

Em 1969, trabalhou como professor na Universidade de Harvard, em estreita

colaboração com numerosos grupos engajados em novas experiências educacionais

tanto em zonas rurais quanto urbanas. Durante os dez anos seguintes, foi Consultor

Especial do departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em

Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional junto a vários

governos do Terceiro Mundo, principalmente na África. Em 1980, depois de 16 anos

de exílio, retornou ao Brasil para “reaprender” seu país. Lecionou na Universidade

Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP).

Em 1989, tornou-se Secretário de Educação no município de São Paulo, onde

durante o seu mandato, fez um grande esforço na implementação de movimentos de

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alfabetização, de revisão curricular e empenhou-se na recuperação salarial dos

professores.

A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em

campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem

instituída, sendo preso após o Golpe Militar de 1964. Depois de 72 dias de reclusão,

foi convencido a deixar o país. Exilou-se primeiro no Chile, onde, encontrando um

clima social e político favorável ao desenvolvimento de suas teses. Durante cinco

anos desenvolveu trabalhos em programas de educação de adultos no Instituto

Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Neste período Paulo Freire escreveu a sua

principal obra: Pedagogia do Oprimido.

O senso de humor esteve sempre presente na vida e obra deste pensador e a

não menos constante indignação contra todo tipo de injustiça. Casou-se, em 1944,

com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos.

Após a morte de sua primeira esposa, casou-se com Ana Maria Araújo Freire, uma

ex-aluna.

Entre as muitas obras que Paulo Freire escreveu temos: Educação: prática da

liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968), Cartas à Guiné-Bissau (1975),

Pedagogia da esperança (1992) e À sombra desta mangueira (1995).

Sua prática educativa lhe rendeu reconhecimento mundial através de

numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições, é

cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior.

A Paulo Freire foi outorgado o título de doutor Honoris Causa por 27

universidades. Por seus trabalhos na área educacional recebeu entre outros, os

seguintes prêmios: “Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento” (Bélgica, 1980);

“Prêmio UNESCO da Educação para a Paz” (1986) e “Prêmio Andrés Bello” da

Organização dos Estados Americanos, como Educador do Continente (1992). No dia

10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado “Pedagogia da Autonomia:

Saberes necessários à prática educativa”. Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de

1997 em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio.

Sua elaboração pedagógica teve como ponto de partida o estudo da

linguagem do povo, tendo desenvolvido mais do que uma prática de alfabetização,

uma pedagogia crítico libertadora. A educação como prática da liberdade dá-se

através da relação dialógica. A educação problematizadora, cuidadosamente

pensada e elaborada por Freire, trata de uma pergunta que requer diretividade. É a

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partir do questionamento, da provocação, do fazer pensar que se constrói o novo. A

apresentação de uma proposta que centraliza a dimensão do conhecimento, o

sentimento de aceitação do outro, a interação e a subjetividade é um verdadeiro

exercício de cidadania. É nessa proposta de dialogicidade que o ato de

conhecimento tem como pressuposto fundamental a cultura do educando,

compreendida como ponto de partida no seu processo de ler e entender o mundo

percebendo-se como sujeito histórico. Sua proposta político pedagógica considera

educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento.

Nesse sentido, pretende despertar a consciência das pessoas para reinventar uma

sociedade mais justa e igualitária, rompendo com a relação cristalizadora de

dominação, com a verticalidade do mando, com a exclusão social e a interdição da

leitura do mundo àqueles menos favorecidos. A educação libertadora de Paulo

Freire é um instrumento de transformação do homem e da sociedade no mundo,

com o mundo e para o mundo. Sua contribuição intelectual apresentou uma síntese

inovadora das mais importantes correntes do pensamento filosófico de sua época (o

existencialismo, a fenomenologia e o marxismo – sem conotação ortodoxa).

O método de alfabetização criado por Paulo Freire nasceu no interior do

Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, no final da década de 50. O então

chamado Círculo de Cultura viabiliza, através do diálogo, que seus participantes

respondam às provocações feitas pelo coordenador/pesquisador sobre o objeto de

estudo e a representação da realidade a ser decodificada. As perguntas mais

frequentemente utilizadas no Círculo de Cultura são: Quê? Por quê? Como? Para

quê? Por quem? Para quem? Contra quê? Contra quem? A favor de quem? A favor

de quê? Essa dialogicidade aprofunda a leitura de mundo dos participantes, viabiliza

um olhar crítico e diferenciado a cerca da realidade de forma a suscitar em seus

partícipes um sentimento de comprometimento com vista à transformação desta

realidade.

3.2 Local da investigação

O município de Itajaí localiza-se no Litoral Centro-Norte Catarinense nos

paralelos 26º 54’ de latitude Sul e 48º 39’ de longitude Oeste, junto a foz do rio Itajaí-

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Açú, com uma área de 303,6 km2, e uma população de 183.388 habitantes

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Encontra-se

distante 91 km da capital Florianópolis ao Sul e a 84 km da cidade mais populosa do

estado, Joinville, ao Norte.

Itajaí foi criada pela Lei nº 164, de 04/04/1859, mas sua instalação somente

se deu em 15 de Junho de 1860. A comarca de Itajaí foi criada pela lei nº 603 de

13/04/1968. Em 01/05/1876, a Vila do Santíssimo Sacramento de Itajaí foi

transformada em cidade.

O município concilia o ar sossegado ao ritmo cosmopolita das atividades

portuárias, petrolífera, comercial e universitária, sendo considerado o maior centro

pesqueiro e principal exportador de produtos congelados do Brasil.

Imigrantes açorianos e alemães moldaram a cidade-porto, tendo deixado sua

influência nos costumes, sotaques, na carpintaria naval, na culinária, no casario

histórico e no cotidiano da vida dos Itajaienses.

Já o comércio, a prestação de serviços, o turismo e as indústrias fazem com

que Itajaí se destaque como uma das cidades com as mais variadas fontes de

renda. Itajaí possui o 2º maior PIB (Produto Interno Bruto) do Estado e proporciona

uma alta qualidade de vida a seus moradores.

Itajaí possui belezas naturais como: a Praia do Atalaia, Praia de Cabeçudas,

Praia de Jeremias e Praia Brava. Oferece uma diversificada gastronomia que pode

ser apreciada na Marejada – Festa Portuguesa e do Pescado e Festa do Colono.

Conta também com o Festival de Música Cidade de Itajaí, Porto, Píer Turístico,

Parques Aquáticos, praças e a beleza singular do voo da garça sobre o Saco da

Fazenda.

O município conta com o quantitativo de 36 postos de atendimento

ambulatorial e médico, distribuídos pelas regiões administrativas da cidade e ainda

dispõe de 291 ACS dispostos em 33 equipes de Estratégia Saúde da Família e 4

equipes de Estratégia Agentes Comunitários de Saúde.

O local selecionado para a realização do trabalho de campo é uma Unidade

Básica de Saúde (UBS) do município de Itajaí/SC, atualmente composta por quatro

ESF, totalizando um quantitativo de 35 ACS. É importante lembrar que o Bairro onde

a Unidade está inserida, é o segundo mais populoso de Itajaí e tem como

característica a ausência de um Conselho Local de Saúde e a pouca atuação da

Associação de Moradores. Esta Unidade faz parte das 33 equipes de ESF do

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município de Itajaí e atualmente acompanha 4.787 famílias cadastradas no Sistema

de Informação da Atenção Básica - SIAB (ITAJAI, 2012), totalizando 16.958

pessoas. O que chama à atenção para a necessidade, em curto prazo, de uma 5ª

equipe de Saúde da Família, levando-se em consideração o aumento populacional e

a existência de área de invasão, bem como a construção de mais uma UBS que

viabilize a divisão do trabalho das equipes de Saúde da Família, a readequação do

fluxo de pessoas e proporcione espaço físico e infraestrutura adequada para o

atendimento à população.

3.3 Sujeitos pesquisados

Estabeleceu-se uma amostra de conveniência pela possibilidade de acesso e

execução da pesquisa na instituição selecionada, uma vez que atuo na mesma

como Enfermeira da Estratégia Saúde da Família. O alvo desta pesquisa foram os

35 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das quatro Equipes de Saúde da Família

(ESF) de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no município de Itajaí/SC. O estudo

foi realizado de novembro de 2011 a Janeiro de 2012.

O critério de seleção da população do estudo incluiu todos os ACS da referida

unidade, desde que não estivessem em período de férias e/ou afastamento para

tratamento de saúde e que aceitassem participar da pesquisa e assinassem o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndices A e B). Respeitado o referido

critério de seleção participaram da pesquisa 16 ACS, das 35 efetivamente ligadas à

unidade.

3.4 Procedimentos de coleta dos dados

Primeiramente foi realizado um convite a todos os ACS da UBS do Rio Bonito

para participarem da pesquisa. A coleta de dados se deu através do

desenvolvimento de quatro oficinas, com duração média de 1h30min com os 16 ACS

que manifestaram interesse. A data de realização das mesmas foi pactuada com o

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grupo. A realização das oficinas teve por objetivo fomentar a discussão em torno da

prática dos ACS em relação à Promoção e Educação em Saúde de forma a

possibilitar uma reflexão crítica sobre o seu papel enquanto profissional da ESF.

Para a realização das mesmas foram utilizadas oficinas, utilizando o referencial

proposto por Freire, a partir das seguintes categorias: levantamento dos temas

geradores, codificação, descodificação e desvelamento crítico citado por Brandão

(2005), acrescidas dos cinco princípios epistemológicos de Freire, adotados pelo

Caderno de Educação Popular em Saúde (BRASIL, 2007).

Para Brandão (2005), o levantamento dos temas geradores são falas que

desvelam o mundo em que se vive; um momento comum de descoberta. Converte-

se numa luta comum por uma consciência da realidade e consciência de si, que

fazem desta procura o ponto de partida do processo de educação e da ação cultural

do tipo libertador (FREIRE, 2001). Segundo Freire (2005) na codificação os

participantes integram a significação das palavras ou temas geradores em seu

contexto existencial, eles as redescobrem num mundo expresso em seu

comportamento. Decodificar é sinônimo de decifrar, ou seja, dentro de um Círculo de

Cultura é a decomposição de um todo nos elementos que o constituem. A

decodificação é a análise crítica de situações vivenciadas que permite o despertar

de uma conscientização. Desvelar significa tirar o véu, descobrir, revelar. O

desvelamento crítico é a última etapa da metodologia problematizadora de Paulo

Freire. É quando se revela uma nova realidade, ou seja, outra forma de ver e

entender o mundo (ROCHA, 2005).

Freire (2001) refere que a conscientização é mais que uma simples tomada

de consciência. Supõe, por sua vez, o superar falsa consciência e uma melhor

inserção crítica da pessoa conscientizada numa realidade desmistificada. Essa

consciência, advinda de um processo dialógico e reflexivo, transforma a vida das

pessoas e as ajuda a reorganizar o seu modo de vida. Tais modificações não

acontecem apenas no nível das ações, mas também nas percepções de cada

indivíduo, nas suas atividades e na sua interação com o mundo do qual faz parte.

As oficinas foram feitas da seguinte forma:

a) 1ª OFICINA:

Inicialmente foi realizado o acolhimento dos participantes, com breve

explanação da pesquisadora sobre os objetivos do trabalho e explicado de que

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forma aconteceriam as oficinas, baseadas na problematização de Paulo Freire.

Mediante a concordância das participantes foi dado início as oficinas, com a

realização de uma dinâmica de grupo, como forma de aquecimento, sensibilização e

aproximação do grupo. Para tanto, foi utilizada uma dinâmica reflexiva baseada na

técnica de apresentação do sujeito, através da “História do Nome”.

b) 2ª OFICINA:

Foi dado um “feedback” do que foi visto na primeira oficina. Na sequência,

iniciamos à discussão do tema proposto, partindo de uma dramatização sobre a

seguinte problemática: “como as ACS abordam a questão da Promoção da Saúde e

Educação Popular em Saúde no cotidiano de seu trabalho?”. A partir daí foi discutido

o conceito ampliado de saúde para então trabalhar as concepções sobre Promoção

da Saúde e como se dá sua aplicabilidade na prática, no decorrer do trabalho dos

ACS. Os temas geradores que nortearam a problemática das dramatizações foram

posteriormente codificados e descodificados pelo grupo. Todo o processo de

discussão e posterior desvelamento crítico foi gravado e transcrito pela

pesquisadora.

c) 3ª OFICINA:

Iniciamos relembrando o que fora discutido nas duas primeiras oficinas.

Baseado nas falas da segunda oficina foi discutido e refletido com o grupo a

importância da escuta, de forma a problematizar a prática dos agentes comunitários

de saúde, na tentativa de identificar suas dificuldades e potencialidades. Sendo

assim, iniciamos a oficina com a dinâmica do “telefone sem fio” e a seguir a leitura

do texto “as sete atitudes de um bom ouvinte”. Retomei a questão do “saber ouvir”

trazendo para o círculo algumas das falas dos participantes que foram gravadas e

transcritas para que fizessem um exercício de “ouvir o que foi falado”, como um

instrumento de releitura coletiva da realidade social onde se vive e se trabalha. O

tema gerador que norteou as dinâmicas foi codificado, descodificado e desvelado

pelo grupo. Todo o processo de discussão foi gravado e transcrito pela

pesquisadora.

d) 4ª OFICINA:

Iniciamos fazendo uma retomada de tudo o que foi discutido nas oficinas. Na

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sequência, foi mostrado slides com figuras relacionadas ao tema da pesquisa. Logo

após o grupo novamente foi dividido para que através da técnica de colagem

pudessem montar um conceito sobre Promoção e outro sobre Educação Popular em

Saúde. Na sequência foi realizado a apresentação dos grupos e posterior

fechamento das discussões, tendo por objetivo o incentivo a propostas de ações em

saúde por parte dos ACS para a realização de atividades de Promoção de Saúde na

comunidade, levando-se em consideração os recursos materiais e humanos

disponíveis, bem como a realidade local.

Será dado o retorno do trabalho desenvolvido para as quatro Equipes de

Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde do Rio Bonito e Secretaria Municipal

de Saúde de Itajaí/SC.

3.5 Análise dos dados

Tomando por base a metodologia de Paulo Freire, a análise dos dados se deu

através da observação e escrita realizada por mim levando em consideração as

quatro categorias propostas por Freire: o levantamento dos temas geradores em

Promoção e Educação Popular em Saúde, codificação, descodificação e finalmente

desvelamento crítico. Procurei nos escritos e no que foi observado ressaltar o

processo de reflexão que foi gerado no grupo a partir da temática proposta, os

entraves e pontos críticos gerados na prática.

A eficácia e a validade do método consistem em partir da problematização da

prática do ACS, de que forma ele percebe e aplica a Promoção da Saúde e a

Educação Popular em Saúde, do valor pragmático das suas ações e da realidade

local em que está inserido. Respeitando o senso comum e dele partindo, o

conhecimento se constrói e a partir dele se propõe a sua superação.

A partir da leitura do conteúdo das transcrições das oficinas, tentei captar as

categorias propostas por Freire, frente aos objetivos propostos neste estudo. Neste

sentido auxiliou-me o referencial de Minayo (2007) sobre análise de um conteúdo,

quando propõe que se captem os núcleos de sentido que compõem a comunicação,

cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado;

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no meu caso as categorias de Freire e concepções e práticas de Promoção e

Educação.

3.6 Aspectos éticos

Este projeto de pesquisa foi enviado inicialmente ao SISNEP (Sistema

Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos) para

ser cadastrado. No preenchimento da folha de rosto do SISNEP providenciamos a

assinatura de aquiescência da Instituição participante, no caso Prefeitura Municipal

de Itajaí/Secretaria de Saúde do Município. Para obter o aceite da instituição foi feito

contato com a administração, pela pesquisadora, para agendamento de um

momento, objetivando expor o tema da pesquisa e obter a aquiescência para

realizar o estudo. Para a realização da pesquisa foi entregue e assinado um termo

de solicitação à instituição.

Imediatamente foi enviado e submetido ao parecer da Comissão de Ética em

Pesquisa da UNIVALI, para que sua execução fosse aprovada pelos padrões da

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) através do Parecer nº.

581/2000.

Obtido o deferimento da instituição e a aprovação da Comissão de Ética e

Pesquisa, deu-se início a coleta dos dados propriamente dita. Foram fornecidas

duas vias, sendo uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador.

Justificando a necessidade premente de estabelecer uma relação ética na execução

da pesquisa, o propósito do presente estudo foi elucidado às pessoas envolvidas

para que conhecessem a lógica do processo, bem como sua contribuição iminente

como membros integrantes.

Foi garantido o anonimato aos participantes da pesquisa, podendo estes

desistirem a qualquer tempo da mesma, sem que haja transtornos ou necessidade

de esclarecimento de seus motivos. Ressaltou-se que os resultados obtidos no

estudo serão manuseados somente pela pesquisadora envolvida e que poderão ser

divulgados e publicados por meio de artigos ou em eventos científicos (Apêndice A).

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Foi entregue uma cópia do trabalho à instituição e feito o convite para a

apresentação pública, deste estudo, no Curso de Mestrado de Saúde e Gestão do

Trabalho.

Para garantir o anonimato dos participantes, na transcrição de suas falas, foi

estabelecida uma denominação fictícia para cada integrante. Optou-se por identificá-

los pela letra P (participante) seguida de um número correspondente. Por exemplo:

(P1) = participante número hum.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise e discussão dos dados se deram a partir do referencial teórico de

Paulo Freire para o qual são propostas quatro categorias: levantamento dos temas

geradores, codificação, descodificação e desvelamento crítico. Os materiais

produzidos nas quatro oficinas foram analisados e discutidos dentro desta

categorização, sendo que as etapas foram acontecendo ao mesmo tempo no

decorrer das últimas três oficinas. Brandão (2005) pondera que, embora o método

aponte as regras de como fazer sempre é possível criar sobre o método, inovar

instrumentos e procedimentos de trabalho. Sendo assim, da forma como ocorreram

as oficinas, as etapas do método não serão discutidas individualmente e sim num

conjunto.

A realização das oficinas teve início no dia 17 de novembro de 2011,

perfazendo um total de quatro oficinas, com o término em 11/01/2012. As mesmas

foram desenvolvidas na UBS do Rio Bonito, na Sala das ACS.

4.1 Identificações do trabalho e das participantes

O primeiro encontro aconteceu no dia 17 de dezembro de 2011 e contou com

a participação de 18 pessoas, sendo 16 ACS, a facilitadora (pesquisadora) e uma

enfermeira que se propôs a ajudar a pesquisadora.

Num primeiro momento houve a apresentação da pesquisadora, o objetivo do

trabalho, o cuidado com o anonimato dos participantes, além da importância da

contribuição individual e coletiva para o desenvolvimento da pesquisa. Foi

esclarecido que a participação era de cunho voluntário e que a aceitação não

implicaria em obrigatoriedade, podendo interromper a participação em qualquer

momento, mediante comunicado à pesquisadora. A seguir foram distribuídos para

cada Agente Comunitário de Saúde o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

– TCLE (Apêndices A e B) para que todas pudessem ler e preencher os dados

solicitantes. Após o preenchimento do mesmo, foi recolhido o referido documento

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pela pesquisadora. Em seguida, foi solicitado para que as ACS fizessem um círculo

com cadeiras para que pudéssemos dar início à primeira oficina.

Mas, por que trabalhar em círculo? Porque na figura do círculo, todos se

olham, se vêem e estão numa relação de igualdade. Neste círculo, não há um

detentor do saber, mas um animador das discussões que, de forma solidária,

participa de uma atividade comum em que todos ensinam e aprendem. Sendo

assim, “o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos, de

pensar” (BRANDÃO, 2005, p. 44-45). O Círculo trás na sua essência uma proposta

fecunda e uma prática de ensino-aprendizagem dialógica valorizando a pluralidade

de saberes e partilhando os saberes construídos. Optei por fazer uma

reapresentação das participantes como forma de quebrar o gelo, trabalhar a

apropriação, iniciar a sensibilização e estabelecer uma maior aproximação e

inclusão. Para tanto foi utilizada uma dinâmica reflexiva baseada na técnica de

apresentação através da “História do Nome”. Esta dinâmica consistia no seguinte:

foram distribuídas folhas em branco (A4) e solicitado para que construíssem seu

nome e figura ou imagens relacionada a si, usando de toda a sua criatividade. Para

tanto foram dados lápis de cor, canetinhas e giz de cera. Também foi solicitado que

procurassem se lembrar de quem lhes escolheu o nome e qual o significado de seu

nome. A dinâmica transcorreu calmamente, numa interação bastante harmoniosa

entre as participantes, com muitos risos e clima de descontração. Um dos fatores

para tal entrosamento deu-se pelo fato de todas serem colegas de trabalho e já

conviverem a algum tempo juntas, inclusive comigo que sou enfermeira de uma das

quatro equipes de Saúde da Família. Como era um grupo grande, houve a

necessidade que se acomodassem em duas mesas, havendo troca permanente

entre ambas do material disponibilizado para a dinâmica. Após o término da tarefa

foi solicitado para que todas retornassem a seus lugares no círculo. Tão logo o

círculo foi formado, solicitei para que todas virassem as folhas A4, de forma que

todas as demais pudessem observar o que as colegas produziram. Foi então que

solicitei para que alguém se disponibilizasse a iniciar a apresentação, como não

houve um consenso num primeiro momento, foi-me solicitado para que eu desse

início a mesma. Pude observar durante a apresentação de cada participante o

quanto essa dinâmica suscitou lembranças e sentimentos que extravasaram durante

a explanação, bem como a escrita criativa do nome através de acrósticos e

desenhos traduzindo a identidade de cada um. Essa reflexão sobre a identidade de

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cada sujeito permite que se percebam como tendo um maior controle sobre suas

vidas, o que possibilitou a identificação do eu como sujeito. Segundo Gonzáles-Rey

(2003) compreender a questão subjetiva do sujeito, significa considerar a suja

trajetória histórica, sua singularidade, a sua diversidade e a forma que ele se

expressa e protagoniza seu espaço na sociedade.

Foi possível observar através da fala das participantes o significado contido

em seus nomes, e as características individuais que as distinguem ou o momento

presente pelo qual estão passando. Grifo algumas características que nas suas falas

foram mais enfatizadas:

[...] sou conhecida como esquentada, motivo pelo qual sou chamada de pimentinha, conforme escrevi e pintei em minha folha (P1). [...] reservada, sincera e o que é meu, é meu! (P2). [...] hoje eu estou aqui por obrigação, no sentido de responsabilidade e vontade de contribuir, mas se pudesse estaria escondidinha numa caixinha [...] me sinto renovada a cada dia, sou uma pessoa paciente e prestativa (P9). [...] quem escolheu (meu nome) foi minha mãe em homenagem a Nossa Senhora quando ela veio de Portugal para o Brasil (P10). [...] no Livro dos Nomes (meu nome) significa a escolhida. Considero-me uma pessoa prestativa. Meu nome foi escolhido por meu pai (P13). [...] meu nome é de origem indígena, mas não sei o seu significado. Minha característica principal é ser sincera (P16).

As metodologias participativas, que utilizam recursos lúdicos, nada mais são

do que estratégias que possibilitam e facilitam a vivência de sentimentos e

percepções sobre determinados fatos ou informações. Refletir sobre eles,

ressignificar seus conhecimentos e valores possibilita ao grupo visualizar

possibilidades de mudanças a partir da construção de novas práticas e

conhecimentos.

Em observância a prática aqui desenvolvida, Lane e Codo (1982) afirmam

que uma das funções do grupo é definir papéis e a identidade dos indivíduos, de

forma a garantir sua produtividade e mudança social.

Na sequencia foi apresentado as participantes o livro “um nome para o seu

bebê” de Nelson Oliver e Daniele Alvim, e realizado a leitura do significado dos

nomes de todos os presentes, o que foi muito bem recebido pelo grupo, com

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demonstrações de risos, gargalhadas, brincadeiras e sinais de concordância e

discordância. Apenas o nome de uma das participantes não foi encontrado no livro,

tendo me comprometido a tentar descobri-lo.

Um ponto positivo foi o respeito dos demais colegas da Unidade Básica de

Saúde em não interromper as atividades durante o período de execução da oficina.

Houve, por parte dos participantes, boa aceitação e acolhimento do tema proposto.

Ao final foi sugerida, por um dos participantes, a confecção de um mural onde foram

colados todos os trabalhos, conforme se pode observar na figura 1:

Figura 1 - Mural “História do Nome” Fonte: A autora (2011).

O mesmo foi apreciado pelo grupo que tirou fotos com ele juntamente à

pesquisadora conforme figura 2.

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Figura 2 - “Resgatando a nossa História” Fonte: A autora (2011)

Para encerrar as atividades foi lido por mim um texto intitulado “Amigo”, onde

ao término da leitura todos aplaudiram e houve manifestações de satisfação com o

trabalho desenvolvido. Para o fechamento do encontro foi oferecido um lanche onde,

em meio a conversas informais, muitas ACS disseram sentir “falta de momentos

como esse”, para sentar, conviver, trocar e aprender. Pude observar nesse primeiro

momento que a experiência teve um impacto positivo, tendo propiciado uma maior

aproximação do grupo e que a mesma atingiu o objetivo proposto.

4.2 Dando início às discussões

O segundo encontro ocorreu no dia 30 de novembro de 2011 às 13h e 30

min., na sala de Reuniões da UBS. Antes de dar início ao tema proposto procurei

resgatar o que havia sido desenvolvido no primeiro encontro. A seguir solicitei que o

grupo se dividisse em dois para uma dramatização sobre a seguinte problemática:

“como as ACS abordam a questão da Promoção da Saúde e Educação Popular

em Saúde no cotidiano de seu trabalho?”. Foram dados 15 minutos para que os

grupos se organizassem e fornecidas roupas e acessórios para que fizessem uso.

Após o tempo estipulado deu-se início as apresentações, tendo sido orientados para

que o segundo grupo observasse o primeiro e vice-versa para posterior discussão

do tema abordado. Durante a fase de ensaio ambos os grupos demonstraram bom

entrosamento, não havendo nenhum participante que se declarou contrário à

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dinâmica sugerida. Foi observado um clima de muita descontração, risos e muita

criatividade. Após os ensaios foi dada sequencia a apresentação dos grupos.

O primeiro grupo de dramatização trouxe a história de Dona Fulana, uma

moradora da área, poliqueixosa, que vive com sua filha adolescente e mais quatro

crianças. A mesma relata não ter tempo de ir até a unidade, porque dorme até tarde.

Solicita para que a ACS marque uma consulta no período da tarde para que ela

possa fazer o almoço e cuidar dos afazeres domésticos. Pede para ser agendada

com o médico de sua preferência e é orientada pela mesma que isso não é possível,

pois o médico responsável pela sua área é outro. A ACS oferece um agendamento

de Consulta de Enfermagem o que não é aceito pela moradora que solicita visita de

um profissional médico. O mesmo pedido é feito por sua vizinha que nesse momento

chega até sua casa, pois havia visto a Técnica de Enfermagem e a ACS entrando na

casa de Dona Fulana. A moradora aproveita e pede para que a ACS lhe traga

medicamento para a dor no estômago e é informada pela mesma que não está

autorizada a entregar medicação. Dona Fulana insiste: “pode me dar só o remédio,

ficha é para outra coisa. Ficha é para o oculista”! No mesmo instante a vizinha

interrompe a conversa e diz para a ACS que está com 80 anos e necessita que ela

marque uma consulta para ela na unidade. A ACS combina de repassar o caso a

Enfermeira e solicita para a dona da casa assinar a folha de visita domiciliar. Ao

retornar para a unidade a ACS encontra a Enfermeira sobrecarregada e atarefada

com a parte burocrática. Após aguardar um tempo, consegue pedir ajuda a

Enfermeira da equipe que prontamente vai com ela até a casa de Dona Fulana. Ao

chegar lá a Enfermeira é muito direta e objetiva, dizendo que Dona Alzira necessita

“pegar ficha como todo mundo” para consultar com o médico de sua área e que a

mesma deverá levar sua filha junto para pegar o pedido de exame. A enfermeira

evita responder a certos questionamentos da moradora sobre a função da ACS e

limita-se a dizer: “a obrigação dela não é ficar marcando ficha para a senhora. A

senhora pode ir de manhã como todo mundo vai”. No caso da vizinha idosa ela

autoriza a Agente Comunitária de Saúde a agendar uma consulta médica e reforça

que Dona Fulana deverá procurar a unidade pela manhã. Em seguida despede-se e

retorna a unidade.

O segundo grupo retrata a história de Dona Beltrana que mora com uma

filha adolescente que sumiu de casa por dois meses e retorna grávida, com um

problema na perna após um acidente de moto e referindo problemas ginecológicos.

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A família recebe a visita da ACS que escuta as queixas da adolescente que

confessa estar com depressão. No meio da conversa a agente de saúde percebe o

clima tenso entre mãe e filha que não conseguem conversar civilizadamente. A

adolescente pede para que a ACS lhe entregue uma pomada ginecológica e esta

nega o pedido explicando que necessita de receita médica. Imediatamente a

adolescente repreende a ACS dizendo que sempre pegou o medicamento na

unidade. A ACS oferta a visita da médica da equipe e imediatamente entra em

contato pelo celular com a enfermeira para expor a situação. A enfermeira diz que o

carro da visita acaba de chegar à unidade e que irá incluir essa família para

visitação. Logo após entra no consultório da médica e antes mesmo de começar a

falar é questionada sobre a inclusão de mais um paciente para consulta clínica:

“Não, o negócio é o seguinte, já colocaram um a mais para eu atender e eu não

gosto disso”! A enfermeira diz não saber o motivo, pede para que a médica

questione a coordenadora da unidade e critica as colegas de trabalho por

sobrecarregam a agenda médica. Quando novamente tenta falar sobre o assunto

que a trouxe ali, toca o celular da médica que atende a uma ligação particular.

Quando a ligação termina a enfermeira expõe o caso da família e alega tê-lo incluído

nas visitas do dia, pois não foram preenchidas todas as vagas. A médica reclama do

sol e pergunta se o motorista já chegou. A Enfermeira responde que sim e que ele

só foi tomar água. A médica então ironiza: “o motorista pode tomar água, eu tenho

que atender paciente a mais...”. Nisso a enfermeira a convida para ir e a médica

pergunta: “ela não pode vir aqui”? A enfermeira faz sinal que não e ambas vão até o

carro. Ao chegar à casa de Dona Beltrana, a Enfermeira apresenta a médica que vai

conversar com a adolescente. A filha de Dona Beltrana queixa-se da perna e de

corrimento. A médica ironiza: “e a barriga é o quê? É gordura mesmo”? A

adolescente diz ter dado umas voltas, que não usou preservativo e que tem medo de

estar com um problema sério. A médica enquanto isso prescreve e depois se volta

para a adolescente e diz: “aqui é o Beta, aqui a pomadinha, aqui é o

encaminhamento para o ortopedista. E isso aqui é uso de preservativo contínuo. É

bom, previne a gravidez. Podes ir fazer”! A adolescente questiona sobre o problema

da perna e a médica a interrompe dizendo: “o problema da perna é com o

Ortopedista! Eu sou Clínico Geral, eu já fiz a minha parte. Passar bem”! Dona

Beltrana agradece a visita e todos se retiram.

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O que chamou a atenção foi que embora as dramatizações tenham sido

criativas, perdura o modelo biomédico, prescritivo que se evidencia no atendimento

queixa-conduta. Para Kawamoto (1995 apud SANT’ANA; TAIA; MEDEIROS, 2001),

a visita domiciliar visa prestar assistência educativa no domicílio, e também através

dela pode-se fazer uma avaliação sócio-econômica do indivíduo e sua família,

prestando uma assistência específica a cada caso.

Mediante essa constatação, solicitei aos participantes para que fizessem seus

comentários a respeito que foram os seguintes:

A falta de um preparo dos profissionais da Estratégia Saúde da Família para

trabalhar questões relativas à Promoção de Saúde: desde o entendimento do que é

Promoção, passando por formas de abordagem da comunidade e o estabelecimento

de estratégias e parcerias de forma a socializar e instrumentalizar a comunidade

para que a mesma possa ter uma qualidade de vida melhor.

[...] na verdade a gente não tem esse treinamento pra essa abordagem, porque o próprio paciente não deixa a gente chegar a foco nenhum. [...] tem uns lugares que a gente sabe que pode chegar e falar, ver se a pessoa está cuidando da hipertensão, dos problemas, se tem gestante, se está prevenindo a gravidez. A gente chega nesse foco, mas a grande maioria é só essa pressão de atendimento. Eles confundem o atendimento do postinho com a exclusividade da gente cuidar da vida deles, entendeu? Uma dor de estômago é um exagero. E não pode pegar ficha! Então tu não parte da promoção. A grande maioria, na verdade, não dão essa liberdade de você promover a saúde (P9).

Fica evidenciado que a comunidade não relaciona saúde com ações de

Promoção da Saúde. Existe uma alienação por parte da mesma que só consegue

vislumbrar um atendimento imediato, que sane suas queixas, sem haver a

preocupação se tornar mais hábeis em reverter seu quadro. Isso pode ter haver com

a intensa medicalização que se instaurou na sociedade.

Por medicalização entende-se a introjeção gradual de padrões sociais, culturais

e políticos a partir de parâmetros instituídos pela ciência médica, cuja subjetividade

resultante é uma necessidade (demanda) crescente de atos médicos normalizadores e

interventivos sobre a vida e a saúde. A medicalização seria, na área da saúde, um dos

efeitos daquilo que o discurso sociológico chama de “controle social”. Não estamos

falando aqui do sentido de controle social proposto pelo Movimento da Reforma

Sanitária, que seria o controle público (da população) sobre as políticas e ações de

saúde, mas no sentido que lhe é dado tradicionalmente pelas ciências sociais, isto é,

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“que uma pessoa e sua ação está de fato condicionada e limitada pelos grupos, pelas

instituições e pela sociedade inteira, da qual é membro”. Neste sentido os indivíduos

estariam condicionados a mecanismos mais ou menos ajustados, instituídos

socialmente e a partir dos quais agiriam (BOBBIO; MATTEUCCI, 1981, p. 426 apud

WENDHAUSEN, 2002).

A “medicalização da sociedade” tem sido muito discutida atualmente, em

virtude do incessante aumento da produção e do consumo de cuidados

profissionais. A medicalização não se refere somente ao uso abusivo de medicação,

mas a falta de autonomia do sujeito que depende da opinião de um especialista.

Tomar muita medicação é um sintoma!

Tesser (2006, p. 61) ao se referir sobre o assunto diz que:

A medicalização transforma culturalmente as populações com um declínio da capacidade de enfrentamento autônomo da maior parte dos adoecimentos e das dores cotidianas. Isso desemboca num consumo abusivo e contraprodutivo dos serviços biomédicos, gerando dependência excessiva e alienação.

Conforme a medicina foi se inserindo socialmente, as práticas e os discursos

foram se apropriando da racionalidade médica. Ou seja, uma vez que o cidadão

comum passa a ter acesso às informações amplamente difundidas pelos meios de

comunicação, que concebem saúde como um valor primordial, a vida torna-se

medicalizada. Por exemplo, a publicidade investe maciçamente na venda de

medicamentos que prometem milagres de efeitos imediatos. A saúde numa

sociedade capitalista é entendida como sinônimo de força de trabalho e

produtividade.

Medicalização, segundo Wendhausen (2002), é a visão que leva as pessoas

a buscar de forma abusiva e descontrolada, na área da saúde, atos médicos para

obter saúde. Fazer do normal uma coisa rara é hoje um fenômeno coletivo. Assim

eles esperam que o serviço de saúde resolva seu problema, e, no caso

principalmente o médico que é a figura a quem se atribui este papel. Mas todos os

profissionais de saúde, a enfermeira, o fisioterapeuta, etc., sofremos desse mesmo

mal, porque também somos produto dessa medicalização, ou seja, introjetamos

historicamente que saúde depende somente de atos médicos. Consequentemente

há uma banalização do uso de fármacos, e o desenvolvimento da crença de que

saúde se obtém nas prateleiras das farmácias. Nascimento (2003) denomina este

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fenômeno de o mito da saúde em pílulas. De acordo com esta autora as dificuldades

da vida passam a ser consideradas como problemas médicos solucionáveis através

de fármacos. Para cada dor, seja ela física ou emocional, existe um tratamento, um

medicamento. Como se não bastasse, convivemos ainda com a mensagem de alerta

“ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado” invertendo a lógica

como se primeiro o usuário tivesse que ter o problema para só então buscar ajuda. A

racionalidade moderna está em crise. Na realidade, o que se tem feito não é outra

coisa senão medicalizar o sofrimento.

Outro aspecto discutido pelo grupo é o entendimento de que a promoção não

se concentra somente na figura do médico, mas que toda a equipe tem essa

responsabilidade. E que todos estão deixando a desejar, cada um, preocupado com

os seus afazeres e com a parte burocrática, esquecendo-se de olhar e ouvir

adequadamente.

[...] É o que eu falei. Não é só o atendimento do médico, são todos. Na grande maioria atende assim. Não tem um olhar no paciente, ele tem um atendimento rápido [...] Não tem um envolvimento para que o médico também tenha a paciência de fazer a promoção (P9).

Uma situação muito comum relatada pelas ACS foi a divergência de

interesses entre o que se quer falar para a comunidade e o que ela realmente

necessita. Isso fez com que o grupo refletisse a forma como estamos trabalhando e

que o resultado tem sido insatisfatório, não correspondendo às expectativas da

comunidade assistida.

[...] é complicado ficar todo o dia na mesma casa. Vou lá naquela casa falar sobre HIV, amanhã vou lá falar sobre Diabetes. Nunca consegue falar, por quê? [...] se tu chegar a falar de diabetes: ”Meu Deus! Como doem as minhas costas!”, aí já vem com a história [...] Eles falam outra coisa e já “vão em cima” de ti pedindo consulta, não te dão espaço para promover, para fazer o teu trabalho, então é complicado (P4).

Foi discutido também o fato de que, embora a ESF tenha surgido como uma

estratégia para a mudança do modelo de atenção, ainda persiste, muito forte, na

cultura popular aquele modelo biomédico centrado na figura do médico.

[...] eles querem assistencialismo e não promoção de saúde. [...] Eles querem o médico, o remédio e a consulta. Só isso! (P8).

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Refletindo sobre as dificuldades no cotidiano da unidade de saúde as ACS

referiram se sentir desamparadas no atendimento à comunidade. Que gostariam de

um suporte mais eficaz por parte do restante da equipe e que os profissionais estão

muito presos atendendo demanda dentro da unidade e deixam de realizar ações

importantes na comunidade.

[...] a ESF não é só o agente de saúde, [...] o agente de saúde precisa do enfermeiro e precisa do médico e ESF é na rua. O médico tem que sair na rua com o agente de saúde (P15).

O trabalho em equipe é essencial para a obtenção de resultados, mas para

que isso ocorra não há espaço para individualismos, é preciso um esforço conjunto

onde glórias e fracassos devem ser entendidos como de responsabilidade de todos

os membros da equipe.

O sentido de equipe nasce da integração individuo/organização, evidenciada

pela adesão espontânea aos compromissos e metas, sem a imposição de valores ou

procedimentos. O trabalho em equipe só atinge os seus objetivos quando há

cooperação e envolvimento de todos. No entanto, a complexidade do atendimento

das necessiddes de saúde exige uma flexibilidade nos limites das competências de

cada profissional da equipe.

O trabalho multiprofissional refere-se à recomposição de diferentes processos de trabalho que, concomitantemente devem flexibilizar a divisão do trabalho; preservar as diferenças técnicas entre os trabalhadores especializados; arguir a desigualdade na valoração dos distintos trabalhos e respectivos agentes, bem como nos processos decisórios e tornarem consideração a interdependência dos trabalhos especializados no exercício da autonomia técnica, dada a necessidade de autonomia profissional para a qualidade da intervenção em saúde (PEDUZZI, 2000, p. 6).

É importante que a equipe esteja disposta a compartilhar objetivos, decisões,

responsabilidades e resultados. É preciso ter clareza dos objetivos, discutir um plano

de trabalho em que todos possam estar inseridos, aprimorar as relações

interpessoais e a escuta qualificada. Não menos importante seria o responsabilizar-

se democrática e solidariamente pelos resultados, quer sejam positivos ou

negativos.

Segundo Robbins (2002, p. 267), isso é possível de ser alcançado pelo “[...]

aumento da motivação e satisfação do funcionário, níveis mais altos de

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produtividade, comprometimento comum com as metas, expansão das habilidades

no trabalho e flexibilidade organizacional [...]”.

Houve uma crítica quanto à forma como os profissionais de nível superior

prestam o atendimento à comunidade. A falta de envolvimento e de compromisso

por parte de alguns tem prejudicado a imagem do SUS e suscitado reclamações por

parte da comunidade, que são manifestadas durante a visita domiciliar das ACS.

Muitas relatam ser mal recebidas e que por vezes as famílias sequer abrem as

portas para recebê-las. Algumas relataram que ao chegar às famílias os moradores

perguntam: “o que elas estão fazendo ali”? Referindo desconhecer o seu real papel

dentro da ESF. O que também é um consenso é o fato de estar “perdendo o seu

espaço” ou que talvez não o tenham conquistado.

[...] o médico prescreve e não olha o paciente, ele não tem aquele olhar [...] não tem envolvimento! Então, se o médico não tem, passa para o enfermeiro que também tá cheio de problemas [...] e a gente vai ter qual atendimento? (P9). [...] eu acho que na verdade ACS, médicos, enfermeiros deveriam dar mais ouvidos à comunidade. Às vezes as pessoas chegam aqui com dor de cabeça e na verdade elas não querem o remédio para a dor de cabeça, elas querem conversar! (P4). [...] E é dessa conversa que vai sair à promoção. É essa conversa que está faltando [...] a gente precisa do enfermeiro e do médico para tanta gente. É a atenção que eles querem. Que a gente poderia dar e que não tem. [...] da ESF mesmo, não é só nossa. É de todos, de toda a equipe! (P9). [...] o médico, ao invés de analisar o problema, o histórico do paciente, ele empurra encaminhamento, ele empurra encaminhamento... Aí enche o nosso sistema de consultas com um monte de encaminhamentos que poderiam ser resolvidos. [...] Mas há uma necessidade de aprimorar o atendimento para essas pessoas. Quando nós, enquanto agentes de saúde, vamos às casas para levar a promoção, nós não conseguimos levar essa promoção porque eles saem correndo atrás, literalmente correndo: Hei! Eu preciso de você, eu queria... Vem cá! Eu preciso de uma consulta, eu preciso disso, daquilo... Eles querem somente a consulta! Porque para eles é esse o nosso papel, agendar uma consulta para eles. Eles acham que nós somos as meninas de agendamento de consultas ou de entrega de consulta. Esse é o nosso papel (P11). [...] eles querem que a gente verifique a pressão, mas nós não verificamos a pressão. Quem verifica é a técnica. Então, quando a gente faz aquela visita com a técnica, que às vezes eu vou à área com as nossas técnicas, aí é gostoso! Porque daí a gente também faz essa visita de verificação de pressão, de como a pessoa tá. Porque parece que aquilo dá um... O paciente vê com outros olhos, né? Nós somos somente as meninas que entregam consulta e encaminhamentos (P11).

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Quando questionadas sobre a forma de abordagem utilizada para orientação

à comunidade as ACS pontuaram as facilidades e dificuldades no cotidiano de seu

trabalho. Reforçando se sentirem gratificadas e importantes quando conseguem

ajudar alguém.

[...] Eu sempre observo, aí eu puxo alguma coisa que seja relacionada àquilo, até eu conseguir chegar ao assunto que eu realmente quero. Principalmente para essa meninada grávida aí (P8). [...] Tem um ou outro paciente que é comprometido, presta atenção e realmente faz as coisas que você explicou. [...] Tem um ou dois pacientes que seguem as orientações (P8). [...] O seu Fulano! Ele estava bem doente, ele estava tendo ataque assim, que vinha até o SAMU. Eles davam aquela injeção mais forte para ele, ataque mesmo, do sistema nervoso. Porque aí eu comecei a observar porque que ele estava daquele jeito: a esposa tinha falecido, ele trabalhando à noite, um monte de filhos, de noras e crianças. O dia inteiro dentro de casa correndo. Crianças chorando, as filhas brigando, conversando [...] Trabalhava de noite e dormia de dia. Ele não estava mais conseguindo dormir e outra coisa, ele perdeu a esposa. Então, querendo ou não essas pessoas mais idosas são bem companheiras, onde ele estava ficando ruim. Aí veio um e queria internar ele aqui, queria internar ele ali. Aí eu em conversa [...] disse para ele: por que o senhor não vai ao Centro de Múltiplo Uso? [...] expliquei os horários, o que fazia e o que não fazia. Desde então, nunca mais deu aquelas coisas nele, e ele participa ali direto, o seu Fulano, mas são poucos o que você consegue... (P8). [...] quando a gente consegue avançar com um paciente desse, que aceita, que consegue entender o que a gente fala, pelo menos eu acredito que é pelo menos gratificante, eu acho que é gostoso assim, saber que alguém entendeu, enfim qual é o teu papel aí (P4).

Dessa discussão surgiu a reflexão acerca das propostas educativas

realizadas pela ESF, que têm ficado mais no âmbito das intenções, sem que de fato

haja um impacto positivo na vida das pessoas. Por outro lado, quando colocadas em

prática, são desenvolvidas de modo intuitivo sem a preocupação de criar espaços

para o diálogo com os atores envolvidos, desmerecendo-os como sujeitos de sua

própria história.

No que se refere ao processo saúde/doença ficou muito claro o entendimento

do grupo de que a promoção é algo muito maior do que um mero conceito. Que ela

é feita de sujeitos comprometidos com as questões sociais, que ela depende de uma

rede de suporte que permita acionar vários setores em prol do bem estar comum. É

fundamental um olhar crítico e diferenciado sobre a dinâmica social, política e

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cultural de cada comunidade para que a abordagem dos profissionais da Estratégia

Saúde da Família seja eficiente e eficaz.

[...] Eu volto a repetir a mesma coisa, pela encenação que a gente fez, tanto o nosso grupo, como o segundo grupo, porque a maioria das doenças e das coisas que acontecem também envolve muito o social (P8). [...] Não é só o posto, precisamos ter pracinha para as crianças, nós precisamos de cursos para essa meninada, a gente tem que ter estrutura para poder ajudar a saúde. Quantos na rua [...] tem depressão? Nós estávamos conversando [...] a maioria na rua [...] tomam antidepressivo, na minha área tem um monte [...] (P8). [...] Cada vez vai aumentando, né? Então a gente não tem aqui um psicólogo, né? Que podia ser uma vez por semana, ali na Capela. Um psiquiatra uma ou duas vezes por semana, alguma coisa diferente aonde pudesse [...] fazer este tratamento junto com a pessoa (P8).

Aprofundando-nos um pouco mais na discussão, foi solicitado para que as

ACS levantassem as principais deficiências no atendimento à comunidade. “Que tipo

de população estaria de fora das ações, hoje colocadas em prática, pela unidade de

saúde?”. Foram citados os adolescentes, a população masculina em idade produtiva

e a mulher vítima de violência.

[...] O adolescente não tem uma política voltada para ele [...] (P4). [...] O homem não tem projeto, o pai de família não tem projeto, ele trabalha, ele sai... (P9). [...] a mulher que sofre violência ela não tem um curso pra fazer pra ela poder sair do domínio do marido. Ela não tem! Ela é obrigada às vezes a ficar apanhando ali, porque ela apanha e os filhos comem, [...] vai fazer o quê? Precisa muita coisa! (P8).

Retomando as discussões anteriores, e fazendo um “feedback” de tudo o que

foi falado até então, voltei a questionar: o que seria a Promoção de Saúde? De todas

as respostas a que mais chamou a atenção foi à fala de uma das participantes que

reforça a importância de uma rede estruturada, de recursos humanos e financeiros

que possibilitem sanar as necessidades da comunidade. Mesmo tendo um

entendimento de que Promoção da Saúde é interdisciplinar e advêm de vários

fatores, atribuem-na a outras pessoas e não aos usuários e a si mesma como parte

deste processo. É como se as condições para realizá-la só viessem de fora e não

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dependesse também de nosso entendimento e reivindicação para que se realize.

Não conseguem perceber os recursos de que já dispõem.

Conseguem perceber as faltas, mas não as relacionam com sua produção

social e de que envolvem os direitos que não sabemos ou buscamos. Assim,

sentem-se somente impotentes diante das faltas, como expressa a seguinte fala:

[...] Você ter o que oferecer não só quando você vai numa família. Que nem teve o caso da Cicrana. Que ali envolve tudo! [...] vamos falar da alimentação: como é que ela ia amamentar a criança se ela não tinha o que comer? Como é que ela ia ter uma boa higiene nela e na criança se ela não tinha nem um sabonete para tomar um banho, para dar um banho na criança? (P8).

Outro momento importante foi o debate onde as Agentes Comunitárias de

Saúde mencionam a dificuldade e a necessidade de se estabelecer parcerias, por

entender que a ESF não tem a “fórmula mágica” para resolver todos os problemas

condizentes à comunidade. Todas concordam que a teoria diz uma coisa, mas na

prática não funciona como deveria. Ou seja, que a intersetorialidade ainda é um nó

crítico quando o assunto é promoção. Ficou evidenciado a necessidade de se

discutir sobre essas deficiências e que esse momento deveria ser partilhado com a

comunidade. Não sob forma de palestras, consideradas ineficazes, mas sim de

forma problematizadora, estabelecendo prioridades e acionando os setores

envolvidos.

Outra questão levantada foi que a comunidade pouco responde ao chamado

para participar dos grupos. Qual o motivo? Desmotivação? Descrédito? Será que em

algum momento foi dada a oportunidade dos usuários manifestarem-se? Será que

suas reais necessidades estão sendo sanadas? Isso nos remeteu a pensar a forma

com que a comunidade vinha sendo vista e trabalhada pelos profissionais da ESF.

Será que não continuamos a olhá-la como um objeto a quem nós profissionais

devemos modelar porque está errada?

Outro foco do trabalho das ACS são os grupos. E quando se fala em grupos a

primeira coisa que veio à cabeça das ACS foi “palestra”. Mas, ao mesmo tempo,

existe uma consciência de que essa forma de trabalhar não surte efeito. Segundo foi

falado, às vezes, na opinião delas, é preciso lançar mão de alguns artifícios, mesmo

que de forma “impositiva” ou “punitiva” para que a comunidade entenda e colabore.

Chama a atenção nessa fala o caráter prescritivo do modelo biomédico enraizado no

fazer cotidiano das equipes. Ficou claro que ainda persiste a forma equivocada de

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se trabalhar com palestras, construídas a partir do interesse dos profissionais o que

não condiz com as necessidades da comunidade assistida, motivo pelo qual pode

ser que a adesão seja muito pequena e os grupos esvaziem-se com facilidade.

[...] Esta aí o problema, só que ninguém quer participar! É aí que a comunidade não participa (P8). [...] Ela não participa porque ela não vê resultados (P1). [...] eles estão cansados da gente só fazer palestra, palestra e não agir. Eles não estão vendo a gente [...] está faltando ajuda da secretaria, está faltando ajuda de todos para a gente plantar essa ação para população (P15).

A idéia que algumas pessoas possuem é de que primeiro se deve ensinar

para que o povo aja em conformidade com o que pensamos e isso deve se fazer a

qualquer preço, até mesmo oferecendo-lhe algum benefício como o bolsa-família ou

um medicamento que no final das contas é apenas seu direito. Essa Educação em

Saúde tem a ver com a que estamos criticando. Se ao final quisermos um usuário

crítico e emancipado, temos que admitir que o nosso poder sobre sua saúde pode

ser compartilhado. Ou seja, o saber popular pode ser considerado e em contraste

com o saber técnico pode gerar um novo saber. Para que isto aconteça é preciso

uma nova forma de educar, que considere o usuário como um sujeito pensante que

também pode e deve decidir sobre sua vida e saúde.

Os depoimentos a seguir ilustram esta maneira de conceber Educação em

Saúde:

[...] o que resolve mesmo, é aquele paciente [...] que é mais fácil. Aquele que é comprometido, aquele resolve. Agora tem paciente que você pode fazer 10 palestras da mesma coisa e não vai mudar (P8). [...] A gente tem que educar primeiro o paciente para depois deixar o povo falar, não é? (P1). [...] uma das maneiras que a gente faz para tentar educar o povo, [...] eu vou dar um exemplo: “Bolsa Família”. [...] para eles virem pesar, que é um dever dos pais trazerem os seus filhos [...] a gente acaba falando [...] vocês tem que pesar aquela criança porque se não vocês vão perder o benefício da “Bolsa Família”. Já para eles compreenderem que [...] “para eu não perder o meu beneficio eu preciso ir pesar o meu filho” (P5).

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Quando questionadas sobre em que situações encontram maior dificuldade

em fazer orientação, as respostam foram: medicação e vacinação do idoso.

A dificuldade quanto à medicação é referida a situações em que as pessoas

são analfabetas, o que dificulta a administração dos medicamentos, mesmo que

sejam separados em caixas ou pacotinhos coloridos. Também foram citados casos

de pessoas com problemas de visão, outros em que a medicação controlada ou de

uso contínuo é administrada só quando acham necessidade, sem falar nas que

dividem a medicação com familiares e amigos. Também foi discutido o uso abusivo e

indiscriminado da automedicação, o que chama a atenção para a cultura da

medicalização.

A dificuldade quanto à vacinação dos idosos, segundo eles mesmos, pode ser

pelo fato de causar reações adversas. Demonstram dificuldades de aceitação

quanto ao local para aplicação o que causa algum tipo de constrangimento e dificulta

a adesão durante as campanhas.

Os ACS referem dificuldade na argumentação para convencer a comunidade

a tomar a medicação nos horários prescritos, bem como “persuadir” os idosos a

tomar a vacina e fazê-los perder o medo de alguma complicação. Sendo assim,

novamente reivindicam capacitações que as tornem preparadas para a abordagem

das famílias nos diferentes ciclos de vida.

[...] a gente explica, mostra horário, pega receita, explica como é que faz, como é que não faz, eles teimam que o médico falou que é para fazer assim, ou que a vizinha faz assim. Ai você explica de novo que cada pessoa é uma pessoa, [...] cada pessoa reage de uma forma, [...] o que dá para aquela pessoa não dá para essa. Só que a gente nota muita dificuldade principalmente nos idosos. Aqueles que os filhos abandonaram [...]. Aí é bem complicado. A gente separa, pode separar todo o dia a medicação... Todo dia ele toma? Ele não toma! Ele toma do jeito que ele acha que tem que ser (P8). [...] A gente está no limite, no século 21, mas essas pessoas ainda têm a mente muito voltada às coisas antigas. Não tem aquele pensamento: “não agora as coisas estão evoluindo, as coisas estão melhores”. Por quê? Porque ficam atreladas somente em novelas, não assistem jornais, não se desenvolvem assim, na forma de pensar [...] (P11). [...] Nós não estamos preparadas para fazer prevenção, infelizmente é isso. Por que a gente é contratada e não oferecem um curso [...] (P15).

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A partir das discussões realizadas ao longo da segunda oficina, verificou-se a

necessidade de se refletir as práticas e planejar as ações de acordo com cada

realidade. Para tanto, esse planejamento deve ser amplamente discutido entre os

profissionais da ESF que prestam a assistência e a comunidade organizada, por

entender que discutir questões relativas à coletividade é exercer o controle social.

Isso já está de acordo com a nova visão da Promoção e Educação em Saúde, já que

trata as pessoas como sujeitos que participam das ações de saúde da comunidade.

Em conversa com a coordenadora da unidade, em virtude das festas de final

de ano, ficou definido a inviabilidade da continuidade das oficinas, uma vez que

havia uma programação de folgas na semana do Natal e na semana do Ano Novo, e

as equipes de Saúde da Família estariam se revezando no atendimento à

comunidade. Sendo assim, as duas últimas oficinas foram retomadas no mês de

janeiro de 2012, no período de férias da pesquisadora.

O terceiro encontro foi agendado para o dia 03 de janeiro de 2012 no mesmo

local e horário dos anteriores. Compareceram as ACS que haviam vindo

anteriormente. Ao analisar a fala das participantes em oficina anterior, ficou

evidenciada a dificuldade em ouvir, de fato, o outro. Tentei problematizar a prática

dos agentes comunitários de saúde em suas relações com a comunidade, na

tentativa de identificar suas dificuldades e potencialidades. Decidi iniciar os trabalhos

propondo a dinâmica do “telefone sem fio”. Após duas tentativas e muitas risadas o

grupo chegou à conclusão de que não ouvir direito o outro é uma falha de

comunicação grave, e alguns se perderam por não estarem prestando a atenção no

que deviam, o que ficou evidenciado na fala de uma das participantes.

[...] Não prestei a atenção na minha amiga. Eu fiquei escutando a conversa da outra querendo passar para ela (P1).

Após o fechamento da dinâmica foi distribuído aos participantes um texto

intitulado “as sete atitudes de um bom ouvinte” para ser lido em dupla. Nesse

momento alguns participantes demonstram alívio pela leitura não ser individual. Foi

solicitado para que as duplas lessem e discutissem o conteúdo, sublinhando aquilo

que fosse importante, procurando relacionar no que cada um se encaixa no texto,

levando em consideração suas dificuldades e potencialidades. Enquanto eram

dadas as orientações, algumas ACS estavam distraídas com seus celulares. Solicitei

para que mantivessem seus aparelhos desligados ou no vibra call para que não

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atrapalhassem as demais colegas. Após o tempo estipulado deu-se início ao debate.

Foram muito interessantes e surpreendentes as reflexões que surgiram em torno do

tema proposto. Cito aqui algumas delas:

[...] eu acho que é mais difícil ouvir porque geralmente a gente sempre quer dar a opinião da gente antes da pessoa falar realmente o que está acontecendo. Eu acho que já é um instinto de a gente querer falar e não ouvir (P8). [...] não tenho paciência de escutar, já saio fora! (P1).

[...] tenho momentos que eu não sou de muito falar [...] Eu prefiro mais ouvir. Porque no ouvir eu escuto e no ouvir eu aprendo. [...]. Também eu gosto de falar, mas depende da situação e da ocasião. Mas eu prefiro mais ouvir, é mais importante (P12). [...] Eu até escuto, só que o problema é a minha mente. [...]. A minha mente fica viajando. [...]. A gente escuta sim, mas a mente... (P5). [...] acho que a pessoa tem que prestar mais a atenção no conteúdo e não na pessoa que está falando. [...]. Primeiro eu ouço e depois eu dou minha resposta. [...] Nem sempre a gente concorda com a pessoa que está falando [...] (P6). [...] A qualidade de ouvir é importante [...]. Não somente saber ouvir, mas saber guardar o que a pessoa está falando [...] porque o falar é prata e o ouvir é ouro [...] quando nós ouvimos com atenção, com interesse, pretendendo ajudar aquela pessoa aí tornamo-nos bons ouvintes (P11). [...] o mais difícil é você não julgar a pessoa que está falando [...]. Como eu julgo primeiro se é coordenador, enfermeira ou o técnico [...] na situação de ouvinte é não julgar a pessoa que está falando (P9).

Como observamos nas falas dos ACS escutar pode ter diferentes conotações

para cada um e é um dos mais importantes fatores na relação com as pessoas que

contatam, como por exemplo, a ACS que julga as pessoas antes de ouvi-las: pelo

seu cargo, seus trajes, seu saber, etc.

Tomando por base o pressuposto que ensinar não é transmitir conhecimento

e sim criar espaços de discussão onde o mesmo possa ser compartilhado, isso só é

possível quando o “escutar” se torna mais importante do que o “falar”, como destaca

Freire:

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Escutar significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ou gesto do outro, às diferenças do outro [...] é escutando bem que me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das ideias. Como sujeito que se dá ao discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz sua posição com desenvoltura (FREIRE, 2000, p. 135).

Conforme o debate foi esquentando, surgiram exemplos de situações vividas,

por algumas das participantes, que traduzem o papel do Agente Comunitário de

Saúde. Exemplos em que a escuta foi essencial para o estabelecimento do vínculo e

de uma relação de confiança mútua, bem como algumas falas que refletem a

satisfação com o seu trabalho ao sentirem-se úteis na vida de alguém.

[...]. Eu tenho outra senhora, a primeira vez que eu fui à área aqui, eu fui lá embaixo, no final da rua [...] na casa 15 tinha uma senhora na porta, uma senhora bem de idade, 76 anos. E eu fui lá falar com ela [...] ela estava debruçada e eu cheguei até ela e disse: Bom dia senhora! Ela falou assim: “Bom dia! Ué, gente nova no pedaço”? Eu digo: É, eu estou no lugar da Beltrana. Aí ela pegou e falou assim: Quer entrar? Eu digo: Não senhora! Eu só vim lhe conhecer [...]. Aí ela pegou e falou assim: Entra! Sentamos na escada da casa dela, estava o tempo meio “chuviscoso”. A primeira pergunta que aquela mulher me fez foi a seguinte. Ela disse assim pra mim: Como é seu nome? Eu digo: O meu nome é “Fulana”. “Fulana” eu vou lhe fazer uma pergunta: Eu tenho 76 anos, eu estou no final da minha vida, eu quero perguntar para você o que é que a gente encontra do outro lado da vida, quando a gente morre? Eu disse: Misericórdia! Eu cá comigo, aqui dentro. Eu digo: Meu Deus! O que eu vou responder para ela? Eu digo: Olha dona Fulana é o seguinte [...] nesse momento eu não vou lhe responder. A senhora tem bíblia? Ela falou assim: tenho! Então a senhora vai pegar a sua bíblia, a senhora vai começar a ler a sua bíblia desde o primeiro capítulo de gênesis e daqui a 15 dias eu vou me preparar e vou vir lhe trazer esta resposta [...] porque, realmente, a senhora me pegou de surpresa! Quinze dias depois eu voltei. Eu fiquei lá na casa daquela mulher das 09h15min da manhã ao meio dia e meio, conversando com ela. Essa mulher chorava igual criança pequena. Hoje, eu tenho aquela senhora, meu Deus! Como minha avó! Foi uma pessoa assim que eu aprendi a amar, aprendi a gostar. E é uma pessoa totalmente carente! Eu, de verdade, eu gostaria que quando eu estivesse nessa situação, nessa idade, que alguém falasse, conversasse comigo, me desse uma atenção. Que Deus está me dando sabedoria para dar para esse povo, com certeza! Porque tem muita gente aí fora, nas nossas áreas... Tem pessoas chatas! Tem pessoas que dá vontade de você pegar e... Muitas coisas nós temos que engolir, mas tem pessoas que realmente precisam de uma palavra amiga, de um abraço, de um carinho, de um beijo. Vale muito mais do que uma consulta e um medicamento, é a atenção! (P12).

Neste exemplo fica bem clara a atenção com que a ACS dispensou à pessoa

e o fato de voltar, pela segunda vez consecutiva, no mesmo mês, demonstrou a

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atenção e importância que deu a conversa da senhora, fatores fundamentais na

escuta qualificada.

Durante os debates procurei me deter no papel de mediadora, o que exigiu

um esforço particular no sentido de não interferir nas “verdades” do grupo, uma vez

que essa foi minha primeira experiência com a metodologia problematizadora. O

exercício de mediação possibilita ao pesquisador-educador aprender enquanto

educa o que contribui para a elaboração de uma nova forma de ver o mundo e suas

infinitas possibilidades. De acordo com Andaló (2006) mediações são processos

facilitadores, que possibilitam ao indivíduo apreender o mundo que o cerca em seus

significados.

Na sequencia foi oferecido um lanche, enquanto eu preparava o retroprojetor

para dar sequência aos trabalhos.

Decorrido o intervalo, retomei a questão do “saber ouvir” trazendo para o

círculo algumas das falas dos participantes que foram gravadas e transcritas para

que fizessem um exercício de “ouvir o que foi falado”, como um instrumento de

releitura coletiva da realidade social onde se vive e se trabalha.

Através desse exercício foi possível resgatar nas falas: as concepções do

grupo sobre saúde/doença, que foi relacionada com fatores sociais; foi observado

que o conceito de Promoção confunde-se ainda ao de Prevenção; a percepção das

ACS sobre Educação Popular em Saúde ainda é entendida como palestra, “uma

receita de bolo”, algo que já se leva pronto; no bairro onde vivem e trabalham o

Controle Social não é efetivo e que a comunidade não está organizada e preparada

para exercê-lo; foi possível discutir que, apesar das ACS não se sentirem

valorizadas na sua função e que seu papel nem sempre é entendido pela

comunidade, muito tem sido feito, apesar de todas as dificuldades encontradas no

dia a dia; muitas situações puderam ser resolvidas ou amenizadas quando a escuta

foi qualificada e houve um maior comprometimento da equipe, inclusive para acionar

parcerias; quando a escuta é inadequada muito pouco ou quase nada é feito, não

trazendo nenhum benefício às famílias atendidas; a falta de comprometimento e de

preparo dos profissionais da ESF interfere na qualidade do atendimento prestado;

falta de planejamento das equipes para prestar um atendimento de melhor

qualidade; considerando que a assistência pressupõe uma ação educativa, faz-se

necessário a criação de ambientes favoráveis que possibilitem a reflexão, a

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ressignificação do cotidiano e a tentativa de construir novas práticas e

conhecimentos.

O último encontro ocorreu dia 11 de janeiro de 2012 quando iniciei os

trabalhos fazendo uma retomada de tudo o que foi discutido ao longo das três

primeiras oficinas. Foram relembrados os conceitos de Saúde, Promoção e

Educação Popular em Saúde. Ao final foram exibidos alguns slides com um

agrupamento de figuras mostrando a diversidade cultural do povo brasileiro, fazendo

menção às crenças, às origens, às práticas esportivas, o cuidado com a natureza e

com o planeta, as festas típicas de cada região, o incentivo à alimentação saudável

e as diferenças raciais. Nesse momento houve algumas intervenções por parte dos

participantes, pois alguns desconheciam algumas das festas típicas que foram

mostradas, como o Festival de Parintins na Amazônia, onde o Boi Garantido e o Boi

Caprichoso foram confundidos com o Bumba meu Boi. Tão logo se encerraram as

discussões solicitei para que o grande grupo se dividisse em dois pequenos grupos

e com o auxílio de revistas cada grupo recortasse figuras e procurasse montar um

conceito do que ficou entendido como Promoção e Educação Popular em Saúde.

Para tanto solicitei que cada grupo elegesse uma ou duas relatoras para explanar

sobre o tema proposto. Para a respectiva dinâmica foi determinado 30 minutos para

a execução. A referida dinâmica transcorreu num clima descontraído, todas

buscavam figuras relativas ao tema proposto, faziam sugestões para as colegas e

trocavam entre si as revistas e demais materiais ofertados. A pesquisadora esteve

sempre presente em ambos os grupos, acompanhando de perto o trabalho de

construção dos cartazes e as discussões de cada grupo. Depois de decorrido o

tempo estipulado deu-se início a apresentação dos grupos.

No momento da apresentação houve certo nervosismo por parte das

relatoras, o que foi logo superado com o apoio e o incentivo da pesquisadora e o

restante do grupo. Trago aqui algumas falas que considero importantes:

Grupo 1: [...] promoção seria: ter saúde, amor, dinheiro, harmonia em casa, equilíbrio emocional, trabalho coletivo, esporte, moradia, alimentação, lazer, religião, lutar por melhorias na assistência à saúde (em busca de soluções) e a comunidade unida (a luta é do povo). [...] segundo o que discutimos no grupo sobre educação popular o que chegou mais próximo do nosso entendimento seria [...] Saber que pode fazer a

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diferença, cada um com as suas ideias, seus limites. Religião, felicidade, cultura, isso faz parte da Educação Popular em Saúde (P9).

Figura 3 - Grupo 1 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em Saúde” Fonte: A autora (2012) Grupo 2: [...] a Promoção em Saúde ela não é só médico, remédio e consulta. Precisa ter alguma coisa a mais. Como é que a pessoa vai melhorar, vai ter saúde se ela tem uma condição financeira “zero”, se ela não tem uma boa alimentação, se ela não tem condições de praticar um exercício, seja porque só tem academia paga. Agora a gente tem aqui (se referindo à Academia Popular). Tem outros lugares que não tem. [...] a pessoa sem lazer também não tem saúde. Tudo isso que está aqui engloba Promoção à Saúde: o lazer, uma boa casa que propicie boas condições para ela viver. Aqui, tem uma mulher com uma criança pedindo esmola. Não adianta você tirar uma pessoa dessas daqui da rua e trazer na Unidade pra consultar, dar um remédio, dar uma receita e ela voltar para a mesma situação. Amanhã ela vai estar com o mesmo problema (P8). [...] Ela precisa ter toda uma estrutura voltada para ela! [...] Acesso também ao transporte, ao trabalho [...] Aqui eu tenho um autoexame de mama, que sempre está na mídia. Isso aqui é uma Promoção à Saúde também. O acesso a preservativo é

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uma Promoção à Saúde. A gente escreveu aqui que também Promoção à Saúde quer dizer acesso ao atendimento, consultas, exames, escuta e resolutividade (P8).

Figura 4 - Grupo 2 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em Saúde” Fonte: A autora (2012)

Após a apresentação dos grupos (Figuras 3 e 4) foi feito um breve intervalo

para um café. Na sequencia foi solicitado para os presentes que sugerissem

propostas de ações voltadas à Promoção tendo como eixo estruturante a Educação

Popular em Saúde. Foram elencados os seguintes temas: gravidez na adolescência,

saúde do homem, violência contra a mulher, criação de um Conselho Local de

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Saúde, a necessidade de otimizar o espaço das escolas municipais oferecendo

cursos técnicos à noite para a comunidade, escola aberta nos finais de semana para

oferecer cursos e atividades esportivas aos jovens, estabelecer parcerias com os

setores públicos e privados que viabilizassem o desenvolvimento de todas essas

atividades.

Uma grande dificuldade que as ACS referem diz respeito ao espaço físico

para a realização de atividades com a comunidade, fora da unidade básica. Embora

se tenha a Igreja ao lado da unidade, seu salão é reservado para atividades de

artesanato e aulas de eucaristia o que reduz a disponibilidade de dias e horários. O

mesmo ocorre com o Centro de Múltiplo Uso, que atende a população idosa. Como

são quatro equipes e todas necessitam desses espaços os momentos para

desenvolver tais atividades acabam sendo insuficientes. O espaço das escolas e

creches é de melhor acesso, já que as atividades são realizadas em horários de

funcionamento das mesmas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ESF é uma proposta voltada para o desenvolvimento local uma vez que

prioriza as capacidades endógenas da população, incentiva a participação popular,

facilita o acesso ao conhecimento, auxilia na mobilização e no fortalecimento da

comunidade em prol da melhoria de sua qualidade de vida.

Dentro deste contexto, o ACS pode ser uma peça chave que auxilia a

comunidade a se organizar e a tomar para si a responsabilidade pelo seu

desenvolvimento. No entanto, para que isso ocorra depende de como os ACS se

apropriam de sua identidade, da forma como ocorre a prática na realidade, bem

como a forma com que foram capacitados.

O presente trabalho, através da Metodologia Problematizadora de Paulo

Freire buscou discutir e refletir as concepções e práticas de Promoção da Saúde

desenvolvidas pelos ACS e sua ligação com a Educação Popular em Saúde.

Durante as oficinas o debate em torno do tema proposto foi muito interessante

e recheado de exemplos oriundos de experiências vivenciadas no cotidiano do

trabalho das ACS. Entretanto, os resultados ora apresentados não pretendem ser

exaustivos e tem como objetivo principal estimular debates semelhantes por parte

daqueles que venham a utilizar a referida metodologia.

Percebi que as ACS se sentiram acolhidas na primeira oficina, onde o

entrosamento foi excelente possibilitando a inclusão de todas no grupo, que

permaneceu coeso até o final dos trabalhos. Considero este um aspecto

fundamental ao se trabalhar em educação, ou seja, o sujeito com quem me relaciono

deve sentir-se confiante e incluído no que vou propor para que efetivamente aja

como sujeito capaz de tornar-se melhor.

Foi possível observar nas falas conflitos, contradições, despreparo e

desconhecimento quando o assunto é Promoção e Educação Popular em Saúde.

Promoção que segue sendo confundida com a Prevenção ou mesmo com a

concepção de saúde/doença. Ao final, embora tenha sido discutido o conceito de

Promoção, não ficou muito claro para alguns participantes que a Promoção da

Saúde não concerne exclusivamente ao setor sanitário, que saúde é um direito a ser

conquistado e não se dá de igual forma para todos, dependo do estrato que

pertencem.

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A definição de Promoção da Saúde expressa na Carta de Ottawa (BRASIL,

2002a) chama atenção para o almejado protagonismo das pessoas e a necessidade

de que desenvolvam a habilidade e o poder de atuar em benefício da própria

qualidade de vida, enquanto sujeitos e/ou comunidades ativas. Ou seja, ela exige

que profissionais e comunidade se tornem protagonistas de um processo de

mudança que visa o bem comum. Para tanto, as ações sobre a determinação da

saúde demandam uma composição inter e intra-setorial, de forma a ampliar a

consciência sanitária. Sendo assim, há de se mudar drasticamente os padrões

econômicos no interior da sociedade e intensificar as políticas sociais para que haja

um impacto positivo na qualidade de vida das pessoas. Promoção tem a ver com a

atitude em todo o cuidado de saúde, com toda a assistência desde a forma como

acolho este usuário até a sua passagem por outros serviços de saúde e finalmente a

resolução de seu problema de forma efetiva e o mais rápido possível. Em suas

práticas as ACS demonstram a importância que dão ao acolhimento do usuário.

Porém suas práticas de escuta precisam ser repensadas.

Pude observar que o conceito de Educação Popular foi ainda mais difícil de

discutir, uma vez que a Educação Popular em Saúde é ainda entendida e

confundida com palestras prontas, sem nenhum enfoque crítico que permita a

reflexão sobre o conteúdo a ser falado. O modelo de educação bancária ainda

persiste, perpetuando a alienação nos modos de entender e fazer saúde, servindo

como um instrumento de dominação da população por sua característica autoritária

e coercitiva, o que foi verificado nas falas de algumas ACS. Isto se torna mais forte

na medida que observamos que são os próprios profissionais de saúde que

mantêem e acreditam em tais práticas. Em contraponto a Educação Popular tem

como mote formar sujeitos com conhecimento e consciência cidadã e organizar o

trabalho político para a afirmação do sujeito. “A conscientização é uma das

fundamentais tarefas de uma educação realmente libertadora e por isso respeitadora

do homem como pessoa” (FREIRE; NOGUEIRA, 2002, p. 45).

Desta discussão surgiu a reflexão acerca das propostas educativas realizadas

pela ESF, onde muitas têm ficado no âmbito das intenções, sem que de fato haja um

impacto positivo na vida das pessoas. Por outro lado, quando colocadas em prática,

são desenvolvidas de modo intuitivo sem a preocupação de criar espaços para o

diálogo com os atores envolvidos, desmerecendo-os como sujeitos de sua própria

história. Há ainda muita confusão entre o modelo de saúde tradicional e o modelo

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atual, o que ficou evidenciado na conduta prescritiva dos profissionais de saúde

durante as dramatizações. A consequente especialização desnecessária foi

verificada nos debates que seguiram as dramatizações, quando alguns participantes

do grupo sugerem a existência de especialistas na área de Saúde Mental para o

atendimento da população nas Unidades Básicas de Saúde.

Uma das dificuldades encontradas é a questão da medicalização e a

consequente culpabilização da vítima. São consequências autoritárias do modelo

biomédico que se chocam com uma Educação em Saúde e a Promoção da Saúde

emancipatórias. Outro ponto fraco encontrado é o trabalho em equipe que se

encontra fragilizado pela falta de estímulo/compromisso de seus integrantes. É

importante que a equipe esteja disposta a compartilhar objetivos, decisões,

responsabilidades e resultados. É preciso ter clareza dos objetivos, discutir um plano

de trabalho em que todos possam estar incluídos, aprimorar as relações

interpessoais e a escuta. Não menos importante seria o responsabilizar-se

democrática e solidariamente pelos resultados, quer sejam positivos ou negativos.

No entanto, o que ficou evidenciado nas dramatizações e nas falas das ACS foi a

falta de uma programação durante as visitas domiciliares.

Como potencialidades verificaram-se: a possibilidade de se trabalhar com os

adolescentes, buscando alternativas para que tenham uma ocupação; a escuta das

ACS que apesar de não se apropriarem dela, ainda sim existe e deve ser

trabalhada. Ao final aponto que a reflexão ou os fez perceber ou os fez confirmar de

que a situação social interfere na saúde-doença.

Aplicar o método da problematização proposto por Freire pode oferecer um

caminho diferente de educar, pois considera o outro no seu fazer e pensar e tem

relação com a Educação permanente proposta pelo Ministério da Saúde. A proposta

de Freire tem a ver com nossa própria vivência: a de profissionais que durante toda

a sua vida estão e estiveram expostos a uma atitude autoritária e não

experimentaram a participação. Foi complicado separar as etapas propostas por

Freire, ainda que na discussão. Na prática as etapas, principalmente a codificação e

decodificação se interpenetravam de tal maneira que ficaria difícil descrevê-las em

separado. Assim é que em vários momentos da prática proposta me encontrei com

meus próprios fantasmas autoritários e tive que reaprender outra forma de me

colocar frente aos ACS.

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Quando questionados quanto à prática em Promoção e Educação surgiram os

seguintes temas geradores: relação com o usuário, o trabalho do ACS não é

valorizado, o ACS tem uma escuta, mas não a reconhece, a medicalização, a

culpabilização da vítima, falta de um trabalho em equipe, os ACS não são ouvidos

pela equipe. Como codificação, vimos que não é possível fazer promoção nas atuais

práticas de saúde, a relação de controle com o usuário e a escuta que se evidencia

de formas diferentes entre os ACS. Quanto às decodificações foi possível fazê-las

no momento em que problematizei as práticas e concepções das participantes,

outras, quando como pesquisadora, tomei contato com o que as ACS trouxeram,

como: práticas muito medicalizadas que denotam uma saúde somente ligada ao

biológico; trabalho não é em equipe, pouca valorização dos espaços de troca, pouca

valorização do ouvir (ouvir relacionado a não julgar, não falar tanto deixando o outro

se colocar, valorizar o que o outro traz e deixá-lo falar mais). Nos desvelamentos

pude perceber que para os ACS saúde tem a ver com o modo de andar a vida, que

eles possuem uma escuta, mas que é preciso valorizar e qualificar mais o que já

fazem e por fim, trouxeram ideias de como trabalhar Promoção e Educação para

além da área da saúde. O próprio fato de possibilitar aos ACS se expressarem,

trocar opiniões, ter alguém que escutasse suas falas, pode ter valorizado suas

práticas. Sugere-se que o estudo seja ampliado para as demais equipes de Saúde

da Família, contribuindo para ações mais eficazes no planejamento e

desenvolvimento de atividades para melhoria do serviço, respeitando as

características individuais de cada realidade social e principalmente proporcionando

aos trabalhadores a oportunidade de experimentarem uma metodologia participativa.

Assim como um estudo que possibilite criar uma tecnologia a partir dessa prática.

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TESSER, Charles Dalcanale. Medicalização social (I): o excessivo sucesso do epistemicídio moderno na saúde. Interface (Botucatu) [online]. v. 10, n. 19, p. 61-76, 2006. ISSN 1414-3283. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832006000100005>. Acesso em: 2 maio 2012. VALLA, V. V.; STOTZ, E. N. Apresentação. In: VALLA, V. V.; STOTZ, E. N. (Orgs.). Participação popular, educação e saúde: teoria e prática. Rio de Janeiro: Relume- Dumará, 1993. p. 7-8. VASCONCELOS, E. M. Educação popular nos serviços de saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. ______. Educação popular e a atenção à saúde da família. São Paulo: HUCITEC, 1999. ______. Redefinindo as práticas de saúde a partir da educação popular nos serviços de saúde. In: ______ (Org.). A saúde nas palavras e nos gestos: reflexões da rede de educação popular e saúde. São Paulo: HUCITEC, 2001. p. 11-19. ______. O poder que brota da dor e da opressão: empowerment, sua história, teorias e estratégias. São Paulo: Paulus, 2003. VIEIRA, E.; VOLQUIND, L. Oficinas de ensino: O quê? Por quê? Como? 4. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2002. WENDHAUSEN, A, L. P. O duplo sentido do controle social: (des) caminhos da participação em saúde. Itajaí: Univali, 2002. ______; SAUPE, R. Concepções de educação em saúde e a estratégia de saúde da família. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 17-25, 2003. ISSN 01040707. ______; ______. Interdisciplinaridade e saúde. Itajaí: Univali, 2007. WESTPHAL, M. F. Promoção da saúde e prevenção de doenças. In: CAMPOS, G. M. S.; MINAYO, M. C. S.; AKERMAN, M.; DRUMOND, JR. M.; CARVALHO, Y. M. de (Orgs.). O tratado de saúde coletiva. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec-Fiocruz, 2006. p. 635-67.

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WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Bangkok Charter for Health Promotion. Thailand, 2005. ______. ______. 7 th Global Conference on Health Promotion. Nairobi, Kenya, 2010.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

BRANDÃO, C. R. Lutar com a palavra: escritos sobre o trabalho do educador. Rio de Janeiro: Graal, 1982.

CARVALHO, A. I. Da saúde pública às políticas saudáveis: saúde e cidadania na pós-modernidade. Ciência e Saúde Coletiva, v. 1, n. 1, p. 104-121, 1996.

CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendência. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

FERRAZ, S. T. Bases conceituais de promoção da saúde. Brasília, DF: OPS, 1993. (mimeo).

MINAYO, M. C. S. A saúde em estado de choque. Rio de Janeiro: FASE, 1992.

OLIVEIRA, R. D. Reengenharia do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

SCLIAR, M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Rev.Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007.

VASCONCELOS, E. M. Educação popular e a atenção à saúde da família. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo para participar em um trabalho acadêmico intitulado “PROMOÇÃO

DA SAÚDE: Problematizando a prática do Agente Comunitário de Saúde”. Este tem por

objetivo discutir e refletir as concepções e práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas

pelos ACS, da UBS do Rio Bonito, e sua ligação com a Educação Popular em Saúde, com

vistas à elaboração de propostas de ações para a comunidade assistida.

Para isto, serão realizados cinco encontros com os ACS que aceitarem participar da

pesquisa, utilizando a metodologia problematizadora de Paulo Freire. Os dados obtidos

serão sigilosos, assegurando o anonimato dos participantes e utilizados somente para os

devidos fins da pesquisa.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:

a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido o seu anonimato.

b) Os resultados deste trabalho serão utilizados somente com finalidade acadêmica,

podendo ser divulgado em publicações científicas.

c) A aceitação não implica que estará obrigado(a) a participar, podendo interromper sua

participação em qualquer momento mesmo que já tenha iniciado, bastando, para tanto,

comunicar aos responsáveis pela pesquisa.

d) Você não terá direito à remuneração pela sua participação, ela é voluntária.

e) Este trabalho é de cunho acadêmico e não visa intervenção imediata.

f) Será realizada a devolutiva dos resultados em uma data marcada na instituição para a

discussão dos achados nesta pesquisa.

g) Durante a participação, se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético, você poderá

contatar o responsável por este trabalho.

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APÊNDICE B - Consentimento de Participação do Sujeito

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu, ______________________________________________,RG_________________CPF

___________________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como

sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela

envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação.

Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento.

Local e data: __________________________________________________

Nome: _______________________________________________________

Assinatura do Sujeito ou Responsável:

_____________________________________________________________

Telefone para contato:___________________________________________

Pesquisador Responsável: Profa. Dra. Águeda Wendhausen E-mail: [email protected] Telefone (s): 47 3341 7932 Assinatura: _______________________________________ Acadêmico: Silvana Corrêa de Barros Lampert E-mail: [email protected] Telefone (s): 47 9650 5150 Assinatura:________________________________________

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ANEXOS

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ANEXO A – Atribuições do Comitê Gestor da PMPS

Atribuições do Comitê Gestor da Política Nacional de Promoção da Saúde:

• Consolidar a proposta da PNPS e de sua Agenda Nacional.

• Coordenar a implantação da PNPS e articulação com demais setores

governamentais e não-governamentais.

• Incentivar Estados e Municípios para elaborar Planos de PS; articular e

integrar ações de PS no SUS.

• Monitorar e avaliar as estratégias de implementação da PNPS e seu

impacto.

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ANEXO B - Objetivos e Estratégias da Agenda Nacional

OBJETIVO 1

Estimular e contribuir na elaboração de políticas, estratégias e ações

integradas e intersetoriais que ampliem o acesso aos modos de viver mais

favoráveis à saúde e à qualidade de vida e fortaleçam as ações de prevenção e

controle de doenças e agravos não transmissíveis (DANT) e transmissíveis (DT).

ESTRATÉGIA 1 Implantação das recomendações da Estratégia Global de Alimentação Saudável e Atividade Física no país.

ESTRATÉGIA 2 Estimular a alimentação saudável na perspectiva da segurança alimentar e nutricional contribuindo com as Metas do Milênio para garantir o direito humano à alimentação adequada e com a implementação da Estratégia Global.

ESTRATÉGIA 3 Estimular a prática de atividade física e de lazer em consonância com a implementação da Estratégia Global.

ESTRATÉGIA 4 Controlar e reduzir o consumo do tabaco, álcool e outras drogas. ESTRATÉGIA 5 Reduzir a carga de morbimortalidade decorrente dos agravos por

causas externas – acidentes de trânsito e violências. ESTRATÉGIA 6 Ampliar e fortalecer as ações de prevenção e controle das

doenças de notificação compulsória e outras de interesse de saúde pública, conforme o perfil epidemiológico loco-regional.

OBJETIVO 2

Definir mecanismos e instrumentos para o monitoramento, acompanhamento

e avaliação das estratégias de promoção da saúde e a vigilância de doenças e

agravos não transmissíveis (DANT) no Brasil.

ESTRATÉGIA 1 Fomentar e realizar ações de monitoramento, acompanhamento e avaliação das estratégias de promoção da saúde e a vigilância da DANT.

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OBJETIVO 3

Fomentar e desenvolver estudos e pesquisas para a produção de

conhecimentos, evidências e práticas no campo da promoção da saúde e doenças e

agravos não transmissíveis.

ESTRATÉGIA 1 Contribuir para a produção de conhecimentos, evidências e práticas na área de promoção da saúde e doenças e agravos não transmissíveis (DANT).

OBJETIVO 4

Sensibilizar e qualificar gestores, profissionais e usuários de saúde quanto à

promoção da saúde, vigilância e prevenção de DANT.

ESTRATÉGIA 1 Promover a educação permanente em saúde quanto à promoção da saúde, vigilância e prevenção de DANT.

ESTRATÉGIA 2 Estimular e implantar práticas de co-gestão dos processos de trabalho em saúde, qualificando gestores, profissionais e usuários do SUS para o trabalho intersetorial e interdisciplinar no cotidiano da gestão, da atenção e do controle social dos serviços.

OBJETIVO 5

Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de entornos e

ambientes mais seguros e saudáveis.

ESTRATÉGIA 1 Fortalecer a área de vigilância ambiental em saúde no SUS. ESTRATÉGIA 2 Implementar projetos nas esferas federal, estadual e municipal

que visem à criação de entornos e ambientes saudáveis.

OBJETIVO 6

Superar a fragmentação das ações e aumentar a efetividade e eficiência das

políticas específicas do setor sanitário mediante o fortalecimento da promoção da

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saúde como eixo integrador/articulador das agendas dos serviços de saúde e a

formulação de políticas públicas saudáveis.

ESTRATÉGIA 1 Estimular e constituir espaços de planejamento e tomada de decisão colegiada (intra e intersetorial) visando à formulação de políticas públicas saudáveis.

ESTRATÉGIA 2 Sensibilizar e pactuar estratégias de promoção da saúde nas várias instâncias do SUS.

ESTRATÉGIA 3 Ampliar a relação dos serviços de saúde com os territórios em que se localizam e os demais equipamentos públicos nele existentes.

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APÊNDICE C – Normas da Revista Trabalho, Educação e Saúde Pública para preparo de manuscritos

Trabalho, Educação e Saúde publica contribuições originais com o intuito de desenvolver o estudo sobre temas relacionados à educação profissional em saúde. A política editorial da revista consiste em discutir esta área sob a ótica da organização do mundo do trabalho, de uma perspectiva crítica, sistemática e interdisciplinar. Antes de fazer a submissão de um manuscrito, recomenda-se a leitura e o atendimento das normas para publicação.

A revista aceita contribuições inéditas dos seguintes tipos:

Ensaios - Produção textual de amplo alcance teórico-analítico, não conclusivo e não exaustivo. Tamanho: 6.000 a 10.000 palavras, incluindo referências bibliográficas, figuras e notas.

Artigos - Apresentação de resultado de pesquisa de natureza empírica ou conceitual em consonância com a linha editorial da revista. Tamanho: 4.000 a 8.000 palavras, incluindo referências bibliográficas, figuras e notas.

Debates - Discussão sobre temas específicos, tanto encomendados pelos editores a dois ou mais autores, quanto advindos de colaboradores. Tamanho: até 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas, figuras e notas.

Relatos - Descrição de experiências que apresentem inovações relativas aos campos temáticos da revista. Tamanho: 3.000 a 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas e figuras.

Entrevistas - Opinião ou posição de entrevistado qualificado nas áreas de conhecimento da revista.

Resenhas - Crítica de livro relacionado aos campos de confluência da revista, publicado ou traduzido nos últimos três anos. Tamanho: até 1.500 palavras.

Apresentação do manuscrito

Colaborações devem ser digitadas no Word, na fonte Times New Roman, em corpo 12, em espaço duplo, e enviadas para o endereço da revista, em duas cópias impressas numeradas e uma cópia em CD ou DVD. O manuscrito deve ser enviado com uma folha de rosto, onde constarão as seguintes informações: título com até 100 caracteres, incluindo espaços; nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso; endereço para correspondência e telefones do primeiro autor; nota biográfica com dados profissionais (cargo, filiação institucional, titulação, cidade e país) e e-mail do(s) autor(es). Artigos, ensaios, debates e relatos devem

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ainda conter um resumo em português e em inglês (abstract) de, no máximo, 200 palavras, e título em inglês, além do título na língua original. Os manuscritos podem ser apresentados em português, espanhol, inglês e francês. O título deve ser conciso e representativo do conteúdo do texto. O(s) autor(es) deve(m) indicar se a pesquisa é financiada, se é resultado de dissertação de mestrado ou tese de doutorado, se foi aprovada por Comitê de Ética da área e se há conflitos de interesse. Em texto com dois ou mais autores, logo após as notas de fim, devem vir especificadas, de forma sucinta, as responsabilidades de cada autor na preparação do manuscrito.

Palavras-chave - Mínimo de três e máximo de cinco palavras-chave descritoras do conteúdo do trabalho, apresentadas na língua original e em inglês (keywords).

Figuras - Tabelas, quadros, diagramas, fotografias, gráficos e ilustrações devem ser apresentados em arquivos separados, com instruções sobre o local em que devem aparecer no texto. As referências devem ser feitas através de números (ex. Gráfico 3) e não por expressões como “a figura abaixo”. O número de figuras não deve ultrapassar o máximo de seis por artigo, salvo exceções específicas ao campo temático do manuscrito, caso em que o autor deverá manter uma comunicação prévia com os editores. Todas as figuras, com exceção de fotografias, devem ser numeradas e ter título, estando apenas as iniciais do título em maiúsculas.

Notas - As notas devem vir ao fim do texto, sucintas e numeradas de forma consecutiva. Não devem ser utilizadas para referências bibliográficas.

Grifos - Solicita-se a não utilização de sublinhados e negritos. As aspas simples podem ser usadas para chamar a atenção para um item particular do texto. Palavras de outras línguas, que não o português, devem ser italicizadas, assim como títulos de obras mencionadas.

Citações - Citação no corpo do texto deve vir marcada com aspas duplas, com sobrenome do autor, ano e página, como no exemplo (Bourdieu, 1983, p. 126); citação com autor incluído no texto deve vir Gramsci (1982); citação com autor não incluído no texto será (Frigotto e Ciavatta, 2001). No caso de citação com mais de três autores, somente o sobrenome do primeiro deverá aparecer no texto, como em Spink et al. (2001). Se a citação exceder três linhas, deverá vir com recuo à esquerda equivalente a um parágrafo, em corpo 11.

Referências - Para elaboração das referências, Trabalho, Educação e Saúde adota a norma NBR 6023, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Todas as referências citadas, inclusive nas notas, nos quadros e nas figuras, deverão compor as referências bibliográficas ao fim do texto, em ordem alfabética, sem numeração de entrada, e um espaço entre elas. Nas referências serão citados, no máximo, até três autores com todos os nomes. No caso de mais de três autores, citar apenas o

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primeiro, seguido da expressão et al. Diferentes títulos de um mesmo autor, publicados no mesmo ano, deverão ser distinguidos, adicionando-se uma letra em minúscula após a data (ex. 2010a, 2010b), tanto nas citações no corpo do texto quanto na lista de referências bibliográficas. Observem-se os exemplos a seguir:

Artigo AROUCA, Antônio Sergio. Quanto vale a saúde dos trabalhadores. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 243-265, dez. 1995-mar. 1996. SPINK, Mary J. P. et al. A construção da Aids-notícia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 851-862, 2001.

Livro e tese GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. MENDES-GONÇALVES, Ricardo Bruno. Medicina e história: raízes sociais do trabalho do médico. Dissertação (Mestrado) - São Paulo, Faculdade de Medicina, USP, 1979.

Capítulo de livro BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo:Ática, 1983. p. 122-155.

Resumo de congressos LAURELL, Asa Cristina. O Estado e a garantia do direito à saúde. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 8., 2006, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Abrasco, 2006. 1 CD-ROM.

Dados fornecidos por agências governamentais (Secretarias, Ministérios, IBGE etc.) RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ). Dados sobre acidentes ocupacionais com material biológico. Rio de Janeiro: Programa de DST-Aids/Coordenação de Doenças Transmissíveis/Superintendência de Saúde Coletiva - SMS-RJ, 2000.

Leis, decretos, portarias etc. BRASIL. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção I, p. 27.839.

Relatórios técnicos BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Referencial curricular para curso técnico de agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 64 p. (Série A. Normas e manuais técnicos)

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Relatórios de atividades ou finais de reuniões BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório final das atividades. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 1999.

Jornal a. Sem indicação de autoria: O GLOBO. Fórum de debates discute o projeto Educando o Cidadão do Futuro. O Globo, Rio de Janeiro, 6 jul. 2001. Caderno 1, p. 18. b. Com autoria: TOURAINE, Alan. Uma resistência possível. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 jul. 2001. Mais, Caderno 7, p. 18-20.

Internet a. Texto em periódico eletrônico: SANTOS, Milton. Entrevista por José C. Leite. São Paulo, 1999. Teoria e Debate, 40. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2001. b. Texto em jornal eletrônico: NAHMIAS, Michèle. Dans le pays en développement, l’évaluation des risques laisse à désirer. Le Monde, Paris, 2 jul. 2002. Disponível em: http://www.lemonde.fr/recherche - resultts/1.9687,0.html. Acesso em: 21 jul. 2002. c. Texto disponível (fora de revista ou jornal): BRASIL. Ministério da Educação. Educação profissional: referenciais curriculares nacionais da educação profissional de ensino técnico - área Saúde, 2000. Disponível em: . Acesso em: 4 mar. 2002.

CD-ROM BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de informação sobre mortalidade - 1979 a 1996. Brasília, 1997. 1 CD-ROM.

Revisão A revista se reserva o direito de sugerir alterações em usos informais da língua e de corrigir variantes não padrão do português. Avaliação As contribuições encaminhadas à revista são, primeiramente, avaliadas pelos editores, que julgam a adequação temática do texto à linha editorial da publicação e, posteriormente, por até três pareceristas ad hoc. Nomes dos autores e avaliadores de cada original são de conhecimento exclusivo dos editores. Os originais apresentados à Trabalho, Educação e Saúde não devem ter sido publicados e não devem ser submetidos simultaneamente a outra revista. Originais submetidos à revista não devem, sob hipótese alguma, ser retirados depois de iniciado o processo de avaliação. Direitos autorais Exceto nos casos em que está indicado o contrário, ficam concedidos à revista os direitos autorais referentes aos trabalhos publicados, que não podem ser reproduzidos, sem a autorização expressa dos editores, em forma idêntica, resumida ou modificada, em português ou qualquer outro idioma. Os colaboradores manterão o direito de reutilizar o material publicado em futuras coletâneas de sua obra sem o pagamento de taxas à revista. A permissão para reedição ou tradução por terceiros do material publicado não será feita sem o consentimento do autor. A revista não se

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obriga a devolver os originais das colaborações enviadas. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores e dos membros do Conselho Editorial da revista. Benefício dos autores Após a publicação, os autores recebem dois exemplares do número da revista no qual o texto foi publicado. Endereço para envio Os manuscritos devem ser enviados para os editores da revista: Revista Trabalho, Educação e Saúde Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz Avenida Brasil, 4.365 – Manguinhos CEP 21040-360 – Rio de Janeiro – RJ - Brasil

Para maiores informações, consultar os editores: [email protected]