popcom #04
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Ano 1 | Número 4 | Novembro de 2012
Tiago Loureiro
Diogo Pascoal
Francisco Ancede
Joana Martins Rodrigues
Lúcia Santos
Luís Pedro Mateus
Rafael Borges
Edward Howard
Miguel Pires da Silva
Pedro Mota Soares
Rui Albuquerque
O não está de acordo com
o novo acordo. Por isso, é escrito
segundo a antiga ortografia.
Lg. Adelino Amaro da Costa, nº 5
1149-063 Lisboa
goncalobegonha.org
popcom.blogs.sapo.pt
2 sumário
Anagnórise Francisco Ancêde
Os caminhos da demografia em Portugal Lúcia Santos
Editorial Tiago Loureiro
Uma vitória suad e um país de sangue e lágrimas Rafael Borges
Liberais e Conservadores Rui Albuquerque
Pedro Mota Soares: “O rumo dos últimos anos hipotecou as gerações futuras. Cabe-nos agora o trabalho de resgatar esse mesmo futuro.”
Palavra de Presidente Miguel Pires da Silva
Einigkeit und Recht und Freiheit Rafael Borges
As eleições americanas e o futuro do GOP Edward Howard
O poder da fé
Luís Pedro Mateus
Liberdade e qualidade
ecentemente o Tribunal de Contas emitiu
um relatório há muito esperado sobre o
custo médio por aluno no sistema público
de educação. Ou seja, quanto custa aos
contribuintes cada aluno da escola pública. A
conclusão, apesar de previsível, é imoral: o estado
paga por aluno no sistema público um valor em
linha com as propinas pagas nos melhores colégios
privados. E porque é que é imoral? Porque apesar
de os contribuintes financiarem este valor, não têm
a possibilidade de escolher como o gastam.
Voltando um pouco mais ao início da questão,
importa lembrar que a maior parte dos casos
educativos de sucesso em todo o mundo obedecem
a sistemas de ensino com ampla liberdade de
escolha e autonomia das escolas. Mais: a maior
parte dos relatórios de autoridades na matéria,
aponta a liberdade como um factos de optimização
de qualquer sistema de ensino.
Então, porque não dotar as nossas escolas públicas
de uma gestão privada - mais próxima das
comunidades e mais inteiradas dos seus
problemas e necessidades - e da possibilidade de
desenharem os seus próprios curricula? E porque
não distribuir o bolo do dinheiro gasto no sistema
pelos alunos, dando-lhes a possibilidade de
escolher em que escola o gastar, de forma que
entenda a mais adequada
R
Tiago Loureiro
editorial 3
Longe de ser uma arma de
destruição da escola pública,
a Liberdade seria a fórmula
para fazer o sistema
público funcionar
a sistemas de ensino com ampla liberdade de
escolha e autonomia das escolas. Mais: a maior
parte dos relatórios de autoridades na matéria,
aponta a liberdade como um factos de optimização
de qualquer sistema de ensino.
Então, porque não dotar as nossas escolas públicas
de uma gestão privada - mais próxima das
comunidades e mais inteiradas dos seus problemas
e necessidades - e da possibilidade de desenharem
os seus próprios curricula? E porque não distribuir
o bolo do dinheiro gasto no sistema pelos alunos,
dando-lhes a possibilidade de escolher em que
Então, porque não dotar as nossas escolas
públicas de uma gestão autónoma e privada -
mais próxima das comunidades e mais inteiradas
dos seus problemas e necessidades - e da
possibilidade de desenharem os seus próprios
curricula? E porque não distribuir o bolo do
dinheiro gasto no sistema pelos alunos, dando-
lhes a possibilidade de escolher em que escola o
gastar, de forma que entendam a mais adequada
para dar corpo aos seus objectivos de vida?
Enquanto insistirmos num modelo falido, em que
a borucracia impede o desenvolvimento e em que
o preconceito ideológico trata todos por igual,
esquecendo que entre os milhares de alunos das
centenas de escolas públicas há casos
radicalmente diferentes e que são tratados da
mesma forma, nada avançaremos em termos
qualitativos, limitando-nos a obrigar os
contibuintes a financiar um sistema que iguala
todos na mediocridade e a obrigar os alunos a
uma opção única de insucesso e incapacidade
para desenvolver as suas potencialidades.
Liberdade ainda é uma palavra que mete medo a
muita gente. Mas longe de ser uma arma
de destruição da escola pública, seria a fórmula
para fazer o sistema público funcionar e ir em
busca do sucesso, fazendo os defensores da
ideia de uma escola sob alçada estatal os
primeiros beneficiários de todas as vantagens
inerentes a um sistema mais livre.
erca de uma centena de
membros da Juventude Pop
ular, das mais variadas
proveniências de Norte a Sul do
país, estiveram reunidos para
aprender com 'professores' com
percursos relevantes nas mais
diversas áreas, com os quais
tiveram a oportunidade de debater
os mais prementes problemas do
país e da Europa. Para Miguel Pires
da Silva, Presidente da Juventude
Popular, “estas actividades são
encaradas como ferramentas que
nos vão ajudar a tomar decisões
acertadas no futuro.”
O primeiro convidado foi o euro-
deputado do CDS-PP, Nuno Melo,
que abriu os trabalhos na noite de
sexta-feira, e que referiu a
importância deste tipo de eventos,
não só para a JP mas também para o
próprio partido.
No dia 3, Sábado, foi a vez do
deputado do CDS-PP, Michael Seu-
fert, fazer uma reflexão sobre o lugar
das ideologias nos dias que correm e
do Provedor da Santa Casa da Mise-
ricórdia do Porto, António Tavares,
falar sobre a importância das
políticas sociais em tempos de crise.
Da parte da tarde, a economia e as
funções do Estado estiveram em
plano de destaque, com o presença
do professor de Economia da
Universidade do Minho, Fernando
Alexandre, e do deputado do CDS-
PP, Adolfo Mesquita Nunes. O
primeiro fez uma exposição
plano de destaque, com o presença
do professor de Economia da
Universidade do Minho, Fernando
Alexandre, e do deputado do CDS-
PP, Adolfo Mesquita Nunes. O
primeiro fez uma exposição
detalhada da história da economia
portuguesa, mostrando a sua
evolução desiquilibrada ao longo
dos anos. O segundo abordou as
causas e as consequências da
intervenção externa, lembrando os
jovens presentes que a culpa do
estado do país é do socialismo. Pelo
meio, o debate sobre qual é, afinal, o
papel do Estado, esteve a cargo do
deputado do CDS-PP, João Almeida,
e do Presidente da Distrital do Porto
do PS, José Luís Carneiro, tendo sido
o momento em que, por força da
divergência de pontos de vista tão
marcada, o ambiente 'aqueceu'
numa discussão acessa mas
amigável.
O dia de Domingo foi dedicado às
questões da justiça e da Consti-
tuição, temas tratados pelo Basto-
nário da Ordem dos Advo-gados,
António Marinho Pinto, e pelo
professor Jorge Bacelar Gouveia,
respectivamente. Mas o momento
alto do dia e do evento, foi a
presença do ex-Presidente do CDS,
Adriano Moreira, que dissertou
sobre os problemas actuais e as
soluções para o futuro da Europa,
intervenção que terminou com a
ovação da plateia de jovens
admiradores.
Adriano Moreira, que dissertou
sobre os problemas actuais e as
soluções para o futuro da Europa,
intervenção que terminou com a
ovação da plateia de jovens
admiradores.
Após a realização da última edição
da Universidade da Juventude
Popular, há mais de dois anos,
“muitas centenas de jovens
aderiram à organização, aumen-
tando a necessidade e a pertinência
da realização de um evento deste
género”, refere Tiago Loureiro,
coordenador do Gabinete de
Estudos Gonçalo Begonha, respon-
sável pela organização.
Também o lazer e o convívio entre
os militantes da organização que
estiveram presentes não foram
esquecidos. Na noite de Sexta-feira,
as concelhias da JP e do CDS de Vila
Real organizaram um magusto na
sua sede, com bebida e música
ambiente. No Sábado à noite,
realizou-se, em clima de festa, o
jantar de aniversário da Juventude
Popular, com a presença de três ex-
Presidentes - João Almeida, Pedro
Moutinho e Michael Seufert - que
fizeram companhia ao Presidente
actual, Miguel Pires da Silva, na hora
de apagar as velas.
C
Vila Real acolheu Universidades JP
4 notícias
notícias 5
Palavra de Presidente
6 opinião
fortunas brotaram que nem cogumelos, e o país da
liberdade e da igualdade lá continuou a sua caminhada
até á destruição.Infelizmente algumas destas atitudes
perduram e imperam em Portugal. O actual governo
que tem a seu cargo a difícil tarefa de levantar Portugal,
já deu alguns sinais de que algo está para mudar. Os
cortes na despesa pública já começam a ser uma
realidade, no entanto acredito que podem e devem ir
muito mais além. Contudo, têm sido vários os
obstáculos a esta mudança, desde logo uma
Constituição desajustada das reais necessidades do
país, uma oposição de cariz destruidor, sem espírito
cooperante, vazia e sem ideias para o futuro,
inviabilizando reformas estruturais de extrema
importância.
É tempo de mudar e tomar consciência da nobre tarefa
de ser político, estar na política para dar tudo por
Portugal, dar tudo pelo futuro das próximas gerações,
sem esperar nada em troca. Estar na política para
servir e nunca para retirar proveito próprio. Só assim
vamos levantar Portugal, só assim é possível aproximar
a sociedade civil da sociedade política e em sintonia
construir um futuro melhor. É bom lembrar quem
fomos e o que demos ao mundo enquanto nação,
sempre soubemos estar á altura dos nossos desafios,
sempre fomos um povo honrado e honesto.
Conto com esta geração que se move por ideais, e que
singra pelo mérito, uma geração disposta a fazer
sacrifícios em prol do bem comum e que vai com
certeza fazer com que no futuro seja mais fácil falar de
política.
Viva a Juventude Popular,
Viva Portugal.
Miguel Pires da Silva
os dias que correm, falar ou escrever de
política é tão inevitável como custoso.
Inevitável porque não há ninguém satisfeito
com a situação do país, porque hoje o povo já se
preocupa com o presente e não apenas com o futuro,
tal como fez nas últimas décadas em que a
preocupação estava sempre distante, esquecendo-se
muitas vezes que o que estava a acontecer no presente
iria hipotecar o futuro de muitas gerações. Foram anos
e anos a engordar o estado, a dissimular os reais
problemas da sociedade, com subsídios para tudo,
para “afundar barcos”, para “abandonar as terras”…
Acredito que no imediato estas medidas tenham sido
proveitosas para quem beneficiou delas, mas será que
ninguém percebeu que estavam a destruir uma das
maiores fontes de subsistência do país, transformando
Portugal num país de serviços e funcionários públicos,
um país onde todos têm direitos adquiridos e muito
poucos cumprem deveres para com a sociedade. Foi
este o país que quiseram criar, terão sido estes os
princípios da tão afamada revolução dos cravos?
A estratégia estava errada e hoje infelizmente o tempo
dá-nos razão. E quando referi que era custoso escrever
de política, a explicação é simples. A imagem dos
políticos foi manchada e destruída nos últimos anos,
pelas razões que anteriormente vos enunciei mas
também pelas atitudes que muitos deles tomaram ao
longo das últimas décadas, a irresponsabilidade com
que nos governaram salta aos olhos de todos, as
fortunas brotaram que nem cogumelos, e o país da
liberdade e da igualdade lá continuou a sua caminhada
até á destruição.
Infelizmente algumas destas atitudes perduram e
imperam em Portugal. O actual governo que tem a seu
cargo a difícil tarefa de levantar Portugal, já deu alguns
N
Francisco Ancêde
ma verdadeira tragédia
grega pensarão da sua vida
a maioria dos Portugueses
que vão tendo conhecimento do que
os espera. O ano de 2013 será
inevitavelmente pior, aliás bastante
pior, que o annus horribilis que
agora termina!
Com a apresentação do Orçamento
de Estado para 2013 veio a ana-
gnórise. Chegou o inevitável
confronto com a realidade nacional.
O Povo Português parece finalmente
ter descoberto ou despertado para
dados essenciais que lhe eram
supostamente ocultados ou aparen-
temente irrelevantes. Este fatal
reconhecimento obrigar-nos-á a
todos, sem excepção, à cons-
ciencialização exacta do que
pretendemos e do caminho que
consequentemente nos estará
destinado. A constatação é simples e
brutal. Portugal corre o risco de
rapidamente se transformar num
ciencialização exacta do que pre-
tendemos e do caminho que
consequentemente nos estará
destinado. A constatação é simples e
brutal. Portugal corre o risco de
rapidamente se transformar num
Estado falhado. Não devemos ter
medo de o assumir.
A destruição do sector industrial
face à concorrência externa –
quantas vezes desleal -, o
envelhecimento da população, o
progressivo abandono da produção
agrícola dentro de uma lógica de
economia fundamentalmente terci-
ária, a dependência energética
externa e o consequente galope da
dívida pública resultaram num
acumular de consecutivos défices
durante décadas.
Ora é hoje praticamente impossível,
em qualquer área de análise não
encontrar uma profunda necessi-
dade de alteração da realidade.
Educação, Justiça, Prestações
Sociais, Saúde, Defesa, Agricultura,
Transportes tudo terá que ser posto
em causa. Se financeiramente a
nossa independência está em stand
by, é agora tempo de preparar o
Estado, as Famílias e a economia
para o novo paradigma que surgirá
Transportes tudo terá que ser posto
em causa. Se financeiramente a
nossa independência está em stand
by, é agora tempo de preparar o
Estado, as Famílias e a economia
para o novo paradigma que surgirá
depois de terminado o período de
ajustamento! Porque nada será
como dantes.
O orçamento para 2013 vai
representar um enorme desafio
para todos. Digo-o com a plena
consciência que este orçamento
distribui o esforço por todos os
ramos de actividade e por todas as
classes sociais. Ninguém sairá
imune de 2013. Não vale a pena,
nesta sede, elencar e esmiuçar as
alterações. Serão todas, sem
excepção, muito negativas para a
actividade económica e para as
famílias. O que se pretende é que
estas medidas não se tornem
estruturais e solidificadas, mas
apenas temporárias e rapidamente
alteráveis.
Todos conhecemos a máxima que
em Portugal os impostos nunca
baixam. Aliás se analisarmos a
evolução da carga fiscal e parafiscal
durante o séc. XX e XXI constatamos
que o aumento tem sido constante.
Anagnórise
8 nacional
U
ideologia 9
Todos conhecemos a máxima que
em Portugal os impostos nunca
baixam. Aliás se analisarmos a
evolução da carga fiscal e parafiscal
durante o séc. XX e XXI constatamos
que o aumento tem sido constante.
Ora será necessariamente mau
pagar impostos? Prima face até é
positivo porque sinónimo de
rendimento, património ou
consumo. Mas alguém gosta de
pagar impostos? Alguém paga o seu
IRS/SS/IUC/IMI/IMT/IS/IVA/IRC
alegremente? Estou certo que não,
havendo até quem assuma o
pagamento destes impostos como
um confisco, será?
O actual Ministro das Finanças
parece ter respondido a todas estas
perguntas quando afirmou que
entre os Portugueses existe um
enorme desvio entre o que querem
do Estado e o que lhe estão
dispostos a entregar. Esta frase
aparentemente irrelevante tem um
enorme significado.
O estado providência ofereceu às
populações europeias do pós-guerra
uma qualidade de vida sem par ao
longo da história da Humanidade. A
demanda de reconstrução, as altas
taxas de natalidade, a criação do
mercado interno e posteriormente a
sofisticação do mercado da dívida,
permitiram crescimentos dignos de
recorde olímpico um pouco por toda
a Europa.
Portugal esteve em grande medida
alheio a esta realidade até 1974
uma vez que os seus interesses
estratégicos estavam essenialmente
centralizados nas províncias
ultramarinas. Foi com a adesão à
Comunidade Europeia - altura em
que na Europa já se realizavam
reformas ao modelo - que Portugal
pôde aplicar todos os benefícios do
estado providência. Tudo foi
garantido sem que nada ou muito
pouco fosse exigido em troca. Todos
os governos com a inestimável
vontade parola e bacoca de deixar
mobilidade social e os bons
resultados económicos. Durante
décadas cumpriu-se verdadeira-
mente o preâmbulo da Constituição
da Republica Portuguesa. Mas como
já tinha previsto Margaret Thatcher
em confronto com a Ex-Ministra da
Educação Maria de Lurdes
Rodrigues “a festa acabou quando
acabou o nosso dinheiro e a
disponibilidade dos credores para
emprestarem”. E agora?
Agora voltamos ao Orçamento de
Estado para 2013, para uma nova
trilogia não de sangue, suor e
lágrimas mas de sacrifício, trabalho
e esperança! Muitos são os que
estão desiludidos, vexados e
irremediavelmente prejudicados
por todas estas circunstâncias, mas
os Historiadores não reservam
esses sentimentos apenas para nós
e para este tempo. Nada é novo e
tudo voltará a acontecer sobre
outras formas. A Esperança de que
vos falo é a mesma que não permitiu
que o desânimo tolhe-se a força do
pôde aplicar todos os benefícios do
estado providência. Tudo foi
garantido sem que nada ou muito
pouco fosse exigido em troca. Todos
os governos com a inestimável
vontade parola e bacoca de deixar
obra espalhada um pouco por todo
o País, foram alocando e conduzindo
os fundos estruturais cedidos pela
comunidade em estruturas que em
nada acompanharam ou alavan-
caram a economia nacional.
Analisando agora o passado
friamente é natural que assim
fosse numa altura em que todos
os intervenientes políticos acre-
ditavam - apesar de alguns terem
anunciado que o meteram na gaveta
- que o socialismo e uma economia
estatal e burocrática seriam a
melhor forma de providenciar a
ramente o preâmbulo da
10 nacional
Todos os governos com a inestimável vontade parola e bacoca de deixar obra espalhada um pouco por todo o País, foram alocando e conduzindo os fundos estruturais cedidos pela comunidade em estruturas que em nada acompanharam ou alavancaram a economia nacional.
pública são garantidos com o
aumento brutal do desemprego, do
aumento exponencial das insol-
vências e da emigração em massa
dos mais válidos. O custo é enorme,
elevadíssimo e ninguém será
indiferente aos seus efeitos. Como
fazer diferente?
Muitos são os que apontam para a
necessidade de renegociação da
dívida juntos dos credores e do
exercício de pressão sobre a
Alemanha para que acorram em
nosso auxílio. Estas ideias são
veiculadas por aqueles que não
querem aceitar a inevitável
necessidade do ajustamento que
está a ser feito. Portugal não pode
continuar a gerar défices
consecutivos. Não pode ter uma
economia constantemente focada
no diário da república e nos ajustes
directos. Portugal não pode ter uma
população sedenta de serviços
estaduais e farta de pagar impostos.
Portugal não pode garantir tudo a
todos. O povo Português tem de
perceber que como todos os outros
está entregue à sua competência, à
sua capacidade de trabalho e à vida
que determina em cada escolha
livre e consciente. Sem fados!
Estou certo, que ao contrário do que
os sindicatos, partidos da esquerda
e líderes ameaçados pretendem, o
Povo Português, mais uma vez,
manter-se-á unido, solidário e justo,
combatendo e minimizando em
comunidade todas as injustiças que
inevitavelmente vão surgir! Assim
haja sacrifício, trabalho e esperança.
esses sentimentos apenas para nós
e para este tempo. Nada é novo e
tudo voltará a acontecer sobre
outras formas. A Esperança de que
vos falo é a mesma que não permitiu
que o desânimo tolhe-se a força do
desespero das gentes que ao longo
da nossa história batalharam por
uma vida melhor! É a mesma que é
necessária quando nos bate à porta
um novo fim de ciclo!
Ninguém sabe o que o nosso
amanhã colectivo trará. Os
Portugueses e os seus líderes não
controlam a maioria das premissas
que governam o nosso dia-a-dia. É
um facto inevitável num País/
Europa/Ocidente à procura de
rumo.
Mas como em qualquer crise é
preciso analisar os sinais posi-
tivos/negativos e construir uma
tendência. E a tendência é positiva.
A redução do montante dos juros da
dívida soberana portuguesa, o
equilíbrio do saldo da balança
corrente e a redução da despesa
pública são garantidos com o
aumento brutal do desemprego, do
aumento exponencial das insol-
vências e da emigração em massa
dos mais válidos. O custo é enorme,
elevadíssimo e ninguém será
indiferente aos seus efeitos. Como
fazer diferente?
Muitos são os que apontam para a
necessidade de renegociação da
dívida juntos dos credores e do
exercício de pressão sobre a
Alemanha para que acorram em
nosso auxílio. Estas ideias são
veiculadas por aqueles que não
querem aceitar a inevitável
necessidade do ajustamento que
está a ser feito. Portugal não pode
continuar a gerar défices
consecutivos. Não pode ter uma
economia constantemente focada
no diário da república e nos ajustes
directos. Portugal não pode ter uma
população sedenta de serviços
estaduais e farta de pagar impostos.
Alemanha para que acorram em
nosso auxílio. Estas ideias são
veiculadas por aqueles que não
querem aceitar a inevitável
necessidade do ajustamento que
está a ser feito. Portugal não pode
continuar a gerar défices conse-
cutivos. Não pode ter uma economia
constantemente focada no diário da
república e nos ajustes directos.
Portugal não pode ter uma
população sedenta de serviços
estaduais e farta de pagar impostos.
Portugal não pode garantir tudo a
todos. O povo Português tem de
perceber que como todos os outros
está entregue à sua competência, à
sua capacidade de trabalho e à vida
que determina em cada escolha
livre e consciente. Sem fados!
Estou certo, que ao contrário do que
os sindicatos, partidos da esquerda
e líderes ameaçados pretendem, o
Povo Português, mais uma vez,
manter-se-á unido, solidário e justo,
combatendo e minimizando em
comunidade todas as injustiças que
inevitavelmente vão surgir! Assim
haja sacrifício, trabalho e esperança.
nacional 11
estaduais e farta de pagar impostos.
Portugal não pode garantir tudo a
todos. O povo Português tem de
perceber que como todos os outros
está entregue à sua competência, à
sua capacidade de trabalho e à vida
que determina em cada escolha livre
e consciente. Sem fados!
Estou certo, que ao contrário do que
os sindicatos, partidos da esquerda e
líderes ameaçados pretendem, o
Povo Português, mais uma vez, man-
ter-se-á unido, solidário e justo, com-
batendo e minimizando em comuni-
dade todas as injustiças que inevi-
tavelmente vão surgir! Assim haja
sacrifício, trabalho e esperança.
Portugal não pode continuar a gerar défices consecutivos. Portugal não pode ter uma população sedenta de serviços estaduais e farta de pagar impostos. Portugal não pode garantir tudo a todos.
O poder da fé
12 opinião
socialismo keynesiano e do progressismo social. É nesse
papel que o delfim faz falta. Como perfeito mensageiro da
ilusão, como profeta da fé keynesiana que consegue fazer
crer que os gastos desmedidos não são dívida, mas
investimento, e que os mesmos trarão emprego, riqueza e
desenvolvimento para o país, Sócrates é o elixir perfeito
para qualquer socialista de ressaca.
O paraíso está sempre ali ao virar da esquina. Onde?
Quando? A que preço? Não sabem. Mas se tudo correr bem
e os credores e os contribuintes (de onde vem o dinheiro)
cooperarem e não complicarem com exigências ridículas –
como duvidar do retorno da aplicação do seu capital –
tudo correrá pelo melhor. Nisto, Sócrates foi e é o melhor.
É o perfeito emulador da fé socialista.
Sim, fé. Ou o que se pode chamar a uma crença de que,
repetindo os mesmíssimos erros do passado, se chegará
desta vez, não se sabe bem como, a um resultado
diferente? O socialismo é uma fé por direito próprio, e
uma bem potente por sinal. Por mais vezes que tenha sido
provado impossível, continua a veicular uma mensagem
de felicidade e sucesso fácil, não especificando nem o
preço a pagar pela mesma, nem o tempo que ela durará.
Mas se há coisas que a história, sendo cíclica, ensina, é que
as utopias nunca chegam, e o caminho proposto para as
atingir acaba sempre por, mais tarde ou mais cedo, se
desmoronar.
Por isso, por mais que muitos espíritos insistam viver –
como num recente filme – em sonhos dentro de sonhos
dentro de sonhos, já órfãos da realidade de que estão
somente a dormir, os pragmáticos saberão sempre que a
felicidade e o sucesso não são dados de mão beijada e
desconfiarão sempre de quem se propuser a conquistá-
los, sem preço, em seu nome.
Poderá não ser uma vida perfeita, mas, se livre de destinos
pré-fabricados, será uma vida real e, acima de tudo, auto-
determinada.
Luís Pedro Mateus
s socialistas encontram-se num local estranho,
como que entalados entre a fantasia e a
realidade. De certa forma, honra lhes seja feita, o
sincronismo colectivo das falácias é tão bem executado
que chega muitas vezes a convencer o ocasional espírito
desesperado por razões e culpados pela crise a que se
chegou. Este sincronismo de falácias é, não se duvide,
um canto de sereias para quem não quer lidar com a
dura realidade, para quem espera uma palavra paternal
reconfortante, para quem espera soluções fáceis e
imediatas para um problema que não é uma coisa nem
outra.
Quando é perfeitamente claro que se chegou aqui por se
gastar, em nome de todos, e ano após ano, bastante mais
do que o que se tem, eles conseguem fazer crer
precisamente o contrário: que afinal o problema foi não
se ter gasto o suficiente. Quando se sabe que a dívida
tem origem em empréstimos consecutivos para tapar os
défices nas contas públicas e em financiamentos de
grandes projectos, eles fazem crer que a crise é
problema do “neo-liberalismo” e da especulação. Esse
“neo-liberalismo” que, nunca tendo sido governo, nunca
tendo advogado gastos desmedidos em relação à
riqueza produzida é, afinal, causa desses problemas. E,
no meio de teorias de conspiração internacional, dos
EUA a quererem aniquilar a UE e o Euro - de quem
dependem umbilicalmente - e com agências de rating no
papel de James Bond, lá se vai varrendo as culpas do
socialismo para debaixo do tapete da vergonha.
Uma grande parte dos socialistas da praça, por mais que
o tentem esconder, não conseguem evitar demonstrar
saudades do delfim Sócrates: o menino d’ouro do
socialismo keynesiano e do progressismo social. É nesse
papel que o delfim faz falta. Como perfeito mensageiro
da ilusão, como profeta da fé keynesiana que consegue
fazer crer que os gastos desmedidos não são dívida, mas
investimento, e que os mesmos trarão emprego, riqueza
e desenvolvimento para o país, Sócrates é o elixir
O
Rui Albuquerque *
enho-me interrogado, ao
longo dos anos, se a sepa-
ração entre liberais e
conservadores se justifica, e se eles
não podem viver em harmonia e
mesmo até numa plena comple-
mentaridade de princípios, idéias e
valores. Por palavras distintas, a
questão é a seguinte: ser liberal
impede que se seja conservador e
ser conservador exclui que se seja
liberal? A minha resposta a esta
questão, no fim de contas a mesma,
vista embora por dois ângulos
distintos, é inequívoca: um liberal
nos princípios e nos fundamentos
tem que ser politicamente conser-
vador, enquanto que um verdadeiro
conservador não poderá deixar de
ser um liberal. Tentarei demonstrar,
neste artigo, esta minha convicção.
Antes de mais, há alguns equívocos
muito antigos e que estão na origem
da dissensão, que convém afastar. O
primeiro é histórico, e remonta à
velha zanga entre whigs e tories do
tempo de Gladstone e Disraeli. Na
Antes de mais, há alguns equívocos
muito antigos e que estão na origem
da dissensão, que convém afastar. O
primeiro é histórico, e remonta à
velha zanga entre whigs e tories do
tempo de Gladstone e Disraeli. Na
realidade, os dois políticos ingleses
da segunda metade do século XIX
marcaram, cada um à sua maneira,
os então partidos liberal e
conservador do seu país. Gladstone
foi efetivamente um liberal clássico
na política e um dos poucos
governantes na história do mundo
que aplicou no governo os valores
da liberdade em que verda-
deiramente acreditava. Ele aboliu a
maior parte dos impostos e das
taxas que vigoravam na Inglaterra
do seu tempo (calcula-se que
extinguiu cerca de 95%), abriu as
fronteiras do seu país ao comércio
internacional, pugnou pela arbi-
tragem nos conflitos de interesses
entre os estados em oposição à
guerra, e acreditava piamente na
ética da responsabilidade individual
como cimento construtor de uma
ordem social pacífica. Em
contrapartida, o líder do partido
tory e seu rival de sempre, Benjamin
Disraeli, quando primeiro-ministro
ética da responsabilidade individual
como cimento construtor de uma
ordem social pacífica. Em
contrapartida, o líder do partido
tory e seu rival de sempre, Benjamin
Disraeli, quando primeiro-ministro
foi protecionista no comércio
internacional, aumentou impostos,
criou legislação trabalhista
abundante, podendo ser consi-
derado o verdadeiro pai fundador
do estado social inglês, prova-
velmente de toda a Europa. Essa
divisão então vincada entre liberais
(whigs) e conservadores (tories)
marcou profundamente a separação
de águas entre as duas famílias
políticas, e manteve-se até hoje no
espírito de muitos autores
conservadores e liberais, ao ponto
de Hayek costumar qualificar-se a si
próprio como um liberal à “velha
maneira whig”, remetendo essa
definição para o partido whig do
tempo de William Gladstone, em
contraponto ao espírito conser-
vador e protecionista dos tories de
então.
Essa separação profunda de águas já
não se justifica nos dias de hoje, e
deixou mesmo de fazer qualquer
sentido, a partir do fim do primeiro
T
Liberais e Conservadores
14 ideologia
ideologia 15
vador e protecionista dos tories de
então.
Essa separação profunda de águas já
não se justifica nos dias de hoje, e
deixou mesmo de fazer qualquer
sentido, a partir do fim do primeiro
quartel do século XX, com o quase
total desaparecimento do Partido
Liberal inglês, e a posterior criação
do Labour, em 1900, que
imediatamente se identificou com o
socialismo e o estatismo, e que,
acompanhando as tendências da
época, acabou por atrair a pre-
ferência dos eleitores, substituindo-
se aos liberais na oposição ao
Partido Conservador. Muitos
liberais ingleses voltaram, assim, à
casa que fora também sua antes do
abandono de Gladstone (que tinha
sido dirigente do Partido
Conservador, pelo qual chegou a
exercer cargos ministeriais no
governo de Inglaterra) provocado
pela profunda antipatia que ele
tinha por Disraeli e pela sua política.
E, em boa verdade, a melhor
tradição liberal inglesa
reencontrou-se nos tories,
protagonizada por líderes como
Churchill, Thatcher e agora com
Cameron, que assentou toda a sua
E, em boa verdade, a melhor
tradição liberal inglesa reencon-
trou-se nos tories, protagonizada
por líderes como Churchill,
Thatcher e agora com Cameron, que
assentou toda a sua recente
campanha eleitoral nos princípios
do governo limitado, da
responsabilidade individual e da
redução da tributação. O aparente
renascimento dos LibDem, ainda
que seja muito questionável que
sejam os herdeiros do espírito whig
do passado, acabou por trans-
formar-se numa coligação natural
de governo com os conservadores,
até agora, pelo que se sabe, a
caminhar muito bem.
Outro equívoco igualmente impor-
tante, este da responsabilidade dos
liberais, resulta da crítica de Hayek
editada em jeito de posfácio (Por
que não sou conservador) ao seu
livro The Constitution of Liberty [A
Constituição da Liberdade]. Nesse
texto, Hayek dizia afastar-se do
conservadorismo essencialmente
nos seguintes três aspectos que,
segundo ele, caracterizavam os
conservadores: em primeiro lugar, o
receio da mudança e a tendência
que os conservadores manifestam
formar-se numa coligação natural
de governo com os conservadores,
até agora, pelo que se sabe, a
caminhar muito bem.
Outro equívoco igualmente impor-
tante, este da responsabilidade dos
liberais, resulta da crítica de Hayek
editada em jeito de posfácio (Por
que não sou conservador) ao seu
livro The Constitution of Liberty [A
Constituição da Liberdade]. Nesse
texto, Hayek dizia afastar-se do
conservadorismo essencialmente
nos seguintes três aspectos que,
segundo ele, caracterizavam os
conservadores: em primeiro lugar, o
receio da mudança e a tendência
que os conservadores manifestam
para manterem tudo como está (“A
mudança é cansativa”, já escrevia
Oakeshott…); depois, a “paixão pela
autoridade e na sua falta de
compreensão das forças econó-
micas”; e, por último, a hostilidade
que eles demonstram em relação ao
“internacionalismo”, e o decorrente
nacionalismo excessivo que os
caracteriza em conseqüência dessa
aversão ao que é “de fora”. Hoje em
dia, a maior parte destas críticas cai
por terra, desde logo, se atendermos
às políticas seguidas nos governos
Há alguns equívocos muito antigos que estão na origem da dissensão entre liberalismo e
conservadorismo que convém afastar. O primeiro é histórico, e remonta à velha zanga entre
whigs e tories de Gladstone e Disraeli.
Um liberal nos princípios e nos fundamentos tem que ser politicamente conservador, enquanto que um verdadeiro conservador não poderá deixar de ser um liberal.
segundo ele, caracterizavam os
conservadores: em primeiro lugar, o
receio da mudança e a tendência
que os conservadores manifestam
para manterem tudo como está (“A
mudança é cansativa”, já escrevia
Oakeshott…); depois, a “paixão pela
autoridade e na sua falta de
compreensão das forças econó-
micas”; e, por último, a hostilidade
que eles demonstram em relação ao
“internacionalismo”, e o decorrente
nacionalismo excessivo que os
caracteriza em conseqüência dessa
aversão ao que é “de fora”. Hoje em
dia, a maior parte destas críticas cai
por terra, desde logo, se atendermos
às políticas seguidas nos governos
dos três líderes políticos
conservadores mais marcantes da
segunda metade do século XX:
Reagan, Thatcher e Aznar. Qualquer
um deles defendeu a liberdade
econômica, o comércio interna-
cional, a globalização, e todos
contribuíram para mudar o status
quo socialista dos seus países e
mesmo até da ordem política
mundial. Deles poder-se-á dizer
muita coisa, mas nunca que tenham
sido complacentes ou passivos com
as situações políticas que herdaram.
A aversão à mudança esteve muito
longe de qualquer um dos três.
Um terceiro e último equívoco que
tem separado conservadores e
liberais, este da inteira responsa-
bilidade dos primeiros, reside na
convicção de que o liberalismo é
filho da Revolução Francesa e, por
isso, que é revolucionário, jacobino
e anticlerical. Este grave equívoco,
muito provocado pela influência do
pensamento revolucionário francês
no equivocamente designado “libe-
ralismo” político europeu conti-
nental de oitocentos, foi responsável
pelo afastamento de muitos
conservadores europeus do
liberalismo, que preferiram assim
aproximar-se de forças políticas
conservadoras, como a democracia-
Um equívoco que tem separado conservadores e liberais reside na convicção de que o liberalismo é filho da Revolução Francesa, levando liberais europeus a aproximar-se de forças políticas como a democracia-cristã, mais próximas de ideais socializantes e intervencionistas.
tem a ver com o liberalismo clássico,
tão pouco com qualquer idéia de
liberdade, e foi resultado da
influência revolucionária francesa
sobre as mentalidades da época. O
liberalismo clássico não é revo-
lucionário, não toma qualquer
atitude anticlerical, e rejeita mesmo
a idéia revolucionária como forma
de transformação da sociedade,
contestando os princípios filosóficos
do racionalismo cartesiano sobre
que ela em boa medida se sustenta.
É, aliás, na forma como o liberalismo
concebe a ordem social e os
processos admissíveis da sua trans-
formação que se encontra, a nosso
ver, a principal convergência teórica
atual com o conservadorismo.
Na verdade, os conservadores
temem a mudança política porque,
como bem diz Oakeshott, a função
do governo não é a de “sonhar”, mas
a de “governar”. Ou seja, o governo
não deve ser um agente de trans-
nental de oitocentos, foi responsável
pelo afastamento de muitos conser-
vadores europeus do liberalismo,
que preferiram assim aproximar-se
de forças políticas conservadoras,
como a democracia-cristã, mais
próximas de ideais socializantes e
intervencionistas do que propri-
amente da idéia da liberdade e da
responsabilidade individual. Seria
fastidioso reproduzir aqui, em
contraponto a esta convicção, a lista
dos liberais clássicos que foram
profundamente crentes, muitos
deles católicos como Lord Acton e
Edmund Burke, ou até mesmo o
nosso (português) Alexandre Hercu-
lano, que apesar do seu violento
anticlericalismo, não desmerece
figurar nessa lista, embora muitos
outros pudessem ser citados. A
questão religiosa que opôs “liberais”
aos crentes, sobretudo aos católicos,
nalguns países da Europa Conti-
nental nos séculos XIX e XX, nada
16 ideologia
ridos, entendem que a função social
do governo não consiste em intervir
em situações particulares, das quais
não tem efetivo conhecimento nem
domínio de todos os aspectos
relevantes, mas criar as condições
necessárias e suficientes para o
exercício da liberdade individual.
Estamos, assim, no domínio do
estado mínimo, que não desagrada
propriamente aos liberais.
Se não subsistem, como vimos,
impedimentos impossíveis de serem
dirimidos entre liberais e conser-
vadores acerca da natureza e das
funções do governo, há que convir
igualmente que os conservadores
têm sido, nos últimos anos, muito
sensíveis à teoria econômica liberal,
concretamente à sua defesa da
propriedade, da liberdade de
comércio e do minimalismo
intervencionista estatal. Em
contrapartida, têm os liberais muito
a aprender com a visão pessimista,
ou melhor, realista, que os
conservadores têm do gênero
humano e da política. Esta pode
facultar-lhes, a meu ver, um plus de
análise política da qual muitas vezes
se costumam inadvertidamente
distanciar e que muita falta lhes faz.
Na verdade, a convicção liberal de
que as sociedades humanas não são
teatros permanentes de guerra
hobbesiana e que a cooperação e a
sociabilidade são naturais aos
homens, não exclui a dimensão
política da vida humana,
nomeadamente a ambição do poder
e a permanente luta pela conquista
do domínio que a soberania faculta.
Mais ainda: a análise liberal do
comportamento humano em
sociedade remete muitas vezes para
segundo plano, quando não ignora,
a função do domínio político e a
importância do seu aparelho
monopolista que é o estado, na
verdade o verdadeiro inimigo da
liberdade. É certo que os liberais
descrevem a dinâmica natural das
formação política que projete as
convicções ideológicas dos seus
titulares, na medida em que isso
faria dele um protagonista social,
isto é, um agente portador de uma
visão de sociedade, eventualmente
até majoritária numa certa
circunstância temporal, mas que
seria sempre passageira e somente
representativa de uma parte e não
do todo social. Nessa medida, a
função do governo, segundo um
conservador como Oakeshott,
consiste em amainar as paixões
políticas dos homens, de si mesmas
já muito exaltadas, não “atiçando os
fogos do desejo, mas abafando-os”.
Por outras palavras, o governo deve
ser um árbitro da liberdade
individual e não um protagonista
politicamente vinculado a uma
ideologia, um fator de pacificação
social em vez de um “instrumento
de paixão”. Acresce que, segundo
Oakeshott, “a única forma adequada
de governar é estabelecer e aplicar
regras de conduta”: o governo não
deverá preocupar-se “com pessoas
concretas, mas com atividades, e
apenas à sua propensão de
colidirem com as outras”; não deve
utilizar a soberania para a
imposição, ainda que demo-
craticamente sufragada, de um
modelo de sociedade, aquilo a que
designou de “desígnio amplo” da
política dos governos atuais. Não
estamos, por conseguinte, muito
distantes do que Hayek considerava
ser também a função ordenadora do
governo e do direito, quando falava
nas “regras de justa conduta” com
caráter geral e abstrato. Para todos
os efeitos, quer os conservadores
quer os liberais, pelo menos nas
abordagens dos dois autores refe-
ridos, entendem que a função social
do governo não consiste em intervir
em situações particulares, das quais
não tem efetivo conhecimento nem
domínio de todos os aspectos
relevantes, mas criar as condições
têm sido, nos últimos anos, muito
sensíveis à teoria econômica liberal,
concretamente à sua defesa da
propriedade, da liberdade de
comércio e do minimalismo
intervencionista estatal. Em
contrapartida, têm os liberais muito
a aprender com a visão pessimista,
ou melhor, realista, que os
conservadores têm do gênero
humano e da política. Esta pode
facultar-lhes, a meu ver, um plus de
análise política da qual muitas vezes
se costumam inadvertidamente
distanciar e que muita falta lhes faz.
Na verdade, a convicção liberal de
que as sociedades humanas não são
teatros permanentes de guerra
hobbesiana e que a cooperação e a
sociabilidade são naturais aos
homens, não exclui a dimensão
política da vida humana,
nomeadamente a ambição do poder
e a permanente luta pela conquista
do domínio que a soberania faculta.
Mais ainda: a análise liberal do
comportamento humano em
sociedade remete muitas vezes para
segundo plano, quando não ignora,
a função do domínio político e a
importância do seu aparelho
monopolista que é o estado, na
verdade o verdadeiro inimigo da
liberdade. É certo que os liberais
descrevem a dinâmica natural das
sociedades humanas, mas a
existência do liberalismo só tem
justificação na medida em que nessa
dinâmica passou a interferir um
corpo estranho, um intermediário
entre a ação individual que é o
estado constituído pelos seus
órgãos executivos de governo e de
administração. Por outro lado, a
História ensina-nos que a presença
do político, da soberania, por outras
palavras, do estado, é imanente às
sociedades humanas, seja qual for o
estágio da sua evolução, ou as
latitudes que analisemos. A análise
liberal não pode prescindir dela, ou
melhor, só se justifica pela sua
Para todos os efeitos, quer os
conservadores quer os liberais,
entendem que a função social
do governo não consiste em
intervir em situações
particulares, das quais não tem
efetivo conhecimento nem
domínio de todos os aspectos
relevantes, mas criar as
condições necessárias e
suficientes para o exercício da
liberdade individual.
ideologia 17
conquista e manutenção a qualquer
preço. Ainda que esta regra
comporte exceções e que
admitamos existirem políticos
verdadeiramente sérios nas suas
intenções, nada garante que da
transformação das suas convicções
em políticas governativas possam
resultar benefícios para os indi-
víduos e para a sociedade. Por
conseguinte, conservadores como
Oakeshott defendem, e muito bem,
que o governo não serve para
realizar os “ideais” dos políticos que
o conquistam, mas apenas e só para
“governar”, no sentido acima des-
crito desta palavra.
teatros permanentes de guerra
hobbesiana e que a cooperação e a
sociabilidade são naturais aos
homens, não exclui a dimensão
política da vida humana, nome-
adamente a ambição do poder e a
permanente luta pela conquista do
domínio que a soberania faculta.
Mais ainda: a análise liberal do
comportamento humano em
sociedade remete muitas vezes para
segundo plano, quando não ignora,
a função do domínio político e a
importância do seu aparelho
monopolista que é o estado, na
verdade o verdadeiro inimigo da
liberdade. É certo que os liberais
descrevem a dinâmica natural das
sociedades humanas, mas a
existência do liberalismo só tem
justificação na medida em que nessa
dinâmica passou a interferir um
corpo estranho, um intermediário
entre a ação individual que é o
estado constituído pelos seus
órgãos executivos de governo e de
administração. Por outro lado, a
História ensina-nos que a presença
do político, da soberania, por outras
palavras, do estado, é imanente às
sociedades humanas, seja qual for o
estágio da sua evolução, ou as
latitudes que analisemos. A análise
liberal não pode prescindir dela, ou
melhor, só se justifica pela sua
existência, já que sem política as
ameaças à liberdade não nasceriam
da soberania.
Ora, a isto os conservadores respon-
dem com uma análise realista do
poder político. Segundo eles, a
política não se justifica nas cores
com que os políticos pintam os
cenários floreados das suas
propostas, mas apenas na pura e
dura ambição pelo poder, a sua
conquista e manutenção a qualquer
preço. Ainda que esta regra
comporte exceções e que
admitamos existirem políticos
verdadeiramente sérios nas suas
intenções, nada garante que da
O pensamento liberal terá, então,
assinaláveis vantagens em aproxi-
mar-se do realismo político conser-
vador. O conhecimento do inimigo,
de resto a primeira regra da política,
apenas o beneficiará quando pro-
curar cumprir a sua principal
finalidade, que é a de aumentar ao
máximo possível a liberdade indi-
vidual perante o estado que quase
sempre se esforça por diminuí-la.
_______________
* Rui Albuquerque é Doutor em Ciência
Política e CEO do Grupo Lusófona Brasil.
Este artigo foi originalmente publicado
em 2010 em ordemlivre.org
Os conservadores têm sido, nos
últimos anos, muito sensíveis à
teoria econômica liberal,
concretamente à sua defesa da
propriedade, da liberdade de
comércio e do minimalismo
intervencionista estatal. Em
contrapartida, têm os liberais
muito a aprender com a visão
pessimista, ou melhor, realista,
que os conservadores têm do
género humano e da política.
18 ideologia
Einigkeit und Recht und Freiheit
20 opinião
pena essa realidade ser ignorada por tanta gente. Insiste
quem deseja atribuir ao exterior as culpas da actual crise de
sustentabilidade do Estado que Portugal foi sugado, e que
foi através do vampirismo que os alemães ultrapassaram as
suas próprias dificuldades. Mas esquecem-se do problema
que foi, para a República Federal da Alemanha, absorver o
leste comunista. Olvidam, como seria de esperar, o
desequilíbrio que isso causou à economia alemã, da mesma
forma que fazem por não pensar na crise que criou.
Desconhecem, ou fazem por desconhecer, o ajustamento
que os alemães decidiram levar a cabo. Sem berrarias, a
Alemanha cortou no seu próprio Estado. Sem drama, os
alemães baixaram salários, conseguindo assim escapar à
receita por que foi optando o Portugal pré-euro:
desvalorização monetária e inflação. E tudo isso com a
compreensão de uma extensa maioria dos cidadãos. Sem
manifestações de raiva, sem massas de indignados, sem
confrontos nas ruas de Berlim, a Alemanha não se absteve
de conter o Estado Social, tornar o layoff mais acessível e
equilibrar as suas contas públicas. É essa a razão do
sucesso económico germânico: longe de resultar de uma
exploração que só existe na cabeça de quem insiste em
culpar os outros pelos seus próprios erros, radica de
políticas sensatas e de verdade. Tivesse o então chanceler, o
socialista – e a tónica aqui vai toda para socialista – Gerhard
Schröder, prometido aos germânicos um caminho de ilusão
e irrealismo, e a Alemanha estaria hoje como Portugal. Não
foi, todavia, isso que fez: e hoje a nação que liderou cresce e
fortalece-se como primeira potência europeia.
É certo que é bem mais fácil atribuir as culpas a quem não
as tem. Pela minha parte, reconheço a todos os portugueses
o direito de manifestarem, como quiserem, as suas
opiniões, anseios e aspirações. Mesmo as mais absurdas.
Mesmo as mais infundadas. Mas convém ter, não apenas a
honestidade, mas também a coragem, de assumirmos os
nossos próprios erros. Quando pudemos, optámos por
quem prometia uma “vida para além do défice”, ignorando
quem nos alertava para os perigos do sobreendividamento.
E ninguém fez essa escolha por nós. Não foi Angela Merkel
quem nos convenceu a fazê-la, como não foram os eleitores
alemães que a sufragaram. Goste-se ou não disso, são os
portugueses os responsáveis pela sua própria ruína. E só
reconhecendo isso poderão evitá-la no futuro.
visita de Angela Merkel, chanceler da Alemanha,
revelou ao mundo o pior que Portugal tem para
oferecer. Em vez de receber a chefe de governo
alemã com a dignidade que merecia, centenas de
portugueses optaram por injuriá-la, enquanto outros
fizeram os possíveis para que a vinda de Merkel a Lisboa
ficasse manchada por tumultos. Também aí se notou o
peso crescente da quinta coluna nacional: longe de tentar
mostrar um país politicamente estável, sereno e
determinado no rumo com que se comprometeu, a
extrema-esquerda tudo fez para convencer o mundo de
que somos um Estado cujo destino está traçado, uma
nação que, com ou sem o paciente estoicismo dos seus
cidadãos, se encontra já numa trajectória de que não
conseguirá sair.
Não é isso, porém, o pior: as manifestações de ódio, a
intifada de repúdio e desdém com que Lisboa brindou a
chanceler alemã, foram corolário de uma atmosfera
xenófoba, de um sentimento de aversão gratuita que só
pode envergonhar a maioria dos portugueses. Mas não é,
todavia, esse o caso para outros tantos: para esses, a
Alemanha é hoje sinónimo e arquétipo do mal, da
opressão e de uma pobreza que é imposta de fora. Para os
que, de entre nós, acham mais fácil – e, quiçá, mais
conveniente – culpar o médico que apontar o dedo a quem
nos vendeu a receita do laxismo e da procrastinação, da
preguiça e do imobilismo, é da Alemanha que chega o
desemprego, a recessão e a crise. Mais: se a Alemanha é
hoje um país próspero, com uma economia saudável e um
historial de crescimento, tudo se deve à escravatura
financeira que impôs aos países da periferia. É aí que o
ódio deixa de ser fortuito e encontra uma justificação
(pretensamente) lógica para existir: odiamos, dizem os
pobres de mente, porque fomos roubados;
protestestamos, afirmam os inconscientes, porque nos
saqueou uma potência estrangeira cujos genes contêm a
semente da opressão e da pilhagem.
Pena nada disso corresponder à verdade dos factos – e
pena essa realidade ser ignorada por tanta gente. Insiste
quem deseja atribuir ao exterior as culpas da actual crise
de sustentabilidade do Estado que Portugal foi sugado, e
A
Rafael Borges
38 entrevista
22 entrevista
entrevista 23
‘ ’
Mota Soares Pedro
O rumo dos últimos anos hipotecou as gerações futuras.
Cabe-nos agora o trabalho
resgatar esse futuro. mesmo
de
edro Mota Soares
tem 38 anos, é
natural de Lisboa,
casado e pai de dois filhos.
Licenciado em direito e
especializado em legislação
laboral, foi assistente
univer-sitário na Faculdade
de Direito da Universidade
Lusófona de Humanidades e
Tecnologias.
Foi presidente da Juventude
Popular entre 1996 e 1999.
Entre 2002 e 2005 ocupou o
cargo de Secretário-Geral do
CDS-PP, fazendo também
parte da sua Comissão
Directiva. Na Assembleia da
República foi deputado,
Vice-Presidente e
Presidente do grupo Parla-
mentar do CDS. Foi ainda
deputado municipal em
Oeiras.
Em Junho de 2011 fez parte
da equipa do CDS nas
negociações com o PSD que
conduziram à formação da
coli-gação que permitiu a
formação do XIX Governo
Constitucional, que viria
a integrar como Ministro
da Solidariedade e da
Segurança Social.
24 entrevista
P
influenciaram. Um desses exemplos
é o Prof. Adriano Moreira. Dizia o
Professor há uns dias sobre a
necessidade da escala de valores a
adoptar: “a realidade é como a
roda que está sempre em
andamento e mudança e cujo eixo
são os valores que acompa-
nham a roda mas não andam.
Sem valores, o poder da pala-
vra não é suficiente nem eficaz.”
Parte dos meus valores foram
consolidados na JP.
Antes de iniciar funções como
Ministro, ganhou notoriedade
sendo a face mais visível do Grupo
Parlamentar do CDS. Como classi-
Foi eleito Presidente da Juventude
Centrista/Popular em 1996 e de-
sempenhou essas funções até ao
final de 1999. De que forma a sua
militância e, em especial, a sua
presidência na Juventude Cen-
trista/Popular, contribuiram para
o homem e para o político que
é hoje?
A JP é uma escola de valores extre-
mamente positiva. Talvez resultado
de muitos quadros de reconhecida
craveira que por ali passaram ou a
influenciaram. Um desses exemplos
é o Prof. Adriano Moreira. Dizia o
Professor há uns dias sobre a
necessidade da escala de valores a
adoptar: “a realidade é como a roda
v
Antes de iniciar funções como
Ministro, ganhou notoriedade
sendo a face mais visível do Grupo
Parlamentar do CDS. Como classi-
fica e descreve o trabalho desse
Grupo Parlamentar, quer ao longo
dos anos de oposição ao governo
de José Sócrates, quer neste
contexto em que o CDS faz parte
do governo?
Os nossos deputados sempre se
pautaram pela qualidade das inter-
venções e capacidade de trabalho.
Enquanto fui líder parlamentar
sempre contei com a dedicação de
todos para que fôssemos sempre o
grupo parlamentar mais produtivo. É
algo que deve continuar a ser uma
marca CDS. Mas confesso que tenho
saudades de quando só trabalhava
12 horas por dia.
Foi precisamente enquanto líder
parlamentar que se destacou como
uma das vozes mais visíveis do CDS
na crítica à governação socialista.
Entre as principais “vítimas” desses
anos encontram-se os jovens. De
que forma é que as gerações
futuras se viram prejudicadas pelas
políticas seguidas pelos governos
PS?
Nesse tempo Portugal não pensou o
futuro. Ter pensado o futuro seria ter
percebido que o país não podia
manter-se num rumo em que o que
gastávamos hoje, não teria
cabimento, sequer, com o que
produzíamos amanhã; um rumo em
que a insustentabilidade era
crescente e o futuro era hipotecado;
um rumo em que o pagamento da
factura e as reformas que se
impunham eram sistematicamente
adiadas; Esse rumo hipotecou as
gerações futuras. Cabe-nos agora o
trabalho de resgatar esse mesmo
futuro.
entrevista 25
‘Os jovens deverão agir não
cedendo às tentações das
gerações anteriores e não
desejando um Estado que
nunca conseguirão suportar.
Só assim melhorarão o seu
futuro e não deixarão para a
geração seguinte a mesma
herança que receberam.’
desemprego para casais sem
trabalho com filhos a cargo; que
avançámos com o Programa
Nacional de Microcrédito, com as
tarifas sociais de energia e de
transportes, o Banco de Medi-
camentos ou com a rede Cantinas
Sociais. São perto de 50 medidas
que irão servir de pára-choques da
austeridade que nos foi imposta.
Os jovens vivem com a perspectiva
de não serem reembolsadas dos
montantes que mensalmente
entregam à segurança social no
futuro. Face à total inversão da
pirâmide nas contas da segurança
social, esse facto torna-se mais
provável. Acha viável começar a
pensar em reformar o sistema,
nomeadamente libertando os
cidadãos de parte das
contribuições para a segurança
social e conferindo-lhes mais
liberdade de escolha?
Esse estudo foi já por nós anunciado.
exclusão social, para proteger
aqueles que têm mais dificuldades e
mitigar ou salvaguardar dos
sacríficios aqueles que a eles não
podem responder. Nesse sentido
definiram-se cinco pilares
prioritários: famílias, idosos, pessoas
com deficiência, instituições sociais
e voluntariado. O conjunto de
medidas que visam responder a
estas prioridades já estão todas em
andamento e a sua execução
financeira no ano de 2012 rondará os
100%. Foi por via do Programa de
Emergência Social que actuali-
zámos as pensões mínimas, sociais e
rurais para um milhão de portu-
gueses, quando no passado tinham
sido congeladas; que criámos a
majoração no subsídio de
desemprego para casais sem
trabalho com filhos a cargo; que
avançámos com o Programa
Nacional de Microcrédito, com as
tarifas sociais de energia e de
transportes, o Banco de
adiadas; Esse rumo hipotecou as
gerações futuras. Cabe-nos agora o
trabalho de resgatar esse mesmo
futuro.
O país vive uma grave crise
financeira que tem provocado
significativos problemas a nível
social. Parece inevitável que o
momento que vivemos provocará
profundas mudanças na nossa
forma de viver. Com que ideia de
Portugal e do mundo deverão os
jovens perspectivar o seu futuro?
Portugal deverá saber reinvertar-se
e restruturar-se para ultrapassar
este período. Certas reformas,
nomeadamente na administração
pública, terão de ser estruturais e
abragentes por forma a garantir que
no futuro não voltamos a padecer
dos erros do passado. Os jovens
deverão agir em conssonância
não cedendo às tentações das
gerações anteriores e não desejando
um Estado que nunca conseguirão
suportar. Só assim melhorarão o
seu futuro e não deixarão para a
geração seguinte a mesma herança
que receberam.
O seu ministério é a principal face
daquilo a que o Governo chama de
“ética social na austeridade”. O
exemplo mais notório dessa ética
social está plasmado no Programa
de Emergência Social. De que
forma esse programa será capaz de
contrabalançar a austeridade com
que os portugueses têm de viver?
O Programa de Emergência Social
que conta, no orçamento de 2013,
com uma verba de 631M€ foi
desenhado para o combate à
exclusão social, para proteger
aqueles que têm mais dificuldades e
mitigar ou salvaguardar dos
sacríficios aqueles que a eles não
podem responder. Nesse sentido
definiram-se cinco pilares
26 entrevista
nomeadamente libertando os
cidadãos de parte das contri-
buições para a segurança social e
conferindo-lhes mais liberdade de
escolha?
Esse estudo foi já por nós anunciado.
Temos de assumir os problemas se
queremos encontrar respostas
capazes. A sustentabilidade da
Segurança Social é afectada pela
diminuição da natalidade, mas
também, resultante do aumento do
desemprego, pela diminuição das
receitas contributivas e do aumento
da despesa com subsídios e outras
prestações sociais. Importa pois
econtrarmos soluções que mais uma
vez devolvam o futuro às gerações
seguintes. Dele também depende o
futuro.
Como ministro tem dado segui-
mento a propostas antigas do CDS
para um aprofundamento das
relações entre o Estado e as
instituições sociais. Disse até, por
exemplo, que o sucesso das
Misericórdias pode torna-las um
bom “produto de exportação”.
Que importância têm, afinal, estas
instituições para a eficácia do
apoio social que é prestado no
nosso país?
Não pode torná-las. Elas são já um
“produto de exportação”. Existem
um pouco por todo o mundo e com
bastante sucesso independen-
temente do contexto. É sinal que o
modelo funciona. Mas não são
apenas as misericórdias. São todas
as instituições sociais que do Algarve
ao Minho prestam tão importante
resposta social. É por isso que com
elas queremos criar um novo
paradigma de resposta social. Um
Estado Social de parceria. O Estado
não pode abdicar das suas
responsabilidades – até porque
muitas delas são indelegáveis – mas
pode contratualizar com as
entrevista 27
‘As prestações sociais têm sempre um risco moral associado: apesar de se ter condições para trabalhar, ser preferível ficar a recebê-las encostado ao Estado. Esse risco deve ser diminuido.’
paradigma de resposta social. Um
Estado Social de parceria. O Estado
não pode abdicar das suas
responsabilidades – até porque
muitas delas são indelegáveis – mas
pode contratualizar com as
instituições o complemento da sua
resposta social por forma a tecer
uma rede de solidariedade de malha
mais fina e abrangente. É nesse
sentido que temos vindo a
desenvolver medidas que reforçam a
sustentabilidade das instituições
sociais e que criam novas medidas
que permitem um maior e melhor
serviço às famílias portuguesas.
Disse há não muito tempo que
“não é possível que uma pessoa
que tem 100 mil euros no banco em
depósitos possa ainda assim
receber o RSI”. De que forma pensa
racionalizar a atribuição do RSI e
que mecanismos propõe para uma
fiscalização mais eficaz?
As prestações sociais têm sempre
um risco moral associado: apesar de
se ter condições para trabalhar, ser
preferível ficar a recebê-las
encostado ao Estado. Esse risco
deve ser diminuido. Bem como
também deverá ser diminuida a
permeabilidade das prestações
sociais à fraude e ao abuso. É isso
que temos vindo a fazer alterações
por forma a dar o apoio a quem
efectivamente precisa. Foi essa
lógica que imperou quando tratámos
de avançar com um verdadeiro
contrato de inserção, em que para
além dos direitos passaram a existir
deveres: sejam mínimos de
frequência escolar e cuidados de
saúde dos filhos, seja a participação
em actividades socialmente úteis.
Quem quebrar estas, entre outras
regras, perde direito à prestação.
Além que não tem direito a ela quem
tenha 25 000 euros de património
imobiliário, ou bens móveis ou esteja
28 entrevista
o seu regresso ao mercado de
trabalho. Assim diminui-se o risco
moral de que falava há pouco.
Que mensagem gostaria de deixar
aos nossos leitores e militantes?
Sei que a maioria são jovens
militantes da JP. Os sacríficios que
hoje estamos a pedir aos portu-
gueses servem para devolver
soberania a Portugal e o futuro que
também é vosso. Não é um caminho
fácil mas para isso contamos com a
vossa ajuda. A JP tem característícas
únicas de combatividade e espírito
crítico. Nunca as percam. Convosco
Portugal promete.
por parte de muitos beneficiários?
O RSI deve ter um carácter
transitório, que não estimule a
permanência ou dependência da
prestação, por forma a que a pessoa
possa regressar ao mercado de
trabalho o mais brevemente
possível. Em 2004, o tempo de
permanência no RSI era de 8 meses.
Em 2011 encontrava-se nos 32
meses. Com a criação da Actividade
Socialmente Útil, em que estes
beneficiários prestam apoio às
autarquias, bibliotecas, museus
ou instituições sociais, mantém-se
hábitos de trabalho e valo-
rização pessoal, aproximam-se
beneficiários de possíveis agentes
empregadores futuros e estimula-se
o seu regresso ao mercado de
trabalho. Assim diminui-se o risco
moral de que falava há pouco.
em actividades socialmente úteis.
Quem quebrar estas, entre outras
regras, perde direito à prestação.
Além que não tem direito a ela
quem tenha 25 000 euros de
património imobiliário, ou bens
móveis ou esteja em prisão
preventiva ou a cumprir pena de
prisão. Tudo alterações que nos
permitem diminuir o risco de ter um
euro mal gasto que faz falta a quem
mais precisa.
Considera que o RSI, desde logo na
situação actual, poderá ser contra-
producente no que toca uma
procura mais activa de emprego
por parte de muitos beneficiários?
O RSI deve ter um carácter
transitório, que não estimule a
permanência ou dependência da
prestação, por forma a que a pessoa
possa regressar ao mercado de
‘O Estado não pode abdicar das
suas responsabilidades – até porque
muitas delas são indelegáveis – mas
pode contratualizar com as
instituições o complemento da sua
resposta social por forma a tecer
uma rede de solidariedade de malha
mais fina e abrangente.’
entrevista 29
Lúcia Santos
primeira conclusão a reti-
rar da análise da estrutura
etária da população resi-
dente actual nas sociedades dos
países desenvolvidos, em especial
da Europa, continente mais
envelhecido dos cinco, parece ser o
envelhecimento da população, onde
Portugal assume um lugar de
destaque, uma vez que é um dos
países europeus com maior índice
de envelhecimento.
Esta realidade é um dos traços
estruturais mais marcantes das
sociedades contemporâneas desen-
volvidas, trazendo consigo prob-
lemas transversais nefastos, pelo
que deve ser encarada como um
problema político sério a ser
assumido pelas políticas públicas.
Tal como nos países desenvolvidos,
onde esta questão faz parte da
agenda política e é debatida há já
bastante tempo, numa busca
constante de soluções, em Portugal
este problema também não é
Tal como nos países desenvolvidos,
onde esta questão faz parte da
agenda política e é debatida há já
bastante tempo, numa busca
constante de soluções, em Portugal
este problema também não é
propriamente recente, mas a plena
consciência da sua gravidade só
surgiu nos últimos anos, que
revelaram os dados de natalidade
mais baixos desde que há
estatísticas oficiais sobre esta
matéria (1935).
Este envelhecimento populacional é
um fenómeno controverso. Se, por
um lado, constitui um notável
progresso social, em muito
resultante das melhorias ao nível
das condições de vida, directamente
relacionadas com a alteração dos
hábitos alimentares e outros, com
os progressos na medicina e com o
sucesso das políticas de saúde
(melhoria da assistência médica) e
de protecção social (alargamento
dos sistemas de apoio), por outro
lado, juntamente com muitos outros
factores, coloca em causa alguns dos
equilíbrios financeiros e
institucionais que sustentam essas
mesmas políticas.
Na realidade, o grande problema
lado, juntamente com muitos outros
factores, coloca em causa alguns dos
equilíbrios financeiros e institu-
cionais que sustentam essas
mesmas políticas.
Na realidade, o grande problema
associado ao envelhecimento da
população não é o aumento da
esperança média de vida, mas o
decréscimo dos nascimentos, pois
se estes se mantivessem em valores
equilibrados, estaríamos apenas
perante uma sociedade de pessoas
que vivem mais tempo e não de uma
sociedade envelhecida. Neste caso
haveria apenas que adaptar a
sociedade a uma nova, mas boa,
realidade, resultado do desen-
volvimento económico e social.
São, de facto, estes dois factores, o
acréscimo da esperança média de
vida e a baixa natalidade, que
contribuem decisivamente para o
fenómeno do envelhecimento
populacional.
Entre 1960 e 2011 a esperança
média de vida à nascença aumentou
15 anos, tendo passado em cinco
décadas do valor de apenas 64 anos
para ambos os sexos, sendo de 61
anos para os homens e 67 anos para
as mulheres, para 79 anos para
Os caminhos da demografia em Portugal
32 especial
A
especial 33
média de vida à nascença aumentou
15 anos, tendo passado em cinco
décadas do valor de apenas 64 anos
para ambos os sexos, sendo de 61
anos para os homens e 67 anos para
as mulheres, para 79 anos para
ambos os sexos, sendo de 76 para os
homens e de 82 para as mulheres.
Paralelamente, a taxa de natalidade
passou de 28 nascimentos por 1000
habitantes em 1935 para 9
nascimentos por 1000 habitantes
em 2011, o que representa,
praticamente, três vezes menos.
Esta queda faz-se sentir desde
meados dos anos sessenta.
Associado a esta diminuição do
número de nascimentos, encontra-
se o declínio do índice sintético de
fecundidade, que representa o
número médio de crianças vivas
nascidas por mulher em idade fértil
(dos 15 aos 49 anos de idade) e que
nos últimos 25 anos se tem situado
constantemente abaixo do limiar
mínimo que permite a renovação de
gerações (cerca de 2,1 filhos por
mulher em idade fértil). Em 2011 o
índice sintético de fecundidade
situou-se em 1,5 filhos por mulher
em idade fértil.
Mas não é só o número de filhos por
mulher que tem descido, a idade em
que as mulheres têm os filhos é
também cada vez mais tardia. Do
mesmo modo, observam-se igual-
mente reflexos na redução do
número de famílias com filhos, bem
como no número de filhos por
família.
Este decréscimo contínuo da taxa de
natalidade contribui irremedi-
avelmente para uma desaceleração
da dinâmica populacional natural,
que só poderá ser compensada por
um saldo migratório positivo. Em
2011 os nascimentos (96856) foram
inferiores às mortes (103203), o
que se traduziu num crescimento
natural negativo, e o fluxo de
imigrantes, ainda que apresentando
valores positivos, o que explica o
ficativas por sexo, mesmo tendo
presente que as mulheres apre-
sentam uma maior esperança média
de vida que os homens.
Foi em 2000 que pela primeira vez o
número de jovens em Portugal foi
superado pelo número de idosos.
Procedendo-se a uma análise mais
pormenorizada dos grupos etários
entre 2000 e 2011, verificamos que
a população jovem (0-14 anos)
reduziu -4,15%, enquanto a
população idosa (65 anos ou mais)
sofreu um aumento de 20,58%. No
mesmo período, a proporção de
indivíduos em idade activa (15-64
anos) cresceu 0,40%.
Naturalmente, esta realidade vai
traduzir-se num decréscimo da
população portuguesa, esperando-
se em 2050, segundo a estimativa
do Instituto Nacional de Estatística
(INE), um total de 9 302 500
habitantes, o que representa menos
1 253 353 habitantes que em 2011,
valor corresponde a -11,87%.
Esta diminuição populacional será,
2011 os nascimentos (96856) foram
inferiores às mortes (103203), o
que se traduziu num crescimento
natural negativo, e o fluxo de
imigrantes, ainda que apresentando
valores positivos, o que explica o
ligeiro aumento populacional que se
verificou no nosso país na última
década (2001-2011), diminuiu
bastante face a valores de anos
anteriores.
Estamos, assim, perante um fenó-
meno de duplo envelhecimento da
população, que se traduz por um
estreitamento da base e por um
alargamento do topo da pirâmide
etária, resultante do declínio das
classes etárias mais jovens,
prosseguido pelo acréscimo das
classes etárias mais idosas, não
havendo diferenças muito signi-
significativas por sexo, mesmo
tendo presente que as mulheres
apresentam uma maior esperança
média de vida que os homens.
Foi em 2000 que pela primeira vez o
número de jovens em Portugal foi
34 especial
Este envelhecimento
populacional é um fenómeno
controverso. Se, por um lado,
constitui um notável progresso
social, em muito resultante das
melhorias ao nível das
condições de vida, por outro
lado coloca em causa alguns
dos equilíbrios financeiros e
institucionais que sustentam
essas mesmas políticas.
idosos assiste-se ao aumento dos
encargos sociais com as reformas, as
pensões e a assis-tência médica e à
crescente dificuldade de cobrir os
encargos daí derivados com recurso
a um número cada vez mais
reduzido de contribuintes
(população em idade activa). Deste
modo, não só fica em causa a
sustentabilidade do sistema de
segurança social e o funci-onamento
do serviço nacional de saúde, mas
igualmente a estrutura da despesa
pública, sobrecarregada com a
necessidade de aumentar os gastos
com apoios sociais e serviços de
saúde associados às populações
mais idosas.
Mas para além destes efeitos, esta
situação tem ainda reflexos na edu-
cação, no emprego e na legislação
laboral, na competitividade da
economia e na política de imigração,
entre muitas outras áreas.
Por último, observam-se ainda
consequências ao nível do orde-
namento e planeamento do terri-
tório, desde a organização
administrativa, às estratégias de
desenvolvimento, passando pelo
planeamento das infra-estruturas
(nos domínios do saneamento
básico, da rede eléctrica, das
comunicações, dos transportes,
entre muitos outros) e dos
equipamentos colectivos (nos
domínios da administração, da
educação, do desporto, do social, da
saúde, da justiça, entre muitos
outros), quer em termos de número,
quer em termos de distribuição
espacial.
Tal como o problema se faz sentir
em diversas esferas, a solução tem
de passar também por uma
intervenção nas suas diferentes
dimensões, pois de outra forma não
se atingirão os resultados
esperados.
Todo e qualquer debate que se
pretenda fazer sobre o Futuro de
Portugal tem de ter estes dados
do Instituto Nacional de Estatística
(INE), um total de 9 302 500
habitantes, o que representa menos
1 253 353 habitantes que em 2011,
valor corresponde a -11,87%.
Esta diminuição populacional será,
inevitavelmente, acompanhada por
um aumento do índice de
envelhecimento e do coeficiente de
dependência de idosos. Mantendo-
se esta tendência e segundo a
estimativa do INE, em 2050 cerca de
80% da população portuguesa
apresentar-se-á envelhecida e
dependente e a idade média poderá
situar-se próxima dos 50 anos.
As razões justificativas deste
declínio continuado da taxa de
natalidade e deste aumento
crescente da esperança média de
vida são várias, abrangendo
questões de natureza cultural,
social, económica e financeira, e os
impactos estão e continuarão a
fazer-se sentir, igualmente, nestas
diferentes esferas, sendo os seus
efeitos, potencialmente, cada vez
mais graves.
Por estes motivos, e embora a
demografia não seja um problema
político clássico, esta condiciona de
uma forma muito significativa uma
representativa parte das políticas
públicas.
Com excepção das consequências
evidentes ao nível da mudança dos
modelos de vida e de consumo, as
áreas que mais directamente são
afectadas com este problema são a
segurança social e a saúde, estando
actualmente em causa a manu-
tenção do estado social como todos
o conhecemos. De facto, parale-
lamente ao envelhecimento popula-
cional e ao consequente acréscimo
do coeficiente de dependência de
idosos assiste-se ao aumento dos
encargos sociais com as reformas, as
pensões e a assistência médica e à
crescente dificuldade de cobrir os
encargos daí derivados com recurso
a um número cada vez mais
planeamento das infra-estruturas
(nos domínios do saneamento
básico, da rede eléctrica, das
comunicações, dos transportes,
entre muitos outros) e dos equi-
pamentos colectivos (nos domínios
da administração, da educação, do
desporto, do social, da saúde, da
justiça, entre muitos outros), quer
em termos de número, quer em
termos de distribuição espacial.
Tal como o problema se faz sentir
em diversas esferas, a solução
tem de passar também por uma
intervenção nas suas diferentes
dimensões, pois de outra forma
não se atingirão os resultados
esperados.
Todo e qualquer debate que
se pretenda fazer sobre o Futuro
de Portugal tem de ter
estes dados como ponto de
partida. Temos um estado social,
uma rede de infra-estruturas e de
equipamentos colectivos e
uma divisão administrativa
pensados para um Portugal de
ontem e precisamos urgente-
mente de pensar o Portugal de
amanhã.
especial 35
As áreas que mais directamente
são afectadas com o problema
demográfico são a segurança
social e a saúde, estando
actualmente em causa a
manutenção do estado social
como todos o conhecemos.
As eleições americanas e o futuro do GOP
36 opinião
questões sociais ou fazer passar melhor a sua
mensagem. O Grand Old Party (GOP) estará a ajustar a
sua estratégia nos próximos meses, para preparar as
eleições para o Congresso daqui a dois anos.
Os Young Republicans [a juventude do Partido
Republicano] e os membros mais jovens do GOP são
muito mais libertários que a actual liderança do
partido, que levarão a assumir posições diferentes
nestas questões sociais. Isso indica que, apesar de o
partido ter tido um percalço nestas eleições, o futuro
parece ser risonho e haverá uma mudança no discurso
nas próximas duas décadas. Para além disso, os
elementos mais jovens do GOP fazem um caminho bem
diferente nas matérias sociais em relação aos
democratas. Por exemplo, enquanto que os Young
Democrats [a juventude do Partido Democrata]
defende a legalização do casamento entre pessoas do
mesmo sexo, a juventude do GOP acredita que o Estado
deve deixar, pura e simplesmente, de regular o
casamento, garantindo apenas uniões civis, passando o
casamento a ser matéria da exclusiva responsabilidade
das organizações religiosas.
A filosofia de retirar o Estado das questões sociais ao
invés de forçar a regulação das mesmas, parece ser a
chave para a atitude do Partido Republicano num
futuro próximo, alterando por completo a forma como
o GOP olha as questões sociais, algo que o ajudará a
vencer eleições no futuro.
recente eleição Presidencial nos Estados
Unidos da América, no passado dia 6 de
Novembro, foi uma das mais disputadas da
história do país, colocando o actual presidente Barack
Obama, candidato democrata, contra Mitt Romney, o
candidato republicano.
O Presidente Obama ganhou a eleição com grande
margem no Colégio Eleitoral, mas o Governador
Romney perdeu por muito pouco se tivermos em conta
apenas o voto popular. Por isso, importa perguntar o
que deu ao Presidente a vantagem na corrida. Olhando
para as estatísticas, Barack Obama superou Mitt
Romney no voto feminino (especialmente entre as
mulheres solteiras), no voto das minorias e no voto
jovem. Igualmente preocupante para o Partido
Republicano é o facto de a margem de vitória para os
Democratas em muitos dos ‘swing states’ corresponder
à votação de um terceiro partido, à direira em termos
fiscais, e mais libertário em termos sociais do que o
Partido Republicano.
Este problema nas questões sociais foi também
perceptível nas sondagens à boca da urna. Apesar de a
maioria dos eleitores dizer que a questão mais
importante para si era a economia e que confiavam
mais nos Republicanos nesta matéria, acabavam por
votar de acordo com questões sociais, onde diziam
confiar mais no Partido Democrata. O Partido
Republicano necessita de mudar a sua política nas
questões sociais ou fazer passar melhor a sua
mensagem. O Grand Old Party (GOP) estará a ajustar
sua estratégia nos próximos meses, para preparar as
eleições para o Congresso daqui a dois anos.
Os Young Republicans [a juventude do Partido
Republicano] e os membros mais jovens do GOP são
A
Edward Howard Chair of the European Affair Sub-Committee
International Committee, Young Republican National Federation
r
Rafael Borges
assou o tempo do Hope and
Change. Quatro anos depois
da sua vitória sobre John
McCain, Barack Obama recan-
didatou-se a líder do Mundo Livre
sem garantia de triunfo. E compre-
ende-se porquê: volvido o primeiro
mandato, os resultados não pode-
riam ter sido mais decepcionantes –
nem ficado mais aquém das
expectativas dos 69 milhões de
norte-americanos que, em 2008,
votaram nele. Durante a campanha,
Mitt Romney, o candidato repu-
blicano, disse várias vezes que a
maior dificuldade do Presidente
seria apresentar ao eleitorado o seu
legado e, ainda assim, vencer as
eleições. É provável que tivesse
razão.
O clima de optimismo que, em 2008,
se gerou à volta do actual
Presidente Obama chocou o mundo.
Com a popularidade de Bush abaixo
dos 30%, Obama conseguiu a
proeza de construir um momento de
imparável positivismo político. A
se gerou à volta do actual Presi-
dente Obama chocou o mundo. Com
a popularidade de Bush abaixo dos
30%, Obama conseguiu a proeza
de construir um momento de
imparável positivismo político. A
uma América em crise económica e
financeira, a uma nação obrigada a
enfrentar, em várias frentes de
combate, as dificuldades da Guerra
ao Terrorismo, a todo um povo cuja
confiança nos seus representantes
tinha colapsado, Obama respondeu
com uma onda de entusiasmo que
fez dele um ícone político mundial.
Em 2008, em plena campanha
eleitoral, o actual presidente norte-
americano chegou, inclusivamente,
a acusar o então Presidente Bush de
ser “pouco patriota”, por ter aumen-
tado a dívida pública dos Estados
Unidos em 4.8 mil milhões de
dólares durante os 8 anos que
durou a sua administração. Durante
a campanha para as presidenciais,
porém, 4 anos após se ter compro-
metido com uma redução do défice
federal a rondar os 50%, Obama não
tinha outra opção, outro caminho
que não fosse o de aceitar os factos:
longe de ter reduzido o défice dos
500 mil milhões do Presidente Bush
com uma onda de entusiasmo que
fez dele um ícone político mundial.
Em 2008, em plena campanha
eleitoral, o actual presidente norte-
americano chegou, inclusivamente,
a acusar o então Presidente Bush de
ser “pouco patriota”, por ter aumen-
tado a dívida pública dos Estados
Unidos em 4.8 mil milhões de
dólares durante os 8 anos que
durou a sua administração. Durante
a campanha para as presidenciais,
porém, 4 anos após se ter compro-
metido com uma redução do défice
federal a rondar os 50%, Obama não
tinha outra opção, outro caminho
que não fosse o de aceitar os factos:
longe de ter reduzido o défice dos
500 mil milhões do Presidente Bush
para os almejados 250 mil milhões
de dólares, o actual Presidente
aumentou-o para uns estonteantes
1.5 biliões, em numeração europeia.
Foi essencialmente no falhanço das
políticas económicas de Obama que
a dupla republicana escolhida para
disputar a Casa Branca se
concentrou. Embora, enquanto
Governador do Estado do
Massachusetts, Mitt Romney não se
tenha revelado partidário de muitos
dos mantras hoje advogados pelas
P
Uma vitória suada e um país de sangue e lágrimas
38 internacional
Quatro anos depois da sua vitória,
Obama recandidatou-se sem
garantia de triunfo. Compreende-se:
volvido o primeiro mandato, os
resultados não poderiam ter sido
mais decepcionantes
metido com uma redução do défice
federal a rondar os 50%, Obama não
tinha outra opção, outro caminho
que não fosse o de aceitar os factos:
longe de ter reduzido o défice dos
500 mil milhões do Presidente Bush
para os almejados 250 mil milhões
de dólares, o actual Presidente
aumentou-o para uns estonteantes
1.5 biliões, em numeração europeia.
Foi essencialmente no falhanço das
políticas económicas de Obama que
a dupla republicana escolhida para
disputar a Casa Branca se
concentrou. Embora, enquanto
Governador do Estado do
Massachusetts, Mitt Romney não se
tenha revelado partidário de muitos
dos mantras hoje advogados pelas
bases do Partido Republicano, a sua
campanha prometeu aos ameri-
canos cortes substanciais na
despesa e, com eles, uma
igualmente relevante diminuição de
impostos. E a escolha de Paul Ryan,
uma das vozes que, de dentro do
GOP, mais tem clamado por cortes
na despesa e na taxação exigida aos
cidadãos norte-americanos, para
candidato a Vice-Presidente só veio
reforçar a imagem da dupla
republicana enquanto voz de uma
América que, longe de querer mais,
pediu – e continua a pedir – menos
governo.
Mas não resultou. Embora a eleição
tenha sido a mais renhida desde
2000, quando o George W. Bush
venceu o Colégio Eleitoral apesar de
ter perdido o voto popular, Barack
Obama acabou por vencê-la - e com
uma vantagem de quase 3% sobre o
seu adversário republicano. Para o
GOP, embora as sondagens já
sugerissem o desfecho que acabou
por concretizar-se, a derrota foi um
choque. Após a noite eleitoral, o
próprio Karl Rove, um dos
principais estrategos dos
Republicanos, explicou o que falhou:
primeiro, ninguém na campanha de
Romney achava ser possível uma
Não obstante ter pedido um
resultado bem mais elevado que
aquele que acabou por obter,
Gary Johnson fez história ao
conquistar a melhor votação da
história do Partido Libertário.
Johnson, que já serviu como
Governador do Estado do Novo
México pelo Partido Republicano,
é um liberal clássico com posições
próximas das assumidas por um
dos candidatos à nomeação
republicana, Ron Paul.
segundo, ele foi muito mais longe
que isso: os conservadores espera-
vam obter muitos milhares de votos
adicionais através do Projecto
ORCA, votos esse que serviriam
para conquistar Estados-chave
como o Ohio, a Florida e a Virginia.
Com o falhanço do projecto, porém,
os republicanos perderam tanto em
Estados cuja conquista seria difícil
(novamente, como o Ohio e a
Virginia), como em alguns que
julgavam ter do seu lado, como é o
caso da Florida e do Colorado. Esses
dois falhanços, juntamente com
algumas das gaffes de Romney
durante a campanha, acabaram por
assegurar a Obama os Four More
Years que pedia.
Outro resultado digno de nota,
embora pouco surpreendente, foi o
atingido pelo candidato do Partido
choque. Após a noite eleitoral, o
próprio Karl Rove, um dos
principais estrategos dos Republi-
canos, explicou o que falhou:
primeiro, ninguém na campanha de
Romney achava ser possível uma
vitória de Obama com um
desemprego acima dos 7%;
segundo, o Projecto ORCA, um
programa destinado a levar o maior
número de eleitores republicanos
que fosse possível às urnas, falhou
redondamente. E se, no primeiro
caso, o erro de Romney se limitou a
uma má análise do comportamento
dos votantes, a verdade é que, no
segundo, ele foi muito mais longe
que isso: os conservadores
esperavam obter muitos milhares
de votos adicionais através do
Projecto ORCA, votos esse que
serviriam para conquistar Estados-
40 internacional
difícil de cumprir: com o peso do
governo a aumentar de dia para dia,
um crescimento económico
medíocre, impostos cada vez mais
elevados e as despesas federais a
atingirem máximos históricos,
parece improvável que Obama
consiga alcançar os objectivos a que
se propõe.
Israel novamente sob
fogo inimigo
Quando, encorajado pela visita de
Hamad bin Khalifa Al Thani, Emir do
Qatar, o Hamas decidiu ignorar o
cessar-fogo acordado com Israel, Tel
Aviv tentou conter-se. A verdade, e
Israel sabe-o bem, é que o
agravamento da situação dificil-
mente traria ao Sul de Israel mais
tranquilidade que aquela que já
tinha. Mas os bombardeamentos
não pararam – e compreende-se
porquê. É que o Emir do Qatar
trouxe a Gaza bem mais que apoio e
reconhecimento diplomático. Visi-
tou Ismail Haniyeh, primeiro-
ministro da Autoridade
Palestiniana, com o objectivo de
oferecer ao seu movimento
terrorista, o Hamas, várias centenas
de milhões de euros.
Apesar da esperança israelita de
que a ofensiva islamista fosse de
curta duração, isso não se
concretizou. À visita do Emir do
Qatar seguiram-se semanas de
bombardeamento constante por um
Hamas de confiança redobrada,
assertivo, determinado em provar
ao Emir, e aos próprios
“palestinianos”, não temer as forças
da única verdadeira democracia do
Médio Oriente. Foi isso, o clima de
pânico que os terroristas do Hamas
obrigaram 3.5 milhões de israelitas
residentes no sul do país a suportar,
que deu à contra-ofensiva israelita
uma aura de absoluta,
durante a campanha, acabaram por
assegurar a Obama os Four More
Years que pedia.
Outro resultado digno de nota,
embora pouco surpreendente, foi o
atingido pelo candidato do Partido
Libertário, Gary Johnson. Não
obstante ter pedido um resultado
bem mais elevado que aquele que
acabou por obter, Gary Johnson fez
história ao conquistar a melhor
votação da história do PL. Johnson,
que já serviu como Governador do
Estado do Novo México pelo Partido
Republicano, é um liberal clássico
com posições próximas das
assumidas por um dos candidatos à
nomeação republicana, Ron Paul.
Crítico da guerra às drogas, do
envolvimento norte-americano em
conflitos internacionais e do
crescente peso do governo federal
na vida dos norte-americanos, Gary
Johnson conseguiu dar ao Partido
Libertário aquilo de que mais
precisa: um crescimento eleitoral
que espelhe o enorme crescimento
que tem tido em militância.
Agora que tem garantido um
segundo mandato, Obama terá de
esforçar-se por resolver os
problemas que, ou criou, ou se
absteve de resolver. De acordo com
as suas previsões, o défice deverá
começar a recuar já em 2012, para
901 mil milhões de dólares, abrindo
caminho a uma redução futura
ainda maior. Espera o Presidente
atingir, pelo fim do seu mandato, um
défice orçamental entre os 500 e os
700 mil milhões: o que, ainda assim,
significa de 20 biliões de dólares –
novamente, é a numeração europeia
a utilizada – em 2016, o último ano
da Administração Obama. É,
naturalmente, certo que tal será
difícil de cumprir: com o peso do
governo a aumentar de dia para dia,
um crescimento económico
medíocre, impostos cada vez mais
elevados e as despesas federais a
atingirem máximos históricos,
Israel novamente sob
fogo inimigo
Quando, encorajado pela visita de
Hamad bin Khalifa Al Thani, Emir do
Qatar, o Hamas decidiu ignorar o
cessar-fogo acordado com Israel, Tel
Aviv tentou conter-se. A verdade, e
Israel sabe-o bem, é que o
agravamento da situação dificil-
mente traria ao Sul de Israel mais
tranquilidade que aquela que já
tinha. Mas os bombardeamentos
não pararam – e compreende-se
porquê. É que o Emir do Qatar
trouxe a Gaza bem mais que apoio e
reconhecimento diplomático. Visi-
tou Ismail Haniyeh, primeiro-
ministro da Autoridade
Palestiniana, com o objectivo de
oferecer ao seu movimento
terrorista, o Hamas, várias centenas
de milhões de euros.
Apesar da esperança israelita de
que a ofensiva islamista fosse de
curta duração, isso não se
concretizou. À visita do Emir do
Qatar seguiram-se semanas de
bombardeamento constante por um
Hamas de confiança redobrada,
assertivo, determinado em provar
ao Emir, e aos próprios
“palestinianos”, não temer as forças
da única verdadeira democracia do
Médio Oriente. Foi isso, o clima de
pânico que os terroristas do Hamas
obrigaram 3.5 milhões de israelitas
residentes no sul do país a suportar,
que deu à contra-ofensiva israelita
uma aura de absoluta,
inquestionável necessidade: se Tel
Aviv não serve para proteger os
seus cidadãos das forças que tentam
atingi-los, destruir a sua
propriedade e roubar-lhes as suas
vidas, não serve para nada. E o
Primeiro-Ministro israelita,
Binyamin Netanyahu, sabe isso – e
não se dispôs a aceitá-lo.
A contra-ofensiva das Forças de
Defesa de Israel (Israel Defence
Forces, ou IDF, em inglês), começou
internacional 41
Agora que tem garantido um
segundo mandato, Obama terá
de esforçar-se por resolver os
problemas que, ou criou, ou se
absteve de resolver.
agravamento da situação dificil-
mente traria ao Sul de Israel mais
tranquilidade que aquela que já
tinha. Mas os bombardeamentos
não pararam – e compreende-se
porquê. É que o Emir do Qatar
trouxe a Gaza bem mais que apoio e
reconhecimento diplomático. Visi-
tou Ismail Haniyeh, primeiro-
ministro da Autoridade Palesti-
niana, com o objectivo de oferecer
ao seu movimento terrorista, o
Hamas, várias centenas de milhões
de euros.
Apesar da esperança israelita de
que a ofensiva islamista fosse de
curta duração, isso não se
concretizou. À visita do Emir do
Qatar seguiram-se semanas de
bombardeamento constante por um
Hamas de confiança redobrada,
assertivo, determinado em provar
ao Emir, e aos próprios “palesti-
nianos”, não temer as forças da
única verdadeira democracia do
Médio Oriente. Foi isso, o clima de
pânico que os terroristas do Hamas
obrigaram 3.5 milhões de israelitas
residentes no sul do país a suportar,
que deu à contra-ofensiva israelita
uma aura de absoluta, inquesti-
onável necessidade: se Tel Aviv não
serve para proteger os seus
cidadãos das forças que tentam
atingi-los, destruir a sua
propriedade e roubar-lhes as suas
vidas, não serve para nada. E o
Primeiro-Ministro israelita, Binya-
min Netanyahu, sabe isso – e não se
dispôs a aceitá-lo.
A contra-ofensiva das Forças de
Defesa de Israel (Israel Defence
Forces, ou IDF, em inglês), começou
com um ataque cirúrgico que
vitimou o líder do braço militar do
Hamas, Ahmed Jaabari. Jaabari, que
tinha já estado preso numa prisão
israelita por estar envolvido em
actos de terrorismo, era agora quem
liderava a ofensiva do Hamas contra
alvos civis israelitas no sul do país.
Deixou de o ser quando a Força
ao Estado Judaico. À reacção
inflamada do Hamas, seguiu-se um
bombardeamento maciço do sul de
Israel, através de rockets Grad e dos
muito mais perigosos Fajr 5
iranianos. Israel, pela sua parte,
iniciou centenas de ataques
cirúrgicos na Faixa de Gaza, com o
objectivo de neutralizar as bases de
onde o Hamas lança os seus mísseis.
É essa a situação que se verifica,
presentemente, no terreno.
Porém, a verdade é que, se a pre-
sente circunstância é má, a futura
tem tudo para ser pior. Com o
Hamas a recusar todas as condições
de paz de Israel e Israel a recusar as
condições de paz do Hamas, parece
plausível que o conflito continue a
aumentar de intensidade. Mais: caso
Israel opte por iniciar uma invasão
terrestre – algo que, aliás,
tinha já estado preso numa prisão
israelita por estar envolvido em
actos de terrorismo, era agora quem
liderava a ofensiva do Hamas contra
alvos civis israelitas no sul do país.
Deixou de o ser quando a Força
Aérea Israelita atacou o carro em
que seguia, matando-o a ele e ao seu
guarda-costas.
Chocado com a morte de um dos
seus mais leais companheiros de
armas, o Primeiro-Ministro da
Autoridade Palestiniana, Ismail
Haniyeh, declarou de imediato que
Israel havia “aberto as portas do
inferno”, declarando “guerra total”
ao Estado Judaico. À reacção
inflamada do Hamas, seguiu-se um
bombardeamento maciço do sul de
Israel, através de rockets Grad e dos
muito mais perigosos Fajr 5
iranianos. Israel, pela sua parte,
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´
de paz de Israel e Israel a recusar as
condições de paz do Hamas, parece
plausível que o conflito continue a
aumentar de intensidade. Mais: caso
Israel opte por iniciar uma invasão
terrestre – algo que, aliás,
acontecerá obrigatoriamente se o
Hamas não parar o lançamento de
mísseis contra o sul do Estado
Judaico -, é possível que, por mão
iraniana, o Hezbollah crie uma
segunda frente, a norte. E sucede
que o Hezbollah não é o Hamas. Se o
movimento de Haniyeh usa, na
generalidade dos casos, armamento
de fraca qualidade, o mesmo não
sucede com o de Hassan Nasrallah.
Pelo contrário, o Hezbollah conta
com milhares de soldados
profissionais e material militar
tecnologicamente sofisticado. Se o
agravamento do conflito atingirá, ou
não, este nível de gravidade, só os
próximos dias dirão. Mas que não
haja dúvidas quanto a isto: desde os
anos da sua fundação que Israel não
está numa situação tão desvan-
tajosa. Como há 60 anos, Israel terá
de estar preparado para lutar pela
sua sobrevivência.
Foi o clima de pânico que os terroristas do Hamas
fizeram milhões de israelitas suportar, que deu à
contra-ofensiva israelita uma aura de absoluta e
inquestionável necessidade: se Tel Aviv não serve
para proteger os seus cidadãos das forças que
tentam atingi-los, destruir a sua propriedade e
roubar-lhes as suas vidas, não serve para nada.
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