PAULO VINÍCIUS MAGNAGO GALVÃOiii ESPAÇAMENTO E PODA NA CULTURA DO CAFÉ CONILON (Coffea canephora...
Transcript of PAULO VINÍCIUS MAGNAGO GALVÃOiii ESPAÇAMENTO E PODA NA CULTURA DO CAFÉ CONILON (Coffea canephora...
ESPAÇAMENTO E PODA NA CULTURA DO CAFÉ CONILON (Coffea canephora Pierre)
PAULO VINÍCIUS MAGNAGO GALVÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO - UENF
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
JUNHO – 2009
ii
ESPAÇAMENTO E PODA NA CULTURA DO CAFÉ CONILON (Coffea canephora Pierre)
PAULO VINÍCIUS MAGNAGO GALVÃO
“Monografia apresentada ao Centro de
Ciências e Tecnologias Agropecuárias da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro para obtenção
do Grau de Bacharel em Agronomia”.
Orientador: Prof. Henrique Duarte Vieira
Campos dos Goytacazes – RJ Junho – 2009
iii
ESPAÇAMENTO E PODA NA CULTURA DO CAFÉ CONILON (Coffea canephora Pierre)
PAULO VINÍCIUS MAGNAGO GALVÃO
“Monografia apresentada ao Centro de
Ciências e Tecnologias Agropecuárias da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro para obtenção
do Grau de Bacharel em Agronomia”.
Data: 30/06/09
Comissão Examinadora:
_____________________________________________________________
Prof. Fábio Cunha Coelho (D. Sc. Fitotecnia) – UENF
_____________________________________________________________
Dr. Dimmy H. G. S. Barbosa (D. Sc. Produção Vegetal) – UENF
_____________________________________________________________
Prof. Henrique Duarte Vieira (D. Sc. Produção Vegetal) - UENF
Orientador
iv
“Que Deus nos dê a sabedoria para descobrir o correto, a vontade para elegê-lo e
a força para fazer que seja duradouro”.
(Autor desconhecido)
v
Aos meus queridos pais, Paulo e Sônia
Aos meus irmãos Marcos e Lívia,
Aos meus avôs,
Aos meus tios queridos,
A minha namorada Keila.
DEDICO
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, o criador e a Nossa Senhora por toda proteção e graças concedidas;
A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro por ter tornado
possível a realização de mais um sonho;
Aos meus pais por toda educação, paciência, compreensão, dedicação e força a
mim dada. Obrigada pela confiança que depositaram em mim;
Aos meus irmãos por todo amor e carinho a mim dados. Obrigada pelo apoio e
incentivo durante toda a minha vida;
Aos meus primos;
Aos meus avôs Olívio e Lolita por terem me apoiado desde o início;
A minha namorada Keila, obrigado pelo carinho, ajuda e companheirismo;
Ao professor Henrique pela excelente orientação, pelos ensinamentos e pela
visão dinâmica da Cafeicultura como um todo;
Ao professor Paulo Marcelo (ex-coordenador do Curso de Agronomia), pela
amizade, dedicação e paciência aos alunos;
Ao professor e coordenador do Curso de Agronomia, Silvaldo Felipe da Silveira,
pelo excelente trabalho, amizade e incentivo aos alunos;
Aos amigos Anna Christina, Armando Fornazier, Ana Paula, Berg Casagrande,
Fábio Afonso, João Cortat, Luiz Thiago, Murillo Campos, Partteli Fábio, Priscila
vii
Pixoline, Reinaldo Moreira, Sávio Berilli, Sávio Torezani,Thiago Cunha, Viviane
Goebel;
Aos Funcionários do Incaper, e ao Supervisor do estágio, o Engenheiro Agrônomo
Caio Louzada Martins – Extensionista do Incaper que me orientou durante o
estágio supervisionado;
As funcionárias da biblioteca pelo convívio e amizade;
A todos aqueles em que alguns momentos contribuíram para a minha formação
acadêmica.
viii
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................ix
1. INTRODUÇÃO................................................................................................1
2. REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................4
2.1 Espaçamento................................................................................................4
2.2 Vergamento...................................................................................................9
2.3 Poda............................................................................................................10
2.3.1 Importância da poda.................................................................................15
2.3.2 Tipos de poda...........................................................................................16
2.3.3 Finalidades da poda.................................................................................19
2.3.4 Época de realização da poda...................................................................20
2.3.5 Vantagens da poda de produção.............................................................20
2.3.6 Vantagens da poda de ciclo.....................................................................21
2.4 Desbrotas....................................................................................................23
2.5 Equipamentos utilizados na poda...............................................................24
3. INFORMAÇÕES PESSOAIS........................................................................26
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................28
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................29
ix
RESUMO
Galvão, Paulo Vinícius Magnago; Monografia, Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, Junho de 2009; Espaçamento e Poda na Cultura do
Café Conilon (Coffea canephora Pierre) Orientador: Henrique Duarte Vieira.
O Brasil apresenta grande potencial para produzir café conilon, como por
exemplo, no Estado do Espírito Santo que apresenta uma boa capacidade para
aumentar a média de produtividade do café conilon, a qual gira em torno de 26,6
sacas beneficiadas por hectare. Um dos fatores do baixo nível de produtividade
em algumas regiões do país deve-se a falta de orientação técnica como: as
variedades indicadas para cada região, como conduzir e podar as plantas de café
conilon, qual o melhor espaçamento para cada região, entre outros. O objetivo
deste trabalho foi apresentar informações sobre os espaçamentos e as formas de
poda e condução da cultura do café conilon, fatores estes que contribuem para
aumento da produtividade, bem como a condução das plantas, o número de
hastes por hectare e a nova tecnologia do vergamento que garante uma safra
satisfatória logo na primeira colheita. Esses fatores citados anteriormente levam
ao aumento significativo de produtividade, podendo atingir mais de 120 sacas por
hectare. Este trabalho de revisão teve como foco a poda, o espaçamento e os
equipamentos utilizados nos tratos culturais, e apresenta também a evolução
x
destas práticas na condução da lavoura de café conilon, o que demonstra que
esses tratos são fundamentais para aumentar a produtividade das lavouras no
país.
1. INTRODUÇÃO
O café (Coffea sp.) é originário da África, sendo Coffea arabica L. da
Etiópia e Coffea canephora Pierre ex Froehner do Congo. O cafeeiro é uma planta
perene de clima tropical, pertence à família das Rubiacea e ao gênero Coffea que
reúne diversas espécies, a Coffea arabica L. (café arábica) e Coffea canephora Pierre ex Froehner (café robusta) (Eccardi e Sandalj, 2002).
No Brasil, a variedade Conilon foi introduzida pelo Estado do Espírito
Santo, e o nome “conilon” que é originário exclusivamente da variedade Kouillou
ou Qouillou onde as letras “k” ou “Q” e “U” foram substituídas por “C” e “N”
respectivamente, com a redução da letra “I”, e foi trazido ao país em 1727, e
somente na década de 50 (século XX) foram implantadas lavouras para fins
comerciais (Fazuoli, 1986).
No Espírito Santo, a espécie Coffea canephora foi introduzida por volta de
1912, com as primeiras sementes plantadas no município de Cachoeiro de
Itapemirim, sendo posteriormente levada para região norte do Estado. Sua
exploração comercial passou a ser valorizada a partir dos anos 60, com objetivo
inicial de se utilizar as áreas consideradas marginais do café arábica, por se tratar
de uma espécie mais rústica, tolerante a doenças e adaptada ao cultivo em locais
2
de baixa altitude, com temperaturas mais elevadas e regiões apresentando
deficiências hídricas (Fonseca, 1999).
A partir de 1985 o Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural) começou a desenvolver trabalho de melhoramento
genético visando disponibilizar aos cafeicultores capixabas materiais mais
adequados as suas necessidades.
O aumento do cultivo no Espírito Santo foi através da pesquisa científica,
que se utilizou do método da multiplicação sexuada, cujas plantas provenientes
dos agricultores que foram selecionadas ao longo dos anos, isso proporcionou
populações com ampla variabilidade genética (Carvalho et al., 1969), por se tratar
de uma espécie alógama, como consequência da existência nesta e em todas as
demais espécies diplóides do gênero Coffea, de um sistema de auto-
incompatibilidade genética, que impede tanto a ocorrência de autofertilizações
como também a fertilização em cruzamentos entre indivíduos possuidores dos
mesmos alelos responsáveis pelo citado sistema (Berthaud, 1980; Lashermes et
al., 1996).
De acordo com as características naturais de reprodução cruzada, as
lavouras tradicionais de café conilon, formadas a partir de mudas produzidas por
sementes, apresentavam grande heterogeneidade, possuindo plantas distintas
quanto a uma série de aspectos como: vigor vegetativo, arquitetura da parte
aérea, formato e tamanho dos grãos, época e uniformidade de maturação dos
frutos, suscetibilidade a pragas e doenças, tolerância a seca, capacidade
produtiva e outros. Diante dos fatos, a condução das lavouras tem sido dificultada
durante anos, comprometendo o desempenho e os resultados em relação à
produtividade e à qualidade do café produzido, por tornar muito difícil o manejo e
a condução das lavouras e os procedimentos de colheita e pós-colheita (Fonseca
et al., 2004; 2005).
O café conilon é um dos principais produtos agrícolas do Estado do
Espírito Santo (ES), encontra-se presente em 65 dos 78 municípios, com área de
aproximadamente 290.000 ha e uma produção de 6,68 milhões sacas/ano, o que
coloca o Estado como maior produtor nacional de café conilon (Ferrão et al.,
2007).
O café conilon (robusta) participa da produção nacional com 27,51%
(10,75 milhões de sacas de café beneficiado), já o Estado do Espírito Santo se
3
destaca como o maior produtor dessa variedade, com 70,3% (7,55 milhões de
sacas de café beneficiado), enquanto que o Estado do Rio de Janeiro representa
apenas 0,7% da produção nacional. Os principais estados produtores de café são:
Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Paraná, Rondônia e Rio de
Janeiro que correspondem a 98,2% da produção nacional (Conab, 2009).
O café desempenha papel importante tanto na fixação da população
agrícola quanto na criação de empregos nas zonas rurais, o que proporciona
distribuição de renda entre as famílias rurais. No Estado do Espírito Santo a
cafeicultura gera mais de 362 mil postos de trabalho e estão distribuídos entre
parceiros, empregados e proprietários, onde 209 mil desses trabalhadores estão
vinculados ao conilon, envolvendo mais de 78 mil famílias (Teixeira, 1998).
Desde que o cafeeiro foi introduzido no Brasil, foi conduzido nas mais
diversas formas de manejo, solos, clima e declividade, sendo que os
espaçamentos, nos seus vários arranjos, tinham sempre como objetivo, alcançar
produtividade máxima.
4
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Espaçamento
O cafeeiro é um arbusto de crescimento contínuo, com dimorfismo de
ramos (Carvalho et al., 1950; Rena e Maestri, 1986), que atinge 2 a 4 m de altura,
conforme as condições climáticas da região. Possui caule cilíndrico, lenho duro,
branco amarelado e dois tipos de ramos: ortotrópico (do grego orthós: reto,
normal) são os ramos utilizados para produção de mudas clonais, que crescem
verticalmente, dando sustentação aos ramos plagiotrópicos ou produtivos, que
crescem no sentido horizontal, plagiotrópicos (do grego plágio: oblíquo,
transversal), os ramos plagiotrópicos formam-se aos pares a partir do tronco,
dispostos de forma “oposta e cruzada”, nos quais estão inseridas folhas, flores,
frutos e também ramos com características produtivas de ordem superior.
A espécie C. canephora Pierre e demais espécies do gênero Coffea são
diplóides (2n = 22 cromossomos somáticos) e alógamas, cuja propagação se dá
por fecundação cruzada, em razão da auto-incompatibilidade gametofítica
(Conagin e Mendes, 1961), que inibe o crescimento do tubo polínico e impede a
fecundação da oosfera e formação do embrião. Em razão da fecundação cruzada
há grande variabilidade genética, por isso não se devem utilizar sementes de uma
única planta matriz, ainda que tenha características desejáveis. As sementes de
5
várias matrizes devem ser misturadas para evitar que o pólen produzido pela
futura planta origine de uma única matriz (incompatibilidade).
As principais características que interferem na produtividade da parte
aérea são o diâmetro de copa, a altura de planta, o número de nós, o
comprimento dos internódios, o número e o comprimento dos ramos ortotrópicos
e plagiotrópicos e a capacidade de emissão de novas brotações na qual é feita a
substituição dos ramos produtivos com a poda. Outros fatores também
influenciam a produtividade, e isso depende do sistema de produção, como a
variedade, o nível de tecnologia do produtor, a possibilidade de mecanização, a
topografia, a precipitação conforme sua distribuição ao longo do ano, se a área
possui irrigação, a fertilidade do solo, as adubações e a produtividade que pode
se alcançar. De acordo com Ferrão et al., (2007), todos esses fatores interferem
de alguma forma e estão relacionados diretamente com o espaçamento a ser
implantado.
Nos primeiros plantios comerciais de café conilon, era bastante comum
lavouras com espaçamento de 4,0 a 5,0 m entre linhas e 3,0 a 4,0 m entre
plantas. A partir da década de 80 do século XX, passou-se a adotar plantios mais
adensados. Acreditava-se que aumentando o número de plantas por área
proporcionaria aumento de produção, ainda não se tinha um conhecimento sobre
condução das lavouras como poda e desbrota, o que acarretou diminuição ainda
maior da produtividade, devido ao aumento excessivo de ramos ortotrópicos e
muito deles já improdutivos, aliado ao fechamento das lavouras (Ferrão et al.,
2007).
Segundo Matiello et al. (1985), a produtividade do café conilon elevou-se
devido ao aumento de plantas por hectare, demonstrando que até a terceira
produção não foi obtido efeito depressivo dos espaçamentos mais adensados
sobre a produção, mas que a partir do quarto ano, houve uma redução
significativa de produção devido ao adensamento, provavelmente devido ao efeito
de competição entre as plantas. Nos espaçamentos de 5,0 x 2,5 m; 5,0 x 2,0 m e
4,0 x 2,5 m, esses com duas mudas por cova, observou-se um rendimento inferior
de até 70% em relação ao espaçamento de 3,0 x 1,5 m com uma muda por cova
até o quarto ano de produção (Quadro 1).
6
Quadro 1: Comparação entre espaçamentos e produtividades (1980 - 1983)
ESPAÇAMENTO (m) PLANTAS/ha PRODUTIVIDADE MÉDIA (sacas/ha)
5,0 x 2,5 (2 plantas/cova) 800 24,82
5,0 x 2,0 (2 plantas/cova) 1000 27,76
5,0 x 1,5 (1 planta/cova) 1333 31,68
4,0 x 2,5 (2 plantas/cova) 1000 28,75
4,0 x 2,0 (2 plantas/cova) 1250 31,71
4,0 X 1,5 (1 planta/cova) 1666 34,08
3,0 x 3,0 (2 plantas/cova) 1111 31,61
3,0 x 2,0 (2 plantas/cova) 1666 36,59
3,0 x 1,5 (1planta/cova) 2222 38,62
Adaptado de Matiello et al. (1985) e Ferrão et al. (2007).
De acordo com o Quadro 1, pode se observar o aumento da produtividade
em relação a utilização de diversos espaçamentos, aliado ao avanço tecnológico
junto a pesquisa desenvolvida na área do café conilon. Nota-se que a redução do
espaçamento, consequentemente com o aumento da população de plantas por
hectare e a utilização de uma muda por cova foi fundamental para aumentar a
produtividade média do cafeeiro conilon, visto que, quando se coloca 2 mudas por
cova, em determinado tempo as plantas entram em estado de competição o que
acarreta a queda da produtividade. Neste quadro destacou o espaçamento de 3,0
x 1,5 m, mais dependendo dos tratos culturais da lavoura pode ocorrer variações
de produção.
Em Ferrão et. al. (2007) comentam que, baseado nos trabalhos
conduzidos pelo Incaper, pode-se chegar a um denominador mais adequado
quando abordamos espaçamento e densidade de plantio, considerando que se
7
possua tecnologia suficiente para atingir produtividade de 60 a 80 sacas/ha ou
superior de café beneficiado. Os melhores resultados são alcançados com o
espaçamento de 3,0 m entre linhas e 1,0 a 1,5 m entre plantas que o total de
planta varia de 2.222 a 3.333 plantas por hectare. Vários experimentos foram
conduzidos, sendo que o mais importante é a manutenção de população de até
12 mil ramos ortotrópicos produtivos por hectare nos sistemas sem irrigação.
Assim, se usarmos população de 3 mil plantas/ha, recomenda-se deixar até
quatro hastes ortotrópicas por planta.
Em lavouras com nível tecnológico mais avançado, ou seja, com irrigação
e com adubação melhor ou lavouras conduzidas em solos mais férteis,
ressaltando que para evitar o fechamento precoce da mesma, o ideal é diminuir o
número de hastes recomendado por planta, o que na prática deve ser de no
máximo 12 mil hastes produtivas por hectare. Desta maneira, é impossível
estabelecer um número fixo de hastes ou ramos ortotrópicos em todas as plantas
na mesma lavoura, principalmente se as mudas forem formadas por sementes.
Portanto, é necessário avaliar a altura, o vigor e a arquitetura de cada planta para
assim, denominar o número de ramos por planta. (Silveira et al.,1993).
Segundo Rena e Guimarães (2000) o sistema radicular do cafeeiro é
afetado pelo espaçamento e em plantios mais adensados, as raízes principais se
aprofundam ainda mais, o que favorece a absorção de água e dos minerais tanto
na superfície quanto na parte mais profunda do solo, uma vez que um volume
maior de solo é explorado pelo sistema radicular.
Quando o café conilon é plantado com uma densidade de 5.000 plantas
por hectare, observa-se maior disponibilidade de fósforo e potássio no solo em
relação às densidades de 2.222 e 3.333 plantas/ha. Os autores enfatizam que o
aproveitamento de nutrientes em plantios mais adensados é mais satisfatório e
aumentam a ciclagem de nutrientes. Esses fatores também ajudam a definir os
melhores espaçamentos para áreas onde não se possua tecnologia suficiente,
auxiliando desta forma o pequeno produtor a aumentar a densidade e adequar o
espaçamento em seu sistema (Guarçoni et al., 2005).
Contudo, se o produtor não optar pela condução da lavoura de forma
adequada, poderá ocorrer o fechamento das plantas, dificultando a entrada de luz
em partes mais internas e baixas das plantas, prejudicando a condução dos
brotos jovens que deveriam substituir os ramos velhos e improdutivos. Esses
8
brotos sofrerão um processo de estiolamento, aumentando o espaço entrenós das
plantas (Figura 1 – a; b; c), tendendo a eliminação destes, atrasando a formação
da nova lavoura (Silveira et al., 1993).
Novas formas de condução das hastes vêm sendo adotadas em
diferentes espaçamentos com o objetivo de aumentar e manter uma média de
produtividade elevada. Neste caso, trata-se de espaçamento mais adensado,
como 2,0 x 1,0 m. Na condução de uma só haste, ocorrerá a formação de uma
planta cilíndrica, o que poderá prejudicá-la, devido a saia se tornar muito larga
com o tempo, exigindo desponte em regiões mais secas. Outra observação é
quando os ramos plagiotrópicos tornam-se mais grossos e começam a emitir
ramos ortotrópicos. Estudos realizados em Itamarajú no Estado da Bahia, também
indicam que a melhor opção é deixar três hastes/planta como se pode observar
no Quadro 2.
Neste quadro podemos avaliar a melhor quantidade de hastes/planta, o
que fica em evidência a condução de 3 hastes/planta com produtividade média de
141,2 sacas/hectare, mesmo com espaçamento mais adensado. Lembrando que
fica difícil mecanizar essa área devido ao espaçamento utilizado, e caso ocorra
algum surgimento de pragas e doenças ficam difíceis as práticas de controle e o
manejo com pulverizações.
(a) (b) (c)
Figura 1: Ramos de café conilon: ramo com desenvolvimento normal (a) ramo
estiolado (b) vista do ramo estiolado na planta (c).
9
Quadro 2: Produtividade de café com espaçamento 2,0 x 1,0 m, conduzidos com diferentes números de hastes/planta, Itamarajú-BA, 2001.
Tratamentos 1ª safra (sacas/ha)
2ª safra (sacas/ha)
3ª safra (sacas/ha)
Média (sacas/ha)
1 haste/planta 116,7 101,3 110,3 109,4
2 hastes/planta 140,3 129,7 111,7 127,2
3 hastes/planta 140,1 173,1 110,4 141,2
4 hastes/planta 135,1 115,5 104,7 118,4
Livre crescimento 77,9 112,2 104,7 98,2
(Mattielo, 2004)
2.2 Vergamento
O vergamento é uma nova técnica para condução de lavouras de café
conilon, que ainda está em desenvolvimento pelo Incaper (Instituto Capixaba de
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural). Os resultados dos primeiros
experimentos apontam incremento de 30 a 40% na produção de café conilon.
A tecnologia permite que o cafeeiro produza mais hastes e ramos, o que
aumenta a produtividade individual de cada planta nos primeiros anos. Na área
onde a tecnologia foi aplicada, a produtividade da lavoura, que possui apenas 26
meses de idade, alcançou 106 sacas/hectare, quando comparado ao restante do
cafezal, que apresentou produtividade de 62 sacas/ha, números excelentes para
uma lavoura tão nova. Lavouras em formação produzem em média seis mil
hastes por hectare. Com o vergamento a produção de hastes é de 12 mil na
mesma área (Figura 2) (Incaper, 2008a).
10
2.3 Poda
A poda do cafezal é de fundamental importância e está ligada diretamente
a produtividade da lavoura. Como o café conilon é uma planta de crescimento
contínuo e apresenta ramos verticais denominados ortotrópicos e, horizontais que
são os ramos produtivos chamados também de plagiotrópicos, esses ramos após
um determinado número de colheitas ficam velhos e improdutivos, dessa forma
entende-se a grande necessidade de podas (Ferrão et al., 2007).
Algumas lavouras apresentam grandes produtividades entre a terceira e a
quinta colheita, assim atingindo níveis máximos de produção. Após sucessivas
colheitas, esses ramos perdem o vigor e não possuem mais crescimento que
acarretaria em altas cargas novamente. Isso implica dizer que a planta inicie um
estádio de desequilíbrio entre a área foliar e a matéria seca total que são os
ramos ortotrópicos não eliminados (Silveira, 1995; Silveira e Rocha, 1995).
Figura 2: Vergamento na planta de café conilon indicando o aumento no número
hastes no primeiro ano após plantio.
11
A poda para o aumento de produção é feita com a eliminação das hastes
ortotrópicas que após três colheitas tornam-se pouco produtivas, e pode ser
iniciada logo após a segunda safra, como: retirada dos ramos quebrados, os que
impedem a penetração de luz no interior da planta evitando o estiolamento dos
brotos, os ramos mal posicionados na planta, os mais centrais, podendo ter
influência em uma boa conformação da copa, evitando o excesso deles em
plantas que já possuem quantidade adequada de ramos (Figura 3). Essa prática
favorece a substituição por outros ramos mais novos e produtivos (Ferrão et al.,
2007).
Figura 3: Retirada (poda) dos ramos improdutivos (com mais de três ou quatro
colheitas) deixando os ramos jovens e vigorosos proporcionando uma lavoura
revigorada e pronta para uma nova safra.
12
O corte para poda deve ser feito no ramo ortotrópico a uma altura de 15 a
25 cm da superfície do solo ou mesmo acima do broto de espera (Figura 4).
Assim devem-se eliminar os ramos estiolados, velhos ou improdutivos, ladrões, e
o excesso de brotos localizados no interior da planta. Nesta etapa é necessário
acompanhar o processo, pois a condução da poda deve variar de acordo com o
espaçamento escolhido (Ferrão et al., 2007).
Figura 4: Altura de corte dos ramos ortotrópicos no processo de renovação da
lavoura cafeeira de café conilon.
15 à 25cm
13
Quando tratamos de poda a partir das primeiras colheitas, deduz-se que
devem retirar os ramos plagiotrópicos (ramos de produção), que se apresentem
debilitados, isso garante planta com boa penetração de luminosidade e assim
formando brotos vigorosos e bem localizados facilitando a manutenção para alta
produção. Deve-se tomar cuidado com a prática utilizada por alguns cafeicultores,
em que se propõe retirar somente os ramos que já frutificaram em mais de 50%
de sua capacidade, pois não tem dados científicos para tal orientação. O
recomendado é a eliminação dos ramos levando em consideração o potencial de
produção que ainda existe neles, de modo que não se desperdice e sim
mantenha uma lavoura revigorada e com estabilidade produtiva ao longo dos
anos.
Existem certas modificações que ocorrem nas plantas quando se
promove a poda, uma delas é na relação entre o sistema radicular e a parte
aérea, por exemplo, quanto mais drástica é a poda, mais o sistema radicular é
afetado, principalmente as raízes que são responsáveis pela absorção de água e
nutrientes (Rena e Guimarães, 2000).
De acordo com Fonseca et al. (2002), em lavouras as quais não
apresentem nenhum sistema de poda é recomendado a poda gradativa levando
em conta economicamente o cafeicultor, caso contrário, divide-se a lavoura em
talhões de forma que não cause interrupção drástica em sua renda.
Fatores que devem ser avaliados antes da indicação da poda (Silveira e
Rocha, 1995): espaçamento, idade das plantas, grau de fechamento,
produtividade das plantas, evolução da produtividade, depauperamento das
plantas e dependência do produtor nas safras futuras.
Experimento conduzido pelo Incaper demonstrou aumento de até 53% na
média de produtividade durante quatro safras sucessivas em uma propriedade
particular em Linhares/ES, utilizando o método de poda anual (Silveira et al.,
1993).
Os restos culturais após as podas devem permanecer nas lavouras e
devolvidos ao solo entre as linhas de plantio (Figura 5), pois são benéficos ao
cafezal onde servem de fonte de nutrientes após decomposição, protegendo o
solo contra insolação, aumenta o teor de matéria orgânica, diminui a incidência de
plantas daninhas e controla a erosão e a manutenção da umidade do solo
(Silveira et al., 1993).
14
A matéria orgânica do solo (MOS) é resultante da deposição natural de
resíduos vegetais (exudados e/ou morte de raízes, queda de folhas, galhos,
frutos, etc) e animais (excrementos e/ou morte da biota) que chegam ao solo,
podendo ter a sua origem também no próprio homem, por meio da adubação
orgânica feita com estercos (bovinos, de aves e de suínos), compostos orgânicos
preparados na fazenda, adição de resíduos vegetais, tais como restos culturais ou
adubos verdes plantados com a finalidade de incorporação ao solo.
Sabe-se que a MOS tem efeito direto sobre as características físicas,
químicas e biológicas dos solos, sendo considerada uma peça fundamental para
a manutenção da capacidade produtiva dos solos em qualquer ecossistema
terrestre. Do ponto de vista físico, a MOS melhora a estrutura do solo, reduz a
plasticidade e a coesão, aumenta a capacidade de retenção de água e a aeração,
permitindo maior penetração e distribuição das raízes. A MOS atua diretamente
sobre a fertilidade do solo por constituir a principal fonte de macro e
micronutrientes essenciais às plantas, como também indiretamente, através da
disponibilidade dos nutrientes, devido à elevação do pH, além de aumentar a
capacidade de retenção dos nutrientes, evitando suas perdas. Biologicamente, a
MOS aumenta a atividade da biota do solo (organismos presentes), sendo fonte
de energia e de nutrientes para a mesma (Ricci, 2006).
Figura 5: Reaproveitamento dos restos culturais após a poda do café conilon.
15
2.3.1 Importância da poda
A planta de café conilon possui crescimento contínuo e hastes ou ramos
verticais e horizontais, que após três a quatro anos ficam velhos e pouco
produtivos e assim necessitam da poda, com o objetivo de renovação da lavoura
onde a necessidade de se retirar os ramos velhos e sem vigor, os estiolados, os
quebrados, os mal localizados, os que dificultam a entrada de luz no interior da
copa das plantas e o excesso de brotações, tratos que são indispensáveis para
garantir boa produtividade da lavoura (Figura 6 – a; b).
Essa tecnologia vem sendo adotada pela maioria dos produtores
capixabas, porém sem padronização na condução das plantas. Certos produtores
iniciam a poda a partir da segunda colheita, outros da terceira e aqueles que
começam somente na quarta. (Incaper, 2008b).
Figura (6 – a; b): Diferença na forma de condução da planta de café conilon, com
galhos mal conduzidos (a), e bem conduzidos (b).
a b
16
2.3.2 Tipos de poda
Prática que requer muitos cuidados. Utilizada para corrigir o fechamento
do cafezal, o qual provoca queda de produção, dificulta os tratos culturais e a
colheita. Importante também na eliminação de ramos pouco produtivos. A poda
pode ser: de formação (2º a 3º ano), produção (a partir do 3º ano) e poda de
renovação (recepa da parte aérea da planta a uma altura de 15 a 25 cm do solo).
1 - Poda de formação (Figura 7)
A desbrota é um sistema de poda utilizado para controlar o número de
ramos verticais, a fim de se ter planta com estrutura bem equilibrada, com ramos
vigorosos e bem implantada.
Figura 7: Cafeeiro antes da desbrota. (Nunes et al., 2005)
17
2 - Poda de produção (Figura 8 – a; b)
A poda de produção visa manter ou aumentar o rendimento da lavoura,
mediante a renovação de ramos improdutivos (esgotados) e, também, reduzir o
efeito da alternância de produção.
De acordo com Matiello et al., 2005, a poda de produção deve ser
efetuada com com um facão ou podão, os ramos esgotados devem ser retirados e
deixando-se mais abaixo o melhor broto existente para renovar a copa.
Recomenda-se combinar essa poda com a eliminação do excesso de brotos
existente na planta, permitindo a entrada de luz. Não existem dados que
comprovem se essa desbrota favorece ou não na produtividade, sendo comum
aplicar a poda de produção continuadamente, sem a desbrota. As hastes
esgotadas apresentam a casca mais clara, esbranquiçada, e devem ser retiradas
após a colheita entre abril e maio.
Figura 8 a: Cafeeiro antes da poda de
produção (Nunes et al., 2005)
b: Cafeeiro 1 ano após a poda de
produção (Nunes et al., 2005)
18
3 - Poda de renovação (Figura 9)
A poda de renovação ou recepa é utilizada em cafeeiros com ramos
bastante esgotados e sem condições de receber a poda de produção. A recepa
pode ser total ou parcial, a recepa total deve ser efetuada a altura de 15 a 25 cm
do solo, este tipo de poda possui o inconveniente de deixar a planta um ano sem
produção e apresenta número elevado de brotos, o que exige um pouco mais de
mão-de-obra na desbrota, dessa forma recomenda-se a recepa de forma
escalonada.
Na recepa parcial, deixa-se na planta 2 ou 3 ramos normais (sem poda),
que serão eliminados 2 anos mais tarde, estes ramos servem como "pulmão",
fornecendo energia a planta e permitindo recuperação mais rápida das brotações.
A recepa parcial permiti a renovação dos ramos sem interromper totalmente a
produção, os ramos que não recebem a poda, devido a maior insolação,
apresentam produção elevada. Entretanto, apresentam a desvantagem, de sob
efeito de produção, vergarem para o meio das ruas, dificultando um pouco os
tratos culturais.
Figura 9: Poda de renovação (Martinez et al., 2002).
19
Devido à recepa, as plantas devem ser desgalhadas (eliminação dos
ramos laterais), para facilitar o corte dos ramos verticais deverão ser efetuados
com serrote de poda ou com motossera, com cuidado para não lascar os ramos,
procurando efetuar o corte com inclinação, para evitar o acúmulo de umidade no
corte e o apodrecimento dos ramos. Quando a brotação atingir de 20 a 30 cm de
altura deve-se iniciar a operação de desbrota, deixando-se o número de brotos
desejado de acordo com o espaçamento da lavoura.
Os brotos são selecionados entre os mais vigorosos e implantados do
lado de fora dos ramos, 10 a 15 cm abaixo da área do corte. No início do
desenvolvimento dos brotos, podem ocorrer desequilíbrios nutricionais, sendo
necessária a adubação de cobertura com fertilizantes nitrogenados. Os restos de
cultura (ramos eliminados com a poda) devem permanecer na lavoura como
cobertura morta. A decomposição do referido material é relativamente rápida,
devolvendo nutrientes e melhorando o teor de matéria orgânica do solo. Para
facilitar os tratos culturais na lavoura, podem-se retirar apenas os ramos mais
grossos, deixando-se os demais sobre o solo (Nunes et al., 2005).
2.3.3 Finalidades da poda Segundo Matiello et al. (2005), as finalidades da poda são:
a) Renovação das plantas; b) Regularização da produção anual; c) Redução do tamanho das plantas; d) Eliminação do excesso de brotos ou ramos; e) Eliminação dos ramos improdutivos; f) Facilidades no controle de broca, ferrugem e na colheita; g) Viabilidade na mecanização e no manejo da lavoura; h) Melhoria da relação galho/folhas.
20
2.3.4 Época de realização da poda
A época mais adequada para poda é logo após a colheita e antes da
primeira florada, pois a planta se encontra em estado de repouso vegetativo e
deve ser praticada todos os anos. É importante ser realizada antes da primeira
florada para que o produtor não deixe de retirar ramos velhos e improdutivos, os
quais podem prejudicar o desenvolvimento de ramos mais vigorosos (Silveira et
al., 1993; Silveira e Rocha, 1995).
A realização da poda logo após a colheita, ou seja, precocemente,
favorece a recuperação do cafezal, pelos danos causados pela colheita ou pelos
danos causados pela própria poda. Dessa forma, reduz a área foliar da planta e
também a superfície evapotranspirante o que diminui a perda de água
contribuindo para a manutenção dos ramos durante a estação seca.
2.3.5 Vantagens da poda de produção
A poda possui inúmeras vantagens que influenciam de diversas maneiras
o cafeeiro:
1 - aumentam a vida útil do cafeeiro, pela renovação dos ramos;
2 - revigoramento e também a melhora no arejamento e na penetração de
luz no interior da copa;
3 - proporciona melhor convivência com o estresse hídrico e reduz a
percentagem de chochamento de grãos;
4 - diminui o efeito da bienalidade;
5 - reduz a altura e o diâmetro da planta, facilitando a colheita e a
manutenção de maior número de plantas produtivas por área;
6 - melhora as condições físicas e químicas do solo pela incorporação da
matéria orgânica originada das partes vegetativas eliminadas;
7 - melhora substancialmente a produtividade média da lavoura.
Matiello et al. (1985)
21
2.3.6 Vantagens da poda de ciclo
O cafeeiro conilon é uma planta de crescimento contínuo que possui
hastes verticais (ortotrópicos) e ramos horizontais (plagiotrópicos). Estes ramos,
após determinado número de colheitas, ficam envelhecidos e pouco produtivos,
onde justifica que as lavouras de café conilon precisam ser podadas. A tecnologia
consiste na eliminação das hastes verticais e dos ramos horizontais, que vão se
tornando improdutivos, para a substituição por outros mais novos. Os ramos
estiolados de baixo vigor, e o excesso de brotações também são eliminados.
Na poda programada de ciclo recomenda-se a desbrota nos dois
primeiros anos, deixando de acordo com a tecnologia empregada de 12 a 15 mil
hastes/ha. Após as três primeiras colheitas é necessário retirar os galhos
horizontais que atingiram até 70% de produção e os brotos novos.
A partir da terceira ou quarta colheita vem à necessidade da retirada das
hastes verticais, quando se elimina de 50 a 75% das hastes menos produtivas.
Em lavouras mais fechadas, inicia-se a poda a partir da terceira colheita, isso é
devido a vários fatores como vigor, crescimento das plantas, material genético,
entrada de luz, espaçamento, nível tecnológico, dentre outros fatores. Com isso
devem-se eliminar os ramos horizontais e em seguida, deixar os brotos para
recompor a lavoura com a quantidade de hastes recomendada.
No ano seguinte, é necessária a retirada do restante das hastes velhas e
a desbrota, nessa fase a lavoura fica nova e assim possui produção de uma
lavoura revigorada e nos anos seguintes a lavoura deve ser conduzida da mesma
forma.
Esta poda possui inúmeras vantagens, dentre elas:
1 - redução média de 32% de mão-de-obra no período de 10 colheitas;
2 - facilidade de entendimento e execução;
3 - padronização do manejo da poda;
4 - maior facilidade para realização da desbrota e dos tratos culturais;
5 - maior uniformidade das floradas e da maturação dos frutos;
6 - melhoria no manejo de pragas e doenças;
7 - aumento superior a 20% na produtividade média da lavoura;
8 - maior estabilidade de produção por ciclo e melhor qualidade final do
produto. (Incaper, 2008b)
22
Quadro 3: Comparação da poda programada de ciclo com a poda tradicional.
COLHEITAS PODA ATIVIDADES
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Eliminação das hastes verticais
X X X X
Programada de ciclo Desbrota e
eliminação dos ramos horizontais
X X X X X X X X X X
Eliminação das hastes verticais
X X X X X X X X X
Tradicional Desbrota e eliminação dos ramos horizontais
X X X X X X X X X X
(Incaper, 2008b)
No Quadro 3, podemos comparar a poda programada de ciclo com a poda
tradicional, que por sua vez na poda programada de ciclo observa-se que não há
necessidade da retirada das hastes verticais todos os anos, e sim na quarta e
quinta colheita, onde se retira duas hastes e permanecem uma ou duas hastes
dependendo do número de hastes por planta, o que permite a entrada de raios
solares e garante boa formação dos brotos jovens, que após esses formados vem
a necessidade de retirar-se os ramos improdutivos no quinto ano, o que justifica o
menor gasto com mão-de-obra nas atividades de eliminação das hastes verticais.
Já a desbrota é necessária todos os anos, nos dois tipos de poda.
23
2.4 Desbrotas
A desbrota é de fundamental importância, em que com a eliminação dos
ramos ortotróficos e plagiotrópicos velhos, a planta recebe uma incidência maior
de raios solares em seu interior, que associada às adubações e as chuvas ou até
mesmo as irrigações, favorece a emissão de novos brotos. A desbrota é, portanto,
a prática da eliminação do excesso de brotações que são localizadas na parte
interna da copa que geralmente apresentam-se estioladas (Figura 10).
As desbrotas devem ser realizadas quantas vezes forem necessárias e de
preferência quando os brotos ainda estão pequenos, deixando um broto vigoroso
em cada ramo podado, localizado na parte mais baixa e voltado para rua de
plantio. Isso implica dizer que quando a lavoura é bem conduzida, ela se torna
revigorada e com número de ramos adequado, para alcançar altas produtividades
(Ferrão et al., 2007).
(a) (b)
Figura 10: Planta com excesso de brotos jovens e estiolados (a), e a planta já
com a desbrota efetuada (b).
24
2.5 Equipamentos utilizados na poda
Segundo Matiello et al. (2005) os equipamentos utilizados na poda podem
ser divididos em dois grupos: os equipamentos de operação manual e os
mecanizados. Na poda manual são utilizados diversos equipamentos como os
podões, foices, serrinhas, machados e facões. Já na mecanizada, as moto-serras
e podadeiras costais motorizadas.
Os podões são utilizados para o corte de ramos improdutivos e galhos
quebrados, e podem também ser utilizados para poda radical dependendo do
tamanho da área (Figura 11).
Já as foices e facões são utilizados para as podas leve ou de limpeza,
onde se retiram somente as varetas que já produziram (Figura 12).
O machado e a moto-serra (Figura 13) são para os serviços mais
pesados, como por exemplo, a recepa do café, onde se tem a necessidade de
cortar as hastes grossas. Essas hastes devem ser reutilizadas como lenha ou
artesanato, lembrando que a cada 109 hastes correspondem a 1 m3 de lenha e
um cafezal com espaçamento de (3,0 m x 1,0 m) representam a quantidade de 63
m3 de lenha o que se utilizados para secagem do café, possibilitam a secagem de
10 secadores.
O machado por sua vez deve ser recomendado em pequenos plantios
como na agricultura familiar, onde fica difícil a compra de um equipamento
motorizado como o moto-serra, lembrando que o machado deve estar bem
amolado para evitar que o caule fique danificado (com rachaduras), isso pode
comprometer as brotações dos ramos novos e consequentemente a safra no ano
seguinte.
Após a poda recomenda-se que o material composto de folhas e ramos
fique na própria lavoura. Uma roçadeira acoplada ao trator pode ser utilizada para
triturar o material facilitando os tratos, lembrando de retirar os galhos mais
grossos que podem ser reutilizados, por exemplo, como lenha na fornalha para a
secagem do café. O restante fica como fonte de nutrientes para as plantas, assim
diminui-se a adubação com fertilizantes.
Para triturar melhor os galhos, existem dois equipamentos que funcionam
acoplados ao trator: Trincha TRV 140 e a roçadeira Tatu (Figura14).
25
Figura 11: Podões utilizados na poda do café.
Figura 12: Foice e o facão para poda de limpeza.
Figura 13: Moto-serra MS 170 e o machado, utilizados na recepa do café.
Figura 14: Equipamentos para triturar restos culturais.
26
3. INFORMAÇÕES PESSOAIS
As informações que serão apresentadas a seguir foram obtidas na
propriedade Corgo do Serrado no município de Castelo (ES), com o proprietário
Pedro Euzébio Fioreze, aonde se conduziu uma lavoura de café em diferentes
espaçamentos e com até duas hastes por planta, e foi observado diferenças em
relação a produtividade de acordo com o espaçamento utilizado (Quadro 4).
Espaçamentos que atingem produtividades elevadas nos primeiros anos,
porém o principal desafio é como conduzir essas plantas a partir do quarto ano,
visto que, com o adensamento aumenta-se a dificuldade de conduzir um broto
sem estar estiolado, fator este que pode estar associado à falta de luminosidade
no interior da planta.
Na agricultura familiar passa a ser viável, desde que essa lavoura seja
monitorada e bem conduzida, pois este sistema apresenta algumas vantagens
como diminuição da capina e gastos com herbicidas, o solo não fica diretamente
exposto aos raios solares, diminui a erosão em terrenos acidentados e dentre
outros. Por outro lado, apresenta também desvantagens: dificulta à mecanização,
a colheita fica mais complicada, pois o número de hastes é maior por hectare,
aumenta o custo de implantação da lavoura e por fim apresenta dificuldade de
pulverizações, caso necessário, para manejo de pragas, doenças e adubações
foliares. Essas elevadas produtividades estão relacionadas às lavouras
27
tecnificadas onde entra em consideração o manejo como: irrigação, poda e
adubações bem distribuídas ao longo do ano dentre outros.
Quadro 4: Produtividade de diferentes espaçamentos adensados x produtividade do café conilon (3o ano)
ESPAÇAMENTO (m) Nº HASTES/PLANTA SACAS/ha
2,0 x 1,0 2 80
2,5 x 1,5 2 80
1,5 x 1,10 1 100
1,5 x 0,60 1 130
28
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram estudadas diversas faixas de espaçamento em que se considerou
a faixa de espaçamento de 2,0 a 3,0 x 1,5 a 1,0 m a mais indicada devido à
possibilidade de mecanização para o manejo da cultura do café conilon
dependendo da declividade do terreno, isso associado à condução de três a
quatro hastes por planta para atingir população de 12 a 15 mil hastes por hectare.
O tipo de poda também interfere diretamente na produtividade, visto que, uma
planta bem conduzida possui capacidade para atingir alta produção logo nos
primeiros anos de colheita, associada à técnica do vergamento que favorece o
desenvolvimento de novas hastes no primeiro ano após a implantação da lavoura.
Vale ressaltar que existem lavouras mais adensadas e com diferentes
tipos de condução, que demonstram resultados significativos, porém, cria-se
dificuldade quando se fala em renovar uma lavoura devido ao fechamento no 3º
ou 4º ano após o plantio, isso dependendo do tipo de solo e também da
declividade da área, outro fator que deve ser levado em consideração é o nível
tecnológico do produtor.
29
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Berthaud, J. (1980) L’Incompatibilitê chez Coffea canephora: Méthode de test et
déterminisme gènétique. Café Cacao Thé, v. 24, n.4, p. 267 – 274.
Carvalho, A. Krug, C. A. (1950) Genética de Coffea. XIII - Hereditariedade do
característico erecta em Coffea arábica L. Bragantia, Campinas, v.10, n.11, p. 321
– 328.
Carvalho, A. O., Ferwerda, F. P., Frahm-Leliveld, J. A., Medina, D. M., Mendes, A.
J. J., Monaco, L. C. (1969) Coffee (Coffea arabica L. and Coffea canephora Pierre
ex Froehner). In: Ferwerda, F. P., Wit, F. (Eds.) Coffee (Coffea arabica L. and
Coffea canephora Pierre ex Froehner). Wageningen. The Netherlands: Agricultural
University, p. 189 – 192 (Miscellaneous Papers, 4).
Conab (2009) ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA CAFÉ - Safra
2009, Primeira estimativa – Brasília.
Site - http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/4cafe08.pdf
Conagin, C. H. T. M., Mendes, A. J. T. (1961) Pesquisas Citológicas e Genéticas
de três Espécies de Coffea: auto-incompatibilidade em C. canephora. Bragantia,
Campinas, v.20, n.34, p. 787 – 804.
30
Eccardi, F., Sandalj, V. (2002). Coffee – a celebration of diversity. Sandalj Eccardi
Company: Trieste, Italy, 228p.
Fazuoli, L. C. (1986) Genética e melhoramento do cafeeiro. In: Rena, A. B.,
Malavolta, E., Rocha, N., Yamada, J. (Eds). Cultura do cafeeiro: Fatores que
afetam a produtividade do cafeeiro. Piracicaba, SP: POTAFOS, p. 87 – 113.
Ferrão, R. G., Fonseca, A. F. A. da, Bragança, S. M., Ferrão, M. A. G., De Muner,
L. H., (2007) Café Conilon. Vitória, ES: Incaper, 702p.: il.
Ferrão, R. G., Fonseca, A. F. A. da, Ferrão, M. A. G., De Muner, L. H., Verdin
Filho, A. C., Volpi, P. S., Marques, E. M. G., Zucateli, F. (2007) Café Conilon:
técnicas de produção com variedades melhoradas. 3. Ed. Vitória, ES: Incaper, 60
p. (Circular Técnica 03 – 1).
Fonseca, A. F. A. da. (1999) Análises biométricas em café conilon (Coffea
canephora Pierre). 1999. 121f. Tese (Doutorado em Fitotecnia). Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
Fonseca, A. F. A. da, Ferrão, M. A. G., Ferrão, R. G. (2002) A cultura do café
robusta. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 1., 2000, Poços
de Calda. Palestras... Brasília: Embrapa Café – Consórcio Brasileiro de Pesquisa
e Desenvolvimento do Café, p. 119 – 145.
Fonseca, A. F. A. da, Ferrão, M. A. G., Ferrão, R. G., Verdin Filho, A. C., Volpi, P.
S., Zucateli, F. (2004) Conilon Vitória – ‘Incaper 8142’: Improved Coffea
canephora var. Kouillou clone cultivar for the state of Espírito Santo. Crop
Breeding and Applied Biotechnology, v. 4, n. 4, p. 503 – 505.
Fonseca, A. F. A. da, Ferrão, M. A. G., Ferrão, R. G., Verdin Filho, A. C., Volpi, P.
S., Zucateli, F. (2005) Conilon Vitória – ‘Incaper 8142’: Variedade clonal de café
conilon. Vitória, ES: Incaper, 27 p. (Documentos, 127).
31
Fonseca, A. F. A. de.; Ferrão, R. G.; Lani, J. A.; Ferrão, M. A. G.; Volpi, P. S.;
Verdin Filho, A. C.; Ronchi, C. P.; Guarçoni M., A. Manejo da cultura do café
conilon: espaçamento, densidade de plantio e podas. In: Ferrâo et al. (Eds.). Café
conilon. Vitória, ES: Incaper, 2007. p. 257 – 277, Cap. 9.
Guarçoni, A. M., Bragança, S. M., Lani, J. A. (2005) Modificações nas
características da fertilidade do solo causadas pelo plantio adensado do café
conilon. Congresso Brasileiro de Pesquisa Cafeeira, 31., 2005, Anais. Guarapari,
ES: MAPA, p. 208 – 209.
Incaper (2008a) Nova tecnologia de poda no café Conilon.
http://www.seag.es.gov.br em 28/05/2009.
Incaper (2008b) Poda programada de ciclo para o Café Conilon. Documento nº 163 Vitória - ES 2008. 4p.
Instituto Brasileiro do Café, (1985). Cultura de café no Brasil. Manual de
racomendações, IBC – GERCA: RJ, 5ª ed., 580p.
Lashermes, P., Coulturon, E., Moreau, N., Paillard, M., Louarn, J. (1996)
Inheritance and genetic mapping of self-incompatibility in Coffea canephora Pierre.
Theoretical and Applied Genetics, v. 93, n. 3, p. 458 – 62.
Martinez, H. E. P., Tomaz, M. A., Sakiyama, N. S. (2002) apostila de aula prática
de café, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG: p. 45 – 47.
Mattielo, J. B. (2004). Revista Brasileira de Tecnologia Cafeeira. Fundação
Procafé: Convenio MAPA/FunProcafé/UFLA, julho/agosto, ano 1, Nº 2, p. 26.
Mattielo, J. B., Santinato, R., Garcia, A. W. R., Almeida, S. R., Fernandes, D. R.
(2005) Cultura de café no Brasil: Novo Manual de Recomendações. Rio de
Jameiro – RJ e Varginha – MG, p. 294 – 297, cap. 5.
32
Nunes, A. M. L., Souza, F. de F., Costa, J. N. M., Santos, J. C. F., Pequeno, P. L.
De L., Costa, R. S. C. da, Veneziano, W. (2005) Cultivo do Café Robusta em
Rondônia: Sistema de condução em café robusta. Embrapa: Rondônia, RO.
Rena, A. B., Guimarães, P. T. G. (2000) Sistema radicular do cafeeiro: estrutura,
disttribuição, atividade e fatores que o influenciam. Belo Horizonte, MG: EPAMIG,
80p. (série documentos, 37).
Rena, A.B., Maestri, M. (1986) Fisiologia do cafeeiro. In: Simpósio sobre fatores
que afetam a produtividade do cafeeiro. Poços de Caldas, 1986. Anais...
Piracicaba, p. 13 – 85.
Ricci, M. dos S. F. (2006) A importância da matéria orgânica para o cafeeiro.
Revista Campo e Negócios, Seropédica, RJ.
Silveira, J. S. M., Carvalho, C. H. S. de, Bragança, S. M., Fonseca, A. F. A. da,
(1993) A poda do café conilon. Vitória, ES: Emcapa, 14p. (Emcapa – Documento
80).
Silveira, J. S. M., Rocha, A. C. da. (1995) Podas. In: Costa, E. B. da (Coord.).
Manual técnico para a cultura do café no Estado do Espírito Santo. Vitória, ES:
SEAG – ES, p. 54 – 62.
Silveira, J. S. M. (1995) Revigoramento do café conilon. In: simpósio estadual do
café, 1., 1995, Vitória. Palestras... Vitória: Cetcaf, p. 34 – 51.
Teixeira, M. M. (1998) Caracterização, análise e diagnóstico da cafeicultua
capixaba. In: simpósio estadual do café, 3., 1998, Vitória, ES. Resumos
Expandidos... Vitória: Cetcaf, p. 43 – 76.