parte-2
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“ [...] Muitas vezes os coolies solenemente megarantiam que era absolutamente inútil tentarmatá-los. Eles estavam totalmente convencidos deque os espíritos revoltados partiram de doischefes indígenas que tomaram aquelas formas, afim de protestar contra a estrada de ferro queestava sendo construída em seu país, e decidiramparar o seu progresso para vingar o insulto,assim, demonstrado por ela. [...]”
(PATTERSON, 1907)
Acima à esquerda: cerca de espinhosAcima à direita: vagão armadilhaAbaixo à esquerda: segundo leão abatido
“ [...] embora a cultura exista no posto comercial, no forte da colina ou
no pastoreio de carneiros, a antropologia existe no livro, no
artigo, na conferência, na exposição do museu ou, como ocorre hoje, nos
filmes”. (GEERTZ, p.11)
Torre EiffelGeorges Seurat
Onde ver: Young Memorial Museum, San Francisco, EUA
Ano: 1889Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 24,1 cm × 15,2 cm
Família de um Chefe Camacã, Preparando-se para Festa1820 | DebretBico-de-pena e lápis sobre papel22,5 x 35,4 cmMuseus Castro Maya - IPHAN/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
“Se a etnografia é uma descrição densa e os etnógrafos são aqueles que fazem a descrição,
então a questão determinante para qualquer exemplo dado [...] é se ela separa as piscadelas dos
tiques nervosos e as piscadelas verdadeiras das imitadas.” (GEERTZ, p.12)
• O autor afirma que a antropologia seja o caminho parareduzir o estranhamento surgido com as diferençasculturais e expandir não apenas comunicação, mas oentendimento e compreensão entre os homens.
• Para Geertz, a cultura é o contexto no qual ocorrem oscomportamentos e ações sociais. A descrição doscomportamentos, sendo feita por antropólogos, são desegunda, terceira mão, etc., e tratam-se de ficções(algo construído, modelado).
• O significado do comportamento varia de acordocom o contexto em que ocorre.
• A descrição antropológica não é a cultura em si.
Sobre o registro antropológico
A coerência não pode ser o principal teste de validade de uma descrição cultural
Nada contribui mais para desacreditar a análise cultural do que a construção de representações impecáveis de ordem formal
A interpretação não deve repousar na elegância das palavras, na inteligência do autor ou nas belezas euclidianas, mas sim no cerne do que nos propomos interpretar.
Cartaz e cena do filme Ensaio sobre a Cegueira (2008), reprodução do livro de José Saramago. Dirigido por Fernando Meireles.
O etnógrafo anota o discurso social, fixa-o em uma forma inspecionável.
Ele observa, registra e analisa.
“A análise cultural é (ou deveria ser) umaadivinhação dos significados, uma avaliação dasconjeturas, um traçar de conclusões explanatóriasa partir das melhores conjeturas.” (GEERTZ, p.12)
“Lévi-Strauss certamente está certo ao dizer que a antropologia cultural não segue o mesmo modelo que as ciências naturais, mas eu acredito que seja empírica, sistemática, tente desenvolver argumentos que
possam ser ao menos confrontados com provas.” (GEERTZ, 2001)
• A coerência e a beleza ou formalidade das palavras não devem seros quesitos de validade de um discurso.
• O trabalho do etnógrafo consiste em não apenas escrever oacontecimento, o comportamento ou o discurso social em si, masinterpretar e registrar o significado de tais ações.
Características da descrição etnográfica por Geertz:
Ela é interpretativa;
O que ela interpreta é o fluxo do discursosocial;
A interpretação envolvida consiste em fixar o “dito” em formas pesquisáveis;
Ela é microscópica
“A noção de que se pode encontrar a essência de sociedades nacionais, civilizações, grandes religiões ou
qualquer que seja, resumida e simplificada nas assim chamadas pequenas cidades e aldeias ‘típicas’ é um
absurdo visível.” (GEERTZ, p.15)
A Osterbaum (árvore da páscoa) é montada com galhos secos, que lembram a frieza e morte do sepulcro de Jesus, junto a cascas de ovos coloridas, representando a alegria da vida na ressurreição de Cristo.
“Nós lidamos com uma gama maior de sociedades, não apenas as chamadas sociedades simples. Lidamos com sociedades grandes, como a Índia, o Brasil, o que torna as coisas mais complexas do que quando nós ficávamos restritos a
apenas povos tribais.” (GEERTZ, 2001)
O local do estudo não é o objeto do estudo
Os antropólogos podem não apenas estudar as aldeias, mas nas aldeias
“É verdade que quase todas as interpretações antropológicas tenham por fim um resíduo de incerteza, de vagueza, indeterminação, contingência.” (GEERTZ, 2001)
“Acho que a corrente de texto depois de um tempo se entrega, porque tudo o que sabemos de
importante ou interessante já foi dito, ao menos naquela linha em particular, não como um todo, mas nessa linha, sim. Então as coisas são abordadas de modo diferente, e vai-se em frente
com isso. Não creio que haja um ponto final óbvio que diga exatamente onde é o fim da
interpretação, mas, depois de um tempo, depois de 4.000 discussões acerca da briga de galos,
quem sabe baste.” (GEERTZ, 2001)
• Defendendo a singularidade das culturas, o autor afirma que nãodevemos abranger a cultura de uma pequena região para áreasmaiores e vice-versa.
• O local do estudo do antropólogo não é necessariamente o objeto doestudo.
A dificuldade em se elaborar uma teoriainterpretativa está no fato de que elastender resistir a modos de avaliaçõesmais diretos, uma vez que a interpretaçãopode ser obstruída pelos pontos de vistade quem as elabora ou ser validada apenaspor ela própria.
Apesar das imposições, o etnógrafodeve estar ciente de que qualquertentativa de avaliar o objetoantropológico de forma que odistancie de sua proposiçãooriginal não passará de umacaricatura distorcida.
Para um campo não exato como este, uma conceituação sem obstruções, que traduza empiricamente os
componentes estudados, é de fato difícil de ser arquitetada, se não impossível.
O que não faz com que as conclusões conseguidas aqui tenham menos valor do que resultados retirados de
assuntos mais exatos e diretos.
Ciente disso, o antropólogo reconhece a improbabilidade
de uma teoria cultural empírica.
Seu trabalho, portanto, não é consolidar teorias definitivas,
mas insinuá-las.
“Estamos reduzidos a insinuar teorias pois falta-nos o poder de expressá-las.”
Primeira condição para a teoria cultural:
ela não é a sua própria dona.
Outro fato que dificulta a formulação de um conceito cultural global está na necessidade de manter as abordagens próximas ao solo da pesquisa e menosabstratas.
Isso ocorre devido a um obstáculo existente entre vivenciar um universo cultural distinto e tentar analisá-lo e compreendê-lo. Tal interferência não pode ser evitada, e quanto mais abstrato o desenvolvimento teórico se torna, mais tensa se firma essa obstrução.
Essas implicações, no entanto, fazem com queo conceito de cultura cultive uma expansivaquantidade de compreensões, uma vez que oconhecimento antropológico não acumulaachados, mas aprofunda suas abordagens.
A antropologia não põe pontos finais emsuas teorias, mas as avançaincisivamente. Quanto mais incisivo umestudo for em relação aos seusanteriores, mais refinado ele se torna.
Ao contrário de outras ciências, ela não se apoia nos ombros de teorias anteriores tanto quanto corre lado a
lado com elas.
O ensaio, é então o melhor gênero possível de apresentação para a interpretação etnográfica, uma vez que tratados e leis são superficiais na área.
Não há tal coisa como uma “Teoria CulturalElementar”, pois não apenas a natureza do objetoestudado não disponibiliza margens para estasconsolidações, como a própria metodologia de pesquisainterfere nesta limitação: os achados antropológicos
não são gerais, mas específicos (o que contradizos requerimentos para a constatação de uma regra).
Além de improvável, Geertz ainda ressalta que a busca por “leis culturais” é desnecessária, pois
uma vez que o objetivo do pesquisador não é codificar
regularidades, mas descrever os elementos minuciosamente, estas
declarações são geralmente vazias e irrelevantes.
Ou seja:
O antropólogo não generaliza através
dos fatos, mas dentro deles.
Isso se chama abordagem clínica, na qual se busca enquadrar significantes de uma forma inteligível no lugar de subordinar um conjunto de observações
à uma lei ordenadora.
Segunda condição para a teoria cultural:
ela não é profética.
Se uma abordagem clínica é utilizada, os eventos avaliados serão referentes a assuntos já sob controle, e não para projetar experimentos ou deduzir estados futuros. No entanto, a teoria não precisa (e não deve) estar presa no passado.
Ela pode não ser profética, no entanto, a boa teoria é
atemporal.
Portanto, em antropologia, teoriaspassadas são constantemente reaproveitadase refinadas, principalmente pois muitasdelas estão cientes que devem procurar aatemporalidade. Caso elas falhem nesteprocesso, perigam ser descartadas assimque o contexto que as suporta deixar deexistir.
Além disso, o foco do pesquisador também é recortaras estruturas sociais que compõem os atos culturaise construir um diagrama dessas ações, que sedestacam dos demais comportamentos humanos, paraestudá-las.
A etnografia se encarrega de
fornecer pistas sobre qual o papelda cultura na vida humana, retirando grandes conclusões de
detalhes.“(...) remodelar o padrão das relações sociais é reordenar as
coordenadas do mundo experimentado. As formas da sociedade são a
substância da cultura.”(GEERTZ, p. 20)
Portanto, sabendo que a construção de teorias empíricas é improvável, o antropólogo deve se alertar de que a sua pesquisa não se equivale a essência daquilo que ela se dirige, além de que a teoria não deve servir para profetizar
regras.
O papel da antropologia é designar qual a importância da cultura na vida humana.
A etnografia é, por natureza, uma ciência que não determina fins em suas explorações.
Isso a torna um exercício semelhante ao da filosofia, aonde
está no processo da busca pelas respostas que se encontra o seu motivo, e não nas respostas em si; pois estas escapam de seu
perseguidor.
A análise cultural é intrinsicamente
incompleta, e quanto mais profunda, mais
incompleta.
Portanto, compreender um conceito semiótico da cultura é
entender que ele é “essencialmente contestável”.
A progressão da antropologia se dá
mais devido ao debate travado entre os seus integrantes do que por um
consenso de ideias.
Uma vez que não existem conclusões definitivas a serem apresentadas, o
avanço desta ciência está relacionado ao refinamento do
debate.
Apesar desta interferência entre a resposta e o estudo, o pesquisador deve resistir tratar os seus temas com subjetividade e/ou intuição. Ele deve, na medida do
possível, aproximar a sua abordagem o mais próximo que conseguir do concreto.
Para facilitar esse processo, oetnógrafo pode direcionar suaincisão aos aspectos da realidadecotidiana, inspecionando oselementos que se fizeramnecessários dentro do contextohumano.
Nacionalismo, identidade,ideologia, arte, religião,ciência, lei, moralidade,
violência, natureza, ética esociabilidade são exemplos de assuntos que não distanciam o
pesquisador de um contexto mais concreto de vida humana.
Em suma, a pesquisa é contínua e a sua qualidade não está em suas conclusões, mas em
seu discurso.
A antropologia serve como um inventário de legendas sobre o que é significativo para a espécie humana, fornecendo assim um catálogo de interpretações para que possamos cada vez
mais passar a compreender a nós mesmos.
“A vocação da antropologia interpretativa não é responder as nossas questões mais profundas, mas colocar à nossa disposição as respostas que outros
deram (...) e assim incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem falou”.
(GEERTZ, p. 21)
SUMARIZAÇÃO GERAL
Gueertz defende que, a partir da abordagem semiótica da cultura, deve-se adotar a “descrição densa”(que preza a individualização dos elementos estudados,
discorridos detalhadamente) como modelo prioritário para o registro e a análise antropológica, aonde deve-se dar atenção à aos significados das ações, e não apenas
registrar os acontecimentos.
Em seu texto, é possível assimilar toda a dificuldade envolvida no processo da interpretação cultural e sabendo disto, ele define quais são as formas equivocadas de se analisar a cultura, quais devem ser os focos do pesquisador e sobre quais pontos o analisador deve tomar cuidado durante o estudo. Alerta que o registro
etnográfico não deve ser tratado como certeza universal pois ele se equilibra em parâmetros muito relativos. Dessa forma, o antropólogo deve estar ciente de que sua teoria não é capaz de sintetizar a essência empírica da cultura observada e que toda
pesquisa está sujeita a reelaboração eterna.
CONCLUSÃOA definição do conceito cultural denota uma complexa metodologia,portanto, para evitar com que a análise se se perca, o antropólogopode se auto avaliar a partir dos conceitos dissertados por Geerts.
A consolidação da teoria antropológica é complexa, mas o pesquisadordeve priorizar o que é essencial, não se deixar enganar pelos fatoresque relativizam a conclusão e, presando dissecar profundamente cadaquestão encontrada, construir uma abordagem objetiva e lógica. Ateoria é contínua, portanto, ela não deve visar os “ponto finais” decada questão mas a qualidade de seu conteúdo, pois assim, a discussãoacerca da teoria poderá ter a sua continuidade prolongada ao ponto detorná-la atemporal.
https://www.youtube.com/watch?v=rb-P-nk2ULA
http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/arqueologia-descoberta-pode-derrubar-teorias-sobre-origem-dos-
maias,222ee233b8e3e310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html
http://www.oarquivo.com.br/index.php/polemica/historia/4189-john-henry-patterson-e-os-demonios-de-tsavo
http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/12/14/988950/conheca-torre-eiffel-georges-
seurat.html
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/debret
http://marinaotte.com.br/blog/2012/03/marinando-pelo-mundo-pomerode-e-a-osterfest/
http://www.vemprapomerode.com.br/turismo/festas-e-feiras/pagina/festival-da-pascoa-osterfest
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1802200103.htm
REFERÊNIAS: