Orientador - Instituto de...
Transcript of Orientador - Instituto de...
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO unesp
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENTOMOLOGIA URBANA: TEORIA E PRÁTICA
Barreiras físicas no controle de insetos na indústria de alimentos
Odelço Balieiro
Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Câmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana.
12/2015
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENTOMOLOGIA URBANA: TEORIA E PRÁTICA
Barreiras físicas no controle de insetos na indústria de alimentos
Odelço Balieiro
Orientador: Prof. Dr. Osmar Malaspina
Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Câmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana.
12/2015
Odelço Balieiro
Barreiras físicas no controle de insetos na indústria de alimentos.
Orientador: Prof. Dr. Osmar Malaspina.
Comissão Examinadora
__________________________________________________________
Prof. Dr. Odair Corrêa Bueno Centro de Estudos de Insetos Sociais – UNESP – Câmpus de Rio Claro.
__________________________________________________________
Prof.a Dra. Ana Eugênia de Carvalho Campos Instituto Biológico de São Paulo.
__________________________________________________________
Prof. Dr. Osmar Malaspina Centro de Estudos de Insetos Sociais – UNESP – Câmpus de Rio Claro.
São Paulo – SP, 12 de dezembro de 2015.
Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Câmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana.
Dedico a minha mãe Maria Balieiro, que
aos 85 anos de experiência é exemplo de
perseverança e otimismo.
Aos meus colegas e professores do curso,
que foram fundamentais para meu
aprendizado.
Agradecimentos
Ao meu gestor Donizeti Leonício Cezari, que me apoiou e incentivou
nessa etapa do meu desenvolvimento profissional.
As amigas de trabalho Carla Silva e Maiara Vieira Sena, pela contribuição
com os dados estatísticos sobre as pragas e pela liderança na implantação das
medidas corretivas e preventivas de controle (barreiras físicas e boas práticas)
saídas desse trabalho.
A nossa querida amiga de curso, a bióloga Marilda V. Simões, que
pacientemente gravou todas as aulas em áudio e organizou todo o material do curso
para facilitar nosso aprendizado e consulta.
A prof.a Dra. Ana Eugênia de Carvalho Campos pelo acolhimento no
Instituto Biológico durante todas as aulas, sempre presente e disposta a nos ajudar.
Aos novos amigos conquistados durante o período do curso, os quais
levarei sempre em grande estima, cada um com sua peculiaridade e talento,
contribuindo para minha introdução ao mundo dos controladores de pragas urbanas.
Em especial ao Fábio Barros: um grande conhecedor de cupins, do trio de
veterinárias: Marylin, Elisa e Débora, companheiras de todas as horas.
Aos professores e palestrantes que passaram pelo curso contribuindo
com seu conhecimento e materiais didáticos.
A Sra. Samira pelo cafezinho de mãe, sempre forte e fresquinho que nos
manteve ligados “em 220 volts” durante as aulas nas manhãs frias e tardes quentes,
meu muito obrigado.
Resumo
Insetos são conhecidos como vetores de doenças e indicadores de falhas
na aplicação de boas práticas, principalmente no que se refere a efetividade das
barreiras físicas das edificações em áreas fabris e produtivas. Desta forma, o
presente trabalho objetivou identificar possíveis falhas estruturais e de barreiras
físicas na indústria de alimentos e propor medidas corretivas e preventivas para
impedir a entrada e trânsito dos insetos. É fato que a ocorrência de pragas em áreas
fabris é inevitável, principalmente os insetos, que são introduzidos através de
materiais diversos, quando não há um programa efetivo de inspeção no recebimento
e armazenamento que contemple o monitoramento e a prevenção de pragas. Desta
forma, quando um leiaute robusto é combinado com barreiras físicas adequadas, um
plano de manutenção predial/estrutural preventivo e a disciplina no cumprimento das
boas práticas, temos os insetos controlados. Fazendo uso de uma metodologia
planejada de resolução de problemas, foi realizada a análise dos principais fatores
de vulnerabilidade que influenciam na entrada e trânsito de insetos na indústria.
Após a implantação das medidas corretivas e preventivas para as falhas estruturais
e de boas práticas apontadas, foram comparados os resultados de capturas de
insetos em armadilhas de monitoramento, antes e após as melhorias aplicadas,
demonstrando reduções satisfatórias na porcentagem de insetos para ambas as
indústrias avaliadas.
Palavras-chave: Insetos, prevenção de pragas, falhas estruturais, boas práticas, ocorrências de pragas.
ABSTRACT
Insects are known as disease vectors and indicators of failures in the
application of good practices, especially regarding the effectiveness of physical
barriers in buildings of productive areas. Thereby, this study aimed to identify
possible structural failures in the buildings of the food industry and propose corrective
and preventive measures. It is fact that the occurrence of pests in industrial areas is
inevitable, especially insects, which are introduced through miscellaneous materials,
when there is no effective prevention, inspection and monitoring program in the
receipt and storage. Therefore, when combining a robust layout with appropriate
physical barriers, a building / structural preventive maintenance plan and discipline in
compliance with good practices we can effectively control insects. Utilizing a planned
methodology of problem solving was conducted the analysis of vulnerability factors
which influence the entry and transit of insects in the industry. After the
implementation of corrective and preventive measures for structural failures and best
practices identified, insect captures results were compared in monitoring traps before
and after the implemented improvements, demonstrating satisfactory reduction in the
percentage of insects for both evaluated industries .
Keywords: Insects, preventing pests, structural flaws, good practices, pests of occurrences.
Sumário
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09
2 OBJETIVO .............................................................................................................. 10
3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 11
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 12
5 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 13
5.1 As fases do ciclo PDCA....................................................................................... 13
5.2 Monitoramento .................................................................................................... 16
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 18
6.1 Resultados da indústria A - setores A1 e A2 ....................................................... 18
6.2 Resultados da indústria B - setor único ............................................................... 20
6.3 Alguns exemplos de barreiras adequadas .......................................................... 22
7 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 25
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 26
ANEXOS .................................................................................................................. 27
1 Introdução
O homem tem uma longa e intensa relação com os insetos, pois muitas espécies
afetam sua economia, causando danos às plantações, são vetores de doenças de plantas,
são danosos para os grãos e demais produtos armazenados: atacam o homem e os animais
de interesse econômico, picam, ferem com seus ferrões, injetam substâncias que causam
alergias, ou atuam como vetores de moléstias (FUJIHARA et al., 2011).
Segundo BRASIL (2015) por meio do Regulamento Técnico RDC n°14, de 28 de
março de 2014, que dispõe sobre matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em
alimentos e bebidas, seus limites de tolerância e estabelece requisitos mínimos para
avaliação, são consideradas matérias estranhas indicativas de risco à saúde humana
aquelas capazes de veicular agentes patogênicos em alimentos e/ou causar danos ao
consumidor, abrangendo insetos: baratas, formigas, moscas que se reproduzem ou que tem
por hábito manter contato com fezes, cadáveres e lixo, bem como os percevejos
(“barbeiro”), em qualquer fase de desenvolvimento, vivos ou mortos, inteiros ou em partes. A
RDC no. 14 cita sobre as matérias estranhas indicativas de falhas de boas práticas,
incluindo os artrópodes considerados próprios da cultura e do armazenamento (subentende-
se que sejam os coleópteros e as lepidópteras), em qualquer fase de desenvolvimento,
vivos ou mortos, inteiros ou em partes, suas “exúvias”, teias e excrementos.
Outras legislações brasileiras (BRASIL, 2015), como a exemplo da Portaria nº
326 – SVS/MS de 30 de julho de 1997, em destaque no item 6.7 - Sistema de Controle de
Pragas e a Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 em destaque no item 2.6
Controle Integrado de Pragas e em sua lista de verificação 1.16, citam como Requisitos de
Higiene ou Procedimento Operacional Padronizado (POP) o controle integrado de vetores e
pragas urbanas.
O princípio dessas legislações tem por base as condições adequadas das
instalações e equipamentos, bem como a aplicação de boas práticas de fabricação, principal
foco desse trabalho.
9
2 Objetivo
Este trabalho tem como objetivo avaliar a aplicação de barreiras físicas em
conjunto com regras de boas práticas de fabricação (BPF), assegurando uma melhor
prevenção e controle dos insetos na indústria de alimentos.
10
3 Justificativa
O consumidor cada vez mais consciente, na busca de uma alimentação
saudável e alimentos seguros, tem recebido informações sobre a composição, nutrição,
benefícios e males intrínsecos nos alimentos através de diversos canais de comunicação.
Os órgãos públicos, Organizações Não Governamentais (ONGs) e a mídia estão
atentas à proteção do consumidor, à saúde pública e as legislações que regulamentam as
normas para a detecção, controle e prevenção de contaminantes nos alimentos. A presença
de insetos em ambientes fabris e nos alimentos, os danos e riscos que eles representam
são requisitos legais e, portanto, o foco deste trabalho.
Segundo o Reclame Aqui (2015), cerca de 15.000.000 de pessoas acessam o
site mensalmente para pesquisar a reputação de uma empresa e seus produtos, incluindo
um ranking das empresas mais reclamadas disponibilizado pelo site. Com a ferramenta de
busca, é possível relacionar um determinado produto a um tipo de reclamação e até
visualizar a opinião dos seguidores sobre aquele produto ou empresa, bem como o
andamento e tratativas intermediadas pelo Reclame Aqui.
Justifica-se, desta forma, a implantação de procedimentos que impeçam a
entrada e trânsito de insetos em indústria de alimento, com monitoramento, a fim de
identificar as possíveis falhas da estrutura e/ou humanas, para que as leis e normas possam
ser devidamente cumpridas.
11
4 Revisão Bibliográfica
Segundo Zorzenon et al. (2006) os seres vivos que se adaptaram às alterações
ambientais sobreviveram, convivem e competem com o homem. Destes, são os insetos os
que possuem melhor capacidade de adaptação e muitos se tornaram pragas. É o caso dos
cupins, formigas, baratas, moscas, brocas, mosquitos, pulgas, traças, carunchos, etc.
Os carunchos e algumas traças infestam vários grãos e produtos armazenados
como sementes, grãos e cereais diversos, farinhas e farelos, chocolates em pó e em barras,
frutos desidratados e secos, cereais matinais e em barras, temperos e especiarias,
bolachas, rações, macarrão, dentre outros produtos, depreciando-os economicamente e
tornando-os impróprios para o consumo (ZORZENON et al., 2006).
A mosca doméstica e as varejeiras podem transmitir uma grande quantidade de
agentes causadores de doenças como vírus, bactérias do gênero Rickettsia (causadoras de
febre tifoide e outras doenças), alguns protozoários, outras bactérias e ovos de helmintos
(vermes parasitos) e a transmissão se dá pelo contato (ZORZENON et al., 2006).
BRASIL (2015), por meio da Portaria nº 326 – SVS/MS de 30 de julho de 1997
resume que as boas práticas são os procedimentos necessários para garantir a qualidade
dos alimentos e a prevenção de contaminações, sejam elas por matérias estranhas,
substâncias químicas, por microrganismos ou pragas. Já a resolução RDC nº 275, de 21 de
outubro de 2002 (BRASIL, 2015) preconiza a criação do manual de boas práticas por meio
dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), visando operações realizadas pelo
estabelecimento, incluindo, no mínimo, os requisitos sanitários dos edifícios, a manutenção
e higienização das instalações, dos equipamentos e dos utensílios, o controle da água de
abastecimento, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, controle da higiene e
saúde dos manipuladores e o controle e garantia de qualidade do produto final.
Segundo Mendes (2007), em seu estudo sobre as Condições das Estruturas
Físicas de Unidades de Alimentação e Nutrição da Região Oeste do Paraná, onde se
aplicou a lista de verificação da resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002, maior
parte das não conformidades levantadas nas unidades avaliadas foram estruturais
(edificações, pisos, tetos, barreiras físicas: ralos, portas e janelas), bem como as condições
e aplicação de boas práticas de fabricação.
12
5 Material e Métodos
Em junho de 2014 foram escolhidas duas indústrias com estruturas e
características semelhantes, sendo utilizadas como locais de coleta de dados e implantação
do projeto. Dentre as principais características entre elas, estão as matérias primas farinhas
em geral (trigo, arroz e milho), leite em pó, cacau em pó e açúcar. A primeira indústria está
localizada no nordeste do estado da Bahia, no vale do rio Jacuípe, já a segunda está
localizada no centro-oeste do interior do estado de São Paulo.
Foi avaliado o histórico de captura e ocorrência de insetos no período de janeiro
a junho de 2014 para elaboração de estatística das principais espécies, por meio do
programa de manejo integrado de pragas (MIP) já implantado nestas indústrias. Este
monitoramento é feito por meio de armadilhas adesivas luminosas, armadilhas adesivas
com feromônio e da marcação pela operação no formulário MIP (modelos representados
pelas figuras 3, 4, 5 e 19). Estas armadilhas estão instaladas a um metro e oitenta
centímetros de altura do piso e próximas as portas de acesso e entrada de matérias primas,
materiais de embalagens, saída de produtos e trânsito de pessoas e máquinas
(empilhadeiras e carrinhos), conforme figuras 3, 15 e 16. O formulário MIP é uma planilha
que consta os dias do mês distribuídos em colunas e as principais pragas distribuídas em
linhas (conforme figura 19), e está disponível em pontos estratégicos das áreas fabris.
5.1 As fases do Ciclo PDCA
O ciclo PDCA é um método gerencial composto de quatro fases básicas que
significa: P = Plan (planejar, definir as metas, definir os métodos que permitirão atingir as
metas propostas), D = Do (educar e treinar segundo o método, executar as tarefas, coletar
dados), C = Check (verificar os resultados das tarefas) e A = Action (agir, atuar
corretivamente, aperfeiçoar). O método organiza as ações planejadas e as tarefas
executadas em forma de procedimentos para garantir a melhoria e a manutenção dos
resultados alcançados (JUSTA, 2015). Para a execução deste trabalho foi utilizada a
metodologia do ciclo PDCA para garantir a sustentabilidade e eficácia das medidas
tomadas, conforme esquema da figura 1.
Na fase Plan foram definidos os fatores que influenciam no acesso e abrigo
dos insetos nas áreas fabris (fatores de vulnerabilidade), os dispositivos de
coleta de dados, os indicadores para avaliar a tendência de captura e
ocorrências de pragas nos setores, a meta de redução de ocorrências e capturas
13
de insetos, após implantação das medidas definidas para melhoria dos fatores
levantados.
Na fase Do foram realizadas as adequações e melhorias necessárias nos
fatores levantados na fase Plan e o treinamento da operação envolvida na
aplicação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e prevenção de pragas.
Na fase Check foram realizadas as contagens de indivíduos capturados nas
armadilhas e outros apontamentos (ocorrências relatadas por meio do formulário
de monitoramento do MIP) e comparados com o período antecedente as ações
da fase Do (estatística dos dados de capturas de insetos). A fase anterior
corresponde ao primeiro semestre de 2014.
Na fase Action foram feitos os ajustes necessários para fortalecimento do
projeto, tais como a avaliação de outros pontos que possam contribuir com o
fracasso ou a sucesso no atingimento das metas e da aplicação dos conceitos (o
fechamento das portas, o cumprimento dos planos de limpeza, a marcação dos
insetos avistados no setor no formulário MIP).
Figura 1 – Fases do ciclo PDCA.
Fonte: As fases do ciclo PDCA – Blog do Marcelo Justa (2014).
As indústrias foram denominadas indústria A (planta baixa de área apresentada
na figura 2) e indústria B para melhor entendimento deste projeto. Usando a metodologia
PDCA, na fase Do foram levantados os pontos de vulnerabilidade do programa MIP de cada
14
uma delas, onde sete fatores foram avaliados e mapeados, sendo: as barreiras, o
comportamento da operação, os locais de difícil acesso (LDA) para limpeza e inspeção, as
fontes de sujeiras (FS) geradoras de resíduos atrativos, a disposição dos resíduos (descarte
e retirada de resíduos e do lixo), a entrada e manuseio de insumos nas áreas fabris
(matérias-primas e materiais de embalagem) e os locais que haviam disponíveis os paletes
de madeira, bem como sua condição de conservação e limpeza.
São exemplos de falhas de barreiras e boas práticas de fabricação (BPF) que
afetam os fatores levantados: as portas que não fecham adequadamente ou têm abertura
direta para as áreas externas, hábitos não higiênicos que definem o comportamento da
operação (exemplos: não fechar as portas, não executar os planos de limpeza do setor e
máquinas), pontos muito altos e que acumulam resíduos dificultando o acesso para a
limpeza rotineira e inspeção, os vazamentos de pó em geral ou matérias-primas com
embalagens avariadas atrativas aos insetos, disposição e retirada de resíduos nas áreas de
forma inadequada (vazando ou espalhando resíduos), recebimento de insumos sem prévia
inspeção antes da entrada nos armazéns e áreas fabris, paletes de madeira sujos e
danificados.
Figura 2 – Mapeamento dos fatores de vulnerabilidade na indústria A.
Foram estabelecidas medidas corretivas e preventivas para as falhas de BPF e
estruturais apontadas para cada fator de vulnerabilidade, conforme descrito para cada fase
do ciclo PDCA. Foram classificadas como prioridade as ações sobre falhas de alto impacto
(ver modelo da ferramenta no anexo) que possam culminar no acesso, abrigo e proliferação
de pragas nas áreas produtivas.
15
5.2 Monitoramento
Para a indústria A o trabalho foi desenvolvido em dois setores devido sua
complexidade e tamanho, os quais foram chamados de setores A1 e A2 (figura 2). A
indústria B foi considerada como um único setor.
Semanalmente foram monitoradas as capturas de insetos em armadilhas
adesivas luminosas e de feromônio, bem como as marcações de ocorrências pela operação
no formulário MIP, correspondente ao período de julho a dezembro de 2014.
Foram comparados os dados estatísticos de ocorrências de pragas (capturas e
ocorrências registradas no formulário MIP) referentes ao primeiro semestre (de janeiro a
junho), antes do início deste projeto, versus o segundo semestre (de julho a dezembro) do
ano de 2014, após a implantação das medidas corretivas e preventivas priorizadas através
da aplicação do ciclo PDCA nas indústrias A e B (usando a mesma quantidade de
armadilhas).
Figura 3 – Armadilha luminosa com placas adesivas para monitoramento e captura de insetos voadores, moscas, mosquitos e mariposas (incluindo outros carunchos e traças).
Nota: ao lado direito da figura, a disposição do formulário de monitoramento MIP.
16
Figura 4 – Dispositivo adesivo com feromônio atrativo para monitoramento e captura de carunchos de grãos armazenados (específica para Lasioderma serricorne).
Figura 5 – Dispositivo adesivo com feromônio atrativo para monitoramento e captura de traças de grãos armazenados (específica para Ephestia cautella e Ephestia elutella).
Nota: as figuras de 2 a 5 são do arquivo pessoal do autor (fonte).
17
6 Resultados e Discussão
Os insetos capturados no monitoramento na fábrica A foram: moscas, formigas,
carunchos, mosquitos, abelhas, tesourinhas e traças. Para a fábrica B, os insetos
considerados no monitoramento foram moscas e formigas, porém no gráfico de insetos
totais tem-se a abrangência para mosquitos, abelhas, tesourinhas, carunchos e traças, entre
outros insetos alados, que apresentou um índice de baixa captura no período de
monitoramento para esta planta (comparando os dois semestres).
6.1 Resultados da Indústria A – setores A1 e A2
No total foram monitoradas doze armadilhas luminosas, oito armadilhas de
feromônio para traças e oito armadilhas para carunchos distribuídas nos dois setores da
indústria A. Nos setores A1 e A2 da indústria A, embora as ocorrências sejam baixas, houve
redução na porcentagem para quase todas as pragas apontadas, principalmente em relação
as ocorrências e capturas de moscas (A1 = 87% e A2 = 93%) e mosquitos (A1 = 70% e A2 =
80%) em todas as armadilhas luminosas (Figuras 6 e 7). A principal causa diagnosticada foi
o fato de haver muitas portas neste setor, sendo que algumas delas ficavam abertas sem
necessidade ou apresentavam falhas no seu fechamento, além da influência de outros
setores na mesma condição. Segundo o histórico dessa indústria, durante todo o ano o
índice de ocorrências de moscas foi grande na região, intensificando nos meses de verão.
Capturas de abelhas foram zeradas nos dois setores.
Nos dois setores houve o aumento nas ocorrências e capturas de traças, sendo
que a causa principal deste aumento está relacionada ao treinamento de reconhecimento de
pragas dado a operação, pois antes nas anotações as traças eram identificadas como
“borboletinhas”, ignoradas quando visualizadas durante o dia ou em outras fases do ciclo de
vida, como as fases de larva ou pupa (Figura 6).
18
Figura 6 – Gráfico indicativo das ocorrências e capturas de pragas no setor A1 da indústria A, localizada no nordeste do estado da Bahia, no vale do rio Jacuípe.
Figura 7 – Gráfico indicativo das ocorrências e capturas de pragas no setor A2 da indústria A, localizada no nordeste do estado da Bahia, no vale do rio Jacuípe.
Nota: comparação entre os dados coletados no 1º e 2º semestres de 2014 (setores A1 e A2 da indústria A).
19
6.2 Resultados da Indústria B – único setor
Para a indústria B foram nove armadilhas luminosas, cinco armadilhas de
feromônio para traças e cinco armadilhas de feromônios para carunchos distribuídas nos
principais acessos da indústria. Houve redução na percentagem de moscas (ocorrências e
capturas) na indústria B (único setor), sendo que a principal causa identificada foi a
quantidade de portas abertas sem necessidade ou que apresentavam falhas no fechamento.
Os meses de maio a setembro compreendem o período de inverno onde a incidência de
pragas, principalmente moscas é muito baixa na região, com temperaturas entre 15 e 19°C,
segundo dados do Climatempo (2015), figura 12. A redução foi de 66,3% em relação ao
primeiro semestre de 2014 (Figura 9).
Figura 9 – Gráfico de ocorrências de moscas na indústria B, localizada no centro-oeste do interior do estado de São Paulo.
Nota: a chave laranja indica o período do trabalho (2º semestre de 2014).
Houve redução na percentagem de formigas (Figura 10), sendo que a principal
causa identificada foi a presença de muitas frestas e aberturas para área externa (nas ruas,
calçadas e para o jardim), além da oferta de resíduos atrativos nas áreas internas. A
redução foi de 83,9% em relação ao primeiro semestre de 2014. A porcentagem de redução
de pragas totais na indústria B foi de 64% em relação ao primeiro semestre de 2014 (Figura
11).
20
Meses monitorados
Núm
ero
de
mo
scas c
ap
tura
das
Figura 10 – Gráfico de ocorrências de formigas na indústria B, localizada no centro-oeste do interior do estado de São Paulo.
Nota: a chave laranja indica o período do trabalho (2º semestre de 2014).
Figura 11 – Gráfico de ocorrências de pragas totais na indústria B, localizada no centro-oeste do interior do estado de São Paulo.
Nota: a chave laranja indica o período do trabalho (2º semestre de 2014). Houve uma redução de 64% das ocorrências de pragas totais no período.
21
Nú
me
ro d
e fo
rmig
as c
ap
tura
da
s
Meses monitorados
Núm
ero
de
in
se
tos c
ap
tura
das
Meses monitorados
Figura 12 – Gráfico do Climatempo com a média da temperatura do centro-oeste do interior do estado de São Paulo (mínimas e máximas).
6.3 Alguns exemplos de aplicação de BPF e barreiras adequadas
Nas fotos representadas pelas figuras 13 e 14, temos na figura 13 a área de
carregamento com as portas abertas sem presença de caminhão para carregamento, fato
comum antes do início do projeto. Esta prática era para que houvesse a ventilação natural
do setor, permitindo a entrada de insetos. A figura 14 representa a mudança de cultura na
mesma área, após os treinamentos de boas práticas e prevenção de pragas aplicados a
todos os funcionários da área durante o projeto.
As figuras 15, 16 e 17 mostram as melhores práticas de acesso na indústria de
alimentos, com antecâmaras dotadas de portas individuais para acesso de pessoas e
transportes, aberturas intercaladas automaticamente, ou seja, quando uma está aberta a
outra não abre, mantendo o ambiente protegido sempre por uma das portas durante o
acesso de transportes (carrinhos e empilhadeiras) e cortinas de ar com acionamento na
abertura da porta.
22
Figuras 13 e 14 – Portas do depósito da indústria A.
Nota: foto 13 apresenta as portas abertas sem carregamento de caminhão (antes), e foto 14 com todas as portas fechadas (depois do treinamento de MIP e BPF com a operação).
Figura 15 – Antessala de acesso as áreas produtivas.
Nota: setas indicando a ausência de frestas entre o piso e as portas (ausência da entrada de luz), a armadilha luminosa logo após a porta de acesso de pedestres para monitoramento.
23
Figura 16 – Antessala de acesso as áreas produtivas.
Figura 17 – Antessala de acesso as áreas produtivas.
Nota: destaque para passagens individuais para pedestres e máquinas, armadilha luminosa, travamento sincronizado entre as portas (que impede a abertura de ambas ao mesmo tempo), cortinas de ar que acionam quando as portas se abrem e vedação reforçada na porta automática (tarja vermelha).
24
7 Conclusão
As falhas estruturais e de leiaute dos edifícios, barreiras físicas e acessos,
levantadas durante o projeto quando colocadas num plano de manutenção robusto tendem
a não impactar nas próximas avaliações dos fatores de vulnerabilidade para controle de
insetos, contribuindo para a redução de ocorrências de pragas na indústria.
A conscientização na aplicação de BPF e o treinamento de reconhecimento de
pragas para toda a operação é a base para que os programas de manejo integrado de
pragas (MIP) sejam eficazes. As regras de BPF e MIP devem ser claras, padronizadas,
conhecidas e aplicadas por todos, incluindo visitantes e a alta direção.
Foram obtidas reduções satisfatórias na porcentagem de insetos para ambas as
indústrias, mesmo em diferentes regiões do Brasil (indiferente das interferências sazonais e
climáticas). Para todos os casos houve redução nas ocorrências e capturas já no início da
implantação das medidas corretivas e preventivas que foram priorizadas.
É fundamental a aplicação de ferramentas de gestão ou metodologia de
resolução de problemas para que haja o engajamento de todos os envolvidos na operação,
bem como para a sustentabilidade das medidas tomadas, promovendo a melhoria continua
no programa de MIP. Dessa forma, os fornecedores de serviço de controle de pragas
urbanas conseguirão fazer um bom trabalho de controle e prevenção, antecipando-se aos
focos de pragas, as perdas por infestações de insumos e produtos, e consequentemente, as
reclamações de consumidores.
25
Referências
FUJIHARA, R.T. et al., Insetos de Importância Econômica: guia ilustrado para identificação de
famílias – 1 Ed. Botucatu: Editora FEPAF, 2011.
BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RDC n.º 14, DE 28 DE
MARÇO DE 2014 - Dispõe sobre matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em alimentos e
bebidas, seus limites de tolerância e dá outras providências. Disponível em
<http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=gravarAtoPDF&tipo=RE
S&numeroAto=00000014&seqAto=000&valorAno=2014&orgao=RDC/DC/ANVISA/MS&codTipo=&des
Item=&desItemFim> Acesso em: 16 de novembro de 2015.
BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Portaria nº 326 – SVS/MS de 30 de julho
de 1997 Regulamento Técnico Sobre as Condições Higiênico-sanitárias e de Boas Práticas de
Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Disponível em
<http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=100> Acesso em: 16 de novembro de 2015.
BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro
de 2002 – Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados
aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação
das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos.
Disponível em <http://e-legis.bvs.br/leisref/public/ showAct.php?id=8134> Acesso em: 16 de
novembro de 2015.
ZORZENON, F.J. et al., Manual Ilustrado de Pragas Urbanas e Outros Animais Sinantrópicos – São
Paulo: Instituto Biológico, 2006. p.151.
AS FASES DO CICLO PDCA – Blog do Marcelo Justa. Disponível em
<http://www.marcelojusta.blogspot.com/2010/09/29-pdca-e-sdca.html> Acesso em: 30 de novembro
de 2014.
AEDES AEGYPTI. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2015.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Aedes_aegypti&oldid =43931041>. Acesso
em: 16 de novembro de 2015.
RECLAME AQUI – Disponível em <http://www.reclameaqui.com.br/> Acesso em: 16 de novembro de
2015
MENDES, Condições das Estruturas Físicas de Unidades de Alimentação e Nutrição da Região
Oeste do Paraná, 2007 p.16. Disponível em <http://www.fag.edu.br/graduacao/
nutricao/resumos2007/Muriel%20K.%20Mendes.pdf> Acesso em 08 de dezembro de 2015.
CLIMATEMPO – Disponível em <http://www.climatempo.com.br/climatologia/486/marilia-sp/> Acesso
em: 23 de dezembro de 2015.
26
Anexos
Figura 18 – Matriz de Impacto X Esforço.
Data
ago/14
MATRIZ DE IMPACTO X ESFORÇO
Título Projeto Redução de Insetos 2014
Responsável Odelço Balieiro
LIS
TAR
TO
DA
S A
S S
OL
UÇ
ÕE
S P
RO
PO
STA
S
VOLTAR
IMP
AC
TO
ESFORÇO
BAIXO ALTO
A = Alto Impacto e Baixo Esforço(retirar quando preencher)
B = Baixo Impacto e Baixo Esforço(retirar quando preencher)
D = Alto Impacto e Alto Esforço(retirar quando preencher)
C = Baixo Impacto e Alto Esforço(retirar quando preencher)
FALHAS: 2, 5, 7, 8, 9, 10, 12, 13, 16, 22,
FALHAS: 11, 15, 19, 29,
FALHAS: 1, 3, 4, 6, 14, 17, 18, 20, 21, 23, 25, 27, 31, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 41, 42
FALHAS: 32, 33, 24, 26, 28, 30, 41
Nota: ferramenta utilizada para priorização na tratativa de falhas, onde se prioriza as falhas que tem alto impacto (seja de baixo ou alto esforço). Figura 19 – modelo da Planilha de Monitoramento MIP.
Nota: as ocorrências de insetos avistados nos setores são anotadas na coluna referente ao dia da ocorrência versus a linha corresponde ao inseto visualizado.
27