O ESSENCIAL SOBRE...Leonardo Coimbra nasceu em Borba de Godim, atual cidade da Lixa, concelho de...
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O E S S E N C I A L S O B R E
Leonardo Coimbra
O E S S E N C I A L S O B R E
Leonardo CoimbraAna Catarina Milhazes
Índice
7 Introdução
9 A Vida
17 A Obra
21 O Político/O Reformador Social
29 O Mestre/O Filósofo
37 O Orador/O Homem Espiritual
43 Conclusão
45 Bibliografia essencial
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Introdução
Este Essencial sobre Leonardo Coimbra pretende dar a um público lato um breve e seletivoresumo desta figura nacional, no que ela teve depolítico, intelectual e homem espiritual. Ficoucélebre a caracterização que Teixeira de Pascoaesfez do seu amigo Leonardo Coimbra, falandodele como uma Trindade: o orador, o professor,o filósofo. Talvez no orador caiba o político, noprofessor o intelectual e no filósofo o homemespiritual. Todos eles se cruzam — porque talvezainda o professor caiba no orador, se encontramos o intelectual no político; o professor caibano filósofo, se o intelecto seguir a par da vidado espírito; e talvez também o orador caiba nofilósofo, se a filosofia procurar a harmonia dosespíritos.Procuraremosdaraconhecerestafiguraquefoivárias.AcaracterizaçãodePascoaeséconfessadamente subjetiva; mas, enquanto síntese, écomplexa e em parte insuficiente, como as sínteses acabam por ser. Também O Essencial o será.A síntese tem menos a capacidade de estagnar a
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matéria que resume do que a virtude de pôr emsuspensoumarespostaparapoderlevantaroutras.Este breve contributo pretende ser uma introduçãoàfiguraeobrastãoricasqueforamLeonardoCoimbra e os seus feitos.
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A Vida
LeonardoCoimbranasceuemBorbadeGodim,atual cidade da Lixa, concelho de Felgueiras, nofinal do séculoxix, em 1��3. A sua família eraumafamíliaburguesadazonaruraldoMarão,seupai era médico e sua mãe era proveniente dumafamília tradicional. Leonardo foi o segundo dosoito filhos do casal. A primeira fase da sua vidasituasenumperíodoagitadodecrescentereaçãoà Monarquia Constitucional, que muito se deveuà ascensão da burguesia e ao aparecimento dedoutrinaspolíticascomooSocialismo,oRepublicanismoeoAnarquismo.Nesteperíodo,alémdosconflitos políticos e ideológicos que conturbavamo país, viviase ainda uma grave crise económicae financeira.
LeonardofezocursolicealnoColégiodeNossaSenhora do Carmo, em Penafiel, com o seu irmãomais velho. Deste período, recordará a disciplinaexcessiva do internato. Não obstante, mostrouseum aluno muito competente, quer nas matérias
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científicas quer nas literárias. Terminado o liceucom 14anos, faltavam ainda, legalmente, trêsmeses para que Leonardo pudesse ingressar nauniversidade. Obteve a dispensa da lei por umaportaria que foi anexada à sua matrícula e conseguiu entrar para a Faculdade de Filosofia daUniversidade de Coimbra, em setembro de 1�9�.Cursou Físicas e Matemáticas. Mas o Leonardoadolescenteviudespertaremsiavontadedeumacerta desobediência, em contraste com o rigor desubmissão exigido no Colégio. Em quatro anosde estudo universitário, Leonardo fez apenas trêscadeiras:Física,MatemáticaeDesenho.EstaseramascadeirasnecessáriasparaentrarnaEscolaNaval,paraondeLeonardotinhadecididocandidatarse.Associadaaestaescolha,ousendomesmoumadasmotivaçõesdela,estáoentusiasmoqueLeonardomanifestou pela cultura física, praticando remo,esgrima e natação, e distinguindose no halterofilismo. Leonardo Coimbra tornouse um homemencorpado, embora não muito alto (174cm, estáescrito no seu B.I.), como nos mostram as fotografias. Era este o homem que, pela sua robustez,todo o país esperava ver recuperado do desastreautomóvel que sofreu, em 1936. Mas a morte ésempre inesperada; é sempre um acidente —pelomenos, para quem a vê de fora.
Em Coimbra frequenta ainda as cadeiras deEconomiaPolíticaedeDireitoEconómico,porexigênciacurricular.Ointeressepelapolíticaganhavaraízes. Segue, em 1903, para a Escola Naval e, umano depois, é promovido a aspirante da Marinha.São seus colegas Mendes Cabeçadas, seu amigoque virá a ser almirante, e António Sérgio, que
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se tornará seu opositor ideológico e político masque foi, por ali, seu instrutor de remo. Malgradooânimoquedespertou,avidadamarinharevelouse, em pouco tempo, uma deceção: a primeiraviagemnumnavioescolafoisingularmenteárduae Leonardo foi atormentado por um permanenteenjoo. Esta experiência sugeriuse incompatívelcom o temperamento vivaz de Leonardo. Pediu,porisso,ademissãoevoltouàUniversidade,agoraàAcademiaPolitécnicadoPorto,comointuitodeobter o Curso de Habilitação ao Magistério.
Apesar de mais focado, Leonardo mostraseainda pouco rigoroso com os estudos e atrasaa conclusão do curso por, pelo menos, um ano.Énesteperíodo,etalvezsirvadeexplicaçãoparaoatrasomencionado,quesecasacomMariaAméliaCoimbra,queconhecedesdeainfância.Étambémdestaépocaasuaadesãoaomovimentolibertáriodoanarquismoutópico.Tem,então,23anos,idadeque marca o início da sua atividade literária.
Osprimeirosartigosmanifestamclarapreocupaçãocomasquestõespolíticosociais.Percebese,de início, alguma hesitação entre o texto de carizmaisfilosóficoeodecarizmaisliterário—confusãoquepermanecerá,demodomuitofrutuoso,emtoda a sua obra. No entanto, deve dizerse que atrajetóriadeLeonardoCoimbraémaisclaramentefilosófica, embora Leonardo parecesse, de início,dirigirseparaacarreiraliterária,atravésdealgunstextos dentro do género da crónica romântica.
Durante o franquismo, em 1907, em conjuntocomJaimeCortesão,CláudioBastoeÁlvaroPinto,funda e dirige a revista Nova Silva, órgão políticode orientação libertária. O primeiro artigo de
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Leonardo Coimbra para esta revista («O homemlivre e o homem legal») defende a primazia daconsciência individual face à lei, expressandouma ideologia anarquista (não exatamente umadoutrina anarquista), que tem como base da suaaxiologia a liberdade. É também nesta fase queLeonardoiniciaasuaaçãopolítica,envolvendosena crise académica de 1907, que teve repercussãopara além do âmbito universitário.
Ainda em colaboração com Jaime Cortesão eÁlvaroPinto,surge,em190�,aSociedadeAmigosdoABC—cujonomealudeao«l’abaissé»deVítorHugo — que pretendia combater o analfabetismo.Nesse mesmo ano, constituise o grupo políticoliterário da Nova Seara. Ainda nesse ano nasce oprimeirofilhodeLeonardoCoimbra,cujapresençaserá absolutamente marcante para o filósofo epara o seu pensamento, por duas razões: porquea convivência com a criança orienta algumas dasgrandes questões do seu pensamento, motivandonomeadamente o seu interesse pela psicologia, eporque a infausta morte do menino, aos quatroanosdeidade,ointimaráarefletirsobreumtópicochave da sua obra: a morte.
Em 1909, Leonardo termina o Curso de Habilitação ao Magistério Secundário e vai viver paraLisboa,comsuaesposaeseufilho,parafrequentaro Curso Superior de Letras. Aí, obtém distinçãoa todas as disciplinas e consenso na avaliação dadissertação. Regressa, em 1910, ao Porto, onde foicolocadocomoprofessordeMatemáticadoLiceuCentral.Foi,depois,diretornoColégiodosÓrfãos,em Braga, em 1911; professor na Póvoa de Varzim(onde nasceu o seu segundo filho, o médico Leo
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nardo Augusto Coimbra), em 1914; professor emLisboa, no Liceu Gil Vicente, entre 1915 e 1919;professorediretordaFaculdadedeLetrasdaUniversidade do Porto, criada por Leonardo, quandofoi ministro da Instrução em 1919; e, em 1931,novamente professor liceal, no Liceu RodriguesdeFreitas,apósaextinçãodaFaculdadedeLetras.Afiguradoprofessorserá,desdeasuaestreia,umafigurapermanentedeLeonardoCoimbra.Seráprofessor,educadorepedagogo;naescola,napolítica,nas assembleias cívicas e culturais. O sentido demissãoqueinspirouLeonardoCoimbrarealizasetambém na ação desta figura de professor.
OmovimentodaRenascençaPortuguesaaparece em 1912, com sede no Porto. Dele participarãoJaimeCortesão,TeixeiradePascoaes,RaulProençae outros. Foi o núcleo cultural mais dinâmico doPaís, desse período. A partir dele se compõem edivulgam uma revista, A Águia, um jornal quinzenário,Vida Portuguesa,umaeditorahomónimaeumaUniversidadePopular.Aindaem1912,Leonardo concorre ao lugar de professor assistentedo Grupo de Filosofia da Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa.
A carreira política, iniciada no movimentoanarquista,começaformalmente,em1914,quandoLeonardo adere ao Partido Republicano Português. Será eleito deputado pelo partido em 1922.Leonardo Coimbra foi ministro da Instrução emdois mandatos de curta duração, em 1919 e em1922.Em1925,LeonardoabandonaoPartidoRepublicano Português e aproximase da EsquerdaDemocrática,semquetenhaconseguidosereleitodeputado.Apartirdaqui,oseuafastamentodavida
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políticafoigradualeprogressivo,começandoentãoapenetrarnoestudodateologiaeaproximandosedaortodoxiacatólica.Entretanto,tinhasedadoogolpemilitarde1926,quepossibilitouaconstitucionalização do Estado Novo, em 1933. Leonardoestavaformalmentedesassociadodavidapolítica,ainda que a sua opinião fosse considerada muitoinfluente. Por esta razão, quis o Estado Novoinsinuar o seu apoio. A resposta de Leonardo foisempreuminabalávelnão.ApublicaçãodeA Rús‑sia de Hoje e o Homem de Sempre (1935) provocoualgumaequivocadaaproximaçãoentreofilósofoeo Estado Novo, pelo facto de ambos partilharemumacríticaferozdocomunismo—masacríticadeLeonardoeramaisfilosóficoteológica,enquantoado Estado Novo era marcadamente programáticaao nível político. Leonardo Coimbra e OliveiraSalazartinhampersonalidadesopostasedispostasao conflito. Quando Salazar visitou, em abril de1934,oLiceuRodriguesdeFreitas,ondeLeonardoera professor, este renunciou aos cumprimentosoficiais.Aocomentar,depois,obreveencontroqueteve,nessedia,comSalazar,porvontadedeste,teráditodemodoincisivo:«Éburro!Dissemequeeudevia ser mais acessível.»1
Leonardotinhavistoosseusesforçospolíticosmalogrados — e, em política (senão em tudo)pode fazerse muito pouco sem colaboração.Oapelo da ortodoxia católica era mais promissor, mais gracioso também. A profissão pública
1 Cf. SANTOS, Alfredo Ribeiro dos, Perfil de Leonardo Coimbra, Lisboa,FundaçãoLusíada,19��,p.373.
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ao catolicismo acontecerá no Natal de 1935, a23de dezembro.
A30dedezembrodomesmoano,regressandodeumavisitaàsuaterranatal,oautomóvelemqueseguia despistase, na descida da Serra de Baltar.ÉtransportadoparaoHospitaldeSantoAntónio,noPorto,onde,incapazderesistiraosferimentos,virá a falecer no dia 2 de janeiro de 1936. Escrevem os jornais da época que o seu funeral teve amaior manifestação de pesar vista até então nacidade do Porto.
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A Obra
AObradeLeonardoCoimbraéconstituídaporescritosetranscritos(nocasodosdiscursosorais)de natureza e tópicos heterogéneos. Para alémdas obras em livro, existem artigos, registos deintervenções parlamentares, de comícios e manifestaçõespolíticas,deintervençõesemassembleiascívicaseculturais,registosdeentrevistasecartaspessoais. Os livros, 1�, são dos âmbitos filosóficoecientífico,comextensãoaoliterário.Nasbibliografiasmaisatualizadas,osartigossãoemnúmerode243.Estessão,normalmente,maisfocadosnasproblemáticasdaatualidade,davidasocial,cívicae política, com particular preocupação ética e deintervenção políticosocial. Há, contudo, tambémartigosdecríticaliteráriaeartística,bemcomodereflexão espiritual e religiosa. Os discursos proferidos,algunsdelesencontramsehojetranscritos,dãocontadasdiversasintervençõesdeLeonardo:sãosessõesparlamentares,académicas,conferências de homenagens oficiais e populares, elogios
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fúnebres e apresentações de divulgação cultural.Estesdiscursos,nasváriastipologiaseabrangendodiferentes temáticas, que foram transcritos nosjornais e nos periódicos, são, pelo menos, 163.Asentrevistas registadas são 27 e as cartas publicadas ou arquivadas são 25.
Os livros mais sistemáticos e destacados pelosinvestigadores da sua obra são O Criacionismo (1912), A Morte (1913), A Alegria, a Dor e a Graça(1916), A Luta pela Imortalidade (191�), A Razão Experimental (1923)eA Rússia de Hoje e o Homem de Sempre (1935).
A primeira obra foi escrita para que Leonardopudesseconcorreraolugardeprofessorassistentedo Grupo de Filosofia da Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa. A adversidade — mais sediria incompetência — da leitura feita pelos avaliadores levou Leonardo a desistir do concurso.O Criacionismo,marcadopelaideologiaanarquistade um modo singular e heterodoxo, é repassadopor uma liberdade transcendente, que se dirige auma religiosidade cósmica. A superação do materialismoedocientismo,areflexãodasexperiênciasestética e moral como únicas vias para o Amorinfinito de um socialismo cósmico, a realidadecomo pluralidade unificada são algumas das traves mestras d’O Criacionismo que percorrerão arestanteobradeLeonardo.Oentusiasmocomquefinda a escrita da obra é abalado não só pela máreceçãoacadémicamastambém,maisgravemente,pela morte do seu primeiro filho.
Leonardo,profundamenteafetado,escreve,emlembrançadomenino,A Morte,em1913.Ootimismolatenten’O Criacionismosairá,contudo,forta
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lecidoevigoroson’A Morte.Ootimismo,quevemmaisdodesejodesequereromundobomdoquedo facto de este o ser, progredirá mais forte e seguro.TambémA Alegria, a Dor e a GraçaeA Luta pela Imortalidade trazemluzsobreesseotimismo.Leonardoescrevenadedicatóriadesteúltimolivroquehavia«chegadoaconclusõesoptimistassobreomundocomosociedadesdeseresimperecíveis»equeamortedoseufilhofora«agrandeexperiência,o meu pensamento à prova crua e insofismável».Foi perante este repto que Leonardo escreveuuma«promessaderessurreição»,comolhechama.Paralelamente, estes livros desenham o caminhopara uma adesão, que será no final da sua vida,plena ao catolicismo. A Razão Experimental é oaperfeiçoamentodasuaprimeiraobra,logo,doseusistemafilosóficomaisordenado,quedápelonomede criacionismo. A partir d’A Razão Experimental aparecem já, no trabalho de Leonardo Coimbra,a clareza e profundidade da metafísica cristã e dadoutrina católica de um modo bastante afirmado.Oseuúltimolivro, A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre é um livro admirável sobre o que de maissobrevive no homem, sobre o que lhe é eterno einabalável, constituindo uma síntese harmoniosaentre o criacionismo e o humanismo cristão.
Se se pode encontrar no seu último livro, A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre, uma síntese coesa entre o criacionismo e o cristianismoé porque as motivações de Leonardo Coimbraforamsempre,noiníciocomonofim,asmesmas.Ostemaseproblemasqueofilósofoquisverresolvidos são recorrentes e notam o quão sistémicafoi a sua reflexão. Lembremos que o subtítulo
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da sua primeira obra é «esboço de um sistemafilosófico». O tema da Morte e da Imortalidade éum dos tópicos recorrentes, como o são tambémo do sofrimento (a Dor) e o otimismo (a Alegria);odaGraçaeodoExemplodeCristo;odarelaçãoEspíritoMatéria,contestandoomaterialismoseco,sem alma; e o da relação AçãoPalavra.
A variedade de temas e a abrangência de disciplinas abordadas na obra de Leonardo Coimbrafaria pensar em alguma dispersão, incoerência eeventual vulgaridade daquele que segue ao sabordovento.Porém,àmedidaqueoleitor(esforçado)seadentrarnaobra,descobriránelaofiocondutorque une todos os textos, de início aparentementedispersos.
Dissemos na introdução deste Essencial queexistem várias figuras em Leonardo e dissemostambém que elas se cruzam e confundem porquetodascorremparaomesmofim.Tentaremosresumir o essencial de cada uma delas, cabendo aoleitornotarondeelassecruzam,procurandoassiminiciarse na procura do fio condutor da sua obraedasuavida—porque,emLeonardoCoimbra,asduasestãoclaramentecomprometidas.Opolítico,ofilósofoeooradorqueencontramosemLeonardoconcorrem para uma visão coerente e dinâmicada realidade, concebida como uma extraordináriaexperiência de elevação à plena revelação e realização do Amor, que é Deus.
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O Político/O Reformador Social
Leonardodiz,numaentrevistade1923,jábastante entrado na vida política, tendo sido já porduasvezesnomeadoministrodaInstruçãoPública:«Venho fazer política de conciliação. Congregartodos os portugueses que valham alguma coisa,dentro da República.»2 Na política de LeonardoCoimbra misturamse moral e pedagogia. Oseuesforço político ia no sentido de contestar adesonestidade administrativa que minava o País,como ia também no sentido de ensinar o amore o respeito ao lugar de cada um. Numa outraentrevista, diz Leonardo que «a minha política éa pedagogia», e completa: «Percebam que só porincidente [...] me meto na política: não me pisemque não lhes farei sombra política.» A militânciapolítica de Leonardo é o contrário do que hoje
2 COIMBRA,Leonardo,Obras Completas,vol.vi,«[EntrevistaaojornalNovidades(Porqueregressaàpolítica?)]»,Lisboa,INCM,p.105.
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é mais costume ser: total recusa do poder e daautoridadeper si.Alémdomais,apolíticadeLeonardo Coimbra é uma política de reconciliação etolerância. O esforço político de Leonardo vai, naverdade, de encontro a uma exigência de ordemmoral: a de uma organização social ascendendoa um plano ético superior. Por esta razão, aliás, ofilósofo desacreditaria as insignificâncias ociosasda vida política partidária. Tanto assim que, paraalém de se ter aproximado e desaproximado deváriastendênciaspolíticassemnuncaencontraroseulugar,ironizoutambémacercadecertoludismoda organização política, dizendo que esquerda edireita sãocoordenadasdoespaçoenãorealidadespolíticosociais3.
Desde o início das suas manifestações políticas, Leonardo procurou assinalar que o Republicanismo deveria surgir não apenas comoumareformainstitucional,masdeveriatambémsurgircomoumareformasocial,queprocurassea aculturação cívica do povo. A cumprir estedesígnioteremosomestreeoorador.Aquestãoda educação teve um destaque primordial nosdebateseintervençõespúblicasrepublicanasqueaconteceramnasúltimasdécadasdaMonarquia.Consideravaseentãoqueaeducaçãoeraomeiodeprogressosocialecivilizacionalmaisfecundo.Os altos níveis de analfabetismo limitavam umaconsciência cívica, de uma fraternidade ordenáveleplanificável.Avalorizaçãodapedagogia,da
3 Idem,ibidem,«[EntrevistasobreoEnsinoReligioso]»,Lisboa,INCM,pp.7576.
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sociologia e da psicologia, notada nesse períododo final do séculoxix, explicase pela crença namudança que a educação inspirava. O empenhoem fazer chegar ao povo lições de uma históriae de uma memória comuns foi um dos marcosda ideologia republicana. Este esforço serámarcadamente também de Leonardo Coimbra.Na verdade, o comprometimento educativo epedagógico do filósofo andou a par do seu comprometimento político. Vejase como o impulsopara a criação de escolas populares, como a dosAmigos do ABC, decorre a par de um crescenteinteresse pelas questões políticas, mesmo quea ideologia de Leonardo fosse, de início, maispróxima do anarquismo. Na verdade, nunca deixou de o ser, se não tomarmos o anarquismo deLeonardo como o anarquismo ortodoxo do finaldoséculoxix.OanarquismodeLeonardonãosedetinhanavulgaridade,noegoísmoenosolipsismo do Eu— o anarquismo de Leonardo não eraa apologia da desordem mas o seu contrário: aapologia da Justiça, tendo como base axiológicaaLiberdade.Nestesentido,aposturapolíticadeLeonardo foi sempre fiel ao anarquismo que, deinício, por ele chamava. Os programas políticosvaliam, afinal, apenas como uma ajuda para oesforço de verdadeira ascensão à Unidade, parao qual a vida religiosa realmente apelava. A vidareligiosa foi, para Leonardo Coimbra, a vida demaior valor, e a política cumpriria o seu papelna medida em que auxiliasse numa melhorcompreensão,numamelhordisposiçãoindividuale social para essa elevação. A educação, naturalmente, cumpre aí um papel decisivo.
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Foi,então,naorientaçãoeducativaepedagógicaque a intervenção política de Leonardo teve maisrepresentação, tendo sido ministro da InstruçãoPública por duas vezes, uma em 1919 e outra em1922. O problema que determinou o insucessopolíticodeLeonardofoijustamenteofactodeterfeitoconviverdeperto,noseupensamento,avidareligiosaeaeducação.Tendopensadonaeducaçãocomoumaorientaçãoerotaparaumaéticasuperior que iria ter à religião, defendeu a liberdadede pensamento, querendo isto significar que nema educação poderia estar rigidamente submetidaa uma ortodoxia estática e castradora, nem elateria necessariamente de estar desassociada deuma ortodoxia determinada, se esta respirasseo espírito democrático que permitia a sua livredifusão. No que ao primeiro caso diz respeito, oministro criou polémica com a transferência daFaculdade de Letras de Coimbra para o Porto; noqueaosegundocasorespeita,crioupolémicacomadeliberaçãodaliberdadedeensinoreligiosonasescolas privadas.
A resolução sobre a transferência da Faculdade de Letras de Coimbra para o Porto — maiscorreto será pensar na extinção da Faculdade emCoimbra e da sua criação no Porto — tinha emvista libertar o ensino das humanidades de umacerta intemperança, conservada ainda por certasfações da Igreja Católica. O ministro consideravaque o contexto histórico e uma influência de uma monarquia‑clerical centradaemCoimbradeturpavam,chegandomesmoapôremrisco,osprincípiosrepublicanos.Claroqueumapartedaelitecatólicase sentiu insultada, mas, apesar de polémica, a
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deliberaçãofoiaprovada.AFaculdadedeLetrasdaUniversidade do Porto estaria em funcionamentoentre o ano letivo de 19191920 e 29 de julho de1931, tendo a Faculdade sido suprimida por umdecreto de abril de 192�. O ensino das Humanidades na cidade do Porto viria a ser recuperadoapenas em 1961.
Entretanto, na primeira faculdade terseiamformado167alunos.Mas,paraagravarapolémica,estes alunos tiveram como professores pessoasselecionadas por Leonardo Coimbra. Leonardoreuniu um grupo de professores, resultado deum recrutamento entre o grupo de sócios da Renascença Portuguesa, entre professores do LiceuGil Vicente e entre estagiários da Escola NormalSuperior.Ofactodealgunsprofessoresnãotereminstruçãoformaledetodoocorpodocentenãoterprestadoprovasdeconcursofezadeliberaçãosoara fraude e levou à indignação do meio académiconacional. Na verdade, não se tratava de fraude,tratavase antes de libertar um ensino de certasdoutrinas estagnadas e de o fazer conviver comdisposições mais em consonância com o espíritodemocrático.DogrupodedocentesdessaprimeiraFaculdade de Letras destacamse: Teixeira Rego,Aarão de Lacerda, Newton de Macedo, a par dopróprioLeonardo.DessaFaculdadesairiamdiscípulos como Álvaro Ribeiro, José Marinho, DelfimSantos e Agostinho da Silva.
A segunda polémica perpetrada por Leonardoenquanto ministro, a da decisão que homologavaa liberdade de ensino nas escolas privadas — quenãofoiaprovada—,obedeciaaomesmoprincípiopeloqualseregiaadecisãodacriaçãodaFaculdade
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deLetrasdaUniversidadedoPorto:afidelidadeaoespírito democrático. O ensino religioso era, paraLeonardo,perfeitamentelegítimoeemnadaafetavaoespíritodemocrático,pelocontrário,atéoprotegia, desde que fosse verdadeiro e não traiçoeiro(comoLeonardoCoimbraconsideravatersidoemCoimbra). Nesta polémica, o ministro não teve jáde enfrentar a elite católica, mas os seus partidáriosrepublicanosqueconsideravamincompatíveisa religião e a ciência. Uma fação substancial dosrepublicanosvirasempreareligião,emparticulara religião católica, como um inimigo declarado.Leonardo, no entanto, procurava desfazer estefantasma e o falso equívoco da incompatibilidadeentre a religião e a ciência. A liberdade do ensinoreligioso dava prova da fidelidade ao verdadeiroespírito democrático. A não aprovação da medidalevouaopedidodedemissãodocargodeministro.Desistir da liberdade de ensino era, escrevia Leonardo, «mentir à minha consciência de filósofo eao meu carácter de homem verdadeiro e leal»4.
Esta cisão entre Leonardo e alguns republicanos, bem como aqueloutra entre Leonardo e umafação estagnada da ortodoxia, dão bem conta doidealismo do filósofo a lutar contra o fundamentalismo oco. Afinal, o livrepensamento de algunsrepublicanosnãopassava,comoonotouLeonardoCoimbra,deumdogmatismoateístaematerialista,quenãosepoderiarevelaroutracoisasenãovazio.Omaterialismonãopoderiasobreporseaohomem
4 Idem,Obras Completas,vol.v,t.i,«[Cartaderenúnciaaomandatodedeputado]»,p.214.
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de carne e osso. Essa seria a postura de um puroformalismo democrático, sem alma; seria a gnosiologia mecanicista a mortificar a antropologialeonardina — a ciência não era, para Leonardo, aobjetividade esterilizada, mas sim uma disciplinacommotivaçõesmoraiseespirituais.EmLeonardo,agnosiologiaestámuitopróximadarelaçãoamorosa,porque,paraofilósofo,conhecerimplicaamar.A divergência entre Leonardo e alguns dos seusopositores assinala a diferença entre uma razãoimóveleumarazãoexperimental,conceitosíntesede Leonardo que abrange o seu pensamento emdiversas áreas.
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O Mestre/O Filósofo
É possível que seja um requisito do Mestrecriar discípulos, e é também possível que seja umrequisitodoverdadeiroMestrenãoosquerer.Peloque temos já dito sobre a liberdade de ensino,compreenderseá com facilidade que LeonardoCoimbra não era o tipo de Mestre que procuravacriardiscípulosdaquelesaquemsedefinhaaautonomiadopensamentoatéquesetornemcópiasdoseu professor. Leonardo Coimbra era o contráriodesse Mestre; era o Mestre que incitava tão marcadamente à liberdade, que chegava ao ponto deter como objetivo que os seus discípulos fossemcapazes de o desacreditar. Escreveu um alunoseu,recordandoo:«LeonardoCoimbra[...]fezmedescobrir,graçasàsuaeloquênciadelágrimasnosolhos, a sociedade dramática da existência. Masteve acima de tudo esta extraordinária virtudepedagógica: a de me ensinar o contrário do quepretendia [...] Quer dizer: ensinoume a ser livre.E é, no fim de contas, este gosto a liberdade, em
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mim sempre ligado à ideia do Liceu Gil Vicente,que mo torna tão grato e tão querido.»5
Referimos, acima, alguns dos discípulos deLeonardo, emergidos da Faculdade de Letras, aosquaisagoraacrescentamosalgunsoutros,formadosno âmbito da Renascença Portuguesa: AntónioQuadros,AntónioTelmo,OrlandoVitorino,AfonsoBotelho e António Braz Teixeira. Estes, os maisconhecidos, porque muitos foram os que ficarammarcados pela sua presença. A começar, desdelogo, por aqueles que fizeram parte dos Amigosdo ABC, o projeto educacional dirigido às classestrabalhadoras,comsedenaRuadaFábrica(Porto),quesededicavaaalfabetizaroperários.Ofocoera,formalmente, a alfabetização, mas, idealmente,atingiatambémadifusãodosvaloresanarquistas.IstoporqueLeonardosepropôs,desdeoiníciodasuafunçãodeprofessor,mestreepedagogo,aconciliar o ensino dos aspetos formais com o ensinodos aspetos ideológicos. Desde os textos escritospara A Águia, Leonardo mostrou a sua vontadede contribuir para um Estado Republicano capazde reformular e moralizar as suas instituições.Ostextossobreareformadoensinoedaeducaçãoincidiam,desdeoinício,comparticularênfase,naeducação ética. Leonardo Coimbra defendia queeraprecisoensinaraluzdoespíritoenãosomente
5 FERREIRA,JoséGomes,depoimentoqueconstadoBoletim dos Antigos Alunos do Liceu Gil Vicente.Cf.AA.VV.,Leonardo Coimbra, Testemunhos dos Seus Contemporâneos, coordenação de Sant’Anna Dionísio, Porto, Livraria Tavares Martins,1950.
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as letras do alfabeto. Só à custa da luz do espíritopoderia um discípulo contrariar o mestre; apenascom as letras, o pensamento definharia no formalismo oco — mas claro, sabiao bem Leonardo,as letras nunca vêm sós. Formalismo e idealismoajudamse um ao outro — isto era essencial queo seu auditório percebesse. Leonardo incitavaao desenvolvimento de consciências instruídas elivres:«Livresefortes,sejamossimples,verídicose indagadores.»6
Foi tendo isto em mente, que aceitou o cargodediretordoColégiodosÓrfãosdeBraga,logoem1911,masdoqualsedemitiuporseincompatibilizarcomapolíticaeducativadainstituição,quelhelimitavaaaçãoeoimpediademodificarosineficientesmétodospedagógicos.Encontrouaíomesmovícioefundamentalismoimoderadoqueviriaacontestar,anosmaistarde,naFaculdadedeLetrasdaUniversidade de Coimbra. Leonardo Coimbra defendeuumaeducaçãointegral,formadoradeconsciênciasresponsáveis, atentas e livres, onde o cristianismoteve sempre um lugar especial.
No início como no fim, Leonardo Coimbramantevese fiel aos valores que considerava fundamentais.Todavia,énecessárioteremcontaqueestesvaloresforamensinadosnasaladeaulamastambém nos textos escritos e nos discursos orais.A obra do pensador dános um sistema filosóficounitário e amplo (sem ser totalizador), integral econsequente, que procurou oferecer resposta às
6 COIMBRA,Leonardo,Obras Completas,vol.i,t.ii,«OCriacionismo»,Lisboa,INCM,p.37�.
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ansiedades que preocupavam Leonardo Coimbra— que eram tanto de ordem epistemológicae gnoseológica como de ordem antropológica, oude ordem moral e religiosa. A filosofia leonardinacorresponde à necessidade de unir integralmenteaspartes,tendencialmentedispersas,comosejamarazãoeaexperiência,oabsolutoearealidade,aforma e a matéria.
Ocupa,noseutrabalho,lugarcentralaLiberdade,nomeadamentenadefiniçãodarotaparaaJustiça,sintomadaUnidadedeAmorquecobreoUniverso.AfilosofiadeLeonardoCoimbraassumiuse,desdeoinício,antesemesboçoedepoisdeformamaismetódicaapartird’O Criacionismo,comoumafilosofia da liberdade, procurando uma atividadecósmica progressiva e criadora. OCriacionismo éuma filosofia do conhecimento, mas também ummétodo de libertação, porque se apresenta comoprocura de uma metafísica moral e religiosa, comênfasenaaçãohumana—naaçãohumanadohomem de carne e osso. Mesmo a moral, por vezestendente ao idealismo, é, em Leonardo Coimbra,nãoobstanteamanifestainfluênciakantiana,ter‑rena. «Com Leonardo, todas as categorias moraiskantianas descem do céu estrelado à terra, tendoemcontaohomemdecarneeosso,ohomemquevive,quesente,queamaequesofre,naconcretudeda vida, mas que tem esperança e fé, não só narazão, como na sua abertura ao absoluto.»7 A an
7 COSTA, António Martins da, O Pensamento Filosófico Portu‑guês Contemporâneo. A Receção de Kant em Leonardo Coimbra,Porto,UCE,2012,p.1�.
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tropologiadeLeonardoCoimbraconcebeohomemcomoumprincípioativo;nãocomomatériainertedeummundofeito,mascomocriadorativodeummundo que se vai (re)fazendo. Toda a conciliaçãoentreteoriaepráticaqueressoanoseupensamento e na sua obra está submetida a este princípio.Acadahomemcabealealatençãoquelhepermitedar resposta ao seu singular lugar na existência.Na antropologia de Leonardo Coimbra, atençãoe ação, pensar e ser não estão dissociados, não hádualidade de oposição entre ambos — na mesmapessoa, ser e pensar convergem para o mesmolugar: o lugar de cada um. Mas esse lugar de cadaum tem, para Leonardo, um comprometimentodireto com a ordem do Verbo.
O personalismo cristão do seu pensamento,detetável pelo menos desde 1912, torna claro queas diretrizes da sua antropologia são a dignidadee a liberdade humanas. Para Leonardo Coimbra,o homem não é apenas um indivíduo, enformadopor uma moral utilitarista e pelo egoísmo, mas éentendidocomopessoa—noçãosuperiorque,enquantosíntese,remetesempreparaoutraspessoas:cadapessoaéumadependênciadeoutraspessoas.Apessoaéumamanifestaçãodocondicionamentoe da reciprocidade, implicados no movimento darelação.Adignidadeealiberdadehumanasremetem justamente para a convivência implicada nanatureza da pessoa: a solidariedade da sociedadecósmica atribui à pessoa um lugar insubstituível,invioláveleautónomo.Napessoaressoaotododoser plural, sem que, contudo, se perca a unidade.Há, pois, um sentido cósmico na antropologialeonardina. Não obstante a pluralidade de onde
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emergeapessoa,nela,osdualismoseascontradiçõesesvanecem,tantomaisnomomentosuperiorda Graça, que traz à pessoa a presença universal,segura já, no colo de Deus.
Quando falamos da liberdade leonardina nãofalamos, pois, meramente de um direito cívico,mas de uma condição ontológica para a aventurahumana, cuja qualidade primeira — a humanidade— aponta para Deus, a unidade no amor.Desde O Criacionismo, a relação do filósofo comDeus é uma relação de confiança, embora nãotenha sido sempre um ato de fé. Mas a virtudede uma vida moral é sempre central a todos osdiscursos de Leonardo. O sistema criacionistasurgia como contraveneno do positivismo ocoqueobumbravaaAcademiaetraziaumarespostaequilibradaparaacooperaçãodomaterialismoedoespiritualismo.ArelaçãoCiênciaMetafísicaéumarelaçãonucleardaobradofilósofo.Ocriacionismoafirmavase como uma atividade do espírito quepretendia sínteses cada vez mais convergentes,contrariandoosolipsismoestérildecertainvestigação científica (o cousismo), aproximandose deuma unidade integrativa da pluralidade. O pensamentodialéticodocriacionismonãoémeramentelógico: implica o esforço de encontrar acordo nasrelações da experiência. Agnoseologia leonardinaimplica a interação entre razão, intuição e realidade. É dessa interação que resulta uma razãocriacionista,depoisrenomeada,razão experimental.Não uma razão imóvel e cousista, mas uma razãodinâmica,criacionistaeexperimental.Esteesforçode acordo entre a razão e a experiência percorretodaaobradofilósofo,namedidaemquesealas
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tra à insistência do acordo (e não da dissonância)entreaaçãoeopensamento,amatériaeaideia,ocorpo e o espírito, a palavra e o significado. Destaforma,asatividadespropostaspelocriacionismo e,depois, pela razão experimental notam uma fortedimensão hermenêutica e semiológica, porquelevantam também o problema da análise de conceitos e de símbolos.
Considerandoqueamatérianãosedissociadoespírito, e o mundo (a conceção dele) não existesem pensamento (a matéria é uma determinaçãoda dialética do pensamento), tornase possível,porextensão,conceberumaalmaparaomundo:amatériadeixadetersentidosemumdirecionismo, sem um finalismo, afinal. Leonardo terá certeza,inicialmente, que a qualidade (o valor) se sobrepõe à quantidade (o facto), mas tornarseá, maistarde, explícito e revelado que o finalismo superao determinismo.
A originalidade do pensamento de Leonardo Coimbra convive de modo dinâmico com opensamento de pensadores como Kant, Bergson,Renouvier,Hamelin,Boutroux,entreoutros.Aliás,auniversalidadeeanovidadedopensamentodofilósofoportuguêsficam,porventura,maisclarasemcomparaçãocomoutrossistemasfilosóficos:«ParaalémdeHamelin,Leonardoafirmaaactividadedoespíritocomomeramentefuncionalesintética,nasuapalavra,criacionista.ParaalémdeBrunschvicg,admiteumDeuspessoal,princípioefimdetodoomovimento do Universo. Contra Bergson, reivindicaovalordainteligênciacomofaculdadedoser,mas, com ele, caminha para Deus através da actividade moral, que é vida de aspiração e desejo da
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Justiça,daBondadeedaBelezaabsolutas,atravésdo sentido do Mistério, da participação no Todo,no fim de contas, através de uma velada intuiçãode um querer heróico.»� A originalidade do seupensamentodevese,naopiniãodeumdosinvestigadores da obra leonardina, à junção que o seusistemaestabeleceentreoidealismofuncionalista,dialéticoesintéticoeointuicionismometafísicodecariz moral, que sustenta a hipótese plausível daexistênciadeDeus(Deus‑CriadoreDeus‑Infinito‑‑Amor).OideorealismodeLeonardoCoimbrauneem si natureza e história, natural e sobrenatural,razão e Revelação, teologia e Fé9.
Como podemos compreender, a defesa daliberdade, de consciências livres, o integralismodosmeiosformaisdoconhecimentocomosapelosdo sentir que o dirigem — e o sentir é, não meraemoção,masprofundaatençãodasrelações—sãoencontrados na filosofia de Leonardo Coimbra eorientam as suas motivações pedagógicas. A coerência que a pessoa de Leonardo Coimbra sugerefará jáo leitor imaginarquetambémnafiguradoorador encontramos estes pressupostos. É certo,mas talvez a particularidade do orador seja aprogressiva proximidade que faz notar entre opensamento e a vida de Leonardo e a ideia definalismo.
� ALVES, Ângelo, O Sistema Filosófico de Leonardo Coimbra. Idealismo Criacionista, Porto, Livraria Tavares Martins, 1962,p.240.
9 Idem,Leonardo Coimbra 1983‑1936,Porto,EstratégiasCriativasEditora,2007,p.37.
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O Orador/O Homem Espiritual
LeonardoCoimbranãofoiumsimpleserudito,umdaqueleshomens,comoàsvezessefazem,quesão enciclopédias incapazes de ligar as entradasque as compõem. O conhecimento que Leonardocolecionou apareceu sempre relacionado com e atentardarrespostaàssuasansiedadesexistenciais.Afilosofia,aciência,ateologiaealiteratura—parareferirapenasosgrandesramosdosaber—foramáreas profundamente exploradas pelo filósofo,mas com um impulso que se mostrava repassadopelaemoçãoepelaexperiênciapessoal.Oesforçode Leonardo brotava tanto da sua mente quantodo seu coração. Foi, aliás, a ânsia do integralismoque confirmou a atração de Leonardo pela filosofia — Leonardo manifestou, de início, algumaindecisãoentreacarreiraliteráriaeafilosófica—,entendendoestacomoadisciplinadoacordo,porexcelência.ConsiderouafilosofiacomoomaisaltotestemunhodoUniversoedoseuvalor,poiseraadisciplinamaisamplamentehumana,peloesforçode guardar de modo integral todas as realidades
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cósmicas.Porém,aproximidadecomoutrasáreasdosaber,nomeadamentecomaliteratura,marcoumanifestamente o seu discurso e pensamento.Orientado pela sedução da literatura, o seu discursoéestilisticamentemuitoexpressivoemuitovivo e rico ao nível da eloquência; a sua retóricaéoragraveecontundente,oraleve,graciosaeserena. O talento retórico de Leonardo Coimbra foie é ainda hoje muito reconhecido. Mas, hoje, elelêsenostextos;notempodeLeonardo,aconteciaà frente do auditório.
Alguns escreveram que Leonardo era melhororadordoqueescritor;e,ajulgarpelosperiódicosda época, não havia, então, génio mais completo.Também havia os que o denunciavam como sofista; e continuaram (porventura continuam) aexistir,depoisdasuamorte.TalvezatépossamosconsiderarLeonardosofista,massóseaceitarmoscomosofistaaquelecujodelitomaiorénãolibertar os seus opositores com facilidade e ligeireza.Tornase, aliás, demasiado irónica esta acusação,quando é dirigida àquele que não só desprezouo verbalismo como procurou ensinar os outrosa detetálo. Estaria o louco a incriminarse a elemesmo?
Leonardo tinha plena noção das suas qualidades oratórias; mas, acima de tudo, tinha umaconfiança assombrosa na sua honestidade. Isto oleva a anunciar, na apresentação d’A Filosofia da Liberdade (1912):«EutragooevangelhodaLiberdade. Pequeno, simples e humilde, mas esforçadoesincero.Liberdadeamorosaecriadora,pormimem mim procurada, não liberdade recebida por
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graçadeDeusoumercêdoshomens.»10Asegundapartedaafirmação,adoesforçoprópriosemgraçade Deus, será depois por ele próprio retificada;mas a primeira manterseia sempre. Só que, alterando a segunda, também a primeira parte sealtera: a liberdade além de amorosa e criadoratornavase, entretanto, uma liberdade humilde efinalista. Afinal, o esforço podia ser do próprio,mas o único sítio onde podia ir ter era orientadopela Graça de Deus.
Leonardo Coimbra foi um inquiridor persistente, elevandose a uma síntese cada vez maiscoerenteeintegradora,nãoobstanteaabrangênciade tópicos do seu sistema filosófico, ao mesmotempo que aprofundava de um modo resolúvela condição humana e a realidade universal. Umsistema cada vez mais rigoroso e inderrubável,que superava os ataques, tornandose cada vezmais íntegro, era a prova do que havia de maishumano em Leonardo Coimbra. O que é própriodo espírito humano é tirar conclusões, e quemas tira de modo imediato (afinal inconclusivo),pronto a substituílas por outras é apenas umímpio, caindo à força da corrente, desistindo da(re)conquista da verticalidade. Pelo contrário, osistemadeLeonardoCoimbraéaprovadesseesforçodeverticalidade—énessesentidoqueé,nofim,umsistemaíntegroeenglobante,assombrosamentehonesto,comopoucoshumanosconseguemser. A verticalidade do filósofo devese talvez à
10 COIMBRA, Leonardo, Obras Completas, vol.i, t.i, «A filosofiadaliberdade»,p.292.
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mais pura das coisas: a crença no real. Os falsospensadores negamno e reformamno; Leonardo,como vimos, sempre procurou recuperálo. Paraofilósofo,aconvivênciadosseresedascoisasnoUniversonãoéumameraanedota,mastemopesoda relação — neste sentido foi sempre Leonardoumhomemreligioso.Sóqueaquiloque,deinício,aparentava ser uma espécie de panteísmo foi terao personalismo cristão.
Não haverá, neste Essencial, espaço paraanalisar os discursos, muitos deles publicados,do orador Leonardo Coimbra. Todavia é precisodeixar uma imagem do impacto que o pensadorprovocou. Sobretudo os discursos da fase finalsugeremumhomemadmiravelmenteesclarecido,revelado, que suspende o auditório pelo reptode claridade que faz vislumbrar. O criacionismoe a razão experimental são nomes do percursoque Leonardo Coimbra faz até à humildade daortodoxiadocatolicismo,àhumildadedeacatar,sem reticências, à Verdade — porque a Verdadenão é uma coisa criada pela vaidade de um intelecto singular, mas a luminosa e simples adesãoaoreal.Aadesãodofilósofoàortodoxiacatólicaconfirmava suspeitas que se faziam sentir ( jáantes mas), pelo menos, desde 1922. LeonardoCoimbraé,comoG.K.Chestertonescreviasobresi,ohomemque,comamaiorousadia,descobriuaquiloquejáforadescobertomuitoantes.ÂngeloAlvesdefendequeLeonardoCoimbranãoperdeoriginalidade na adoção da doutrina católica— particularmente na adoção do ideorealismoaristotélicotomista —, mas apenas talvez umacerta propriedade filosófica. Isso, porém, para
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ganhar a solidez da uma tradição mais perene— milenarmente perene 11.
AmortedeLeonardoCoimbraestáenvoltaempolémica—primeiro,porqueafiguradeLeonardoestevesempremaisoumenosenvoltaemalguma,segundo, por causa da sua recente adesão à ortodoxia católica — mas o seu percurso aponta paraa serenidade da certeza. Por isso, uns anos antes,se havia Leonardo arrependido dos insultos aosseus opositores, dos amargos conflitos geradospela ansiedade e angústia perplexantes. O medogerafrustraçãoetirania;acertezageraserenidadeeperdão.Libertodasdúvidas,LeonardoabriaseàAlegriadacerteza.Mais:àGraçadacerteza;porqueaGraçaéoretornoserenoàAlegriainicial.Entrea Alegria e a Graça situase a Dor, esse momentoque assinala a consciência do mal, a consciênciada desarmonia dos seres — porque o mal só podeser a separação. Como ensinou o filósofo, vencera Dor é refazer a harmonia; a vitória é obra doamor:relaçãorecuperada,maisíntegraeinabaláveldo que alguma vez foi. A Dor existe para revelarDeus,porqueexigeumaatençãoprofundaàsrelações partidas do mundo — é ela o grande sinal deuma desarmonia saudosa de unidade. A verticalidadedopensador,sustentadapelasuahonestidadee pela sua humildade, fêlo ir ter ao caminho unoeúnicodoamor:hámuitasformasdevergar,massó uma (a cada um a sua) de permanecer em pé.A conversão de Leonardo Coimbra é o momento
11 ALVES, Ângelo, Leonardo Coimbra 1983‑1936, Porto, EstratégiasCriativasEditora,2007,pp.373�.
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máximo da afirmação daquilo que já vinha muitosugerido n’A Alegria, a Dor e a Graça: que o malé o mau uso da liberdade — o mal pertence aoplano ético e da ação, não ao plano ontológico, aoqual pertence somente o bem. Foi no socorro daGraçaenainfinitapiedadedeJesusqueLeonardoCoimbra encontrou a resposta que solucionavamaisquestões.E,porventura,teráchegadoaofima pensar que tinha apenas feito o caminho quemuitos outros, antes dele, tinham já feito. Foi aíque encontrou o Homem de sempre, a mais elevadaexpressãodohumanismocristão. Umacidenteabruptotiralhe,então,avida.OuteriasidoDeusa abrir a porta à qual Leonardo tinha batido.
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Conclusão
Leonardo Coimbra escreveu que «nenhumpovo tem o direito de abandonar os seus homensde mais alto espírito à simples admiração passivados que nas memórias somente trazem a lista deseusnomes»12.Nãovaledenadasaberonome,senão se conhece o homem e a sua ação. É precisodisponibilizar alguma atenção àqueles que tantodisponibilizaram por nós. É possível que o nomede Leonardo Coimbra pereça; de certa forma, édesejávelquepereça,porque,opróprioLeonardoconcordaria,nãoéohomemquedevepermanecer,mas a luz que este recuperou para seus irmãos.LeonardoCoimbramorreuemplenoêxtasedasuaação,asualuzconfundiusecomamaioreeternaluz. É a essa que devemos ir ter — tanto melhor,se com a ajuda da luz dele: o seu esforço não terásido em vão.
12 COIMBRA,Leonardo,Obras Completas, vol.iv,«OpensamentofilosóficodeAnterodeQuental»,p.333.
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Pelo que temos dito, neste Essencial sobreLeonardo Coimbra, tornase manifesto que estefoi uma figura maior do nosso país e da nossanacionalidade, marcante no período capital daformação da jovem República, embora, em parte,abandonadoporela.Talvezporissosejaessencialconhecêlo: a História está mais próxima do que,porvezes,possaparecer,eajovemRepúblicatalvezainda não tenha dado provas de ser uma senhoramadura e hábil — porventura deve ainda escutaros seus pais. A República é uma menina que setornará senhora, e, como escreveu Leonardo, assenhorastêmdesertratadascom«umfinotacto,uma comovida e enleada delicadez [sic] e muitoenternecimento»13. Foi esse trato que LeonardoCoimbra procurou ensinar. E não será, agora, estranhoverosfilhosdaRepúblicavirarascostasàsuamátria,numapátrianossaquetemasaudadecomo o ímpeto de levar no peito o amor do lar?
13 Idem,Obras Completas,vol.iii,«Aalegria,adoreagraça»,p.61.
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O Essencial sobre
1 Irene Lisboa Paula Morão
2 Antero de Quental Ana Maria A. Martins
3 A Formação da Nacionalidade
José Mattoso
4 A Condição Feminina Maria Antónia Palla
5 A Cultura Medieval Portuguesa (Séculos XI a XIV) José Mattoso
6 Os Elementos Fundamentais da Cultura
Jorge Dias
7 Josefa d’Óbidos Vítor Serrão
� Mário de Sá Carneiro Clara Rocha
9 Fernando Pessoa Maria José de Lancastre
10 Gil Vicente Stephen Reckert
11 O Corso e a Pirataria Ana Maria P. Ferreira
12 Os «Bebés-Proveta» Clara Pinto Correia
13 Carolina Michaëlis de Vasconcelos Maria Assunção Pinto Correia
14 O Cancro José Conde
15 A Constituição Portuguesa Jorge Miranda
16 O Coração Fernando de Pádua (2.ªedição)
17 Cesário Verde Joel Serrão
1� Alceu e Safo Albano Martins
19 O Romanceiro Tradicional J. David PintoCorreia
20 O Tratado de Windsor Luís Adão da Fonseca
21 Os Doze de Inglaterra A. de Magalhães Basto
22 Vitorino Nemésio DavidMourão Ferreira
23 O Litoral Português Ilídio Alves de Araújo
24 Os Provérbios Medievais Portugueses
José Mattoso
25 A Arquitectura Barroca em Portugal Paulo Varela Gomes
26 Eugénio de Andrade Luís Miguel Nava
27 Nuno Gonçalves Dagoberto Markl
2� Metafísica António Marques
29 Cristóvão Colombo e os Portugueses
Avelino Teixeira da Mota
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30 Jorge de Sena Jorge Fazenda Lourenço
31 Bartolomeu Dias Luís Adão da Fonseca
32 Jaime Cortesão José Manuel Garcia
33 José Saramago Maria Alzira Seixo
34 André Falcão de Resende Américo da Costa Ramalho
35 Drogas e Drogados Aureliano da Fonseca
36 Portugal e a Origem da Liberdade dos Mares
Ana Maria Pereira Ferreira
37 A Teoria da Relatividade António Brotas
3� Fernando Lopes-Graça Mário Vieira de Carvalho
39 Ramalho Ortigão Maria João L. Ortigão
de Oliveira
40 Fidelino de Figueiredo A. Soares Amora
41 A História das Matemáticas em Portugal
J. Tiago de Oliveira
42 Camilo João Bigotte Chorão
43 Jaime Batalha Reis Maria José Marinho
44 Francisco de Lacerda J. Bettencourt da Câmara
45 A Imprensa em Portugal João L. de Moraes Rocha
46 Raul Brandão A. M. B. Machado Pires
47 Teixeira de Pascoaes Maria das Graças Moreira de Sá
4� A Música Portuguesa para Canto e Piano
José Bettencourt da Câmara
49 Santo António de Lisboa Maria de Lourdes Sirgado
Ganho
50 Tomaz de Figueiredo João Bigotte Chorão
51/ Eça de Queirós52 Carlos Reis
53 Guerra Junqueiro António Cândido Franco
54 José Régio Eugénio Lisboa
55 António Nobre José Carlos Seabra Pereira
56 Almeida Garrett Ofélia Paiva Monteiro
57 A Música Tradicional Portuguesa
José Bettencourt da Câmara
5� Saúl Dias/Júlio Isabel Vaz Ponce de Leão
59 Delfim Santos Maria de Lourdes Sirgado
Ganho
60 Fialho de Almeida António Cândido Franco
61 Sampaio (Bruno) Joaquim Domingues
50
62 O Cancioneiro Narrativo Tradicional
Carlos Nogueira
63 Martinho de Mendonça Luís Manuel A. V. Bernardo
64 Oliveira Martins Guilherme d’Oliveira
Martins
65 Miguel Torga Isabel Vaz Ponce de Leão
66 Almada Negreiros JoséAugusto França
67 Eduardo Lourenço Miguel Real
6� D. António Ferreira Gomes Arnaldo de Pinho
69 Mouzinho da Silveira A. do Carmo Reis
70 O Teatro Luso-Brasileiro Duarte Ivo Cruz
71 A Literatura de Cordel Portuguesa
Carlos Nogueira
72 Sílvio Lima Carlos Leone
73 Wenceslau de Moraes Ana Paula Laborinho
74 Amadeo de Souza-Cardoso JoséAugusto França
75 Adolfo Casais Monteiro Carlos Leone
76 Jaime Salazar Sampaio Duarte Ivo Cruz
77 Estrangeirados no Século XX
Carlos Leone
7� Filosofia Política Medieval Paulo Ferreira da Cunha
79 Rafael Bordalo Pinheiro JoséAugusto França
�0 D. João da Câmara Luiz Francisco Rebello
�1 Francisco de Holanda Maria de Lourdes Sirgado
Ganho
�2 Filosofia Política Moderna Paulo Ferreira da Cunha
�3 Agostinho da Silva Romana Valente Pinho
�4 Filosofia Política da Antiguidade Clássica Paulo Ferreira da Cunha
�5 O Romance Histórico Rogério Miguel Puga
�6 Filosofia Política Liberal e Social
Paulo Ferreira da Cunha
�7 Filosofia Política Romântica
Paulo Ferreira da Cunha
�� Fernando Gil Paulo Tunhas
�9 António de Navarro Martim de Gouveia e Sousa
90 Eudoro de Sousa Luís Lóia
91 Bernardim Ribeiro António Cândido Franco
92 Columbano Bordalo Pinheiro
JoséAugusto França
93 Averróis Catarina Belo
51
94 António Pedro JoséAugusto França
95 Sottomayor Cardia Carlos Leone
96 Camilo Pessanha Paulo Franchetti
97 António José Brandão AnaPaulaLoureirodeSousa
9� Democracia Carlos Leone
99 A Ópera em Portugal Manuel Ivo Cruz
100 A Filosofia Portuguesa (Sécs. XIX e XX)
António Braz Teixeira
101/ O Padre António Vieira102 Aníbal Pinto de Castro
103 A História da Universidade Guilherme Braga da Cruz
104 José Malhoa JoséAugusto França
105 Silvestre Pinheiro Ferreira José Esteves Pereira
106 António Sérgio Carlos Leone
107 Vieira de Almeida Luís Manuel A. V. Bernardo
10� Crítica Literária Portuguesa (até 1940)
Carlos Leone
109 Filosofia Política Contemporânea (1887-1939) Paulo Ferreira da Cunha
110 Filosofia Política Contemporânea (desde 1940) Paulo Ferreira da Cunha
111 O Cancioneiro Infantil e Juvenil de Transmissão Oral
Carlos Nogueira
112 Ritmanálise Rodrigo Sobral Cunha
113 Política de Língua Paulo Feytor Pinto
114 O Tema da Índia no Teatro Português
Duarte Ivo Cruz
115 A I República e a Constituição de 1911
Paulo Ferreira da Cunha
116 O Capital Social Jorge Almeida
117 O Fim do ImpérioSoviético
José Milhazes
11� Álvaro Siza Vieira Margarida Cunha Belém
119 Eduardo Souto Moura Margarida Cunha Belém
120 William Shakespeare Mário Avelar
121 Cooperativas Rui Namorado
122 Marcel Proust António Mega Ferreira
123 Albert Camus António Mega Ferreira
52
124 Walt Whitman Mário Avelar
125 Charles Chaplin JoséAugusto França
126 Dom Quixote António Mega Ferreira
127 Michel de Montaigne Clara Rocha
Olivroo essencial sobreleonardo coimbra
éumaediçãodaimprensa nacional-casa da moeda
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edepósitolegal406 492/16.Aediçãode1000exemplares
acaboudeserimpressanomêsdeabrildoanodois mil e dezasseis.
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