Jornal fisenge nº57

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JORNAL DA Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros Entrevista Olímpio Alves dos Santos Página 8 www.fisenge.org.br Ano VII - nº 57 agosto / setembro - 2012 Governo e servidores federais chegam a acordo e paralisações terminam em quase todo o país Após três meses de greves em diversos setores do governo fe- deral em todo o Brasil, os servidores públicos e os professores da rede federal chegaram a um acordo e voltaram ao trabalho. Dezenove categorias ligadas à Confederação dos Trabalhado- res no Serviço Público Federal (Condsef) decidiram em 28 de agosto aceitar a proposta feita pelo governo de reposição de 15,8% escalonada em três anos, e encerrar a paralisação. Os docentes anunciaram o fim da greve no dia 16 de setembro. (Página 7) Mobilidade urbana, saneamento básico, tecnologia social. Esses e muitos outros temas estão sendo debatidos em todo o Brasil, com a chegada da campanha para as eleições mu- nicipais 2012, que irão eleger prefeitos e vereadores para os 5.565 municípios brasileiros. Apesar de não ter a dimensão e repercussão de uma eleição presidencial ou para o governo Nova diretoria da CUT toma posse com mais de 30% de renovação A nova Direção Nacional da Central Única dos Trabalha- dores (CUT), para a gestão 2012-2015, foi eleita durante o 11º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalha- dores (CONCUT). Houve uma renovação de mais de 30% do quadro à frente da entidade. A chapa 1 “Somos For- tes, Somos CUT”, liderada por Vagner Freitas, venceu com 90,52% dos mais de 2 mil votos. (Página 6) estadual, a escolha do prefeito traz à tona discussões estrei- tamente ligadas à vida cotidiana de todos nós e, como não poderia deixar de ser, às políticas públicas de extrema im- portância para todos os engenheiros e a população de uma maneira geral. (Páginas 4 e 5) Os temas da engenharia e as eleições municipais

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JORNAL DA

Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros

Entrevista

Olímpio Alves dos Santos

Página 8

www. f i s e n g e . o r g . b r

Ano VII - nº 57agosto / setembro - 2012

Governo e servidores federais chegam a acordo e paralisações terminam em quase todo o país

Após três meses de greves em diversos setores do governo fe-deral em todo o Brasil, os servidores públicos e os professores da rede federal chegaram a um acordo e voltaram ao trabalho. Dezenove categorias ligadas à Confederação dos Trabalhado-res no Serviço Público Federal (Condsef) decidiram em 28 de agosto aceitar a proposta feita pelo governo de reposição de 15,8% escalonada em três anos, e encerrar a paralisação. Os docentes anunciaram o fi m da greve no dia 16 de setembro.(Página 7)

Mobilidade urbana, saneamento básico, tecnologia social. Esses e muitos outros temas estão sendo debatidos em todo o Brasil, com a chegada da campanha para as eleições mu-nicipais 2012, que irão eleger prefeitos e vereadores para os 5.565 municípios brasileiros. Apesar de não ter a dimensão e repercussão de uma eleição presidencial ou para o governo

Nova diretoria da CUT toma posse com mais de 30% de renovação

A nova Direção Nacional da Central Única dos Trabalha-dores (CUT), para a gestão 2012-2015, foi eleita durante o 11º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalha-dores (CONCUT). Houve uma renovação de mais de 30% do quadro à frente da entidade. A chapa 1 “Somos For-tes, Somos CUT”, liderada por Vagner Freitas, venceu com 90,52% dos mais de 2 mil votos. (Página 6)

estadual, a escolha do prefeito traz à tona discussões estrei-tamente ligadas à vida cotidiana de todos nós e, como não poderia deixar de ser, às políticas públicas de extrema im-portância para todos os engenheiros e a população de uma maneira geral. (Páginas 4 e 5)

Os temas da engenharia e as eleições municipais

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F E D E R A Ç Ã O I N T E R E S T A D U A L D E S I N D I C A T O S D E E N G E N H E I R O S

GIRO PELOS SENGESEDITORIAL

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Carlos Roberto Bittencourt; Vice-presidente: Raul Otávio da Silva Pereira; Diretor Secretário Geral: Clovis Francisco Nascimento Filho; Diretor Financeiro: Eduardo Medeiros Piazera; Diretor Financeiro Adjunto: Roberto Luiz de Carvalho Freire; Diretor de Negociação Coletiva: Fernando Elias Vieira Jogaib; Diretora da Mulher: Simone Baia Pereira; Diretor Executivo: José Ezequiel Ramos; Diretora Executiva: Giucélia Araujo de Figueiredo; Diretora Executiva: Silvana Marília Ventura Palmeira; Jornalista responsável: Manoela Barbosa Diagramação: Ricardo Bogéa; Tiragem: 4200 exemplares; Impressão: Reproarte; fi senge: Av. Rio Branco, 277 - 17º andar - CEP 20040-009 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Tel: (21) 2533-0836 - Fax: (21) 2532-2775 – E-mail: fi senge@fi senge.org.br Site: www.fi senge.org.br

Senge-BA celebra seus 75 anos

com festa

O Sindicato dos Engenheiros da Bahia (Senge-BA) celebra 75

anos de fundação no dia 27 de se-tembro, marcando uma trajetória de luta constante junto à catego-ria, em defesa da valorização dos profi ssionais da Engenharia no país e no estado. Na data, será realizada uma festa comemorativa em homenagem aos associados da entidade.

Debate necessário

Estamos vivendo mais um período eleitoral. Neste ano, escolheremos prefeitos e verea-dores para os milhares de municípios brasilei-ros. Nas campanhas, espalhadas pelas ruas, muitas promessas repetidas e poucas realiza-ções. Torna-se, portanto, inevitável que nós, engenheiros, nos posicionemos em relação à necessidade plena de debatermos os temas caros aos mais de 5.000 municípios do país.Mais do que promessas, queremos saber efe-tivamente quais são as propostas e projetos que cada candidato tem a apresentar sobre temas indispensáveis, como mobilidade urba-na, saneamento básico, ocupação imobiliária, inclusão social e, evidentemente, sobre aque-les que não estão diretamente ligados à nossa categoria, mas são fundamentais sob qualquer aspecto como saúde e educação.O movimento sindical deve enxergar o proces-so eleitoral como uma oportunidade de trazer para a sociedade os temas e discussões que nos são caros. Além disso, nossa participação para a qualidade deste debate certamente ajudará a produzir resultados que contribuam com a qualidade dos prefeitos eleitos e, tam-bém, das câmaras de vereadores.Por isso, acreditamos que a nossa participa-ção deve ter o objetivo de reforçar e insistir para que o debate sobre esses temas sejam conduzidos com seriedade e não se percam no vazio, como muitas vezes acontece. E tam-bém atuar com o objetivo de auxiliar na visão dos trabalhadores, para que eles votem em candidatos com perfi l social e político compa-tíveis com as nossas lutas.Afi nal, não podemos perder de vista a enorme conquista que é o direito de votar nos candi-datos que desejamos. Conquista essa que só foi possível devido aos anos de luta de muitos companheiros. Portanto, não podemos e não devemos desperdiçar esse momento. Vamos ao debate.

Três Sindicatos fi liados à Fisenge terão eleições nos próximos me-

ses. O Sindicato dos Engenheiros Agrônomos de Santa Catarina (Sea-gro-SC) promoverá suas eleições no próximo dia 6 de novembro. A posse da nova gestão ocorrerá um mês de-pois. No Sindicato dos Engenheiros de Sergipe (Senge-SE), as eleições serão realizadas no próximo dia 31 de outubro. E no Sindicato dos En-genheiros de Volta Redonda, o pleito acontecerá no dia 9 de outubro, com a posse da nova gestão marcada para 17 de novembro.

O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro

(Senge-RJ) editou o livro “Do Fogo à Luz”, de autoria do Engenheiro Agrônomo Pedro Hidalgo, lançado no dia 26. Ex-ministro da Agricultu-ra responsável pela Reforma Agrária no governo Salvador Allende e tam-bém ex-preso político na ditadura chilena de Pinochet, o texto inédito relata as memórias de Hidalgo como preso político em Santiago sob o do-mínio do ditador que liderou, durante 17 anos, um governo sangrento que deixou milhares de vítimas de prisão, tortura, morte e desaparecimento.

Senge-RJ edita livro “Do Fogo à Luz”, de

Pedro Hidalgo

O Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR) e o Con-

selho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) promoveram, na sede do Sindi-cato, a realização de entrevistas individuais com todos os candida-tos a prefeito de Curitiba. Os sete candidatos que disputam o cargo participaram do ciclo de debates: Bruno Meirinho (PSOL), Avanilson Araujo (PSTU), Alzimara Bacellar (PPL), Rafael Greca (PMDB), Ra-tinho Júnior (PSC), Luciano Ducci (PSB-PPS-PSDB) e Gustavo Fruet (PDT-PT). Os eventos foram trans-mitidos ao vivo pela internet. Para o presidente do Senge-PR, Ulisses Kaniak, o evento é uma amostra da contribuição que o movimento sin-dical pode dar à democracia.

Senge-PR promove debate entre os

candidatos a prefeito de Curitiba Eleições nos

Sindicatos de Santa Catarina, Sergipe e

Volta Redonda

Editora: Senge-RJ

Chile 1973 Do Fogo à LuzUm encontro com a tortura

Pedro HidalgoEx-ministro da Agricultura do governo Salvador Allende

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JUVENTUDE

O Sindicato dos Engenheiros no Esta-do de Minas Gerais (Senge-MG) co-

memorou seus 65 anos, com solenidade realizada no último dia 16 de agosto, no auditório do Crea-MG. O evento, que con-tou com a participação do presidente da Fisenge, Carlos Roberto Bittencourt, reu-niu cerca de 300 pessoas, entre engenhei-ros associados do Sindicato, diretores, ex--diretores, autoridades e representantes de Sindicatos de Engenheiros de outros estados e estudantes de engenharia. A abertura da solenidade contou com um breve histórico da atuação e das lutas das quais o Senge-MG participou ao longo das suas mais de seis décadas de existência.O presidente da Fisenge, Carlos Roberto Bittencourt, agradeceu em nome da Fede-ração e de todos os sindicatos que fazem parte dela o convite para a solenidade. Ele também destacou a grande participação do Senge-MG nas negociações coletivas, na organização de seminários, na luta pela democracia e na aproximação de estudantes e jovens engenheiros para o universo sindical. (Ver box)

O vice-presidente da Fisenge e presidente do Senge-MG, Raul Otávio da Silva Perei-ra, agradeceu à presença de todos e come-çou sua fala lembrando a participação do Sindicato em momentos históricos do país, como a campanha pelas Diretas Já e, mais atualmente, a implantação da Engenharia e Arquitetura Públicas. Ele lembrou ain-da que o lugar dos sindicatos é nas ruas. “Nosso lugar preferido é nas ruas, com bandeiras, apitos, fazendo manifestações

para garantir os direitos dos trabalhadores, mas também para garantir que o país cres-ça econômica e socialmente”, disse.Também estiveram presentes na solenida-de os diretores da Fisenge, Roberto Freire e Silvana Palmeira, e os presidentes Fer-nando Freitas (Senge-PE), João Thomaz Araújo Ferreira da Costa (Senge-VR), Olímpio Alves dos Santos (Senge-RJ), Rosivaldo Ribeiro Santos (Senge-SE) e Ulisses Kaniak (Senge-PR).

Senge-MG chega aos 65 anos com celebração para mais de 300 pessoas

Uma das principais dificuldades do movimento sindical brasileiro é a sua renovação. Preocupado e ansioso pelo ingresso no mercado de traba-lho, o estudante reluta em conhecer mais profundamente e participar do universo sindical. Para combater esse problema, o Senge-MG criou o projeto “Senge Jovem”, grupo for-mado por estudantes de Engenharia que se propõem a debater as novas tendências da profissão e divulgar os direitos e os deveres dos futuros pro-fissionais. Eles buscam compartilhar informações importantes e despertar

“Nosso lugar preferido é nas ruas, com bandeiras, apitos, fazendo manifestações para garantir os direitos dos trabalhadores, mas

também para garantir que o país cresça econômica e socialmente”,

Raul Otávio da Silva Pereira, vice-presidente da Fisenge e presidente do Senge-MG.

Carlos Roberto Bittencourt, presidente da Fisenge, e demais diretores comparecem à solenidade de 65 anos do Senge-MG

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Projeto Senge Jovem é iniciativa para renovar o movimento sindicala consciência política nos futuros enge-nheiros e engenheiras.Atualmente, há 1.507 sócio-aspirantes inscritos no projeto. Eles participam do grupo e estão isentos de anuidade, en-quanto não se formarem. Para o estudan-te de Engenharia Elétrica da Universida-de Federal de Uberlândia, Winter Silva, a iniciativa serve para “abrir os olhos” do graduando. “É excelente. Ter acesso a informações importantes ainda na gradu-ação é muito positivo, para que o futuro engenheiro não esteja cego quando se formar e sair para o mercado”, disse. A troca de conhecimentos é o ponto alto

do projeto, segundo o estudante de Engenharia Ambiental, Ricardo dos Santos Soares. “A iniciativa mantém conceitos e absorve novas tendên-cias, assim como contribui na pre-servação da história do Senge, o que age diretamente no fortalecimento de classe. Poderia dizer ainda que o Senge Jovem vai além, como um grupo jovem formador de opinião dis-posto a interagir e contribuir de ma-neira positiva, prezando sempre pela preparação social, ética e política de cada um enquanto pessoa, profissio-nal e cidadão”, acrescentou.

Carlos Roberto Bittencourt, presidente da Fisenge, parabeniza o aniversário do Senge-MG e a atuação do Sindicato entre os jovens

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ELEIÇÕES

O Brasil conta com 5.565 municípios espalhados pelos seus 26 estados. E

desde o início do segundo semestre, es-sas cidades se encontram mergulhadas nas campanhas para as eleições muni-cipais, onde serão escolhidos os futuros prefeitos e vereadores. Apesar de não ter a dimensão e reper-cussão de uma eleição presidencial ou para o mandatário estadual, a escolha do prefeito traz à tona discussões estreita-mente ligadas à vida cotidiana de todos nós e, como não poderia deixar de ser, às políticas públicas de extrema importância para todos os engenheiros e a população de uma maneira geral.

Mobilidade UrbanaDentre os temas que não podem faltar está a definição do modelo de desen-volvimento urbano do município, que se torna ainda mais importante uma vez que estes serão os prefeitos com mandato em vigor na Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil e, no caso do Rio de Janeiro, também nas Olimpí-adas de 2016. Por conta disso, percebe--se um crescimento cada vez mais de-sordenado das capitais e outras grandes cidades. A consequência já é conhecida dos habitantes: trânsito lento e falta de transportes públicos para os moradores da periferia. No Rio de Janeiro, que receberá os dois grandes eventos nos próximos anos, as apostas da Prefeitura para resolver o pro-blema de mobilidade urbana na cidade são os sistemas de BRS (Bus Rapid Ser-vice) e BRT (Bus Rapid Transit). Os dois já estão em funcionamento no Rio.BRS é a definição de corredores viários para priorizar o transporte público com a racionalização das linhas, ou seja, dimi-nuição de frotas e pontos. Também traz maior velocidade operacional e o ordena-mento das vias. O modelo já foi instalado nos bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon e Centro. De acordo com o as-sessor da Presidência da Companhia de Engenharia do Tráfego do Rio de Janeiro

Eleições Municipais trazem à tona temas importantes para a engenharia

(CET-Rio), Modesto Rodrigues Fernan-des Filho, só no Centro, cerca de 15% a 20% de linhas deixaram de circular. Na Avenida Rio Branco, uma das mais movi-mentadas da cidade, circulam 620 ônibus por km/hora. Esse número já chegou a ultrapassar os 800.Já o BRT é um modelo de transporte co-letivo de média capacidade com veículos articulados ou biarticulados que trafegam em canaletas específicas ou em vias ele-vadas. Várias cidades do mundo, como Curitiba, Goiânia e São Paulo já ado-taram o BRT como meio de transporte público mais barato do que construir um sistema de metrô.

Especulação Imobiliária

Um assunto que raramente é trazido em debates municipais é o da especulação imobiliária e dos inúmeros interesses nela envolvidos. São inegáveis os benefícios que o crescimento da construção civil tem trazido para o país, como empregos e novas oportunidades de moradia. No

entanto, faz-se cada vez mais necessária a expansão de grandes centros de servi-ços, que continuam concentrados em de-terminadas regiões e não acompanham o crescimento imobiliário residencial.Além de gerar lucro para alguns poucos investidores, a prática da especulação imobiliária é extremamente prejudicial para as cidades. Por causa dela, os te-cidos urbanos tendem a ficar excessiva-mente rarefeitos em alguns locais e den-sificados em outros, o que gera custos financeiros e sociais para a sociedade e, claro, para o Estado. A infraestrutura, por exemplo, é sobrecarregada em algumas áreas e completamente subutilizada em outras. Com isso, a dificuldade de mobili-dade, ou seja, o deslocamento da popu-lação de mais baixa renda, mencionado acima, também é decorrente, em grande parte, dessa lógica especulativa, que au-menta a distância entre habitação e em-pregos.Diante disso, torna-se imprescindível que o Estado, sob forma da administração municipal, tome medidas para coibir essa prática. Um dos instrumentos é o Estatu-to da Cidade, lei federal de 2001, criada para regulamentar os artigos da Consti-tuição que tratam de política de desen-volvimento urbano e da função social da propriedade.O IPTU progressivo, por exemplo, permi-te ao poder público sobretaxar os imóveis que não estiverem cumprindo sua função social, ou seja, que estiverem sendo su-baproveitados em áreas que possuam infraestrutura.

Apesar de não ter a dimensão e repercussão de uma eleição

presidencial ou para o mandatário estadual, a escolha do

prefeito traz à tona discussões estreitamente ligadas à vida

cotidiana de todos nós

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Saneamento Básico e a Lei dos Resíduos

SólidosHá uma máxima que afirma que obras de saneamento não ganham votos, uma vez que não aparecem para o público como uma ponte ou estrada. Logo, é possível imaginarmos a situação de caos e abandono ainda existente na periferia das grandes cidades no que concerne a esse tema. No entanto, a Lei dos Resídu-os Sólidos, que determina a desativação dos lixões de todo o país até 2014, faz com que a questão do saneamento bási-co tenha ainda mais relevância no pleito deste ano.Isso porque os projetos para adequação à nova legislação começam nas prefeitu-ras, com a elaboração dos planos munici-pais de resíduos sólidos. A lei prevê que os repasses federais para essa área só poderão ser feitos para as cidades que apresentarem seu plano de gestão. Ape-sar disso, segundo estimativa feita pelo Ministério do Meio Ambiente, até o come-ço de agosto, apenas metade da popu-lação brasileira vivia em cidades em que os planos de resíduos sólidos estavam em andamento ou sendo elaborados. Ou seja, na outra metade dos municípios, o trabalho ficará para os gestores eleitos em outubro deste ano.Além do manejo dos resíduos sólidos, o histórico desafio do saneamento básico também deve estar na pauta de todos os candidatos. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS), do Ministério das Cidades, 54% da população brasilei-ra ainda não tem serviço de coleta de es-goto e 19% não tem água encanada. De todo o esgoto coletado no país, menos da metade, cerca de 40%, é tratado. E das 100 maiores cidades brasileiras, apenas cinco têm coleta de esgoto universaliza-da, ou seja, em todos os domicílios.Ao lado da falta de acesso aos serviços, o setor de saneamento tem ainda outro grave problema: a fiscalização. Levan-tamento da Associação Brasileira de Agências Reguladoras (Abar) aponta que

apenas 41% dos municípios brasileiros têm seus serviços de saneamento bási-co fiscalizados por agências reguladoras. Isso mesmo com a lei federal, que prevê que as agências acompanhem e fiscali-zem a qualidade dos serviços de abaste-cimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e manejo de resíduos sólidos.

Tecnologia socialO debate relacionado à ciência, tecnologia e inovação entra de maneira raríssima na pauta política das campanhas eleitorais. Por se tratar de uma área de despesa pública diferenciada, ela não pode ser submetida aos mesmos critérios de ava-liação utilizados pelo setor privado e nem mesmo pelos demais setores do orçamen-to. Podemos considerar tecnologia social todo o produto, método, processo ou téc-nica criado para solucionar algum tipo de problema social e que atenda a quesitos como simplicidade, baixo custo, fácil apli-cabilidade e impacto social comprovado.A tecnologia como instrumento de inclu-são social já gerou inúmeros benefícios concretos para a nossa sociedade nos últimos anos. Um dos exemplos foi a sua utilização no modelo da produção na es-cala da agricultura familiar e da pequena propriedade rural. É o caso de processos importantes de produção de alimentos que estão incorporados no saber tradicio-nal e que correm risco de desaparecer, caso sejam engolidos pela devastadora

onda das tecnologias que dependem de transgênicos, agrotóxicos e fertilizantes.Dessa forma, a opção pela tecnologia social proporciona uma série de ganhos como a fixação da população no campo, com melhores condições de remunera-ção; o consumo de bens derivados da produção agrícola de qualidade; a redu-ção do impacto negativo em termos am-bientais e ecológicos; e a parceria com os centros de pesquisa das universidades, com a possibilidade de ampliar e apro-fundar as inovações a partir dos saberes tradicionais.No âmbito da construção civil, as prefei-turas poderiam articular o aproveitamen-to de uma série de experiências exitosas de autoconstrução e práticas que evitam a pasteurização e a generalização dos modelos padronizados e inflexíveis, di-tados pelas grandes empreiteiras. Além disso, o uso de técnicas construtivas e de materiais específicos, com a participação dos próprios interessados, certamente elevaria a qualidade das moradias a se-rem construídas.Em suma, o uso de tecnologias alternati-vas, com conteúdo social, pode contribuir na busca por soluções efetivas e ade-quadas a cada região, cidade ou comu-nidade. A combinação das pesquisas de ponta dos diversos campos da ciência e as práticas dos moradores da região per-mitem o avanço de novas oportunidades e a incorporação de processos já conhe-cidos no plano local.Para o presidente da Fisenge, Carlos Ro-berto Bittencourt, além de prestar muita atenção em todos esses temas, é preciso atentar-se para outros aspectos na hora da escolha do candidato. “É importante procurar ver o passado de cada candi-dato, tanto no que se refere aos cargos ocupados na área pública, comparativa-mente ao cargo pretendido. Por isso a im-portância da Lei da Ficha Limpa. É rele-vante averiguarmos o seu compromisso com a ética. Além de observarmos a que partidos ele pertence e se o partido em questão defende os interesses da popu-lação”, alertou Bittencourt.

“É importante procurar ver o passado de cada candidato, tanto no que se refere aos cargos ocupados na área pública, comparativamente ao cargo pretendido. Por isso a importância da Lei da Ficha Limpa. É relevante averiguarmos o seu compromisso com a ética. Além de observarmos a que partidos ele pertence e se o partido em questão defende os interesses da população”,

Carlos Roberto Bittencourt, presidente da Fisenge.

O problema da mobilidade urbana atinge principais cidades brasileiras

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IV Encontro de Jornalistas de Sindicatos de Engenheiros debate integração da comunicação sindical

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ENCONTROS E CONGRESSOS

Foi realizado, nos últimos dias 4 e 5 de agosto, na

sede da Fisenge, no Rio de Janeiro, o IV Encontro de Jor-nalistas de Sindicatos de En-genheiros. Profi ssionais res-ponsáveis pela comunicação de todos os Sindicatos fi liados à Federação estiveram presen-tes para trocar experiências e debater formas de melhorar a integração entre todos.Para abrir o evento, o coorde-nador do Núcleo Piratininga

As mulheres conquistaram a aprovação da paridade na direção da CUT

O novo presidente da CUT, Vágner Freitas

Vito Giannotti, coordenador do NPC, em palestra no IV En-contro de Jornalistas, na sede da Fisenge

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A nova Direção Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), para

a gestão 2012-2015, foi eleita durante o 11º Congresso Nacional da Central Úni-ca dos Trabalhadores (CONCUT). Hou-ve uma renovação de mais de 30% do quadro à frente da entidade. A chapa 1 “Somos Fortes, Somos CUT”, liderada por Vagner Freitas, venceu com 90,52% dos mais de 2 mil votos.O novo presidente da CUT é bancário, já foi diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e presidente da Confederação Nacional dos Trabalha-dores do Ramo Financeiro. A vice-presi-dente eleita é Carmen Foro, secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Con-federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). O presidente

CUT elege nova gestão e Vagner Freitas é eleito o novo presidente

do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Olímpio Alves dos Santos, foi eleito para compor a Direção Nacional da CUT, represen-tando o Ramo 14. A Fisenge, juntamen-te à Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) e à Federação Interestadual dos Farmacêuticos (Feifar) estão trabalhando para a construção da Confederação dos Técnicos e Trabalhadores Universitários (Confetu), que terá entre seus principais objetivos estimular os universitários a de-baterem sobre os temas ligados ao mundo do trabalho, como a jornada de 40 horas, o trabalho decente e o fi m do fator previ-denciário. De acordo com o secretário-ge-ral da Fisenge, Clovis Nascimento, ao lon-go do tempo, outras federações poderão ser agregadas. “A Conftu é a consolidação

do Ramo 14 da CUT e objetiva se integrar na agenda do mundo do trabalho”, disse Clovis. (Você lê mais sobre a criação da Confetu na página 8)Outro destaque do CONCUT foi a apro-vação a partir de 2015 da paridade entre homens e mulheres nas instâncias de dire-ção. O 11º CONCUT aconteceu de 9 a 13 de julho em São Paulo e contou com a par-ticipação de mais de 2 mil trabalhadores.

de Comunicação (NPC), Vito Giannotti, deu a palestra “O papel da imprensa sindical na disputa por hegemonia”. Ele apresentou algumas críticas a veículos da grande imprensa e ressaltou a im-portância da imprensa sindical como um contraponto desta mídia tradicional. Na parte da tarde, a jornalista e também co-ordenadora do NPC, Cláudia Santiago, levantou junto aos jornalistas soluções para melhorar a comunicação sindical, como o uso das diversas mídias alterna-tivas e a importância de resgatar a me-mória das entidades.

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PARALIZAÇÕES

Após três meses de greves em diver-sos setores do governo federal em

todo o Brasil, os servidores públicos chegaram a um acordo e voltaram ao trabalho. Dezenove categorias ligadas à Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) de-cidiram em 28 de agosto aceitar a pro-posta feita pelo governo de reposição de 15,8% escalonada em três anos, e en-cerrar a paralisação.“Consideramos o acordo uma vitória. No começo das negociações, o que a gente tinha era zero, e agora, conseguimos os 15,8%. Precisamos aceitar este acordo para garantir também outras questões como a gratificação por desempenho”, afirmou o coordenador-geral da Cond-sef, Josemilton da Costa. Entre as ca-tegorias que aceitaram a proposta estão os servidores dos ministérios da Saúde, Previdência, Trabalho, Cultura, Agri-cultura, Justiça, Transportes, além do Arquivo Nacional, Imprensa Nacional e Embratur.

Servidores federais chegam a acordo com Governo e já começam a voltar ao trabalho

Depois de 3 meses de paralisação, servidores federais chegam a acordo com o governo

Entre os docentes do ensino federal, o martelo foi batido pelo fim da paralisa-

ção no último dia 16 de setembro. Depois de mais de 120 dias de greve, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino (Andes) explicou que a deci-são foi tomada “após avaliação criteriosa

do quadro de assembleias gerais”. A nota divulgada pelo Andes disse ainda que os docentes permanecerão mobilizados. “Foram estabelecidas várias ações para a continuidade da mobilização da cate-goria no enfrentamento dos ataques à educação pública federal”, afirma o texto.O governo federal encerrou as negocia-ções com os sindicatos dos docentes e com todas as demais categorias no dia 31 de agosto, quando a Lei Orçamen-

Professores da rede federal

tária Anual (LOA) foi encaminhada ao Congresso Nacional. Após o envio, o Parlamento rejeita a inclusão de novos valores para questões salariais.Na proposta de carreira dos professores das universidades e dos institutos fede-rais, apresentada previamente às enti-dades representativas dos professores e enviada ao Legislativo, o governo busca a valorização da dedicação exclusiva e da titulação dos docentes. O aumento prevê o mínimo de 25% e o máximo de 40%, a serem aplicados nos meses de março de 2013 (50%), de 2014 (30%) e de 2015 (20%). Fica assegurado, portanto, reajuste de 16%, em média, a partir de março do próximo ano. Para a concessão do reajuste, o governo liberou, no orçamento, recursos de R$ 4,2 bilhões. Com o fim da greve, o Ministério da Edu-cação (MEC) aguarda que as institui-ções de ensino definam e encaminhem o plano de recuperação dos dias parados. O ministro da Educação, Aloizio Merca-dante, se reuniu com os representantes dos reitores para definir a aplicação do novo calendário. O ministério vai fiscali-zar a reposição das aulas.Em julho, o movimento grevista chegou a atingir 56 das 59 universidades fede-rais, além de 34 institutos federais de Educação Tecnológica.

56 das 59 universidades federais brasileiras entraram em greve nos últimos meses

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ENTREVISTA OLÍMPIO ALVES DOS SANTOS

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Ex-presidente da Fisenge e atual presidente do Sindicato dos Enge-

nheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), o engenheiro eletricista Olímpio Alves dos Santos foi eleito, no último Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CONCUT), realizado de 9 a 13 de julho, em São Paulo, para a direção nacional da cen-tral sindical. Ele vem participando das reuniões de fundação da Confede-ração dos Técnicos e Trabalhadores Universitários (Confetu), que agregará as Federações ligadas ao Ramo 14, como a Fisenge, a Federação Nacio-nal dos Arquitetos (FNA) e a Federa-ção Interestadual dos Farmacêuticos (Feifar). Nesta entrevista, Olímpio fala sobre a criação da Confetu e os bene-fícios que ela irá trazer para a catego-ria dos engenheiros.

Qual é a importância da criação da Confetu?

Desde muito tempo, nós tínhamos criado o Ramo 14 da CUT, que era ba-sicamente dos ditos profissionais libe-rais. Mas a gente nunca deu a devida atenção e dedicou o trabalho necessá-rio para implantar esse Ramo 14. Até porque existem questões contraditó-rias, porque este Ramo, dos profissio-nais liberais abrange categorias trans-versais, como a dos engenheiros. Nós podemos atuar na saúde, em diversas áreas. Isso gera problemas com outros setores, já que entra a disputa finan-ceira. Essa era uma das questões, que se somava a falta de empenho nosso em tocar isso. Bom, além disso, nós nutrimos durante muito tempo a ideia de ganhar a CNPL (Confederação Na-cional dos Profissionais Liberais) e le-

vá-la para a CUT. Mas vimos que seria impossível fazer isso, porque eles cria-ram um sistema eleitoral próprio, uma divisão própria de várias federações, enfim, não teria como. Em suma, sem-pre houve o desejo histórico de tentar organizar esse setor. Principalmente por conta da questão da negociação.

Como você acha que a Confetu pode beneficiar as negociações coletivas da categoria?

Existem várias negociações importan-tes nacionalmente, como a dos ban-cários, por exemplo. Eles têm todo um processo de assembleia e fazem um acordo a nível nacional com os banquei-ros. E isso acontece em várias catego-rias. E no nosso caso, os engenheiros querem a participação na negociação, mas apenas enquanto engenheiros. No caso deles, isso não acontece, no acordo dos bancários entra engenheiro e também advogado, por exemplo. En-tão, se eles (setor bancário) forem ne-gociar com uma Confederação, da qual uma Federação de engenheiros faz parte, aí a coisa já muda de figura. Te-remos mais força. Então acredito que com a Confetu poderemos trabalhar melhor essa questão da negociação para o nosso setor e também outros que sofrem com o mesmo problema.

Como mais a Confetu pode contri-buir para a categoria?

A rigor hoje, os engenheiros são uma das categorias mais bem organizada. E nós não estamos conseguindo negociar em alguns setores, como o bancário e o de telecomunicações. Eu acredito

que com a Confederação, nós teremos um poder de pressão maior para sentar nessas mesas de negociação.

O que falta para a criação da Confe-deração ser oficializada?

No Brasil, a questão sindical sempre foi bastante complicada. Existe uma comissão no Ministério do Trabalho que oficializa a criação de sindicatos. No tempo do Lupi (ex-ministro do Tra-balho, Carlos Lupi), houve uma prolife-ração muito grande de sindicatos no-vos. O que tem um aspecto negativo, porque muitas vezes o sindicato não tem nem uma base real, mas como foi oficializado como um, passa a ter di-reito ao imposto sindical. Nessa época, eram criados uma média de 100 sindi-catos por mês. Isso acaba impossibili-tando a ação política do sindicato. Por-que o sindicato deixa de ser algo para os trabalhadores e se torna algo para o dirigente. O Lupi saiu e agora entrou o ministro Brizola Neto, que convidou o nosso companheiro Manoel Messias para a Secretaria das Relações de Tra-balho. Ele nos avisou que o primeiro passo é republicanizar o Ministério, tratando todos com igualdade. Por isso, há a portaria 186, que está sen-do remodelada, e está sendo feita uma tabela de categorias, para poder criar sindicatos segundo essa tabela. Então, nós iremos solicitar a criação de uma Confederação e entraremos com esse processo daqui a um mês, que será analisado pelo Ministério do Trabalho. Acredito que tudo isso deva levar cer-ca de um ano. Mas isso não impede que a gente já passe a atuar politica-mente como uma Confederação.

Olímpio Alves dos Santos,Presidente do Senge-RJ, eleito para aDireção Nacional da CUT

“Acredito que com a Confetu poderemos trabalhar melhor essa questão da negociação para o nosso setor e também outros que sofrem com o mesmo problema.”