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HORTA ORGÂNICA: PROMOÇÃO E INCLUSÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS NA MERENDA ESCOLAR DO COLÉGIO ESTADUAL LOURDES ALVES MELO,
ITAGUAJÉ – PR.
Maria Inez de Medeiros Lima¹
Marilene Mieko Yamamato Pires²
RESUMO Este artigo apresenta reflexões e resultados obtidos na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado de Educação do Estado do Paraná no município de Itaguajé, região noroeste do estado do Paraná, com os alunos do 6º ano A do Ensino fundamental, no mês de fevereiro de 2013. O principal objetivo desse projeto foi sensibilizar e conscientizar os alunos sobre a necessidade de adoção de hábitos alimentares saudáveis, enfatizando a importância do envolvimento de todos os integrantes do grupo responsáveis pela construção de uma horta orgânica no espaço escolar. Além da construção da horta, foram discutidos e problematizados em sala de aula os conceitos teóricos através de leituras temáticas, apresentação de vídeos abordando alimentação e saúde, confecção de materiais educativos como cartazes, recortes, colagens e montagens de quebra cabeças ilustrados com hortaliças e legumes, atividades lúdicas, construção de caça palavras e cruzadinhas, jogo de dominó com palavras e figuras, jogo da memória, jogo de dominó, criação de personagens (espantalhos), pesquisas e construção de receitas e oficinas culinárias com a utilização dos alimentos produzidos e colhidos na horta pelos alunos, produção de textos, atividades experimentais no laboratório de ciências e posteriormente a observação, organização, execução e construção de uma horta orgânica no espaço escolar com intuito de inserir alimentos saudáveis ao cardápio, complementando a merenda escolar, despertando nos alunos o gosto pelos alimentos cultivados, a adoção de hábitos alimentares saudáveis e o interesse no cuidado com o meio ambiente, elaborando na escola um espaço produtivo, auxiliando-o na reflexão e a inserção dos alimentos nutritivos no seu dia a dia e na promoção e qualidade de vida e saúde. Durante o desenvolvimento do projeto percebeu-se por meio das atividades realizadas, que os objetivos sugeridos foram alcançados, pois os alunos manifestaram compreensão dos conceitos, reflexão das temáticas abordadas e sensibilização sobre a importância da promoção de hábitos alimentares saudáveis, valorizando os alimentos produzidos no nosso município e região, atestando que a alimentação é essencial à formação e desempenho das funções, manutenção do estado de saúde e o desenvolvimento do ser humano. A construção da horta orgânica no espaço escolar é de suma importância, pois se evidencia uma pedagogia diferenciada, com experiências e trocas de aprendizado real, instituindo identidades sustentáveis na busca de escolhas para aprimorar a qualidade de vida.
Palavras-chave: Nutrição; Compostagem; Construção Coletiva, Alimentação. _______________________
¹. Graduada em Ciências do 1º grau com habilitação em Matemática /Física pela Universidade do Oeste Paulista, Faculdade de Ciências, Letras e Educação de Presidente Pudente–SP. Especialista em Educação Especial D.M pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Professora de Ciências e Matemática do Colégio Estadual Lourdes Alves Melo – EFM, Itaguajé - PR. ². Professora Adjunto da Universidade Estadual do Paraná, campus de Paranavaí, UNESPAR/FAFIPA. Paranavaí – PR.
1-INTRODUÇÃO
Este projeto foi desenvolvido partindo dos princípios das Diretrizes
Curriculares da Educação Básica de Ciências do estado do Paraná (SEED,2008)
contemplando as atividades experimentais presentes no ensino de ciências,
contribuindo assim para a superação de obstáculos na aprendizagem de
conceitos científicos, não somente por propiciar interpretações, discussões e
confronto de ideias entre os educandos, mas também pela natureza investigativa.
Nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, propõe-se formar
sujeitos que construam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o
contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento,
sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na sociedade.
O estudo dessa temática é pertinente no cotidiano das pessoas, visto que a
alimentação é essencial à formação, ao desempenho de suas funções,
manutenção do estado de saúde e o desenvolvimento do ser humano, uma vez
que os alimentos nos fornecem as substâncias necessárias para o
desenvolvimento físico e mental do nosso corpo.
Espera-se que com os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante o
desenvolvimento do projeto, possamos interferir e ajudar também na economia
familiar influenciando a vida dos alunos na escola e fora da sala de aula utilizando
os conceitos aprendidos na construção da horta e inserindo hortaliças na dieta da
família, uma vez que a saúde e a higiene são indispensáveis na vida dos alunos e
de sua família.
A escola exercita a construção de formação do caráter e ética do educando
no processo a qual ele está inserido, com respeito a vida, ao meio ambiente, a
liberdade de expressão, a alimentação correta, com formação de boas
qualidades, proporcionando vida digna a si e aos outros, criando comunidades
sustentáveis com relação ao uso de alimento ecologicamente correto, permitindo
assim a transmissão dos conhecimentos e disseminando no seu meio familiar a
construção de hortas caseiras, com boa estrutura, para ser fonte de produção de
verduras e legumes frescos sem agrotóxicos e de baixo custo, complementando a
sua alimentação na escola ou em sua casa juntamente com a sua família.
O projeto propiciou aos alunos uma aprendizagem relevante, por meio da
Produção de Unidade Didático Pedagógica, elaborada no segundo semestre de
2012.
Este material inclui a fundamentação teórica e metodológica de atividades
como leituras de textos, oficinas, atividades experimentais lúdicas e práticas
centradas no tema horta orgânica, com sugestões aos professores interessados
em aplicá-los em sala de aula.
Durante o segundo ano do PDE, teve-se a oportunidade de apresentar o
Projeto de Intervenção Pedagógica, a Produção Didática Pedagógica e a
implementação a um grupo de professores de Ciências da rede Estadual de
Ensino do Estado do Paraná, no grupo de trabalho em rede (GTR) a distância,
realizada no primeiro semestre de 2013.
O GTR é uma atividade de grande relevância, oportunizando a socialização
do projeto com abertura a discussão, troca de experiências, ideias, debates,
interações, questionamentos, objetivando uma interação virtual entre os
professores da Rede Pública Estadual propiciando novas alternativas de
formação continuada.
O GTR é composto por materiais impressos, fóruns de discussões, diários,
onde os professores participantes contribuem com questionamentos propostos
pelo professor PDE e interagem com outros cursistas. Nos diários, são
respondidas as questões apresentadas pelo professor PDE.
Com essas ações desenvolvidas no decorrer do PDE, pressupõe-se que os
processos de ensino-aprendizagem no ensino de ciências coadjuvam com uma
aprendizagem expressiva enfatizando os aspectos positivos por meio de reflexões
e diversidade de situações didáticas apresentadas.
2-REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Stefanini et. al. (1979), a educação alimentar assume
especial importância ao se considerar que uma das causas da desnutrição e
obesidade é a falta de conhecimentos básicos de alimentação e nutrição.
A escassez de alimentos e o baixo poder aquisitivo não são os únicos
fatores atuando no baixo consumo dos alimentos, existem outros que interferem
na compra, no armazenamento, na preparação e no consumo alimentar. Entre
esses se destacam os hábitos, as crenças, os tabus, a mídia, as propagandas, as
influências de grupos e o valor social dado a determinados alimentos.
É necessário enfrentar todas as causas do problema nutricional, mediante
uma política alimentar integrada a política geral do desenvolvimento econômico e
social. Dentro dessa política, a educação alimentar é um instrumento que
complementa todos os outros meios postos em prática.
Os educandos desde a educação infantil até as séries finais merecem
maior atenção, pois é também nestas idades que se consegue introduzir ou
mudar hábitos alimentares mais facilmente (STEFANINI et. al., 1979).
A má nutrição tem sido um dos mais importantes problemas de saúde
enfrentados no mundo. É necessário, portanto despender esforços especiais no
que diz respeito à assistência e educação alimentar e nutricional, visando à
melhoria desta situação. Saber aproveitar ao máximo os recursos alimentares
existentes é um principio de economia prática, que se traduz em menor gasto.
A criança deve receber os recursos alimentares desde o seu nascimento,
porém nem sempre os pais têm conhecimentos sobre nutrição, suficientes ou
corretos, para transmitir aos seus filhos. Este fato não é exclusivo das classes
menos privilegiadas, mas sim, de todas as classes sócioeconômicas. As crianças
iniciam a formação de seus hábitos alimentares aos dois anos e até aos quatorze
se apresentam em fase propícia para uma mudança de atitudes e
comportamentos, com relação aos alimentos. Estes conhecimentos básicos de
nutrição, função e importância devem ser transmitidos de forma adequada aos
alunos (STEFANINI et. al., 1979).
De acordo com as políticas de alimentação escolar, é muito importante ter
alunos bem alimentados durante sua permanência em sala de aula, pois isso
contribui para a melhora do desempenho escolar, além de reduzir a repetência e
a evasão escolar. O objetivo do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) é atender às necessidades nutricionais dos alunos durante o horário em
que se encontram em sala de aula, contribuindo para o crescimento, o
desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes, bem
como a formação de hábitos alimentares saudáveis.
Por isso a escola e o professor têm um papel fundamental na formação de
hábitos alimentares saudáveis, assegurando a promoção de uma alimentação
saudável aos seus educandos durante o horário escolar incentivando-os a inserir
e consumir também fora do ambiente escolar.
As crianças estão cada vez mais expostas aos alimentos industrializados
devido ao “aumento da jornada de trabalho dos pais ou pela falta de opções
saudáveis na escola ou ainda pelo bombardeio de propagandas de produtos
alimentícios que influenciam de forma negativa nas suas escolhas alimentares”.
Segundo o CONSEA (2012), a televisão apresenta a publicidade mais
significativa e as crianças interagem com ela, como se fosse seu semelhante,
assim, elas podem adquirir uma concepção inadequada do que seja um alimento
saudável. Além disso, estudos comprovam que crianças brasileiras gastam mais
tempo em frente à televisão do que praticando atividades físicas.
Diante de tais evidências percebe-se que nossos alunos estão envoltos nas
armadilhas das publicidades televisivas sofrendo com a influência e pressão dos
meios de comunicação tornando-os vulneráveis aos apelos da mídia,
influenciando-os sobre as escolhas dos alimentos, manipulando-os, tornando o
seu consumo comum e rotineiro em seu cotidiano.
A nossa alimentação deve ser variada e harmônica baseada no consumo
de todos os grupos alimentares, reunindo escolhas saudáveis ao nosso dia a dia
com alimentos ricos em nutrientes estruturais importantes às nossas células, onde
irão gerar várias substâncias necessárias ao nosso corpo para o desenvolvimento
de um organismo sadio, forte e resistente a doenças.
Através de uma prática pedagógica, como a construção da horta escolar, a
educação pode chamar à reflexão, à criação de um espaço na escola, para que a
comunidade escolar busque a reconstrução e a resolução de seus problemas,
através da união, com envolvimento da coletividade.
Por isso é essencial que a escola dê formação integral para o consumo
consciente de alimentos saudáveis, instrumentalizando-os através de informações
para que possam adquirir uma postura crítica maximizando os recursos
disponíveis na sua comunidade na busca de uma qualidade de vida.
Interessante ressaltar aos alunos que uma alimentação variada auxilia no
bem estar de qualquer pessoa e um prato colorido e harmonioso é sinal de saúde,
e os vegetais são uma ótima opção por serem muito coloridos e por possuírem
grandes quantidades de vitaminas e minerais.
Sabe-se que o Brasil é resultante de diversidade social com desigualdades
de rendas, e que a renda familiar e os preços dos alimentos também influenciam
na inserção de alimentos, na dieta das famílias e que a aquisição de bons hábitos,
de reflexão e o planejamento das despesas permite encontrar caminhos para o
melhor uso do recurso financeiro, sendo um determinante que diferencia na
construção da condição de vida das famílias.
É importante evidenciar a realização das atividades como resultado da
união entre os grupos e a dependência do outro para a efetivação do trabalho em
equipe tornando-os mais unidos, cooperativos, engajados no envolvimento na
realização das tarefas distribuídas e sociabilizando as ideias como forma de
construção da sua identidade, com consciência da sua própria capacidade e
competência (PETTER, 2004).
É necessário que os alunos compreendam que para cultivar hortaliças é
indispensável que o solo seja adequado, equilibrado com os nutrientes
necessários ao desenvolvimento das plantas, observando os organismos vivos
existente no solo, como um ecossistema complexo no qual as substâncias são
indispensáveis para a vida e que percorrem em ciclos, passando das plantas para
os animais e destes para o esterco, para as bactérias do solo e de volta às
plantas. As bactérias que vivem no solo são importantes porque realizam várias
transformações químicas, como o processo de fixação do nitrogênio, que torna o
nitrogênio atmosférico propício ao desenvolvimento dos vegetais.
As minhocas contidas no solo são importantes, pois remexem a terra
arejando-a e deixando-a mais solta e mais fértil para o cultivo devido a produção
de húmus, visto que as minhocas alimentam-se de matéria orgânica como o
esterco.
A horta deverá ser cultivada organicamente, pois a quantidade demasiada
de agrotóxicos tem ocasionado problemas ambientais e alimentares, enquanto
que o uso de esterco e de restos de vegetais devolve a matéria orgânica ao solo
para que o ciclo biológico reinicie (CAPRA, 2002).
O solo é a base do trabalho orgânico. Vários resíduos são integralizados ao
solo, como esterco, restos de verduras e folhas, que são devolvidos aos canteiros
para que sejam decompostos pelos seres decompositores e transformados em
nutrientes para as plantas.
Os microrganismos transformam a matéria orgânica em alimento para as
plantas, tornando a terra porosa, solta, permeável à água e ao ar. O grande valor
da cultura orgânica é promover constantemente o melhoramento do solo, sendo
importante fonte de nutrição para a planta.
Segundo Lobo (2011) há dez principais motivos para se optar por
orgânicos:
1. São mais nutritivos e saborosos.
Com solos balanceados e fertilizados com adubos naturais, se obtém
alimentos mais nutritivos. A comida fica mais saborosa, conservam-se suas
propriedades naturais como vitaminas, sais minerais, carboidratos e proteínas.
Em solos equilibrados as plantas crescem mais saudáveis, preservam-se suas
características originais como aroma, cor e sabor. Consumindo produtos
orgânicos é possível apreciar o sabor natural dos alimentos. Além disso, quando
se utiliza o sistema de rochagem na adubagem o alimento fica mais rico devido a
inserção de minerais essenciais na composição do solo.
2. Saúde garantida - os alimentos orgânicos estão livres de agrotóxicos.
Os agrotóxicos estão associados às várias patologias: cânceres do mais
diversos tipos, alergias alimentares, asma, infertilidade, alterações hormonais
principalmente os sexuais, hiperatividade em adultos e crianças, déficit de
atenção, doenças neurodegenerativas, aumento de produção de radicais livres e
diminuição de antioxidantes e intoxicação por metais pesados.
3. Proteções às futuras gerações - A agricultura orgânica tem a tarefa de
legar às futuras gerações um planeta reconstruído, livre de agrotóxicos.
4. Respeito ao pequeno produtor - adquirindo produtos orgânicos
contribuímos com a redução da migração de famílias para as cidades,
evitando o êxodo rural e ajudando acabar com o envenenamento por
agrotóxicos sofrido por cerca de um milhão de agricultores no mundo
todo.
5. Solos férteis - O mundo presencia a maior perda de solo fértil pela
erosão em função do uso inadequado de práticas convencionais. Com a
cultura orgânica é possível reverter essa situação.
6. Água pura - Quando são utilizados em grandes quantidades de
agrotóxicos e nitrogênio, ocorre a contaminação nas fontes de água
potável. Cuidando desse recurso natural, garante-se o consumo de
água para o futuro.
7. Biodiversidade - A perda de espécies é um dos principais problemas
ambientais. A agricultura orgânica preserva por muitos anos e impede o
desaparecimento de numerosas espécies, incentivando as culturas
mistas e fortalecendo o ecossistema. Assim a fauna permanece em
equilíbrio e todos os seres convivem em harmonia. A agricultura
orgânica respeita o equilíbrio da natureza e cria ambientes saudáveis.
8. Redução de aquecimento global - O solo tratado com substâncias
químicas libera uma quantidade enorme de gás carbônico, gás metano
e óxido nitroso. A agricultura e administração florestal sustentável
podem eliminar 25% do aquecimento global. Atualmente, mais energia
é consumida para produzir fertilizantes artificiais do que para plantar e
colher todas as safras.
9. Custo social e ambiental - O alimento orgânico não é na realidade mais
caro que o alimento convencional, se considerarmos que, indiretamente
estaremos reduzindo gastos com médicos e medicamentos e custo com
recuperação ambiental.
10. Cidadania e responsabilidade ambiental - Consumindo produtos
orgânicos estamos exercitando nosso papel social, contribuindo com a
preservação e conservação do meio ambiente.
É necessário criar comunidades sustentáveis, por isso um trabalho
instituído com a necessidade e o interesse dos educandos desafia e encoraja a
comunidade escolar, fazendo com que mais pessoas se envolvam nessa causa.
O grupo percebe que é possível realizar um trabalho com o apoio de todos,
desde que cada membro exerça a sua função. Capra (2002) sugere uma
alfabetização ecológica para manter nossa vida e bem estar, afirmando que ao
retirarmos do solo nosso sustento, geramos oportunidade de trabalho, dando
início a uma era baseada não no que podemos extrair da natureza, mas no que
podemos aprender com ela.
Para que essa sustentabilidade e qualidade de vida ocorram, a escola
precisa ser o local de transformação, facilitando e reformulando o que é
significativo. Petter (2004) argumenta como expressivo o conhecimento
relacionado à teoria e a prática, vindo de encontro às necessidades da realidade
local.
Segundo Popia et. al. (2007), uma chave importante no cultivo de hortaliças
orgânicas é tratar o solo como organismo vivo. Pois uma vez equilibrado o solo,
as plantas e os animais serão sadios, estarão menos suscetíveis às pragas e
doenças. Muitos fertilizantes minerais são utilizados, mas devem ser naturais.
Não podem ser sintéticos e altamente solúveis. Os sintéticos normalmente
contêm poluentes. Além disso, por serem altamente solúveis ou não orgânicos,
perdem-se facilmente no ambiente, são pouco aproveitados pelas plantas,
causando desequilíbrios nutricionais e poluição do solo, o que resulta no
aparecimento de pragas e doenças.
A partir dessas reflexões, podemos dizer que cabe a escola formar sujeitos
conscientes, críticos, capazes de trabalhar em grupo, defrontar- se e adaptar a
novas situações, responsáveis e aptos a decidir sobre as questões apresentadas,
estabelecendo suas relações com o homem e o ambiente. Assim sendo, torna-se
imprescindível a introdução de novas metodologias que levem o aluno a ser
sujeito da aprendizagem, respeitando o seu contexto, curiosidade e desejo de
realizar atividades em grupo.
Entretanto, a Educação Ambiental torna-se expressivo aos alunos, pois as
atividades desenvolvidas com a construção de horta contribuem com incentivo e
conscientização sobre a importância de consumir hortaliças oportunizando uma
alimentação saudável.
Segundo Nogueira (2005) a horta na escola pode servir de fonte de
alimentação e atividades didáticas, oferecendo grandes vantagens à comunidade
envolvida, como a obtenção de alimentos de qualidade e a baixo custo.
As hortaliças possuem importantes vitaminas e sais minerais que regulam
e auxiliam o bom funcionamento do corpo humano.
O consumo de hortaliças deve atender as necessidades de alimentação do
homem. Assim é aconselhável servir mais de um tipo de hortaliça por refeição,
todos os dias (EMATER, 2000).
É muito importante que o educando tenha consciência de uma alimentação
correta para desenvolver-se totalmente. Em uma pequena área, com a instalação
de uma horta é possível produzir diversas hortaliças o ano todo, com alimentos
sadios em todas as refeições.
De acordo com Salgado (2009) estudos evidenciam que o consumo de
frutas, verduras e legumes podem melhorar a aprendizagem, a memória e o
raciocínio de pessoas saudáveis, além da redução de riscos de doenças.
3 - MATERIAIS E MÉTODOS 3.1- METODOLOGIA
Inicialmente foi realizada uma sondagem com os alunos do 6º ano A do
Colégio Estadual Lourdes Alves Melo durante o intervalo do recreio e na
distribuição da merenda escolar através de observação do professor. Foram
aplicados questionários diversificados sobre os gostos alimentares onde foi
detectado que os alunos preferiam consumir guloseimas a consumir alimentos
ricos em proteínas e vitaminas necessários a manutenção e desenvolvimento do
seu corpo, influenciadas pela mídia e consumismo alimentar, assim sendo teve
como ponto de partida a abordagem sobre a construção de uma horta com a
promoção e a inclusão de alimentos saudáveis na merenda escolar.
Diante da problematização, introduziu-se a construção conceitual, a partir
de alguns conceitos e noções com temáticas relacionadas ao estudo, abordando
os conteúdos específicos com a realização de atividades práticas como a
construção da horta orgânica, numa perspectiva investigativa e participativa de
acordo com a realidade local, buscando uma aprendizagem significativa.
Os temas abordados no decorrer do desenvolvimento do projeto
englobaram leituras temáticas de revistas, apresentação de vídeos sobre a
origem das plantas, confecção de cartazes com recortes de figuras, colagem de
textos, pesquisas, atividades lúdicas (quebra- cabeça, dominó, cruzadinha, caça-
palavras, criação de personagens como espantalhos), atividades experimentais,
preparação de soluções caseiras no combate às pragas realizadas no laboratório,
oficinas culinárias com elaboração de receitas, apresentação do espaço e das
ferramentas utilizadas na construção da horta orgânica, preparação dos canteiros,
produção do adubo orgânico, escolha e plantio das hortaliças.
4- RESULTADOS E DISCUSSÕES
Percebe-se que com a implementação do projeto sobre a horta orgânica no
Colégio, a qualidade e diversidade de alimentos saudáveis e frescos inseridos no
cardápio da merenda escolar ampliaram , estimulando os alunos a consumirem as
verduras e legumes produzidos por eles horta orgânica e levando-os a disseminar
o conhecimento e prática adquiridos no projeto fora do contexto escolar, pois
muitos alunos implantaram hortas orgânicas em suas residências, melhorando
assim a alimentação e a qualidade de vida também de seus familiares.
Neste contexto, demonstram a importância que este espaço pode
desempenhar, contribuindo assim para o ensino e aprendizagem, tanto para
inserção ao consumo de alimentos, como para uma consciência ambiental,
sustentável e alimentar, além de diversas outras vantagens, como geração de
renda às famílias que implementaram a horta doméstica, cidadania, vivência em
comunidade, melhoria na qualidade de vida dos alunos e familiares,
oportunizando uma melhor alimentação e contato com a natureza.
Houve socialização de alunos, funcionários e pais na implementação da
horta orgânica, com participação ativa de todos os integrantes da comunidade
escolar com intercâmbio de conhecimentos e experiências, permitindo inferir um
ambiente educativo.
As atividades realizadas na horta contribuiu para incentivar os educandos o
consumo de hortaliças consideradas por eles como não aceitáveis, mostrando de
maneira lúdica as contribuições que as hortaliças podem trazer através de uma
alimentação saudável e bom desempenho escolar.
Nesse sentido ressalta-se que a horta escolar é um ambiente para que
aprendam os benefícios de formas de cultivo e alimentação saudáveis.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades planejadas foram cumpridas em fases distintas em que o
projeto se desenvolveu e constituíram um importante aprendizado para todos os
envolvidos do grupo de forma significativa para a formação integral do aluno, visto
que a temática abordada englobou diferentes áreas de conhecimento e pode ser
desenvolvido durante todo o processo de ensino aprendizagem, através de vastas
aplicações pedagógicas com situações reais, envolvendo educação ambiental e
alimentar, conduzindo os educandos a uma reflexão e conscientização.
Entretanto, cabe salientar que o processo de transição para sistemas
sustentáveis de produção de hortaliças e a adoção de hábitos alimentares
saudáveis tal como proposto, não se realiza em curto prazo.
Seria necessário mais tempo para coletar dados e monitorar a horta
escolar como um todo, observando-se as mudanças ocorridas ao longo do tempo,
em relação a todos os fatores de produção (solo, água, energia, preparação e uso
de soluções caseiras no combate às pragas, compostagem, condições climáticas
e manutenção), qualidade da produção (incidência de pragas e doenças e
conteúdo nutricional, rendimento econômico e mudanças de atitudes quanto a
alimentação equilibrada).
Pode-se constatar que uma pequena horta, mesmo em se tratando de um
espaço muito restrito para avaliar o funcionamento do sistema orgânico de
produção de hortaliças e mudanças de hábitos alimentares, proporcionou
elementos importantes para se realizar uma análise sobre o potencial de
aplicabilidade das práticas, bem como os conceitos e conhecimentos adquiridos
para o seu cotidiano.
Houve grande interesse e participação de todos os integrantes envolvidos
no processo. Os objetivos foram alcançados, considerando que as atividades
foram organizadas e elaboradas de forma a garantir um efetivo comprometimento
versando situações cotidianas do educando, tornando a aprendizagem prazerosa
incitando-os a construir hortas em suas residências a fim de consumir alimentos
saudáveis, frescos e de baixo custo.
Por fim, com este trabalho, constatou-se que o ensino de ciências garante
ao educando consciência quanto ao consumo saudável e sustentável,
possibilitando mudanças de atitudes, qualidade de vida, estímulos a construção
de hortas orgânicas no espaço familiar e segurança na aplicabilidade dos
conhecimentos práticos e teóricos.
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