GOVERNANÇA DE REDES DE STAKEHOLDERS: ANÁLISE DAS …
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GOVERNANÇA DE REDES DE
STAKEHOLDERS: ANÁLISE DAS
CONDIÇÕES DE CONTRIBUIÇÃO PARA
O DESENVOLVIMENTO REGIONAL
SUSTENTÁVEL
Patricia Almeida Ashley
UFF
Gislaine Garbelini
UFF
Resumo Este artigo apresenta resultados parciais de pesquisa em andamento
que objetiva analisar a governança da rede de stakeholders quanto às
condições de sua contribuição para o desenvolvimento regional
sustentável. A pesquisa se classifica como qualitativa do tipo
exploratória-descritiva e será desenvolvida por meio de pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. Apresenta-se o referencial
teórico - com foco em teoria dos stakeholders, redes organizacionais,
governança corporativa orientada por valores para a sustentabilidade
e indicadores de sustentabilidade regional, a partir da qual é possível
identificar os pontos fundamentais para a construção de uma proposta
de modelo conceitual analítico de governança de redes de stakeholders
- Modelo GovRedes. Em uma segunda etapa, a pesquisa aplicará e
validará o Modelo GovRedes em um estudo de caso cujo objeto é o
Centro de Excelência Ambiental da Petrobras na Amazônia - Ceap
Amazônia.
Palavras-chaves: Governança. Redes. Stakeholders. Desenvolvimento
sustentável.
2, 3 e 4 de Julho de 2009
ISSN 1984-9354
V CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Gestão do Conhecimento para a Sustentabilidade
Niterói, RJ, Brasil, 2, 3 e 4 de julho de 2009
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1. CONTEXTO E SITUAÇÃO PROBLEMA
Este artigo é decorrente de uma pesquisa de mestrado em andamento que visa a
consolidar um diagnóstico sobre quais as potencialidades de contribuições da governança de
redes de stakeholders para a promoção do desenvolvimento sustentável na região da amazônia
brasileira. A suposição inicial é que aspectos de boa governança de redes de stakeholders
podem contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável.
Para tanto, parte-se do reconhecimento de que as organizações passam continuamente
por necessidades de adaptações internas como mudanças gerenciais, reestruturações, novas
tecnologias de produção e logísticas, entre outros. Entretanto, cada vez mais, as mudanças do
cenário externo impactam o desempenho e a própria existência de todos os tipos de
organização. Com essas mudanças, é evidente que as empresas precisam se adaptar a novas
formas de gerenciar, produzir, consumir e, também, de se relacionar. Tais temáticas vêm
sendo amplamente discutidas por estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento.
No que tange à teoria de stakeholders, muitos estudos estão focados em grupo
específico, outros têm maior abrangência ao tratar de múltiplos stakeholders associados ao
existir organizacional. A temática de redes também é abordada em diversos estudos
organizacionais, principalmente voltados para as vantagens competitivas e para as novas
relações de produção que elas podem gerar. Eles abordam, prioritamente, ganhos na
performance de produção, redução de custos e aumento de lucratividade.
Entretanto, as pesquisas recentes sobre redes de stakeholders não se voltam a
investigar como promover transformações na governança de redes, resultando na criação de
valores capazes de contribuir para a sustentabilidade. Dessa forma, um arcabouço teórico
bastante rico e vasto aborda as questões de governança corporativa e redes de stakeholders,
mas sem correlacioná-las ao desenvolvimento sustentável, assunto este que também é
amplamente discutido em pesquisas científicas sobre diversos aspectos, mas não ao qual esta
pesquisa se propõe.
Busca-se, portanto, preencher uma lacuna de conhecimento ao analisar as temáticas
sob uma nova perspectiva teórica. Para isso, será proposto um modelo conceitual analítico a
ser aplicado em estudo de caso sobre o Centro de Excelência Ambiental da Petrobras na
Amazônia (Ceap Amazônia).
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1.1. OBJETIVO
Propor um modelo conceitual analítico que, após aplicação, aponte indicadores sobre
as possibilidades de contribuições da governança de rede de stakeholder para o
desenvolvimento sustentável de uma região. Para tanto, cumpre-se o objetivo específico de
analisar os seguintes referenciais teóricos: teoria de stakeholders, teoria de redes
organizacionais, governança corporativa e indicadores de desenvolvimento sustentável
regional.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Com as constantes necessidades de adaptações internas e externas pelas quais as
organizações passam, ganham relevância estudos voltadas a investigar as novas formas de
gerenciar, de produzir, de consumir e, principalmente, as novas formas da organização se
relacionar com seus stakeholders em todas as dimensões: interna (com seus funcionários), de
consumo (com seus fornecedores e consumidores), política (com o governo, por exemplo),
institucional (com a imprensa, parceiros e comunidade), econômica (com investidores e fontes
de financiamento), entre outros. Tal realidade exige que as organizações expandam seus
relacionamentos para além dos públicos diretamente relacionados a seus negócios
(investidores e funcionários), expandindo-se da gestão “intramuros” para compreender a
importância dos stakeholders em todas as dimensões do negócio.
Em uma breve retrospectiva da teoria da administração, baseada nos estudos de
Chiavenato (1999), é possível apontar como as organizações evoluíram ao longo dos anos: de
uma preocupação focada unicamente em volume de produção, para a incorporação de diversas
outras variáveis como, por exemplo, a padronização e a qualidade.
Desde a administração clássica à contingencial, os objetivos precípuos eram a
sobrevivência organizacional vista, inicialmente, de maneira isolada e apenas pelo viés
econômico (CHIAVENATO, 1999). Ao longo de dois séculos, pressionadas por movimentos
externos, as organizações implementam um “movimento de abertura de portas”, impulsionado
pelos cenários de época em que cada abordagem surgiu e se desenvolveu.
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Todas as abordagens da teoria da administração refletem aspectos da realidade social
nas quais se desenvolveram, tornando-se obsoletas com o passar do tempo e com as mudanças
no cenário econômico, político e social em que as empresas operam. No contexto atual,
Belasen (2009) define as organizações como sistemas abertos e contraditórios, no sentido que
1. operam em um ambiente com ampla multiplicidade de stakeholders com interesses e poder
de barganha diferentes, 2. têm interdependência de outras organizações; 3. enfrentam a
complexidade da interação com esses atores, que pode ser do tipo regulatória, competitiva e
colaborativa. Segundo o autor, as organizações enfrentam o desafio de operar sob pressões
contraditórias, a depender dos stakeholders a que se referem como, por exemplo, interesse
pela flexibilização versus o controle, pela inovação versus a estabilidade, pelo investimento
versus a distribuição de dividendos, entre outros.
A sociedade, balizadora de todas as transformações no cenário empresarial, também
apresenta novas agendas e prioridades com o passar do tempo. A preocupação com temas até
então tido como acadêmicos - como biodiversidade, mudanças do clima e desenvolvimento
sustentável - ganha projeção como reconhecimento do impacto das ações de hoje para as
futuras gerações. Os negócios passam a ser analisados por variáveis que extrapolam a
dimensão econômica.
Assim, o ambiente organizacional não pode mais ser visto apenas como fornecedor de
matéria-prima e consumidor de produtos e serviços, pois a atuação empresarial responsável
supera os limites de produção e passa a “lidar com as expectativas de seus stakeholders atuais
e futuros, na visão mais radical de sociedade responsável” (ASHLEY, 2006, p. 47). Assim, de
acordo com a autora, a definição de empresa ganha uma nova perspectiva, as organizações
passam a ser vistas como gestoras de relações negócio-sociedade, cabendo a elas buscar o
equilíbrio de interesses para que estejam voltadas à sustentabilidade em suas dimensões
econômica, ambiental e social.
2.1. TEORIA DE STAKEHOLDERS E O CONTEXTO
CONTEMPORÂNEO DAS ORGANIZAÇÕES
As primeiras noções conceituais de stakeholders são atribuídas a Freeman que sugere
a seguinte definição: “inclui qualquer grupo ou indivíduo que possa afetar ou ser afetado
pelos objetivos organizacionais” (FREEMAN, 1984, p.174). Nessa definição, os stakeholders
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podem ser considerados como todas as partes interessadas nos rumos estratégicos da
organização, em uma relação de influência mútua.
Desde então, vários autores contribuíran para transformar a temática em um “corpo
teórico que permita entender as organizações não apenas a partir do ponto de vista dos
proprietários ou acionistas controladores (shareholders), como também dos inúmeros atores
que, direta ou indiretamente, são impactados por suas atividades” (ALMEIDA; FONTES
FILHO; MARTINS, 2000, p. 2).
Thompson et al (1991) consideram stakeholder como qualquer ator (pessoa ou grupo)
que tenha relação ou interesses (diretos ou indiretos) com ou sobre a organização. Outros
autores como Bowie (1988) e Hill & Jones (1998) utilizam uma definição mais restrita de
stakeholders, definindo-os como atores ou categorias de atores portadores de interesses e
expectativas e sem os quais a organização não seria possível.
Na evolução da temática, parte-se para a identificação e a classificação dos
stakeholders. Mitchell, Agle e Wood (1997) propõem três atributos para definir quem e o quê
se considerar na identificação de stakeholders: a) o poder para influenciar a firma; b) a
legitimidade das relações; c) o impacto de suas exigências sobre a organização. Depreendem-
se, daí, os papéis e forças de cada segmento nas relações com a organização.
Athkinson e Waterhouse (1997) propõem uma classificação de stakeholders em
primários e secundários. Os primários seriam aqueles sem os quais a organização não
sobreviveria (os acionistas, empregados, fornecedores e consumidores). Os stakeholders
secundários também teriam relevância, mas sem comprometer a existência da organização
(comunidade, governo e outras organizações). Vale ressaltar que tal definição não considera o
aspecto circunstancial ao qual as organizações estão sujeitas, pois a reação da comunidade a
um processo poluente de uma empresa pode, por exemplo, ser fato gerador de mobilização de
outros stakeholders, como governo, imprensa e consumidores, comprometendo, assim, a
existência da organização.
Quando se trata da análise ampliada dos ambientes, Pinto e Oliveira (2004) destacam
que as organizações estão submetidas às pressões de ordem tecnológica, econômica, política,
sendo, portanto, avaliadas tanto pela eficiência econômica quanto pela adequação às
exigências sociais. Assim, a operação das organizações é suportada por meio da legitimidade
conferida pelas relações que estabelecem com seus stakeholders (STAINER; STAINER,
1998). No âmbito socioambiental, essa busca de legitimidade é ainda mais relevante, em
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função da tradicional militância que o tema desperta na sociedade. Nesse contexto, o conceito
de stakeholders se torna ainda mais amplo e complexo, em virtude da heterogeneidade de
atores, causas e interesses envolvidos.
A forma de se relacionar é determinante para o tipo de posicionamento das empresas
frente aos seus stakeholders, principalmente no que se refere às práticas voltadas à
responsabilidade social e à sustentabilidade. Com o movimento de busca de diálogo, as
características internas das organizações se juntam aos fatores externos para definir os
atributos mais relevantes de como ela é vista, ou seja, de como sua reputação é formada:
O posicionamento de cada empresa estará associado aos princípios e valores da
cultura dominante em sua gestão e do perfil cultural e legal do contexto em que ela
realiza suas operações de negócio, refletindo-se na orientação estratégica para a
responsabilidade social empresarial. (ASHLEY, 2006, p.111).
Mapear públicos, identificar seus interesses e papéis, estabelecer diálogo e co-
responsabilização, gerir e administrar esses relações é, portanto, essencial para a construção
de relacionamentos capazes de suportar a busca pelo equilíbrio entre desempenho
organizacional e desenvolvimento sustentável.
2.2. TEORIA DE REDES APLICADA ÀS ORGANIZAÇÕES: REDES DE
STAKEHOLDERS
A partir do levantamento sobre a teoria de stakeholders e o contexto contemporâneo
das organizações, parte-se, então, para a compreensão de como articular, estrategicamente, os
interesses dos stakeholders em um arranjo de redes capaz de estabelecer uma relação ganha-
ganha voltada para a promoção do desenvolvimento sustentável.
Há diversas definições sobre o que seja uma rede. Para Castells (2002) ela pode ser
definida como um conjunto de nós interconectados, onde as relações resultam em
rompimentos de fronteiras, flexibilização de estruturas hierárquicas e integração de
atividades. Cada nó da rede é descrito por Stewart (1998) como os agentes que a compõem,
sendo alocados de maneira individual, mas interdependente. Ainda segundo Castells (2002), a
formação e o desempenho de uma rede dependem de dois aspectos: da conectividade –
capacidade de comunicação sem ruído entre os componentes, e da coerência – alcance de um
planejamento comum que compartilhe os objetivos da rede e de seus atores.
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Marteleto (2001) resume as diversas significações que o conceito de rede pode ter:
sistema de nós e elos, estrutura não delimitada, comunidade não geográfica, representação
gráfica de um sistema semelhante a uma árvore. Na visão da autora, é preciso considerar as
relações de poder que advêm dessa nova estrutura de organização não-hierárquica e
espontânea, com vistas a entender até que ponto a dinâmica do conhecimento e da informação
interfere em seus processos.
Segundo Gatto, “a rede social, derivada desse conceito, passa a representar um
conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e
interesses compartilhados” (GATTO, 2007, p.5). O autor estabelece que as motivações para o
desenvolvimento de redes podem ser associadas a assuntos mais globais, nacionais, regionais,
estaduais, locais e comunitários, mas, independente da abrangência, a participação em rede
envolve direitos, responsabilidade e tomada de decisões.
No âmbito organizacional, recentes estudos estão focados prioritariamente nas
vantagens competitivas e nas novas relações de produção que as redes podem gerar. São
exemplos dessa linha de pesquisa autores como Perim e Zanquetto Filho (2007), Carona,
Pereira e Csillag (2007), Vale (2007), Marchi, Junior e Gregori (2007), Oliveira e Cândido
(2007). Outros estudos abordam vieses diferenciados como a promoção da qualidade de vida
(CRUZ; MUGNAINI; MARTINS, 2007) e a flexibilização do trabalho (PICCININI;
OLTRAMARI; OLIVEIRA, 2007). “Os exemplos mais comuns de redes organizacionais
encontrados na literatura administrativa são: a indústria têxtil italiana, a indústria automotiva
japonesa, entre outros.” (CRUZ; MUGNAINI; MARTINS, 2007, p.3). No entanto, não há,
ainda, aprofundamento teórico sobre como as redes de stakeholders podem contribuir para o
desempenho organizacional voltado para a promoção do desenvolvimento sustentável.
Marchi, Junior e Gregori (2007) citam uma pesquisa realizada em redes empresariais
dos Estados Unidos em que Human e Provan (1997) classificaram em dois grupos os
resultados obtidos por empresas que atuam em redes: resultados transacionais – que
promovem ganhos de performance e aquisição de recursos, reduzindo custos - e
transformacionais que promovem mudanças na forma de conduzir, resultando em criação de
valor. Como destacam Marchi, Junior e Gregori (2007), embora as empresas busquem
prioritariamente ganhos com redução de custos, são os resultados transformacionais que
promovem inovações e tornam os negócios sustentáveis em longo prazo. É possível, então,
inferir que esses resultados devam ser buscados pelas organizações que se preocupam com a
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responsabilidade social e com o desenvolvimento sustentável dos seus negócios e da
sociedade.
Conforme ressaltam Reyes Junior e Borges (2007), grande parte da literatura sobre
redes de empresas destaca a necessidade da confiança como pré-requisito para seu surgimento
e manutenção. Os autores também abordam a questão da coesão, tratada como sinônimo de
união entre os integrantes da rede, postulando que, quando se trata de percepção de tamanho,
as empresas que se percebem similares estabelecem relações de confiança mais facilmente.
Em uma visão de rede de empresas, Snow, Miles e Coleman (1992) propõem três
tipos de configuração: 1. interna (formada por empresas que não recorrem à terceirização, mas
cujas unidades de negócio devem fazer valer os preços de mercado nas transações efetuadas
entre si, como se fossem independentes); 2. estável (permite terceirização para conseguir
flexibilidade, e apresenta muitas empresas reunidas em torno de um negócio e de uma
empresa líder); 3. dinâmica (empresas líderes recorrem quase totalmente à terceirização).
Casarotto e Pires (2001), apresentam dois tipos de redes: 1. conhecidas como
topdown: são redes nas quais as pequenas organizações dependem das estratégias de uma
empresa-mãe, sem poder de influenciá-la. 2. sistema flexível de organizações: onde empresas
se unem por consórcio no qual a relação cultural é altamente relevante e seus objetivos são
orientados pelos modelos de desenvolvimento regional.
Wegner, Wittmann e Dotto (2006) sintetizam os principais benefícios da estrutura de
rede em: aprendizagem, compartilhamento de informações e de conhecimentos, ganhos de
legitimidade, status e melhoria da performance financeira e de gestão.
Marchi, Junior e Gregori (2007, p.6) resumem as evidências de criação de valor
geradas pela aprendizagem conjunta das redes como: 1. Melhorias: nas habilidades de
administrar recursos e pessoas; de produtos, processos e serviços; no ambiente de trabalho; na
imagem da organização. 2. Inovações: na maneira de pensar e organizar o trabalho; no
desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços; na superação de problemas com
idéias inovadoras. A dificuldade apontada pelos autores refere-se à identificação das trocas e
geração de valor, pois, em muitos casos, as empresas que compõem a rede têm objetivos
diferentes, como por exemplo, uma busca redução de custos enquanto outra se preocupa com
a inovação tecnológica. Nesse caso, é preciso estar disposto a gerar conhecimento coletivo e
transpor os interesses meramente individuais pela busca do bem comum.
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Embora haja diversas vantagens de se atuar em redes, essa estrutura enfrenta algumas
dificuldades de gestão e governança. Cruz, Mugnaini e Martins (2007, p.4) destacam que “o
equilíbrio entre pouco gerenciamento e pouca produtividade versus muito gerenciamento e
destruição de caráter informal, que possibilita a operação interorganizacional em forma
colaborativa, é o principal desafio da gestão de redes”. Para eles, a superação desse conflito
exige um sistema gerencial intermediário que congregue a formalidade necessária aos
negócios com a flexibilidade e adaptabilidade que a rede requer.
Volpon e Macedo-Soares (2007, p. 409) destacam a dificuldade de gestão das redes,
ao diagnosticar que as principais fraquezas de uma organização estudada pelos autores
“estavam concentradas na dimensão de gerenciamento da rede, relativas ao processo de gestão
de mudanças e à sua pouca experiência em alianças sociais, classificadas como fraqueza real e
potencial, respectivamente”. Com isso, é possível inferir que a governança de redes é assunto
relevante que ainda carece de aprofundamento, principalmente quando se tratam de redes
transformacionais voltadas para assuntos complexos como meio ambiente e desenvolvimento
sustentável.
2.3. GOVERNANÇA VOLTADA A REDES DE STAKEHOLDERS:
INSTRUMENTO PARA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (INSTITUTO BRASILEIRO...,
2007) entende como governança corporativa o sistema de princípios e processos pelos quais
as empresas são controladas e administradas. Nele, o conselho de administração é a referência
central do sistema que também é composto por: acionistas, executivos da empresa, auditoria
independente e stakeholders (associações, sindicatos, fornecedores, funcionários e outros
grupos que possuam influência na gestão da empresa).
Governança corporativa também pode ser definida como “a participação de vários
participantes na determinação da direção e performance de corporações,” (MONKS; MINOV,
2001, p.1). Os autores elencam três participantes primários: os acionistas, o conselho de
administração e os administradores (em especial o presidente executivo). Além desses, citam
os empregados, os consumidores, os fornecedores, os agentes financeiros e a comunidade.
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Para Alves (2001, p.81) o conceito de governança é difuso “podendo ser aplicado
tanto a métodos de gestão da empresa (governança corporativa) quanto a meios de
preservação do meio ambiente (governança ambiental) ou formas de combate ao suborno e à
corrupção de funcionários públicos (governança pública)”.
Há vários modelos de governança que variam de um país a outro. Quanto ao modelo
praticado no Brasil, Carlsson (2001) defende que, a exemplo do modelo latino, há forte
concentração da propriedade nas mãos de poucos acionistas e ou de um único líder. Nesse
modelo, o Estado também tem participação direta nas empresas, seja como proprietário ou
como regulador das atividades produtivas. Bertero (2000) destaca que para entender o modelo
de governança brasileiro é preciso considerar os aspectos de sociedade patriarcal, oligárquica
(na qual as empresas são tratadas como patrimônio da família) e com grandes desigualdades
entre as classes sociais.
Ashley e Macedo-Soares (2007, p.7) defendem que é preciso incorporar a “filosofia da
responsabilidade social à governança das transações negócio-sociedade percorrendo toda a
rede de stakeholders para que o próprio conceito de responsabilidade social nos negócios seja
sustentável, no sentido de sua reprodução ampliada, no contexto de economia de mercado”.
Campos (2003) reitera que a questão principal desse debate é tornar viável a administração de
stakeholders embasada em princípios éticos, de gênero ou ecológicos.
A estrutura de governança presente hoje nas organizações privilegia interesses dos
shareholders, pois são os representantes destes que estão no poder e se perpetuarão
nele. A possibilidade, então, passa a ser uma administração de stakeholders imposta
pela ação regulatória governamental. Apesar dessa possibilidade estar presente, com
a implantação no caso brasileiro do Código de Defesa do Consumidor e de leis
ambientais, não parece possível que a ação governamental possa regular uma gama
tão ampla de ações empresariais. (CAMPOS, 2003, p. 11)
A evolução da governança e da cidadania empresarial depende de uma série de
transformações que envolvem os indivíduos (com a superação de padrões de comportamento
oportunista por padrões de comportamento responsável), as organizações (com a adoção de
códigos consensuais de cidadania empresarial e de mecanismos confiáveis de verificação) e,
principalmente, as relações que entre eles (indivíduos/organizações) se estabelecem – com
métodos de gestão capazes de conciliar os anseios diversos e, porventura conflitantes, da
sociedade civil. (ALVES, 2001).
Dessa forma, conclui-se que as relações em rede com stakeholders - que envolvem
aspectos como cooperação, eqüidade, responsabilidades, engajamento e transparência – são
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fundamentais para o estabelecimento de uma estrutura propícia à governança e à cidadania
empresarial voltadas para a promoção do desenvolvimento sustentável, tanto em uma
dimensão local, quanto regional ou nacional.
2.4. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
As organizações somente podem trilhar o caminho da responsabilidade social se
considerarem que seus negócios estão intrinsecamente atrelados a uma rede de stakeholders
que a influenciam e são por ela influenciados. Trata-se da expansão de uma visão focada nos
acionistas (shareholders), para uma visão que considera todos os agentes, atores ou partes
interessadas (stakeholders) que explica a razão de ser da atuação organizacional: empregados,
clientes, fornecedores, comunidade, governo, imprensa, entre outros.
Essa visão mais completa da responsabilidade social comporta as necessidades tanto
organizacionais (considerando as relações e ambiente onde atua) quanto da sociedade
(considerando as principais demandas sociais). Com ela, é viável tratar de aspectos
sustentáveis do negócio, pois suscita discussões que vão além da relação de lucro empresa-
acionista, levando em consideração, por exemplo, o equilíbrio ambiental como uma demanda
da sociedade.
No que se refere às questões ambientais, de acordo com Mikhailova (2004), a
economia ambiental e a economia dos recursos naturais foram importantes passos na
incorporação do meio ambiente às preocupações organizacionais. Entretanto, por se basear na
teoria econômica neoclássica, elas não proveram solução a diversos problemas,
principalmente aqueles voltados para o desenvolvimento sustentável.
A economia neoclássica postula, conforme Mikhailova (2004), o conceito de
sustentabilidade fraca, segundo a qual os custos de degradação ambiental podem ser
compensados pelos benefícios econômicos, mensurados em unidades monetárias.
A economia ecológica apresenta evolução em relação às ciências acima citadas, pois,
segundo Constanza (1994 apud MIKHAILOVA, 2004), a economia ecológica tem como
objetivo o desenvolvimento sustentável. Nela, defende-se o conceito de sustentabilidade forte,
no qual as perdas ambientais não podem ser compensadas pelos benefícios econômicos.
“Baseia-se na comparação entre o nível sustentável de consumo do capital natural e seu nível
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esperado daqui a 40-50 anos. A partir desta comparação, os índices relativos à redução
desejável do consumo de capital natural são calculados.” (MIKHAILOVA, 2004, p. 32).
Nesse sentido, ao contrário das economias clássica e neoclássica, a economia
ecológica se sustenta no fato de que se todos os agentes seguirem um objetivo micro, não
chegarão à realização de um objetivo macro. Trata-se, portanto, de uma questão de coerência
entre a relação de produção e comercialização de bens e serviços que garantem a existência
das empresas (variável econômica) e as relações organizacionais com os diversos públicos
(variável social), contextualizadas em uma relação responsável com o meio ambiente
(variável ambiental).
O conceito de desenvolvimento sustentável foi definido em 1987 pelo Relatório
Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da
ONU, como: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND,
1991, p. 46). Em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD), o desenvolvimento sustentável ganhou o viés de conciliação
do desenvolvimento socioeconômico com a preservação ambiental, ou seja, insere-se a
preocupação com a melhoria da qualidade de vida das pessoas – pela vertente econômica e
social - ao mesmo tempo em que se destaca o fator ambiental como balizador de crescimento,
visando a não comprometer as necessidades das gerações futuras. Assim, chega-se à definição
de desenvolvimento baseado no triple bottom line: crescimento econômico, justiça social,
equilíbrio ambiental (ELKINGTON, 1997).
Nesse sentido, faz-se necessário que a sociedade, em todas as suas instâncias -
governos, empresas e sociedade civil organizada, volte-se para uma nova relação de produção
e consumo orientada para o uso racional dos recursos naturais, de forma a não exaurí-los seja
no momento da produção (extração de recursos naturais finitos, contaminação do solo, do ar
ou da água), no momento do consumo (evitando a relação de consumo desmedido e
imediato), ou no momento do descarte (reciclagem, destinação dos resíduos industriais e
domésticos, entre outros).
No âmbito empresarial, o desenvolvimento sustentável pode ser promovido, no que
tange aos seus processos internos, de várias formas. Sousa (2006) destaca quatro delas: a
produção mais limpa (P+L), a ecoeficiência, o ecodesign e a sobrevivência sustentável.
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Para quaisquer dessas formas, as organizações empresariais têm papel fundamental
na promoção do desenvolvimento sustentável, desde que atuem de maneira socialmente
responsável tanto na sua forma de produzir quanto de se relacionar e considere os interesses
dos diversos stakeholders, garantindo condição de qualidade de vida às futuras gerações.
Entretanto, as organizações, por si só, não são capazes de implementar tais mudanças
isoladamente. Há que se considerar os papéis dos diversos atores sociais na promoção do
desenvolvimento sustentável, na medida em que todos têm condições de incorporá-lo em seus
próprios segmentos e, mais ainda, de influenciar e pressionar as empresas para que o
incorpore em suas práticas de gestão e em sua cultura organizacional. “Contudo, o
atingimento deste novo modelo apenas será alcançado com a interação dos diversos agentes
por meio de um ambiente de cooperação social”. (SOUSA, 2006, p. 92).
Nesse sentido de responsabilização e engajamento de vários setores da sociedade,
destacam-se duas propostas para operacionalizar a promoção e a avaliação do
desenvolvimento sustentável: a Agenda 21 e os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
(IDS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nessas duas iniciativas, são
destacados as dimensões econômica, ambiental, social e institucional (esforço e capacidade
institucional) do desenvolvimento sustentável, além de se considerar a atuação de diversos
atores, como o governo, as empresas e a sociedade civil organizada. A Agenda 21 e os IDS
embasam a proposição do modelo conceitual analítico descrito no item 5 e que será aplicado
em estudo de caso na próxima etapa de pesquisa.
3. MÉTODO
A classificação deste estudo toma como base a taxonomia proposta por Vergara
(2007). Quanto aos fins, classifica-se como pesquisa exploratória – que tem natureza de
sondagem para buscar um maior conhecimento sobre um dado problema - e descritiva, pois
expõe característica de um determinado fenômeno, podendo estabelecer correlações entre suas
variáveis. Para viabilizar a execução deste trabalho no prazo estabelecido, a pesquisa
exploratória terá corte transversal único, pois as informações serão coletadas somente uma
vez, permitindo amostras únicas ou múltiplas (MALHOTRA, 2002).
Quanto aos meios de investigação, a pesquisa se classifica como um estudo de caso,
pois, conforme postula Yin (2001, p.32), esse método é indicado quando se trata de “um
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fenômeno dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. O objeto do estudo de caso da
pesquisa será o Ceap Amazônia. Tal opção se deve ao fato de o Centro ser uma rede que tem
como missão a busca pela excelência em sustentabilidade socioambiental das atividades da
Petrobras (empresa mantenedora da rede) na Amazônia, tendo como forma de atuação a
cooperação para pesquisa em benefício dos resultados da Companhia, de seus parceiros e da
sociedade. Desta forma, o Centro apresenta características temáticas e estruturais apropriadas
para os objetivos da pesquisa, inclusive para aplicação do modelo proposto.
Por fim, a pesquisa também pode ser classificada como qualitativa, por se considerar,
de acordo com o que postula Minayo (1994), que permite estudar mais profundamente as
relações estabelecidas entre variáveis de um mesmo problema.
O universo da pesquisa é o total de players que compõem a rede do Ceap Amazônia, a
saber: Petrobras (empresa mantenedora), universidades, centros de pesquisa, governos,
comunidades, agentes econômicos, entidades da sociedade civil, investidores e outros grupos
de interesse da atividades petrolífera na região.
Como o foco do estudo é a governança da rede, a seleção da amostra se dará por
tipicidade entre os sujeitos mais diretamente envolvidos em seu planejamento e gestão, ou
seja, serão selecionados indivíduos de cinco áreas específicas da Petrobras pois são elas, em
última instância, as responsáveis pela governança da rede. A seleção das áreas da Companhia
mais diretamente envolvidas permitirá investigar as variáveis tratadas no modelo. Como
sugestão para futuras pesquisas, poderão ser investigadas as mesmas e/ou novas variáveis sob
a ótica dos outros integrantes da rede.
Nesse sentido, a amostra será não probabilística (ou seja, que não se baseia em
procedimentos estatísticos) e selecionada por tipicidade, o que significa, segundo Vergara
(2007), que serão escolhidos os sujeitos considerados representativos da população-alvo. Isso
é possível, segundo a autora, quando há conhecimento prévio da população por parte do
pesquisador.
Será utilizado um formulário com perguntas abertas - que será pré-testado antes da sua
aplicação – sendo aplicado diretamente pelo pesquisador de maneira individualizada.
Para o tratamento dos dados será utilizada a técnica qualitativa de análise de conteúdo
que, conforme Bardin é um:
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(...) conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
(BARDIN, 1977, p.42)
O trabalho utilizará as três etapas recomendadas pelo autor para utilização da técnica,
a saber: 1. pré-análise: revisão e organização dos dados coletados; 2. descrição analítica:
leitura aprofundada do material, considerando as relações entre os três temas abordados no
formulário e suas respectivas variáveis; 3. interpretação referencial: interpretação dos dados
da pesquisa à luz das conexões possíveis entre a teoria, o modelo proposto e o estudo de caso
do Ceap Amazônia.
A grade de análise será mista, ou seja, as categorias do objeto de pesquisa serão
definidas a priori com base no referencial teórico, mas com possibilidade de alterações
(inclusão, exclusão, realocação) no decorrer do processo de análise. (VERGARA, 2007).
Há algumas limitações do método que precisam ser destacadas como forma de
delimitar o escopo do estudo e apontar sugestões para novas pesquisas. Destaca-se o fato de
os sujeitos da pesquisa estarem restritos aos principais responsáveis pela gestão e governança
da rede do Ceap Amazônia. Tal limitação não compromete os resultados da pesquisa, pois as
variáveis que se pretende investigar estão focadas na governança da rede. Outra limitação se
refere ao corte transversal único, pois as informações serão coletadas somente uma vez, o que
pode dificultar a generalização dos resultados e a reprodução da pesquisa com o alcance dos
mesmos resultados em relação às questões do formulário. Entretanto, apesar de ser uma
limitação típica de pesquisas realizadas pontualmente, permite a comparabilidade no tempo,
caso a pesquisa seja reaplicada futuramente.
No que se refere ao método de coleta e tratamento de dados escolhido, destacam-se a
dificuldade de transformar as respostas das questões abertas em tópicos comparáveis entre si e
a subjetividade do pesquisador no momento da interpretação dos dados.
Com o cumprimento das três etapas da análise de conteúdo e o cuidado necessário
para contornar a subjetividade, espera-se que a utilização da técnica possibilite aprofundar as
relações entre as teorias abordadas, além de destacar os pontos de aderência do modelo
apresentado a seguir em relação a essas teorias por meio da comparação do referencial teórico
com os dados levantados nas pesquisas documental e de campo.
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4. RESULTADOS PARCIAIS: PROPOSIÇÃO DO MODELO
CONCEITUAL ANALÍTICO: GOVERNANÇA DE REDE DE
STAKEHOLDERS VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL – MODELO GOVREDES
De acordo com o referencial teórico adotado, é possível identificar os principais
aspectos que norteiam a temática da governança corporativa, a partir dos quais é apresentada
proposta de modelo conceitual analítico de governança de redes de stakeholders voltadas para
o desenvolvimento sustentável.
Propõe-se a correlação entre o desenvolvimento sustentável e a governança de redes
de stakeholders a partir dos pontos de interseção dessas temáticas. Conforme referencial
teórico deste trabalho, a proposta será desenvolvida a partir das quatro dimensões do
desenvolvimento sustentável à semelhança do conceito adotado pelo IDS do IBGE –
econômica, social, ambiental e institucional.
Este modelo também se fundamenta, conceitualmente, na definição de resultados
transformacionais proposta por Human e Provan (1997) apud Marchi, Junior e Gregori
(2007). De acordo com tal definição, mais do que resultados transacionais (como ganhos de
performance, por exemplo), as empresas que atuam em rede podem obter resultados
transformacionais que promovem mudanças na forma de conduzir os negócios, resultando em
criação de valor.
O modelo também tem como base os aspectos de sustentabilidade destacados nos
seguintes instrumentos, indicadores de avaliação e acordos internacionais que abrangem a
governança corporativa: Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, Índice de
Sustentabilidade Empresarial da Bovespa (ISE), Índice de Ações com Governança
Corporativa Diferenciada (IGC) – Bovespa, Índice Dow Jones de Sustentabilidade (Dow
Jones Sustainability Index – DJSI), Global Reporting Initiative (GRI), Código de melhores
práticas da governança corporativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
(IBGC), Pacto Global, Princípios para o Investimento Responsável (PRI).
Considerando o referencial teórico adotado e os oito instrumentos citados acima, são
elencadas seis categorias de variáveis propostas inicialmente para o Modelo GovRedeS. Elas
serão investigadas e analisadas de forma qualitativa junto aos sujeitos da pesquisa, visando a
consolidação de uma lista de indicadores para futuras pesquisas que adotem o Modelo.
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Variável 1 - Engajamento de stakeholders na estrutura organizacional: Processo
sistematizado de engajamento e diálogo com partes interessadas no âmbito da
estrutura e processo organizacional para a melhoria contínua da governança da
rede de stakeholders, o que inclui: capacidade estrutural, burocrática e
hierárquica de flexibilizar estruturas e relações de poder para atuar em rede;
envolvimento das partes interessadas na gestão; formalização de
comitês/conselhos de administração; meios transparentes de administração de
conflitos de interesse; gestão de riscos e controle de passivos ambientais e
sociais; transparência no sistema de remuneração de comitês/conselhos de
administração; mecanismos de “escuta” das partes interessadas.
Variável 2 - Valores para o desenvolvimento sustentável: formalização de valores
e compromissos éticos orientados para o desenvolvimento sustentável e formas
de disseminá-los aos stakeholders;
Variável 3 - Equidade: equilíbrio dos espaços de poder de expressão e ação dos
stakeholders da rede;
Variável 4 - Cooperação: relações baseadas em cooperação e colaboração na
busca de objetivos e interesses comuns;
Variável 5 - Responsabilidade pelos produtos e processos: valoração e avaliação
dos impactos econômicos, sociais e ambientais dos processos e produtos gerados
pelos agentes da rede.
Variável 6 – Transparência: estratégias, canais e frequência das comunicações
com os stakeholders. Transparência na prestação de contas e de informações de
interesse das partes interessadas.
A escolha dessas variáveis é uma delimitação para a viabilidade do escopo deste
trabalho, podendo ser adaptada para a realidade de cada rede. Elas se referem à incorporação
transversal de critérios de ordem social, econômica, ambiental e institucional na governança
da rede do Ceap Amazônia.
5. CONCLUSÕES
A proposição do Modelo GovRedeS decorre do referencial teórico e do apontamento
de iniciativas com abordagens bastante amplas sobre o desenvolvimento sustentável (em
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especial a Agenda 21 e os IDS do IBGE), o que permite conhecer o estado da arte da temática
aqui tratada e selecionar variáveis consideradas adequadas aos objetivos da pesquisa e que,
portanto, podem ser incorporadas ao Modelo.
Nas próximas etapas - pesquisas documental e de campo - espera-se que o Modelo
GovRedes seja capaz de estabelecer a relação entre governança de redes de stakeholders e a
sua contribuição para o desenvolvimento sustentável da região da amazônia brasileira. A
partir das informações levantadas, será possível construir o relatório de pesquisa, incluindo
conclusões referentes tanto ao Ceap Amazônia quanto ao Modelo GovRedeS. O produto final
será a proposição de indicadores a serem trabalhados por futuras pesquisas que utilizem o
Modelo.
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