FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR … · Margaret Atwood, autora canadense de dezenas...
-
Upload
truongxuyen -
Category
Documents
-
view
220 -
download
0
Transcript of FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR … · Margaret Atwood, autora canadense de dezenas...
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR MULHERES: MARGARET
ATWOOD, OCTAVIA BUTLER, MARGE PIERCY, CONNIE WILLIS
Amanda Pavani.1
Resumo: O gênero literário da ficção científica foi, ao longo dos primeiros 70 anos do século XXI,
primordialmente masculino. Apesar da obra considerada pioneira do gênero ser Frankenstein, de
Mary Shelley, os nomes mais associados a obras de qualidade incluem quase exclusivamente
homens como Asimov, Philip K. Dick, Orwell, dentre outros. Contudo, desde os anos 1970, a
ficção científica escrita por mulheres tem se proliferado, deslocado o narrador clássico de ficção
científica e trazido uma variedade de temas e perspectivas para essa literatura. Esta apresentação
pretende analisar essas diferentes vozes narrativas trazidas por quatro escritoras de ficção científica
ativas nos últimos 30 anos: Margaret Atwood, autora da série MaddAddam, Octavia Butler, autora
de Parable of the Sower e Parable of the Talents, Marge Piercy, autora de He, She, It, e Connie
Willis, autora, dentre vários, de The Passage e To Say Nothing of the Dog. Pretende-se enfatizar a
relevância dessas obras no âmbito dos estudos e da história da ficção científica, em particular com a
exposição da questão do gênero em suas extrapolações literárias, seja em suas construções de
mundo, em suas protagonistas que desafiam estereótipos de gênero e em sua visão sobre o papel da
ciência na sociedade.
Palavras-chaves: ficção científica, literatura feminista; distopia; literatura especulativa.
Introdução
A ficção científica, entre os gêneros literários mais conhecidos, passou a ser estudada na
academia tem pouco tempo. Com uma origem fundada na troca de histórias por fãs, a ideia do que é
ficção científica mudou diversas vezes ao longo do século passado. Uma coisa resistiu às mudanças
com certo afinco: as mulheres, tanto como autoras quanto como personagens, apenas começaram a
ser valorizadas muito recentemente. Quando digo muito recentemente, falo de um gênero que
começou no século XIX, mas que só teve uma onda de obras feministas a partir dos anos 1970.
A título de história dessa literatura específica, uma das grandes ironias é que muitos críticos
consideram a obra fundadora como Frankenstein, escrito por Mary Shelley. É claro que devemos
lembrar que Frankenstein, publicado em 1818, também é fortemente associado ao gótico e à
literatura de horror; além disso, o viés científico por trás da criação do monstro de Viktor
Frankenstein foi um pensamento posterior à publicação original. George Slusser, em seu capítulo
sobre as origens da ficção científica para a obra A Companion to Science Fiction (2005), indica: “O
estigma da alquimia ainda minimiza a ciência em Frankenstein. O galvanismo e a eletricidade da
Introdução de 1831 foram pensamentos posteriores, já que há pouca ou nenhuma referência a
1 Mestre e doutoranda em Estudos Literários, área de concentração Literaturas em Inglês, da Faculdade de Letras da
UFMG, em Belo Horizonte. Bolsista CNPq.
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
ambos na edição de 1818 do romance” (SLUSSER, 2005, p. 31, minha tradução)2. Com isso, pode-
se perceber como a ficção científica, mesmo em sua obra fundadora, pode ser bem menos previsível
do que o senso comum indicaria.
Contudo, ainda que Shelley seja consensualmente a pioneira da literatura sci-fi (como
doravante citarei o gênero), os nomes de prestígio ainda são masculinos. George Orwell, Phillip K.
Dick, Isaac Asimov e William Gibson são considerados leitura imprescindível entre os fãs e maioria
dos críticos do gênero, enquanto autoras como Pat Cadogan, Ursula le Guin, Joana Russ, Jeanette
Winterson, entre várias outras, são relegadas a um gueto literário dentro de um tipo de literatura que
deixou as margens da crítica há pouco tempo. Essa crítica não é nova: Marleen S. Barr, Jenny
Wolmark e Veronica Hollinger são algumas das críticas de sci-fi que mencionam a desvalorização
da ficção científica escrita por mulheres.
Notemos aqui que a terminologia, para mim, não é necessariamente sci-fi feminista, ou
mesmo fabulação feminista. Por hoje, uso o termo menos ambicioso, que é sci-fi escrita por
mulheres. Certamente essas obras tendem a indicar questionamentos de gênero direcionados à
igualdade, o que não é coincidência, mas tento fazer um esboço de quatro autoras contemporâneas
em sci-fi, cuja obra é relevante por diversos motivos, inclusive suas representações de gênero,
dentre vários conflitos da modernidade.
Margaret Atwood, autora canadense de dezenas de romances, poemas e não-ficção, é
provavelmente a mais famosa entre essas autoras; e é também uma das que mais resiste ao ouvir
que sua literatura possa ser ficção científica. Suas obras, que descrevem distopias resultantes de
teocracias ou de experimentos extremos com a humanidade, são: The Handmaid’s Tale (1984),
recentemente adaptada para a televisão, a sequência Oryx and Crake (2003), The Year of the Flood
(2009) e MaddAddam (2013) e, finalmente, sua distopia mais recente, The Heart Goes Last (2015).
Octavia Butler, por sua vez, é autora de Parable of the Sower (1991) e Parable of the Talents
(1998), além da sequência Dawn e Lilith’s Brood; Butler é a única mulher listada como autora do
subtipo hard science fiction, mencionado adiante. Marge Piercy, por sua vez, autora de Woman on
the Edge of Time e He, She, and It (1991), cuja escrita é mais associada ao estilo cyberpunk,
questionando os limites da humanidade e a influência das inteligências artificiais nesses limites. Por
fim, temos Connie Willis, autora americana vencedora de prêmios prestigiados dentro da
comunidade sci-fi, como Hugo e o Nebula. Sua obra mais famosa é Doomsday Book, que faz parte
da sequência sobre viagem no tempo, precedida por To Say Nothing of the Dog e seguida por
2 “This stigma of alchemy still dogs science in Frankenstein. The galvanism and electricity of the 1831 Introduction are
afterthoughts, as there is little or no direct reference to them in the 1818 edition of the novel.”
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Blackout e All Clear. Outras obras recentes e de sucesso da autora incluem também The Passage e a
mais recente, Crosstalk (2016). Este texto busca mostrar a influência dessas autoras para sci-fi
como um todo e também para seus subgêneros.
2. Margaret Atwood
Entre as autoras discutidas hoje, Atwood certamente é a mais popular. The Handmaid’s
Tale, publicada em 1984, este ano tornou-se uma série de televisão pela distribuidora Hulu. Suas
obras da trilogia MaddAddam são cogitadas para adaptação pela HBO e Oryx and Crake,
principalmente, é citada pela mistura equilibrada de elementos de ficção científica com contação de
histórias.
Atwood, todavia, é das mais resistentes ao rótulo de escritora de ficção científica. É
importante lembrar que, de seus mais de 40 títulos publicados, apenas 5 são considerados parte do
gênero pela crítica. A reticência da autora justificou-se em entrevista, alegando que se afirmar como
autora de ficção científica seria “falsa propaganda” já que suas obras não trazem viagens pelo
espaço, robôs ou vários outros motes tradicionalmente associados ao gênero. Particularmente, como
pesquisadora eu escolho ignorar essa afirmação até certo ponto, por dois motivos: dizer que sci-fi é
um conjunto de tropes ou de temas como viagem pelo espaço é uma redução trazida do senso
comum; uma abordagem histórica dessa literatura, desde as revistas pulp, demonstra a variedade e
riqueza de sci-fi, que conta com vertentes como New Wave, Cyberpunk, scientifiction, sem
mencionar a onda de sci-fi feminista instaurada desde os anos 1970 e, mais recentemente, as
distopias pós-modernas que, na minha opinião, inclui os cinco romances de Atwood.
Em segundo lugar, ela complementa a negação de sci-fi dizendo que as projeções em seus
romances poderiam acontecer, diferentemente do que se vê em sci-fi. Não só essas projeções de
futuro próximo são muito presentes no sci-fi contemporâneo, como outras vertentes, como hard
Science fiction, foram conhecidas pelo esmero em produzir projeções científicas possíveis e com o
máximo de ciência correta, de acordo com a época.
Trago aqui, então, a literatura de ficção científica de Atwood como um exemplar forte da
virada mais contemporânea em direção ao pós-moderno. Como Veronica Hollinger comenta, em
seu capítulo “Science Fiction and Postmodernism” (2008), muito da ficção científica pós-moderna
reflete o que ela chama de condição pós-moderna, ou seja:
Para colocar de outra forma, a “condição pós-moderna” é uma condição inerentemente
auto-consciente, denotando uma série de transformações sobre como viemos a perceber e
definir aspectos da realidade contemporânea. Isso explica, em parte, a natureza auto-
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
reflexiva de tantos textos pós-modernistas: não importa “sobre o que” um texto seja, ele
também é sobre sua própria condição de texto narrativo. (2008, p. 234, minha tradução)3
Essa reflexividade sobre o texto em si e sobre o gênero em que ele se encontra pode ser
visto, primeiramente, em Oryx and Crake, em pelo menos duas dimensões: o narrador,
Jimmy/Snowman, reconta para si mesmo a história de como a humanidade havia sido destruída por
um vírus mortal. Acreditando ser o último ser humano vivo, ele se sente responsável pela
manutenção da própria linguagem, até sua morte inevitável. Considerando como passar seu tempo,
ele pensa em escrever um diário: “Ele poderia emular os capitães de navios, dos tempos antigos – o
navio afundando em uma tempestade, o capitão em sua cabine, condenado mas intrépido,
preenchendo seu diário” (2003, p. 45, minha tradução)4, para desistir em seguida: “Mas mesmo um
náufrago supõe um leitor futuro, alguém que chegará depois para encontrar seus ossos e seu
registro, e descobrirá o que lhe aconteceu. Snowman não pode supor tais coisas: ele não terá um
leitor futuro, porque os Crakers não podem ler. Qualquer leitor que ele imagine está no passado”
(2003, p. 45-46, minha tradução)5.
A consciência do fim de sua espécie traz ao sci-fi pós-moderno de Atwood um paradigma
contemporâneo: a iminência do final da humanidade com a destruição dos recursos naturais do
planeta onde vive, o menosprezo da linguagem e das ciências humanas em geral em favorecimento
de conhecimentos mais exatos, com lucros previsíveis. Inclusive, os Crakers mencionados no
excerto acima, nessa trilogia MaddAddam, trazem um novo paradigma do pós-humano. Em Oryx, o
personagem Crake cria os pós-humanos, os Crakers, geneticamente modificados para viverem em
harmonia com o planeta que era devastado pelos humanos. Em seguida, ele espalha um vírus letal,
após imunizar Jimmy. Em um capítulo de livro a ser publicado este ano pelo Laboratório de Edição
da FALE/UFMG, eu mesma discuto o próprio design dos Crakers como uma proposta de pós-
humanos que viveriam de forma mais animalesca, sem símbolos, sem roupas e sem diversos fatores
complicadores. Os Crakers são feitos para exalar um aroma cítrico, para evitar mosquitos (p. 102),
não são consumidos pela ansiedade da morte, já que “estão programados para caírem mortos aos
trinta anos – subitamente, sem adoecer [...]. Eles só caem. Não que saibam disso; nenhum morreu
ainda” (p. 303). Além disso, ele reprograma suas práticas reprodutivas, para eliminar a competição
3 “Put another way, the “postmodern condition” is an inherently self-conscious condition, denoting a series of
transformations in how we have come to perceive and define aspects of contemporary reality. This in part explains the
self-reflexive nature of so many postmodernist texts: whatever else these texts are “about,” they are also about
themselves as narrative texts.” 4 “He could emulate the captains of ships, in olden times – the ship going down in a storm, the captain in his cabin,
doomed but intrepid, filling in the logbook”. 5 “But even a castaway assumes a future reader, someone who’ll come along later and find his bones and his ledger, and
learn his fate. Snowman can make no such assumptions: he’ll have no future reader, because the Crakers can’t read.
Any reader he can possibly imagine is in his past”.
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
e a ansiedade da rejeição sexual (p. 302). Podemos notar, aqui, a valorização típica da ficção
científica da juventude – como na prática de “fixar-se” em Stone Gods, de Jeanette Winterson – e
um certo exagero nas capacidades de manipulação da genética humana. Nos livros MaddAddam,
muito recai sobre a programação genética e pouco sobre o ambiente, outro tema amplamente
discutido na comunidade científica.
Poderíamos abordar vários outros traços da literatura de sci-fi de Atwood, como, por
exemplo, a falta de “inovações” per se em The Handmaid’s Tale, uma teocracia altamente
controladora do corpo feminino, ou da protagonista de The Year of the Flood, Toby, que tem uma
trajetória única entre os humanos remanescentes e acaba responsável pela nova mitologia dos
Crakers, antes incapazes de pensamento simbólico. De qualquer forma, é notável a relevância de
Atwood como autora de sci-fi.
2. Octavia Butler
Diferentemente de Atwood, Octavia Butler não tem nenhum problema com ser classificada
como autora de ficção científica. Suas obras são notáveis por diversas características. A série
Xenogenesis marcou a autora como autora do subgênero hard scifi. De acordo com Gary Westfahl,
uma possível definição, ainda que incomplete, desse subgênero seria “uma forma de ficção
científica que apresenta uma preocupação maior e uma conexão particularmente ampliada com a
ciência” (2008, p. 187, minha tradução)6. Em outras palavras, hard scifi é associada a extrapolações
dentro das ciências exatas e com a maior acurácia possível em termos de ciência – ou seja, sem
explosões no espaço sideral, sem mutações genéticas exageradas ou impossíveis. Não é necessário
dizer que essa definição em si não é absoluta, mas, quando comparadas com outros subtipos de sci-
fi, hard scifi apresenta um cuidado maior com teoremas e aplicações de física e química, por
exemplo.
Outra série por Butler, a série Parable, inclui Parable of the Sower (1993) e Parable of the
Talents (1998). Os dois livros são excelentes manifestações de temáticas raciais em ficção
científica, um desenvolvimento recente no gênero. Os livros acompanham a protagonista, Lauren
Olamina, e sua trajetória de sobrevivência quando seu vilarejo, Robledo, é saqueado e destruído.
Em um cenário de futuro próximo, nos Estados Unidos do século XXI, Lauren lida com sua
condição crônica de hiperempata – ela sente a dor e o prazer de pessoas que vê, uma condição
6 “Approaching the task of defining “hard science fiction,” one might begin by calling it a form of science fiction that
displays an especially heightened concern for, and an especially heightened connection to, science.”
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
genética de sua mãe, uma viciada em drogas. Uma extrapolação da série inclui essa droga,
Paracetco, que traz uma semelhança perturbadoramente similar à ritalina:
ela estava fazendo milagres pelas pessoas que tinha Alzheimer. Ela parava a deterioração
das funções intelectuais e possibilitava ótimo uso de qualquer que fosse a memória e
racionalidade que tivesse sobrado. Ela também acelerava a performance de pessoas normais
e jovens, que liam mais rápido, retinham mais, faziam conexões mais rápidas e certeiras,
cálculos, conclusões. Dessa forma, Paracetco tornou-se tão popular quanto café entre
estudantes. (BUTLER, 1998, cap. 1, minha tradução)7
Essa manobra narrativa que impulsiona a trama de Parable of the Sower e Parable of the
Talents traz outros desdobramentos importantes para a relação entre literatura e ciência: para além
da veracidade das invenções, a série é um bom exemplo do questionamento da presença da religião
em sci-fi. Talvez por ter que sobreviver em um ambiente pós-apocalíptico com a hiperempatia, que
a paralisa ao ver pessoas com dor, Lauren é colocada em uma posição única para angariar
companheiros durante seu trajeto rumo ao Canadá (tido como a utopia para se aspirar nos
romances) e fundar uma religião que ela chama de Earthseed.
Em um texto meu, publicado ano passado, discuto a relação de Earthseed como religião com
ficção científica: em um gênero literário que tende historicamente a desmerecer ou nem mesmo
representar religiões e seus rituais, Earthseed se coloca como uma fé “descoberta” para incentivar
ação e pesquisa, e não para reconfortar as pessoas que passam a seguir Lauren em sua visão. Além
disso, os encontros desse culto consistem de uma pessoa falando sobre algum assunto, seguido de
perguntas e respostas; quando o irmão de Lauren, um protestante, deseja dar um sermão, ele resiste
às perguntas. Assim, vemos que a religião em sci-fi pode ser um instrumento de união e de ação
para mudanças (PAVANI, 2016, p. 202).
Finalmente, Butler inclui questões de raça e de gênero em sua ficção científica. Em Parable
of the Sower, quando Lauren começa sua jornada em direção ao norte, ela se veste como homem; de
acordo com sua própria descrição, como ela nunca havia se destacado por seus traços femininos e
por ser mais alta que a maioria das mulheres, ela não enfrenta resistência de estranhos ao se
apresentar como homem. A androgenia da personagem é comentada no artigo de Clara Augustí, que
afirma: “Butler demonstra como Olamina é capaz de esmaecer as diferenças entre sujeito e Outro,
masculinidade e feminilidade na própria personagem” (2005, p. 354, minha tradução)8. Olamina,
afinal, é uma mulher negra que usa sua habilidade com as pessoas para criar um vilarejo, Acorn,
7 “and it was doing wonders for people who had Alzheimer’s disease. It stopped the deterioration of their intellectual
function and enabled them to make excellent use of whatever memory and thinking ability they had left. It also boosted
the performance of ordinary, healthy young people. They read faster, retained more, made more rapid, accurate
connections, calculations, and conclusions. As a result, Paracetco became as popular as coffee among students”. 8 “Butler demonstrates how Olamina is able to blur the differences between subject and Other, manhood and femaleness
in herself”.
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
onde sua “fé” vive em relativa paz, até metade de Parable of the Talents. As protagonistas de Butler
incorporam as dificuldades de raça e de gênero, injetando também diversidade em um tipo de
literatura particularmente resistente à variedade.
3. Marge Piercy
Se Octavia Butler pode ser considerada um bom exemplo de autora que insere diversidade
em sci-fi ao abordar questões raciais, Marge Piercy também contribui para essa diversidade ao
incluir a tradição judaica em sua literatura. Autora em atividade de diversos títulos, tem como seus
títulos mais bem-sucedidos Woman on the Edge of Time (1976) e He, She, and It (publicado na
Inglaterra com o título Body of Glass, 1991). A primeira obra é um clássico da literatura utópica do
século XX: conta a história de uma mulher hispânica, Consuelo, que luta para sobreviver em meio a
um passado de violência, até começar a se comunicar, de forma aparentemente inexplicável, com
uma pessoa de um futuro utópico. A temática da mulher como sobrevivente em uma sociedade que
“salvaria” a direção desastrosa em que o mundo estaria nos anos 1970 ainda é relevante não só em
ficção científica, mas no cenário político.
Contudo, neste texto quero concentrar minha discussão em He, She, and It e na expressão de
Marge Piercy dentro do subgênero do cyberpunk. A menção desse subgênero costuma elicitar
apenas nomes masculinos, em particular William Gibson, autor de Neuromancer (1982), e Phillip
K. Dick, autor de Do Androids Dream of Electric Sheep? (1968). Mark Bould, em seu capítulo
sobre o cyberpunk, elicita traços associados a esse tipo de sci-fi:
Típico da política romanticamente antiautoritária de contra-cultura do cyberpunk, o
controle era geralmente projetado não no sentido neutro e descritivo da cibernética, mas em
termos das estruturas e instituições sociais inerentemente repressivas, incluindo o “controle
mecanizado da vida social, do próprio corpo” e do “endurecimento e exteriorização de
certas formas vitais de conhecimento, a cristalização do espírito cartesiano em objetos e
commodities materiais” (McCaffery 1991:185-6). (2005, p. 218, minha tradução)9
Em outras palavras, o cyberpunk é conhecido por cenários mais sinistros, sociedades em
decadência em meio ao crescimento de inteligências artificiais e ciborgues. É importante lembrar,
como Christine Cornea (2005) ressalta, que o próprio termo ciborgue foi criada em 1960 com a
mistura dos termos “cibernético” e “organismo”, ou seja, um ser no limiar do tradicionalmente
humano e de uma possível pós-humanidade.
9 “Typical of Cyberpunk’s vaguely countercultural and romantically antiauthoritarian politics, control was generally
envisioned not in cybernetic’s neutral descriptive sense but in terms of inherently repressive social structures and
institutions, of the ‘mechanized control of social life, of the body itself’ and ‘the hardening and exteriorization of certain
vital forms of knowledge, the crystallization of the Cartesian spirit into material objects and commodities’ (McCaffery
1991: 185–6)”
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
He, She, and It é uma obra marcante do subgênero, considerado por Donna Haraway –
impossível mencionar estudos do ciborgue e escrita feminista sem falar dela –; Tom Moylan aborda
o livro como uma distopia crítica bem-sucedida, e a própria Margaret Atwood já apontou Piercy
como uma de suas influências literárias. No romance, a narrativa é dividida em dois níveis: o
primeiro é uma narrativa sobre o Golem, monstro criado para proteger um vilarejo de ataques
antissemitas, que corre em paralelo com a ação principal: após perder a guarda do filho para o ex-
marido, a protagonista Shira retorna à ilha de Tikva, onde nasceu, e ajuda o cientista Avram a
treinar uma inteligência artificial, o ciborgue Yod. Ele deve aprender a se comportar como um
humano, além de ser treinado para proteger a maior riqueza da ilha, sua produção de softwares,
vendidos para grandes multis, de espionagem corporativa.
O paralelo entre Yod e o Golem traz riqueza narrativa e cultural para a história, que traz um
ciborgue tão capaz de demonstrar sentimentos humanos que acaba por questionar os limites entre
humano e não-humano (ou entre humano e pós-humano):
Shira ficou parada no laboratório, a três palmos de Yod, que a mirava com um olhar que ela
só podia ler como cumplicidade. Eles compartilharam uma sensação de alarme. Ela não
ficava mais surpresa ao creditá-lo com reações: eles podiam ser simulacra de emoções
humanas, mas algo acontecia nele que era análogo às suas próprias respostas, e fazer o
esforço constante de discernir uma coisa da outra era desperdício de energia. (1991, p. 97,
minha tradução) 10
Certamente, é possível argumentar que Yod, enquanto emulador de humanidade, não traz
novidades tanto ao cyberpunk quanto ao sci-fi em geral; afinal, os andies caçados por Rick Deckard
em Do Androids Dream of Electric Sheep? e a personagem Molly de Neuromancer também trazem
a discussão dos limites entre androids/ciborgues e humanos. Yod, por outro lado, funciona também
na quebra de paradigma de gênero: enquanto, nas duas obras mencionadas acima, as androids são
objeto de desejo e satisfação sexual sem consequências (para não mencionar a adaptação de Ridley
Scott, em Blade Runner, que traz a relação do protagonista de K. Dick com uma replicante em uma
cena de estupro), Yod é um ciborgue masculino que se dedica a dar prazer à Shira quando eles se
tornam um casal. Um dos conflitos envolve a aceitação do vilarejo de seu status como parceiro da
protagonista – dessa forma, não é apenas um caso de gender bender (de inversão simples de papéis
de gênero), mas também de um ciborgue tentando viver como um humano sem distinções, inclusive
como marido de Shira e buscando aceitação em sua comunidade.
10 “Shira stood in the lab, about a foot from Yod, who shot her a look she could read only as complicity. They shared a
sense of alarm. She was no longer surprised that she credited him with reactions: they might be simulacra of human
emotions, but something went on in him that was analogous to her own responses, and making the constant distinction
was a waste of energy.”
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Claro, He, She, and It também pode ser discutido com outras perspectivas. Outra
personagem amplamente abordada em estudos sobre o romance é a semi-humana Nili, ou a avó da
protagonista, Malkah. De uma forma ou de outra, é dada a relevância da literatura de Marge Piercy
para o cyberpunk e para o sci-fi de forma geral.
4. Connie Willis
Uma das autoras mais premiadas da ficção científica, Connie Willis é uma autora prolífica e
ativa. Scifi é um gênero particularmente amplo em termos de premiações, e Connie Willis coleciona
prêmios como Nebula, Hugo e Arthur C. Clarke. Sua obra mais famosa é Doomsday Book (1992), o
primeiro volume do que ficou conhecido como sua Time-Travel Series. Além de outras séries,
outros romances bem-sucedidos de acordo com a crítica incluem The Passage (2001) e Crosstalk
(2016).
Connie Willis tem uma fama ambígua entre crítica e público. Críticas em redes sociais de
leitores como o site Goodreads mencionam uma repetição estrutural na maioria dos livros da autora,
que ela mesma já reconheceu em entrevista: boa parte de seus livros envolve personagens
desorientados, trabalhando com projeções e informações incompletas: “Meus personagens estão
sempre tentando entender o mundo, e nunca têm informação suficiente. Tudo depende de eles
entenderem a situação; ainda assim, é uma situação grande e complicada demais para que a
entendam. Isso, pra mim, é um resumo da condição humana” (SHINDLER, 2001, p. 77, minha
tradução)11. Por exemplo, em The Passage, a psicóloga Joanna Lander, ao se tornar sujeito de um
experimento sobre experiências de quase morte, busca compreender o motivo de, durante os
experimentos, ela se sentir de forma muito vívida no Titanic, logo após o choque com o iceberg,
com uma miríade desconcertante de detalhes. Em Doomsday Book, a historiadora Kivrin deve
sobreviver na Idade Média, onde fica presa depois que é mandada erroneamente para 1348, o ano
em que a peste negra chega ao vilarejo do interior da Inglaterra que ela visita.
As críticas de leitores, acredito, não são infundadas: existem muitos paralelos entre Joanna
Lander (The Passage), Kivrin (The Doomsday Book), Merope (Blackout e All Clear, publicados em
2010 e 2011, respectivamente), e Briddey (Crosstalk). A constante incompletude das informações é
frustrante, mas os livros de Willis trazem algo para a ficção científica de muito científico: a
vagarosidade do dia a dia do fazer da ciência. Boa parte das obras do gênero traz o mundo
11 “My characters are always trying to figure out the world, and they never have enough information. Everything
depends on them understanding the situation; yet it’s a situation much too big and complicated for them to understand.
That, to me, is the human condition in a nutshell”.
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
transformado por invenções, as consequências dos avanços tecnológicos para a vida humana, de
uma perspectiva posterior ao fazer científico propriamente dito. Nos livros de Willis, a morosidade
acusada pelos leitores pode ser atribuída ao lento progresso do método científico que, na prática,
envolve diversas etapas e muitos “becos sem saída”. Em The Passage, o leitor pode se frustrar com
os problemas dos protagonistas para conseguir sujeitos, ou para seguir o protocolo correto dos
experimentos, ou para impedir que os dados sejam danificados; outra perspectiva pode ver um valor
único na literatura de Willis justamente por abordar um lado menos glamouroso da ciência.
Na sua série de viagem no tempo, que inclui Doomsday Book, o leitor também é exposto a
um futuro próximo (a linha do tempo principal da série corre no final dos anos 2050) em que os
cientistas nos limites dos avanços são os historiadores. Com a premissa da invenção da tecnologia
que possibilita a viagem no tempo, o campo da história torna-se uma área de pesquisa altamente
técnica, a única preparada para mandar pesquisadores para o passado de modo a compreender a
trajetória da humanidade através dos séculos.
Em Crosstalk, publicação mais recente de Willis, a temática abordada é o excesso de
informações na contemporaneidade. A protagonista, Briddey, acorda de uma cirurgia criada para
aumentar sua comunicação com o noivo, porém descobre uma conexão telepata com um
desenvolvedor de aplicativos da empresa de comunicações onde trabalha. O desenvolvedor, C.B.,
resume o que parece ser a tese de Willis sobre a sociedade da informação instantânea:
“Commspan promete a mesma coisa – mais comunicação. Mas não é isso que as pessoas
querem. Elas já têm comunicação demais – laptops, smartphones, tablets, mídias sociais.
As pessoas têm conectividade saindo pelas orelhas. É possível estar conectado demais,
sabia, especialmente quando se trata de relacionamentos. Relacionamentos precisam de
menos comunicação, e não mais” (cap. 2, minha tradução) 12
Podemos notar a relevância das temáticas de comunicação entre pessoas, de informação, e
dos desencontros causados por falhas nessas habilidades humanas. O sci-fi de Willis não é
facilmente classificado em um subtipo, como podemos fazer com Atwood, Butler e Piercy. O teor
técnico de sua abordagem científica pode ser associado ao hard scifi; a abordagem da incompletude
da comunicação pode ser associada à ficção especulativa e a teorias pós-modernas; a maioria dos
críticos e leitores se refere a ela como autora de ficção científica, simplesmente.
Como autora mulher, é importante notar a abundância de protagonistas femininas em
posições de destaque científico: suas personagens são historiadoras, psicólogas, gerentes,
acadêmicas. Sua narrativa bem-humorada expõe algumas expectativas tanto de gênero literário
12 “I am,” he said. “Commspan promises the same thing—more communication. But that isn’t what people want.
They’ve got way too much already—laptops, smartphones, tablets, social media. They’ve got connectivity coming out
their ears. There’s such a thing as being too connected, you know, especially when it comes to relationships.
Relationships need less communication, not more.”
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
quanto de gênero sexual. Não é surpreendente, assim, que Connie Willis seja uma autora de sci-fi
tão bem-sucedida.
Conclusão
Este texto buscou abordar, dentro das possibilidades, uma amostra da variedade de autoras
de ficção científica nos últimos anos. Se a literatura em geral foi um campo restrito à perspectiva
masculina, a ficção científica, por sua história, apresentou ainda outras barreiras para a inserção de
mulheres. A combinação de dificuldade de acesso à ciência e acesso à escrita poderia ter causado
uma exclusão maior do que de fato acabou ocorrendo: sci-fi, nos últimos cinquenta anos, revela-se
como uma expressão literária surpreendentemente diversa e ocupada por mulheres em diversos
subgêneros.
A autoria feminina em ficção científica tem contribuído para a variedade estética e de
representação na literatura, questionando limites da humanidade, questionando o elogio exagerado a
conclusões da ciência e frequentemente expondo seu status de linguagem, no sentido de que o
método científico é um modo de construção de paradigmas, ao invés de uma estrutura de verdades
absolutas, como era pregado na época das revistas pulp, cujo teor didático e de elogio às ciências
(exatas) ainda é associado a sci-fi na atualidade.
Margaret Atwood, Octavia Butler, Marge Piercy e Connie Willis são, de fato, relevantes
para a literartura de sci-fi contemporânea, mas não são os únicos exemplos. Autoras como Ursula
Le Guin, Joanna Russ, Pat Cadigan também podem ser analisadas nessa perspectiva; este texto
buscou posicionar a autoria feminina de sci-fi como um objeto de estudo amplo e rico, com
tangentes diversas em estudos utópicos, estudos de pós-modernismo, ou simplesmente de literatura
contemporânea.
Referências
AGUSTÍ, Clara Escoda. The Relationship Between Community and Subjectivity in Octavia E.
Butler’s Parable of the Sower. Extrapolation, v. 46 n. 3, p. 351-359, 2005.
ATWOOD, Margaret. MaddAddam. London: Virago, 2013.
ATWOOD, Margaret. Oryx and Crake. London: Virago, 2003.
ATWOOD, Margaret. The Handmaid’s Tale. New York: Anchor Books, 1998.
ATWOOD, Margaret. The Heart Goes Last. London: Penguin Random House, 2015.
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
ATWOOD, Margaret. The Year of the Flood: a novel. New York: Anchor Books, 2009.
BAUDRILLARD, Jean. Simulacra and Simulation. Trad. Sheila Faria Glaser. Michigan: Michigan
University Press, 1994.
BOULD, Mark. Cyberpunk. In: SEED, David (ed). A Companion to Science Fiction. Oxford:
Blackwell, 2005. p. 217-231.
BUTLER, Octavia. Parable of the Sower. New York: Grand Central, 1993.
BUTLER, Octavia. Parable of the Talents. New York: Grand Central, 1998.
CORNEA, Christine. Figurations of the Cyborg in Contemporary Science Fiction Novels and Film.
In: SEED, David (ed). A Companion to Science Fiction. Oxford: Blackwell, 2005. p. 275-288.
DICK, Phillip K. Do Androids Dream of Electric Sheep? New York: Ballantine Books, 1968.
GIBSON, William. Neuromancer. New York: Ace Books, 1984.
HARAWAY, Donna. A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialism-Feminism in the
Late Twentieth Century. Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. New York:
Routledge, 1991. p. 149-181.
HOLLINGER, Veronica. Science Fiction and Postmodernism. In: SEED, David (ed). A Companion
to Science Fiction. Oxford: Blackwell, 2005. p. 232-247.
MOYLAN, Tom. Scraps of the Untainted Sky: Science Fiction, Utopia, Dystopia. Boulder:
Westview, 2000.
PAVANI, Amanda. Fé e empatia em ficção científica contemporânea: Parable of the Sower e
Parable of the Talents. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE LÍNGUA, LITERATURA E
PROCESSOS CULTURAIS, 3, 2016, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Universidade de
Caxias do Sul, 2016. p. 194-202.
PAVANI, Amanda. The Crakers as an answer to the matter of the Anthropocene. In: Viva Voz:
Intermediations of the Anthropocene. Bruhn, J., Vieira, Myriam (eds). Belo Horizonte: Laboratório
de Edição, 2017. No prelo.
PIERCY, Marge. Woman on the Edge of Time. New York: Fawcett Crest, 1983.
SHELLEY, Mary. Frankenstein, Or, The Modern Prometheus: the 1818 Text. Oxford: Oxford
University Press, 1998.
SHINDLER, Dorman T. Connie Willis: the Truths of Science Fiction. Publishers Weekly, May 21
2001: p. 76-77.
SLUSSER, George. The Origins of Science Fiction. In: SEED, David (ed). A Companion to Science
Fiction. Oxford: Blackwell, 2005. p. 27-42.
WESTFAHL, Gary. Hard Science Fiction. In: SEED, David (ed). A Companion to Science Fiction.
Oxford: Blackwell, 2005. p. 187-201.
WILLIS, Connie. All Clear. Bantam Books, 2011.
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
WILLIS, Connie. Blackout. Bantam Books, 2010.
WILLIS, Connie. Crosstalk. New York: Bantam Books, 2016.
WILLIS, Connie. The Doomsday Book. Bantam Books, 1992.
WILLIS, Connie. The Passage. New York: Bantam Books, 2001.
WILLIS, Connie. To Say Nothing of the Dog. Bantam Books, 1997.
WINTERSON, Jeanette. The Stone Gods. Orlando: Harcourt, 2007.
Contemporary science fiction written by women: Margaret Atwood, Octavia Butler, Marge
Piercy, Connie Willis
Abstract: The literary genre of Science fiction was, during the first 70 years of the 20th century,
primarily masculine. Despite the novel considered to be the genre’s pioneer being Mary Shelley’s
Frankenstein, the names more commonly associated to “quality” literature in the field include
almost exclusively men, such as Asimov, Philip K. Dick, Orwell, among others. However, since the
1970s, science fiction written by women has proliferated, dislocated the classical sci-fi narrator and
brought a variety of themes and perspectives to that literature. This presentation intends to analyse
these diverse narrative voices brought on by four writers of science fiction, active in the last 30
years: Margaret Atwood, author of the MaddAddam series, Octavia Butler, author of Parable of the
Sower e Parable of the Talents, Marge Piercy, author of He, She, It, and Connie Willis, author,
among others, of The Passage and To Say Nothing of the Dog. I intend to emphasize the relevance
of these works within science fiction studies and history, particularly the exposure of issues of
gender in their literary extrapolations, be it in world building, role-challenging protagonists and
their vision about the role of science in society.
Keywords: science fiction, literature, feminist literature, dystopia, speculative literature.