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ano 8 / 2017
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NOVA ARMA CONTRA O HIV
VACINA CONTRA A ZIKA
BACTÉRIAS E ESCLEROSE MÚLTIPLA
Candidata desenvolvida no Instituto Evandro Chagas passou
nos testes com macacos
Pesquisadores da USP de São Carlos identificaram toxina capaz de eliminar o vírus
de 90% das células infectadas
Encontradas diferenças significativas na microbiota intestinal de portadores da
doença
Pág. 04Pág. 05Pág. 06
DSTSELAS ESTÃO DE VOLTAApós uma explosão no número de casos, clamídia, gonorreia e sífilis, três doenças amplamente conhecidas e que pareciam estar sob controle, retornaram à lista de prioridades de autoridades sanitárias de todo o mundo (Pág. 11)
BIÊNIO 2016-2017 / SBM 2016-2017
Carlos Pelleschi Taborda (ICB-USP)Ana Lucia Figueiredo Porto (UFRPE)
Sergio Eduardo Longo Fracalanzza (UFRJ)
Maria José Soares M. Giannini (UNESP)Gustavo Henrique Goldmann (FCF-USP/RP)
Carla Taddei Neves Castro (FCF-USP)
Waldir Pereira Elias Junior (Inst. Butantã)
Jorge Luiz Mello Sampaio (FCF-USP)
Marcio Lourenço Rodrigues (Fiocruz/UFRJ)
Giliane de Souza Trindade - UFMG
Renato Santana de Aguiar – UFRJ
Luis Henrique Souza Guimarães – FFCLRP – USPIdjane Santana de Oliveira – UFPE
Welington Luiz de Araújo – ICB – USP
Rosely Maria Zancopé Oliveira - Fiocruz/RJ
Iran Malavazi – UFSC
Miliane Moreira Soares de Souza – UFRRJ
Ana Lucia Figueiredo Porto – UFRPE
Célia Maria de Almeida Soares – UFG
Elaine Cristina Pereira de Martinis – FCFRP-USPLeticia de Albuquerque Maranhão Carneiro – UFRJ
Daniel Santos Mansur – UFSC
Fernando Dini Andreote – ESALQ – USP
Afonso Luis Barth – UFRGS
Luiz Fernando Wurdig Roesch – UNIPAMPA
Elizabeth de Andrade Marques, UERJ Roxane Maria Fontes Piazza – IBU
Ilana Lopes B. da Cunha Camargo – FCFRP-USP
Marcela Pellegrini Peçanha – PUC-SP Lucy Seldin – UFRJ
Luis Augusto Nero - UFV
Mateus Matiuzzi da Costa – UNIVASF
COORDENADORES DE ÁREA
Genética de Micro-organismos e Bioinformática
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Ano 8, nº 32
São Paulo: SBM, 2017
Microbiologia in foco
Vânia Lúcia Carreira Merquior
Periodicidade trimestral
Sergio Eduardo Longo Fracalanzza
Vânia Lúcia Carreira MerquiorSergio Eduardo Longo Fracalanzza
Circulação
Nacional.Acesso gratuito para
sócios da SBM
É com grande satisfação que publicamos a a32 edição da Revista Microbiologia in foco. Temas
muito importantes e que terão impacto significativo para toda a comunidade serão abordados, como aqueles relativos ao ressurgimento das ISTs, ao desenvolvimento de uma vacina brasileira para prevenção da zika e da aplicação do novo conceito One Health, o qual tem recebido grande destaque atualmente. Na reportagem de capa, chamamos a atenção para a tragédia das ISTs. Essas infecções -- particularmente a gonorreia, sífilis e clamidioses -- são conhecidas há muito tempo e dispunham de um arsenal terapêutico adequado para o tratamento. No entanto, vários fatores englobando desde a negligência no uso de preservativos até o desenvolvimento de resistência aos antibióticos (no caso dos gonococos), ou mesmo a falta do medicamento de escolha (penicilina benzatina) para a sífilis mudaram totalmente esse panorama. Hoje, essas ISTs aumentaram dramaticamente a sua incidência e providências enérgicas e imediatas têm que ser implementadas pelas autoridades de saúde pública, como discutido no texto. Uma boa notícia para a população brasileira e a comunidade científica nacional foi a notícia, divulgada pelo Dr. Pedro José da Costa Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas, de Belém, dos testes bem sucedidos com uma vacina para o vírus da zika. O imunizante, preparado com um vírus vivo atenuado, foi capaz de induzir anticorpos neutralizantes em camundongos, que evitaram totalmente a infecção quando os animais vacinados foram desafiados com doses letais do vírus. Resultados promissores também foram obtidos em testes com macacos e o Dr. Pedro Vasconcelos detalha, em sua entrevista, os próximos passos a serem seguidos até os testes em humanos. Outra notícia a ser comemorada -- pois envolve a proteção contra uma doença potencialmente fatal, a AIDS -- foi a descoberta por pesquisadores da USP/São Carlos, de uma proteína, a Pulchellina, isolada da planta Abrus pulchellus tenuiflorus, uma trepadeira típica do Nordeste, que, quando quimicamente conjugada a anticorpos monoclonais, demonstrou atuar especificamente contra células infectadas pelo HIV. Em um artigo instigante, os professores Lauro Santos Filho e Celso José Bruno de Oliveira, da UFPB, descrevem a importância do conceito “One Health”, e discutem o impacto dessa abordagem em um cenário relacionado à medicina humana e veterinária, doenças infecciosas e ecologia, tendo como ponto comum aspectos relacionados a microbiologia. Sem dúvida, a promoção da saúde, em seu aspecto pleno, depende da uma relação indissociável entre seres humanos, animais e o ecossistema em que se inserem, e que requerem, portanto, uma plataforma multidisciplinar envolvendo médicos, microbiologistas, ecologistas e veterinários. Uma ampla discussão foi realizada pelos autores. Ela será de grande importância para introduzir a nossa comunidade nesse debate mundial fundamental para o futuro da humanidade.
Os leitores poderão ainda encontrar nesta edição notícias recentes sobre assuntos de ponta e de grande relevância, como a possível relação entre a microbiota intestinal e a esclerose múltipla, que pode abrir uma imensa janela de novas opções terapêuticas para esta grave doença, e a utilização de um novo antibiótico, a Avidomicina, no combate à infecção causada por C.difficile. Esses e outros assuntos importantes foram selecionados e esperamos que sejam do interesse de todos. Obrigado àqueles que colaboraram com este número da revista e contamos com a participação dos colegas para futuras edições.
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Trabalhos anteriores já demonstraram que camundongos geneticamente modificados para desenvolver encefalite autoimune experimental (EAE), um modelo para esclerose múltipla (EM), ficam livres da doença quando crescem em um ambiente livre de germes. Para entender a relação entre a microbiota intestinal e a esclerose múltipla, uma equipe da Universidade da Califórnia analisou as bactérias intestinais de 71 pacientes com esclerose múltipla e as comparou com material coletado em pacientes saudáveis. Foram encontradas diferenças significativas na composição das amostras. Os gêneros Acinetobacter e Akkermansia se mostraram mais abundantes nos pacientes com EM do que nos controles, enquanto os Parabacteroides foram menos frequentes nos doentes. Para os autores, esses resultados abrem caminho para terapias baseadas no microbioma para combater as doenças autoimunes. Num artigo relacionado, pesquisadores do Instituto Max Planck de Bioquímica, da Alemanha, examinaram 34 pares de gêmeos idênticos, dos quais só um dos irmãos tinha esclerose múltipla. Quando a microbiota retirada dos gêmeos foi transplantada para camundongos suscetíveis a EAE, aqueles que receberam a microbiota dos portadores de EM tiveram maior incidência de EAE do que os que receberam transplantes oriundos dos pacientes
saudáveis. Os resultados indicam que os componentes do microbioma humano podem contribuir para o desenvolvimento de esclerose múltipla, dizem os autores.
Cré
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Fonte: Gut bacteria from multiple sclerosis patients modulate human T cells and exacerbate symptoms in mouse models e Gut microbiota from multiple sclerosis p a t i e n t s e n a b l e s s p o n t a n e o u s a u t o i m m u n e encephalomyelitis in mice, PNAS, 11 de setembro.
Esclerose múltipla e microbiota intestinal podem estar relacionadas
Novos antimicrobianos obrigam bactérias a ‘sacrificar’ sua virulência
Cientistas britânicos identificaram novos
agentes antimicrobianos capazes de eliminar a
bactéria Clostridium difficile, importante causa de
infecções hospitalares ao redor do mundo. Uma
classe de compostos recentemente desenvolvidos,
chamada de Avidocina-CD, mostrou-se capaz de
derrotar uma cepa de C. difficile formando poros na
superfície bacteriana. Os pesquisadores das
universidades de Glasgow e Sheffield, no Reino
Unido, revelaram que a pressão seletiva propor-
cionada pela intensa exposição à Avidocina-CD
resultou no isolamento de mutantes espontâneos de
C. difficile desprovidos de camada S, comprome-
tendo seu potencial patogênico. Em modelos de
infecção em hamsters, as bactérias resistentes a
Avidocina-CD apresentaram sua virulência atenuada
pela ausência da camada S, enquanto que cepas de
C. difficile com camadas S intactas fizeram as
cobaias sucumbir à doença em cinco dias. As
bactérias resistentes a Avidocina-CD também
produziram menos toxinas e ficaram sensíveis às
defesas antibacterianas inatas, bem como produ-
ziram esporos defectivos. Os novos achados
sugerem que antimicrobianos que miram nos fatores
de virulência dispensáveis para a sobrevivência no
hospedeiro podem vir a forçar os patógenos a abrir
mão de seu potencial patogênico – uma informação
importante para enfrentar a resistência bacteriana.
Fonte: New class of precision antimicrobials redefines role of Clostridium difficile S-layer in virulence and viability, Science Translational Magazine (AAAS), 6 de setembro.
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USP de São Carlos identifica toxina capaz de combater o HIV
Fonte: Selective cytotoxicity of a novel immunotoxin based on pulchellin A chain for cells expressing HIV envelope, Scientific Reports 7, 8 de agosto.
Pesquisadores da Universidade de São
Paulo (USP), em São Carlos, em parceria com a
Universidade da Louisiana, nos Estados Unidos,
descobriram uma nova proteína eficaz no
combate ao vírus HIV. Em testes, ela eliminou o
v í rus de 90% das cé lu las in fec tadas. As
imunotoxinas, ant icorpos conjugados com
toxinas, já foram propostas como tratamento para
o câncer e para infecções crônicas, graças à sua
habilidade de matar apenas as células doentes.
Neste estudo, a toxina Pulchellina, isolada da
p lan ta Abrus pu lche l lus tenu iflorus , uma
trepadeira típica do Nordeste, foi quimicamente
con jugada a um ant icorpo monoc lona l e
demonstrou atuar especificamente contra células
persistentemente infectadas pelo HIV. “Este é o
primeiro relato de que a Pulchellina pode ser útil
para o design e construção de imunotoxinas
terapêuticas, destacando seu papel potencial
para combate de células específicas, não apenas
na AIDS mas também no tratamento do câncer”,
escreveram os autores no artigo publicado na
seção Scientific Reports, da revista Nature.
D i f e ren temen te dos med i camen tos ho je
disponíveis, que matam apenas os vírus em
circulação, a nova substância consegue eliminar
também os vírus escondidos em lugares como o
sistema linfático e no intestino. “É um começo
muito positivo que pode trazer, a partir de estudos
posteriores, quem sabe a tão desejada cura da
AIDS”, declarou a pesquisadora Ana Paula Ulian
de Araújo, da USP.
Fonte: Unveiling the role and life strategies of viruses from the surface to the dark ocean, Science Advances (AAAS), 6 de setembro.
Oceano profundo reúne a maior coleção de vírus marinhos Um levantamento global da abundância viral nos oceanos tropicais e subtropicais sugere que os vírus têm um papel mais ativo na cadeia alimentar e no ciclo bioquímico do oceano profundo do que se pensava. Até o momento, a maior parte dos estudos tinha se limitado ao ambiente costeiro ou à camada superior das águas, tornando impossível medir o papel dos vírus no fluxo do carbono oceânico e na regulação das comunidades microbianas dos mares profundos. Por isso, uma nova pesquisa, conduzida por cientistas espanhóis e australianos, mediu a abundância viral entre a camada epipelá-gica (perto da superfície) e a camada batipelágica (no oceano profundo). Eles descobriram que a abun-dância viral média diminui 10 vezes da camada epipelágica até a batipelágica. Apesar da diminuição observada com a profundidade, as zonas meso e batipelágica abrigam
94,7% do total dos vírus presentes até 4 mil metros de profundidade, confir-mando que o oceano profundo é o maior reservatório de vírus marinhos.
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A vacina contra a zika é nossacom Pedro Fernando da Costa Vasconcelos
O virologista e diretor do Instituto Evandro Chagas, de Belém, falou à Microbiologia in Foco sobre os desafios para o desenvolvimento do imunizante, que já passou nos testes com camundongos e macacos
Uma candidata a vacina contra a zika, desenvolvida por pesqu isadores do Ins t i tu to Evandro Chagas, de Belém, em parceria com a University of Texas Medical Branch (UTMB), se mostrou eficaz em testes com camundongos – protegendo as mães e seus fetos. Inicialmente, o imunizante foi injetado em 23 fêmeas e um grupo controle de fêmeas recebeu placebo. Após 28 dias, a análise das amostras de sangue apontou altos níveis de anticorpos neutralizantes contra
a zika no grupo vacinado. Mais tarde, as fêmeas dos dois grupos acasalaram com machos e, em seguida, foram infectadas com o vírus zika. Uma semana depois, o s c i en t i s t a s ava l i a r am as f ê m e a s e o s r e s p e c t i v o s embriões. A placenta e o tecido cerebral dos fetos do grupo i n o c u l a d o c o m a v a c i n a apresentaram menores níveis de RNA viral na comparação com o grupo que recebeu placebo. Nos f e t o s c u j a s m ã e s f o r a m vacinadas a carga viral ficou
praticamente indetectável. Os pr incipais resul tados desse estudo foram divulgados pela americana Cell e pela inglesa Nature Medic ine , duas das publicações científicas mais r e s p e i t a d a s d o m u n d o . O virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e um dos autores da pesquisa falou à Microbiologia in Foco sobre o projeto e os próximos passos até que a vacina seja colocada à disposição da população.
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Por Karina Fusco
Q u a i s s ã o o s p r i n c i p a i s resultados dos testes com camundongos?Os testes provaram que apenas uma dose do candidato vacinal feito com vírus vivo atenuado foi capaz de induzir a imunidade com anticorpos neutralizantes. Além disso, a vacina foi capaz de evitar totalmente a infecção com dose letal pelo vírus da zika nos animais vacinados.
Como fo i desenvolv ido o imunizante?Foi utilizada a técnica de genética reversa para clonar o vírus e obter uma amostra atenuada, induzindo o vírus a algumas mutações, o que reduziu sua patogenicidade. Essa atenuação permitiu que o vírus mantivesse suas características e sua capacidade de produzir anticorpos, mas sem o poder de causar lesões nas células dos animais testados.
Por que essa candidata a vacina é tão promissora?O fato de o vírus atenuado ser parecido com o vírus selvagem faz com que a vac ina tenha a capacidade de induzir proteção para a vida toda com uma única dose. Essa é uma das maiores vantagens. Esta é a primeira vacina de vírus zika vivo atenuado já testada – as demais são feitas de vírus inativado ou de subunidades do vírus, RNA ou DNA recom-binantes. Para elas, é preciso aplicar duas ou mais doses com adjuvantes, para aumentar a resposta imune e, possivelmente, serão necessárias doses de reforço ao longo dos anos. Sabemos que esse tipo de imunização é mais difícil, pois as pessoas tendem a esquecer as doses de reforço. Vide o que tem acontecido com a vacina do HPV no Brasil.
Quais serão os próximos testes e quando eles devem acontecer?Os resultados positivos em camundongos possibilitaram que a vacina avançasse para os testes em macacos, que é a última fase antes dos testes em humanos. De janeiro a maio deste ano foram realizados os testes em primatas em três diferentes localizações. As equipes do Instituto Evandro Chagas e do Centro Nacional de Primatas (CENP) fizeram os testes em Ananindeua (PA); o time do Instituto de Tec-nologia em Imunobiológicos ( B i o - M a n g u i n h o s ) , d a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os fez no Rio de Janeiro; e os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, da sigla em inglês) conduziram os expe-rimentos em Bethesda, no e s t a d o a m e r i c a n o d e Maryland. Os resultados serão publicados no periódico Nature Communications, em setembro, e então serão iniciados os procedimentos regulatórios para os primeiros testes em seres humanos.
O senhor pode adiantar a lgum resul tado dessa segunda etapa?Os resultados também foram p o s i t i v o s . O s p r i m a t a s vacinados desenvolveram anticorpos e não ficaram doentes. Portanto, nossa vacina mostrou-se eficaz novamente. Agora seguiremos com outros experimentos para desenvolver um imunizante que possa ser aplicado nas gestantes.
Agora seguiremos com outros
experimentos para
desenvolver um
imunizante que possa
ser aplicado nas
gestantes
A vacina foi capaz de
evitar a infecção com dose letal pelo vírus da zika nos animais
vacinados
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Pedro Fernando da Costa Vasconcelos
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Quando ficar pronta, como deve ser a fabricação da vacina? Os ensaios clínicos em humanos devem ser conduzidos pelo BioManguinhos, que será o produtor da vacina no Brasil. Agora o desafio está com a instituição, que terá que registrar a vacina na Anvisa, na Comissão Técnica Nacional de Bios-s egu rança (CNTBio ) e na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Fica a cargo deles também a produção dos lotes vacinais para os ensaios clínicos, lotes sementes e a seleção dos voluntários em diferentes cidades das cinco regiões do Brasil.
Quando a vacina deve estar disponível para a população? Os ensaios cl ínicos devem começar dentro de um ano e então
serão necessários mais dois ou três anos para a realização dos testes em humanos. Somente após a aprovação e realização desses testes é que a vacina pode chegar à população. Isso deve acontecer em até cinco anos.
Qual o público-alvo da vacina?Inicialmente, o público-alvo da imunização serão mulheres em idade fértil e seus parceiros e também crianças de ambos os sexos, com até 10 anos de idade. A ideia é criar uma barreira que faça com que essas pessoas, quando in ic i a rem sua v ida sexua l e n g r a v i d a r e m , j á e s t e j a m protegidas.
Por que as gestantes não poderão tomar essa vacina?Porque existe o risco de trans-missão da doença. A vacina com o
vírus vivo atenuado, assim como o vírus selvagem, pode causar l e s õ e s n o f e t o . O m e s m o aconteceu com a vacina da rubéola. Algumas mulheres grávidas que foram vacinadas sem saber da gestação desenvolveram a síndrome congênita da rubéola pela vacina. O mesmo pode acontecer com o vírus da zika.
H á o u t r a s p e s q u i s a s e m a n d a m e n t o p a r a b u s c a r imunizante ideal para este público?Sim. Na pesquisa fei ta em parceria com o grupo Valera, da empresa americana Moderna Therapeutics, um candidato vacinal foi elaborado a partir de DNA recombinante do vírus da zika. Duas doses da vacina de mRNA foram dadas a 19 fêmeas de camundongo com 28 dias de diferença entre elas . Para-lelamente, um grupo-controle de 23 fêmeas recebeu duas doses de p l a c e b o . A p ó s 4 9 d i a s d a aplicação, foram detectadas altas taxas de anticorpos neutralizantes contra zika no grupo inoculado. Depois, as fêmeas acasalaram e, no sexto dia de gravidez, foram infectadas com o vírus zika selvagem, o mesmo que causou a microcefalia. Quando as fêmeas e os embriões foram analisados uma semana depois, os níveis de RNA viral nos tecidos das mães, da placenta e dos fetos eram menores que os encontrados no grupo que recebeu placebo. Foi um passo importante para ter certeza de que ela era capaz de imunizar. Essa vacina também conseguiu inibir a transmissão congênita do vírus. Como ela leva apenas um pedaço do genoma e não contém vírus, poderia ser aplicada nas gestantes.
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Por que essa modalidade de vacina requer duas doses?São necessárias duas doses para atingir os mesmos níveis de anticorpos neutralizantes que a outra, feita com vírus vivo atenuado, é capaz de induzir com apenas uma dose. Toda vacina com DNA recombinante não tem a mesma capacidade imunogênica que tem um vírus íntegro, como o usado para a outra pesquisa. Resta ainda a dúvida se duas doses serão capazes de proteger para toda a vida ou se serão necessários reforços ao longo dos anos.
Como as pesquisas são feitas em parceria com a americana UTMB, existe o risco de outros países terem o imunizante antes do Brasil?O acordo de cooperação define
que o Ministério da Saúde terá
direito a 50% das patentes e os
Estados Unidos ficam com os
outros 50%. No Brasil, a produção
será exclusiva da BioMan-
guinhos. Já em outros países, os
Estados Unidos podem negociar a
p rodução l i v remen te , mas
acredito que a nossa vacina ficará
pronta primeiro.
Podemos dizer que o pior da epidemia de zika já passou?De forma alguma. Os casos d iminuíram, s im, mas têm ocorrido principalmente na região Nordeste, inclusive com registro de microcefalia. Com base em surtos que ocorreram por outros arbovírus, sabemos que a cada cinco ou dez anos o vírus retorna com a mesma força inicial devido à renovação dos suscetíveis. O que ocorreu com a dengue e a Chikungunya é um exemplo disso. Portanto, a imunização é essencial.
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Acesse nosso portal de notícias.Estamos de cara nova!
Elas estão de volta
Era para ser uma pági-
na virada na história da saúde
pública mundial, mas um novo
capítulo está sendo escrito
com dados alarmantes. Após
uma explosão no número de
casos, clamídia, gonorreia e
sífilis, três infecções sexual-
mente transmissíveis (ISTs)
amplamente conhecidas e que
pareciam estar sob controle,
retornaram à lista de priori-
dades de autoridades sanitá-
rias de todo o mundo. Nos
Estados Unidos, por exemplo,
onde as taxas de sífilis haviam
ficado em 2,1 casos por 100 mil
habitantes em 2000, o menor
nível desde 1941, a doença
voltou a crescer até chegar 7,5
casos em 2015, segundo
dados dos Centros de Controle
de Doenças (CDC). Já a
gonorreia, que em 2009 havia
atingido seu menor nível – com
apenas 98 casos a cada 100
mil pessoas – bateu os 124
Por Karina Fusco
Sistema reprodutivo feminino: após ficar nos menores níveis nos anos 2000, ISTs têm batido recorde de casos
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ISTs
Clamídia, sífilis e gonorreia, doenças que pareciam controladas em todo o mundo, hoje são
consideradas epidemias, com dados alarmantes
12
casos a cada 100 mil pessoas
em 2015, um crescimento de
26%. No Brasil essas ISTs
avançam ainda mais rápido.
Por aqui, o Ministério da
Saúde contabilizou 65.878
casos de sífilis adquirida em
adultos em 2015, um aumento
de 5.174% em um prazo de
cinco anos. Em gestantes o
crescimento foi de 214%, com
alta de 177% nos casos de
sífilis congênita – quando a
doença é transmitida ao feto.
Os números já são
extremamente preocupantes,
mas a realidade pode ser bem
pior, acreditam os espe-
cialistas, já que somente os
casos de HIV e de sífilis em
g e s t a n t e s e b e b ê s s ã o
notificados obrigatoriamente
ao Ministério da Saúde. Em
relação à gonorreia, o órgão
informa que a estimativa é de
que surjam 500 mil novas
ocorrências a cada ano – uma
p r e v a l ê n c i a d e a p r o x i -
madamente 1,4% para a
população de 15 a 49 anos.
Em todo o mundo, estima-se
que, a cada ano, 131 milhões
de pessoas sejam infectadas
com clamídia; 78 milhões com
gonorreia e 5,6 milhões com
sífilis.
Além do aumento dos
registros, a resistência das
ISTs ao efeito dos antibióticos
cresceu rapidamente nos
últimos anos, reduzindo as
opções de tratamento. No caso
da gonorreia, a Organização
Mundial da Saúde (OMS)
lançou um alerta de que
algumas cepas de Neisseria
gonorrhoeae, micro-organismo
causador dessa infecção, se
tornaram resistentes a todos os
antibióticos hoje disponíveis
para o seu tratamento. Quando
não são combatidas, essas
ISTs podem provocar com-
p l i cações g raves , como
i n fl a m a ç ã o p é l v i c a n a s
mulheres, gestações ectópicas
e abortos; infertilidade em
homens e mulheres, elevar o
1.249
65.878
*A cada100 mil
habitantes.
10.626
33.365
*A cada 1000nascidos
vivos.
ADQUIRIDA GESTANTES
6.944
19.228
*A cada 1000nascidos
vivos.
Explosão de casosDe acordo com o Boletim Epidemiológico Sífilis 2016, as ocorrências das três modalidades da doença aumentam assustadoramente no Brasil
2015
2010
CONGÊNITA
SÍFILIS
Fonte: Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.
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ag
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po
r C
.Carr
eau
risco de contaminação pelo HIV
em até três vezes. “Clamídia,
gonorreia e sífilis são grandes
problemas de saúde pública ao
redor do mundo, afetando a
qualidade de vida de milhões de
pessoas, causando sérias
doenças e, alguns casos,
levando à morte. As novas
recomendações da OMS
reforçam a necessidade de
tratar essas doenças com o
antibiótico certo, na dose certa
e pelo tempo certo para reduzir
sua disseminação”, declarou
Ian Askew, diretor de pesquisa
e saúde reprodutiva da OMS.
Sem opções
Para muitos especia-
listas, o que está por trás da
disparada nos números dessas
DSTs são a negligência em
r e l a ç ã o a m e d i d a s d e
prevenção, como a redução do
uso de preserva t ivos , a
prescrição indiscriminada de
antibioticoterapia. “O uso de
antimicrobianos sem raciona-
lidade é o principal problema, o
que demons t ra f a l t a de
instrução por parte dos mé-
dicos”, afirma Francisco Hideo
Aoki, professor de infectologia
da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp.
Nesse sentido, o caso
mais grave é o da gonorreia,
que vem adquirindo o status de
doença sem opções terapêu-
ticas. Além da resistência já
bem estabelecida às sulfas,
tetraciclinas e penicilinas,
constatou-se recentemente a
resistência em franca expansão
à ciprofloxacina, com taxas
próximas e até superiores a
50% em todas as regiões
brasileiras. “Pelo aumento de
casos e pela questão da
mult i r resistência, a OMS
colocou Neisseria gonorrhoeae
na lista dos patógenos com alta
prioridade para pesquisa e
desenvolvimento de novos
antimicrobianos”, diz Maria
Luiza Bazzo, do Laboratório de
B i o l o g i a M o l e c u l a r e
Micobactérias da Universidade
Federal de Santa Catarina
(UFSC) e coordenadora do
projeto Sengono, do Departa-
mento das Infecções Sexual-
mente Transmissíveis (IST), de
HIV/AIDS e das Hepatites
Virais (DIAHV), da Secretaria
de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde. “Atual-
mente existem poucos princí-
pios ativos com potencial para
se tornar útil no tratamento da
Prevenção: para especialistas, aumento das ocorrências está relacionadoa negligência no uso de preservativos
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gonorreia. Um deles está em
fase de testes em humanos”,
d iz a pesquisadora, que
considera que o maior desafio é
o tratamento de gonorreia da
orofaringe, região do corpo
onde a ação dos medicamentos
é mais difícil. Por enquanto, as
alternativas terapêuticas à
ciprofloxacina se limitam às
cefalosporinas de terceira
geração – cefixima e ceftriaxo-
na – administradas em terapia
dupla com a azitromicina. De acordo com Maria
Lu iza Bazzo, a bac tér ia
acumula diversos tipos de
genes de resistência, tanto em
plasmídios como no cromos-
somo. Além disso, o micro-
organismo costuma manter
essa res is tênc ia mesmo
quando não é exposto a um
ant imicrobiano por muito
tempo. “Quando expostas a
algum antimicrobiano, a maio-
ria das bactérias sensíveis
morre e as resistentes emer-
gem. São as que adquiriram,
incorporaram ou desenvol-
veram mutações, deleções,
p r o c e s s o s e n z i m á t i c o s ,
diminuição de influxo, aumento
de efluxo ou outros mecanis-
mos de resistência. É carac-
terístico dessa bactéria alterar
seu DNA para se adaptar a
ambientes hostis e manter
esses mecanismos”, afirma.
Após atingir seu menor nível desde 1941 em 2009, a gonorreia voltou a crescer
ano a ano nos Estados Unidos (em milhares de casos)
301,1 309,3321,8
Crescimento constante
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fon
te:
CD
Cs/
2016
334,8 333,0350,0
395,2
DSTC
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Ameaça às gestantes
Além da negligência no
uso do preservativo, mais um
fator que agrava a recente
epidemia de sífilis, doença
c a u s a d a p e l a b a c t é r i a
Treponema pallidum: a falta, em
nível nacional e internacional,
do antibiótico recomendado
para o tratamento, a penicilina
benzatina. Descoberto em
1928, o medicamento é barato
e c o n s i d e r a d o u m d o s
principais responsáveis pela
redução dos casos da doença
no século XX. O desabas-
tecimento da penicilina chegou
a afetar 60% dos estados
brasileiros em 2016.
Segundo o Ministério da
Saúde, o problema foi global e
se deu pela falta de matéria-
prima para a sua produção, o
que contribuiu para ampliar o
número de casos da doença em
todo o mundo. O órgão garante
que atualmente o Brasil tem
estoques do remédio, mas
enfrenta a resistência dos
profissionais de saúde de
ap l i ca r a pen ic i l i na nas
unidades de atenção básica.
“Há um receio de que haja
reação alérgica, apesar das
revogações das portarias que
impediam a administração da
medicação sem os aparatos de
emergência”, afirma Adele
Schwartz Benzaken, diretora do
Departamento de DST, AIDS e
Hepatites Virais do Ministério da
Saúde. O medo dos profis-
sionais se deve aos casos de
choque anafilático.
Assim como acontece
com a epidemia de zika, as
gestantes e seus filhos também
ficam sob grande risco por
causa da doença. Quando uma
mulher não tem a doença
diagnosticada ou é tratada
Campeã de ocorrênciaOs registros de clamídia não param de crescer nos Estados
Unidos (em milhões de pessoas infectadas)
2013 2014 2015
1,401,44
1,52
Sífilis congênita: se gestante não tem a doença tratada, feto fica sujeito amalformações ósseas e neurológicas
Cré
dit
o:
dre
am
sti
me
diagnosticada ou é tratada
incorretamente, o bebê pode
adquirir a sífilis congênita,
ficando sujeito a malformações
ósseas e neurológicas com
altas taxas de mortalidade e
morbidade associadas. Em
2015, a cada 1.000 nascidos
vivos, seis bebês estavam
infectados. Abortos espontâ-
neos e mortalidade infantil
também podem ser causados
pela doença.
Para as grávidas, a falta
da penicilina é um problema
ainda maior, já que apenas
esse medicamento é capaz de
combater o micro-organismo
Treponema pallidum no feto.
Outros tratamentos, à base de
azitromicina, ceftriaxona e
doxiciclina, não eliminam a
infecção na criança. “Para
conter o avanço da sífilis, o
Ministério da Saúde lançou
uma agenda de ações estra-
tégicas, em parceria com
várias associações e con-
selhos de classe, e ampliou a
testagem e a mobilização de
gestores e profissionais de
saúde para oferecer o exame e
o tratamento da sífilis congê-
nita durante o pré-natal, entre
outras ações”, diz Adele.
Enquanto novos anti-
b ió t icos não chegam ao
mercado, cresce a pressão
p a r a q u e o s g o v e r n o s
conscientizem a população
sob re a impo r t ânc i a da
prevenção e para que a
comunidade científica trabalhe
em inovações para o combate
à s I S Ts , e v i t a n d o q u e
perigosos desdobramentos da
doença, como a neurossífilis –
condição em que o patógeno
da sífilis atinge o cérebro –
saiam de controle.
Novas diretrizes
Gonorreia Sífilis A orientação é admi-nistrar uma única dose de penicilina benzatina, injetada por um médico ou enfermeira. Este é o tratamento mais eficaz para tratar a sífilis, e é mais barato do que anti-bióticos orais.
A penicilina benzatina fo i reconhec ida na 69ª Assemble ia Mundia l de Saúde, em maio de 2016, como medicamento essencial contra a sífilis, mas que tem tido baixa disponibilidade por vár ios anos. A OMS se compromete a monitorar a oferta global da droga nos níveis suficientes a cada país.
O s g o v e r n o s e autoridades sanitárias de devem monitorar a pre-valência de resistência a diferentes antibióticos das cepas de gonococos que circulam em seu país.
Os órgãos de saúde pública devem orientar os profissionais de saúde a prescrever os medicamentos de acordo com os padrões locais de resistência.
A OMS não reco-menda o uso de quinolonas no tratamento do gonococo devido aos grandes níveis de resistência da doença a essa classe de antibióticos.
Conheça as recomendações mais recentes da OMS para
combater as DSTs que mais crescem
16
Ana Maria PrimavesiPRÊMIO
Oferecido por:
Prêmio de melhor trabalho na área de Mibrobiologia do Solo, a ser eleito no 29º Congresso Brasileiro de Microbiologia de 2017.
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19
“ONE HEALTH”: UM NOVO PARADIGMA
1Prof. Lauro Santos Filho2Prof. Celso José Bruno de Oliveira
1 Depto. de Ciências Farmacêuticas - Centro de Ciências da Saúde/UFPB
2 Depto. de Zootecnia - Centro de Ciências Agrárias/UFPB
RESUMO
O termo “One Health” encontra-se em evidência e tem sido utilizado em diferentes contextos por
profissionais de diversas áreas com uma finalidade semelhante. Assim, existem controvérsias sobre seu real
significado dentro das diferentes áreas do conhecimento, envolvendo biologia, infectologia, medicina
evolucionária, infecções zoonóticas, saúde pública e microbiologia. Quais as raízes desse conceito e sua
real concepção? Qual o papel da microbiologia no contexto do “ ”? Quais as oportunidades e One Health
perspectivas profissionais envolvendo o conceito “ ”? A presente publicação objetiva esclarecer One Health
aspectos fundamentais e discutir o potencial impacto dessa abordagem sobre o futuro dos aspectos
relacionados à saúde pública. Essa abordagem constitui um cenário ampliado relacionado à medicina
humana e veterinária, doenças infecciosas e ecologia, tendo como ponto ou ferramenta comum aspectos de
microbiologia, constituindo um esforço colaborativo com finalidade de obter uma saúde de melhor qualidade
para pessoas, animais e meio ambiente.
Palavras Chave: One Health, Medicina Veterinária, Microbiologia
ABSTRACT
The term "One ealth" is under evidence and has been used in different contexts by professionals from H
different areas with a similar purpose. Thus, there are controversies about their real meaning within the
different areas of knowledge, involving biology, infectology, evolutionary medicine, zoonotic infections, public
health and microbiology. What are the roots of this concept and its real conception? What is the role of
microbiology in the context of "One health"? What are the professional opportunities and perspectives
surrounding the "One Health" concept? This publication aims to clarify fundamental aspects and discuss the
potential impact of this approach on the future of aspects related to public health. This approach is an
extended scenario related to human and veterinary medicine, infectious diseases and ecology, having as a
common point or tool aspects of microbiology, constituting a collaborative effort to obtain better health for
people, animals and the environment.
Key Words: HOne ealth, Veterinary Medicine, Microbiology.
21
02. CONCEITO DE SAÚDE
O conceito de saúde é, atualmente, dividido em três níveis:
a. Primeiro nível: saúde do indivíduo numa determinada população, animal ou humana;
b. Segundo nível: apresenta um aspecto mais amplo ou coletivo e constitui a saúde populacional, ou
saúde pública;
c. Terceiro nível: abrange todos os componentes do ecossistema nos quais os indivíduos são inseridos
e no qual se desenvolvem as ações e consequências, fauna, flora e meio ambiente (LERNER et al., 2015).
Os “ ” (CDC) utilizam a abordagem “ ”, através de uma Centers for Disease Control and Prevention One Health
plataforma multidisciplinar envolvendo médicos, ecologistas e veterinários, para monitorar problemas em
saúde pública de natureza infecciosa, enfatizando a interface homem-animal-ecossistema. Nesse contexto,
saúde é definida pela OMS como um estado de completo bem-estar físico, mental e sociaI e não apenas a
ausência de doença (WHO, 1948).
Os principais desafios apresentam conexão ecológica, implicando na necessidade de colaboração e
comunicação entre os profissionais das diferentes áreas. Destaca-se especialmente o papel do
microbiologista, considerando a importância central dos microrganismos nos processos infecciosos
decorrentes da troca de material biológico em um determinado ecossistema.
03. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO “ONE HEALTH”
O conceito globalizado de promoção da saúde não é novo e foi proposto há muito tempo por William Osler e
Rudolf Virchow e, posteriormente, adotado por Calvin Schwabe, que, em 1984, publicou o livro “Veterinary
Medicine and Human Health” (CANTAS et al., 2014).
Em 2004, durante o simpósio “ ” realizado em Building Interdisciplinary Bridges to Health in a Globalized World
New York, EUA e promovido conjuntamente pela “ ” e pela “Wildlife Conservation Society Rockefeller
University”, foi estabelecido um conjunto de normas que ficaram conhecidas como os “Princípios de
Manhattan”, os quais têm orientado cientistas ou profissionais envolvidos com o assunto, e que permanecem
como base na definição dos conceitos em “One Health” até os dias atuais (LERNER et al., 2015;
CUNNIGHAN et al., 2017).
Em resumo, estes princípios se estruturam nos seguintes pilares:
a. Reconhecer a indissociabilidade entre a saúde do homem-animal-meio ambiente;
b. Criar abordagens para vigilância, prevenção e controle de doenças infecciosas emergentes;
c. Aumentar o investimento global em infraestrutura de saúde humana e animal;
d. Desenvolver relações colaborativas entre governos, setores públicos e privados no sentido de
providenciar recursos adequados à implementação desses objetivos;
e. Investir em educação, promovendo o conceito da ligação entre a saúde humana, animal e ambiental.
Em 2009, o Dr. Lonnie King, então diretor do Centro Nacional de Zoonoses do CDC, propôs a criação de um
setor específico na instituição sobre o tema, com a finalidade de aproximar outras organizações de saúde e
maximizar o aproveitamento de financiamentos e oportunidades voltadas à solução dos problemas de
saúde. Desde então, esse escritório tem desempenhado um papel crescente no apoio de pesquisas e
facilitando a troca de informações entre pesquisadores de diferentes profissões e setores em todo o mundo.
20
01. INTRODUÇÃO
Embora esteja agora em mais evidência, o conceito “One Health” ou “Saúde Única” tem sido desde muito
tempo reconhecido globalmente. Desde o século XVIII, os cientistas notaram similaridade entre os
processos infecciosos de homens e animais; no entanto, a medicina era então praticada separadamente até
o século XX (BIDAISEE et al., 2014).
“One Health” foi um termo oficialmente adotado por organizações internacionais e instituições acadêmicas
em 1984, que representa um conceito antigo inerente à interdependência entre a saúde humana, animal e do
meio ambiente. Fundamenta-se no conceito de que a promoção da saúde, em seu aspecto pleno, depende
da uma relação indissociável entre seres humanos, animais e o ecossistema em que se inserem. Portanto,
as ações em “One Health” requerem uma abordagem colaborativa, multidisciplinar e interssetorial com
finalidade de promover a eliminação dos riscos existentes na interface homem-animal-ecossistema
(CALISTRI et al., 2013; GIBBS, 2015).
O termo é definido também pela “ ” como o colaborativo, multidisciplinar e One Health Commission esforço
multiprofissional para obter uma melhor saúde de pessoas, animais e meio ambiente. Em outra definição, a
“ (OHITF) estabelece que seria a promoção, melhoria e defesa da saúde e One Health Initiative Task Force”
bem-estar de todas as espécies através da cooperação e colaboração de médicos, veterinários e outros
profissionais de saúde, promovendo o fortalecimento e liderança no gerenciamento desses objetivos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a abordagem “One Health” desempenha um papel
significativo na prevenção e controle de zoonoses, ou seja, doenças naturalmente transmitidas entre animais
vertebrados e seres humanos (GIBBS et al., 2013; CANTAS et al., 2014). De fato, as doenças infecciosas
zoonóticas têm sido um problema para a espécie humana por mais de 10.000 anos. Atualmente,
aproximadamente 75% das doenças emergentes e reemergentes são zoonoses que resultam de vários
fatores antropogênicos, ecológicos, sócio econômicos e climáticos. Ressalta-se o crescente aumento no
volume de viagens, comércio e deslocamentos populacionais, considerando que a dinâmica desses fatores
proporciona trocas microbianas com possibilidade da emergência de doenças infecciosas (GRAHAM et al.
2008; GEBREYES et al., 2014).
A ocorrência de novas e reemergentes zoonoses tem evoluído de maneira significativa nas últimas três
décadas, parcialmente como consequência da interdependência entre homens, animais e seus produtos,
assim como pela aproximação e associação com animais de trabalho e companhia (GRAHAM et al., 2008;
BIDAISEE et al., 2014). Dessa forma, os agentes zoonóticos têm se consolidado e certamente continuarão a
ser considerados entre os principais riscos para a saúde humana mundial.
O fenômeno das doenças infecciosas é impulsionado por vários fatores antropogênicos, incluindo: fatores
genéticos e biológicos como a adaptação microbiana às mudanças ambientais; alterações na
susceptibilidade do hospedeiro a infecção; fatores ambientais, com mudanças climáticas, nos ecossistemas
e na densidade populacional humana e animal; bem como fatores socioeconômicos e políticos, aumento das
viagens internacionais e do comércio, considerando-se enfim a desigualdade social e mudanças no
desenvolvimento econômico (CUNNIGHAN et al., 2017).
22
Em julho de 2011, o ‘‘Southern African Centre for Infectious Disease Surveillance organizou a primeira ’’
Conferência ‘‘One Health na África, ocorrida no Instituto de Doenças Infecciosas em Johanesburgo, ’’
África do Sul, envolvendo cientistas da África, Ásia, Europa, Rússia, Austrália, e Estados Unidos. Neste
mesmo ano, houve um evento semelhante em Melbourne, Austrália, em que os participantes, além das
abordagens iniciais, decidiram incluir outras disciplinas e especialidades como doenças infecciosas,
economia, microbiologia e segurança alimentar.
Em fevereiro de 2012 foi realizado em Davos, Suíça, o “ ”, The Global Risk Forum (GRF) One Health Summit
durante o qual foram discutidos principalmente os problemas associados à segurança alimentar, resultando
na aprovação do “ ", um documento internacional sobre a necessidade de Davos One Health Action Plan
implementação de ações de saúde pública fundamentadas na cooperação multidisciplinar e multissetorial
(CANTAS et al., 2014).
04. TRABALHOS E AÇÕES COLABORATIVAS
Considerando a crescente interdependência entre homens e animais, principalmente devido à evidente
necessidade de produtos de origem animal como principal fonte de proteínas, os profissionais da área
médica e veterinária têm adotado uma postura de trabalho cada vez mais interligada. Como resultado, são
estimulados os estudos colaborativos entre grupos e, principalmente, entre instituições acadêmicas e de
pesquisa de diferentes regiões e países, com finalidade de promover uma melhor saúde para seres
humanos, animais e meio ambiente.
Nessa interface, evidencia-se a grande relevância da Microbiologia que, em suas diversas vertentes e áreas
de aplicação, constitui um elo comum entre os componentes de um ecossistema, através da contaminação,
da disseminação de microrganismos e da ocorrência das doenças transmissíveis.
Dessa abordagem colaborativa resultam muitos benefícios, tais como:
a. Melhoria na saúde humana e animal;
b. Convergência de interesses e trabalhos colaborativos envolvendo profissionais de medicina humana
e veterinária, microbiologia, aspectos ambientais, vida selvagem e saúde pública;
c. Desenvolvimentos de centros de estudo e treinamento visando colaboração entre os diversos
campos de ensino e pesquisa relacionados ao assunto;
d. Geração de oportunidades de trabalho para os diferentes profissionais envolvidos;
e. Aumento expressivo do conhecimento científico do assunto e criação de programas inovativos para o
incremento da saúde global;
Do total das doenças infecciosas humanas, aproximadamente 60% são causadas por patógenos que
infectam diferentes hospedeiros, caracterizando sua transmissão através de várias espécies animais.
Portanto, não há como negligenciar o comportamento biológico dos patógenos nos animais e no ambiente e
seu possível impacto na saúde pública e na economia, como fundamento para a implementação de
tratamento e programas preventivos.
No início do século XXI, viroses zoonóticas emergentes com capacidade de provocar doenças pandêmicas,
incluindo uma extensiva mortalidade humana, desencadearam muitas crises internacionais e a adoção de
medidas críticas emergenciais (GIBBS, 2005). Autoridades e cientistas de todo o mundo reconheceram a
23
necessidade premente de uma maior colaboração interdisciplinar para prevenir e controlar zoonoses, e
que tal colaboração não envolvesse apenas médicos e veterinários, mas também outros profissionais
ligados ao assunto, tais como: ambientalistas, antropologistas, economistas, entre outros, onde se
destaca a participação de microbiologistas (CALISTRI et al., 2013).
Essa abordagem tem sido adotada com grande entusiasmo por profissionais da área veterinária e por
organismos internacionais encarregadas do controle de zoonoses, notadamente “Food and Agriculture
Organization World Organisation for Animal Health (FAO)”, Organização Mundial de Saúde (OMS) e “ (OIE)”.
Tais agências têm difundido mundialmente a plataforma “ ” para solução de importantes desafios One Health
em escala global, tais como segurança alimentar, resistência bacteriana e mudanças climáticas
(GEBREYES et al., 2014).
O Consórcio Global “ ” (VPH-Biotec Global Consortium), The Veterinary Public Health and Biotechnology
lançou o Congresso Internacional Sobre Patógenos na Interface Humana-Animal (ICOPHAI), como
finalidade de direcionar esforços para a solução dos problemas causados pelas zoonoses. O congresso
inaugural ocorreu em setembro de 2011, quando 360 cientistas de 35 nações se reuniram no Centro de
Conferências das Nações Unidas (ONU) em Addis Ababa, Etiópia (ICOPHAI, 2011).
O segundo ICOPHAI aconteceu em Porto de Galinhas-PE, Brasil, em agosto de 2013, atraindo
representantes de 56 países diferentes, que apresentaram 278 trabalhos científicos (ICOPHAI, 2013). A
terceira versão do evento aconteceu em agosto de 2015, na cidade de Chiang Mai, Tailândia, sudeste
asiático, com a participação semelhante aos eventos anteriores e constituindo-se em oportunidade única de
dividir experiências e direcionar discussões relacionadas ao assunto em todo o mundo. No corrente ano de
2017 será realizado o próximo evento na cidade de Doha, Qatar/Emirados Árabes, cujo tema central será
“ ” e já conta com um número recorde de público e de Enviromental Change and Impact on Global Health
trabalhos inscritos, quando comparado às versões anteriores.
Nos últimos 15 anos, nosso planeta tem enfrentado expressiva quantidade de surtos de doenças zoonóticas
fatais, sejam de etiologia viral, tais como hantavirose, ebola, gripe aviária (H1N1, H7N9), febre do vale do
Rift, Síndrome da Doença Respiratória Aguda (SARS) e Síndrome Respiratória do Meio Leste (MERS). O
fato, é que desde 1980, mais de 87 doenças emergentes diferentes, zoonóticas ou causadas por vetores,
foram descobertas e têm sido associadas a sérios agravos à saúde e impactado negativamente a economia
de diversas regiões (JONES et al., 2008; GIBBS et al., 2013; GIBBS, 2015, CUNNIGHAN et al., 2017).
05. ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS
O risco de doenças zoonóticas a partir da vida selvagem, animais de produção e animais de companhia não
pode ser adequadamente avaliado sem uma maior colaboração entre veterinários e outros profissionais de
saúde. Apesar de existirem exemplos clássicos de patógenos associados especificamente a determinadas
espécies animais, aproximadamente 75% das doenças infecciosas emergentes e 60% de todos os
patógenos humanos são de origem zoonótica (TAYLOR et al, 2001).
Algumas das grandes descobertas na história da medicina e da saúde pública foram feitas a partir da intensa
relação entre saúde humana e animal. Como por exemplo, os estudos históricos de Edward Jenner sobre
varíola, cujos conceitos permitiram o desenvolvimento da vacina que, dois séculos mais tarde, permitiu a
erradicação global na varíola (RIEDEL, 2005).
Louis Pasteur, o renomado químico francês que estudou a cólera, e Robert Koch, médico alemão que se
24
ocupou também do estudo da tuberculose, desenvolveram independentemente a teoria bacteriana das
doenças infecciosas, respectivamente com a descoberta da primeira vacina contra a raiva e o
reconhecimento dos denominados “Postulados de Koch”, que estabeleceram os princípios da causa e
evolução das doenças infecciosas, aceitos até hoje. Com o advento e progresso ocorridos durante o
século XX, a medicina tornou-se altamente especializada, havendo a necessidade de um trabalho mais
colaborativo entre médicos, veterinários e outros profissionais da área de saúde, em virtude da
relevância das doenças zoonóticas sobre os seres humanos (SMITH, 2012).
O século XXI exige que os profissionais das diferentes áreas do conhecimento estreitem os laços
colaborativos, pois disso depende a geração de conhecimentos e tecnologias para combate aos inúmeros
desafios (GIBBS et al., 2013; ). Microbiologistas têm colaborado na área de CUNNIGHAN et al., 2017
doenças infecciosas através da identificação dos diferentes patógenos microbianos. Esse esforço
investigativo promove uma capacitação mais aprofundada no assunto, auxiliando na disseminação natural
do conceito de “ ” através da integração dos diferentes campos de atuação e suas respectivas One Health
visões técnicas, como recomenda a Organização Mundial de Saúde (JACOBSSON, 2012).
6. A RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA COMO PROBLEMA MULTIDISCIPLINAR
A emergência de resistência antimicrobiana de agentes infecciosos, inclusive zoonóticos, é considerada a
principal ameaça à saúde humana na atualidade. O tema tem ganhado notoriedade em diversos países e
considerado um problema em escala global, podendo causar impacto devastador e sem precedentes, uma
vez que vivemos um cenário de crescente mobilidade de pessoas e alimentos entre diferentes regiões.
Drogas antimicrobianas têm sido amplamente utilizadas na produção animal, principalmente os chamados
promotores de crescimento, que são antibióticos fornecidos em doses subterapêuticas na ração para
favorecer o ganho de peso e melhorar os índices zootécnicos (CHENG et al., 2014)
Vários países têm restringido ou mesmo banido essa prática considerando que estudos científicos
demonstram uma associação positiva entre utilização de drogas antimicrobianas em animais de produção e
surgimento de patógenos apresentando resistência a diversas drogas, causando infecções de difícil
tratamento em humanos (AARESTRUP et al., 1998).
É importante mencionar que a referida resistência é codificada em elementos móveis do genoma dos
microrganismos. Portanto, é necessário considerar os animais, os alimentos derivados dos mesmos, e o
meio ambiente não apenas como vias potenciais de transmissão de patógenos zoonóticos resistentes aos
humanos, mas também como via de transferência de genes de resistência aos agentes infecciosos
exclusivamente humanos (STANTON, 2013).
Em decorrência da dimensão do problema, o governo norte-americano lançou, em setembro de 2014, um
plano nacional de combate à resistência antimicrobiana denominada “White House National Strategy for
Combating Antibiotic Resistant Bacteria (CARB)”, considerando que apenas nos EUA mais de dois milhões
de infecções humanas ocorrem anualmente, causando elevado número de mortes decorrentes de infecções
com microrganismos resistentes. O desenvolvimento de alternativas ao uso de drogas antimicrobianas em
animais de produção figura como ponto estratégico no referido programa (THE WHITE HOUSE, 2015).
25
7. CONCLUSÕES
Os recentes avanços em pesquisa e desenvolvimento alcançados nos últimos anos, assim como a grande
perspectiva de inúmeras descobertas e inovações na área de saúde que ainda estão por vir, principalmente
gerados pelas “ômicas” em consonância com os avanços em Bioinformática, nos encorajam a acreditar que
poderemos vencer muitos dos sérios problemas em saúde pública que ainda afetam a população mundial.
No entanto, apesar do conceito holístico de saúde global ser bastante antigo e ter sido levantado por
importantes nomes, ainda existem grandes gargalos relativamente à implementação de ações
interdisciplinares na solução dos problemas de saúde. O cenário crescente e intenso de deslocamento de
pessoas, mercadorias e informações pelo mundo é prova de que não há como negligenciar a existência de
interdependência entre seres humanos, animais e ambiente sobre os eventos de saúde.
O conceito “ ” não deve ser visto como solução final para os problemas expostos, mas deve ser One Health
considerado uma plataforma para diálogo e ações de amplo alcance, respaldadas em informações
científicas relacionados aos diferentes aspectos das doenças zoonóticas, contribuindo com a nossa
capacidade de dimensionamento dos problemas no sentido de promover intervenção adequada.
O conceito “ ” necessita ainda ser melhor entendido e divulgado para que seja, adequadamente, One Health
utilizado na prática em atividades educativas e de pesquisa. Tal esforço pode resultar no que seja, talvez, o
grande benefício esperado: superar a carência de lideranças que possam aproximar ações
multidisciplinares e concatenar esforços entre profissionais de diferentes áreas. Há a necessidade de
considerar que, apesar dos avanços técnico-científicos, existe enorme dificuldade de visualização dos
problemas num cenário mais amplo, incluindo outros componentes de um sistema.
A questão central do presente tema é: se a abordagem “ ” constitui uma resposta pontual de curta One Health
duração a um problema atual de doenças emergentes ou se consolidará como uma mudança de paradigma
levando a um comprometimento de ações interdisciplinares mais amplas visando a proteção e as
necessidades da população ao longo do século.
8. REFERÊNCIAS
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Investment to Combat Antibiotic-Resistant Bacteria to Protect Public Health.Disponível em
<h�ps://www.whitehouse.gov/the-press-office/2015/01/27/fact-sheet-president-s-2016-budget-proposes-
historic-investment-combat-a> Acesso em 13/02/2015
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