ECOBIOMETRIA OCULAR E CRANIOMETRIA EM BOVINOS DA … · anecoica da córnea (seta curta), câmara...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
ECOBIOMETRIA OCULAR E CRANIOMETRIA EM BOVINOS DA
RAÇA JERSEY DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS
Carla Amorim Neves
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Naida Cristina Borges
GOIÂNIA
2018
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iii
CARLA AMORIM NEVES
ECOBIOMETRIA OCULAR E CRANIOMETRIA EM BOVINOS DA
RAÇA JERSEY DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS
Dissertação apresentada para obtenção do título
de Mestre em Ciência Animal junto à Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal
de Goiás
Área de concentração:
Cirurgia, Patologia animal e Clínica médica
Linha de pesquisa:
Clínica, diagnóstico por imagem e patologia
clínica na saúde de animais de companhia e
selvagens
Orientadora:
Prof.ª Dr.ª Naida Cristina Borges – EVZ/UFG
Comitê de Orientação:
Prof.ª Dr.ª Aline Maria V. Lima – EVZ/UFG
Prof. Dr. Luiz A. Franco Silva – EVZ/UFG
GOIÂNIA
2018
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Dedico a todos aqueles que sempre acreditaram
em mim e me apoiaram para chegar até essa
etapa.
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AGRADECIMENTOS
O trabalho com amor e dedicação é a forma mais leal de se viver. Escolhi me
aperfeiçoar com o que me faz feliz, tendo a oportunidade de conviver lado a lado com pessoas
que proporcionaram diversos ensinamentos sobre o profissionalismo e a vida. Ao estar
vencendo mais uma etapa de aprendizagem, quero agradecer a todos que me ajudaram, de
alguma forma, a essa conquista.
Agradeço a Deus, por estar presente em minha vida, pela saúde, força nos
momentos difíceis e sabedoria para chegar até o final.
À minha família, em especial à minha mãe, Dulce Helena Amorim, responsável
pelo meu crescimento na vida acadêmica e profissional, sempre se esforçando e aconselhando
para que eu pudesse ir mais além. Pelos valores que me passou, por suportar a distância entre
nós durante a graduação, especialização e a pós-graduação e pelo amor incondicional.
Agradeço infinitamente a você, mamãe, que acreditou em mim e sempre me incentivou a ir
em busca de novos conhecimentos, esta vitória também é sua!
Ao meu pai Haroldo Neves do Nascimento e meu irmão Bruno Amorim Neves,
que sempre torceram muito pelo meu sucesso. Agradeço pelo carinho e o apoio nesta etapa
tão importante para mim. À minha cunhada Katiuscia Marques Pereira Amorim e meu
sobrinho/afilhado querido, Miguel Marques Amorim que veio para trazer muita alegria para
nossa família! Agradeço também, à minha cadela Maria Cecília, companheira dos momentos
de desespero na escrita dos seminários e dissertação.
Agradeço ao meu namorado, Murillo Queiroz de Almeida Melo, por todo o apoio,
conselhos, pela preocupação e dedicação em me ajudar. Obrigada pelo companheirismo,
carinho, amizade, atenção e por acreditar em mim. Sou muito grata a você.
À Universidade Federal de Goiás, ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
Animal e ao Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia, serei muito grata pela
oportunidade de realização do Mestrado em Ciência Animal.
À minha querida orientadora Prof.ª Dr.ª Naida Cristina Borges, a principal
responsável pelo meu crescimento acadêmico e profissional. Obrigada pela confiança e
presteza da orientação sempre que solicitada. Graças à senhora, compreendi muito sobre a
área acadêmica e de pesquisa e aprendo a cada dia a escrever e apresentar com menos
nervosismo, ansiedade e vícios de linguagem. Agradeço de coração o apoio e amizade nos
dois anos de especialização, dois anos de mestrado e pelos próximos anos de doutorado.
ix
Aos membros do comitê de orientação, Prof.ª Dr.ª Aline Maria Vasconcelos
Lima e Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva, agradeço aos auxílios na escrita do projeto de
pesquisa, nos seminários, nas fases de execução do experimento e na conclusão do trabalho.
Obrigada por sempre estarem presentes, dando opiniões e me ensinando sobre a área de
Oftalmologia Veterinária e Clínica de Grandes Animais, respectivamente. À Prof.ª Aline, por
me apresentar a área de Ultrassonografia Ocular, a qual me dedico tanto, por me dar a
oportunidade de realizar os exames ultrassonográficos oculares do Hospital Veterinário
(HV/EVZ/UFG) e por estar sempre me auxiliando na realização dos laudos.
Agradeço aos demais professores e funcionários do HV, especialmente aqueles
que tenho um grande carinho e admiração: Prof. Dr. Emmanuel Arnohld, Prof.ª Dr.ª Danieli
Martins, Prof. Dr. Leandro Franco, Prof. Dr. Júlio Cardoso, Prof. Dr. Marcelo Seixo, Prof. Dr.
Paulo Henrique Cunha e Dr. Apóstolo Martins, aos funcionários Kelly, Nayanne, Edvalson,
Marcelo, Leila, Dona Vilda e Dr.ª Severiana e a todos os residentes e ex-residentes. Ao Prof.
Dr. João Antonio Pigatto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pelo aceite em
participar da banca de defesa da minha dissertação, o meu muito obrigada.
A todos os meus amigos, de longas datas e, em especial, aos amigos de caminhada
na EVZ, aqueles que convivi durante a maior parte dos meus dias de faculdade, residência e
pós-graduação, a minha segunda família, que vou levar para sempre no meu coração, Isabela
Bittar, Gladsthon Filho e Fernanda Carvalho, que fizeram a minha vida mais feliz. Aos
queridos pós-graduandos, Evelyn Oliveira, Paulo José Queiroz e Leandro Arévalo e aos
estagiários Wanessa Rodrigues, Yasmim Pazini, Adalberto Vilela, Daianny Pires, muito
obrigada pela ajuda durante a realização do experimento e escrita da dissertação. Aos colegas
de mestrado, que fizeram parte dessa jornada dividindo momentos bons e ruins.
Um agradecimento especial aos proprietários e funcionários da Fazenda Capão
Grande do Bicudo, que disponibilizaram os animais e proporcionaram a execução do projeto
de pesquisa. Agradeço de coração ao Fernando Barros e Sr. Valdemar Barros, proprietários e
à médica veterinária responsável pela propriedade, Dra. Maria Ivete de Moura. E por último,
agradeço aos animais utilizados no projeto de pesquisa, as Jersey: Brahma, Catharina, Danna,
Dafini, Estela, Emma, Evelyn, Eduarda, Elenice, Euvira, Eliana, Estrela, Francine, Filomena,
Fernanda, Florinda, Francielli, Flávia, Frida, Fátima, Francis, Fabiely, Felícia, Fran, Flora,
Fortuna, Fada, Flor, Fany, Geralda, Gilda, Gorethi, Grazi, Georgia, Geni, Gaby, Gisele,
Guida, Gaia, Generosa, Garota, Greicy, Grecia, Gardenia, Gláucia, Hebe e Helô.
x
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém
viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou
sobre aquilo que todo mundo vê.”
Arthur Schopenhauer
xi
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................... 1
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 3
2.1 Características anatômicas do olho de mamíferos ................................................................ 3
2.2. Ultrassonografia ocular........................................................................................................ 4
2.2.1 Particularidades do exame ultrassonográfico ocular ......................................................... 6
2.2.2 Anatomia ultrassonográfica ............................................................................................... 9
2.2.3 Biometria ocular .............................................................................................................. 11
2.3. Conformação craniana ....................................................................................................... 14
2.4. Relação da biometria ocular e morfometria craniana ........................................................ 18
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 21
CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO OCULAR E CRANIANO EM BOVINOS JERSEY
EM DIFERENTES IDADES ................................................................................................... 25
CAPÍTULO 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 52
ANEXOS .................................................................................................................................. 53
xii
LISTA DE FIGURAS
Capítulo 1
FIGURA 1 - Diagrama das estruturas que compõem o olho do mamífero: córnea,
câmara anterior preenchida pelo humor aquoso, íris, corpo ciliar, lente,
câmara vítrea preenchida por humor vítreo, esclera, coroide, retina, disco
óptico e nervo óptico. ............................................................................................ 4
FIGURA 2 – Ultrassonografia do olho de cães com transdutores de frequências de
18MHz (A), 7,5MHz (B) e 50MHz (C). A - Evidenciação das estruturas
intraoculares (entre cursores). B - Visualização pouco definida das
estruturas superficiais do olho (entre cursores). C - Distância da membrana
de Descemet e camada endotelial da córnea à cápsula anterior lenticular
(seta). ..................................................................................................................... 5
FIGURA 3 - Posicionamento do transdutor em exames ultrassonográficos do olho de
um equino. A - Técnica transcorneal aplicando-se o transdutor sobre a
superfície da córnea. B - Técnica transpalpebral aplicando-se o transdutor
sobre as pálpebras fechadas. .................................................................................. 7
FIGURA 4 – Cortes axiais horizontais (AXH) (A e A’) e verticais (AXV) (B e B’) do
olho de um bovino. A - Posicionamento do transdutor em AXH
evidenciando marcação voltada para região nasal (seta). A’ - Imagem
ultrassonográfica obtida neste corte. B - Posicionamento do transdutor em
AXV evidenciando marcação voltada para região dorsal (seta). B’ -
Imagem ultrassonográfica identificada neste corte. Frequência de 12MHz. ........ 8
FIGURA 5 – Corte transversal do olho de um bovino. A - Posicionamento do transdutor
no limbo do olho evidenciando marcação voltada para a região dorsal (seta
vermelha). B - Imagem ultrassonográfica transversal evidenciando a
câmara vítrea (CV) e parede posterior (seta branca). Frequência de
12MHz. .................................................................................................................. 9
FIGURA 6 – Ultrassonografia em corte axial horizontal do olho esquerdo de um coelho.
Camadas hiperecoicas da córnea (seta sólida), câmara anterior, lente e
câmara vítrea anecoicas (CA, L e CV), cápsulas anterior e posterior da
lente vistas como linhas curvilíneas com perda dos ecos periféricos (setas
traçadas), íris e corpo ciliar hiperecoicas (asteriscos), parede posterior
hiperecoica (seta larga) e nervo óptico hipoecogênico (NO) circundado
pelos tecidos orbitários de ecogenicidades variadas (TA). Frequência de
18MHz. ................................................................................................................ 10
FIGURA 7 – Ultrassonografia em corte axial horizontal do olho de um cão (A), bovino
(B) e equino (C). A - Visualização da íris de espessura fina e
ecogenicidade moderada juntamente com o corpo ciliar (seta). B - Íris com
maior espessura e irregularidade (seta). C – Identificação da corpora nigra
hiperecoica (seta). Frequências de 18MHz (A) e 12MHz (B e C). ..................... 11
xiii
FIGURA 8 – Ultrassonografia em corte axial horizontal do olho direito de um equino.
Medidas do comprimento axial (1), profundidade da câmara anterior (2),
espessura da lente (3) e profundidade da câmara vítrea (4). Frequência de
12 MHz. ............................................................................................................... 12
FIGURA 9 – Ultrassonografia em modo B do olho de diferentes espécies de animais.
Biometria ocular de cão (A), gato (B), coelho (C), bovino (D), bubalino
(E) e equino (F), empregando transdutores de frequências selecionadas em
18MHz (A, B e C) e 12 MHz (D, E e F). Identificação de medidas do
comprimento axial (D1: A, B e C; e 1L: D, E e F), profundidade da câmara
anterior (D2: A, B e C; e 2L: D, E e F), espessura da lente (D3: A, B e C; e
3L: D, E e F) e profundidade da câmara vítrea (D4: A, B e C; e 4L: D, E e
F). ........................................................................................................................ 13
FIGURA 10 – Ilustração fotográfica da execução de medidas do crânio de um cão da
raça Cavalier King Charlies Spaniel. A - Distância bizigomática. B -
Distância fronto-occipital. C - Distância fronto-nasal. ..................................... 16
FIGURA 11 – Formato do crânio em vista dorsal, lateral e rostral de cão braquicefálico
(primeira fileira), lobo (segunda fileira) e cão dolicocefálico (terceira
fileira). Cães braquicefálicos com regiãofronto-nasal curta (ros), arcos
zigomáticos largos (za) e região fronto-occipital arredondada (nc). Cães
dolicocefálicos com região fronto-nasal larga, arcos zigomáticos reduzidos
e inclinação da região nasal em relação à região fronto-occipital. ...................... 16
FIGURA 12 – Mensurações do crânio de um equino em vista lateral (A) e em vista
dorsal (B). A - Medidas de comprimento do crânio (skull lenght),
subdividido em comprimento cranial (cranial skull) e comprimento nasal
(nasal skull), e profundidade mandibular (mandibular depth). B - Medidas
de largura do crânio (zygomatic width) e largura máxima do neurocrânio
(neurocranium width). ......................................................................................... 17
Capítulo 2
FIGURA 1 - Ultrassonografia em modo B, corte axial horizontal do olho esquerdo de
bovinos da raça Jersey. A: Camadas hiperecoicas separadas por camada
anecoica da córnea (seta curta), câmara anterior, lente e câmara vítrea
anecoicas (CA, L e CV), cápsulas anterior e posterior da lente vistas como
linhas curvilíneas (setas traçadas), íris e corpo ciliar hiperecoicos e
espessos (asteriscos), parede posterior hiperecoica (seta). B, C e D: As
linhas pontilhadas indicam a biometria ocular realizada em bovinos de
idades entre 1 e 58 meses, divididos em grupo I (B), II (C) e III (D),
evidenciando medidas do comprimento axial (1), profundidade da câmara
anterior (2), espessura da lente (3) e profundidade da câmara vítrea (4).
Frequência de 12MHz. ........................................................................................ 33
xiv
FIGURA 2 - Representação gráfica do crescimento ocular de acordo com a idade de
bovinos Jersey. Comparações com as medidas de comprimento axial (A),
profundidade da câmara anterior (B), espessura da lente (C) e
profundidade da câmara vítrea (D). ..................................................................... 37
FIGURA 3 - Representação gráfica do crescimento craniano de acordo com a idade de
bovinos Jersey. Comparações com as medidas de comprimento (A) e
largura (B) dos crânios. ....................................................................................... 38
FIGURA 4 - Representação gráfica comparativa do pico de crescimento atingindo um
platô das medidas do olho de comprimento axial (A), profundidade da
câmara anterior (B), espessura da lente (C), profundidade da câmara vítrea
(D) e das medidas do crânio de largura (E) e comprimento (F) de bovinos
da raça Jersey em diferentes idades. .................................................................... 39
LISTA DE TABELAS
Capítulo 1
TABELA 1 – Comparação in vivo da biometria ocular por ultrassonografia em modo B
em corte axial horizontal de diferentes espécies e raças. .................................... 15
TABELA 2 - Comparação das medidas de comprimento e largura do crânio de
diferentes espécies e raças. .................................................................................. 18
Capítulo 2
TABELA 1 - Distribuição de bovinos Jersey (número de animais) de acordo com a
idade avaliada de 1 a 11 meses (Grupo I), 16 a 24 meses (Grupo II) e 25 a
58 meses (Grupo III). .......................................................................................... 31
TABELA 2 – Médias e desvios-padrão (DP), valores máximos e mínimos das variáveis
do comprimento axial (CAx), espessura da córnea (CO), profundidade da
câmara anterior (CA), espessura da lente (EL) e profundidade da câmara
vítrea (CV) do olho esquerdo e direito de bovinos Jersey com idade entre 1
a 11 meses (Grupo I), 16 a 24 meses (Grupo II) e 25 a 58 meses (Grupo
III). ....................................................................................................................... 34
TABELA 3 – Médias e desvios-padrão (DP), valores máximos e mínimos das variáveis
do comprimento total, comprimento cranial, comprimento nasal, largura
do crânio e índice cefálico dos crânios de bovinos Jersey com idade entre 1
a 11 meses (Grupo I), 16 a 24 meses (Grupo II) e 25 a 58 meses (Grupo
III). ....................................................................................................................... 35
xv
RESUMO
A biometria ocular por ultrassonografia em modo B é uma ferramenta eficiente para a
realização de medidas intraoculares em animais domésticos e outras espécies de animais. A
relação das mensurações oculares e do crânio de bovinos Jersey promove informações
relevantes para a padronização das medidas para a raça e para a espécie bovina. A
inexistência de tais dados em animais de mesma raça e idades distintas favorece a realização
do estudo. Esta pesquisa teve como objetivo empregar a ultrassonografia para avaliar a
biometria ocular de bovinos da raça Jersey. Foram utilizados 48 bovinos hígidos, fêmeas, da
raça Jersey, distribuídos em três grupos, considerando a faixa etária: grupo I (1 a 11 meses),
grupo II (16 a 24 meses) e grupo III (25 a 58 meses). Os animais foram contidos fisicamente e
a ultrassonografia realizada em abordagem transcorneal, após instilação de colírio anestésico.
Realizaram-se as medidas oculares em corte axial horizontal e axial vertical, sendo
mensurados o comprimento axial (CAx), espessura corneana (CO), profundidade da câmara
anterior (CA), espessura da lente (EL) e profundidade da câmara vítrea (CV). Os parâmetros
morfométricos do crânio obtidos foram o comprimento total, cranial, nasal, largura cranianos
e o índice cefálico. Os resultados da ecobiometria foram apresentados em forma de médias e
desvios-padrão, valores máximo e mínimo e compararam-se as medidas dos olhos de bovinos
de diferentes faixas etárias por meio da análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey. A
correlação de Pearson foi empregada para correlacionar as variáveis do CAx e craniometria, e
as curvas de crescimento e gráficos bisegmentados do olho e do crânio foram confeccionados
utilizando um modelo logístico. As medidas intraoculares de CAx, CA, EL e CV cresceram
conforme o aumento da idade e as medidas da córnea não apresentaram alterações. O CAx
correlacionou-se positivamente com o comprimento e largura cranianos e, negativamente com
o índice cefálico. As curvas de crescimento das estruturas oculares e do crânio foram
semelhantes. Concluindo, a biometria ocular de bovinos da raça Jersey correlaciona-se com as
medidas do crânio nas diferentes idades. Com o aumento da idade, os olhos e o crânio
crescem estabelecendo curvas de crescimento semelhantes à de outros mamíferos.
Palavras-chave: medidas, olho, ultrassonografia, craniometria, padronização.
xvi
ABSTRACT
B-mode ultrasonography ocular biometry is an efficient tool for performing intraocular
measurements in domestic animals and other animal species. The relationship between ocular
measurements and skull of Jersey bovine promotes relevant informations to the
standardization of measures for the breed and for the bovine species. The lack of such data in
animals of the same breed and different ages suports the study. This research aimed to use
ultrasonography to evaluate the ocular biometry of Jersey bovine. Fourty-eight healthy,
female, Jersey bovine were divided into three groups, considering the age group: group I (1 to
11 months), group II (16 to 24 months) and group III (25 to 58 months). The animals were
physically restrained and the ultrasonography performed in a transcorneal technical, after
instillation of anesthetic in the eye. The axial length (CAx), corneal thickness (CO), depth of
the anterior chamber (CA), thickness of the lens (EL) and depth of the vitreous chamber (CV)
were measured. The morphometric parameters of the skull obtained were total length, cranial,
nasal, cranial width and cephalic index. The results of the ecobiometry were presented as
means and standard deviations, maximum and minimum values and the measurements of the
eyes of bovines of different age groups were analyzed by ANOVA and Tukey's test. Pearson's
correlation was used to correlate the CAx and craniometry variables, and the growth curves
and bisegmented graphs of the eye and skull were made using a logistic model. The
intraocular measurements of CAx, CA, EL and CV increased as age increased and corneal
measurements did not change. The CAx correlated positively with cranial length and width
and, negatively, with cephalic index. Growth curves of ocular structures and skull were
similar. In conclusion, the ocular biometry of Jersey cattle correlates with measurements of
the skull at different ages. With increasing age, the eyes and skull grow by establishing
growth curves similar to those of other mammals.
Key words: measurements, eye, ultrasonography, craniometry, standardization.
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1. INTRODUÇÃO
A biometria ocular é o estudo das medidas das estruturas oculares para
identificação de enfermidades que cursam com alteração dos tamanhos das câmaras e para
auxílio em procedimentos cirúrgicos oftálmicos1,2
. A ultrassonografia ocular em modo B pode
ser utilizada para a realização da biometria das estruturas oftálmicas, por mensurações
executadas in vivo, sem necessidade de sedação prévia do indivíduo, na maioria das
espécies3,4
.
A ultrassonografia ocular em modo B é um exame complementar importante para
a avaliação semiológica oftálmica, especialmente quando os meios ópticos se encontram
opacos2,4-6
. É uma técnica de exame rápido, pouco invasivo e de baixo custo, promovendo
informações relevantes a respeito das estruturas e dimensões intraoculares7,8
.
O conhecimento das medidas do olho em animais jovens e adultos é necessário
para estimativa da normalidade e identificação de alterações clínicas que cursam com
variação no tamanho, forma e posição do olho2,9,10
. Em seres humanos11
, cães3 e cabras
12 as
mensurações ultrassonográficas oculares de jovens até a idade adulta foram realizadas para a
avaliação do crescimento do olho. Em bovinos, são escassos os estudos sobre a oftalmologia,
especialmente pesquisas relacionadas às dimensões intraoculares1.
A aparência ultrassonográfica e a biometria ocular de bovinos adultos das raças
Jersey e Holandesa1
e de olhos extraídos de animais adultos da raça Angus13
já foram
descritas. Tais estudos mostraram a importância de se conhecer os valores normais de
medidas intraoculares na espécie bovina, devido à ocorrência de afecções oculares nesses
animais, como a ceratoconjuntivite infecciosa, que acarreta perdas econômicas1,13
.
Estudos sobre o crescimento ocular em seres humanos11
, cães3,5,14
e gatos4,8
relataram ainda que existe correlação entre a conformação craniana e a biometria ocular, o
que diferencia as medidas oculares entre diferentes espécies e diferentes raças. Em bovinos, a
relação entre as medidas do olho e do crânio nas fases juvenil e adulta ainda não foi descrita.
A relação da biometria ocular com a morfometria craniana pode auxiliar no
diagnóstico precoce de enfermidades oculares, além de possibilitar o monitoramento destas4.
A padronização dessas medidas em diferentes espécies e raças contribui também em
procedimentos cirúrgicos oftálmicos e no desenvolvimento de pesquisas sobre doenças em
seres humanos nas quais os animais podem atuar como modelo experimental5,14
.
2
Dessa forma, esse trabalho tem como proposta revisar a aparência
ultrassonográfica e as medidas intraoculares normais em diferentes espécies, além do estudo
da conformação craniana, para demonstrar a relação entre a biometria ocular e do crânio.
Adicionalmente, serão estudados os parâmetros oftalmológicos e a craniometria de bovinos da
raça Jersey para a análise do desenvolvimento normal do olho e do crânio nas fases juvenil e
adulta.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Características anatômicas do olho de mamíferos
Os olhos são órgãos sensitivos complexos cuja função primária é receber e
focalizar a luz sobre a retina fotossensível15
. São protegidos por uma estrutura óssea, muscular
e cutânea e são compostos por três túnicas, a fibrosa, túnica mais externa, que compreende a
córnea e a esclera, a túnica vascular ou úvea, formada pela íris, corpo ciliar e coroide e a
túnica interna ou nervosa, constituída pela retina e disco óptico16
(Figura 1).
A c rnea dos mamíferos não primatas é uma estrutura transparente não
pigmentada e avascular que possui de quatro a cinco camadas, dependendo da espécie, o
epitélio anterior e sua membrana basal, a camada de Bowman’s (raramente presente), o
estroma, a membrana de Descemet e o endotélio16,17
. Possui forma elíptica e diâmetro
horizontal maior que o vertical, sendo pequena a diferença entre esses diâmetros em cães e
gatos. Nesses animais, a espessura da córnea é desuniforme, sendo mais fina em região central
no cão e, no felino, tem menor espessura ao longo do quadrante superior nasal16
. A esclera é a
porção branca do olho, composta por fibras colágenas e elásticas e é pobremente
vascularizada. Entre a córnea e a esclera existe uma zona de transição chamada limbo15
.
A ris é constitu da por uma rede de vasos sangu neos tecido conjuntivo fibras
musculares e nervos. Sua função é o controle da passagem da luz pelo espaço pupilar16.
Animais herbívoros como equinos e bovinos, possuem os grânulos iridais ou corpora nigra,
uma extensão proliferativa e vascularizada do estroma irídico e do epitélio pigmentar. A
corpora nigra está presente ao longo da borda da pupila e tem a função de aumentar a eficácia
da constrição pupilar18,19
.
O corpo ciliar é uma estrutura caudal à íris, formada por um espessamento da
túnica vascular que possui processos ciliares que dão sustentação e possibilitam a
acomodação da lente. A estrutura também é responsável pela produção de humor aquoso,
presente nas câmaras anterior e posterior do olho, entre córnea, íris e lente17
. A coroide é uma
camada intermediária compreendida entre a esclera e a retina, localizada na parte posterior da
túnica vascular, sendo altamente vascularizada e possuindo múltiplas camadas17
.
A lente é uma estrutura biconvexa formada por lâminas celulares concêntricas
composta por conteúdo lenticular. Localiza-se entre a câmara posterior e câmara vítrea15
. O
diâmetro da lente é bastante variável, sendo proporcionalmente maior em animais quando
4
comparados aos seres humanos16
. O humor vítreo é um gel pouco celular que preenche a
câmara vítrea.
A retina possui formato côncavo e reveste a coroide, inicia-se na ora ciliares
retinae e termina no local de penetração do nervo óptico, sendo constituída por dez camadas
de células nervosas10
. O disco óptico é uma estrutura formada pela confluência das fibras
nervosas da retina e tem formato e tamanho variado15
. As estruturas anatômicas do olho,
citadas nesta revisão, podem ser visualizadas pela ultrassonografia ocular em modo B12
.
FIGURA 1 - Diagrama das estruturas que compõem o olho do mamífero: córnea, câmara
anterior preenchida pelo humor aquoso, íris, corpo ciliar, lente, câmara vítrea
preenchida por humor vítreo, esclera, coroide, retina, disco óptico e nervo óptico.
Fonte: Adaptado de http://www.glaucoma.org/glaucoma/anatomy-of-the-
eye.php20.
2.2. Ultrassonografia ocular
A ultrassonografia em modo B é usada rotineiramente como diagnóstico
complementar de doenças oftálmicas em seres humanos e têm se tornado cada vez mais
importante na medicina veterinária21,22
. O exame possibilita a visualização das estruturas
internas do olho mesmo com a perda de transparência de meios ópticos, fator que restringe a
realização do exame clínico oftalmológico2,4-6,23
. É um procedimento rápido, pouco invasivo,
de baixo custo e que não necessita de sedação prévia para sua realização, exceto em algumas
espécies de animais silvestres em que a contenção química é indispensável24
.
5
Exames ultrassonográficos oculares já foram descritos em seres humanos11,25,26
,
cães3,5,10,14,27,28
, gatos4,8,23
, cabras12
, bovinos1, bubalinos
7,29, equinos
18,30,31, asininos
6, coelhos
2,
elefantes asiáticos (Elephas maximus)32
, furões (Mustela putorius furo)9, capivaras
(Hydrochaeris hydrochaeris)33
e corujas (Megascops asio)24
.
Em todas as espécies são avaliados a córnea, as câmaras anterior e posterior, íris,
corpo ciliar, lente, câmara vítrea, parede posterior, nervo óptico e espaço orbitário. No
entanto, para maior qualidade de avaliação é essencial a utilização de aparelhos modernos que
possuem transdutores com frequências específicas e técnicas adequadas de realização do
exame para a identificação das estruturas mais superficiais2,12
.
A utilização de transdutores lineares com frequências entre 10MHz e 20MHz é
indicada, pois promovem menor penetração tecidual, conferindo imagens das estruturas
superficiais do olho em alta qualidade2,5,6,10,12,25,30
(Figura 2A).
Frequências menores que 10MHz impedem a avaliação da córnea e da
profundidade da câmara anterior, proporcionando menor acurácia das medidas do olho1. A
frequência de 8MHz foi empregada para realização da biometria ocular3, porém, a definição
de imagem não evidenciou as estruturas superficiais (Figura 2B). Estudos em cães
empregando altas frequências (50MHz) permitiram a obtenção de imagens com qualidade
microscópica para a avaliação do segmento anterior do olho, sendo denominado
biomicroscopia ultrassônica34
(Figura 2C).
FIGURA 2 – Ultrassonografia do olho de cães com transdutores de frequências de 18MHz (A),
7,5MHz (B) e 50MHz (C). A - Evidenciação das estruturas intraoculares (entre
cursores). B - Visualização pouco definida das estruturas superficiais do olho (entre
cursores). C - Distância da membrana de Descemet e camada endotelial da córnea à
cápsula anterior lenticular (seta).
Fonte: A- Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG; B- Squarzoni3; C- Galego
et al.34
.
6
2.2.1 Particularidades do exame ultrassonográfico ocular
Para a avaliação adequada do olho é essencial que o examinador tenha
conhecimento da técnica ultrassonográfica a ser empregada e dos cortes de varredura a serem
realizados4. Primeiramente, o animal deve estar bem contido . Pequenos animais como cães
10,
gatos8 e coelhos
2 podem ser contidos manualmente e posicionados em decúbito esternal com
o rosto de frente ao examinador. Estudos em animais de grande porte como bovinos1,
bubalinos7 equinos
30 e elefantes asiáticos
32 foram realizados apenas com contenção física.
Porém, alguns animais silvestres como furões9, capivaras
33 e corujas
24 necessitaram de
contenção química.
O posicionamento do transdutor define a técnica ultrassonográfica a ser
empregada, podendo ser transcorneal ou transpalpebral. A técnica de eleição para
ultrassonografia ocular é a transcorneal, na qual o transdutor é posicionado sobre a superfície
da córnea após a dessensibilização com colírio anestésico. Esse método possibilita melhor
visualização das câmaras intraoculares e formação de imagens nítidas do olho29,31
(Figura
3A). Porém, existe possibilidade de dano corneal, o qual pode ser evitado por realização
rápida e delicada do exame. Para evitar irritações ou infecções oculares, é preconizado o uso
de gel acústico estéril como meio de contato entre a córnea e o transdutor, promovendo uma
camada de separação entre os dois24
. Por fim, deve ser realizada a limpeza do olho com
solução fisiológica estéril após o término do exame3.
A técnica transpalpebral é utilizada em casos de complicações no pós-operatório
de cirurgias oftálmicas, para menores danos à superfície ocular2 (Figura 3B). Porém, em
animais, o ar presente entre a superfície de contato dos pelos das pálpebras e o transdutor
favorece o surgimento de artefatos de imagem, como reverberação externa. Para minimizar é
necessário que se faça a tricotomia regional e uso de gel acústico. A limpeza após o exame
com solução fisiológica e papel absorvente é imprescindível31
.
7
FIGURA 3 - Posicionamento do transdutor em exames ultrassonográficos do olho de um equino. A -
Técnica transcorneal aplicando-se o transdutor sobre a superfície da córnea. B - Técnica
transpalpebral aplicando-se o transdutor sobre as pálpebras fechadas.
Fonte: Arquivo pessoal.
O emprego de diferentes cortes de varredura no olho é necessário para obtenção
do máximo de informações. A marcação do transdutor referente à região dorsal e medial
(nasal) deve ser identificada pelo examinador para a realização exata dos planos de cortes e
identificação da topografia de possíveis alterações31
. A avaliação ampla é realizada fazendo-
se uma analogia com a forma de um relógio, assim todas as regiões oculares poderão ser
visualizadas3.
Cortes axiais são realizados com a centralização do transdutor na superfície
corneana, sendo que o corte axial horizontal aponta a marcação para as nove horas, no olho
esquerdo e as três horas, no olho direito (Figura 4A). O corte axial vertical é realizado com a
marcação do transdutor apontada para as 12 horas, em ambos os olhos (Figura 4B). Esses
cortes possibilitam a identificação de todas as estruturas oculares, como córnea, câmaras
anterior e posterior, lente, íris e corpo ciliar, câmara vítrea, parede posterior e nervo óptico, e
parte do espaço orbitário, além da realização da biometria ocular3.
8
FIGURA 4 – Cortes axiais horizontais (AXH) (A e A’) e verticais (AXV) (B e B’) do
olho de um bovino. A - Posicionamento do transdutor em AXH
evidenciando marcação voltada para região nasal (seta). A’ - Imagem
ultrassonográfica obtida neste corte. B - Posicionamento do transdutor em
AXV evidenciando marcação voltada para região dorsal (seta). B’ -
Imagem ultrassonográfica identificada neste corte. Frequência de 12MHz.
Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG.
Cortes transversais e oblíquos são importantes para a identificação e delineamento
de alterações, sendo realizados para a avaliação da câmara vítrea, parede posterior e espaço
orbitário, incluindo regiões periorbital e retro-orbital. Para a realização do corte transversal, o
transdutor é posicionado paralelamente ao limbo do olho e os feixes apontados para às três
horas, seis horas, nove horas e 12 horas, sempre com a marcação em região dorsal (três e nove
horas) e medial (seis e 12 horas)35
(Figura 5). Os cortes de varredura realizados no espaço
orbitário identificam a integridade dos músculos retrobulbares, além de estruturas como as
glândulas lacrimal e zigomática3.
Após saber sobre o equipamento, frequência do transdutor e planos de cortes, o
examinador deve avaliar a aparência ultrassonográfica do olho. O conhecimento detalhado da
anatomia ultrassonográfica do órgão é essencial para a identificação e caracterização de
alterações3.
9
FIGURA 5 – Corte transversal do olho de um bovino. A - Posicionamento do transdutor no
limbo do olho evidenciando marcação voltada para a região dorsal (seta
vermelha). B - Imagem ultrassonográfica transversal evidenciando a câmara
vítrea (CV) e parede posterior (seta branca). Frequência de 12MHz.
Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG.
2.2.2 Anatomia ultrassonográfica
A anatomia ultrassonográfica do olho de mamíferos e aves são bastante similares,
porém existem particularidades de cada espécie7,8
. Dessa forma é necessário a padronização
da aparência ultrassonográfica ocular normal para a identificação da integridade do órgão e,
em caso de enfermidades, a identificação das alterações de ecogenicidade, tamanho, forma e
posição do olho para que assim se alcance o diagnóstico preciso1,3,12,29
.
A aparência ultrassonográfica da córnea baseia-se em duas linhas hiperecoicas,
sendo a primeira correspondente ao epitélio e a segunda, à membrana de Descemet e camada
endotelial, separadas por uma camada anecoica que corresponde ao estroma corneano8.
Posterior à córnea encontram-se as câmaras anterior e posterior com aparência anecoica
(Figura 6).
A lente é caracterizada por duas interfaces hiperecoicas curvilíneas: a cápsula
anterior, de formato convexo e a cápsula posterior, de formato côncavo, separadas por
conteúdo lenticular anecoico2,29
. A imagem ultrassonográfica das cápsulas lenticulares inteiras
é difícil de ser obtida, pois suas superfícies curvilíneas causam perda dos ecos periféricos,
devido à refração e reflexão das ondas sonoras3.
A íris é identificada superficial à cápsula lenticular anterior, nos dois polos, de
ecogenicidade moderada. Adjacente a ela é visualizado o corpo ciliar, de ecotextura
10
hiperecoica, simetricamente posicionado em cada um dos polos da lente. Em condições
normais, a íris, corpo ciliar e câmara posterior são difíceis de serem diferenciados3.
Posterior à lente encontra-se a câmara vítrea, de ecogenicidade anecoica e
homogênea, como a câmara anterior e o conteúdo lenticular. Ao final da câmara vítrea,
visualiza-se a parede posterior ocular formada por uma camada curvilínea, lisa, fina e
hiperecoica, correspondente à retina, coroide e esclera. Em casos de normalidade, as três
camadas não são diferenciadas pela ultrassonografia, pois possuem íntima união1,12
. Por fim, o
nervo óptico é identificado como uma estrutura em formato de funil, de ecogenicidade
hipoecoica à anecoica, localizado posteriormente e circundado por tecido orbitário de
ecogenicidades variadas7.
FIGURA 6 – Ultrassonografia em corte axial horizontal do olho
esquerdo de um coelho. Camadas hiperecoicas da
córnea (seta sólida), câmara anterior, lente e câmara
vítrea anecoicas (CA, L e CV), cápsulas anterior e
posterior da lente vistas como linhas curvilíneas com
perda dos ecos periféricos (setas traçadas), íris e corpo
ciliar hiperecoicas (asteriscos), parede posterior
hiperecoica (seta larga) e nervo óptico hipoecogênico
(NO) circundado pelos tecidos orbitários de
ecogenicidades variadas (TA). Frequência de 18MHz.
Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG.
11
As diferenças anatômicas das estruturas oculares, entre espécies, identificadas
pelo exame ultrassonográfico são visualizadas na íris. A estrutura possui espessura fina e
ecogenicidade moderada em seres humanos25
e cães5. Em equinos
18,31, asininos
6, bovinos
1 e
bubalinos29
a íris tem maior espessura e irregularidade, estando presente a corpora nigra,
identificada no exame ultrassonográfico como uma projeção hiperecoica da íris sobre a
câmara anterior, sendo mais proeminente em alguns indivíduos18,31
(Figura 7, A, B e C).
FIGURA 7 – Ultrassonografia em corte axial horizontal do olho de um cão (A), bovino (B) e equino
(C). A - Visualização da íris de espessura fina e ecogenicidade moderada juntamente
com o corpo ciliar (seta). B - Íris com maior espessura e irregularidade (seta). C –
Identificação da corpora nigra hiperecoica (seta). Frequências de 18MHz (A) e 12MHz
(B e C).
Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG.
Após a avaliação da ecogenicidade, forma e posição das estruturas do olho e
espaço orbitário, as câmaras intraoculares são mensuradas para identificação do tamanho e
avaliação completa do órgão. Ressalta-se que a biometria ocular é realizada a partir das
imagens obidas com os cortes axiais3.
2.2.3 Biometria ocular
A biometria ocular é o estudo das medidas das estruturas oculares para
identificação de enfermidades congênitas e adquiridas como anoftalmia, microftalmia,
macroftalmia, pseudoexoftalmia, phthisis bulbi, ectasia escleral, glaucoma, estafiloma e
coloboma7,9,14
, que cursam com alteração de tamanho das câmaras, e auxílio em
procedimentos cirúrgicos oftálmicos e reconstruções de próteses oculares1,2,4,11,12,22
.
12
A avaliação pré-operatória do olho pela ultrassonografia é considerada técnica
indispensável em cirurgias de catarata, pois é por meio desta que descarta-se alterações que
impedem o procedimento cirúrgico, como descolamentos de retina4. Ademais, são
estabelecidas as medidas das câmaras intraoculares para realização do poder dióptrico da lente
a ser implantada na facectomia e posterior monitoração do paciente com complicações no
pós-operatório12,22
.
Após a obtenção da imagem ultrassonográfica em corte axial são realizadas as
medidas das câmaras intraoculares alinhando-se os ecos da córnea, cápsulas anterior e
posterior da lente com o eco da parede posterior3,7,8
(Figura 8). O comprimento axial, a
espessura da córnea, câmara anterior, lente, e câmara vítrea são compreendidos da seguinte
forma: comprimento axial (CAx) - distância da camada epitelial da córnea à parede posterior
do olho; profundidade da câmara anterior - distância da membrana de Descemet e camada
endotelial corneanas à cápsula lenticular anterior; espessura da lente - distância entre a
cápsula lenticular anterior e posterior; profundidade da câmara vítrea - distância entre a
cápsula lenticular posterior e a parede posterior do fundo ocular.
FIGURA 8 – Ultrassonografia em corte axial horizontal do olho
direito de um equino. Medidas do comprimento axial
(1), profundidade da câmara anterior (2), espessura da
lente (3) e profundidade da câmara vítrea (4).
Frequência de 12 MHz. Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG.
13
Apesar da grande semelhança na anatomia e aparência ultrassonográfica, as
medidas dos olhos de cães3,10,14,27
, gatos4,8,23
, cabras12
, bovinos1, bubalinos
7,29, equinos
30
asininos6, coelhos
2, elefantes
32, furões
9, capivaras
33 e corujas
24 variam muito entre as espécies
(Figura 9, A, B, C, D, E e F).
FIGURA 9 – Ultrassonografia em modo B do olho de diferentes espécies de animais.
Biometria ocular de cão (A), gato (B), coelho (C), bovino (D), bubalino (E) e
equino (F), empregando transdutores de frequências selecionadas em 18MHz
(A, B e C) e 12 MHz (D, E e F). Identificação de medidas do comprimento
axial (D1: A, B e C; e 1L: D, E e F), profundidade da câmara anterior (D2:
A, B e C; e 2L: D, E e F), espessura da lente (D3: A, B e C; e 3L: D, E e F) e
profundidade da câmara vítrea (D4: A, B e C; e 4L: D, E e F).
Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem HV/EVZ/UFG.
A padronização de valores normais para as medidas oculares em mamíferos e aves
é dificultada pela diversificação do tamanho do olho nas espécies e raças. Sendo assim, foram
realizados estudos de padronização de biometria ocular em raças específicas de cães3,10,28
,
gatos8, cabras
12, bovinos
1, coelhos
2, algumas espécies silvestres
9,33 e os resultados estão
dispostos na Tabela 1.
14
Animais adultos foram avaliados em diversos estudos quanto à biometria ocular.
A média do CAx em cães de raça cruzada foi de 19,52mm27
, enquanto que em cães da raça
Cavalier King Charlies Spaniel (CKCS) foi de 17,95mm3. Felinos de raça cruzada obtiveram
uma média do CAx de 18,61mm23
e, em felinos da raça Persa o CAx médio do olho foi de
20,7mm8.
Comparando-se com medidas do olho de bovinos, a média do CAx de vacas
Holandesas foi de 34,6mm, significativamente maior que o valores de vacas Jersey com
média de 32,7mm1. Em coelhos, os valores encontrados foram cerca de 17,12mm
2, em
corujas, 20,3mm24
e as medidas em furões foram as menores encontradas, sendo
aproximadamente 7mm9.
A biometria ocular também foi comparada entre raças de diferentes conformações
cranianas, sendo encontrados estudos em duas raças bovinas1, cães
5,14 e felinos
4. Diante disso,
observou-se que o CAx e a profundidade das câmaras intraoculares correlacionam-se
basicamente com o formato do crânio.
2.3. Conformação craniana
Pesquisas relatam que existe correlação entre o tamanho do crânio e as medidas
do olho, como também se relacionam com desempenho e visão desses indivíduos3-5,14,36,37
. O
estudo da conformação craniana de diferentes espécies tem sido realizado para determinar
valores de padronização comparativos entre raças e o conhecimento da morfologia craniana,
bem como sua implicação em diversos fatores, como o comportamento36,37-39
.
A morfometria craniana foi realizada em várias espécies domésticas, como
caninos3,14,36
, felinos4, equinos
38 e bovinos
39, comparando-se principalmente, o índice cefálico
de diferentes raças. A obtenção desse índice ocorre pela relação da largura do crânio
mensurada entre os ápices dos arcos zigomáticos com o comprimento craniano medindo a
crista nucal até a extremidade rostral da sutura interincisiva ou a soma da distância fronto-
occipital com a fronto-nasal (fórmula: largura do crânio/comprimento do crânio x 100)3,36
(Figura 10, A, B e C). Outros estudos utilizam a relação entre os diâmetros fronto-occipital e
bizigomático4,14
.
15
TABELA 1 – Comparação in vivo da biometria ocular por ultrassonografia em modo B em corte axial horizontal de diferentes espécies e raças.
Espécie Raça/Espécie
silvestre
Idade
(meses) CAx (mm) CA (mm) EL (mm) CV (mm)
Transdutor e
frequência empregados Autores
CÃES
CKCS 18 17,55 ± 0,39 2,10 ± 0,34 6,70 ± 0,20 8,80 ± 0,29 Microconvexo 8MHz Squarzoni3
CSI + de 96 20,14 ± 1,09 3,49 ± 1,10 7,17 ± 0,46 9,48 ± 0,71 Linear 10MHz Silva et al.28
Terrier Brasileiro 19,2 18,73 ± 0,66 3,49 ± 0,33 6,52 ± 0,28 8,71 ± 0,39
Linear 20MHz Guimarães10
Beagle 15,6 19,70 ± 0,91 4,26 ± 0,50 6,40 ±0,61 9,06 ± 0,74
GATOS
Persa 13 a 72 20,70 ± 1,00 4,10 ± 0,70 7,70 ± 0,50 8,20 ± 0,40 Linear 8MHz Mirshahi et al.8
Raça cruzada 67 a 86 19,22 ± 0,84 3,65 ± 0,43 7,63 ± 0,60 7,78 ± 0,60 Microlinear 9MHz Ferreira et al.4
CABRAS Saanen 18 24,37 ± 1,16 3,28 ± 0,42 8,65 ± 0,61 12,03 ± 0,83 Linear 20MHz Ribeiro et al.12
BOVINOS
Holandesa 61 34,60 ± 0,90 3,30 ± 0,50 13,50 ± 0,80 14,60 ± 0,90
Linear 10MHz Potter et al.1
Jersey 64 32,70 ± 1,90 3,60 ± 0,70 12,40 ± 0,40 16,20 ± 0,40
BUBALINOS - 50 32,94 ± 0,37 2,89 ± 0,15 11,33 ± 0,52 16,73 ± 0,40 Linear 6-8MHz Assadnassab e
Fartashvand7
ASININOS - 24 a 228 34,59 ± 1,50 2,58 ± 0,58 11,78 ± 0,83 20,53 ± 1,67 Convexo 13MHz Laus et al.6
COELHOS NZW 10 17,12 ± 0,41 2,70 ± 0,22 7,32 ± 0,40 7,10 ± 0,45 Linear 20MHz Toni et al.2
CAPIVARAS Hydrochaeris
hydrochaeris 12 a 48 22,20 ± 1,71 4,60 ± 1,35 7,41 ± 0,70 10,13 ± 0,88 Linear 7,5MHz
Montiani-Ferreira
et al.33
FURÕES Mustela putorius
furo + de 12 7,00 ± 0,24 1,31 ± 0,16 3,42 ± 0,15 2,26 ± 0,11 Linear 10MHz
Hernández-Guerra
et al.9
CKCS: Cavalier King Charlies Spaniel; CSI: Cocker Spaniel Inglês; NZW: New Zealand White; CAx: Comprimento axial; CA: Profundidade da câmara
anterior; EL: espessura da lente; CV: Profundidade da câmara vítrea.
16
FIGURA 10 – Ilustração fotográfica da execução de medidas do crânio de um cão da raça Cavalier
King Charlies Spaniel. A - Distância bizigomática. B - Distância fronto-occipital.
C - Distância fronto-nasal.
Fonte: Squarzoni3.
Em cães, a grande variação no formato e tamanho do crânio é baseada na raça, na
idade e na conformação do indivíduo. Nesses animais, os termos correspondentes aos crânios
de formas diferentes são baseados no índice cefálico, sendo os braquicefálicos, com índice
cefálico alto (aproximadamente 90), mesocefálicos, com índice médio (aproximadamente 70)
e os dolicocefálicos, com baixo índice cefálico (aproximadamente 50)3,40,41
(Figura 11).
FIGURA 11 – Formato do crânio em vista dorsal, lateral e rostral de cão
braquicefálico (primeira fileira), lobo (segunda fileira) e cão
dolicocefálico (terceira fileira). Cães braquicefálicos com
regiãofronto-nasal curta (ros), arcos zigomáticos largos (za) e
região fronto-occipital arredondada (nc). Cães dolicocefálicos
com região fronto-nasal larga, arcos zigomáticos reduzidos e
inclinação da região nasal em relação à região fronto-occipital.
Fonte: Schoenebeck e Ostrander41
.
17
Em felinos, as denominações são semelhantes a caninos, sendo que a raça Persa
representada pelo padrão anatômico do braquicefálico, com o comprimento do crânio largo e
curto4. Em grandes animais, pesquisas realizadas em crânios de equinos e bovinos post-
mortem definiram-se inúmeras medições e obtenções de índices, dentre eles o índice cefálico,
para a padronização em diferentes raças38,39
(Figura 12, A e B). Os valores obtidos nos
estudos permitem comparações entre as raças de diferentes regiões geográficas como também
podem ser utilizados como valores de referências para futuras pesquisas baseadas em
morfologia craniana de animais in vivo e materiais ósseos e no dimorfismo sexual38,39
.
FIGURA 12 – Mensurações do crânio de um equino em vista lateral (A) e em vista dorsal (B). A -
Medidas de comprimento do crânio (skull lenght), subdividido em comprimento cranial
(cranial skull) e comprimento nasal (nasal skull), e profundidade mandibular
(mandibular depth). B - Medidas de largura do crânio (zygomatic width) e largura
máxima do neurocrânio (neurocranium width).
Fonte: Evans e McGreevy38
.
18
Os parâmetros morfométricos do crânio de seres humanos, cães, bovinos e
equinos adultos estão dispostos na Tabela 2.
TABELA 2 - Comparação das medidas de comprimento e largura do crânio de diferentes espécies e
raças.
Espécie Raça Idade
(anos) Medidas do crânio Autores
SERES HUMANOS Comprimento (mm) Largura (mm)
HOMEM - 26,4 195,2 ± 0,99 153,0 ± 0,73 Larsen
11
MULHER - 24,7 186,7 ± 0,55 150,9 ± 0,56
CÃES CKCS 1,5 103,0 ± 0,72 145,0 ± 1,35 Squarzoni3
BOVINOS BP + de 2,5 170,40 ± 2,04 227,90 ± 1,24 Parés42
EQUINOS Variadas* 3 a 26 263,1 ± 21,27 163,7 ± 14,20 Evans e
McGreevy38
CKCS: Cavalier King Charlies Spaniel; BP: Bruna dos Pirineus;
*Raças equinas: Puro-Sangue Inglês, Standardbred, Pôneis, Árabes, Anglo-Árabe, Quarto de Milha,
Warmblood e Appaloosa.
A morfometria craniana pode influenciar sobre o funcionamento do cérebro e
comportamento do cão, sendo que a redução no comprimento do crânio correlaciona-se com
uma redução no tamanho do lobo olfativo40
. Ainda assim, é relatado que existe uma
correlação da conformação craniana com o formato da órbita. O menor comprimento craniano
e a maior largura do arco zigomático em cães braquicefálicos influenciam na conformação das
órbitas, sendo relativamente grandes, porém rasas41
. A relação existente entre o tamanho do
olho e as medidas do crânio foi analisada em outros estudos3-5,14,36,37
.
2.4. Relação da biometria ocular e morfometria craniana
A morfometria craniana promove informações adicionais sobre a biometria
ocular, sendo importante em casos de cirurgias oftálmicas como enucleações e má formações
congênitas bilaterais para confecção de próteses oculares14
. O auxílio no diagnóstico precoce
de enfermidades oculares também pode ser possível com a definição dos parâmetros
morfométricos do olho e do crânio de animais de determinadas raças, além de possibilitar a
monitoração de tais enfermidades4. Ainda assim, estudos com animais de experimentação são
realizados para desenvolvimento em pesquisas na oftalmologia humana e veterinária2.
19
A relação da biometria ocular e a conformação craniana foi primeiramente,
analisada em seres humanos e identificou-se forte correlação entre o CAx do olho e o
diâmetro, largura e comprimento cranianos11
.
Cães de raça cruzada e não braquicefálicos foram avaliados quanto às medidas do
olho e crânio verificando que a profundidade da câmara anterior e vítrea e o CAx do olho são
influenciados pelo diâmetro bizigomático e distância fronto-occipital14
. Nessa espécie, os cães
dolicocefálicos possuem maior CAx, comparado com os mesocefálicos5.
Em felinos, o estudo comparando raças braquicefálicas com raças cruzadas não
braquicefálicas demonstrou que a câmara anterior está correlacionada com o comprimento do
crânio, de modo que quanto mais longo o crânio dos felinos, maior a profundidade da câmara
anterior. Concluíram ainda que, quanto maior a largura do crânio destes animais, maior as
medidas de câmara vítrea e CAx4. Portanto, finda-se que existe uma forte relação entre as
medidas do olho e formatos de crânios diferentes em seres humanos e em outros
animais5,11,14,36
.
Um estudo foi realizado em cães avaliando o tamanho do crânio com o
comprimento do raio ocular e correlacionando as medidas com a distribuição das células
ganglionares da retina, uma das responsáveis pela visão. Os cães braquicefálicos possuem
uma distribuição central de células ganglionares gigantes na retina. Tal arranjo correlaciona-
se com a área retiniana responsável por maior acuidade visual, sugerindo que cães com índice
cefálico alto podem responder mais à estímulos visuais olhando com foco para frente. Já os
cães dolicocefálicos não possuem essa centralização de células ganglionares na retina, sendo
mais facilmente perturbados por estímulos visuais no campo periférico36
.
A diferença na morfologia celular da retina em cães com tamanhos de olhos e
conformações cranianas variadas, relaciona-se com o desempenho do animal37
, fatores que
podem ocorrer em outras espécies ainda não estudadas. O conhecimento da relação das
medidas do olho com o crânio em diferentes espécies e raças, forneceram informações
relevantes sobre a visão nos animais37
.
Além disso, visando a diversificação racial da espécie canina e sua importância
como modelo experimental para pesquisas em seres humanos, como também a evolução da
área de oftalmologia veterinária e o aumento do número de cirurgias oftálmicas, tornam-se
importantes os dados das medidas oculares e cranianas em diferentes raças caninas5.
Percebe-se com esta revisão bibliográfica que ainda são escassas as pesquisas
referentes à ultrassonografia e biometria ocular correlacionadas com a morfometria craniana
20
nas diferentes espécies. Acredita-se que mais estudos, considerando diferentes espécies e
raças auxiliarão na identificação de relação entre as medidas e na padronização destas para
pesquisas futuras em animais e seres humanos.
Dessa forma, visando contribuir com pesquisas nestas áreas, a segunda parte desta
dissertação refere-se às medidas oculares e cranianas de bovinos da raça Jersey em diferentes
faixas etárias. Os animais foram escolhidos pela homogeneidade fenotípica, além de serem
considerados animais notáveis para produção de leite, conversão alimentar, precocidade,
longevidade e adaptação.
Durante a fase experimental foram realizados a biometria ocular e os parâmetros
morfométricos do crânio de bovinos durante a fase juvenil até a idade adulta, separados por
grupos de diferentes faixas etárias, para análise da curva de crescimento ocular e cranianos,
além da demonstração da correlação entre o tamanho do olho e do crânio e os resultados serão
apresentados no Capítulo 2 desta dissertação.
21
REFERÊNCIAS
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Radiol Ultrasound. 2008;49(2):172-5.
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globe sonographic biometry. Vet Ophthalmol. 2010;13(6):384-6.
3. Squarzoni R. Biometria ocular e sua relação com sexo, idade, tamanho e peso em cães da
raça Cavalier King Charles Spaniel. [Tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2011.
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24
CAPÍTULO 2 – MANUSCRITO
Os resultados desta dissertação estão apresentados na forma de manuscrito
científico. A formatação deste capítulo está de acordo com as orientações da revista que será
encaminhado.
A realização deste estudo foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de
Animais da Universidade Federal de Goiás (CEUA/UFG), sob o nº 056/2016 (Anexo A).
25
CAPÍTULO 2 – ECOBIOMETRIA OCULAR E CRANIOMETRIA EM BOVINOS DA
RAÇA JERSEY DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS
Manuscrito redigido de acordo com as normas da revista Veterinary
Ophthalmology (Anexo B).
26
Resumo
Objetivo: Acompanhar o desenvolvimento do olho de bovinos da raça Jersey, por meio de
ultrassonografia em modo B e relacionar com a morfometria craniana.
Animais estudados: 48 bovinos hígidos da raça Jersey com idade entre 1 a 58 meses.
Procedimentos: Exames oftalmológicos foram realizados para identificação de bovinos
hígidos para compor os grupos: GI (1 a 11 meses), GII (16 a 24 meses) e GIII (25 a 58
meses). Os animais foram contidos fisicamente e examinados pela ultrassonografia
transcorneal de ambos os olhos, avaliando-se comprimento axial (CAx), espessura corneana
(CO) e lenticular (EL), profundidade da câmara anterior (CA) e vítrea (CV). As medidas
cranianas foram o comprimento total, cranial, nasal e largura, após calculou-se o índice
cefálico (IC).
Resultados: As medidas de CAx (GI: 2,83cm; GII: 3,16cm; GIII: 3,24cm), CA (GI: 0,44cm;
GII: 0,53cm; GIII: 0,53cm), EL (GI: 0,88cm; GII: 1,01cm; GIII: 1,04cm) e CV (GI: 1,44cm;
GII: 1,55cm; GIII: 1,59cm) aumentaram (P = < 0,001) conforme a idade, à exceção de CO
(GI: 0,07cm; GII: 0,08cm; GIII: 0,08cm) (P > 0,05). As medidas cranianas de comprimento
total (GI: 30,83cm; GII: 43,29cm; GIII: 44,15cm), cranial (GI: 18,11cm; GII: 23,82cm; GIII:
22,69cm), nasal (GI: 12,72cm; GII: 19,47cm; GIII: 21,46cm) e largura (GI: 26,22cm; GII:
33,82cm; GIII: 34,00cm) aumentaram (P < 0,001), e IC (GI: 85,66cm; GII: 78,15cm; GIII:
77,02cm) diminuiu (P < 0,001). O CAx correlacionou-se positivamente (P < 0,001) com o
comprimento e largura cranianos e, negativamente com o IC (P > 0,05).
Conclusões: A biometria ocular de bovinos da raça Jersey correlaciona-se com as medidas do
crânio nas diferentes idades. Com o aumento da idade, os olhos e o crânio crescem
estabelecendo curvas de crescimento semelhantes à de outros mamíferos.
Palavras-chave: olho, ultrassonografia, craniometria, crescimento, ruminante.
27
INTRODUÇÃO
A oftalmologia em bovinos possui importância significativa frente às
enfermidades oculares que promovem perdas econômicas por meio de surtos, tais como a
ceratoconjuntivite infecciosa1. Além disso, outras doenças oculares como microftalmia,
carcinoma de células escamosas, luxação lenticular e catarata foram relatadas em ruminantes,
sendo enfermidades de ocorrência comum e que podem diagnosticadas a campo2.
Desse modo, estudos relacionados ao padrão de normalidade do órgão em
ruminantes são essenciais para o conhecimento e acompanhamento das afecções3,4
, bem
como o tratamento dessas enfermidades2. O exame oftálmico de rotina acompanhado pela
ultrassonografia em modo B tornou-se fundamental para a avaliação do olho, bem como para
a realização da biometria ocular em diferentes espécies, como cães5-10
, gatos11-13
, cabras14
,
bovinos1, bubalinos
15,16, equinos
17,18, asininos
19, coelhos
20, elefantes asiáticos
21, furões
22,
porquinhos-da-Índia23
, capivaras24
, corujas25,26
, pinguins27
e jacarés28
.
A biometria ocular, correlacionada com a craniometria, fornece informações
importantes em casos de cirurgias oftálmicas como enucleações e má formações congênitas
bilaterais, para confecção de próteses oculares5,11,12,29
. O auxílio no diagnóstico precoce de
enfermidades oculares também pode ser possível com a craniometria e ecobiometria de
diferentes raças, além de possibilitar a monitoração de enfermidades9. Além disso, estudos
com a espécie bovina são realizados para desenvolvimento em pesquisas oftalmológicas em
humanos e animais30
.
A aparência ultrassonográfica e a biometria ocular foram descritas apenas em
bovinos adultos das raças Jersey e Holandesa in vivo1
e em olhos extraídos de Angus31
.
Estudos na espécie bovina acompanhando o desenvolvimento do olho e do crânio nas fases
juvenil e adulta ainda não foram descritos. Desta forma, propõe-se com o presente estudo
28
caracterizar as estruturas oculares por meio do exame ultrassonográfico, determinar os
valores de referência da biometria ocular e relacionar com parâmetros morfométricos do
crânio, gerando as curvas de crescimento oculares e cranianas de bovinos da raça Jersey de
diferentes idades.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento ocorreu entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017 em uma
propriedade rural no município de Anápolis, Goiás. O projeto foi aprovado pela Comissão de
Ética no uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), protocolo
número 056/16 e o estudo foi conduzido de acordo com as diretrizes da Association for
Research in Vision and Ophthalmology (ARVO - National Institutes of Health, Publications
85–23, revised 1985).
Foram examinados 48 bovinos, fêmeas, da raça Jersey, sendo animais puros de
origem registrados, com idade variando entre um (1) mês a 58 meses. Após o exame clínico
propôs-se a distribuição dos animais hígidos em três grupos, considerando a faixa etária:
grupo I (1 a 11 meses), grupo II (16 a 24 meses) e grupo III (25 a 58 meses).
Em um único momento, foram realizados sequencialmente os exames clínicos e
ultrassonográficos de ambos os olhos, além de mensurações dos crânios de cada animal,
todos executados no período matutino. Os bovinos jovens foram contidos manualmente com
auxílio de cordas e, os adultos em tronco de contenção. A cabeça foi posicionada por um
auxiliar para facilitar a centralização do olho e minimizar eventuais movimentos bruscos.
Após um mês da realização dos exames ultrassonográficos, os bovinos foram reavaliados
clinicamente para identificação de possíveis lesões oculares.
29
As avaliações oftálmicas realizadas foram: testes de reflexos oculares, teste
lacrimal de Schirmer (Drogavet®, Curitiba, PR, Brasil), teste de fluoresceína (Fluoresceína
sódica 1%®
, Allergan Inc®, Guarulhos, SP, Brasil), fonte de luz para exame de pálpebras,
conjuntiva, córnea, humor aquoso e íris. A tonometria de aplanação (Tono-Pen AVIA vet®,
Reichert Technologies, Nova York, NY, Estados Unidos) foi realizada após instilação de
colírio anestésico (Anestalcon®, Alcon, São Paulo, SP, Brasil). A avaliação da lente e
oftalmoscopia indireta foram realizadas com transiluminador de Finoff (Welch Allyn®, Nova
York, NY, Estados Unidos) e lente de 20 dioptrias (Volk®, Ohio, OH, Estados Unidos).
A ultrassonografia ocular em abordagem transcorneal foi executada por um único
examinador e iniciou-se após a instilação de três gotas de colírio anestésico e, aguardado um
minuto da aplicação. Os exames foram realizados com aparelho Logic E (GE Healtchare®,
Waukesha, WI, Estados Unidos) acoplado a um transdutor linear com frequência selecionada
em 12 MHz. Foi preconizada a utilização de gel acústico (Carbogel®, São Paulo, SP, Brasil)
sobre a córnea e, sobre o transdutor foi distribuída uma camada de gel recoberta por película
aderente (Lusafilm R 105®, Guarulhos, SP, Brasil), a qual funcionou como uma almofada de
recuo quando em contato com a córnea. O exame foi realizado com o máximo de delicadeza,
sem pressionar o transdutor contra a superfície ocular, a fim de evitar danos à córnea e não
interferir com o tamanho das estruturas anteriores do olho. Ao término do exame realizou-se
a limpeza dos olhos do animal com solução fisiológica 0,9% (Equiplex®
, Aparecida de
Goiânia, GO, Brasil).
As medidas oculares foram realizadas em cortes axiais horizontal e vertical,
com o transdutor posicionado no centro da córnea. Após a obtenção da imagem alinhando-se
os ecos da córnea, cápsulas anterior e posterior da lente com o eco da parede posterior foi
determinada a biometria de: comprimento axial (CAx - distância da camada epitelial da
30
córnea à parede posterior do olho), profundidade da câmara anterior (CA - distância da
membrana de Descemet e camada endotelial corneanas à cápsula lenticular anterior),
espessura da lente (EL - distância entre a cápsula lenticular anterior e posterior) e
profundidade da câmara vítrea (CV - distância entre a cápsula lenticular posterior e a parede
posterior do fundo ocular). Posteriormente, estimou-se a espessura corneana pela diferença
do CAx com a somatória do CA, EL e CV.
Os parâmetros morfométricos do crânio foram obtidos após o exame
ultrassonográfico e foi composto pelas medidas de comprimento total do crânio (distância da
crista nucal até a extremidade rostral da sutura interincisiva), comprimento cranial (distância
fronto-occiptal) e comprimento nasal (distância fronto-nasal), medidos ao nível dos cantos
mediais oculares, e a largura do crânio (distância entre os ápices dos arcos zigomáticos).
Após a obtenção desses dados foi calculado o índice cefálico pela relação da largura e o
comprimento total do crânio.
Os resultados das medidas de cada corte do olho esquerdo e direito e de cada grupo de
animais foram apresentados em forma de médias e desvios-padrão, valores máximo e
mínimo. Para a comparação entre as medidas dos olhos dos bovinos em diferentes faixas
etárias foram utilizados a análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey. A correlação de
Pearson foi empregada para estabelecer a relação entre as variáveis do comprimento axial e
comprimento total do crânio, largura e índice cefálico. Utilizou-se ainda um modelo logístico
para confecção de curvas de crescimento para a comparação da idade com as variáveis do
olho e idade comparada à morfometria craniana. As diferenças estatísticas foram
consideradas quando o valor de probabilidade foi menor que 0,05 (P < 0,05) na tabela
ANOVA. Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico R (Versão 3.3.1 – 2016
– The R Foundation for Statistical Computing).
31
RESULTADOS
Quarenta e oito bovinos da raça Jersey, com diferentes idades, foram avaliados
pelo exame clínico oftalmológico e a ultrassonografia ocular e as medidas do crânio foram
realizadas em todos os animais e, a distribuição dos grupos estudados, em função da idade,
encontra-se detalhada na Tabela 1. Estes mesmos animais foram reavaliados por meio de
exame oftalmológico e não foram encontradas lesões na córnea, consequentes do exame
ultrassonográfico e manipulação.
TABELA 1 - Distribuição de bovinos Jersey (número de animais) de acordo com a idade
avaliada de 1 a 11 meses (Grupo I), 16 a 24 meses (Grupo II) e 25 a 58 meses (Grupo III).
*Idade média ± desvio padrão em cada grupo; # Número total de animais por grupo
Os valores obtidos durante a realização do teste lacrimal de Schirmer dos bovinos
nos grupos I (28,30mm/min ± 4,90), II (30,50mm/min ± 4,36) e III (30,61mm/min ± 4,64) e
tonometria de aplanação dos grupos I (19,25mmHg ± 2,74), II (20,12mmHg ± 2,67) e III
(20,89mmHg ± 2,43) não apresentaram diferenças estatísticas (P>0,05).
Grupo I Média*/Total
#
Idade (meses) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 11 5,6 ± 3,20
Número de
animais 3 3 2 2 2 1 1 1 1 2 18
Grupo II
Idade (meses) 16 17 18 19 20 21 22 24
19,63 ± 2,67
Número de
animais 2 1 1 2 3 3 4 1
17
Grupo III
Idade (meses) 25 26 27 29 31 39 58
33,57 ± 11,75
Número de
animais 1 4 1 2 1 2 2
13
32
A ultrassonografia ocular foi realizada em 96 olhos, considerando os antímeros
direito e esquerdo. A imagem ultrassonográfica do olho foi semelhante em todos os animais,
sendo que a córnea apareceu como duas linhas convexas, paralelas e hiperecoicas (camada
epitelial e membrana de Descemet, juntamente com camada endotelial), separadas por uma
linha anecoica correspondente ao estroma corneano (Figura 1). Abaixo da córnea
visualizaram-se as câmaras anterior e posterior com aparência anecoica. A lente apareceu
como duas linhas hiperecoicas, sendo uma convexa (cápsula anterior) e uma côncava
(cápsula posterior), separadas pelo conteúdo lenticular anecoico. Adjacente à cápsula anterior
da lente foram observadas a íris e o corpo ciliar, ambos de ecogenicidade moderada, sendo a
íris mais espessa e irregular. A câmara vítrea apareceu como uma região anecoica e a parede
posterior do olho apresentou-se como uma linha hiperecoica regular e côncava.
A biometria ocular (Figura 1) foi obtida em três imagens de corte axial horizontal
e três de corte axial vertical, de cada olho obtendo-se a média dos valores para cada animal e
a partir destes dados a média do grupo (Tabela 2).
33
FIGURA 1 - Ultrassonografia em modo B, corte axial horizontal do olho esquerdo de bovinos da raça Jersey. A: Camadas hiperecoicas
separadas por camada anecoica da córnea (seta curta), câmara anterior, lente e câmara vítrea anecoicas (CA, L e CV), cápsulas anterior e
posterior da lente vistas como linhas curvilíneas (setas traçadas), íris e corpo ciliar hiperecoicos e espessos (asteriscos), parede posterior
hiperecoica (seta). B, C e D: As linhas pontilhadas indicam a biometria ocular realizada em bovinos de idades entre 1 e 58 meses, divididos em
grupo I (B), II (C) e III (D), evidenciando medidas do comprimento axial (1), profundidade da câmara anterior (2), espessura da lente (3) e
profundidade da câmara vítrea (4). Frequência de 12MHz.
34
TABELA 2 – Médias e desvios-padrão (DP), valores máximos e mínimos das variáveis do
comprimento axial (CAx), espessura da córnea (CO), profundidade da câmara anterior (CA),
espessura da lente (EL) e profundidade da câmara vítrea (CV) do olho esquerdo e direito de
bovinos Jersey com idade entre 1 a 11 meses (Grupo I), 16 a 24 meses (Grupo II) e 25 a 58
meses (Grupo III).
Variáveis Grupos Médias (cm) DP P* Máximo (cm) Mínimo (cm)
Olho esquerdo
CAx
I 2,83a
0,15
<0,001
3,12 2,61
II 3,16b
0,04 3,22 3,07
III 3,24c
0,06 3,35 3,11
CO
I 0,08a
0,01
0,8239
0,09 0,06
II 0,08a
0,01 0,09 0,06
III 0,08a
0,01 0,09 0,05
CA
I 0,44a
0,05
<0,001
0,53 0,36
II 0,53b
0,02 0,57 0,49
III 0,54b
0,03 0,61 0,48
EL
I 0,88a
0,06
<0,001
1,01 0,78
II 1,01b
0,02 1,04 0,97
III 1,04c
0,03 1,10 1,00
CV
I 1,44a
0,07
<0,001
1,60 1,33
II 1,55b 0,04 1,60 1,48
III 1,60c
0,05 1,69 1,49
Olho direito
CAx
I 2,83a 0,14
<0,001
3,10 2,61
II 3,16b 0,04 3,22 3,06
III 3,24c 0,06 3,34 3,12
CO
I 0,07a 0,01
0,0011
0,09 0,05
II 0,08b 0,01 0,09 0,06
III 0,08b 0,01 0,09 0,07
CA
I 0,44a 0,05
<0,001
0,56 0,36
II 0,53b 0,02 0,57 0,49
III 0,53b 0,03 0,61 0,47
EL
I 0,88a 0,05
<0,001
0,99 0,79
II 1,01b 0,02 1,04 0,95
III 1,04c 0,03 1,11 1,00
CV
I 1,44a 0,06
<0,001
1,58 1,35
II 1,55b 0,04 1,62 1,47
III 1,59c 0,04 1,67 1,53
* P < 0,05: diferença entre as médias (Teste Tukey) das variáveis nas diferentes idades.
35
Analisando-se os valores médios alcançados para as variáveis ultrassonográficas
dos CAx, CA, EL e Cv dos olhos esquerdo e direito notou-se que houve aumento no tamanho
das medidas do grupo I para os grupos II e III (P < 0,001). Apenas a espessura da córnea em
ambos os olhos não variou com o crescimento dos animais (POE = 0,8239; POD = 0,0011).
As variáveis da morfometria craniana estão descritas na Tabela 3. Tais variáveis
sofreram diferença estatística nos diferentes grupos. As medidas de comprimento total,
comprimento cranial, comprimento nasal e largura do crânio aumentaram progressivamente
(P < 0,001) do grupo I para o grupo III, com exceção do índice cefálico, que diminuiu com o
aumento das demais variáveis.
TABELA 3 – Médias e desvios-padrão (DP), valores máximos e mínimos das variáveis do
comprimento total, comprimento cranial, comprimento nasal, largura do crânio e índice
cefálico dos crânios de bovinos Jersey com idade entre 1 a 11 meses (Grupo I), 16 a 24 meses
(Grupo II) e 25 a 58 meses (Grupo III).
Variáveis Grupos Médias (cm) DP P* Máximo (cm) Mínimo (cm)
Comprimento total
I 30,83a 5,48
<0,001
39,00 21,00
II 43,29b 1,76 46,00 40,00
III 44,15b 1,34 46,00 42,00
Comprimento cranial
I 18,11a 2,40
<0,001
21,00 13,00
II 23,82b 2,01 27,00 21,00
III 22,69b 0,95 24,00 21,00
Comprimento nasal
I 12,72a 3,46
<0,001
19,00 8,00
II 19,47b 1,28 21,00 17,00
III 21,46c 1,20 23,00 19,00
Largura do crânio
I 26,22a 3,98
<0,001
34,00 20,00
II 33,82b 1,78 37,00 31,00
III 34,00b 1,53 37,00 32,00
Índice cefálico
I 85,66a
6,13 <0,001 93,46 74,19
II 78,15b 2,50
81,82 74,42
III 77,02b 3,11 82,22 72,73
* P < 0,05: diferença entre as médias (Teste Tukey) das variáveis nas diferentes idades.
36
As correlações de Pearson foram positivas (P < 0,001) comparando-se o
comprimento axial com o comprimento total craniano (rOE = 0,95 e rOD = 0,94) e largura do
crânio (rOE = 0,93 e rOD = 0,92). Para o índice cefálico observou-se correlações negativas
(rOE,OD = -0,67) com o comprimento axial.
Para a composição do modelo logístico das curvas de crescimento decidiu-se por
calcular a média total do CAx (soma dos comprimentos axiais, olhos direito e esquerdo,
dividido por dois) pois não se verificou diferença (P > 0,05) entre as medidas de
comprimento dos olhos direito e esquerdo, descritas na Tabela 2.
As curvas de crescimento referentes às comparações entre as idades e as variáveis
do olho (CAx, CA, EL, CV) estão dispostas na Figura 2, sendo “y” o valor médio estimado
da equação para a variável no final do crescimento e o valor elevado (ex) significa a taxa de
crescimento da variável em questão. Observando-se os gráficos de CAx, EL e CV, é possível
identificar um crescimento rápido seguido de um crescimento lento até os 58 meses. No
gráfico de CA observa-se um crescimento rápido precoce seguido de estabilidade no
crescimento até os 58 meses.
37
FIGURA 2 - Representação gráfica do crescimento ocular de acordo com a idade de bovinos
Jersey. Comparações com as medidas de comprimento axial (A), profundidade da câmara
anterior (B), espessura da lente (C) e profundidade da câmara vítrea (D).
As curvas de crescimento referentes às comparações entre as idades e as variáveis
de morfometria craniana (comprimento e largura) estão dispostas na Figura 3. Observa-se em
ambas as curvas um crescimento rápido precoce seguido de crescimento estável até os 58
meses, semelhante à curva de crescimento da variável CA do olho.
38
FIGURA 3 - Representação gráfica do crescimento craniano de acordo com a idade de
bovinos Jersey. Comparações com as medidas de comprimento (A) e largura (B) dos crânios.
Analisou-se ainda o crescimento do olho e do crânio por um modelo logístico de
gráfico linear com platô para identificação da idade em que cada variável possui seu pico de
crescimento aproximado. Os gráficos estão dispostos na Figura 4, sendo que a primeira reta
representa o crescimento rápido e a segunda reta representa o crescimento lento ou estável
(platô). Observa-se nos gráficos de CAx, EL do olho e comprimento do crânio, um pico de
crescimento com, aproximadamente, 13 meses, demonstrado pelo valor “x”. Nas variáveis
CA e largura craniana, observa-se um pico de crescimento mais precoce, com cerca de 11
meses. E na variável CV o pico de crescimento apresenta-se mais tardio, com
aproximadamente 28 meses de idade.
39
FIGURA 4 - Representação gráfica comparativa do pico de crescimento atingindo um platô
das medidas do olho de comprimento axial (A), profundidade da câmara anterior (B),
espessura da lente (C), profundidade da câmara vítrea (D) e das medidas do crânio de largura
(E) e comprimento (F) de bovinos da raça Jersey em diferentes idades.
40
DISCUSSÃO
A pesquisa foi realizada em bovinos Jersey, escolhidos pela homogeneidade
fenotípica, além de serem considerados animais notáveis para produção de leite, conversão
alimentar, precocidade, longevidade e adaptação. Visando o acompanhamento do
desenvolvimento normal do olho durante as fases juvenil e adulta, os animais foram avaliados
com idades entre 1 mês a 58 meses. Estudos similares foram realizados em cães5,8,10
, cabras14
e elefantes asiáticos21
utilizando a biometria ocular por ultrassonografia em mobo B e
demonstraram que o olho cresce com o aumento da idade.
As estruturas oculares como a córnea, câmara anterior, cápsulas lenticulares
anterior e posterior, câmara vítrea e a parede posterior apresentaram ecogenicidade e
ecotextura semelhantes aos demais mamíferos1,5-19
e silvestres20-26,28
. A íris e o corpo ciliar
nos bovinos estudados apresentaram-se, à ultrassonografia, espessos e irregulares quando
comparado às de outras espécies como cães5
e seres humanos32,33
. Tal particularidade foi
descrita em bovinos1, asininos
19, bubalinos
16 e equinos
34, sendo explicada pelo fato dos
animais herbívoros possuírem a corpora nigra, a qual tem variação de tamanho nas diferentes
espécies34
.
Os exames oftalmológicos foram semelhantes entre os bovinos da raça Jersey de
diferentes idades. Os resultados da avaliação lacrimal foram semelhantes entre os grupos I
(28,30mm/min ± 4,90), II (30,50mm/min ± 4,36) e III (30,61mm/min ± 4,64), assim como
estudos anteriores em bovinos adultos da Holandesa e Austrian Spotted Mountain (34,15 ± 20,47
mm/min) utilizando o mesmo método de avaliação35
. Os valores médios de pressão intraocular (PIO)
foram semelhantes entre os olhos esquerdo e direito e entre os grupos I (19,25mmHg ± 2,74), II
(20,12mmHg ± 2,67) e III (20,89mmHg ± 2,43), utilizando tonômetro de aplanação Tono-Pen
AVIA vet. Estudos em bovinos adultos da raça Jersey e Holandesa obtiveram a média de 26,9 ± 6,7
41
mmHg da PIO com o tonômetro Tono-Pen XL e identificaram semelhanças significativas entre as
médias de ambos os olhos e raças36
.
Neste estudo, não foram identificadas diferenças (P > 0,05) entre as medidas do
olho esquerdo e direito de nenhum animal avaliado, o que corrobora com pesquisas em
humanos29
e animais1,5-18,20,21,23,24,28
. Da mesma forma, não foram identificadas diferenças
entre os cortes axiais horizontais e verticais, concordando com estudos que realizaram os dois
cortes para a finalidade de biometria12,21
. Assim, verificou-se que os olhos de bovinos Jersey,
jovens e adultos, possuem tamanhos ipisilaterais idênticos.
Os olhos de bovinos Jersey jovens, da faixa etária de 1 a 11 meses, se mostraram
menores comparados às faixas etárias subsequentes, no presente estudo. Porém, não foi
possível discutir os resultados com outros estudos anteriores de animais com esta faixa etária
pelo fato da inexistência de dados de biometria ocular por ultrassonografia em modo B em
bovinos e bubalinos inferiores a 12 meses. Dessa forma, estes resultados são valores de
referência importantes para estudos futuros com bovinos nesta faixa etária.
Nos bovinos com a faixa etária de 16 a 24 meses, as medidas de comprimento
axial (CAx), profundidade da câmara anterior (CA), espessura lenticular (EL) e profundidade
da câmara vítrea (CV) foram maiores comparadas com estudo de olhos extraídos de
cadáveres de bubalinos com cerca de 12 meses de idade16
. Tal fato pode ter ocorrido pela
diferença de espécie, pois analisando estudos em animais de grande porte como bovinos1,3,31
,
bubalinos15
, equinos18
, asininos
19 e elefantes asiáticos
21 observa-se uma diversidade entre os
valores de biometria ocular. Além disso, as mensurações em olhos extraídos de cadáveres
podem ser imprecisas, devido às alterações pós-mortem3.
No entanto, com idades entre 25 e 58 meses, os CAx (3,24cm) dos bovinos Jersey
deste estudo foram similares às mensurações dos bovinos da mesma raça e idade de 74 meses
42
(3,27cm)1 e às de bubalinos de 50 meses (3,24cm)
15 e 120 meses (3,21cm)
16. Por outro lado,
foram menores que as medidas constatadas em bovinos Holandeses de 61 meses (3,46cm)1
e
maiores que os valores notados em bovinos da raça Angus de 24 meses (3,13cm)31
.
Justifica-se estas diferenças do CAx entre as raças e espécies, pela técnica
ultrassonográfica, frequência e ao modelo do transdutor. Neste estudo, empregou-se
transdutor linear com frequência de 12MHz e optou-se pela técnica transcorneal com uso de
película aderente e gel acústico para simulação de almofada de recuo, evitando-se ao máximo
o contato do transdutor com a córnea. Comparativamente, outros estudos empregaram
frequências e técnicas distintas: 10MHz/transpalpebral1, 6 a 8MHz/transpalpebral
15,
10MHz/transpalpebral e transcorneal16
, 10MHz/ técnica de imersão em solução salina31
.
Os valores médios da CA (0,53cm) para os bovinos Jersey com idade entre 25 e
58 meses foram maiores que os de outros Jersey (0,36cm)1, Holandês (0,33cm)
1 e bubalinos
(0,29cm15
; 0,43cm16
). Acredita-se que a diminuição da profundidade da CA seja causada pela
pressão do transdutor sobre a pálpebra e a depressão corneana sendo este, um aspecto
importante a ser considerado no momento do exame ultrassonográfico ocular. Tais
observações foram constatadas em exames de bovinos1, elefantes asiáticos
21 e cães
5,10 e da
mesma forma destacaram-se a importância de se executar a ultrassonografia com a mínima
pressão sobre a córnea.
As medidas de EL nos bovinos da raça Jersey com idade superior a 25 meses foi
de 1,04cm. Esta medida foi inferior a encontrada em animais da mesma raça com 74 meses
(1,24cm)1, em Holandeses de 61 meses (1,35cm)
1 e bubalinos de 50 meses (1,13cm)
15. Sabe-
se que a espessura lenticular aumenta com a idade, fato descrito em seres humanos37
,
macacos Rhesus38
, cães10
, pôneis17
e elefantes asiáticos21
, tal fato justifica os valores
43
inferiores encontrados neste estudo com Jersey, pois os animais foram mais jovens que os dos
artigos citados comparativamente.
As medidas de CV em bovinos adultos foram semelhantes em animais de mesma
raça (1,62cm)1, superiores às raças Holandesa (1,46cm)
1 e Angus (1,37cm)
31 e inferiores aos
bubalinos (1,67cm15
; 1,75cm16
). A diversidade racial foi sugerida como causa para as
diferenças observadas em exames de biometria ocular em estudos com bovinos1 e caninos
6,9.
Logo, pode-se creditar as semelhanças e diferenças interraciais aos valores discrepantes da
medida da CV, CAx, CA e EL. A maior semelhança das mensurações de CV do presente
estudo com os animais de mesma raça avaliados por Potter et al.1, evidencia esse fato.
No presente estudo, a espessura corneana foi calculada a partir da diferença do
CAx com a somatória do CA, EL e CV, não sendo observadas alterações à medida que os
animais cresceram. Em estudo com pôneis de diferentes idades (1,5 a 264 meses), a espessura
da córnea foi avaliada por paquimetria ultrassônica, método preciso e específico, e não
identificaram correlação da espessura com o aumento da idade17
. Entretanto, empregando
diferentes frequências ultrassonográficas, foi sugerido que as medidas da córnea aumentam
com a idade em cabras (20MHz)14
, bubalinos e camelos (10MHz)16
e elefantes aisáticos (4-
7MHz)21
.
As medidas do crânio apresentaram aumento significativo a partir de 1 mês até 58
meses de idade. Em estudo com carcaças de crânios de camelos jovens (24 a 36 meses) e
adultos (72 a 84 meses) identificou-se que as medidas cranianas aumentam
consideravelmente com a idade39
. O mesmo foi encontrado em medidas de carcaças cranianas
de cães da raça Pastor Alemão com idade entre 45 dias e 105 dias40
e mensurações em cães
da raça Cavalier King Charles Spaniel com idade entre 15 dias e 36 meses5.
44
A análise do índice cefálico (IC) em bovinos Jersey com idade variando entre 1 e
58 meses demonstrou que os valores diminuíram à medida que os animais cresceram, o que
também foi encontrado em camelos39
e cães40
. Isso se deve à diferença de tamanho entre a
largura e o comprimento cranianos que acontece com o crescimento do animal39
. Em bovinos
Jersey avaliados no estudo, a diferença entre as mensurações de comprimento e largura foi de
apenas 4,61cm, quando jovem (1 e 11 meses) e, à medida que os animais foram avalidos na
idade adulta, as diferenças aumentaram para 9,47cm (16 a 24 meses) e 10,15cm (25 e 58
meses).
O IC de bovinos Jersey com idade entre 25 e 58 meses demonstrou valores
maiores (77,02) comparado à fêmeas de raças taurinas francesas com idades superiores a 30
meses, como Bruna dels Pireneus (BP) (44,23), Holandesa (FR) (42,00), Limousin (LI)
(43,34), Charolesa (CH) (44,68) e Blonde de Aquitania (BA) (41,86)41
. Estes resultados,
expressando o alto IC de bovinos Jersey, confirmam o fenótipo destes animais cujo crânio
apresentou medidas maiores de largura (L: 34cm) e menores de comprimento total (CT:
44,15cm), comparados às medidas de outras raças (BP – L: 23,5cm, CT: 53,2cm; FR – L:
23,5cm, CT: 56,0cm; LI – L: 23cm, CT: 53cm; CH – L: 24cm, CT: 53,7cm; BA – L: 22,7cm,
CT: 54,2cm)41
.
Além da utilização do IC para avaliação dos diferentes formatos cranianos, outras
pesquisas classificaram os perfis frontonasais de bovinos por meio do formato côncavo ou
convexo42
. Assim, crânios com depressão nitidamente marcada e, consequentemente, olhos
mais salientes e órbitas rasas, são considerados perfis côncavos, como os animais da raça
Jersey empregados nesse estudo.
Dentre as relações de biometria e craniometria estudadas, observou-se correlação
positiva entre CAx vs comprimento total e largura do crânio. Estudos em seres humanos29
,
45
cães6,9
e gatos11
relataram informações semelhantes sobre a relação existente entre o CAx do
olho e as medidas do crânio. Demonstrou-se também correlação positiva entre o raio ocular e
o desempenho, visão e comportamento de cães43,44
. Por outro lado, o CAx correlacionou
negativamente com o IC. Credita-se este achado à diminuição da relação entre a largura e o
comprimento do crânio à medida que os bovinos cresceram, como discutido anteriormente
em camelos39
.
Em análise comparativa entre as curvas de crescimento do olho e do crânio
verificou-se semelhança entre as curvas. O modelo logístico das mensurações de CAx e EL
em bovinos Jersey demonstrou curvas com rápido crescimento inicial, até cerca de 13 meses
de idade, e um crescimento lento até aos 58 meses, idade máxima analisada no estudo. Tais
curvas de crescimento do olho do bovino foram semelhantes à pesquisas em cães5,10
, cabras14
,
pôneis17
, macacos Rhesus38
e seres humanos45
.
A CA alcançou o pico de crescimento rápido aos 11 meses de idade, enquanto
que a CV mostrou pico de crescimento tardio, com 28 meses. Comparando as curvas de
crescimento dos olhos de macacos e humanos38
observaram que a CA se desenvolve mais
rápido que a CV como observado no estudo com os bovinos Jersey. Além disso,
demonstraram uma curva rápida de CA até os 12 meses e crescimento lento até os 60 meses
em olhos de macacos38
, informações que se assemelham aos resultados deste estudo.
As curvas de crescimento do comprimento e largura cranianos dos bovinos
estudados se mostraram semelhantes com o crescimento da CA do olho, sendo constatato um
pico rápido, seguido de um crescimento lento e constante até 58 meses. Isso pode ser
explicado pelo crescimento ósseo rápido no primeiro ano de vida e início de fechamento das
suturas cranianas dos bovinos próximo ao segundo ano de vida, fase em que ossos do crânio
cessam o desenvolvimento46,47
.
46
Por fim, as medidas das estruturas oculares divergiram muito entre os estudos
revisados, devido a utilização de animais vivos ou cadáveres31
, diferença de frequência do
transdutor1,15,16,31
, a técnica ultrassonográfica utilizada1,15,16,31
, pressão do transdutor sobre a
superfície corneana1, diversidades raciais e entre espécies
1,15,16,31.
A dificuldade de comparação com estudos sobre a ultrassonografia ocular e
craniometria na espécie bovina, exprime a necessidade de mais pesquisas referentes ao
assunto na espécie em questão, visando à análise do desenvolvimento ocular nas fases juvenil
e adulta de bovinos de diferentes raças. Consideramos, além disso, que as informações
geradas serão importantes para a melhor compreensão de doenças oculares em bovinos.
CONCLUSÃO
A biometria ocular de bovinos fêmeas da raça Jersey correlaciona-se com as
medidas do crânio nas diferentes idades, sendo que com o aumento da idade, os olhos e o
crânio crescem estabelecendo curvas de crescimento semelhantes à de outros mamíferos.
O crescimento do crânio e dos olhos estabiliza aos 11 meses (comprimento do
crânio, comprimento axial do olho e espessura lenticular) e 13 meses (largura do crânio e da
câmara anterior), exceto a câmara vítrea que cresce até 28 meses de idade.
47
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distribution of retinal ganglion cells and nose length in the dog. Brain Behav Evol. 2004;
63(1): 13-22.
44. Gácsi M, McGreevy P, Kara E, Miklósi A. Effects of selection for cooperation and
attention in dogs. Behav Brain Funct. 2009; 5(31): 1-8.
45. Fledelius HC, Christensen AC. Reappraisal of the human ocular growth curve in fetal life,
infancy, and early childhood. Br J Ophthalmol. 1996; 80: 918-921.
46. Grigson C. The craniology and relationships of four species of bos 1. Basic craniology:
Bos taurus L. and its absolute size. J Archaeol Sci1974; 1: 353-379.
47. Sisson S. Ruminant osteology. In: Getty R, ed. The Anatomy of the Domestic Animals. 5rd
ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan; 1998: 713–725.
52
CAPÍTULO 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mensurações dos olhos por ultrassonografia foram realizadas, primeiramente,
em seres humanos, sendo utilizado apenas o exame em modo A, de amplitude. Atualmente,
sabe-se que a ultrassonografia em modo B, bidimensional, é uma técnica segura, de baixo
custo, fácil interpretação e indispensável na complementação do exame oftalmológico. O
exame em modo B, além de ser útil para a realização de medidas das câmaras intraoculares,
examina a aparência ultrassonográfica e possíveis alterações nas estruturas oftálmicas.
A biometria ocular por ultrassonografia em modo B é de suma importância para o
diagnóstico precoce de enfermidades oculares. A correlação das medidas do olho e a
morfometria craniana promove informações relevantes para a realização de procedimentos
cirúrgicos. As medidas do olho e crânio em diferentes espécies e raças podem auxiliar no
desenvolvimento de pesquisas em seres humanos nas quais os animais atuam como modelo
experimental.
Estudos em seres humanos e animais estão sendo realizados, porém ainda são
escassos os dados sobre a relação da biometria ocular e craniana, especialmente em animais
com raças de diferentes formatos cranianos. Além disso, pesquisas referentes ao
acompanhamento do crescimento ocular e cranianos em animais jovens e adultos visam a
padronização de dados de normalidade em diferentes faixas etárias.
A espécie bovina foi escolhida para estudo longitudinal do crescimento ocular e
craniano devido à escassez de trabalhos, especialmente a respeito da oftalmologia veterinária
nesses animais. A avaliação dos bovinos vivos contidos fisicamente foi bem excecutada a
campo, se mostrando um exame que pode ser facilmente adicionado à rotina da oftalmologia
em grandes animais.
Acredita-se que a pesquisa relacionada ao desenvolvimento do olho e crânio
normais em bovinos de mesma raça complementarão valores já encontrados em estudos,
como também facilitarão experimentos futuros. Ainda assim, espera-se que trabalhos sobre a
biometria ocular e craniana utilizando a mesma espécie e raça sejam executados para melhor
avaliação das curvas de crescimento ao longo da vida do animal.
53
ANEXOS
Anexo A – PARECER CONSUBSTANCIADO REFERENTE AO PROJETO
DE PESQUISA DO PROTOCOLO N. 056/16
54
55
56
Anexo B – Normas Revista Veterinary Ophthalmology
Author Guidelines
Veterinary Ophthalmology publishes original material relating to all aspects of clinical and
investigational veterinary and comparative ophthalmology. The following types of material
will be published:
Original articles including clinical (prospective and retrospective clinical studies) and
investigational studies. Research studies involving animals must have the approval of the
institution's animal care and use committee and be acceptable to the Editor.
Review articles (including papers which clarify, summarize and critically evaluate the current
literature). These will be invited by the Editor or a member of the editorial board.
Case reports (patient-based studies; either single or multiple animals). Authors of case
reports rejected by our journal will be offered the option of having their manuscript,
along with any related peer review comments, automatically transferred for
consideration by the editorial team of Clinical Case Reports, an open access journal.
Viewpoint articles (papers which challenge existing concepts or present an alternative
interpretation of available information) are usually invited by the Editor or a member
of the editorial board.
Short communications: Brief research and clinical communications (limited to 6 pages
and 12 references).
Letters to the editor.
All original research and review articles will be peer reviewed by at least two independent
referees.
Online publication from 2017
Veterinary Ophthalmology will be published in online-only format effective with the 2017
volume. This is a proactive move towards reducing the environmental impact caused by the
production and distribution of printed journal copies and will allow the journal to invest in
further digital development. Published articles will continue to be disseminated quickly
through the journal's broad network of indexing ISI, MEDLINE and Scopus. Articles will also
continue to be discoverable through popular search engines such as Google.
EarlyView
Veterinary Ophthalmology is part of the Wiley-Blackwell Early View service. All articles are
published online in advance of their appearance in a print issue. These articles are fully peer
reviewed, edited and complete – they only lack page numbers and volume/issue details – and
are considered fully published from the date they first appear online. This date is shown with
the article in the online table of contents. Because Early View articles are considered fully
complete, please bear in mind that changes cannot be made to an article after the online
publication date even if it has not yet appeared in print.
57
Veterinary Ophthalmology only accepts manuscripts through our submission website. To
submit a manuscript, please follow the instructions below:
Getting Started
1. Launch your web browser and go to the Veterinary Ophthalmology ScholarOne
Manuscripts homepage http://mc.manuscriptcentral.com/vop
2. Log-in or click the 'Create Account' option if you are a first-time user of ScholarOne
Manuscripts.
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- After clicking on 'Create Account' enter your name and e-mail information and click
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Submitting Your Manuscript
1. After you have logged in, click the 'Submit a Manuscript' link on the Author Center
screen.
2. Enter data and answer questions as prompted.
3. Click on the 'Next' button on each screen to save your work and advance to the next
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- Click on the 'Browse' button and locate the file on your computer.
- Select the description of the file in the drop down next to the Browse button.
- When you have selected all files you wish to upload, click the 'Upload' button.
5. Review your submission (in both PDF and HTML formats) before sending to the
Editors. Click the 'Submit' button when you are done reviewing.
You may stop a submission at any phase and save it to submit later. After submission, you
will receive a confirmation via e-mail. You can also log-on to ScholarOne Manuscripts at any
time to check the status of your manuscript. The Editors will send you information via e-mail
once a decision has been made. A covering letter, signed by all authors, must be included.
This should state that the work has not been published and is not being considered for
publication elsewhere, and that all authors meet the journal's criteria for authorship (see
below). Information on any financial or other conflict of interest which may have biased the
work should be provided (even if precautions were taken and authors are satisfied that bias
was avoided).
Copyright Transfer Agreement
If your paper is accepted, the author identified as the formal corresponding author for the
paper will receive an email prompting them to login into Author Services; where via the
58
Wiley Author Licensing Service (WALS) they will be able to complete the license agreement
on behalf of all authors on the paper.
For authors signing the copyright transfer agrément
If the OnlineOpen option is not selected the corresponding author will be presented with the
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If you select the OnlineOpen option and your research is funded by The Wellcome Trust and
members of the Research Councils UK (RCUK) or the Austrian Science Fund (FWF) you will
be given the opportunity to publish your article under a CC-BY license supporting you in
complying with your Funder requirements. For more information on this policy and the
Journal‟s compliant self-archiving policy please visit:
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Manuscript Style
The manuscripts must be in Microsoft Word format (.doc or .docx). The manuscript
(including footnotes, references, figure legends, and tables) must be double-space typed, using
12-point Times New Roman font, 1-inch margins, and left justification. Original Research
papers and Review Articles should usually not be longer than 5000 words. Viewpoint articles
will not normally exceed 2000 words, and reviews of books and information materials should
be less than 1000 words long.
Title Page
The title page should include a descriptive title for the article, the names [first name, initials
of middle name(s), surnames], qualifications and affiliations of all authors, and the full postal
address, fax, e-mail (if available), and telephone number of the author to whom
correspondence should be addressed. A suggested running title of not more than 50 characters
including spaces should be included.
Abstract and Keywords
59
The abstract should be on a separate page and should not exceed 250 words. Where possible,
the abstract should be structured. Suggested headings for abstracts of primary research are:
Objective; Animal studied, Procedure(s), Results, and Conclusions.
Key words are used by indexes and electronic search engines, and should appear after the
abstract. Use the heading „Key words‟, typed in bold and followed by a colon, and then the
key words separated by commas. Include up to six key words. Also enter the key words where
prompted during the submission process.
Main Text
This should begin on a separate page. Sections within the main text should be appropriately
sub-headed: Introduction; Materials and methods, Results, and Discussion. Abbreviations and
footnotes should be avoided where possible.
References
These should be in the Vancouver style. References should be numbered sequentially as they
occur in the text and identified in the main text by arabic numbers in brackets after the
punctuation. The reference list should be typed on a separate sheet from the main text, and
references should be listed numerically. The following are examples of the style. All authors
should be listed and journal titles and page ranges should not be abbreviated. If there are more
than 3 more, please list the first 3 authors, followed by et al.
1. Bagley LH, Lavach JD. Comparison of postoperative phacoemulsification results in dogs
with and without diabetes mellitus: 153 cases (1991-1992). Journal of the American
Veterinary Medical Association 1994; 205: 1165-1169.
2. Barnett KC. Color Atlas of Veterinary Ophthalmology. Williams and Wilkins, Baltimore,
1990.
3. Davidson MG. Equine ophthalmology. In: Veterinary Ophthalmology 2nd edition (ed.
Gelatt KN). Lea and Febiger: Philadelphia, 1991; 576-610
4. Maggs DJ, Nasisse MP. Effects of oral L-lysine supplementation on the ocular shedding
rate of feline herpesvirus (FHV-1) in cats (abstract). 28th Annual Meeting of the American
College of Veterinary Ophthalmologists 1997; 101: 67-78.
Please note that work that has not been accepted for publication and personal communications
should not appear in the reference list, but may be referred to in the text (e.g. M. van der
Burgh, personal communication). Also, it is the authors‟ responsibility to obtain permission
from colleagues to include their work as a personal communication.
Electronic Artwork
Figures must be uploaded as separate files and not be embedded in the main text file. Please
save vector graphics (e.g. line artwork) in Encapsulated Postscript Format (EPS), and bitmap
files (e.g. half-tones) in Tagged Image File format (TIFF). Detailed information on our digital
illustration standards is available on the Wiley Homepage at:
http://media.wiley.com/assets/7323/92/electronic_artwork_guidelines.pdf
60
The figures should be referred to as „Fig.‟ and numbered consecutively in the order in which
they are referred to in the text. Captions to figures, giving the appropriate figure number,
should be typed on a separate page at the end of the manuscript; captions should not be
written on the original drawing or photograph. In the fulltext online edition of the journal,
figure legends may be truncated in abbreviated links to the full screen version. Therefore, the
first 100 characters of any legend should inform the reader of key aspects of the figure.
Further guidelines regarding the submission of artwork can be found
at http://authorservices.wiley.com/bauthor/illustration.asp
Video Files
The journal will consider up to 2 video files to accompany articles. For video files to be
accepted, they must clearly show a dynamic condition that can not be adequately captured in
still images. The Editor and/or Associate Editors will scrutinize all video submissions very
carefully to assure they meet the intent of providing unique information. Video files of routine
imaging findings will not be accepted. Up to 2 video files will be considered for each paper.
Video files must be submitted in Quicktime format and each file must be less than 5MB in
size. The video files will accompany the online version of the manuscript only; reference to
the video file should be made in the print version of the paper.
Tables
Clear tables which contain essential data are welcome. Format tables with the table function
in a word processor, such as MS Word, on a separate page with the legend typed above.
Column headings should be brief, with units of measurement in parentheses. All abbreviations
must be defined in footnotes to the table. Number tables consecutively in the order they occur
in the text, with Arabic numerals.
Acknowledgements
Acknowledgements should be brief and must include reference to sources of financial and
logistical support. Author(s) should clear the copyright of material they wish to reproduce
from other sources and this should be acknowledged.
Author Editing Services
Authors for whom English is a second language may choose to have their manuscript
professionally edited before submission or during the review process. Authors wishing to
pursue a professional English-language editing service should make contact and arrange
payment with the editing service of their choice. For more details regarding the recommended
services, please refer to http://authorservices.wiley.com/bauthor/english_language.asp .
Japanese authors can also find a list of local English improvement services
at http://www.wiley.co.jp/journals/editcontribute.html. All services are paid for and arranged
by the author, and use of one of these services does not guarantee acceptance or preference for
publication.
61
Peer Review
All articles submitted for consideration as original clinical and investigational papers or
review articles will be peer reviewed by at least two independent referees, one of which is an
editorial board member, and a statistician, if appropriate. We aim to give authors a decision
(rejection, rejection with encouragement to rework and resubmit, or acceptance subject to
revision/copy editing) within three months of manuscript submission.
Page Proofs and Offprints
Proofs will be sent via e-mail as an Acrobat PDF (portable document format) file. The e-mail
server must be able to accept attachments up to 4 MB in size. Acrobat Reader will be required
in order to read this file. This software can be downloaded (free of charge) from the following
Web site: http://www.adobe.com/products/acrobat/readstep2.html
This will enable the file to be opened, read on screen, and printed out in order for any
corrections to be added. Further instructions will be sent with the proof. Proofs will be posted
if no e-mail address is available; in your absence, please arrange for a colleague to access
your e-mail to retrieve the proofs.
Page proofs must be returned to Wiley Periodicals within 3 days of receipt, by fax if
international or convenient, and by express mail: only typographical errors can be corrected at
this stage.
Authors will be provided with electronic offprints of their paper. Electronic offprints are sent
to the first author at his or her first email address on the title page of the paper, unless advised
otherwise. Consequently, please ensure that the name, address and email of the receiving
author are clearly indicated on the manuscript title page if he or she is not the first author of
the paper. Paper offprints may be purchased using the order form supplied with proofs.
Further Information
If you wish to discuss prospective submissions or to clarify the guidance outlined above,
please contact Dr. David A Wilkie at the editorial office (Tel: 1-614-292-8664; Fax 1-614-
292-7667; email:[email protected]).
Further details about the peer review process and arrangements for the final submission of
accepted articles and proofs will be sent to authors of accepted manuscripts and are available
from the editorial office.
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holders to PubMed Central. The accepted version is the version that incorporates all
amendments made during peer review, but prior to the publisher's copyediting and
typesetting. This accepted version will be made publicly available 12 months after publication
in the journal. The NIH mandate applies to all articles based on research that has been wholly
or partially funded by the NIH and that are accepted for publication on or after April 7, 2008.
For more information about the NIH's Public Access Policy, visit http://publicaccess.nih.gov
OnlineOpen
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non-subscribers on publication, or whose funding agency requires grantees to archive the final
version of their article. With OnlineOpen, the author, the author's funding agency, or the
author's institution pays a fee to ensure that the article is made available to non-subscribers
upon publication via Wiley Online Open, as well as deposited in the funding agency's
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publish your paper OnlineOpen if you do not wish to. All OnlineOpen articles are treated in
the same way as any other article. They go through the journal's standard peer-review process
and will be accepted or rejected based on their own merit.
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