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1 DIMETILAMILAMINA: ABORDAGEM SANITÁRIA DO SEU CONSUMO COMO SUPLEMENTOS PARA ATLETAS Erick Dias Fernandez¹ Pedro Canisio Binsfeld² ¹Nutricionista - Especialização em Vigilância Sanitária pelo Instituto de Estudos Farmacêuticos IFAR e Universidade Católica de Goiás - PUC, GO. E-mail: [email protected] ²(Orientador) Doutor e Biotecnologia Docente do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pelo Instituto de Estudos Farmacêuticos e Universidade Católica de Goiás - GO. E-mail: [email protected] Resumo O dimetilamilamina é uma substância que vem sendo utilizada com grande frequência e mundialmente em suplementos alimentares com o objetivo de melhora na performance e perda de gordura. O objetivo deste estudo é analisar a segurança de consumo bem como o risco à saúde que o dimetilamilamina, substância utilizada em vários desses suplementos, pode ocasionar aos seus consumidores. Como resultado, foi observada uma relação de aumento de pressão sanguínea e a ingestão de suplementos contendo esta substância. Pode-se concluir que, apesar de existir esta relação de aumento de pressão sanguínea, é necessário a realização de mais estudos a respeito desta substância, principalmente esta sendo isolada e em quantidades superiores. Palavras Chaves: óleo de gerânio, DMAA, risco sanitário, suplemento alimentar. DIMETHYLAMYLAMINE: HEALTH APPROACH OF ITS USE AS A SUPPLEMENT FOR ATHLETES Abstract The dimethylamylamine is a substance that have been used in a large frequency and worldwide in dietary supplements to improve sports performance and fat loss. The aim of this study is to analyze the safety of consumption and the health's risk that dimethylamylamine, substance used in several supplements, may cause to its customers. The result showed a relation in the increase of blood pressure and the consumption of supplements containing this substance. It can be concluded that besides existing this relation of increased blood pressure, it is necessary to perform further studies on this substance, especially in isolated forms and in high values. Keywords: geranium oil, DMAA, health risk, dietary supplement.

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DIMETILAMILAMINA: ABORDAGEM SANITÁRIA DO SEU CONSUMO COMO

SUPLEMENTOS PARA ATLETAS

Erick Dias Fernandez¹

Pedro Canisio Binsfeld²

¹Nutricionista - Especialização em Vigilância Sanitária pelo Instituto de Estudos Farmacêuticos – IFAR e

Universidade Católica de Goiás - PUC, GO. E-mail: [email protected]

²(Orientador) – Doutor e Biotecnologia Docente do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pelo

Instituto de Estudos Farmacêuticos e Universidade Católica de Goiás - GO. E-mail: [email protected]

Resumo O dimetilamilamina é uma substância que vem sendo utilizada com grande frequência e mundialmente em

suplementos alimentares com o objetivo de melhora na performance e perda de gordura. O objetivo deste estudo

é analisar a segurança de consumo bem como o risco à saúde que o dimetilamilamina, substância utilizada em

vários desses suplementos, pode ocasionar aos seus consumidores. Como resultado, foi observada uma relação

de aumento de pressão sanguínea e a ingestão de suplementos contendo esta substância. Pode-se concluir que,

apesar de existir esta relação de aumento de pressão sanguínea, é necessário a realização de mais estudos a

respeito desta substância, principalmente esta sendo isolada e em quantidades superiores.

Palavras Chaves: óleo de gerânio, DMAA, risco sanitário, suplemento alimentar.

DIMETHYLAMYLAMINE: HEALTH APPROACH OF ITS USE AS A SUPPLEMENT FOR

ATHLETES

Abstract

The dimethylamylamine is a substance that have been used in a large frequency and worldwide in dietary

supplements to improve sports performance and fat loss. The aim of this study is to analyze the safety of

consumption and the health's risk that dimethylamylamine, substance used in several supplements, may cause to

its customers. The result showed a relation in the increase of blood pressure and the consumption of supplements

containing this substance. It can be concluded that besides existing this relation of increased blood pressure, it is

necessary to perform further studies on this substance, especially in isolated forms and in high values.

Keywords: geranium oil, DMAA, health risk, dietary supplement.

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1. INTRODUÇÃO

Independentemente das condições da economia mundial, a indústria dos suplementos

para atletas é um setor multimilionário que vem crescendo rapidamente e colocando no

mercado novas fórmulas que prometem um melhor desempenho de atletas bem como o

desenvolvimento do “corpo ideal”.

De acordo com o Nutritional Business Journal, vários desses suplementos para atletas

contém estimulantes naturais (originário de plantas) e sintéticos, tais como o guaraná, ma

huang, noz de cola, feniletilamina e cafeína (Boomer et al. 2011). O extrato de gerânio (2-

amino-4-metilhexano), presente em pequenas quantidades no óleo de gerânio e conhecido

também por outros nomes químicos como 1,3-dimetilamilamina, 1,3-dimetilpentilamina,

metilhexanoamino, 4-metil-2-hexalamina, geranamina e dimetilamilamina (DMAA), têm sido

usado cada vez mais como estimulante nesses últimos anos do “boom” de suplementos para

atletas (Ping et al. 1996).

Essa substância recebeu uma maior importância nesses últimos anos e apresenta como

objetivo alcançar a perda de peso/gordura, bem como melhorar o desempenho físico (Boomer

et al. 2011). Devido a esse potencial de perda de peso e gordura, e frente a obesidade

crescente no mundo todo, a procura por estes suplementos tem se tornado cada vez maior,

resultando em exportações grandiosas pelos Estados Unidos (EUA), chegando a alcançar em

torno de 100 milhões de dólares somente em 2010 (Cohen, 2012).

Entretanto, em 2009 o DMAA foi acrescentado na lista de substâncias proibidas 2010

pela World Anti-Doping Agency (WADA) por ser considerada uma substância potencialmente

estimulante (Prohibited List – WADA, 2010). Por ser uma substância utilizada largamente por

diversos nomes, foi publicada uma nota explicativa pela WADA em 2011 na Prohibited List

atestando o seguinte:

„‟O estimulante ‘metilhexanoamina’(no qual pode ser descrito como várias outras

substâncias, por outros nomes químicos) está incluída agora na Lista Proibida

como uma Substância Específica. Essa substância está agora comercializada

normalmente como um suplemento nutricional e pode ser frequentemente referida

como ‘óleo de gerânio’ ou ‘extrato de raiz de gerânio’.

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Em 2010 e 2011, alguns atletas foram desqualificados ou proibidos de receber as

medalhas em várias competições quando o DMAA foi detectado em testes de drogas

realizados após as competições. Em alguns desses casos, foi possível observar até efeitos

indesejados nos atletas, como por exemplo, o que foi reportado no jornal New Zealand

Medical Association, em que um jovem de 21 anos de idade sofrera de hemorragia séria após

ter ingerido pílulas contendo DMAA subsequente ter ingerido bebida alcoólica (Gee et al.

2010).

Em 2011, a American Hebal Products Association (AHPA) proibiu aos fabricantes de

suplementos para atletas, a declaração do estimulante DMAA nos rótulos como óleo de

gerânio ou qualquer parte da planta de gerânio, sendo apoiado pela United Natural Products

Alliance (UNPA) em janeiro de 2012 (Zhang et al. 2012). Além disso, alguns jornais

publicaram em 1951 e 1960, bem como o National Cancer Institute (NCI) em dados

registrados in vivo, que o DMAA sintético demonstrou apresentar potenciais efeitos adversos

e possível toxicidade (Zhang et al. 2012).

Foi publicado também, no sítio eletrônico da Anvisa em 10 de junho de 2012, o alerta

para o risco do consumo de suplementos alimentares não registrados ou submetidos à análise

fiscal sanitária, no qual podem trazer agravos à saúde desta população, bem como foi incluída

o DMAA na lista de substâncias proscritas, fato que impede a importação dos suplementos

que contenham a substância, mesmo que por pessoa física e para consumo pessoal.

De acordo com Kipper et al. (2003), risco é definido como sendo a probabilidade da

ocorrência de um evento desfavorável, sempre observando o potencial de perdas e danos, a

incerteza de perdas e danos e a relevância de perdas e danos. Ao relacionar em uma fórmula

padrão, tem-se a probabilidade de danos multiplicada pela magnitude das consequências em

um determinado tempo:

Risco = probabilidade de danos X pela magnitude das consequências

Tempo

Dessa forma, englobando a definição de risco em um contexto da Vigilância Sanitária

temos o risco sanitário, no qual pode ser definido como a probabilidade que os produtos e

serviços têm de causar efeitos prejudiciais à saúde das pessoas e coletividades. Ao inter-

relacionar estas informações, criamos a possibilidade de avaliar se o Dimetilamilamina

(DMAA) apresenta um risco sanitário ou não para a população no qual é indicada.

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Assim, diante desse novo cenário desportivo em que há o aumento indisciplinado do

consumo de produtos contendo DMAA e diante das informações abordadas acima, este estudo

tem como objetivo realizar uma revisão literária a respeito da segurança e real avaliação do

risco à saúde e os agravos que esta substância pode causar aos seus potenciais consumidores.

2. METODOLOGIA

Para a elaboração deste estudo de revisão, baseou-se na análise de artigos científicos a

respeito da segurança e avaliação de risco do consumo de „‟dimethylamylamine‟‟ (DMAA)

em suplementos alimentares e seus possíveis efeitos nocivos ao organismo humano.

Foram coletados artigos científicos publicados pelo menos nos últimos 5 anos afim

que obter uma visão mais recente e atualizada frente ao aumento do consumo desenfreado

desta substância por atletas e praticantes de atividade física. Tais artigos foram pesquisados na

base de dados disponíveis em bibliotecas virtuais bem como nos serviços dos Periódicos

CAPES, Literatura Latino Americana em Ciência da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic

Library Online (SciELO), Descritores em Ciências da Saúde (DECs/BIREME) e Highwire

Stanford University, além de outras fontes de dados como livros e legislações brasileiras.

A busca de artigos científicos foi realizada por palavras chaves como

dimetilamilamina, DMAA, óleo de gerânio, suplementos + DMAA, DMAA + risco, e seus

efeitos nocivos e possíveis riscos aos seus potenciais consumidores, sendo encontradas nos

títulos e resumos das publicações. Após a análise e classificação do material obtido, foi

possível concluir a respeito do real risco à saúde que esta substância pode causar aos seus

consumidores.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Principais características e propriedades da DIMETILAMILAMINA

O dimetilamilamina (DMAA) é uma amina de cadeia alifática estreita (Figura 1),

listada na International Union of Pure and Applied Chemistry como 4-methylhexan-2-amine,

e encontrada naturalmente nas flores de gerânio (Vorce et al. 2011; Gee et al. 2012). O

DMAA foi originalmente utilizado como um descongestionante nasal pela sua ação

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vasoconstritora na mucosa nasal, primeiramente nomeado como „‟Forthane‟‟ na década de

1940 (Vorce et al. 2011; Zhang et al. 2012).

Figura 1. Estrutura de dimetilamilamina e sua semelhança com a

anfetamina (AMP), metanfetamina (NETH), 3,4-metoxiamfetamina

(MDA) e o 3,4-metilenedioximetanfetamina (MDMA).

Fonte: Vorce et al. 2011.

Após anos de relativo desconhecimento da substância devido a falta de estudos

científicos, foi comercializada como geranamina e trouxe para o mercado de atletas como um

importante ingrediente para suplementos de pré-treino, aumentando a performance de atletas

bem como auxiliando na redução de gordura e peso de praticantes de atividade física (Zhang

et al. 2012).

O Dimetilamilamina (DMAA) atua como um inibidor de recaptação de norepinefrina

e/ou como um agente liberador de norepinefrina, além de estimular o músculo liso e agir

como um vasoconstritor, aumentando dessa forma a pressão sanguínea (Forrester, 2012).

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Alguns fabricantes destes suplementos para atletas informaram que o dimetilamilamina é

semelhante e apresenta uma alternativa de baixo efeito para a efedrina (Vorce et al. 2011).

Na figura 1, segue a estrutura química do dimetilamilamina (DMAA), sendo

demonstrada a semelhança com a anfetamina (AMP), metanfetamina (NETH), 3,4-

metoxiamfetamina (MDA) e o 3,4-metilenedioximetanfetamina (MDMA), de acordo com

Vorce et al. (2011).

Lisi et al. (2011) descreve que o uso de diversos nomes e nomenclaturas químicas para

o DMAA tem gerado desentendimento entre os atletas, no qual tem retornado com

reclamações e sanções adversas contra os fabricantes desses suplementos. Diante desta

informação sabemos que a World Anti-Doping Agency (WADA) publicou uma nota junto a

lista de substâncias proibidas 2010, uma variedade de nomes utilizados para a mesma

substância, tais como óleo de gerânio e extrato de raiz de gerânio.

Existem casos em que essa substância seja utilizada como uma droga estimulante de

forma recreativa em festas, sendo que a sua utilização vem incrivelmente aumentando na

população adulta jovem. Porém, sabe-se que a dimetilamilamina é um agente

simpatomimético e um potente agente capaz de aumentar a pressão sanguínea (Gee et al.

2012).

3.3. Principais usos e produtos que contém DIMETILAMILAMINA no mercado

comercial

O DMAA foi patenteado por Eli Lilly & Company em 1944 como um

descongestionante nasal para rinites, chamado Forthane. Ele foi produzido quando muitos

outros descongestionantes como dl-anfetamina ou anfetamina racêmica foram utilizadas em

larga escala devido as suas propriedades psicoativas (Gee et al. 2012). Pela década de 1970,

esta substância foi retirada do mercado como um medicamento farmacêutico não sendo mais

aprovado pela autoridade sanitária (Cohen, 2012).

Surpreendentemente, o DMAA é utilizado atualmente em mais de 200 suplementos

para atletas, muitos vendidos pelos Estados Unidos, sendo arrecadados em torno de 100

milhões de dólares somente em 2010 (Cohen, 2012). Na Europa e na Nova Zelândia, o

DMAA é utilizado como uma droga estimulante de festa, no qual já existem relatos de

hemorragia cerebral implicados no consumo desta substância. Há de se comprovar a

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causalidade exata ainda desses eventos, entretanto sabe-se que estes efeitos adversos são

consistentes com as ações farmacológicas conhecidas do DMAA (Cohen, 2012).

Na edição americana de „‟The Dispensatory of the United States of American 1950‟‟,

os efeitos tóxicos sistêmicos do DMAA em animais foram descritos como „‟melhor que

efedrina e mais fraco que anfetamina‟‟. Além disso, os autores desta edição americana

aconselharam que, se o uso de DMAA como um descongestionante nasal produz efeitos

adversos como dor de cabeça, nervosismo, estimulação mental ou tremores, o comércio da

droga deve ser interrompido (Cohen, 2012).

Abaixo segue uma tabela destacando os suplementos que contém a substância DMAA

mais utilizados em 2011 nos EUA, e os seus respectivos fabricantes:

Tabela 1. Lista de suplementos contendo DMAA e seus respectivos fabricantes.

Marca do suplemento Fabricante

Jack3d USPlabs

OxyELITE Pro USPlabs

Lipo 6 Black Nutrex Research Inc.

Lipo 6 Black Ultra Nutrex Research Inc.

Hemo Rage Black Nutrex Research Inc.

PWR Ultra Concentrated Pre Workout

Revolution

iSatori Technologies LLC

Neurocore Powder Muscle Tech

HydroxyStim Muscle Tech

Lean EFX Fahrenheit Nutrition

Napalm Muscle Warfare

Nitric Blast Sports Nutrition International

Biorhythm SSIN Juice Exclusive supplements

Code Red MuscleMeds Performance Technologies

MethylHex 4,2 SEI Pharmaceuticals

Arson Fat Burner Capsule Muscle Asylum Project

Spirodex Gaspari Nutrition

Fonte: Cohen, 2012.

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3.3. Principais riscos associados a DIMETILAMILAMINA como suplemento alimentar

Existem casos registrados de que pessoas saudáveis fizeram o uso desta substância e

apresentaram sintomas não esperados, como por exemplo hemorragia cerebral (Gee et al.

2012). Além disso, foi constatado no estudo de Lisi et al. (2011), que a excreção do DMAA

ocorre em um período extenso, podendo apresentar elevadas concentrações em até 29 horas

após a ingestão.

Cita-se o caso de uma mulher de 23 anos de idade, no qual fez o uso de pílulas

estimulantes para festas, denominada como „‟Pure X-S‟‟, na Nova Zelândia, província de

Canterbury. Ela ingeriu a dose de 2 comprimidos conforme recomendado pelo fabricante do

produto, juntamente com a ingestão de álcool. Na embalagem do produto, a substância foi

listada como „‟Pelargonium extract‟‟ na dose de 75mg, um equivalente sintético. Após 30

minutos da ingestão, ela sentiu subitamente uma dor de cabeça severa frontal com uma

tontura. Ela informou ter vomitado 2 vezes antes de ser levada para a emergência, bem como

informou ter apresentado espasmos involuntários das pernas e braços. Na emergência, ela

apresentou-se bastante agitada e hipertensiva (185/100 mmHg). Após ter sido realizada uma

tomografia do cérebro, foi observada uma hemorragia de camada fina na subaracnoide,

estendendo 23 mm no lobo frontal direito. Os exames laboratoriais identificaram a presença

de DMAA no seu sangue e na sua urina (Gee et al. 2012).

Outro caso relatado ocorreu em um homem de 36 anos de idade também na província

de Canterbury, Nova Zelândia. Ele estava bebendo em um bar e utilizando também um quarto

de um produto legal, no qual continha 50mg de 1,3-dimetilamilamina HCL. Logo em seguida,

ele sentiu eufórico e agitado e após 60 minutos, apresentou uma dor de cabeça severa, uma

fraqueza na sua mão direita e instável sob seus pés. Voltou ao hotel em que estava hospedado

e dormiu acreditando suspender estes efeitos no outro dia quando fosse acordar. Porém, no dia

seguinte ele acordou com uma flacidez no lado esquerdo do rosto e fraqueza do lado esquerdo

do corpo. Já no hospital, 16h após a ingestão de DMAA, ele apresentou a pressão sanguínea

de 134/85 mmHg, pulsação de 94 batimentos por minuto, e após tomografia cerebral foi

observado uma hemorragia intraparenquimal localizada no lado direito do cérebro. Ele foi

tratado cirurgicamente e os exames laboratoriais indicaram a presença de DMAA, álcool,

nicotina e paracetamol na sua urina (Gee et al. 2012).

Outro relato abordado no estudo de Gee et al. (2012), foi o de um homem de 41 anos

de idade no qual ingeriu um pó branco dissolvido em água e 30 minutos após a ingestão, ele

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apresentou um dor de cabeça e vômitos. No hospital, este estava muito agitado e confuso,

apresentando uma pressão sanguínea de 240/120 mmHg. Recebeu morfina para sua dor de

cabeça e a tomografia cerebral indicou uma hemorragia no gânglio basal esquerdo. Seus

exames sanguíneos após 2 horas da ingestão indicaram a presença de DMAA na concentração

de 2,31mg/L.

Sabe-se que o uso de produtos „‟recreativos‟‟ estimulantes contendo DMAA na Nova

Zelândia é permitido, variando a concentração entre 50 a 300mg por comprimido, muitas

vezes apresentando a associação com cafeína. Além disso, sabe-se que a hemorragia cerebral

é uma complicação bem conhecida pelo uso de anfetamina, podendo observar então uma

estreita semelhança com o DMAA. De acordo com Gee et al. (2012), a hemorragia cerebral

pode ser um resultado do pico da pressão sanguínea causado pelo DMAA.

Em um estudo recente realizado em animais, foi observado que o DMAA apresentou

ser o mais potente agente de pressão (aumento de pressão sanguínea) entre 39 outras aminas

alifáticas testadas (3,5 vezes mais forte no aumento da pressão do que a efedrina). Além disso,

em um estudo voluntário mostrou que 75mg de DMAA ingerido oralmente, produziu um

aumento significativo na pressão sanguínea sistólica 30 a 90 minutos após a ingestão (Gee et

al. 2012; Bloomer et al. 2011).

Em um estudo duplo-cego randomizado, realizado com 10 homens e mulheres

saudáveis e jovens, foi avaliado o consumo oral de geranamina (DMAA) e cafeína, isolados

ou combinados, através de suplementos alimentares e a sua influência no batimento cardíaco e

pressão sanguínea (diastólica e sistólica), bem como o produto da taxa de pressão. Foram

administrados 250mg de cafeína, 50mg de geranamina, 75mg de geranamina, 250mg de

cafeína + 50mg de geranamina e 250mg de cafeína + 75mg de geranamina, e avaliados após

30, 60, 90 e 120 minutos após a ingestão. Os resultados obtidos demonstraram que o

batimento cardíaco não foi afetado pelo seu consumo, porém a pressão sanguínea (sistólica e

diastólica) e o produto da taxa de pressão sofreram um aumento de preferência relacionado

com a ingestão de geranamina (Bloomer et al. 2011).

Além disso, o autor deste mesmo estudo ressalta que a noraepinefrina e a epinefrina

plasmática não foram afetas pela ingestão da substância, demonstrando nenhuma relação dos

mesmos com o aumento da pressão sanguínea e do produto da taxa de pressão. Isso mostra

que essas alterações foram causas especificamente em relação à ingestão de geranamina e que

pessoas com tendência a apresentar hipertensão devem evitar o consumo de produtos que

contenham esta substância (Bloomer et al. 2011).

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Em alguns casos de atletas que utilizaram suplementos contendo DMAA, foi possível

observar também alguns efeitos indesejados, como por exemplo o que foi reportado no jornal

New Zealand Medical Association, em que um jovem de 21 anos de idade sofrera de

hemorragia séria após ter ingerido pílulas contendo DMAA subsequente ter ingerido bebida

alcoólica (Gee et al. 2010). Da mesma forma, em 2011 foi registrado a morte de 2 soldados

americanos pela suspeita da ingestão de suplementos contendo DMAA (Zhang et al. 2012).

Segundo Forrester (2012), foi investigado em dezembro de 2011, duas mortes de

soldados do exército americano no qual consumiam produtos contendo DMAA, por insolação

e ataque cardíaco seguidas de exercícios e em relatos de falência renal e hepática, convulsões,

perda de consciência, colapso de músculos e batimento cardíaco acelerado em outros

soldados.

Foi relatado também em outro estudo referente ao consumo de produtos contendo

DMAA, a falta de sono, ansiedade, calafrios, sudorese, náuseas, formigamento, fadiga e dores

de cabeça (Farney et al. 2011). Relatos de casos descrevem hemorragia cerebral, agitação,

náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão, sonolência no peito, dor, palpitações, fala

arrastada, e cardiomiopatia em indivíduos que fizeram o uso de produtos no qual continham

DMAA. Entretanto, alguns desses produtos contém outras substâncias além do DMAA, como

por exemplo a cafeína. Dessa forma, fica restrito afirmar que estes efeitos adversos foram

causados somente pelo Dimetiletilamina (Forrester, 2012).

Forrester (2012), coletou informações da Rede do Centro de Toxicidade do Texas

(EUA), no qual é um banco de dados de reclamações e coleta de informações voluntárias da

população a respeito de eventos adversos de diversos tipos de substâncias, para observar as

características demográficas e clínicas sobre a exposição de produtos contendo DMAA pela

população em geral nos anos de 2010 e 2011. Os efeitos adversos mais comuns encontrados a

respeito do consumo de produtos contendo DMAA foi taquicardia, náuseas e vômitos,

conforme descrito na Tabela 2.

Apesar desses dados coletados pelo serviço do Centro de Toxicidade do Texas,

observa-se algumas limitações: amostra da população reduzida, representada somente pelo

estado do Texas; relato de efeitos adversos desta substância é voluntário pelo serviço, sendo

relatado somente por algumas pessoas; ausência dos casos mais severos que possivelmente

resultaram em morte devido ao não relato do mesmo; falta de constatações clínicas verificadas

diretamente por profissionais da área de saúde evitando constatações erradas por „‟leigos‟‟; e

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relato de efeitos adversos de produtos contendo DMAA com associação de outras substâncias,

tais como cafeína.

Tabela 2. Efeitos clínicos adversos da exposição de produtos contendo 1,3-dimetilamilamina

coletados na Rede de Centro de Toxicidade do Texas durante 2010 – 2011.

Efeitos clínicos adversos Todos os casos

n (%)

Casos com a

substância DMAA

isolada n (%)

Taquicardia 16 (28,6) 12 (25,5)

Náusea 9 (16,1) 6 (12,8)

Vômito 7 (12,5) 4 (8,5)

Agitação / irratabilidade 5 (8,9) 2 (4,3)

Tremor 4 (7,1) 3 (6,4)

Dor abdominal 3 (5,4) 1 (2,1)

Dor no peito 3 (5,4) 3 (6,4)

Tontura 3 (5,4) 3 (6,4)

Dor de cabeça 2 (3,6) 2 (4,3)

Hipertensão 2 (3,6) 2 (4,3)

Creatina fosfoquinase

elevada 1 (1,8) 1 (2,1)

Diaforese 1 (1,8) 0 (0,0)

Anormalidade eletrolítica 1 (1,8) 0 (0,0)

Hematêmese 1 (1,8) 0 (0,0)

Hiperventilação 1 (1,8) 0 (0,0)

Hipotensão 1 (1,8) 0 (0,0)

Midríase 1 (1,8) 0 (0,0)

Torpor 1 (1,8) 1 (2,1)

Retenção urinária 1 (1,8) 0 (0,0)

Outros (não especificados) 9 (16,1) 6 (12,8)

Total 56 47

Fonte: Forrester, 2012.

De acordo com Farney et al. (2011), foi estudado a ingestão aguda de dois produtos

contendo 1,3-dimetilamilamina durante 14 dias em 13 indivíduos saudáveis, nos quais

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praticavam atividade física, e foi observado um aumento da pressão sanguínea sistólica bem

como um aumento estatisticamente insignificante na pressão sanguínea diastólica e no

produto da taxa de pressão ao final do estudo. Ressalta-se entretanto, que nestes suplementos

há outras substâncias além do DMAA como por exemplo a cafeína, e que foram utilizadas a

ingestão de duas doses diárias dos suplementos durante esses 14 dias de estudo. Diante disso,

não foram observados outros efeitos adversos mais severos.

Em um estudo randomizado, duplo-cego, foi encontrado que o consumo de um

produto contendo 1,3-dimetilamilamina por 12 pessoas saudáveis, estes praticantes de

atividades físicas, aumentou o glicerol e ácidos graxos livres plasmáticos, além da taxa

metabólica. Estes resultados são evidentes ao longo de um aumento da frequência cardíaca e

da pressão arterial alertando o seu consumo por pessoas pré-hipertensas ou hipertensas

(McCarthy et al. 2012).

Em abril de 2012, 6 anos após a introdução do DMAA como um suplemento para

atletas, o FDA (Food And Drug Administration) enviou advertências a 10 fabricantes

solicitando evidências a respeito de segurança desses suplementos contendo DMAA. Sabendo

que o DMAA é um ingrediente considerado não seguro e que as alegações dos fabricantes de

que esta substância seja natural não tem fundamento, as empresas e fabricantes foram

submetidos ao recolhimento dos produtos contendo DMAA (Cohen, 2012).

Diante desses estudos e relatos citados anteriormente, pode-se constatar que o

dimetilamilamina é uma substância que aumenta a pressão sanguínea (principalmente a

sistólica) e o produto da taxa de pressão de pessoas em geral, pois atua como um potente

vasoconstritor. Além de ter sido apresentado diversos relatos de pessoas que morreram ou

tiveram hemorragia cerebral, faltam dados consistentes abordando quantidades exatas da

ingestão da substância, exames clínicos relatados por profissionais de saúde capacitados com

uma visão mais profissional, dados demográficos maiores do consumo desta substância e

estudos crônicos com um maior tempo de uso desta substância e seus efeitos nocivos voltados

para esta finalidade específica. Ressalta-se o fato importante do FDA ter solicitado o

recolhimento de produtos contendo DMAA pelos seus fabricantes por falta de estudos

comprovando a sua segurança.

3.4. Abordagem sanitária e normas regulatórias relativas à DIMETILAMILAMINA

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Atualmente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é a autoridade

responsável pela avaliação de segurança e controle comercial de alimentos com suplementos,

dentre outros produtos, no mercado brasileiro. Por ser uma autarquia de regime especial, ela

tem certa autonomia e competência para ditar as suas próprias normas relativas aos

procedimentos e operações de caráter mais técnico para fiscalização e controle.

Neste sentido, há a necessidade de estudo da Resolução – RDC Nº 18, de 27 de abril

de 2010, no qual dispõe sobre os alimentos destinados para atletas e classifica os diversos

tipos de enquadramento de acordo com o seu PIQ (Padrão de Identidade e Qualidade) do

produto. No entanto, veremos a seguir no Art. 5° desta legislação, que não há nenhum

enquadramento permitido para suplemento para atletas com o uso da substância

dimetilamilamina (DMAA):

‘’Art. 5º É adotada a seguinte classificação para os produtos abrangidos por este

regulamento:

I - suplemento hidroeletrolítico para atletas;

II - suplemento energético para atletas;

III - suplemento protéico para atletas;

IV - suplemento para substituição parcial de refeições de atletas;

V - suplemento de creatina para atletas;

VI suplemento de cafeína para atletas.’’

Analisando cada classificação, verifica-se que o suplemento hidroeletrolítico apresenta

como característica a concentração de sais minerais inorgânicos para a reposição do atleta

enquanto que o suplemento energético para atletas caracteriza-se pelo aporte calórico e

energético para atletas. Já o suplemento proteico apresenta uma concentração elevada de

proteínas e o suplemento para substituição parcial de refeições apresenta-se com os nutrientes

adequados para a sua substituição por uma refeição. O suplemento de creatina deve fornecer

creatina e o de cafeína de fornecer cafeína. Dentre essas classificações, nenhuma pode

apresentar a substância dimetilamilamina (DMAA) em sua formulação.

Visto que esta substância não pode ser utilizada em nenhuma classificação de

alimentos para atletas, iremos verificar a possibilidade de enquadramento e registro como

novo alimento/ingrediente. De acordo com a Resolução n° 16, de 30 de abril de 1999, no qual

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aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos e/ou Novos

Ingredientes, define novo alimento da seguinte forma:

‘’São os alimentos ou substâncias sem histórico de consumo no País, ou

alimentos com substâncias já consumidas, e que entretanto venham a ser

adicionadas ou utilizadas em níveis muito superiores aos atualmente observados

nos alimentos utilizados na dieta regular.’’

Observamos que de fato não existe histórico de consumo dessa substância no Brasil

como um alimento ou substância previamente aprovada pela Anvisa. Para o seu registro, o

fabricante deverá apresentar evidências abrangentes da literatura científica, organismos

internacionais de saúde e legislação internacionalmente reconhecida sobre as características

do alimento ou ingrediente. Além disso, o mesmo não poderá apresentar a finalidade de uso

voltada para atletas e praticantes de atividades física, visto que esta é uma categoria em que

não aprova o uso desta substância.

O dossiê deverá apresentar um relatório técnico científico de avaliação de risco e

demonstração de segurança, no qual será avaliado por uma Comissão de Assessoramento

Técnico-científica em Alimentos Funcionais e novos Alimentos constituída pela Agência

Nacional de Vigilância Sanitária. Entretanto, verificamos uma carência ou escassez de estudos

científicos discutindo a segurança de consumo de DMAA isolado e seus potenciais riscos à

saúde, fato que impossibilita de apresentar o dossiê de segurança exigido pela Anvisa no

registro de novos alimentos/ingredientes.

Devido aos relatos de efeitos adversos e indesejados a respeito do consumo desta

substância, bem como os estudos científicos controlados no qual comprovam que esta

substância pode ocasionar um aumento da pressão sanguínea em seus consumidores, além da

sua inclusão na lista de substâncias proibidas 2010 pela World Anti-Doping Agency (WADA),

a Anvisa optou por incluir o DMAA na lista de substâncias proscritas, impedindo a

importação de suplementos que contenham esta substância, mesmo que por pessoa física e

para consumo pessoal. Atuando dessa forma, a Anvisa objetiva prevalecer a saúde de

possíveis consumidores, bem como as possíveis consequências futuras que poderiam ser

ocasionadas por esta substância.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Com base neste estudo de revisão e nos estudos científicos avaliados a respeito do

consumo de 1,3-dimetilamilamina, nos permite destacar inferir deduções conclusivas que

merecem destaque, dispostas a seguir:

A maioria dos estudos científicos afirma que a substância 1,3-dimetilamilamina

interfere de forma a aumentar a pressão sanguínea e no produto de taxa de pressão

dos indivíduos que o consomem;

Deve-se evitar o consumo dessa substância ou produtos contendo esta substância

por indivíduos hipertensos ou que apresentam uma pré disposição para apresentar

hipertensão;

Não se sabe o efeito exato da associação desta substância com outros tipos de

substâncias, porém acredita-se a partir de relatos, que a associação com bebidas

alcoólicas pode ocasionar hemorragias, preferencialmente cerebrais em

determinadas pessoas;

Apesar das conclusões e das análises dos estudos científicos e relatos supracitados,

foram encontradas algumas limitações no qual impedem uma conclusão precisa a respeito do

consumo desta substância e seus potenciais riscos à saúde, sendo as mesmas descritas abaixo:

Os estudos em geral avaliaram o consumo de produtos contendo o DMAA

juntamente com outras substâncias, tais como a cafeína. Há a necessidade de

avaliações de segurança mais a fundo com a substância DMAA isolada;

A maioria dos estudos analisados apresentou uma amostragem pequena de pessoas

estudadas em comparação ao fato dessa substância ser largamente utilizada em

vários países;

Observa-se um grande número de estudos agudos e uma escassez de estudos

crônicos a respeito do consumo desta substância, principalmente por ser utilizada

com esta finalidade a pouco tempo;

Diante deste estudo de revisão, é possível mesclar as ideias de que o 1,3-

dimetilamilamina (DMAAA), com a sua finalidade de perda de peso, possa ser utilizado

ocasionalmente por pessoas obesas, estas podendo apresentar hipertensão ou uma pré-

disposição para desenvolver hipertensão, o que pode-se tornar perigoso o seu uso devido ao

seu potencial efeito adverso de aumento de pressão sanguínea. É possível entender então a

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gravidade no qual esta substância possa estar submetida caso não haja nenhum controle

específico de seu consumo.

Deduz-se então que devido a este motivo bem como a essa escassez de estudos de

segurança de consumo e toxicidade existentes atualmente, o DMAA foi proibido pela Anvisa

e por outros órgãos internacionais afim de evitar efeitos adversos e indesejados pelos seus

possíveis consumidores. É evidente e razoável então, a proibição desta substância por vários

países e agências internacionais afim de prevalecer a segurança e vigilância sanitária.

Observa-se além disso, uma necessidade de iniciar mais estudos no qual seja possível

mensurar a quantidade mínima sem efeitos adversos (Non Observed Adverse Effect Level -

NOAEL) e a quantidade mínima letal observada em animais, bem como seus possíveis efeitos

adversos relacionados a doses mais altas e de forma crônica, destacando a relação de aumento

de pressão sanguínea e utilização por pessoas obesas que possivelmente possam sofrer de

hipertensão.

Ressalta-se ainda que os casos de morte de pessoas que consumiram produtos

contendo DMAA foram, em sua grande maioria, seguida ou juntamente com a ingestão de

bebidas alcoólicas, o que nos remete a associação destes eventos adversos a uma causa

multifatorial, não somente causada pelo DMAA. Deve-se desenvolver também mais estudos a

relacionados a associação do DMAA com outras substâncias afim de elucidar melhor as suas

interações, bem como a associação da substância e o seu público-alvo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Resolução - RDC Nº 18, de 27 de Abril de 2010. Dispõe sobre alimentos para

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