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DETERMINANTES DO CONSUMO DE PESCADO FRESCO:
COMPORTAMENTOS, ATITUDES E MOTIVAÇÕES DOS
CONSUMIDORES
Catarina Domingos
Prof. Dra. Mafalda Ferreira Dissertação
ESCOLA SUPERIOR DE PORTO, JULHO DE 2014
Catarina Domingos
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Agradecimentos
Este documento encerra um percurso muito ambicionado e para o qual
trabalhei com afinco. Encerra um percurso que não é mais do que um ciclo que dará
lugar a outros, que muito desejo e pelos quais continuarei a lutar.
No IPAM, instituição à qual reconheço elevada qualidade e empenho, realizei
nos últimos dois anos alguns sonhos que poderão ser o primeiro passo para sonhos
maiores.
Este caminho não o trilhei sozinha e tenho agora a possibilidade de
reconhecer e agradecer a todos aqueles que o fizeram comigo, sabendo que talvez não
seja suficiente.
Na minha Orientadora, Professora Doutora Mafalda Ferreira, encontrei
profissionalismo, rigor, competência, dedicação absoluta e assertividade suportados
na vontade de ultrapassar limites, levando-me a querer fazer ainda mais e melhor. A
melhor forma que encontro de lhe agradecer ter partilhado este ano comigo é
apresentando um trabalho de investigação de que também ela se possa orgulhar.
Todos os professores com quem tive o prazer de aprender no IPAM
representaram um papel fundamental neste percurso. No entanto, preciso relevar
duas pessoas que o fizeram de forma especial, ajudando-me e orientando-me na
concretização dos meus objetivos: Professora Doutora Ana Paula Queiroga e
Professor Doutor Filipe Rodrigues.
Não posso, também, deixar de agradecer ao Supercor, ao Engenheiro Pedro
Barbosa e a todos os que permitiram, nas lojas, que este trabalho avançasse no
terreno. E, por outro lado, a todos os que se deslocaram e usaram um pouco do seu
dia para participar, desinteressadamente, nos Focus Group.
Catarina Domingos
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Aos meus pais e à minha avó Hermínia que me ensinaram a importância da
Escola e do Saber. À minha irmã Joana que, mesmo sem saber, foi um suporte para
que eu prosseguisse este desejo.
Aos meus sogros, Adriana e Manuel, que me ajudaram a lançar neste sonho e
sempre acompanharam, incentivando e estando, incondicionalmente, presentes para
participar da forma que fosse preciso.
À minha Tia Zezinha para quem as minhas vitórias são como se fossem dela.
Às amigas de toda a vida, Cláudia e Márcia, que sorriem de orgulho, sempre e
incondicionalmente. E às amigas que aqui ganhei, que foram companheiras de
trabalho incansáveis, Juliana e Sónia e que ficarão para a vida.
E por fim, mas mais importante de todos, ao meu marido Manuel e ao meu
filho Vasco. As palavras não serão nunca suficientes nem representarão o tanto que
tenho para lhes agradecer; por estarem presentes, por compreenderem, por
incentivarem. Por quererem tudo isto tanto quanto eu quero, só porque me amam.
Catarina Domingos
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Resumo
Portugal surge como um dos países europeus com taxas mais elevadas de
consumo de pescado fresco. No entanto, do ponto de vista comportamental, pouco se
conhece acerca dos fatores que determinam o seu consumo.
Assim, com esta investigação pretendemos identificar comportamentos,
atitudes e motivações dos consumidores no que respeita ao consumo de pescado
fresco.
Pretendemos chegar a estas informações combinando métodos de
investigação qualitativos e quantitativos que permitirão construir perfis de
consumidores e respetivos pescados bem como mapear o processo de tomada de
decisão identificando os principais atributos valorizados na compra ao mesmo tempo
que avaliamos atitudes ao aplicar o Modelo de Dissonância Cognitiva.
Palavras-chave: Comportamento do Consumidor, Atitudes, Motivação, Mapeamento
Cognitivo, Tomada de Decisão, Design Ortogonal e Modelo da Dissonância Cognitiva.
Catarina Domingos
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ABSTRACT
Portugal is one of the European countries with highest rates of fresh fish
consumption. However, from a behavioural perspective, the knowledge about the
factors that determine their consumption is scarce.
With this research we intend to identify behaviours, attitudes and
motivations of consumers with regard to the consumption of fresh fish.
We intend to get to this information by combining qualitative and
quantitative methods of research that will build consumer profiles and his respective
ideal fish, as well as mapping the process of decision making by identifying key
attributes valued in the purchase while attitudes are evaluated by applying the model
of Dissonance cognitive.
Keywords: Consumer Behavior, Attitudes, Motivation, Cognitive Mapping, Decision
Making, and Orthogonal Design Model of Cognitive Dissonance.
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Índice
Lista de Abreviaturas ................................................................................................... 12
Introdução ..................................................................................................................... 13
1. O setor do Pescado em Portugal ........................................................................ 15
2. Revisão Bibliográfica .......................................................................................... 22
2.1. Fatores internos explicativos do Comportamento do Consumidor23
2.1.1. Perceção ................................................................................................................ 23
2.1.1.1. Perceção em ambiente alimentar ................................................................. 25
2.1.2. Necessidades e Motivações ............................................................................. 28
2.1.2.1. Necessidades e motivações em ambiente alimentar............................... 32
2.1.3. Atitudes ................................................................................................................. 35
2.1.3.1. Atitudes em ambiente alimentar ................................................................... 37
2.2. Fatores externos explicativos do comportamento do consumidor 38
2.2.1. Os fatores externos em ambiente alimentar ............................................. 40
2.3. Processo de tomada de decisão ........................................................... 41
2.3.1. A decisão alimentar ........................................................................................... 43
3. Metodologia .......................................................................................................... 47
3.1. Objetivos da investigação ..................................................................... 48
3.2. Métodos de investigação qualitativos ................................................ 48
3.2.1. Proposições ......................................................................................................... 49
3.2.2. Focus Group ......................................................................................................... 50
3.3. Métodos de investigação quantitativos .............................................. 55
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3.4. Amostra................................................................................................... 55
3.5. Instrumento de recolha de dados quantitativos: inquérito ............ 57
4. Análise e discussão de resultados ..................................................................... 62
4.1. Análise de conteúdo .............................................................................. 62
4.1.1. Importância do pescado fresco nas refeições da família ....................... 67
4.1.2. O pescado fresco é o preferido ...................................................................... 68
4.1.3. Caraterísticas organoléticas ........................................................................... 68
4.1.4. Saúde ..................................................................................................................... 68
4.1.5. Preço ...................................................................................................................... 69
4.1.6. Relação com o vendedor ou ponto de venda ............................................. 69
4.1.7. Local de compra ................................................................................................. 69
4.1.8. Exposição do pescado fresco .......................................................................... 70
4.1.9. Origem ................................................................................................................... 70
4.1.10. Utilização .............................................................................................................. 70
4.1.11. Sazonalidade ....................................................................................................... 71
4.1.12. Conveniência ....................................................................................................... 71
4.2. Análise de resultados do inquérito por questionário ...................... 71
4.2.1. Caraterização da amostra ................................................................................ 72
4.2.2. Comparação entre amostras independentes ............................................. 76
4.2.3. Avaliação dos atributos do pescado ideal .................................................. 78
4.2.4. Análise das caraterísticas do pescado fresco e determinação da sua
importância na decisão de compra .............................................................................................. 80
4.2.5. Análise das atitudes com aplicação do Modelo de Dissonância
Cognitiva ................................................................................................................................. 84
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4.2.6. Validação de hipóteses ..................................................................................... 85
4.3. Discussão de resultados ....................................................................... 86
Conclusão ....................................................................................................................... 92
Bibliografia .................................................................................................................... 97
Anexo 1 – Guião do Focus Group .............................................................................. 100
Anexo 2 – Questionário .............................................................................................. 102
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Índice de quadros
Quadro 1. Vantagens e desvantagens da utilização da MAP ................................................... 18
Quadro 2. Consumo de pescado, 2012-2013 ................................................................................ 21
Quadro 3. Variáveis relacionadas com a escolha alimentar ................................................... 34
Quadro 4. Distribuição dos agregados familiares por composição do agregado e NUT
II, 2010/2011 ............................................................................................................................................ 39
Quadro 5. Os modelos explicativos das escolhas alimentares ............................................... 43
Quadro 6. Modelo desenvolvimental das escolhas alimentares ........................................... 45
Quadro 7. Metodologia de investigação.......................................................................................... 48
Quadro 8. Relação entre as questões, os objetivos e as dimensões ..................................... 51
Quadro 9. Caraterização dos participantes nos Focus Group ................................................. 54
Quadro 10. Lista de atributos e níveis............................................................................................. 58
Quadro 11. Motivos e valores no processo de decisão de compra de pescado fresco . 60
Quadro 12. Procedimentos de análise de conteúdo .................................................................. 63
Quadro 13. Estatística descritiva: número de filhos .................................................................. 73
Quadro 14. Teste T para amostras independentes: Filhos/Frequência de consumo ... 77
Quadro 15. Teste T para amostras independentes: Sexo/Frequência de consumo ...... 77
Quadro 16. Teste não paramétrico - Qui Quadrado ................................................................... 78
Quadro 17. Perfis de pescado ideal .................................................................................................. 79
Quadro 18. Resultado do mapeamento cognitivo da decisão de compra de pescado
fresco .................................................................................................................................................. 84
Quadro 19.Comparação do resultado do mapeamento cognitivo da decisão de compra
de pescado fresco com o estudo de Mesnildrey et al. (2010) ................................................ 90
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Índice de figuras
Figura 1. Atividades que integram o Cluster do Conhecimento e Economia do Mar .... 15
Figura 2. Pirâmide da Dieta Alimentar Mediterrânica .............................................................. 16
Figura 3. Pirâmide de comportamento do consumidor ........................................................... 22
Figura 4. Processo percetivo ............................................................................................................... 24
Figura 5. Hierarquia das Necessidades de Maslow .................................................................... 29
Figura 6. Modelo conceptual das componentes do envolvimento ....................................... 31
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Índice de gráficos
Gráfico 1. Despesas dos lares por tipo de loja .............................................................................. 56
Gráfico 2. Distribuição por género.................................................................................................... 72
Gráfico 3. Composição do agregado familiar ................................................................................ 73
Gráfico 4. Habilitações literárias ....................................................................................................... 74
Gráfico 5. Situação profissional atual .............................................................................................. 74
Gráfico 6. Frequência de consumo de pescado fresco .............................................................. 75
Gráfico 7. Espécies mais consumidas .............................................................................................. 75
Gráfico 8. Destino da compra de pescado fresco ........................................................................ 76
Gráfico 9. Ordenação dos atributos valorizados na compra de pescado fresco .............. 80
Gráfico 10. Consequências da avaliação dos atributos na compra de pescado fresco . 81
Gráfico 11. Comportamento da decisão de compra de pescado fresco .............................. 82
Gráfico 12. Objetivos da decisão de compra de pescado fresco ............................................ 83
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LISTA DE ABREVIATURAS
DECO – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor
INE – Instituto Nacional de Estatística
MAP – Modified Atmosphere Package
OMS – Organização Mundial de Saúde
SPSS - Statistical Package for the Social Science
UE – União Europeia
UNESCO – United Nations Education, Scientific and Cultural Organization
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INTRODUÇÃO
Portugal surge, frequentemente, referenciado em diversos estudos, como um
dos países do mundo, com maior consumo per capita de pescado. Efetivamente, é um
país com forte ligação ao mar mas quando analisada a riqueza alimentar no que
respeita ao pescado verifica-se que poucos nutrientes o indivíduo retira deste
consumo.
Assim, com a presente dissertação, focada no Comportamento de Consumo
Alimentar, pretendemos estudar o Comportamento, Atitudes e Motivações relativas
ao consumo de pescado fresco em indivíduos consumidores.
Inicialmente, efetuaremos um enquadramento do setor do pescado na
economia nacional, relevando a sua importância, os dados de consumo bem como as
principais tendências.
De seguida, passaremos à revisão bibliográfica, dividida em três grandes
áreas. Em primeiro lugar, serão analisados os fatores explicativos internos do
comportamento do consumidor: perceção, motivações, necessidades e atitudes. Para
qualquer destes fatores será efetuada a respetiva relação com o fenómeno alimentar.
De seguida, serão apresentados os fatores externos do comportamento do
consumidor procurando relevar aqueles que mais impacto assumem no ambiente
alimentar.
Analisados os fatores internos e externos será revisto o processo de tomada
de decisão com a identificação das suas fases e dos modelos que melhor explicam a
ação dos consumidores nas escolhas alimentares.
O terceiro capítulo apresentará as decisões metodológicas para esta
investigação que combinará um conjunto de procedimentos qualitativos (focus group)
e quantitativos (inquérito por questionário) e que, em conjunto permitirão definir as
motivações e as barreiras ao consumo de pescado fresco; identificar as caraterísticas
que definem o pescado ideal para os consumidores traçando os principais perfis;
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mapear o processo de tomada de decisão dos consumidores na compra de pescado
fresco para que se possam identificar atitudes dissonantes.
Os questionários serão aplicados nas peixarias dos supermercados Supercor
de Braga, Coimbra e Porto pelo que pretendemos extrair informação que possa ser
aplicada e replicada nas restantes lojas desta cadeia de retalho alimentar, fornecendo
indicações precisas sobre o consumo de pescado fresco.
O quarto capítulo desta dissertação apresenta a análise e discussão dos
resultados da aplicação dos diferentes instrumentos da metodologia.
Por um lado, após a definição das categorias presentes na análise qualitativa,
efetuaremos a respetiva análise de conteúdo, apresentando os indicadores que
surgem como motivos ou barreiras ao consumo de pescado fresco.
Por outro lado, com os resultados da análise quantitativa, obtidos pela
aplicação de diversas técnicas estatísticas suportadas no programa SPSS, iremos
definir perfis de consumo, traçar processos de tomada de decisão e identificar
atitudes do consumidor.
Desta combinação metodológica sairão os resultados finais que validarão ou
não a revisão bibliográfica efetuada e permitirão traçar as limitações e as sugestões
de trabalhos futuros.
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1. O SETOR DO PESCADO EM PORTUGAL
Apesar de ter conhecido períodos menos interessantes, no séc. XX o setor das
Pescas voltou a assumir-se como uma atividade de elevada importância económica e
social, com a tomada de medidas por parte da União Europeia (UE) com vista à maior
sustentabilidade do ecossistema e dos recursos.
A dimensão marítima do nosso país atribui-lhe um acrescido potencial
geoestratégico, geopolítico e económico, abrindo janelas de oportunidade inéditas ao
colocar Portugal como eixo de ligação central e sem paralelo entre três continentes.
Assim, sai reforçada a sua capacidade de afirmação e intervenção nacional, que
remete o país para a sua identidade marítima de excelência, que vive com o mar, que
traz o mar à Europa voltando-a, também, para o mar.
O cluster do Conhecimento e da Economia do Mar integra, em si, um conjunto
diverso de setores de atividade, nomeadamente, a pesca, aquicultura, salicultura e
indústria transformadora de pescado.
Figura 1. Atividades que integram o Cluster do Conhecimento e Economia do Mar
Fonte: Organização “Oceano XXI”
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Este setor da indústria transformadora apresentou, em 2011, uma produção
conjunta de 207 mil toneladas de “congelados”, “secos e salgados” e “preparações e
conservas”, segundo o Anuário das Pescas de 2012 (Estatística, 2012).
As vendas ascenderam às 175 mil toneladas o que representa 85% da
produção nacional e um valor de 795 milhões de euros.
O consumo médio de peixe em Portugal é dos mais elevados da Europa
(49,2%), contribuindo, contudo, apenas com 12% das proteínas e 1% das gorduras da
dieta dos portugueses, de acordo com os dados apresentados no documento do
Instituto Nacional de Estatística (INE), “Balança Alimentar Portuguesa”.
Desta forma, evidencia-se que haverá ainda um longo caminho a percorrer no
sentido do cumprimento das propostas alimentares da Dieta Mediterrânica, na qual o
consumo de pescado é encarado como fonte importante de proteínas de elevado valor
biológico, vitaminas, ácidos gordos insaturados e baixa proporção de ácidos gordos
saturados.
Figura 2. Pirâmide da Dieta Alimentar Mediterrânica
Fonte: Organização Mundial de Saúde
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca a importância da
alimentação para uma vida saudável, prevenção de doenças e tratamento de
patologias relacionadas com a alteração de estilos de vida. A prevalência, em Portugal,
de doenças crónicas como a diabetes, doenças vasculares, obesidade e cancro é
elevada e preocupante podendo a alimentação assumir um papel preponderante.
Na opinião de Nuno Borges, Nutricionista e Professor na Faculdade de
Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, parece já não existirem
dúvidas acerca dos inúmeros benefícios do consumo de peixe para a saúde humana.
Existem diversas provas de que o consumo de pescado em detrimento de outros
alimentos, como a carne, promove benefícios a nível cardiovascular, de algumas
doenças como a asma e até mesmo no desenvolvimento do cérebro das crianças.
O pescado é reconhecido pelos consumidores como um alimento saudável e
completo do ponto de vista nutricional sendo, inclusivamente, um dos produtos
incluídos na lista de alimentos funcionais1.
O consumo de pescado duas vezes por semana é recomendado pelo Comité
Internacional de Orientações Dietéticas com objetivo de prevenir doenças
cardiovasculares, cancro do colon e outras doenças inflamatórias do intestino
(Santos, Químicas, Beatriz, & Pinto, 2012).
Apesar de todas estas caraterísticas, o pescado é, também, um alimento
francamente perecível, com uma flora microbiana bastante complexa, sendo a sua
degradação, maioritariamente, provocada pelo desenvolvimento microbiano.
O pescado é, geralmente, comercializado em gelo ou a temperaturas de
refrigeração, sem recurso a qualquer embalagem, apresentando, nestas condições
uma vida útil de cinco a dez dias, dependendo da espécie, do local de origem e da
época do ano.
1 Os alimentos funcionais contêm componentes (nutrientes ou não) que beneficiam, inequivocamente, algumas das funções do organismo humano de tal forma que sejam relevantes para o bem-estar e saúde ou redução do risco de doença ou, por outro lado, têm efeitos fisiológicos ou psicológicos para além dos tradicionais efeitos nutricionais.
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Esta perecibilidade leva a que o consumo de pescado fresco seja mais
reduzido. Assim, para aumentar a oferta de pescado fresco no mercado tornou-se
necessário recorrer a novas técnicas de conservação que permitissem, por um lado,
aumentar a vida útil do alimento e, por outro, suportar uma cadeia de distribuição
mais longa, caraterística dos mercados atuais (Santos et al., 2012).
Aqui falamos, especificamente, de pescado fresco minimamente processado e
embalado sob atmosfera modificada (MAP – Modified atmosphere package).
A atmosfera no interior das embalagens apresenta uma mistura de gases,
otimizada para cada alimento de modo a preservar as suas qualidades por mais
tempo, com aumento de 50% a 100% da vida útil do pescado fresco.
Santos et al. (2012) numa adaptação a partir de outros autores apresentam
um conjunto de vantagens e desvantagens da utilização de MAP em alimentos frescos.
Quadro 1. Vantagens e desvantagens da utilização da MAP
Vantagens Desvantagens
Aumento do período de vida útil (50-400%)
Aumento dos custos
Redução das perdas por expiração de prazo de validade
Controlo imprescindível da temperatura
Produto de melhor qualidade Especificação de atmosfera adequada a cada tipo de produto
Melhor separação de produtos fatiados Especificação de pessoal e equipamento especial
Com poucos ou mesmo sem adição de conservantes
Maior volume das embalagens
Melhor apresentação do produto Perda de benefícios após abertura da embalagem
Embalagens seladas, barreiras contra a contaminação e perda de líquidos
A dissolução de CO2 pode levar ao colapso da embalagem
Embalagem prática e sem cheiro
Fonte: Santos et al. (2012)
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No seu estudo sobre as Tendências das Atitudes e Seleção dos Consumidores,
Brunsø (2007) aponta algumas conclusões. Em primeiro lugar, a necessidade de
promover o consumo de pescado junto dos segmentos “light users”2. Por outro lado,
defende, ainda, que pela falta de conhecimento, competências, habilidades e tempo as
escolhas dos consumidores recaíram sobre produtos alimentares mais convenientes.
Do ponto de vista do consumidor, conveniência significa economia de tempo
e de energia física e mental em uma ou mais etapas do processo geral da refeição:
planeamento, compra, armazenamento, preparação dos alimentos, consumo, limpeza
e eliminação de sobras. Estes problemas ganham maior expressão nos “light users”
devendo focar-se sobre este segmento a análise do impacto que a conveniência tem
nas suas atitudes e consumo de pescado, permitindo, inclusivamente, o
desenvolvimento de novos produtos (Brunsø, 2007).
Nos estudos desenvolvidos em torno do consumo de pescado, os autores
identificam o sabor, a frescura e o valor nutricional (traduzido em saúde) do pescado
como atributos fundamentais deste produto (Mesnildrey, Lesueur, & Gouin, 2010).
De uma forma mais completa, Brunsø (2007), como vimos, concluiu que a
segurança, a saúde, o valor nutricional e o sabor são os principais atributos do
produto sendo que as motivações para a sua aquisição se encontram na saúde, sabor,
processamento e conveniência.
A orientação para a conveniência pode, como vimos anteriormente, ser
determinante nas escolhas e consumo alimentar. A perceção do pescado como bem
alimentar inconveniente indica a necessidade de desenvolver produtos mais
convenientes para o consumidor, ensinando-o a comprar e a confecionar o pescado,
alterando crenças e atitudes (Olsen, Scholderer, Brunsø, & Verbeke, 2007).
A disponibilização do pescado já limpo e filetado, numa embalagem de
atmosfera modificada, pode tornar o produto mais atrativo, para consumidores que
procuram a conveniência na compra e na preparação das suas refeições (Mesnildrey
et al., 2010).
2 Trata-se de consumidores que consomem pescado em casa uma vez ou menos, por mês.
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Esperamos, assim, com a nossa investigação obter dados válidos acerca das
necessidades e motivações relacionadas com o consumo de pescado fresco que
permitam tirar conclusões orientadoras para o retalho alimentar nacional em termos
de inovação de produto.
Prevê-se que o consumo de pescado fresco de origem marítima continue a
aumentar até 2050, sendo necessário equilibrar a promoção do consumo com a
sustentabilidade dos recursos (Kearney, 2010).
Encontramos diversas dificuldades em obter informação acerca da dimensão
do mercado de consumo de pescado fresco em Portugal, no entanto, através de
diversas fontes, credíveis, de informação foi-nos possível compilar os dados que, de
seguida, apresentaremos.
Manuel Tarré, da organização “Fileira do Pescado” afirmou, em 2013, que o
consumo de pescado em Portugal atingiu cerca de 600 mil toneladas anuais,
ocupando desta forma o terceiro lugar no ranking mundial de consumo per capita,
precedido pelo Japão e Islândia (“RC Pharma,” 2013).
Sabemos, também, que 71,9% do consumo privado português se destina a
bens alimentares, 30,8% dos quais em produtos frescos (“Fundação Manuel Francisco
dos Santos,” 2013).
Apesar de não conhecermos dados absolutos, através do seguinte quadro
podemos verificar qual a variação de consumo ocorrida entre o terceiro trimestre de
2012 e o mesmo período de 2013.
Verificamos, assim, um decréscimo no consumo total de peixe, com
resultados menos favoráveis no peixe congelado (variação média de 0,88 p.p.). O
peixe fresco, apesar de oscilar, apresenta uma variação média de crescimento de 8,24
p.p.
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Quadro 2. Consumo de pescado, 2012-2013
3º T 2012 4º T 2012 1ºT 2013 2º T 2013 3º T2013
Total peixe 3,0 3,3 3,4 -0,8 0,5 Bacalhau 1,4 10,4 -0,4 2,5 0,0
Peixe fresco 8,5 3,0 9,8 1,9 4,0
Peixe congelado a granel
14,2 10,5 -8,1 -16,8 4,6
Marisco fresco
-5,8 -7,8 -0,5 4,1 -3,6
Fonte: Fundação Manuel Francisco dos Santos, 2013
No entanto, em entrevista à Agência Lusa, em março de 2013, Pedro Graça,
Diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, afirmou
que se verifica "uma substituição nas categorias do peixe, ou seja, as pessoas querem
continuar a consumir pescado, mas estão a optar por espécies mais baratas".
"O peixe está de tal forma nos hábitos alimentares portugueses que as
transferências fazem-se naturalmente, em alguns momentos, para produtos mais
baratos, pelo seu tamanho ou pela espécie", explicou Manuel Tarré, acrescentando
que "há um desvio entre 10 e 15%".
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O Comportamento do Consumidor é um processo que deve ser analisado
partindo do conhecimento individual do ser humano, ou seja, apenas será possível
prever o comportamento do consumidor se formos capazes de “ver” cada indivíduo
(fatores internos) que compõe o segmento de mercado (fatores externos) sobre o
qual pretendemos atuar.
Dubois (2005) também nos apresenta uma divisão semelhante mas em três
níveis: nível individual (das necessidades, perceções e atitudes); o nível interpessoal
(dos grupos de referência e líderes de opinião) e o nível sociocultural (da classe
social, estilos de vida e cultura).
Solomon (2007), através da sua pirâmide do Comportamento do Consumidor
demonstra-nos como se organizará o estudo, nesta área, sem desprezar a
multidisciplinaridade subjacente.
Figura 3. Pirâmide de comportamento do consumidor
Fonte: “O comportamento do consumidor”, Solomon (2007)
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Assim, encontramos na base da pirâmide o macrocomportamento do
consumidor e no topo, obviamente, o microcomportamento. E será, partindo deste
princípio que desenvolveremos a revisão bibliográfica da presente dissertação,
iniciando, contudo, a análise pelo topo da pirâmide.
Antes de avançar importa explicar que o estudo do Comportamento do
Consumidor se trata de um processo demasiado complexo que envolve diversas
ciências sociais e, no caso atual, humanas, nomeadamente: Economia (teoria
microeconómica da procura); Psicologia (motivação, atitudes, perceção,
aprendizagem); Sociologia (socialização, grupos de referência); Antropologia (cultura,
tradição), Geografia (fatores regionais); Ciências da Nutrição e Medicina
(necessidades nutricionais, fisiologia, fatores sensoriais) (Padberg, Ritson, & Albisu,
1997).
O modelo de Comportamento de Consumidor utilizado sob ponto de vista do
Marketing apresenta os fatores influenciadores dividindo-os em variáveis explicativas
internas e externas (Lindon, Lendrevie, Lévy, Dionísio, & Rodrigues, 1999).
2.1. Fatores internos explicativos do Comportamento do Consumidor
O modelo de Comportamento de Consumidor utilizado sob ponto de vista do
Marketing apresenta os fatores influenciadores dividindo-os em variáveis explicativas
internas e externas (Lindon et al., 1999).
Analisaremos, do ponto de vista das variáveis internas, três fatores: perceção,
motivação e atitudes.
2.1.1. Perceção
Os consumidores estão, permanentemente em contacto com informações,
opiniões, produtos, embalagens, publicidade. Selecionam uns estímulos e rejeitam
outros. Assim, quando tomam as suas decisões de compra estão, não apenas a
responder aos estímulos, mas à interpretação que fazem deles.
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Importante é, também, situar este processo percetivo no mundo atual, no
qual vivemos o fenómeno de excesso de informação. Na era atual, da
hiperconectividade, a informação, além de infinita, é maioritariamente, gratuita. “Em
cada dia do ano de 2012, o mundo produziu mais informação escrita do que toda a
que existia antes de 2003” (Barbosa, 2013).
O resultado disto é aquilo que Alfons Cornellá designou por “infoxication”
(Fanjul, 2011), ou seja, recebemos muito mais informação do que aquela que
conseguimos consumir o que pode traduzir-se em ansiedade, tornando-se cada vez
mais importante para o consumidor, saber filtrar.
Ora, a perceção é, precisamente, esse processo de filtragem através do qual
os indivíduos selecionam, organizam e interpretam as suas sensações dependendo,
essencialmente, da atenção e da interpretação (Solomon, 2007). Por sua vez, as
sensações relacionam-se com a reação imediata dos nossos recetores sensoriais
(olhos, ouvidos, nariz, boca e pele) a estímulos básicos.
Como se pode verificar na imagem abaixo, que representa o processo
percetivo, os estímulos básicos são recebidos pelos nossos recetores sensoriais
(vulgarmente designados por sentidos) e, imediatamente, selecionados através da
atenção (grau em que a atividade de processamento é dedicada a um estímulo
específico).
Figura 4. Processo percetivo
Fonte: “O comportamento do consumidor”, Solomon (2007)
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25
A atenção refere-se ao grau que a atividade de processamento do indivíduo
dedica a determinado estímulo. Como já referimos, os consumidores encontram-se,
atualmente, em estado de sobrecarga sensorial pelo excesso de informação e
estímulos a que estão expostos. Ora, a capacidade de processamento do indivíduo não
é ilimitada e, por isso, está sujeito a um processo de seleção percetiva (Solomon,
2007).
A questão que se coloca é: como seleciona o indivíduo a informação? Por um
lado é influenciado por fatores pessoais (necessidade atual e experiência) e, por
outro, por fatores inerentes ao próprio estímulo (tamanho, cor, posição, novidade).
O estímulo de determinado produto é, frequentemente, interpretado (o
consumidor atribui um significado aos estímulos sensoriais) em função do nosso
conhecimento prévio sobre si incluindo, assim, a análise, os seus atributos funcionais
(as suas caraterísticas, o seu preço, entre outros) e os seus atributos simbólicos (a sua
imagem e aquilo que pensamos dizer sobre nós ao consumir determinado produto).
Ou seja, a avaliação que fazemos dos produtos é mais resultado daquilo que ele
significa do que aquilo que ele faz. Estamos, por isso, perante o posicionamento do
produto no mercado (Solomon, 2007).
2.1.1.1. Perceção em ambiente alimentar
No que respeita ao setor alimentar, o consumidor utiliza os mecanismos
percetivos sensoriais como o sabor, a textura, a forma e o cheiro para avaliar a
qualidade do produto que irá consumir (Rinaldi, 2010).
Começa, desta forma, a traçar-se a importância da análise da perceção de
qualidade e segurança em alimentos perecíveis, como é o caso do pescado. É
consensual entre todos os consumidores que o fator que leva o consumidor à seleção
dos alimentos está relacionado, para além do preço, com a qualidade e segurança do
produto (Rinaldi, 2010).
O consumidor está cada vez mais exigente e consciente da qualidade e
segurança alimentares, com um sentimento de descrédito relativamente aos
alimentos perecíveis comercializados e aos riscos percebidos, ansioso por maior
Catarina Domingos
26
transparência na cadeia alimentar. Assim, dependendo da perceção que têm dos
riscos associados ao produto em questão, os consumidores apresentarão reações
diferenciadas (Lucas, Toscano, Martins, Peixe, & Évora, 2006).
Nos países desenvolvidos, as dinâmicas de consumo apontam para um
crescimento da procura de produtos promotores de saúde e bem-estar, bem como, da
segurança e qualidade associadas, sendo estas as principais fontes indutoras de
inovação de produtos e processos baseados em necessidades, estilos de vida e níveis
de rendimentos dos consumidores e da pesquisa em todas as etapas da cadeia
alimentar.
O interesse crescente pelo tema da segurança alimentar tem levantado alguns
aspetos importantes, nomeadamente: o custo da segurança, ou seja, determinar a
disponibilidade do consumidor para pagar mais por alimentos mais saudáveis e
seguros; o rótulo como veículo de transmissão de informação sobre o produto e o seu
papel na decisão do consumidor bem como as exigências e atitudes perante os
conteúdos nutritivos dos alimentos, capaz de produzir confiança junto do consumidor
(Lucas et al., 2006).
No que respeita à perceção encontram-se na literatura referências à
conveniência e inconveniência do pescado: constatou-se um efeito percetual
contrastante, ou seja, quanto mais o consumidor valoriza a conveniência na sua
refeição, mais se nota a inconveniência percecionada em relação ao pescado. Este
bem alimentar é, genericamente, percecionado como bastante inconveniente (Olsen
et al., 2007).
Mesnildrey et al. (2010) no seu estudo sobre as Motivações e Necessidades
dos consumidores franceses em relação aos produtos frescos do mar verificaram que
o pescado é percecionado como um alimento saudável, de digestão fácil e essencial
para uma dieta alimentar equilibrada. Isto pelo lado das caraterísticas intrínsecas. Por
outro lado, associam o consumo de pescado fresco a momentos de convívio com os
amigos, à natureza. Contudo, a maioria dos inquiridos refere que o pescado fresco
tem um preço demasiado elevado.
Os participantes neste estudo referiram, ainda, ser de lamentar a ausência ou
escassez de informação no ponto de venda acerca da origem do pescado, do respetivo
Catarina Domingos
27
método de produção e consequente impacto no ecossistema. Revelaram, também,
desconfiança em relação à conservação do pescado fresco porque o percecionam
como um alimento muito delicado (Mesnildrey et al., 2010).
Um estudo de investigação levado a cabo na Bélgica sobre Perceções e
Barreiras em relação ao pescado fresco, congelado, em conserva e pré-preparado, em
diversos países da Europa, em 2013, revelou Portugal como o maior consumidor de
peixe per capita demonstrando, igualmente, maior apetência para o consumo do
alimento em estado fresco (Vanhonacker, Pieniak, & Verbeke, 2013).
O mesmo estudo permitiu, ainda, concluir que as perceções formadas pelos
indivíduos acerca da categoria do produto são baseadas, sobretudo, a partir das
perceções em relação ao pescado fresco, do que em qualquer outra forma de
apresentação.
Os resultados variaram em função de cada país. Em Portugal, os
investigadores identificaram que os consumidores percecionam o pescado fresco
como extremamente saudável, embora lhe reconheçam um preço bastante elevado,
confirmando o que Mesnildrey et al. aferiram em 2010. Pontuação,
surpreendentemente, elevada recebeu, também, o pescado em conserva o que poderá
estar relacionado com a tradição da nossa indústria (Vanhonacker et al., 2013).
Pelo lado das barreiras percecionadas pelo consumidor para um maior
consumo de pescado, os investigadores, relativamente a Portugal, concluíram que se
encontram relacionadas com: 1) risco de intoxicação; 2) riscos ambientais; 3) o mau
cheiro no armazenamento; 4) o mau paladar; 5) dificuldade em avaliar a sua
qualidade. Concluíram, ainda, que, apesar de nenhuma barreira se destacar de forma
significativa, os países que apresentarem maiores pontuações foram, precisamente,
aqueles que apresentam consumos mais elevados. Levantam a possibilidade de esta
relação se basear no consumo preferencial de pescado fresco, na tradição e no hábito,
bem como num maior conhecimento e consciência do risco associado ao consumo
deste alimento, ainda que não o tenham comprovado (Vanhonacker et al., 2013).
Catarina Domingos
28
2.1.2. Necessidades e Motivações
As limitações encontradas nas abordagens económicas obrigaram as
empresas a procurar elementos qualitativos mais aproximados da realidade do
mercado e, consequentemente, das ciências humanas, começando pelas necessidades
e motivações.
A motivação relaciona-se com os processos que levam os indivíduos a
comportar-se de determinada maneira. Ocorre quando uma necessidade é despertada
e, neste caso, o consumidor deseja satisfazê-la; assim que a necessidade é ativada, um
estado de tensão leva o consumidor a procurar reduzi-la ou eliminá-la (Solomon,
2007).
No mundo das ciências sociais encontram-se diversos termos como
“necessidades”, “desejos”, “impulsos”, “motivações” para descrever a mesma noção.
Embora os seus significados possam não ser idênticos, todas estas expressões têm
uma referência comum: a existência de uma força interna que leva o indivíduo a agir
em determinado sentido e a assumir um comportamento cujo objetivo se encontra
pré-determinado (Dubois, 2005).
A necessidade pode classificar-se em dois grandes grupos: como utilitária
(existe o desejo de obter algum benefício funcional ou prático) ou como hedonista (a
necessidade envolve respostas emocionais). Podem ser satisfeitas de diversas formas
estando sempre a escolha sob a influência das experiências anteriores do indivíduo e
dos seus valores culturais.
Estes fatores culturais e pessoais combinados produzem o desejo que não é
mais do que a manifestação de necessidades. Embora não tenha aplicação direta ao
estudo de investigação atual, este conceito de desejo tem sido, recentemente,
relevado para a compreensão do Comportamento do Consumidor. Poderá ser uma
forma de lidar com os consumidores mais apaixonados, realçando o seu lado
emocional e, por vezes, irracional.
Catarina Domingos
29
Apesar da variedade de estudos no domínio da classificação das necessidades
dos consumidores não é possível abordar o tema sem referir a Teoria da Hierarquia
de Necessidades de Maslow (1954) (Dubois, 2005).
Segundo este psicólogo comportamentalista, as necessidades humanas
dividem-se de acordo com a figura que se segue:
Figura 5. Hierarquia das Necessidades de Maslow
Fonte: “Compreender o consumidor”, Dubois (2005)
Maslow (cit in Dubois, 2005) acredita que as necessidades humanas estão
hierarquizadas o que significa que o consumidor só evolui para a necessidade
seguinte quando a anterior se encontra satisfeita, procurando satisfazer em primeiro
lugar aquela que lhe parece mais importante. O autor indica, ainda, que a necessidade
não satisfeita é aquela que melhor explica o comportamento do consumidor uma vez
que será esta que orientará o indivíduo em relação a tudo o que o pode satisfazer.
Os profissionais de Marketing têm adotado esta teoria para compreender as
motivações dos consumidores porque especifica, de forma indireta, os tipos de
benefícios que os indivíduos podem esperar de determinados produtos em função
dos diferentes estádios de desenvolvimento.
Catarina Domingos
30
Por outro lado, o modelo apresenta duas limitações principais: em primeiro
lugar não é possível identificar uma relação biunívoca entre o tipo de necessidade a
satisfazer e o tipo de produto (por exemplo, aos produtos alimentares associam-se,
imediatamente, as necessidades fisiológicas mas os mesmos produtos podem estar
relacionados, também, com necessidades de segurança); em segundo lugar, a cultura
pode influenciar a leitura do significado de cada estádio e dos produtos que levam à
satisfação das necessidades (Solomon, 2007).
No entanto, desde que se considerem as evoluções sociais ocorridas ao longo
dos anos, esta teoria apresenta-se bastante útil para o Marketing uma vez que
valoriza o facto de os consumidores apresentarem diferentes prioridades nas suas
necessidades.
Além das diferentes prioridades apresentam, igualmente, diferentes níveis de
envolvimento: da inércia à paixão (Solomon, 2007).
O conceito de envolvimento tem representado um papel cada vez mais
importante na explicação do Comportamento do Consumidor, sendo considerada uma
variável diferenciadora essencial e identificada como um fator causal ou motivador
com consequências diretas sobre o comportamento de compra do indivíduo
(Guerrero, Abad, & Pérez, 2009).
Trata-se, assim, de uma variável que reflete a resposta do consumidor ao
produto ou marca estando relacionada com fatores pessoais, fatores do objeto ou
estímulo e fatores situacionais, como Solomon (2007) tão bem representa no gráfico
seguinte no qual relaciona o envolvimento (relação entre indivíduo, situação e objeto)
com os seus antecedentes e as respostas possíveis.
Catarina Domingos
31
Figura 6. Modelo conceptual das componentes do envolvimento
ANTECEDENTES DO
ENVOLVIMENTO
POSSÍVEIS RESULTADOS DO
ENVOLVIMENTO
FATORES PESSOAIS Omissão de contra-argumentos
* necessidades
Eficiência do anúncio para induzir
à compra
* importânciaENVOLVIMENTO
Importância relativa da classe do
produto
* interesseCom anúncios
Diferenças percebidas nos
atributos do produto
* valores
Com produtosPreferência por uma marca
específica
FATORES DO OBJETO OU
ESTÍMULO
* diferenciação de
alternativas
Com decisões de
compra
Influência do preço na escolha da
marca
* fonte da comunicação
* conteúdo da
comunicação
Quantidade de busca de
informações
FATORES SITUACIONAISTempo gasto para considerar as
alternativas
* compra/uso
* ocasiãoTipo de regra para decisão usada
na escolha
Fonte: “O comportamento do Consumidor”, Solomon (2007)
De uma perspetiva de Marketing, o envolvimento encontra-se no centro da
relação indivíduo-objeto, considerando-se, por um lado, a variável relacional mais
preditiva do comportamento de compra e, por outro, a mais útil para a segmentação
de mercado (Guerrero et al., 2009).
Também no âmbito do consumo alimentar, o conceito de envolvimento tem
apresentado um papel cada vez mais importante na explicação do Comportamento do
Consumidor. Multiplicam-se os estudos que relacionam a procura e o consumo com o
envolvimento do consumidor, demonstrando a sua força enquanto elemento
motivador e capaz de explicar numerosos passos no processo de tomada de decisão,
nomeadamente: extensão da pesquisa de informação, duração do processo de tomada
de decisão, formação de crenças, atitudes e intenções, assim como, os resultados
Catarina Domingos
32
comportamentais expressos na procura de diversidade, mudança de marca,
compromisso e lealdade à marca, frequência de uso e prazer retirado das compras.
O envolvimento implica relevância para o indivíduo evidenciado no facto do
consumidor demonstrar maior envolvimento com produtos que reflitam a sua
autoimagem, com produtos de custo ou risco elevado ou elevada pressão social para
que atue em conformidade com as normas.
O elevado envolvimento conduz a uma extensa problemática, na qual o
indivíduo faz pesquisa e uso ativos de informação bem como um cuidadoso
processamento, avaliando todos os atributos do produto antes de formar crenças,
desenvolvendo uma atitude e direcionando-se para uma intenção comportamental ou
comportamento real. Pelo inverso, reduzido envolvimento encontra-se associado a
rotinas, hábitos ou comportamentos impulsivos, sem processamento exaustivo de
informação (Verbeke & Vackier, 2004).
2.1.2.1. Necessidades e motivações em ambiente alimentar
Alguns autores afirmam que as atitudes dos consumidores em relação a
produtos alimentares são previamente formadas com base em rotinas definidas pelas
experiências anteriores. E, realmente, os estudos confirmam que a experiência e
hábitos são importantes fontes de informação na análise da compra alimentar
(Verbeke & Vackier, 2004).
Da mesma forma, Alvensleben (1997) (cit in Verbeke & Vackier, 2004) afirma
que os produtos de baixo preço, os produtos de compra frequente e a maioria dos
produtos alimentares são considerados como produtos de baixo envolvimento.
Efetivamente, se considerarmos as condições que determinam o
envolvimento, os produtos alimentares possuem baixo potencial na elevação da auto-
imagem, apresentam custos baixos e reduzida pressão social. Contudo, assumem uma
das principais exceções: o risco (real ou percebido), ou seja, a probabilidade de fazer
uma escolha errada e as implicações que essa decisão terá na sua saúde. A suposição
Catarina Domingos
33
de que os produtos alimentares são de baixo envolvimento não é válida quando o
risco percebido é elevado (Verbeke & Vackier, 2004).
Como se compreende facilmente, esta análise terá maior interesse, ainda, na
tomada de decisão em relação a produtos perecíveis como é o caso do pescado, onde
existe a tal perceção de risco elevado, com uma significativa atividade cognitiva na
tomada de decisão (Cejas, 1996).
O conhecimento científico relativo ao Comportamento Alimentar tem
conhecido diversos avanços nos últimos anos recebendo contributos de diversas
áreas do saber tão distintas como a Neurofisiologia da Nutrição, a Psicologia da
Nutrição, o Marketing ou a Publicidade. É precisamente esta interdisciplinaridade que
permite um conhecimento aprofundado do Comportamento do Consumidor neste
setor alimentar.
A escolha alimentar humana relaciona-se com a condição onívora do homem,
ou seja, a sua capacidade de comer de tudo. No entanto, existem outros fatores que
determinam as escolhas alimentares como sejam: o preço, o sabor, a variedade, o
valor nutricional, a aparência do alimento e a higiene (Jomori, Proença, & Calvo,
2008).
Os aspetos mencionados, anteriormente, foram referenciados por diversos
autores em diferentes tipos de estudos, aplicados com abordagens variadas, tendo em
comum a procura dos motivos que conduzem o indivíduo à escolha de determinado
alimento.
No quadro seguinte, encontraremos uma compilação para seis autores dos
motivos que identificam como sendo os eleitos pelo consumidor nas escolhas
alimentares sendo considerados fatores como: a aparência, os tipos de preparação, a
variedade, o sabor e o valor nutricional.
Catarina Domingos
34
Quadro 3. Variáveis relacionadas com a escolha alimentar
Variáveis dos
alimentos
Castelo
Branco
Nield et
al.
Mills &
Clay
Poulain Gedrich Scholderer et
al.
Aparência X X
Tipos de
preparação
X X X
Variedade X X
Sabor X X X
Valor nutricional X X X X
Fonte: Santos et al. (2012)
Dos seis autores analisados por Santos et al (2012) e apresentados no quadro
acima, o valor nutricional é a variável mais comummente aceite, seguida do sabor e
tipos de preparação e, finalmente, da aparência e variedade.
Por sua vez Alvensleben (cit in Padberg et al., 1997) afirma que são oito os
principais motivos que conduzem à escolha alimentar: necessidades nutricionais;
saúde, desejo de desfrutar da comida, conveniência, segurança e sustentabilidade,
influência do grupo, prestígio, motivos ambientais e políticos.
O ritmo de vida atual leva a que os consumidores tenham cada vez menos
tempo para se dedicar à alimentação privilegiando, por isso, alimentos saudáveis que
sejam, igualmente, de fácil e rápida preparação. Mas, também, exigem que esses
alimentos possuam elevada qualidade sensorial e segurança, preferencialmente, sem
necessidade de aditivos ( Santos et al., 2012).
Finalmente, um estudo efetuado por investigadores dinamarqueses
(FAO/University of Akureyri Symposium) com o objetivo de compreender as
tendências de consumo, as atitudes e a seleção e preferências dos consumidores face
ao pescado, revelam variações acentuadas em diferentes países europeus.
Catarina Domingos
35
Os motivos que encontraram presentes na escolha de pescado relacionam-se
com quatro grupos de fatores: saúde (para uma vida mais longa e com melhor
qualidade); sabor (a comida é sinónimo de prazer e, raramente, os indivíduos comem
aquilo que não gostam); processamento (a qualidade inerente ao processo de
produção é fundamental); e conveniência (mais do que ser fácil comprar e rápido de
preparar, o consumidor procura poupança de tempo e menor desgaste físico e
mental) (Brunsø, 2007).
Mesnildrey et al. (2010), nos focus group realizados, confirmaram que mais
de 90% dos participantes guia as suas decisões de compra tendo por base critérios
como a frescura, a espécie e o preço. Embora o preço seja um critério essencial, as
promoções não são bem aceites porque sugerem, ao consumidor, um défice de
qualidade e frescura.
O mesmo estudo procurou definir as caraterísticas do pescado ideal para os
consumidores franceses, tendo concluído que os inquiridos preferem pescado com
baixo teor de gordura não sendo para si relevante o teor de ómega 3 e as questões
relacionadas com a sustentabilidade. Revelam maior interesse pelo pescado fresco,
filetado e sem espinhas. Identificaram diferenças entre homens e mulheres em dois
critérios: as mulheres preferem, indubitavelmente o pescado fresco, enquanto para os
homens não é um dos aspetos mais relevados; os homens demonstram maior
preocupação com o baixo teor de gordura do que as mulheres (Mesnildrey et al.,
2010).
2.1.3. Atitudes
Ao longo dos anos, o conceito de atitude tem sofrido diversas alterações, mais
precisamente, desde o início da Psicologia Social, estando, no entanto, sempre
relacionado com tendências psicológicas.
No entanto, não existem dúvidas de que se encontra no topo dos fatores
elencados para o conhecimento do Comportamento do Consumidor.
Catarina Domingos
36
Embora existam múltiplas conceções e métodos de medida, a maioria dos
autores concorda em estruturar a atitude com base em três componentes: afetivas (a
forma como o consumidor se sente perante determinado objeto), comportamentais (a
intenção do indivíduo fazer algo em relação ao objeto) e cognitivas (as crenças do
indivíduo sobre determinado objeto). Trata-se daquilo que Solomon designa por
Modelo ABC de atitudes (affect, behavior and cognition) (Solomon, Bamossy,
Askegaard, & Hogg, 2006).
Este modelo realça a interrelação existente entre conhecer, sentir e fazer
reconhecendo que cada uma das componentes assume uma importância relativa face
ao nível de motivação ou a outros fatores como a frequência de uso.
Na opinião de autores como Hewston, Stroebe e outros (1995), o Modelo da
Dissonância Cognitiva desenvolvido por Festinger em 1957 é aquele que apresenta
maior êxito no que respeita a prognósticos acerca da exposição seletiva da
informação relevante face à atitude.
Esta teoria afirma que as pessoas, no caso, os consumidores, estão motivadas
para a exposição à informação consonante (com a atitude) e a evitar a informação
dissonante (com a atitude) com o objetivo de estabilizarem uma decisão (com a
atitude). Ou seja, o consumidor que acabou de efetuar determinada compra necessita
de receber informações positivas que lhe garantam ter efetuado a escolha certa
(Dubois, 2005).
Desde que o estudo do comportamento do consumidor se tornou a espinha
dorsal do planeamento estratégico das empresas, que o fenómeno da dissonância
cognitiva e as suas implicações no processo de tomada de decisão se apresentam de
extrema importância. A teoria da Dissonância Cognitiva, enquadrando-se no conceito
de atitude, inclui aspetos cognitivos, como a própria designação indica, mas considera
também, desde a sua formulação original por Festinger (1957) (cit in. Sharma, 2014),
uma dimensão emocional relevante.
O fenómeno da Dissonância Cognitiva conduz o indivíduo à necessidade de
encontrar harmonia nos elementos inconsistentes e conflituosos procurando, assim,
reduzir a tensão psicológica que sente. A maioria das decisões envolve sentimentos
Catarina Domingos
37
dissonantes uma vez que o estado de dissonância ocorre, frequentemente, quando os
consumidores têm que fazer escolhas (a escolha de um produto determina o
abandono da alternativa) (Sahgal & Elfering, 2011).
2.1.3.1. Atitudes em ambiente alimentar
No que respeita ao consumo de pescado, apresenta-se pertinente a referência
ao estudo desenvolvido por Brunsø (2007) que revela as atitudes e preferências dos
consumidores de países europeus como: Bélgica, Dinamarca, Holanda, Polónia e
Espanha.
Assim, para os consumidores destes países, o pescado é um alimento seguro,
saudável e nutricionalmente rico. Consideram-no, igualmente, delicado e saboroso
embora reconheçam que a espinha possa ser, inclusivamente, uma barreira ao
consumo. Por outro lado, trata-se de um alimento com preço elevado, muito embora a
relação qualidade/preço seja, no seu entender, justa (Brunsø, 2007).
Relativamente à avaliação da frescura do pescado, os consumidores
reconhecem não ter conhecimentos para efetuar escolhas seguras, estando as suas
decisões de compra muito dependentes da opinião de terceiros (Brunsø, 2007).
Como referimos, anteriormente na análise da Perceção, a conveniência
percecionada pelo consumidor em relação ao pescado acontece na razão inversa da
conveniência valorizada na refeição.
Assim, a orientação para a conveniência relaciona-se com as atitudes mas,
apenas, através da perceção de que o pescado é um produto inconveniente. Por outro
lado, esta inconveniência percecionada produz efeitos diretos e indiretos no consumo
através das atitudes dos consumidores (Olsen et al., 2007).
Confirmando a importância do Modelo da Dissonância Cognitiva nas escolhas
alimentares, Mesnildrey et al. (2010) no estudo que desenvolveram sobre as
motivações e necessidades dos consumidores de alimentos frescos do mar, em
França, identificaram a existência de atitudes dissonantes: os consumidores
demonstraram uma elevada preocupação com a origem do pescado preferindo o
Catarina Domingos
38
selvagem ao de aquicultura. Contudo, o pescado mais consumido em França é o
salmão, que em mais de 90% dos casos é produzido em aquicultura.
2.2. Fatores externos explicativos do comportamento do consumidor
O Comportamento de Consumo do indivíduo não pode ser, apenas, explicado
e compreendido através dos fatores explicativos internos. O indivíduo vive em
interação com os seus pares em forma de grupo. E estes grupos determinam, também,
o comportamento e as atitudes de cada um.
Kotler et al. (2006) identifica como fatores externos, os culturais e sociais. Na
sua opinião, aqueles que apresentam maior capacidade de influência são os culturais.
Isto porque o processo de aculturação sucede ao longo de toda a vida do indivíduo
que absorve valores, perceções, preferências e comportamentos dos membros da sua
família e de outros grupos nos quais se encontra inserido.
Depois, cada cultura é composta por subculturas que permitem a
identificação e valorização mais específica dos seus membros: nacionalidade, religião,
grupo racial ou região geográfica.
As sociedades atuais apresentam estratificação social representada por
classes, ou seja, divisões homogéneas e duradouras, hierarquicamente ordenadas e
onde os seus integrantes partilham valores, interesses e comportamentos. Estas
classes sociais apresentam preferências evidentes.
Os fatores sociais incluem, por seu turno, os grupos de referência, a família,
papéis sociais e estatuto.
Os grupos de referência exercem influência direta ou indireta sobre as
atitudes ou comportamentos do indivíduo. Aqueles que exercem influência direta são
designados por grupos de afinidade primários (família, amigos, vizinhos) e
secundários (grupos religiosos e profissionais).
O indivíduo é, significativamente, influenciado pelos seus grupos de
referência que o expõem a novos comportamentos e estilos de vida: influenciam as
Catarina Domingos
39
suas atitudes e autoimagem, exercendo, igualmente, pressão que pode afetar,
impactar as suas escolhas reais de compra.
Por outro lado, o indivíduo também é influenciado por grupos aos quais não
pertence: grupos de aspiração (aqueles a que espera pertencer) e grupos de
dissociação (aqueles de quem rejeita os comportamentos).
No seio dos fatores sociais, torna-se essencial destacar a família a mais
importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade (Kotler &
Keller, 2006).
Na vida do consumidor podem identificar-se duas famílias: a de orientação
(composta por pais e irmãos) e a de procriação (composta por cônjuge e filhos).
De acordo com o Inquérito às Despesas da Família 2010/2011 (2012)
realizado pelo INE, estimava-se que a maioria dos agregados familiares residentes em
Portugal não tinham crianças dependentes (63,4 por cento) face a 36,6 por cento com
pelo menos uma criança dependente.
Quadro 4. Distribuição dos agregados familiares por composição do agregado e NUT II,
2010/2011
Fonte: Inquérito às despesas das Fanílias, 2010-2011 (INE)
Catarina Domingos
40
A tipologia de família mais frequente era composta por dois ou mais adultos
não idosos (sem crianças dependentes) com 21,6 por cento do total; seguem-se as
famílias constituídas por dois ou mais adultos em que pelo menos um dos membros
tinha 65 ou mais anos (20,4 por cento). Os agregados de uma pessoa só
representavam no total 21,4 por cento, dos quais 12,4 por cento com mais de 65 anos
e 9 por cento com menos de 65 anos. Finalmente, e apesar de algumas diferenças
regionais, era comum a todas as regiões o predomínio das famílias sem crianças
dependentes, com proporções que variavam entre os 56 e os 70 por cento
(Estatística, 2012b).
2.2.1. Os fatores externos em ambiente alimentar
O alimento esteve sempre intimamente relacionado com a constituição e
organização das sociedades, assumindo um papel importante como fator de interação
entre pares.
Trata-se de um requisito básico para a perpetuação de um povo
desempenhando um importante papel na consolidação da cultura: diversas
investigações etnográficas demonstraram que a alimentação é fundamental na
construção da identidade cultural dos povos sendo considerada uma das principais
barreiras de resistência à mudança.
Por outro lado, a alimentação é mais do que necessidade nutricional ou
fisiológica, representando papéis importantes enquanto elemento de distinção social
e de afirmação psicológica na formação do indivíduo a partir da sua família, como
valores, normas e hábitos. Ou seja, o comportamento alimentar encontra-se
diretamente relacionado com os hábitos e costumes que são transmitidos pelo
processo de socialização no qual a família apresenta um papel fulcral (Santos &
Celeste, 2013).
Catarina Domingos
41
As escolhas alimentares formam-se a partir dos sistemas de socialização
culturais, sendo limitadas por contingências do ambiente físico e social. Assim, as
refeições representam um importante momento das interações familiares, com
estruturas temporais portadoras de significado e que terão reflexo ao longo de toda a
vida do indivíduo (Addison & Moreira, 2008).
A criança, através da família, inicia o seu processo de socialização alimentar
de forma contínua. A sua alimentação quotidiana é estruturada, desde muito cedo,
pelos usos, proibições existentes no seio da cultura familiar, as formas de preparação
dos alimentos, o número e horário das refeições diárias (Pereira, 2013).
2.3. Processo de tomada de decisão
O processo de tomada de decisão ou processo de compra encerra em si um
conjunto de etapas consecutivas descritas, pela maioria dos investigadores, em 4
passos principais: 1) reconhecimento da necessidade; 2) recolha e tratamento de
informação; 3) formulação e tomada de decisão; 4) avaliação das consequências
(Dubois, 2005).
Solomon (2007) acrescenta uma fase entre o tratamento das informações e a
decisão, para avaliação de alternativas.
Da importância e complexidade da decisão de compra dependerá,
diretamente, o esforço que colocamos e disponibilizados para o ato.
Para os profissionais de Marketing, Solomon (2007) propõe a caraterização
do processo de tomada de decisão considerando a quantidade de esforço envolvido
chegando, desta forma, às seguintes classificações:
a) Tomada de decisão habitual: reflete escolhas efetuadas com pouco ou
nenhum esforço consciente, relacionadas com produtos de baixo custo e
onde o envolvimento do consumidor é reduzido;
Catarina Domingos
42
b) Solução limitada do problema: o consumidor utiliza regras de decisão
para escolher alternativas, de forma simples e direta, sem sentir grande
motivação para a procura de informações e avaliação de alternativas.
c) Solução ampliada do problema: este processo é iniciado por motivos
muito importantes para o autoconceito do consumidor que encontra
associado, igualmente, um elevado risco. O indivíduo procura estar em
posse do máximo de informação possível (da sua experiência ou em
fontes externas).
Ou seja, quando o indivíduo reconhece uma necessidade ou problema como
merecedora da sua atenção e ação, inicia, imediatamente, um processo de recolha de
informação que pode ser simples (procura na sua memória o que fez em situações
anteriores, replicando agora a ação/decisão) ou mais complexo procurando reunir,
em fontes externas, o máximo de informação possível. Nestes processos de tomada de
decisão, o indivíduo pode, apenas, imitar comportamentos dos seus pares.
Por outro lado, sabe-se, através, nomeadamente, da economia
comportamental que as decisões de compra do indivíduo revestem-se de um caráter
irracional (Ariely, 2008).
De acordo com Ariely (2008) entender a irracionalidade é fundamental para
a compreensão das decisões tomadas pelo consumidor. Defende que esta
irracionalidade é, no entanto, previsível, ou seja, ocorre sempre da mesma maneira e
repetidamente na tomada de decisão.
Finalmente, o processo de tomada de decisão não termina com a posse do
objeto podendo a fase de consumo acarretar reações que afetem decisões de compra
posteriores.
Se por um lado a satisfação conduz à fidelidade, por outro, o
descontentamento provocado por desempenhos inferiores às expectativas pode gerar
deceção.
Catarina Domingos
43
2.3.1. A decisão alimentar
A decisão de comer determinados alimentos varia de indivíduo para
indivíduo e, também, em função da situação.
Embora se reconheça a importância dos mecanismos de regulação fisiológica
no comportamento alimentar (Mela, 2001), a investigação comprova a incontornável
relevância de fatores psicológicos (fatores internos), sociais e culturais (fatores
externos) (Silva, Pais-Ribeiro, & Cardoso, 2008).
O termo “escolha alimentar” foi definido, em 2000, por Hamilton, McIlveen e
Strugnell (cit. in Silva et al., 2008) como um “conjunto de decisões conscientes e
inconscientes tomadas por uma pessoa no momento da compra, no momento do
consumo ou em algum momento entre os dois”.
Existem diversos modelos que procuram explicar a decisão na escolha
alimentar como se poderá verificar no diagrama seguinte: modelos desenvolvimental;
modelos cognitivos e modelos psicofisiológicos.
Quadro 5. Os modelos explicativos das escolhas alimentares
Adaptado de: “The Psycology of Eating: from healthy to disordered behavior” (Odgen, 2010)
Catarina Domingos
44
Do conjunto de modelos apresentados, aqueles que consideramos mais
pertinentes no âmbito deste projeto de investigação são: o modelo desenvolvimental
da escolha de alimentos e o modelo cognitivo (Odgen, 2010).
Segundo Odgen (2010) o modelo desenvolvimental salienta a importância da
aprendizagem e da experiência na evolução das preferências alimentares na infância.
Sublinha, ainda a importância do conhecimento de padrões alimentares nesta etapa
de desenvolvimento sublinhando o facto de a investigação sugerir que os hábitos
alimentares adquiridos na infância persistem na idade adulta (cit in Silva et al., 2008).
O desenvolvimento de preferências alimentares, a partir deste modelo,
acontece pela associação de três fenómenos: a exposição, a aprendizagem social e a
aprendizagem por associação.
No quadro seguinte podemos encontrar, resumidamente, os conceitos
subjacentes aos fenómenos implícitos no modelo desenvolvimental (Silva et al.,
2008):
Catarina Domingos
45
Quadro 6. Modelo desenvolvimental das escolhas alimentares
Fenómeno Conceito
Exposição A aquisição de padrões de aceitação de alimentos
carateriza-se pela resposta à repetida exposição aos
alimentos, processo que se inicia, ainda, no útero.
Aprendizagem Social À medida que acontece a transição, na criança, para a
alimentação do adulto caraterística da sua cultura, é
exposta a informação sobre o significado dos alimentos.
A observação do comportamento alimentar dos seus
pais leva a que as crianças adotem comportamentos
semelhantes.
Esta aprendizagem social relaciona-se, também, com o
impacto dos meios de comunicação social nas decisões
dos consumidores.
Aprendizagem por associação Refere o impacto de fatores contingentes no
comportamento que podem ser considerados
reforçadores
Fonte: Silva et al., 2008
Os Modelos Cognitivos da escolha alimentar apresentam como fulcral o papel
da cognição do indivíduo na previsão e explicação do seu comportamento alimentar.
Apesar de apresentarem caraterísticas específicas, todos os modelos cognitivos
apresentam alguns fatores comuns, nomeadamente: a atitude em relação a
determinado comportamento, a perceção do risco (ou vulnerabilidade), a perceção da
gravidade do problema, custos e benefícios de um certo comportamento, auto-eficácia
e perceção de controlo do comportamento, comportamento passado e normas sociais.
Catarina Domingos
46
Esta abordagem tem sido objeto de diversas críticas pelo facto de valorizar
excessivamente as variáveis individuais descurando a influência dos fatores externos
e sociais. Por outro lado, estes modelos são avaliados através de métodos
quantitativos e questionários com base em cognições selecionadas pelo investigador
não sendo, por isso, necessariamente relevantes para os indivíduos estudados. Mais,
ainda, estes modelos pressupõem que o comportamento é resultado da racionalidade,
ignorando o papel dos afetos, das emoções e, também, dos aspetos sociais (Silva et al.,
2008).
Mesnildrey et al. (2010) com recurso à “Means-End Theory” construiram um
mapa cognitivo relativo ao processo de tomada de decisão dos consumidores. Assim,
concluiram que os atributos mais valorizados eram a frescura, a espécie, o preço
justo e o local de captura; em relação às consequências identificaram o sabor de
qualidade, a garantia de frescura e a saúde; nos valores instrumentais realçaram o
comportamento racional, o responsável e o honesto; e finalmente, os valores
terminais são, maioritariamente, a segurança, o prazer e a satisfação.
Catarina Domingos
47
3. METODOLOGIA
Conforme apresentado no capítulo anterior, apesar de Portugal apresentar
um dos maiores consumos de pescado per capita europeu, apenas 12 % das proteínas
e 1 por cento das gorduras são obtidas através deste alimento. Esta realidade torna-se
ainda mais relevante para um país que, muito recentemente, participou na
candidatura que elevou a Dieta Mediterrânica a Património da UNESCO (Andrade,
2013).
Por outro lado, como resultado dos diversos estudos europeus analisados em
termos de comportamento alimentar, verificamos que existem motivações
transversais ao setor em geral, nomeadamente: saúde, sabor/cheiro e conveniência.
Aquelas são caraterísticas associadas ao pescado, às quais podemos, apenas,
acrescentar o facto de os consumidores valorizarem a frescura mas reconhecerem
não serem capazes de fazer, por si, essa avaliação com vista a uma compra segura.
Assim, para compreendermos a evolução do comportamento, atitudes e
motivação dos consumidores portugueses perante o pescado fresco realizamos um
estudo exploratório no qual se combinam métodos qualitativos (focus group) e
quantitativos (inquérito por questionário) (Mesnildrey et al., 2010).
A aplicação dos diferentes métodos acontecerá de acordo com a sequência
seguinte:
Catarina Domingos
48
Quadro 7. Metodologia de investigação
3.1. Objetivos da investigação
O principal objetivo desta investigação é a identificação dos comportamentos,
atitudes e motivações dos consumidores relativamente ao pescado fresco.
A identificação destes elementos permitirá, ainda, conceptualizar o produto
ideal para o consumidor procurando encontrar a melhor solução para a distribuição
alimentar ao identificar, paralelamente, elementos atitudinais dissonantes.
3.2. Métodos de investigação qualitativos
A abordagem qualitativa procura a compreensão particular do fenómeno em
análise não se preocupando com generalizações populacionais. Ou seja, a atenção do
investigador foca-se no específico, valorizando mais a compreensão do que a
explicação dos fenómenos.
Catarina Domingos
49
Os métodos qualitativos produzem explicações contextuais para um pequeno
número de casos com ênfase no significado do fenómeno encontrando resposta nas
atitudes, crenças, motivações, sentimentos e pensamentos da população estudada
(Nogueira-Martins, 2004).
Na pesquisa qualitativa o pesquisador substitui as correlações estatísticas
pelas descrições e as conexões causais objetivas pelas interpretações.
Assim, na presente investigação e com recurso à metodologia qualitativa,
pretendemos obter indicadores3 sobre as crenças e estruturas de significância
subjetiva do consumidor relativamente às suas motivações e barreiras para o
consumo de pescado fresco.
3.2.1. Proposições
Com base na revisão bibliográfica efetuada definimos as seguintes
proposições:
Proposição 1: O pescado fresco é importante na dieta alimentar. Portugal,
segundo os dados da Balança Alimentar Portuguesa (INE, 2012) apresenta-se como
um dos países da Europa com consumo médio de peixe mais elevado.
Proposição 2: Os consumidores preferem o pescado fresco a outras
categorias de produto (Mesnildrey et al., 2010).
Proposição 3: Os consumidores portugueses compram o pescado fresco por
atributos como a saúde e o sabor (Mesnildrey et al., 2010).
Proposição 4: Os consumidores portugueses não compram pescado fresco
pela falta de confiança, pela dificuldade em avaliar a qualidade e pelo cheiro no
armazenamento (Vanhonacker et al., 2013)
Proposição 5: Existe sazonalidade no consumo de pescado fresco. Trata-se
de uma proposição exploratória que permite aferir e caraterizar dados de consumo.
3 Em análise qualitativa utiliza-se o termo “indicador” em substituição de “dado”.
Catarina Domingos
50
Proposição 6: O preço do pescado fresco é percecionado pelos consumidores
portugueses como sendo a principal barreira ao consumo (Mesnildrey et al., 2010).
Proposição 7: Os consumidores querem conhecer a origem do pescado
fresco (Mesnildrey et al., 2010).
Proposição 8: Os consumidores portugueses adquirem o pescado fresco nas
grandes superfícies de retalho alimentar (Mesnildrey et al., 2010).
3.2.2. Focus Group
Por ser um dos métodos mais adequados, no seio da pesquisa qualitativa,
para explicar como os indivíduos consideram uma experiência, uma ideia ou evento
foi aquele que selecionamos para identificar as motivações e barreiras ao consumo de
pescado fresco (Mesnildrey et al., 2010).
O Focus Group preenche os requisitos de adequabilidade uma vez que o tema
em questão é facilmente objeto de discussão entre os participantes.
Neste caso, o Focus Group será utilizado em simultâneo com os restantes
métodos quantitativos pelo que objetivamos a triangulação para questões de
pesquisa semelhantes.
O guião para o Focus Group foi previamente elaborado encontrando-se
dividido em cinco grupos de questões, cada um com objetivos diferenciados no que
respeita à recolha de indicadores4.
No quadro seguinte apresentaremos as questões elaboradas para o Focus
Group relacionando-as com os objetivos de pesquisa de informação e as respetivas
dimensões em análise.
4 Ver anexo n.º 1.
Catarina Domingos
51
Quadro 8. Relação entre as questões, os objetivos e as dimensões
Questões do guião Objetivos Dimensões
Grupo A Identificação e caraterização
pessoal dos participantes
funcionando, simultaneamente,
como quebra-gelo.
-
3. Qual a importância do
pescado na dieta alimentar da
sua família?
Identificar dados de consumo e
valorização pessoal e familiar
do pescado fresco.
Fatores explicativos internos e
externos do comportamento de
consumo.
4. Com que frequência consome
pescado fresco?
Confirmar ou não a importância
do pescado fresco na dieta
alimentar da família.
Fatores explicativos internos do
comportamento de consumo.
5. Onde adquire o pescado
fresco?
Confirmar ou não que o local
preferido para aquisição de
pescado fresco é a grande
distribuição.
Processo de tomada de decisão.
6. Coloque por ordem de
preferência a forma de
apresentação de pescado:
fresco, seco, salgado, conserva,
congelado.
Confirmar ou não que o pescado
fresco é a forma de
apresentação preferida dos
portugueses.
Fatores explicativos externos do
comportamento de consumo e
processo de tomada de decisão.
7. Quais as razões que o levam a
comprar pescado fresco?
Confirmar ou não que as
principais razões de compra do
pescado fresco são a frescura, a
saúde e o sabor.
Fatores explicativos internos do
comportamento de consumo.
8. Que aspetos tem em conta
quando escolhe o pescado
fresco?
Aferir o grau de conhecimento e
independência do consumidor
na decisão de compra.
Processo de tomada de decisão.
9. Que razões podem levá-lo a
não consumir pescado fresco?
Confirmar ou não que as
principais barreiras à compra
do pescado fresco são: o preço,
a falta de confiança, a
dificuldade em avaliar a
frescura e o cheiro.
Fatores explicativos internos do
comportamento de consumo.
10. Existe alguma altura do ano
em que consuma mais pescado
fresco? Porquê?
Confirmar ou não que existe
sazonalidade no consumo de
pescado fresco evidenciando as
respetivas razões.
Fatores explicativos externos do
comportamento de consumo.
11. Como classifica o preço do
pescado fresco?
Confirmar ou não que o preço
do pescado fresco é a principal
barreira ao seu consumo.
Fatores explicativos internos do
comportamento de consumo.
Catarina Domingos
52
Questões do guião Objetivos Dimensões
12. Como sabe, procuramos
identificar as razões que o
levam a consumir pescado
fresco ou que, por outro lado,
limitam o seu consumo. Assim,
para terminar, gostaria que
dissessem de que forma
consumiriam mais pescado
fresco?
Permitir que os participantes
descrevam qual seria o seu
pescado fresco ideal, com total
liberdade.
Fatores explicativos internos e
externos do comportamento de
consumo.
O Focus Group considera amostras intencionais que preencham
determinados requisitos, nomeadamente, a homogeneidade como defende Krueger
(cit. in Oliveira & Freitas, 1998). Nos grupos formados para este estudo foram
consideradas variáveis como sexo (Homens / Mulheres) e idade (entre 25 e 45 anos /
mais de 46 anos) para a respetiva homogeneização (Mesnildrey et al., 2010).
Cada grupo contará com seis participantes no mínimo e dez no máximo,
residentes na região do Grande Porto, tendo estes sido formados com base em alguns
pressupostos:
1. Serem consumidores de pescado;
2. Não se conhecerem entre si para evitar conversas paralelas ou inibições
na discussão do tema.
3. Não terem participado, anteriormente, em Focus Group para evitar que
monopolizassem a discussão.
Todos os Focus Group serão gravados em sistema áudio para posterior
transcrição e tratamento de acordo com os procedimentos de análise de
conteúdo(Longo & Narita, 2014).
Catarina Domingos
53
Operacionalmente, será necessário construir e analisar categorias definidas
através da presença de um conjunto de indicadores e que permitem evidenciar e
compreender as várias dimensões do fenómeno em estudo (Longo & Narita, 2014).
Assim, previamente à análise de conteúdo, será necessária a identificação dos
indicadores e categorias correspondentes às quais se associarão, posteriormente, as
respetivas unidades de sentido.
As categorias definidas a priori com base nas conclusões dos estudos de
Mesnildrey et al. (2010) e Vanhonacker et al. (2013) são:
Importância do pescado fresco nas refeições da família;
O pescado fresco é o preferido;
Caraterísticas organoléticas: sabor, cheiro, textura, aspeto e espinhas;
Saúde;
Preço;
Sazonalidade.
Por outro lado, a posteriori, definiram-se as seguintes categorias:
Relação com o vendedor ou ponto de venda;
Local de compra;
Exposição do pescado fresco;
Origem;
Utilização;
Conveniência.
No quadro seguinte apresentamos as principais caraterísticas dos participantes em
cada Focus Group:
Catarina Domingos
54
Quadro 9. Caraterização dos participantes nos Focus Group
Focus Group Caraterísticas do grupo Siglas de
identificação
Grupo
Mulheres I
Composto por seis mulheres com idades compreendidas entre os
25 e os 40 anos; todas apresentam grau de licenciatura ou
superior.
Cinco mulheres são ativas empregadas e, apenas uma, se encontra
em situação de desemprego.
No grupo, apenas, uma participante vive em casa dos pais.
Finalmente, apenas uma participante tem filhos.
Do P1 ao P6.
Grupo
Homens II
Composto por seis homens com idades compreendidas entre os 30
e os 45 anos.
Três participantes possuem grau de licenciatura; dois possuem
frequência universitária e um possui o 4.º ano de escolaridade.
Apenas um participante se encontra desempregado e habita em
casa dos pais.
Quatro participantes têm filhos.
Do P7 ao P12.
Grupo
Mulheres III
Composto por seis mulheres com idades compreendidas entre os
52 e os 65 anos.
Duas participantes encontram-se reformadas; três, são ativas
empregadas e uma encontra-se em situação de desemprego.
Apenas a que se encontra desempregada não tem filhos.
Do P13 ao
P18.
Grupo
Homens IV
Composto por homens entre os 50 e os 65 anos.
Apenas dois participantes se encontram, profissionalmente, ativos,
estando os restantes reformados.
Todos têm filhos.
Do P19 ao
P24.
Após a identificação das categorias, procedeu-se à transcrição integral dos
focus group através da audição das respetivas gravações. Seguiu-se a seleção das
unidades de sentido correspondentes a cada categoria e sub-categoria, em primeiro
Catarina Domingos
55
lugar assinalando com a mesma cor as expressões com significados semelhantes e
que integravam a mesma categoria, para posteriormente se proceder à construção da
tabela de unidades de sentido.
3.3. Métodos de investigação quantitativos
Para o estudo dos comportamentos, atitudes e motivações que determinam o
consumo de pescado fresco elencamos as seguintes hipóteses de investigação com
base no trabalho de investigação desenvolvido por Mesnildrey et al. (2010):
Hipótese 1: Espera-se que os principais atributos identificados pelo consumidor,
para o consumo de pescado fresco, sejam a frescura, a espécie, o preço e a origem.
Hipótese 2: Espera-se que as caraterísticas ideais do pescado influenciadoras da
tomada de decisão sejam: a sua origem selvagem, ter pouca gordura, ser filetado, não
ter espinha e ser fresco.
Hipótese 3: Espera-se encontrar elementos cognitivos e comportamentais
contraditórios que permitam verificar o fenómeno da dissonância cognitiva,
nomeadamente, entre a preferência pela origem selvagem e a sua compra efetiva.
3.4. Amostra
Para o presente estudo utilizaremos a técnica de amostragem não
probabilística por julgamento uma vez que a facilidade operacional, por escassez de
recursos financeiros e tempo, é um requisito importante. (Arantes & Vieira, 2006)
Sendo que a maioria dos consumidores opta por comprar também os
alimentos frescos em superfícies comerciais, esta parte da metodologia será aplicada
diretamente em supermercados, mais especificamente junto às suas peixarias.
Tendo por base o Relatório Nielsen “Food 2011” podemos afirmar que 43%
da despesa dos lares portugueses é efetuada em supermercados, seguindo-se os
hipermercados com 25,3%.
Catarina Domingos
56
Gráfico 1. Despesas dos lares por tipo de loja
Fonte: Nielsen Food 2011
Por outro lado e de acordo com informações recolhidas em estudos
TGI/Marktest relativos a 2012, os consumidores portugueses dedicam dias da
semana específicos para efetuarem as suas compras alimentares, destacando-se,
indubitavelmente, o Sábado (50,3 por cento dos consumidores inquiridos).
Estas informações revelaram-se fundamentais para a definição espacial e
temporal da recolha de dados primários por questionário.
Tendo em conta as caraterísticas do inquérito selecionamos a cadeia de
supermercados Supercor que nos autorizou a respetiva recolha de dados nas suas
lojas situadas nas cidades de Braga, Coimbra e Porto.
A Supercor é a insígnia do El Corte Inglés para a área de retalho alimentar.
Trata-se de uma cadeia de supermercados de proximidade capaz de satisfazer as
necessidades do cabaz de compras básico com um amplo sortido, composto por mais
de 20.000 referências.
Catarina Domingos
57
A Supercor pratica princípios diferenciadores que orientam todo o grupo,
adaptando sempre que necessário à sua realidade: atenção ao cliente, qualidade do
serviço e disponibilização de uma oferta sortida, variada e de elevada qualidade.
Por outro lado, a dimensão e organização destas superfícies são, igualmente,
elementos diferenciadores. Através da forma de apresentação ao público oferecem
conforto e comodidade de acesso e circulação aos seus clientes.
Finalmente, apostam na especialização em produtos perecíveis de elevada
qualidade destacando não apenas a variedade mas, também, a apresentação cuidada.
Resultados de um inquérito realizado pela Deco (Defesa do Consumidor) e
revelados no passado mês de Abril apresentam a Supercor como sendo a cadeia de
supermercados que mais satisfaz os seus clientes.
Os inquiridos relevam a qualidade dos seus produtos em geral e dos frescos
em particular, como é o caso do pescado.
3.5. Instrumento de recolha de dados quantitativos: inquérito
Os métodos quantitativos caraterizam-se pela utilização da quantificação
tanto na recolha da informação como no seu respetivo tratamento, através de
técnicas estatísticas.
No presente estudo utilizamos um inquérito por questionário5 a partir dos
instrumentos desenvolvidos por Mesnildrey et al. (2010) tendo como objetivo, numa
perspetiva quantitativa, analisar diversas dimensões, das quais a primeira será a
caraterização sociodemográfica dos inquiridos através de informação sobre: idade,
género, composição do agregado familiar, existência ou não de filhos, nível de
escolaridade e situação profissional.
5 Ver anexo n.º 2.
Catarina Domingos
58
De seguida, procuraremos caraterizar o consumo de pescado fresco ao aferir
a frequência de consumo, a situação que conduz à compra e a espécie mais consumida
pelos inquiridos (Mesnildrey et al., 2010).
O terceiro grupo, permitirá avaliar os atributos que caraterizam o pescado
ideal, para os consumidores inquiridos, através da identificação de níveis para um
conjunto de atributos, fornecidos a priori (Mesnildrey et al., 2010).
Com uma lista de sete atributos com dois níveis, perfazendo um total de 14
níveis, os inquiridos irão construir uma ordem de preferência (Mesnildrey et al.,
2010) que permitirá, posteriormente, construir o perfil do pescado fresco ideal.
Os atributos aqui utilizados e tratados através do design ortogonal foram os
extraídos do estudo de Mesnildrey et al. (2010) e são os que se encontram no quadro
n.º 10.
O design ortogonal permite avaliar, cada fator, de forma independente dos
restantes. No planeamento fatorial de dois níveis, como sucede na presente
investigação, esta avaliação é obtida através da correspondência de cada nível de cada
fator ou atributo com um número semelhante de cada nível dos restantes fatores
(Kauppinen-Räisänen, Owusu, & Bamfo, 2012).
Quadro 10. Lista de atributos e níveis
Atributos Níveis
Origem Selvagem Aquicultura
Teor de gordura Sem teor de gordura Com teor de gordura
Conservação Pescado fresco Pescado congelado
Teor de Ómega 3 Elevado teor de ómega 3 Baixo teor de ómega 3
Espinha Sem espinha Com espinha
Abastecimento Pesca sustentável Pesca industrial
Conveniência Pescado inteiro Pescado filetado
Fonte: Mesnildrey et al., 2010
Catarina Domingos
59
Finalmente, com o intuito de analisar os motivos e valores envolvidos no
processo de decisão de compra, os inquiridos deverão ordenar atributos,
consequências, valores instrumentos e valores finais, igualmente, definidos
previamente por Mesnildrey et al. (2010), construindo desta forma o mapa cognitivo
de tomada de decisão.
O mapa cognitivo é uma ferramenta que permite estruturar problemas de
tomada de decisão organizando e representando o conhecimento. Este mapa
possibilita a explicação dos objetivos estratégicos e a identificação dos valores
fundamentais para os tomadores de decisão.
Baseada na teoria da construção da personalidade de Kelly (1955) (cit in Rieg
& Andreato, 2006) a representação gráfica do mapa cognitivo reflete a forma como os
indivíduos pensam e raciocinam acerca das suas experiências.
Trata-se, então, de uma hierarquia de conceitos, relacionados por ligações de
influência entre conceitos, meios e fins, estruturando, analisando e atribuindo
significado ao problema levantado.
Para a construção do nosso mapa cognitivo, recorrendo ao inquérito por
questionário, utilizaremos os resultados do estudo desenvolvido por Mesnildrey et al.
(2010).
Através da problemática da ordenação numérica (Roy, 1981; 1996 e Costa,
1995) (cit in Rieg & Andreato, 2006) os inquiridos irão estruturar o seu processo de
decisão relativamente à compra de pescado fresco, utilizando uma escala de valores
na qual o valor 1 corresponde ao mais importante e assim consecutivamente.
Na primeira coluna encontrarão uma lista de nove atributos; de seguida,
deverão ordenar as sete consequências dos atributos valorizados, seguidos dos
valores instrumentos (designados por comportamentos face à compra) e, finalmente,
dos valores terminais (designados por objetivos) (Mesnildrey et al., 2010).
Catarina Domingos
60
Quadro 11. Motivos e valores no processo de decisão de compra de pescado fresco
Atributos Consequências Comportamento Objetivo
Frescura Sabor de qualidade Racional Segurança
Espécie Garantia de
qualidade Responsável Prazer
Preço
Produto saudável Honesto Satisfação
Local de captura Boa relação
qualidade/preço Limpo Liberdade
Sabor
Fácil de preparar Independente Razoabilidade
Dia de captura Poupança de tempo Respeitoso Cuidar de quem
gostamos
Aparência
Origem Útil Escolha sustentável
Filetado
Sem espinhas
A recolha de dados permitirá, ainda, cumprir a análise das atitudes relativas à
decisão de compra, através do modelo da Dissonância Cognitiva.
Como referimos, anteriormente, o modelo da Dissonância Cognitiva é aquele
que apresenta maior êxito no que respeita a previsões acerca da exposição seletiva da
informação relevante para as atitudes, necessitamos analisar hábitos, crenças e
comportamentos sobre o pescado e que conduzirão à identificação de elementos
contraditórios.
Assim, combinando os dados relativos à frequência de consumo, com a
caraterização do pescado ideal dos indivíduos e o atributo “local de captura”
valorizado na decisão de compra confirmaremos ou não a existência de atitudes
Catarina Domingos
61
dissonantes, relativamente à preferência pela origem selvagem e a compra efetiva de
pescado fresco de aquicultura.
A recolha de dados para a presente investigação será efetuada através da
aplicação de um inquérito realizado, como descrito anteriormente, nas peixarias das
lojas Supercor das cidades de Braga, Coimbra e Porto.
Os inquiridos serão os clientes das peixarias destas lojas que só foram
abordados após saírem do espaço circundante ou por terem efetuado a sua compra
ou por terem desistido dela.
O inquérito por questionário foi aplicado no sábado, dia 31 de maio de 2014,
entre as 9 e as 13 horas, em todas as lojas em simultâneo. A data e horário
selecionados correspondem, de acordo com informações das lojas, aos de maior
afluência de consumidores.
Catarina Domingos
62
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Após a recolha e tratamento da informação através da aplicação combinado
de metodologias qualitativas e quantitativas apresentaremos, inicialmente, os
resultados individualmente, procurando, no final, fornecer uma análise quali-
quantitativa.
4.1. Análise de conteúdo
O tratamento dos dados extraídos dos Focus Group conduziram à construção
do quadro que se segue, que regista as categorias e as sub-categorias definidas a
priori e a posteriori identificando, para cada uma, unidades de sentido que reflitam a
opinião dos participantes (identificados por uma sigla alfanumérica). Para cada
categoria e sub-categoria registamos, igualmente, o número de referências que
permite aferir a respetiva importância.
Catarina Domingos
63
Quadro 12. Procedimentos de análise de conteúdo
Categoria Sub-categoria Unidade de sentido
Importância do
pescado fresco nas
refeições da família
Hábitos
(N.º de
ocorrências: 21)
“…mas as influências da mãe prevaleceram.” (P19)
“…se calhar é um bocado aquilo com que nós somos
criados de que aquilo que é fresco é que é bom. (P10)
“…em minha casa o que pesa mais é os gostos” (P19)
“…importância tem. Eu tenho 2 filhos pequenos e é
fundamental” (P9)
“…procuramos fazer no mínimo 2 a 3 refeições por semana
(P11)
“…normalmente como peixe em casa dos meus pais…” (P8)
“…a minha dieta e a dieta da minha família sempre passou
muito por peixe fresco” (P6)
“Gosto muito. E fiz gostar os meus filhos e o meu marido e
até mesmo o meu neto que gosta muito e eu faço e gosto
muito e é maravilhoso” (P16)
“…se calhar mais pela educação que tive: o caseiro é que é
bom, o fresco é que é bom” (P10)
“Lá está, se calhar também por uma questão cultural. A
minha família sempre me habituou a comer peixe.” (P14)
O pescado fresco é
o preferido
(N.º de
ocorrências: 22)
“Fresco, conserva, congelado, salgado e seco.” (P17)
“Para mim, fresco, congelado, conserva, salgado e seco.”
(P11)
“Fresco, conserva, salgado, congelado e seco”. (P6)
“Fresco, congelado, salgado, conserva e seco” (P22)
Caraterísticas
organoléticas
Sabor
(N.º de
ocorrências: 22)
“...peixe fresco é mais saboroso” (P19)
“Estou habituado ao fresco e já temos aquele paladar do
peixe” (P7)
“A minha escolha alimentar seja no que for é pelo gosto”
(P12)
“…o principal é o paladar” (P11)
Cheiro
(N.º de
ocorrências: 2)
“…sou muito sensível ao cheiro” (P3)
“É que eu toco naquela saca e as minhas mãos vão ficar a
cheirar a peixe” (P2)
Catarina Domingos
64
Textura
(N.º de
ocorrências: 5)
“O olhar para o peixe, ver a textura, a pele, pronto. Acho
que é muito mais motivador comprar peixe fresco que é
congelado.” (P15)
“…pelo sabor, pela consistência” (P5)
Aspeto
(N.º de
ocorrências: 13)
“…prefiro o peixe fresco não só pelo aspeto dele e a nível
de aspeto isso também pesa um bocado no olho” (P20)
“…olhava para ele e "olha que lindo que ele é" e vou
comprar” (P7)
“…para mim é a cor. Quando é branquinho. Ou branquinho
ou vermelhinho no caso do salmão. Para mim a cor, às
vezes faz a diferença.” (P8)
“…tem que ter uma aparência que me leve a pensar que é
fresco”(P6)
Espinhas
(N.º de
ocorrências: 5)
“Os outros dois ⦋filhos⦌ não gostam muito mas… Por causa
das espinhas. Se for assim os filetes… Já sem espinhas…Já é
mais fácil… Mas vão comendo” (P13)
“…eu também gosto de sardinha mas não como sardinha.
Lá está, tem muita espinha!” (P4)
“…não quero logo à partida pela questão das espinhas”
(P12)
“…que me leva a não comprar ou a não comer peixe são
essas coisas: é ter muita espinha e ser muito gorduroso”
(P9)
Saúde
(N.º de
ocorrências: 22)
“O peixe fresco reúne todas as condições para que
possamos ter uma alimentação rica em vários ómegas e
não sei que mais.” (P18)
“…é importante para uma alimentação saudável.” (P8)
“…por uma questão de saúde” (P7)
Preço
Preço
(N.º de
ocorrências: 20)
“Até se costumava dizer antigamente que o peixe era o
prato dos pobres e agora é precisamente o contrário” (P8)
“…não há dúvidas que a razão principal será o preço”
(P19)
“Não sei é o peixe que está demasiado caro ou se somos
nós que ganhamos muito pouco.” (P22)
“…peixe ⦋fresco⦌ efetivamente é caro e o peixe bom é caro.
(P1)
“O peixe fresco normalmente é muito mais caro que o
outro” (P20)
Catarina Domingos
65
Promoções
(N.º de
ocorrências: 3)
“Olho muito para o preço. E normalmente salmão estou
numa fase em que só compro quando diz "promoção".”
(P9)
Relação com o
vendedor ou ponto
de venda
Confiança
(N.º de
ocorrências: 10)
“…estamos a consumir peixe de alta qualidade comprando
nas grandes superfícies porque há um rigor muito grande
na congelação e no transporte” (P18)
“compra-se muito com base na relação de confiança que
existe com as peixeiras do mercado” (P12)
“É fresco? É! Pronto! E eu confio, portanto.” (P4)
"…Não tenho e as minhas colegas também não têm que
sirva." Que sirva, porque ter têm mas não serve. Essa
proximidade que existe entre quem compra e quem vende
não há dúvida nenhuma que é realmente uma mais-valia”
(P18)
Desconfiança
(N.º de
ocorrências: 4)
“Hoje em dia também suspeita-se se o peixe fresco ou não,
não é?” (P9)
“…é porque eles já têm técnicas para disfarçar as coisas. E
depois põem o melhor peixe, fresquinho em cima mas o
que pegam para nós nunca é o de cima.” (P9)
“O problema no meu caso, especificamente, é meu, é a
desconfiança. Porque eu sei o tipo de luzes que eles usam
para colocar uma apresentação mais bonita do que outra,
o facto de terem lá os jatozinhos de água... portanto eu
acho que é a minha própria desconfiança” (P6)
Desconhecimento
para avaliar
(N.º de
ocorrências: 6)
“…eu peço ajuda sempre” (P19)
“…eu acho que o problema do peixe, em grande parte, é o
desconhecimento e depois eu compro um bocado o que me
vendem.” (P9)
“…preferia sempre pedir a opinião da peixeira mesmo
correndo o risco de poder ser enganado.“ (P12)
Local de compra
Supermercado
(N.º de
ocorrências: 16)
Peixaria
(N.º de
ocorrências: 5)
Peixeira
(N.º de
ocorrências: 6)
“…a minha mulher compra muitas vezes na peixaria” (P18)
“…hoje há mais de supermercado do que de peixaria.” (21)
“…eu compro no Continente e Intermarché.” (P22)
“A minha sogra tem 2 peixeiras que vão cedinho comprar e
trazem-lhe mesmo o peixe fresquinho” (P7)
“Mas essencialmente é nos hipermercados também”. (P9)
“…costumo comprar o peixe no Pingo Doce.” (P5)
Catarina Domingos
66
Exposição do
pescado fresco
(N.º de
ocorrências: 4)
“…olhando para uma banca de peixe se a vir mal
arrumada, a mistura de peixe um com o outro já fico a
olhar para aquilo e não se sei vou ou não vou” (P21)
“…se chegar a um sítio em que o peixe está lá todo
amontoado de qualquer maneira, pode ser muito fresco,
muito bom e se calhar eu não gosto” (P10)
…pode ser todo fresco, eu posso ver perfeitamente que ele
é fresco mas vou estar sempre de pé atrás com todas as
artimanhas que são feitas em alguns pontos” (P6)
“…em relação às decorações não gosto nada de decorações,
que peguem nos peixes e façam ornamentos. Ou que
acrescentem coisas estranhas aos peixes. Obviamente que
acho que o peixe deve ser organizado e gosto das bancas
organizadas e ver o peixe assim bem exposto mas não
gosto quando” (P5)
“…quanto mais natural melhor. (P4)
“As condições demasiado artificiais em que se apresenta o
pescado fresco…” (P15)
Origem
Selvagem /
Aquicultura
(N.º de
ocorrências: 4)
“Tenho sempre algumas dúvidas, nem todos os
supermercados fazem isso, que é, quando estamos a
comprar peixe fresco, não dizem se é de mar ou de rio, se é
de viveiro e pronto, entro muitas vezes nas discussões:
peixe de mar ou peixe de rio ou de viveiro, qual é que é
melhor” (P5)
“… mais de ligação à natureza. Por ser um alimento que, à
partida é um alimento fresco, não processado”. (P5)
“E agora demove-me comprar porque sei que vem de
aquacultura. E vem cheio de hormonas, não é? E são
alimentados à força” (P14)
“O ideal era o peixe contar uma história” (P2)
Utilização
Variedade de
receitas
(N.º de
ocorrências: 4)
“…fácil de variar a alimentação em peixe” (P21)
Variedade de
espécies comidas
(N.º de
ocorrências: 5)
Não como muita variedade (…) não faz sentido comprar
um peixe que eu não conheço, que não sei com o cozinhar”
(P9)
Catarina Domingos
67
Sazonalidade
Existe
(N.º de
ocorrências: 14)
“… calhar existe no verão mais tipos de peixe ou nós vamos
mais para isso” (P9)
“…o peixe fresco acaba por ser mais consumido no Verão”
(P2)
Não existe
(N.º de
ocorrências: 7)
“No verão come-se mais sardinhas. É época dela. É boa
para assar. De resto é a mesma coisa.” (P16)
“Eu não, eu consumo peixe durante o ano inteiro.” (P8)
Conveniência
(N.º de
ocorrências: 7)
“Acho que o problema é mesmo ter vida e tempo para ir
buscá-lo” (P9)
“Peixe fresco...às vezes recorremos um bocadinho ao peixe
que já vem preparado.” (P11)
“…tanto um como outro trabalham e não têm durante o dia
uma hora disponível para se deslocarem a um sítio que
tenha peixe fresco.” (P10)
“Não consumo muito regularmente e acho que é apenas
pelo tipo de vida que eu tenho.” (P5)
“Não tenho carro por isso às vezes torna-se difícil andar a
transportar peixe fresco de um lado para o outro.” (P3)
“…e a questão do aproveitamento do peixe. Por exemplo
nós compramos meio quilo de carne e possivelmente
conseguimos até fazer duas refeições diferentes mas
compramos um peixe e não...” (P1)
A análise de conteúdo permitiu identificar aspetos relacionados com cada
categoria que apresentaremos de seguida:
4.1.1. Importância do pescado fresco nas refeições da família
Existe unanimidade no reconhecimento da importância do pescado fresco na
dieta alimentar da família, embora se verifiquem diferenças significativas no que
respeita à frequência de consumo.
Denota-se uma maior preocupação na integração do pescado fresco na dieta
alimentar dos participantes mais velhos (mais de 46 anos) enquanto os mais novos
(entre 25 e 45 anos) referem que o consumo deste alimento era um hábito em casa
dos pais.
Catarina Domingos
68
Estes resultados validam a proposição 1: O pescado fresco é importante na
dieta alimentar dos portugueses.
4.1.2. O pescado fresco é o preferido
Todos os participantes, sem exceção, quando lhes foi pedido que ordenassem
as diferentes formas de apresentação do pescado (fresco, congelado, salgado,
conserva e seco) indicaram o fresco como sendo a sua primeira escolha.
Estes resultados validam a proposição 2: os portugueses preferem o
pescado fresco a outras categorias de apresentação do produto.
4.1.3. Caraterísticas organoléticas
O sabor é, inequivocamente, a caraterística organolética mais realçada, com
todos os participantes a referirem que a preferência pelo pescado fresco tem origem
neste fator.
Nesta categoria segue-se a relevância dada ao aspeto, fundamental no
momento da aquisição e, depois, a textura.
Alguns participantes mais novos referem a espinha como um elemento
inibidor do consumo de determinadas espécies. Por último, surgem referências
pontuais ao cheiro do pescado fresco que parecem limitar a compra mas, contudo,
não será um elemento determinante na escolha.
Estes resultados validam a proposição 3: Os portugueses compram pescado
fresco pela saúde e sabor.
4.1.4. Saúde
Todos os participantes reconhecem que o pescado fresco apresenta
caraterísticas favoráveis a um bom estado de saúde, elegendo-o como uma das
melhores fonte de nutrientes para quem procura manter uma alimentação
equilibrada e saudável.
Catarina Domingos
69
Estes resultados validam a proposição 3: Os portugueses compram pescado
fresco pela saúde e sabor.
4.1.5. Preço
A maioria dos participantes considera o preço do pescado fresco muito
elevado quando comparado, por exemplo, com o congelado. Referem que os
intermediários inflacionam demasiado o preço e que isso poderá revelar-se como
elemento decisor (inibidor) da compra.
Estes resultados validam a proposição 6: O preço do pescado fresco é
percecionado como sendo a principal barreira ao seu consumo.
4.1.6. Relação com o vendedor ou ponto de venda
Esta categoria assume duas perspetivas opostas: por um lado, os
participantes mais novos referem que o local onde efetuam a sua compra,
nomeadamente, as grandes superfícies não lhes dá total garantia de confiança pois
acreditam que recorrem a inúmeros artifícios para iludir os consumidores em relação
à frescura do pescado; e por outro lado, os participantes mais velhos além de
reconhecerem elevada qualidade no pescado que adquirem naquelas lojas, acreditam
na importância da relação que estabelecem com o vendedor ou com o ponto de venda
onde são clientes fiéis, independentemente da dimensão da loja.
Estes resultados validam a proposição 4: Os consumidores portugueses não
compram pescado fresco pela falta de confiança, pela dificuldade em avaliar a
qualidade e pelo cheiro no armazenamento.
4.1.7. Local de compra
O principal local de compra são as grandes superfícies (supermercados ou
hipermercados). No entanto, alguns dos participantes que compram nestes locais
também o fazem noutros canais como será o caso das peixarias ou diretamente às
peixeiras no mercado ou na praia.
Catarina Domingos
70
Estes resultados validam a proposição 8: Os consumidores portugueses
adquirem o pescado fresco nas grandes superfícies do retalho alimentar.
4.1.8. Exposição do pescado fresco
A qualidade, higiene, organização e naturalidade da exposição do pescado
fresco no ponto de venda é referido como sendo um fator determinante na decisão de
compra do pescado fresco.
Os participantes aceitam que existam diferenças em relação aos diversos
pontos de venda atribuindo, a cada um, níveis de organização.
Contudo, a boa organização e inexistência de artificialidades parecem ser os
elementos transversalmente valorizados.
4.1.9. Origem
Para os participantes é importante que lhes seja fornecida informação acerca
da origem do pescado fresco não só em termos de nacionalidade (saber se é pescado
na nossa costa) mas, também, se é selvagem ou de aquicultura.
Demonstram esta última preocupação por considerarem que o pescado de
origem selvagem é de qualidade superior.
Referem que se o pescado, no local de compra, “contasse a sua história” seria
um elemento favorecedor da compra.
Estes resultados validam a proposição 7: Os consumidores querem conhecer
a origem do pescado fresco.
4.1.10. Utilização
Em função da idade, as opiniões dividem-se em relação à variedade culinária
que o pescado fresco proporciona. Para os mais novos (25 aos 45 anos) é muito difícil
variar receitas e, pelo desconhecimento que reconhecem ter para avaliar a qualidade
do pescado, compram apenas as espécies que lhes dão segurança tanto no momento
da compra como no resultado final do cozinhado.
Catarina Domingos
71
Para os mais velhos, este fator não representa qualquer problema, antes pelo
contrário: consomem espécies muito variadas e afirmam ser muito simples encontrar
formas de cozinhar o pescado que sejam do seu agrado.
4.1.11. Sazonalidade
A sazonalidade é reconhecida pela maioria dos participantes que afirma
consumir mais pescado fresco no Verão. Esta sazonalidade prende-se com a própria
oferta em termos de espécies e com o facto de ser mais atrativo, na época de Verão,
assar o pescado no exterior.
Estes resultados validam a proposição 5: Existe sazonalidade no consumo de
pescado fresco.
4.1.12. Conveniência
Para os consumidores mais jovens (homens e mulheres entre os 25 e os 40
anos) o estilo de vida atual é um fator inibidor para o consumo de pescado fresco, ou
seja, não conseguem durante o dia comprá-lo e conservá-lo para o consumirem na
única refeição que fazem em casa: o jantar. Isso leva-os a consumir menos pescado no
geral, optando pelo pescado congelado quando querem uma refeição deste produto.
Referem, igualmente, o aproveitamento que conseguem com a carne e que
não é possível com o pescado.
4.2. Análise de resultados do inquérito por questionário
Depois da recolha de dados, da sua preparação e processamento no
programa SPSS (Statistical Package for the Social Science – versão 22) realizamos, em
primeiro lugar, a caraterização da amostra com recurso a análises descritivas, de
frequência e a medidas de tendência central (média).
Catarina Domingos
72
4.2.1. Caraterização da amostra
A amostra do estudo efetuado nas peixarias das lojas Supercor nas cidades de
Braga, Coimbra e Porto foi constituída por 57 indivíduos com uma média de idades de
46,44 anos (idade mínima de 27 anos e máxima de 77 anos).
Do total de inquiridos 64,9% eram mulheres (37 indivíduos) e 35,1%,
homens (20 indivíduos).
Gráfico 2. Distribuição por género
Feminino65%
Masculino35%
Feminino Masculino
Relativamente à composição do agregado familiar, a maioria dos inquiridos
(37%) refere que o seu agregado é composto por 4 pessoas; com a mesma
distribuição encontramos os lares constituídos por 2 e 3 pessoas (23%); apenas, 12%
dos inquiridos afirma viver sozinho e 5% refere pertencer a um agregado composto
por 5 pessoas.
Catarina Domingos
73
Gráfico 3. Composição do agregado familiar
A composição média do agregado familiar é de 3 pessoas; a média de filhos
por agregado é de 1,37.
Quadro 13. Estatística descritiva: número de filhos
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Nº Filhos 57 0 4 1,37 1,080
N válido (de lista) 57
A grande maioria dos inquiridos possui habilitações literárias de nível
superior (80,7%); entre o nível básico e secundário as diferenças são pouco
significativas (9% e 10%, respetivamente).
Catarina Domingos
74
Gráfico 4. Habilitações literárias
9%10%
81%
Básico Secundário Superior
No respeita à situação profissional atual, a grande maioria dos inquiridos
encontra-se empregado (77,2%); 8,8% dos inquiridos encontram-se em situação de
reforma; a restante distribuição cabe aos desempregados e domésticas (5,3% para
cada um) e estudantes (3,5%).
Gráfico 5. Situação profissional atual
5%
77%
5%4%
9%
Ativo desempregado Ativo empregado Doméstica
Estudante Reformado
Em relação aos dados de consumo, 51% dos inquiridos afirmam consumir
pescado fresco “às vezes” enquanto 19% o faz frequentemente e 7%, muito
frequentemente. Pelo contrário, 23 % dos inquiridos consome pescado fresco
raramente.
Catarina Domingos
75
Gráfico 6. Frequência de consumo de pescado fresco
De entre as espécies mais consumidos destacaremos as 5 que acolhem mais
adeptos, como se poderá verificar no gráfico n.º 7: pescada (28,1%), robalo (17,5%),
salmão (12,3%), dourada (7%) e linguado (5,3%).
Gráfico 7. Espécies mais consumidas
Finalmente, 93% dos inquiridos compra pescado fresco para uso corrente,
enquanto 7% o compra para servir em eventos familiares ou sociais.
Catarina Domingos
76
Gráfico 8. Destino da compra de pescado fresco
4.2.2. Comparação entre amostras independentes
Para comparar as amostras realçadas no estudo de Mesnildrey et al. (2010) –
género e filhos – e a variável (frequência de consumo) recorremos ao teste
paramétrico T para amostras independentes.
O teste T para amostras não relacionadas compara as médias de uma variável
para dois grupos de casos independentes (Pereira & Patrício, 2013)
No primeiro caso comparamos a amostra “Filhos” com a variável de
“frequência de consumo” transformada numa escala em que “1” correspondia a
“raramente”, “2” a “às vezes, “3” a “frequentemente” e “4” a “muito frequentemente”.
Catarina Domingos
77
Quadro 14. Teste T para amostras independentes: Filhos/Frequência de consumo
Inferior Superior
Variâncias
iguais
assumidas
,230 ,634 -,230 40 ,819 -,037 ,161 -,363 ,289
Variâncias
iguais não
assumidas
-,231 23,323 ,819 -,037 ,161 -,369 ,295
df
Sig. (2
extremida
des)
Diferença
média
Erro
padrão de
diferença
95% Intervalo de
Confiança da
Diferença
Filhos
Teste de Levene
para igualdade de
variâncias
teste-t para Igualdade de Médias
Z Sig. t
Como se pode constatar não há diferenças de médias estatisticamente
significativas entre os respondentes com filhos e sem filhos.
Num segundo caso, comparamos o “género” com a “frequência de consumo”
tendo obtido os resultados para o Teste T que a seguir apresentamos:
Quadro 15. Teste T para amostras independentes: Sexo/Frequência de consumo
Inferior Superior
Variâncias
iguais
assumidas
,697 ,409 -,462 40 ,647 -,074 ,161 -,399 ,251
Variâncias
iguais não
assumidas
-,449 21,706 ,658 -,074 ,165 -,418 ,269
Erro
padrão de
diferença
95% Intervalo de
Confiança da
Diferença
Sexo
Teste de Levene
para igualdade de
variâncias
teste-t para Igualdade de Médias
Z Sig. t df
Sig. (2
extremida
des)
Diferença
média
Como se pode verificar não existem diferenças de médias estatisticamente
significativas entre os respondentes do sexo masculino e feminino.
Catarina Domingos
78
4.2.3. Avaliação dos atributos do pescado ideal
Meslnildrey et al. (2010) identificaram que critérios como a preferência por
pescado fresco e a escolha de espécies com baixo teor de gordura possuem
ponderação diferente tratando-se de homens ou mulheres.
Assim, recorrendo ao teste não paramétrico Qui Quadrado comparamos
proporções, avaliando as associações que possam existir entre variáveis duas
qualitativas ( Pereira & Patrício, 2013).
Neste caso, relacionamos a variável “sexo” com os atributos que caraterizam
o pescado ideal e os resultados encontrados são os seguintes:
Quadro 16. Teste não paramétrico - Qui Quadrado
Atributo Qui Quadrado de Pearson (Sig.)
Origem 0,459
Teor de gordura 0,992
Conservação O atributo é uma constante
Teor de ómega 3 0,028
Espinha 0,968
Abastecimento 0,948
Conveniência 0,955
Na maioria dos casos o nível de significância é superior a 0,05 indicando que
não existem diferenças entre homens e mulheres na escolha dos atributos que
caraterizam o pescado ideal, sendo a única exceção o teor de ómega 3.
Mesnildrey et al. (2010) recorreram à Conjoint Analysis para identificar os
atributos que os consumidores valorizam na descrição do seu pescado ideal. No
entanto, uma vez que, na presente investigação procuramos validar as suas
conclusões, utilizamos apenas dois níveis para cada atributo o que, através do
Catarina Domingos
79
procedimento estatístico designado por design ortogonal, permitiu traçar diferentes
perfis de pescados ideais.
A construção do plano ortogonal no SPSS identificou 8 cartões de plano a
partir das respostas dos 55 inquiridos6.
Estes 8 cartões de plano correspondem a diferentes perfis de pescados ideais
que apresentaremos de seguida, por ordem decrescente de importância:
Quadro 17. Perfis de pescado ideal
Perfil OrigemTeor de
gorduraConservação
Teor de ómega
3Espinha Abastecimento Conveniência
N.º
respostas
Perfil 1 SelvagemSem teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Com espinha
Pesca
sustentávelPescado inteiro 12
Perfil 2 SelvagemCom teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Com espinha
Pesca
sustentávelPescado inteiro 12
Perfil 3 SelvagemSem teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Sem espinha
Pesca
sustentávelPescado inteiro 10
Perfil 4 SelvagemCom teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Com espinha
Pesca
sustentável
Pescado
filetado6
Perfil 5 SelvagemSem teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Sem espinha
Pesca
sustentável
Pescado
filetado6
Perfil 6 SelvagemSem teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Com espinha
Pesca
sustentável
Pescado
filetado3
Perfil 7 SelvagemCom teor de
gordura
Pescado
fresco
Elevado ómega
3Sem espinha
Pesca
sustentávelPescado inteiro 3
Perfil 8 SelvagemSem teor de
gordura
Pescado
frescoBaixo ómega 3 Com espinha
Pesca
sustentávelPescado inteiro 2
Atributos
Como se pode verificar, o nível “pescado fresco” para o atributo
“conservação” é, como tínhamos já verificado na análise Qui Quadrado de Pearson, é
uma constante.
Nos perfis identificados existem outros níveis constantes: para a “origem” o
nível “selvagem” e para o “abastecimento”, a “pesca sustentável”.
Finalmente, verifica-se, também, que o “elevado ómega 3” é um fator de
caraterização importante, surgindo em 7 perfis.
6 Neste caso, a amostra reduziu para 55 indivíduos por existirem 2 indivíduos classificados como ausentes.
Catarina Domingos
80
4.2.4. Análise das caraterísticas do pescado fresco e determinação da sua
importância na decisão de compra
Através do diagrama em caixa com resumo de variáveis separadas obtivemos
a estrutura do processo de decisão dos inquiridos, para uma amostra de 55
indivíduos.
Para o conjunto de atributos tidos em consideração na decisão de compra de
pescado fresco, os inquiridos apresentam o seguinte comportamento:
Gráfico 9. Ordenação dos atributos valorizados na compra de pescado fresco
Por ordem decrescente de importância (em que “1” corresponde ao mais
importante e assim consecutivamente), os atributos apresentam a seguinte
distribuição: frescura, sabor, preço, dia de captura, espécie, aparência, local de
captura, filetado e sem espinhas.
Catarina Domingos
81
Ao avaliarem os atributos anteriores, os inquiridos esperam obter desta
análise, determinadas consequências, expressas no gráfico seguinte:
Gráfico 10. Consequências da avaliação dos atributos na compra de pescado fresco
Assim, uma vez mais, por ordem decrescente de importância (em que “1”
corresponde ao mais importante e assim consecutivamente), os inquiridos
identificaram as seguintes consequências: garantia de qualidade, produto saudável,
sabor de qualidade, boa relação qualidade/preço, origem, fácil de preparar e,
finalmente, a poupança de tempo.
De seguida, os inquiridos avaliaram o seu comportamento, ordenando-o
como se verifica no gráfico n.º 11:
Catarina Domingos
82
Gráfico 11. Comportamento da decisão de compra de pescado fresco
Por ordem decrescente (em que “1” corresponde ao mais importante e assim
consecutivamente), os inquiridos assumiram ter um comportamento: responsável,
racional, honesto, limpo, respeitoso, útil e, por último, independente.
Finalmente, a estruturação do processo de tomada de decisão culmina com a
ordenação dos objetivos, expressos pelos inquiridos, conforme demonstrado no
gráfico seguinte:
Catarina Domingos
83
Gráfico 12. Objetivos da decisão de compra de pescado fresco
Os inquiridos ordenaram, de forma decrescente (em que “1” corresponde ao
mais importante e assim consecutivamente), os seus objetivos como sendo:
satisfação, cuidar de quem gostamos, segurança, prazer, escolha sustentável,
razoabilidade e liberdade.
No quadro seguinte, reordenamos todo o processo de decisão de compra de
pescado fresco de acordo com os resultados obtidos, estruturando, assim, o mapa
cognitivo relativo ao fenómeno em estudo.
Catarina Domingos
84
Quadro 18. Resultado do mapeamento cognitivo da decisão de compra de pescado fresco
Atributos Consequências Comportamento Objetivo
Frescura Garantia de qualidade Responsável Satisfação
Sabor Produto saudável Racional Cuidar de quem
gostamos
Preço Sabor de qualidade Honesto Segurança
Dia de captura Boa relação
qualidade/preço
Limpo Prazer
Espécie Origem Respeitoso Escolha sustentável
Aparência Fácil de preparar Útil Razoabilidade
Local de captura Poupança de tempo Independente Liberdade
Filetado
Sem espinhas
4.2.5. Análise das atitudes com aplicação do Modelo de Dissonância Cognitiva
Para a determinação de atitudes dissonantes entre a preferência dos
inquiridos pela origem selvagem do pescado fresco e a sua compra efetiva
utilizaremos dados recolhidos através da definição dos perfis de pescado ideal e o
mapa cognitivo que reflete o processo de decisão de compra de pescado fresco.
Como referimos, anteriormente, todos os perfis de pescado ideal identificados
por recurso à técnica de design ortogonal integram como caraterística constante e
para o atributo origem, o facto de ser “selvagem”.
Por outro lado, no mapeamento cognitivo do processo de decisão de compra, o
“local de captura” que será o atributo equivalente à origem, surge em 7.º lugar entre 9
atributos possíveis.
Concluímos, então, que se verifica o fenómeno de Dissonância Cognitiva: os
consumidores demonstram uma preocupação elevada com a origem do pescado
Catarina Domingos
85
fresco mas ao descreverem o seu processo de compra, o “local de captura” (que se
equipara à origem) é um dos atributos menos relevado, surgindo na penúltima
posição.
4.2.6. Validação de hipóteses
Apresentados os resultados será necessário proceder à sua análise em função
das hipóteses formuladas, validando-as ou não.
Hipótese 1: Espera-se que os principais atributos identificados pelo consumidor,
para o consumo de pescado fresco, sejam a frescura, a espécie, o preço e a origem.
Através da estruturação do mapa cognitivo relativo à tomada de decisão sobre
a compra de pescado fresco, os principais atributos relevados pelos inquiridos são: a
frescura, o sabor, o preço e o dia de captura.
Ou seja, a hipótese formulada com base nos estudos de Mesnildrey et al.
(2010) não é validada uma vez que apresentavam como atributos fundamentais a
frescura, a espécie, o preço e o local de captura.
Hipótese 2: Espera-se que as caraterísticas ideais do pescado influenciadoras da
tomada de decisão sejam: a sua origem selvagem, ter pouca gordura, ser filetado,
não ter espinha e ser fresco.
A identificação de perfis através da técnica de design ortogonal permitiu
encontrar os níveis de cada atributo que mais valor apresentam para os inquiridos.
Assim, as caraterísticas ideias do pescado que se revelam fundamentais para
os inquiridos são: ser fresco, a sua origem selvagem, ter um reduzido teor de gordura,
estar inteiro e ter espinha.
Podemos, então, concluir que a hipótese colocada é validada em relação aos
atributos: frescura, origem selvagem e reduzido teor de gordura. No entanto, os
últimos atributos apresentados por Mesnildrey et al. (2010) - ser filetado e não ter
espinha – não validam por serem, precisamente, os opostos – estar inteiro e ter
espinha.
Catarina Domingos
86
Hipótese 3: Espera-se encontrar elementos cognitivos e comportamentais
contraditórios que permitam verificar o fenómeno da dissonância cognitiva,
nomeadamente, entre a preferência pela origem selvagem e a sua compra
efetiva.
Para a avaliação das atitudes aplicando o modelo da Dissonância Cognitiva
verificamos que, na identificação dos perfis de pescado ideal, a origem “selvagem” é
um nível constante em todos. Contudo, no mapeamento cognitivo do processo de
tomada de decisão, o atributo equivalente identificado como “local de captura” surge
no final das preferências dos inquiridos (7.º atributo em 9).
Esta análise permite-nos concluir que a hipótese se verifica, sendo por isso
validada.
4.3. Discussão de resultados
Sendo que a nossa investigação combinou métodos de investigação
qualitativos e quantitativos a discussão de resultados e a respetiva relação com a
revisão bibliográfica elaborada, apresentará a mesma dinâmica.
Através da análise qualitativa concluímos que o pescado fresco é importante
na dieta alimentar tendo uma forte influência por parte da estrutura familiar através
dos hábitos adquiridos, conforme defende também Verbeke (2004).
A família assume, assim, um papel determinante nas escolhas alimentares
(Santos & Celeste, 2013) indo de encontro ao que defende, também, o modelo
desenvolvimental relativamente à importância da aprendizagem e da experiência na
evolução das preferências alimentares na infância (Odgen, 2010).
“Lá está, se calhar também por uma questão cultural. A minha família sempre me habituou a
comer peixe.” (P14)
“(…) importância tem. Eu tenho 2 filhos pequenos e é fundamental.” (P9)
Catarina Domingos
87
O pescado fresco é, sem dúvida, a forma de apresentação preferida de todos
(Vanhonacker et al., 2013) por motivos que se prendem com o sabor e a saúde.
Brunsø (2007) além destes dois fatores incluiu, igualmente, o processamento e
conveniência.
“ O peixe fresco é mais saboroso.” (P19)
“ Destacar a saúde e o sabor.” (P22)
“Prefiro o peixe fresco não só pelo aspeto dele e a nível de aspeto isso tb pesa um bocado no
olho” (P20)
Os participantes reconhecem, no pescado fresco, um preço muito elevado que
será a principal barreira ao consumo (Mesnildrey et al., 2010). Identificam, ainda,
outras barreiras como a falta de confiança, a dificuldade em avaliar a qualidade e o
cheiro (Brunsø, 2007) não sendo, no entanto, inibidores absolutos da compra.
Vanhonacker (2013) também refere como barreira a dificuldade em avaliar a
qualidade do pescado que é muitas vezes ultrapassada pelos nossos inquiridos
recorrendo ou a pescado congelado ou à opinião do vendedor, sempre que lhe
reconheçam confiança suficiente.
“Até se costumava dizer antigamente que o peixe era o prato dos pobres e agora é
precisamente o contrário (P8)
“É que eu toco naquele saco e as minhas mãos vão ficar a cheirar a peixe.” (P2)
“ Eu compro peixe congelado por uma questão de segurança, do que estou a comprar (…)”
(P9)
“Obviamente que a minha opinião conta mas quem está a servir normalmente é sempre
correto, no sítio onde eu compro. Existe uma relação de confiança. “(P22)
“(…) eu acho que o problema do peixe, em grande parte, é o desconhecimento e depois eu
compro um bocado o que me vendem.” (P9)
Esta compra é, na maioria, das vezes efetuada nos supermercados
(Mesnildrey et al., 2010) por razões que se prendem, para a maioria dos jovens, com o
estilo de vida e a conveniência (Santos et al., 2012) nos horários, muito embora
tendam a desconfiar da qualidade por se tratar de um produto bastante sensível
(Mesnildrey et al., 2010). Por outro lado, os mais velhos reconhecem elevada
Catarina Domingos
88
qualidade nas grandes superfícies de retalho alimentar pelos padrões de controlo que
aplicam, sendo a segurança do produto um dos elementos elencados por Rinaldi
(2010) como um dos que mais interfere na escolha dos alimentos.
“O problema que se põe aqui é a falta de vida para andar na peixaria e comprar peixe
fresco(…)” (P9)
“À hora a que começo a trabalhar ainda não está nada aberto e à hora a que saio do trabalho
normalmente já não está por isso por aí às vezes é um bocadinho complicado.” (P6)
“(…) muito facilmente num supermercado nós somos enganados sobre a frescura do peixe.”
(P1)
“(…) estamos a consumir peixe de alta qualidade comprando nas grandes superfícies porque
há um rigor muito grande na congelação e no transporte.” (P18)
Em qualquer local de compra a exposição é importante, no entanto,
apresenta-se como fator determinante na grande distribuição a quem não são
permitidas falhas.
“ (…) olhando para uma banca de peixe se a vir mal arrumada, a mistura de peixe um com o
outro já fico a olhar para aquilo e não se sei vou ou não vou.” (P21)
“ (…) mercado ou à peixaria imagino que a higiene da banca que iria contar muito.” (P12)
“E no supermercado gosto de chegar lá e ver tudo organizado e bem cuidado.” (P5)
Alguns participantes demonstram preocupação em conhecer a origem do
pescado referindo que seria importante existir informação, um rótulo (Lucas et al.,
2006), sobre o local de captura, o tipo de produção e a data de captura (Mesnildrey et
al., 2010).
“O ideal era o peixe contar uma história” (P2)
Em relação à variedade culinária que o pescado proporciona que será o
equivalente ao que Brunsø (2007) descreveu como o fator conveniência, as opiniões
dividem-se em função das idades: se por um lado, os mais novos têm dificuldade em
encontrar variadas soluções de utilização transformando-se num fator condicionador
também da variedade de espécies, por outro, os mais velhos referem encontrar
Catarina Domingos
89
muitas soluções que satisfaçam não apenas os seus gostos mas as diversidade que
consideram fundamental a uma dieta alimentar equilibrada (Mesnildrey et al., 2010).
“ (…) fácil de variar a alimentação em peixe (…)”. (P21)
“Não faz sentido comprar um peixe que eu não conheço, que não sei com o cozinhar.”(P9)
Contudo, apesar da importância assumida, o consumo de pescado fresco
apresenta um comportamento sazonal com maior incidência na dieta de Verão. Esta
sazonalidade relaciona-se com fatores como a fácil digestão e ser um tipo de alimento
associado ao consumo na natureza e a momentos de convívio ao ar livre (Mesnildrey
et al., 2010).
“ (…) o peixe fresco acaba por ser mais consumido no Verão.” (P2)
“O peixe não puxa carroça” (P7)
No que respeita à análise quantitativa, ao contrário de Mesnildrey et al.
(2010) não identificamos relação entre o género e as escolhas dos inquiridos.
Na caraterização do pescado ideal, na presente investigação, identificamos 8
perfis de produto cujos atributos diferem, em parte, do estudo de Mesnildrey et al.
(2010). Alguns atributos comuns são: ser fresco e de origem selvagem. No entanto,
contrariamente ao estudo original, os nossos inquiridos preferem o pescado inteiro,
com espinha relevando sempre a pesca sustentável.
O mapeamento cognitivo que estrutura o processo de tomada de decisão de
Mesnildrey et al. (2010) contém algumas diferenças, sobretudo ao nível dos atributos
e dos valores terminais como ser poderá verificar no quadro seguinte, sendo que em
primeiro lugar se encontra o atributo identificado na presente investigação e por
baixo o que foi apurado no estudo original:
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Quadro 19.Comparação do resultado do mapeamento cognitivo da decisão de compra de pescado
fresco com o estudo de Mesnildrey et al. (2010)
Atributos Consequências Comportamento Objetivo
Frescura
Frescura
Garantia de qualidade
Sabor de qualidade
Responsável
Racional
Satisfação
Segurança
Sabor
Espécie
Produto saudável
Garantia de qualidade
Racional
Responsável
Cuidar de quem
gostamos
Prazer
Preço
Preço
Sabor de qualidade
Produto saudável
Honesto
Honesto
Segurança
Satisfação
Dia de captura
Local de captura
Boa relação
qualidade/preço
Boa relação
qualidade/preço
Limpo
Limpo
Prazer
Liberdade
Espécie
Sabor
Origem
Fácil de preparar
Respeitoso
Independente
Escolha sustentável
Razoabilidade
Aparência
Data de captura
Fácil de preparar
Poupança de tempo
Útil
Respeitoso
Razoabilidade
Cuidar de quem
gostamos
Local de captura
Aparência
Poupança de tempo
Origem
Independente
Útil
Liberdade
Escolha sustentável
Filetado
Filetado
Sem espinhas
Sem espinhas
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Finalmente, na avaliação das atitudes identificamos elementos dissonantes
no que respeita à escolha de pescado de origem selvagem e a valorização reduzida
que os inquiridos atribuem ao local de captura. Mesnildrey et al. (2010) chegaram a
conclusão semelhante ao identificarem uma discrepância entre a necessidade
identificada pelos consumidores que valoriza a origem selvagem mas que compra,
essencialmente salmão, uma espécie que é oriunda de aquicultura, em França, em
mais de 90% dos casos.
Catarina Domingos
92
CONCLUSÃO
O estudo do Comportamento do Consumidor apresenta-se essencial para a
definição de eficazes estratégias de Marketing. Trata-se de uma realidade complexa,
focada no indivíduo consumidor que combina o conhecimento de diversas áreas do
saber: a Psicologia, a Economia, a Sociologia, a Geografia e, no nosso caso, as Ciências
da Nutrição e a Medicina.
Para esta dissertação, que procura identificar os Comportamentos, Atitudes e
Motivações no Consumo de Pescado Fresco, utilizamos a estrutura defendida por
diversos investigadores, ou seja, dividimos a análise comportamental em fatores
explicativos internos e externos, tendo estudado, igualmente, de forma independente,
o processo de tomada de decisão.
Pelo lado dos fatores internos, a literatura revelou-nos que o processo
percetivo é a primeira forma de contacto com a realidade, através do qual o indivíduo
interpreta estímulos formando ideias sobre a qualidade dos produtos alimentares. No
caso do pescado, os consumidores percecionam o produto como um alimento
saudável, com preço elevado e inconveniente no que respeita à sua preparação.
Destes fatores, para os consumidores inquiridos, apenas os dois primeiros elementos
se confirmaram com firmeza.
A motivação para o consumo é despoletada pelo surgimento de necessidades
explicadas, originalmente, por Maslow (1954). Ainda hoje, a sua Hierarquia das
Necessidades é útil no Marketing para a determinação de prioridades.
Encontra-se, igualmente, uma forte relação entre envolvimento (fator
motivador) e a posterior tomada de decisão: os produtos alimentares podem
apresentar elevado envolvimento pelo risco percebido associado ser também ele
elevado.
As motivações inerentes ao comportamento de consumo de pescado
identificadas em alguns países europeus são: a saúde, o sabor, o processamento e a
conveniência.
Catarina Domingos
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Estes fatores encontram reflexo nas atitudes dos consumidores nas quais se
identificam, por outro lado, ações contraditórias (dissonância cognitiva) entre aquilo
em que o indivíduo acredita e o comportamento que apresenta.
Pelo lado dos fatores externos, os elementos fundamentais para a explicação
do comportamento são os culturais e sociais, com particular enfoque na família. Este
grupo determina o comportamento alimentar do indivíduo desde a sua infância,
prolongando-se pela vida adulta.
Estes conjuntos de fatores combinados definem as escolhas alimentares dos
consumidores, explicadas por modelos desenvolvimentais e cognitivistas.
No caso de Portugal, o pescado parece encontrar-se nas preferências do
consumidor, pelas elevadas taxas de consumo que apresenta. Contudo, o saldo da
balança alimentar revela que os nutrientes dali retirados se encontram muito aquém
das potencialidades.
Com a aplicação de metodologias de investigação qualitativas e quantitativas
procuramos identificar os Comportamentos, Atitudes e Motivações relativas ao
consumo de pescado fresco em indivíduos consumidores.
Para a pesquisa qualitativa optamos pela realização de quatro focus group
para recolher informações acerca das principais motivações e barreiras no consumo
de pescado fresco. Os focus group cumpriram critérios de seleção dos participantes
baseados na idade (entre 25 e 45 anos e mais de 46 anos) e no género (masculino e
feminino).
Neste domínio, podemos concluir que o pescado fresco é muito importante
na dieta alimentar da família com particular enfoque nos hábitos ganhos em casa dos
pais, sendo o pescado fresco o preferido sobre as restantes formas de apresentação.
Pelo lado das motivações, encontramos o sabor, a saúde e o aspeto como
elementos principais; pelo contrário, no lado das barreiras realça-se,
fundamentalmente, o preço que é entendido pela grande maioria dos participantes
como elevado e inibidor do consumo.
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O local onde a maioria adquire o pescado fresco é o supermercado no qual, os
mais novos e principais consumidores, têm dificuldade em confiar, enquanto os mais
velhos acreditam serem locais com elevado controlo e, consequentemente, uma oferta
de elevada qualidade.
A confiança é fundamental para todos até porque contam com o conselho do
vendedor para decidir a sua compra.
Finalmente, a sazonalidade verificou-se, com os participantes a confirmarem
um consumo de pescado fresco mais elevado no Verão.
Em termos de pesquisa quantitativa, utilizamos o inquérito por questionário
através do qual, pela aplicação de técnicas de análise estatística diferenciadas,
obtivemos dados caraterizadores do consumidor, do produtos e do seu processo de
consumo.
Assim, para uma amostra constituída por consumidores dos supermercados
Supercor em Braga, Coimbra e Porto definimos, através da técnica de design
ortogonal, 8 perfis de produto ideal (pescado) para os quais alguns atributos são uma
constante: ser fresco, ser selvagem e de pesca sustentável. Nota-se, ainda, que o
elevado teor de ómega 3 é um atributo relevante. Em qualquer dos casos, o Qui
Quadrado de Pearson demonstrou não existirem diferenças entre as escolhas de
homens e mulheres.
Para a mesma amostra, o mapeamento cognitivo demonstrou que os
atributos mais valorizados são a frescura, o sabor, o preço e a frescura.
Partindo dos resultados anteriores, concluímos existir uma atitude
dissonante em relação à origem do pescado fresco: os inquiridos descrevem a origem
selvagem como atributo do seu pescado ideal mas na compra o local de captura não
tem importância consonante.
O trabalho de investigação em Marketing só se encontra completo se for
encontrada aplicabilidade e uma forte relação com o mercado de consumo. Nesse
sentido, parece-nos fundamental apresentar sugestões às empresas que decorrem da
consulta efetuada aos consumidores.
Catarina Domingos
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Encontramos indicadores e dados relativos a caraterísticas intrínsecas do
pescado que o tornam valorizado e apetecível para os consumidores. No entanto,
estes deparam-se com um conjunto de caraterísticas extrínsecas que não controlam e
que produzem efeitos negativos na sua relação de consumo.
Será sobre estas caraterísticas extrínsecas que forneceremos algumas
sugestões ao nível do ponto de venda.
Para os consumidores, as principais barreiras que encontram no consumo
relacionam-se com o preço e com os laços de confiança que podem ser determinantes
na decisão de compra. Sobre estes em particular, e com os dados obtidos da
investigação, entendemos que o foco por parte do ponto de venda poderá centrar-se
em duas variáveis: por um lado, na informação que disponibiliza ao cliente relativa à
origem, tipo de produção, data de captura e, também, sugestões de utilização e
confeção; por outro lado, a exposição terá que ser um fator que, por si só, permita o
reconhecimento de qualidade indicando segurança ao evitar a utilização de elementos
que possam sugerir manipulação. Neste domínio, o consumidor quer identificar o
espaço de venda, o mais possível com a origem, ou seja, perceber que o pescado
acabou de sair da rede diretamente para a banca. E poderá ser esta a razão pela qual
não privilegiam, na compra, o pescado fresco embalado ou filetado.
Desta forma, seria possível, inclusivamente, minimizar a barreira do preço
uma vez que, nomeadamente, na descrição das condições que levariam a um maior
consumo de pescado, os participantes dos focus group referem a qualidade e
confiança associada à exposição do produto, nunca relevando o fator económico.
A identificação das estratégias a aplicar no mercado obriga a uma reflexão do
investigador em relação às limitações que sentiu ao longo do percurso, levando à
tomada de decisões sobre estudos futuros.
Nesse sentido, pelo lado das limitações, temos a referir o facto do
instrumento utilizado para a recolha de dados quantitativos não ser suficientemente
generalizável para que pudesse ser aplicado em lojas com uma população-alvo de
nível social e educacional inferior.
Catarina Domingos
96
Assim, e acreditando que a informação obtida será valiosa para a tomada de
decisão por parte dos operadores de mercado, sugerimos a adaptação mais
generalizada deste instrumento para a posterior aplicação a outros locais de compra.
Esta generalização seria obtida pela simplificação dos conteúdos relacionados com o
mapeamento cognitivo e a representação do processo de tomada de decisão ao
reduzir o número de itens aos três mais significativos para cada momento do
processo, ou seja, para cada fase (atributos, consequências, comportamento e
objetivo) do processo de decisão de compra os inquiridos deveriam, apenas,
selecionar, ordenando, os três mais relevantes.
Por outro lado, relacionando alguma da informação recolhida nesta
investigação no que respeita à exposição e à relevância dada ao aspeto do pescado
fresco sugerimos a aplicação de metodologias qualitativas (focus group) e
quantitativas (inquérito por questionário nos locais de compra) focadas na exposição,
elencando os aspetos relativos à perceção no ponto de venda que possam ser
determinantes no processo de decisão de compra.
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ANEXO 1 – Guião do Focus Group
Objetivo do Focus Group
O objetivo deste focus group é identificar quais as principais motivações e
barreiras ao consumo de pescado fresco.
Não existem respostas certas ou erradas, apenas a opinião de cada um. Esta
reunião será gravada para que possa ser utilizada em futuras análises.
A. Opening questions
1. Pedia o favor de, um a um, dizerem o vosso nome, idade, profissão e onde
habita.
2. Na folha de papel que se encontra à vossa frente peço que escrevam a palavra
que melhor vos carateriza e que, de seguida, a digam em vo alta e expliquem a
vossa escolha.
B. Introductory questions
3. Qual a importância do pescado fresco na dieta alimentar da família?
C. Transition questions
4. Com que frequência consome pescado fresco?
5. Onde adquire o pescado fresco?
6. Coloque por ordem de preferência a forma de apresentação do pescado:
fresco, seco, salgado, conserva, congelado. Usar uma grelha para anotar as
respostas de modo a facilitar as conclusões sobre o assunto.
Catarina Domingos
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D. Key questions
7. Quais as razões que o levam a comprar pescado fresco?
8. Que aspetos tem em conta quando escolhe o pescado fresco?
9. Que razões podem levá-lo a não consumir pescado fresco?
10. Existe alguma altura do ano em que consuma mais pescado fresco? Porquê?
11. Como classifica o preço do pescado fresco? (Não tenho a certeza de ser pertinente
perguntar.
E. Ending questions
12. Como sabe, procuramos identificar as razões que o levam a consumir pescado
fresco ou que, por outro lado, limitam o seu consumo. Assim, para terminar
gostaria que dissessem de que forma consumiriam mais pescado fresco?
Catarina Domingos
102
ANEXO 2 – Questionário
Atributos do pescado fresco
No âmbito de uma investigação para o desenvolvimento de uma Tese de Mestrado em Gestão
de Marketing, no IPAM, peço a sua colaboração na resposta a este inquérito que pretende determinar
quais os atributos/caraterísticas que determinam a sua compra de pescado fresco.
Agradecemos, desde já, a sua colaboração.
A. Caraterização sociodemográfica do consumidor de pescado fresco
De seguida, pretende-se caraterizar os respondentes através de dados sociodemográficos:
Idade
Sexo Feminino Masculino
Composição do agregado familiar (n.º pessoas total)
Tem filhos? Sim Não
Se sim, quantos?
Nível de escolaridade
Básico
Secundário
Superior
Cidade em que habita
Braga
Coimbra
Porto
Outra
Catarina Domingos
103
B. Caraterização do consumo de pescado fresco
Nas próximas três questões pretende-se caraterizar os hábitos de consumo dos
respondentes:
1. Com que frequência consome, semanalmente, pescado fresco?
Raramente
Às vezes
Frequentemente
Muito frequentemente
2. Compra pescado fresco para que situação?
Uso corrente
Eventos familiares ou sociais
Festividades
3. Qual a espécie de pescado fresco que consome com maior frequência (indique apenas
uma espécie)?
_________________________________________________________________________________________
Catarina Domingos
104
C. Dos seguintes atributos diga-nos quais são os que caraterizam o seu pescado ideal
(escolher apenas um nível para cada atributo assinalando com um X):
Atributos Níveis
Origem Selvagem Aquicultura
Teor de gordura Sem teor de gordura Com teor de gordura
Conservação Pescado fresco Pescado congelado
Teor de Ómega 3 Elevado teor de ómega 3 Baixo teor de ómega 3
Espinha Sem espinha Com espinha
Abastecimento Pesca sustentável Pesca industrial
Conveniência Pescado inteiro Pescado filetado
Catarina Domingos
105
D. No quadro seguinte pretende-se identificar, por ordem decrescente de importância,
quais as caraterísticas do pescado fresco que mais valoriza e a importância que estas
possuem na sua decisão de compra (utilize uma escala numérica que inicia em “1” para o
mais importante):
Atributos Ordem Consequências Ordem Comportamento Ordem Objetivo Ordem
Frescura
Sabor de
qualidade Racional Segurança
Espécie
Garantia de
qualidade Responsável Prazer
Preço
Produto saudável Honesto Satisfação
Local de captura Boa relação
qualidade/preço Limpo Liberdade
Sabor
Fácil de preparar Independente Razoabilidade
Dia de captura
Poupança de
tempo Respeitoso
Cuidar de quem
gostamos
Aparência
Origem Útil Escolha
sustentável
Filetado
Sem espinhas
Obrigada pela colaboração.