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8/18/2019 criquetes http://slidepdf.com/reader/full/criquetes 1/20 Os grilos Personagens José, Grilo 1 Filho Gláucia Grilos, seis atores, o coro Corifeu Tirésias Cenário Fundo preto. Na frente, três molduras de porta. No chão, uma forma circular e em cima dela uma camada de terra bem ermelha. !e poss"el, os espectadores deerão estar dispostos em semiarena. Prólogo A luz está baixa, simulando o princípio de uma manhã. Tirésias, velho homem cego, passa com uma placa escrita “Prlogo!. "ilho e #osé estão pescando. J#!$% Como deo come&ar' F()*#% Comece do in"cio. J#!$% )o+o assim ue che+uei nessas terras, descobri ue não seria fácil chamá-las de minhas. ar meu nome. F()*#% /or ue, papai' J#!$% /orue todas as pessoas ue tentaram dar seu nome a essas terras desapareceram. F()*#% Como' 0á+ica'

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Os grilos

PersonagensJosé, Grilo 1Filho

Gláucia

Grilos, seis atores, o coroCorifeuTirésias

CenárioFundo preto. Na frente, três molduras de porta. No chão, uma forma circular e em cimadela uma camada de terra bem ermelha. !e poss" el, os espectadores de erão estar dispostos em semiarena.

Prólogo

A luz está baixa, simulando o princípio de uma manhã. Tirésias, velho homem cego, passa com uma placa escrita “Pr logo!. "ilho e #osé estão pescando.

J#!$% Como de o come&ar'

F()*#% Comece do in"cio.

J#!$% )o+o assim ue che+uei nessas terras, descobri ue não seria fácil chamá-las deminhas. ar meu nome.

F()*#% /or ue, papai'

J#!$% /or ue todas as pessoas ue tentaram dar seu nome a essas terras desapareceram.

F()*#% Como' 0á+ica'

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J#!$% m +rande mistério cerca essas redonde2as.

F()*#% 3ue espécie de mistério'

J#!$% /e+ue o papel ue colo uei dentro da sua mochila.

$"ilho pega o papel%

J#!$% 4stá endo esse pei5e ue acabei de pescar' ê um nome a ele.

F()*#% 6ocê ai se chamar /olinice7

J#!$% 8+ora escre a esse nome no peda&o de papel.

$& "ilho escreve%

J#!$% 9as+ue-o.

$'lac(out%

F()*#% /apai, por ue o pei5e desapareceu'

J#!$% 4sse é o mistério, a per ersidade. !empre ue se escre e em um peda&o de papelum nome pr:prio e depois se ras+a esse papel, o animal, ser ou pessoa portadora desse

nome desaparece. Já ia es uecendo, ontem che+ou seu presente de ani ersário. !uacertidão de nascimento. 8+ora ocê terá um nome. 4 por isso a+ora terá mais essaresponsabilidade, um nome a ui, inspira cuidados.

$A luz vai acendendo como num princípio de manhã. Tirésias entra com um berrante eo )az soar tr*s vezes e sai logo em seguida.%

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Cena 1

"ilho sai da porta central. +stá segurando uma mala em uma das mãos. uando aabre, come-a a tocar ao )undo uma moda de viola. +le lentamente tira as roupas ueestão emboladas e come-a a dobrá/las. 0oupas pe uenas coloridas e roupas grandesapenas na cor vermelha. +n uanto ele dobra uma blusinha preta,1láucia, entra pelo portal direito. +la se aproxima "ilho, ue agora )echou a mala e está sentado sobre ela,com a blusa preta nas mãos. +la o cumprimenta com a cabe-a, ele retribui o gesto.

G); C(8% # ue ocê está fa2endo' Guardando roupas' /or ue não +uardou essa'

F()*#% /reto é a minha cor fa orita. 4u sempre ti e problema com cor. #ntem, todomundo esta a lindo. )indo. Todo mundo estido de preto. 8té papai, ue usou ermelhoa ida toda. Foi a primeira e2 do papai de preto. 4u ia < frente, comanda a toda a uelamassa ue canta a m=sicas ue conhe&o muito bem% m=sicas e cantos ue falam docampo, da terra, do meu po o...

$1láucia mexe a cabe-a como uem entende, mas o ignora%

G); C(8% 3ual é o seu nome'

F()*#% Filho.

G); C(8% Filho' Não é poss" el. 3ue coisa mais estranha. 3ual é seu nome'

F()*#% 4u nunca ti e um nome.

G); C(8% 0as como isso é poss" el' Como não tem um nome'

F()*#% 3uando nasci, meu pai ha ia bri+ado com os homens da lei. 4les não permitiram ue ele tirasse a minha certidão de nascimento, ue é onde estaria meu

nome. 8 partir da", as pessoas come&aram a me chamar de >Filho>. 8nteontem, pelamanhã, meu pai disse ue o presente de ani ersário ue tanto lhe pedi ha ia finalmente

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che+ado, um nome, mas ele não te e tempo de entre+ar o papel, por isso eu continuo mechamando Filho.

G); C(8% Filho' Filho de uem'

F()*#% Filho do José.

G); C(8% 4 uem é José'

F()*#% 3uem mais poderia ser' 4 ocê' Tem um nome'

G); C(8% Tenho. Gláucia. Gláucia, filha de Creonte7

F()*#% Creonte'(sso sim é umnome estranho...

G); C(8% 4u acho lindo. $ um nome ue eio da Grécia. Toda minha fam"lia é de lá,sabe' 0as eu não conhe&o nada. 6im pra cá muito pe uenininha.

F()*#% 6ocê não mora a ui por perto, certo'

G); C(8% Cert"ssimo. 4u enho da cidade.

F()*#% a cidade'

G); C(8% (sso mesmo. Cheia de carros, prédios, polui&ão, pressa...

F()*#% Como é sua casa'

G); C(8% 4u não mora a numa casa e sim num apartamento, ue fica dentro de umcondom"nio.

F()*#% 4 é bom morar num condom"nio'

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G); C(8% $ a melhor coisa ue e5iste. 4u me sentia muito se+ura, por ue nenhumestranho entra lá. Nenhum. m +rande +ênio foi o homem ue in entou a +rade elétrica.

F()*#% ma +rade' 0as uem foi preso'

G); C(8% $0isos% Nin+uém7 8s +rades ser em pra prote+er dos bandidos as pessoasue moram lá dentro.

F()*#% Nossa, ue má5imo. 4u ueria i er num lu+ar onde os bandidos nãoentrassem. 3uando ocê oltar pra seu apartamento, ocê me le a pra conhecer ocondom"nio'

G); C(8% 4u não ou mais oltar pra minha casa. 4u ou morar a ui.

F()*#% 8 ui onde'

G); C(8% Nessas terras. Nessa casa.$Aponta para as portas%

F()*#% (mposs" el, por ue elas ?á têm dono.

G); C(8% 4u sei. # meu pai.

F()*#% Não7 4ssas terras são minhas.

G); C(8% Não, são do meu pai.

F()*#% !ão minhas. 4las são minhas, por ue a minha fam"lia che+ou a ui primeiro.

G); C(8% Não7 4las são do meu pai, por ue ele tem mais dinheiro pra cuidar delas.

F()*#% 4u fi uei a ui pensando numa coisa. !eu pai ?amais poderia entrar numcondom"nio.

G); C(8% /or uê'

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F()*#% /or ue ele é um bandido. 4stá uerendo roubar as minhas terras.

$"ilho sai pela porta central e 1láucia, pela da direita%

Cena 2 – Párodos

+ntram seis atores caracterizados de grilos, seus rostos estão cobertos por umamáscara. Podem usar alguma coisa ue pare-a um terno. Todos vestidos dos pés 2cabe-a de verde. 3m deles é um )lautista, ue acompanhara o coro nos seus cantos. 4esse momento, a luz vai clareando o espa-o. &s 1rilos entram pela porta es uerda.

G9()#!% !ol, bom dia, !ol76ocê ue nos ilumina a ui no erão,9esponde a uma per+unta,Confirme num clarão7

C#9(F4 % 4u i duas crian&as brincando na planta&ão'# curumim do campo e a filha do patrão'9esponde o ue eu per+unto, !ol,Confirme num clarão.

$A ilumina-ão clareia todo o palco%

G9()#!% 4le di2 ue sim.

C#9(F4 % @om dia, !ol7

G9()#!% # berrante soou.#ito horas da manhã.8 ?abuticabeira era iluminada pelo céu.

8 ima+em, sublime ista de lon+eA/areceria um uadro artesanal.

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1láucia sai pela porta direita com roupa de dormir. "ilho agora traz uma mala emuitos papéis, sempre pela porta central.

G); C(8% $+xcitada% 4u não consi+o dormir...

F()*#% # carro do seu pai não é confortá el'

G); C(8% 4u estou dormindo lá temporariamente. 8manhã mesmo a +ente entra nacasa.

F()*#% *um7

G); C(8% ...0as não é isso7 4u não consi+o dormir por causa do barulho...

F()*#% 4sse barulho...

G); C(8% $ perturbador.

F()*#% 4u também não consi+o dormir...

G); C(8% ...0as o ue é isso'

F()*#% !ão cartas...

G); C(8% Não7 # barulho7

F()*#% #s +rilos7 0alditos +rilos...

G); C(8% /or ue malditos'

F()*#% 6ocê sabe o ue é +rila+em'

G); C(8% Coisa de +rilo'

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F()*#% 0eu pai me e5plicou o ue eles fa2iam... 4scre eu tudo em cartas...

G); C(8% 4 o ue eles fa2em'

F()*#% #ntem de manhã... /apai ?á tinha ido trabalhar.

G); C(8% 4 ocê'

F()*#% 4u fui pe+ar á+ua num po&o ue fica al+um tempo da ui. 8 casa esta a a2ia.Foi então ue os +rilos, sem perda de tempo...

Cena 4 – Episódio

& coro de grilos, ue estava recuado no )undo do espa-o c*nico, agora toma o meio do grande círculo. A luz volta a )icar baixa. #&56 entre dis)ar-ado com um desses grilos.

G9()#!% !ol, bom dia, !ol76ocê ue nos ilumina a ui no erão,9esponde a uma per+unta,Confirme num clarão7

C#9(F4 % 4ste é o momento.

Não podemos perder tempo.o sol, temos apenas uma re olu&ão.

G9()#!% 8&ão7

C#9(F4 % /recisamos encontrar o papel...

G); C(8 $Para "ilho%% 3ue papel'

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F()*# e C#9(F4 % 8 escritura das terras. 4ssas terras sempre foram...

F()*# $Para 1láucia.%% ... o meu pai.

C#9(F4 % ... e Creonte. 4 uem in ade as terras de Creonte recebe uma puni&ão.

G9()# 1, J#!$% 0as, senhor... Creonte ?á tem tantas propriedades...não seria de bom+rado ue ele dei5asse a ueles ue pouco tem i erem e plantarem nas terras ue elenão usa'

G9()#!% # uê'

C#9(F4 % !enhor Téspis, sua ideia é inaceitá el. /or acaso está supondo ueconse+uirá con encer al+uém com essas suas tendências' !ua o2 so2inha nunca seráou ida. 6olte para o coro.

G9()#!% Já está na hora.

C#9(F4 % 6amos in adir... 6amos procurar essa escritura.

F()*#% 4les entraram.

$& coro de grilos entra todo pela porta central. 4esse momento, eles levam 2 )rente amoldura das portas, de )orma ue a mala de "ilho passe no meio da moldura central. 7epois, levam estes aparatos de volta ao local onde estavam. 4esse momento, "ilho

)ala, o coro abre a mala e rasga uma in)inidade de papéis, 8ogando tudo para o ar.%

F()*#% 4les cortaram tudo... Todos os papéis ue iram pela frente. Todas as cartas ue papai escre eu pra mim... m deles, o l"der, no entanto, parou e leu em o2 alta um peda&o de uma delas... 4ssa a ui...

$Pega do chão uma carta 8á rasgada, en uanto o 9ori)eu pega uma carta inteira do

chão, sobe na mala e come-a a )alar 8unto com "ilho, como se estivessem lendo omesmo texto. 4esse momento, os 1rilos param de cortar.%

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F()*# e C#9(F4 % 0eu pe ueno curumim... Filho meu...@ra o, forte, +uerreirinho do norte.

a ida, conheces pouco.!abes mesmo pouco'0inha sina de trabalho,0inha luta pela terra,0eu penar, Não permitem ue eu este?a0uitas horas neste lar. Nosso lar.

ei5o então esses bilhetes,4sses fra+mentos de pensamentos,Ternos ensinamentos.

F()*#% /apai me dei5a a sempre bilhetes e5plicando sobre todas as coisas.

F()*# e C#9(F4 % /ara sempre ou lembrar-te,/ra aprender, pra pensar,/ra um dia também lutar /or essa terra, por seu lar.

C#9(F4 % /obre homem. Não sabe nem o ue é uma rima rica...$0isos%

F()*# e C#9(F4 % 6ocê sabe o ue é +rila+em' #s homens de muito dinheiro,insatisfeitos com o ue ?á têm, cobi&am as terras de pe uenos proprietários. 8o in és decomprá-las, falsificam um documento di2endo ue a localidade cobi&ada pertence aeles. /ara ue a lei acredite, botamuma data muito anti+a no papel, para parecer ue odocumento e5iste há tempos. epois disso, colocam numa cai5a cheia de +rilos. 8" écom os bichos. 4les comem, defecam, fa2em a festa. 3uando o documento sai da cai5a,

o resultado é assustador% ele parece elho. 4ntão eles apresentam essa papelada ao

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+o erno, ue acredita ue as terras são da ueles proprietários e permite ue elese5pulsem a fam"lia ue está i endo na uele local.

F()*#% 4stá ras+ado, não consi+o mais ler.

C#9(F4 % !: ue os bichinhos, os +rilos, não têm culpa de nada. Não sabem o uefa2em. Fa2 parte da sua nature2a. # +rande problema está nos homens por trás deles.

$4esse momento, todos os grilos tiram as suas máscaras e deixam aparecer seus rostoshumanos. 7o coro de grilos, apenas um homem não tira a máscara, o 1rilo :. &9ori)eu pega a carta, rasga ao meio e 8oga no chão. &s grilos sentam ao chão e 8ogam pra cima as cartas. "ilho e 1láucia entram no meio dessa chuva de papel.%

G9()# D% 8chei7

G9()#!% # uê'

G9()# D% # documento ue compro a ue a propriedade é do tal José.

G9()#!% 9as+ue-o.

G9()# 1% Não7

C#9(F4 % i2e, ca alheiro. 9e ela. 3uem és' 8tendes por ual nome'

G9()#!% Téspis.

C#9(F4 % Não7 8 mim não ais en+anar. Temos um infiltrado.

$&s grilos tiram a máscara dele%

C#9(F4 % 3uem és'

G9()#!% $ José7

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C#9(F4 % 3ue José'

G9()#!% # dono das terras.

C#9(F4 % Não mais.

G9()#!% # l"der da )i+a Camponesa.

C#9(F4 % Não mais.

G9()#!% m homem.

C#9(F4 % Nas suas =ltimas horas.

G9()#!% 4 a+ora José'

C#9(F4 % 8 festa acabou.

G9()#!% 4 a+ora José'

C#9(F4 % B4stá sem mulher,está sem discurso,está sem carinho...

G9()#!% 4 a+ora'

C#9(F4 % Creonte fora bastante claro com o ue fa2er com os impostores.

$&s 1rilos guizalham%

C#9(F4 %$Pega o documento% /ra al+umas pessoas, um homem é composto de

irtudes. 4 isso o torna mais homem. !: ue pra mim, o ue di+nifica o homem é o ueele tem. # homem é a sua terra. E& 9ori)eu come-a a rasgar a carta e #osé, a de)inhar.

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9ori)eu 8oga a carta em #osé e ele morre de vez.% 3uando a nature2a não se encarre+ade certas coisas, os homens têm de cumprirdeterminadas fun&ão. 8 ui está a sua terra.4la se resume s: a esse papel. $ s: papel. 8 terra é toda s: papel.

$&s 1rilos estrilam, guizalham. &s 1rilos voltam a 8ogar as )olhas pra cima, en uanto1láucia e "ilho estão no meio delas.%

G); C(8% Come&ou a cho er, amos lá pra dentro. epressa7 6amos pra sua casa7

$&s 1rilos entram correndo na porta do meio%

Cena 5

F()*#% Não e5iste mais lá dentro. 4 a uela tampouco é a minha casa. /or causa dos+rilos. /or causa dos +rilos.$1rita muito )orte% /or causa do seu pai7

G); C(8% 6ocê não pode desistir. 6ai lá e enfrente os +rilos... 4u os i ainda há poucona sua casa. 6amos lá.

$+les vão até a moldura da porta da casa e olham lá pra dentro%

F()*#% 4u não consi+o er os +rilos.

G); C(8% 4les estão lá. #lha, Filho7

F()*#% 4u não en5er+o.

G); C(8% #lha, Filho.

F()*#% 4u nasci a ui em casa mesmo, era uma tarde de fim do erão. !abe umda ueles dias em ue o céu está ermelho' 4u tinha acabado de nascer e ainda esta acom os olhos fechados. 0eu pai então resol eu dar uma olta comi+o pela planta&ão,

ueria ue eu conhecesse a terra ue no futuro seria minha. 8 planta&ão esta a tãoerde, linda, erdinha, ue o céu se apai5onou por ela. Caiu de tanto amor. # erde da

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planta&ão também se apai5onou pelo ermelho do céu e, por causa do amor, eles seconfundiram. Céu e terra eram um s: nesse momento. 4m uma hora fica am ermelhos,em outra hora, erdesA depois, ermelhos no amente. No e5ato se+undo ue o céu e aterra esta am ermelhos, eu abri os olhos. 4u abri os olhos e i as plantas ermelhas, etudo mais ue era erde irou ermelho pra mim% os pássaros, as rãs e até os malditos+rilos.

G); C(8% 4 por ue s: ocê iu tudo ficar ermelho'

F()*#% 0eu pai me e5plicou ue eu tenho amor nos olhos, mas me falta esperan&a.Falta-me o erde da esperan&a. 4u não posso combater os +rilos. 4u não tenho for&as.4u nem os en5er+o como de fato são.

$1láucia vai para um canto%

G); C(8% 0eu pai é um bandido. Grilo. Grileiro. 4u, sendo filha dele, também souum +rilo. 4u preciso te a?udar, mas não sei como.$Pensa% !e tudo o ue é dele um diaserá meu...

F()*#% Ti e uma ideia.

G); C(8% 3ual'

F()*#% 0eu pai falou ue se escre êssemos ual uer nome pr:prio no papel, deual uer pessoa, essa mesma desapareceria pra sempre uando ras+ássemos o papel.

G); C(8% 4ntão amos escre er num papel o nome da pessoa ue uer roubar suasterras.

F()*#% (sso...

G); C(8% 8nda, escre a.

F()*#% Não posso.

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G); C(8% 4u escre o pra ocê. i+a o nome.

F()*#% Não posso di2er.

G); C(8% i+a, Filho... Não temos tempo a perder.

F()*#% Não posso.

G); C(8% $1ritando% i+a7

F()*#% Creonte.

G); C(8% ...Creonte é o meu pai.

Cena 6 – Êxodos

G9()#!% 6ais trair teu pai, Gláucia

G); C(8% Não7 4u não uero ue ele desapare&a.

G9()#!% 6ocê é uma de n:s, Gláucia.

G); C(8% Não, eu não sou.

$Tr*s grilos dão um passo a )rente%

G9()# % B!al e7 GláuciaA ue um dia há de ser /rincesa de n:s.

G); C(8% Não7

G9()# % B!al e7 Gláucia, ue um dia há de ser 9ainha dos +rilos .

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G); C(8% Não serei7

G9()# H% B!al e7 GláuciaA ue desposará o pe ueno inimi+o de seu pai.

$& coro olha com estranhamento para o 1rilo ;%

G9()#!% *ã' >!al e7 8 *erdeira dessas terras.>

G); C(8% Não7

$1<=39>A pega caneta e papel e come-a a escrever%

C#9(F4 % 6ai mesmo fa2er isso'

G); C(8% 4u não posso fa2er parte dessa in?usti&a.

C#9(F4 % Não se?a tão boba.

G); C(8% !ai da ui, ou eu conto uma mentira pro meu pai e ele te manda embora namesma hora.

G9()#!% 4le ?á sabe.

G); C(8% 0entira.

G9()#!% 4le ?á sabe.

C#9(F4 % 6ocê nunca mais ai er o +aroto.

G); C(8% # ue ocês ão fa2er com ele'

C#9(F4 % 6ocê é uem ai pra bem lon+e da ui.

G); C(8% 0e lar+a.

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$1láucia sai com os grilos, )ica s o 9ori)eu%

F()*#% Gláucia'

C#9(F4 % 4la foi mandada para distIncias, lé+uas% ai estudar numa escola bemafastada da ui, um internato. 6ocê também ai embora pra lon+e...

F()*#% 4u ou pra onde'

C#9(F4 % /ra um lu+ar bem lon+e dessas terras. 8ndando pela sua casa, encontrei issoa ui. !ua certidão de nascimento. !eu pai lhe daria como presente de ani ersário onome ue tanto ueria, mas e?a s:, tal e2 não ima+inasse a uem estaria presenteando.

F()*#% /osso pelo menos saber meu nome...

C#9(F4 % Não. /ara muita +ente, um homem é composto de irtudeA pra mim, ohomem é seu nome, seu nome é sua terra e a terra é s: papel. 4u ou ser rápido e bre e.

8final, o tempo da re olu&ão do sol está acabando.

$+n uanto ele rasga o papel, "ilho vai )alando. +stá anoitecendo%

F()*#% #ntem esta a todo mundo lindo. Todo mundo de preto. 4u caminha a na frenteda uela marcha perfumada. 4u e meus pés. 4u e meus pés. /apai desapareceu. Foi praal+um lu+ar ue desconhe&o. 3uem sabe lá ele consi+a ter a sua terra em pa2, sem ter

ue bri+ar com nin+uém, sem ter ue le antar a en5ada < ueles ue ?á têm muito. !emter ue... !em ter uê. 4u não uero ser al o da uelas ne+ocia& es por propriedade ecaráter. 4u não uero ser apenas filho. Filho do pai. Filho da terra. Filho do chão. 4unão uero mais ou ir o barulho dos +rilos. 4u não uero mais ou ir o barulho dosGrilos. 4u uero ou ir os cantos do meu po o, os poemas ue sempre ou i...B a tribo pu?ante,3ue a+ora anda errante

/or fado inconstante,Guerreiros, nasciA

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!ou bra o, sou forte,!ou filho do NorteA0eu canto de morte,Guerreiros, ou i.

$4esse momento, o 9ori)eu rasga a certidão de nascimento de "ilho. 'lac(out. uandoa luz se acende novamente, 1láucia sai correndo da porta central e recolhe os peda-osda certidão de nascimento dele e come-a a colar%

Epílogo

$Tirésias passa com uma placa onde está escrito +pílogo%

T(9$!(8!% Cada um percebe o tempo passar de maneira diferente. *á pessoas ueolham no espelho e sup em ue as ru+as são produtos do tempo. Tem +ente ue o ê passar e enche a ida de anos. *á outras pessoas ue enchem os seus anos de ida. #smais sábios, ou os irresponsá eis, o apro eitam, percebendo a bele2a dos momentos

mais despre2" eis, pois sabem ue, em al+uma circunstIncia, Chronos, o Tempo, lhes+uarda o ue será ines uec" el.

G); C(8% #s entos, o mato, a falha do campo infértil, o la+o, o a2ulão e até o barulho dos Grilos. Tem ocê em tudo, até no amor. Tens amor nos olhos e, por isso, ésamor. #nde anda ocê'

$9hega um homem%

G); C(8% Filho'

F()*#% Não, a+ora tenho um nome. 4u encontrei a minha certidão. 8 uela ue ocêremendou.

G); C(8% $ ual é o seu nome'

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F()*#% Jasão.

$'lac(out%

F(0