CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES ÓPTICAS...

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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES ÓPTICAS E TÉRMICAS DE LÍQUIDOS E MISTURAS GASOSAS USANDO A INTERFEROMETRIA DE ONDAS TÉRMICAS JOSÉ AUGUSTO PEDRO LIMA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ AGOSTO – 2001

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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES ÓPTICAS E

TÉRMICAS DE LÍQUIDOS E MISTURAS GASOSAS USANDO A

INTERFEROMETRIA DE ONDAS TÉRMICAS

JOSÉ AUGUSTO PEDRO LIMA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

AGOSTO – 2001

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES ÓPTICAS E

TÉRMICAS DE LÍQUIDOS E MISTURAS GASOSAS USANDO A

INTERFEROMETRIA DE ONDAS TÉRMICAS

JOSÉ AUGUSTO PEDRO LIMA

“Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia

da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como

parte das exigências para obtenção do título de Doutor

em Ciências da Engenharia.”

Orientador: Prof.Dr.Helion Vargas

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

AGOSTO – 2001

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES ÓPTICAS E

TÉRMICAS DE LÍQUIDOS E MISTURAS GASOSAS USANDO A

INTERFEROMETRIA DE ONDAS TÉRMICAS

JOSÉ AUGUSTO PEDRO LIMA

“Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da

Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte

das exigências para obtenção do título de Doutor em

Ciências de Engenharia.”

Aprovada em

Comissão Examinadora:

_____________________________________________

Dr. Nei Fernandes de Oliveira Júnior,D.Sc. – USP

_____________________________________________

Dr. Fernando de Souza Barros,Ph.D. – UFRJ

_____________________________________________

Dr. João Alziro Herz da Jornada,D.Sc. – DIMC/INMETRO

_____________________________________________

Dr. Gilson Brand Baptista,Ph.D. – PUC

_____________________________________________

Dr. José Fernando Thomé Jucá,Ph.D. - UFPE

_____________________________________________

Dr. Helion Vargas,Ph.D. (Orientador) – UENF

Dedico esta tese a minha amada

esposa Solange pelo grande apoio em todos os

momentos.

“Mulher virtuosa quem a achará?

O seu valor muito excede o de rubis”.

(Provérbios 31.10)

ii

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Jesus Cristo, Salvador meu e Rei do Universo, pela vida e por

dar-me a oportunidade de concluir mais essa importante etapa.

Ao Professor Helion Vargas, que pela orientação, incentivo, dinamismo e

capacitação de vislumbrar novos horizontes em pesquisa, animou-me a ingressar

nesse trabalho.

Aos Professores Marcelo Sthel, Marcelo Gomes, Ernesto Marín

(Universidade de La Habana), Sérgio Cardoso, Marcelo Shoey, Carlos Gatts, e em

especial ao professor Miranda (Universidade Estadual de Maringá), pelas estimadas

contribuições.

Ao Professor Luiz Telmo e ao Engenheiro Osório Gonçalves, pela

elaboração dos programas para aquisição de dados e controle do interferômetro.

Aos professores Marcelo Sousa e Raul Figueira pelo incentivo.

Aos técnicos Luiz Antonio, Flávia, Carlan, Roberto Carlos, Ronaldo,

Rosane e ao grande colega Nivaldo (in memoriam), pela cooperação.

À Idamara, secretária do LCFIS, pela paciência.

Aos Professores do LCENG, Josué, Saboia, Tibana e Vânia, pelo apoio.

Ao Professor Guerold Bobrovnitchii, pela sua prontidão e colaboração nos

desenhos e projeto mecânico do interferômetro.

Aos integrantes do LAMOC/INMETRO, pela preparação de amostras e

medidas da octanagem.

À ANP, FAPERJ e em particular ao CTPETRO, pelo apoio financeiro.

Aos queridos tios Armando e Cecília, pelo grande carinho e confiança.

À Dra Neyla, pela longa amizade e pelos preciosos conselhos.

À minha mãe Marly pela dedicação, paciência e esperança.

A todos os irmãos em Cristo, pelo constante estímulo e orações.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ........................................................................................

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................

NOMENCLATURAS ........................................................................................

RESUMO ......................................................................................................... ABSTRACT ......................................................................................................

INTRODUÇÃO .................................................................................................

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO À CIÊNCIA FOTOTÉRMICA ..........................

1.1. Histórico ..........................................................................................

1.2. Ondas de Difusão ............................................................................

1.3. Formalismo Matemático ..................................................................

1.4. Ondas Térmicas: Propriedades .......................................................

1.5. O Interferômetro de Ondas Térmicas ..............................................

CAPÍTULO II – ESTUDO DAS PROPRIEDADES ÓPTICAS E TÉRMICAS

DE LÍQUIDOS USANDO DIFERENTES TÉCNICAS DE DETECÇÃO

FOTOTÉRMICAS: JANELA OPTOTÉRMICA E CÉLULA FOTOACÚSTICA ..

2.1. Considerações Teóricas: Janela Optotérmica .................................

2.2. Espectrofotometria Convencional ....................................................

2.3. Arranjo Experimental .......................................................................

2.4. Resultados e Discussões ................................................................

2.5. Medidas de Concentração de Cr (VI) em Água Utilizando uma

Célula Fotoacústica .........................................................................

CAPÍTULO III – ESTUDO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE

VAPORES E GASES ATRAVÉS DO USO DA INTERFEROMETRIA DE

ONDAS TÉRMICAS ........................................................................................

3.1. Metodologia .....................................................................................

3.2. Arranjo Experimental .......................................................................

3.3. Resultados e Discussões ................................................................

CAPÍTULO IV – USO DA INTERFEROMETRIA DE ONDAS TÉRMICAS

PARA A CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE

LÍQUIDOS ........................................................................................................

4.1. Metodologia: Substâncias Líquidas Puras ......................................

4.2. Resultados Experimentais e Discussões ........................................

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4.3. Metodologia: Misturas Binárias de Líquidos ....................................

4.4. Resultados e Discussões ................................................................

CAPÍTULO V – APLICAÇÃO DA INTERFEROMETRIA DE ONDAS

TÉRMICAS AO ESTUDO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE

MISTURAS GASOSAS ....................................................................................

5.1. Teoria ............................................................................................

5.2. Resultados e Discussões ..............................................................

5.3. Conclusões....................................................................................

CAPÍTULO VI – DIFUSIVIDADE TÉRMICA COMO UM PARÂMETRO DE

CARACTERIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS: CORRELAÇÃO COM O ÍNDICE

DE OCTANO MOTOR .....................................................................................

6.1. Introdução .....................................................................................

6.2. Materiais e Métodos ......................................................................

6.3. Conclusões ...................................................................................

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ....................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................

ANEXOS ..........................................................................................................

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LISTA DE TABELAS

Tabela {2-1} – Comprimentos de difusão térmica da água em função da

freqüência de modulação ................................................................................

Tabela {2-2} – Concentrações dos padrões de tinta nanquim em água .........

Tabela {2-3} – Concentrações dos padrões de Cr (VI) em água

destilada...........................................................................................................

Tabela {2-4} – Concentrações dos padrões de P em água .............................

Tabela {3-1} – Difusividade térmica dos diferentes hidrocarbonetos (vapor)

com o ar ...........................................................................................................

Tabela {4-1} – Resultados obtidos para a difusividade e efusividade

térmicas comparados com os valores da literatura ........................................

Tabela {5-1} – Resultado obtido para as propriedades térmicas dos gases

medidos com o interferômetro .........................................................................

Tabela {6-1} – Fração molar, pressão de vapor, índice PON e medida da

difusividade térmica de diferentes misturas de tolueno em n-hexano,

denominado como combustível 1. O erro experimental na medida da

difusividade térmica é da ordem de 2,3% ....................................................... Tabela {6-2} – Fração molar, pressão de vapor, índice PON e medida da

difusividade térmica de diferentes misturas de iso-octano em n-hexano,

denominado como combustível 2. O erro experimental na medida da

difusividade térmica é da ordem de 2,3% .......................................................

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LISTA DE FIGURAS

Figura (1-1) – Fotofone construído por Bell e utilizado para transmissão de

voz através de um feixe de luz modulado .......................................................

Figura (1-2) – Decaimento da intensidade de uma onda térmica, em função

da distância , que é gerada a partir da superfície de um material como

conseqüência da absorção de um feixe de luz modulado...............................

Figura (1-3) – reflexão e refração de ondas térmicas em uma fronteira .........

Figura (1-4) – Modelo geométrico do interferômetro de ondas térmicas ........

Figura (1-5) – Curvas teóricas genéricas para os sinais IP e IQ .....................

Figura (1-6) – Configuração mecânica do interferômetro ................................

Figura (1-7) – Pontos experimentais obtidos para o ar e ajustados em

relação à curva teórica de amplitude. Os parâmetros de ajuste obtidos são

mostrados no campo superior direito da figura................................................

Figura (2-1) – Vista expandida da janela optotérmica .....................................

Figura (2-2) – Curva de calibração da janela optotérmica para uma amostra

com μ=1μm. ....................................................................................................

Figura (2-3) – Diferentes tamanhos de cubetas usadas na espectrofotome-

tria ...................................................................................................................

Figura (2-4) – Montagem experimental da janela optotérmica ........................

Figura (2-5) – Diagrama em blocos do modulador mecânico .........................

Figura (2-6) – Gráfico do ruído de fundo da célula em vazio e sem pré-

amplificador. ....................................................................................................

Figura (2-7) – Sinal normalizado versus concentração de P em água ............

Figura (2-8) – Sinal normalizado das soluções de fósforo em água medido

com a janela optotérmica ................................................................................

Figura (2-9) – Medidas de absorbância do fósforo para λ=632,8nm

utilizando o espectrofotômetro ........................................................................

Figura (2-10) – Sinal normalizado para as concentrações de PO4-3 em

água .................................................................................................................

Figura (2-11) – Sinal normalizado para as concentrações de Cr (VI) em

água .................................................................................................................

Figura (2-12) – Sinal normalizado versus coeficiente de absorção óptica das

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soluções de Cr (VI) em água ...........................................................................

Figura (2-13) – Absorvância das soluções de Cr (VI) em água medida com o

espectrofotômetro .........................................................................................

Figura (2-14) – Sinal normalizado versus a concentração de Cr (VI) em

água ................................................................................................................

Figura (2-15) – Célula fotoacústica adaptada para a medida de

propriedades ópticas em líquidos ....................................................................

Figura (2-16) – Absorvância óptica como função da concentração de Cr (VI)

em água ...........................................................................................................

Figura (2-17) – Amplitude do sinal fotoacústico normalizado como função da

concentração de Cr (VI) em água ...................................................................

Figura (3-1) – Célula do interferômetro de ondas térmicas adaptada para

medir vapor de líquidos voláteis ......................................................................

Figura (3-2) – Sinal em fase (IP) e em quadratura (IQ) medidos para o ar. A

linha sólida mostra o melhor ajuste para a parte real e imaginária da Eq [3-

5] ......................................................................................................................

Figura (3-3) – Evolução temporal do sinal de amplitude normalizado para

amostras de diferentes hidrocarbonetos. As linhas sólidas representam o

melhor ajuste dos dados a uma exponencial decrescente ..............................

Figura (3-4) – Gráfico da correlação entre os tempos de decaimento τ e o

número de átomos da cadeia linear dos hidrocarbonetos. O melhor ajuste é

representado pela linha sólida .........................................................................

Figura (3-5) – Difusividade térmica como função do número de átomos de

carbono na cadeia linear .................................................................................

Figura (3-6) – Difusividade térmica como função da temperatura para

diversas misturas de ar-hidrocarboneto. Os quadrados, círculos e triângulos

correspondem ao n-pentano, n-hexano e n-heptano, respectivamente ..........

Figura (3-7) – Difusividade térmica como função da concentração de CO2

em ar seco. A linha sólida apresenta o melhor ajuste dos dados em relação

à Eq [3-5]. No canto direito superior é mostrado o gráfico do sinal de

amplitude em função do comprimento da cavidade para a mistura de 50%

de CO2 no ar. ...................................................................................................

Figura (4-1) – Configuração experimental do interferômetro para medida em

líquidos ............................................................................................................

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Figura (4-2) – Geometria mostrando as diferentes camadas envolvidas no

cálculo da geração do sinal de corrente do interferômetro. ............................

Figura (4-3) – Sinal de amplitude obtido pela variação do comprimento da

cavidade tendo a água como amostra ............................................................

Figura (4-4) – Sinal de amplitude obtido pela variação do comprimento da

cavidade tendo a glicerina como amostra .......................................................

Figura (4-5) – Sinal de amplitude obtido com óleo de bomba difusora ...........

Figura (4-6) – Amplitude versus comprimento da cavidade para o caso da

água .................................................................................................................

Figura (4-7) – Amplitude versus comprimento da cavidade para o caso da

glicerina ...........................................................................................................

Figura (4-8) – Difusividade térmica das misturas de glicerina com água ........

Figura (5-1) – Medida dos sinais em fase e em quadratura para diferentes

concentrações de CO2 em ar como função de deslocamento da cavidade ....

Figura (5-2) – Sinal de amplitude em função do deslocamento da cavidade

para uma mistura de 50% em volume de de CO2 e ar ..................................

Figura (5-3) – Gráfico da difusividade térmica em função da concentração

de misturas de CO2 e ar ..................................................................................

Figura (5-4) – Gráfico da difusividade térmica em função da concentração

de misturas de CO2 em CH4 ............................................................................

Figura (5-5) – Gráfico da difusividade térmica das misturas de C2H4 em

CH4 ..................................................................................................................

Figura (5-6) – Gráfico da difusividade térmica das misturas de C2H4 em N2 ..

Figura (6-1) – Sinal de amplitude do interferômetro obtido para o n-hexano

registrado para uma freqüência de 10Hz, como função do comprimento da

cavidade a uma temperatura de 25oC. Os círculos representam a média dos

valores correspondentes a um mínimo de 5 aquisições experimentais ..........

Figura (6-2) – Dependência da difusividade térmica de cada combustível

como função da fração molar. Os círculos abertos correspondem ao

combustível #1 e os triângulos ao combustível #2. O erro experimental nas

medidas de difusividade térmica foram da ordem de 2.3% .............................

Figura (6-3) – Correlação entre a fração molar e a pressão de vapor dos

combustíveis #1 e #2 .......................................................................................

Figura (6-4) – Correlação entre a pressão de vapor e o valor de PON para

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os combustíveis #1 e #2 ..................................................................................

Figura (6-5) – Correlação entre a difusividade térmica e o índice PON para

os combustíveis #1 e #2 ..................................................................................

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NOMENCLATURAS

β − coeficiente de absorção óptica – [cm-1]

χ − coeficiente de extinção molar – [l mol -1cm-1]

ABS – absorvância – [adimensional]

I0 – intensidade óptica – [W/m2]

η − eficiência de conversão de radiação em calor – [adimensional] σ − número de onda complexo – [(1+j)cm-1]

R – coeficiente de reflexão – [adimensional]

IP – em fase

IQ – em quadratura

T – coeficiente de transmissão – [adimensional]

T – temperatura – [K,C]

γ − coeficiente de reflexão (no interferômetro) – [adimensional]

μ − comprimento de difusão térmica – [μm]

ω − freqüência angular – [rad/s]

f − freqüência – [Hz]

ϕ − fase – [rad]

ε – efusividade térmica – ⎥⎦

⎤⎢⎣

KcmsW

2

bi/j – coeficiente de acoplamento térmico entre o meio i e j.

κ – condutividade térmica – [W/m-K]

α − difusividade térmica – [cm2/s]

ρ − densidade – [kg/m3]

c – calor específico – [J/kg-K]

ρc − capacitância térmica volumétrica – [J/m3-K]

Figura – Fig (...)

Equação – Eq [...]

Tabela – Tab {...}

MON – Motor Octane Number (Índice de Octano Motor)

RON – Research Ocatane Motor (Pesquisa do Número de Octano)

PON – Pump Octane Motor (Índice Antidetonante)

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RESUMO

Neste trabalho é relatado o uso de técnicas fototérmicas para caracterização

óptica e térmica de líquidos, vapores e misturas gasosas. Dentre as diversas

técnicas utilizadas destaca-se a interferometria de ondas térmicas. Para a

caracterização óptica e medidas de contaminantes em líquidos foram utilizadas a

técnica da janela optotérmica e uma célula fotoacústica adaptada para medidas

espectroscópicas de liquidos.

As difusividades térmicas de diferentes concentrações de misturas gasosas

binárias foram medidas através de um dispositivo denominado interferômetro de

ondas térmicas projetado e construído no laboratório. A partir dos dados

experimentais e aplicando-se o modelo logarítmico da condutividade térmica de

misturas gasosas binárias, todas as propriedades térmicas dos componentes puros

da mistura foram determinadas. No caso do CO2 foi demontrado que diferentes

concentrações deste gás em ar podem ser acuradamente discriminadas, indicando a

possibilidade do uso deste dispositivo como um detector de gases. O interferômetro

de ondas térmicas também foi utilizado para monitorar a presença de vapores de

hidrocarbonetos no ar através de medidas de difusividade térmica. Também é

demostrado que a resposta temporal da medida pode ser usada para monitorar a

difusão do vapor de hidrocarbonetos em ar. Foram efetuadas medidas de

difusividade térmica para diversas amostras de combustíveis artificiais (misturas

hexano/tolueno e hexano/isooctano). Os valores das difusividades térmicas

correlacionaram-se linearmente com os valores do Número de Octano Motor (MON)

obtidos pelo método tradicional do motor (MON-ASTM). Propostas para o

melhoramento do novo método visando o ganho em acurácia e a construção de um

dispositivo para medidas no campo são apresentadas. Também foram efetuadas

medidas com amostras líquidas (glicerina, água, óleos, etc) baseadas na

interferometria de ondas térmicas.

Os resultados obtidos aliados ao caráter tecnológico contidos neste trabalho,

levaram ao requerimento de patenteamento do Interferômetro de Ondas Térmicas

desenvolvido neste trabalho.

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ABSTRACT

The use of photothermal techniques for the characterization of optical and

thermal properties of liquids, vapors and gas mixtures is described on this work.

Among the several techniques used, special attention was given to the thermal wave

interferometry. Optical characterization and measurements of contaminants in liquids

were performed using the optothermal window technique and a photoacoustic cell

adapted for spectroscopic analysis of liquids.

Thermal diffusivities of binary gas mixtures at different concentrations were

measured using a device called thermal wave interferometer projected and built at

our laboratories. Applying the logarithmic model for thermal condutivity of binary gas

mixtures to the experimental data led to determination of all the thermal properties of

the pure components on the gas mixture. In the case of CO2, was shown that

different concentrations of this gas in air can be accurately discriminated, opening

thus, the possibility of using this device as a gas detector. The thermal wave

interferometer was as well used for monitoring the presence of hydrocarbons in air

throughout the thermal diffusivity measurements. It was also demonstrated that the

temporal response of the measurement can be used for monitoring hydrocarbons

vapors diffusion in air. Thermal diffusivities measurements for several samples of

artificial fuels (hexane-toluene and hexane-isooctane) were performed. The obtained

values showed a linear correlation with the Motor Octane Number (MON) obtained by

the traditional motor method (MON-ASTM). Proposals of modifications of this new

method aiming to increase its accuracy and to build a device for field measurements

are presented. Measurements with liquid samples (glycerin, water, oils, etc) based

on thermal wave interferometry were also performed.

The obtained results allied to the technological character of this work led to

the request of a patent for the Thermal Wave Interferometer developed on our

laboratories.

RESUMO

Neste trabalho é relatado o uso de técnicas fototérmicas para caracterização

óptica e térmica de líquidos, vapores e misturas gasosas. Dentre as diversas técnicas

utilizadas destaca-se a interferometria de ondas térmicas. Para a caracterização óptica

e medidas de contaminantes em líquidos foram utilizadas a técnica da janela

optotérmica e uma célula fotoacústica adaptada para medidas espectroscópicas de

liquidos.

As difusividades térmicas de diferentes concentrações de misturas gasosas

binárias foram medidas através de um dispositivo denominado interferômetro de ondas

térmicas projetado e construído no laboratório. A partir dos dados experimentais e

aplicando-se o modelo logarítmico da condutividade térmica de misturas gasosas

binárias, todas as propriedades térmicas dos componentes puros da mistura foram

determinadas. No caso do CO2 foi demontrado que diferentes concentrações deste gás

em ar podem ser acuradamente discriminadas, indicando a possibilidade do uso deste

dispositivo como um detector de gases. O interferômetro de ondas térmicas também foi

utilizado para monitorar a presença de vapores de hidrocarbonetos no ar através de

medidas de difusividade térmica. Também é demostrado que a resposta temporal da

medida pode ser usada para monitorar a difusão do vapor de hydrocarbonetos em ar.

Foram efetuadas medidas de difusividade térmica para diversas amostras de

combustíveis artificiais (misturas hexano/tolueno e hexano/isooctano). Os valores das

difusividades térmicas correlacionaram-se linearmente com os valores do Número de

Octano Motor (MON) obtidos pelo método tradicional do motor (MON-ASTM).

Propostas para o melhoramento do novo método visando o ganho em acurácia e a

construção de um dispositivo para medidas no campo são apresentadas. Também

foram efetuadas medidas com amostras líquidas (glicerina, água, óleos, etc) baseadas

na interferometria de ondas térmicas.

Os resultados obtidos aliados ao caráter tecnológico contidos neste trabalho,

levaram ao requerimento de patenteamento do Interferômetro de Ondas Térmicas

desenvolvido neste trabalho.

ABSTRACT

The use of photothermal techniques for the characterization of optical and

thermal properties of liquids, vapors and gas mixtures is described on this work. Among

the several techniques used, special attention was given to the thermal wave

interferometry. Optical characterization and measurements of contaminants in liquids

were performed using the optothermal window technique and a photoacoustic cell

adapted for spectroscopic analysis of liquids.

Thermal diffusivities of binary gas mixtures at different concentrations were

measured using a device called thermal wave interferometer projected and built at our

laboratories. Applying the logarithmic model for thermal condutivity of binary gas

mixtures to the experimental data led to determination of all the thermal properties of the

pure components on the gas mixture. In the case of CO2, was shown that different

concentrations of this gas in air can be accurately discriminated, opening thus, the

possibility of using this device as a gas detector. The thermal wave interferometer was

as well used for monitoring the presence of hydrocarbons in air throughout the thermal

diffusivity measurements. It was also demonstrated that the temporal response of the

measurement can be used for monitoring hydrocarbons vapors diffusion in air. Thermal

diffusivities measurements for several samples of artificial fuels (hexane-toluene and

hexane-isooctane) were performed. The obtained values showed a linear correlation

with the Motor Octane Number (MON) obtained by the traditional motor method (MON-

ASTM). Proposals of modifications of this new method aiming to increase its accuracy

and to build a device for field measurements are presented. Measurements with liquid

samples (glycerin, water, oils, etc) based on thermal wave interferometry were also

performed.

The obtained results allied to the technological character of this work led to the

requirement of a patent for the Thermal Wave Interferometer developed on our

laboratories.

INTRODUÇÃO

O campo de estudo relacionado a fenômenos fototérmicos desenvolveu-se

extraordinariamente desde o primeiro encontro realizado a cerca de 40 anos.

Atualmente este campo de estudo multidisciplinar congrega físicos, engenheiros,

químicos e biólogos, assim como ciências médicas, do meio ambiente e agrícolas. A

questão que se coloca no contexto das ciências fototérmicas é o porquê de

cientistas pertencentes a uma extensa comunidade partilharem interesses comuns

que em alguns casos estão longe de seus campos de atuação. Talvez a resposta

seja o fato de que todos, sem exceção, estão interessados em aprender e melhorar

técnicas experimentais, entender fenômenos físicos envolvidos e finalmente

desenvolver teorias que expliquem resultados experimentais.

O presente trabalho é organizado em sete capítulos, sendo que o conteúdo

de cinco deles foram submetidos por nós durante o decorrer da tese e já estão

devidamente publicados. Nestes capítulos, somente são discutidos aqueles detalhes

que não puderam ser analisados nos respectivos artigos.

No capítulo I consta um breve histórico, que é seguido da apresentação do

conceito de ondas de difusão, bem como o formalismo matemático envolvido. Nele

também é destacado o conceito de ondas térmicas, suas propriedades e o diagrama

do interferômetro que foi construído e utilizado nos experimentos.

No capítulo II é apresentado um tema também intimamente ligado à ciência

fototérmica, ou seja, à caracterização óptica de materiais, mais especificamente a de

líquidos. O uso de duas técnicas fototérmicas, a saber, a janela optotérmica e a

célula fotoacústica, foram utilizadas para a realização de estudos espectroscópicos

em amostras líquidas contendo espécies químicas de relevante importância nos

problemas ambientais.

No capítulo III é abordado o uso do interferômetro de ondas térmicas como

meio de monitoração de gases e vapores de hidrocarbonetos no ar.

No capítulo IV é mostrado que a técnica da interferometria de ondas

térmicas não é restrita apenas ao estudo e caracterização de substâncias na fase

gasosa, mas também na fase líquida, sendo na forma pura ou de misturas.

No capítulo V é relatado mais amplamente o tema relacionado a misturas

binárias de gases, no que diz respeito a caracterização térmica e ao modelo que

descreve o comportamento das mesmas.

2

No capítulo VI é mostrado que a interferometria de ondas térmicas pode ser

um método alternativo e de baixo custo para a avaliação da qualidade de

combustíveis.

No capítulo VII, as conclusões e as perspectivas deste trabalho são

apresentadas.

Ao longo do desenvolvimento desta tese, foram gerados os seguintes

trabalhos:

1. ON THE USE OF THE OPTOTHERMAL WINDOW TECHNIQUE FOR THE DETERMINATION

OF LOW CONCENTRATION OF CHROMIUM (VI) AND PHOSPHORUS IN WATER

J.A.P. Lima, E. Marín, S.L. Cardoso, M.G. da Silva, M. Sthel, C. Gatts, A. Mariano, C.E.

Rezende, A.R.C. Ovalle, M.S.Suzuki and H. Vargas

Intern. J. Environ. Anal. Chem., Vol. 76(4), pp. 331-344 (2000)

2. OPTICAL AND THERMAL PROPERTIES OF LIQUIDS MEASURED BY MEANS OF AN OPEN

PHOTOACCOUSTIC CELL

O Delgado-Vasallo, A.C. Valdés, E. Marín, J.A.P. Lima, M.G. da Silva, M. Sthel, H. Vargas and S.L.

Cardoso

Meas. Sci. Technol. 11 (2000) 412-417

3. ON THE USE OF THE THERMAL WAVE RESONATOR CAVITY SENSOR FOR

MONITORING HYDROCARBON VAPORS

J.A.P.Lima, E.Marin, M.G.da Silva, M.S.Sthel, S.L.Cardoso, H.Vargas and L. C.M. Miranda

Rev. Sci. Inst, 71,7 (2000)

4. APPLICATION OF THE THERMAL WAVE RESONATOR TO THE MEASUREMENT OF THE

THERMAL DIFFUSIVITY OF GAS MIXTURES

J.A.P.Lima, E.Marin, M.G.da Silva, M.S.Sthel, S.L.Cardoso, D.F.Takeuti, C.Gatts and H.Vargas

Rev. Sci. Inst,72,2 (2001)

5. MEASUREMENT OF THERMAL PROPERTIES OF LIQUIDS USING A THERMAL WAVE

INTERFEROMETER

J.A.P.Lima, E.Marín, O.Correa, M.G.da Silva, S.L.Cardoso, C.Gatts, C.E.Rezende, H.Vargas and

L.C.M.Miranda

Meas. Sci. Technol. 11 (2000) 1522-1526

3

6. THERMAL PROPERTIES OF LIQUIDS MIXTURES USING A THERMAL WAVE

INTERFEROMETER

J.A.P.Lima, E.Marín, M.S.O. Massunaga, O.Correa, S.L.Cardoso, H.Vargas and L.C.M.Miranda

App Phy .B. 73,151-155 (2001)

7. COMPLETE CHARACTERIZATION OF THERMAL PROPERTIES OF GASES USING A

THERMAL WAVE INTERFEROMETER

J.A.P.Lima, E.Marin, M.G.da Silva, S.L.Cardoso, H.Vargas and L.C.M.Miranda

Appl. Phys. B (2001) (in press)

8. THERMAL DIFFUSIVITY AS AN AUTOMOTIVE FUEL CHARACTERIZATION

PARAMETER: CORRELATION WITH MOTOR OCTANE NUMBER

José A.P. Lima, Sergio L. Cardoso, Marcelo G. Silva, Marcelo S. Sthel, Carlos E.N. Gatts, Helion Vargas

and Luiz C.M. Miranda

Ind. Eng. Chen. Research (in press)

9. APPLICATION OF NOVEL PHOTOACOUSTIC MEASUREMENT DESIGNS TO CHROMIUM

(VI) DETERMINATION IN WATER

J.A.P. Lima, E. Marín, S.L. Cardoso, O. Delgado-Vasallo, M.G. Da Silva, M. S. Sthel, C.E.N. Gatts, A.

Mariano, C.E. Rezende, A.R.C. Ovalle, M.S. Suzuki and H. Vargas

Anal.Sci., 2001, Vol 17, Special Issue

10. APPLICATION OF THE THERMAL WAVE RESONATOR CAVITY SENSOR TO THE

CHARACTERIZATION OF AUTOMOTIVE FUELS: MOTOR OCTANE NUMBER (MON)

S.L. Cardoso, M.G. da Silva, J.A.P. Lima, M.S. Sthel, E.Marín and H. Vargas

Anal.Sci., 2001, Vol 17, Special Issue

11. ETHYLENE AND CO2 EMISSION RATES IN TROPICAL FRUITS INVESTIGATED BY

INFRARED ABSORPTION TECHNIQUES

M.G. da Silva, J.A.P. Lima, M.S. Sthel, E. Marín, C.E.N. Gatts, S.L. Cardoso, E. Campostrini, M.G. Pereira,

A.C. Campos, M.S.O. Massunaga and H. Vargas

Anal.Sci., 2001, Vol 17, Special Issue

12. APPLICATION OF THE THERMAL WAVE RESONATOR CAVITY SENSOR TO THE

MEASUREMENT OF THE THERMAL DIFFUSIVITY IN AIR CONTAMINATED WITH

VAPOURS OF DIFFERENT LIQUID HYDROCARBONS

E. Marín, J.A.P. Lima, M.G. da Silva, M.S. Sthel, S.L. Cardoso, E. and H. Vargas

Anal.Sci., 2001, Vol 17, Special Issue

A primeira página de cada trabalho listado acima, encontra-se em ANEXO.

4

CAPÍTULO I

Introdução à Ciência Fototérmica 1.1. Histórico

Ciências fototérmicas é um nome cumulativo para uma classe de fenômenos

que envolvem a geração de calor causada pela absorção de uma radiação

modulada ou pulsada. A primeira notícia de efeito fotoacústico, que é o mais antigo

entre os fenômenos fototérmicos, data de 1880. Este fenômeno foi descoberto por

Alexander G. Bell em suas experiências com o fotofone (Bell,

1880a) por intermédio do qual podia transmitir a voz através de uma luz modulada,

ao longo de uma distância de 213m. Nesta experiência, Bell empregou um feixe de

luz solar modulado pela voz fazendo vibrar um espelho que era preso a um

diafragma de um tubo de fala. A luz transmitida era focalizada por meio de um

espelho parabólico sobre uma célula de selênio conectada a um circuito elétrico de

um telefone (Fig (1-1)). A resistência do selênio era modulada pela luz que por sua

vez era modulada pela voz, reproduzindo desta maneira a fala transmitida em um

telefone receptor. Contudo, Bell constatou que o selênio emitia um sinal audível

quando exposto ao feixe de luz modulada. Ele demonstrou que o selênio e outros

sólidos, inclusive vidro transparente, presos como diafragmas ao tubo de escuta,

emitiam som quando expostos a uma intensa luz modulada (Bell, 1880b). Também

pôde mostrar que a intensidade do efeito dependia do comprimento de onda da luz

empregada e atribuiu corretamente o efeito a um processo de absorção óptica e por

conseguinte providenciou a base para a espectroscopia fotoacústica, sendo portanto

o mais antigo dos fenômenos fototérmicos. Rayleigh, Roentgen, Mercadier e Tyndall

(Almond, 1996), naquela época se envolveram também no estudo do novo

fenômeno. Devido às limitações práticas com os “tubos de escuta” usados como

detectores nos primeiros experimentos, o efeito fotoacústico se tornou uma mera

curiosidade científica.

5

Figura (1-1) – Fotofone construído por Bell e utilizado para transmitir a voz

através de um feixe de luz modulado.

No início dos anos 70, o efeito fotoacústico foi redescoberto em particular

devido ao aparecimento do laser, e também com o desenvolvimento da eletrônica,

bem como microfones e amplificadores. Neste caso, a onda de pressão é detectada

por um microfone de alta sensibilidade e o sinal obtido é caracterizado através da

medida de sua amplitude e fase. A introdução da teoria de Rosencwaig e Gersho

(Rosencwaig, 1976) conhecida como modelo RG, descrevendo o efeito fotoacústico

e o conceito de ondas térmicas, conduziu a um número extraordinariamente grande

de novos esquemas de detecção e várias aplicações (Almond e Patel, 1996, Cesar

et al., 1979).

Recentes desenvolvimentos de novas técnicas de detecção fototérmica têm

provocado um substancial impacto no campo da agricultura (Lima et al., 1985, Nery

et al., Bicanic et al., 1990), medicina (Mascarenhas et al., 1984) e ciências

ambientais. Amostras em forma de pós, líquidos opacos ou transparentes e géis são

de especial interesse (incluindo alimentos) pois são difíceis de serem analisados

através de espectroscopia convencional de transmissão. Assim, as técnicas

fototérmicas podem ser consideradas como meios instrumentais para investigação

das propriedades físicas e caracterização dos materiais (Tomás et al., 1998, Cru-

Orea et al., 1997, Delgadillo et al., 1997).

Em geral a ciência fototérmica abrange uma vasta extensão de técnicas e

fenômenos, baseados na conversão da energia de excitação em calor, devido à

absorção (Almond e Patel, 1996). Uma parcela da energia de excitação que é

espelho detector de selênio

voz

voz~213m

espelho parabólicocircuito telefônico

6

absorvida é convertida em energia térmica por uma enorme variedade de materiais

sólidos, líquidos e gases. Embora a absorção inicial da energia possa ser muito

seletiva (espectroscopia), é comum para estados eletrônicos excitados em átomos

ou moléculas a perda da energia de excitação por uma série de decaimentos não

radiativos que resultam em um aquecimento do material. A maior parte das

aplicações do efeito fototérmico pode ser dividida em dois tipos distintos, ou seja,

aplicações nas quais detalhes de um processo de absorção óptica são deduzidos

pela monitoração do calor resultante, e outra na qual uma fonte óptica é utilizada

apenas como uma forma conveniente e precisamente controlada de aquecimento.

Portanto, a caracterização óptica ou térmica constitui-se direta ou

indiretamente em uma ferramenta para interpretação ou correlação com outros

fenômenos ou propriedades de interesse relacionadas a uma amostra. A magnitude

e a natureza do sinal fototérmico gerado depende de muitos parâmetros ou

propriedades da amostra, dentre estas, o coeficiente de absorção óptica (β), a

eficiência da conversão de radiação em calor (η) e das propriedades termofísicas,

tais como a difusividade térmica (α), condutividade térmica (κ), efusividade térmica

(ε) e a capacitância térmica por unidade de volume ( cρ ) (Vargas e Miranda, 1988).

O conceito de ondas é uma parte integrante da cultura científica. Muitas

descobertas na física, incluindo a mecânica quântica, têm envolvido fenômenos com

ondas. Existe, no entanto, uma classe de ondas denominada ondas de difusão, cuja

peculiaridade é a de possuir apenas derivadas de primeira ordem no tempo. Estas

perturbações envolvem oscilações coerentes de difusão de energia ou partículas.

Seus vetores de onda são complexos e não exibem uma lei quadrática de

comportamento (Mandelis, in Press).

1.2. Ondas de Difusão

As ondas de difusão são conhecidas desde os dias de Angström

(Angström,1861) nos meados do século IX. No entanto, um progresso significante

nesta ciência e tecnologias associadas tenha ocorrido apenas recentemente

(Mandelis, 1992). Agora, a geração e a detecção de ondas de difusão nas fases

condensadas e gasosas da matéria têm mostrado vantagens significantes na

medida e na investigação das propriedades térmicas anteriormente citadas no item

1.1, bem como nas propriedades ópticas e eletrônicas.

7

Matematicamente, as ondas de difusão surgem quando a equação clássica

da difusão é acoplada a uma força oscilatória:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) tjerqt,rrFt,rtD

t,r ωΨΨΨ =+∂∂

−∇12 , [1-1]

onde a força q(r)ejωt gera soluções oscilatórias Φ(r,ω) ejωt para as funções de campo

de onda Ψ(r,t), D é a propriedade de transporte do meio, usualmente uma

difusividade, Ψ(r,t) pode ser uma temperatura oscilante, como por exemplo a que é

gerada como resultado do aquecimento periódico induzido opticamente em um meio.

Aplicando a transformada de Fourier à Eq [1-1], obtém-se uma expressão da

forma:

( ) ( ) ( ) ( )ωωΦωσωΦ ,rQ,r,r,r =−∇ 22 [1-2]

onde σ(r,ω) é o número de onda complexo de difusão. O termo F(r) Eq [1], que

usualmente é uma constante, é o quadrado do comprimento característico de

decaimento da onda de difusão. No caso de ondas térmicas, devido a inexistência

de atraso no processo de conversão de energia, F(r)=0.

Muito da física de ondas de difusão está incorporado no número de onda.

Para ondas térmicas, ( ))(Lj

ωσ +

=1 , onde L(ω) é o comprimento de difusão dado por

ωD2 , onde D é a difusividade térmica. Para outras variedades de ondas de

difusão a parte real e imaginária são diferentes, fato este que traz importantes

consequências na distribuição espacial do campo de ondas. Se a parte real e

imaginária de um vetor de onda são iguais, as ondas aparecem em todas as

freqüências. No entanto se as partes real e imaginária são diferentes, a parte

imaginária não é intensa o bastante para aparecer ainda que altas freqüências

sejam atingidas.

8

1.3. Formalismo Matemático

Considerando um meio homogêneo, isotrópico e semi-infinito, cuja superfície

é sujeita a um aquecimento harmônico plano da forma [ ]tcosIo ω+12

, onde Io é a

intensidade óptica da fonte, ω é a freqüência angular de modulação da fonte de

calor e t é o tempo. Se for considerado que a superfície submetida ao aquecimento

ocupa o plano y - z em 0=x , a distribuição de temperatura dentro do sólido pode

ser obtida pela resolução da equação de difusão de calor para o caso

unidimensional em x e t :

tT

xT

∂∂

=∂∂

α1

2

2

0,0 >< tx , [1-3]

onde α é a difusividade térmica do meio.

Estabelecida a condição de contorno como sendo a energia térmica

periódica aplicada à superfície e que é dissipada por condução para o interior do

sólido, obtém-se:

[ ] [ ]⎭⎬⎫

⎩⎨⎧ +=+=

∂∂

− tjo eIRetcosIxTk ωω 1

21

20 0,0 >= tx [1-4]

O aquecimento se divide em duas partes, )/I( 20 e )/I( 20tje ω , as quais

produzem um incremento “d.c”. de temperatura e uma modulação térmica ”a.c”. Em

primeira instância a componente “d.c”. é omitida interessando somente a

componente “a.c”. da temperatura.

Para a resolução da Eq [1-3] é suposto que a componente periódica da

temperatura apresenta a seguinte forma:

{ }tje)x(TRe)t,x(T ω= [1-5]

Substituindo a Eq [1-5] na Eq [1-3] obtém-se:

9

02

2=⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛− tje)x(jT

dx)x(Td ω

αω [1-6].

Considerando apenas o fator com dependência espacial da temperatura, a

solução geral pode ser escrita na forma:

,BeAe)x(T xx σσ +− += )j( += 12αωσ , [1-7]

onde A e B são constantes arbitrárias. Para obter estas constantes, pode-se notar

que )(∞T tem que ser finita. Por conseguinte, a constante B é igual a zero. Para a

obtenção de A, é aplicada como condição de contorno a continuidade do fluxo na

superfície da amostra, ou seja, em 0=x :

xo Ae))(k(x

)x(TkI σσ −−−=

∂∂

−=2

, [1-8]

da qual se obtém σk

IA o

2= e com isso a solução completa tem a forma:

jxt

x

o eck

eI)t,x(T⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−

= 422

2

πα

ωωαω

ωρ [1-9].

Esta expressão é similar à que é obtida para a amplitude de ondas

eletromagnéticas em uma camada superficial de um condutor, como por exemplo um

metal. Assim, a Eq [1-9] caracteriza uma onda térmica que se origina na superfície

do material (amostra) e se propaga para o seu interior. Uma análise dos termos

desta equação conduz a importantes conclusões:

1.4. Ondas Térmicas: Propriedades

1. Semelhante a qualquer onda propagante, uma onda térmica possui uma

dependência oscilatória e espacial da forma jkxe , com um vetor de onda dado

por:

10

α

ωμ

σ2

1==)Re( , [1-10]

sendo o parâmetro μ o comprimento de difusão térmica, que é de extrema

importância nos experimentos fototérmicos, pois caracteriza a extensão efetiva de

penetração da onda térmica no interior da amostra Fig (1-2).

Figura (1-2) – Decaimento da intensidade de uma onda térmica, em função da

distância , que é gerada a partir da superfície de um material como

conseqüência da absorção de um feixe de luz modulado.

2. Uma onda térmica é fortemente atenuada com uma constante de decaimento

igual a μ. Pela própria definição de μ, uma onda térmica irá se propagar mais

profundamente dentro de um material quanto maior for a difusividade térmica do

material α , ou se a freqüência da onda térmica ω é baixa.

3. Ondas térmicas são altamente dispersivas, e sua velocidade de fase é dada por:

αωωμν 2== , [1-11]

indicando que as ondas térmicas de alta freqüência se propagam mais rapidamente

do que as de baixa freqüência.

4. Existe uma variação progressiva da fase entre a temperatura na superfície em

0=x até um ponto x da propagação da onda:

μx

eT −0

x0 μ

eT0

aml

11

μϕ −−=

x [1-12].

A defasagem entre a fonte de calor e a temperatura resultante na superfície

é de –π/4.

5. A impedância de onda térmica é definida como a razão entre a temperatura e a

densidade de fluxo térmico, fazendo uma analogia com a impedância elétrica,

sendo a densidade de corrente o fluxo, e o campo elétrico, a temperatura:

jckk

Zωρσ

11== [1-13]

A impedância de onda térmica determina a magnitude da onda térmica na

superfície. A quantidade ckρ na equação de impedância é conhecida como

efusividade térmica.

Semelhantemente às ondas acústicas ou eletromagnéticas, as ondas

térmicas também são refletidas e refratadas em fronteiras de diferentes meios. A

equação de onda térmica pode ser usada para deduzir os coeficientes de reflexão e

transmissão nas fronteiras (Fig (1-3)).

Figura (1-3) – Reflexão e refração de ondas térmicas em uma fronteira.

Os coeficientes de reflexão e transmissão para incidência normal em 0=x

são dados por:

ONDA TÉRMICA INCIDENTE

ONDA TÉRMICA REFLETIDA

ONDA TÉRMICA REFRATADA

MEIO 1

MEIO 2

12

bbR

+−

=11 ,

bT

+=

12 , [1-14]

onde jjj

iii

jj

ii

ckck

kkb

ji

ρρ

σσ

== . Os subscritos são utilizados para identificar os meios

que formam a fronteira. O parâmetro b indica a relação entre as efusividades

térmicas de dois meios e pode ser interpretado como uma medida de

“desacoplamento térmico” ou “descasamento térmico” entre estes dois meios

(Almond e Patel, 1996).

A predição e comprovação de que as ondas térmicas podem ser refletidas

entre duas fronteiras formando uma região de interferência foi pela primeira vez

constatada por Bennett e Patty (Bennett e Patty,1982). Neste trabalho foi mostrado

que o sinal de amplitude, em função da freqüência de modulação, obtido em uma

célula fotoacústica, tendo como amostra um substrato, sobre o qual foi depositado

partículas de carbono, apresentava um máximo entre 5 e 10Hz. Foi evidenciado que

o aparecimento do pico na amplitude era devido a uma contribuição de interferência

construtiva de ondas térmicas nesta faixa de freqüências.

Mais recentemente Shen e Mandellis (Shen e Mandelis, 1995) têm explorado

mais detalhadamente o tema anteriormente descrito. Em seu trabalho, foi utilizado

um sensor piroelétrico (PVDF) como sensor e como fonte de ondas térmicas um

disco de alumínio (15μm) enegrecido e bombeado por um laser de NeHe (10mW).

Neste arranjo experimental, a distância entre a fonte e o detector pode ser variada

precisamente através de um estágio micrométrico, e com isto, puderam medir a

difusividade térmica do ar obtendo um valor de 0.211cm2/s que é compatível com os

valores encontrados na literatura (Kothandaraman e Subramaniam,1997). As

aplicações da interferometria de ondas térmicas também vêm sendo abordadas mais

ampla e freqüentemente por H. Vargas e colaboradores (Lima et al., 2000a, Lima et

al., 2000b, Lima et al., 2000c, Lima et al., 2000d, Lima et al., 2000e).

1.5. O Interferômetro de Ondas Térmicas

A seguir, mostramos o desenvolvimento da expressão principal envolvida

neste trabalho de tese. Considerando a geometria da Fig (1-4).

13

Figura (1-4) – Modelo geométrico do interferômetro de ondas térmicas

Seja uma fonte de luz periódica [ ]tcosI ω+120 , onde I0 é a intensidade da

fonte de luz e ω é a freqüência angular de modulação do feixe e t é o tempo. O

aquecimento periódico no disco de alumínio, é obtido pela solução da equação da

difusão, tendo como condição de contorno o aquecimento gerado na superfície

enegrecida devido a absorção. O calor é difundido instantaneamente para a

superfície em contato com o gás. A distribuição espacial e temporal desta solução

consiste na Eq [1-9] já mostrada anteriormente. Na equação seguinte, o termo cκρ

da Eq [1-9] foi substituído por εg que é a efusividade do gás.

( )⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−−−−

=txjx

geeIt,xT

ωπμμ

ωε40

2 [1-15]

Supondo que ondas planas se propagam do meio 1 para o meio 2, para uma

incidência normal o coeficiente de reflexão segundo a Eq [1-14] fica:

bbR

+−

=11

12 [1-16]

onde 12 εε=b . Considerando a Eq [1-15] e os índices g (gás), Al (alumínio) e P

(PVDF), tem-se que a temperatura na superfície do PVDF, x=L é a superposição de

PVDF

0 L x

V

Al

Gás

Feixe de luz modulado

I0

14

todas as ondas transmitidas e refletidas. Assim a temperatura resultante na posição

x=L é expressa por:

( ) ( ) ( ) LnngPgAl

LgPgAl

Ln eRR...eRReTT...TTTLT σ+−σ−σ− +++=++++= 123

0321 [1-17]

onde ωε gIT 200 = é a temperatura do gás em x=0. Os coeficientes RgAl e RgP são

os coeficientes de reflexão entre os meios representados pelos índices subescritos.

Supondo que n é um número inteiro de 0 a ∞ , a Eq [1-17] pode ser escrita como:

( ) [ ] ∑∑∞

=

−∞

=

−− ==0

00

20

n

nLn

n

LL reTeeTLT σσσ γ [1-18]

com γ= RgAl RgP. ,σ=(1+j)/μg e μg o comprimento de difusão térmica do gás. A série

∑∞

=0n

nr , para (r)<1, é uma progressão geométrica infinita que converge para a função

( )r−11 . Por definição γ<1 e 1<− Le σ , de modo de a expressão final para a

temperatura fica:

( ) L

L

eeTLT σ

σ

γ 20

1 −

−= [1-19]

É importante mencionar que a expressão final não leva em conta a influência

da dissipação do calor por convecção , nem por irradiação (Mascarenhas, 1984,

Tomás, 1988).

A temperatura dada pela Eq [1-19] induz um campo elétrico no pirosensor de

modo que o sinal gerado apresenta um termo proporcional a T(L) e um termo

proporcional à resposta natural do sensor e do sistema de medida (Vargas e

Miranda, 1988). Desta maneira, o sinal gerado pelo detector pode ser separado em

suas componentes real e imaginária através do uso de "lock-in". As formas típicas

apresentadas pelo sinal em fase (IP) e em quadratura (IQ) podem ser vistos na Fig

(1-5):

15

Figura (1-5) – Curvas teóricas genéricas para os sinais IP e IQ.

Um instrumento por nós desenvolvido, no qual denominamos interferômetro

de ondas térmicas, é mostrado na próxima figura.

Figura (1-6) – Configuração mecânica do interferômetro.

Toda estrutura do interferômetro foi confeccionada em aço inoxidável.

Alguns componentes internos foram construídos em nylon e latão. A câmara do

interferômetro possui na sua periferia um conjunto de 6 orifícios com múltipla função,

Gás ou Vapor

L

amplificador

Motor de passoMicrômetro digital

PVDFFolha de Alumínio

modulador

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4-1

0

1

2

3

4

Sina

l (IP

)

L [cm]0.0 0.1 0.2 0.3 0.4

-2

-1

0

Sina

l (IQ

)

L [cm]

16

ou seja, podem ser utilizados como saída ou entrada de gases, para adaptação de

termopares, sensores de pressão ou permanecerem apenas fechados. Como fonte

de ondas térmicas, foi utilizado um disco de alumínio com 1,2cm de diâmetro e

15μm de espessura, enegrecido com tinta em uma das faces. Como fonte de

excitação, foi usado um laser modulado mecanicamente por um "chopper".

Devemos ressaltar que pelo fato do laser ser totalmente absorvido na face

enegrecida do alumínio, o comprimento de onda do laser é totalmente irrelevante no

resultado das medidas. O sensor por nós utilizado é confeccionado com um polímero

denominado difluoreto de polivinilideno (PVDF) metalizado em ambas as faces com

uma fina camada de alumínio. Este polímero apresenta uma intensa componente

piroelétrica, embora também apresente características piezoelétricas em menor

intensidade. O diâmetro e a espessura do PVDF usado no interferômetro é de 0,8cm

e 25μm respectivamente. Para a fixação dos contatos elétricos utilizamos adesivo à

base de prata, e para fixar o sensor ao êmbolo móvel, utilizamos resina epoxi. O

êmbolo é acoplado a um micrômetro digital (Starrett-762 NRL com saída RS 232),

que é acionado por um motor de passo (SINGER SMD-D55/7,5 E) com resolução de

48 passos por volta. Todo o sistema é automatizado via computador. O registro do

sinal pode ser feito em função do deslocamento do sensor (PVDF) ou em função do

tempo. Neste último caso, o sensor permanece imóvel em uma posição determinada

pelo micrômetro durante toda a medida. Esta modalidade de medida terá maiores

esclarecimentos no capítulo III.

No que se refere à coleta dos pontos experimentais, inicialmente foi

elaborado um programa no LCFIS(UENF), que exibe em tempo real os gráficos dos

sinais em fase e em quadratura. Os pontos experimentais gerados eram

processados a “posteriori” através de um programa gráfico pelo ajuste pelos

mínimos quadrados em relação a curva teórica para os sinais em fase e em

quadratura. Neste caso, obtém-se dois valores de difusividade térmica para a

mesma amostra, que teoricamente devem ser idênticos. O procedimento adotado

por nós foi o de considerar o valor da média entre a difusividade térmica obtida pelo

ajuste do sinal em fase e a difusividade térmica obtida para o sinal em quadratura.

Posteriormente reanalisando esta questão, concluímos que o ajuste dos dados para

o cálculo da difusividade térmica (α), quando feitos em relação a amplitude, gera

apenas um valor de α. Com isto queremos dizer que, embora o registro gráfico e a

coleta dos dados ainda que continuem sendo feitos em relação aos sinais em fase e

17

quadratura (Fig (1-15)), o ajuste para o cálculo de α é feito pelo gráfico da amplitude.

É importante notar que o sinal de amplitude é igual ao módulo de um vetor complexo

cujo componente real é proporcional ao sinal em fase(IP), e a componente

imaginária é proporcional ao sinal em quadratura(IQ). Portanto, o sinal de amplitude

em função do deslocamento L é dado por:

( ) ( ) ( )LIQLIPLA 22 += [1-20]

Este procedimento mostrou outra vantagem além da citada anteriormente.

Ficou comprovado na prática que, embora o registro gráfico e portanto, os dados

apresentarem esporadicamente algumas distorções, o gráfico da amplitude

resultante dos sinais em fase e em quadratura calculados pela Eq [1-20] não

mostravam nenhuma irregularidade a ponto de afetar o ajuste e consequentemente

o valor final de α. Assim, passamos a adotar como expressão teórica para o cálculo

da difusividade térmica a Eq [1-19] já considerando a influência do sensor

piroelétrico e do sistema de medida embutidos na constante K. Este procedimento

conduz a uma expressão da forma:

( ) L

L

eeKf,,LS σ

σ

γα 21 −

−= [1-21]

Como no nosso experimento não utilizamos a variação da freqüência dee

modulação e consideramos que a difusividade da amostra é constante, obtém-se

uma expressão final da forma:

( ) L

L

eeCLS σ

σ

γ 21 −

−= [1-22]

onde C é uma constante complexa, e os outros parâmetros são os mesmos da Eq

[1-19]. O módulo da Eq [1-22] gera a expressão que é utilizada no ajuste dos pontos

experimentais. A expressão resultante tem a forma:

( )( )

( ) ( )( ) ( ) 2121

21

42321

23

4

221 P/PxP/Px

P/Px

ePP/PxcoseP

ePLA±−±−

±−

+±−−= [1-23]

18

onde P1 é um parâmetro associado ao erro da posição inicial do micrômetro, ou seja,

o sensor piroelétrico em contato com o disco de Al, P2 é o comprimento de difusão

térmica da amostra, P3 é o parâmetro γ e P4 é um parâmetro de amplitude relativa

que pode ser estimado visualmente através do gráfico de amplitude. Os quatro

parâmetros são considerados livres e portanto, há a necessidade de uma estimativa

inicial. O cálculo do ajuste em relação à Eq [1-23] é efetuado através de inúmeras

interações até que o erro dos parâmetros de ajuste e do χ quadrado sejam mínimos.

O resultado de α é obtido pela expressão :

fP πα 24= [1-24]

onde P4 é um dos parâmetros de ajuste e f é a freqüência de modulação. Um

exemplo real mostrando a variação do sinal de amplitude em função da distância

para o ar, juntamente com os parâmetros de ajuste, pode ser visto na Fig (1-7):

Figura (1-7) – Pontos experimentais obtidos para o ar e ajustados em relação à

curva teórica de amplitude. Os parâmetros de ajuste obtidos são

mostrados no campo superior direito da figura.

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Data: Ar ambienteModel: MirandaChi 2̂ = 0.00009P1�-0.08386� ±0.00065P2�0.08415� ±0.00027P3�0.05566� ±0.00157P4�0.92305� ±0.00557

ALFA=0.222cm^2/sT=23C

Am

plitu

de

L(cm)

19

A aplicação deste instrumento, cujo funcionamento e metodologia foram

detalhadamente descritos até aqui, é o tema principal apresentado nos capítulos III,

IV e V.

20

CAPÍTULO II

Estudo das Propriedades Ópticas e Térmicas em Líquidos Usando Diferentes Técnicas de Detecção Fototérmicas: Janela Optotérmica e Célula Fotoacústica

Este capítulo tem como base os seguintes trabalhos:

ON THE USE OF THE OPTOTHERMAL WINDOW TECHNIQUE FOR THE

DETERMINATION OF LOW CONCENTRATION OF CHROMIUM (VI) AND

PHOSPHORUS IN WATER

J.A.P. Lima, E. Marín, S.L. Cardoso, M.G. da Silva, M. Sthel, C. Gatts, A. Mariano, C.E.

Rezende, A.R.C. Ovalle, M.S.Suzuki and H. Vargas

Intern. J. Environ. Anal. Chem., Vol. 76(4), pp. 331-344 (2000)

OPTICAL AND THERMAL PROPERTIES OF LIQUIDS MEASURED BY MEANS

OF AN OPEN PHOTOACCOUSTIC CELL

O Delgado-Vasallo, A.C. Valdés, E. Marín, J.A.P. Lima, M.G. da Silva, M. Sthel, H. Vargas

and S.L. Cardoso

Meas. Sci. Technol. 11 (2000) 412-417

Nas últimas décadas tem sido relevante a preocupação a respeito de

questões relacionadas ao meio ambiente e a ação antrópica sobre o mesmo. Dentre

os diversos problemas destacam-se: a contaminação na água para consumo e

aqueles relacionados a ecossistemas aquáticos. Dentre os elementos de alta

toxidade a nível de traço, destaca-se o Cr. A determinação de Cr (III) e Cr (VI) é de

considerável interesse para o meio ambiente e sistemas biológicos em função do

número de oxidação em que este elemento se encontre. Nos mamíferos, o Cr (III) é

considerado essencial para a manutenção da glicose, lipídios e metabolismo das

proteínas. No entanto o Cr (VI) é considerado como tóxico devido a sua habilidade

de oxidar outras espécies, além de causar impactos adversos nos pulmões, fígado e

rins. As principais fontes de contaminação de Cr (III) e Cr (VI) na água são

provenientes do sistema de refrigeração de caldeiras, indústria de galvanoplastia,

21

indústria de corantes e curtição de couros. O Cr (VI) também pode entrar no sistema

de distribuição de água para o consumo devido aos inibidores de corrosão presentes

nos tubos de água. Com relação aos ambientes aquáticos, o Cr ocorre a nível de

ng/ml ou menos e a nível de consumo humano o Cr (VI) é tolerável, segundo a

Organização Mundial da Saúde, até 50 ppb.

No caso do fósforo, mais especificamente o ortofosfato ( 34−PO ), sua

importância e interesse estão direcionados aos ecossistemas aquáticos. A

monitoração periódica dos níveis de fósforo em uma lagoa por exemplo, permite a

avaliação do nível eutrófico da mesma e portanto um excesso de 34−PO pode causar

um desequilíbrio. Uma das principais fontes de despejo de fósforo é de origem

doméstica, devido a alta presença deste elemento na composição dos detergentes.

Na realidade, poucas técnicas analíticas com sensibilidade e seletividade

suficiente são disponíveis para a determinação direta a nível de ultra traço(ppb) no

que diz respeito principalmente a detenção de Cr na água.

Neste trabalho inicial, o tema central é o uso da técnica da Janela

Optotérmica, que na realidade é uma variante da Espectroscopia Fotoacústica

combinada com os métodos colorimétricos, já bem estabelecidos (McGraw-Hill e

Ewing, 1976), para a determinação de baixas concentrações de poluentes na água.

Como uma primeira aproximação, o Cr (VI) e o Fósforo foram determinados em

amostras de água destilada. O interesse na determinação destas duas espécies no

meio ambiente e em sistemas biológicos se deve ao alto nível de toxidade em baixas

concentrações e ao equilíbrio em ecossistemas aquáticos respectivamente. Os

valores máximos permitidos do Cr (VI) na água de beber foram bem descriminados

no nosso experimento. Os valores detectados foram comparados com os obtidos

pela espectrofotometria convencional.

No segundo trabalho, soluções Cr (VI) em água foram medidas com o uso

de uma célula fotoacústica com dupla função. Neste caso também foi feita uma

comparação dos resultados com a espectrofotometria convencional, como veremos

no decorrer deste trabalho.

Tem sido demonstrado que uma maior sensibilidade e seletividade, em

relação aos métodos espectrofotométricos tradicionais, podem ser alcançadas com

algumas vantagens com o uso de técnicas fototérmicas. Estas técnicas englobam

um grupo de métodos de alta sensibilidade baseados na detecção da variação

periódica do calor foto-induzido em uma amostra (Vargas e Miranda, 1988).

22

A energia luminosa absorvida pela amostra não perdida por reemissão

provoca um aquecimento, o qual induz variações nos parâmetros dependentes da

temperatura. A medida destas variações é a base dos métodos fototérmicos.

2.1. Considerações Teóricas: Janela Optotérmica

A Janela Optotérmica é uma variante da célula fotoacústica aberta

(Helander, 1993, Helander, 1986), e um caso particular de detecção piezoelétrica.

Nela, a amostra é depositada sobre um disco transparente de safira, com espessura

de 0.5mm, que é colado a um PZT anular, conforme mostra a Fig (2-1):

Figura (2-1) – Vista expandida da janela optotérmica.

Quando não há amostra sobre a Janela Optotérmica, o sinal de tensão

gerado pelo PZT deve-se exclusivamente à uma pequena absorção da radiação

modulada pela safira. Na condição anterior pode-se dizer que a safira funciona como

uma amostra transparente permanentemente colada sobre o PZT. Assim, a safira é

um meio intermediário entre a amostra e o PZT e que serve ao mesmo tempo de

sustentação e como um transdutor de calor em deformação elástica. A escolha da

safira para esta função deve-se às suas excelentes propriedades ópticas, térmicas e

mecânicas. Quanto às propriedades ópticas, pode-se dizer que a safira é

~

PZT FACE METALIZADA

AMOSTRA

INVÓLUCRO METÁLICO

SINAL

RESINA DE

PREENCHIMENTO ANEL DE

CONTATO

ADESIVOÀ BASE

DE PRATA

cm.41=φ

23

absolutamente transparente para comprimentos de onda que se estendem do

infravermelho ao ultravioleta. Possui transmitância praticamente constante, e

portanto não atua seletivamente sobre a radiação. Possui também baixa

absorvância (Callister, 1994). Estas últimas características são fundamentais para o

bom desempenho da Janela Optotérmica em estudos espectroscópicos.

A expressão do sinal que é gerado na Janela Optotérmica (Helander, 1993)

é obtido a partir da solução da equação da condução de calor na amostra e o

detector. Supondo que a amostra é termicamente grossa e a janela de safira é

termicamente, o sinal é dado por :

j

KS++

=1βμ

βμ [2-1]

onde β é coeficiente de absorção da amostra, μ é comprimento de difusão térmica

da amostra e K é uma constante determinada pelas características elétricas do PZT,

e do sistema de detecção. A expressão mostra a natureza complexa do sinal pela

presença de j ( 1− ) no denominador e portanto, para efeito de simplificação, pode

ser decomposta em termos da amplitude e da fase:

( )( ) 11 2 ++

=βμ

βμβ KS ( )1

1+

−=βμ

βϕ arctg [2-2]

Uma análise da Eq [2-2] em relação a βμ mostra que quando βμ >>1, S=K e

ϕ =0 e para pequenos valores de βμ, 2/KS βμ= , o que implica na operação em

regime linear para pequenos valores de absorção. Como conseqüência, o sinal de

fase é saturado em 4/πϕ −= . Na prática é utilizado o sinal normalizado e como

referência uma amostra cujo β seja o maior possível. Isto é conseguido por exemplo,

com o uso da tinta nanquim preta. Assim, o sinal normalizado fica

águaaintt

águaN SS

SSS

−= [2-3]

24

onde ainttS é o valor em tensão do sinal obtido com a tinta preta e águaS é o valor do

sinal obtido para água destilada, que é tomada como referência zero. Deste modo, o

sinal normalizado da Janela Optotérmica pode atingir valores muito próximos de zero

ou de 1, para amostras com coeficientes de absorção entre 0 e ∞ , respectivamente.

Devido à extensa faixa de valores obtidos para β e NS , a representação gráfica de

)(SN β é geralmente feita em escala duplamente logarítmica. Um gráfico teórico de

calibração para )(SN β , )( βϕ com μ por exemplo, igual a 1μm, pode ser visto na Fig

(2-2):

Figura (2-2) – Curva de calibração da janela optotérmica para uma amostra com

μ=1μm.

0.1 1 10 100 1000

0.01

0.1

1

SIN

AL N

OR

MAL

IZAD

O

COEFICIENTE DE ABSORCÃO (β) (1/cm)0.1 1 10 100 1000

-50

-40

-30

-20

-10

0

COEFICIENTE DE ABSORÇÃO ( β) (1/cm)

FASE

(gra

us)

25

2.2. Espectrofotometria Convencional

Neste ponto é interessante fazer algumas considerações sobre a

espectroscopia convencional de transmissão, já que esta técnica é tradicionalmente

utilizada para estudos relacionados à absorção óptica de materiais (McGraw-Hill e

Ewing, 1976).

O princípio básico de funcionamento consiste em fazer um feixe de luz

policromática incidir em uma rede de difração, que pode ser girada de modo a

selecionar o comprimento de onda desejado. O feixe que emerge da grade passa

por um pente de filtros móveis, que servem para estreitar ainda mais a faixa do

comprimento de onda desejado. Após a filtragem, o feixe incide em um espelho, que

por sua vez o dirige para um espelho semitransparente. Como resultado o feixe se

divide em dois, sendo que cada feixe é refletido cada qual por um espelho. Um dos

feixes é concentrado sobre a amostra de referência e o outro sobre a amostra a ser

medida. Uma vez que os feixes atravessam as respectivas amostras contidas em

cubetas transparentes, incidem nos foto-diodos que os convertem em um sinal.

Nesta técnica, a absorvância, que é função do coeficiente de absorção óptica (β), é

medida indiretamente, ou seja, o seu valor é obtido a partir da intensidade do feixe

transmitido através da amostra, que por sua vez é medida pelo foto-diodo. Como é

enunciado pela lei de Beer, a intensidade de um feixe de luz que incide em um

material, sofre uma atenuação exponencial que é função do coeficiente de absorção

e função da distância considerada a partir da superfície de incidência. Assim,

x''T eII β−= 0 , [2-4]

onde 'I 0 é a parcela da radiação incidente que não sofreu reflexão, 'TI é a

intensidade da radiação transmitida ou não absorvida, β é o coeficiente de absorção

óptica e x é a distância percorrida pelo feixe dentro do material. Por outro lado, a

absorvância, que é o parâmetro medido pelo espectrofotômetro, é definida a partir

da equação anterior pela expressão:

26

Cll,II

logABS'

'T χβ ==−= 4300

[2-5]

onde C é a concentração da amostra, χ é o coeficiente de extinção molar e l é o

caminho óptico. As várias concentrações de uma espécie de interesse podem ser

diferenciadas pela utilização do método colorimétrico, ou seja, é acrescentado às

amostras um reagente específico que gera um composto com coloração

proporcional à concentração da espécie .

Como é mostrado na Eq [2-5], a intensidade 'TI , que é medida pelo foto-

diodo, é função também da espessura da amostra (líquida), que no caso do

espectrofotômetro é a própria largura da cubeta que contém a amostra. Assim, o

cálculo de absorvância também leva em consideração esta distância (caminho

óptico). Por esta razão, o espectrofotômetro utiliza cubetas com diferentes larguras,

que podem variar de l=0,1 a 10cm conforme se vê na Fig (2-3):

Figura (2-3) – Diferentes tamanhos de cubetas usadas na espectrofotometria.

A escolha do tamanho da cubeta depende da ordem de grandeza das

concentrações a serem medidas. Para concentrações muito baixas, a cubeta de

maior profundidade é a mais indicada. Embora necessitando de maior quantidade de

amostra, esta é uma forma de aumentar a faixa de discriminação de concentrações,

pois uma maior quantidade de moléculas absorventes contidas na solução

contribuirá para aumentar o sinal de absorvância. Para o caso inverso, ou seja,

soluções muito absorventes, as cubetas com menor caminho óptico são utilizadas.

A título de comparação, é importante ressaltar que uma das principais

vantagens da técnica da janela optotérmica em relação a espectrofotometria

cml 10=

cml 1=mml 1=

27

convencional se deve ao fato de que o sinal medido é função do comprimento do

difusão térmica (μ) que pode ser variado continuamente dentro de certos limites

através da variação da freqüência de modulação. Esta característica faz com que

esta técnica seja a única que permite uma análise da amostra em função da

profundidade. Outra vantagem importante está relacionada à quantidade de amostra

necessária para a análise. Para o uso da janela optotérmica, a quantidade mínima

necessária é de 50μl (1 gota), independentemente da ordem de grandeza das

concentrações que se deseja medir. Na espectrofotometria, o volume de amostra

utilizado é normalmente de 2,5ml, ou seja, aproximadamente o volume da cubeta de

1cm. Com relação ao aparato óptico envolvido na técnica, a janela optotérmica

dispensa todos os componentes que foram anteriormente citados na

espectrofotometria. Outro ponto importante a ser enfatizado é que, na

espectrofotometria o efeito de espalhamento ou reflexão do feixe óptico é prejudicial

à leitura do foto-diodo. Na janela optotérmica tais efeitos não contribuem

negativamente para o desempenho da medida, pois o sinal não é função da leitura

óptica do feixe transmitido e sim do calor que é gerado na amostra como

consequência da absorção.

Outra vantagem a ser ressaltada é que a janela optotérmica permite

medidas espectroscópicas em líquidos opacos.

2.3. Arranjo Experimental

Neste tópico são mostrados os detalhes envolvidos no arranjo experimental

da Janela Optotérmica. A célula e os acessórios envolvidos no experimento podem

ser vistos na figura seguinte.

28

Figura (2-4) – Montagem experimental da janela optotérmica

Antes de iniciar a montagem do experimento, um parâmetro de extrema

importância foi calculado, a saber, o comprimento de difusão térmica , fπαμ = .

Como foi visto na teoria da Janela Optotérmica, este parâmetro é necessário para a

obtenção da curva de calibração )(S β dada pela Eq [2-2] e também é o que

determina o caminho térmico efetivo do experimento. Constatou-se que a freqüência

de modulação ótima a ser fixada para este experimento encontra-se na faixa de

0,1~10Hz. Como μ é proporcional à 21 /f − e também é função da difusividade

térmica da amostra α, é interessante calcular a “priori” uma tabela (Tab {2-1}) com

alguns resultados para o comprimento de difusão térmica na água em função da

freqüência de modulação.

f(Hz) μ (μm)

0,1 679

1 215

5 96

10 68

20 48

30 39

50 30

Tabela {2-1} – Comprimentos de difusão térmica da água em função da freqüência

de modulação.

ACIONADORDO CHOPPER

LOCK-IN

PRÉ-AMPLIFICADOR

ESPELHO AJUSTÁVEL

LASER He-Ne(632.8nm/20mW)

JANELA OPTOTÉRMICA

GANHO = 100f=1Hz

CHOPPER

REFERÊNCIA

PORTA-AMOSTRA

ÍRIS

9

8

2

10

7

6

5

43

1

11

29

Pelo fato do amplificador sincronizado e do modulador mecânico disponíveis

no laboratório não operarem na freqüência de 0,1Hz, foi escolhida como freqüência

de modulação 1Hz. Embora esta freqüência ainda estivesse dentro do limite de

operação do amplificador sincronizado, o mesmo não ocorreu em relação ao

modulador mecânico, tendo este uma freqüência mínima de operação 10Hz. A

solução foi a construção de um modulador mecânico que operasse nesta freqüência.

Isto só foi possível com a utilização de um motor de passo ao invés de um motor

linear. O motor de passo escolhido para a montagem foi o modelo SM 1,8o Singer. O

diagrama de blocos desta montagem pode ser visto a seguir.

Figura (2-5) – Diagrama em blocos do modulador mecânico.

Uma outra medida de suma importância foi a verificação do ruído de fundo

da célula e da sua estabilidade. Tornou-se útil o recurso de interfaceamento (GPIB)

com o computador, permitindo deste modo que a leitura do sinal, feita através do

amplificador sincronizado, fosse enviada para um computador. Um programa

elaborado no LCFIS foi utilizado para adquirir os dados e exibi-los na forma de um

gráfico em função do tempo. Constatou-se que o valor médio do sinal com a célula

vazia foi de 45μV e apresentou uma boa estabilidade (Fig (2-6)).

OSCILADORMESTRE

f=1Mz

DIVISORPROGRAMÁVEL

N=5000

CIRCUITO DE POTÊNCIA

AMPLIFICADOR DO FOTO DIODO

Nfmod 200

106

=

200Hz

1Hz/5Vp-p

2HzREFERÊNCIA

30

Figura (2-6) - Gráfico do ruído de fundo da célula em vazio e sem pré-amplificador.

A segunda verificação feita diz respeito ao sinal de saturação, sendo este

obtido com o uso da tinta nanquim preta. Neste caso há absorção total do feixe do

laser e portanto, o sinal produzido pela Janela Optotérmica atingiu um valor máximo

de 3,4mV.

Devido ao baixo valor obtido para a célula em vazio houve a necessidade da

montagem de um pré-amplificador com um ganho de pelo menos de 100 vezes.

Após a inclusão do pré-amplificador no arranjo experimental, foi efetuado um outro

teste de estabilidade para a avaliação do desempenho da célula já acoplada ao pré-

amplificador. Com o pré-amplificador um ganho da ordem de 100 vezes foi obtido

com praticamente a mesma estabilidade anterior. Uma vez que todos os problemas

de ordem prática foram solucionados, o próximo passo foi a preparação de uma

série de soluções padrão de tinta nanquim em água, sendo adotado como critério o

percentual em peso de tinta nanquim por peso total de solução. As soluções que

foram preparadas para a calibração da janela optotérmica estão na tabela abaixo:

% 0,00125 0,005 0,01 0,05 0,1 1 5 10 15 30

ppm 12,5 50 100 500 103 104 50x103 105 15x104 30x104

Tabela {2-2} – Concentrações dos padrões de tinta nanquim em água.

0 200 400 600 800 1000 12000

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Y =4.49357-0.00000136724 X

SIN

AL

(mV

)

TEMPO (s)

31

Para as soluções de Cr (VI), foi escolhida como padrão a seguinte série de

soluções listadas na tabela abaixo e preparadas em três réplicas de cada uma para

diminuir o erro na preparação das mesmas. As soluções padrão de Cr (VI) em água,

mostradas na Tab {2-3}, foram preparadas segundo o método colorimétrico

difenilcarbazida (Edgar, 1927) que gera um composto de cor vermelho-violeta,

proporcional a concentração de Cr (VI) com absorção máxima em 540nm.

μmol/l 0,02 0,1 0,2 1 2 10 20 100 200 1000

ppb 1,039 5,19 10,39 51,9 103,9 519 1039 5190 10390 51990

Tabela {2-3} – Concentrações dos padrões de Cr(VI) em água destilada.

As soluções padrão de Fósforo em água foram preparadas segundo o

método colorimétrico ácido ascórbico que gera um composto de cor azul

proporcional a concentração de P-PO4-3 com absorção máxima em 885nm.

Para as soluções de P-PO4-3 foi escolhida a série da tabela seguinte,

também feita em triplicata.

μmol/l 0,1 1 5 10 12 15 17 100 200

ppb 9,5 95 475 950 1140 1425 1615 9500 19000

Tabela {2-4} – Concentrações dos padrões de P em água. 2.4. Resultados e Discussões

Fósforo ( 34−PO )

O gráfico do sinal normalizado da Janela Optotérmica para concentrações

entre 0.1 e 200μmol/l é mostrado a seguir.

32

Figura (2-7) – Sinal normalizado versus a concentração de P em água.

É possível notar através da representação em escala duplamente

logarítmica que para baixas concentrações, o sinal apresenta saturação. Esta

limitação se deve a absorção residual da solução de branco e não a sensibilidade da

Janela Optotérmica.

No gráfico da Fig (2-8) é mostrado a curva teórica de calibração calculada a

partir da Eq [2-2] com μ =215μm (f=1Hz). A posição dos pontos experimentais sobre

a curva são determinados pela coordenada do sinal e o correspondente valor de β.

0.10 1.00 10.00 100.00

0.001

0.010

0.100

SIN

AL N

OR

MA

LIZA

DO

CONCENTRAÇÃO DE FÓSFORO (μmol/l)

33

Figura (2-8) – Sinal normalizado das soluções de fósforo em água medido com a

janela optotérmica.

O gráfico da Fig (2-9) mostra os valores de absorvância medidos no

espectrofotômetro a um comprimento de onda de 632.8nm em função das

concentrações de Fósforo na faixa de 10 a 18μmol/l. Menores concentrações não

puderam ser medidas com esta técnica convencional. A linha sólida mostra o melhor

ajuste dos resultados com relação a Eq [2-5] tomando o coeficiente de extinção

molar χ como parâmetro ajustável e o comprimento da cubeta com 1cm. O valor

obtido para χ foi de 11610008.00077.0 −−×± cmlmol .

0.1 1

1E-3

0.01SI

NAL

NO

RM

ALIZ

ADO

COEFICIENTE DE ABSORÇÃO (β) (1/cm)

34

Figura (2-9) – Medidas de absorvância do fósforo para λ=632,8nm

utilizando o espectrofotômetro.

Uma análise similar em relação a Eq [2-5] com respeito à absorvância, foi

feita usando os resultados da Janela Optotérmica. A linha sólida no gráfico da Fig (2-

8) mostra o melhor ajuste dos dados experimentais em relação à equação seguinte:

f.

CSπαχ

24340= [2-6]

Esta equação é obtida a partir da Eq [2-5] pela substituição do caminho

óptico l (espectrofotômetro) pelo comprimento de difusão térmica μ (janela

optotérmica).

8 10 12 14 16 18

0.07

0.08

0.09

0.10

0.11

0.12

0.13

0.14

CONCENTRAÇÃO DE FÓSFORO (μmol/l)

ABSO

RBÂ

NC

IA

35

Figura (2-10) – Sinal normalizado para as concentrações de 34−PO em água.

O parâmetro χ foi considerado como ajustável, sendo o valor encontrado

para este, 116100002.00066.0 −−×±= cmlmolχ . Uma boa comparação foi obtida entre

os resultados da janela optotérmica e aquele da espectrofotometria convencional. É

possível ver que no caso da Janela Optotérmica a determinação do coeficiente de

extinção molar foi feita com mais pontos experimentais e em uma grande faixa de

concentrações.

Cromo (VI)

A amplitude do Sinal Normalizado da Janela Optotérmica para soluções de

Cr(VI) na faixa de 0.02 a 1000μmol é mostrado na Fig (2-11).

0 50 100 150 200

0.00

0.02

0.04

0.06

SIN

AL N

OR

MAL

IZAD

O

CONCENTRAÇÃO DE FÓSFORO (μmol/l)

36

Figura (2-11) – Sinal normalizado para as concentrações de Cr (VI) em água.

É possível constatar que para pequenas concentrações a saturação ocorre.

No gráfico seguinte, Fig (2-12) constam os pontos sobre a curva teórica do sinal em

função de β.

0.01 0.1 1 10 100 1000

0.001

0.010

0.100

10μmol/l

20μmol/l

100μmol/l

200μmol/l

1000μmol/l

2μmol/l

0.1μmol/l0.2μmol/l

1μmol/l

0.02μmol/l

SINA

L NO

RM

ALIZ

ADO

CONCENTRAÇÃO DE Cr (VI) (μmol/l)

37

Figura (2-12) – Sinal normalizado versus coeficiente de absorção óptica das

soluções de Cr (VI) em água.

No gráfico seguinte, são mostrados os valores de absorvância para

λ = 514nm em uma faixa de concentrações para a qual a espectrofotometria não

apresentou saturação. A linha sólida é o melhor ajuste dos dados à Eq [2-5]

resultando no valor χ=0.0227 ± 0.0006x106 lmol-1cm-1.

0.1 1 10 100

0.001

0.010

0.100

1.000

SINA

L NO

RM

ALIZ

ADO

COEFICIENTE DE ABSORÇÃO β(cm-1)

38

Figura (2-13) – Absorvância das soluções de Cr (VI) em água medida com o

espectrofotômetro.

No gráfico da Fig (2-14), é mostrado um ajuste dos dados em relação à

Eq[2-6] resultando em χ=0.0168 ± 0.0003x106 lmol-1cm-1. Os resultados obtidos com

a Janela Optotérmica e a Espectrofotometria são da mesma ordem de magnitude.

Para uma comparação, a literatura registra um valor de χ=0.04x106 lmol-1cm-1em

540nm,onde a absorção é aproximadamente o dobro do valor para 514nm.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

ABS

OR

BÂN

CIA

CONCENTRAÇÃO DE Cr(VI) (μmol/l)

39

Figura (2-14) – Sinal normalizado versus a concentração de Cr(VI) em água.

A determinação de Cr (VI) na água tem sido realizada por várias técnicas. A

mais utilizada atualmente para este fim é o ICP-AES (McGraw-Hill e Ewing, 1976).

Por essa técnica, McLeod et al foram capazes de medir concentrações acima de

0.2μmol/l de Cr (VI) em um sistema de medida em fluxo. Subramanian usando a

Espectroscopia de Absorção Atômica, atingiu um limite de 0.3μmol/l em regime

permanente. As técnicas anteriormente citadas são bem estabelecidas e

normalmente aplicadas para a determinação do Cromo total. A técnica da Janela

Optotérmica mostrou um limite de detecção de 10μmol/l para o Cr (VI),sendo este

valor menor do que o permitido para água potável.

Baixas concentrações de Cr (VI) e Fósforo usando soluções padrões foram

bem determinadas através dos métodos colorimétricos e a técnica da Janela

Optotérmica. Os limites de detecção da Espectrofotometria foram bem discriminados

no nosso experimento. É importante ressaltar que na nossa medida, o comprimento

de onda no caso do Fósforo utilizado foi bem diferente do que aquele que

corresponde ao máximo de absorção. O uso de uma excitação com comprimento de

0 50 100 150 200 250

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

SIN

AL N

ORM

ALI

ZAD

O

CONCENTRAÇÃO DE Cr(VI) (μmol/l)

40

onda próximo a 885nm, usando por exemplo um diodo laser, pode ser apropriado

para aumentar a sensibilidade da Janela Optotérmica para a determinação de

Fósforo na água. Para ambos os casos, Cr (VI) e P, o uso de diodos laser pode

viabilizar a construção de um sistema compacto possibilitando a realização de

medidas no campo.

2.5. Medidas de Concentração de Cr (VI) na Água Utilizando uma Célula Fotoacústica

O princípio de detecção fotoacústica consiste basicamente na monitoração

das flutuações de pressão de um gás nas proximidades de uma amostra quando

exposta a um feixe de radiação modulada. Estas flutuações são decorrentes das

variações de temperatura devido a um fenômeno de absorção. Neste caso o

elemento detector é um microfone de eletreto que é adaptado a uma câmara lacrada

contendo o gás (ar) e a amostra. No entanto, desde que a amostra e o gás estão no

mesmo ambiente, não somente a expansão do gás será detectada, mas também a

expansão da amostra contribuirá para o sinal. Em se tratando de amostras líquidas,

os componentes de evaporação causam um sério problema. Além disso, a

colocação e a remoção da amostra da célula não são tão simples de realizar.

No sentido de superar estas dificuldades, foi introduzido o conceito da

"célula aberta". O esquema da célula utilizada nas medidas de Cr (VI) é mostrado a

seguir (Vargas e Miranda, 1988).

Figura (2-15) – Célula fotoacústica adaptada para a medida de propriedades ópticas

em líquidos.

Lamínula de vidro

amostra

microfone

Radiação modulada

Lamínula devidro

41

Nesta configuração, um feixe de radiação modulada com freqüência de 1Hz

e com um comprimento de onda conhecido incide sobre uma laminula de vidro

(215μm) e passa através do gás incidindo sobre uma outra laminula de vidro onde é

depositada a amostra líquida. Aplicando o modelo RG para a geração do sinal

fotoacústico e supondo que a amostra é termicamente grossa para baixas

freqüências de modulação (fixada em 1Hz) a pressão δPa no gás da célula pode ser

expressa por (Rosencwaig e Gersho, 1976):

( )[ ]

( ) Flfw

swsgog

soow

gge)()f(Tl

IPPa ⎥⎥⎥

⎢⎢⎢

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

⎛−

+++=

21

21

21

21

21

11

2112

παα

βμεεσπ

βμγδ , [2-7]

onde ( ) ( )⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡−+−⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−= −

4111 121

21

21

πβμπαα sw

w

artglfieF

e Po(To) é a pressão e temperatura ambiente, γ é o calor específico para o ar, Io é a

intensidade da radiação incidente, l representa espessura, β é o coeficiente de

absorção óptica. Os subescritos g, s e w representam o gás, amostra e água

respectivamente. O parâmetro μ corresponde ao comprimento de difusão térmica e

σ=(1+j)/μ. Considerando que na equação anterior a condição 12 <<− wlwe σ é

válida para o vidro e semelhantemente a janela optotérmica é utilizada a tinta preta

como referência de normalização ( )1>>ininμβ no regime de saturação, tem-se que

a amplitude e a fase são:

( )( )[ ] ( )wsss

sinss

/,

/Rεεμβ

εεμβ

+++

+=

111980

12

12e ⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+

−=ss

artgμβ

φ1

1 [2-8]

Considerando a mesma série de soluções de Cr(VI) da Tab {2-3}

preparadas segundo o método colorimétrico denominado difenilcarbazida e o

comprimento de onda de 514mm, que foram utilizados na janela optotérmica, tem-se

que para 1<<ssμβ :

42

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

=

w

s

w

inss

,R

εε

εεμβ

12980

1e o45−=φ [2-9]

Como ,lCelog)l(ABS mχβ == onde l é o caminho óptico. Com elog/Cmχβ = a

equação anterior fica:

( )( )ws

wins

//

f,,CR

εεεε

παχ

++

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛×

=11

29804340

21

[2-10]

Nas figuras abaixo são plotados os gráficos obtidos para absorvância das

soluções medidas no espectrofotômetro e do sinal normalizado da célula

fotoacústica, ambos em função da concentração de Cr(VI).

Figura (2-16) – absorvância óptica como função da concentração de Cr (VI) na água.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Abs

orbâ

ncia

Concentração de Cr(VI) (μmol/l)

43

Figura (2-17) – Amplitude do sinal fotoacústico normalizado como função da

concentração de Cr (VI) em água.

No gráfico das absorvâncias, é representada a reta de melhor ajuste em

relação a Clelog)l(ABS χβ == , onde foi obtido χ=0.0227 ± 0.0006x106lmol-1cm-1.

No gráfico do sinal fotoacústico normalizado, o ajuste foi feito em relação a

Eq [2-10], sendo obtido χ=0.0218 ± 0.0002x106lmol-1cm-1. Os resultados obtidos por

estes dois métodos, isto é, fotoacústica e espectrofotometria óptica, são

compatíveis, mostrando com isso a viabilidade do uso da técnica fotoacústica para

estudos espectroscópicos em líquidos.

0 50 100 150 200

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

Concentração de Cr(VI) (μmol/l)

Sina

l Nor

mal

izado

44

CAPÍTULO III

Estudo das Propriedades Térmicas de Vapores e Gases Através do Uso da Interferometria de Ondas Térmicas

Este capítulo é baseado nos trabalhos:

ON THE USE OF THE THERMAL WAVE RESONATOR CAVITY SENSOR

FOR MONITORING HYDROCARBON VAPORS

J.A.P.Lima, E.Marin, M.G.da Silva, M.S.Sthel, S.L.Cardoso, H.Vargas and L. C.M. Miranda

Rev. Sci. Inst, 71,7 (2000)

APPLICATION OF THE THERMAL WAVE RESONATOR TO THE MEASUREMENT

OF THE THERMAL DIFFUSIVITY OF GAS MIXTURES

J.A.P.Lima, E.Marin, M.G.da Silva, M.S.Sthel, S.L.Cardoso, D.F.Takeuti, C.Gatts and H.Vargas

Rev. Sci. Inst,72,2 (2001)

No decorrer de poucas décadas, vários esquemas diferentes para monitorar o

ar têm sido desenvolvidos e extensamente discutidos na literatura (Siegrist, 1976).

Apesar das importantes vantagens dos métodos tradicionais, bem como as técnicas

espectroscópicas, existem ainda algumas desvantagens que têm refreado as suas

aplicações para propósitos de rotina. A instrumentação é muitas vezes complexa,

requerendo pessoal especialmente treinado em face ao complicado processamento dos

dados. Por outro lado, existe uma crescente demanda em expansão para realizar uma

medida segura e precisa das propriedades básicas de uma larga faixa de gases

gerados pela natureza ou indústria moderna, de modo a conduzir os cientistas a uma

melhor compreensão dos processos e fenômenos que governam os assuntos em

questão. Esta situação é particularmente crítica na avaliação das propriedades térmicas

tal como a difusividade térmica, que é uma parâmetro de transporte, o qual determina a

taxa de difusão de calor em um meio a qual pode ser considerada como uma impressão

45

digital, para a qual poucas determinações têm sido relatadas. Muitos desses relatos são

dos meados de 1950 (Touloukian et al., 1973a). Afim de suprir esta carência de

informações, e inspirado pelo trabalho pioneiro de Shen e Mandelis (Shen e Mandelis,

1995), um dispositivo baseado na geração e detecção de ondas térmicas foi

desenvolvido. O método proposto é uma outra aplicação das técnicas fototérmicas, um

campo que tem sofrido uma enorme expansão devido à sua aplicação geral e

adaptabilidade a algumas áreas de pesquisa.

No presente trabalho, o método é aplicado à medida da difusividade térmica do

ar contaminado com vapores de diferentes hidrocarbonetos líquidos da família das

parafinas. Estes hidrocarbonetos são caracterizados por moléculas que formam uma

cadeia linear saturada de ligações C-H dadas pela fórmula CnH2n+2.

3.1. Metodologia

O instrumento por nós desenvolvido, consiste basicamente de uma célula

fechada (Fig (3-1)), cuja descrição em maiores detalhes quanto ao princípio de

funcionamento e de sua construção, já foram mencionados na seção 1.5 do capítulo I.

O único detalhe novo que ressaltamos aqui é a presença do recipiente que contém a

amostra líquida, capacitando assim o interferômetro para a realização de medidas

cinéticas de evaporação.

46

Figura (3-1) – Célula do interferômetro de ondas térmicas adaptada para medir vapor de

líquidos voláteis.

Uma região de gás com espessura L é confinada entre a folha de alumínio e o

sensor piroelétrico (PVDF). A outra superfície da folha de alumínio é aquecida por uma

fonte periodicamente modulada resultando em uma intensidade ( )[ ]2

10

tcosI ω+ , onde I0

é a intensidade da fonte de luz antes da modulação, ω é a freqüência angular e t é o

tempo. A distribuição de temperatura T(x,t), dentro de uma região do gás ao longo da

coordenada longitudinal x, acompanha o aquecimento periódico da folha de alumínio,

que pode ser obtida pela solução da equação da difusão de calor tendo como condição

de contorno o calor que é gerado na superfície sólida pela absorção da luz e dissipado

no gás por difusão. O desenvolvimento teórico que leva à expressão principal de

temperatura (Eq [3-1]) envolvido neste problema, já foi apresentado na seção 1.5 do

capítulo I.

( ) L

L

eeTLT σ

σ

γ 20

1 −

−= [3-1]

(A) (P)

0 L x

V

(g)

Al-AbsorvedorGás

PVDF

Luz modulada

Amostra Líquida

Vapor

1

2

3

n

47

3.2. Arranjo Experimental

A configuração da célula contendo a cavidade ressonante pode ser vista na Fig

(3-1). Nesta configuração experimental, o estágio de detecção constituído de um sensor

piroelétrico colado a um êmbolo, e que foi acoplado ao eixo de um micrômetro, cuja

resolução é de 10μm, foi deslocado manualmente ao longo de 4mm com passos de

200μm, resultando na aquisição de 21 pontos experimentais. As ondas térmicas foram

geradas por iluminação, com incidência normal sobre a folha de alumínio com um laser

de HeNe 20mW, modulado mecanicamente a uma freqüência de 10Hz. O sinal de

corrente do detector foi amplificado e medido por um "lock-in" bifásico.

3.3. Resultados e Discussões

A primeira medida realizada foi a do ar ambiente sob as condições normais de

temperatura e pressão, cujo resultado é mostrado na Fig (3-2).

Figura (3-2) – Sinal em fase (IP) e em quadratura (IQ) medidos para o ar.

A linha sólida mostra o melhor ajuste para cada uma das partes

real e imaginária da Eq [3-5].

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4-1

0

1

2

3

4

IP (n

A)

L [cm]0.0 0.1 0.2 0.3 0.4

-2

-1

0

(b)(a)

IQ (n

A)

L [cm]

48

Os dois gráficos mostram respectivamente, o sinal em fase e em quadratura

versus, o comprimento da cavidade L. As linhas sólidas representam o melhor ajuste

dos dados à parte real e imaginária da Eq [3-1]. O valor de α obtido para o ar foi

s/cm,, 200702440 ± , o qual está de acordo com o valor encontrado na literatura

(Touloukian et al., 1973a). Foi constatado um alto índice de reprodutibilidade do valor

anteriormente citado para 22oC, indicando que o ar é uma importante referência para a

verificação do bom funcionamento do sistema .

De modo a demonstrar o potencial analítico do método aqui proposto, foi

realizada uma série de medidas ao longo do tempo em misturas gasosas. Neste tipo de

medida, acopla-se um recipiente cuja metade do volume é ocupada com o líquido volátil

a ser medido. O vapor resultante da evaporação se difunde espontaneamente,

formando uma mistura de vapor e ar que gradativamente preenche a célula. Na Fig (3-

3) é mostrada simultaneamente a evolução do sinal em amplitude para quatro tipos de

hidrocarbonetos. O comprimento da cavidade ressonante neste tipo de medida

permanece fixo em L=2mm. A dependência temporal observada para o sinal do sensor

piroelétrico é consequência do aumento da quantidade de moléculas de hidrocarboneto

presentes no ar da célula. A difusividade térmica da mistura resultante varia com o

tempo até que o regime de saturação seja atingido.

49

Figura (3-3) – Evolução temporal do sinal de amplitude normalizado para amostras de

diferentes hidrocarbonetos. As linhas sólidas representam o melhor

ajuste dos pontos experimentais à uma exponencial decrescente.

Os valores das constantes de tempo de decaimento τ, que foram obtidas como

resultado do ajuste dos dados experimentais à uma curva de lei exponencial, foram

plotados como função do número de átomos de carbono da cadeia linear (NC),

conforme mostra a figura (3-4).

0 500 1000 1500 2000 25000.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

n-octano

n-heptano

n-hexano

n-pentano

Am

plitu

de N

orm

aliz

ada

Tempo (s)

50

Figura (3-4) – Gráfico da correlação entre os tempos de decaimento τ e o número de

átomos da cadeia linear dos hidrocarbonetos. O melhor ajuste é

representado pela linha sólida.

Como os resultados indicam, o tempo de decaimento τ parece ser único para

uma dada mistura de ar com hidrocarboneto, e portanto, pode ser considerado como

um parâmetro de identificação, semelhante a uma impressão digital.

No que diz respeito à medida da difusividade térmica para cada mistura de ar-

hidrocarboneto, ressaltamos que em todos os casos o regime de saturação foi

plenamente atingido. Os valores de α obtidos para cada mistura são a média dos

resultados do ajuste dos pontos às curvas teóricas em fase e em quadratura,

consideradas para uma frequência fixa de modulação igual a 10Hz. Os valores obtidos

para α, bem como os resultados dos cálculos da fração molar de cada hidrocarboneto

presente na mistura após a saturação, são mostrados na Tab {3-1}.

5 6 7 8

200

400

600

800

1000

τ (s)

NC

51

Hidrocarboneto Fração molar

na mistura Difusividade térmica

(cm2/s)

n-pentano C5H12 40.1 00200690 .. ±

n-hexano C6H14 16.9 00201120 .. ±

n-heptano C7H16 5.98 00301480 .. ±

n-octano C8H18 2.1 00302010 .. ±

Tabela {3-1} – Difusividade térmica dos diferentes hidrocarbonetos (vapor) com o ar.

Na Fig (3-5) os valores da difusividade são plotados em função do número de

átomo de carbono da cadeia. A linha sólida mostra um ajuste linear dos dados.

Figura (3-5) – Difusividade térmica como função do número de átomos de

carbono na cadeia linear.

5 6 7 8

0.08

0.12

0.16

0.20

α (c

m2 /s

)

NC

52

Como podemos verificar, a difusividade térmica do vapor de n-octano com ar

apresenta maior valor do que as outras. Isto pode por ser explicado considerando que

a medida de α é de fato um valor efetivo para misturas de gases.

Outras séries de medida de relevância foram realizadas em função da variação

da temperatura do hidrocarboneto na fase líquida. Estes experimentos foram realizados

com o uso de um banho térmico da Neslab RTE-111, com o qual fizemos circular água

através de uma serpentina adaptada externamente ao recipiente contendo a amostra

líquida do hidrocarboneto. O resultado é mostrado na Fig (3-6).

Figura (3-6) – Difusividade térmica como função da temperatura para diversas misturas

de ar-hidrocarboneto. Os quadrados, círculos e triângulos correspondem

ao n-pentano, n-hexano e n-heptano, respectiva mente.

Pelos resultados obtidos, podemos perceber a forte influência que a variação de

temperatura provoca no valor final da difusividade térmica. Isto sugere o uso de um

0 10 20 30 40 50 60 70 800.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

α (c

m2 /s

)

Temperatura ( 0C )

53

rigoroso controle de temperatura, tanto da amostra líquida, quanto da célula do

interferômetro. Para o n-octano não foi possível obter o gráfico em função da

temperatura. A alta temperatura necessária para manter uma maior quantidade de

vapor de n-octano na célula gera uma quantidade considerável de ruído,

impossibilitando portanto, a medida do sinal.

Com os resultados obtidos nos nossos experimentos, mostra-se uma ampla

possibilidade da realização rotineira e acurada da medida da difusividade térmica de

mistura gasosa, e consequentemente, monitorar a poluição ambiental no ar e

fenômenos relacionados. No entanto, uma larga faixa de aplicações, incluindo a

determinação da respiração de produtos (solos e plantas) também podem ser

investigadas.

No que segue, e baseado no segundo trabalho, um analisador de gás usando a

interferometria de ondas térmicas, é aqui apresentado. Através do uso do modelo

logarítmico de misturas (Hirschfelder et al., 1973) para as propriedades térmicas de um

sistema binário, a dependência da difusividade térmica em função da concentração de

CO2 é adequadamente descrita uma vez que as propriedades térmicas dos

constituintes individuais puros sejam acuradamente determinados. O arranjo

experimental usado neste trabalho é literalmente o mesmo exibido na figura (1-16) do

capítulo I. A única diferença é no porta-amostra para hidrocarbonetos, que foi

substituído por uma tampa com dutos para entrada e saída da mistura gasosa.

Como foi mostrado no primeiro trabalho integrante deste capítulo, a expressão

da temperatura na superfície do sensor piroelétrico é da forma:

( ) qL

qL

eeTLT 2

0

1 −

−=

γ , [3-2]

onde T0 é a temperatura do gás na superfície interna da folha do alumínio,

( ) 21/gjq αω= , αg é a difusividade térmica do gás, 1−=j e gPgARR=γ . Os parâmetros

RgA e RgP são os coeficientes de reflexão para ondas planas que se propagam do meio g

com o meio A (alumínio) e o meio P (PVDF) respectivamente. Por definição,

54

gA

gAgA b

bR

+

−=

11

e gP

gPgP b

bR

+

−=

11

, onde g

AgAb

εε

= , P

Pg Pb

εε

= , onde ε representa a

efusividade térmica.

A difusividade e a efusividade térmicas estão relacionadas com a condutividade

térmica (κ), calor específico (c) e a densidade (ρ) através de cρ

κα = e cκρε = .

Uma série de medidas foram efetuadas com misturas de CO2 em ar à

temperatura ambiente de 21oC e 1atm usando um gás certificado fornecido pela White

Martins. As misturas foram preparadas com ar sintético (20% O2 e 80% N2) e CO2

(99,99%) cujas proporções foram precisamente controladas por um controlador

eletrônico de fluxo (580s Brooks Instruments). As saídas individuais do controlador

foram acopladas à entrada de uma "célula estanque". Na saída da "célula estanque" a

quantidade de CO2 em cada mistura foi conferida, antes de entrar na câmara do

interferômetro pelo uso de um sistema analisador de CO2 (URAS 14 de Hartman &

Braum).

A Fig (3-7) mostra o gráfico das difusividades térmicas encontradas para cada

concentração de mistura CO2–Ar. No canto superior direito da figura é possível ver a

dependência do sinal do ressonador em função da distância para uma mistura de 50%

de CO2. Os valores encontrados para o ar puro e o CO2 puros são 0,218cm2/s e

0,110cm2/s respectivamente, que são perfeitamente compatíveis com a literatura para

uma temperatura da sala de 21oC (Touloukian et al., 1973a, Whitaker, 1976). O erro

médio das difusividades térmicas das misturas de CO2–Ar são da ordem de 1,3%.

55

Figura (3-7) – Difusividade térmica como função da concentração de CO2 em ar. A linha

sólida apresenta o melhor ajuste dos dados em relação à Eq [3-5]. No

canto direito superior é mostrado o gráfico do sinal de amplitude em

função do comprimento da cavidade para a mistura de 50% de CO2 no

ar.

Devido a extrema complexidade para a predição da condutividade térmica de

misturas gasosas através da teoria cinética, muitas vezes se faz uso de expressões

empíricas para analisar os dados experimentais. Uns dos modelos amplamente usados

denomina-se modelo geométrico (Srivastava e Sascena, 1957) e modelo logarítmico de

mistura (Tye, 1969). Para a descrição da média de um sistema de dois componentes

aleatoriamente distribuído, o modelo logarítmico mostra-se mais adequado.

Primeiramente tem-se que a capacidade térmica por unidade de volume da mistura

pode ser expressa por:

( ) ( ) ( ) xpcxpcc COar 21 +−=ρ [3-3]

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.100

0.120

0.140

0.160

0.180

0.200

0.220

α (c

m2 /s

)

Concentração de CO2 no Ar

0. 0 0. 1 0. 2 0. 3 0. 4 0. 5

0. 0

0. 2

0. 4

0. 6

0. 8

1. 0

1. 2

Ampl

itude

(mV)

L (cm)

56

Com relação a condutividade térmica de uma mistura gasosa a expressão log

mix apresenta a seguinte forma:

( ) xCO

xar 2

1 κκκ −= [3-4]

A partir da Eq [3-8] e [3-9] e usando α=κ/ρc, a expressão final da difusividade

térmica (α) para as misturas de CO2 e Ar fica:

( )( )x

x

armix 11 −+=

χλαα , [3-5]

onde ar

CO

κκ

λ 2= e ( )( )ar

CO

cc

ρρ

χ 2= . [3-6]

Na Fig (3-7) a linha sólida representa o melhor ajuste dos dados à Eq [3-5]

tendo αar e χ como parâmetros ajustáveis. Os resultados obtidos foram 220.ar =α ,

6360.=λ e 291.=χ com 1.65% de erro. Usando os valores da literatura (Touloukian et

al., 1973a), λ e χ são estimados para 0.632 e 1.32, respectivamente, mostrando a

compatibilidade ao modelo logarítmico de mistura. O resultado sugere que o

interferômetro pode se tornar uma técnica usual para a medida das propriedades

térmicas em mistura de gases. Consequentemente, através da medida da difusividade

térmica de uma mistura gasosa, seus constituintes podem ser estimados.

Com os resultados obtidos, podemos verificar que a técnica é sensível às

mudanças da concentração de CO2 no ar. Através da experimentação com diferentes

configurações de células e fontes de aquecimento, é possível aumentar a sensibilidade

do interferômetro e também torna-lo suficientemente compacto para possibilitar a sua

utilização no campo.

57

CAPÍTULO IV

Uso da Interferometria de Ondas Térmicas para a Caracterização das Propriedades Térmicas de Líquidos

Este capítulo é baseado nos trabalhos:

MEASUREMENT OF THERMAL PROPERTIES OF LIQUIDS USING A THERMAL

WAVE INTERFEROMETER

J.A.P.Lima, E.Marín, O.Correa, M.G.da Silva, S.L.Cardoso, C.Gatts, C.E.Rezende, H.Vargas and

L.C.M.Miranda

Meas. Sci. Technol. 11 (2000) 1522-1526

THERMAL PROPERTIES OF LIQUIDS MIXTURES USING A THERMAL

WAVE INTERFEROMETER

J.A.P.Lima, E.Marín, M.S.O. Massunaga, O.Correa, S.L.Cardoso, H.Vargas and L.C.M.Miranda

App Phy .B. 73,1-5 (2001) (in press)

Neste capítulo, mostraremos que a técnica da interferometria de ondas térmicas

não se restringe apenas a caracterização térmica de gases ou vapores, mas também é

aplicável a substâncias líquidas puras e a misturas. Para que esta aplicação fosse

possível, algumas modificações tiveram que ser introduzidas em relação à célula

originalmente utilizada para medida de gases e vapores.

No primeiro trabalho deste capítulo é mostrado que com a nova célula é

possível a medida da difusividade térmica bem como da efusividade térmica no mesmo

experimento.

58

4.1. Metodologia: Substâncias Líquidas Puras

Consideremos o arranjo experimental mostrado esquematicamente na Fig (4-1).

Figura (4-1) – Configuração experimental do interferômetro para medida em líquidos.

Este consiste em um recipiente de vidro com 100ml dotado de uma tampa

munida de rosca que fecha todo o conjunto. Um tubo de vidro com 10mm é inserido e

soldado ao fundo do recipiente e à tampa. O tubo inferior suporta um sensor

piroelétrico, denominado sensor 1, construído à base de um polímero (difluoreto de

polivinilideno) com 25μm de espessura e metalizado com Al em ambas as faces. A face

do sensor 1 que não fica em contato com a amostra líquida é pintada com tinta preta de

modo a agir como absorvedor de luz. O segundo tubo de vidro funciona como um guia

para um êmbolo de nylon em cuja extremidade é colado um segundo sensor

piroelétrico, denotado sensor 2. O sensor 2 é o principal elemento sensor e possui

características idênticas ao sensor 1, sendo este colado com cola de prata sobre um

pequeno disco de Cu embutido no êmbolo de nylon. A outra extremidade do êmbolo de

sensor 2sensor 1

Feixe de laser

modulado

Recipiente de vidro

Tampa com rosca

Orifíciopara

enchimentoCilindro de nylon

Estágio de translação

Tubo de vidro

Tubo de vidro

59

nylon é acoplado a um estágio micrométrico de translação de modo a variar a distância

entre os sensores. A amostra líquida é introduzida na câmara através de um tubo de

vidro colado à tampa. A câmara pode ser facilmente limpa removendo-se a tampa

rosqueada a cada troca de amostra.

Um feixe de luz com 20mW, de um laser de Argônio operando em um

comprimento de onda de 514nm, e modulado em 1Hz por um modulador mecânico,

incide na superfície negra do sensor 1 através do tubo de vidro. Antes de atingir a

superfície do sensor 1, o feixe foi expandido para um diâmetro de 6mm. Seguindo a

absorção da luz modulada, ocorre uma variação periódica na temperatura do sensor 1

gerando assim uma onda térmica através da amostra líquida. Uma parcela das ondas

geradas é refletida entre os sensores 1 e 2 criando uma região de interferência. A

flutuação de temperatura detectada no sensor 2 é portanto, a resultante da

superposição de todas as ondas que se propagam no sentido do sensor 1 para o

sensor 2 e no sentido do sensor 2 para o sensor 1 . A corrente proporcional à

temperatura resultante no sensor 2 é medida por um amplificador sincronizado (lock-in)

(EG&G 5210) conectado a um microcomputador. Como no caso de gases (Shen e

Mandelis, 1995, Lima et al., 2000), o método da interferometria também se aplica a

líquidos. A Fig (4-2) mostra que a configuração da célula pode ser visualizada num

modelo com 3 camadas.

Figura (4-2) – Geometria mostrando as diferentes camadas envolvidas no cálculo da

geração do sinal de corrente do interferômetro

Ar

I0

x=-L0 x=0 x=L x=L+L0

Sensor 1 Sensor 2LíquidoSuporte

(Cu)

x

60

Consideramos que a fonte de luz periodicamente modulada é da forma

[ ] 210 /tcosI ω+ , onde I0 é a intensidade da fonte de luz e fπω 2= é a freqüência

angular de modulação. É considerado um modelo unidimensional para a solução da

equação da difusão de calor que conduz a uma expressão para a distribuição espacial

da temperatura na forma:

( ) ( ) L

L

ee

bss

KILT σ

σ

γησβ

200

01

4−

−+= [4-1]

onde β é o coeficiente de absorção da superfície, ( ) ii g μσ += 1 e o número de onda

complexo do meio i com condutividade térmica αi e efusividade térmica εi. Na Eq [4-1]

γ, b e η são definidos como:

sbLgs

Lgs R

eRReRR

00

00

2

2

1 σ

σ

γ −

+

+= [4-2]

onde Rs=(s-1)(s+1), Rg=(1-g)/(1+g) e Rsb= )bs/()bs(−−

+− , com

( )( ) 00

00

2

2

111111

L

L

eb/beb/bb σ

σ

−−

+−++−−

= , e [4-3]

( )( ) ( )( )[ ]0000 1111 σση LL egsegs −−+++= [4-4]

onde s=ε/ε0, b=εb/ε0 e g=εg/ε0 são as razões entre as efusividades térmicas do líquido,

do material de fundo do sensor 2 e do ar que rodeia o sensor 1. Deste modo, a forma

geral do sinal do sensor 2 é:

( ) L

L

eeKLf σ

σ

γ 21 −

−= [4-5]

61

Para casos em que o sensor é termicamente grosso, isto é, quando σ0L0>>1,

γ reduz-se a γ=(Rs)2 e torna-se independente da freqüência. Para o caso oposto,

σ0L0<<1, sendo o sensor de 25μm e a freqüência de modulação 1Hz, γ reduz-se a:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+−

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+−

=11

00

00

00

00σσ

σσγ

sLsL

LsLs

[4-6]

Considerando-se que 0≈g (devido ao ar) e b>>1 (devido ao Cu) de modo que

( )−

−≈ 100σLb , chega-se a uma expressão final para o sinal de corrente no sensor 2:

( )( )[ ]( )( )[ ]μ

μ

γ /LLi

/LLi

eeIpIp

012

01

01 ++−

++−

−= [4-7]

onde Ip0 engloba parâmetros de amplitude, L0 é o desvio em relação a posição zero, μ

o comprimento de difusão térmica e γ engloba as relações entre as efusividades

térmicas das várias camadas envolvidas na descrição do modelo. Os resultados

experimentais foram ajustados à Eq [4-7].

No que diz respeito ao uso do sensor 1 em substituição a folha de alumínio

pintada de preto, podemos dizer que o sinal do sensor 1 pode ser usado para monitorar

algumas possíveis flutuações na intensidade do laser de bombeamento. O segundo

motivo deve-se a uma questão de descasamento de impedância térmica entre o meio

líquido e o disco de alumínio, já que a efusividade térmica deste

( Kcm/sW,Al2362=ε ) é grande quando comparada com a maioria dos líquidos.

Quando este descasamento ocorre, o sinal do interferômetro fica praticamente

independente da efusividade térmica do meio líquido. Isto impede que a efusividade

seja medida e portanto, apenas a difusividade pode ser determinada.

62

4.2. Resultados Experimentais e Discussões

A fim de demonstrar a praticidade do método aqui proposto, efetuamos as

medidas com três líquidos, cujas propriedades térmicas já estão bem documentadas na

literatura, a saber: água, glicerina e óleo de bomba difusora. De modo a testar a

reprodutibilidade das medidas, foram realizadas cinco medidas para cada líquido.

As figuras (4-3), (4-4) e (4-5) representam a amplitude do sinal do

interferômetro em função da variação do comprimento da cavidade ressonante para a

água, glicerina e óleo de difusora, respectivamente.

Figura (4-3) – Sinal de amplitude obtido pela variação do comprimento da cavidade

tendo a água como amostra.

0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

Sina

l de

Am

plitu

de (n

A)

L (cm)

63

Figura (4-4) – Sinal de amplitude obtido pela variação do comprimento da

cavidade tendo a glicerina como amostra.

Figura (4-5) – Sinal de amplitude obtido com óleo de bomba difusora.

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07

0.000

0.005

0.010

0.015

0.020

Sin

al d

e A

mpl

itude

(nA

)

L (cm)

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

Sin

al d

e Am

plitu

de (n

A)

L (cm)

64

Os valores da difusividade térmica e efusividade térmica foram obtidos pelo

ajuste dos pontos experimentais à curva teórica seguindo a metodologia descrita

detalhadamente no item 1.5 do capítulo I. Os erros médios nos valores de α e ε são da

ordem de 1,5%. Na Tab {4-1} sumarizamos os valores experimentais para a

difusividade e efusividade das amostras sob teste, e os encontrados na literatura. Os

valores obtidos são bem compatíveis com os registrados na literatura (Touloukian et

al., 1973a, Whitaker, 1976).

Difusividade Térmica

( )s/cm2410−

Efusividade Térmica

Kcm/sW 2

Este trabalho Literatura Este trabalho Literatura

Água 15.8 14.0 0.1429 0.1582

Glicerina 9.9 9.38 0.092 0.0933

Óleo de difusora 10.0 8.8 0.0575 0.050

PVDF – 5.4 – 0.0559

Tabela {4-1} – Resultados obtidos para a difusividade e efusividade térmicas

comparados com os valores da literatura (Balderas-López et al.,

1995).

Isto sugere que a técnica da interferometria de ondas térmicas pode vir a ser de

grande valia para a investigação das propriedades térmicas de líquidos. Uma aplicação

óbvia e de utilidade prática se refere à medida de misturas de líquidos. Do ponto de

vista instrumental podem ser implementados melhoramentos, tais como medidas com

varredura em temperatura ou utilização de vários tipos fontes térmicas de modo a

aumentar a sensibilidade e a faixa de utilização da técnica do interferômetro de ondas

térmicas. Isto implica que a técnica apresentada aqui não está restrita ao caso de

líquidos ou gases, mas também aplicável à investigação de géis e materiais pastosos.

Neste aspecto, o campo de aplicação pode ser expandido para a caracterização

térmica de alimentos pastosos.

65

O segundo trabalho é um prosseguimento do trabalho anteriormente descrito,

mostrando que uma mistura binária de líquidos pode ser completamente caracterizada

em relação às suas propriedades.

4.3. Metodologia: Misturas Binárias de Líquidos

O arranjo experimental, bem como a modelagem teórica e as condições de

medida do experimento seguem os mesmos padrões do trabalho anterior.

4.4. Resultados e Discussões

Para demonstrar a aplicação do Interferômetro de ondas térmicas para a

medida de misturas líquidas, dois líquidos com propriedades térmicas bem conhecidas

foram utilizadas, a saber, água e glicerina.

Para cada amostra de uma série de concentrações de glicerina em água (0, 20,

40, 60, 80 e 100%), foram efetuadas cinco medidas. Nas Fig (4-6, 4-7) que se seguem,

são mostrados os resultados do sinal de amplitude em função do comprimento da

cavidade L, para a água e a glicerina respectivamente. Todas as medidas foram

realizadas a uma temperatura de 250C e com uma freqüência de modulação de 1Hz.

66

Figura (4-6) – Amplitude versus comprimento da cavidade para o caso da água

Figura (4-7) – Amplitude versus comprimento da cavidade para o caso da glicerina

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Am

plitu

de (n

A)

L (cm)

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Am

plitu

de (n

A)

L (cm)

67

As linhas sólidas nas figuras 1 e 2 correspondem ao ajuste dos pontos

experimentais em relação a expressão:

( )( )

( )( )

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡ ±+−

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡ ±+−

=

μ

μ

γ0

0

12

1

0

1LL

i

LLi

e

eAA [4-8]

Os valores obtidos a partir do procedimento de ajuste para o comprimento de

difusão foram cm,,w 000130021040 ±=μ e cm,,g 00016001680 ±=μ para a água e a

glicerina, respectivamente. Os valores de α obtidos a partir de μ através da expressão 21 /

f ⎟⎠⎞⎜

⎝⎛= παμ com f=1Hz são s/cm,,w

2000300140 ±=α e s/cm,,g20002000090 ±=α ,

o que concorda com a literatura (Balderas-López et al., 1995).

O mesmo procedimento foi aplicado a todas as misturas de glicerina em água

(20%, 40%, 60% e 80%). A Fig [4-8] representa o gráfico da difusividade térmica em

função da concentração de glicerina em água. Para o ajuste dos pontos recorreu-se ao

modelo empírico logarítmico para a modelagem de misturas em função da

condutividade térmica.

68

Figura (4-8) – Difusividade térmica das misturas de glicerina com água.

Modelo logarítmico:

Considerando-se uma mistura binária dos componentes 1 e 2, tem-se que a

condutividade térmica resultante pode ser dada pela expressão:

( ) xx kkk 21

1−= [4-9]

onde x é a concentração do componente 2 no meio 1. O modelo logarítmico para a

condutividade térmica é particularmente adequado para o sistema com fases

distribuídas aleatoriamente.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.0008

0.0009

0.0010

0.0011

0.0012

0.0013

0.0014

α (c

m2 /s

)

Concentração de glicerina (V/V)

69

Modelo série:

No modelo série, a condutividade térmica efetiva de uma mistura binária é dada

pela expressão:

( ) 211 xkkxk +−= [4-10]

Modelo paralelo:

No modelo paralelo, o comportamento da condutividade térmica da mistura, é

dado por:

( )[ ]21

211 xkkx

kkk+−

= [4-11]

respectivamente. Segundo a referência R.P.Tye,Thermal Condutivity (Academic, New

York,1969 Vol I), o modelo série corresponde a uma situação de mínima condutividade

térmica. Combinando a condutividade efetiva com a expressão para ρc de uma mistura

binária, tem-se:

( )( ) ( )211 ccxc ρχρρ +−= [4-12]

Através da relação ck ρα = , chega-se a uma expressão para a difusividade

térmica efetiva de uma mistura binária de líquidos. Os modelos logarítmicos série e

paralelo foram aplicados aos dados da Fig (4-8). O modelo que mostrou maior

compatibilidade com os dados experimentais foi o modelo série. Assim, a expressão

para a difusividade térmica efetiva da mistura é obtida pela substituição da Eq [4-12] e

da relação ck ρα = na Eq [4-10], resultando na expressão:

70

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−+⎥

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+

=

xx 111112

1

1

λαα

λ

αα [4-13]

onde α1 e α2 correspondem à difusividade térmica da água e da glicerina,

respectivamente, e 12 kk=λ . Pode-se notar pela Eq [4-13] que o único parâmetro a ser

encontrado é λ e, portanto, constitui-se numa variável de ajuste. O resultado obtido do

ajuste de λ foi 025040 ,, ± , o que resulta em um valor de cmK/mW,42 para a

condutividade térmica da glicerina. Este valor é próximo de cmK/mW,82 , que é

relatado na literatura (Whitaker, 1976).

Em conclusão, demonstramos neste trabalho que a interferometria de ondas

térmicas pode ser usada como uma rotina para a medida acurada das propriedades

térmicas de líquidos. O seu potencial de aplicação para a monitoração de processos

naturais e industriais é notório. É importante enfatizar que pelos resultados obtidos na

medida da difusividade térmica, a técnica aqui apresentada pode ser uma importante

parte neste campo, já que o método é relativamente simples, rápido e de boa acurácia.

71

CAPÍTULO V

Aplicações da Interferometria de Ondas Térmicas ao Estudo das Propriedades Térmicas de Misturas Gasosas

O presente capítulo é descrito tendo como base:

COMPLETE CHARACTERIZATION OF THERMAL PROPERTIES OF GASES USING

A THERMAL WAVE INTERFEROMETER

J.A.P.Lima, E.Marin, M.G.da Silva, S.L.Cardoso, H.Vargas and L.C.M.Miranda

Appl. Phys. B., 2001 (in press)

Neste trabalho é mostrado que com o uso da interferometria de ondas térmicas,

é possível a completa caracterização térmica de uma mistura binária de gases a partir

do uso do modelo logarítmico de mistura para a condutividade térmica. Em um trabalho

recente (Lima et al., 2000), mostramos a utilização do interferômetro para a

monitoração da difusão de vapor de diversos hidrocarbonetos no ar. Neste relato

demonstramos como o interferômetro pode ser usado para a completa caracterização

das propriedades térmicas de misturas de gases. Isto é conseguido com o uso de

misturas gasosas com várias concentrações de um gás sob investigação com um gás

de referência cujas propriedades térmicas sejam bem conhecidas.

Usando o modelo logarítmico de misturas para as propriedades térmicas, a

difusividade térmica de uma mistura binária é adequadamente descrita bem como as

propriedades térmicas de um gás sob investigação podem ser acuradamente

determinadas.

72

5.1. Teoria

Como foi apresentado no capítulo III, a solução de interesse para a distribuição

de temperatura em um meio gasoso a partir de uma fonte de calor em regime a.c. é

dada pela equação:

( ) ( )txix

g

eeIt,xT ωπμμ

ωε−−−−= 40

2 [5-1]

onde εg é a efusividade térmica do gás, fπαμ = é o comprimento da difusão térmica

do gás, α é a difusividade térmica do gás e 1−=i . A difusividade térmica e a

efusividade térmica são relacionados com a condutividade térmica κ, calor específico c,

e densidade ρ através das expressões c/ ρκα = e cκρε = . A expressão final para o

sinal do sensor piroelétrico em função do deslocamento L em relação à fonte de ondas

térmicas é:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ +

+−

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ +

+−

=M

)LL()i(

MLL)i(

e

eVV0

0

12

1

0

1 γ [5-2]

A Eq [5-2] envolve basicamente quatro parâmetros de ajuste, onde V0 está

relacionado com a amplitude global do sinal, L0 é um parâmetro que representa um

possível deslocamento da posição L=0, γ engloba coeficientes de reflexão de ondas

térmicas. O quarto parâmetro fornece prontamente o valor da difusividade térmica

através da expressão 2μπα f= . Os sinais em fase (IP) e em quadratura (IQ) resultantes

da medida, mostram picos característicos em seu perfil. Embora sendo de grande ajuda

para uma análise qualitativa dos resultados, na prática não se mostram convenientes

para obtenção das propriedades térmicas. Portanto temos empregado a seguinte

metodologia: Primeiro medimos simultaneamente os sinais (IP) e (IQ) em função do

73

comprimento da cavidade para cada mistura gasosa sob análise. As curvas

experimentais resultantes do sinal de amplitude versus o comprimento da cavidade são

então ajustadas à Eq [5-2].

Segundo o que foi mencionado anteriormente, o procedimento empregado em

medidas com o interferômetro de ondas térmicas foi aplicado para a medida de mistura

de dois gases com propriedade térmicas muito bem conhecidas, a saber, CO2 e N2. Os

valores resultantes da difusividade térmica são desta maneira os valores das misturas e

não dos componentes individualmente. Para extrair os valores dos componentes

individuais, recorremos à teoria cinética de misturas gasosas (Hirschfelder, 1973,

Srivastava e Sascena, 1957). Devido à complexidade da expressão teórica para a

predição da condutividade de uma mistura de gases, recorre-se muitas vezes a

expressão empíricas para a análise dos dados experimentais. Um modelo que é

amplamente usado denomina-se modelo logarítmico para a condutividade térmica. A

expressão deste modelo é mostrada abaixo:

x)x(

21

1 κκ=κ − [5-3]

onde x é a concentração do gás 2 em referência ao gás 1. Segundo a referência (20), o

modelo logarítmico é bem adequado para descrever sistemas bifásicos com distribuição

aleatória. Através da combinação da expressão da condutividade térmica com a

expressão para o calor específico por unidade de volume para misturas binárias.

( ) ( ) ( ) xcxcc 21 1 ρρρ +−= [5-4]

A expressão para a difusividade térmica de uma mistura binária gasosa em

função da difusividade térmica dos componentes puros α1 e α2, que compõem a

mistura, é da forma:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−+

=

x

x

112

11

ααλ

λαα [5-5]

onde 12 κκλ = .

74

5.2. Resultados e Discussões

No nosso trabalho foram usados CO2 (99,99%) e N2 (99,96%) como gases de

referência e metano (99,5%) etileno (99,5%) como gases de teste para os quais

queremos determinar as propriedades térmicas. Todas as medidas foram efetuadas na

temperatura ambiente (21o) e a pressão de 1atm usando um sistema para suprimento e

calibração. Todas as misturas foram previamente analisas pelo sistema URAS 14 antes

de ser introduzida na câmara do interferômetro. O sistema URAS consiste em um

conjunto de módulos ampliáveis destinado à medida simultaneamente de vários gases,

tais como, CO2, N2, O2, NH4, NO e outros. Alguns destes módulos têm como princípio

de funcionamento a medida de absorção do gás em uma faixa do espectro

infravermelho. Este sistema é considerado como referência para medida de

concentração de gases dentro de certas faixas específicas.

Na Fig (5-1) é mostrado o resultado obtido para os sinais em fase (IP) e em

quadratura (IQ) em função do comprimento da cavidade L para diferentes

concentrações de CO2 em ar. É importante notar nesta figura um deslocamento na

amplitude máxima e no mínimo para misturas com 20% e 50% de CO2 em ar.

75

Figura (5-1) – Medida dos sinais em fase e em quadratura para diferentes

concentrações de CO2 em ar como função de deslocamento da

cavidade.

Na Fig (5-2) é mostrada a dependência da amplitude do sinal em função da

espessura da cavidade ressonante para uma mistura de 50% de CO2 em ar.

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

20 %

50 %

Sina

l em

Fas

e (n

A)

L (cm)0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

20 %

50 %

Sina

l em

Qua

datu

ra (

nA)

L (cm)

76

Figura (5-2) – Sinal de amplitude em função do deslocamento da cavidade para uma

mistura de 50% em volume de CO2 e ar.

A linha sólida corresponde ao ajuste dos pontos experimentais a Eq [5-2]. O

valor encontrado foi s/cm,, 200101550 ±=α a partir de cm,, 0002007020 ±=μ obtido

através do ajuste dos pontos experimentais com f=10Hz. O mesmo procedimento foi

aplicado a todas as outras amostras de CO2 em ar.

Na Fig (5-3) é mostrado o gráfico da difusividade térmica em função da

concentração de CO2 em ar.

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Sin

al d

e A

mpl

itude

(nA)

L (cm)

77

Figura (5-3) – Gráfico da difusividade térmica em função da concentração de misturas

de CO2 e ar.

Em particular, notamos que os valores medidos para o ar puro e CO2 são

respectivamente 0,219 e 0,110cm2/s e estão de acordo com os valores referidos na

literatura para a temperatura ambiente (Touloukian et al., 1973a, Whitaker, 1976), isto

é, 0,221 e 0,106cm2/s. O ajuste dos pontos experimentais da Fig (5-3) foi feito em relação

à Eq [5-5]. Os valores de α1 e α2 na Eq [5-5] são os valores experimentais medidos com

o Interferômetro. Isto resulta em λ=0,636 com 1,6% de erro. Usando os valores de kAR e

kCO2 reportados na literatura (Touloukian et al., 1973a, Whitaker, 1976), estima-se

λ=0,632 que é um resultado compatível com o λ obtido pelo ajuste dos pontos a curva

para mistura logarítmica em relação a condutividade térmica. A partir deste valor de λ, a

condutividade térmica do CO2 é 0,167mW/cmK. Com isto, conhecendo-se κ e α, ε e ρc

são prontamente obtidas através de ρc=k/α e ακε == .

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.100

0.120

0.140

0.160

0.180

0.200

0.220

α (c

m2 /s

)

Concentração de CO2 no Ar

78

Uma vez confirmados os valores das propriedades térmicas dos nossos gases

de referência, aplicamos os mesmos procedimentos para os casos de misturas de CO2:

CH4 e CH4:C2H4. Os resultados são mostrados nas Fig (5-4) e (5-5), respectivamente,

junto com uma curva típica em amplitude inserida no gráfico. Para as misturas de CO2:

CH4, os valores de α1 e α2 foram 0,239cm2/s e 0,110 cm2/s, respectivamente. O resultado

obtido foi λ=0,377 com um erro da ordem de 10%. A partir deste valor de λ e

conhecendo-se o valor de kCO2, estimamos o valor da condutividade térmica do metano

como sendo 0,443mW/cmK. O mesmo procedimento foi aplicado para as misturas

CH4:C2H4 e N2:C2H2 sendo os resultados mostrados na Fig (5-6).

Figura (5-4) – Gráfico da difusividade térmica em função da concentração de

misturas de CO2 em CH4.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.100

0.120

0.140

0.160

0.180

0.200

0.220

0.240

0.260

α (c

m2 /s

)

Concentração de CO2 em CH4

79

Figura (5-5) – Gráfico da difusividade térmica das misturas de C2 H4 em CH4.

Figura (5-6) – Gráfico da difusividade térmica das misturas de C2 H4 em N2.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.120

0.140

0.160

0.180

0.200

0.220

0.240

α (c

m2 /s

)

Concentração de C2H4 em CH4

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.120

0.140

0.160

0.180

0.200

0.220

0.240

α (c

m2 /s

)

Concentração de C2H4 em N2

80

No caso das misturas N2:CH4, o etileno foi usado como gás de referência para

checar as propriedades térmicas do N2. Na Tabela {5-1} é apresentado um sumário dos

resultados obtidos neste trabalho.

Gás α(cm2/s) κ(mW/cmK) C(mJ/cm3K) Cliterature(mJ/cm3K)

Air 00202190 .. ± 01002620 .. ± 060201 .. ± 1.22

CO2 00101100 .. ± 00801670 .. ± 080521 .. ± 1.58

CH4 00402390 .. ± 02004430 .. ± 090851 .. ± 1.66

C2H4 00101290 .. ± 01302510 .. ± 100951 .. ± 1.97

N2 00102230 .. ± 01002700 .. ± 060211 .. ± 1.21

Tabela {5-1} – Resultado obtido para as propriedades térmicas dos gases medidos com

o interferômetro.

5.3. Conclusões

Neste trabalho foi demonstrado como a técnica da interferometria de ondas

térmicas pode ser usada como uma ferramenta de rotina para uma completa

caracterização de propriedades térmicas de gases. Isto é possível usando o

interferômetro para medir a difusividade térmica de várias misturas do gás sob

investigação com um gás de referência com propriedades térmicas bem conhecidas.

Usando o modelo logarítmico de misturas, as difusividades térmicas do gás sob teste

são acuradamente determinadas.

O erro experimental médio na medida da difusividade térmica é da ordem de

1%, este erro se propaga resultando em valores de condutividade térmica na ordem de

10%. É possível através do uso de novas configurações de célula e de fontes de

aquecimento aumentar a sensibilidade da técnica de interferometria.

81

Temos a expectativa que uma continuidade da medida de diferentes misturas

de gases, a técnica proposta pode vir a ser uma valiosa ferramenta para a

caracterização térmica de gases. Existe uma crescente demanda no que se refere ao

conhecimento das propriedade básicas de uma larga faixa de variedade de gases

principalmente aqueles relacionados a processos naturais e industriais e com isso ter

um melhor conhecimento dos processos e fenômenos que envolvem a produção de

gases.

82

CAPÍTULO VI Difusividade Térmica Como Um Parâmetro de Caracterização de Combustíveis: Correlação Com o Índice de Octano Motor Este capítulo é baseado no trabalho:

THERMAL DIFFUSIVITY AS AN AUTOMOTIVE FUEL CHARACTERIZATION

PARAMETER: CORRELATION WITH MOTOR OCTANE NUMBER

José A.P. Lima, Sergio L. Cardoso, Marcelo G. Silva, Marcelo S. Sthel, Carlos E.N. Gatts,

Helion Vargas and Luiz C.M. Miranda

Ind. Eng. Chen. Research (in press)

O método padrão para a avaliação da qualidade de combustíveis

automotivos se baseia na determinação do seu índice de octano motor (MON),

descrito na ASTM para teste de motores. As figuras de mérito resultantes deste teste

padrão mostram uma forte correlação linear com as propriedades termodinâmicas do

vapor do combustível, bem como a pressão de vapor. Neste trabalho, exploramos

esta forte correlação entre o parâmetro MON e as propriedades térmicas do vapor

do combustível na tentativa de desenvolver um método alternativo de baixo custo. O

método proposto é baseado na medida fototérmica da difusividade térmica do vapor

de combustível em uma célula fechada contendo ar. Foi verificado que a difusividade

térmica é bem correlacionada com os correspondentes valores MON dos

combustíveis investigados. Como meta final existe a intenção de aperfeiçoar o

método proposto aumentando a acurácia e o desenvolvimento de um dispositivo

portátil para aplicação no campo.

6.1. Introdução O desenvolvimento de um primeiro sistema para a avaliação da qualidade de

combustíveis data do início do século XX. Este sistema é baseado nas

características de detonação do combustível em um único engenho com taxa de

83

compressão variável. Duas substâncias puras são escolhidas para a calibração das

máquinas de teste. Primeiramente foram escolhidos arbitrariamente como

combustíveis de referência o iso-octano (2,2,4 trimetil pentano) e n-heptano, para os

quais foram atribuídos números de octanagem de 100 e 0, respectivamente.

Octanagem é um termo geralmente usado para indicar a habilidade da gasolina

resistir à taxa de compressão. A octanagem de um combustível é encontrada pela

comparação de suas características de detonação com as várias misturas de n-

heptano e iso-octano (Edgar, 1927). Atualmente, este método tem sido dividido em

vários procedimentos (STM, STM). Os mais importantes são: RON, MON e o PON.

Os testes RON e MON usam motor com um mesmo cilindro e taxa compressão

variável, mas diferindo cada um do outro pelo fato de que no MON é realizado em

altas condições de rotação. O índice PON também referido como índice

antidetonante, é obtido pela média dos índices de RON e MON, denominado PON =

(RON+MON)/2.

Os parâmetros acima citados são linearmente correlacionados com as

propriedades termodinâmicas do vapor. O índice PON para misturas de iso-octano e

n-heptano decresce linearmente com a pressão de vapor da mistura. Em uma

primeira tentativa para a busca de uma caracterização mais geral de combustíveis,

foi investigada a dependência da difusividade térmica do vapor do combustível como

uma função de diferentes misturas. Foi constatado que a difusividade térmica do

vapor é bem correlacionada com o índice PON. A importância da difusividade

térmica como um parâmetro físico a ser monitorado, se deve ao fato de que ela é

única para cada material. Isto pode ser apreciado em valores tabelados publicados

na literatura (Touloukian et al., 1973b) para uma grande variedade de materiais.

Neste trabalho, as medidas da difusividade térmica de ar saturado com

vapor de gasolina, foram efetuadas no interferômetro de ondas térmicas cuja

configuração experimental e teoria já foram amplamente abordadas nesta tese,

principalmente no que se refere ao segundo trabalho de capítulo IV. Portanto, o foco

de nossa atenção é o uso do interferômetro para a medida da difusividade térmica

de combustíveis automotivos, tendo como pretensão o desenvolvimento de um

método alternativo de baixo custo para caracterização de combustíveis automotivos.

Os “combustíveis” usados para este propósito consistiram de misturas de tolueno

com hexano e de iso-octano com hexano. Os resultados obtidos foram

84

correlacionados com os correspondentes valores de PON, obtidos no método

convencional do motor.

6.2. Materiais e Métodos Dois combustíveis foram utilizados nesse trabalho. O primeiro, denominado

combustível #1, consiste de várias misturas de tolueno em hexano. O segundo,

denominado combustível #2, corresponde às mesmas concentrações de mistura do

combustível #1, sendo que em substituição ao tolueno foi utilizado iso-octano. As

composições, bem como os correspondentes índices PON obtidos do teste

convencional do motor são mostrados nas tabelas {6-1} e {6-2} para cada

combustível.

Fração Molar de Tolueno

Pressão de Vapor do Combustível (mmHg)

PON Difusividade Térmica (cm2/2)

0 151.80 - 0.138

0.345 108.88 57.6 0.146

0.45 95.81 65.1 0.152

0.471 93.2 - 0.151

0.551 83.25 73.3 0.157

0.629 73.54 80 0.162

0.705 64.08 86.4 0.168

0.741 59.61 88.8 0.171

0.778 55.0 91.9 0.177

0.917 37.71 - 0.186

0.959 32.48 - 0.192

1 27.38 - 0.199

Tabela {6-1} – Fração molar, pressão de vapor, índice PON e medida da difusividade

térmica de diferentes misturas de tolueno em n-hexano, denominado

como combustível 1. O erro experimental na medida da difusividade

térmica é da ordem de 2,3%.

85

Fração Molar de Iso-Octano

Pressão de Vapor do Combustível (mmHg)

PON Difusividade Térmica (cm2/2)

0 151.80 - 0.135

0.08 143.54 - 0.137

0.164 134.86 43.5 0.143

0.252 125.78 50.3 0.145

0.3444 116.27 57.6 0.144

0.44 106.36 63.9 0.149

0.542 95.82 71 0.148

0.647 84.98 78.1 0.157

0.759 73.41 85.2 0.162

0.876 61.33 92.8 0.168

1 48.53 100 0.175

Tabela {6-2} – Fração molar, pressão de vapor, índice PON e medida da difusividade

térmica de diferentes misturas de iso-octano em n-hexano,

denominado como combustível 2. O erro experimental na medida da

difusividade térmica é da ordem de 2,3%.

Os índices de PON de alguns combustíveis selecionados definidos como

(MON+RON)/2, foram obtidos em um motor ASTM/CFR modelo Waukeska, número

de série 30048, para o teste MON (ASTMD-2700) e, número de série 306649, para o

teste RON (ASTM T-2699).

Com relação ao arranjo experimental, destacamos que em substituição à

folha de alumínio enegrecida, como fonte de ondas térmicas, foi utilizado um disco

de PVDF que denominamos sensor 2. A freqüência de modulação utilizada foi de 10

Hz, a potência do laser foi de 20 mW e o foco da ordem de 6mm de diâmetro. Na fig

(6-1) mostramos a dependência típica da amplitude do sinal em função da variação

comprimento da cavidade do interferômetro.

86

Figura (6-1) – Sinal de amplitude do interferômetro obtido para o n-hexano registrado

para uma freqüência de 10 Hz, como função do comprimento da

cavidade a uma temperatura de 25oC. Os círculos representam a

média dos valores correspondentes a um mínimo de 5 aquisições

experimentais.

Antes da medida da amplitude ser realizada, o comprimento da cavidade é

mantido fixo em 2mm, um volume de 1cm3 de amostra é colocado num recipiente

que logo a seguir é atarraxado ao fundo da célula. O vapor da amostra se difunde

para o interior da cavidade da célula. Como resultado, as propriedades térmicas da

mistura gasosa resultante mudam com o tempo seguindo as mudanças da

concentração de vapor no ar. Este processo evolui com o tempo até que o regime de

saturação seja atingido no interior da célula.

Na fig (6-2) mostramos a dependência da difusividade térmica resultante de

cada combustível investigado como função da fração molar do componente menos

volátil na mistura, a saber, fração molar tolueno no caso do combustível #1 e iso-

octano no caso do combustível #2.

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

.

Ampl

itude

(mV)

L (cm)

87

Figura (6-2) – Dependência da difusividade térmica de cada combustível como

função da fração molar. Os círculos abertos correspondem ao

combustível #1 e os triângulos ao combustível #2. O erro

experimental nas medidas de difusividade térmica foram da ordem

de 2,3%.

A fig (6-2) mostra que para a fração molar menor que 0,5, a difusividade

térmica não consegue distinguir os dois combustíveis. A discriminação entre dois

combustíveis só pode ser conseguida pela medida da difusividade térmica para altas

frações molares, a saber, 50,x ≥ , faixa de valores onde a difusividade térmica se

mostra linearmente correlacionada com a fração molar. A linha sólida na fig (6-2)

representa os dados da regressão linear para os correspondentes combustíveis.

Estas são expressas por:

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

0.13

0.14

0.15

0.16

0.17

0.18

0.19

0.20

0.21

comb# 1comb# 2

Difu

sivi

dade

Tér

mic

a(cm

2 /s)

Molar Fração , X

88

isocomb

tolcomb

X...

X...

05101240

09401020

2

1

+=

+=

α

α [6-1]

onde Xtol e Xiso correspondem às frações molares de tolueno e iso-octano nos

combustíveis #1 e #2, respectivamente.

A correlação linear entre a difusividade térmica e a fração molar é um

resultado interessante e essencialmente mostra que para altas frações molares a

difusividade térmica é linearmente dependente da pressão de vapor. Para explorar

as implicações destas relações, apresentamos as fig (6-3) e (6-4) os gráficos da

pressão de vapor em função da fração molar e do valor de PON como função da

pressão de vapor, respectivamente.

Figura (6-3) – Correlação entre a fração molar e a pressão de vapor dos

combustíveis #1 e #2.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.00

20

40

60

80

100

120

140

160

180

comb# 1comb# 2

P V (m

mH

g)

Fração Molar, X

89

As linhas sólidas nestas figuras representam a regressão linear dos dados.

Sendo estas expressas por:

22

11

2

1

6509013264034127

27103801514212480151

Vcombcomb

Vcombcomb

isocombV

tolcombV

P...PONP...PON

X...)mmHg(PX...)mmHg(P

−=−=

−=−=

[6-2]

A partir da fig (6-3) podemos verificar que para frações molares maiores do

que 0,5, corresponde a pressões de vapor menores do que 90mmHg acarretando a

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

20

40

60

80

100

120

.

comb# 1comb# 2

PO

N

PV (mmHg)

Figura (6-4) – Correlação entre a pressão de vapor e o valor de PON

para os combustíveis #1 e #2.

90

partir da fig (6-4), em um valor de PON maior que 70. Ou seja, a faixa da fração

molar na qual a difusividade térmica pode discriminar os combustíveis corresponde a

valores de octanagem na faixa de interesse para os combustíveis automotivos, ou

seja, valores de PON maiores que 70. Isto sugere que a medida da difusividade

térmica pode ser na verdade uma alternativa de baixo custo para a caracterização

de combustíveis.

Figura (6-5) – Correlação entre a difusividade térmica e os valores de PON

dos combustíveis testados. As linhas sólidas representam a

regressão linear dos dados.

Na fig (6-5) apresentamos o resultado correlacionado a difusividade térmica

e o índice PON para os combustíveis testados. Os resultados das regressões são

mostrados a seguir:

70 75 80 85 90 95 100

0.145

0.150

0.155

0.160

0.165

0.170

0.175

0.180

0.185

comb# 1comb# 2

Difu

sivi

dade

Tér

mic

a (c

m2 /s

)

PON

91

PON...

PON...

comb

comb4

2

41

10090850

105100820−

×+=

×+=

α

α [6-3]

Pequenas diferenças mais ainda detectáveis, são apresentadas na fig (6-5).

É claro que um aumento da acurácia juntamente com a medida de uma larga faixa

de combustíveis de composição diferente, é certamente necessário antes de

qualquer declaração possa ser feita. Uma providência imediata para o aumento da

sensibilidade na medida da difusividade térmica seria a medida à temperaturas

acima do ambiente, como por exemplo, 36oC. Este procedimento nos assegura uma

melhor estabilização de temperatura e com isso, aumentando a relação sinal/ruído

nas medidas. Do ponto de vista instrumental, testes com diferentes configurações de

célula e diferentes fontes de aquecimento, podem aumentar a sensibilidade da

técnica interferométrica de ondas térmicas.

6.3. Conclusões

Neste trabalho, foi investigado o potencial da recente técnica de

interferometria de ondas térmicas para caracterização da qualidade de combustíveis

automotivos. O método consiste essencialmente da medida da difusividade térmica,

de uma mistura saturada do vapor do combustível com ar. Os resultados da

difusividade térmica foram correlacionados com os correspondentes valores de

índice PON. No entanto, uma maior quantidade de dados deve ser levantado para

uma maior faixa de composição de combustíveis, a fim de validar o método

proposto. Os resultados apresentados nesse trabalho certamente sugerem que a

técnica é viável. O baixo custo, análise rápida e fácil adaptação para aplicações no

campo são algumas das potenciais vantagens do método proposto com respeito ao

método convencional do motor.

92

CAPÍTULO VII

Conclusões e Perspectivas

Baixas concentrações de Cr (VI) e fósforo ( 34−PO ), usando soluções padrão,

foram determinadas usando os métodos colorimétricos já bem estabelecidos e uma

variante da espectroscopia fotoacústica denominada janela optotérmica. Os limites

de detecção da espectrofotometria convencional foram bem resolvidos nos nossos

experimentos. No caso do fósforo, é importante notar que as nossas medidas foram

feitas usando um comprimento de onda bem diferente do que corresponde ao

máximo de absorção para esta espécie (885nm). O uso de uma fonte com

comprimento de onda próximo a 885nm contribuirá para um aumento da

sensibilidade do método da janela optotérmica. Este mesmo princípio é também

aplicável ao Cr (VI), que possui um máximo de absorção em 540nm, sendo que em

nosso experimento utilizamos 514nm. No caso de ambos, Cr (VI) e P, este

melhoramento pode ser atingido com o uso de diodos laser como fontes de

excitação possibilitando com isso a construção de um dispositivo compacto usando a

janela optotérmica, que permita realizar medidas em campo. Este trabalho é um

novo passo na demonstração das possibilidades do uso da janela optotérmica para

a realização de estudos espectroscópicos em amostras ambientais. Também foi

verificado que com o uso de uma célula fotoacústica com dupla função, as

concentrações de Cr (VI) na água foram bem discriminadas quando comparadas

com a espectrofotometria convencional.

No que diz respeito à caracterização térmica de vapores, gases e líquidos, a

técnica da interferometria de ondas térmicas tem demonstrado grande eficiência e

aplicações, como podemos ver neste trabalho de tese. A principal vantagem da

técnica aqui proposta é a sua aplicação, não somente para a caracterização de

gases que são opticamente transparentes, quanto para os que absorvem luz. Os

métodos tradicionais usados na análise de gases são baseados na absorção de

certas linhas características de um laser pelas moléculas de gás, tipicamente na

faixa infravermelha do espectro eletromagnético. Isto implica em dispendiosos

esquemas de geração de sinal e detecção. Os resultados mostrados nos trabalhos

que compõem esta tese abrem a possibilidade para a realização rotineira da medida

93

de difusividade térmica de vapores e, consequentemente, monitorar fenômenos

relacionados à poluição ambiental no ar.

Com relação a misturas gasosas, a interferometria de ondas térmicas pode

tornar-se uma técnica absolutamente vantajosa na investigação das propriedades

térmicas das mesmas. Estas são completamente caracterizadas a partir dos valores

medidos da difusividade térmica aplicados a modelos empíricos apropriados. Isto

também mostra um potencial de aplicação do interferômetro como um sensor de

gases (por exemplo CO2). Como podemos mostrar ao longo deste trabalho, o

equipamento por nós desenvolvido também se aplica a medida de substâncias na

fase líquida, bastando para isto a realização de algumas modificações na

configuração original do interferômetro. Podemos mostrar que para o caso de

líquidos, não só a difusividade térmica mas também a efusividade térmica podem ser

obtidas diretamente. Com isto, mostramos que com o uso da interferometria de

ondas térmicas medidas de rotina das propriedades térmicas de líquidos podem ser

efetuadas com acurácia. Existe uma crescente demanda para realização de medidas

precisas das propriedades básicas de uma larga faixa de misturas líquidas geradas

pela natureza e a indústria moderna, cujo conhecimento pode conduzir os cientistas

a um melhor conhecimento dos processos e fenômenos que governam as suas

produções.

Este trabalho de tese mostra o inerente potencial de aplicação da

interferometria de ondas térmicas na investigação de substâncias na fase líquida e

gasosa. Do ponto de vista instrumental, existe a possibilidade da construção de um

interferômetro "universal", ou seja, sem a necessidade de adaptações que agregue

no mesmo equipamento a possibilidade do uso de amostras líquidas, gasosas ou de

vapores. No que se refere à geração de ondas térmicas, o uso de diodos laser,

lâmpada incandescente ou uma fita resistiva pode contribuir para o aumento da

sensibilidade quanto para a redução das dimensões do equipamento. No que diz

respeito a detecção do sinal, podemos dizer que a busca de uma alternativa

diferente da detecção piroelétrica (PVDF) pode estender o uso do interferômetro

para o estudo de transições de fase através de uma varredura em temperatura. A

atual configuração utilizando o PVDF fica restrita a medidas em amostras não

corrosivas (vapor, líquido ou gás) e a uma temperatura máxima de 70oC.

Uma área potencialmente vantajosa para a utilização do interferômetro

parece mostrar-se evidente principalmente através do primeiro trabalho no capítulo

94

III e do segundo trabalho no capítulo IV, no que diz respeito à medida da qualidade

de combustíveis, bem como a detecção de possíveis adulterações nos mesmos.

Fica evidente pela freqüência com que esse tema é abordado nos meios de

comunicação que existe uma crescente necessidade de desenvolvimento de uma

instrumentação analítica de baixo custo, compacta e confiável visando a aplicação

na fiscalização de combustíveis. Esta necessidade fica evidente em face às

freqüentes investidas do governo contra os fraudadores, cujos números vêm

aumentando a cada dia. Em razão de relevantes implicações nos mais diversos

aspectos econômicos e sociais, a garantia de qualidade dos combustíveis no país

assume hoje a dimensão de uma questão estratégica. A diluição fraudulenta dos

combustíveis causa ao país prejuízos fiscais, ambientais e também ao consumidor.

Com relação ao impacto ambiental, a adição indiscriminada de solventes e outros

derivados, interfere diretamente nos produtos resultantes da combustão. Isto anula o

empenho da indústria automobilística em desenvolver sistemas que visam diminuir a

quantidade de emissão de poluentes no escapamento dos veículos. Estes estudos

levam em conta o conhecimento prévio da composição das misturas combustíveis

que normalmente os motores estarão consumindo. Além disso, no projeto dos

tanques de armazenamento de combustível dos postos de revenda se leva em conta

a composição dos combustíveis. A alteração da composição básica por adição

indiscriminada de solventes pode acarretar em processos de degradação nas

paredes do tanque, ocasionando a contaminação de solos vizinhos e a possibilidade

de percolação destes contaminantes para um lençol freático.

Motivados por estas razões, aplicamos a técnica da interferometria de ondas

térmicas para a análise de algumas amostras de gasolina recolhidas em alguns

postos da região. A primeira análise comparativa foi feita em relação à constante de

decaimento τ. O gráfico seguinte mostra os resultados obtidos.

95

Entre os transientes mostrados no gráfico, é possível notar aquele

denominado gasolina padrão, amostra esta que nos foi fornecida pela ANP (Agência

Nacional de Petróleo). É possível notar que os transientes ou tempos de decaimento

são muito bem separados e, como consequência, apresentam diferentes valores de

difusividade térmica, conforme mostra a tabela seguinte.

Amostras Difusividade térmica )s/cm( 2

Gasolina padrão 0,120 ± 0,002

Gasolina comum 0,090 ± 0,002

Gasolina comum adulterada 0,100 ± 0,002

Gasolina aditivada 0,190 ± 0,002

Os resultados indicam que o método pode facilmente distinguir diferentes

tipos de gasolina, não só através da medida da difusividade térmica no regime de

saturação, mas também pelos respectivos tempos de decaimento τ.

0 500 1000 1500 2000

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1Am

plitu

de d

o si

nal n

orm

aliz

ado

Tempo (s)

Gasolina Comum Adulterada

Gasolina Comum

Gasolina Aditivada

Gasolina Padrão

96

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