Contaminação ambiental pela agricultura e as novas perspectivas com a moderna biotecnologia
-
Upload
guilherme-louriens -
Category
Documents
-
view
90 -
download
0
Transcript of Contaminação ambiental pela agricultura e as novas perspectivas com a moderna biotecnologia
CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL PELAAGRICULTURA E AS NOVAS
PERSPECTIVAS COMA MODERNA BIOTECNOLOGIA
Luiz Alberto Silveira MairesseErvandil Corrêa Costa
1ª Edição
Santa Maria - RS2009
CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL PELAAGRICULTURA E AS NOVAS PERSPECTIVAS
COM A MODERNA BIOTECNOLOGIA
Mairesse, Luiz Alberto Silveira
Contaminação ambiental pela agricultura e as novasperspectivas com a moderna biotecnologia / por Luiz AlbertoSilveira Mairesse, Ervandil Corrêa Costa. – Santa Maria:Orium, 2009.
159 p.
1. Ecologia 2. Meio ambiente 3. Contaminação ambiental4. Agricultura 5. Agrotóxicos 6. Biotecnologia 7. Agroecologia8. Engenharia genética 9. Sustentabilidade I. Costa, ErvandilCorrêa II. Título
CDU: 574
M228c
Ficha catalográfica elaborada porLuiz Marchiotti Fernandes CRB-10/1160
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Rurais/UFSM
Capa: Orium PublicidadeDiagramação do Miolo: Intensa Comunicação de Relacionamento
Revisão Textual: Maristela Burger RodriguesFoto de Capa: Nathalia XXX
Contato para aquisição:Ana Terra Livraria: (55) 3226.4016
Email: [email protected]
ISBN 978-85-98226-22-4
APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 9
PARTE I – CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL E AS SOLUÇÕES DISPONÍVEIS ........13
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................13
2 O HOMEM PRIMITIVO E O MODERNO ......................................................15
3 A CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL ...............................................................183.1 Contaminação pelo uso de agrotóxicos .................................................223.2 Resíduos de agrotóxicos no solo ............................................................273.3 Níveis de resíduos de agrotóxicos ..........................................................293.4 Importância das práticas agrícolas no destino final dos agrotóxicos ......343.5 Biomagnificação dos agrotóxicos como mecanismo de contaminação.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .373.6 A contaminação dos alimentos por agrotóxicos no Brasil ......................453.7 Análises de resíduos de agrotóxicos nos alimentos ...............................48
4 OS AGROTÓXICOS DA CHAMADA AGRICULTURA CONVENCIONAL OUINTENSIVA ..................................................................................................544.1 Inseticidas ............................................................................................554.2 Herbicidas: natureza química e mecanismos de ação ............................614.2.1 Comportamento dos herbicidas no solo .............................................62
5 O DIREITO A INFORMAÇÃO SEM RESTRIÇÕES COMO FUNDAMENTAÇÃOPRINCIPAL NA BUSCA DE SOLUÇÕES ...........................................................66
SUMÁRIO
| 5
6 AS NOVAS PROPOSTAS DA AGRICULTURA MODERNA .................................706.1 Inseticidas biológicos e virulíferos ............................................................716.2 Inseticidas que interferem na constituição da quitina - exuvia (reguladoresde crescimento) .............................................................................................766.3 Feromônios .............................................................................................776.4 Os rotenóides, nicotinóídes, neo-nicotinóides e novas moléculasinseticidas .....................................................................................................796.5 O manejo integrado de pragas .................................................................83
7 A PROPOSTA AMBIENTALISTA .....................................................................85
8 A AGROECOLOGIA ATUAL COMO ALTERNATIVA ..........................................898.1 Os agrotóxicos na agricultura orgânica e agroecológica ............................928.1.1 Os inseticidas de origem vegetal (extratos vegetais) ..............................948.2 Os adubos orgânicos ................................................................................95
9 EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE ..............................................................98
10 UM NOVO PARADIGMA ECOLÓGICO COMEÇA A NASCER ........................102
11 A SUSTENTABILIDADE COMO TENDÊNCIA ...............................................105
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................108
PARTE II – RESISTÊNCIA E MECANISMOS DE DEFESA DAS PLANTAS COMOOPÇÃO AO USO DE AGROTÓXICOS: PERSPECTIVAS ATRAVÉS DA ENGENHARIAGENÉTICA ....................................................................................................111
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................111
2 A ENGENHARIA GENÉTICA COMO PROPOSTA ALTERNATIVA .....................113
3 O GENE BT .................................................................................................117
4 GENES RELACIONADOS AOS MECANISMOS DE DEFESA DAS PLANTAS .......119
6 |
5 PLANTAS COM AÇÃO INSETICIDA E AÇÃO FUNGICIDA: NOVOS GENES DERESISTÊNCIA ............................................................................................123
6 PLANTAS RESISTENTES A HERBICIDAS E PLANTAS QUE PRODUZEM OS SEUSPRÓPRIOS HERBICIDAS .............................................................................133
7 A ENGENHARIA GENÉTICA COMO FERRAMENTA NO MELHORAMENTOGENÉTICO DE AGENTES DE CONTROLE BIOLÓGICO ..................................136
8 CONCLUSÕES .........................................................................................138
REFERÊNCIAS ...........................................................................................143
| 7
História não é repetitiva, mas recursiva: como um ponto que se
desloca em espiral ascendente, cuja projeção vai traçando e
redesenhando uma circunferência. Quem enxerga apenas essa
projeção, não só pensará que tudo se repete, como também agirá
dessa forma, tentando segurar a roda da História, como outros já o fizeram.
Nunca vencerão, mas terão deixado como legado imensos prejuízos à
humanidade pelo atraso na aplicação de conhecimentos, que poderiam
minimizar nossos sofrimentos há mais tempo. A imagem que Humberto
Maturana criou, de um carro num atoleiro, é bastante esclarecedora: quem
olhar somente para as rodas do automóvel, nunca saberá se ele está
andando ou atolado...
Pode parecer uma contradição, mas somente com uma agricultura
cada vez mais tecnificada, ou seja, mais produtiva, será possível preservar e
recuperar o ambiente em que vivemos. O avanço na ciência, ou seja, no
conhecimento, é a única forma capaz de acompanhar e até de ultrapassar o
crescimento geométrico da população do planeta e é a principal base de
sustentação para qualquer sonho de justiça social.
Com o advento da biotecnologia, a era dos agroquímicos está no fim,
mas teve um papel importante. Entretanto, não fossem esses, calculam os
especialistas, estaríamos hoje no mundo utilizando uma área de terras três
vezes superior, e as catástrofes geradas pela fome seriam bem mais trágicas
do que aquela que matou mais de um milhão de pessoas no século 19, na
APRESENTAÇÃO
A
| 9
Irlanda, devido a “requeima” da batatinha; sem considerar a falta de
estatísticas referentes aos milhões de mortos, devido às destruições de
extensas regiões causadas pelas, literalmente, quilométricas nuvens de
gafanhotos, que dizimavam tudo que fosse verde.
A agricultura convencional não tem mais condições de suportar os
novos desafios para a humanidade, pois já teve seu potencial esgotado. É
consenso entre os cientistas que o próprio melhoramento genético
convencional esgotou-se pela falta de variabilidade genética dentro da
espécie. Os agrotóxicos, por exemplo, não têm sido mais eficientes para
controlar insetos-praga e doenças das plantas, pois a velocidade com que
adquirem resistência aos produtos químicos é maior do que a velocidade de
elaboração de novas fórmulas de defensivos agrícolas por parte da indústria.
E o desafio central é o de produzir mais e com melhor qualidade, em áreas de
terras cada vez mais reduzidas, pelo avanço da urbanização e necessidade de
preservação ambiental. Felizmente, ao invés de um abismo, temos pela
frente a Revolução da Biotecnologia, tendo a engenharia genética como
principal ferramenta e os organismos geneticamente modificados (OGMs)
como a solução básica para essa nova etapa.
Dentre os OGMs, as plantas transgênicas ocupam um lugar
importante, pois são elas que estão revolucionando a agricultura. Não há
mais barreiras entre espécies e nem propriamente cruzamentos. Qualquer
ser vivo pode fornecer um gene (uma determinada característica) para
outro. Um gene que interessa pode ser isolado e clonado (multiplicado) em
laboratório. Após, pode ser introduzido na variedade de planta que interessa
(geralmente uma que está em cultivo). A variedade recebe, então, o novo
caráter, sem os inconvenientes do método convencional, o que torna o
melhoramento genético bem mais eficiente e seguro.
Variedades resistentes ou tolerantes a espécies- praga, dispensando o
uso de agrotóxicos, adaptadas ao frio, ao calor e à seca, a solos encharcados,
a solos ácidos, a solos salinos, a solos pobres e outros caracteres,
preservando e recuperando o ambiente, certamente proporcionarão mais
10 |
segurança de colheita e maior previsibilidade. Cultivares com melhor
qualidade industrial e com características especiais facilitarão a
comercialização da produção em razão da procura pela indústria e pelo
maior interesse dos consumidores... Enfim, a agricultura, com o apoio da
biotecnologia, encaminhar-se-á definitivamente para ser uma atividade de
alta precisão, com o que os produtores rurais e, conseqüentemente, toda a
sociedade serão beneficiados.
Sustentabilidade, portanto, só é vislumbrada com avanços; jamais
com recuos. Com raras exceções, não é por acaso que nos países mais
avançados tecnologicamente a natureza tem sido tratada com mais cuidado
e as desigualdades sociais são cada vez menores.
A Revolução Verde, amaldiçoada por muitos, foi uma solução
revolucionária importante, mas que, como toda a tecnologia, vem com
riscos e benefícios. Hoje se sabe que se fossem minimizados os riscos e
maximizados os benefícios, os impactos ambientais teriam sido bem
menores. É preciso analisar a questão sob o prisma daquela época e
perguntar se com os conhecimentos e consciência que se tinha seria possível
detectar o que hoje vemos com clareza. Isso, entretanto, não é motivo para
que muitos levem ao extremo o Princípio da Precaução, preferindo nada
fazer a correr o risco de fazer alguma coisa. Tais interpretações extremistas e
equivocadas de algumas Organizações Não-Governamentais (ONGs) levam a
que foquem apenas os riscos das tecnologias ou inovações e ignorem os
riscos da própria estagnação, que, por restrição ou banimento de avanços
tecnológicos, podem criar grandes problemas aos humanos e imensos riscos
ambientais.
Por conseguinte, a mais antiga forma de contaminação ambiental (por
fezes) ainda é a mais grave, apesar da tecnologia disponível ser suficiente
para eliminá-la totalmente, o que demonstra que a causa principal da
poluição mais devastadora do ambiente reside principalmente na questão
político-econômica. Entretanto, muito pouco se tem feito relativamente a
| 11
esse problema, tanto que não se tem visto nenhuma ONG protestando contra
essa forma de poluição em lugar nenhum. Seria também razão dessa ordem,
esse descaso, por parte das ONGs?
Igualmente, a mais moderna forma de contaminação ambiental, ou
seja, resultante da emissão de gases dos veículos automotores, que
comprometem significativamente a camada de ozônio, pouco ou nenhum
protesto tem provocado, de tal forma que as providências para diminuição
desse tipo de poluição têm partido dos próprios governos e dos fabricantes.
É bastante intrigante que os protestos e campanhas nos países do
Terceiro Mundo sejam praticamente apenas concentrados em tecnologias
novas ou de ponta, como a energia nuclear e a biotecnologia, por parte da
maioria das ONGs. Não seria mais uma manobra por parte do Primeiro
Mundo para manter os países subdesenvolvidos afastados de tecnologias
estratégicas?
A história não é repetitiva, mas recursiva. Assim como tecnologias
esgotadas têm sido recicladas à luz dos novos conhecimentos, a resistência
fanática e dogmática aos avanços tecnológicos nada mais é do que efeito da
recursividade do obscurantismo, reacionário ao caráter perfectível do
Espírito Humano.
Luiz Alberto Silveira Mairesse
12 |
1 INTRODUÇÃO
Os organismos vivos nunca estão em equilíbrio com o ambiente
(LEHNINGER, NELSON e COX, 1995): a morte e a decomposição restabelecem
o equilíbrio. Durante o crescimento, a energia dos alimentos é empregada na
construção de moléculas complexas e na concentração de íons existentes no
ambiente. Quando o organismo morre, este perde a capacidade de obter
energia a partir dos alimentos e, sem energia, o cadáver não pode manter
gradientes de concentração. Os íons passam para o ambiente, e os
componentes macromoleculares decompõem-se em substâncias mais
simples. Estes últimos servem como recursos nutricionais para o
fitoplâncton, o qual, por sua vez, será ingerido por organismos maiores.
Esta hierarquia tem a propriedade de não só proporcionar a
possibilidade das espécies se preservarem, pelas interações entre si e com o
ambiente, com este aparente equilíbrio, como também de transferir
resultados de trabalhos biológicos de uma espécie para outra,
estabelecendo-se o que se chama de cadeia alimentar: é uma verdadeira
guerra entre espécies, cada uma utilizando estratégias e táticas próprias de
preservação e evolução, tendo contra si ainda uma natureza ou ambiente,
PARTE I
CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
E SOLUÇÕES DISPONÍVEIS
| 13
onde um “passo em falso” pode significar a extinção, como tem acontecido
com a maioria das espécies. Fosse diferente, os organismos vivos estariam
violando a segunda lei da termodinâmica que demonstra que o universo
sempre tende para uma desordem cada vez maior, ou seja, em todos os
processos naturais, a entropia do universo aumenta (LEHNINGER, NELSON e
COX, 1995). Assim, a tendência não é a preservação, mas a extinção, contra a
qual os organismos lutam, sem violar, mas, operando em estrita
concordância com a essa lei natural.
As espécies hoje existentes são as vitoriosas, pelo menos até o
momento, pois os organismos têm conseguido produzir ordem e, no
momento adequado, antes que se restabeleça o equilíbrio com o ambiente
(antes que morram), transmitem a ordem produzida a seus descendentes.
Dentre tais espécies, não resta a menor dúvida de que o Homem tem sido,
aparentemente, a mais eficiente nesse processo de produzir ordem, em
consonância com a segunda lei da termodinâmica, que conduz à desordem.
Qual espécie tem procurado melhor entender as leis naturais em busca da
sobrevivência senão o homem?
Sob essa visão, é possível tentar estudar e compreender o que
realmente o ser humano fez até agora: aprofundar suas relações com o
ambiente, não de forma passiva, mas com decisiva atuação sobre o ambiente
e, com isso, caminhar para o caos; ou não fosse essa estratégia, o caos já teria
acontecido?
Estudar com metodologia científica a contaminação ambiental,
causada por nossa imprudência ou mesmo pelo inevitável, principalmente
em nossos dias, é extremamente importante, pois minimizar riscos e
maximizar benefícios são os dois aspectos principais para a otimização de
uma tecnologia. Tratar o assunto com sentimentalismo significa não só
perder a oportunidade de contribuir, apontando para novos caminhos, como
também prestar um verdadeiro desserviço para com a causa ambiental.
Assim, estudar a contaminação ambiental, sob qualquer aspecto, deve
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
14 |
significar uma viagem por um caminho de idas e vindas, de forma a que se
obtenham conclusões fundamentadas na dialética dos vários aspectos que
envolvem cada situação prática.
Os aspectos que estão sendo abordados neste trabalho referem-se à
contaminação ambiental e à biomagnificação provocadas pelos agrotóxicos
e outros processos contaminadores. Será que são extremamente graves?
Será que têm aumentado em sua magnitude? Seria melhor se não
utilizássemos as tecnologias que as geraram e as têm gerado? Foram males
necessários? Como seria sem os agrotóxicos? Quando o ser humano
começou a poluir o ambiente de forma comprometedora? Há que se avaliar
todos os aspectos da questão para pretender fazer uma análise
verdadeiramente científica.
Há uma idéia romântica, mais ou menos generalizada, de que o
homem pré-industrial vivia em perfeita harmonia e felicidade com a
natureza. Mas não é difícil, num simples exercício de raciocínio,
compreender o quão terrível foram para os seres humanos esses, pelo
menos, três milhões de anos, desde o (MARCONI
e PRESOTTO, 1986), destituídos de garras, dentes afiados, habilidade de
movimentos, pele resistente e mesmo de força, perante uma natureza
severa e à mercê de outras espécies, para as quais o homem deve ter sido
presa das mais fáceis. Quanto sofrimento diante do frio, da chuva, enfim, das
intempéries, que, hoje, pelo menos para uma parcela significativa da
Só assim será possível responder se o mundo em que vivemos
caminha para o caos ou veio do caos.
2 O HOMEM PRIMITIVO E O MODERNO
Autralopithecus africanus
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 15
população, ficam do “lado de fora”. Foi esta extrema fragilidade da espécie
humana que a colocou, desde os primórdios, num dilema crucial: a evolução
ou a extinção. Parece que a escolha foi correta, pois hoje, com os
instrumentos que inventou, a espécie humana, outrora a mais fraca, tornou-
se a mais poderosa, a ponto de poder colocar todas as espécies sob a sua
guarda e disposição. Sob este ponto de vista, pode-se afirmar que a história
da Humanidade foi ou tem sido a história da luta do homem contra a
natureza. Subjugando-a, por meio do conhecimento de suas leis, o homem
cada vez mais domina e exerce seu poder sobre a natureza ou ambiente. À
medida que isso acontece, cresce também a responsabilidade do homem
sobre a natureza, pois, subjugando-a, torna-se cada vez mais senhor de si
mesmo, mas ao mesmo tempo traz para si tarefas gradativamente mais
árduas e complexas, como preço de sua vitória.
Há milhões de anos os nossos ancestrais predavam a natureza, o que
perdurou até o final do Paleolítico (10 mil anos a.C.), quando, de predador, o
homem passou a produtor de alimentos, gerando a primeira grande
revolução da história da humanidade no setor da economia: é o começo da
produção, quando ele cria os seus próprios recursos (MARCONI e PRESOTTO,
1986).
A luta a natureza é mais evidente conforme se volta no tempo,
quando esse confronto parecia ser de forma mais direta.
Para o homem primitivo, a natureza não lhe devia ser nada romântica
e, em resposta à agressividade do ambiente, os seres humanos responderam
sempre com agressão...
Se existiu uma situação de igualdade com a natureza, não foi por muito
tempo (DORST, 1973), pois tão logo aumentou a densidade populacional
humana, iniciou-se o que pode ser considerado como a luta da espécie contra
o meio em que se inseriu e sua emancipação progressiva relativamente à
natureza e a algumas de suas leis, com o domínio progressivo do homem
sobre o mundo com seu solo, suas plantas e seus animais, submetidos às
contra
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
16 |
invenções do gênio humano. Na verdade, a influência limitada do homem
sobre o meio, nos tempos mais remotos, deve-se mais às baixas densidades
demográficas do que propriamente às suas relações “amistosas” com a
natureza, pois existem apenas diferenças de grau entre o ser primitivo
paleolítico de um milhão de anos atrás a 10 mil a.C., o cultivador neolítico do
início da civilização e o homem do ano 2000 (MARCONI e PRESOTTO, 1986).
Está comprovado (DORST, 1973) que os incêndios, voluntários ou não,
devastaram grandes áreas de grandes regiões do Planeta, no Paleolítico,
como demonstra a existência de camadas de cinzas, de detritos
carbonizados e até de troncos queimados. Alguns autores suspeitam que o
súbito desaparecimento das coníferas e das bétulas de algumas regiões e até
de algumas espécies de animais, como o urso-das-cavernas, deveu-se, em
parte, às atividades do homem que, graças ao fogo e sua habilidade de
caçador, poderia, desde o Paleolítico, modificar consideravelmente o
equilíbrio natural de vastas regiões.
Tivesse o homem, nos dias de hoje, com mais de seis bilhões de seres,
o mesmo ímpeto e o mesmo tratamento para com a natureza, como seus
ancestrais, em busca de alimento, a dúvida seria apenas em relação ao
número de dias que restaria ao planeta Terra. A realidade é bem mais
alvissareira do que o romantismo pessimista, pois, na verdade, quanto mais
se avança na história da humanidade, mais a posição do homem a
natureza em busca de sobrevivência se altera para uma posição interativa
com ela: quando a natureza deixa de ser um obstáculo para se tornar todo
um conjunto à nossa disposição e o homem passa a ser e a agir, não como
senhor, mas como responsável pelo Planeta. O ser responsável começa,
então, a corrigir “erros” do passado, sem negar a necessidade histórica dos
seus feitos, sem os quais não se chegaria a esta relação de tendência ao
equilíbrio dinâmico com a natureza, deixando, aos poucos, de ser um “barco
à deriva” para traçar conscientemente o seu próprio destino (MATURANA,
2001). A velocidade dos avanços tecnológicos atesta esta tendência, pois
compreendendo e dominando as leis da natureza, tem sido possível produzir
contra
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 17
mais em menor espaço e tempo, com menor desperdício e impacto na
natureza. As próprias preocupações com as questões ambientais também
atestam esta mudança de comportamento em relação à natureza.
Os seres vivos, a partir da própria energia resultante da desordem,
promovem ordem, construindo substâncias mais complexas. Se, como no
trabalho do carneiro-hidráulico, a quantidade de água elevada ao topo é
mínima, comparada ao volume de água que passa, na natureza, ocorre algo
semelhante. Em ambos os casos, inclusive, pode considerar-se como
inesgotável a energia que é consumida, compensando plenamente o
trabalho realizado. E se a energia resultante da desordem é inesgotável, em
razão de o Universo ser infinito, são infinitas também as possibilidades de
evolução das complexidades dos seres vivos. Se verdadeira a Teoria do
, mais fortalecida fica ainda a proposta da construção da ordem pela
desordem.
O que para muitos parece ser uma coisa nova, com o advento da
tecnologia, na verdade é tão antiga como a própria vida na Terra. Os seres
vivos nunca estão em equilíbrio com o ambiente (LEHNINGER, NELSON e COX,
1995), vivem em constante luta com ele e, para facilitar a sobrevivência,
muito cedo construíram membranas semipermeáveis em volta de si (a célula
e sua membrana), como forma de isolar-se e, ao mesmo tempo, manter
contato permanente com o ambiente, a fim de extrair nutrientes e excretar
Apesar dos defensores do caos e do apocalipse, a tendência parece
ser a ordem pela ação do homem, não apesar da desordem proposta pela
segunda lei da termodinâmica, mas em consonância com essa mesma lei.
Big-
Bang
3 A CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
18 |
(devolver) produtos (lixo) oriundos da queima no organismo em sua luta
pela vida. Essa troca com o ambiente iniciou com células simples e, mais
tarde, chegou a seres complexos multicelulares.
Não é muito diferente das relações de troca entre grandes sociedades
de organismos vivos (no caso o homem) com a natureza, quando é
considerada, no conjunto, a extração que o homem realiza do meio e a
devolução (excreção) que faz ao mesmo. Mais eficiente é o organismo que
extrai do meio, utiliza ao máximo o que é extraído e excreta as substâncias na
forma mais simples possível. A reciclagem, uma invenção moderna, nada
mais é do que esta tentativa de devolver ao ambiente as substâncias menos
tóxicas possíveis, até, quem sabe, ser possível um dia realizar o
reaproveitamento por tempo indefinido, evitando, conforme denominou-
se, a contaminação ambiental.
A forma mais antiga de contaminação ambiental tem sido, até hoje,
uma das mais importantes: pelas fezes. Alguns animais têm o hábito
instintivo de enterrar seus excrementos, o que demonstra o quanto é antiga
a própria preocupação com esta forma de contaminação ambiental. Os seres
humanos, tão logo se estabeleceram, já procuraram construir ou escolher
locais mais próprios para seus dejetos.
Até épocas relativamente recentes da história da civilização humana,
pelo menos até a Revolução Industrial, os detritos eram essencialmente
orgânicos e, portanto, mais suscetíveis de serem atacados por
microorganismos; eis que, subitamente, a indústria espalhou sobre o
planeta produtos mais resistentes e de impacto maior, tanto ao ambiente,
quanto propriamente para o próprio homem (DORST, 1973).
Entretanto, apesar de preocupante (e é bom que o seja), mais do que
dificuldades técnicas ou científicas para eliminar ou minorar os problemas
gerados pela industrialização, é a falta de vontade política que mais dificulta
a aplicação de medidas preventivas e recuperadoras, pois os interesses
econômicos envolvidos é que, muitas vezes, têm guiado as ações efetivas
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 19
das autoridades responsáveis.
Os agrotóxicos são os mais conhecidos e quase sempre têm sido
considerados como os grandes vilões da contaminação ambiental.
Entretanto, não fossem esses, juntamente com outros agroquímicos,
calculam os especialistas, seria necessário, hoje, utilizar uma área de terra
três vezes maior para produzir a mesma quantidade de alimento, o que se
tornaria insustentável para o próprio planeta. De acordo com Paterniani
(1999), só foi possível o homem chegar a mais de seis bilhões de habitantes
porque se antes, nas condições primitivas, era preciso 2.500 hectares de terra
para alimentar uma pessoa, hoje, com o avanço da ciência e da tecnologia,
esta mesma área é capaz de alimentar, em média, 36.000 seres humanos.
A Revolução Verde, amaldiçoada por muitos, foi uma solução
importante, mas que, como toda a tecnologia, chega com riscos e benefícios.
Atualmente há o consenso de que se fossem minimizados os riscos e
maximizados os benefícios, os impactos ambientais teriam sido bem
menores. Há que se analisar a questão sob o prisma daquela época e não
desta e perguntar-se se, com os conhecimentos e a consciência que havia,
seria possível detectar o que hoje é visto com clareza. Isso, entretanto, não é
motivo para que muitos levem ao extremo o Princípio da Precaução,
preferindo o “nada-fazer” a correr o risco de fazer alguma coisa. Smith (2001)
considera que tais interpretações extremistas e equivocadas de algumas
Organizações Não-Governamentais (ONGs) induzem para que sejam
enfocados apenas os riscos das tecnologias ou inovações e ignorados os
riscos da estagnação, que, por restrição ou banimento de avanços
tecnológicos, podem criar grandes problemas, particularmente à
humanidade, e riscos irreversíveis ao ambiente.
Ademais, a mais antiga forma de contaminação ambiental (por fezes)
ainda é a mais grave (DORST, 1973) apesar de a tecnologia disponível ser
suficiente para eliminá-la totalmente, o que demonstra que a causa principal
da poluição mais devastadora do ambiente reside principalmente na questão
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
20|
político-econômica. Entretanto, muito pouco tem sido feito relativamente a
esse problema, tanto que não tem aparecido nenhuma ONG protestando
contra essa forma de poluição em lugar nenhum. Seria também razão dessa
ordem esse descaso por parte das ONGs?
Igualmente, a mais moderna forma de contaminação ambiental, ou
seja, resultante da emissão de gases provenientes dos veículos automotores
e das indústrias, que comprometem significativamente a camada de ozônio,
pouco ou nenhum protesto tem provocado, de tal forma que as providências
para diminuição desse tipo de poluição têm partido dos próprios governos e
dos fabricantes.
E as guerras promovidas pelo Primeiro Mundo? Guerras
comprometem crucialmente o ambiente, mas não se tem visto mais
nenhuma manifestação contra elas por parte das ONGs ambientalistas. A
recente Guerra do Iraque, ocorrida em 2003, quando os norte-americanos e
aliados (britânicos, holandeses e espanhóis, principalmente) causaram
imensos impactos ambientais naquela região, não gerou nenhum protesto
explícito por parte das organizações ambientalistas internacionais; nem
mesmo suas subsidiárias no Terceiro Mundo saíram às ruas para protestar,
como fizeram outras organizações, como as de direitos humanos e partidos
políticos.
Quais são realmente, nos dias
atuais, os objetivos e metas de tais organizações internacionais?
É bastante intrigante que os protestos e campanhas nos países do
Terceiro Mundo sejam praticamente apenas concentrados em tecnologias
novas ou de ponta, como a energia nuclear e a biotecnologia, por parte da
maioria das ONGs. Não seria mais uma manobra por parte do Primeiro
Mundo para manter os países subdesenvolvidos afastados de tecnologias
estratégicas? Tais campanhas antitecnologia no Terceiro Mundo não seriam
parte do programa do Tecnológico? A verdadeira missão de
Nem mesmo a utilização de ingênuos e inocentes golfinhos, por
parte dos norte-americanos, para detectar minas explosivas em portos,
chamou a atenção das ONGs ambientalistas.
Apartheid
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 21
algumas ONGs internacionais não poderia estar ligada a tais interesses?
Afinal, as ONGs ambientalistas estão sediadas na Amazônia, quando os mais
graves problemas ambientais estão nos grandes centros urbanos.
A Lei Federal n. 7.802, de 11/07/1989, regulamentada pelo Decreto n.
4.074, de 04/01/2002, em seu artigo 2º, inciso I, define o termo “agrotóxico”
como sendo:
Como pode ser observado, o termo “agrotóxico” é bastante
abrangente, não envolvendo apenas produtos destinados para uso na
agricultura, apesar de o consumo desses agroquímicos ser,
majoritariamente, destinado para a produção agrícola. Entretanto, não pode
ser ignorado, por exemplo, que conhecer como é realizada a utilização em
ambientes urbanos é de extrema importância, o que parece que não tem sido
a preocupação das autoridades, sendo tais produtos vendidos
indiscriminadamente em qualquer estabelecimento comercial. Não se
conhece (pelo menos não tem vindo a público) qual o consumo desses
produtos, nem como são aplicados em residências. Para tornar a situação
ainda mais preocupante, a mídia tem explicitamente alardeado que são
3.1 Contaminação pelo uso de agrotóxicos
Os produtos e agentes de processos físicos, químicos oubiológicos destinados ao uso nos setores de produção, noarmazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, naspastagens, na proteção de florestas nativas ou plantadas e deoutros ecossistemas e também em ambientes urbanos,hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composiçãoda flora e da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa deseres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias eprodutos empregados como desfolhantes, dessecantes,estimuladores e inibidores do crescimento.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
22 |
inofensivos para os seres humanos. Entretanto, trata-se de
organofosforados, carbamatos e piretróides, principalmente. Intoxicações
diretas por agrotóxicos não poderiam estar ocorrendo como efeito de
aplicações domiciliares?
Retomando a questão na sua essência, pode-se dizer que os
agrotóxicos, quando aplicados nos diferentes agroecossistemas, sofrem uma
série de reações, decompondo-se em outras substâncias de maior ou menor
toxidez, em menor ou maior tempo, dependendo das características
intrínsecas de cada produto. Tais substâncias se redistribuem nos diversos
organismos que compõem os agroecossistemas, contaminando o ambiente
em maior ou menor grau, em conformidade com as características de cada
um.
A aplicação de agrotóxicos ocorre em apenas 5% da área agricultável
do mundo (MACHADO NETO, 1991), mas a repetitividade dos tratamentos
torna a área total cumulativa muito significativa e os efeitos no ambiente
altamente catastróficos. Apesar da diminuição da área de plantio no mundo,
pelo aumento da produtividade, as vendas de agrotóxicos continuam em
alta, principalmente nos países periféricos.
No Brasil, de 1992 a 1999, as vendas de agrotóxicos apresentaram
crescimento significativo, passando, respectivamente, de 947 milhões para
2,3 bilhões de dólares (TSUNECHIRO e FERREIRA, 2000), com estimativas que
superavam os 2,5 bilhões de dólares no ano de 2000. Estas previsões
acabaram se confirmando e sendo largamente superadas nos anos
subseqüentes, por conta, principalmente, dos fungicidas para controle da
ferrugem-asiática na cultura da soja. . Por outro lado, apesar do consumo
crescente de agrotóxicos, os prejuízos devidos às pragas têm aumentado
mundialmente, de tal maneira que, para um acréscimo de dez vezes no uso
desses produtos químicos, entre 1940 e 1990, dobraram as perdas causadas
pelo ataque de pragas, com agravante de uma maior intensidade de
problemas de toxidez, acúmulo de resíduos e resistência a insetos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 23
(CARVALHO, 1999). Entretanto, não foi possível identificar se o autor acima
levou em consideração a proporcionalidade relativa ao aumento da área
cultivada, o que provavelmente não o fez. De qualquer forma, é evidente o
crescente aumento das perdas por ataque de pragas, acompanhado da
diminuição da eficiência dos produtos químicos. Isso se deve ao fato que a
indústria química não tem conseguido mais acompanhar a velocidade com
que insetos-praga e patógenos têm se adaptado, tornando-se resistentes aos
agroquímicos, por meio da seleção de mutantes preexistentes nas
populações ou mesmo por processos de destoxificação.
Quase sempre, quando é considerada à contaminação ambiental por
agrotóxicos, é destacada, como de fundamental importância, senão a única, a
toxicidade em si do produto químico, pouca ênfase sendo dada à sua forma
de utilização. Entretanto, talvez seja esta a principal via de contaminação
ambiental, quando não há cuidados suficientes durante a aplicação ou
mesmo há falta de prevenção da sua dispersão, mesmo que seja inevitável.
Há que se considerar que mesmo o inevitável pode ser minimizado de tal
forma a não causar prejuízos significativos aos seres vivos e ao ambiente em
geral.
Para ilustrar, um produto altamente tóxico e persistente, quando
aplicado adequadamente, pode ter um efeito no ambiente bem menor do
que um produto de pouca toxidez, utilizado de maneira inconseqüente.
Evidentemente, que juntando os dois aspectos positivos (produtos pouco
tóxicos e utilização adequada) dessas situações, as condições se aproximam
das ideais em termos de preservação ambiental. Um exemplo disso foi o
trabalho realizado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA, 2001), quando não foram encontradas contaminações significativas
de alimentos por agrotóxicos em amostras analisadas, provenientes de
lavouras convencionais, com assistência técnica a produtores e fiscalização
efetiva. Mas a situação já foi bem diferente: Machado Neto (1991), citando
diversos autores, destaca a presença de elevados teores de agrotóxicos em
alimentos na década de 1970, também nos EUA, inclusive de organoclorados.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
24 |
Atualmente a maior preocupação da (FDA)
norte-americana tem sido a contaminação dos alimentos importados, e o
Brasil figura como um dos países mais problemáticos nesse aspecto.
Certamente, tais análises (ou o significado delas), bem como aquelas que
têm sido realizadas no Brasil, ainda irão gerar muitas “dores de cabeça” para
nossos governos em suas pretensões de tornar o País um dos maiores
exportadores de alimentos. Cabe lembrar a polêmica sobre a contaminação
por fungicidas da soja brasileira exportada para a China em 2004, que
derrubou o preço da leguminosa no mercado internacional. Tão logo outras
nações se sentirem ameaçadas pela concorrência brasileira, poderão usar,
como argumento para barrar nossas exportações, os altos índices de
contaminação de nossos produtos por agrotóxicos. E não estarão mentindo,
certamente...
A contaminação do ambiente por agrotóxicos, além da utilização
normal (aplicação intencional), pode ocorrer de maneira não-intencional
(ou indireta). De acordo com Machado Neto (1991), pode ser de várias
formas, esta chamada via não-intencional: lixo industrial de fábricas; derivas
e enxurradas, contaminando águas e ar; limpeza de equipamentos e
instalações (pulverizadores, banheiros carrapaticidas e outras); uso
doméstico dos inseticidas, raticidas e outros, carreados para os esgotos;
instalações de armazenamento dos agroquímicos, que também podem
contaminar o ambiente de várias formas e tantas outras maneiras de
contaminação, dentro do que se convencionou chamar de via indireta ou
não intencional. Entretanto, esta forma didática ou convencional de
classificação não responde às reais necessidades, pois, se de um lado a
“aplicação intencional” pode sugerir que é possível controlar melhor a
contaminação pela utilização mais adequada, o termo “não-intencional”,
por outro lado, sugere a impossibilidade de controle, o que não é verdadeiro.
A adequada regulagem dos equipamentos, a aplicação correta na
dose – e no momento oportuno –, a escolha adequada do produto (eficiente,
mas com menor agressividade ao ambiente e outros seres vivos), o
Food and Drug Administration
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 25
treinamento do pessoal responsável pela aplicação (ROSA, 1996), enfim, a
utilização dos agrotóxicos sob assistência técnica e fiscalização para
cumprimento da legislação vigente, certamente são suficientes para que,
atualmente, seja possível obter alimentos saudáveis, sem impactos
significativos para o ambiente. Isso pode ser comprovado pelos resultados
das análises que têm sido feitas em amostras de produtos agrícolas nos países
desenvolvidos, como as que são executadas regularmente pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2001) e pela
Agência de Proteção Ambiental (EPA) daquele país.
Em caso de acidentes ou mesmo de negligência, havendo agilidade por
parte das autoridades responsáveis, há condições e disponibilidade de
conhecimentos suficientes para minimizar as conseqüências, dependendo
do grau e da abrangência do acontecimento. Para exemplificar, Barquim et al.
(1996) avaliaram a degradação de resíduos de carbaril, carbofuram,
permetrina, endossulfam, malatiom, metamidofós, metil paratiom e
propanil em água a 1500 mg/L, por via química, e cipermetrina, metil
paratiom, malatiom, propanil e 2, 4, D, por via biológica a 10mg/L. Após 48
horas em solução orgânica, todos os compostos avaliados foram
decompostos em mais de 95% de sua concentração inicial, enquanto os
tratamentos químicos mais eficientes (após 48 a 72 horas) foram com
hidróxido de sódio e hidróxido de cálcio, com posterior adição de sulfato
ferroso ou sulfato de alumínio, dependendo da maior ou menor persistência
das substâncias analisadas. Este é um dos trabalhos que podem ser
encontrados na literatura mundial sobre a decomposição química e biológica
de agrotóxicos.
Acrescente-se que a tendência é cada vez maior de serem lançados
produtos mais adequados às novas exigências da sociedade e redução
gradativa do uso de agrotóxicos de maior impacto, chegando a sua proibição
praticamente total, como aconteceu com os organoclorados. Os produtos da
nova geração tecnológica, inclusive, são de mais fácil degradação por
tratamento químico ou biológico, em caso de necessidade.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
26 |
Com o advento da biotecnologia, pela resistência genética, será
possível diminuir drasticamente o uso de agrotóxicos, além do surgimento
de novas formulações com uso similar ao convencional, praticamente
atóxicos.
A preocupação dirigida quase que exclusivamente contra os
agrotóxicos, considerados até hoje como os maiores responsáveis pela
poluição ambiental, levou a uma substancial melhoria da situação, pelo
menos nos países desenvolvidos (portanto, assimilável no Terceiro Mundo).
Esta parcialidade no trato da questão (propositada ou não) afastou a atenção
sobre questões muito sérias, que atualmente podem ser consideradas
também alarmantes, como a poluição causada pelas indústrias em áreas
urbanas e a falta de tratamento de esgotos cloacais.
A Terra formou-se há 4,5 bilhões de anos. Um bilhão de anos mais
tarde, com a formação dos oceanos e continentes, surgiam as bactérias
anaeróbicas fotossensibilizantes e os metanógenos anaeróbicos
(LEHNINGER, NELSON e COX, 1995). O surgimento do processo de
fotossíntese há 2,5 bilhões de anos, proporcionou o aproveitamento da
energia solar pelos organismos autotróficos (plantas) e a atmosfera
começou a receber oxigênio, como subproduto da reação final, passando
gradativamente de redutora a oxidante. O surgimento dos eucariotos
multicelulares (seres superiores) só ocorreu por volta de 750 milhões de
anos atrás; mas somente há 250 milhões de anos é que se pronunciou a
diversificação dos eucariotos grandes.
Nada disso seria possível sem um dos componentes básicos da
evolução da vida na Terra até o atual estágio: o solo. Energia solar, água, ar e
solo formam a base fundamental da vida na Terra. Um deles que entre em
3.2 Resíduos de agrotóxicos no solo
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 27
processo de esgotamento ou em colapso é suficiente para comprometer todo
o ambiente terrestre. A contaminação e o aquecimento do ar por gases
produzidos pelos veículos automotores e pelas indústrias resultam em
chuvas ácidas que, ao precipitarem, contaminam planta, solo e água e
comprometem a camada de ozônio, fazendo com que energia solar e energia
cósmica cheguem à atmosfera sem serem filtradas adequadamente. A
contaminação do solo também compromete os demais sistemas básicos,
além de diretamente intervir negativamente no metabolismo dos organismos
terrestres, inclusive no homem.
A conservação do solo tem papel fundamental na preservação do
ambiente, pois a própria vida do Planeta depende diretamente das suas
condições. O homem depende do solo e bons solos dependem do homem e
do uso que deles faz (BUCKMAN e BRADY, 1968). As grandes civilizações
sempre dispuseram de bons solos e só se mantiveram no apogeu enquanto
cuidaram adequadamente deles. O declínio das grandes nações dos vales dos
rios Tigre, Eufrates e Nilo coincidiu com o empobrecimento dos solos, com a
má administração das águas e das práticas de conservação. Não é simples
coincidência que, atualmente, é nos países mais desenvolvidos que, apesar
de intensivamente utilizados, devido às exigências de altas produtividades, os
solos têm recebido melhores cuidados por parte dessas comunidades.
Mesmo porque é exatamente um adequado programa de conservação de
solos que permite potencializar um solo para a obtenção de altos
rendimentos.
No Brasil, a monocultura, as práticas culturais inadequadas, o uso
inadequado de insumos, a utilização de áreas de terras impróprias, o
desmatamento indiscriminado, resultantes da falta de política agrária,
responsáveis pela carência de assistência técnica, crédito e pesquisa,
determinaram este verdadeiro caos que é a situação dos solos brasileiros.
Como não poderia deixar de ser, não é coincidência que o próprio País esteja
submerso numa tamanha crise. Mais preocupante do que a situação atual é a
falta de perspectivas, pois, juntamente com o solo, os demais itens de
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
28 |
fundamental importância social enfrentam o caos ou estão em colapso. A
cada semente que se coloca no solo para a produção de alimento,
concomitantemente, está sendo ativada naturalmente a degradação
ambiental na sua devida proporção.
Mesmo que os agrotóxicos (inseticidas, acaricidas, nematicidas,
fungicidas, herbicidas e outros) sejam utilizados adequadamente, acabam
por acarretar diversos problemas. Causam desequilíbrios biológicos,
favorecendo o aparecimento de novas pragas (insetos, ácaros, nematóides,
fungos, ervas daninhas e outros) ou surto de pragas secundárias, além de
efeitos deletérios, por exemplo, em insetos polinizadores. Acarretam
resíduos em alimentos, pela sua persistência, causando problemas de saúde
pública. Promovem resistência das pragas em geral, aos próprios
agrotóxicos, exigindo aplicações com maior freqüência e com maior
concentração. Contaminam o meio ambiente, tanto local como em áreas
próximas ou mesmo distantes, principalmente por deriva em aplicações
aéreas ou terrestres, determinando aumento na mortalidade de peixes, aves
e outros, que, lamentavelmente, não foram o alvo visado, acumulando-se
nos organismos e na natureza, podendo ser transferidos, via biológica,
através das cadeias tróficas.
Aplicados nas culturas, tendo como alvo as ervas daninhas, as
moléstias ou os insetos, o que não se volatiliza e não alcança o leito dos
riachos, lagos e rios por lixiviação acaba, inexoravelmente, por chegar ao
solo. Dessa forma, inicia-se uma série de processos que podem determinar
uma maior ou menor contaminação por um tempo maior ou menor,
influenciando decisivamente no equilíbrio da flora, fauna e microorganismos
do solo em geral.
3.3 Níveis de resíduos de agrotóxicos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 29
O conhecimento dos níveis de resíduos de agrotóxicos no solo, bem
como seus efeitos sobre a fauna e microorganismos são extremamente
importantes. Mesmo que tais níveis não sejam tóxicos para as culturas
subseqüentes, há que se levar em consideração que o equilíbrio entre as
diversas espécies e a própria densidade das populações pode ser afetado, o
que pode determinar o seu próprio comportamento e o rendimento
posterior dessas culturas.
Resíduos de herbicidas no solo podem ter efeito negativo sobre os
microorganismos do solo, afetando as culturas seguintes (SAAD, 1981);
entretanto os agricultores dispõem de bastante segurança, pois a imensa
maioria dos produtos é destruída ou lixiviada em até oito semanas, no
máximo, quando aplicados nas doses recomendadas. Isso não significa que o
ambiente esteja a salvo, pois, de uma maneira geral, a evaporação e a
lixiviação dos agrotóxicos, que podem auxiliar na descontaminação do solo,
podem significar contaminação do ar atmosférico e das águas.
A escolha de um agrotóxico, diante das novas exigências da sociedade
nas questões ambientais e por uma agricultura mais precisa e mais previsível,
passa a ter uma importância fundamental, pois, dependendo da substância
química a ser utilizada em uma cultura, os efeitos residuais no solo e a
persistência no ambiente serão maiores ou menores e mais ou menos
impactantes. Assim, o conhecimento aprofundado dos produtos, por parte
dos profissionais envolvidos, é de extrema importância para o manejo
adequado da propriedade rural e para atender às exigências e necessidades
das comunidades envolvidas.
Com relação aos herbicidas, que são os produtos que, obviamente,
estabelecem maior contato com o solo, tanto pelo direcionamento da
aplicação, quanto pela própria incorporação ao solo, há uma evidente
preocupação com produtos que sejam mais eficientes, menos tóxicos aos
seres vivos não-alvos e que sejam adequadamente degradados por agentes
físicos, químicos e biológicos.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
30 |
Com o advento da biotecnologia moderna, a resistência genética
deverá substituir, em muito, o uso dos agrotóxicos convencionais,
principalmente inseticidas e fungicidas. Dessa forma, ganham em
importância os herbicidas, conforme vai se generalizando em todo o mundo
o uso da tolerância de plantas a herbicidas não seletivos. É o caso da
tolerância ao glifosato e glufosinato de amônio, já utilizados em mais de 40
milhões de hectares. Uma das maiores vantagens dessa metodologia é a
possibilidade de se utilizar cada vez mais produtos mais adequados às novas
exigências da sociedade.
De acordo com Oliveira Jr. (2001) o glifosato, produto pertencente à
classe dos inibidores da síntese de aminoácidos (geralmente de pouca
toxicidade) e grupo dos derivados da glicina, tem a degradação microbiana
como rota principal de decomposição, embora a oxidação e
fotodecomposição também ocorram. Os herbicidas deste grupo atuam
inibindo a síntese dos aminoácidos fenilalanina, tirosina e triptofano, os
quais são precursores de outros produtos, como a lignina, os alcalóides e os
flavonóides. Assim, por apresentarem mais de um mecanismo de ação,
limitado ao metabolismo da planta e praticamente nenhum efeito residual,
esses herbicidas são considerados produtos com baixa probabilidade de
selecionar espécies resistentes.
Com tais características, principalmente referentes à baixa toxicidade
e efeito residual no solo praticamente inexistente, pode-se afirmar que os
herbicidas desse grupo são aqueles que mais se aproximam das exigências
atuais de uma sociedade que reivindica um ambiente de qualidade. A
intensificação de pesquisas nessa área, com o advento da engenharia
genética, vislumbra moléculas menos tóxicas ainda aos seres vivos e menos
agressivas ao ambiente.
Culturas tolerantes a herbicidas oferecem aos produtores rurais um
importante instrumento no controle de inços e são compatíveis com os
sistemas de plantio direto, que auxiliam na conservação do solo. O glifosato
é favorável, sob o ponto de vista ambiental, porque se liga fortemente às
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 31
partículas do solo e se degrada rapidamente em componentes que ocorrem
naturalmente, como o dióxido de carbono (JEZOVSEK, 1997).
Entretanto a gama de substâncias químicas, classificadas como
agrotóxicos, que a todo o momento está chegando ao solo e a ele se
incorporando, causando problemas de contaminação e desequilíbrio
biológico, é extremamente preocupante. Já foi bem pior no tempo dos
organoclorados, mas não significa que o problema tenha sido equacionado,
apesar das novas alternativas surgidas atualmente. Há ainda um longo
caminho, a começar pela conscientização dos profissionais da área
agronômica, produtores, consumidores, indústria e autoridades
governamentais.
Analisando alguns trabalhos de pesquisa do final da década de 1970,
sobre resíduos de agrotóxicos no solo, quando ainda se utilizavam os
organoclorados, poder-se-á observar que muitos produtos, com exceção
desses, ainda são utilizados na lavoura brasileira, pois, no Brasil, os avanços
tecnológicos só chegam quando se esgotam completamente os potenciais
das tecnologias, muitas vezes, já ultrapassadas em outros países.
Mesmo mundialmente, até os anos 1970, eram pouco conhecidos os
efeitos dos agrotóxicos no solo, principalmente sobre a fauna (especialmente
minhocas) e microorganismos do solo. Atlavinytè, Lugaukas e Kilikevicius
(1980) estudaram a acumulação de inseticidas em minhocas e as reações
desses invertebrados e microorganismos a essas substâncias (antio,
benzofosfato, fosfamidom, cloropirifós e metidatiom). A sobrevivência de
minhocas chegou a decrescer em até 46%, enquanto diversos
microorganismos, inclusive fungos do gênero , tiveram
decréscimos no crescimento de micélios reprodutivos. Se, por um lado, a
acumulação dos inseticidas nas minhocas significou a aceleração da
purificação do solo, por outro, pode significar um prolongamento dos efeitos
danosos do produto, quando esses invertebrados são consumidos por
pássaros e outros animais.
Trichoderma
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
32 |
Os microartrópodos são fundamentais nos processos de
decomposição da matéria orgânica e alterações em seu equilíbrio podem
resultar em uma diminuição na decomposição da matéria orgânica, afetando
a fertilidade do solo. O carborundum (carbofuram ou furadam), sendo muito
tóxico para as minhocas, pode determinar um aumento inicial de alguns
microartrópodos durante a decomposição das minhocas, decrescendo logo
após também. Entretanto, Broadbent e Tomlim (1980) analisaram o
processo ao longo do tempo, não encontrando substancial redução na fauna
total do solo ou na decomposição, não havendo efeito detrimental do
carborundum na comunidade de microartrópodos decompositores, não
afetando, portanto, os processos de decomposição da matéria orgânica.
Alterações na fauna e microorganismos do solo foram avaliadas por
Kitazawa e Kitazawa (1980) em campos experimentais, sob aplicações
isoladas e em combinação de inseticidas (BHC e Aldrim), fungicida (TPN) e
composto orgânico. Os efeitos detrimentais nas diversas espécies estudadas
foram bem evidenciados, inclusive promovendo desequilíbrio entre as
populações no solo, diminuindo algumas espécies e favorecendo outras. O
fungicida foi capaz de diminuir a proliferação de fungos e proporcionar um
aumento significativo de bactérias resistentes. BHC, inclusive, determinou
um aumento no número de bactérias gram-negativas.
Bhattacharya e Joy (1980) já se referiram quanto ao impacto dos
herbicidas no solo, principalmente em relação aos microorganismos,
provocando desequilíbrio biológico. Foram evidentes também os diferentes
efeitos em maior ou menor grau, dependendo do produto utilizado.
Atualmente há inúmeros trabalhos científicos, demonstrando o que já
era preocupante na década de 1980: os agrotóxicos aplicados às lavouras
deixam resíduos tóxicos no solo, alterando o equilíbrio biológico, podendo
não só provocar uma série de conseqüências, devido à toxicidade em si dos
produtos, como inclusive determinar reduções nas colheitas, tanto pela
diminuição da atividade da fauna e microorganismos, quanto pelo
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 33
aparecimento de pragas e moléstias que antes não tinham importância
econômica.
A contaminação ambiental, com prejuízos à saúde humana e demais
seres vivos; o desequilíbrio biológico determinado por esses agentes
químicos; a ineficiência dos agrotóxicos devido ao desenvolvimento da
resistência genética por parte do objeto-alvo e o próprio esgotamento do
potencial do melhoramento genético são ainda mais dificultados pela falta de
genótipos resistentes. Todos esses aspectos citados são fatores que fazem
com que a agricultura convencional atualmente se caracterize pela carência
de opções a novos avanços. Por essa razão tem sido tão questionada, tanto
pelos cientistas que apostam numa nova etapa, através da biotecnologia,
quanto por aqueles que vêem alternativas, como a agricultura orgânica ou a
agroecologia. Fica bastante claro, então, que a proposta da resistência
genética como alternativa aos agrotóxicos trará certamente uma série de
benefícios em cadeia, desde a maior eficiência e economicidade do controle
das pragas e moléstias, passando pela preservação das relações
biodinâmicas no ambiente (no caso, o solo), indiretamente aumentando
ainda mais o potencial de rendimento das culturas.
Quando se aplicam agrotóxicos na lavoura, geralmente direciona-se às
plantas, seja à cultura propriamente dita (fungicidas e inseticidas), seja aos
inços (herbicidas). Inexoravelmente, mais cedo ou mais tarde, esses
compostos estarão atingindo o solo. Há ainda que se considerar aqueles
agrotóxicos que são aplicados diretamente ao solo e ainda uma parcela do
produto de aplicação foliar que também alcança o solo imediatamente após a
aplicação.
3.4 Importância das práticas agrícolas no destino final dos
agrotóxicos
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
34 |
Evidentemente que os produtos incorporados diretamente ao solo
(tratamento de solo e de sementes) são, a princípio, mais impactantes que
aqueles aplicados diretamente nas plantas e que chegam ao solo depois de
sofrerem certo grau de degradação (fotodecomposição, oxidação, redução),
volatilização e absorção pela cobertura vegetal. Os herbicidas de aplicação
foliar chegarão ainda em grau mais avançado de degradação, pois estarão
incorporados às plantas-alvo em decomposição. Por sua vez, dependendo
das condições ambientais, os agrotóxicos incorporados ao solo,
adequadamente manejados, podem agredir menos o ambiente do que os de
aplicação foliar, sujeitos a uma imediata contaminação do ar e águas, logo
após a aplicação. É interessante, pois, observar todos os fatores externos que
possam influenciar na aplicação, eficiência e comprometimento do
ambiente na escolha de um agrotóxico e do momento de seu uso.
A possibilidade de ocorrência de chuvas após a aplicação, a umidade
relativa do ar, as temperaturas médias da época, as temperaturas durante o
dia, a umidade do solo, as propriedades físicas e químicas do solo, o teor de
matéria orgânica, a presença de microorganismos e a fauna do solo em geral,
além da formulação, quantidade de ingredientes ativos por área e
características intrínsecas do composto, todos são fatores que vão tornar
mais ou menos eficientes os agrotóxicos e mais ou menos agressivos ao
ambiente, aos organismos não-alvos e ao próprio homem.
A importância de alguns desses fatores no destino dos agrotóxicos no
solo é relatada por Machado Neto (1991). A umidade e o tipo de solo
desempenham importantes papéis na capacidade de penetração dos
agrotóxicos e o conteúdo de argila, se for alto, pode dificultar a migração dos
produtos. Inseticidas podem persistir por mais tempo em solos ácidos do
que em solos alcalinos e podem desaparecer muito mais rapidamente em
condições de altas temperaturas e em solos arenosos. As culturas que
cobrem o solo totalmente tendem a aumentar a persistência, por diminuir o
grau de evaporação da água do solo. As práticas agrícolas que movimentam o
solo podem provocar uma diminuição da persistência dos agrotóxicos,
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 35
expondo-os aos microorganismos e às condições físicas do meio (luz e calor),
que aceleram a degradação dos produtos mais termoinstáveis e mais
fotossensíveis.
Para muitos, a preocupação com a contaminação através dos
agrotóxicos é algo recente. Entretanto, mesmo antes da adoção dos
agrotóxicos convencionais, já existiam propostas, entre os cientistas, da
utilização de produtos químicos na agricultura de forma controlada, com o
mínimo de impacto ambiental.
A idéia do controle de pragas de forma integrada (atualmente tratado
como Manejo Integrado de Pragas) nasceu em 1880, por meio de Forbes
(HEINRICH, 1971) e o termo “controle integrado” de pragas já era tema de
debates na década de 1960. Obviamente que, no Brasil, é referido não
exclusivamente como metodologia mais eficaz no controle a pragas, mas
também visando a diminuir os impactos ambientais devido ao uso dos
agrotóxicos. Em 1965, a própria Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação (FAO) já fomentava metodologias visando a
minimizar problemas que já estavam em evidência na época, definindo
Controle Integrado como um sistema de manejo de pragas que, no contexto
do ambiente associado e da dinâmica das populações de pragas, utiliza, de
forma compatível, todos os métodos e técnicas viáveis para mantê-las abaixo
de níveis que ocasionam danos econômicos (HEINRICH, 1971). Evidencia-se,
portanto, que cientistas e profissionais da área agrícola não estavam tão
desatentos, como pode parecer, para aqueles que julgam que a luta para
evitar a contaminação ambiental é coisa muito recente.
Múltiplas causas podem favorecer a ocorrência de resíduos de
agrotóxicos (COMPACCI, 1971), dentre eles: uso inadequado (concentração,
número, tipos e freqüência das aplicações); falta de cuidados na preparação,
manuseio e aplicação do agrotóxico; emprego de equipamentos deficientes
ou impróprios para os trabalhos de aplicação e ausência ou deficiência de
conhecimentos sobre o produto a ser utilizado, como composição química,
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
36 |
toxicidade, compatibilidade com outras substâncias e período de carência.
Atualmente, tais fatores externos que determinam um maior ou
menor grau de resíduos de agrotóxicos no solo são considerados de extrema
importância. Até mesmo por parte da indústria tem havido uma maior
preocupação em incentivar, junto aos produtores rurais e operadores de
máquinas agrícolas, um maior conhecimento do manejo mais adequado dos
produtos, dos equipamentos, das condições de armazenamento e até
mesmo do destino das embalagens. Tanto isso é verdade, que surgiram e já
estão no mercado (algumas ainda em fase inicial) as novas embalagens de
plástico hidrossolúvel, que se dissolvem completamente, juntamente com o
agrotóxico, quando em meio aquoso. Já existem também as novas
embalagens retornáveis de polietileno de 420 litros. Acrescentem-se, ainda,
as embalagens de plástico biodegradável, que já estão chegando ao
mercado. A mais moderna e interessante criação é a embalagem a partir de
amido de milho geneticamente modificado, que promete revolucionar o
setor de embalagens em todas as áreas e, certamente, deverá abranger
também o mercado de agrotóxicos.
Minimizando os fatores externos que favorecem a contaminação do
solo e do ambiente em geral, as próprias indústrias estarão diminuindo a
carga de responsabilidade que lhes cabe pela poluição ambiental. Assim, os
custos com a realização de cursos, palestras, folhetos instrutivos e outros,
mais que uma despesa, são considerados hoje investimentos para as
empresas que buscam modernização e melhoria na qualidade e
produtividade.
O termo biomagnificação (MACHADO NETO, 1991) surgiu para
3.5 Biomagnificação dos agrotóxicos como mecanismo de
contaminação
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 37
expressar o acúmulo dos agrotóxicos nos diversos níveis tróficos das cadeias
ecológicas dos ecossistemas. Entretanto, este conceito atualmente é bem
mais amplo, envolvendo a acumulação progressivamente mais concentrada
de uma substância, em cada etapa da cadeia alimentar, podendo ameaçar a
saúde dos seres vivos e, naturalmente, do homem. Também se refere à
capacidade de substâncias químicas persistentes (como o mercúrio, cádmio,
chumbo e elementos que compõem os agrotóxicos organoclorados) de se
acumularem ao longo do tempo em organismos vivos em concentrações
maiores que as da água ou alimento consumido. De acordo com Fostier
(1998), biomagnificação é o fenômeno de transferência de um elemento
químico de um ser vivo para outro, de tal forma que as concentrações vão se
tornando cada vez maiores, na medida em que se atinge o final da cadeia
alimentar; diferindo do termo bioacumulação, que é a capacidade dos seres
vivos em concentrar algum elemento químico na sua biomassa, acima dos
níveis existentes no meio em que vivem.
Com o advento da química, inseticidas extraídos de plantas, como a
nicotina, a piretrina, a sabalilha e a rotenona, tiveram ampliado seu uso, pela
maior facilidade de extração. A rotenona, utilizada desde a Antigüidade
(BLAS, 1951), dez vezes mais potente que a nicotina, mesmo com o
surgimento dos inseticidas sintéticos, continuou sendo um dos mais
importantes. O primeiro representante dos sintéticos foi o aceto-arsenito de
cobre, em 1865 (EUA), e somente em 1942 surge o DDT, considerado, durante
muitos anos, como a maior descoberta da química moderna dos inseticidas. É
de se registrar que o cientista responsável pela síntese do DDT foi agraciado
na época com o prêmio Nobel...
O que atualmente pode ser considerado como uma vantagem: o baixo
efeito residual, devido à degradação frente às condições ambientais,
desbancou os inseticidas vegetais. O conceito, na década de 1950, de um
inseticida teoricamente perfeito era de que, dentre outras características,
deveria ser estável frente às condições ambientais e de ação persistente para
combater os insetos em todas as suas fases de desenvolvimento (BLAS,
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
38 |
1951). Este aspecto era o que realmente buscavam os agricultores, uma vez
que os produtos usados na época, extraídos de plantas, são fotossensíveis e
termoinstáveis, ou seja, degradam-se rapidamente, não apresentando um
período residual satisfatório, sendo necessárias aplicações com maior
freqüência. Não é por acaso que tenham sido criados termos como
bioacumulação e biomagnificação, diante do conceito de inseticida eficiente
que se formou nessa época, o que demonstra a importância fundamental e
decisiva da adoção de um determinado conceito filosófico. Atualmente o
conceito de um inseticida aceitável é de que deve ter um curto período de
carência e um baixo poder residual, pela facilidade em se degradar em
contato com o ambiente (VENDRAMIN e CASTIGLIONI, 2000).
Considerado, inicialmente, como o inseticida perfeito e a maravilhosa
criação da química dos inseticidas, o DDT passou a ser utilizado em quase
todas as situações: nas lavouras, nos lares, em campanhas de combate a
vetores de doenças, enfim, foi tratado como panacéia para todos os males
advindos dos insetos. O que não foi previsto é qual seria a reação dos insetos
frente aos inseticidas e, particularmente, quais malefícios causariam ao
ambiente como um todo. Pois tão logo o DDT teve ampliado o seu uso, já
começaram a surgir casos de resistência ao inseticida. Para ilustrar:
concentrações de DDT, abaixo de 100 ppm serviam, no início, para matar
moscas domésticas; entretanto, poucos anos depois, muitas linhagens já não
eram mais afetadas pelo inseticida, até mesmo na sua forma pura
(BREWBAKER, 1969). O aumento das doses recomendadas do produto foi
uma das primeiras conseqüências, agravando as condições de contaminação
ambiental, sem que houvesse melhoria da ação inseticida.
O surgimento da resistência genética de insetos aos produtos
químicos, pela seleção de indivíduos resistentes preexistentes nas
populações, teve seu lado favorável: o abandono quase total dos
organoclorados e o surgimento de outros inseticidas menos persistentes no
ambiente, mais seletivos e uma mudança radical no conceito de um
inseticida eficiente.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 39
Atualmente, muito pouco se teria que comentar, relativamente à
biomagnificação dos agrotóxicos, em se tratando dos atuais. A contaminação
por metais pesados passa a se constituir na causa mais preocupante, e os
fungicidas, até agora considerados como os menos perigosos, passam a ser
os maiores alvos, por conterem (diversos) tais elementos que podem sofrer
bioacumulação e biomagnificação. Igualmente, produtos aplicados na
chamada agricultura orgânica, contendo cobre, cobalto, zinco, manganês e
outros metais pesados, tidos como inócuos ao ambiente, devem ser mais
bem observados. Com relação aos modernos inseticidas, herbicidas e
outros, pela pouca persistência no ambiente e pelo surgimento de novas
fórmulas ainda mais facilmente degradáveis, o problema da biomagnificação
passa a ser de maior responsabilidade por parte de outros setores da
sociedade e da indústria. O próprio sulfato de cobre, muito utilizado na
agricultura orgânica, perde sua importância relativa, quando comparado com
as aplicações do produto diretamente na água destinada a atender a
população, para o controle de algas, resultantes do desequilíbrio provocado
pela poluição de esgotos, lançados pelos emissários, diretamente no corpo
d’água (CALEFFI, 2000).
Apesar disso, há que se considerar que os organoclorados, proibidos
em lei, ainda podem ser utilizados em situações especiais e mesmo
clandestinamente. Encontrar resíduos de DDT em seres vivos atualmente,
resultante de aplicações de 15 ou 20 anos atrás, deve ser visto apenas como
constatação, pois é o inexorável. Por serem lipofílicos e com meia vida longa,
os organoclorados acumulam-se na cadeia alimentar. Tipicamente o
consumo de peixe, carnes diversas e leite é responsabilizado pelo aumento
na concentração de compostos clorados no tecido adiposo (BAURAFARMA,
2001). O mais importante, entretanto, é saber quando foi aplicado o
organoclorado em questão, não se podendo admitir contaminações novas, já
que se dispõe de opções bem melhores, relativamente a inseticidas.
Obrigatoriamente, nos dias de hoje, resíduos de organoclorados não
poderiam ser significativos, a não ser que a legislação vigente não esteja
sendo cumprida. É o que se pode imaginar, a partir dos dados coletados, de
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
40 |
análises em produtos na SEASA do Paraná (SEASA-PR, 2001), de 1987 a 1992,
em que, incrivelmente, alimentos como batata, cenoura, maçã, melancia,
morango, pimentão, tomate e uva apresentaram significativas
contaminações com organoclorados.
Por outro lado, imaginar que evitando o uso de agrotóxicos
organoclorados, pela fiscalização efetiva, estaríamos garantindo um futuro
livre desses produtos, é fazer vistas grossas para um novo problema que já
surgiu e que é bem mais grave que a própria contaminação por agrotóxicos,
sejam organoclorados ou não: a contaminação pelas indústrias, inclusive por
organoclorados que não são para uso agrícola.
As preocupações com a biomagnificação dos agrotóxicos, mais
especificamente dos organoclorados, não devem ser minimizadas pelo
desuso desses, mas devem procurar outro alvo, que é a biomagnificação dos
organoclorados de uso industrial. A biomagnificação, os efeitos
teratogênicos, carcinogênicos e um dos mais sérios danos possíveis, que é a
genotoxidade desses produtos, pela natureza geralmente irreversível do
processo (BAURAFARMA, 2001) e o longo período de latência associado à
sua manifestação devem continuar sendo estudados, inclusive com maior
profundidade, pois o volume e a diversificação devem ser enormes, bem
maior do que dos agrotóxicos.
Um exemplo disso são os organoclorados altamente tóxicos e
persistentes, como as dibenzo-p-dioxinas policloradas e os dibenzofuranos
policlorados, conhecidos mais como dioxinas e furanos, respectivamente,
lançados no ambiente por usinas siderúrgicas (GREENPEACE, 2001), além da
contaminação da escória armazenada por bifenilas policloradas (PCBs)
tóxicas, cujo perfil na escória é consistente com o da mistura técnica de PCB
Arocloro 1254. Tais escórias contaminadas são altamente poluidoras,
inclusive para metais pesados (O Greenpeace, entretanto, tão contundente
com relação às indústrias, tem feito vistas grossas em relação aos metais
pesados usados na agricultura orgânica...).
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 41
Essa situação envolve não só as indústrias siderúrgicas (e são muitas),
mas uma gama infindável de indústrias têxteis, de plásticos, de couros, de
materiais elétricos e outras, localizadas quase sempre próximas ou junto a
mananciais de água e em zonas urbanas. Ações internacionais conjuntas
começam, então, a ganhar corpo, a fim de exigir maior agilidade por parte dos
governos, já que muito tempo foi perdido, devido a uma verdadeira “cortina
de fumaça” concentrada nos agrotóxicos, enquanto as indústrias se
instalavam livremente, de forma negligente, sem nenhuma resistência.
Exemplo disso é a “Declaração e Plataforma para Eliminação dos
Poluentes Orgânicos Persistentes” (POPs), proposta pela
(IPEN), que se propõe a implementar ações para
fiscalizar, analisar e eliminar tais poluentes (IPEN, 2001). Dentre esses estão
principalmente os organoclorados utilizados e expelidos pelas indústrias,
alvos de diversos movimentos em defesa do ambiente, mesmo que ainda de
forma muito tênue, mas acenando para prováveis ações mais efetivas.
De acordo com relatório publicado pelo Programa de Meio Ambiente
das Nações Unidas em 1998 (GREENPEACE, 2001), o Brasil não produz
nenhum dos 10 POPs considerados no estudo (aldrim, clordane, DDT,
dieldrin, endrin, heptacloro, hexaclorobenzeno, mirex, PCBs, toxafeno). No
entanto, as dioxinas e os furanos, os grandes vilões atuais, por serem
considerados subprodutos, são produzidos de forma não intencional e sem
controle legal. Vê-se que além de uma grande reformulação nos estudos
sobre contaminação ambiental, principalmente por organoclorados, há que
se revisar a legislação, sem a qual se estará impedido de agir e tentar alterar o
rumo dos acontecimentos.
Os estudos mais recentes, relativamente à biomagnificação de
materiais tóxicos nos organismos e a contaminação dos ecossistemas, têm se
centralizado mais na medição dos metais pesados, a forma atual mais
importante de contaminação, que tanto pode advir do uso de defensivos
agrícolas, como – e principalmente – a partir de resíduos industriais,
International POPs
Elimination Network
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
42 |
deslocando os agrotóxicos da condição de vilões da contaminação
ambiental, também nessas situações. Entretanto, trabalhos mais recentes
têm demonstrado que, apesar de preocupantes em alguns casos, os níveis
de contaminação e biomagnificação que têm sido encontrados nos diversos
ecossistemas brasileiros, mesmo com o relativo descaso das autoridades
brasileiras, estão aquém do esperado.
Peixes, crustáceos, moluscos, algas e outros, principalmente
marinhos, têm sido bastante estudados e parecem ser bastante
representativos dos níveis reais de contaminação ambiental, de
bioacumulação e de biomagnificação de substâncias e elementos tóxicos.
Organismos marinhos, como os moluscos bivalves, têm a capacidade de
concentrar metais pesados essenciais e não-essenciais, como Cd, Pb, Cu, Cr,
Ni, Zn, Mn e Fe em seus tecidos. Ferreira, Machado e Zalmon (2000)
analisaram a concentração desses minerais nos tecidos moles de
e em três áreas do litoral norte do Estado do Rio de
Janeiro. Não se verificou problemas em relação a Cd, Cu, Mn, Ni e Pb. Valores
acima do recomendável foram encontrados para Fe, Cr e Zn. Entretanto, as
concentrações dos metais foram consideradas similares às áreas descritas
na literatura sob baixo impacto de poluição, exceto para o ferro, que,
provavelmente, é originário dos substratos locais ricos em óxidos deste
metal.
Os cetáceos ocupam altos níveis tróficos e, portanto, as
concentrações de metais presentes em seus tecidos podem caracterizar os
processos de bioconcentração em um determinado ecossistema. Em
mamíferos, o Cd pode ser encontrado em altas concentrações nos rins e, em
casos de exposição excessiva, no fígado. Golfinhos analisados (LAILSON-
BRITO et al., 2000), oriundos da costa do Estado do Rio de Janeiro, não
apresentaram nada além do que não fosse reflexo dos seus hábitos
alimentares, não tendo relação com a contaminação ambiental. Inclusive os
golfinhos oceânicos apresentaram concentrações maiores de Cádmio do
que as espécies costeiras, caracterizando diferenças devidas a hábitos
Perna
perna Ostrea equestris
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 43
alimentares.
A avaliação da concentração de metais pesados (Cr, Cu, Fe, Mn e Zn) em
algas coletadas nas praias de Barra do Furado e Ponta do Retiro, na costa
norte do Rio de Janeiro, indicaram que tais locais podem ser considerados
naturais ou levemente poluídos, para as concentrações de cromo, cobre,
ferro, manganês e zinco (Ferreira, Machado e Zalmon, 2000). Nesse sentido,
trabalho realizado por Siqueira e Braga (2000), na plataforma continental do
Estado do Amapá, nordeste da Região Amazônica, avaliou a dinâmica e a
biodisponibilidade em metais pesados (Zn, Ni, Co e Pb) para a biota, a partir
de sedimentos do fundo. Os resultados indicaram a ausência de fonte
poluidora nesse ecossistema ou, mais propriamente, que as condições
naturais desse ecossistema estão ainda mantidas, não havendo até o
momento influência detectável de atividades humanas.
Concentrações de metais-traço foram determinadas em amostras de
água intersticial, sedimento, (gramínea),
(molusco) e (crustáceo),
no Manguezal do Itacorubi (SC). Todos os organismos apresentaram os mais
altos valores para cádmio e cobre e, secundariamente, para chumbo, como
menores valores para Mn, sugerindo que a biota desse manguezal possa
estar contaminada com esses e outros metais pesados (MASUTTI, PANITZ e
PEREIRA, 2000). Como se observa, parece que as contaminações ambientais
por metais pesados no Brasil estão abaixo dos níveis esperados, o que não
significa que não deva haver preocupação neste sentido, pois há situações
em que os níveis ultrapassam os limites aceitáveis ou permitidos.
O mercúrio é um elemento que pode sofrer bioacumulação (FOSTIER,
1998) e é o único metal que comprovadamente sofre bioamagnificação.
Avaliações relatadas pela autora dos teores de mercúrio em peixes do rio
Piracicaba são bastante preocupantes, pois lhe permitiram verificar uma
nítida acumulação de Hg ao longo da cadeia alimentar, devido às
concentrações mais elevadas nas espécies carnívoras.
Spartina alterniflora Loisel Mytella
guyanensis Lamark Chasmagnatus granulta Dana
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
44 |
Por outro lado, Santana’Anna Jr., Costa e Akagi (2000) determinaram o
possível risco de contaminação por mercúrio, no Canal de Santa Cruz
(Pernambuco), ao qual uma população costeira poderia estar exposta, através do
consumo de peixe, em função da presença de uma fábrica de cloro e soda, que,
conhecidamente, contaminava toda a área com os resíduos industriais. Os valores
para Hg, tanto na população (cabelo), quanto nos peixes ( ) foram
considerados dentro da média brasileira, o que demonstrou que o tratamento
realizado pela empresa, para controlar a contaminação, tem sido eficiente. Assim,
identificar possíveis fontes de contaminação ambiental é tão ou mais importante
do que a própria análise em si das condições ambientais, demonstrando que é
perfeitamente possível evitá-la, apenas definindo responsabilidades, pois existe
tecnologia disponível para controle de poluição.
Pouca importância parece que tem sido dada para as possíveis
conseqüências da aplicação de sulfato de cobre em mananciais de água destinada
ao consumo humano. Como a maior parte da população brasileira não é atendida
por esgotos cloacais e, quando isso acontece, poucos são tratados
adequadamente, temos o problema da eutrofização, que, segundo Caleffi (2000),
provoca alterações na estabilidade do ecossistema. Daí a necessidade de aplicação
de sulfato de cobre e outros produtos, para controlar a proliferação de algas, que
provocam um conhecido cheiro e sabor desagradável na água. O próprio autor
detectou, na represa de Guarapiranga (SP), condições nocivas à comunidade
zooplanctônica. Observe-se que a contaminação ambiental por fezes, além de ser
ainda a mais importante, pode desencadear outros processos, que podem levar
inclusive à biomagnificação de metais pesados.
A contaminação de alimentos por microorganismos causadores de doenças
infectocontagiosas e por produtos químicos tóxicos ao homem e outros animais é,
infelizmente, uma realidade crucial nos países periféricos. Centenas de milhares de
Mugil curema
3.6 A contaminação dos alimentos por agrotóxicos no Brasil
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 45
pessoas têm sido vítimas de infecções e intoxicações, que, se não levam à
morte, podem deixar seqüelas por toda a vida. Essa situação deveria ser
considerada como inaceitável pelos governantes dos países periféricos, já
que, no Primeiro Mundo, tais questões já foram ultrapassadas,
relativamente, há muito tempo. Se, por um lado, os países ricos utilizam os
artifícios mais variados para que os povos subdesenvolvidos continuem
consumindo insumos já ultrapassados ou mesmo proibidos naquelas nações,
por outro lado, o baixo nível de educação de países, como o Brasil, permite
que perdure essa situação verdadeiramente catastrófica em termos de saúde
e ambiente. Como governantes e políticos são extensões da sociedade
complexa, não é de se esperar que partam deles ações visando cessar este
verdadeiro genocídio que é o consumo de alimentos contaminados.
Ironicamente, poder-se-ia dizer que, no Brasil, há dois grupos de indivíduos:
os que correm o risco de sofrerem os efeitos da fome e os que correm o risco
de adquirirem graves problemas de saúde pelo consumo de alimentos
inadequados.
Algumas tentativas para minimizar o problema, como o
aprimoramento da legislação ambiental e do próprio Receituário
Agronômico, já foram feitas, sem grande impacto, a não ser por fazer
desnudar o verdadeiro caos que existe nessa área. Análises têm sido feitas
esporadicamente e todas só conseguiram mostrar parte desse grande
, que esconde uma situação que deveria envergonhar a todos,
principalmente aqueles que têm poder e conhecimento da situação. A partir
de 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tomou para si a
responsabilidade e, finalmente, começaram as análises periódicas, que, em
2003, incluíram o Rio Grande do Sul e, desde 2004, passaram a abranger todo
o Brasil.
De forma correta, a ANVISA publicou os dados de 2002 e 2003,
alertando para uma situação, considerada pela própria instituição como
“alarmante”. A mídia noticiou e comentou por todo o País esta situação
verdadeiramente preocupante, levando os brasileiros a debaterem o assunto
iceberg
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
46 |
em todas as esferas. Não houve nenhum pânico, mas a população começou a
olhar, e com razão, com muita desconfiança para os alimentos ofertados no
mercado, iniciando-se um processo de cobrança por soluções de nossas
autoridades. Surpreendentemente, em declarações na mídia, em maio de
2004, as autoridades da ANVISA afirmaram que houve uma grande melhoria
na qualidade dos alimentos no Brasil, pois as análises de amostras do
primeiro trimestre do mesmo ano demonstraram que 88% dos alimentos
eram próprios para o consumo humano, ou seja, que “apenas” 12% estavam
fora dos padrões exigidos por lei. Ora, não é preciso lembrar que esta
melhoria seria impossível de ocorrer da “noite para o dia” e ainda mais sem
que nada tenha sido feito para corrigir o problema. Por que a pressa em
noticiar as relativamente baixas contaminações no primeiro trimestre,
provavelmente resultantes de problemas climáticos (seca e excesso de
chuvas), quando os resultados somente têm sido publicados de um ano para
outro? Por que esta mudança radical de postura? Quem visitar o site da
ANVISA atualmente, tendo conhecido o conteúdo das informações
anteriores, observará que houve uma maior simplificação, de tal forma que
não mais permite, a quem o consulte, fazer uma análise mais profunda,
como antes era possível...
Infelizmente, o otimismo da ANVISA tinha explicação realmente nas
condições climáticas daquele ano, já que, nos anos posteriores, muito longe
de melhorar, a situação parece agravar-se em determinadas situações. E,
como se não bastasse, multiplicaram-se as denúncias não só do uso de
agrotóxicos em excesso, mas também da aplicação ilegal de produtos
químicos.
Segundo o (2004), a partir de dados obtidos de
laboratórios de instituições públicas de São Paulo e de pareceres de
profissionais especialistas na área, além dos altos índices de contaminação
de hortifrutigranjeiros (alface, repolho, vagem, melancia, melão e pêssego,
principalmente), há um problema muito sério, que é a utilização de produtos
proibidos e não registrados para as culturas, o que demanda uma fiscalização
SP Notícias
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 47
mais rigorosa e uma melhor orientação aos agricultores.
De 2004 em diante, inúmeras são as constatações de que, por
enquanto, praticamente nada tem sido feito para minimizar, no Brasil, os
riscos à saúde humana e ao ambiente do uso inadequado de agrotóxicos.
O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo e,
por falta de assistência técnica, os agricultores geralmente aplicam
agrotóxicos em excesso (AMBIENTEBRASIL, 2002). São os casos do tomate e
morango, aos quais são aplicados de 30 a 40 kg/ha de agrotóxicos por ciclo,
quando esta quantidade poderia ser bem menor sob assistência técnica. Com
isso, além dos consumidores, os próprios agricultores passam a ser vítimas,
pela exposição que sofrem aos produtos tóxicos. A (2002)
denunciou os altos índices de suicídios em municípios agrícolas do Rio
Grande do Sul, como sendo conseqüência do uso indevido de agrotóxicos. Em
2001, tais índices chegaram a 21 por 100 mil na região de Santa Cruz do Sul,
quando a média brasileira foi de quatro suicídios por 100 mil habitantes. Em
1996, o problema teve destaque especial no município de Venâncio Aires,
quando a taxa de suicídio chegou à incrível marca de 37,22 por 100 mil. O
Governo Federal está investigando o assunto, sem nenhuma conclusão até o
momento. Entretanto, por coincidência ou não, o problema dos altos índices
de suicídio no Brasil tem correspondido às regiões onde mais se aplicam
agrotóxicos. As intoxicações de agricultores por agrotóxicos têm feito em
torno de 300 mil vítimas por ano no Brasil (GAZETA MERCANTIL, 2001),
provocando a morte de 2 a 3 mil pessoas anualmente. A Universidade de São
Paulo (USP), de acordo com esta mesma fonte acima, aponta que, além do
descuido no uso dos agrotóxicos, em torno de 17% dos produtos comerciais
utilizados são classificados como extremamente tóxicos. Acrescenta ainda
3.7 Análises de resíduos de agrotóxicos nos alimentos
Revista Galileu
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
48 |
que a Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo considera o problema
muito sério, mas as dificuldades de pessoal impedem que haja uma efetiva
fiscalização e adequada assistência técnica. Se para os agricultores o
problema de intoxicação por uso indevido de agrotóxicos é muito grave, não
é menor para os consumidores, que estão ingerindo quantidades
inacreditáveis de resíduos tóxicos, acima do permitido por lei e do
recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
As análises da ANVISA (2004), iniciadas em 2002, demonstraram que
morango, tomate e batata foram campeões em contaminações, com 46, 26 e
22% de amostras, respectivamente, fora dos padrões sanitários exigidos por
lei. Os dados mostraram, de uma maneira geral, que 83% de
hortifrutigranjeiros tinham resíduos de agrotóxicos, que 22,17% estavam
com excesso desses produtos químicos e 34% dos alimentos industrializados
analisados apresentavam problemas de higiene. Preocupante é também o
fato de que, além de índices de contaminação acima do permitido em lei,
muitos produtos encontrados não são permitidos para uso na respectiva
cultura. Morangos estavam contaminados com endossulfam e tetradifom;
mamão com dicofol e metamidofós; alface com ditiocarbamatos e
clorotalonil.
O Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC, 2003), em 15 de janeiro de
2003, alertou que os resíduos de agrotóxicos em frutas e legumes oferecem
riscos à saúde, exigindo imediatas providências dos governantes. As análises
da ANVISA, entretanto, ainda estavam restritas a apenas nove produtos,
tendo como representantes das hortaliças folhosas apenas a alface, quando
o problema é bem mais abrangente, como é bem conhecido. O Governo do
Rio de Janeiro, por exemplo, constatou (AMBIENTEBRASIL, 2004) que salsa
(42%), agrião (29%), alface (18%), espinafre (13%), couve (11%), brócolis
(5%), morango (18%), uva (16%) e batata (27%) estavam significativamente
contaminadas com agrotóxicos acima do permitido em lei.
Apesar de poucos produtos sob análise, os dados da ANVISA, segundo
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 49
o gerente de toxicologia dessa empresa, Luiz Cláudio Meireles (FOLHA DE
SÃO PAULO, 2002) são “ ”. Os alimentos referidos são bastante
representativos, pois foram escolhidos entre nove primeiros da cesta básica
e, portanto, são os mais consumidos.
A Tabela 1, retirada do sítio da ANVISA, dá uma idéia do verdadeiro
descalabro que é a utilização de agrotóxicos no Brasil. Certamente, se isso
ocorresse em um país do Primeiro Mundo, a maioria desses produtos seria
interditado e destruído, os agricultores seriam indenizados e todo o sistema
seria contestado e reformulado.
– Resumo dos resultados dos alimentos analisados pela
ANVISA, nos anos de 2002 e 2003. Porcentagem de amostras com resíduos de
agrotóxicos não autorizados e/ou acima dos limites permitidos
Entretanto, a situação deve ser bem mais grave do que parece.
Infelizmente, a ANVISA, provavelmente por questões de ordem financeira,
deixou de incluir nas análises os metais pesados e organoclorados. Mesmo
proibidos no Brasil há vários anos, é sabido que os organoclorados ainda têm
possibilidade de entrar no país via contrabando e outros ilícitos.
Obrigatoriamente, nos dias de hoje, resíduos de DDT e BHC, por
exemplo, não poderiam ser significativos, a não ser que algo muito sério
esteja ocorrendo. É o que se pode imaginar, a partir dos dados coletados de
alarmantes
Tabela 1
Alimentos 2002 2003Alface 8,60 6,60
Banana 6,50 2,20
Batata 22,20 0,50
Cenoura 0,00 0,00
Laranja 1,40 2,00
Maçã 4,00 24,80
Mamão 19,50 11,90
Morango 46,00 72,80
Tomate 26,10 2,10
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
50 |
análises em produtos na SEASA, Paraná (SEASA-PR, 2001), de 1987 a 1992,
onde incrivelmente alimentos como batata, cenoura, maçã, melancia,
morango, pimentão, tomate e uva apresentaram significativas
contaminações com organoclorados, como se pode ver na Tabela 2.
– Contaminação por agrotóxicos de algumas frutas e
hortaliças, entre os anos de 1987 e 1992, no Estado do Paraná
Tabela 2
Culturas Nº deAmostras
c.r. s.r.
% c.r.
Agrotóxicos encontrados
Batata 193 23 170 11,9 BHC, Aldrin, Aldicarb, Diquat, Carbofuram, Forate, Lindane, Mercúrio,Paraquat
Cenoura 17 13 004 76,4 BHC, Al drin, DDT, Carbaril, Clorotalonil, Heptacloro
Maçã 100 10 090 10,0 BHC, Dicofol, Triclorfom, Metalaxil
Melancia 07 06 004 48,9 Carbossulfam
Morango 13 09 004 69,2 BHC, Dicofol, Tiofanato -metílico
Pimentão 06 04 002 66,7 BHC, Dicofol, Clorotalonil
Tomate 26 10 016 38,5 BHC, Aldicarb, Metalaxil, Metamidofós
Uva 99 37 062 37,4 BHC, Diazinom, Metalaxil, Oxiclo -cobre, Paratiom metílico, Pirazofós
Com resíduo= c. r.; sem resíduo= s.r.
Como se pode observar, a cenoura, que, na Tabela 1, aparece com grau
zero de contaminação, na Tabela 2 é a hortaliça mais contaminada (76,4%!).
Não seria porque a ANVISA não incluiu, nas suas análises, produtos que
ainda estariam sendo utilizados em cultivos de cenoura, inclusive proibidos e
que são aplicados ao solo para combater pragas?
De tudo isto, o que se alcançou até agora foi apenas uma melhor
ampliação das análises de resíduos de agrotóxicos em alimentos, mas nada
foi feito com relação a um maior rigor na fiscalização e a uma melhoria na
rede de assistência técnica aos produtores rurais, portanto, descobriu-se
que a situação é bem pior do que parecia.
O sítio Comciência (2006), com base em declarações de
pesquisadores de diversas universidades brasileiras, demonstra que, no
Brasil, há um completo descontrole com relação ao uso de agrotóxicos, no
que se refere à fiscalização e à assistência técnica. Pimenta (2006) reforça
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 51
essa condição e acrescenta que a tendência é piorar, pois além das
instituições públicas de fiscalização e assistência técnica contarem com
poucos funcionários, muitos desses em fim de carreira e em processo de
aposentadoria, os concursos públicos não têm sido suficientes nem mesmo
para suprir a saída desses trabalhadores.
Numa situação como esta, em que o máximo que se faz é detectar
problemas, mesmo assim com muita lentidão, não se poderia esperar outra
coisa, a não ser o agravamento dos riscos do uso inadequado de agrotóxicos.
As últimas análises da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
demonstram que o único fator que até agora tem contribuído para a
diminuição dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos ocorre quando as
condições climáticas são desfavoráveis ao aparecimento das pragas,
diminuindo, então, a necessidade de utilização de defensivos agrícolas.
Assim, se em 2007 houve uma redução nos índices de contaminação de
batata e maçã, comparativamente com anos anteriores, tomate, morango e
alface, por exemplo, apresentaram altos teores de agrotóxicos (acima de
40% das amostras!), inclusive não recomendados para as culturas referidas e
até mesmo de uso proibido pela legislação, como foi o caso do monocrotofós
(ANVISA, 2008; FOLHA DE SÃO PAULO, 2008; JORNAL O DIA, 2008).
Mas há ainda outra situação de uma gravidade ímpar. É a
contaminação do principal alimento, comum a todos os seres vivos do
Planeta Terra: a água. Segundo diversos autores (COMCIÊNCIA, 2006), o
escoamento superficial através da água das chuvas e a lixiviação (transporte
vertical) dos agrotóxicos em direção ao lençol freático fazem com que os
produtos químicos sejam, provavelmente, a segunda maior causa de
contaminação da água no Brasil, perdendo apenas para o despejo de esgoto
doméstico. No mínimo, os agrotóxicos disputam este segundo lugar com a
poluição da água pelas indústrias.
Apesar da gravidade da situação, pelo total descontrole do uso de
agrotóxicos no Brasil e até mesmo pela utilização incompreensível de
produtos já proibidos no Primeiro Mundo, a ANVISA recentemente foi
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
52 |
barrada pela justiça brasileira, no intento de fazer uma reavaliação dos
defensivos agrícolas utilizados no país, já que as circunstâncias são outras e
novas tecnologias mais eficientes estão disponíveis para estudos mais
aprofundados.
Enquanto a Justiça proíbe a ANVISA de fazer a reavaliação toxicológica
dos agrotóxicos, o Brasil já importou, até julho de 2008, mais de 6.000
toneladas de substâncias que foram vetadas pelos próprios países que a
produzem (FOLHA DE SÃO PAULO, 2008b). Não é bastante estranha tal
decisão judicial que se choca contra os interesses de toda a população
brasileira?
Todos os dados e argumentos apresentados acima são utilizados pelos
adeptos da agricultura orgânica, como base de fundamentação para a defesa
da tese de que a solução estaria na substituição da agricultura convencional
ou intensiva pela primeira. O argumento central é que a agricultura orgânica
não oferece riscos e não são utilizados agrotóxicos.
No Terceiro Mundo, o mais comum tem sido não a solução verdadeira
dos problemas mais cruciais, mas a substituição de um determinado
problema por outro, adiando sempre a solução. Os argumentos dos adeptos
da agricultura orgânica partem de bases completamente equivocadas, que
levariam à troca de problemas por outros, uns até mais graves do que os
vividos atualmente: os agrotóxicos contendo metais pesados da agricultura
orgânica e as contaminações por microorganismos.
A solução não é substituir um problema por outro. A busca de uma
solução deve começar pela aceitação da realidade demonstrada
cientificamente de que ambas as propostas (agricultura convencional,
orgânica e agroecológica atual) apresentam problemas; esta é que é a
verdade! A partir da aceitação dessa realidade será possível construir um
sistema que possa realmente minimizar os riscos e maximizar os benefícios
das tecnologias disponíveis.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 53
4 OS AGROTÓXICOS DA CHAMADA AGRICULTURA
CONVENCIONAL OU INTENSIVA
Os agrotóxicos, de uma maneira geral (inseticidas, acaricidas,
herbicidas, fungicidas, nematicidas e outros), são classificados segundo seu
poder tóxico. Essa classificação é fundamental para o conhecimento da
toxicidade de um produto, do ponto de vista de seus efeitos agudos. No
Brasil, a classificação toxicológica está a cargo do Ministério da Saúde.
A Tabela 3 relaciona as classes toxicológicas com a "Dose Letal " (DL ),
agudo oral, comparando-as com a quantidade que pode matar uma pessoa
adulta (ROSA, 1996; AGROL, 2001; CENTRO DE SAÚDE AMBIENTAL, 2001) .
– Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo DL50
para ratos
50 50
Tabela 3
* Dose letal oral média capaz de matar 50% da população em estudo,em 24 horas. É dada em mg/kg/peso vivo.
Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo DL50 para ratos*
GRUPOS DL 50 Dose capaz de matar uma pessoa adulta
Extremamente tóxicos < 5mg/Kg Algumas gotas
Altamente tóxicos 5-50 1 colher de chá
Medianamente tóxicos 50-500 Até 2 colheres de sopa
Pouco tóxicos 500 5000 Até 2 copos
Praticamente atóxicos 5000 ou >= Até 1 litro
Classes toxicológicas dos agrotóxicos e identificação pelo rótulo
Extremamente tóxicos Classe I Faixa Vermelha
Altamente tóxicos Classe II Faixa Amarela
Medianamente tóxicos Classe III Faixa Azul
Pouco tóxicos Classe IV Faixa Verde
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
54 |
Há, portanto, outras formas de classificar os agrotóxicos, entre elas:
finalidade, modo de ação, persistência, deslocamento, duração do efeito do
tratamento, toxicidade, origem e grupo químico.
Em uma visão holística, o termo inseticida é uma palavra composta
do latin: = inseto + = matar significando, portanto, matar
inseto(s).
Segundo a finalidade, os inseticidas podem ser: ovicidas, adulticidas,
aficidas, baraticidas, cupinicidas, gafanhoticidas, larvicidas, lagarticidas,
mosquicidas, bernicidas, formicidas, sauvicidas, piolhicidas, pulguicidas,
flebotomicidas e triatomicidas (MARICONI, 1981). Conforme a maneira de
agir sobre os insetos, os inseticidas podem ser de: ingestão (arseniacais,
fluorados, orgânicos sintéticos, outros), contato (origem vegetal, orgânico-
sintéticos, óleos e inorgânicos), microbianos ou biológicos (formulações com
microorganismos), de efeitos fisiológicos, de efeitos hormonais
(feromônios), fumigantes, repelentes e atraentes (MARICONI, 1981; GALLO
et al., 1988; SALAZAR, 1997). Os inseticidas ainda podem ser classificados de
acordo com as substâncias químicas que os compõem (GALLO et al., 1988;
SALAZAR, 1997).
Os têm sido utilizados desde há muito tempo
pela humanidade. O controle de insetos, até por volta de 1850, no início da
Revolução Industrial, era feito por métodos manuais (catação, lavagem, fogo
e outros) e, em menor grau, pelos poucos produtos químicos disponíveis,
como o enxofre (desde 1000 a.C.), o arsênico (desde 900 d.C.) e, mais tarde,
os arseniatos, os fluorados, ácido bórico, compostos de antimônio, bário,
chumbo, cádmio, mercúrio e tálio (BLAS, 1951; MARICONI, 1981; GALLO et
al., 1988). A grande maioria são inseticidas estomacais, atuando, portanto,
por ingestão. Os mecanismos de ação são os mais variados, desde causando
4.1 Inseticidas
compostos inorgânicos
insectum caedere
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 55
perturbações digestivas até mesmo ação tóxica sobre diversos órgãos,
inclusive sobre o sistema nervoso dos insetos. São igualmente tóxicos para
maioria dos animais, inclusive o homem.
Dentre os , os primeiros a serem utilizados foram
os óleos vegetais, animais e minerais, que controlam alguns grupos de insetos
e, principalmente, ácaros (MARICONI, 1981). Devido a maior estabilidade e
menor preço, os óleos minerais, obtidos do petróleo, são quase que
exclusivamente os utilizados na agricultura. São compostos de
hidrocarbonetos saturados e insaturados (etilênicos e aromáticos), que,
transformados em emulsão ou em óleos miscíveis (GALLO et al., 1988),
podem matar insetos e ácaros por asfixia (MARICONI, 1981) e são ótimos
coadjuvantes de outros inseticidas. Devem ser empregados com muito
cuidado, devido às suas características fitotóxicas. Pela sua baixa tensão
superficial, apresentam alto grau de assimilação, além de poder apresentar
também absorção cuticular ou através de células parenquimatosas, indo se
localizar no floema e no xilema (SALAZAR, 1997), interferindo na transpiração
e produção de amido. Isso resulta numa redução do crescimento dos tecidos
especializados e responsáveis pelo desenvolvimento vegetal.
Os são compostos à base de carbono, com radicais de
cloro (AGROL, 2001), derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do
ciclodieno.
Os inseticidas organoclorados (Aldrim, Endrim, BHC, DDT, Heptacloro,
Lindane, duodecacloro, Toxafeno, principalmente) foram extremamente
úteis na agricultura e extensamente utilizados em todo o mundo. Constituem
o grupo pioneiro dos praguicidas sintéticos, normalmente não mais
utilizados.
Poder-se-ia imaginar que contaminação por compostos
organoclorados é coisa do passado. Entretanto, com o crescimento das
indústrias e a utilização desses compostos, tanto na produção direta, quanto
na reciclagem de materiais, urge que os trabalhos de análises de áreas
compostos orgânicos
organoclorados
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
56 |
suspeitas e efeitos no ambiente e seres vivos sejam intensificados, pois talvez
esteja aqui o problema mais crucial com os organoclorados atualmente,
desbancando o uso na agricultura para um plano bem inferior.
Os apresentam, em tese, menor efeito residual
e menor persistência do que os clorados, mas geralmente são mais tóxicos.
Entretanto, além de serem mais vantajosos em termos de preservação
ambiental, é possível encontrar compostos eficientes e de baixa toxicidade.
O Malatiom, por exemplo, apresenta um DL50 oral de 2.100 mg/kg
(SALAZAR, 1997) e período de carência (tempo após a aplicação que se deve
esperar para colher a cultura) em torno de 10 dias, dependendo da espécie
vegetal. Esse produto tem sido largamente utilizado em horticultura,
tratamento de grãos armazenados e mesmo em outros cultivos.
Adequadamente utilizado, portanto, pode ser bastante seguro em termos de
ambiente e saúde.
De uma maneira geral, os fosforados provocam intoxicações agudas,
inibindo a enzima acetilcolinesterase de maneira irreversível. A
acetilcolinesterase degrada e controla os níveis de acetilcolina no organismo,
e o excesso dela é letal não só para os insetos, mas também para todos os
mamíferos, inclusive o homem.
Os tiveram, inicialmente, pouca
importância, mas a partir da década de 1980 entraram em ascensão
(MARICONI, 1981), devido ao seu amplo campo de ação, período residual
médio, toxicidade menor do que os fosforados e ação semelhante. Como os
fosforados, o modo de ação é por inibição da aceticolinesterase (enzima das
junções neuro-musculares e do sistema nervoso), resultando na paralisação
do sistema nervoso central, e, diferentemente dos clorados, possuem ação
de profundidade. Os clorofosforados em geral não têm ação sistêmica. Uma
das raras exceções é o fosfamidom.
Os agem de maneira similar aos fosforados, inibindo a
acetilcolinesterase, de forma mais violenta, mas num processo de curta
inseticidas fosforados
inseticidas clorofosforados
carbamatos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 57
duração. A maioria apresenta biodegradação rápida (SALAZAR, 1997), sendo,
portanto, mais recomendáveis do que os fosforados, sob o ponto de vista
ambiental. Entretanto devem ser utilizados com extrema cautela e por
profissionais, em razão da alta toxicidade de vários compostos desse grupo.
Um dos grupos de inseticidas mais importantes surgidos nas últimas
décadas é o dos . As propriedades inseticidas da piretrina,
substância encontrada naturalmente em flores de piretro e vários outros
extratos vegetais, já eram reconhecidas há mais de dois séculos (SODERLUND
e BLOOMQUIST, 1989). A partir de 1940, diversos análogos sintéticos da
piretrina têm sido lançados no mercado.
Esse grupo de inseticidas mostra eficiência significativa no controle de
pragas de diversas culturas, substituindo plenamente e com vantagem o
grupo botânico do piretro, com igual ação de choque, mas com muito mais
fotoestabilidade (SALAZAR, 1997). Os produtos sintéticos foram
desenvolvidos a partir da estrutura química do piretro. Os primeiros
piretróides (aletrina, bioaletrina, resmetrina, biorresmetrina e cismerina) se
mostraram muito fotoinstáveis; já os de segunda geração (permetrina,
decametrina e cipermetrina e fenvalerato) se mostraram fotoestáveis, de
amplo espectro e menos tóxicos que a maioria dos agrotóxicos da segunda
geração em uso agrícola.
Os inseticidas piretróides agem principalmente por ingestão e contato,
tendo, muitas vezes, ação inseticida e acaricida (GALLO et al., 1988) e ação de
choque significativa pela inibição imediata do sistema nervoso (YAMAMOTO,
1970; BEEMAN, 1982; SODERLUND e BLOOMQUIST, 1989; SALAZAR, 1997) e
pela atuação sobre os feixes neuromusculares, anulando a transmissão dos
estímulos. Isso se dá pela ação em sítios específicos nos canais de potássio e
sódio das células nervosas (BEEMAN, 1982). O contra-transporte de Na+ e K+
é energizado por ATP, desequilíbrio este mantido pela ATPase Na+ K+, que
acopla a quebra de ATP com a movimentação simultânea de cátions de sódio
e potássio contra seus gradientes de concentração (LEHNINGER, NELSON e
piretróides
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
58 |
COX, 1995); para cada ATP convertida em ADP e fósforo inorgânico, este
transportador move dois K+ para dentro e três Na+ para fora da célula,
através da membrana plasmática. Evidentemente que qualquer alteração no
potencial elétrico, que exerce papel central na sinalização elétrica nos
neurônios, causa sérios distúrbios no organismo. Em adição, o gradiente de
sódio é usado para impulsionar vários solutos contra o gradiente numa
variedade de tipos celulares e, portanto, a interferência no funcionamento
da bomba de sódio e potássio pode interferir em diversas reações
importantes do metabolismo do inseto. No caso de intoxicações em
humanos, o mecanismo de ação dos piretróides é idêntico. Alguns
piretróides ainda podem ter, segundo os fabricantes, ação de profundidade.
Os mais modernos podem ter inclusive ação fumigante (CASIDA e QUISTAD,
1998).
Os piretróides agem, portanto, da maneira mais diversa nos
organismos. São encontrados produtos desde muito tóxicos até
praticamente atóxicos, sendo muito favoráveis sob o ponto de vista
ambiental. Até o momento, os trabalhos de pesquisa não conseguiram
identificar nenhum efeito mutagênico, teratogênico ou cancerígeno desses
inseticidas (SALAZAR, 1997). Entretanto já existem alguns produtos no
mercado com efeito residual mais prolongado, devido à inclusão de cloro na
molécula do piretróide. Mesmo assim, a grande variedade de produtos
permite escolher inseticidas que preenchem grande parte das exigências
atuais da sociedade.
Dentre as vantagens mais importantes dos piretróides de última
geração, pode-se enumerar (CASIDA e QUISTAD, 1998): fotoestabilidade sem
comprometer a biodegradabilidade, toxicidade seletiva por especificidade a
sítios-alvo e por degradação metabólica (menor toxicidade de do que
-ciclopropanocarboxilatos), manutenção de alto potencial inseticida com
baixa toxicidade aos peixes, desenvolvimento de produtos efetivos como
fumigantes e para incorporação ao solo e otimização do potencial para
permitir redução correspondente na contaminação ambiental. Infelizmente,
trans
cis
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 59
já foram observados diversos casos de resistência aos piretróides e o
aparecimento da resistência múltipla, facilitada pelo uso alternado com
carbamatos.
Muitos inseticidas domésticos (porém os mais caros) são compostos
atualmente de misturas de piretróides. Alguns são muito pouco tóxicos,
como a tetrametrina, ou pouco tóxicos, como a permetrina, mas o acréscimo
na mistura de piretróides mais tóxicos para aumentar a eficiência torna esses
produtos ainda perigosos, apesar do grande avanço em relação aos produtos
mais antigos.
Apesar de não serem geralmente tão tóxicos como os inseticidas, os
ganham cada vez mais importância quando se trata de questões
relativas à contaminação ambiental, devido ao seu crescente uso em áreas
cada vez maiores. Por serem aplicados, em muitos casos, no solo, no
tratamento de sementes, principalmente, há possibilidade de contaminação
das águas superficiais e subterrâneas (MELO, 1998a).
Um exemplo da importância do uso crescente de fungicidas foram os
problemas enfrentados pelo Brasil na comercialização da soja em 2004,
quando foi detectada contaminação de grãos de soja por sementes tratadas
em diversas remessas para a China. Mesmo dentro dos limites aceitos
internacionalmente pela maioria dos países, uma situação como essa pode
ser utilizada como manobra comercial para desvalorizar o produto. Outro
aspecto que está tomando importância é o enorme volume de fungicidas que
estão sendo utilizados na cultura da soja, para controlar moléstias da parte
aérea, como, por exemplo, a ferrugem asiática. São milhões de quilogramas
de fungicidas, acrescidos aos inseticidas que já têm sido utilizados nessa
cultura. Mas isso é apenas a ponta do iceberg do que está por chegar. O Brasil,
próximo de se tornar um dos maiores exportadores de alimentos do mundo,
deverá enfrentar problemas extremamente graves quando tiver que se
deparar com a concorrência internacional. Se os produtos brasileiros para
consumo interno, como será demonstrado mais adiante, não apresentam
condições satisfatórias, o País será um alvo muito fácil por parte dos demais
fungicidas
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
60 |
concorrentes, a não ser que se resolva urgentemente multiplicar os recursos
para a pesquisa, assistência técnica e fiscalização.
Os herbicidas têm tido uma utilização crescente na agricultura,
particularmente nas duas últimas décadas. Substituindo a mão-de-obra na
capina, constituem-se em instrumentos importantes na revolução da
agricultura e na diminuição da proporção da população rural, relativamente
à população urbana. Os inseticidas, apesar de geralmente serem mais
tóxicos e mais agressivos ao meio ambiente, apresentam perspectivas mais
próximas de inovações ou mesmo de substituição por novas alternativas,
com o avanço no conhecimento e aplicação do controle biológico e da
engenharia genética. Se a biotecnologia aponta imediatamente para a
resistência genética a pragas, como alternativa ao uso de inseticidas e
fungicidas, no caso dos herbicidas, a proposta mais imediata é a resistência a
herbicidas, postergando mais a substituição destes pelo controle biológico e
pela transferência de genes herbicidas, com o avanço dos estudos em
alelopatia. Assim, a convivência com os herbicidas ditos convencionais
deverá ser por mais tempo, o que torna o estudo do comportamento dos
herbicidas no ambiente cada vez mais importante. Espera-se, entretanto,
que a tecnologia da resistência a herbicidas facilite a utilização na agricultura
de produtos cada vez menos tóxicos e menos agressivos ao ambiente, como
é o caso atual do glifosato e glifosinato de amônio.
O uso intensivo de herbicidas é mais concentrado na América do
Norte, na Europa ocidental, no Japão e na Austrália (WARE, 2002). Sem o uso
dos herbicidas seria impossível mecanizar inteiramente a produção de
algodão, de soja, de beterraba açucareira, dos grãos em geral, de batatinha e
tantos outros cultivos. Os herbicidas são usados também extensivamente
em algumas áreas, tais como: locais industriais, estradas, canais da irrigação,
áreas de recreação eleitos de estradas de ferro.
4.2 Herbicidas: natureza química e mecanismos de ação
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 61
Os herbicidas são classificados como seletivos (usados para matar
ervas sem prejudicar a cultura) e não-seletivos (usados para matar toda a
vegetação). A seletividade pode depender da dose, do momento apropriado
e da localização do herbicida a ser aplicado. Entretanto há os esquemas
múltiplos da classificação que podem ser baseados na seletividade, no
contato ou translocação na planta, no sincronismo, na área coberta e na
classificação química (WARE, 2002). Os mecanismos de ação dos herbicidas
nas plantas podem ser também indícios do grau de toxicidade para os outros
seres vivos e agressividade ao ambiente. Por exemplo, um inibidor da síntese
de lipídios ou de aminoácidos na planta, provavelmente, terá efeitos
similares na fauna e flora do solo.
Oliveira Jr. (2001) define mecanismo de ação de um herbicida como o
primeiro de uma série de eventos metabólicos, que resultam na expressão
final do herbicida sobre a planta, diferentemente do modo de ação, que
corresponde ao conjunto dessas reações metabólicas, incluindo os sintomas
visíveis da ação do produto sobre a planta.
O referido autor, com base no mecanismo de ação, classifica os
herbicidas em sete grupos considerados principais, a saber: mimetizadores
de auxina, inibidores da fotossíntese, inibidores da divisão celular, inibidores
da PROTOX, inibidores da síntese de carotenóides, inibidores da síntese de
lipídios e inibidores da síntese de aminoácidos.
4.2.1 Comportamento dos herbicidas no solo
Em função do crescente uso de herbicidas na agricultura, o estudo do
comportamento destes começa a ganhar extrema importância em termos de
contaminação ambiental. Se, por um lado, os inseticidas estão sofrendo uma
verdadeira revolução, com o lançamento de produtos cada vez mais
seletivos, menos tóxicos e menos agressivos ao ambiente, relativamente
pouco se tem feito em relação aos herbicidas. Acrescente-se que já há uma
perspectiva concreta e próxima de substituição do uso de inseticidas e
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
62 |
fungicidas pela resistência genética a pragas, via engenharia genética,
enquanto em relação ao controle de inços a realidade atual é a resistência
genética a herbicidas, impondo ainda o uso do herbicida correspondente,
mas com a vantagem de se poder utilizar produtos mais aceitáveis
ecologicamente. A perspectiva de a engenharia genética desenvolver
plantas que produzam seus próprios herbicidas, com base nos mecanismos
de alelopatia, é uma possibilidade a longo prazo, o que, portanto, reforça a
idéia da necessidade de intensificar estudos sobre o comportamento dos
herbicidas.
A primeira preocupação com o comportamento de um herbicida é
conhecer suas características principais, tais como fitotoxicidade,
seletividade, toxicidade, aplicabilidade e economicidade. Entretanto, uma
das mais importantes características num herbicida é a sua capacidade de
dispersão (HERTWIG, 1983) no solo, ou seja, o ingrediente ativo deve
permanecer no solo o tempo suficiente para controlar as ervas daninhas e
não apresentar resíduos que possam prejudicar o próximo cultivo, além de
não deixar o ambiente contaminado. Aplicado de forma adequada (doses
agrícolas), a maioria dos herbicidas sofre decomposição rapidamente,
resultando em efeito residual relativamente curto,,dependendo do produto
e de sua finalidade.
Evidentemente que, com o desenvolvimento de novas fórmulas pelas
indústrias, as opções atualmente para a escolha de produtos mais
adequados às novas exigências do mercado são bem maiores, dependendo
mais da consciência ambiental dos profissionais envolvidos e das
autoridades governamentais do que da disponibilidade de herbicidas no
mercado.
De acordo com Hertwig (1983), os fatores que podem afetar a
persistência dos herbicidas orgânicos no solo são: a) Volatilização –
tendência de certos herbicidas de se evaporaram e se perderem na
atmosfera como gases voláteis; b) Fotodecomposição – principalmente
amidas, anilidas, carbamatos, ditiocarbamatos, tiocarbamatos, fenóis,
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 63
fenilésteres, aminas e compostos heterocíclicos sofrem decomposição pela
luz solar no meio ambiente; c) Decomposição química – oxidação, redução,
hidrólise e hidratação são processos que atuam na ativação ou degradação
química dos herbicidas nos solo; d) Decomposição microbiana – a maioria
dos herbicidas, por serem compostos orgânicos, são atacados no solo por
microorganismos (algas, actinomicetos, bactérias e fungos); e) Lixiviação –
carreamento para baixo, que pode significar a dissipação do herbicida; f)
Evapotranspiração – característica de regiões mais áridas, o movimento da
água é de baixo para cima, dificultando a penetração no solo; g) Adsorção
coloidal – o complexo coloidal do solo tem alta capacidade de adsorção e de
intercâmbio, tanto de ânions, como de cátions. Solos com alto teor de
matéria orgânica retêm por mais tempo moléculas de herbicida,
influenciando na ação e na própria persistência e efeito residual e absorção
pelas plantas; o herbicida pode penetrar pelas folhas ou pelas raízes.
Naturalmente que não se pretende abordar, de forma minuciosa,
todas essas questões, optando-se por pontuar alguns aspectos tidos como
mais importantes em termos de poluição do solo. No entanto, uma das
características mais importantes que afetam o comportamento dos
herbicidas no solo é a decomposição microbiana.
Os agrotóxicos, de uma maneira geral, podem acumular-se nos
vegetais, nos animais ou nos microorganismos, afetando inclusive até as
associações entre eles, como é o caso das simbioses na fixação biológica de
nitrogênio. Entretanto a maioria dos agrotóxicos modernos é à base de
compostos orgânicos sintéticos, sendo quase todos degradados pelos
microorganismos do solo (MACHADO NETO, 1991), que se constituem num
nível trófico importante na reciclagem dos compostos orgânicos e nutrientes
de plantas. São os decompositores na cadeia biológica.
A decomposição de um herbicida no solo deve-se, em sua maior parte,
à ação dos microorganismos e aumenta com a umidade, a temperatura, o
conteúdo de matéria orgânica e outros fatores favoráveis à ação microbiana
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
64 |
(SAAD, 1981). Dessa forma, a matéria orgânica é decisiva na decomposição
dos produtos que chegam ao solo, pois a quantidade e a diversidade de
microorganismos são diretamente proporcionais aos teores de matéria
orgânica no solo. Assim, o aproveitamento de todos os restos de culturas,
excrementos, bem como práticas como adubação verde, rotação de culturas
e outras podem ser fundamentais na degradação mais rápida dos herbicidas
e outros agrotóxicos, conservando o solo e impedindo que os resíduos
tóxicos escapem para o ar atmosférico e águas.
A questão levantada por Machado Neto (1991), quanto à interferência
negativa dos herbicidas, na nitrificação no solo, ou seja, na oxidação do
sulfato de amônio a nitrato, é demonstrada por diversos trabalhos no mundo
inteiro. Alguns herbicidas, como a clortiamida e a propanila, apresentam
maior toxidez aos microorganismos nitrificantes, em doses baixas, enquanto
outros, como o endotal, chegam até a estimular a nitrificação, atuando
positivamente sobre os microorganismos. Mas em concentrações bem
acima das doses agrícolas, poucos são os herbicidas que não inibem a
nitrificação.
Mais uma vez deve ser levantada a questão da importância da matéria
orgânica no solo, agindo como tampão (estabilizando a acidez), quando em
teores satisfatórios. Se a matéria orgânica for abundante e as práticas
agrícolas forem adequadas, haverá uma quantidade suficiente de
microorganismos, de forma que os excessos de agrotóxicos, que porventura
chegarem ao solo, serão mais rapidamente degradados, não chegando, com
certeza, a causar danos significativos pela interferência negativa no processo
de nitrificação.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 65
5 O DIREITO A INFORMAÇÃO SEM RESTRIÇÕES COMO
FUNDAMENTAÇÃO PRINCIPAL NA BUSCA DE SOLUÇÕES
Segundo o procurador da ANVISA, Helio Pereira Dias, a saúde é um direito
fundamental do cidadão, gerando, para ele e para a coletividade onde vive,
obrigações e deveres de participação (ANVISA, 2004). A constituição da
Organização Mundial da Saúde (WHO) diz que um dos direitos fundamentais de
todo o homem é gozar do grau máximo de saúde. A Resolução 23.41 acrescenta
ainda que, sem restrições, o direito à saúde é um direito fundamental do homem.
Assim sendo, a informação é um direito da população, sem restrições sobre
aspectos que dizem respeito à saúde, e é um dever de todo cidadão repassar à
população, por todos os meios disponíveis, as informações de que disponha ou que
tenha acesso.
A responsabilidade recai ainda com mais força sobre as autoridades
democraticamente constituídas, pois nelas a sociedade deposita a confiança de
que estará sempre recebendo informações sem restrições, para que possa decidir
seu rumo conscientemente, para que só assim possa exercer verdadeiramente a
cidadania. Não existe o pleno exercício da cidadania sem a informação sem
restrições. Somente bem informado é que qualquer cidadão está apto a exercer a
cidadania plena. As restrições à informação, que sempre foram comuns no Brasil,
são resultados de duas principais correntes políticas que têm comandado o País: o
autoritarismo explícito e o implícito. De um lado estão as ditaduras disfarçadas ou
não e, de outro, o populismo com seu paternalismo igualmente autoritário.
Na extinta União Soviética, porque a descoberta do gene (na forma em que
foi conceituado) estava em desacordo com os fundamentos do materialismo
dialético, o stalinismo resolveu decretar a genética como a “pseudociência da
burguesia”. Negou-se o fenômeno, claramente demonstrado matematicamente,
quando o que se poderia e deveria fazer era contestar a explicação científica da
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
66 |
causa do fenômeno. E se isso fosse feito, estariam dando um salto mais além,
demonstrando que o gene não era uma partícula qualquer, responsável pela
hereditariedade, mas um conjunto de elementos, que, hoje se sabe, chega a
ter centenas de milhares de bases. Tomando a ideologia como o
fundamento, estarão sempre cometendo erros cruciais. Teriam negado a
existência do átomo somente porque na sua primeira concepção era, como o
próprio termo diz, uma partícula indivisível. Negaram o gene e, por
conseqüência, a própria genética. Fecharam todas as instituições e
departamentos de genética por conta do dogmatismo e sectarismo. Foram
punidos severamente os adeptos de Mendel, Morgan e outros. O resultado
de tudo isso foi que, até hoje, os países que compunham a antiga URSS
pagam muito caro pelo atraso gerado nas ciências biológicas e que ainda vai
perdurar por longos anos. Por trás de tudo isso estava a restrição da
liberdade de informar e de informar-se.
Outro exemplo do quão devastador é colocar a ideologia na frente da
ciência e do direito à informação foi o caso do acidente nuclear de Chernobyl.
A prioridade à ideologia minimizou as informações sobre os problemas de
segurança da usina nuclear. Quando houve a explosão, o resto do mundo
soube logo do que estava ocorrendo, quando os soviéticos, principalmente
os mais próximos do acidente, deveriam ser os primeiros. Haveria pânico?
Claro que sim, pois os soviéticos não estavam acostumados sem restrições à
informação...
Pior do que restringir a informação é o falseamento da verdade, como
os governos Bush e Tony Blair fizeram em 2003. A partir de dados falsos sobre
a existência de armas de destruição em massa no Iraque, esses governos
conseguiram a aprovação popular, em seus respectivos países, para a invasão
e dominação daquele país árabe. Por aí se vê que se a informação correta é
fundamental para a construção de uma base sólida na solução de problemas,
a desinformação é catastrófica. Fosse o mundo informado corretamente, o
ataque ao Iraque certamente não teria ocorrido, tamanho é o poder
verdadeiramente revolucionário do direito à informação correta, ampla e
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 67
irrestrita.
A campanha contra a biotecnologia que se faz atualmente no Brasil é o
exemplo mais próximo e elucidativo. Consciente ou inconscientemente, o
esquerdismo acaba atendendo exclusivamente aos interesses do Primeiro
Mundo na chamada política do Tecnológico, cujo objetivo
principal é manter os países do Terceiro Mundo longe do desenvolvimento de
tecnologias estratégicas. Por trás da Campanha por um Brasil Livre dos
Transgênicos, patrocinada por ONGs internacionais, ligadas aos governos dos
países ricos, além do sucateamento da pesquisa nacional está, como um dos
objetivos principais, a internacionalização da Amazônia. Por esta razão há
necessidade de fazer com que o Brasil não desenvolva sua pesquisa em
biotecnologia e, com isso, não haja interesse em pesquisar genes na região
de maior diversidade biológica do Planeta, abrindo espaço para que os países
desenvolvidos patenteiem substâncias bioativas da fauna e flora brasileiras,
mantendo, assim, a dependência. Como principal metodologia
antibiotecnologia, tem sido usada a desinformação. Têm sido colocados na
mídia, de todas as formas, absurdos dos mais incríveis e surrealistas, como
meio de fazer com que a população pressione nossas autoridades e políticos,
para alcançarem seus objetivos escusos. Assim, quando não restringem a
informação à população, utilizam, como metodologia, a desinformação,
dentro do princípio de que os “fins justificam os meios”. Por este prisma, é
permitido utilizar meios ilícitos para chegar a fins nobres. Entretanto a
experiência tem demonstrado que a mentira é um frágil alicerce para
qualquer construção, tanto que, desnudados os acontecimentos pela
história, o que se tem visto até hoje é que não só os meios têm sido ilícitos,
como também os fins nada têm tido de nobres...
A mudança de postura das autoridades e da própria ANVISA em 2004,
tentando minimizar o problema, atestando de forma otimista que os
alimentos no Brasil estão mais adequados para o consumo, como se o
problema pudesse ser resolvido em um passe de mágica, é um verdadeiro
desserviço para com o País. A desinformação é extremamente danosa para
Apartheid
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
68 |
os interesses nacionais e fere o direito à informação sobre saúde, um direito
fundamental do homem. A população tem o direito de saber que houve um
menor consumo de agrotóxicos no Brasil nos primeiros meses
provavelmente em razão da seca no Sul, acompanhada de excesso de calor e
baixa umidade relativa do ar, diminuindo o ataque de pragas; e às
dificuldades de aplicação de agrotóxicos noutras regiões, devido ao excesso
de chuvas, acompanhado de um menor aproveitamento dos produtos
químicos, diminuindo o período residual e o próprio período de carência dos
defensivos. Despreocupada, a população vai dormir mais tranqüila, mas vai
continuar consumindo um dos piores alimentos do mundo e pagando
impostos recordes sobre os mesmos. A solução é então adiada mais uma vez.
Não há outro caminho para se pensar em qualquer mudança que não
seja com a participação efetiva da população, sem restrição da informação.
Bem informada, a população saberá melhor traçar seu próprio destino,
exigindo de seus representantes a abordagem verdadeira e direta dos
problemas, sem tentar apenas contorná-los.
Como alguém que adquire um produto com defeito e vai reclamar no
Procon, a população tem o direito de exigir alimentos saudáveis à sua
disposição no mercado. Só que não há um “PROCON da Saúde” e quando se
levanta o assunto é o mesmo que mexer em abelheira...
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, no Brasil,
21,7% dos preços dos alimentos corresponde a tributos, o que se constitui
num . E para que se exerça o direito a uma alimentação
saudável, há necessidade de se exercer o direito à informação sem
restrições. De acordo com a constituição da OMS, a saúde é um direito
fundamental do homem.
recorde mundial
Quem cercear o direito à informação estará
cerceando o direito à saúde.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 69
6 AS NOVAS PROPOSTAS DA AGRICULTURA MODERNA
O desenvolvimento de resistência aos agrotóxicos por parte das pragas
tem sido fator importante no lançamento de novos produtos mais
adequados ecologicamente. Entretanto a pressão por parte das
comunidades, exigindo das autoridades, das indústrias e das instituições de
pesquisa alimentos mais saudáveis e produzidos com o mínimo de risco de
contaminação ambiental tem sido o principal elemento de convencimento
para os avanços que estão ocorrendo.
Infelizmente, no Terceiro Mundo, historicamente se tem utilizado por
vários anos produtos em desuso ou até mesmo proibidos no Primeiro
Mundo, pela “necessidade” que as indústrias têm de desovarem seus
estoques. Uma das formas de realizar esta “tarefa” é baixar os preços dos
agrotóxicos em processo de abandono e estabelecer preços quase
proibitivos para os novos lançamentos. Com isso, enquanto nos países ricos
as populações podem adquirir produtos saudáveis, onde são utilizados
defensivos agrícolas modernos, eficientes e mais adequados ecologicamente
e com controle rigoroso, nos países pobres, são consumidos alimentos
contaminados com agrotóxicos extremamente perigosos e, principalmente,
sem controle adequado, pela deficiência em assistência técnica e
fiscalização.
Entretanto, dada a natureza dos novos e dos futuros defensivos
agrícolas (agrotóxicos), além da aplicação da tecnologia do DNA
recombinante, surge uma oportunidade ímpar para que os países em
desenvolvimento elaborem seus próprios produtos. Grande parte das
tecnologias necessárias à produção dos mesmos, países como o Brasil já
dispõem de sobra. Detentores da maior parte da biodiversidade
(aproximadamente 20%) existente no Planeta, os brasileiros têm finalmente
a oportunidade de construir sua independência, pois a matéria-prima (os
genes) para o novo paradigma que se apresenta para a humanidade existe
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
70 |
em abundância no Brasil. Basta acreditar que soberania é possível, e que se
aplique um mínimo de recursos para a pesquisa nas diversas instituições
existentes no País.
Não é à toa que existe uma intensa campanha visando, em última
instância, a desestruturar e sucatear a pesquisa brasileira e que cresce o
interesse pela Amazônia, objetivando sua internacionalização.
O uso de inseticidas convencionais leva, fatalmente, a desequilíbrios
biológicos, pela morte de insetos úteis, como os polinizadores e os
controladores naturais de pragas. Com isso, a situação com respeito às
pragas da agricultura em geral é agravada em anos subseqüentes ao uso
desses produtos (AZEVEDO, 1998), além das implicações resultantes da
toxicidade dos mesmos aos peixes, aves e mamíferos em geral, inclusive o
homem.
Os inseticidas e fungicidas biológicos (principalmente bactérias,
fungos e vírus) geralmente não afetam o ambiente e a saúde do homem e
animais, nem mesmo de outras espécies, que não seja a praga-alvo
(SALAZAR, 1997). Infelizmente as alternativas ainda são poucas, mas as
perspectivas são extremamente otimistas, principalmente com os avanços
da biologia molecular. É praticamente impossível enumerar as aplicações da
engenharia genética na agricultura, tamanha a amplitude de alcance da
tecnologia do DNA recombinante (SERAFINI, BARROS e AZEVEDO, 2001). O
controle biológico de pragas (insetos, nematóides, fungos e bactérias,
principalmente) é uma das áreas mais promissoras, com o advento da
biotecnologia na agricultura. Sem a atuação da engenharia genética,
melhorando (modificando geneticamente) esses agentes de controle, as
perspectivas para o controle biológico estariam limitadíssimas.
6.1 Inseticidas biológicos e virulíferos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 71
Dentre os que atacam insetos, é na família Baculoviridae que se
encontram os exemplos mais importantes de controle biológico, muitos
conhecidos há mais de 50 anos (AZEVEDO, 1998). Os vírus da poliedrose
nuclear (NPV) ocorrem em ortópteros, neurópteros, coleópteros,
himinópteros e lepidópteros e outros; os da granulose (GV) são específicos
para lepidópteros e os da poliedrose citoplasmática (CPV) ocorrem em
muitos lepidópteros e outros insetos. Um exemplo importante é o
, que controla a lagarta-da-soja (
). Por meio da aplicação de baculovírus, esta praga da soja já tem
sido controlada no Brasil em mais de dois milhões de hectares,
correspondendo a, aproximadamente, dois milhões de litros de agrotóxicos
que deixam de ser utilizados e lançados no ambiente (MOSCARDINI, 2003).
Os vírus, em geral, contaminam os insetos por via oral, sendo ingeridos junto
com órgãos e tecidos foliares.
Numerosas tentativas têm sido feitas para modificar baculovírus, a fim
de aumentar a potência e a velocidade de ação nos insetos, inserindo genes
para expressar agentes, incluindo hormônio juvenil esterase, toxinas,
hormônios de insetos e quitinase, mas ainda sem efeito prático (CASIDA e
QUISTAD, 1998).
As que produzem esporos e mesmo as bactérias não-
esporulantes podem causar doenças em insetos, sendo os microorganismos
do gênero os mais conhecidos (AZEVEDO, 1998). O ,
por exemplo, é utilizado desde a década de 1930 no controle de coleópteros.
Os exemplos mais conhecidos e importantes atualmente são as
bactérias e , esta última, que ataca
diversas espécies de insetos, é conhecida como Bt, com vários produtos
comerciais à disposição dos agricultores (COSTA, 2001a). A seleção do
subsp. (Bti), de ampla ação, além de outras
subespécies como , e , criou expectativas imensas
na prospecção e no melhoramento de agentes entomopatogênicos (CASIDA e
vírus
bactérias
Baculovirus anticarsia Anticarsia
gemmatalis
Bacillus Bacillus popilliae
Bacillus sphaericus B. thuringiensis
B.
thuringiensis Israelensis
aizawai kurstaki tenebrionis
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
72 |
QUISTAD, 1998; COSTA, 2001a).
Outras espécies como o , que causam moléstias em
coleópteros, lepidópteros e himenópteros e o que ataca
larvas de pernilongos dos gêneros , e , ganham
importância na pesquisa cientifica (AZEVEDO, 1998). Há também outras
bactérias, além das do gênero , que são patogênicas facultativas,
como a , ou potenciais, como várias espécies de
e .
As bactérias contaminam os insetos por via oral, multiplicam-se
internamente neles, produzindo protoxinas na forma de cristais, como no
caso de certos (AZEVEDO, 1998). Esses cristais, atacados por
proteases do aparelho digestivo dos insetos, liberam toxinas que os afetam,
provocando paralisia intestinal e suspensão da alimentação.
Os são os microorganismos mais comumente encontrados em
insetos, causando moléstias (AZEVEDO, 1998), tanto que, em 1726, já se
descrevia o como um dos fungos entomopatogênicos,
embora a patologia dos insetos por fungos só viesse a ser estudada bem mais
tarde. No final do século 19, o fungo já era utilizado
no controle biológico de pragas agrícolas e, desde então, já são conhecidas
mais de 700 espécies de fungos que atacam insetos, salientando-se, dentre
estes, , , , , ,
e .
O ataque de fungos começa com o contato dos esporos com a cutícula
do inseto, que germinam, produzindo micélios, cujas hifas (segmentos)
produzem os apressórios, estruturas com capacidade de penetrar na
cutícula, tanto mecanicamente, quanto pela produção de enzimas
(AZEVEDO, 1998). Atingindo a epiderme e a hemolinga, o fungo produz os
blastóporos, cresce e se desenvolve, excretando toxinas, como as
dextruxinas, que terminam por matar o inseto. No interior dos insetos
mortos e externamente, desenvolvem-se os esporos ou conídios, que são
B. cereus
Bacillus sphaericus
Culex Aedes Anopheles
Bacillus
Serratia marcescens
Pseudomonas Proteus
Bacillus
Cordiceps sinensis
Metarhizium anisopliae
Metarhizium Beauveria Verticillium Nomuraea Hirsutella
entomophthora Asckersonia
fungos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 73
liberados e levados pelo vento, água ou pelo contato com outros insetos,
estendendo a contaminação para outros indivíduos.
Técnicas modernas de biotecnologia têm sido empregadas no
melhoramento de microorganismos e vírus, utilizados no controle biológico
(SERAFINI, BARROS e AZEVEDO, 2001), principalmente em bactérias e, em
menor escala, em fungos. Um dos avanços mais promissores parece estar
concentrado nos estudos das micorrizas (associações entre fungos e raízes de
plantas). Tais associações, além de facilitarem a absorção de nutrientes e
conferir maior resistência à seca, podem proteger o vegetal contra pragas. A
engenharia genética, com o aprofundamento de tais estudos, tem o
potencial de aprimorar e ampliar tais associações, pela possibilidade de se
modificar (aumentando a eficiência) e transferir genes, sem a existência de
barreiras entre espécies.
Atualmente, o controle biológico de vários fitopatógenos e herbívoros
tem sido alcançado por meio de práticas agrícolas de manejo para favorecer
antagonistas nativos e também pela introdução de microorganismos e outros
agentes selecionados (MELO, 1998b). (inimigos naturais
de outros insetos, ácaros, nematóides e outros) também têm sido utilizados
com relativa freqüência, apesar das inúmeras dificuldades práticas. O
melhoramento genético desses agentes de controle biológico é
relativamente recente e extremamente promissor, pela possibilidade de se
aumentar sua eficiência e amplitude de ação. Os avanços da biotecnologia
(AZEVEDO, 2001) no controle biológico de insetos, fungos, bactérias,
nematóides e até mesmo de plantas daninhas (microorganismos que atacam
tais plantas) são notáveis, antevendo uma nova etapa, com a definitiva e
decisiva participação do controle biológico integrado nas diversas práticas
agrícolas.
A utilização de alternativas já disponíveis, entretanto, deve ser feita
com assistência técnica especializada, devido às dificuldades de manejo, por
se tratar de produtos vivos, sujeitos às variações das condições ambientais.
Portanto, a aplicação dos inseticidas biológicos depende de uma série de
Insetos predadores
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
74 |
condições para que haja efetiva eficiência no controle de pragas.
Com o fim da barreira entre espécies no melhoramento genético e
pelas dificuldades na aplicação prática do controle biológico, devido às
variações nas condições ambientais e outras dificuldades do controle
biológico clássico, está surgindo rapidamente uma alternativa importante. É
a transferência dos genes de microorganismos que codificam proteínas
tóxicas às pragas para as plantas cultivadas, tornando-as resistentes. Apesar
desta alternativa não ser classificada dentro da classe do controle biológico,
não resta dúvida que, se bem conduzida, terá um futuro muito promissor.
Entretanto, diante do potencial da engenharia genética e das
necessidades atuais na agricultura, é possível dizer que todas essas
tecnologias ainda estão na sua infância, pois há muito que fazer, já que a
agricultura depende ainda quase que exclusivamente dos agrotóxicos
tradicionais, nocivos à saúde e altamente agressivos ao ambiente.
O Brasil representa a maior biodiversidade de genes, de espécies e de
ecossistemas (COSTA, 2001b), o que coloca o brasileiro no vértice da
pirâmide da ciência, em termos de potencial para o desenvolvimento de
técnicas de controle biológico, com o advento da biotecnologia. Cabe, no
entanto, investir em pesquisa, para que, mais uma vez, não se perca a
oportunidade de caminhar rumo ao desenvolvimento e independência
tecnológica e econômica. Nos planos de Internacionalização da Amazônia,
por parte do Primeiro Mundo, estão embutidos, principalmente, a utilização
e o patenteamento de genes e de processos, derivados dos estudos da
imensa biodiversidade existente na maior floresta do mundo.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 75
6.2 Inseticidas que interferem na constituição da quitina - exúvia
(reguladores de crescimento)
De acordo com a definição de Beckage (2000 apud NAUEN e
BRETSCHNEIDER, 2002), os verdadeiros reguladores de crescimento são
inseticidas que simulam a ação de hormônios do crescimento e
desenvolvimento dos insetos, não cobrindo necessariamente, por exemplo,
os antigos inseticidas sintéticos que atuam na síntese de quitina.
Os reguladores de crescimento de insetos foram considerados, no seu
tempo, como a terceira geração de inseticidas, após inorgânicos e sintéticos,
com grande potencial na agricultura (CASIDA e QUISTAD, 1998). Muitos são
conhecidos particularmente por intervir na ecdise larval (processo de
rompimento da cutícula, quando a larva muda de um ínstar para outro),
subseqüente deposição de quitina e metamorfose (NAUEN e
BRETSCHNEIDER, 2002).
São produtos relativamente novos, que atuam geralmente de forma
mais específica na fisiologia do desenvolvimento dos insetos, com muita
eficiência e em pequenas quantidades. São bastante favoráveis em termos de
proteção ambiental e apresentam perspectivas ótimas com os avanços da
bioquímica e da biologia molecular. Alguns, para ilustrar, podem ser até
utilizados em reservatórios de água potável (SALAZAR, 1997), para controlar
larvas de mosquitos (pernilongos), existindo, hoje, inclusive no Brasil, várias
formulações comerciais que podem ser utilizadas no controle de diversos
insetos-praga. Entretanto são também produtos que exigem participação de
profissional capacitado para aplicação adequada e, se existem inseticidas
fisiológicos atóxicos, há também aqueles classificados como altamente
tóxicos.
O primeiro grupo de inseticidas fisiológicos, que teve como modelo os
hormônios juvenis de insetos, tem potencial restrito a certas condições de
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
76 |
aplicação, por exemplo, o metopreno, fenoxicarb e piriproxifem (CASIDA e
QUISTAD, 1998). Um dos mais recentes reguladores hormonais
desenvolvidos é o agonista da ecdisona tebufenozida e seus análogos, com
adequado potencial e seletividade. Uma importante descoberta foram as
benzoil feniluréias, exemplificadas por diflubenzurom, que inibem a
deposição de quitina. De acordo com a definição de Beckage, estes últimos
não poderiam ser classificados como reguladores de crescimento (NAUEN e
BRETSCHNEIDER, 2002). Por isso, convém a separação entre inseticidas
fisiológicos e reguladores de crescimento.
Dentre os agonistas do receptor da ecdisona ou compostos
aceleradores da muda (os MACs), quatro têm tido sucesso desde que foram
lançados: o tebufenosida, o primeiro desenvolvido e já referido acima, e os
subseqüentes análogos metoxifenozida, halofenozida e cromafenozida
(NAUEN e BRETSCHNEIDER, 2002).
Outros reguladores de crescimento ou inseticidas fisiológicos incluem
o sistêmico ciromazina, que inibe o desenvolvimento larval por um
mecanismo desconhecido, e a azadiractina, o mais importante limonóide do
nim, com propriedades antialimentares e de bloqueio da muda (CASIDA e
QUISTAD, 1998).
Os feromônios (chamados também de ferormônios ou feromonas) e
outros atraentes têm um decisivo papel no monitoramento das populações
de pragas e manipulação do comportamento dos insetos a níveis
extremamente baixos, sem deixar resíduos tóxicos, sendo importantes
componentes nos programas de controle de pragas que usualmente
também requerem o uso de inseticidas químicos (CASIDA e QUISTAD, 1998).
Os repelentes também aumentam em importância neste contexto, que
6.3 Feromônios
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 77
busca o controle de insetos com o mínimo de impacto ambiental.
Karlson e Luscher, em 1959, foram quem, pela primeira vez,
propuseram o termo “feromonas” para conceituar um grupo de substâncias
ativas excretadas para o exterior por um indivíduo e recebidas por outro
indivíduo da mesma espécie, no qual provocam uma reação específica, um
dado comportamento ou processo de desenvolvimento (PAIVA e PEDROSA-
MACEDO, 1985). Sabe-se hoje, entretanto, que esta especificidade não é
rígida, já que várias espécies próximas ou não podem utilizar a mesma
substância com o mesmo fim.
Renou e Guerreiro (2004) preferem classificar esses novos produtos
sintéticos, derivados dos feromônios, como paraferomônios, que é o termo
geral atualmente utilizado para produtos sintéticos análogos de feromônios,
agonistas, sinergistas, hiperagonistas e outras formas.
Os feromônios ou paraferomônios, sob a visão agrícola, podem ser
conceituados como compostos que promovem alteração no comportamento
dos insetos, favorecendo a sua captura, ou diminuem a sua população pela
mudança de hábitos. Os feromônios de confundimento sexual (SALAZAR,
1997) têm sido muito utilizados, porém já existe uma gama de produtos
atrativos, repelentes, inibidores da alimentação e outros, que colocam este
campo do conhecimento como um dos mais promissores, à luz das novas
descobertas científicas, principalmente relacionadas aos avanços na área da
bioquímica e da biologia molecular.
Não é necessário afirmar que tais produtos satisfazem plenamente as
atuais exigências da sociedade, por alimentos mais saudáveis e pela
preservação ambiental. O uso de feromônios de forma mais abrangente seria
a prática ideal no controle de insetos-praga, pois estes não poluem o
ambiente e nem deixam resíduos tóxicos nos alimentos. Alguns feromônios já
estão à disposição no mercado brasileiro, com excelentes resultados e ótimas
perspectivas.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
78 |
6.4 Os rotenóides, nicotinóídes, neo-nicotinóides e novas moléculas
inseticidas
Os problemas de toxicidade dos inseticidas, contaminação ambiental
e resistência dos insetos fizeram com que, na década de 1960, renascesse o
interesse pela nicotina, rotenona e piretrina e seus derivados. Piretrina age
no eixo nervoso; nicotina, na sinapse do sistema nervoso central; e
rotenona, na cadeia respiratória dos tecidos, incluindo nervos e músculos.
Os diferentes mecanismos de ação e sítios onde atuam esses inseticidas de
origem vegetal estimulam estudos visando ao desenvolvimento de
compostos a partir dessas moléculas naturais (YAMAMOTO, 1970).
A rotenona (C H O ), ingrediente ativo de diversas plantas, atua
como eficientíssimo inseticida de contato e tóxico por ingestão (BLAS, 1951).
O descobrimento teve origem no conhecimento que se tinha, desde 1665,
de que os povos da África, América e Índia empregavam extratos de várias
leguminosas como veneno para matar peixes e que, na China, em 1848, se
empregava a raiz de ., tanto para envenenar as águas, quanto
como inseticida.
Rotenona e os rotenóides derivados têm ação fortemente letal sobre
insetos e peixes. Causam diminuição da respiração nos insetos, inibindo a
respiração em substratos ligados a NADH da mitocôndria (YAMAMOTO,
1970). A paralisia ocorre nos estágios iniciais de intoxicação, por agir sobre o
sistema nervoso imediatamente (SALAZAR, 1998) e estes sintomas diferem
bastante daqueles causados por piretrinas, nicotinas, DDT,
organofosforados e outros (YAMAMOTO, 1970).
A nicotina (C H N ), alcalóide do tabaco, foi sintetizada, em 1904, por
Pictet e Rotschy (BLAS, 1951), é um inseticida fortemente de contato,
veneno respiratório e tóxico por ingestão, sendo empregado
preferencialmente em horti e jardinicultura. É tóxico para vários insetos, mas
é mais eficiente contra afídeos e cochonilhas.
23 22 6
10 14 2
Derris spp
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 79
Os compostos neuroativos dominaram por mais de 50 anos, e parece
que a tendência não é modificar esee rumo (CASIDA e QUISTAD, 1998), já que,
cada vez mais, novas substâncias, incluindo os neo-nicotinóides e outras
novas moléculas oriundas de estudos de metabólitos secundários de plantas,
fungos, bactérias e vida marinha em geral (McCURDY, MILLER e BEACH, 2000;
SAYED et al., 2000), que podem vir a ser precursores de inseticidas, têm, em
grande parte, a característica de atuarem sobre o sistema nervoso.
A transmissão do sistema nervoso central nos insetos é colinérgica e é
o alvo da nicotina e anticolinesterase, mas é protegida contra a penetração de
íons, o que faz com que a nicotina, uma substância ionizável, seja ineficiente
contra a maioria das espécies de insetos, com exceção dos afídeos
(YAMAMOTO, 1970). Os nicotinóides mais recentes atuam no mesmo sítio da
nicotina, mas com mais efetividade e mais segurança (CASIDA e QUISTAD,
1998). Todos os neo-nicotinóides são agonistas do receptor nicotínico da
acetilcolinesterase (nAChR) do sistema nervoso central (NAUEN e
BRETSCHNEIDER, 2002; TOMIZAWA e CASIDA, 2003).
Os nicotinóides, que atuam principalmente no canal de cloro mediado
pelo gama-aminobutirato (GABA), têm tido uma importância especial, com o
lançamento de novos produtos comerciais (CASIDA e QUISTAD, 1998). O
GABA, derivado do glutamato por descarboxilação, é um importante
neurotransmissor (LEHNINGER, 1995). Os produtos que atuam sob este
mecanismo agem no receptor de GABA, que é uma proteína que contém um
canal integral de cloro, modulado por vários compostos, incluindo
benzodiazepinas, barbituratos, esteróides e inseticidas (LUMMIS et al.,
1990). Neonicotinóides e nicotinóides diferem apenas pela ionização em
determinado pH e na especificidade do sítio alvo entre insetos e mamíferos,
isto é, os neonicotinóides não são ionizados e seletivos para nAChR em
insetos e os nicotinóides são ionizados e seletivos para nAChR dos mamíferos
(TOMIZAWA e CASIDA, 2003).
A primeira geração de inseticidas neuroativos, que atuam também no
canal de cloro, apresentou rapidamente problemas com o desenvolvimento
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
80 |
de resistência (CASIDA e QUISTAD, 1998), o que obrigou os pesquisadores a
procurarem por novos produtos neurotóxicos que atuassem em sítios
diferentes. O primeiro sucesso foi obtido com inseticida abamectina e
análogos, que atuam como agonistas do receptor de GABA num sítio novo da
proteína integral de membrana (canal de cloro) e o segundo foi o
cloronicotinil, ou nicotinóides sintéticos, que atuam sobre o receptor
nicotínico da acetilcolinesterase (nAChR). A acetilcolina é o maior
neurotransmissor excitatório no sistema nervoso central (SNC) de insetos e
em contraste com os vertebrados, os insetos têm um número muito maior
de receptores nicotínicos do que receptores muscarínicos no SNC (LUMMIS
et al., 1990).
Outra classe de ligantes do receptor de GABA descoberto são as
avermectinas e derivados, como a emamectina benzoato, mais eficiente
contra lepidópteros do que a abamectina (NAUEN e BRETSCHNEIDER, 2002).
As avermectinas, além de agonistas do receptor de GABA, atuam nos canais
de cloro regulados por glutamato no sistema nervoso dos insetos, sendo
eficientes como inseticidas e acaricidas, possuindo, ainda, propriedades
anti-hermínticas. O glutamato é também um neurotransmissor em insetos,
sendo conhecidos pelo menos três subtipos de receptores de glutamato,
diferenciados por sua seletividade para os respectivos agonistas (LUMMIS et
al., 1990). Receptores para outros aminoácidos e hormônios têm sido
estudados em insetos e prometem aumentar ainda mais o rol de produtos
com novos mecanismos de ação.
Outros compostos têm sido descobertos, a partir de plantas, fungos,
bactérias, vida marinha em geral, o que tem tornado esta área de pesquisa
simplesmente fascinante, pelas possibilidades praticamente inesgotáveis
(SAYED et al., 2000) na natureza. O sistêmico pimetrozina e a flonicamida,
que parecem agir por um novo mecanismo de ação sobre o sistema nervoso,
ainda desconhecido e as espinosinas (algumas já comercializadas) formam
um grupo de inseticidas produzidos pelo acinomiceto
, que induz persistente ativação alostérica da nAChRs e prolongada
Saccharopolyspora
spinosa
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 81
resposta da acetilcolina; e as pirazolinas e seus análogos dihidrooxadiazina,
antagônicos da ativação do canal de sódio (CASIDA e QUISTAD, 1998; WEDGE
e CAMPER, 2000; NAUEN e BRETSCHNEIDER, 2002).
Diversos gêneros da família das anonáceas são conhecidos, inclusive
no Brasil, por apresentarem espécies popularmente usadas como plantas
medicinais e pelos frutos comestíveis, muito apreciados principalmente
pelas populações rurais (LORENZI, 1998; JOHNSON et al., 2000; PIMENTA et
al., 2003). Até hoje já foram isolados perto de 400 compostos dessa família,
considerados entre os mais potentes conhecidos inibidores do Complexo I
(NADH: ubiquinona oxiredutase), nos sistemas de transporte de elétrons da
mitocôndria e da NADH:oxidase da membrana plasmática, que induzem
apoptose (morte programada da célula), talvez como conseqüência da
privação de ATP, tendo, portanto, um ótimo potencial na aplicação como
praguicida ou antitumoral (JOHNSON et al., 2000). Esses autores citam a
asimicina, o bulatacim e o trilobacim (dentre mais de 40) como acetogeninas
altamente bioativas e os gêneros: , , , ,
e como os mais promissores para pesquisa. Entretanto,
apesar dos esforços dedicados à síntese de inibidores do Complexo I,
problemas toxicológicos devido ao mecanismo de ação, com respeito a
mamíferos e peixes, ainda não puderam ser superados, impedindo, até agora,
que tais inseticidas pudessem ser introduzidos no mercado (NAUEN e
BRETSCHNEIDER, 2002).
Inibidores do Complexo III (citocromo e redutase) da cadeia de
transporte de elétrons da mitocôndria foram desenvolvidos comercialmente
primeiro como fungicidas (estrobilurina) e depois como acaricidas
(fluacripirim), mas, até o momento, os potentes compostos inseticidas
descobertos, com este mecanismo de ação, não puderam ser desenvolvidos
comercialmente, pelo alto grau de toxicidade aos mamíferos,
semelhantemente aos inibidores do Complexo I (NAUEN e BRETSCHNEIDER,
2002).
Uvária Asimina Annona Goniothallamus
Rollinia Xylopia
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
82 |
Outros compostos que estão ganhando importância relativa são os
desacopladores, ácidos hidrofóbicos fracos, que agem transportando
prótons através da membrana mitocondrial, dissipando o gradiente de
prótons e desacoplando a transferência de elétrons da fosforilação
oxidativa, criando um curto-circuito elétrico através da membrana
mitocondrial (LEHNINGER, NELSON e COX, 1995). Como este mecanismo de
ação é praticamente inespecífico, a seletividade desses produtos até agora
tem sido muito baixa, representados pelos antigos dinitrofenóis (NAUEN e
BRETSCHNEIDER, 2002); mas novos sintéticos, baseados em produtos
naturais, como a dioxapirrolomicina, levaram ao interessante grupo
inseticida dos 2-aril-pirróis, representado pelo clorfenapir, introduzido no
mercado em 1995.
Como se observa, os novos produtos sintéticos que estão surgindo
são principalmente derivados de produtos naturais de plantas, animais,
microorganismos e outros, de vida terrestre e marinha, resultados da
biodiversidade existente no Planeta. Isto torna o potencial que se apresenta
ao homem inesgotável, se ele souber utilizar adequadamente tais recursos
da natureza.
De uma maneira geral, o controle de pragas tem sido feito através de
produtos químicos de amplo espectro de ação e elevada toxidez aos
vertebrados em geral e fauna benéfica, com possíveis implicações na
contaminação do solo e das águas.
O MIP hoje é uma tentativa que diversas instituições de pesquisa
fazem, a fim de minimizar os impactos das medidas de controle de pragas e
moléstias sobre o ambiente e, nesse contexto, o manejo integrado de pragas
da soja é uma referência importante, por ser considerado o mais bem-
6.5 O manejo integrado de pragas
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 83
sucedido exemplo de implantação de um programa deste tipo. O MIP engloba
todas as classes de pragas (fitopatógenos, inços, insetos, outros invertebrados,
vertebrados etc.), num contexto holístico e fortemente baseado em princípios de
ecologia. Entretanto os programas têm sido desenvolvidos principalmente
visando ao controle de insetos, havendo necessidade de que a pesquisa avance
mais e os pesquisadores interajam mais nesta área, envolvendo outras classes de
pragas (MOSCARDINI, 2003).
O controle biológico é uma das mais importantes ferramentas de MIP para
garantir a sustentabilidade ecológica dos sistemas, já que, para os inimigos
naturais, como parasitóides, entomopatógenos e microorganismos antagonistas
de fitopatógenos, atuarem, há necessidade de se utilizar defensivos agrícolas
(agrotóxicos) bastante seletivos ou específicos. Fungicidas, por exemplo, podem
reduzir ou mesmo exterminar fungos controladores de insetos. O uso de
variedades resistentes a insetos e moléstias é de especial importância para
minimizar os efeitos dos agroquímicos no controle de pragas, pois substituem os
agrotóxicos correspondentes, geralmente sem apresentar efeito sobre os
organismos com presença desejável. Assim, extratos de plantas, produtos
biológicos, inseticidas fisiológicos (agonistas), feromônios, armadilhas luminosas,
uso de plantas atraentes e repelentes, barreiras vegetais e outros métodos e
manejos devem ser considerados prioritários, a fim de se obter o melhor efeito
piramidal possível.
Diversos exemplos podem ser apresentados para outras culturas, com
menor ênfase em termos de área, mas igualmente com sucesso, o que demonstra
que o desenvolvimento do MIP é vital para se chegar, talvez, a uma agricultura
mais sustentável, capaz de preservar o ambiente e proporcionar alimentos mais
saudáveis. A biodiversidade existente no Brasil (a maior do mundo) fornece
matéria-prima para que se construam aqui os MIPs mais completos, bastando que
se invista em pesquisa científica na área agrobiológica. De outra forma, ver-se-á,
mais uma vez, escapar a possibilidade de os brasileiros escolherem as suas
próprias prioridades, enfim, seu próprio destino.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
84 |
7 A PROPOSTA AMBIENTALISTA
De acordo com Pinheiro, Nasr e Luz (1993), a história dos agrotóxicos
no Brasil é de “Muito sangue; muita morte, muito roubo”. Os autores
classificam sua própria obra como “o livro dos horrores”. Contestam os
limites de tolerância aos venenos, argumentando que “foram estabelecidos
para ratos e não para humanos”. Classificam a Organização Mundial da
Saúde (OMS) e a (FAO) como “amigas,
cúmplices dos fabricantes de venenos”; e que “hoje a FAO se arrepende de
ter promovido a Revolução Verde”. Entretanto não é o que consta nos
documentos oficiais da FAO (1995), que se referem às vantagens e
desvantagens da Revolução Verde, como resultado da pesquisa e
tecnologias que aumentaram os rendimentos dos cultivos, mas com um
preço ecológico muito alto. Tanto que a FAO “não se arrepende”, pois
propõe, nesse documento, uma nova “Revolução Mais Verde”. A Revolução
Verde é tida por Pinheiro, Nasr e Luz (1993) como:
Os autores complementam dizendo que consideram a biotecnologia a
coroação da dominação dos países industrializados e que o agricultor
passará a ser:
.
Food and Agriculture Organization
Uma trama dos industriais do Primeiro Mundo, patrocinadapela FAO, para impedir a fome no planeta, e que não resolveu oproblema, pois pelo menos metade da população mundialhoje não se alimenta adequadamente, feito gente. O TerceiroMundo, as crianças e mulheres, principalmente, sempreserviram de cobaia para as experiências dos mais ricos.
Um mero taifeiro-artesanal de uma indústria verticalizada, quelhe fornece os insumos da mesma marca, oriundos dabiotecnologia ou engenharia genética, para que ele possaproduzir o produto da ‘griffe’, pelo seu trabalho e créditos parasuprir suas necessidades, em forma de produtos industriais da
própria ‘griffe’ (PINHEIRO, NASR e LUZ, 1993)
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 85
Entretanto os próprios autores, de forma relativamente contraditória,
referem-se à “produção ecológica [...] oriunda da biotecnologia (engenharia
genética)”. Assim, a restrição à biotecnologia é, na realidade, apenas de
ordem metodológica, mas apresentada de forma dogmática e sectária,
considerando inviável a parceria entre o avanço científico e a melhoria das
condições de vida do Homem e do Planeta. Os autores citados comentam
ainda que:
Para que se entenda o quanto é utópica essa proposta ecologista, os
autores fazem questão de enfatizar que “alguns, para justificar sua cupidez,
dizem que a agricultura ecológica tem de dar muito lucro, não querendo
entender o que estamos discutindo”. O “pinheirismo” propõe uma
agricultura sem lucro (!), ou seja, sem sobras para reaplicar recursos (em
pesquisa, por exemplo). Sem sustentabilidade econômica, portanto, se as
conseqüências de uma proposta utópica fossem somente relativas à sua
impossibilidade de realização, poder-se-ia afirmar que o pensamento
ambientalista é apenas inócuo. Entretanto, um dos efeitos principais de uma
proposição utópica, lançada na sociedade como solução única, é o adiamento
ou mesmo a inviabilização de soluções verdadeiramente científicas.
Um exemplo ilustrativo pode-se retirar da própria visão que o
ambientalismo em geral tem em relação à utilização das plantas medicinais.
Ao propor o uso direto ou semidireto dessas plantas, enfatizando, muitas
vezes de forma exagerada, suas qualidades, estão, na verdade, promovendo a
utilização indiscriminada, inclusive levando as espécies em questão ao perigo
da extinção. Já uma visão moderna vislumbra nas plantas medicinais fontes
A Sociedade Industrial tirou um pouco da identidade doagricultor [...]. A raiz da Sociedade Industrial é a morte, acrueldade. Não é de estranhar que também as técnicas deBiotecnologia sejam oriundas da indústria bélica, com suastoxinas, vírus, bactérias, micotoxinas, alcalóides! Nóspreferimos a agricultura ecológica como uma utopia daagricultura industrial. Da mesma forma que preferimos asutopias que descrevem um estado ideal do ser às do ser ideal doEstado (PINHEIRO, NASR e LUZ, 1993).
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
86 |
para descobertas de novas fórmulas de medicamentos ou novos genes, sem
que isso signifique sua utilização direta. Desenvolver uma nova fórmula, a
partir de estudos em plantas medicinais, significa preservá-las. Da mesma
forma é a atuação da engenharia genética, quando cria uma planta
medicinal ou aromática transgênica, capaz de multiplicar, por várias vezes, a
produção da substância-alvo, tornando assim economicamente viável a
extração industrial. Por essa visão, não há por que retirar as plantas nativas
de seu . A preservação passa, assim, a ser de interesse comum e
direto, inclusive por parte das empresas que visam aos lucros.
A incoerência essencial do ambientalismo pode ser observada em
relação às tecnologias adotadas num determinado momento histórico:
correspondem sempre a um conjunto de técnicas já condenadas
anteriormente. Sulfato de cobre, calda bordalesa, sulfato de nicotina,
rotenona e outros foram agrotóxicos nos primórdios dessa tecnologia.
Sulfato de cobre é recomendado, mas o oxicloreto de cobre é proibido na
agricultura orgânica, mesmo que ambos possam contaminar o ambiente
com o referido metal pesado... Mais recentemente, os híbridos e as
variedades melhoradas, por meio de cruzamentos artificiais, já foram
condenados veementemente. Entretanto, atualmente, com o surgimento de
cultivares transgênicas, passaram a se tornar “naturais” e consideradas
como opção aos transgênicos. Quando serão os transgênicos considerados
“naturais” pelo ambientalismo? Provavelmente quando a ciência estiver
construindo genes artificiais, não necessitando haver mais transferência de
uma espécie para outra ou quando transgenia for coisa do passado...
Um exemplo elucidativo da incongruência ambientalista pode ser
dado em relação ao chamado “Supermagro”, que, tratado como
biofertilizante e utilizado em adubação foliar, tem função de atuar também
como defensivo natural contra fungos, bactérias, insetos e ácaros. Dentre os
ingredientes, algumas substâncias como sulfato de zinco, sulfato de cobalto,
sulfato de manganês, sulfato de cobre, ácido bórico e outros, em altas doses,
devem tornar o produto eficiente contra pragas e moléstias. Tais produtos,
habitat
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 87
quando formulados por empresas multinacionais, como, por exemplo, o
oxicloreto de cobre, são veementemente condenados pelos ambientalistas.
De forma pueril, esses mesmos críticos consideram as misturas de sais de
metais pesados, feitas de forma expedita, como “naturais”, como se estes
não fossem também produtos químicos fabricados primariamente por
multinacionais. Mas o importante é que há que se questionar sobre os
possíveis resíduos nos alimentos e contaminação do solo por metais
pesados, oriundos desse material, que em nada difere dos produtos
conceituados como agrotóxicos, podendo, inclusive, trazer conseqüências
mais danosas ao ambiente do que estes. É inquestionável que a
contaminação do ambiente por metais pesados é mais perigosa do que a dos
agrotóxicos por excelência, como os organofosforados, carbamatos,
piretróides e outros. Com relação a qualquer agrotóxico da agricultura
convencional, são conhecidos o período residual (tempo em que o produto
se mantém eficiente no controle de insetos-praga) e o período de carência
(tempo a partir do qual o produto pode ser colhido para consumo, não
contendo resíduos de agrotóxicos acima dos níveis permitidos na legislação).
Com relação aos agrotóxicos da agroecologia e da agricultura orgânica, tais
informações inexistem, o que torna perigoso o consumo de alimentos
oriundos de tais sistemas, já que não se dispõe de dados sobre concentração
(g.i.a.), período residual e de carência dos produtos utilizados. Acrescente-
se, ainda, que os adeptos desses sistemas não escondem a utilização
intensiva dos sais de metais pesados, com agravante de que consideram e
propalam que tais produtos são inofensivos ao homem e ao ambiente.
Felizmente, a agroecologia ainda tem chances de não ter um futuro
tão sombrio como se avizinha. Vozes dissidentes e os debates internos e
externos já começaram a produzir efeitos, com o advento da moderna
biotecnologia e com os avanços inquestionáveis da agricultura convencional
ou intensiva, inclusive com contribuição decisiva para a sustentabilidade.
Agroecologia e agricultura orgânica, até então praticamente sinônimos,
começam a se diferenciar e até mesmo a se contrapor.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
88 |
8 A AGROECOLOGIA ATUAL COMO ALTERNATIVA
Agroecologia ou agricultura orgânica? São duas principais correntes
que guardam certa semelhança com relação a seus objetivos, mas que
diferem na sua essência. Os adeptos da agroecologia afirmam que esta é
mais abrangente e mais conseqüente, por ter uma base mais científica e
filosófica do que a agricultura orgânica, esta última mais restrita e
dogmática, pelos aspectos religiosos, que, muitas vezes, superam os
aspectos científicos. Por sua vez, os defensores da agricultura orgânica dizem
que fazem parte do movimento orgânico ou da revolução orgânica, aplicável
a todas as áreas do conhecimento humano. O que se pode dizer é que
atualmente não se estaria errando ao considerar ambas como sinônimos, em
função dos seus objetivos comuns. Entretanto existem sérias divergências
entre os adeptos não só dessas classes de agricultura, como também de
outras menos importantes. Tais divergências surgiram naturalmente quando
postas em prática e se aguçaram quando do surgimento da biotecnologia
moderna, que colocou as agriculturas alternativas “contra a parede”.
Consideradas como inimigos da agroecologia ou da agricultura orgânica,
devido à desinformação e a posições dogmáticas, os organismos
geneticamente modificados passaram a ser combatidos de todas as formas.
Entretanto a ação por parte de pesquisadores e principais instituições de
pesquisa de todo o mundo exacerbou as inúmeras contradições dessas
agriculturas alternativas, demonstrando o quanto carecem atualmente de
bases científicas. Este embate, por sua vez, despertou o interesse de grupos,
principalmente da agroecologia, menos sectários e mais abertos ao diálogo
científico, que buscam, hoje, na própria agricultura convencional (intensiva),
bases para construção do que chamam de um novo paradigma ecológico,
dando sinais de que brevemente a engenharia genética poderá, aos poucos,
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 89
passar de inimiga a aliada.
Para agroecologistas, como Lutzenberger (1995), a história da
evolução das ciências é a superação do velho pelo novo, não por sua
invalidação, mas por absorção do antigo, simplificando-o e transformando-o
em base para o novo ciclo:
Para os ideólogos da Revolução Orgânica, o surgimento do novo
parece corresponder irremediavelmente à destruição do velho e sua
negação absoluta, como explicita Mae-Van Ho (HO, 2000), considerada a
maior líder mundial desse movimento: “A máquina metafórica dominou o
ocidente pelo menos por dois mil anos, antes de ser oficialmente barrada
pela teoria da relatividade e da física quântica no começo do século XX. A
teoria da relatividade de Einstein demoliu o universo newtoniano” (HO,
2000).
Em relação à moderna biotecnologia, Ho (2000) acredita que a biologia
retornou ao caminho do reducionismo mecânico, para culminar, hoje, na
tecnologia da engenharia genética, que tem o potencial de destruir toda a
vida na Terra e minar todos os valores sociais e espirituais que nos faz como
humanos.
Einstein não derrubou Newton, foi além, incluiu Newton numavisão mais ampla. Copérnico não derrubou Ptolomeu que, comas observações imprecisas da época e tomando a terra comoreferência, também previa eclipses, mas tinha que pressuporciclos e epiciclos com matemática bastante complicada. Aperspectiva heliocêntrica de Copérnico trouxe uma grandesimplificação. Na Genética, Morgan não derrubou Mendel,mas colocou-a em perspectiva mais ampla. Crick e Watson nãoderrubaram Morgan, mas aprofundaram, assim como naGeologia, a deriva dos continentes, com suas placas tectônicas,simplificou e ampliou enormemente a compreensão daevolução geológica de nossas paisagens, sem invalidarconhecimentos anteriores.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
90 |
Enquanto isso, Lutzemberger (2000) postula que a atitude básica da
Ciência é o oposto da postura dos místicos, que costumam afirmar que têm
acesso à verdade absoluta, não admitem dúvidas. E mais: que não têm nada
contra a biotecnologia, mas a orientação deve ser realmente científica e
humana, não apenas comercial. Está bem evidente que as duas posições são
explicitamente antagônicas e que, para os agroecologistas como
Lutzemberger, a engenharia genética poderá vir a ser uma importante
ferramenta auxiliar no desenvolvimento da agroecologia. Entretanto fica
muito claro também que, para os adeptos do movimento orgânico ou da
Revolução Orgânica, não há possibilidade nem de estabelecimento de um
diálogo com os cientistas e instituições de pesquisa que trabalham na área de
biotecnologia, nem que venham a aceitar tão cedo que o grande entrave da
agricultura orgânica, que é a falta de variedades adaptadas, possa ser
resolvido com o cultivo de plantas transgênicas.
As posições antagônicas entre a agricultura orgânica e a agroecologia,
representadas aqui pelas posições de Mae-Van Ho e Lutzemberger,
começam aos poucos a emergir, prenunciando que o debate “externo”, com
os adeptos da “agricultura biotecnológica”, dará lugar ao debate entre o
movimento orgânico e o agroecológico, colocando a agricultura orgânica e a
agroecologia em pólos opostos, livrando-as da sinonímia que hoje as
confunde.
Para os mais extremistas, a agricultura orgânica não tem (ou não deve
ter) como objetivo o aumento da produtividade ou até mesmo do lucro
(PINHEIRO, NASR e LUZ, 1993). GLIESSMAN (2001), ratificando, postula que a
agricultura é mais do que uma atividade econômica projetada para produzir
um cultivo ou para satisfazer a ganância.
Este tem sido um dos argumentos utilizados para que se pretenda dar
um tratamento diferenciado para a agricultura, como se, para esta, não
houvesse necessidade de ser economicamente sustentável. Talvez isso
explique a razão pela qual, embora na indústria farmacêutica os produtos
resultantes da transgenia sejam aceitos sem qualquer problema, o uso dessa
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 91
tecnologia na agricultura tem encontrado grande oposição no Brasil
(KITAMURA, 2003).
Essa visão estreita, até o momento, não coloca este tipo de alternativa
como opção à agricultura convencional, mas apenas como uma atividade
restrita para satisfazer, quando muito, um pequeno nicho de mercado.
Acrescente-se, ainda, que este tipo de agricultura exigiria uma quantidade de
terras bem maior, pois os resíduos orgânicos sabidamente não são
suficientes, mesmo totalmente aproveitados, para produzir um terço do que
hoje é consumido no mundo. Alternativas de âmbito geral como essas seriam
bem mais impactantes para o ambiente, num momento em que o desafio
para a humanidade é produzir ainda mais, num espaço cada vez menor, para
atender às necessidades da urbanização e da preservação e recuperação
ambiental. Entretanto é bem visível que as novas abordagens da
agroecologia, que estão surgindo, são bastante construtivas, quando se
abrem ao diálogo.
Outro aspecto importante a ser analisado na agricultura orgânica e na
agroecologia atual é se realmente significariam, onde fossem implantadas,
uma diminuição da contaminação ambiental e se os solos estariam livres de
resíduos tóxicos. Inexoravelmente o paradigma ecológico dos
agroecologistas não-sectários, alicerçado nas ciências, deverá vingar como
resultado do diálogo com os cientistas que trabalham em áreas que
envolvem a engenharia genética.
Outros produtos muito utilizados nessas agriculturas ditas alternativas
são os sais de metais pesados – como inseticidas e fungicidas – e como
fertilizantes, considerados “naturais”. O sulfato de cobre tem sido por
excelência o produto carro-chefe. O chamado “Supermagro”, considerado
8.1 Os agrotóxicos na agricultura orgânica e agroecológica
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
92 |
como “defensivo natural” e “biofertilizante” (BURG e MAYER, 1998), contém,
dentre outros materiais, diversos sais de metais pesados, que são aplicados
sobre as plantas, contaminando-as diretamente e que, quando chegam ao
solo (e sempre acabam por chegar ao solo), podem ser adsorvidos pelas
substâncias húmicas do solo, como demonstraram Canellas et al. (1999).
Como se pode ver, não há qualquer segurança para o consumidor de
produtos provenientes dessas agriculturas, pois, mais do que falta de
informações, existe o problema agravante da desinformação.
Segundo seus inventores, o Supermagro trata-se de uma mistura de
micronutrientes (sais de zinco, manganês, cobre, ferro, cobalto e outros)
fermentados em um meio orgânico (esterco de gado, fígado, soro, leite,
sangue, melado de cana e restos de peixe), na tentativa de “quelatizá-los”
para aplicação nas plantas como adubo foliar. A receita foi desenvolvida por
Delvino Magro e agrônomos do Centro de Agricultura Ecológica Ipê (CAE),
localizado no Rio Grande do Sul. Como este e outros produtos são utilizados
como inseticidas, deveriam ter seus registros nos órgãos competentes, já que
as receitas constam em manuais e publicações em geral, inclusive de
instituições oficiais. O argumento para que isto não ocorra é de que não se
trata de agrotóxicos, mas sim de “defensivos alternativos”, completamente
inofensivos... Mas onde estão os estudos? Os estudos que existem, na
verdade, comprovam exatamente o contrário: que tais produtos podem ser
muito tóxicos aos animais em geral, inclusive ao homem, e altamente
perniciosos ao ambiente.
Metais pesados como o cobre, manganês, zinco e cobalto, nas doses
usualmente recomendadas para os agricultores (em algumas situações são
feitas até duas ou três aplicações semanais nas culturas), são muito perigosas
à saúde, principalmente de quem consome os produtos ditos orgânicos ou
agroecológicos e extremamente agressivos ao ambiente, em nada diferindo
dos agrotóxicos mais poluidores e bem piores do que a maioria dos
modernos defensivos agrícolas.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 93
No próprio site do Greenpeace (2001), é dito que os metais pesados,
além de não poderem ser destruídos, são altamente reativos do ponto de
vista químico, sendo prontamente absorvidos pelos tecidos, tanto de
animais, quanto de vegetais, quando lançados no ambiente. Evidentemente
que a referida ONG não estava tratando de agricultura orgânica, mas tão
somente referindo-se a resíduos de metais pesados oriundos de indústrias.
Mas são os mesmos metais que são utilizados na agroecologia e na
agricultura orgânica ou que podem contaminar insumos como os adubos
orgânicos.
8.1.1 Os inseticidas de origem vegetal (extratos vegetais)
Como se viu no item 5.4, os extratos vegetais voltam a gerar interesse
entre os pesquisadores, principalmente devido às novas perspectivas com os
avanços da bioquímica e da biologia molecular.
Extratos vegetais têm sido utilizados há milênios pela humanidade na
agricultura, a fim de proteger os cultivos. Desde a Antigüidade, os hindus já
costumavam misturar folhas secas de nim ( ), uma planta
da família das meliáceas, a mesma do cinamomo ( ), bem
conhecido e bem adaptado às condições do Sul do Brasil. Apesar da eficiência
do óleo de nim, sob determinadas condições, para diversas pragas na
agricultura, o preço relativamente elevado do produto não tem
proporcionado um aumento significativo no uso desse produto no meio
rural. Estudos com o cinamomo têm demonstrado a possibilidade real de
alternativa mais barata em comparação com o nim; entretanto, é preciso
avançar mais no sentido de determinar aspectos importantes como os
relacionados à idade da planta, à extração de componentes, partes da planta
a serem utilizadas, doses e pragas controladas e outros. O que se pode
afirmar, sem sombra de dúvidas, é que, comparativamente com os
inseticidas convencionais, os extratos de cinamomo também não têm
condições de competir com os primeiros, pelos dados que já se dispões
atualmente, em se tratando de cultivos comerciais.
Azadirachta indica
Melia azedarach
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
94 |
Atualmente já foram identificadas mais de 2.000 espécies vegetais de
interesse fitossanitário (SALAZAR, 1997). Entretanto, os antigos agrotóxicos,
como o piretro, a rotenona e a nicotina, ainda são os inseticidas de origem
botânica mais utilizados. Sua utilização requer cuidados quanto ao perigo de
intoxicações agudas, pois alguns produtos, inclusive os mais recentes,
podem ser muito tóxicos.
As razões pelas quais, mesmo que sejam aos milhares as espécies
vegetais com potencial inseticida, fungicida e bactericida, não houve
utilização direta dos extratos vegetais desses materiais prendem-se ao fato
de que a sua utilização dar-se-á em um novo patamar, à luz dos novos
conhecimentos. A utilização direta dos extratos vegetais não é sustentável,
sob o ponto de vista econômico e ambiental, pois, além de extremamente
caro, o processo exigiria o plantio de espécies vegetais para ter seus extratos
retirados. Essas espécies, por sua vez, ocupariam grandes áreas, em plantios
intensivos, e inexoravelmente estariam expostas as suas próprias pragas, que
deveriam ser controladas também...
Assim, os avanços no conhecimento das potencialidades das espécies
vegetais e seus metabólitos de defesa, levam à ciência a tentar desvendar as
estruturas químicas de tais moléculas, a fim de sintetizá-las, bem como
buscar, por meio da biologia molecular, a transferência de genes de
resistência, relacionados com essas moléculas de origem vegetal, para as
plantas de lavoura.
Os adubos orgânicos, devido às origens das matérias-primas utilizadas
na sua fabricação ou elaboração, têm sido muito questionados, pelo risco de
conterem metais pesados como o cádmio, mercúrio, zinco, cobre, cromo,
níquel e outros. Os próprios chamados “defensivos alternativos” e
8.2 Os adubos orgânicos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 95
“biofertilizantes”, mistura de sais de diversos metais, à luz dos novos
conhecimentos, podem ser tão ou mais perigosos que os agrotóxicos comuns.
Muitos adubos orgânicos, por serem elaborados a partir de resíduos
industriais, de lixo urbano, de sedimentos resultantes do tratamento de
esgotos, de aviários e outros, podem até ser muito perigosos. Diversos
trabalhos científicos estão surgindo atualmente para comprovar essas
condições.
Santos, Casali e Miranda (1999), por exemplo, testaram em alface um
composto orgânico elaborado a partir de resíduos da usina de Jacarepaguá
(RJ) e disponível para a venda e uso pelos agricultores. Os estudos indicaram
que os vegetais podem acumular ou adsorver metais pesados, quando
cultivados em meio contendo esses elementos, como no caso de adubos
orgânicos contaminados.
A compostagem certamente contribui para a redução original do lixo,
como reconhecem Lima, Queiroz e Freitas (2000), evitando a degradação
ambiental e obtendo ótimos fertilizantes para a agricultura. Entretanto, os
mesmos autores alertam para que haja um monitoramento sistemático na
avaliação da concentração de metais pesados. Trabalhando com composto
orgânico selecionado e não-selecionado, observaram que o cádmio só foi
encontrado em concentrações acima do recomendável no composto
elaborado a partir de lixo não-selecionado. Isto evidencia que, se houvesse
uma adequada seleção do material orgânico, os riscos de contaminação
poderiam ser bem menores. O grande problema é que, principalmente nos
países emergentes, como o Brasil, a concretização de um projeto desse tipo
demanda muito tempo, pois se depara com o aumento nos custos, com o
baixo nível cultural da população e com a falta de vontade política dos
governantes. Acrescente-se que, mesmo totalmente aproveitáveis, tais
resíduos ainda não seriam suficientes para atender 1/3 da demanda por
fertilizantes. Os norte-americanos calculam que, para elaboração de
compostagem suficiente para atender às necessidades dos EUA, precisariam
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
96 |
aumentar o número de cabeças de gado bovino em mais de um bilhão (!), o
que, evidentemente seria impossível.
Além da possibilidade do material utilizado para a elaboração do
composto estar contaminado por metais pesados, há ainda que se
considerar o comportamento do próprio húmus, na presença desses
elementos. Canellas et al. (1999) avaliaram a capacidade de adsorção de
cobre e cádmio por ácidos húmicos e observaram grande capacidade das
substâncias húmicas em adsorver os íons metálicos. Esta constatação passa,
então, a ser um agravante aos riscos de contaminação de adubos orgânicos
por metais pesados.
Se hoje a agricultura orgânica e a agroecologia são inexpressivas, em
termos de área cultivada, há que se questionar qual seria e efeito no
ambiente e na saúde humana, diante de uma expansão significativa, nos
moldes atuais, ou seja, sem uma adequada revisão com base nos novos
avanços científicos, especialmente com o advento da biotecnologia
moderna.
Acrescente-se ainda que nas “agriculturas alternativas”, com o
surgimento de patógenos resistentes a antibióticos, os riscos de
contaminações e infecções de mais difícil controle tornam-se fator de risco
muito importante, pois os estercos são ótimos meios de cultura para
bactérias, fungos, protozoários e outros, inclusive vetores de vírus
(STRAUCH, 1987; FEIGIN, RAVINA e SHALHEVET, 1991; TAN, 1994;
LONMANN et al., 1998). Salmonelas podem sobreviver por quase um ano
nos dejetos de bovinos, e micobactérias podem persistir por quase seis
meses em esterco e por mais de dois anos no solo (STRAUCH, 1987).
pode sobreviver por oito meses sem redução significativa
na população; larvas de helmintos podem permanecer na fase de estocagem
dos adubos orgânicos e serem viáveis após um ano da aplicação; e ovos de
Ascaris podem viver por mais de dois anos em dejetos de suínos
armazenados (FEIGIN, RAVINA e SHALHEVET, 1991). Bovinos infectados
podem excretar 100 milhões de leptospiros/mL de urina e estes, além de
Brucellas abortus
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 97
sobreviverem por vários meses nos dejetos, são capazes de aumentar sua
população (STRAUCH, 1987). Ovos coloniais e hortaliças fertilizadas com
adubos orgânicos têm maiores probabilidades de estarem contaminados,
respectivamente, com linhagens letais de salmonelas e , hoje
altamente resistentes a antibióticos. Linhagens de ,
resistentes a quase todos os antibióticos conhecidos, podem estar contidos
em queijos e salames, quando não há toda uma metodologia de cuidados
higiênicos na fabricação.
Poder-se-ia avançar mais nessas e em outras questões, como nas
maiores possibilidades de contaminações dos chamados alimentos orgânicos
com aflotoxinas, consideradas cancerígenas. Porém, essas considerações já
são o suficiente para que se entenda que a relutância em buscar novos
patamares por meio de novas tecnologias, insistindo nos antigos moldes, sem
reciclagem à luz dos novos conhecimentos, pode significar, paradoxalmente,
no aumento de riscos à saúde humana e ambiente, quando pretensamente
se pretende minimizá-los.
A sustentabilidade dos sistemas é uma necessidade tanto dos países
pobres, quanto ricos (KOGAN, 2002). A Sociedade Americana de Agronomia
define agricultura sustentável como aquela agricultura que é capaz de
melhorar em longo prazo a qualidade do ambiente e das bases nas quais se
assenta, atendendo às demandas dos agricultores e da sociedade em geral,
tanto pelos aspectos econômicos, quanto sociais.
Não há sustentabilidade em um sistema de produção que não seja
economicamente viável, mas a médio e longo prazo poderá deixar de sê-lo se
Escherichia coli
Staphylococcus aureus
9 EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
98 |
não for ecologicamente sustentável, o que demonstra que ambos os fatores
devem caminhar conjuntamente (MOSCARDINI, 2003). É neste ponto
exatamente que os defensores e ideólogos da agricultura orgânica entram
em sérias contradições, ora exaltando, ora criticando o crescimento dessas
agriculturas ditas alternativas, talvez desnudando suas utopias, quando
postas em prática.
Gliessman (2003) considera que a agricultura moderna perdeu a
sustentabilidade pela alta dependência de combustíveis do petróleo e
insumos externos. A engenharia genética, como fator de solução, é
descartada , quando a biotecnologia tem potencial para diminuir esta
dependência por combustíveis e insumos. A resistência de plantas a pragas,
adaptadas a solos ácidos e a solos pobres, proporcionam uma dupla
economia: em combustível, por tornarem desnecessário o uso de máquinas
para a aplicação dos insumos, e nos próprios insumos. Plantas mais
adaptadas a situações de estresses hídricos ou mesmo aquelas, como o arroz
irrigado, com consumo muito elevado de água, substituído por arroz do
sequeiro com produtividade similar, significam economia de energia e de
água. Plantas adaptadas a solos encharcados, solos salinos, ao calor, ao frio,
enfim, plantas modificadas geneticamente para que o ambiente permaneça
intacto cabem perfeitamente e deverão ser os principais fatores de
contribuição com a agricultura sustentável.
Altieri e Nichols (2003) chegam a surpreender quando reconhecem
que a demanda por produtos orgânicos continua crescendo, mas parece
estar confinada às camadas mais ricas das populações, especialmente nos
países industrializados, e à medida que o Terceiro Mundo entra no mercado,
a produção se destina à exportação e a sua comercialização e distribuição
passa a ser feita pelas mesmas corporações multinacionais que dominam o
mercado convencional. Grandes produtores ou corporações estão
substituindo pequenos produtores orgânicos, consolidando poder e riqueza
no topo da pirâmide, oposto às metas originais do movimento orgânico. E
mais:
a priori
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 99
A substituição de insumos claramente perdeu o potencial desustentabilidade e o uso intensivo de insumos externos é o alvoprincipal dos detratores da produção orgânica, que a acusamde promover a resistência de insetos pelas contínuaspulverizações com Bt, de contaminar o solo e a água comsulfato de cobre e de eliminar os insetos benéficos comrotenona e outros inseticidas biológicos não seletivos (ALTIERIe Nichols, 2003, p. 141).
As queixas de Altieri e Nichols (2003) são bastante sintomáticas,
demonstrando que começam a cair por terra certos dogmas e equívocos,
principalmente da agricultura orgânica... Canuto (2003) faz comentários
semelhantes, quando afirma que, sob o prisma socioeconômico, a
agricultura ecológica de mercado tende a provocar um processo de exclusão
dos agricultores mais pobres, e os consumidores das camadas mais
populares seguem o mesmo caminho, pelos preços diferenciados que os
afastam do consumo dos produtos ecológicos. Este autor conclui, dizendo
que a pesquisa pode contribuir para superar alguns problemas, procurando
afastar do reducionismo em que estão hoje as agriculturas ecológicas de
mercado e avança, sugerindo que a agricultura intensiva (convencional) pode
ser um importante manancial para a proposição de novos sistemas.
A solução aos entraves da agricultura orgânica, segundo Altieri e
Nichols (2003), é que o movimento orgânico estabeleça estratégias com
produtores, consumidores e trabalhadores de todo o mundo, assim como
com grupos antiglobalização, a fim de expandir a agricultura orgânica
convencional e preservar seus verdadeiros objetivos. Dentro da própria
proposta desses autores está a inviabilidade ou utopia da mesma sugestão,
quando aponta contra a globalização e, ao mesmo tempo, propõe alianças de
trabalhadores, consumidores e produtores de todo mundo, como se isto
fosse possível sem a integração comercial entre nações.
Segundo Kitamura (2003), o rumo em direção à sustentabilidade da
agricultura indica caminhos aparentemente distintos, mas que se
complementam. A busca a adoção deagricultura convencional intensiva
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
100 |
variedades mais adaptadas a condições de estresses bióticos e abióticos
(resistência ou tolerância a pragas e moléstias e adaptadas a condições
ambientais específicas). Também objetiva práticas como o manejo integrado
de pragas, sistema de plantio direto e fixação biológica de nitrogênio, que
são perfeitamente integráveis na (e outros sistemas
agroecológicos). O referido autor conclui dizendo que, certamente, os
organismos geneticamente modificados possuem um imenso potencial no
futuro da agricultura brasileira.
Um conjunto de tecnologias da agricultura intensiva que merece
destaque em direção à sustentabilidade é o manejo integrado de pragas
(MIP) e, dentro deste, o controle biológico, além de outras técnicas
importantes como a rotação de culturas, manejo de populações de inimigos
naturais, barreiras físicas, uso de armadilhas com feromônios, aplicação de
inseticidas fisiológicos ou mesmo outros mais seletivos. Certamente tais
técnicas reduzem a quantidade de agrotóxicos utilizados, diminuindo os
seus impactos ambientais (KITAMURA, 2003). Em regiões onde tais práticas
são adotadas com relativa freqüência e intensidade, já é visível o
reaparecimento de pássaros e algumas espécies de animais silvestres, antes
vistos raramente.
Para ilustrar a importância das práticas modernas na agricultura, já
foram detectados, no Rio Grande do Sul, pelos produtores e técnicos,
diversos benefícios oriundos do plantio da soja transgênica resistente ao
herbicida glifosato. Mesmo sendo uma tecnologia de primeira geração da
engenharia genética, a utilização de um herbicida dos menos tóxicos e
menos agressivos ao ambiente, parece já ter seus efeitos positivos na flora e
fauna. Outra constatação interessante, segundo os técnicos da região, tem
sido em relação aos cultivos subseqüentes à soja transgênica, como o trigo,
que, sem os problemas advindos dos resíduos de herbicidas dos cultivos
anteriores, tem mostrado uma relativa melhor , já que o
glifosato praticamente não deixa resíduos de uma cultura para outra.
agricultura orgânica
performance
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 101
As variedades transgênicas, adaptadas ao frio, à seca, a solos
encharcados, a solos ácidos, a solos salinos, a solos pobres e outros estresses
abióticos, são altamente condizentes com as metas da sustentabilidade. As
variedades resistentes ou tolerantes a pragas e moléstias (estresses
bióticos), em substituição ao uso de agrotóxicos, complementam o objetivo
principal da biotecnologia moderna que é o de inverter o sentido da
orientação dada até agora pela agricultura convencional. Se na agricultura
convencional a proposta posta em prática foi a de adequar (modificar) o
ambiente às necessidades das plantas cultivadas, a engenharia genética se
propõe a modificar as plantas para manter o ambiente intacto. Como no dito
popular, esta proposta “casa como uma luva” com os anseios das agriculturas
ditas agroecológicas.
De acordo com Kitamura (2003), a agricultura orgânica mundial vem
apresentando um crescimento significativo nos últimos anos, alcançando,
em 2003, cerca de 23 milhões de hectares, tendo como mercados mais
importantes os EUA, a Europa e o Japão, em razão, principalmente, dos
preços superiores obtidos pelos produtores rurais diante de uma demanda
crescente.
Para que se tenha uma idéia da aceitação dos cultivos transgênicos,
bem mais recentes que os cultivos orgânicos, os OGMs já alcançaram no
mundo uma área de mais de 70 milhões de hectares, nestes poucos anos da
chegada dos transgênicos na agricultura, apesar da resistência imposta por
algumas organizações ambientalistas extremistas. Inversamente, os
produtos transgênicos são mais baratos, inclusive do que os convencionais,
e, sendo mais baratos, são mais competitivos. Além de conterem aspectos
10 UM NOVO PARADIGMA ECOLÓGICO COMEÇA A NASCER
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
102 |
importantes relativos à sustentabilidade, esses produtos são socialmente
mais efetivos, como instrumentos de melhor distribuição dos alimentos e,
por conseqüência, de renda. A adoção das plantas transgênicas pela
agricultura orgânica (e outras) desataria o grande nó que não lhe permite
visualizar um horizonte que vá mais além dos pequenos nichos de mercado:
a falta de variedades adaptadas e os altos preços que beneficiam apenas
uma camada privilegiada da população, tornando a agricultura orgânica
altamente elitista.
Assim, os desafios para a agricultura orgânica no momento são dois
(KITAMURA, 2003): o de tornar-se um sistema expressivo em termos de
participação no mercado (não representa hoje mais do que 1% do mercado
mundial) e o de vir a ser referência concreta em termos de sustentabilidade e
de estratégia de inclusão social.
O novo paradigma que os agroecologistas propõem só será possível
depois que seus adeptos e defensores abandonarem os argumentos
dogmáticos e se convencerem que o resgate de processos antigos só é viável
se for feito sob novos patamares, à luz dos novos conhecimentos e novas
tecnologias, como a engenharia genética e outras técnicas novas em adoção
na agricultura convencional intensiva. Só assim será possível livrar-se do
movimento giratório repetitivo, como o de um carro atolado, e partir para
um movimento giratório recursivo, que faz avançar o carro, como a imagem
que Maturana (2001) muito bem construiu.
O sentido original de “paradigma”, como formulado por Thomas Kunh
(1962 apud GOMES, (2003), foi e ainda continua de certa forma sendo
aplicado ao estudo da evolução das ciências. Segundo esse conceito, o
processo de mudança afeta a estrutura da comunidade científica,
implicando no desaparecimento gradual de um dos grupos em confronto,
pela “conversão” de alguns de seus grupos ao novo paradigma. Dois
paradigmas diferentes não poderiam ser comparáveis entre si e, por isso,
não há como pesquisadores de distintas propostas entrarem em acordo.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 103
Dessa forma, a comunicação só seria possível pela reconversão de um dos
grupos. Provavelmente esse tipo de abordagem ainda seja feito por alguns
grupos ambientalistas extremistas que não só não aceitam o diálogo com
defensores de outros paradigmas, como também consideram imutável seu
paradigma.
Boaventura de Souza Santos (1995 apud GOMES, 2003) considera que
é possível superar as contradições entre paradigmas diferentes por meio da
articulação do pensamento de Kuhn em relação ao de Marx.
No período de transição paradigmática, o “velho” ainda existe e o
“novo” ainda não está formado; por isso o paradigma ecológico não pode
pretender ser o único, mas deve ser essencialmente pluralista, abdicando de
qualquer tipo de exclusivismo e hegemonia, para manter relações de
coexistência com outros paradigmas (GOMES, 2003). Essa posição é
compartilhada por vários pesquisadores que defendem o paradigma
ecológico, o que remete à possibilidade de que haja um entendimento para a
construção de um novo paradigma, seja qual for.
Embora em longo prazo se possa antever novas configurações,
apontando para a filosofia da agricultura orgânica e suas variantes, visualiza-
se, de imediato, a convivência das duas tendências (agricultura intensiva e
orgânica), com benefícios mútuos (KITAMURA, 2003), com a incorporação de
um sistema no outro, resultando numa contínua revolução rumo à
sustentabilidade da agropecuária. Isso tudo sem considerar ainda o papel
decisivo que os transgênicos podem ter no futuro.
Canuto (2003) considera que agricultura indígena tem contribuído
com uma série de formas de gestão de recursos e desenvolvimentos técnicos
por meio da história, dentro de um processo de co-evolução entre o homem e
a natureza, demonstrando seu potencial para a sustentabilidade... Por que
isto não estaria ocorrendo com a agricultura intensiva atualmente? Afinal, a
agricultura “indígena” ou primitiva foi muito mais revolucionária, rompendo
com tradições de milhões de anos de nomadismo. Esse autor sugere ainda o
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
104 |
resgate do material genético, a recuperação do conhecimento de gestão,
além dos insumos e equipamentos desenvolvidos em épocas de escassez
pela agricultura familiar anterior à agricultura intensiva para a proposição de
novos sistemas. O autor propõe ao mesmo tempo a conciliação com a
agricultura convencional, que vem gerando conhecimentos muito
importantes para a transição ecológica, e complementa afirmando que a
negação este manancial de desenvolvimentos científicos é uma perspectiva
ecológica falsa e preconceituosa.
Parece evidente que grupos oriundos da agricultura convencional ou
intensiva e das chamadas agriculturas alternativas, com visão científica e
livre de preconceitos e dogmas, estão realizando um processo de
conciliação, vislumbrando uma nova proposta na construção de um novo
paradigma ecológico: a ou simplesmente uma
agricultura cada vez mais avançada tecnologicamente, sem adjetivos.
Como se sabe, pela Segunda Lei da Termodinâmica, o Universo tende
à desordem, de maneira a transformar ou reduzir as substâncias complexas
em substâncias mais simples. A vida, portanto, não é propriamente uma
contraposição a essa Lei, mas o resultado da tentativa de superá-la. Não
fosse isso, a própria Lei tenderia à “inutilidade”. No momento em que se
formam substâncias mais complexas, “reaviva-se” a Segunda Lei da
Termodinâmica e, ao mesmo tempo, a compreensão dos processos de
simplificação, degradação ou desordem proporcionam novas armas para a
preservação e construção de novas complexidades. Só com o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia será possível pensar, em tese,
em estabelecer sistemas auto-sustentáveis, em que os subprodutos das
agroecologia científica
11 A SUSTENTABILIDADE COMO TENDÊNCIA
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 105
reações façam parte de uma programação para aproveitamento em outras
reações, de forma que, no conjunto, não haja perdas. Ou seja, que as reações
que visem à desordem sejam utilizadas para compor novas ordens. Seria
teoricamente trabalhar em perfeita consonância com a referida Lei.
Comparando, seria como o princípio do “carneiro-hidráulico”, utilizado ainda
no meio rural para levar água de um lugar para outro mais alto, aproveitando
a força da corrente d’água de um córrego ou olho-d’água.
Seria essa a tendência da Humanidade? A sustentabilidade? Parece
evidente que sim.
Desde os primórdios parece que sempre foi essa a tendência.
Aproveitar os restos de culturas, os detritos de animais e outros é a primeira
evidência de que os seres humanos, se têm como muitos dizem, instinto
destrutivo, possuem também um forte instinto construtivo ou
conservacionista. E o que se tem observado ao longo da história da
Humanidade é que mais e mais se tem buscado formas de reutilização, cada
vez mais avançadas, que se convencionou chamar de reciclagem. Assim,
teoricamente, diz-se que um sistema é auto-sustentável quando não há
subprodutos de reações, mas produtos preliminarmente programados para
serem utilizados. Dessa forma, pode-se dizer que, quando todos os produtos
utilizados pelo homem no dia-a-dia puderem ser reciclados, não haverá mais
poluição.
Não é preciso se aprofundar muito para demonstrar que o Homem,
quanto mais tem avançado, menos poluidor ( ) tem sido, ao
contrário do que a grande maioria desavisada tende a imaginar. Quanta
energia se gastava para aquecer um pouco d’água a partir de uma fogueira a
céu aberto! A invenção do fogão à lenha foi um grande avanço, só superada
mais tarde pela do fogão a gás. O forno de microondas é mais um
aprimoramento na busca incessante por mais economia. Caso se fosse, hoje,
preparar os alimentos da forma primitiva, haveria madeira suficiente apenas
para alguns dias e o ambiente não resistiria a tamanho impacto.
per capita
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
106 |
Pode parecer um paradoxo, mas é exatamente o uso da energia
nuclear, com o desenvolvimento da fusão nuclear, que não deixa lixo atômico
(como acontece com a fissão nuclear), sendo, portanto, completamente
limpa, que fará com que a humanidade dê um novo e imenso passo em busca
da sustentabilidade. Mas isso só será possível se aliada a tecnologias, como a
engenharia genética, à informática e outras, que estão cada vez mais
interligadas e interdependentes, como tudo na natureza.
Cabe observar que é nas sociedades mais avançadas que o princípio
da sustentabilidade tem sido mais discutido e onde é mais aplicável pelas
tecnologias disponíveis. Ressalte-se que a forma mais grave de poluição
ambiental ainda deve-se à falta de esgotos sanitários ou, quando existem, à
falta de tratamento de esgotos, uma tecnologia simples, mas que, nos países
do Terceiro Mundo, é muito pouco utilizada. Por outro lado, tanto nos países
emergentes, quanto nos de Primeiro Mundo, as tecnologias disponíveis para
controlar a contaminação ambiental estão longe de ser plenamente
utilizadas, por fatores que envolvem aspectos socioeconômicos.
Entretanto, afirmar que a poluição tem aumentado com o advento das
modernas tecnologias, além de não ser verdadeiro, é de uma
irresponsabilidade muito perigosa, pois ao invés de defender a preservação
e recuperação ambiental, contribui para uma devastação ainda maior,
principalmente no Terceiro Mundo, para o qual a política dos países
desenvolvidos tem sido sempre a de tentar barrar a pesquisa científica em
áreas consideradas estratégicas.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 107
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da humanidade, como a do próprio Universo, tem sido uma
interminável sucessão de causa e efeito. Desde a primeira invenção do
homem (provavelmente um pedaço de madeira, osso ou pedra para se
defender), a partir de alguma descoberta científica (observando corpos se
chocarem), a ciência vem proporcionando conhecimentos para o
desenvolvimento de tecnologias, que, por sua vez, tornam-se ferramentas
fundamentais para as novas descobertas. Como exemplos, citam-se as
descobertas no campo da Física, que proporcionaram a invenção do
microscópio, cuja utilização revolucionou o campo da Biologia. Essas
sucessivas interações e a interdependência capaz de fazer abranger vastos
campos científicos têm sido mais visíveis nos dias de hoje, o que,
provavelmente, é a razão principal do aumento da velocidade do avanço
científico e tecnológico.
Como os resultados futuros dependem dos conhecimentos e
instrumentos atuais, é fundamental que não haja solução de continuidade,
ou seja, há que se construir uma nova sociedade, se for o caso, sobre as bases
da antiga. Destruir o velho significará inviabilizar o novo.
Problemas na velha sociedade sempre existiram. A nova sociedade,
resultante da antiga, não estará certamente isenta de equívocos. Há que se
ter em mente que uma nova tecnologia que surge sempre vem
acompanhada, além dos benefícios, de novos riscos, o que tem sido motivo,
ao longo da história, da resistência às mudanças. Basta olhar para trás para
ver que sempre que o homem soluciona um problema, há forçosamente a
geração de um novo problema, mas sempre de menor intensidade. Não fosse
isso, não seríamos hoje mais de seis bilhões de seres e com melhores
condições de vida que nossos ascendentes.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
108 |
Sem os agrotóxicos, a poluição seria bem maior, pois usando área de
terras três vezes maior para produzir a mesma quantidade de alimentos de
hoje, destruiríamos em poucos meses a Terra. Ou teríamos que fazer
diminuir drasticamente a população...
Tão logo a contaminação por agrotóxicos foi detectada e houve ação
por parte da sociedade, exigindo mudanças, novos produtos de menor
impacto surgiram, como comprova, de forma inquestionável, a ampla
literatura mundial a respeito. Indo mais além, novas alternativas de controle
de insetos-praga e moléstias, como o controle biológico, métodos físicos e
tantos outros continuam surgindo para minimizar ainda mais o impacto
resultante da proteção dos cultivos. Dentre esses, com muita força,
prometendo serem decisivos, aparecem os produtos da engenharia
genética, capazes de desbancar definitivamente os agrotóxicos do rol dos
contaminadores do ambiente. Inúmeros são os trabalhos científicos
disponíveis que podem levar a essa conclusão. Entretanto, como
subdesenvolvidos que são os brasileiros, têm que lutar por uma melhor
utilização dos agrotóxicos, tanto no que tange a sua aplicação, como no que
se refere à escolha de produtos menos tóxicos e menos agressivos ao meio
ambiente, já disponíveis no mercado, mas ainda pouco utilizados no Brasil.
Assim, a constatação mais recente do grave problema da
contaminação ambiental, com possibilidades de biomagnificação, em razão
do lançamento dos denominados Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) e
metais pesados no ambiente, por parte da nova indústria, tem que ser
analisado sob o ponto de vista de que se está diante de mais um obstáculo,
que pode ser ultrapassado, mas que depende única e exclusivamente da
participação da sociedade, exigindo e cobrando das autoridades, como tem
sido feito com os agrotóxicos.
Ao mesmo tempo, há que se considerar que a primeira forma de
poluição ambiental (por fezes), além de ser ainda uma das mais importantes,
pode desencadear outros processos, que podem levar inclusive à
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 109
biomagnificação de metais pesados, pela necessidade de tratamento
químico de mananciais de água. No entanto, o controle desse tipo de
poluição ambiental é extremamente fácil, sob o ponto de vista técnico, mas
são determinadas condições sociais que impedem a elaboração e
implementação de projetos.
Trabalhos recentes têm demonstrado que, apesar de preocupantes
em alguns casos, os níveis de contaminação e biomagnificação encontrados
nos diversos ecossistemas brasileiros, apesar do relativo descaso das
autoridades, estão aquém do esperado. Provavelmente isso se deva à grande
extensão territorial do Brasil e ao seu relativo baixo índice de industrialização,
o que, na verdade, não é nenhum motivo para comemoração.
Condições técnico-científicas existem, não só para evitar, como para
recuperar o ambiente, pois os conhecimentos que geram tecnologias que
poluem são os mesmos utilizados para gerar tecnologias despoluidoras.
Assim, pode-se concluir que o principal entrave para o controle adequado da
contaminação ambiental reside nas questões de ordem político-sócio-
econômicas.
Para que se alcancem tais objetivos e metas, entretanto, há
necessidade de que as diversas correntes, aparentemente contraditórias e
com posturas antagônicas, compreendam que cada uma, separadamente,
não contempla todos os aspectos necessários à solução, mas que são partes
desta e que somente pelo somatório e integração de todas as propostas é que
se poderá estabelecer um rumo a seguir.
Parte I: Contaminação ambiental e soluções disponíveis
110 | | 101
1 INTRODUÇÃO
Há vários anos existe um consenso entre os melhoristas de que a
variabilidade genética dentro da espécie não é mais suficiente para
proporcionar ganhos genéticos significativos, relativamente aos caracteres
mais importantes. Brasileiro e Carneiro (1998) definem a situação como de
redução do gênico para grande parte das espécies vegetais
domesticadas. Isso significa, para efeitos práticos, que sem a transferência de
genes entre espécies, o melhoramento genético vegetal seria muito
brevemente inviável.
Dentre os caracteres mais importantes, a resistência genética a pragas
(ervas daninhas, insetos, ácaros, nematóides, fungos, bactérias e vírus,
principalmente) têm uma importância fundamental, já que os agrotóxicos
têm sido considerados um dos grandes vilões da contaminação ambiental,
apesar do surgimento, nos últimos anos, de moléculas menos tóxicas e
menos agressivas ao ambiente.
O problema crucial resulta de que a velocidade de elaboração de
moléculas eficientes tem sido menor do que a velocidade com que as pragas
pool
PARTE Ii
RESISTÊNCIA E MECANISMOS DE
DEFESA DAS PLANTAS COMO OPÇÃO
AO USO DE AGROTÓXICOS:
PERSPECTIVAS POR MEIO DA
ENGENHARIA GENÉTICA
| 111
têm se adaptado, por meio do desenvolvimento da resistência genética aos
produtos químicos (VENDRAMIM e CASTIGLIONI, 2000). Paralelamente, o
esgotamento das fontes de resistência tem agravado o problema. A
resistência genética, em maior ou menor grau, é fator de complementação no
manejo integrado de pragas (SACHS et al., 1996) e, sem ela, as dificuldades
em diminuir a quantidade de agrotóxico nas culturas são maiores.
O maior obstáculo que o melhoramento genético enfrenta refere-se ao
caráter de resistência a insetos, pela falta de fontes dentro da espécie. Para
agravar ainda mais a situação, além do esgotamento do potencial do
melhoramento genético convencional (via reprodução sexual), está havendo
um decréscimo na concretização de objetivos, de tal forma que as
dificuldades em selecionar plantas resistentes a insetos-praga são somadas à
resistência cada vez maior destas aos agrotóxicos (TABASHNIK, 1997).
Não resta dúvida de que o grande desafio atual do melhoramento
genético e da engenharia genética está no desenvolvimento de plantas
resistentes a pragas herbívoras (insetos, ácaros, nematóides) e moléstias
(fungos, bactérias, vírus), principalmente em relação às primeiras, já que,
principalmente, os insetos têm causado os maiores prejuízos (ALLARD, 1960;
DAHMS, 1967; ELLIOT, 1967; BREWBACKER, 1969) e os inseticidas são
normalmente os mais tóxicos aos seres vivos e mais agressivos ao ambiente,
dentre os defensivos agrícolas.
Por outro lado, praticamente inexistem fontes de resistência a
bactérias e vírus dentro da espécie (e muitas vezes nem fora da espécie), cada
vez mais ganhando em importância como fatores limitantes do rendimento
em diversas culturas. Nesses casos a solução via engenharia genética é o
único caminho, já que nem mesmo existem produtos químicos eficientes,
principalmente para o controle de vírus. Na maioria das vezes, a estratégia vai
bem além da simples transferência de genes. Se, nesses casos, a construção
da resistência é bem mais difícil, a inexistência de soluções, via aplicação de
defensivos agrícolas, significa também que o ambiente não está sendo
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
112 |
ameaçado pelos agrotóxicos. Assim, esses aspectos não serão tratados aqui,
dando-se preferência a situações em que haja potencial de substituição ou
diminuição do uso de agrotóxicos, principalmente inseticidas, fungicidas e
até mesmo herbicidas. Entretanto, não se pode perder de vista que o avanço
das moléstias bacterianas e das viroses, ameaçando inclusive diversos
cultivos, tornando-os inviáveis economicamente, pode significar o aumento
da área cultivada com lavouras altamente poluidoras se restar, como opção
principal, o desenvolvimento de produtos químicos (agrotóxicos) para seu
controle.
A biotecnologia, em especial a engenharia genética, constitui-se na
ferramenta básica para a transferência de genes de resistência genética de
uma espécie vegetal para outra ou mesmo de um microorganismo ou animal
(BRASILEIRO e DUSI, 1999). Além dos já conhecidos genes de resistência a
insetos utilizados atualmente, ganham importância estudos de plantas com
características inseticidas ou insetistáticas (VENDRAMIN e CASTIGLIONI,
2000), repelentes e mesmo atraentes, que podem significar novos genes a
serem utilizados no melhoramento genético para resistência. Uma vez
transferido para uma espécie, um gene pode ser trabalhado como fonte de
resistência comum, podendo, muitas vezes, ser transferido a outros
cultivares, via reprodução sexual, em programas convencionais de
melhoramento genético.
Apesar de o melhoramento genético para resistência a insetos, via
reprodução sexual, ser relativamente recente, chega a ser surpreendente
que, na literatura, já se comente, há algum tempo, sobre o esgotamento da
variabilidade genética. Provavelmente isso se explique pela assertiva de
2 A ENGENHARIA GENÉTICA COMO PROPOSTA ALTERNATIVA
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 113
Elliot (1967), que credita pouca importância à influência do homem na
distribuição das plantas e pela própria seleção natural que,
independentemente do homem, tem utilizado a variabilidade genética nas
interações entre hospedeiro e consumidor (ou patógeno), restando pouco a
fazer pelos geneticistas, em termos de transferência de resistência dentro da
espécie. Certamente que isso poderia ser afirmado em relação à resistência a
fungos, bactérias e vírus.
O esgotamento da variabilidade genética ou até mesmo as
dificuldades de encontrar fontes de resistência a insetos já vem de longe
(DAHMS, 1967), o que, somado ao fato de que os insetos têm provocado as
maiores perdas nas culturas, não surpreende o grande avanço na indústria de
produtos químicos destinado ao controle dos insetos. A ciência tem
respondido com uma série de alternativas, que vão desde a busca de fontes
de resistência, seja oligogênica, poligênica ou mesmo pela criação de
variabilidade genética por meio dos mais variados métodos (FRANKEL, 1977),
inclusive por indução de mutações. Atualmente a resposta por parte da
ciência vem, particularmente, por meio da engenharia genética.
A resistência transferida de uma espécie para outra, via engenharia
genética, dificulta mais a adaptação do parasita à planta, mas não por muito
tempo (TABASHNIK, 1997). Portanto, a busca constante por fontes de
resistência continuará sendo uma necessidade do melhoramento genético,
mas, pelo menos, toda a diversidade genética do planeta estará à disposição
dos melhoristas.
Em todas as situações, seja visando à transferência de genes entre
espécies (engenharia genética), seja vislumbrando a sintetização de novas
moléculas inseticidas ou fungicidas, tendo como objetivo básico o estudo de
“plantas inseticidas” ou “plantas fungicidas”, há a fundamental necessidade
de se aprofundar o conhecimento das bases bioquímicas da resistência.
As plantas “sabem” diferenciar um ferimento mecânico do ferimento
causado por um inseto. Mais ainda, conseguem identificar o próprio inseto
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
114 |
consumidor e outros, respondendo diferentemente em função das
secreções orais e dos componentes da regurgitação, altamente específicos
(MAFFEI et al., 2004).
As evidências experimentais sugerem a existência de algo como
“mensageiros químicos” nas plantas, que atuam pelo menos como “agentes
duplos”, isto é, atraem certas espécies de inimigos naturais quando atacadas
e repelem outras. A hipótese da existência de um código submolecular
sugere que a interação entre a planta e o inseto e entre si e o próprio
ambiente trás, como resultante, uma relação de aceitação (cairomônica) ou
de repulsão (alomônica). Assim, a transferência interespecífica de genes
tende a resolver, com maior eficiência, os problemas de resistência a insetos,
pela maior estabilidade da defesa química proveniente da engenharia
genética (NORRIS e KOGAN, 1984).
Quando uma planta resistente (gene R) é infectada por um patógeno,
tem inicio uma série de mecanismos de defesa bioquímicos e estruturais,
incluindo a produção de fitoalexinas e proteínas relacionadas à patogênese
(PR), maior rigidez da parede celular, apoptose (hipersensibilidade) e
resistência sistêmica adquirida (DANGL e JONES, 2001). Da mesma forma
que nas plantas resistentes, as suscetíveis, mesmo não possuindo o gene R,
também apresentam aumentos nos níveis de ácido salicílico, ácido
jasmônico, auxina e etileno (O’DONNELL et al. 2001; O’DONNELL et al. 2003).
Em resposta ao ataque de patógenos e a ferimentos causados por
herbívoros, as plantas respondem com a produção de metabólitos
secundários de defesa de baixo peso molecular, como etileno, ácido
jasmônico, ácido salicílico, óxido nítrico, poliaminas e reação oxidativa (ROS),
que induzem à expressão de diversos genes. Esses genes codificam
compostos de defesa, como as proteínas relacionadas à patogênese (PR),
envolvidas na resistência a moléstias e cicatrização de ferimentos (CUI et al.,
2002; SEO et al., 2003; YOSHIOKA et al., 2003). Dessa forma, como reação a
estresses bióticos e abióticos, as plantas respondem produzindo metabólitos
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 115
secundários com potencial inseticida, nematicida, fungicida, bactericida e
outros, inclusive relacionados à fisiologia da própria planta, como
fitormônios que interferem no seu crescimento e desenvolvimento (KUS et
al., 2002). A amplitude dessas respostas ao ataque de pragas em geral vai
desde a formação de barreiras mecânicas e químicas na epiderme e, numa
segunda etapa, até o funcionamento de uma bateria de defesa interna,
envolvendo interações relativamente conhecidas como as gene-específicas e
outros processos múltiplos relativamente menos específicos e pouco
conhecidos ainda (DANGL e JONES, 2001).
Na resistência sistêmica adquirida (SAR), a inoculação de uma folha
provoca a resistência de hipersensibilidade local, seguida da geração de um
sistema de sinais que levam à transdução da resposta de resistência a outras
partes da planta, prevenindo o organismo para futuras infecções (MALECKA
et al., 2002; YOSHIOKA et al., 2003). A SAR é induzida como resposta da planta
à infecção por um patógeno necrogênico e pela própria resposta de
hipersensibilidade (MALECKA et al., 2002). Na planta induzida, a SAR
promove a proteção não só contra o patógeno indutor, mas também contra
muitos outros microorganismos não-correlacionados (LAWTON et al., 1995)
e até mesmo contra insetos (CUI et al., 2002).
O desenvolvimento de plantas que expressam a SAR
constitutivamente já é plenamente viável, com os avanços no conhecimento
de seus mecanismos (SUSUKI et al., 2004). Por exemplo, dois genes
bacterianos que convertem chorismate em ácido salicílico foram transferidos
para os cloroplastos de tabaco, promovendo um aumento no acúmulo de
ácido salicílico de 500 a 1.000 vezes em comparação com o controle
(VERBENE et al., 2000), conferindo resistência a diversas infecções virais e
fúngicas.
Observa-se, portanto, que tanto os compostos derivados das plantas,
produzidos constitutivamente, quanto os ativados pela expressão de genes
induzidos por estresses bióticos e abióticos, são importantes para a
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
116 |
identificação de novas moléculas bioativas e genes a elas relacionados.
Tanto é possível objetivar a inserção de um gene de expressão constitutiva
numa espécie vegetal de interesse econômico, quanto de expressão ativada,
bem como ainda transferir genes de ação indireta (constitutiva ou não) que
venham a interferir na regulação de outros genes de defesa. Dessa forma,
além da imensa relação de plantas promissoras, como fontes de genes de
resistência a pragas (ervas daninhas, insetos, ácaros, nematóides, fungos,
bactérias, vírus e outras), há ainda aquelas espécies (incluindo-se as plantas
domesticadas) que só produzem metabólitos de defesa imediatamente após
a ocorrência do estresse. Em biotestes com extratos vegetais, portanto, é
preciso levar em conta essas condições, procurando trabalhar em separado
com plantas intactas, plantas atacadas e com simulação de ataque, mesmo
que, via de regra, as plantas tenham a capacidade de diferenciar ferimentos
mecânicos de lesões causadas por organismos vivos (MAFFEI et al., 2004).
Entretanto, é preciso levar em consideração que os resultados finais
vão depender das complexas interações entre fitormônios, principalmente
etileno, ácido jasmônico e ácido salicílico, especialmente no caso da
resistência ativada somente após o ataque do patógeno ou do inseto, por
exemplo. Dependendo do patógeno ou do inseto, bem como do genótipo da
planta e das relações epistáticas entre os genes envolvidos na resistência,
pode haver sinergismo ou antagonismo nas respostas aos agentes bióticos
invasores.
É bastante interessante que o principal grupo de inseticidas hoje
conhecidos tenha sido originado não de um laboratório, mas da bactéria
(Bt), encontrada com muita freqüência no solo.
3 O GENE BT
Bacillus thuringiensis
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 117
Numerosas são as linhagens de Bt que produzem, cada uma, toxinas letais
específicas para certos insetos, mas que têm pouquíssimo ou nenhum efeito
deletério para a maioria dos organismos, inclusive humano, vida selvagem e
mesmo para alguns insetos (SACHS et al., 1996; TABASHNIK, 1997).
A engenharia genética tem criado cultivares transgênicos para várias
culturas, expressando toxinas Bt (XU et al., 1996), reduzindo a quantidade de
aplicações de inseticidas convencionais e proporcionando a possibilidade de
se aumentar a produção de alimentos, com enorme contribuição à
preservação e recuperação ambiental (TABASHNIK, 1997).
Apesar de altamente eficiente e recomendável sob o ponto de vista
ambiental, o sistema Bt não está imune ao desenvolvimento de resistência
por parte dos insetos-praga (SACHS et al., 1996; TABASHNIK, 1997). Esperava-
se que, por ser usado comercialmente há várias décadas, sem que surgisse
resistência, a evolução da resistência ao Bt seria muito pouco provável
(TABASHNIK, 1997), mas, já no início da década de 1990, era documentado o
que já se previa em laboratório: a suspeita de que a seleção para resistência
ao Bt estava ocorrendo em diversas pragas. Dentre as formas de prevenir a
adaptação relativamente precoce das populações de insetos às proteínas
CryIA de Bt, a combinação de dois ou mais caracteres de resistência, na
mesma planta, parece ser eficiente, no sentido de aumentar a durabilidade e
tornar mais eficiente a resistência da própria planta, pelo efeito piramidal da
interação entre os componentes (SACHS et al., 1996).
A descoberta do subsp. Israelensis (Bti), de ampla
ação, criou expectativas imensas na prospecção e no melhoramento,
inclusive de agentes entomopatogênicos (COSTA, 2001a).
A contribuição do gene Bt, na verdade, tem ido além das expectativas
iniciais. Além da possibilidade de controle de diversas pragas em diversas
culturas e da ampliação para um número maior de cultivos agrícolas e outras
espécies de insetos, por meio de modificações da proteína de Bt, a eficiência
do controle nos estádios inicias de lagartas tem sido fator importante na
B. thuringiensis
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
118 |
menor predisposição da planta ao ataque de moléstias. Um exemplo disso
são os níveis de micotoxinas nos híbridos de milho Bt, comprovadamente
menores do que os encontrados nos milhos convencionais (HAMMOND et
al., 2004; WILLIAMS et al., 2005)). O controle da praga, já no primeiro ínstar,
evita que a presença de ferimentos seja porta de entrada para fungos
produtores das referidas toxinas. Provavelmente essa proteção seja também
significativamente eficiente contra outros fungos patogênicos e, inclusive,
contra bactérias.
Entretanto, não resta a menor dúvida de que novos genes de
resistência devem ser buscados, não só pelo aspecto de prevenção do
desenvolvimento de resistência pela combinação de caracteres de
resistência, como também porque haverá a necessidade de cobrir um
número maior de pragas para um mesmo cultivar, sem o qual, pulverizações
com agrotóxicos deverão continuar.
Toda planta verde possui certa resistência contra alguns herbívoros e
esta resistência, em seu sentido amplo, vai desde os mecanismos de escape
temporal, resultantes de assincronismos fenológicos, até à biossíntese de
moléculas complexas laterais, os chamados metabólitos secundários
(NORRIS e KOGAN, 1984). Essa resistência deve ser bastante comum na
natureza (BREWBACKER, 1969), pois a maioria dos insetos morre se tiver que
ficar sobre plantas que não lhe sejam específicas. Como as plantas não
podem se mover para evitar o perigo, desenvolveram mecanismos especiais
de defesa, dentre eles, a produção de metabólitos secundários,
provavelmente a mais importante estratégia de defesa das plantas
4 GENES RELACIONADOS AOS MECANISMOS DE DEFESA DAS
PLANTAS
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 119
(KINGSTON et al., 2000; WEDGE e CAMPER, 2000).
Insetos usam enzimas proteolíticas ou hidrolíticas na digestão dos
alimentos. Assim, inibidores para -amilase e proteinases derivados de
plantas têm interesse particular porque tais inibidores são parte do sistema
de defesa natural contra insetos (XU et al., 1996). Em adição, a maioria dos
inibidores de enzimas digestivas de insetos parece ser bastante segura aos
mamíferos, inclusive ao homem, pois são altamente dependentes do pH.
Como o pH ótimo das enzimas do aparelho digestivo dos insetos pode variar
amplamente de espécie para espécie, algo como entre pH 3 a pH 12, os
inibidores podem ser relativamente específicos. Entretanto, dada esta
amplitude de variação existente, os inibidores de enzimas digestivas devem
ser estudados caso a caso.
É bastante conhecido em (feijão-caupi) o gene que
codifica um inibidor da tripsina, que confere resistência a insetos. XU et al.
(1996) testaram extratos contendo proteína de plantas de arroz transgênico
(com o gene CpTi de resistência do caupi) contra a tripsina bovina,
observando forte inibição da mesma. , houve um aumento significativo
na resistência a duas espécies de brocas-do-colmo-do-arroz.
A eficiência do inibidor (composto fenólico) da tripsina, originado do
feijão-caupi, foi também estudada por Graham, McNicol e Greig (1995) a
partir de linhagens transgênicas de moranguinho. Extratos de plantas
geneticamente modificadas chegaram a provocar 92% de inibição da enzima.
De acordo com Hilder et al. (1987 apud GRAHAM, MCNICOL e GREIG, 1995),
este inibidor mostrou ser muito eficiente contra , ,
e quando este composto fenólico foi incorporado na
dieta desses insetos.
Stoewsand, Anderson e Brown (1994) avaliaram o efeito de um
inibidor natural da colinesterase em ratos, encontrado em clones de macieira
resistentes ( ) a larvas de . Houve um
efeito significativo (testes em amostras de sangue) na inibição da
Vigna ulguiculata
In vivo
Heliothis Spodoptera
Diabrotica Tribolium
Malus brevipes Rhagoletis pomonella
in vitro
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
120 |
colinesterase dos roedores; entretanto a atividade da enzima foi a mesma
para todos os tratamentos no experimento in vivo (animais alimentados com
ração com e sem casca de maçã), denotando, como era esperado, que o
inibidor natural é degradado na digestão dos mamíferos. O inibidor tem
efeito diretamente no sangue, demonstrando sua atividade sobre a
acetilcolinesterase, mas, quando consumido na alimentação, é
completamente inócuo e, portanto, seguro para a alimentação humana. Já os
insetos não conseguem degradar o inibidor durante a digestão ou pelos
menos têm mais dificuldades.
Sementes maduras de (feijão-de-corda,
consumido há séculos por milhões de pessoas) são tóxicas às larvas e adultos
de insetos da família Bruchidae. Gatehouse et al. (1991) testaram o efeito das
diversas frações da proteína dessa planta sobre ,
detectando lectinas e inibidores de tripsina (WBTI) no grão maduro, de alto
poder inseticida contra esse inseto.
Dowd (1994) estudou variedades de milho resistentes a lagartas e ao
fungo , que correspondiam ao material com mais altos
teores de ácidos fenólicos e com mais alta atividade da peroxidase. Como
vantagem adicional, observou que plantas resistentes a insetos e fungos
contêm altas concentrações de ácido ferrúlico, conhecido inibidor de
aflotoxina, produzido pelo Link. Outro aspecto
interessante é que foi constatado nos Estados Unidos
(USDA, 2001). Tem sido muito comum, na
literatura mundial, encontrar-se esse tipo de abrangência de substâncias
bioativas de uma planta, capazes de atuar, por exemplo, como inseticida e
fungicida ao mesmo tempo. O ácido salicílico, por exemplo, é citado como
fazendo parte do mecanismo de resposta do patógeno e resistência da
planta, sensibilizando células de plantas para elicitores de fungos, dando o
sinal na indução da resistência sistêmica adquirida (WEDGE e CAMPER,
2000). Por outro lado, o acido salicílico, componente de algumas espécies do
Psophocarpus tetragonolobus
Callasobruchus maculatus
Fusarium monilliforme
Aspergillus flavus
que o milho Bt
apresentou uma quantidade de aflotoxinas sete vezes menor que o
chamado produto orgânico
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 121
gênero (JULKUNEN-TIITTO, TAHVANAIENEN e SILVOLA, 1993), tem
comprovado efeito inseticida.
Antibióticos, herbicidas, fungicidas e inseticidas freqüentemente se
originam de mecanismos de defesa de microorganismos e plantas.
Metabólitos secundários, que já foram considerados sem importância, só
vistos agora como mediadores no mecanismo de defesa das plantas,
comportam-se como barreiras químicas contra microorganismos e animais
predadores (WEDGE e CAMPER, 2000). Não deverá ser surpresa se,
comprovadamente, a múltipla função de metabólitos for comum entre as
plantas, como forma de economia de energia e pela complexidade de
diversas moléculas bioativas.
Produtos naturais fornecem drogas que podem ser inacessíveis por
outras rotas, e o processo de descoberta de compostos de plantas envolve
muitas etapas, desde a coleção de plantas e preparação dos extratos para os
bioensaios com extratos, até o isolamento e elucidação estrutural dos
constituintes bioativos (KINGSTON, ABDEL-KADER e ZHOU, 2000).
Quando se usam extratos vegetais com atividade inseticida, diversos
são os efeitos nos insetos: inibição na alimentação, crescimento e oviposição;
alterações na morfologia, no sistema hormonal e comportamento sexual; no
aumento da mortalidade em estádios iniciais do desenvolvimento ou mesmo
no adulto e tantos outros (KOUL, ISMAN e KETKAR, 1990; RODRIGUES, 1996;
HARTMANN et al., 1997; PRATES e SANTOS, 2000). Na verdade, alguns são os
mesmos sintomas provocados no inseto-praga pela planta resistente,
quando eventualmente atacada (AUSEMUS, McNEAL e SCHMIDT, 1967;
BREWBAKER, 1969; NORRIS e KOGAN, 1984; DOWD, 1994; STOEWSAND,
ANDERSON e BROWN, 1994; XU et al., 1996). É bastante ilustrativo o estudo
genético clássico feito com , a mosca-hessiana-do-
trigo. A resistência poligênica inicialmente encontrada em L.
(tetraplóide) foi transferida para diversas variedades de trigo comum (T.
L.) desde 1942 (AUSEMUS, McNEAL e SCHMIDT, 1967;
BREWBAKER, 1969). Extratos aquosos de plantas resistentes são capazes de
Salix
Phytophaga destructor
Triticum durum
aestivum
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
122 |
inibir o crescimento de larvas da mosca-de-Hesse (BREWBAKER, 1969).
Extratos de plantas, por exemplo, com potencial citotóxico, podem inibir a
germinação de esporos e mesmo o crescimento dos micélios, pois tem sido
bastante comum testar aleloquímicos, tendo fungos bem conhecidos como
reagentes.
Portanto, quando um extrato vegetal apresenta algum efeito deletério
sobre algum inseto ou fungo, é porque há um ou mais metabólitos
secundários com este poder. Ao mesmo tempo, há um ou mais genes
envolvidos no processo de resistência da planta que deu origem ao extrato
vegetal. Pode-se dizer, portanto, que existe uma importante conexão entre a
pesquisa de novos produtos naturais de defesa das plantas contra pragas e a
busca de genes de resistência a essas pragas.
O trabalho da engenharia genética começa exatamente quando é
alcançada a meta da busca por novas drogas. É quando se chega à elucidação
estrutural dos constituintes bioativos (KINGSTON et al., 2000).
Por essa razão, as informações provenientes da prospecção de novas
moléculas e da bioatividade é de grande utilidade à pesquisa na área de
biotecnologia, pois poderão significar novos genes de resistência a serem
utilizados na criação de cultivares transgênicas.
O uso de “plantas inseticidas” (que tipicamente produzem substâncias
inseticidas, de expressão constitutiva) e de plantas resistentes a pragas, tem
uma base comum, que é o emprego de aleloquímicos presentes na planta,
como proteção (VENDRAMIN e CASTIGLIONI 2000) e que são extremamente
5 PLANTAS COM AÇÃO INSETICIDA E AÇÃO FUNGICIDA: NOVOS
GENES DE RESISTÊNCIA
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 123
importantes no desenvolvimento de uma agricultura que tenha como
prioridade a preservação e a recuperação ambiental.
A descoberta e o desenvolvimento de novos produtos derivados de
metabólitos secundários, provenientes de vegetais, têm importância
significativa na busca de produtos menos agressivos ao ambiente. Os
produtos derivados de plantas, por serem mais aceitos pelos consumidores,
por terem menor impacto ambiental e por serem, geralmente, menos tóxicos
aos mamíferos, têm sido investigados mais intensivamente pela indústria
atual (WEDGE e CAMPER, 2000).
As plantas têm sido a fonte mais comum de pesquisas na avaliação de
produtos naturais e têm contribuído muito significativamente na produção
de produtos farmacêuticos modernos. Mesmo assim, a imensa maioria de
aproximadamente 250 a 500 mil espécies de plantas superiores no mundo
ainda não foi avaliada, e o pouco que já foi testado (5 a 15%) se restringiu
apenas a alguns restritos alvos terapêuticos (MILLER e GEREAU, 2000;
ECHEVERRIGARAY et al., 2001).
Essas defesas naturais poderão ou não ser tóxicas em maior ou menor
grau aos mamíferos e outros animais, dependendo da proteína inseticida e de
sua presença ou concentração na parte comestível da planta (PUSZTAI et al.,
1996). Já anteriormente, Pusztai et al. (1993) sugeriram que a presença de
lectina para aumentar a resistência a insetos, em quantidades requeridas
para ser eficiente contra os mesmos, não poderia ser considerada sem riscos
para a saúde humana. A possibilidade que os avanços da engenharia genética
apontam para a utilização dos mecanismos que determinam a expressão
gênica tecido-específica poderá vir a ser uma forma de poder utilizar genes
relacionados a substâncias de defesa que podem ser tóxicas aos mamíferos,
por sua concentração na planta ou mesmo por sua natureza.
Muitas substâncias de plantas defensivas (denatonium benzoato,
denatonium sacaride, L-fenilalanina, flavonóides, terpenos, taninos e outras)
têm sabor amargo e podem ser tóxicas aos seres humanos. Entretanto, para
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
124 |
herbívoros (inclusive mamíferos) e para insetos tal impalatabilidade e
possível toxicidade podem ocorrer para uns e não ocorrer para outros
(NOLTE, MOSON e LEWIS, 1994), o que torna tal estudo bastante importante
no sentido de avançar no entendimento dessas interações antes de usar
qualquer transferência genética, o que, de forma acertada, tem sido feito
atualmente em relação à segurança alimentar. Ou seja: a transferência de
resistência a uma praga, sem os devidos estudos, poderia significar também
a transferência da suscetibilidade à outra praga, adaptada à espécie doadora
do gene. Por outro lado, a produção do novo metabólito pode significar a
ampliação da resistência, inclusive a microorganismos.
Salicortina, salicilina, (+)- catequina e proantocianidina são
compostos fenólicos com efeito inseticida, encontrados em
(Salisb.), que foram estudados por Julkunen-Tiitto,
Tahvanaienen e Silvola (1993), os quais demonstraram que as variações
ambientais interferem significativamente na composição dos extratos
vegetais Igualmente, JOHNSON et al. (2000) observaram grande variação no
conteúdo de acetogeninas (inseticida e anti-tumoral) em (L.)
Dunal, conforme a estação do ano. Esse tipo de resistência estaria, então,
sujeito a certa instabilidade, o que fortalece ainda mais a idéia da
necessidade de combinações piramidais, num manejo integrado de pragas.
Diferentemente, Queiroz-Voltan, Stubblebine e Shepherd (1995) avaliaram
a variação de terpenos em (L.) Poit. (Labiateae), na defesa
contra herbívoros, observando que as diferenças ambientais não possuem
forte efeito sobre a herbivoria nessa espécie, mas que a variabilidade
genética em composição química foi a estratégia mais importante na defesa
contra herbívoros, reduzindo-lhes a sobrevivência e a eficiência.
Essa instabilidade devida às variações ambientais e à variabilidade
genética da resistência determina o desenvolvimento de estratégias de
manipulação genética, visando a maior eficiência no controle de pragas e
maior segurança aos consumidores e ao ambiente.
Salix
myrsinifolia
Asimina triloba
Hyptis suaveolens
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 125
Quando uma planta é investigada, não é descartada a possibilidade de
haver mais de um alvo terapêutico, tanto que, na busca por agentes
antitumorais, tem-se descoberto novos antibióticos, fungicidas, bactericidas
e até inseticidas.
Em trabalho cooperativo entre diversos países, no Suriname, Kingston
et al.(2000), buscando agentes anti-cancerígenos, relatam as principais
plantas em que foram encontrados compostos citotóxicos importantes e que
podem ser potencialmente fungicidas e inseticidas:
– em (rott) Maas (Zingiberaceae) foram isoladas três
labdanediterpenóides com bioatividade (citotoxicidade);
– em (L.) Hassk detectaram diversos alcalóides com
bioatividade, em bioensaios com fungos;
– em (Muell.Arg.) Plumel e L.
(Apocynaceae), os iridóides plumericina e isoplumericina mostraram
potencial promissor;
– a espécie DC (Melastomataceae) caracterizou-se
pela presença de alquil-benzoquinonas com alto potencial citóxico.
Os mais de 400 compostos já identificados na família das anonáceas e,
dentre estes, dezenas de acetogeninas altamente bioativas (LORENZI, 1998;
JOHNSON et al., 2000), significam, em última instância, genes importantes
que poderão ser transferidos para outras espécies cultivadas ou mesmo para
microorganismos, visando à produção de ingredientes ativos em laboratório.
Entretanto, não pode ser ignorado que as acetogeninas, pelos
mecanismos de ação conhecidos e pela sua natureza, podem ser tóxicas aos
mamíferos, inclusive humanos. Tais compostos, contidos na graviola
( ), por exemplo, podem ser 10 mil vezes mais potentes que
a adriamicina no combate a diversos cânceres (MOSS, 2003). Se as células
cancerígenas são bem mais sensíveis que as normais, isso não significa que as
últimas sejam completamente insensíveis. Diversos estudos realizados em
Renealmia alpinia
Eclipta alba
Himatanthus fallax Allamanda cathartica
Annona muricata
Miconia lepidota
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
126 |
populações que consomem plantas anonáceas (frutos e chás) com certa
regularidade relacionam este hábito com diversos males, inclusive com o
parkinsonismo (CAPARROS-LEFEBVRE e ELBAZ, 1975 LITVAN et al., 1999).
Por essas razões é que a pesquisa tem tido muito cuidado na liberação
de produtos cujos mecanismos de ação sejam os mesmos nas pragas e em
outros animais, inclusive no homem. Entretanto a variedade imensa de
metabólitos secundários projeta a possibilidade de se descobrir novos
mecanismos de ação ou sítios-alvos diferentes, que tornem mais segura a
utilização dessas novas moléculas praguicidas.
Nesses gêneros mais promissores da família das anonáceas, encontra-
se no Brasil, principalmente, Mart.,
(Jacquin) Baill., R. (R. E. Fries) R. E. Fries e Aubl.
(LORENZI, 1998).
Dentre as plantas inseticidas, talvez não haja atualmente no mundo
nenhuma mais conhecida e popular do que a (árvore do
), cujo extrato já é inclusive comercializado em diversos países. Estima-se
que mais de 200 espécies de insetos podem, em tese, ser controladas com o
composto ativo do . A azadiractina pode atuar ainda como fungicida e
nematicida (BURG e MAYER, 1998).
Muito conhecido no Brasil, o cinamomo ( ), da mesma
família do nim, também é conhecido há vários anos como planta inseticida
(BURG e MAYER, 1998).
Souza e Vendramim (2000) avaliaram extratos aquosos de três
espécies de meliáceas ( , e
), os quais foram eficientes como ovicida, causando também
mortalidade de ninfas da mosca-branca-do-tomateiro ( ).
ROEL et al. (2000) também comprovaram a eficiência de extratos de
, como inseticida, em relação à lagarta-do-cartucho
(J. E. Smith).
Annona crassiflora Rollinia mucosa
sericea Xylopia frutescens
Azadiracta indica
nim
nim
Melia azedarach
Azadirachta indica Melia azedarach Trichilia
pallida
Bemisia tabaci
Trichilia
pallida Spodoptera
frugiperda
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 127
Os alcalóides da pirrolizidina têm função como compostos de defesa
de plantas contra herbívoros, mas certas espécies de insetos adaptados
requerem estes compostos para seu próprio crescimento e desenvolvimento
(HARTMANN et al., 1997). Isso explicaria, pelo menos em parte, a maior ou
menor especificidade das pragas e o conceito de que toda e qualquer planta é
resistente ou não teria sobrevivido e abriria espaço para o conceito de que
toda e qualquer planta é igualmente suscetível, já que não há uma só espécie
que não tenha seu grupo de pragas.
É tão comum a presença de substâncias naturais defensivas da planta
contra pragas em geral que, praticamente, todos os vegetais comestíveis de
cultivos comerciais estão incluídos numa longa listagem organizada pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2000), tidos como
“plantas tóxicas”, que, por sua vez, são definidas como espécies vegetais que
já tenham sido relatadas na literatura científica mundial como causadoras de
algum mal à saúde humana. Apesar de adaptados, sempre tem havido certa
porcentagem, maior ou menor, de seres humanos sensíveis (alérgicos) a
alguns metabólitos secundários existentes em qualquer espécie vegetal,
mesmo nas plantas domesticadas. Esses compostos secundários podem ou
não corresponder às moléculas de defesa das plantas contra pragas.
Por outro lado, essas descobertas têm encorajado muitos
pesquisadores a aceitarem a idéia da maior relativa vantagem e segurança
desse tipo de defesa seletiva da própria planta. A utilização da resistência
genética de forma cruzada, ou seja, de uma cultura (planta já domesticada)
para outra, poderia aumentar a proteção dos cultivos, controlando um maior
número de insetos, sem que houvesse problemas para a saúde humana,
desde que se tomem os cuidados necessários. O organismo humano já está
adaptado a tais toxinas ou mesmo essas substâncias já fazem parte de suas
próprias necessidades. Isso também acontece com os insetos consumidores
(HARTMANN et al., 1997). Há ainda a possibilidade de alterar minimamente,
mas o suficiente, a proteína alergênica, eliminando o caráter tóxico e
beneficiando aquele percentual sensível de seres humanos. Assim, além da
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
128 |
possibilidade de substituição dos agrotóxicos convencionais pela resistência
genética, com inestimáveis benefícios à saúde humana e ambiente, é
possível não só evitar o acúmulo de produtos tóxicos na cadeia alimentar,
como também eliminar os problemas de toxidez, comumente existentes nos
alimentos, com adequados cuidados, que advirão com os avanços na
pesquisa.
De acordo com Sachs et al. (1996), mesmo através da engenharia
genética, a resistência via transgênese, apesar de bem mais eficiente do que
o controle biológico e a resistência via melhoramento genético
convencional, ainda não é comum superar os métodos convencionais (por
meio de agrotóxicos). O número de cultivares transgênicos resistentes é
ainda relativamente muito pequeno e a ocorrência de mais de uma praga na
mesma cultura obriga o produtor a utilizar, algumas vezes, agrotóxicos nelas.
Entretanto a combinação dessas três possibilidades parece ter um imenso
potencial para, definitivamente, desbancar os métodos convencionais, já
que é possível combinar fatores de caráter horizontal no controle de pragas
que, em se complementando, tornar-se-iam altamente eficientes para
retardar a adaptação das mesmas.
Há que se considerar ainda que muitos outros organismos podem e
estão contribuindo com metabólitos secundários os mais diversos. Os
fungos, os actinomicetos, as bactérias e outros têm um grande potencial a
ser desenvolvido. Os actinomicetos já têm contribuído com muitos
produtos. As espinosinas, por exemplo, são inseticidas naturais (dois já são
comercializados), produzidos pelo actinomiceto
, altamente eficientes contra lepidópteros, rapidamente degradados
no ambiente, com efeito residual comparável com os piretróides (WEDGE e
CAMPER, 2000), e que, por terem um único modo de ação, mínimo impacto
ambiental, pouca toxicidade para os insetos benéficos, insetos não-alvos e
mamíferos, com rápida degradação por fotólise, tornaram-se uma
importante classe (macrólidos) de produtos de origem natural. Há que se
considerar ainda que o ambiente marítimo tem claramente um imenso
Saccharopolyspora
spinosa
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 129
potencial para a descoberta de compostos para o desenvolvimento de
agentes ativos contra pragas (insetos, ácaros, nematóides, fungos e outros)
de plantas, e os recentes avanços na área já possibilitam resultados concretos
na obtenção de novos produtos (SAYED et al., 2000).
Assim, juntamente com um potencial praticamente inesgotável à
disposição da ciência, surge um duplo desafio para a engenharia genética: a
manipulação desses genes sem comprometer a cadeia alimentar com
substâncias que possam ser tóxicas aos seres humanos. Entretanto, há um
grande potencial ainda a ser desenvolvido, utilizando-se os genes das plantas
domesticadas, comprovadamente mais seguros, por serem tais vegetais
consumidos há milhares de anos pelos humanos, como o feijão-caupi e o
feijão-de-corda.
O Quadro 1 apresenta, de forma resumida, algumas espécies vegetais e
suas potencialidades, a partir de citações de diversos autores, desde os
estritamente científicos, até aqueles fundamentados no uso popular de
plantas. A lista, na verdade, é bem maior e o que ora se apresenta é apenas
para que se tenha uma idéia geral dessas possibilidades.
NOME CIENTÍFICO* NOME POPULAR* AÇÃO/CONTROLE*
Ac h y r o c ly n e sa tu r e io id e s Macela, marcela Inseticida para pulgões
Ad e n o sty le s spp . - Inseticida em geral
Alla m a n d a n o b ilis Alamandra Inseticida para pulgões
Alliu m sa tiv u m Alho Inseticida para pulgões
Alo e spp. Babosa Fungicida e inseticida
An n o n a c ra ssif lo ra Araticum Inseticida em geral
An o n a pa lu str e Araticum Combate a piolhos
An th e m is spp . Macela g alega Inseticida em geral
Ac h ille a m ille fo liu m Mil -folhas Fungicida
Arte m isia v u lg a r il L. Losna Inseticida em geral
Aza d ira c h ta in d ic a Nim Inseticida em geral
Ba c c h a r is g e n ite llo id e s Carqueja Inseticida em geral
Bra ssic a spp. Mostarda Controle de coc honilhas
Ca le n d o la o f f ic in a lis Calêndula Inseticida em geral
Ca n a va lia e n sifo r m is Feijão -de -porco Herbicida (inibidor)
* Em relação aos nomes científicos e populares contidos na tabela, foi mantida afidelidade de acordo com os autores referidos.
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
130 |
* Em relação aos nomes científicos e populares contidos na tabela, foi mantida afidelidade de acordo com os autores referidos.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 131
NOME CIENTÍFICO* NOME POPULAR* AÇÃO/CONTROLE*
Ca psic u m a n n u u m Pimenta Repelente em geral
Ca y a po n ia ta y u y a Tajujá Atraente p ara vaq uinh a ebesouros
Cin n a m o m u m c a m ph o ra Canforeira Repelente de insetos
Cin n a m o m u m ze y la n ic u m Canela -de-cheiro Repelente de insetos
Ch ry sa n th e m u m c in e ra r ia e fo liu m Piretro Inseticida em geral
Co rd ia v e rb e n a c e a Erva-baleeira Repelente de insetos
Co ria n d ru m sa tiv u m Coentro Combate a ácaros e pulgões
Croto la r ia w ig h tia n a Crotolária Combate a nematóides
Cro to n c a lifo r n ic o s Cróton do deserto Inseticida para pulgões
Cro to n tig liu m Cróton Inseticida em geral
Cy m bo po g o n c itra tu s Capim -cidró He rb icida e repelen te d einsetos
Cy c la m e m e le g a n s Violeta -dos - alpes Acaricida
Da tu ra stra m o n iu m Figueira -do -inferno Repelente
De lph in iu m sp . Esporinha Controle de gafanhotos
Equ ise tu m a rv e n se Rabo -de -lagarto Inseticid a para pu lgõ es eácaros
Equ ise tu m sp. Cavalinha Moléstias foliares
Eu c a ly p tu s spp . Eucalipto Inse ticida em geral, herbicida
Eu g e n ia u n if lo ra Pitangueira Repelente de insetos
Eu pa th o r iu m spp. - Inseticida em geral
Eu ph o rb ia sp. Papagaio Inseticida em geral
Hplo ph y to n c im ic id u m Barata Controle de lagartas em geral
He im ia pa lic ifo lia Erva-da-vida Rep elente d e inseto sdomésticos
He lio psis sc a b ra Olho -de-boi Inseticida em geral
He lia n th u s a n n u u s Girassol Repelente em geral
He lio tr o p iu m spp . - Inseticida em geral
Ja tr o ph o s c u r c a s Pinhão -do -paraguai Repelente em geral
Ly c o pe rsic u m e sc u le n tu m Tomate iro Controle de pulgões
Ma m m e a a m e r ic a n a Abricó -do -pará Inseticida em geral
Ma n ih o t u tilissim a Mandioca -brava Nematicida
Me d ic a g o sa tiv a Alfafa Combate mosquitos
Me lia a ze d a ra c h Cinamomo Inseticida em geral
Me n th a p ip e r ita Hortelã Repelente para formigas
Me n th a pu le g iu m Poejo Fun g ic id a e repelen te d einsetos
Mika n ia la e v ig a ta Guaco Inseticida em geral
Ne pta c a ta r ia Cataria Controle de pulgões
Ne riu m o le a n d e r Espirradeira Inseticida em geral
Oc im u m ba silic u m Manjericão Controle de dípteros
NOME CIENTÍFICO* NOME POPULAR* AÇÃO/CONTROLE*
Sa lix spp. Salso Inseticida em geral
Sa m bu c u s a u stra lis Sabugueiro Repelente de insetos
Sa pin d u s sa po n a r ia L. Saboneteira Inseticida em geral
Sc h in u s th e r e b e n th ifo liu s Aroeira -vermelha Inseticida em geral
Sc h o e n o c a u lo n spp. Sabadilha Inseticida em geral
Se n e c io m e m o r e n sis - Inseticida em ge ral
S. fu c h sii - Inseticida em geral
Sta c h y ta rph e tta c a y e n e n sis Gervão Inseticida em geral
Ste m o n a tu b e r o su m Estemona Inseticida em geral
Ste n o c a ly x spp. Pitangueira Repelente de insetos, fungicida
Sty lo sa n th u s spp. Alfafa -brasileira Carrapaticida
Sy m ph y tu m o f f ic in a lis Confrei Inseticida em geral
Ta g e d e s spp. Cravo- de- defunto Inseticida em geral
Ta n a c e tu m vu lg a r e Atanásia Repelente em geral
Ta ra xa c u m o f f ic in a le Dente -de -leão Repelente de insetos
Te u c r iu m a b y o n in ic u m Teucrio anti -helmíntico
Th y m us v u lg a r is Tomilho Rep elente d e inseto sdomésticos
Tro pa e o liu m m a ju s Capuchinho Rep elente d e p ulgões enematóides
Urg in e a m a rítim a Cila -vermelha Raticida
Urtic a u r e n s Urtiga Pulgões e lagartas
Ve r n o n ia a n th e lm in th ic a Vernonia Vermicida e inseticida
V ig n a u n g u ic u la ta Feijão -caupi Inseticida em geral
Za n th o xy lu m c la v a la r c u lis Espinho -de -vintém Inseticida em geral
* Em relação aos nomes científicos e populares contidos na tabela, foi mantida a fidelidade deacordo com os autores referidos.Fonte: (PINHEIRO, AURVALLE e GUAZZELLI, 1985; TIDEI et al., 1986; HERTWIG, 1986;JULKUNEN-TIITTO, TAHVANAIENEN e SILVOLA (1993); GRAHAM, McNICOL e GREIG, 1995; XUet al., 1996; HARTMANN et al., 1997; BURG e MAYER, 1998; FEPAGRO, 1999; PRATES eSANTOS, 2000; CRUZ, NOZAKI e BATISTA, 2001; FDA, 2001; STANGARLIN et al. 1999)
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
132 |
6 PLANTAS RESISTENTES A HERBICIDAS E PLANTAS QUE
PRODUZEM SEUS PRÓPRIOS HERBICIDAS
Com o advento da engenharia genética, a resistência genética deverá
substituir, em muito, o uso dos agrotóxicos convencionais, principalmente
inseticidas e fungicidas. Ganham em importância os herbicidas, quando se
generaliza em todo o mundo o uso da resistência de plantas a herbicidas não
seletivos. É o caso da resistência ao glifosato e glufosinato de amônio, já
utilizados em mais de 40 milhões de hectares em todo o mundo.
O glifosato, pertencente ao grupo dos chamados derivados da glicina,
é um herbicida de ação total, que é degradado rapidamente pelos
microorganismos do solo, sofrendo ainda oxidação e decomposição pela luz
(OLIVEIRA JR., 2001). Os herbicidas deste grupo atuam inibindo a enzima 5-
enolpiruvato-chiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS), encontrada nos
cloroplastos (COSTA, 2001b), impedindo, por conseqüência, a síntese dos
aminoácidos fenilalanina, tirosina e triptofano. Por apresentarem mais de
um mecanismo de ação, limitado ao metabolismo da planta e praticamente
nenhum efeito residual, esses herbicidas são considerados produtos com
baixa probabilidade de selecionar espécies resistentes (OLIVEIRA JR., 2001).
Com tais características, principalmente referentes à baixa toxicidade
e efeito residual no solo praticamente inexistente, pode-se afirmar, sem
sombra de dúvidas, que os herbicidas desse grupo são aqueles que mais se
aproximam das exigências atuais da sociedade. A intensificação de
pesquisas nesta área, com o advento da engenharia genética, vislumbra
moléculas menos tóxicas ainda aos seres vivos e menos agressivas ao
ambiente.
Culturas tolerantes a herbicidas oferecem aos produtores rurais um
importante instrumento no controle de inços e são compatíveis com os
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 133
sistemas de plantio direto, que auxiliam na conservação do solo. O glifosato é
favorável, sob o ponto de vista ambiental, porque se liga fortemente às
partículas do solo e se degrada rapidamente em componentes que ocorrem
naturalmente, como o dióxido de carbono (JEZOVSEK, 1997).
De acordo com Brasileiro e Dusi (1999), plantas geneticamente
modificadas para resistirem a herbicidas podem favorecer a utilização de
produtos de ação total, de menor toxidez e mais facilmente degradáveis no
solo, aumentando as opções no controle dos inços. Genes de resistência a
herbicidas são muito comuns na natureza, atuando das mais diversas formas,
fazendo desta opção uma das mais importantes, apesar da resistência que
tem havido por parte de grupos de ambientalistas.
No caso da soja, o sistema resistência a glifosato apresenta
características importantes, sob o ponto de vista ambiental, pois o gene de
resistência não tem propriedades que possam ameaçar a saúde e a
possibilidade de transferência dele para outras variedades de soja é
extremamente baixa, já que esta leguminosa tem uma média de polinização
cruzada extremamente baixa. Mesmo ocorrendo transferência para outros
cultivares, não haveria nenhum impacto ambiental, pois a soja não sobrevive
no ambiente sem a participação do homem. Ainda mais: a soja não tem, nas
Américas e Europa Ocidental, nenhum parentesco com qualquer espécie
nativa para cruzar (COSTA, 2001b). Assim, não há possibilidade alguma de
transferência do gene de resistência para ervas daninhas. Mesmo que
ocorresse em nosso meio alguma espécie próxima à soja, seria impossível
ocorrer o que muitos leigos na área chamam de “super inço”: seria apenas
uma planta resistente a um determinado herbicida, no caso, glifosato.
Com o aumento da área de plantio de cultivares resistentes a
herbicidas, o surgimento de espécies resistentes é uma possibilidade
concreta, pela possível seleção de genótipos preexistentes nas populações.
Esta é uma situação que a ciência tem enfrentado em condições muito mais
complexas, desde que o primeiro herbicida foi inventado. Por isso não deverá
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
134 |
ser difícil a solução por parte da engenharia genética, pois novos herbicidas,
mais eficientes, menos tóxicos e menos agressivos ainda ao ambiente já
estão sendo pesquisados, a fim de estabelecer novos sistemas.
Além da soja, exemplos de espécies transformadas para resistência a
herbicidas incluem milho, algodão, cana-de-açúcar, canola, eucalipto e arroz.
Nesta última, os agricultores terão a possibilidade de controlar o arroz-
vermelho, inço responsável por imensos prejuízos à lavoura de arroz,
principalmente para os pequenos produtores.
Como acontece com toda tecnologia em sua fase inicial, mesmo antes
que o sistema resistência a herbicidas se generalize, já se apresentam novas
perspectivas nesta área. Herbicidas naturais podem ser encontrados em
fungos e plantas, formando um grupo extremamente diverso de moléculas
naturais, que podem ser vistas potencialmente como herbicidas (COBB,
1992). Assim como podemos contar com genes de resistência a pragas e
moléstias dentro e fora da espécie, em breve a pesquisa estará criando
cultivares geneticamente modificados, que lançam ao solo metabólitos
secundários, capazes de impedir ou retardar a germinação ou o crescimento
das espécies daninhas. É a possibilidade excitante e que começa a ganhar
espaço nos projetos de pesquisa em todo o mundo, ou seja, a produção de
variedades comerciais de plantas alelopáticas às ervas daninhas,
dispensando o uso dos herbicidas sintéticos, como são substituídos os
fungicidas e inseticidas quando se opta pela resistência genética.
O estudo dos metabólitos secundários das plantas tem inestimável
interesse prático na busca de novas moléculas inseticidas, fungicidas,
bactericidas e herbicidas, dentre outras. Com os avanços da biologia
molecular, genes que codificam metabólitos de defesa podem ser
transferidos para espécies cultivadas ou mesmo superativados nelas, para
aumentar os níveis dos compostos de defesa
Hoje os detratores desta tecnologia não aceitam a hipótese de que a
engenharia genética venha a realizar tais maravilhas. Há que se concluir que,
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 135
se voltássemos no tempo, não acreditariam que aquela primeira locomotiva
a vapor seria um protótipo de trens subterrâneos, viajando a mais de 400 km
por hora; ou que a geringonça inventada por Santos Dumont, capaz de voar a
poucos metros de altura, por apenas alguns minutos, atravessaria os oceanos
a velocidades supersônicas. A biotecnologia está apenas na sua primeira
infância. Não há por que se imaginar que o Brasil não tem condições de
acompanhar o desenvolvimento dessa tecnologia.
Agentes de controle biológico como insetos, fungos, bactérias e vírus,
principalmente, têm sido utilizados ou testados no controle de pragas (ervas
invasoras, insetos, ácaros, nematóides, fungos e outros). Entretanto, a
utilização desta prática, na forma convencional, tem encontrado muitas
restrições, que vão desde a especificidade do controle, o que limita muito o
número de opções à disposição da agricultura, até mesmo às limitações de
ordem climática, pela extrema influência dos fatores ambientais no sucesso
do uso desta técnica.
Outra provável limitação desta técnica na forma convencional é a
possibilidade de haver seleção de genótipos resistentes na população da
praga-alvo em aplicações dos agentes de controle biológico em grandes
áreas. Para o , por exemplo, já foram encontradas, em
laboratório, formas resistentes da lagarta-da-soja ( ).
Como quase que certamente as formas resistentes devem ser mutantes
preexistentes, elas devem ocorrer com relativa abundância no campo. Se
numa amostra pequena (laboratório) a ocorrência foi detectada, há uma
7 A ENGENHARIA GENÉTICA COMO FERRAMENTA NO
MELHORAMENTO GENÉTICO DE AGENTES DO CONTROLE
BIOLÓGICO
Bacullovirus anticarsia
Anticarsia gemmatalis
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
136 |
virtual relativamente grande quantidade de indivíduos resistentes sendo
selecionados em dois milhões de hectares no Brasil, onde são aplicados
para o controle da lagarta-da-soja.
O aparecimento de formas resistentes de pragas a agentes de controle
biológico, diante da imensa variabilidade que existe na natureza é, portanto,
somente uma questão de tempo, pressão de seleção e área abrangida pela
prática. Assim, pela concepção convencional, o controle biológico irá seguir o
mesmo caminho de qualquer molécula herbicida, inseticida ou fungicida,
que é o de selecionar resistência, perdendo logo a eficiência no controle.
Por todas essas questões é que o melhoramento genético de agentes
de controle biológico tem ganhado uma importância muito grande. Além
dos métodos convencionais, como a seleção de genótipos recombinantes
(de cruzamentos) e de mutantes preexistentes ou induzidos artificialmente
por agentes mutagênicos químicos e físicos, a tecnologia do DNA
recombinante promete revolucionar o controle biológico.
As técnicas de engenharia genética participam desde facilitando
objetivos mais simples, como a melhor caracterização das espécies, até
mesmo para alcançar objetivos mais avançados, como a criação de novos
genótipos, com maior capacidade de tolerar melhor as pragas.
Pela tecnologia do DNA recombinante, é possível se conseguir
linhagens de microorganismos (fungos e bactérias) e vírus mais eficientes no
ataque às pragas (AZEVEDO et al., 1998). Esta área é uma das mais
promissoras, principalmente para o Brasil, pois há um ótimo contigente de
pesquisadores envolvidos no controle biológico, chegando a deter a
supremacia no setor, tanto em pesquisa básica, quanto aplicada. Para que se
tenha uma idéia do que o Brasil representa atualmente, os brasileiros são os
que têm, no momento, a maior participação na literatura mundial na área.
O controle biológico de plantas daninhas, por meio de insetos, fungos
e bactérias é uma área que apresenta enormes perspectivas, mas tem
Bacullovirus
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 137
encontrado sérias limitações pela forte influência dos fatores ambientais. A
engenharia genética deverá desempenhar um papel decisivo no futuro dessa
prática, na criação de agentes de controle biológico geneticamente
modificados, mais eficientes e mais adaptados às condições ambientais.
O controle biológico certamente será uma das principais práticas na
defesa das plantas contra as pragas. Entretanto, só alcançará seus plenos
objetivos se dispuser da engenharia genética como ferramenta decisiva no
melhoramento genético dos agentes de controle biológico, como estratégia
dos melhoristas, para acompanhar e ir superando as estratégias de
adaptação das pragas, pelo menos, por um tempo mais longo.
Os melhoristas de plantas estão combinando diferentes
características (transgenes), a fim de conjugar, numa mesma variedade,
qualidades superiores que sejam de interesse dos produtores rurais. A
combinação de resistência a insetos-praga, moléstias, tolerância a herbicidas
e outras é atrativa sob a perspectiva do agricultor, que busca reduzir o seu
custo de produção, diminuindo o número de pulverizações com agrotóxicos.
Dispor de variedades resistentes às diferentes pragas significa não só
uma maior economia de insumos, combustíveis, mão-de-obra e máquinas,
como também é sinônimo de maior segurança, tanto econômica, pela maior
eficiência da resistência genética, quanto em termos de saúde para o
agricultor, com a redução drástica no uso de agrotóxicos. A resistência a
herbicidas é também uma característica importante, podendo resultar, além
de uma maior eficiência no controle de inços, em uma redução do uso de
herbicidas e na utilização de produtos menos tóxicos e menos agressivos ao
8 CONCLUSÕES
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
138 |
ambiente, como é o caso do glifosato, que, além destas qualidades, pode ser
fabricado livremente, pois sua patente já está vencida há vários anos. Não
será esta a razão principal da pressão contra esse herbicida, por meio da
desinformação? O plantio direto é também facilitado por essa tecnologia,
com todas as implicações benéficas que se conhece.
Cultivares transgênicos adaptados a condições de estresses abióticos
(frio, calor, seca, solo encharcado, acidez, salinidade, deficiência de
nutrientes e outros) certamente significarão mais segurança de colheita e
maior previsibilidade. Cultivares com melhor qualidade industrial e com
características especiais facilitarão a comercialização da produção, mediante
a procura pela indústria e pelo maior interesse dos consumidores. O cultivo
de plantas medicinais, por exemplo, alteradas geneticamente, com conteúdo
muito superior de ingrediente ativo em relação ao material original, será
opção rentável e segura para um grande número de pequenos agricultores,
criando condições concretas, desta forma, para salvaguardar a
biodiversidade de ambientes naturais.
Só recentemente a pesquisa agrícola começou a preocupar-se com os
consumidores. Até há poucos anos, apenas tecnologias que beneficiassem
diretamente os produtores rurais (e evidentemente às empresas fabricantes
e distribuidoras) eram pesquisadas e experimentadas. Agrotóxicos baratos e
eficientes eram suficientes, pouco importando as conseqüências que hoje se
conhece.
Tão logo as instituições de pesquisa incluíram os consumidores na sua
política de pesquisa (missão), começaram a surgir os trabalhos científicos, de
amplo interesse social, principalmente voltados para a preservação
ambiental. Entretanto, somente com o advento da biotecnologia
(engenharia genética) foi possível vislumbrar um sistema em que, pela
primeira vez na história da Humanidade, é possível conciliar diretamente os
interesses dos produtores, consumidores e ambiente.
Variedades transgênicas resistentes a espécies-praga significam
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 139
alimentos mais baratos e não-contaminados por agrotóxicos na mesa dos
consumidores. A qualidade que interessa ao produtor, por uma questão
comercial, é o que o consumidor busca para ter à sua disposição alimentos
mais nutritivos e saudáveis, pelas modificações genéticas específicas,
determinadas pelo próprio interesse da sociedade. Por exemplo, frutas com
maturação lenta (“longa-vida”) beneficiam agricultores, indústria, comércio
e consumidores, contribuindo com programas de sustentabilidade, pelo
menor desperdício de alimentos e economia de energia.
Plantas transgênicas recuperadoras e preservadoras de ambiente têm
sido pesquisadas em diversos países. A descoberta de genes (plantas e
microorganismos) capazes de descontaminar solos e água de metais
pesados e outras substâncias tóxicas, inclusive de radioatividade, tem sido
uma verdadeira revolução na ciência ambiental. Árvores transgênicas
capazes de penetrar com suas raízes no lençol freático, descontaminando
águas subterrâneas, através de enzimas degradantes, já estão em fase final
de experimentação. Plantas aquáticas, com maior capacidade de
degradação de detritos orgânicos estão sendo pesquisadas. Os detergentes
biodegradáveis, a partir de microorganismos transgênicos, já estão nas
prateleiras dos supermercados.
Certamente a agricultura, com o apoio da biotecnologia, encaminhar-
se-á definitivamente para ser uma atividade de alta precisão, com menor
impacto ambiental, com o que os produtores rurais e, conseqüentemente,
toda a sociedade serão beneficiados.
Pensar que só a agricultura pode ficar no caminho, por ser uma
atividade “diferenciada” das demais é um grande equívoco: a Lei do Mínimo
igualmente se aplica neste caso, pois os demais ramos das ciências também
dependem dos avanços nessa área. O Brasil só caminhará rumo ao
Enfim, nunca o ambiente teve uma perspectiva tão otimista frente às
novas descobertas e o advento da biotecnologia ou, mais propriamente, da
engenharia genética.
Parte II: Resistência e mecanismos de defesa das plantas como opção ao uso deagrotóxicos: perspectivas por meio da engenharia genética
140 |
desenvolvimento se todas as partes deste todo, ou seja, todos os setores
econômicos e áreas do conhecimento científico forem contemplados nos
planos de desenvolvimento.
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 141
AGROL, Agropecuária on line. definição e
classificação dos agrotóxicos. Disponível em: http://www.activenet.com.br/
pessoais/ PChomepage/toxico.htm. Acesso em: 18 ago. 2001.
ALTIERI, A.; NICHOLLS, C. I. Resgatando a agricultura orgânica a partir de um
modelo industrial de produção e distribuição. , Santa
Maria, v. 27, n. 2, p. 141-152, 2003.
AMBIENTEBRASIL. ... 29 de junho de
2002. Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br. Acesso em: 19
ago. 2002.
AMBIENTEBRASIL
. Disponível em: <http://www.gazetamercantil.com.br>. Acesso
em: 05 abr. 2004.
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
. Disponível em: <http:// http://www.anvisa.org.br/>. Acesso
em: 11 abr. 2004.
______. . Disponível em:
<http:// http://www.anvisa.org.br/>. Acesso em: 15 out. 2008.
ATLAVINYTÈ, O.; LUGAUSKAS, A.; KILIKEVICIUS, G. Accumulation of
organophosphorus insecticides in earthworms and reactions of earthworms
Intoxicação por agrotóxicos:
Ciência e Ambiente
Agricultores são vítimas de intoxicações
Contaminação de hortifrutigranjeiros no Estado do Rio
de Janeiro
Análise de resíduos de
agrotóxicos
Análise de resíduos de agrotóxicos no ano de 2007
REFERÊNCIAS
| 143
and microorganisms to these substances. In: SOIL BIOLOGY AS RELATED TO
LAND USE PRACTICES, New York, 1979. … Washington: Office of
Pesticide and Toxic Substances, EPA, 1980, 878 p. p. 13-24.
AZEVEDO, J. L. O uso dos fungos na biotecnologia. In: SERAFINI, L. A.;
BARROS, N. M.; AZEVEDO, J. L., coord.,
. Guaíba: Agropecuária, 2001. Cap. 1, p.93-152.
AZEVEDO, J. L. Biodiversidade microbiana e potencial biotecnológico. In:
MELO, I. S.; AZEVEDO, J. L. (Eds.). . Jaguariúna:
EMBRAPA-CNTMA, 1998. Cap 18. p. 445-461.
AUSEMUS, E. R.; McNEAL, F. H.; SCHMIDT, J. W. Genetics and inheritance. In:
K. S. QUISENBERRY, K. S.; REITZ, L. P. (Eds.) .
Madison, Wisconsin: American Society of Agronomy, 1967. p. 225-259.
BARQUIN, J. R. et al. Destruccion de residuos de plaguicidas por tratamiento
quimico y biológico. In: IX FORUM CIENCIA Y TECNICA, 9., ENCUENTRO
NACIONAL DE BIOPLAGUICIDAS, 2., 1994, Habana. … Ciudad de
La Habana, Cuba: INISAV, Instituto de Investigacines en Sanidad Vegetal,
1994. p. 9-11.
BAURAFARMA. . Disponível em: http://www.topoweb.com.br/
barufarma/ agrotoxicos.htm. Acesso em: 24 ago. 2001.
BHATTACHARYA, T.; JOY, V. C. Effect of two herbicides on the soil inhabiting
cryptostigmatid mites In: SOIL BIOLOGY AS RELATED TO LAND USE
PRACTICES, 1980. … Office of Pesticide and Toxic Substance, EPA
, 1980. p. 109-118.
BEEMAN, R. W. Recent advances in mode of action of insecticides.
., v .27, p. 253-281, 1982.
BLAS, L. Química de los inseticidas. Madrid: Aguilar, 1951. 208 p.
Proceedings
Biotecnologia na agricultura e na
agroindústria
Ecologia microbiana
Wheat and wheat improvement
Resumenes
Agrotóxicos
Proceedings
Ann. Rev.
Entomol
Referências
144 |
BRASILEIRO, A. C. M.; CARNEIRO, V. T. C. Introdução à transformação de
plantas. In: BRASILEIRO, A. C. M.; CARNEIRO, V. T. C. (Eds.).
. Brasília: Embrapa-SPI/Embrapa-
Cenargen. 1998. p.1 3-16.
BRASILEIRO, A. C. M.; DUSI, D. M. A. Transformação genética de plantas. In:
TORRRES, A.; CALDAS, L. S.; BUSO, J. A. (Eds.).
. Brasília: Embrapa-SPI/Embrapa-CNPH.
v. 2, 1999. p. 679-736.
BREWBAKER, J. L. . São Paulo: Polígono, 1969. 217 p.
BUCKMAN, O. H.; BRADY, N. C. . Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1968. 594 p.
BURG, I. C.; MAYER, P. H.
. Francisco Beltrão: Grafit, 1998. 137p.
CALEFFI, S. Impacto do uso de sulfato de cobre sobre o zooplâncton na
represa de Guarapiganga. In: ESPÍNDOLA, E. L. G. et al. (Eds.).
. São Carlos, SP: RiMa, 2000. p.3-14.
CAMPACCI, C. A. Generalidades sobre resíduos de praguicidas. In: ENCONTRO
SOBRE TOXICOLOGIA E FORMULAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS, 1., 1971,
Pelotas. ... Pelotas: Universidade Federal de Pelotas e Instituto de
Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Sul, 1971. p. 66-80.
CANELLAS, L. P. et al. Adsorção de Cu2+ e Cd2+ em ácidos húmicos extraídos
de resíduos orgânicos de origem urbana. , Santa Maria, v. 29, n.
1, p. 21-26, 1999.
CANUTO, J. C. A pesquisa e os desafios da transição ecológica.
, v. 27, n. 2, p. 133-140, 2003.
Manual de
transformação genética de Plantas
Cultura de tecidos e
transformação genética de plantas
Genética na agricultura
Natureza e propriedade dos solos
Manual de alternativas ecológica para prevenção e
controle de pragas e doenças
Ecotoxicologia,
perspectivas para o século XXI
Anais
Ciência Rural
Ciência e
Ambiente
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 145
CAPARROS-LEFEBVRE, D.; ELBAZ, A. Possible relation of typical parkinsonism
in the French West Indies with consuption of tropical plants: a case-control
study. , v. 354, p. 281, 1975.
CARVALHO, D. M. F. Luxo no lixo. , n.9, p. 18-19, 1999.
CASIDA, J. E.; QUISTAD, G. B. Gold age of insecticide research: past, present,
or future. , v.43, p.1-16, 1998.
CENTRO DE SAÚDE AMBIENTAL.
. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná,
I n s t i t u t o d e S a ú d e d o P a r a n á , 1 9 9 7 . D i s p o n í v e l e m :
http://www.saude.pr.gov.br/saude_ambiental/aspectos_epidemiológicos.
htm>. Acesso em: 25 ago. 2001.
COBB, A. . London: Chapman & Hall, 1992.
176 p.
COMCIÊNCIA. . 17 jan.
2006. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.com/toxicos/
descontrolado.html>. Acesso em: 15 out. 2008.
COSTA, S. O. P. As bactérias em biotecnologia. In: SERAFINI, L. A.; BARROS, N.
M.; AZEVEDO, J. L. (Coord.). .
Guaíba: Agropecuária, Cap.1, 2001a. p.75-91.
COSTA, S. O. P. Biossegurança e bioética em biotecnolobia.. In: SERAFINI, L. A.;
BARROS, N. M.; AZEVEDO, J. L. (Coord.).
. Guaíba: Agropecuária, Cap.11, 2001b. p. 419-452.
CUI, J. et al. Signals involved in Arabidopsis resistance to Trichoplusia nu
caterpillars induced by virulent and avirulent strains of the phytopathogen
Pseudomonas syringae. , v.129, p.551-564, 2002.
DANGL, J. L.; JONES, J. D. G. Plant pathogens and integrated defense response
The Lancet
Cultivar
Ann. Rev. Entomol.
Aspectos epidemiológicos e clínicos das
intoxicações por agrotóxicos
Herbicides and plant physiology
Agrotóxicos são vendidos sem controle no Brasil
Biotecnologia na agricultura e na agroindústria
Biotecnologia na agricultura e na
agroindústria
Plant Physiol.
Referências
146 |
to infection. , n. 411, p. 826-833, 2001.
DORST, J. . São Paulo: Edgard Blucher, 1973. 394
p.
DOWD, P. F. Enhanced maize (Zea mays l.) pericarp browning: associations
with insect resistance and involvement of oxidizing enzymes.
, v. 20, n. 11, p. 2777-2803, 1994.
ECHEVERRIGARAY, S. et al. Cultura de tecidos e micropropagação de plantas
aromáticas e medicinais. In: SERAFINI, L. A.; BARROS, N. M.; AZEVEDO, J. L.
(Coord.). . Guaíba:
Agropecuária, Cap.7, 2001. p.257-278.
FAO. Balance de la Revolución Verde, nuevas necesidades, nuevas
estrategias. , n. 154, 1995. Disponível em: <http://www.fao.org>.
Acesso em: 18 ago. 2001.
FEIGIN, A.; RAVINA, I.; SHALHEVET, J.
. Berlin: Springer-Verlog, 1991. 222p.
FERREIRA, A. G.; MACHADO, A. L. S.; ZALMON, E. R. Metais pesados em
moluscos bivalves no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. In:
ESPÍNDOLA, E. L. G. et al. (Orgs.).
. São Carlos, SP: RiMa, 2000. p. 167-182.
FOLHA DE SÃO PAULO. . 21 abr.
2002. Disponível em: <http://www.folha.uol.br>. Acesso em: 13 jun. 2002.
FOLHA DE SÃO PAULO. . 24 abr.
2008. Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?
lang=PT&cod=32726>. Acesso em: 15 out. 2008a.
FOLHA DE SÃO PAULO. . 25 ago.
2008. Disponível em: <http:// www.zebuparaomundo.com/zebu/
Nature
Antes que a natureza morra
Journal of
Chemical Ecolog.
Biotecnologia na agricultura e na agroindústria
Ceres
Irrigation with treated sewage
efficient
Ecotoxicologia, perspectivas para o Século
XXI
Contaminação dos alimentos por agrotóxicos
Tomate tem agrotóxicos demais, diz ANVISA
Brasil importa agrotóxico vetado no exterior
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 147
index2.php?option=comcontent&do_pdf=1&id=1094>. Acesso em: 15 out.
2008b.
FOSTIER, A. . In:
NOTÍCIAS PIRACENA, Centro de Energia Nuclear na Agricultura, n. 27, 1998.
Disponível em: <http://www.cena.usp.br/ piracena/html/ noticias/
noticias27.htm>. Acesso em: 22 ago. 2001.
GALLO, D. et al. . São Paulo: Agronômica
Ceres, 1988. 649 p.
GATEHOUSE, A. M. R. et al. Biochemical basis of insect resitance in winged
bean (Psophocarpus tetragonolobus) seeds. ., n. 55, p. 63-
74, 1991.
GAZETA MERCANTIL.
... 10 fev. 2001. Disponível em: <http://www.gazetamercantil.
com.br>. Acesso em: 19 jun. 2002.
GLIESSMAN, S. R. : processos ecológicos em agricultura
sustentável. 2 ed. Porto Alegre: Ed. da Ufrgs, 2001. 653 p.
______. Agroecología y agroecosistemas. , Santa Maria,
v. 27, n. 2, p. 107-120, 2003.
GOMES, J. C. C. Pluralismo epistemológico e metodológico como base para o
paradigma ecológico. , Santa Maria, v. 27, n. 2, p. 121-
132, 2003.
GRAHAM, J.; McNICOL, R. J.; GREIG, K. Towards genetic based insect
resistance in strawberry using the cowpea trypsin inhibitor gene.
, n. 127, p. 163-173, 1995.
GREENPEACE. . Disponível em:
http://www.greenpeace.org.br. Acesso em: 10 junh. 2001.
Mercúrio nos peixes e nas águas da bacia do Piracicaba
Manual de entomologia agrícola
J. Sci. Food Agric
Intoxicações de agricultores por agrotóxicos no
Brasil
Agroecologia
Ciência e Ambiente
Ciência e Ambiente
Ann. Appl.
Biol.
Metais pesados: contaminando a vida
Referências
148 |
HAMMOND, B. G. et al. Lower fumonisin mycotoxin levels in the grain of Bt
corn grown in the United States in 2000-2002J. , v. 52, p.
1390-1397, 2004.
HARTMANN, T. et al. Selective sequestration and metabolism of plant
derived pyrrolizidine alkaloids by chrysomelid leaf beetles. ,
v. 45, n. 3, p. 489-497, 1997.
HEINRICH, W. O. Controle integrado: idéias que se concretizam. In:
ENCONTRO SOBRE TOXICOLOGIA E FORMULAÇÃO DE DEFENSIVOS
AGRÍCOLAS, 1., 1971, Pelotas. ... Pelotas: Universidade Federal de
Pelotas e Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Sul,
1971. p. 122-145.
HERTWIG, K. V.
. 2. ed. São Paulo: Agronômica Ceres,
1983. 670 p.
HO, M. The organic revolution in science and implications for science and
spirituality “future visions”. In: STATE OF THE WORLD FORUM, 2000, New
York. … Disponível em: <http://www.i-sis.org>. Acesso em: 11
ago. 2002.
IDEC. Instituto de Defesa do Consumidor.
. 15 jan. 2003. Disponível em:
<http://www.agrisustentavel.com/toxicos/agrosujo.htm>. Acesso em: 10
fev. 2003.
IPEN. International POPs Elimination Network.
: rede internacional para
eliminação dos pops, 2000. Disponível em; <http://www.ipen.org/>. Acesso
em: 18 ago. 2001.
JEZOVSEK, G. K. Uma nova proposta para o controle das ervas daninhas: o uso
Agric. Food Chem.
Phytochemistry
Anais
Manual de herbicidas, desfolhantes, dessecantes,
fitorreguladores e bioestimulantes
Proceedings
Resíduos de agrotóxicos em frutas
e legumes oferecem riscos à saúde
Declaração e plataforma para
eliminação dos poluentes orgânicos persistentes
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 149
de plantas transgênicas. In: SIMPÓSIO SOBRE HERBICIDAS E PLANTAS
DANINHAS, 1. Dourados, 1997. ... Dourados: EMBRAPA-CPAO,
1997. p. 62-74.
JOHNSON, H. A. et al. Thwarting resistence: annonaceous acetogenins as
new pesticidal and antitumor agents. In: CUTLER, S. J.; CUTLER, H. G. (Eds.).
. Boca Raton, London,
New York, Washington: CRC Press, 2000. p.173-184.
JORNAL O DIA. : tomate, morango e alface são cultivos que possuem
mais agrotóxicos. 23 abr. 2008. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.
com/toxicos/campeao.html>. Acesso em: 15 out. 2008.
JULKUNEN-TIITTO, R.; TA HVANAIENEN, J.; SILVOLA, J. Increasead CO2 and
nutrient status changer affect phytomass and the production of plant
defensive secondary chemicals in Salix myrsinifolia (salisb.). , n. 95,
p. 495-498, 1993.
KINGSTON, D. G. I.; ABDEL-KADER, M.; ZHOU, B. Biodiversity conservation,
economic development, and drug discovery in Suriname. In: CUTLER, S. J.;
CUTLER, H. G. (Eds.). .
Boca Raton, London, New York, Washington: CRC Press, 2000. p. 39-59.
KITAMURA, P. C. Agricultura sustentável no Brasil- avanços e perspectivas.
, Santa Maria, v. 27, p. 8-28, 2003.
KITAZAWA, Y.; KITAZAWA, T. Influence of application of a fungicide, an
insecticide, and compost upon soil biotic community. In: SOIL BIOLOGY AS
RELATED TO LAND USE PRACTICES, 1979, New York …
Washington: Office of Pesticide and Toxic Substances, EPA, 1980. p. 94-109.
KOGAN, M. Entrevista sobre “Pragas, biodiversidade e controle”.
, v. 3, n, 35, p. 26-27, 2002.
Resumos
Biologically active natural products: fharmaceuticals
Anvisa
Oecologia
Biologically active natural products: pharmaceuticals
Ciência e Ambiente
Proceedings
Revista
Cultivar
Referências
150 |
KOUL, O.; ISMAN, M. B.; KETKAR, C. M. Properties and uses of neem,
Azadirachta indica. , v. 68, n.1, p. 1-11, 1990.
KUS, J. V. et al. Age-related resistance in Arabidopsis is a developmentally
regulated defense response to Pseudomonas syringae. , v.14,
p.479-490, 2002.
LAILSON-BRITO, J. Jr. et al. Estudo ecotoxicológico das concentrações de
cádmio em tecidos de golfinhos (Cetacea, Delphinidae) de hábitos costeiros e
oceânicos, de águas do Estado do Rio de Janeiro. In. ESPÍNDOLA, E. L. G. et al.
(Orgs.). . São Carlos, SP: RiMa,
2000, p. 183-197.
LAWTON, K. et al. Systemic acquired resistance in Arabidopsis requires
salicylic acid but not ethylene. ., v. 8, n. 6, p. 863-
870, 1995.
LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. . São
Paulo: Sarvier Editora de Livros Médicos, 1995. 839 p.
LIMA, J. S.; QUEIROZ, J. E. G.; FREITAS, H. M. B. Composto selecionado e
composto não-selecionado provenientes de lixo urbano e a concentração de
metais pesados em milho (Zea mays L.). In: LILUBESA – SIMPÓSIO LUSO-
BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 9. ... ABES –
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2000. p. 1351-
1360.
LONMANN, D. ; et al. Avaliação da sobrevivência de microorganismos fecais
em esterco bovino submetido à vermicompostagem. In: FERTIBIO, 1998,
Caxambu, M.G. ... Lavras: SBCS/SBM/UFLA, 1998. p. 654.
LORENZI, H. : manual de indentificação e cultivo de
plantas arbóreas do Brasil. 2. ed., Nova Odessa, SP: Plantarum, 1998. 2 v.
Canadian Journal of Botany
Plant Cell
Ecotoxicologia, perspectivas para o século XXI
Mol. Plant Microbe Interact
Princípios de bioquímica
Anais
Anais
Árvores brasileiras
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 151
LUMMIS, S. C. R.; GALIONE, A.; TAYLOR, C.W. Transmembrane signalling in
insects. ., v. 35, p.345-377, 1990.
LUTZENBERGER, J. A. : onde está a mentira? 1995.
Disponível em: <http://www.fgaia.org.br/texts/t-cietec.html>. Acesso em:
03 maio 2002.
______. A conspiração dos transgênicos. , Porto Alegre, 30 jun.
2000, Caderno Opinião, p. 25.
MACHADO NETO, J. G. . Jaboticabal, SP:
FCAV-FUNEP, 1991. 49 p.
MACHADO, A. L. S.; FERREIRA, A. G.; ZALMON, I. R. Metais pesados em
macroalgas marinhas na costa norte do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. In:
ESPÍNDOLA, E. L. G. et al. (Orgs.).
. São Carlos, SP: RiMa, 2000, p. 199-206.
MAFFEI, M. et al. Effects of feeding Spodoptera littoralis on lima bean leaves.
I. Membrane potentials, intracellular calcium variations, oral secretion, and
regurgitate components. , v. 134, p.1752-1762, 2004.
McCURDY, C. R.; MILLER, R. L.; BEACH, W. A natural product with high affinity
for neuronal nicotinic receptors and a vast potencial for use in neurological
disorders. In: CUTLER, S. J.; CUTLER, H. G. (Eds.).
. Boca Raton, London, New York, Washington:
CRC Press, 2000. p.151-162.
MALECKA, K. et al. Isolation and characterization of broad-spectrum disease-
resistant Arabidopsis. , v. 160, p.1661-1671, 2002.
MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. : uma introdução. São
Paulo: Atlas, 1896. 255 p.
Ann. Rev. Entomol
Ciência e tecnologia
Zero Hora
Ecotoxicologia de agrotóxicos
Ecotoxicologia, perspectivas para o século
XXI
Plant Physiology
Biologically active natural
products: pharmaceuticals
Genetics
Antropologia
Referências
152 |
MARICONI, F. A. M. : v. 1:
defensivos. São Paulo: Nobel, 1981.
MASUTTI, M. B.; PANITZ, C. M. N.; PEREIRA, N. C.
In: ESPÍNDOLA, E. L. G. et al. (Orgs.).
. São Carlos, SP: RiMa, 2000. p. 207-219.
MATURANA, R. H. . Belo Horizonte: Ed. Da
UFMG, 2001. 203 p.
McCURDY, C. R.; MILLER, R. L.; BEACH, W. A natural product with high affinity
for neuronal nicotinic receptors and a vast potencial for use in neurological
disorders. In: CUTLER, S. J.; CUTLER, H. G. (Eds.).
: pharmaceuticals. Boca Raton, London, New York, Washington: CRC
Press, 2000. p. 151-162.
MELO, I. S. Agentes microbianos de controle de fungos fitopatogênicos. In:
MELO, I. S.; AZEVEDO, J. L. (Eds.). . Jaguariúna: Embrapa,
1998, p.17-67. v.1.
______. Rizobactérias promotoras de crescimento de plantas: descrição e
potencial de uso na agricultura. In: MELO, I. S.; AZEVEDO, J. L. (Eds.).
. Jaguariúna: Embrapa-CNPMA, 1998b. p. 87-116.
MILLER, J. S.; GEREAU, R. E. Therapeutic potential of plant-derived
compounds:realizing the potential. In: CUTLER, S. J.; CUTLER, H. G. (Eds.).
: fharmaceuticals. Boca Raton, London,
New York, Washington: CRC Press, 2000. p. 25-37.
MOSCARDINI, F. O controle de pragas agrícolas e a sustentabilidade
ecológica. , Santa Maria, v. 27, n. 2, p. 67-84, 2003.
Inseticidas e seu emprego no combate às pragas
(Florianópolis,
SC) Ecotoxicologia, perspectivas para o
século XXI
Cognição, ciência e vida cotidiana
Biologically active natural
products
Controle biológico
Ecologia
microbiana
Biologically active natural products
Ciência e Ambiente
Biodisponibilidade e
bioconcentração de metais-traço no Manguezal do Itacorubi
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 153
NAUEN, R.; BRETSCHNEIDER, T. New odesof action of insecticides.
, v. 13, p. 241-245, 2002.
NOLTE, D. L.; MOSON, J. R.; LEWIS, S. L. Tolerance of bitter compounds by an
herbivore, . , v. 20, n. 2, p. 303-
308, 1994.
NORRIS, D. M.; KOGAN, M. Bases bioquímicas y morfológicas de la resistencia
In: . México, DF: Limusa,
1984. p. 43-80.
O’DONNELL, P. J. et al. Ethylene-dependent salicylic acid regulates an
expanded cell death response to a plant pathogen. , v. 25, p. 315-323,
2001.
O’DONNELL, P. J. et al. Susceptible to intolerance; a range of hormonal
actions in a susceptible Arabidopsis pathogen response. , v. 33, p. 245-
257, 2003.
OLIVEIRA JR., R. S. Mecanismos de ação de herbicidas. In: OLIVEIRA JR., R. S.;
CONSTANTI, J. . Guaíba: Agropecuára, 2001.
cap. 7, p. 206-260.
OLIVEIRA, M. F. Comportamento de herbicidas no ambiente. In: OLIVEIRA
JR., R. S.; CONSTANTIN, J. . Guaíba:
Agropecuária, 2001. p. 315-362.
PAIVA, M. R.; PEDROSA-MACEDO, J. H. . Curitiba:
Fundação Universidade Federal do Paraná, 1985. 94 p.
PATERNIANI, E. : quem tem medo da ciência e não confia nos
cientistas? Artigo recebido do autor, via Internet em 20 jun. 2000, Piracicaba,
SP. E-mail: [email protected], 2000, 4 p.
PIMENTA, L. P. S. et al.D. Biologycal screenning of annonaceous brasilian
Pesticide
Outlook
Journal of Chemical Ecology
Mejoramiento de plantas resistentes a insectos
Plant J.
Plant J.
Plantas daninhas e seu manejo
Plantas daninhas e seu manejo
Feromonas de insetos
Transgênicos
Cavia porcellus
Referências
154 |
medicinal plants using Artemia salina (brine shrimp test). (Short
communication).
, v. 4, p. 209, 2003.
PIMENTA, M. : poluição invisível. 28 set. 2006. Disponível em:
<http://www.agrisustentavel.com/toxicos/invisivel.html>. Acesso em: 14
out. 2008.
PINHEIRO, S.; AURVALLE, A.; GUAZZELLI, M. J. .
Porto Alegre: L & PM, 1985. 128 p.
PINHEIRO, S.; NASR, N. Y.; LUZ, D. A.
. Porto Alegre: Edição dos Autores, , 1993. 355 p.
PRATES, H. T.; SANTOS, J. P. Produtos naturais ajudam o agricultor. ,
Pelotas, n. 18, p. 38-41, 2000.
PUSZTAI, A. et al. Antinutritive effects of wheat-germ agglutinin and other N-
acetylglucosamine-specific lectins. , v. 70, n. 1, p. 313-32, 1993.
PUSZTAI, A. et al. Effect of the insecticidal Galanthus nivalis agglutinin on
metabolism and the activities of brush border enzymes in the rat small
intestine. , v. 7, n.12, p. 677-682, 1996.
QUEIROZ-VOLTAN, R. B.; STUBBLEBINE, W. H.; SHEPHERD, G. Variação de
terpenos em e seu papel na defesa contra herbívoros.
, v. 54, n. 2, p.217-235, 1995.
RENOU, M.; GUERRERO, A. Insect parapheromones im olfaction research and
semiochemical-based pest control strategies. , v. 45, p.
605-630, 2000.
REVISTA GALILEU.
. jun. 2002. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.
com/toxicos/agrosujo.htm>. Acesso em: 10 set. 2002.
Phytomedicine: International Journal of Phytotherapy &
Phytopharmacology
Agrotóxicos
Agroecologia sem veneno
Agricultura ecológica e a máfia dos
agrotóxicos no Brasil
Cultivar
Br. J. Nutr.
J. Nutr. Biochem
Bragantia
Ann. Rev. Entomol.
Pesquisa aponta relação entre uso de agrotóxicos e alto
número de suicídios
Hyptis suaveolens
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 155
RODRIGUEZ, H. C.
Piracicaba, 1996, 100 p. Tese (Doutorado em Ciências) – Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Universidade de São Paulo,
Piracicaba, 1996.
ROEL, A. R. et al. Efeito do extrato acetato de etila de Swartz
(Meliaceae) no desenvolvimento e sobrevivência da lagarta-do-cartucho.
, Campinas, v. 59, n. 1, p. 53-58, 2000.
ROSA, P. C. F. . Porto Alegre: FARSUL/SENAR-RS,
1996. 50p.
SAAD, O. . 2. ed. São Paulo: Livraria Nobel, 1981. 267 p.
SACHS, E. S. et al. Pyramiding CryIA (b) insecticidal protein and terpenoids in
cotton to resist tobacco budworm (Lepitoptera: Noctuidae).
, v. 25, n. 6, p. 1257-1266, 1996.
SALAZAR, E. C. . Pelotas: Ed. da UFPelotas, 1997. 646p.
SANTANA’ANNA JR., N.; COSTA, M.; AKAGI, H. Níveis de mercúrio total e metil
mercúrio no cabelo de uma população costeira e peixes do Nordeste do
Brasil. In: ESPÍNDOLA, E. L. G. et al. (Orgs.).
. São Carlos, SP: RiMa, 2000. p. 229-240.
SANTOS, I. C.; CASALI, V. W. D.; MIRANDA, G. V. Teores de metais pesados, K e
Na, no substrato, em função de doses de composto orgânico de lixo urbano e
de cultivares de alface. , Santa Maria, v. 29, n. 5, p. 415-421,
1999.
SAYED, K. A. et al.Marine natural products as leads to develop new drugs and
insecticides. In: CUTLER, S. J.; CUTLER, H. G. (Eds.).
: fharmaceuticals. Boca Raton, London, New York, Washington: CRC
Press, 2000. p. 233-264.
Efeito de extratos aquosos de Meliaceae no
desenvolvimento de (J. E. Smith) (Lepidoptera:
Noctuidae).
Bragantia
Aplicação de agrotóxicos
A vez dos herbicidas
Environ.
Entomol.
Inseticidas e acaricidas
Ecotoxicologia, perspectivas para
o século XXI
Ciência Rural
Biologically active natural
products
spodoptera frugiperda
Trichilia pallida
Referências
156 |
SEASA, PR. .
Agricultura e Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.noproblem.
matrix.com.br/ qg/trabalhos/geografia/americalatina.htm>. Acesso em: 14
ago. 2001.
SECRETARIA DA SAÚDE DE SÃO PAULO. .
Governo do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.sucen.sp.
gov.br/docstec/seguranca/cap12cla.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2001.
SEO, S. et al. A diterpene as an endogenous signal for the activation of defense
responses to infection with tobacco mosaic virus and wounding in tobacco.
, v. 15, p.863-873, 2003.
SERAFINI, L. A.; BARROS, N. M.; AZEVEDO, J. L. Biotecnologia: princípios e
aplicações. In: ___. (Coords.).
. Guaíba: Agropecuária, 2001. cap. 1. p. 25-74.
SIQUEIRA, G. W.; BRAGA, E. S. Avaliação da dinâmica e da biodisponibilidade
de Zn, Ni, Co e Pb para a biota, a partir de sedimentos da plataforma
continental do Amapá, Nordeste de Amazônia. In. ESPÍNDOLA, E. L. G. et al.
(Orgs.). . São Carlos, SP: RiMa,
2000. p. 241-265.
SMITH, F. B. . Financial times, letter to the
editor. July 27, 2001. Disponível em: <http://www.agbioworld.org>. Acesso
em: 29 set. 2001.
SODERLUND, D. M.; BLOOMQUIST, J. R. Neurotoxic actions of pyrethroid
insecticides. , v.34, p.77-96, 1989.
SOUZA, A. P.; VENDRAMIN, J. D. Efeito de extratos aquosos de meliáceas
sobre Benisia tabaci bióticpo B em tomateiro. , Campinas, v. 59, n. 2,
p. 173-179, 2000.
Resíduos de agrotóxicos em alimentos, de 1987 a 1992
Ação residual dos organoclorados
Plant Cell
Biotecnologia na agricultura e na
agroindústria
Ecotoxicologia, perspectivas para o século XXI
Restricting technology can be risky
Ann. Rev. Entomol.
Bragantia
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 157
SP NOTÍCIAS.
. 05 ago. 2004. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.com/
toxicos/aguatoxica.htm>. Acesso em: 15 out. 2008.
STANGARLIN, J. R. et al. Plantas medicinais e o controle alternativo de
fitopatógenos. , v. 11, n.4, p. 16-
21, 1999.
STOEWSAND, G. S.; ANDERSON, J. L.; BROWN, S. K. Blood cholinesterase in
rats feed an insect resistance apple clone containing a natural cholinesterase
inhibitor. , n. 41, p. 121-127,
1994.
STRAUCH, D. . Amsterdan:
Elsevior Science, 1987, 324p.
SUSUKI, H. S. et al. Signals for local and systemic responses of plants to
pathogen attack. , v. 33, n. 395, p. 169-179,
2003.
TABASHNIK, B. E. Seeding the root of insect resistance to transgenic plants.
., v. 94, p. 3488-3490, 1997. Disponível em:
<http://www.pnas.org.>. Acesso em: 12 ago. 1999.
TAN, K. H. . Athens: Marcel Dekker, 1994. 225p.
TOMIZAWA, M.; CASIDA, J. E. Selective toxicity of neonicotinoids attributable
to specificity of insect and mammalian nicotinic receptors.
, v. 48, p. 339-364, 2003.
TSUNECHIRO, A.; FERREIRA, C. R. R. P. T. Defensivos: mercado em alta.
, n. 22, p. 22-24, 2000.
USDA. Relatórios. USA. Disponível em: <http://www.ars.usda.gov>. Acesso
Agrotóxicos ilegais continuam sendo usados em frutas e
hotaliças
Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento
Journal of Toxicology and Environmental Health
Animal production and environmental health
Journal of Experimental Botany
Proc. Natl. Acad. Sci
Environmental soil science
Ann. Rev.
Entomol.
Cultivar
Referências
158 |
em: 18 ago. 2001.
VENDRAMIM, J. D.; CASTIGLIONI, E. Aleloquímicos, resistência de plantas e
plantas inseticidas In: . Santa Maria:
Ed. Pallotti, 2000. p. 113-128.
VERBENE, M. C. et al. Overproduction of salicylic acid in plants by bacterial
transgenes enhances pathogen resistance. n.18,
p.779-783, 2000.
WEDGE, D.; CAMPER, N. D. Connections between agrochemicals and
pharmaceuticals. In: CUTLER, S. J.; CUTLER, H. G. (Eds.).
: fharmaceuticals. Boca Raton, London, New York,
Washington: CRC Press, 2000. p. 1-16.
WILLIAMS, W.P. et al. Southwestern corn borer damage and aflatoxin
accumulation in conventional and transgenic corn hybrids.
, v. 91, p. 329-336, 2005.
XU, D. et al. Constitutive expression of a cowpea trypsin inhibitor gene, CpTi,
in transgenic rice plants confers resistance to two major rice insect pests
, n. 2, p. 167-173, 1996.
YAMAMOTO, Y. Mode of action of pyrethroids, nicotinoids, and rotenoids.
, v. 15, p. 257-272, 1970.
YOSHIOKA, H. et al. gp91phox homologs NbrbohA
and NbrbohB participate in H2O2 accumulation and resistance to
. , v. 15, p. 706-718, 2003
Bases e técnicas do manejo de insetos
Nature Biotechnology,
WARE, G. W. An introduction to herbicide. University of de Minnesota.
2000. Disponível em: <http://ipmworld.umn.edu/chapters/
wareherb.htm>. Acesso em: 16 fev. 2002.
Biologically active
natural products
Field Crops
Research
Molecular Breeding
Ann. Rev. Entom.
Plant Cell
Nicotiana benthamiana
Phytophthora infestans
Luiz Alberto Silveira Mairesse e Ervandil Corrêa Costa
| 159