Clivagem pode ser entendida como a ^quebra de uma célula ...
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Apostila de Histologia e Embriologia
Odontologia - UNIB
Ivan Onone Gialain – [email protected]
Embriologia Geral
• O que é embriologia?
Estudo dos embriões. Formados a partir da fecundação de um ovócito secundário por um
espermatozoide.
• Gametas e fertilização
Os órgãos reprodutores humanos, através de processos de divisão celular (mitose e meiose)
criam as células reprodutoras (gametas). Cada gameta tem a metade dos cromossomos de uma
célula somática.
Cromossomos na célula somática: 46 – sendo 22 pares de cromossomos autossômicos e dois
cromossomos sexuais (XX ou XY).
Cromossomos no gameta: 23 – sendo 22 cromossomos autossômicos e um cromossomo sexual
(X ou Y).
• Zigoto
O zigoto é formado por um gameta feminino fecundado por um gameta masculino. Há a união
dos materiais genéticos formando uma única célula com um total de 46 cromossomos.
Quando o zigoto é formado, inicia-se a fase de proliferação e migração celular.
• Clivagem e mórula
Clivagem pode ser entendida como a “quebra” de uma célula em duas, de duas em quatro, de
quatro em oito e assim em diante. Cada uma dessas células recebe o nome de blastômeros.
Com o crescimento em número dos blastômeros, em torno de 32 células unidas, um nome de
mórula é dado ao conjunto (semelhante à amora).
• Blastocisto
Quando a mórula entra no útero (estava na tuba uterina), é formada uma cavidade que é
preenchida por líquido. Recebe agora o nome de blastocisto.
Acontece agora a primeira diferenciação entre grupos celulares:
Massa celular interna ou embrioblasto: formam o embrião, e todas as células do corpo humano.
Células do trofoblasto: revestem toda a cavidade. Serão responsáveis pela formação da placenta
e implantação do embrião.
• Implantação
O blastocisto entra em contato com o epitélio do endométrio (útero) e se adere a sua parede.
As células do trofoblasto se diferenciam em dois grupos:
Citotrofoblasto: grande divisão celular e forma a porção embrionária da placenta (a placenta
também possui uma porção formada pelo corpo da mãe).
Sinciciotrofoblasto: vai formar uma massa de células indefinida que vai penetrando
progressivamente no tecido uterino, até encontrar os vasos sanguíneos e formar a circulação
uteroplacentária.
• Disco embrionário bilaminar
O embrioblasto vai se diferenciar em dois tipos diferentes de células, formando duas cavidades:
o epiblasto se situa dorsalmente e forma a bolsa amniótica, já o hipoblasto está na face ventral
e após multiplicação e migração formará o saco vitelino (ou vitelínico).
• Gastrulação do embrião
Processo no qual o disco bilaminar ser torna um disco trilaminar.
Células do epiblasto migram para a linha média do assoalho da cavidade aminiótica, formando
a linha primitiva. A linha primitiva define o longo eixo do embrião e a divisão da região cranial e
caudal, sendo que a linha primitiva se inicia próxima à extremidade caudal. Próxima à
extremidade cranial existe uma área chamada placa pré-cordal (firme adesão entre hipoblasto
e epiblasto). Três grupos de células epiblásticas migram através da linha primitiva para o espaço
entre os dois discos embrionários.
1. Algumas células substituem células do hipoblasto (voltadas para o epiblasto) e formam o
endoderma.
2. Outras células se diferenciam e migram para as regiões laterais à linha primitiva formando
o mesoblasto.
3. Movimentam em direção cranial e formam futuramente a notocorda, que sustenta o
embrião. A notocorda tem um formato cilíndrico que percorre todo o longo eixo do embrião.
• Nova nomenclatura
Com a formação agora de um disco embrionário trilaminar, o nome dos tipos celulares muda: o
epiblasto é chamado de ectoderma; o hipoblasto é chamado de endoderma e o mesoblasto é
chamado de mesoderma intraembrionário.
Nessa fase o mesoderma intraembrionário e a notocorda separam o ectoderma do endoderma,
com exceção da placa pré-cordal e da extremidade caudal do embrião.
• Neurulação
Por influência da notocorda, uma camada de células ectodérmicas se diferencia no longo eixo
do embrião (formação da placa neural) e dois grupos celulares inicia um crescimento em “U”
formando duas pregas (ou cristas) neurais que limitam o sulco neural. Com o desenvolvimento
das pregas há o eventual fechamento e criação do tubo neural (futuro sistema nervoso central).
Células da prega neural, após o fechamento do tubo neural, formam uma massa celular no
mesoderma (entre o ectoderma e o tubo neural) chamada de crista neural. As células da crista
se separam e migram para as laterais do tubo, elas se transformarão em gânglios espinhais e do
sistema autônomo e as meninges.
• Somitos
Durante a formação do tubo neural, concomitantemente com a neurulação, as células do
mesoderma se modificam em outros 3 grupos celulares (mesoderma paraxial, intermediário e
placa lateral). O mesoderma paraxial vai se dividir, em cada lado, em 42 ou 44 porções celulares
que serão denominadas “somitos”. Deles vão se originar o esqueleto axial e músculos
associados, derme da pele adjacente.
• Dobramento do embrião
Ao mesmo tempo em que o embrião cresce, ele sofrerá dobramento tanto em seu longo eixo
quanto transversalmente.
No crescimento no plano longitudinal as duas porções mais importante: são a prega cefálica e a
prega caudal. A prega cefálica se forma quando o prosencéfalo se projeta anteriormente e
ultrapassa a membrana bucofaríngea. O ectoderma reveste toda a prega cefálica, inclusive
recobrindo o estomodeu (cavidade oral primitiva). A prega caudal é formada pela projeção da
região caudal sobre a membrana cloacal e irá formar o final do intestino.
O dobramento transversal ocorre com o ectoderma do assoalho da cavidade amniótica
migrando em direção ventral e encapsulando o embrião, essas células formarão o epitélio de
superfície. As células do mesoderma paraxial (somitos) se mantém nas laterais do tubo neural.
O mesoderma da placa lateral se bifurca em duas placas somática e esplâncnica, entre as duas
placas o celoma (espaço que formará as cavidades do corpo) será formado. O mesoderma
intermediário se mantém dorsalmente às placas laterais. Já o endoderma se tornará um tubo
envolto pelo mesoderma da placa lateral (placa esplâncnica) e formará o intestino primitivo.
Embriologia Facial
Formação da face
São diversas estruturas que participam da formação facial, entre elas estão a proeminência
(processo) frontal – que se origina do dobramento do embrião e os arcos branquiais.
Proeminência (eminência) frontonasal e rombômeros
Com o rápido desenvolvimento do tubo neural é formada uma série de compartimentos neurais
(prosencéfalo, mesencéfalo e rombômeros). Com esse desenvolvimento (região do
prosencéfalo e mesencéfalo) há um crescimento da região frontal da “cabeça” do embrião com
um prolongamento em direção ao ventre chamada de proeminência frontonasal. Os
rombômeros são compartimentos neurais menores que ficam “abaixo” do mesencéfalo.
Células da crista neural da região do mesencéfalo e dos rombômeros 1 e 2 irão migrar para
formar tecidos necessários para o desenvolvimento crânio facial, para a proeminência
frontonasal e para o primeiro arco branquial.
Células da crista neural
Células provenientes do ectoderma que formam massas celulares ao lado do tubo neural.
Formarão tecidos como os gânglios nervosos, melanócitos e medula da glândula adrenal. Além
disso, grupos celulares migram para a região da cabeça e pescoço, formando diversas estruturas
e servindo como base para os arcos branquiais.
Estomodeu
Após o dobramento do embrião (sentido crânio-caudal e lateral), há o surgimento de uma
cavidade oral primitiva que é delimitada pela proeminência frontonasal (cranial), eminência
cardíaca (caudal) e membrana bucofaríngea (dorsal).
*Relembrando – membrana bucofaríngea é composta pela união de ectoderma e endoderma
(antiga placa pré-cordal)
Logo após a formação do estomodeu há o rompimento da membrana bucofaríngea e
finalmente, a união entre cavidade oral primitiva e intestino é alcançada.
Aparelho branquial (ou aparelho faríngeo)
Conjunto de estruturas composto por: arcos, bolsas e fendas (ou sulcos) que formarão a maioria
das estruturas da face e do pescoço. Os arcos são prolongamentos do mesoderma recobertos
“externamente” por ectoderma e “internamente” por endoderma. As depressões formadas
entre os arcos na porção ectodérmica são chamadas de fendas faríngeas e as na porção
endodérmica, chamadas de bolsas faríngeas.
Arcos branquiais
O desenvolvimento se inicia no começo da 4ª semana de gestação e vem da porção lateral da
faringe primitiva com desenvolvimento para medial até se fundir na linha média. São em total 6
pares de arcos, porém o 5º e 6º pares são transitórios e imperceptíveis no seres humanos.
Com o desenvolvimento dos arcos, há progressiva separação do estomodeu e da eminência
cardíaca.
Os arcos branquiais são oriundos do mesênquima intraembrionário da lâmina lateral e paraxial,
revestidos externamente por ectoderma, internamente por endoderma e com massas celulares
provenientes da crista neural. Exceção: o primeiro arco é revestido totalmente por ectoderma,
pois não está acima da membrana bucofaríngea.
Células da crista neural se organizam no interior do arco, formando um tecido cartilaginoso que
servirá de base para a formação de ossos e cartilagens da cabeça e do pescoço. Além da
cartilagem, cada arco branquial terá um componente nervoso e arterial.
Sulcos e bolsas branquiais
Como dito anteriormente, as bolsas faríngeas são formadas por endoderma e os sulcos por
ectoderma. No geral são estruturas transitórias, sendo obliteradas pelo crescimento dos arcos
faríngeos.
• O único conjunto de sulco + bolsa que permanece é o primeiro (situado entre os
primeiro e segundo arco branquial). Esse conjunto formará o meato acústico externo e
a membrana timpânica.
Primeiro arco branquial
O primeiro arco é o mais importante para o estudo da Odontologia. A partir dele se formará a
maioria das estruturas da maxila e da mandíbula. Relembrando que não há componente
endodérmico nesse caso, sendo totalmente revestido por ectoderma.
Ele se divide em dois processos: maxilar (menor e superior) e o mandibular (maior e inferior).
O bastão cartilaginoso é chamado de cartilagem de Meckel e está mais relacionado ao processo
mandibular. A porção nervosa será composta por feixes do quinto par de nervos cranianos, o
nervo trigêmio e a porção muscular será responsável pela formação dos músculos da
mastigação.
Segundo arco branquial
A porção cartinagínea é chamada de cartilagem de Reichert, a nervosa é composta pelo sétimo
par (facial) e o muscular dará origem aos músculos da face
Terceiro ao sexto arcos
Possuem menos importância para a Odontologia.
O terceiro arco formará porções ósseas do hioide e inervado pelo nervo glossofaríngeo (nono
par). O quarto originará cartilagens da tireoide, músculos relacionados à faringe e palato e
inervado por um ramo do nervo vago (décimo par). O quinto e sexto arcos são transitórios.
Formação dos componentes da cabeça
Será dividida em seis partes: Crânio, Face, Palato, Língua, Maxila e Mandíbula
1- Formação do crânio
O crânio pode ser dividido em três partes: calota craniana, base do crânio e face.
Os ossos da calota se formam a partir de ossificação do mesoderma e irão envolver o cérebro.
A base do crânio tem a origem dos seus ossos a partir do mesoderma próximo à notocorda. A
face será abordada separadamente.
2- Formação da face
Inicialmente há a formação de espessamentos do ectoderma na eminência frontonasal, que
dará origem às futuras cavidades nasais, juntamente com proliferação de mesoderma dando um
formato de “U” para as elevações nasais. São definidos agora os processos nasais laterais e
mediais. Os processos mediais associados ao processo frontonasal irão formar a porção média
do nariz, septo nasal e parte do palato primário.
Nessa fase há o início da delimitação da fossa nasal, porém, seu limite posterior se dá pela
membrana oronasal que é formada por tecidos da eminência frontonasal. Após o
desenvolvimento essa membrana é rompida bilateralmente criando assim uma comunicação
entre cavidade oral e nasal, limitada anteriormente pelo palato primário.
Com o desenvolvimento dos processos nasais mediais e dos processos maxilares há um
momento em que eles irão se fundir, agora dando origem ao lábio superior. A região do filtro e
parte do palato primário se original pela fusão dos dois processos nasais mediais.
O lábio inferior é formado quando há a fusão dos processos mandibulares.
Agrupamentos na eminência frontonasal chamados de “placódios” irão formar tecidos na região
lateral que futuramente irão migrar para medial e formar os olhos e tecidos adjacentes.
3- Formação do palato secundário
Como visto anteriormente, o palato primário é formado por régios da proeminência frontonasal
e processos nasais mediais. Nesse estágio não existe separação entre cavidade oral e nasal,
sendo que a língua em desenvolvimento ocupa a maior parte dessa cavidade conjunta.
Dois processos palatinos se formam juntamente com o deslocamento inferior do septo nasal.
Com o desenvolvimento dos processos palatinos, eles passam a ocupar o espaço em que a língua
estava e, eventualmente, se fundem na linha média. Essa fusão ocorre a partir do palato
primário em direção posterior e a fusão entre os processos palatinos e septo nasal completam
a divisão entre cavidades nasais e cavidade oral.
4- Formação da língua
Junto com a fase inicial do desenvolvimento dos arcos branquiais se inicia a formação da língua.
Diferentes porções formarão a língua, isso ajuda a explica o porquê desse órgão receber
inervação de diferentes pares de nervos cranianos.
Uma protuberância na região medial do processo mandibular chamada tubérculo impar se
forma, logo após duas protuberâncias linguais laterais se desenvolvem, se fundem entre si e
com o tubérculo impar, formando os dois terços superiores da língua. Lembrar que o processo
mandibular é inervado pelo nervo trigêmio, portanto essas estruturas também serão.
A base (ou raiz) da língua é formada se desenvolve a partir de um crescimento tecidual chamado
cópula, que é formado na parte medial do segundo, terceiro e quarto arcos. Lembrar nessa
etapa que os dois terços anteriores provenientes do processo mandibular não possuem
endoderma, e a cópula é formada por endoderma.
Já o tecido muscular intrínseco da língua é formado por células provenientes de somitos
occipitais. Assim como os músculos o nervo hipoglosso (nervo motor) não é originado dos arcos
branquiais.
A língua nesse momento ainda está totalmente unida com o assoalho da cavidade bucal, até que
um crescimento ectodérmico ocorra e depois se desprenda. Assim a língua passa a ter
mobilidade.
5- Formação da maxila
O centro de ossificação do osso maxilar se inicia em tecido do mesoderma (células provenientes
da crista neural) na bifurcação do nervo orbital inferior, dando origem ao nervo dentário
anterossuperior.
O desenvolvimento da ossificação ocorre posteriormente sob a órbita, em direção ao osso
zigomático em formação e anteriormente para a região dos dentes incisivos. Há crescimento
para a região dos processos palatinos formando o palato duro. Durante o processo de
ossificação ainda serão ossificados os processos frontais e zigomáticos.
Uma curiosidade é que a maxila é muito menor do que a mandíbula mesmo ao nascimento, pois
uma estrutura que contribui para o aumento do osso é o seio maxilar, que ainda não possui
forçar pneumáticas.
6- Formação da mandíbula
A cartilagem de Meckel está compreendida dentro do processo mandibular do primeiro arco
branquial, mas não desempenha papel direto na ossificação do osso mandibular. O que é
discutido e aceito é que a cartilagem desempenha o papel de definir a localização das estruturas.
O nervo mandibular se divide duas vezes, na primeira nos ramos lingual e alveolar inferior. O
ramo alveolar inferior se divide novamente em ramo incisivo e ramo mentual. Na região da
segunda divisão, bilateralmente, surge o centro de ossificação mandibular. A deposição de
tecido ósseo (ossificação intramembranosa) ocorre anteriormente para a região de sínfise. Toda
a ossificação do corpo mandibular ocorre com a formação de “calhas” medial e lateral, que
posteriormente se unem ao envolver o nervo.
Quando a ossificação atinge a região posterior (do ramo) há uma rápida deposição de osso, se
afastando da cartilagem de Meckel. Essa cartilagem terá três diferentes destinos:
• Porção mais posterior forma o martelo e bigorna (ossos da orelha média) e um
ligamento na região da orelha.
• Porção próxima à bifurcação do nervo mandibular em lingual e alveolar inferior é
reabsorvida, mas o pericôndrio (envolve a cartilagem) se torna o ligamento
esfenomandibular, que se insere na língula da mandíbula.
• Na porção anterior à língula a cartilagem é totalmente perdida.
As últimas porções a se ossificar são formadas por três pares de cartilagens secundárias –
ossificação endocondral:
• Condilar: formará o côndilo da mandíbula e mantém uma fina camada até perto dos 20
anos de idade, auxiliando no crescimento da mandíbula.
• Coronoide: na região anterior e sobre o processo coronoide. Desaparece antes do
nascimento.
Cartilagens da sínfise mandibular: Surgem entre as duas cartilagens de Meckel (uma de cada
lado) e se mantém até o primeiro ano de vida
Odontogênese
Processo de formação do órgão dentário, que ocorre na região mandibular e maxilar. São
gerados, normalmente, 20 dentes decíduos (de leite) e posteriormente, 32 dentes
permanentes.
Na dentição decídua temos 3 grupos de dentes – incisivos, caninos e molares. Já na permanente
são 4 grupos – incisivos, caninos, pré-molares e molares.
Banda epitelial primária
A cavidade oral primitiva é revestida por ectoderma com um tecido mesenquimal subjacente.
Células provenientes da crista neural migram para o mesoderma e passa a se diferenciar e irão
formar tecidos conjuntivos, esse tecido é chamado ectomesênquima
O ectoderma tem forma de ferradura e é composto por uma camada de três células. Com a
mudança do eixo de mitose das células epiteliais faz com que ocorra o espessamento do epitélio
oral para “dentro” do ectomesênquima. Esse espessamento recebe o nome de banda epitelial
primária.
Lâmina dentária e lâmina vestibular
Com o desenvolvimento da banda epitelial, ocorre uma bifurcação. Duas lâminas são formadas
que correm paralelas, por toda extensão da “ferradura”.
A lâmina vestibular (mais externa) se prolifera rapidamente em direção do ectomesênquima e,
em determinado ponto, as células centrais dessa lâmina se degeneram, criando um sulco. Esse
sulco (vestibular) irá formar o fundo de saco do sulco vestibular.
A lâmina dentária (mais interna) irá formar os dentes. Após a definição do sulco vestibular, a
lâmina dentária é a única estrutura que segue o formato de ferradura. O tecido epitelial mantém
sua proliferação para dentro do ectomesênquima. Como em todo tecido epitelial da cavidade
oral, uma lâmina basal subjacente separa o epitélio do futuro tecido conjuntivo (mesênquima).
Formação do dente
A partir da lâmina dentária, algumas porções de células começam a se diferenciar com
sinalização entre epitélio e mesênquima nas regiões dos futuros dentes. A formação dos dentes
segue a seguinte ordem: fase de botão, fase de capuz, fase de campânula, fase de coroa e fase
de raiz.
Fase de botão
Nessa fase o crescimento do tecido epitelial não é mais uniforme, no formato de ferradura.
Ocorre a formação de 10 pequenas esferas em cada arco (referente aos 10 dentes decíduos).
As células epiteliais passam a ter formato cúbico na periferia do epitélio e formato poligonal no
centro, com muita atividade mitótica.
O ectomesênquima abaixo do epitélio começa a sofrer uma leve condensação (agrupamento de
células) em torno da porção inferior do “botão” epitelial. O desenvolvimento dos botões não é
sincronizado, há surgimento aos poucos dos botões.
Fase de capuz
O crescimento do botão epitelial deixa de ser uniforme e passa a se desenvolver um crescimento
mais lateral do que em altura, com uma pequena depressão na região central. Agora passa a ter
o formato de boné ou capuz (grande atividade proliferativa).
Na região central (depressão) do capuz, há maior concentração de células ectomesenquimais,
com uma condensação um pouco menor nas regiões periféricas do capuz.
Agora o conjunto de células epiteliais e ectomesenquimais passa a se chamar “germe dentário”
que possuí 2 grandes divisões.
• O órgão do esmalte é formado pelo tecido epitelial, onde há o epitélio interno (região
“inferior”), o epitélio externo (revestimento voltado para o epitélio oral) e o retículo
estrelado (células centrais do órgão do esmalte).
• O ectomesênquima sofre maior condensação abaixo do epitélio interno e recebe o
nome de papila dentária (que será responsável pela formação da dentina e da polpa).
Ainda na fase de capuz, o ectomesênquima que rodeia o germe dentário se diferencia e se
condensa, formando o folículo (ou saco) dentário. Suas células irão formar todo o periodonto
de sustentação dos dentes – cemento, ligamento periodontal e osso alveolar.
Fase de campânula
Nessa nova fase diminuí a proliferação das células epiteliais e o órgão do esmalte passa a ter um
formato de sino, com a “boca” voltada para o ectomesênquima. Com menor atividade mitótica,
começa a ocorrer diferenciação e especialização das células do germe dentário.
Devido ao aumento de volume do retículo estrelado, as células do epitélio externo se tornam
achatadas (epitélio pavimentoso) e as células do epitélio interno se tornam cilíndricas baixas.
Formação de três novas estruturas:
• Estrato intermediário – epitélio pavimentoso com 2 ou 3 camadas, entre epitélio
interno e retículo estrelado, que auxilia na formação do esmalte.
• Alça cervical – encontro do epitélio interno com o epitélio externo.
• Bainha radicular de Hertwig – Após a formação da coroa, as células da alça cervical se
proliferam e sinalizam a formação da raiz.
Ocorre finalmente a separação do germe dentário da lâmina dentária (estavam em comunicação
por uma espécie de “cordão umbilical”), e algumas células da lâmina permanecem no osso
alveolar em formação para constituir o canal gubernacular – importante papel na erupção do
dente. O germe dentário se separa da lâmina dentária, pois o folículo passa a envolver todo o
germe e o osso alveolar se apresenta em estágio avançado de formação.
Um dos mais importantes aspectos morfológicos da coroa ocorre quando algumas células do
epitélio interno param de se dividir, formando dobras epiteliais. As células que ainda estão em
divisão acabam “empurrando” as dobras epiteliais, que irão formar as pontas de cúspide ou
bordas incisais dos dentes.
Além das dobras epiteliais no epitélio interno, há condensação de células do estrato
intermediário na região dos vértices das cúspides. A essa condensação é dado o nome de nó do
esmalte.
Fase de coroa
Pode ser considerada como uma fase de campânula avançada. Uma sequência de
acontecimentos leva ao início da formação da coroa, começando na região dos nós do esmalte
em direção à alça cervical.
• Células do epitélio interno se tornam cilíndricas e sofrem inversão da polaridade – o
núcleo se afasta da lâmina basal – virando pré-ameloblastos.
• Células da papila recebem indução dos pré-ameloblastos e se diferenciam em
odontoblastos.
• Odontoblastos secretam a primeira camada de matriz dentinária.
• A matriz dentinária induz a diferenciação dos pré-ameloblastos em ameloblastos.
• Secreção de matriz orgânica do esmalte pelos ameloblastos.
Assim como a formação dos botões, as etapas de diferenciação e secreção de dentina e esmalte
não ocorrem uniformemente no germe dentário. É comum observar regiões onde já há a
secreção de matriz orgânica e outras onde o epitélio interno e papila dentária estão
indiferenciados.
A deposição do esmalte ocorre do centro para a periferia – se afastanto da papila. E a deposição
da dentina ocorre da lâmina basal (região entre epitélio interno e papila) em direção ao centro
da papila dentária.
Fase de raiz
Na formação da coroa, células epiteliais são necessárias para a diferenciação de odontoblastos.
Na raiz o processo é o mesmo, porém, essas células epiteliais são provenientes da bainha
radicular de Hertwig.
Quando a diferenciação celular atinge a região da alça cervical, células do epitélio interno e
externo se proliferam em direção apical. Como há presença de osso alveolar mineralizado, a
bainha não consegue se proliferar verticalmente, sofrendo uma dobra – diafragma epitelial.
Como não há espaço para a proliferação do epitélio e consequente formação de dentina, só há
uma maneira de formar a raiz em direção apical:
• Apenas as células próximas ao diafragma epitelial se multiplicam e as células da bainha
que já estão se diferenciando induzem a diferenciação de células da papila em
odontoblastos. Esses odontoblastos irão secretar dentina radicular, ao mesmo tempo
em que todo o germe dentário se movimenta coronalmente a caminho da erupção.
Conforme a dentina é formada, a bainha que estava em contato se desprende e algumas células
ficam “soltas” no espaço que será ocupado pelo ligamento periodontal. Essas células são
chamadas de restos epiteliais de Malassez.
Amelogênese
Processo em qual o esmalte do dente é formado. Ocorre simultaneamente com a
dentinogênese.
A principal célula envolvida na formação do esmalte é o ameloblasto, que é uma célula do
epitélio interno do órgão do esmalte diferenciada. Durante toda a amelogênese, o
ameloblasto passa por diversas fases funcionais.
Para a diferenciação de pré-ameloblastos em ameloblastos é necessária a presença de matriz
dentinária. A formação do esmalte se inicia na fase de coroa da odontogênese.
Fase morfogenética
Inicia-se na fase de campânula, onde as células do epitélio interno param de se dividir –
dobramento do epitélio – será a futura região de vértice de cúspide ou de borda incisal.
Dentre as características celulares, algumas são mais importantes:
• Célula cuboide com núcleo próximo à lâmina basal
• Complexo de Golgi pouco desenvolvido e próximo à região do retículo estrelado
Fase de diferenciação
Ocorre a inversão de polaridade da célula do epitélio interno. Ao final dessa inversão se torna
agora um pré-ameloblasto. Essa nova célula quase dobra em altura e se torna cilíndrica e um
novo grupo celular aparece – estrato intermediário.
O que é a inversão de polaridade? As estruturas internas mudam de lugar.
• O núcleo migra da região próxima à lâmina basal em direção à região próxima ao
estrato intermediário.
• O complexo de Golgi faz o caminho inverso, ficando próximo à lâmina basal.
• Desenvolvimento do retículo endoplasmático rugoso, seguindo o longo eixo da célula.
Os novos pré-ameloblastos secretam mediadores que leva as células da papila dentária a se
diferenciarem em odontoblastos. Com a secreção da matriz de dentina pelos odontoblastos,
inicia uma nova diferenciação dos pré-ameloblastos em ameloblastos.
Os ameloblastos serão ainda mais “altos”, como células cilíndricas altas. O desenvolvimento do
complexo de Golgi e retículo endoplasmático rugoso continuam. Ocorrem ainda mais alguns
processos:
• Liberação de enzimas que degradam a lâmina basal
• Projeção de pequenos prolongamentos dos pré-ameloblastos em direção à dentina
Fase secretora
O órgão do esmalte ainda é constituído por epitélio externo, retículo estrelado, estrato
intermediário e ameloblastos.
Lembrar que a diferenciação dentro do epitélio interno em ameloblasto ocorre em tempos
diferentes, dependendo da região. Começa pela região dos vértices de cúspide em direção à
alça cervical.
Os ameloblastos estão firmemente unidos uns aos outros, criando um cordão celular que é
responsável pela produção do esmalte.
Na fase secretora que realmente se inicia a produção do esmalte. Tanto a fase morfogenética
quanto a de diferenciação eram compostas de uma “preparação” celular para a fase secretora.
• O retículo endoplasmático rugoso inicia a síntese de proteínas da matriz do esmalte.
• O complexo de Golgi condensa e empacota essas proteínas, liberando depois por
grânulos de secreção.
• Os grânulos migram para a região do ameloblasto em contato com a dentina em
formação e nesse espaço libera o material orgânico da matriz do esmalte.
A matriz do esmalte tem uma grande diferença da matriz de outros tecidos mineralizados, suas
proteínas não são colágenas (as proteínas da dentina e do osso são colágenas). São dois os
grandes grupos: amelogeninas e não-amelogeninas.
Logo após a secreção da matriz orgânica já se inicia a mineralização, porém chegando a apenas
15% de mineralização. Os primeiros núcleos de mineralização aparecem próximos à dentina –
sugere que os cristais da dentina que forneçam os minerais necessários para o esmalte. O
mineral se encontra envolto por uma corrente de nano esferas de amelogenina (principal
proteína do esmalte).
Os minerais dessa camada inicial do esmalte, composta por hidroxiapatatita, são organizados
de maneira perpendicular à superfície dentinária – fase inicial de secreção de esmalte.
Após a deposição de cerca de 30 a 40 µm (micrômetro – 0,001 milímetro), o ameloblasto deixa
te der uma superfície celular plana e aparece um pequeno prolongamento – chamado de
processo de Tomes. Com a presença do processo de Tomes, se inicia a segunda fase secretora.
Os ameloblastos inicialmente eram nutridos por vasos sanguíneos da papila dentária, mas com
a mineralização da dentina, esse suprimento deixa de existir.
Para contrabalancear esse problema, o órgão do esmalte se reduz e o espaço ocupado pelo
retículo estrelado diminui bruscamente. Agora a distância entre os ameloblastos e epitélio
externo é pequena, e os vasos do folículo dentário passam a fornecer o suprimento sanguíneo.
Com o novo formato, o ameloblasto irá secretar o esmalte com diferente estrutura. Antes os
cristais se posicionavam perpendiculamente à dentina, agora irão ter o formato de prismas
(como se fossem pilares). O esmalte será depositado em prismas e também em uma
substância menos organizada entre os prismas (região interprismática).
Após a secreção da matriz do esmalte, o epitélio externo, retículo estrelado e estrato
intermediário terminam seu colapso, e se apresentam como apenas 2 ou 3 camadas de células
– já o ameloblasto também se transforma novamente: o processo de Tomes desaparece e
pode ser secretado mais uma camada de esmalte aprismático semelhante a primeira camada
de esmalte.
Fase de maturação
Os ameloblastos voltam a parecerem células cilíndricas baixas e as estruturas envolvidas na
secreção da matriz de esmalte involuem (contrário de evoluir).
Os ameloblastos se dividem em dois grupos que terão as seguintes ações:
• Remover elementos orgânicos e água
• Bombear íons que vão aumentar a quantidade de cristais de hidroxiapatita
Os cristais vão aumentar de tamanho e em número também e, eventualmente, vão começar a
se fundir com outros cristais em crescimento.
A maturação que ocorre nessa fase é chamada de maturação pré-eruptiva, pois após a
erupção do dente e com o contato do esmalte com a saliva o esmalte sofre uma nova
maturação.
Fase de proteção
Os ameloblastos tomam formato cúbico novamente e perdem totalmente a capacidade
secretora de matriz ou mineral. Nessa última fase é secretado um material semelhante a uma
lâmina basal – o ameloblasto se une a essa camada formando um epitélio que recobre todo o
esmalte.
As outras células do órgão do esmalte desaparecem, sobrando apenas essa camada de
ameloblastos cúbicos – que é chamada agora de epitélio reduzido do esmalte.
Mas por que o esmalte precisa ser protegido?
Se não houver o epitélio reduzido, o esmalte pode sofrer degradação por células semelhante a
macrófagos ou uma camada de tecido semelhante ao cemento pode ser depositado sobre esse
esmalte. Tanto essas células de degradação como de aposição de material são provenientes do
folículo dentário.
Esmalte
Pequeno resumo:
• Estrutura mais dura do corpo humano, porém, frágil (fratura com facilidade).
• Único tecido mineralizado de origem epitelial e acelular.
• Função – Superfície responsável pela quebra dos alimentos, protege o órgão dental
contra agentes mecânicos abrasivos e químicos (ácidos).
• Principal célula na formação – Ameloblasto.
• Origem embrionária – Ectoderma.
• Composição – aproximadamente 96% de componente mineral (cristais de
hidroxiapatita), e os outros 4% de água e matriz orgânica.
• Coloração – quanto mais mineral, mais translúcido – varia do branco amarelado ao
branco acinzentado.
Estrutura prismática do esmalte
Como já visto na amelogênese, durante a secreção secundária, o ameloblasto possui uma
estrutura chamada de processo de Tomes. Tais processos passam a depositar a matriz de
esmalte de maneira extremamente organizada, conferindo maior resistência mecânica para os
prismas.
Prismas e região interprismática
São barras extremamente mineralizadas que se estendem por toda a espessura do esmalte.
Em geral os cristais de hidroxiapatita se posicionam paralelos ao longo eixo do prisma. O
processo de Tomes não é totalmente regular, portanto o formato do prisma é irregular
também, mas geralmente é semelhante a uma barra cilíndrica.
O esmalte interprismático é estruturalmente muito semelhante ao prisma, a principal
diferença é a região do ameloblasto que o produz (face lateral do processo de Tomes) e
também a disposição dos cristais de hidroxiapatita.
Os prismas de esmalte são conhecidos por terem um formato de “buraco de fechadura”. Para
explicar esse formato ambas as regiões do esmalte são consideradas: a parte circular é
formada pelo prisma propriamente dito, e a parte inferior é formada pelo esmalte
interprismático.
Esmalte aprismático
Na fase inicial de secreção dos ameloblastos é formada uma camada de esmalte menos
organizada, com os cristais minerais perpendiculares à lâmina basal. Essa camada é chamada
de esmalte aprismático, pois sua estrutura não é formada por prismas.
Em algumas situações a superfície externa do esmalte prismático pode ser recoberta por mais
uma camada de esmalte prismático.
Diferença entre dentes decíduos e permanentes
São duas as principais diferenças entre o esmalte dos dentes decíduos para os permanentes:
• Quantidade de mineral: os dentes permanentes são mais mineralizados, portanto
apresentam maior translucidez. Por esse motivo que os dentes decíduos apresentam
coloração mais voltada para o branco.
• Orientação dos prismas: na região cervical dos dentes decíduos os prismas se orientam
de maneira horizontal, quando nos permanentes a orientação é em direção à raiz do
dente.
Outras estruturas do esmalte
Estrias ou linhas incrementais de Retzius
Os ameloblastos possuem períodos de atividade e de repouso. Nos períodos de repouso pode
haver uma pequena alteração na direção do ameloblasto. Como efeito desses dois fenômenos
(repouso e alteração de direção) se torna visível uma linha perpendicular ao longo eixo dos
prismas.
Essa linha aparece em cortes histológicos por desgaste como uma imagem escura. Pode
ocorrer uma linha mais marcada chamada de linha neonatal, que é uma estria de Retzius
formada por um período maior de repouso, mais fácil de ser visualizada em dentes decíduos. A
linha neonatal recebe esse nome pois o período maior de repouso ocorre a partir do
nascimento até, aproximadamente, o 15º dia de vida.
Estriações transversais
São em parte semelhantes à estrias de Retzius, porém acontecem no próprio prisma. O
esmalte é depositado cerca de 4 µm por dia, e deve apresentar um ciclo circadiano. O prisma
de esmalte não tem sua superfície totalmente regular, apresentado algumas estrias
perpendiculares a seu longo eixo. Nas lâminas preparadas por desgasta é muito mais fácil de
observar as estrias de Retzius, porém é importante conhecer as estriações transversais que nos
dão mais informações sobre a atuação do ameloblasto.
Esmalte nodoso
Pode ser definido como um esmalte em que diferentes prismas de esmalte se cruzam de
maneira irregular. Lembrar que o prisma de esmalte é uma estrutura que sofre pequenas
curvas.
Em cortes por desgaste o esmalte nodoso é visualizado como uma imagem escura.
Tufos, lamelas e fusos
Essas três estruturas são visualizadas por regiões hipomineralizadas por diversas razões:
• Os tufos são caracterizados por imagem parecida com tufos de grama. A partir da
junção entre esmalte e dentina, atingindo até um terço da espessura do esmalte.
• As lamelas são formadas por fitas mais longas que podem alcançar a superfície do
dente. Na visualização em lâmina por desgaste, a lamela se parece com uma fratura do
esmalte.
• Os fusos são formados por prolongamentos odontoblásticos que invadem o esmalte
em formação. São continuações do túbulo dentinário e aparecem mais na região de
vértice de cúspides.
Junção amelodentinária
Lembrando que os prolongamentos de ameloblastos em vão direção aos odontoblastos e vice-
versa, a deposição de matriz orgânica e posterior mineralização seguem um padrão
extremamente irregular. Portanto a interface entre essas duas estruturas é irregular e garante
um melhor embricamento mecânico entre elas.
Estruturas superficiais
Periquimácias
São formadas pelas estrias de Retzius quando essas se alongam até a superfície externa do
esmalte. Aparecem como leves depressões horizontais que, ao se unirem, se tornam pequenas
ondulações na superfície.
Quanto mais próximo da região cervical do esmalte, mais acentuadas são essas ondulações.
Em dentes recém erupcionados é mais fácil de visualizar as periquimácias e, com o desgaste
fisiológico do esmalte, essa estrutura tende a desaparecer.
Esmalte aprismático superficial
Da mesma maneira que ocorre no início da secreção do esmalte, antes do desenvolvimento do
processo de Tomes, em algumas regiões os ameloblastos (ao final da fase secretora) voltam a
secretar um esmalte sem prismas, com cristais perpendiculares à camada anterior.
Essa camada de esmalte é extremamente fina e também tende a se perder com o desgaste
fisiológico do dente.
Dentinogênese
Tanto o tecido dentinário quanto o pulpar se originam da papila dentária, que é formada por
ectomesênquima – células da mesoderme com populações de células da crista neural.
As células responsáveis pela produção da dentina se chama odontoblastos. Que se origina a
partir de células da periferia da papila e que estão próximas ao epitélio interno do órgão do
esmalte. Todas as outras células da papila vão se transformar no tecido pulpar.
A dentinogênese pode ser separada em diferentes etapas:
• Diferenciação dos odontoblastos.
• Formação da dentina coronária.
o Matriz orgânica.
o Dentina do manto.
o Dentina circumpulpar.
• Formação da dentina radicular.
• Formação da polpa.
Diferenciação dos odontoblastos
Inicia-se durante a fase de campânula da odontogênese. A partir da inversão de polarização
das células do epitélio interno do órgão do esmalte (agora são pré-ameloblastos), há
sinalização para alterações nas células da periferia da papila dentária (agora são pré-
odontoblastos).
Os pré-odontoblastos se tornam mais altos – por conta do desenvolvimento de suas organelas.
Assim que essas organelas de síntese e secreção de proteínas estiverem completamente
desenvolvidas, a célula passa a receber o nome de odontoblasto.
Acredita-se que os processos de diferenciação tanto de odontoblastos como de ameloblastos
só ocorre graças à existência da lâmina basal entre esses grupos celulares.
O odontoblasto é uma célula diferenciada, que não sofrerá mais mitose. Pode-se dizer que
todas as divisões ocorrem antes que a célula se diferencie por completo. Dentre as principais
diferenciações da célula, as mais importantes são as relacionadas à síntese e secreção de
proteínas.
A síntese ocorre principalmente no retículo endoplasmático rugoso e a secreção ocorre
principalmente no complexo de Golgi. Além dessas duas, os odontoblastos criam junções para
formar um “cordão” de células com a superfície secretora voltada para os pré-ameloblastos.
Formação da matriz orgânica
A matriz é composta por dois tipos de componentes: fibrilar (fibras colágenas) e substância
fundamental interfibrilar (entre as fibras colágenas).
O principal componente orgânico é o colágeno do tipo 1 (85% da matriz) com pequena porção
de colágeno do tipo 5 e outras proteínas não-colágenas.
Todas essas proteínas são sintetizadas e secretadas pelos odontoblastos, sendo que o lado da
célula voltado para o esmalte que terá as organelas de para produzir e liberar essas proteínas.
Formação da dentina do manto
Apesar de não ocorrer com todas as fibrilas colágenas, a maioria delas se posiciona de maneira
perpendicular à lâmina basal. E na fase de dentina do manto, são mais grossas.
Uma nova estrutura chamada vesícula da matriz. Essa vesícula é um compartimento formado
no odontoblasto que contém cristais de mineral e é revestido por uma membrana muito
semelhante à membrana celular. As vesículas da matriz são liberadas pelos odontoblastos e
ficam entre as fibras colágenas.
Ao iniciar a deposição da matriz e vesículas, os odontoblastos apresentam pequenos processos
que se juntarão para formar um prolongamento. Esse prolongamento é uma porção da célula
que se estende (como se fosse um braço) a medida em que o odontoblasto se movimenta em
direção à papila dentária (se afastando do esmalte). O prolongamento ocupará um espaço da
dentina em formação, e esse espaço recebe o nome de túbulo dentinário.
Quando acontece a formação da primeira camada de matriz orgânica inicia-se a deposição de
mineral (hidroxiapatita) a partir das vesículas da matriz. Os cristais de hidroxiapatita tem
formato inicial de finas agulhas.
Essa camada inicial de dentina recebe o nome de dentina do manto, pois os odontoblastos
ainda estão em diferenciação e ainda estão imaturos.
Formação da dentina circumpulpar
A partir do momento em que os odontoblastos terminam sua diferenciação, se tornam
maduros ou odontoblastos circumpulpares.
A movimentação celular ainda é em direção à papila, e nessa movimentação é contínua a
secreção de matriz orgânica. Porém, agora essas fibras colágenas são mais finas e são
posicionadas paralelas ao longo eixo do túbulo dentinário.
A partir da dentina do manto, uma camada de pré-dentina (apenas material orgânico) é
depositada. Com a mineralização da pré-dentina aparece uma nova camada de pré-dentina
logo abaixo dessa que já está mineralizada. Esse processo se repete até a formação final da
dentina circumpulpar.
Nessa fase a mineralização já não depende de vesículas, mas ocorre por deposição de íons de
cálcio e fósforo ao redor das fibras colágenas. Esses núcleos de calcificação formam glóbulos
(esferas) de mineralização.
Além da mineralização da dentina entre os túbulos dentinários (dentina intertubuluar), outro
tipo de dentina aparece: ao redor dos prolongamentos odontoblásticos é depositada uma
camada com bastante mineral (cerca de 90%) que reveste internamente o túbulo dentinário.
Essa dentina é chamada de dentina peritubular.
Formação da dentina radicular
Essa dentina tem formação muito semelhante à dentina coronária. Com algumas diferenças:
• Fibras colágenas mais grossas.
• Primeira camada com fibras paralelas à lâmina basal.
• Os corpos dos odontoblastos são um pouco mais achatados do que os presentes na
dentina coronária.
Formação da polpa
A polpa se origina da papila dentária e compreende todo o tecido que está circunscrito por
dentina.
• Durante a fase de campânula, certas células da papila se diferenciam em
odontoblastos.
• Durante a fase de coroa, ocorre invasão de vasos sanguíneos formando a
vascularização do tecido pulpar.
• Com o desenvolvimento da fase de coroa é que aparecem os primeiros ramos
nervosos dentro da papila.
O desenvolvimento da polpa ocorre com a substituição de tecido ectomesenquimal por
fibroblastos e com a síntese de fibras colágenas, que irão preencher o espaço extracelular.
O tecido é considerado pulpar apenas durante a erupção dentária, com o aparecimento do
dente na cavidade oral.
Complexo Dentina-Polpa
Pequeno resumo – Dentina:
• Tecido mineralizado que serve de suporte mecânico para o esmalte
• Função – Resistência mecânica do dente – evita que o esmalte se frature com
facilidade.
• Principal célula na formação – Odontoblasto.
• Origem embrionária – Ectomesênquima (mesoderma com células da crista neural).
• Composição – aproximadamente 70% de componente mineral (cristais de
hidroxiapatita), 10% de água e 20% de matriz orgânica.
• Coloração – principalmente branco amarelado.
• Apesar de não ser vascularizado nem inervado, possui líquido dentro dos canalículos
dentinários que mantém o tecido hidratado e pode transmitir informações sobre
presença de variação de temperatura ou mudanças osmóticas.
Pequeno resumo – Polpa:
• Tecido mole, conjuntivo.
• Função – Proteção do dente: mantém o dente hidratado e possui a inervação para a
proteção contra agentes lesivos – se dói é porque algo está errado.
• Principal célula na formação – Fibroblasto.
• Origem embrionária – Ectomesênquima (mesoderma com células da crista neural).
• Composição – Fibras colágenas, vasos sanguíneos e linfáticos, ramificações nervosas e
diferentes tipos celulares – ex. odontoblastos e fibroblastos.
• Coloração – como a maioria dos tecidos conjuntivos não possui coloração
característica, porém se apresenta na cor vermelha por conta do sangue.
Estrutura da dentina
A dentina pode ser dividia em diferentes tipos:
• Dentina primária – que é dividia em:
o Dentina do manto;
o Dentina circumpulpar, que pode ser dividia em:
▪ Dentina peritubular;
▪ Dentina intertubular;
▪ Dentina interglobular.
• Dentina secundária.
• Dentina terciária ou reparativa
Dentina primária
É a dentina formada durante a odontogênese, no período que termina com a erupção do
dente (até o fechamento do ápice dental). Pode ser classificada em dentina do manto ou
circumpulpar, de acordo com a maturação dos odontoblastos.
Dentina do manto
Primeira camada de dentina formada na odontogênese que possui cerca de 10 a 30 µm de
espessura. Suas fibras colágenas se dispõem perpendicularmente ao esmalte e são
relativamente grossas.
Apesar de apresentar canalículos (formados pela presença dos prolongamentos
odontoblásticos), não possui dentina peritubular pois a dentina tem uma mineralização mais
homogênea.
A dentina do manto em conjunto com o esmalte aprismático formam a junção
amelodentinária que, como já foi dito, apresenta interface irregular.
Dentina circumpulpar
Corresponde à maior parte da dentina. Sua estrutura é muito semelhante quando é secretada
como dentina primária ou secundária. É composta pela dentina peritubular (que margeia os
túbulos dentinários) e pela dentina intertubular (que fica entre os túbulos).
O que são os túbulos dentinários
São espaços não mineralizados e sem matriz orgânica. Podem ser comparados a pequenos
“túneis” que são criados dentro da dentina.
Com a formação do prolongamento do odontoblasto há a deposição de matriz orgânica e
posterior mineralização ao redor desse prolongamento. Com isso a dentina formada
apresentará regiões em que não houve formação de dentina, pois estava ocupada pela porção
do odontoblasto.
Algumas características são muito importantes sobre os túbulos dentinários:
• Percorrem toda a espessura da dentina, desde a junção amelodentinária até a polpa;
• Nem sempre são ocupados por prolongamento celulares. Na região mais próxima do
esmalte é comum que apenas se encontre fluído dentinário, pois o prolongamento foi
retraído.
• São mais numerosos os túbulos perto da junção amelodentinária (pela ramificação dos
prolongamentos) do que na região pulpar.
• Mesmo possuindo mais túbulos, a distância entre os túbulos é maior na junção
amelodentinária do que na pulpar. Isso se explica pela maior área de dentina em
contato com esmalte do que voltada para a polpa.
• A trajetória dos túbulos não é reta, seguem o percurso que os odontoblastos fizeram
na dentinogênese. Esse percurso possui um formato de S.
• Existem diversas ramificações que conectam um túbulo ao outro, a elas é dado o nome
de canalículo dentinário.
Dentina peritubular
Forma a parede dos túbulos dentinários e possui uma quantidade maior de mineral do que a
dentina intertubular.
Dentre as diversas maneiras de se preparar lâminas para o estudo histológico há a
descalcificação para visualizar apenas o conteúdo proteico. Quando essa técnica é empregada
a dentina peritubular não aparece (não apresenta quantidade significativa de material
orgânico) e aparenta haver uma maior espaço entre o prolongamento odontoblástico e a
parede do túbulo dentinário.
Porém, quando observada em microscopia eletrônica de varredura sua visualização é fácil,
sendo clara a diferença estrutura entre a dentina peritubular e a intertubular.
Dentina intertubular
Maior parte da dentina e ocupa o espaço entre os túbulos dentinários. Possui sua matriz
orgânica composta essencialmente de fibras colágenas e menor quantidade de mineral
quando comparada à dentina peritubular.
Características da dentina primária
Uma característica observada na dentina é a região de dentina interglobular. A dentina
circumpulpar se mineraliza a partir de núcleos globulares (esféricos), e pode acontecer de
alguns desses glóbulos não mineralizarem totalmente. Com isso surge uma região com espaços
ocupados por dentina hipomineralizada – principalmente próximo à dentina do manto na
porção coronária da dentina.
Da mesma maneira que ocorre no esmalte, a deposição é feita de maneira incremental
(períodos de secreção com pequenos períodos de repouso). É semelhante às linhas
incrementais de Retzius e tem disposição perpendicular aos túbulos dentinários. A linha
neonatal na dentina é chamada de linha de Owen e é ocorre nos dentes decíduos e nas
cúspides dos primeiros molares permanentes.
Dentina secundária
Após a formação da dentina, erupção dental e fechamento do ápice os odontoblastos (tanto
coronários quanto radiculares) continuam a produzir dentina. A estrutura dessa dentina é
muito semelhante à dentina primária, porém com ritmo mais lento.
Dentina terciária ou reparativa
Se a polpa é submetida a algum estímulo que pode ser reconhecido como situação de perigo,
ocorre a formação de um diferente tipo de dentina chamada de terciária ou reacional.
Algumas células secretam “com pressa” uma determinada espessura de dentina para se
afastar do agente agressor. Essa dentina é irregular e desorganizada, sem a presença dos
túbulos dentinários. As células responsáveis por esse tipo de dentina não são os odontoblastos
comuns, mas são células indiferenciadas da polpa e secretam uma dentina com aspecto de
osso.
Polpa dentária
Embora sejam estudadas de maneira conjunta, a dentina e a polpa são duas estruturas bem
diferentes. A polpa é considerada um tecido conjuntivo frouxo comum no nosso corpo, com
duas camadas de células periféricas diferentes.
A primeira camada periférica é a camada odontoblástica, que é composta por odontoblastos
unidos uns aos outros, formando um cordão celular. Como já foi dito essas células continuam a
deposição de dentina mesmo após o fechamento do ápice radicular.
A segunda camada, logo abaixo da odontoblástica é chamada de subodontoblástica e possuí
duas zonas: uma pobre em células e outra rica em células. A zona pobre é ocupada por muitos
prolongamentos células e poucos corpos e muitos vasos sanguíneos e alguns ramos nervosos
que interagem com os odontoblastos. Já a zona rica em células é composta por células
indiferenciadas e fibroblastos em repouso.
A região central da polpa é composta principalmente por fibroblastos que secretam fibras
colágenas. O tecido também é constituído de diversos vasos sanguíneos e linfáticos e
ramificações nervosas.
Uma das características mais marcantes da polpa é ser circundada por dentina e ao se inflamar
(pulpite) tem poucas opções de comunicação com o resto da circulação do organismo. Em
casos em que essa inflamação ultrapassa o limite de regeneração do tecido pulpar ocorre a
necrose tecidual, o que leva à necessidade do tratamento endodôntico.
Periodonto de sustentação
O periodonto de sustentação (ou de inserção) é composto por estruturas que se originam no
folículo dentário e terá a função de manter os dentes em posição nas bases ósseas (maxila e
mandíbula).
Seus componentes são cemento, ligamento periodontal e osso alveolar. O desenvolvimento das
três estruturas ocorre simultaneamente, entretanto, iremos estudar uma estrutura por vez,
vendo seu desenvolvimento e características de cada tecido.
O dente juntamente com o periodonto de sustentação forma a articulação alvéolo-dentária, que
pode ser chamada de gonfose. Essa articulação garante estabilidade ao órgão dentário dando
resistência para a mastigação e auxilia na reformulação do tecido ósseo de acordo com as
necessidades mecânicas.
Cemento
• Estrutura mineralizada, de origem ectomesenquimal, com cerca de 60%-65% de
minerais em sua composição.
• Apesar de se encontrar aderido à dentina radicular, tem origem no folículo dentário.
• Função – servir como base para a ancoragem de fibras do ligamento periodontal.
• Principal célula – Cementoblasto, pode ser encontrado envolto por cemento (recebe o
nome de cementócito).
• Não apresenta inervação.
• Sem vascularização – sua nutrição vem do espaço do ligamento periodontal.
Desenvolvimento
O desenvolvimento do cemento é chamado de cementogênese. Como será uma estrutura que
recobrirá apenas a dentina radicular, sua formação começa durante a fase de raiz da
odontogênese.
Como já foi visto, a bainha radicular de Hertwig passa por um estágio de divisão celular e
algumas dessas células estimulam a diferenciação dos odontoblastos da região radicular. Após
a formação da dentina do manto, o epitélio da bainha se fragmenta (surgem alguns espaços
entre as células, que se desprendem). Células do folículo dentário que agora tem contato com a
dentina.
Com esse contato há a inserção de algumas fibras colágenas que se mineralizam, formando a
chamada camada hialina (ainda não se sabe ao certo qual célula produz essa camada). As células
do folículo passam a se diferenciar em dois tipos celulares:
• Cementoblastos – irão secretar parte da matriz do cemento;
• Fibroblastos – irão formar o ligamento periodontal, mas ao mesmo tempo secretam
fibras que ajudarão a formar o cemento.
A mineralização do cemento ocorre pela deposição de hidroxiapatita entre as fibras da matriz
orgânica.
A primeira camada de cemento produzida ocorre na metade cervical da raiz em formação. Nessa
etapa as células produzem o cemento de maneira aposicional (secretam a matriz e se afastam
dela), com isso existe uma camada de cemento sem células (cemento acelular).
Com o desenvolvimento da raiz, a partir da metade de seu comprimento, há maior necessidade
de atividade secretora de cemento – além da velocidade de produção aumentar, a espessura de
cemento será maior. A maior velocidade ocorre porque o dente está em processo eruptivo. Por
conta desses dois fatores, os cementoblastos ficam aprisionados dentro da matriz, recebendo o
nome de cementócitos (muito semelhante ao que ocorre com os osteócitos).
Lembrando que na formação da dentina há a deposição inicial de uma pré-dentina (pouco
mineralizada), que depois irá ganhar mais componentes minerais, no cemento ocorre processo
semelhante. O nome dado à secreção inicial é cementóide, que após mineralização será
chamado de cemento.
Podemos agora diferenciar os tipos de cemento que vamos encontrar na raiz de um dente:
cemento acelular de fibras extrínsecas, cemento celular de fibras mistas e cemento celular de
fibras intrínsecas. As fibras podem ser produzidas por fibroblastos (extrínsecas), pelos
cementoblastos (instrínsecas) ou no caso do cemento de fibras mistas, as fibras se originam dos
dois tipos celulares.
• Cemento acelular de fibras extrínsecas
Como já foi descrito, o cemento acelular se forma na região cervical da raiz dos dentes. Sua
composição é basicamente de fibras colágenas extrínsecas (secretadas por fibroblastos) com
uma matriz entre as fibras secretada pelo cementoblasto. No processo de formação nenhuma
célula fica aprisionada na estrutura. Possuí uma pequena espessura, por volta de 30 a 50 µm.
Em microscopia, aparece como uma camada homogênea, translúcida e que se parece com vidro
em cortes de desgaste. Já em lâminas descancificadas, é possível ver uma regularidade nas fibras
colágenas com pequenas linhas incrementais (por conta do período de atividade e descanso das
células).
Nem todos os dentes tem uma mesma proporção de cemento acelular. Dentes anteriores
possuem maior extensão desse tipo do que os molares.
• Cemento celular de fibras mistas
Esse tipo de cemento é secretado sobre a superfície radicular da metade apical das raízes e nas
regiões de furca. Possui o nome de cemento celular de fibras mistas, pois apresenta células
aprisionadas em sua matriz (cementócitos) e as fibras que o formam tem sua origem nos
fibroblastos e nos cementoblastos. A espessura dessa camada é maior, chegando a 200 µm.
Os espaços que os cementócitos ocupam são chamados de lacunas. E é possível visualizar
múltiplos canalículos formados por prolongamento dos cementócitos a partir das lacunas.
• Cemento celular de fibras intrínsecas
Após a formação do cemento celular de fibras mistas, há a secreção de uma camada de
cementóide e sobre ela uma camada de cementoblastos recobrindo todo o cemento. Essas
células se mantêm em estado de repouso até que seja necessária alguma atividade reparativa.
O cemento formado em casos de reparação possui fibras colágenas que são totalmente
produzidas por cementoblatos.
Como sabemos que a formação do cemento, ligamento periodontal e osso alveolar ocorrem
simultaneamente, esse processo de formação intrínseca só pode ocorrer quando o cemento e
ligamento periodontal estiverem totalmente formados.
Componentes celulares
• Cementoblastos
São as células que sintetizam a matriz orgânica intrínseca do cemento. Quando ativos, tem
forma mais ovalada.
Após a formação total do dente (fechamento do ápice radicular), os cementoblastos se tornam
inativos, com formato achatado e ficam em contato direto com uma substância cementóide.
• Cementocitos
De maneira semelhante ao que ocorre com os osteoblastos, quando os cementoblastos ficam
presos na matriz se tornam cementocitos. São células com diversos prolongamentos para se
comunicar umas com as outras do mesmo tipo. Dependendo do suprimento nutritivo os
cementocitos podem estar vivos ou mortos.
Limite amelocementário
A interação entre a superfície de cemento com a superfície de esmalte pode ocorrer de 3
maneiras diferentes.
• 60% o esmalte recobre parte da superfície do esmalte, mas assim que o dente erupciona
e essa camada de cemento fica exposto na cavidade oral, ele é perdido.
• 30% encostam borda com borda.
• 10% o cemento é formado abaixo do limite de esmalte, deixando uma faixa de dentina
exposta.
Ligamento periodontal
• Tecido conjuntivo denso, rico em fibras colágenas do tipo 1.
• Função – unir o cemento ao osso alveolar, dando suporte para o dente na mastigação.
• Principal célula – fibroblasto.
• Rica inervação e vascularização
Desenvolvimento
Como já foi visto na cementogenese, os fibroblastos que formarão o ligamento periodontal são
oriundos de células do folículo dentário e surgem logo após a formação da dentina radicular.
A posição da célula e obliqua com uma de suas extremidades voltadas para o osso alveolar e a
outra voltada para o cemento.
Lembrando que o ligamento periodontal irá unir essas duas estruturas e os fibroblastos irão
secretar fibras colágenas que irão compor tanto o osso quanto o cemento.
As fibras periodontais são formadas com o desenvolvimento da raiz e, com isso sofrem
alterações em sua orientação.
Componentes celulares
Por ser um tecido conjuntivo frouxo, a principal célula formadora do ligamento periodontal é o
fibroblasto, porém não é o único tipo celular.
O fibroblasto presente no ligamento periodontal possui uma alta taxa de metabolismo e
organelas desenvolvidas tanto para síntese e secreção de proteínas e também outras
preparadas para a degradação de fibras colágenas. Isso demonstra que o mesmo fibroblasto
tem a função de formar e renovar a matriz orgânica.
Dentro do ligamento periodontal existem algumas populações de células ectomesenquimais
indiferenciada. Essas células irão se diferenciar conforme a necessidade de reposição celular.
Algumas células da bainha epitelial articular de Retzius de encontram no espaço periodontal,
elas recebem o nome de restos epiteliais de Malassez. A função desse grupo celular ainda é
desconhecida, porém sabe-se que diante de processos inflamatórios elas podem desenvolver
patologias císticas.
Outras células também podem ser encontradas no espaço do ligamento periodontal,
principalmente relacionadas a células formadoras ou degradadoras de osso ou cemento.
Matriz extracelular
Uma característica marcante da estrutura do ligamento periodontal é o fato de ser uma
estrutura que receberá cargas oclusais muito dinâmicas. Diferentes tipos de fibras serão vistas:
Fibras principais: o feixe é formado por diferentes fibrilias. Essas fibrilas de entrelaçam uma ao
lado da outra e uma continuando outra. O ligamento periodontal é composto pelo conjunto das
fibras, principalmente as fibras principais. A fibra principal recebe um nome especial ao se inserir
no cemento ou osso - fibras de Sharpey. São dúvidas em 5 grupos, de acordo com a orientação
das fibras.
• Crista alveolar: ligam o cemento próximo ao limite amelocementário à crista alveolar.
Saindo da superfície do cemento, tem orientação em direção à coroa.
• Fibras horizontais: seguindo o sentido cervico-apical, se situam abaixo das fibras da
crista alveolar. As fibras possuem uma orientação perpendicular à superfície
cementaria.
• Fibras oblíquas: grupo com maior número de fibras (quase 2/3 da raiz). Seguem
orientação apical, a partir da inserção no cemento.
• Fibras apicais: a partir da inserção no cemento apical, seguem de maneira divergente
para o osso.
• Fibras interradiculares: encontrado na região de furca de dentes multirradiculares. A
partir da inserção no cemento da furca, as fibras seguem padrão convergente até a crista
óssea interradicular.
Fibras secundárias: o tecido conjuntivo possui fibras colágenas que não se aglomeram nas fibras
principais e não apresentam orientação regular. Essas fibras circundam outras estruturas como
feixes vasculares e nervosos.
Fibras oxitalânicas: são semelhantes a fibras elásticas e são mais finas. Dispõem-se com grande
proximidade das fibras principais e mantém estreita relação com os vasos sanguíneos.
Suprimento vascular e nervoso
O ligamento periodontal possui grande vascularização e inervação.
Grande parte dos vasos sanguíneos chega ao espaço periodontal pela região apical, mas também
alguns vasos nutrem a região pelo osso alveolar e do periósteo.
Inervação da região ligamentar se origina principalmente do nervo dentário, iniciando na região
apical e se projetam até a margem gengival. Outros pequenos ramos tem a mesma origem de
vasos do osso alveolar e do periósteo. São duas as funções dos nervos no espaço periodontal:
arco reflexo inconsciente da posição da mandíbula e pressão/dor consciente na região.
Osso alveolar
• Tecido conjuntivo mineralizado – 50% a 60% de mineral
• Faz parte do processo alveolar
• Formado a partir de células ectomesenquimais do folículo dentário
• Principal célula – Osteoblasto
• Sua inervação e vascularização vêm do osso medular ou do periósteo
O osso alveolar é a região da maxila ou da mandíbula que interage com o ligamento periodontal
e serve de suporte para o órgão dentário.
Além desse tipo ósseo, ainda temos o osso basal (corpo da maxila ou da mandíbula) e o processo
alveolar (porção que irá envolver a raiz dentária, porém sem ter relação com o ligamento
periodontal).
Desenvolvimento
A base da maxila ou mandíbula é a primeira porção óssea a se formar, durante a embriogênese.
Após o desenvolvimento ósseo e envolvimento do germe e folículo dentário, o processo alveolar
está formado – as paredes ósseas que envolvem o folículo dentário são chamadas de paredes
laterais da cripta. No folículo dentário que é recoberto pelo osso do processo alveolar, porções
celulares se diferenciam em osteoblastos que começam a secretar uma nova camada de tecido
ósseo sobre as paredes laterais da cripta.
Como já foi mencionada, a formação dos componentes do periodonto de sustentação acontece
simultaneamente, portanto algumas fibras principais do ligamento periodontal são
incorporadas no osso alveolar em formação (fibras de Sharpey). Da mesma maneira que os
outros componentes mineralizados da cavidade oral, a deposição é feita de maneira
incremental, com o surgimento de linhas paralelas à parede do alvéolo.
Estrutura
A estrutura do osso alveolar é muito semelhante aos outros ossos, com pequenas diferenças.
Na região mais próxima ao osso medular do processo alveolar, possui alguns sistemas de Havers
e próximo à região do ligamento é composto por lamelas paralelas. Dentro das lamelas, que
possuem padrão aposicional, alguns osteócitos estão emprisionados apresentando
prolongamentos (semelhante aos cementócitos), e na superfície voltada para o ligamento existe
uma camada de osteblastos.
A principal diferença é a presença das fibras de Sharpey (fibras principais do ligamento
periodontal) que atravessa a camada de osteoblastos e se insere no osso lamelar.
A espessura do osso alveolar varia entre 0,1 a 0,4 mm e é facilmente visualizada em radiografias
intraorais. Nessa técnica de imagem o osso alveolar aparece com maior intensidade, porém isso
ocorre por conta de sobreposição de estrutura, o grau de mineralização é o mesmo de outros
tipos ósseos.
Mucosa oral
É a estrutura responsável pelo revestimento e proteção de toda a cavidade oral.
Quando estamos com a boca fechada, separamos a cavidade em dois compartimentos (que
são delimitados pelos arcos dentários):
O espaço entre os dentes e bochecha e lábios é chamado de vestíbulo, e o espaço que está
compreendido entre os arcos é chamado de cavidade oral propriamente dita.
Independente da região e função de cada mucosa oral existe um par de estruturas que sempre
estarão presentes: epitélio e lâmina própria (tecido conjuntivo).
Quando comparamos a mucosa oral à pele, podemos observar algumas diferenças: na mucosa
não há a presença de anexos cutâneos (folículos pilosos, glândulas sebáceas, etc.) e a mucosa
reveste uma cavidade úmida.
O epitélio das mucosas orais é derivado do ectoderma do 1º arco branquial – inicialmente
como epitélio oral primitivo, e depois se diferenciando para assumir diferentes funções em
regiões diferentes.
Já a lâmina própria se origina de tecido ectomesenquimal também do 1º arco branquial. Possui
grande vascularização e inervação.
Estrutura
Epitélio oral
O epitélio oral é classificado como do tipo estratificado pavimentoso e sua principal célula é o
queratinócito. Por ser pavimentoso, significa que o formato das células é achatado e
estratificado significa que as células se agrupam em diversas camadas.
As camadas são divididas de acordo com a ação proliferativa ou maturação das células:
• Estrato basal: formado por até 3 camadas celulares, com alto poder de
multiplicação. Tem a função de ser um estrato que produz novas células.
• Estrato espinhoso: são células que migram do estrato basal em direção da
superfície. Recebe o nome de espinhoso graças ao grande número de ligações
entre as células. Quando a lâmina histológica é preparada, os queratinócitos
aparentam ter espinhos.
• Estrato granular: está acima do estrato espinhoso. São células maiores, porém
mais achatadas, e estão cheias de grânulos de glicoproteínas e lipídios. O conteúdo
dos grânulos ajuda a dar impermeabilidade para o epitélio.
• Estrato córneo: camada mais superficial. São células ainda maiores e mais
achatadas, a grande diferença está na ausência de grânulos, organelas e até
mesmo do núcleo. Sobram apenas filamentos de citoqueratina.
De acordo com as camadas que compõe o epitélio oral, ele pode ser dividido em 3 grupos.
• Epitélio ortoqueratinizado: possui todas as camadas citadas acima, e apresenta um
estrato córneo espesso.
• Epitélio paraqueratinizado: as células do estrato córneo não estão totalmente
queratinizadas e as células apresentam resquícios de núcleos.
• Epitélio não-queratinizado: não existe nem o estrato granuloso nem o estrato
córneo. Acima do estrato espinhoso as células vão se tornando achatadas
progressivamente e apresentam poucos grânulos. Os estratos mais superficiais
nesse tipo de epitélio são chamados de intermediário e superficial.
*** outras células do epitélio oral
Além dos queratinócitos alguns grupos celulares são encontrados no epitélio oral. As células
com suas respectivas funções são:
• Melanócito: produz melalina que confere cor escura ao epitélio. A função da
melalina no epitélio oral ainda não é conhecida.
• Células de Langerhans: são células do sistema de defesa, sua função é de
apresentar antígenos para iniciar o processo de “combate a invasores”.
• Células de Merckel: função não totalmente conhecida. Provavelmente tem um
papel nas sensações de pressão mecânica.
• Células sanguíneas: algumas células da série branca podem ser encontradas entre
queratinócitos, mesmo em situações em que não há inflamação.
Lâmina própria
A lâmina própria é o tecido subjacente ao epitélio na mucosa oral. É composto por duas
camadas: uma mais superficial (papilar) e outra mais profunda (reticular).
Como todo tecido conjunto a lâmina própria possui células e matriz células. As células e suas
funções são:
• Fibroblastos: responsáveis por produzir a matriz extracelular da lâmina própria.
• Macrófagos: células de defesa do organismo, que são responsáveis por fagocitar
corpos estranhos e apresentar seus antígenos para outras células de defesa.
• Mastócitos: outro grupo de células de defesa, sua função é de ativar o processo
inflamatório para combater possíveis agressões.
A matriz extracelular da lâmina própria é composta basicamente por fibras colágenas e pode
ser organizada de maneiras diferentes, de acordo com a região da cavidade oral.
Diferentes tipos de mucosa, de acordo com a região.
Mucosa de revestimento
Composta principalmente por epitélio não-queratinizado. Regiões em que há a necessidade de
maior movimentação e/ou associadas a músculos da mastigação ou de expressão facial:
• Lábios e bochechas: a mucosa labial e jugal são contínuas, isto significa que não
existe um limite onde termina a mucosa do lábio e onde começa a mucosa da
bochecha e vice-versa. A região de vermelhão do lábio representa a transição
entre mucosa e pele, e por isso, apresenta características intermediárias às duas.
o Características: lisa, rosa-pálido, espessura de 600 µm, o epitélio se renova
a cada 10-12 dias, possui fibras elásticas (necessárias para a
movimentação) e fibras colágenas ligam a mucosa a músculos.
• Processos alveolares: reveste o fundo de sulco, conectando a mucosa labial/jugal à
mucosa gengival (periodonto de proteção). Possui grande mobilidade graças à
função de alguns grupos musculares.
o Características: lisa, brilhante, rosa avermelhada, com bastante fibras
elásticas (mobilidade) e espessura de 270 µm.
• Palato mole: o palato mole é delimitado anteriormente pelo palato duro e
continua para posterior como mucosa do trato respiratório.
o Características: lisa, brilhante, rosa intenso, com bastante fibras elásticas
(mobilidade) e espessura de 280 µm.
• Assoalho de boca (abaixo da língua): recobra o fundo de sulco lingual, ligando a
mucosa gengival à porção ventral da língua.
o Características: lisa, brilhante, rosa intenso, pouca espessura (180 µm).
Essa espessura, associada a espaços entre os queratinócitos faz com que
essa mucosa seja mais permeável (uso de medicamentos sublinguais).
• Ventre a língua (porção “inferior” da língua): muito parecida com a mucosa do
assoalho da boca, porém, tem poucas fibras elásticas e se relaciona com os
músculos da língua.
Mucosa especializada
Ocupa o dorso da língua (parte superior). Tipo de mucosa com estruturas epiteliais e nervosas
específicas, sendo responsável pela gustação dos alimentos. Como é exposto ao atrito com
alimentos durante a mastigação, também apresenta camada córnea.
A estrutura que garante a capacidade do paladar são as papilas gustativas. São 4 os tipos de
papilas: filiformes, fungiformes, valadas e foliadas. Porém apenas as papilas com presença de
botões gustativos irão “perceber” o gosto dos alimentos.
• Papila filiforme: mais numerosas e ocupam maior parte do dorso da língua. Tem
formato de folha de grama e tem epitélio ortoqueratinizado. Apresentam boa
sensibilidade ao toque por isso são boas na percepção de pequenas estruturas nos
alimentos. Não possuem botões gustativos, portanto não são capazes de auxiliar
no paladar.
• Papila fungiforme: aparecem entre as papilas filiformes, por todo dorso da língua.
Aparecem na língua como pequenas bolinhas avermelhadas. Possuem formato de
cogumelo e epitélio paraqueratinizado, onde se encontram alguns botões
gustativos e fibras nervosas (função gustativa).
• Papilas valadas (ou circunvaladas): estão dispostas no dorso da língua, mas na
região posterior, formando um V. São rodeadas por um profundo sulco e chegam a
ter 2 mm a 3 mm de diâmetro. Na porção superior o epitélio é ortoqueratinizado e
não possui botões gustativos, já na parede do sulco o epitélio é paraqueratinizado
e com diversos botões gustativos. A lâmina própria apresenta também ramos
nervosos.
• Papilas foliadas: localizadas na borda lateral da língua. Possui epitélio não
queratinizado com diversos botões gustativos
Mucosa mastigatória
Em geral é composta por epitélio ortoqueratinizado e aparece em regiões que sofrem com
contato físico com os alimentos. Basicamente se localiza como mucosa do palato duro e
mucosa gengival (periodonto de proteção).
• Mucosa do palato duro: recobre toda a região anterior do palato (palato duro), é
do tipo ortoqueratinizado com grande estrato córneo, sofre atrito com alimentos
durante todo o ato mastigatório.
o Características: cerca de 320 µm de espessura, coloração rosa-pálido e não
apresenta fibras elásticas (pouca mobilidade). Apresenta grupos de fibras
colágenas que se aderem ao periósteo do palato duro.
Periodonto de proteção
Basicamente composto pela gengiva – tecido mucoso.
O tecido é dividido clinicamente em 3 partes:
• Gengiva marginal ou gengiva livre;
• Gengiva interdentária ou papilar;
• Gengiva inserida.
A gengiva livre ou marginal forma um colar de tecido em volta do elemento dentário. Ela se
localiza nas faces livres dos dentes (isto é, nas regiões em que o dente não está em contato
com outro dente). As faces livres normalmente são a face vestibular e a face palatina/lingual,
porém se um dente não possuir um “vizinho” sua face proximal voltada ao espaço desdentado
também terá gengiva marginal.
O formato da gengiva livre é triangular, e possui duas vertentes:
• A vertente interna é voltada para o dente e é composta pelo epitélio juncional e
epitélio sulcular;
• A vertente externa se estende desde o ápice (ponta do triângulo) até a gengiva
inserida. Sua característica não será detalhada pois é muito parecida com a da
gengiva inserida – epitélio pavimentoso estratificado paraqueratinizado.
Epitélio juncional: Estrutura específica da gengiva livre que se liga ao dente. Essa junção pode
ocorrer em esmalte, cemento, dentina ou até em materiais restauradores. Em dentes jovens e
saudáveis, o limite apical desse epitélio é na junção amelocementária. A posição do epitélio
juncional pode influenciar o metabolismo ósseo, por isso, quando ocorre migração do epitélio
em direção apical, pode aparecer uma degradação óssea, sendo um dos sinais da doença
periodontal.
Epitélio sulcular e sulco gengival
O sulco gengival é uma fenda entre o dente e a gengiva livre. Não há união entre epitélio
sulcular e dente, e essa fenda (sulco) é preenchida por um líquido (fluido crevicular).
O fluido crevicular é composto por líquido intersticial e algumas células epiteliais e de defesa
que descamaram.
Gengiva interdental
A gengiva livre que se localiza na região entre um dente e outro é chamada de gengiva ou
papila interdental. A gengiva interdental é composta pelas mesmas estruturas que a gengiva
livre.
A principal diferença da porção interdental é o formato, chamado de COL (formato de sela –
elevações na vestibular e palatina/lingual e depressão na região central) e que possui epitélio
sulcular dos dois lados (mesial de um dente e distal de outro).
Gengiva inserida
A gengiva inserida recobre o processo alveolar tanto por vestibular quanto por
lingual/palatina.
• Por estar firmemente aderida ao osso, se apresenta com aspecto de casca de
laranja (as depressões são as regiões que estão “grudadas” ao osso).
• Sua coloração é geralmente rosa (será mais escura com a presença maior de
melanina).
• 200 µm a 300 µm de espessura e normalmente é paraqueratinizada.
• Não apresenta fibras elásticas e muitas fibras colágenas se aderem ao periósteo do
osso alveolar.
Lâmina própria da mucosa gengival
Como a grande maioria dos tecidos conjuntivos, a lâmina própria gengival apresenta rica
vascularização e inervação. A principal diferença para o tecido conjuntivo gengival é a
presença de grupos de fibras colágenas que conectam diferentes estruturas.
• Fibras dentogengivais: ligam o cemento à lâmina própria da gengiva – de maneira
divergente.
• Fibras dentoperiostais: ligam o cemento à crista alveolar – não confundir com o
ligamento periodontal – essas fibras dão a volta e se ligam ao osso voltado para a
gengiva e não para o dente.
• Fibras alveologengivais: ligam a crista alveolar à lâmina própria da gengiva.
• Fibras circulares: ficam apenas dentro da lâmina própria e contornam o dente.
• Fibras interpapilares: atravessam a papila interdental, indo da região vestibular
para a palatina/lingual.
• Fibras transeptais: ligam o cemento de um dente ao cemento do dente vizinho,
pela região interproximal.
Glândulas salivares
A principal função das glândulas salivares é a produção da saliva. A saliva é um líquido incolor
que desempenha diferentes funções na cavidade oral e sistema digestivo. Ao final do texto,
haverá uma parte exclusiva sobre as funções da saliva.
As glândulas salivares são glândulas exócrinas, isto significa que sua produção tem ação fora
do organismo (fora da corrente sanguínea).
As glândulas salivares podem ser dividas em 2 porções diferentes:
• Parênquima – porção realmente responsável pela produção e secreção da saliva.
• Estroma – tecido conjuntivo de suporte. Envolve o parênquima.
Parênquima
Como regra, a porção responsável pela produção e secreção de saliva tem o formato
semelhante a um cacho de uvas, onde as unidades secretoras terminais são representadas
pelas uvas e os ductos são representados pelos “cabinhos” do cacho.
Como todo tecido epitelial da cavidade oral (lembrar que existe o epitélio glandular), sua
origem ocorre a partir do epitélio oral primitivo – ectoderma.
Unidades secretoras terminais
São formadas por 2 tipos celulares diferentes. As células serosas e as mucosas são
responsáveis pela produção de diversos componentes da saliva.
• Porções serosas: também chamadas de ácinos serosos – são responsáveis por
produzir uma saliva com maior quantidade de proteínas, mas ainda sim com
presença de glicoproteínas, íons e água. Essas células normalmente se organizam
num formato esférico. Como a síntese de proteínas é grande, o retículo
endoplasmático rugoso é bem desenvolvido. Em microscopia de luz são vistas com
coloração rósea (corante: HE)
• Porções mucosas: também chamadas de túbulos mucosos – a saliva produzida
nesse conjunto é rica em carboidratos e com poucas proteínas. A organização das
células acontece numa forma tubular. Nessas células o RER é menos desenvolvido
e a principal organela que atua na secreção é o complexo de Golgi. Geralmente
são pouco coradas por HE, aparecendo como células claras.
• Semilua serosa: são células serosas que se organizam em forma de meia lua em
volta de um túbulo mucoso. Produzem saliva serosa e em conjunto com o a saliva
mucosa forma glândulas salivares mistas. São vistas como células rosas em volta
de células claras (túbulos mucosos) quando coradas com HE
Células mioepiteliais
Além das células responsáveis pela produção da saliva, outro grupo celular tem uma relação
próxima à atividade de secreção. São as células mioepiteliais – que se posicionam em volta
das porções terminais (ácinos serosos, túbulos mucosos e semilua serosa) que tem função
contrátil. Sua estrutura é parecida com fibras musculares lisas. Quando em contração, forçam
a secreção do conteúdo das unidades secretoras terminais. São difíceis de ver em microscopia
de luz
Ductos
É um conjunto de estruturas que auxiliam na formação da saliva (principalmente com a
regulação do nível de água e íons) e tem a função de levar a saliva produzida para a cavidade
oral. São dividos em 3 tipos de ductos – intercalares, estriados e secretores.
• Ductos intercalares: é o primeiro grupo de ductos, se liga diretamente às unidades
secretoras. Suas células são cúbicas e existe a hipótese que elas auxiliam na
secreção de alguns componentes da saliva. São difíceis de visualizar em
microscopia de luz.
• Ductos estriados: recebem esse nome pela presença de “dobras” em sua
membrana plasmática. As células ficam com aspecto estriado. São formados por
células colunares e formam uma continuidade dos ductos intercalares. Está
próximo de diversos capilares e são responsáveis por aumentar o volume de água
na saliva.
• Ductos excretores: são basicamente “canos” por onde a saliva percorre o caminho
para cair na cavidade oral. Sua composição é de um epitélio colunar alto próximo
aos ductos estriados e aos poucos se transforma em epitélio estratificado próximo
à saída para a cavidade oral.
Estroma
A composição do tecido conjuntivo associado às glândulas salivares é bem simples: as células
que habitam esse tecido são basicamente fibroblastos e células de defesa e o principal
componente da matriz extracelular é o colágeno do tipo 1.
O estroma divide o parênquima em lóbulos (cada lóbulo é uma uva no cacho) e dentro do
estroma podemos encontrar diversos componentes vasculares (veias, artérias e vasos
linfáticos) e componentes nervosos.
A origem do estroma glandular é do ectomesênquima.
Função nervosa: a produção de saliva acontece nas diversas glândulas salivares ao mesmo
tempo. Algumas produzem saliva mais fluída ou mais viscosa. O sistema nervoso tem grande
papel nesse controle.
• Sistema nervoso simpático: relacionado a situações de estresse (adrenalina);
produz uma saliva rica em conteúdo orgânico e mais espessa – serosa.
• Sistema nervoso parassimpático: menor estresse (acetilcolina A); produz saliva rica
em líquidos, com menos proteínas – mucosa.
Glândulas salivares maiores
Possuímos 3 pares de glândulas salivares, cada uma com uma posição definida na cabeça e
com produção de saliva mais serosa ou mucosa.
• Parótida: localizada anteriormente à orelha externa, constituída principalmente de
ácino serosos, sua saliva é mais rica em proteínas e menos líquidos. Sua produção
é secretada através de um ducto que termina na mucosa julgal, na altura dos
segundos molares superior.
• Submandibular: localizada próxima à face anterior do ângulo da mandíbula e é
constituída tanto por ácinos serosos quanto por túbulos mucosos, porém sua
saliva é predominantemente serosa. O ducto excretor termina próximo ao freio
lingual, na carúncula sublingual.
• Sublingual: localizada abaixo da língua e sua produção é, em sua maior parte,
mucosa. Não possuí um único ducto excretor final, mas sim diversos ductos que
secretam a saliva na região do assoalho da boca.
Glândulas salivares menores
A grande maioria das glândulas salivares menores é constituída por terminações do tipo
tubulares mucosas, algumas vezes com semiluas serosas.
Estão espalhadas por toda mucosa oral, com exceção da gengiva e da porção anterior do
palato duro.
Funções da saliva
Serão listadas algumas funções que a saliva desempenha em nosso organismo:
• Proteção: a saliva ajuda a remover resíduos de alimentos e corpos estranhos,
mantém a mucosa úmida e lubrificada e ajuda a manter um equilíbrio térmico
(temperatura) na boca.
• Função tampão: tem função especial no controle do pH do meio bucal, evitando
que o pH se mantenha ácido por muito tempo.
• Reparo do esmalte: além de aumentar o pH, possuí diversos íons minerais que
atuam como material reparador, devolvendo componente de hidroxiapatita ao
esmalte.
• Atividade antimicrobiana: dificulta a adesão de micro-organismos e possuí
componentes do sistema imune (ex: anticorpos) que ajudam no combate de
patógenos.
• Reparo tecidual: possuí algumas proteínas que ajudam no processo de
regeneração dos tecidos orais.
• Digestão: auxilia na formação do bolo alimentar, além de iniciar a digestão de
carboidratos (amilase salivar) e de alguns trigicerídeos (lípase lingual).
• Paladar: solubiliza diversas moléculas para que alcancem os botões gustativos.