Cisterna-enxurrada muda a qualidade de vida da família de Joelice e José
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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº 1020
Agosto/2013
Brejolândia
“As vezes eu fico parada e pensando que com essa
água aqui no meu quintal, nunca mais eu e minha família
vamos ter tristeza na vida.” Esse sentimento é
expressado com o brilho nos olhos por Joelice Almeida
de Souza, conhecida como Biga, 48 anos, mãe de 5
filhos, avó de um neto de 1 ano e 6 meses. Há 33 anos ela
é casada com José Pereira de Souza, de 53 anos de idade,
moradores da comunidade de Bela Vista do Capim,
município de Brejolândia, na Bahia.
Joelice relata as dificuldades que já passaram para
terem acesso a água, pois a única fonte que tinham na
época era de um riacho que ficava a mais de 3
quilômetros, e que além disso a água era dividida com os
animais. Para plantar a dificuldade também era grande,
pois a família vivia apenas da agricultura de sequeiro
onde era cultivado feijão, milho, mandioca, melancia e
abóbora. Quando havia escassez de chuva, todas as plantações perdiam. Verduras e hortaliças só eram consumidas pela
família quando o dinheiro dava pra comprar. E, ainda assim, era preciso ir a cidade mais próxima que fica a mais de 7
quilômetros da comunidade.
Mesmo com tantos desafios enfrentados, Joelice e José conseguiram educar seus filhos com dignidade e esforços. É
com orgulho que eles expõem na parede da sala, quadros com fotos dos cinco filhos com seus diplomas de colação de grau
do Ensino Médio. Todos eles estudaram desde as séries iniciais até o segundo grau em uma escola no município de Tabocas
do Brejo Velho, localizada a mais de 7 quilômetros da comunidade de Bela Vista do Capim, onde o casal reside com os
filhos Paulo e Olímpia. As outras três filhas moram e trabalham em outro estado. Os filhos contam que todos os dias quando
iam para a escola, era preciso andar mais de 3 quilômetros para pegarem o ônibus que os levavam até a escola em Tabocas, e
esse percurso era feito também na volta para casa.
Sem nunca perder a esperança de dias melhores e sem precisar sair da propriedade, foi no ano de 2011 que a vida da
família de Joelice e José passou a tomar novos rumos. Através da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), por meio do
Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), conquistaram a primeira água, a cisterna de 16 mil litros de captação de água da
chuva para o consumo humano. Desde então passaram a ter no pé da casa uma cisterna com água da chuva de qualidade para
beber e cozinhar. É assim que o pedaço de chão no meio do Sertão passa a ter um novo significado para essa e tantas outras
famílias do Semiárido brasileiro.
Joelice em sua horta
Cisterna-enxurrada muda a qualidade de vida da família de Joelice e José
Em 2012, as famílias da comunidade de Bela Vista do
Capim, entre elas Joelice e José, acessaram as tecnologias
de captação de água da chuva para a produção de alimentos.
As famílias conquistaram tecnologias como Barreiro-
trincheira e Cisterna-enxurrada.
Com a conquista da cisterna-enxurrada com
capacidade de armazenamento de 52 mil litros de água, do
Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), através da
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), por meio da
parceria feita com o Ministério de Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS) e executado pela Associação
Comunitária da Escola Família Agrícola Rural de
Correntina e Arredores (Acefarca), a família começou a
cultivar hortaliças para o consumo próprio e até para a
comercialização nas comunidades circunvizinhas.
Nos seus relatos Joelice e José deixam claro que com essa conquista as famílias passaram a ter outra vida, outra
forma de trabalhar, de produzir e de consumir os alimentos. O quintal da família desde então tem sido um espaço de muitas
variedades, hortaliças, frutíferas, plantas forrageiras, plantas medicinais, que além de garantirem a segurança alimentar e
nutricional da família, também são comercializadas nas comunidades de Cedro, no município de Tabocas do Brejo Velho e
em Olho D´água, município de Brejolândia.
A rotina da família mudou desde a chegada da cisterna-enxurrada. Junto com o nascer do sol, Joelice e sua filha
Olímpia já estão ao redor das suas hortaliças, molhando, plantando, cuidando para que não falte uma alimentação saudável
na mesa de sua família e de outras famílias que também consomem dos seus produtos. Como exemplo de família que
conquistou uma tecnologia para a produção de alimentos
orgânicos, nesse ano receberam a visita de 15 agricultores
e agricultoras em uma atividade de Intercâmbio
Intermunicipal para a troca de experiências entre
agricultores familiares dos municípios de São Félix do
Coribe, Santana, Serra Dourada e Brejolândia que estão
sendo contemplados com tecnologias de captação de
água da chuva para a produção de alimentos do Programa
Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
As vivências e experiências dessa e de tantas
outras famílias sertanejas vem afirmando a cada dia como
é possível acreditar na mudança e transformar o seu
pedaço de chão em um espaço de conquistas, alegrias e
independência, e maior desejo de continuar a sua história
com mais dignidade e qualidade de vida.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
Realização Apoio
José e Joelice colhendo os produtos da horta
Joelice e sua filha Olímpia cuidando da horta