BEHAVIORISMO

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ALUNA: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX FUMEC - Faculdade de Ciências Humanas- Curso de Psicologia Psicologia Ciência e Profissão Behaviorismo: Após a Fundação A escola de pensamento comportamental passou por três estágios durante a sua evolução: 1913 1930 1960 até hoje Behaviorismo de Watson Neobehaviorismo Neo-neobehaviorismo ou sociobehaviorsimo O behaviorismo de Watson foi o primeiro estágio; o Neobehaviorismo, o segundo estágio, cujos teóricos compartilhavam alguns pontos em comum, como o estudo da aprendizagem como constituinte do tópico central da psicologia, o entendimento dos comportamentos por meio das leis do condicionamento, – independente da sua complexidade – e a adoção do princípio do operacionismo 1 pela psicologia. Já o terceiro estágio foi o Neo-neobehaviorismo ou o sociobehaviorsimo, que se destaca pelo retorno do estudo dos processos cognitivos, porém mantendo o enfoque na observação do comportamento manifesto, o que perdura até os nossos dias. O Operacionismo era a principal característica do neobehaviorismo e “tinha por objetivo proporcionar uma linguagem e uma terminologia mais objetivas e precisas à 1 Operacionismo: doutrina que afirma se possível definir o conceito físico com precisão em relação ao conjunto de operações ou procedimentos que o determinam (pg. 282).

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ALUNA: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXFUMEC - Faculdade de Ciências Humanas-Curso de PsicologiaPsicologia Ciência e Profissão

Behaviorismo: Após a Fundação

A escola de pensamento comportamental passou por três estágios durante a sua

evolução:

1913 1930 1960 até hoje

Behaviorismo de Watson Neobehaviorismo Neo-neobehaviorismo ou sociobehaviorsimo

O behaviorismo de Watson foi o primeiro estágio; o Neobehaviorismo, o segundo

estágio, cujos teóricos compartilhavam alguns pontos em comum, como o estudo da

aprendizagem como constituinte do tópico central da psicologia, o entendimento dos

comportamentos por meio das leis do condicionamento, – independente da sua complexidade

– e a adoção do princípio do operacionismo1 pela psicologia. Já o terceiro estágio foi o Neo-

neobehaviorismo ou o sociobehaviorsimo, que se destaca pelo retorno do estudo dos

processos cognitivos, porém mantendo o enfoque na observação do comportamento

manifesto, o que perdura até os nossos dias.

O Operacionismo era a principal característica do neobehaviorismo e “tinha por

objetivo proporcionar uma linguagem e uma terminologia mais objetivas e precisas à ciência e

livrá-la dos pseudos-problemas”, - questões não-observáveis ou não-demonstráveis

fisicamente. Ele “sustenta que o valor de qualquer descoberta científica ou de qualquer

constructo teórico depende da validade das operações empregadas para determiná-los”.

Na visão operacionista insistia-se na definição exata dos conceitos da física e no

descarte de todos os conceitos que não possuíssem referentes físicos. Um conceito físico

equivale ao conjunto de operações ou de procedimentos que o determinam. Assim, a

consciência não teria lugar na psicologia científica, já que o conceito de experiência

consciente individual ou privada consiste em um pseudo-problema para a ciência da

psicologia.

1 Operacionismo: doutrina que afirma se possível definir o conceito físico com precisão em relação ao conjunto de operações ou procedimentos que o determinam (pg. 282).

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Tolman, em sua visão de behaviorismo, cunhou o termo behaviorismo

intencional2, em que “a atribuição de intenção ao comportamento do organismo parece

implicar a consciência, conceito mentalista não aceito na psicologia behaviorista”. No entanto

sua visão era muito mais behaviorista no objeto de estudo e na metodologia e além de não

tentar impor o conceito de consciência à psicologia, rejeitava a introspecção e não se

interessava pelas experiências internas presumidas, não acessíveis à observação objetiva, ao

contrário, a intencionalidade do comportamento pode ser definida em termos

comportamentais objetivos sem se recorrer à introspecção ou aos relatos das sensações do

indivíduo em relação à experiência. Para ele, toda ação visava a um objetivo: “O

comportamento está ‘impregnado’ de intenção e visa a atingir um objetivo ou a aprender a

forma de alcançar a meta. O fato de aprender é a prova comportamental objetiva da intenção.

Tolman lida com as respostas objetivas do organismo e as medidas são feitas com base nas

mudanças das respostas comportamentais como uma função da aprendizagem, que produzem

os dados objetivos.

Tolman acreditava que as causas iniciadoras do comportamento e o

comportamento final deveriam ser passíveis de observação objetiva e de definição operacional

e relacionou cinco variáveis independentes como as causas do comportamento: o estímulo

ambiental; os impulsos fisiológicos; a hereditariedade; o treinamento prévio e a idade, sendo o

comportamento uma função dessas cinco variáveis e expressa por meio de uma equação

matemática.

Entre as variáveis independentes observáveis e o comportamento de resposta

resultante (a variável dependente observável), Tolman presumia a existência de um conjunto

de fatores não observáveis, as variáveis intervenientes3, que são as verdadeiras determinantes

do comportamento.

Essas variáveis são os processos internos que conectam a situação de estímulo com a

resposta observada. O enunciado E-R (estímulo-resposta) deve ser agora E-O-R. A variável

interveniente é o que está acontecendo em O (o organismo) que provoca uma dada resposta

comportamental diante de um estímulo dado.

Como essa variável interveniente não pode ser objetivamente observada, sua utilidade

para a psicologia só se concretiza se for possível relacioná-la claramente com as variáveis

(independentes) experimentais e com a variável (dependente) de comportamento. O exemplo

2 Behaviorismo intencional: o sistema de Tolman, que combina o estudo objetivo de comportamento com a ponderação da intenção ou a orientação do propósito no comportamento.3 Variáveis intervenientes: fatores não-observáveis e inferido no organismo, e que são reais determinantes do comportamento.

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clássico de variável interveniente é a fome, que não pode ser vista numa pessoa nem num

animal de laboratório. Contudo, é possível relacioná-la precisa e objetivamente com uma

variável experimental como a extensão de tempo transcorrida desde a última vez que o

organismo foi alimentado. Ela também pode ser relacionada com uma resposta objetiva ou

variável de comportamento, como a quantidade de alimento ingerido e a velocidade com que

foi consumido. Assim, a variável não observável e inferida da fome pode receber uma

referência empírica precisa, sendo, portanto suscetível de quantificação e de manipulação

experimental.

A Teoria da Aprendizagem

Tolman acreditava que todo comportamento, animal e humano (exceção feita aos

reflexos simples e aos tropismos ou movimentos forçados propostos por Jacques Loeb), é

passível de ser modificado por meio da experiência; assim, a aprendizagem tem um papel

importante em seu behaviorismo intencional. Ele rejeitava a lei do efeito de Thorndike,

dizendo que a recompensa ou reforço tem pouca influência sobre a aprendizagem. Tolman

propôs em seu lugar uma teoria cognitiva da aprendizagem, sugerindo que a realização

repetida de uma tarefa fortalece a relação aprendida entre indícios do ambiente e expectativas

do organismo. Assim, o organismo passa a conhecer o seu ambiente. Ele denominou essas

relações aprendidas sign Gestalts, constituídas pela execução continuada de uma tarefa.

Vejamos o caso do rato faminto num labirinto, que se move às vezes nos corredores

corretos e às vezes em becos sem saída e que termina por descobrir o alimento. Em tentativas

subseqüentes no labirinto, o alvo (encontrar o alimento) confere propósito e direção ao

comportamento do roedor. A cada ponto de escolha no labirinto, são estabelecidas

expectativas. O rato começa a esperar que certos indícios associados com o ponto de escolha

levem ou não ao alimento. Quando sua expectativa é confirmada e ele consegue alimento, a

sign Gestalt (a expectativa dos indícios, associada com um ponto de escolha particular) é

fortalecida. Assim, ao longo de todos os pontos de escolha no labirinto, o animal vai

estabelecendo um padrão de “gestalts-sinais” que Tolman denominou mapa cognitivo. Esse

padrão é aquilo que o animal aprende — um mapa cognitivo do labirinto, e não um conjunto

de hábitos motores. Num certo sentido, o rato estabelece um conhecimento abrangente do

labirinto ou de qualquer ambiente familiar. Algo semelhante a um mapa topográfico se

desenvolve em seu cérebro, permitindo-lhe ir de um ponto a outro do ambiente sem se

restringir a uma série fixa de movimentos corporais.

Um experimento clássico que sustenta a teoria da aprendizagem de Tolman investigou

a questão de saber se o rato no labirinto aprende um mapa cognitivo ou um conjunto de

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respostas motoras. Foi usado um labirinto em forma de cruz. Um conjunto de ratos sempre

encontrava comida no mesmo lugar, muito embora, partindo de pontos distintos, tendo de às

vezes virar à direita e outras vezes à esquerda para encontrar o alimento. As respostas motoras

diferiam, mas o alimento permanecia no mesmo lugar.

O segundo grupo de ratos sempre dava a mesma resposta, independentemente do

ponto de partida, mas o alimento era encontrado em lugares diferentes. Por exemplo, partindo

de uma extremidade do labirinto em cruz, os ratos só encontravam comida se virassem à

direita no ponto de escolha; quando partiam da outra extremidade, eles também só a

encontravam virando à direta.

Os resultados mostraram que o primeiro grupo, que aprendiam a encontrar o local se

saía significativamente melhor do que o segundo, os que aprendiam a dar respostas motoras.

Tolman concluiu que o mesmo fenômeno ocorre com pessoas familiarizadas com o seu bairro

ou cidade. Elas podem ir de um ponto a outro por várias rotas distintas, graças ao mapa

cognitivo da área que elas desenvolveram.

Outra contribuição importante é o apoio de Tolman ao rato como sujeito apropriado a

estudos psicológicos.

O behaviorismo de Clark Leonard Hull considerava todo comportamento mecânico e

quantificável. Escreveu artigos sobre o condicionamento, afirmando que comportamentos

complexos, de ordem superior, podiam ser explicados em termos dos princípios básicos do

condicionamento.

O Referencial

Seu sistema e sua imagem da natureza humana eram formulados em termos

mecanicistas. Para Hull, o comportamento humano é automático e cíclico, podendo ser

reduzido à terminologia da física. Ele recomendava que se evitasse dar interpretações

subjetivas do comportamento observado, prática comum dos primeiros psicólogos animais.

Para Hull, os behavioristas precisavam ver o seu objeto de estudo como um “robô”.

Ele esteve bem além do seu tempo ao considerar a possibilidade de se construírem máquinas

capazes de pensar e exibir outras funções cognitivas humanas, um empreendimento hoje

tentado com os computadores.

A Metodologia Objetiva e a Quantificação

O behaviorismo de Hull oferece uma visão clara do que devem ser os seus métodos de

estudo. Esses métodos se caracterizam pela maior objetividade possível. Além disso, sua

abordagem da psicologia caracteriza-se pela quantificação. As leis do comportamento devem

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ser enunciadas ou expressas na linguagem precisa da matemática, razão por que a

quantificação constitui a segunda pedra angular sobre a qual Hull edificou seu behaviorismo.

Ele escreveu que os psicólogos não apenas devem desenvolver uma plena

compreensão da matemática, como pensar em termos matemáticos. Ele explicou o

procedimento a ser seguido por uma psicologia matematicamente definida:

Hull descreveu quatro métodos que considerava úteis à ciência. Três já eram

empregados: (1) a observação simples; (2) a observação sistemática controlada; e (3) a

verificação experimental de hipóteses e (4) criado por ele, o método hipotético-dedutivo4, que

usa a dedução a partir de um conjunto de formulações determinadas a priori. O método

envolve o estabelecimento de postulados a partir dos quais deduzir conclusões

experimentalmente verificáveis, que são então submetidas à verificação experimental. Se as

proposições não forem validadas pelas provas experimentais, deverão ser revistas. Se forem

comprovadas e verificadas, poderão ser incluídas no corpo da ciência. Hull acreditava que, se

a psicologia queria tornar-se uma ciência objetiva igual às outras ciências naturais, de acordo

com o projeto comportamentalista, a única abordagem apropriada seria a hipotético-dedutiva.

Os Impulsos

Hull considerava a necessidade corporal decorrente de um desvio de condições

biológicas ótimas a base da motivação. Entretanto, em vez de introduzir o conceito de

necessidade biológica diretamente em seu sistema, ele postulou a variável interveniente do

impulso, um termo já empregado na psicologia. O impulso era postulado como um estímulo

advindo de um estado de necessidade do tecido que desperta ou ativa o comportamento. A

força do impulso pode ser determinada empiricamente em termos da duração da privação ou

da intensidade, força ou gasto de energia do comportamento resultante. Para ele, a duração da

privação era uma medida imperfeita, razão por que acentuou a força da resposta.

Considerava-se o impulso não específico. Em outras palavras, qualquer espécie de

privação — de comida, de água ou de sexo, por exemplo — contribuía da mesma maneira, se

bem que em graus distintos, para o impulso. Essa não especificidade significa que o impulso

não dirige o comportamento, servindo apenas para energizá-lo. A orientação ou condução do

comportamento é realizada por estímulos ambientais. Além disso, a redução do impulso é a

base exclusiva do reforço.

Hull postulou dois tipos de impulsos: primários e secundários. Os impulsos primários

estão associados com estados de necessidade biológica e diretamente envolvidos na

4 Método hipotético-dedutivo: método estabelecido por Hull para definir postulados a partir dos quais se podem obter conclusões testáveis por meio de experiências.

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sobrevivência do organismo. Esses impulsos, oriundos de um estado de necessidade do tecido,

incluem a fome, a sede, o ar, a regulação da temperatura, a defecação, a micção, o sono, a

atividade, as relações sexuais e o alívio da dor. Trata-se de processos inatos básicos vitais para

a sobrevivência do organismo.

Ele admitiu que os seres humanos e animais são motivados por outras forças além dos

impulsos primários. Assim, Hull postulou os impulsos secundários ou aprendidos, que se

referem a situações ou estímulos ambientais associados com a redução de impulsos primários,

e que, por isso, podem se tomar eles mesmos impulsos. Isso significa que estímulos antes

neutros podem assumir as características de um impulso por serem capazes de evocar

respostas semelhantes às geradas pelo impulso primário ou estado de necessidade original.

Um exemplo simples envolve pôr a mão num fogão quente e se queimar. A dolorosa

queimadura, cansada pela danificação do tecido, gera um impulso primário, o desejo de alívio

da dor. Outros estímulos ambientais vinculados com esse impulso primário, tal como a visão

do fogão, pode levar ao afastamento da mão diante da percepção do estímulo visual. Assim, a

visão do fogão pode vir a ser o estímulo para o impulso aprendido do medo. Esses impulsos

secundários ou aprendidos que servem para motivar o comportamento se desenvolvem com

base nos impulsos primários. Devido a esse foco nos impulsos aprendidos, a aprendizagem

teve um papel-chave no sistema de Hull.

A Aprendizagem

Sua teoria da aprendizagem concentra-se primordialmente no princípio do reforço, que

é, em termos essenciais, a lei do efeito de Thorndike. A lei do reforço primário de Hull

postula que, quando uma relação estímulo-resposta é seguida por uma redução da

necessidade, aumenta a probabilidade de que, em ocasiões subseqüentes, o mesmo estímulo

evoque a mesma resposta. Observe-se que a recompensa ou reforço não são definidos em

termos da noção thorndikeana de satisfação, mas em termos da redução de uma necessidade

primária. Logo, a base da teoria da aprendizagem de Hull é o reforço primário, a redução de

um impulso primário.

Assim como contém impulsos secundários ou aprendidos, o sistema de Hull também

trata do reforço secundário. Se a intensidade do estímulo for reduzida como resultado de um

impulso secundário ou aprendido, ela vai agir como um reforço secundário:

Segue-se que qualquer estímulo associado sistematicamente com uma situação de

reforço adquirirá, por meio dessa associação, o poder de evocar a inibição condicionada, isto

é, a redução da intensidade do estímulo, e, assim, de produzir o reforço resultante. Como esse

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poder indireto de reforço é adquirido através da aprendizagem, damos-lhe o nome de reforço

secundário.

Hull pensava que a conexão estímulo-resposta é fortalecida pelo número de reforços

que ocorreram. Ele denominava a força do vínculo E-R força do hábito, que se refere à

persistência do condicionamento e é uma função do reforço.

A aprendizagem não pode acontecer na ausência de reforço, que é necessário para

gerar uma redução do impulso. Por causa dessa ênfase no reforço, o sistema de Hull é

chamado de teoria da redução da necessidade, oposta à teoria da contigüidade de Guthrie e à

teoria cognitiva de Tolman.

O sistema de psicologia de B. F. Skinner é sob muitos aspectos um reflexo das suas

primeiras experiências de vida. Ele considerava a vida um produto de reforços passados e

afirmava que a sua própria vida fora tão predeterminada, organizada e ordeira quanto o seu

sistema ditava que todas as vidas humanas fossem. Ele acreditava que todos os aspectos da

sua experiência pessoal remontavam apenas a fontes ambientais.

O Behaviorismo de Skinner

Em vários aspectos importantes, a posição de Skinner representa uma renovação do

behaviorismo watsoniano.

Skinner defendia um sistema estritamente empírico sem referencial teórico no âmbito

do qual realizar pesquisas. O trabalho de Hull consistia em propor uma teoria e fazer a

verificação das conclusões deduzidas a partir de provas experimentais; Skinner evitava a

teoria e preferia praticar um positivismo estrito: começava com dados empíricos e trabalhava,

cuidadosa e lentamente, na elaboração de generalizações conjeturais. Hull representa o

método dedutivo; Skinner, o indutivo.

O Condicionamento Operante

A ênfase de Skinner era no comportamento operante, em oposição ao respondente. Na

situação de condicionamento pavloviana, um estímulo conhecido é associado com uma

resposta em condições de reforço. A resposta comportamental é suscitada por um estímulo

observável específico; Skinner dava-lhe o nome de comportamento respondente.

O comportamento operante ocorre sem nenhum estímulo externo observável; a

resposta do organismo é aparentemente espontânea — no sentido de não estar relacionada

com nenhum estímulo observável. Isso não significa que não haja de fato um estímulo

suscitando a resposta, mas sim que não se detecta nenhum estímulo quando da ocorrência da

resposta. Do ponto de vista dos experimentadores, não há estímulo porque eles não aplicaram

nenhum e não em ver nenhum.

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Outra diferença entre o comportamento respondente e o operante é que o

comportamento operante opera no ambiente do organismo, ao passo que o respondente não o

faz. O cão preso a arreios no laboratório de Pavlov não pode senão responder quando o

pesquisador lhe apresenta o estímulo; ele não pode agir por sua própria conta para assegurar o

estímulo. O comportamento operante do rato na caixa de Skinner, no entanto, serve de

instrumento para garantir o estímulo (o alimento). Quando pressiona a barra, o rato recebe

comida; ele não recebe nenhuma comida enquanto não pressionar a barra e, assim, opera no

ambiente.

Skinner acreditava que o comportamento operante é muito mais representativo da

situação de aprendizagem humana na vida real. Como o comportamento é principalmente do

tipo operante, a mais eficaz abordagem de uma ciência do comportamento, alegava ele,

consiste em estudar o condicionamento e a extinção de comportamentos operantes. Sua

demonstração experimental clássica envolvia o pressionar uma barra numa caixa de Skinner

construída para eliminar estímulos externos. Nessa experiência, um rato privado de comida

era colocado no aparelho e deixado livre para explorar o ambiente. No curso dessa exploração

geral, o rato cedo ou tarde pressionava acidentalmente uma alavanca que ativava um

mecanismo que liberava uma pelota de alimento numa bandeja. Depois do recebimento de

algumas dessas pelotas, o reforço, o condicionamento costumava ser rápido. Observe-se que o

comportamento do rato (pressionar a barra ou alavanca) agia sobre o ambiente e era

instrumental na garantia do alimento. A variável dependente desse tipo de experiência é

simples e direta: a taxa de resposta. Um registrador cumulativo ligado à caixa de Skinner

acompanha momento a momento a taxa de pressão da barra.

A partir dessa experiência básica, Skinner derivou sua lei da aquisição, segundo a qual

a força de um comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de

um estímulo de reforço. Embora a prática seja importante no estabelecimento de altas taxas de

pressão cia barra, a variável-chave é o reforço. A prática por si só não aumenta a taxa; tudo o

que ela faz é dar oportunidade para a ocorrência do reforço adicional.

A lei da aquisição de Skinner difere das posições de Thorndike e de Hull sobre a

aprendizagem. Skinner não fala em termos das conseqüências de prazer-dor do reforço, como

fez Thorndike, nem faz tentativas para interpretar o reforço em termos da redução do impulso,

como fez Hull. Os sistemas de Thorndike e de Hull são explicativos, enquanto o de Skinner é

descritivo. Para ele, o impulso não passa de um conjunto de operações que influencia o

comportamento de resposta de uma dada maneira; ele não o vê como um estímulo nem como

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um estado fisiológico. Ele o definia objetivamente em termos do número de horas de

privação.

Skinner e seus seguidores fizeram muitas pesquisas sobre problemas de aprendizagem,

tais como o papel da punição na aquisição de respostas, o efeito de diferentes programas de

reforço, a extinção da resposta operante, o reforço secundário e a generalização. Ele também

trabalhou com outros animais e com sujeitos humanos, usando a mesma abordagem básica da

caixa de Skinner. Com pombos, o comportamento operante envolve bicar uma chave ou um

ponto determinado; o reforço é o alimento. No caso dos seres humanos, o comportamento

operante envolve a resolução de problemas, reforçada pela aprovação verbal ou pelo

conhecimento de ter dado a resposta correta.

Programas de Reforço

Para muitos psicólogos, a mais notável pesquisa de Skinner é a dedicada aos efeitos de

diferentes programas de reforço. A pesquisa inicial de pressionar a barra na caixa de Skinner

demonstrou o papel necessário do reforço no comportamento operante. Naquela situação, o

comportamento do rato era reforçado a cada pressão da barra, isto é, ele recebia comida cada

vez que dava a resposta correta. Contudo, como assinalou Skinner, o reforço no mundo real

nem sempre é consistente ou contínuo, mas, mesmo assim, a aprendizagem ocorre e os

comportamentos persistem, ainda que reforçados apenas intermitentemente.

Num conjunto de estudos, ele comparou as taxas de resposta de animais reforçados a

cada resposta com a dos reforçados apenas depois de certo intervalo de tempo. Esta última

condição é conhecida como programa de reforço com intervalo fixo. O reforço pode ser dado,

por exemplo, a cada minuto ou a cada quatro minutos. O importante é que o animal só seja

reforçado depois da passagem de um período fixo de tempo. Um trabalho cujo salário é pago

semanal ou mensalmente dá reforço num programa de intervalo fixo. Os empregados, nesses

sistemas, não recebem pelo número de itens que produzem (número de respostas dadas), mas

pelo número de dias ou semanas transcorridos. A pesquisa de Skinner mostrou que, quanto

menor o intervalo entre reforços, tanto mais rápida a resposta do animal. Inversamente, com o

aumento do intervalo entre reforços, a taxa de resposta declinava.

A freqüência do reforço também afeta a extinção de uma resposta. Os comportamentos

se extinguem mais rapidamente quando foram reforçados continuamente, suspendendo-se em

seguida os reforços, do que quando foram reforçados intermitentemente. Alguns pombos

responderam até dez mil vezes na ausência de reforço quando foram condicionados num

programa de reforço intermitente.

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Skinner também investigou um programa de reforço de razão fixa. Nesse caso, o

reforço é apresentado, não depois de passado certo intervalo de tempo, mas depois de um

número predeterminado de respostas. O comportamento do animal determina a freqüência do

reforço. Espera-se que ele responda, por exemplo, dez ou vinte vezes depois de receber um

reforço e antes de receber outro. Os animais num programa de razão fixa respondem mais

rapidamente do que os de um programa de intervalo fixo. A resposta mais rápida no reforço

de intervalo fixo não produz reforço adicional; o animal num programa de intervalo fixo pode

pressionar a barra cinco ou cinqüenta vezes e ainda será reforçado somente quando o intervalo

de tempo predeterminado tiver transcorrido.

A taxa mais elevada de respostas no programa de razão fixa foi considerada válida

para ratos, pombos e seres humanos. Um programa de razão fixa de pagamento é usado no

comércio e na indústria quando o salário do empregado depende do número de unidades

produzidas ou quando uma comissão de vendas depende do número de itens vendidos. Esse

programa de reforço só funciona enquanto a razão não for alta demais (ou seja, uma

quantidade de trabalho impossível exigida para cada unidade de salário) e o reforço valer o

esforço.

Outros programas de reforço incluem razões variáveis, intervalos variáveis e esquemas

mistos.

O Comportamento Verbal

O comportamento verbal é a única área em que Skinner admitia diferenças entre o rato

e o homem. Os sons que o organismo humano produz na fala, dizia Skinner, são respostas que

podem ser reforçadas por outros sons da fala ou gestos, da mesma maneira como o

comportamento do rato de pressionar a barra pode ser reforçado por comida. Para o bebê, os

sons específicos que serão reforçados dependem da cultura, mas os mecanismos do

comportamento verbal são independentes dela.

O comportamento verbal exige duas pessoas em interação — uma falando e outra

ouvindo, O falante dá uma resposta, isto é, emite um som. O ouvinte, através do seu

comportamento de reforçar, não reforçar ou punir o falante pelo que disse, pode controlar o

comportamento subseqüente deste último. Por exemplo, se toda vez que o falante usar certa

palavra, o ouvinte sorrir, este aumenta a probabilidade de que o falante repita essa palavra. Se

o ouvinte responde franzindo o semblante, fazendo gestos hostis ou um comentário

desfavorável, estará aumentando a possibilidade de o falante evitar essa palavra no futuro.

Podemos ver exemplos desse processo no comportamento de pais quando os filhos

aprendem a falar. Palavras inaceitáveis, uso incorreto e pronúncia ruim evocam reações

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diferentes das provocadas por frases polidas, uso correto e pronúncia clara. Assim, a criança é

ensinada a usar adequadamente a fala, ao menos de acordo com o que os pais acham que isso

seja.

Para Skinner, a fala é comportamento, estando, pois, sujeita, como qualquer outro

comportamento, a contingências de reforço, de previsão e de controle.

A Modificação do Comportamento

O programa de Skinner para uma sociedade baseada no reforço positivo existe apenas

em termos ficcionais, mas o controle ou modificação do comportamento de pessoas e

pequenos grupos é muito difundido. A modificação do comportamento mediante o reforço

positivo é uma técnica popular em hospícios, fábricas, prisões e escolas, onde é usada para

transformar comportamentos anormais ou indesejáveis em comportamentos mais aceitáveis e

desejáveis. Ela opera com as pessoas do mesmo modo como o aparato de condicionamento

operante opera para modificar o comportamento de ratos: reforçando o comportamento

desejado e não reforçando o indesejado.

Pensemos na criança que tem ataques para conseguir comida ou atenção. Quando os

pais cedem às suas exigências, reforça-se o comportamento indesejável. Na modificação do

comportamento, atitudes como chutar e gritar nunca são reforçadas. O reforço só se aplica a

comportamentos mais agradáveis e desejáveis. Depois de um certo período, a criança muda de

atitude porque suas exibições de mau humor, já não servem para produzir recompensas,

ocorrendo o contrário com os comportamentos agradáveis.

O condicionamento e o reforço operantes têm sido aplicados no mundo dos negócios,

em que são usados com sucesso programas de modificação do comportamento para reduzir as

faltas e o abuso das licenças médicas e para melhorar o desempenho e a segurança no

trabalho. Essas técnicas também são empregadas para ensinar habilidades ocupacionais,

especialmente aos trabalhadores com deficiências, costumando ter êxito onde fracassam os

métodos de treina mento mais tradicionais.

A modificação do comportamento também tem sido aplicada a doentes mentais.

Recompensando os pacientes com brindes que podem ser trocados por bens ou privilégios

quando eles se comportam da maneira desejada, e não reforçando o comportamento negativo

ou disruptivo, podem-se induzir mudanças comportamentais positivas. Ao contrário das

técnicas clínicas tradicionais, não há nesse caso uma preocupação com o que possa estar se

passando na mente do paciente, assim como não se pensa no que pode acontecer dentro do

rato na caixa de Skinner. O foco é exclusivamente o comportamento manifesto e o reforço

positivo.

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Não se usa a punição; ninguém é punido por não exibir o comportamento desejado.

Em vez disso, as pessoas são reforçadas ou recompensadas quando seu comportamento sofre

mudanças positivas. Assim como Thorndike, Skinner acreditava que o reforço positivo é

muito mais eficaz do que a punição na alteração do comportamento, posição sustentada por

consideráveis pesquisas humanas e animais.

O behaviorismo que permanece intacto e vívido na psicologia de hoje — e que é

especialmente visível na psicologia aplicada, onde as técnicas de modificação do

comportamento são populares — tem uma forma distinta da promovida nas décadas entre o

manifesto de 1913 de Watson e a recente morte de Skinner. Tal como ocorre com todos os

movimentos evolutivos da ciência e da natureza, a espécie continua a se desenvolver. Nesse

sentido, o behaviorismo sobrevive no espírito, embora não na letra original, da sua intenção.

Referência

SCHULTZ, Duane. História da Psicologia Moderna. 8. Ed. São Paulo: Cultrix, 1981. p. 281-315